PELOS CAMINHOS DA VIDA (2ª Parte de 2): entrevista com o maestro Henrique Morelenbaum Inês Rocha1 Colégio Pedro II [email protected] Ricardo Szpilman2 Colégio Pedro II [email protected]

Esta é a segunda parte da entrevista que o Maestro Henrique Morelenbaum concedeu para a INTERLÚDIO. A totalidade do depoimento está disponível nos números 7 e 8 do Ano V, edições do ano de 2017.3

1 Professora e Coordenadora de Educação Musical do Colégio Pedro II – campus Centro desde 1993. É Doutora em Educação (UERJ) e Mestre em Música (CBM-CEU). É professora colaboradora permanente do Programa de Pós-Graduação em Música (PPGM) da UNIRIO. Integra o naipe de soprano do Coro de Câmara da Pro-Arte. 2 Professor e Coordenador de Educação Musical do Colégio Pedro II – campus São Cristóvão II. É Mestre em Música (UNIRIO), Regente Coral, Compositor premiado e Arranjador. Lançou em 2003 o (port/ingl) 7 Canções Judaicas Arranjadas para Coral e em 2015 o volume 2 (port/espa/ingl). Estudou Regência Coral e Análise Musical na Pro Arte, nas classes do maestro Carlos Alberto Figueiredo. Toca Sax no Bloco Céu na Terra e no Rancho Praça Onze Klezmer Carioca, onde também é o maestro. 3 A entrevista na íntegra pode ser consultada em mídia MP3, assim como a correspondente transcrição em arquivo pdf e impressa, no NUDOM (Núcleo de Documentação e Memória), que integra o CEDOM (Centro

63 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 Alunos do campus centro, onde o maestro estudou, se encontraram com ele em seu apartamento, no bairro de Laranjeiras, , para uma conversa matinal no dia 9 de julho de 20154. A entrevista foi registrada pelos estudantes, que também realizaram a transcrição escrita para arquivo word das encantadoras declarações do músico. A íntegra da entrevista, em arquivo de áudio e a transcrição impressa, estão arquivadas no NUDOM (Núcleo de Documentação e Memória do CPII) e podem ser consultadas. Em seguida, a transcrição foi textualizada, ou seja, o texto sofreu adaptações para facilitar o acesso ao conteúdo da fala em forma de texto escrito. Foram eliminadas, em parte, marcas de oralidade. Optamos, contudo, por algumas expressões muito características da fala do maestro, como: aí, quer dizer, pra, pro, porque, né, tá-, repetições de termos e ideias visando tornar a leitura mais fluente. A versão textualizada foi lida e autorizada pelo maestro. Nesta segunda parte, apresentamos as lembranças e comentários do maestro sobre sua família, professores e a importância deles na vida de seus alunos, aulas de música do Colégio Pedro II, a formação do maestro no curso superior de violino, a participação em programa de rádio organizado por seu professor de história, o concurso para a Orquestra do Theatro Municipal, o pedido de casamento a Sarah Morelenbaum, valores éticos e ensinamentos de vida.

FAMÍLIA Interlúdio (Inês) – O senhor teve dois filhos, não é? Maestro – Três. Interlúdio (Inês) – O senhor pode dizer os nomes deles pra que os alunos possam conhecer? Maestro – Jaques Morelembaum5, que tocou e fez arranjos para o Tom Jobim, parceria que rendeu o Prêmio Grammy com o CD Antônio Brasileiro. Interlúdio (Ricardo) – , em Circuladô, Estampa Fina, Tieta do Agreste... faz uma ponta com o Caetano no filme de Pedro Almodóvar, Hable com ella...

de Documentação e Memória), atualmente situado no Campus Centro do Colégio Pedro II. http://cp2centro.net 4 Participaram da gravação de áudio e vídeo e transcrição da entrevista para arquivo Word, os seguintes alunos: Lívia Rodrigues Cardoso Marins, Michel Yuri Rodrigues Rocha Pereira, Pedro Moreira Grisolia e Wendell de Almeida Dias. 5 Jaques Morelenbaum nasceu no Rio de Janeiro, em 18 de maio de 1954 e trabalha como violoncelista, arranjador, maestro, produtor musical e compositor.

64 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 Interlúdio (Inês) – E , em Mina d’água do meu canto... Maestro – , , Gal Costa, todos os maiores nomes da música popular brasileira... Interlúdio (Inês) – Teve o grupo Barca do Sol6... Que na minha adolescência eu adorava cantar aquelas músicas todas... Adorava! (risos) Maestro – Barca do Sol, pois é... Na Barca do Sol já cantava a minha nora também, porque ela namorou o Jaques, meu filho, no Coral da Pro Arte. A Pro Arte, que existe até hoje, é uma Escola de Música, fica na Rua Alice, aqui em Laranjeiras. Lá por 1970 tinha um coral, donde saiu a Barca do Sol... Interlúdio (Inês) – Ah... O nome da sua nora, qual é? Maestro – Paula Morelenbaum7. E tem minha filha, Lúcia Morelenbaum, que se formou em música também, era a única que pretendia ser musicista, ela é aposentada, ela trabalhou trinta e tantos anos na Orquestra Sinfônica Brasileira... Interlúdio (Inês) – O instrumento dela, qual é? Maestro – Clarineta. Hoje ela dá aula de clarineta e de piano, pois como todo aposentado no Brasil não tem o salário que merece. Ela tem que complementar o ganha-pão com aulas de música e, felizmente, ela dá muito bem pro riscado... Tem o Eduardo Morelenbaum, mais conhecido como Edu Morelenbaum. Atua muito na retaguarda das novelas, onde ele escreve arranjos de música. Trabalha com os maestros da Globo... ele nunca foi maestro da Globo, porque ele entrou pra Orquestra do Theatro Municipal e na Globo trabalha escrevendo arranjos. O Jaques, meu filho mais velho, foi também inicialmente da Orquestra do Teatro Municipal e depois é que ele resolveu abandonar. Já o Eduardo, ah!... o Eduardo fez uma carreira muito grande com os Titãs, na época auge do grupo. O Eduardo era o tecladista deles e tocava clarineta, saxofone, qualquer saxofone e clarone também. Como tecladista ele fazia arranjos e viajou o mundo inteiro com os Titãs. Na época áurea ele foi sucessor do Jaques, irmão dele que tocou com a Gal Costa. Meu filho mais velho chegou a ser diretor artístico e musical da Gal Costa. Depois, por várias razões ele resolveu seguir outros rumos e indicou o irmão. Ele deu

6 A Barca do Sol foi um conjunto de música popular que iniciou carreira na década de 1970 e contou com integrantes como Jaques Morelenbaum, Marcelo Bernardes, Alain Pierre, David Ganc, Ritchie e participações eventuais de Pery Reis, Egberto Gismonti. Um especial na TVE-RJ tornou o grupo mais conhecido. Em 1978, o grupo participou do LP Corra o Risco, da cantora Olívia Byington, com os sucessos Lady Jane, Fantasma da Ópera e Brilho da Noite. 7 Regina Paula Martins Morelenbaum, nasceu no Rio de Janeiro, em 31 de julho de 1962, e atua como cantora de MPB. Por mais de dez anos cantou ao lado de Tom Jobim. É casada com Jaques Morelenbaum.

