JN) E Do Jornal Da Record (JR) Em 1998 (Relatório Preliminar
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POLITICA ELEITORAL NA TV: um estudo comparado do Jornal Nacional (JN) e do Jornal da Record (JR) em 1998 (Relatório Preliminar) © Venício A. de Lima e Liziane Guazina <[email protected]> <[email protected]> Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política, NEMP Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares, CEAM Universidade de Brasília, UnB SCLN 406, Bloco A, sala 205 70874-510, Brasília , D.F. Trabalho apresentado ao GT Mídia, Opinião Pública e Eleições XXII Encontro Anual da ANPOCS 27 a 31 de outubro de 1998 Hotel Glória, Caxambu, M.G. 2 POLITICA ELEITORAL NA TV: um estudo comparado do Jornal Nacional (JN) e do Jornal da Record (JR) em 1998 (RELATÓRIO PRELIMINAR: mar-jun/98 ) © Venício A. de Lima e Liziane Guazina 1 Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política, NEMP Universidade de Brasília, UnB 1. Introdução Desde o final da década de 60 ou, mais precisamente, desde 1 o de setembro de 1969 quando foi ao ar pela primeira vez, o Jornal Nacional (JN) da Rede Globo é o noticiário mais importante da televisão brasileira. Durante décadas foi, isolado, o programa líder de audiência e sempre foi - e continua a ser - o líder absoluto de audiência entre os telejornais (ver Gráfico 1). Gráfico 1 MÉDIA DE AUDIÊNCIA DOS TELEJORNAIS NA GRANDE SP POR SEMANAS - MAR-JUN/98 Fonte: IBOPE/Folha de S. Paulo JORNAL NACIONAL JORNAL DA RECORD 50% 45% 45% 44% 43% 43% 43% 43% 42% 42% 41% 41% 40% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 10% 10% 10% 9% 9% 9% 8% 8% 8% 7% 5% 0% 09/03 a 16/03 a 30/03 a 13/04 a 20/04 a 27/04 a 11/05 a 18/05 a 25/05 a 01/06 a 15/06 a 15/03 22/03 05/04 19/04 26/04 03/05 17/05 24/05 31/05 07/06 21/06 A substituição do Editor Chefe (Alberico de Souza Cruz por Evandro Carlos de Andrade), ocorrida em 1996, deu início a uma série de mudanças e transformações que têm estimulado a reflexão não só sobre o JN mas sobre o papel e a influência que os mídia e o telejornalismo - local e nacional - exercem na vida do país (Lima, 1997 e Porto, 1997). Algumas das transformações por que passa o JN são comuns ao jornalismo contemporâneo e vem ocorrendo, inclusive, em outros países. Outras confirmam e identificam um padrão histórico de prática jornalística que 1 Os A. registram e agradecem a colaboração da auxiliar de pesquisa Arceolinda Monteiro Ramos, bolsista do Programa de Permanência da UnB. 3 é próprio do JN e foi se constituindo ao longo dos quase 30 anos de sua existência na televisão brasileira. Uma das características desse padrão histórico tem sido o conteúdo político da cobertura jornalística, o que tem levado analistas a considerar como inconteste a influência do JN na dinâmica do processo político brasileiro, em particular, nos períodos eleitorais. De fato, dificilmente se poderá omitir o principal telejornal da Rede Globo como player privilegiado e ativo desde os anos de autoritarismo, passando pela "campanha eleitoral" de Tancredo Neves em 1985, pela eleição direta para Presidente da República em 1989, pelo processo de impeachment em 1992, pelo lançamento da nova moeda e pelas eleições gerais de 1994. Vários estudos já foram feitos sobre o assunto (Lins da Silva, 1985; Lima, 1988 e 1990; Squirra, 1993; Albuquerque, 1994; Fabricio, 1997). Nos dois últimos anos, no entanto, como conseqüência das mudanças e transformações mencionadas, analistas tem apontado uma alteração fundamental, isto é, estaria ocorrendo uma "renúncia à política" no JN. Argumenta-se que, como forma de manter os altos índices de audiência, o principal telejornal da Rede Globo estaria evitando a política e dando preferência “às imagens da emoção, às câmeras ocultas e à violência". O respeitado jornalista e crítico de televisão da Folha de São Paulo, Nelson de Sá, por exemplo, fez recentemente a seguinte observação sobre o JN: "Não tem mais edição de debate favorável a Collor, como em 89. Nem apuração paralela desfavorável a Leonel Brizola, como em 82. Nem mentiras e omissões sobre atentados, mortes, tortura, como nos anos 70. Nem nada, na realidade. O telejornalismo da Rede Globo, concentrado no Jornal Nacional, renunciou à política. Semana passada, uma edição inteira do telejornal não trazia uma informação sequer de política ." (Sá, Nelson; 25/9/1997). Teria o JN abandonado seu padrão histórico e de fato renunciado à cobertura política ? É a resposta a essa pergunta que buscaremos a seguir. 2. Hipótese de Trabalho Nossa hipótese de trabalho é que, apesar de ter diminuído a quantidade de matérias e o espaço (tempo) dedicado à cobertura explícita da política, comparativamente ao período anterior a abril de 1996, o JN mantém o padrão político do seu jornalismo. A manutenção deste padrão histórico de jornalismo do JN ocorre através: (a) da permanência da velha estrutura de dois apresentadores (e não “âncoras”) que funciona como suporte para (b) uma pauta jornalística que inclui a ênfase e a omissão permanentes de fatos e pessoas, e um (c) “enquadramento oficialista" da cobertura explícita da política. Essa hipótese de trabalho refere-se a cobertura explícita da política porque consideramos existir também uma cobertura implícita , isto é, aquela que está embutida em temas não diretamente políticos ou aquela que se torna política exatamente por omitir os fatos políticos 2. 