Territórios, Memórias, Identidades
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TERRITÓRIOS, MEMÓRIAS, IDENTIDADES TERRITÓRIOS, MEMÓRIAS, IDENTIDADES TERRITORY, MEMORY, IDENTITY TERRITOIRES, MÉMOIRES, IDENTITÉS MUSEU NACIONAL DE ARQUEOLOGIA LISBOA, 2017 PARCEIRO EDITORIAL ÍNDICE 9 APRESENTAÇÃO 24 LOULÉ. O LUGAR 198 III. PROTO-HISTÓRIA O MUNDO PROTO-HISTÓRICO 26 À NOSSA PASSAGEM. E O ADVENTO DA ESCRITA TERRAS DE LOULÉ 14 RAZÕES DE SER Lídia Jorge 200 A IDADE DO BRONZE DE UMA EXPOSIÇÃO NO CONCELHO DE LOULÉ 28 LOULÉ EM VISTA RASANTE. Carlos Oliveira, Pedro Barros, DAS ORIGENS A 1950 Samuel Melro e Susana Estrela Joaquim Romero Magalhães 210 FICHAS DE CATÁLOGO 34 PARA A HISTÓRIA DA ARQUEOLOGIA DE LOULÉ 220 A IDADE DO FERRO Carlos Fabião NO CONCELHO DE LOULÉ (FARO, ALGARVE, PORTUGAL) Ana Margarida Arruda 42 I. TERRITÓRIO 226 NAS ORIGENS DA ESCRITA: OS MONUMENTOS EPIGRÁFICOS 50 TERRITÓRIOS DE LOULÉ COM ESCRITA DO SUDOESTE Ana Ramos-Pereira Amílcar Guerra 238 NA DESCOBERTA DAS ESTELAS EPIGRAFADAS DE LOULÉ 58 II. PRÉ-HISTÓRIA: Pedro Barros, Samuel Melro AS ANTIGAS SOCIEDADES e Susana Estrela CAMPONESAS 246 AS ENTIDADES ÉTNICAS 60 SERRA E MAR. AS ANTIGAS DO MUNDO PRÉ-ROMANO SOCIEDADES CAMPONESAS Amílcar Guerra EM LOULÉ (ALGARVE) Victor S. Gonçalves 252 FICHAS DE CATÁLOGO e Ana Catarina Sousa 148 FICHAS DE CATÁLOGO 264 IV. ÉPOCA ROMANA 410 V. ANTIGUIDADE TARDIA 572 VII. ÉPOCA MEDIEVAL O MUNDO ROMANO. UM DA AFIRMAÇÃO DO ISLÃO À CRISTANDADE TERRITÓRIO ENTRE CIDADES DO CRISTIANISMO À UNIFICAÇÃO VISIGODA 574 A CONQUISTA E A 266 LOULÉ ROMANA: UM SOBERANIA DO ALGARVE TERRITÓRIO ENTRE CIDADES 412 LOULÉ NA ANTIGUIDADE Luís Filipe Oliveira Catarina Viegas TARDIA: A CRISTIANIZAÇÃO E O MUNDO RURAL ROMANO 582 UM ESPAÇO ENTRE PODERES: 278 O ESTABELECIMENTO EM TRANSFORMAÇÃO O REI, O CONCELHO, A IGREJA PORTUÁRIO DO CERRO João Pedro Bernardes João Luís Fontes DA VILA (VILAMOURA): e Gonçalo Melo da Silva DE AGLOMERADO ROMANO 418 O MUNDO FUNERÁRIO A ALDEIA ISLÂMICA VISIGÓTICO NO TERRITÓRIO 590 ORDENAR O POVOAMENTO E A Felix Teichner LOULETANO: SÍTIOS, VIZINHANÇA: MUÇULMANOS, PRÁTICAS E MATERIAIS CRISTÃOS E JUDEUS 292 AS OCUPAÇÕES ANTIGAS Andreia Arezes Maria Filomena Lopes de Barros DA QUINTA DO LAGO (ALMANSIL, LOULÉ) 428 FICHAS DE CATÁLOGO 598 FIGOS DA TERRA Ana Margarida Arruda E TRIGO DO MAR Luís Miguel Duarte 302 MUNDO FUNERÁRIO ROMANO NO TERRITÓRIO 448 VI . ÉPOCA ISLÂMICA 608 FICHAS DE CATÁLOGO DE LOULÉ DO GHARB AO ALGARVE: Carlos Pereira CINCO SÉCULOS DE ISLÃO 312 DOS MONUMENTOS 450 O ATUAL TERRITÓRIO DE 628 IDENTIDADES EPIGRÁFICOS ROMANOS LOULÉ NO PERÍODO ISLÂMICO DE LOULÉ Helena Catarino 630 A FELICIDADE DE José d’Encarnação CONHECER OS GUARDIÕES 464 AL-‘ULYÀ , A CIDADE ISLÂMICA DA IDENTIDADE DE LOULÉ 318 APROXIMACIÓN A LA Isabel Luzia e Alexandra Pires Pedro Barros CIRCULACIÓN MONETARIA DEL CONCEJO DE LOULÉ 480 O CASTELO DE SALIR: EN ÉPOCA ROMANA UM DISTRITO RURAL 650 ANTES DO HOMEM Noé Conejo Delgado (HISN E QARYA ) ISLÂMICO DE OCSONOBA 652 LOULÉ HÁ MAIS DE 220 324 A FAUNA MALACOLÓGICA Helena Catarino MILHÕES DE ANOS: DO CERRO DA VILA OS VERTEBRADOS FÓSSEIS Filipe Henriques e Ana Pratas 494 AS NECRÓPOLES DO ALGARVE TRIÁSICO ISLÂMICAS DE LOULÉ Octávio Mateus e Hugo Campos 328 FICHAS