65 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 conta do recado. A Gal Costa adorava ele. O Edu, por outras razões, resolveu também seguir outros caminhos... Interlúdio (Ricardo) – O Edu é um dos grandes maestros de corais de empresas do Rio... Maestro - Aliás, ele fez... Interlúdio (Ricardo) – Uma Dissertação de Mestrado sobre qualidade total... de Coral de Empresa. Um valioso componente para o projeto de Qualidade Total. Eu li, é muito bacana! Maestro –Isso! A Dissertação de Mestrado dele foi sobre corais de empresas. É... é muito difundido porque ele abriu caminho pra esse ramo da música. É uma coisa importantíssima, no que concerne à parte social, de convívio social através da música. Agora ele acabou de perder três empresas nas quais ele trabalhava. Ele estava trabalhando com seis empresas e agora ficou com três por conta dessa crise. As empresas não têm estímulo pra isso... Nos primeiros cortes, infelizmente, é a cultura que é cortada. Bom...

PROFESSORES IMPORTANTES PARA SEUS ALUNOS

Interlúdio (Inês) – Maestro, queria lhe mostrar esse livro. É um livro que nós guardamos lá no Colégio Pedro II e podemos ver aqui algumas caricaturas que, de alguma forma, possam se referir a professores de música. Maestro – Bem, eu estou vendo que a maior parte dessas pessoas trabalhou um pouco antes do período em que estudei. Interlúdio (Inês) – Sim, é anterior ao seu período... Maestro – Mais antigo, mas esse é o caminho... Eu tive professores como esse, por exemplo, Aureliano Pimentel, esse tipo fisionômico não me é estranho, esse tipo também não me é estranho. Eu tive grandes professores. Inclusive o Malba Tahan8. Interlúdio (Inês) – Ah,... O nome dele... Interlúdio (Ricardo) – O matemático... Maestro – Júlio César de Melo e Sousa. Interlúdio (Inês) – Vocês conhecem, rapazes? O livro do Malba Tahan?

8 Malba Tahan é o pseudônimo do escritor Julio Cesar de Mello e Sousa, professor do Colégio Pedro II e autor do livro Contos de Malba Tahan. Nesse livro aparece a imagem de um árabe de longas barbas brancas e turbante. Julio Cesar e Malba Tahan passaram a ser considerados duas pessoas diferentes. O autor real, Júlio César, foi autorizado pelo presidente Getúlio Vargas a utilizar o nome de Malba Tahan, inclusive, sendo acrescentado em sua carteira de identidade.

66 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 Maestro – O homem que calculava9. Se vocês não leram esse livro, não continuem pecando... (rsrsr) Interlúdio (Inês) – É leitura obrigatória... Maestro – Porque é um pecado não ler. O homem que calculava. Interlúdio (Ricardo) – E os livros de contos dele, são contos árabes lindos! Versões lindas! Maestro – Ele assumiu esse nome Malba Tahan, que é um nome árabe... porque ele usava as lendas árabes das 1001 noites ou outras coisas desse tipo, para dar vida aos contos dele. Interlúdio (Ricardo) – Eu tenho algumas versões de lendas árabes, e em uma delas, 1001 noites, que é uma obra que eu gosto muito, tem a revisão e introdução de Malba Tahan. É um texto muito interessante! Maestro – Exato... Eu vou... já que isso foi assim revelador pra vocês, eu vou fazer um corte na nossa conversa pra dizer o seguinte: hoje os Estados Unidos tem um presidente negro, não é? Obama. Vocês sabem que... Monteiro Lobato10, na década de 1920 pra 1930 escreveu um livro chamado O Presidente Negro? Você sabia disso? O título do livro é O Presidente Negro. Ele faz uma fantasia naquela época, final dos anos 20, início dos anos 30. Você já imaginou a pessoa criar uma obra retratando um país racista, capitalista, com muitos aspectos negativos que a gente pode imaginar numa sociedade? Pois bem, um brasileiro chamado Monteiro Lobato fantasia na cabeça dele uma história, escreve um livro O Presidente Negro, imaginando... um país tendo um presidente negro... imagine isso? Eu fiquei muito triste, mas eu não quis levantar celeuma, quando o Obama se candidatou e todo mundo achava que ele não iria ganhar porque... imagina... como é que a sociedade americana ia permitir um negro ascender ao primeiro posto? Eu fiquei admirado porque, na imprensa, na intelectualidade, não surgiu alguém que dissesse: “ −O Monteiro Lobato já fazia essa fantasia na cabeça dele!” Interlúdio (Inês) – Era um visionário, não é? Maestro – É, um visionário. Esse parêntese eu queria abrir porque pouca gente se lembra disso. Aquela coisa de que o Brasil peca por não ter memória. Eu acho que até hoje ainda peca muito, porque não tem memória. O Brasil parece que faz questão de esquecer seus

9 O Homem que Calculava: aventuras de um singular calculista persa é um romance infanto-juvenil que narra as aventuras e proezas matemáticas do calculista persa Beremiz Samir, na Bagdá do século XIII. Foi publicado em 1938 e chegou a ter 80 reedições. 10 José Bento Renato Monteiro Lobato, nasceu em Taubaté, São Paulo, em 18 de abril de 1882 e morreu em 4 de julho de 1948, em São Paulo.

67 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 heróis, e olha que nós não ficamos atrás na história mundial de heróis. Aqui quando falam de um Tiradentes, considerado herói da Inconfidência Mineira, muita gente destaca lados negativos dele. É lógico que ninguém é só perfeito, não é? Eu diria que nem Deus é perfeito porque criou o homem (risos). E não criou o homem na sua perfeição como deveria ser. Agora, ele sabe porque, eu não sei. Então, é uma pena... Interlúdio (Inês) – E o brasileiro tem baixa estima... Maestro – Pois é... Porque a gente se desvaloriza... A primeira vez que eu regi fora do Brasil foi em Londres, em 1960, dezembro de 1960... Foi um festival para a família real daquela época. Eu tinha 29 anos, 28 pra 29 anos e eles gostaram de mim. Tanto é que houve um contrato que era pra um espetáculo só, mas viraram 4 meses realizando espetáculos pela Europa toda... Interlúdio (Inês) – Nossa! Maestro – E aí quando me perguntavam onde é que eu estudei − queriam saber onde é que eu tinha a minha formação −, eu falava antes de dizer outra coisa: “ − Rua do Passeio, 98!”, que é o endereço da Escola de Música da Universidade do Brasil, aqui no Rio de Janeiro. Eu tinha orgulho de dizer que eu estudei no Brasil, que minha formação foi no Brasil! Eu quis provar que eu podia adquirir os mesmos conhecimentos que o pessoal buscava lá fora, aqui dentro. Eu estudei com Paulo Silva, pagava com aqueles dez mil réis por noite11. Eu pagava a aula dele, que era muito cara, muito cara. Depois eu consegui estudar com Koellreutter, que era um judeu alemão fugido da guerra. Ele foi professor do Tom Jobim, do Guerra-Peixe, todos os grandes estudaram com ele. Eu quis também estudar com esse professor alemão. Meu pai não tinha dinheiro, não tinha condição. E com aquele emprego juntava dinheiro e o que sobrava eu comprava partituras. Naquela época não tinha impressora gráfica aqui pra imprimir. Então toda a música era importada e pra importar tinha um negócio chamado cassex, que tinha que pedir permissão pra importar coisa estrangeira. Eu conseguia importar porque me sobrava sempre dinheiro, eu economizava. O bonde tinha dois preços: tinha o bonde propriamente dito e tinha o Taióba. Taióba era um bonde de carga. As lavadeiras − naquela época não tinha tinturaria − as lavadeiras iam com aquelas trouxas, era um bonde que banco só tinha nas laterais, ao longo das laterais. E tinha o motorneiro na frente e as pessoas sentavam ali. O bonde normal custava 200 réis e o Taióba custava 100 réis, era a metade. Eu esperava o Taióba pra economizar. Eu aprendi a economizar, coisa que todos os nossos

