63 Pelos Caminhos Da Vida
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PELOS CAMINHOS DA VIDA (2ª Parte de 2): entrevista com o maestro Henrique Morelenbaum Inês Rocha1 Colégio Pedro II [email protected] Ricardo Szpilman2 Colégio Pedro II [email protected] Esta é a segunda parte da entrevista que o Maestro Henrique Morelenbaum concedeu para a INTERLÚDIO. A totalidade do depoimento está disponível nos números 7 e 8 do Ano V, edições do ano de 2017.3 1 Professora e Coordenadora de Educação Musical do Colégio Pedro II – campus Centro desde 1993. É Doutora em Educação (UERJ) e Mestre em Música (CBM-CEU). É professora colaboradora permanente do Programa de Pós-Graduação em Música (PPGM) da UNIRIO. Integra o naipe de soprano do Coro de Câmara da Pro-Arte. 2 Professor e Coordenador de Educação Musical do Colégio Pedro II – campus São Cristóvão II. É Mestre em Música (UNIRIO), Regente Coral, Compositor premiado e Arranjador. Lançou em 2003 o Livro (port/ingl) 7 Canções Judaicas Arranjadas para Coral e em 2015 o volume 2 (port/espa/ingl). Estudou Regência Coral e Análise Musical na Pro Arte, nas classes do maestro Carlos Alberto Figueiredo. Toca Sax no Bloco Céu na Terra e no Rancho Praça Onze Klezmer Carioca, onde também é o maestro. 3 A entrevista na íntegra pode ser consultada em mídia MP3, assim como a correspondente transcrição em arquivo pdf e impressa, no NUDOM (Núcleo de Documentação e Memória), que integra o CEDOM (Centro 63 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 Alunos do campus centro, onde o maestro estudou, se encontraram com ele em seu apartamento, no bairro de Laranjeiras, Rio de Janeiro, para uma conversa matinal no dia 9 de julho de 20154. A entrevista foi registrada pelos estudantes, que também realizaram a transcrição escrita para arquivo word das encantadoras declarações do músico. A íntegra da entrevista, em arquivo de áudio e a transcrição impressa, estão arquivadas no NUDOM (Núcleo de Documentação e Memória do CPII) e podem ser consultadas. Em seguida, a transcrição foi textualizada, ou seja, o texto sofreu adaptações para facilitar o acesso ao conteúdo da fala em forma de texto escrito. Foram eliminadas, em parte, marcas de oralidade. Optamos, contudo, por algumas expressões muito características da fala do maestro, como: aí, quer dizer, pra, pro, porque, né, tá-, repetições de termos e ideias visando tornar a leitura mais fluente. A versão textualizada foi lida e autorizada pelo maestro. Nesta segunda parte, apresentamos as lembranças e comentários do maestro sobre sua família, professores e a importância deles na vida de seus alunos, aulas de música do Colégio Pedro II, a formação do maestro no curso superior de violino, a participação em programa de rádio organizado por seu professor de história, o concurso para a Orquestra do Theatro Municipal, o pedido de casamento a Sarah Morelenbaum, valores éticos e ensinamentos de vida. FAMÍLIA Interlúdio (Inês) – O senhor teve dois filhos, não é? Maestro – Três. Interlúdio (Inês) – O senhor pode dizer os nomes deles pra que os alunos possam conhecer? Maestro – Jaques Morelembaum5, que tocou e fez arranjos para o Tom Jobim, parceria que rendeu o Prêmio Grammy com o CD Antônio Brasileiro. Interlúdio (Ricardo) – Caetano Veloso, em Circuladô, Estampa Fina, Tieta do Agreste... faz uma ponta com o Caetano no filme de Pedro Almodóvar, Hable com ella... de Documentação e Memória), atualmente situado no Campus Centro do Colégio Pedro II. http://cp2centro.net 4 Participaram da gravação de áudio e vídeo e transcrição da entrevista para arquivo Word, os seguintes alunos: Lívia Rodrigues Cardoso Marins, Michel Yuri Rodrigues Rocha Pereira, Pedro Moreira Grisolia e Wendell de Almeida Dias. 5 Jaques Morelenbaum nasceu no Rio de Janeiro, em 18 de maio de 1954 e trabalha como violoncelista, arranjador, maestro, produtor musical e compositor. 64 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 Interlúdio (Inês) – E Gal Costa, em Mina d’água do meu canto... Maestro – Marisa Monte, Carlinhos Brown, Gal Costa, todos os maiores nomes da música popular brasileira... Interlúdio (Inês) – Teve o grupo Barca do Sol6... Que na minha adolescência eu adorava cantar aquelas músicas todas... Adorava! (risos) Maestro – Barca do Sol, pois é... Na Barca do Sol já cantava a minha nora também, porque ela namorou o Jaques, meu filho, no Coral da Pro Arte. A Pro Arte, que existe até hoje, é uma Escola de Música, fica na Rua Alice, aqui em Laranjeiras. Lá por 1970 tinha um coral, donde saiu a Barca do Sol... Interlúdio (Inês) – Ah... O nome da sua nora, qual é? Maestro – Paula Morelenbaum7. E tem minha filha, Lúcia Morelenbaum, que se formou em música também, era a única que pretendia ser musicista, ela é aposentada, ela trabalhou trinta e tantos anos na Orquestra Sinfônica Brasileira... Interlúdio (Inês) – O instrumento dela, qual é? Maestro – Clarineta. Hoje ela dá aula de clarineta e de piano, pois como todo