DE CATÁLOGO Alexandra Pires e Isabel Luzia 504 FICHAS DE CATÁLOGO PARA A HISTÓRIA DA ARQUEOLOGIA DE LOULÉ CARLOS FABIÃO Presentemente, o concelho de Loulé tem 153 registos Os seus esforços orientaram-se para toda a região do no Portal Endovélico da DGPC, onde se inscrevem os antigo reino, sem privilegiar particularmente o territó- sítios com interesse arqueológico do país, correspon- rio louletano, mas este não deixou de estar contempla- dendo, portanto, a outras tantas ocorrências, numerosas do, na primeira visão de conjunto a que o autor chamou e diversificadas, documentadas na sua região. A riqueza a Carta , com os respetivos vestígios monumentais da e diversidade de Loulé em vestígios de antigas ocupa- Antiguidade. Se a cartografia estaciana ficou estabele- ções humanas advêm em boa parte da configuração cida no século XIX , sob a forma de dois notáveis mapas, do concelho, que se estende pelas três grandes uni- o dedicado aos vestígios pré-históricos e o relativo aos dades de paisagem do antigo Reino do Algarve (atual de épocas históricas, desenhados e registados em uma distrito de Faro), a saber, a serra , de ásperos relevos época onde não havia ainda uma cartografia de porme- xistosos, cortados por profundos barrancos, o barro- nor do território nacional, e sem privilegiar informação cal , de terrenos calcários, de bom potencial agrícola, de nenhuma época em particular, desde a Pré-História e a plataforma litoral, profundamente alterada, por ao período medieval islâmico. De fora das suas inda- fenómenos de erosão da antiga linha de costa e for- gações ficaram somente as cavernas, para o estudo te sedimentação dos seus paleoestuários e lagunas. das quais não recebeu autorização governamental, Esta quase equitativa distribuição do espaço atual do como amargamente lamentou, mas não deixou de concelho por tão distintas paisagens explicará em parte as inventariar, legando à posteridade uma relação de a diversidade dos vestígios, correspondendo afinal às cavidades cársicas ainda hoje de inegável utilidade. diferentes estratégias de ocupação do espaço pelas A obra de Estácio da Veiga sinalizou de um modo sociedades humanas, ao longo do tempo. notório a riqueza arqueológica da mais meridional re- O conhecimento concreto da arqueologia local gião portuguesa, atraindo ao longo do tempo muitos resulta de dinâmicas várias, que se inscrevem na his- outros investigadores que, partindo da informação tória da investigação arqueológica do país. divulgada, desenvolveram novas pesquisas na região. Conheceu a região alguns registos saídos das penas Loulé não foi particularmente eleito como território de eruditos locais que nos deixaram apontamentos de estudo, mas a informação sobre vestígios arqueo- corográficos interessantes. Mas foi sobretudo no sé- lógicos locais não deixou de ir crescendo ao longo do culo XIX que Estácio da Veiga realizou a sua gigantes- tempo. Diga-se, porém, em abono da obra pioneira, ca tarefa de levantamento da Carta Arqueológica do que poucos serão os vestígios algarvios que não se Algarve (fig. 1), numa época em que davam os primei- encontravam já, no mínimo, vagamente referenciados ros passos os esforços similares em outras paragens na cartografia de Estácio