11 Na primeira parte da entrevista, o maestro oferece mais detalhes das participações em apresentações que fazia, tocando violino, para ganhar esse dinheiro e pagar as aulas particulares de sua formação profissional.

68 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 antepassados, seja de origem que fosse, judeu, italiano, francês, espanhol, eles aprenderam o valor do dinheiro. Prezavam aquilo e aprenderam o valor da educação dos filhos. Esses valores eu aprendi. Aprendi e procurei passar adiante.

AULAS DE MÚSICA NO COLÉGIO PEDRO II

Pedro Grizolia, Michel Yuri, Ricardo Szpilman, Inês Rocha entrevistando o maestro Henrique Morelenbaum

Interlúdio (Ricardo) – O senhor lembra de alguma atividade que fazia de educação musical com a professora Elza? Vocês cantavam e também estudavam solfejo? Maestro – Estudávamos solfejo e fazíamos apresentação para os outros alunos e professores, porque tinham apresentações que Dona Elza organizava. Interlúdio (Ricardo) – Isso que o senhor está relatando, é um coral à parte ou eram as atividades das aulas de música? Maestro – Não, não. Aí é que está. Ela aproveitava a sala de aula pra formar um coral, lógico que não era uma coisa contínua e organizada como um coral, não se chamava “Coral do Pedro ll”. Mas era uma apresentação de coral. Havia uma mudança entre um aluno e outro, porque ali naquela aula misturavam alunos do 2º, 3º e 4º anos. Tinha a aula propriamente dita e aí era... Interlúdio (Inês) - Canto Orfeônico.

69 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 Maestro – Canto Orfeônico. Juntávamos de vez em quando as diversas turmas em um grande coral e fazíamos apresentação. Vinha muita gente e até ficavam em pé para assistir, gente da congregação... Interlúdio (Inês) - O local das apresentações era o Salão Nobre? Maestro – Sim, no Salão Nobre. A aula dela, eu sempre me lembro, era no Salão Nobre! Interlúdio (Ricardo) – Ah, ela dava aula lá direto? Maestro – Sim, lá direto. Eu me lembro só desse local... Interlúdio (Inês) – Que materiais ela utilizava? Tinha um quadro para ela escrever? Maestro – Bom, ela tinha um quadro que ela fazia as anotações e dava as explicações, às vezes mandava algum aluno pro quadro e eu muitas vezes fui pro quadro. E como tinha muita boa voz e dava uns agudos... eu me lembro de fazer o solo do Contos dos Bosques de Viena de Strauss e eu fazia assim: (nesse momento o maestro cantarolou uma música que costumava estudar). E esse agudo lá em cima era um Mi Bemol e eu conseguia dar. Interlúdio (Ricardo) – Puxa, que beleza! Maestro – Ela gostava muito de mim e eu também gostava muito dela. Eu ajudava naquilo que eu podia ajudar sem saber que estava ajudando e ela considerou sempre assim. Depois de muitos anos quando eu a revi ela disse: “ −Você me ajudou por muitos anos”, ela mesma que disse. Interlúdio (Ricardo) – Só o fato do senhor estar lá no coral, cantando com prazer e sendo feliz, inspirando os colegas, já ajudou e inspirou muito a ela. Maestro – Certamente. Eu influenciava os meus colegas, inclusive eu fiz muito colega meu passar a frequentar uma coisa que se chamava Concertos para juventude no Cinema Rex que existe... não... o cinema já não existe mais, mas o local é na Rua Álvaro Alvin, quase chegando na Alcindo Guanabara. Tem um edifício onde lá tinha um cinema, o Cinema Rex e, aos domingos, se instituiu, na década de 1940, uma atividade com o Maestro Eugen Szenkar12. Ele veio da Europa fugido da guerra e foi contratado pela Orquestra Sinfônica Brasileira. O José Siqueira13, grande compositor, era o presidente maestro da orquestra e ele foi suficientemente modesto para ter aquele desprendimento e

12 Eugen Szenkar nasceu na Hungria, em Budapeste, em 9 de abril de 1891 e morreu em Dusseldorf, em 28 de março de 1977. Trabalhou como regente e foi naturalizado brasileiro. 13 José Siqueira, nasceu em 1907, na cidade de Conceição, no Vale do Piancó, Paraíba. Foi regente, compositor com reconhecimento internacional. Quando jovem, atuou em bandas de música do interior da Paraíba. Transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1927, como integrante de tropas recrutadas para combater na Coluna Prestes e logo ingressou na Banda Sinfônica da Escola Militar como trompetista. Faleceu em 1985, deixando significativo número de composições, dentre elas, óperas, cantatas, concertos, oratórios, sinfonias e música de câmera.

70 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 chamar um maestro europeu que pudesse trazer aquela riqueza cultural européia pra cá. É aquele negócio, hoje em dia está se festejando Mário de Andrade. Mário de Andrade foi membro daquele grupo que em 1922 fez a semana da arte moderna e dizia que a cultura brasileira tinha que fazer a “antropofagia cultural”... quer dizer... não é “macaquear” o europeu. É ver o que ele tinha de bom, aquilo o que servia ao Brasil, e criar mecanismos para que aquilo florescesse como brasileiro. Essa foi a grande chave cultural para o Brasil, grande abertura porque o importante não era apenas importar o europeu, era ver aquilo que serve pra gente e como poderia servir melhor, se transformar no brasileiro. Porque hoje em dia nós temos arte brasileira, aqui o Vila Lobos, foi um dos pioneiros e ele participou da “Semana de Arte Moderna de 22”. Mário de Andrade reuniu vários artistas, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e até o Villa-Lobos, enfim, tinha pintura, haviam escritores, poetas e música, lógico. Então a gente tem essa coisa de que não ter que ter medo de importar. O que não pode é importar e pronto, a gente ficar copiando o que eles fizeram. Não, o que eles fizeram que é bom? E o que aquilo que eles fizeram pode servir a gente? E como a gente pode transformar para aquilo virar alma brasileira? Villa-Lobos tem uma música famosa que se chama “Alma Brasileira”, coisa lindíssima e que os americanos e os europeus não se cansam de admirar.