aposentado no Brasil não tem o salário que merece. Ela tem que complementar o ganha-pão com aulas de música e, felizmente, ela dá muito bem pro riscado... Tem o Eduardo Morelenbaum, mais conhecido como Edu Morelenbaum. Atua muito na retaguarda das novelas, onde ele escreve arranjos de música. Trabalha com os maestros da Globo... ele nunca foi maestro da Globo, porque ele entrou pra Orquestra do Theatro Municipal e na Globo trabalha escrevendo arranjos. O Jaques, meu filho mais velho, foi também inicialmente da Orquestra do Teatro Municipal e depois é que ele resolveu abandonar. Já o Eduardo, ah!... o Eduardo fez uma carreira muito grande com os Titãs, na época auge do grupo. O Eduardo era o tecladista deles e tocava clarineta, saxofone, qualquer saxofone e clarone também. Como tecladista ele fazia arranjos e viajou o mundo inteiro com os Titãs. Na época áurea ele foi sucessor do Jaques, irmão dele que tocou com a Gal Costa. Meu filho mais velho chegou a ser diretor artístico e musical da Gal Costa. Depois, por várias razões ele resolveu seguir outros rumos e indicou o irmão. Ele deu 6 A Barca do Sol foi um conjunto de música popular que iniciou carreira na década de 1970 e contou com integrantes como Jaques Morelenbaum, Marcelo Bernardes, Alain Pierre, David Ganc, Ritchie e participações eventuais de Pery Reis, Egberto Gismonti. Um especial na TVE-RJ tornou o grupo mais conhecido. Em 1978, o grupo participou do LP Corra o Risco, da cantora Olívia Byington, com os sucessos Lady Jane, Fantasma da Ópera e Brilho da Noite. 7 Regina Paula Martins Morelenbaum, nasceu no Rio de Janeiro, em 31 de julho de 1962, e atua como cantora de MPB. Por mais de dez anos cantou ao lado de Tom Jobim. É casada com Jaques Morelenbaum. 65 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 conta do recado. A Gal Costa adorava ele. O Edu, por outras razões, resolveu também seguir outros caminhos... Interlúdio (Ricardo) – O Edu é um dos grandes maestros de corais de empresas do Rio... Maestro - Aliás, ele fez... Interlúdio (Ricardo) – Uma Dissertação de Mestrado sobre qualidade total... de Coral de Empresa. Um valioso componente para o projeto de Qualidade Total. Eu li, é muito bacana! Maestro –Isso! A Dissertação de Mestrado dele foi sobre corais de empresas. É... é muito difundido porque ele abriu caminho pra esse ramo da música. É uma coisa importantíssima, no que concerne à parte social, de convívio social através da música. Agora ele acabou de perder três empresas nas quais ele trabalhava. Ele estava trabalhando com seis empresas e agora ficou com três por conta dessa crise. As empresas não têm estímulo pra isso... Nos primeiros cortes, infelizmente, é a cultura que é cortada. Bom... PROFESSORES IMPORTANTES PARA SEUS ALUNOS Interlúdio (Inês) – Maestro, queria lhe mostrar esse livro. É um livro que nós guardamos lá no Colégio Pedro II e podemos ver aqui algumas caricaturas que, de alguma forma, possam se referir a professores de música. Maestro – Bem, eu estou vendo que a maior parte dessas pessoas trabalhou um pouco antes do período em que estudei. Interlúdio (Inês) – Sim, é anterior ao seu período... Maestro – Mais antigo, mas esse é o caminho... Eu tive professores como esse, por exemplo, Aureliano Pimentel, esse tipo fisionômico não me é estranho, esse tipo também não me é estranho. Eu tive grandes professores. Inclusive o Malba Tahan8. Interlúdio (Inês) – Ah,... O nome dele... Interlúdio (Ricardo) – O matemático... Maestro – Júlio César de Melo e Sousa. Interlúdio (Inês) – Vocês conhecem, rapazes? O livro do Malba Tahan? 8 Malba Tahan é o pseudônimo do escritor Julio Cesar de Mello e Sousa, professor do Colégio Pedro II e autor do livro Contos de Malba Tahan. Nesse livro aparece a imagem de um árabe de longas barbas brancas e turbante. Julio Cesar e Malba Tahan passaram a ser considerados duas pessoas diferentes. O autor real, Júlio César, foi autorizado pelo presidente Getúlio Vargas a utilizar o nome de Malba Tahan, inclusive, sendo acrescentado em sua carteira de identidade. 66 Interlúdio - Ano 5, n. 8 - 2017 Maestro – O homem que calculava9. Se vocês não leram esse livro, não continuem pecando... (rsrsr) Interlúdio (Inês) – É leitura obrigatória... Maestro – Porque é um pecado não ler. O homem que calculava. Interlúdio (Ricardo) – E os livros de contos dele, são contos árabes lindos! Versões lindas! Maestro – Ele assumiu esse nome Malba Tahan, que é um nome árabe... porque ele usava as lendas árabes das 1001 noites ou outras coisas desse tipo, para dar vida aos contos dele. Interlúdio (Ricardo) – Eu tenho algumas versões de lendas árabes, e em uma delas, 1001 noites, que é uma obra que eu gosto muito, tem a revisão e introdução de Malba Tahan. É um texto muito interessante! Maestro – Exato... Eu vou... já que isso foi assim revelador pra vocês, eu vou fazer um corte na nossa conversa pra dizer o seguinte: hoje os Estados Unidos tem um presidente negro, não é? Obama.