2 O que chamamos de “cobertura política explícita” está definido nos Procedimentos Metodológicos a seguir. Quanto a “cobertura política implícita”, ela será revelada no correr da análise. 4 Além disso, nossa hipótese é levantada apesar de, a exemplo do que já havia ocorrido em períodos eleitorais, no dia 3 de junho último, a direção da Rede Globo de Televisão ter feito circular um memorando interno denominado "Regras das Eleições 98", assinado por Roberto Irineu Marinho, no qual está escrito, dentre outras normas, que a "nossa palavra chave é a isenção " e que, como muitos ocupantes de cargos executivos são candidatos à reeleição, as solenidades de inauguração de obras públicas serão cobertas "com foco exclusivo na importância das obras e reduzindo-se ao mínimo a presença das autoridades " (cf. item 2.2). Se nossa hipótese estiver correta, a Rede Globo de Televisão, com a habilidade e a competência profissional de sempre, estaria operando as mudanças e transformações que julga necessárias à manutenção da liderança de audiência do Jornal Nacional entre os telejornais brasileiros e, ao mesmo tempo, mantendo o seu padrão histórico de cobertura política "oficialista" , inclusive durante o período eleitoral . 3. Referencial Teórico Neste RELATÓRIO PRELIMINAR vamos apenas indicar o referencial básico em que se assenta nosso trabalho, tanto do ponto de vista teórico quanto metodológico. Como se sabe, significativos avanços têm sido registrados na pesquisa sobre comunicação e jornalismo nos últimos anos. Existe uma clara tendência - identificada como uma “redescoberta do poder do jornalismo” (Traquina, 1995) - que se assenta em três linhas básicas de estudo, independentes mas diretamente relacionadas. Trata-se das pesquisas sobre a construção da notícia ( newsmaking ), o poder de definição da pauta pública (agenda setting ) e o enquadramento da notícia ( framing ). Os estudos sobre newsmaking , ou sobre “a construção da notícia”, têm revelado como a “distorção involuntária” é inerente à produção de notícias, seja pela definição mesma dos critérios de noticiabilidade, seja pelos inúmeros fatores relacionados às rotinas produtivas, à seleção das notícias ou à sua edição (Wolf, 1987). Dentro dessa tendência, uma linha de pesquisa relativa à estrutura dos telejornais, por exemplo, verificou que “ as notícias de televisão são coerentemente organizadas e estreitamente unificadas - e isto é verdade para cada notícia bem como para o conjunto das notícias... (e) os telejornais tendem a apresentar uma interpretação única e unificada dos acontecimentos do dia como um todo ” (Weaver, 1975/1993, pp. 297-98, passim ). Dessa forma, fica claro o papel unificador das telegráficas “chamadas” de abertura e fechamento dos blocos de notícias nos telejornais que constróem e sustentam a unidade de todo o noticiário. Já a hipótese do agenda setting , cujas pesquisas em sua grande maioria se referem ao jornalismo impresso e de televisão, vem questionando a tradição dos efeitos limitados, redescobrindo o poder de longo prazo que os mídia exercem na construção das agendas pública e política, isto é, na definição dos mapas cognitivos que orientam a tomada de decisões cotidianas do cidadão comum e na determinação das áreas de atuação do poder público. Existe, como se sabe, uma vasta bibliografia sobre o tema (Traquina, 1995). 5 Por outro lado, o conceito de enquadramento ( framing ) representa um avanço importante na tradicional análise de conteúdo das mensagens dos mídia, em particular, das notícias. Do ponto de vista operacional, a noção de enquadramento envolve basicamente a seleção e a saliência , sendo que esta última significa tornar uma informação mais “noticiable, meaningful or memorable to audiences”. Desta forma, “ to frame is to select some aspects of a perceived reality and make them more salient in a communication text, in such a way as to promote a particular problem definition, causal interpretation, moral evaluation, and/or treatment recommendation for the item described. Typically frames dignose, evaluate, and prescribe (Entman, 1993, p. 52). Enquadramentos podem ter pelo menos quatro loci no processo de comunicação: o comunicador, o texto, o receptor (a audiência) e a cultura. Neste trabalho estaremos interessados prioritamente no comunicador (apresentador vs. âncora) e no texto jornalístico do JN em sua unidade, como um todo . Isto porque “ most frames are defined by what they omit as well as include, and the omissions of potential problem definitions, explanations, evaluations, and recommendations may be as critical as the inclusions in guiding the audience ” (idem, p.54). Desta forma, a tarefa principal de uma análise de conteúdo de notícias deveria ser identificar e descrever seu enquadramento.