CURSO SUPERIOR DE VIOLINO

Interlúdio (Inês) - Eu queria perguntar ao senhor o seguinte: o senhor se formou em 1951, em violino. Por fazer o curso de violino, pagar as aulas de composição, o senhor ganhava tocando entre outros, no Hotel Regina... Maestro - Isso, entre outros... porque não era só esse... Interlúdio (Inês) - Deixa eu só entender uma coisa, o senhor se formou como Bacharel em Ciências e Letras em 1949, completando sua formação no Colégio Pedro II. Depois o senhor entrou para a Universidade do Brasil, foi isso? Maestro - Não, não…. eu já estudava na escola de música antes, eu consegui entrar como aluno ouvinte. Vou contar. O meu professor, e primo, Jaques Nirenberg, foi meu primeiro professor de violino, ele muito inteligentemente ao falar com a professora Vera de Albuquerque que era a catedrática de solfejo, contou a história de que tinha um primo dele, na verdade ele era primo do meu pai, que tinha talento e perguntou se ela poderia fazer a gentileza de aceitá-lo como aluno ouvinte, pra ver... se ela achasse bem aí eu faria a prova depois para o ano seguinte. Então ela me aceitou e como eu me destaquei muito...

71 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 veja bem, é aquele negócio... Mozart, vocês sabem quem é Mozart? (se dirigindo aos alunos) Interlúdio (bolsista) – Sim. Maestro - Mozart aos 6 anos já compunha, é lógico que ele não aprendeu a compor em 6 anos de vida, ele veio com algum talento que é aquilo que Deus nos dá. Veja outro exemplo. Monteiro Lobato disse que tinha petróleo no Brasil enquanto todo mundo dizia que não tinha, ele não era adivinho, mas ele tinha uma intuição... Intuição, talento, essas coisas no fundo no fundo são a mesma coisa. Você tem uma intuição e você depois constata que aquilo é verdadeiro. Aí você vai dizer: fui eu que fiz? Não. Foi uma coisa que Deus me deu. Já que ele me deu, eu tenho que me esforçar para aprender um pouco mais. Aquilo que ele me deu, que é aquilo que eu merecia naquele momento, penso que para eu merecer mais eu tenho que fazer esforço. Olha, tudo aquilo que você conseguir sem esforço, desconfie. Senão for por esforço, não vale. Porque, pelos caminhos da vida, pra você dizer que aprendeu, você tem que fazer esforço. Muita gente acha estúpido estudar, acha uma coisa chata, ou pesada, ou seca, ou dura, mas quando você descobre a magia do estudo, quando descobre que, quando você vence uma dificuldade, você ganha um apetite para uma outra dificuldade, você passa a ter prazer naquilo. Interlúdio (Inês) - Então o senhor fez o curso inicial, depois fez o curso de violino e se formou em 1951? Maestro - A Dona Vera gostou muito de mim e ela disse: “ −Você vai fazer vestibular no ano que vem.” E poderia tentar entrar no primeiro, no segundo ou no terceiro ano. Interlúdio (Inês) - O senhor aproveitou os créditos, que havia feito como ouvinte né? Maestro - É, crédito propriamente não. Os méritos que ela achou que eu tinha. Naquela época, ser catedrático representava ser o dono da cátedra do solfejo, então ela disse pra mim: ” − Você vai fazer prova pro terceiro ano”. Era o último ano. Pouco depois, eu fiz vestibular pra entrar no curso de violino. Eu tinha que ter formação científica. Quando eu me formei no científico14, eu passei a ter direito a fazer vestibular pro curso superior. Interlúdio (Inês) - O senhor se formou no Pedro II em 1949... Maestro - Exatamente. Em 1951 foi que eu fiz concurso pro Theatro Municipal, mas antes, logo que eu me formei no Pedro II no científico eu fiz vestibular e eu entrei no penúltimo ano do curso de violino. Naquela época, a prova de vestibular possibilitava

14 No Colégio Pedro II o equivalente ao curso científico, atual Ensino Médio, era o curso que conferia o título de Bacharel em Ciências e Letras.

72 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 você entrar, na melhor das hipóteses, no penúltimo ano do ensino superior. Eu tinha que cursar dois anos de curso superior pra ele valer como curso superior. Era como se fosse, por exemplo, você vai fazer engenharia, se esforça, estuda e faz prova para cursar os dois últimos anos da engenharia. Hoje em dia isso é impossível. Nem na escola de música você tem direito a essa prova, mas era lei geral naquela época. Tinha gente que entrava no penúltimo ano em engenharia, se tivesse conhecimento podia entrar. Então eu entrei no penúltimo ano do curso de violino. Estudei dois anos e me formei. Em 1951 eu já estava graduado. Em 26 de fevereiro de 1951 eu fiz concurso para violinista da orquestra do Theatro Municipal. No mesmo período que eu entrei para a escola de música como aluno do curso superior de música eu também fiz vestibular para arquitetura. Naquela época não tinha impedimento de cursar dois cursos superiores paralelamente, então, eu fiz música e arquitetura. Acontece que eu queria casar. Em 1951 eu estava fazendo 20 anos e já namorava aquela que é minha mulher até hoje. Continuo namorando ela até hoje, são 62 anos de casado. Ela tocava piano. Havia a chamada noite de artes ou tarde de artes nos clubes e a gente tocava junto: eu violino e ela piano. Eu era bonitão né, cheio de cabelo... hoje em dia... naquela época a gente fazia sucesso.

PROGRAMA DA RÁDIO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

Maestro - Um professor do Colégio Pedro II, Libanio Guedes, homem de grande cultura, criou na Rádio do Ministério da Educação, um programa do Colégio Pedro II. Ele era professor de história. Eu gostava muito das aulas de história, e, até hoje, tenho uma grande gama de livros de história. Pois bem, o programa que ele criou era um programa artístico com alunos do Colégio Pedro II! Interlúdio (Ricardo) - Isso aconteceu em torno de 1951? Maestro - É, por aí. Bem, eu tocava lá.15 Tinha um carnavalesco... Costa. Interlúdio (Inês) - Haroldo Costa. Ele trabalhou no Teatro Experimental do Negro, e representou o personagem protagonista na peça teatral Orfeu da Conceição. Uma referência na valorização da cultura negra. Maestro - Sim! É aluno Eminente também, como eu. Ele foi meu contemporâneo e ele participava muito na parte de teatro nesse programa da Rádio MEC, o programa do

15 Na primeira parte da entrevista, o maestro menciona que o Quarteto do Colégio Pedro II se apresentou diversas vezes nesse programa da Rádio MEC, no Salão Nobre lotado e eventualmente em outros locais. O quarteto de cordas era formado por 1º Violino: Henrique Morelenbaum, 2º Violino: Félix Cincinatis, Viola: Israel Rotenberg e no Cello: Homero Dornelas.