da Veiga. europeias. Pela mão de Veiga, o Algarve entrou não Por morte do autor, a sua vasta obra Antiguidades somente nos anais da Arqueologia portuguesa, mas Monumentaes do Algarve não chegou a ser concluída, também na própria história da disciplina na Europa. tendo ficado porém o conjunto de apontamentos e 34 CARLOS FABIÃO do geral para o particular, ou seja, a perspetiva ampla antecedeu a focagem em território mais concreto. Não vem ao caso tratar aqui de vários outros con- tributos de carácter mais monográfico, centrado no estudo deste ou daquele aspeto da arqueologia local, que sempre foram surgindo, pela iniciativa de variados investigadores, mas apenas traçar grandes linhas. O leitor interessado poderá consultar o grande repor- tório da bibliografia arqueológica algarvia reunido por Mário e Rosa Varela Gomes, se desejar alguma informação mais concreta. Um novo aspeto saliente da arqueologia louletana foi (e é) o projeto desenvolvido em torno da villa ro- mana de Cerro da Vila, Quarteira. De início, o local foi identificado e estudado como mais um sítio roma- no do litoral algarvio, um dos muitos já identificados por Estácio da Veiga. Contudo, a sua posse por uma informações que, mais tarde, nos finais da década de entidade privada de vocação turística levou a que as sessenta do século XX , a sua bisneta Maria Luísa Estácio extensas escavações que ao longo do tempo se foram da Veiga Santos resgatou para a composição da sua promovendo fossem acompanhadas de igual cuidado tese de licenciatura, Arqueologia Romana do Algarve , na conservação das ruínas e pela criação de um museu apresentada na Faculdade de Letras da Universidade monográfico local, onde se expõe uma amostra dos es- de Lisboa e mais tarde publicada em dois volumes, pólios ali recolhidos. Um sítio investigado, com conser- dedicados, respetivamente, à zona litoral e ao inte- vação e consolidação das suas ruínas, associado a um rior algarvios. Esta partição geográfica, em parte com- museu monográfico aberto ao público constitui o mo- preensível, uma vez que se tratava de inventariar os delo ideal de apresentação e fruição do património vestígios de época romana de toda a região, criou arqueológico, plenamente justificado em região de segmentações nos atuais concelhos que obrigam o forte presença turística. O dever-se à iniciativa privada leitor a um esforço de (re)composição geográfica, constitui também assinalável inovação no contexto se pretender conhecer o que cabe a cada município. português. Infelizmente, o modelo não frutificou, cons- Por essa mesma época, e uma vez mais na Faculdade tituindo ainda hoje uma singularidade no panorama de Letras da Universidade de Lisboa, surgiu uma nova da relação entre operadores turísticos privados e sítios estratégia de elaboração dos trabalhos de final de cur- arqueológicos devidamente preservados e expostos so da Licenciatura em História: as cartas arqueológicas ao público, facto tanto mais estranho quanto seria concelhias. Neste particular, Loulé foi justamente o pri- de esperar outros casos na região algarvia que tem meiro escolhido, por uma sua natural, Isilda Periquito no turismo uma das suas mais dinâmicas atividades. (mais tarde, Pires Martins), que nos finais