73 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 Libanio Guedes. Esse programa da rádio MEC durou alguns anos. Depois ele morreu e o programa acabou. É aquela coisa, né... uma coisa só vive quando a alma está lá. Essa alma era o Libanio Guedes. Interlúdio (Inês) - E era um programa de música e de história, né? Maestro - Era um programa de artes, incluíam tudo que cabia. Tinha rádio teatro, tinha novela, capítulos em capítulos. Eu nem me lembro muito bem, porque eu não via todos os programas, lógico. Quando começaram a gravar, eu comecei a ouvir. Acredito que hoje em dia deve ter se perdido tudo. É uma pena, porque é um programa de memórias. Você sabe que teve uma época que muitos programas da rádio MEC foram apagados porque faltava fita pra gravar coisa nova? Então gravaram por cima. Agora, vai pegar um negócio desse... por exemplo, teve uma dessas gravações que foi salva na TVE. Foi uma ópera. O Arnaldo Estrela, grande pianista, era diretor do departamento de cultura lá de Niterói, estado do Rio de Janeiro. Digo isso porque na época estávamos no estado da Guanabara e Niterói ficava em outro estado, o estado do Rio de Janeiro. Bem... ele resolveu montar uma ópera para época de natal chamada Amahl e os Visitantes Noturnos. É uma história teatralizado do menino Jesus com os três reis magos e nós. Jane Rato dirigiu a parte cênica. Ele tinha um grande talento, havia chegado também por causa da guerra e aqui se tornou uma grande figura do teatro. Paulo Fortes, grande cantor, dirigiu a parte dos cantores e eu dirigi todo mundo como maestro. A filha da Cecília Meireles, a atriz Fernanda Maria, fez uma narração em português para que o público entendesse o texto que era em italiano. Foi gravado em fita, naqueles rolos e foi salvo porque o Paulo Fortes tinha feito uma cópia. Ele salvou e se não fosse sua ação, teriam usado essa fita por causa da falta de fitas para outras finalidades. Eu tenho essa gravação em DVD, porque fiz uma gravação sobre a gravação, fui atualizando as mídias.

CONCURSO PARA A ORQUESTRA DO THEATRO MUNICIPAL

Interlúdio (Ricardo) – O senhor já me contou uma história interessante sobre o concurso que fez para o Theatro Municipal. Pode contar para nós? Maestro - É... Bom eu fiz concurso para o Municipal e já era aluno do curso de arquitetura. Já tinha terminado a Escola de Música e era aluno do segundo ano de arquitetura. Interlúdio (Inês) - O senhor se formou em arquitetura?

74 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 Maestro - Não, quando eu passei para o Theatro Municipal eu tranquei a matrícula... quer dizer eu tenho a matrícula trancada até hoje... (Nesse momento todos riram, inclusive o maestro.) Interlúdio (Ricardo) - Ninguém entrou em contato com o senhor, perguntando se vai voltar ou não? (Mais risos) Maestro - Não, pior que não... eu fiz concurso contra a vontade da minha professora. Eu já não estudava mais com o Nierenberg e sim com a Paulina D’Ambrozio. Ela era a maior professora de violino do Brasil junto com Oscar Borgerth, que era a dupla dos tops né... aí eu fiz concurso contra vontade dela porque ela dizia: “ −Aluno meu só faz concurso prá passar”... quer dizer... tem uma única vaga e 37 candidatos... você pensa que não vai passar, é lógico... aí ela começou a me dizer: “ −Fulano de tal vai fazer, você não vai passar! Então não faça!”. Mas eu tinha um primo do meu pai, o irmão mais velho do Jaques Nierenberg, o Henrique da família... eu era o Henriquinho porque ele era o mais velho... esses dois me ajudaram muito... Ele disse pra mim: “ −Henriquinho, você vai fazer o concurso!”. Eu disse: “ −Mas a Dona Paulinha disse para eu não fazer!”... naquela época professor tinha uma autoridade.... professor falou tá falado! Hoje em dia a gente... a gente não... eu nunca contestava professor... quando contestava, contestava com o maior respeito como era da minha época. Veja bem, você não é menor que o professor porque você tem que respeitar o professor, muito pelo contrário. Quando você respeita o professor você se torna um igual a ele. Igual naquilo que consegue ser igual, né? Porque, é lógico que ele estudou mais, ele sabe mais. Então, se ela disse prá não fazer eu não ia fazer. Mas meu primo disse: “ −Não, você vai fazer, você vai desrespeitar a sua professora. O pior que pode acontecer é você não passar e mesmo não passando, você vai ter adquirido experiência. Você vai saber o que é um concurso. Eu me inscrevi em segredo. Ela não soube. Ela só soube depois e me agradeceu por eu ter feito a desobediência porque ela foi elogiada por minha causa. Eu fiz o concurso. Só tinha um vaga e tirei em segundo lugar. Interlúdio (Inês) - Sempre abaixo... Maestro - Sempre abaixo! Mas é .. porque é aquele negócio... tudo que é feito por você com muito esforço tem um sabor melhor. Quando entrei pro Pedro II... imagina o valor que eu dei pra aquela diferença de dois... aqueles dois candidatos na minha frente na lista de espera para entrar no Colégio Pedro II... difícil... Naquela época o concurso para o Theatro Municipal era gravado porque tinha que ficar documentado. Eu fiz a minha prova

75 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 e quando deu o resultado eu ainda estava com o violino na mão. Eu estava curioso... e quando deu o resultado... eu estava em segundo lugar! Eu, muito triste, abri a minha caixa e fui guardar o violino. Aí chega perto de mim um senhor alto, parecia um Dom Quixote, era o maestro Henrique Spedini16. Ele era o maestro diretor da Orquestra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro para o qual eu estava prestando concurso. Interlúdio (Ricardo) - Maestro titular, né? Maestro – Sim, maestro titular. Ele disse: “ −Menino, parabéns!”. Aí eu disse: “ −Muito obrigado, mas eu não fui aprovado”. Ele disse: “ −Calma, fique tranquilo. Você tirou em segundo lugar, mas você merecia o primeiro”. Foi aí que eu me abalei... mas por que? Ele respondeu: “ −Menino, você vai aprender que na vida as coisas nem sempre são pelo caminho mais reto. Às vezes você tem que dar uma voltinha para chegar lá e, às vezes, precisa de um esforço maior”. Eu nunca me esqueço dessas palavras... a gente tem que fazer um esforço... às vezes têm que até sofrer. Então ele me disse: “ −Você acaba de guardar esse violino e você vai fazer o seguinte: você vai sair daqui, vai na secretaria de administração, vai na secretaria de educação do município e faz um requerimento pedindo que o seu concurso tenha validade de um ano.” Hoje é automático. Você faz um concurso e se você não passa, não pega a primeira colocação, você tem o direito de um, às vezes, dois anos de espera. Naquela época não. Eu tive que pedir um auxílio para um amigo meu que tinha um colega dele que era advogado, porque eu nem sabia como redigir aquele negócio. O maestro Spedini disse: “ −Sabe por que que você vai fazer isso? É porque aquele que tirou em primeiro lugar se chama Francisco Corujo − era um argentino que vivia no Brasil e era muito bom, de fato era muito bom − mas você terá com esse pedido o concurso validado por um ano. Daqui a dois ou três meses vai se aposentar fulano de tal e o Francisco Corujo vai entrar no lugar dele, assim vai ficar com a vaga pra você.”Quer dizer, a história se repetiu com outros argumentos, com outros ingredientes... mas... dito e feito! Aliás, eu comecei a trabalhar no próprio ano 1951, mesmo antes do Corujo ser deslocado. Eu comecei a trabalhar substituindo alguém que estava doente. Interlúdio (Inês) - O senhor foi logo chamado, né? Maestro - Eu já tinha sido chamado porque o próprio maestro já me conhecia, eu estava na fila... e comecei a trabalhar. Foi assim que consegui pedir a minha mulher em casamento. Fiquei noivo! Nós já estávamos namorando havia quatro anos. Fiquei noivo

16 Foi maestro da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal na década de 1930 e se manteve no cargo por 25 anos.

76 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 por dois anos até conseguir comprar um apartamento. Eu meti na minha cabeça que tinha que comprar um apartamento. Meu pai até a morte dele não tinha apartamento. Meus pais moraram num apartamento que eu dei pra eles morarem, esse mesmo na Rua Paissandu. Eles moraram até morrer. Meu pai nunca teve nada. Ele só trabalhou e cuidou da família. Eu tive essa possibilidade de proporcionar a ele esse final de vida. Eles mereciam mais que isso, é lógico, mas eu consegui comprar esse apartamento. Para que não fosse muito caro, eu comprei um que tinha gente morando, só assim eu teria dinheiro pra comprar. Assim eu pude fazer um pedido de casamento especial. Mas um detalhe... o concurso pro Theatro Municipal era com um salário muito bom. Vocês que estudam a história do carnaval brasileiro, conhecem um samba que se chama Maria Candelária? Interlúdio (Inês) - Eu estou lembrando agora da música, mas não lembro a letra. Maestro - “Maria Candelária, era alta funcionária ganhava letra OOOOOO”. Era alguma coisa assim... também não me lembro não. O salário do músico do Theatro Municipal naquela época era letra O, que era o salário mais alto do município. Era 8 contos e 400, 8 contos e 400 era mais do que 8 mil e 400 reais hoje, que já seria um bom salário. Há pouco tempo informavam que os músicos do Theatro Municipal ganham em torno de 2 mil. Interlúdio (Inês) – O salário do músico de orquestra está muito desvalorizado. Maestro - Desvalorizou muito. Professor catedrático do Colégio Pedro II... eu não me lembro quanto é que era... mas sei que era igualado ao professor catedrático de universidade. Não tinha diferença. Professor catedrático do Pedro II ganhava igual o catedrático da Universidade do Brasil. Interlúdio (Inês) - Hoje em dia voltou a ser assim, o problema é que em outras esferas não acontece o mesmo. Maestro - Pois é, eu sei disso porque eu sou aposentado da universidade, eu sei o quanto eu ganho. Se não fossem funções que eu exerci, de direção, coisas que eu pude agregar ao salário, eu estaria recebendo uma miséria. Mas naquela época havia respeito com o professor. Qualquer aluno podia sonhar: eu quero ser um professor catedrático. Eu não fui professor catedrático da UFRJ. Quando eu passei pra catedrático já não havia a categoria de professor titular, mas era equivalente.

DOCÊNCIA NA UFRJ

Interlúdio (Ricardo) - Aí o senhor depois fez concurso pra professor da UFRJ...

77 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 Maestro – Bom, aí foi no ano 1960. Eu fiz livre docência. Naquela época, como não tinha curso de mestrado e doutorado, você tinha que fazer um concurso de livre docência. Você defendia a tese e depois fazia concurso para catedrático ou titular. Quando mudou a denominação, a livre docência valeu como título para me tornar titular. Eu estava substituindo há mais de cinco anos um titular que estava doente, o professor Newton Pádua, de quem eu fui assistente. O tempo como docente assistente e o concurso de livre docência me deram direito ao nível de titular. Interlúdio (Ricardo) - Maestro, que tal nos contar a história de como o senhor virou professor de composição na Escola de Música da UFRJ? Maestro – Ah! Essa é outra história. Depois de ser assistente do Newton Pádua, eu fui assistente do professor José Siqueira. Ele tinha pertencido ao partido comunista. Era um nortista daqueles que veio por idealismo, que veio lutando por um mundo melhor de socialismo, de igualitarismo. Ele não tinha nada de subversivo, mas ele foi aposentado compulsoriamente como subversivo. Aí, como eu era assistente dele − e naquela época eu já era titular. Como assistente do professor José Siqueira, eu atendia os alunos de composição e regência, nos primeiros anos, e os alunos de harmonia superior, contraponto e fuga, nos anos subsequentes. Eram os três primeiros anos do curso e depois é que os alunos eram encaminhados para as aulas de composição propriamente dita. O professor José Siqueira é quem dava as aulas de composição. Os alunos iam até Contraponto e Fuga comigo e aí passavam para o José Siqueira. Quando ele foi aposentado compulsoriamente, a Diretora da Escola de Música da UFRJ, Joanídia Sodré, me chamou e disse: “ −Morelenbaum, teus alunos que passaram para o Siqueira ficaram sem professor. Eu estou tentando trazer pra cá o Cláudio Santoro”. Mas parece que ele estava tendo problemas políticos também. Santoro, esse sim tinha sido mais ativo no partido comunista. Por alguma razão estava sendo difícil trazer o Santoro para trabalhar na Escola de Música, mesmo que o General Murici estivesse tentando ajudar. O General Murici protegia um pouco os músicos. Ele era irmão de um grande crítico musical, o Andrade Murici − um dos maiores críticos do Jornal do Comércio, na época em que o jornal do comércio era um grande jornal. Então a Joanídia Sodré disse: “ −Enquanto eu não consigo você vai substituir o Siqueira”. O Santoro era realmente um grande músico, num nível como o Villa Lobos. Aí eu disse: “ −Mas eu não sou compositor”. Nesse momento ela me disse uma coisa que anos depois tornou-se uma verdade para mim e que acabou virando folclore no Brasil. Ela disse: “ −Você não é compositor, mas em

78 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 compensação seus alunos quando se formarem não serão ‘Carmago Guarnierezinhos’, nem ‘Claudio Santorozinhos’”. Porque... Interlúdio (Inês) - Vão desenvolver seus próprios trabalhos... Maestro - Exatamente! E olha, foi profético! Hoje em dia, olha só a coincidência... o Diretor da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, André Cardoso, foi meu aluno, o... Interlúdio (Inês) - Guilherme Ripper. Maestro - O Guilherme Ripper é Diretor da Sala Cecília Meireles e agora vai ser Presidente do Theatro Municipal. Ele foi meu aluno... Interlúdio (Ricardo) - Cirlei de Hollanda Maestro - Cirlei de Hollanda. O Centro Cultural Banco do Brasil foi inaugurado com uma ópera de autoria dela, Judas em Sábado de Aleluia, daquele grande dramaturgo brasileiro... Interlúdio (Inês) – Martins Penna? Maestro – Martins Penna, é... a ópera é baseado na peça dele. Interlúdio (Ricardo) - Tem o Dawid Korenchendler. Maestro - Dawid Korenchendler que é titular da... Interlúdio (Ricardo) - UNIRIO. Interlúdio (Ricardo) - Posso falar outros? Maestro - Pode. Interlúdio (Ricardo) - O Ronaldo Miranda. Maestro - Ronaldo Miranda, que foi diretor da Sala Cecília Meireles e têm três óperas já estreadas dele... três óperas!

UMA HISTÓRIA DE ALUNO DEDICADO

Interlúdio (Ricardo) - Aquele maestro que está lá na Polônia... aquele que teve um contato muito bacana conosco do Rancho Praça Onze Klezmer Carioca... ele foi visitar a gente e participou de um concerto e de um cortejo... ele fez um concerto maravilhoso com obras de Guerra Peixe e com a Orquestra da UFF... Maestro – O Florêncio? Interlúdio (Ricardo) - José Maria Florêncio. Ele é um dos principais diretores de orquestras da Polônia. É companheiro de trabalho e amigo do Penderecki!

79 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 Maestro - É, ele tem uma história... esse garoto é um dos maiores maestros a nível mundial. Interlúdio (Ricardo) - Ele é maravilhoso e eu o vi regendo a Orquestra da UFF. Maestro - Ele é fora de série! Mas ele tem uma história que é muito curiosa. Eu fazia parte de uma comissão do SESI que patrocinava um curso para os filhos dos operários da indústria. O diretor do SESI em Fortaleza, um idealista, chamou o Marlos Nobre para um trabalho. Na ocasião, o Marlos Nobre era diretor do Departamento do Instituto de Música do Ministério da Educação e foi chamado para acompanhar um trabalho pioneiro que eles estavam fazendo em Fortaleza. O projeto era para dar educação extracurricular de artes especificamente, e cultura em geral, para os filhos de operários. A ideia dele foi criar um Departamento de Música Instrumental, de Ballet e de Teatro. Marlos Nobre sugeriu que tivesse uma comissão de nomes que tinham um certo reconhecimento, para fazer uma análise desse trabalho e verificar se o projeto estava indo bem. Marlos Nobre me botou nessa comissão. Eu havia regido muitas primeiras audições de músicas dele, inclusive quando ele começou o Festival da Guanabara. Então, uma vez por ano, a gente ia lá pra Fortaleza assistir essa garotada tocando na orquestra e dançando ballet. Havia, então uma orquestrinha de garotos... ah! esses garotos não podiam levar os violinos pra casa porque eles moravam em praticamente barracos com muita umidade onde não tinha o ambiente para um instrumento ficar guardado. O violino sofre pela umidade, é um instrumento sensível. Então eles tinham lá uma sala onde eles podiam guardar o instrumento. Um desses garotos, que tinha na época uns 9 ou 10 anos, era o José Maria Florêncio. Interlúdio (Ricardo) – O irmão dele também era dessa orquestra... Maestro - O irmão dele também. Ele está na orquestra de Curitiba. Não sei se já se aposentou ou não, mas já deve ter tempo pra isso... E aí, voltando à história com o José Maria Florêncio... eu fui reger o ballet Giselle em Belo Horizonte e... quem eu vi sentado nas violas? Não é aquela viola caipira não, é a viola que toca igual ao violino só que é um pouquinho maior... ele tocando na Orquestra Sinfônica de Belo Horizonte! Ele veio falar comigo: “ −Maestro, você não está me reconhecendo? Eu quero lhe agradecer um favor que o senhor nem imagina que me fez na minha vida.” Eu disse: “ −O que é que eu fiz?” Ele falou: “ −Você lembra quando você foi para Fortaleza com a comissão? Eu estava tocando na terceira estante das violas, lá prá trás. Quando terminou a apresentação o senhor me chamou e disse...” (Nesse momento percebe-se maestro emocionado)... Eu fico emocionado... Ele me lembrou do que eu disse: “ −Olha menino, você estuda bem a tua viola, porque você vai ser um grande homem!”.

80 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 Interlúdio (Ricardo) - Que bonito... Maestro - Ele não esqueceu isso. Quis o destino que anos depois, ele ainda tocava em Belo Horizonte, e eu fui reger outra orquestra... eu regia muito pelo Brasil a fora... a spalla da Orquestra Sinfônica de Belo Horizonte era uma polonesa, a Maria Dworch... o marido dela era fagotista da Orquestra... eles vieram para o Brasil naquela época de comunismo na Polônia... Bom, ela era uma excelente violinista e o José Maria tocava na primeira fila da orquestra. Ele me relatou o que estava fazendo... e por iniciativa.... uma daquelas iniciativas que você não sabe o que te motiva... eu fui falar com a Maria. Eu contei a história pra ela: “ −Maria, tem um garoto aqui, de muito talento, será que você consegue uma bolsa de estudos lá na Polônia pra ele?” Ela disse: “ −É uma ideia.” Eu disse: “ −Então, se você acha que ele é bom, se você acha que ele não merece, nada feito, dá para quem tem valor. A mim parece que ele tem muito talento“. Ela disse: “ −Deixa comigo”. Tempos depois eu recebi uma carta do José Maria Florêncio, vinda da Polônia. Ela tinha conseguido uma bolsa de estudos para ele. E aí ele se apaixonou por uma bailarina polonesa e ficou por lá. Ele teve grandes oportunidades e soube aproveitar. Na Polônia ele era aluno do melhor professor de regência daquele país. Ele tinha ido lá como violista, mas ele tinha esse talento pra maestro. Ele foi e conseguiu estudar com esse maestro. Até o nome desse maestro dá medo: Satanovsky. Em uma carta o José Maria me contou que o Satanovsky ia reger uma das peças mais difíceis do repertorio de regência mundial: A Sagração da Primavera de Stravinsky. Ele ia reger e, naturalmente, a classe dele de regência estava lá assistindo o ensaio, e depois, eles ganharam ingressos para assistir ao concerto. Acontece que na hora do concerto, pouco tempo antes, o Maestro Satanovsky se sentiu mal e sentindo que não ia conseguir reger, percebeu que tinha que conseguir um substituto. Só que, por acaso naquele momento, não tinha nenhum substituto na Polônia, ai ele mesmo disse: “ −Olha, eu tenho um aluno, um brasileiro, ele vai poder reger!” E ele indicou o José Maria e o garoto enfrentou... e tem mais uma coisa, ele regeu de memória! Foi o maior sucesso! Moral da história, ele virou um ídolo na Polônia. Atualmente ele rege no mundo inteiro. Sempre que vem por aqui de visita, faz questão me chamar de pai brasileiro. Interlúdio (Inês) - O senhor tem falado muito desse seu lado de professor, de sua vocação para ensinar. Uma das perguntas que querermos lhe fazer é que saberes o senhor acha importantes na formação de um professor? O que torna alguém um bom professor? Maestro - Um bom professor é aquele que sabe aprender com os alunos! Primeira coisa: aquele que sabe aprender com os alunos! Eu, por exemplo, tinha uma forma de provocar

81 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 os alunos para que eles tivessem dúvidas. Esta é a segunda coisa. Eu dizia “ −Aluno que já sabe tudo, que não pergunta nada, é porque sabe tudo. Se sabe tudo, porque está ali? Para aprender comigo?” Então, o aluno que sabe tudo não é aluno, é professor! E o professor que diz que sabe tudo não é bom professor, porque bom professor é aquele que sabe que sempre há algo a se aprender. Se o professor aprende, o aluno tem que ter dúvidas. Se o aluno não tem dúvidas, ou ele não gosta daquela matéria ou ele não soube caminhar como deveria. Eu tinha um lema. Entre tantos outros, eu diria assim: ” −Quando eu digo que vocês me perguntem, não significa que eu estou mostrando que sou aquele que sabe tudo. O dia que vocês me perguntarem alguma coisa que eu não saiba, eu vou ter a modéstia de dizer: não sei, mas na próxima aula, eu vou saber.” Quantas vezes eu virei noite... porque eu dava duas aulas por semana, ou era segunda e quinta ou terça e sexta. Tinha turma da tarde e turma da manhã. Então eu, de segunda a quinta ou de terça a sexta, esse era o prazo que eu me dava pra responder ao aluno quando eu não sabia alguma coisa. Quando o aluno não sabia... ele tinha que perguntar... tinha que ter a coragem e a modéstia. Muita gente não pergunta porque tem medo que achem que ele é burro, que ele não aprende. Mas não, pelo contrário, inteligente é aquele que pergunta. Essa é uma importante qualidade de um bom professor. Outra é ter a certeza de que você tem um objetivo. O objetivo é o horizonte. Só que você no horizonte... não sei se vocês sabem do fenômeno que existe... você está vendo uma coisa lá longe... na medida vai se aproximando e o horizonte vai ficando mais longe, significa que não tem fim o estudo. A pessoa que acha que sabe tudo já morreu e ninguém avisou. Se você tem a certeza... e no momento seguinte você tem mais dúvidas... é porque você está aprendendo. Quem não tem dúvida, aquele que não sabe, que não quer saber, esse não tem dúvida.

CANTO ORFEÔNICO E LIVROS DE MÚSICA DO COLÉGIO PEDRO II

Interlúdio (Inês) – Nas aulas de canto orfeônico vocês chegaram a usar alguns desses livros aqui? Maestro - Como aluno no Pedro II eu conheci o Guia Prático de Villa-Lobos. Esse de Canto Orfeônico também, porque a Dona Elza nos fazia conhecer. Mas na parte teórica, não. Porque a parte teórica era destinada ao conhecimento geral de quem se formava em música. O canto orfeônico, na concepção de Villa-lobos, era para musicalizar um povo, que de nascimento já era musical. Era só dar a capacidade de exteriorizar uma musicalidade nata. Veja a história de Mozart, que aos seis anos já compunha músicas.

82 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 Por quê? Porque o pai dele era um grande músico e soube enxergar no filho qualidades que já vinham de nascença. Ao invés de falar: “ −Você é ‘pirralho’ e não sabe nada”, não, pelo contrário, ele estimulou o filho. Na medida em que ele estimulava, o filho foi ultrapassando os desafios. O pai teve a inteligência de reconhecer que o filho já nasceu com aquela bagagem. Interlúdio (Inês) - Maestro, qual o repertório que era cantado nas aulas de canto orfeônico? Maestro - Bom, o repertorio basicamente era do Guia Prático. Dona Elza fazia uns arranjos também. Se a música era a uma voz, ela fazia uma segunda voz de acordo com os alunos que ela dispunha. Ela sabia que eu dava agudos, então ela escrevia algumas coisas que eu me destacava dos outros. Tinha um outro colega nosso que, apesar de jovem, ainda estava naquela voz de transição e tinha uma voz mais grave. Ela era muito criativa, era apaixonada pelo que fazia. Essa paixão dela... ah! Outra qualidade... O professor tem que gostar do que faz! Ele tem que gostar. Se ele não gostar daquilo que ele faz, ele nunca vai ser um bom professor. Aliás, eu diria o seguinte: na vida de vocês só façam aquilo que vocês tiverem paixão de fazer. Se vocês não tiverem paixão... Vejam minha história. Eu sou casado com a mesma mulher por 62 anos, além de dois anos de noivado e seis anos de namoro... é muito tempo. Qual é o segredo? Eu era apaixonado por ela e ela era apaixonada por mim. A gente continua simplesmente assim. Se você for lecionar, leciona aquilo que você gosta, aquilo que você tem certeza que é útil para os alunos. Você quando transmite uma coisa com paixão, você transmite com mais poder e tua inspiração fica enriquecida. Eu ouço coisas de meus alunos que nem imaginava ouvir. No outro dia o Roberto Duarte, maestro, numa “rodinha de conversa”, fez questão de contar uma história que eu tinha contado pra ele. Um aluno chegou pra mim no corredor na Escola de Música e disse: ” −Maestro, quero ser maestro. O que que eu faço pra ser maestro?”. Eu não era professor de maestros, era professor de matérias teóricas, de contraponto, fuga... mas aí eu disse pra ele: ” −Forma um coro de amadores e, se possível, forma um pequeno conjunto orquestral de amadores e começa a ajudar essa gente. Você não vai fazer pra você. Você vai fazer para eles. No fazer pra eles, você vai estar fazer pra você.” Ele fez isso, ele criou um coro e depois uma orquestra de câmara em Niterói. A partir daí, ele começou a ter a intimidade com a regência. Ele se tornou professor de regência e já está aposentado. Hoje ele conta a todos os alunos, que o Morelenbaum disse pra ele como é que faz pra ser maestro. Quando a sua ambição é uma missão positiva,

83 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 uma missão válida, você mesmo vai se surpreender de que maneira você vai transmitir sua missão. Repito, se existe a paixão, você vai ser uma pessoa feliz. Inês - Alguma palavra final? Maestro - Eu diria que eu nunca tenho a palavra final, nem eu gosto de ter, nem eu gosto que tenham, porque nós estamos sempre num caminho... Interlúdio (Inês) - Agradecemos muitíssimo, pela sabedoria que o senhor nos transmitiu, palavras que, tenha a certeza, ficarão marcadas em nossas memórias e nas dos nossos leitores. Maestro - Eu me sinto como instrumento musical, quando alguém fica satisfeito com o que eu fiz, com o que eu transmiti, eu fico feliz porque eu desempenhei aquela tarefa satisfatoriamente. Eu nunca tive a certeza de dizer: “ −Eu sei”. Eu estou sempre atrás de alguma coisa, no antes, no durante e no depois. É isso. Fico satisfeito que eu tenha conseguido transmitir para os alunos alguma mensagem. Tem muitas histórias, mas aí teríamos que ter tempo para contar muito mais coisas...

84 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017