Conselho Federal De Jornalismo: Uma Corporação Necessária Valério
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Conselho Federal de Jornalismo: uma corporação necessária Valério CRUZ BRITTOS Paola MADEIRA NAZÁRIO ABSTRACT. The main objective of this paper is to critically discuss the draft law No. 3985/2004, which proposes the creation of the Federal Council of Journalism (CFJ). The text, suggested by National Federation of Journalists (Fenaj), was introduced to Congress by the executive branch on August 4, 2004. This article will consider the impact of the proposal in the major media, as well as the behavior of the Brazilian government on such statements. It will discuss key issues for the Brazilian society, such as the monitoring and the zeal for the practice of journalism and its ethical norms. Keywords: communication, journalism, politics INTRODUÇÃO Mediante a ação do Superior Tribunal Federal (STF) que no dia 17 de junho de 2009, a partir da analise do Recurso Extraordinário (RE) 511961, movido pelo Ministério Público Federal (MPF) e pelo Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo (Sertesp), revoga o Decreto-lei 972/69 que exigia o diploma como requisito para o exercício da profissão de jornalista. Mediante este fato faz-se necessária retomar a discussão antiga pela criação do CFJ, já que será imprescindível uma fiscalização maior da produção jornalística, mediante ao fato da produção de noticia agora pertencer também ao acesso de leigos. No entanto é necessário recordar os motivos pelos quais o CFJ, quando discutido no âmbito de um projeto de lei que quando se tornou pública para a maior parte da sociedade, através da grande mídia, a iniciativa foi discutida entre os atores interessados e, por fim, rejeitada, pelo Congresso Nacional, resultado de acordo entre parlamentares, em 15 de dezembro de 2004. Compreende-se por conselho profissional uma corporação, um corpo seletivo com incumbência de formular pareceres, juízos ou opiniões sobre negócios de ordem pública. Além disso, trata-se de uma autarquia, isto é, entidade autônoma sujeita a fiscalização e tutela do Estado, com patrimônio constituído com seus próprios recursos, tendo como fim executar serviços pertinentes à coletividade. Esses conselhos estão sujeitos ao regime jurídico de direito público quanto à sua criação, extinção, poderes e prerrogativas, diferenciando-se pelo fim para o qual foram criados, ou seja, a fiscalização do exercício profissional ético. Os conselhos federais profissionais são entidades descentralizadas do poder central do Estado, criadas por lei, por meio de projetos enviados pelo Poder Executivo ao Legislativo, o qual é responsável pela sua aprovação. Estas entidades têm como principais funções a fiscalização do exercício profissional, e a tutela dos preceitos éticos estabelecidos para a profissão. O motivo fundamental para a criação de um Conselho de Jornalismo, no Brasil, é a atual inexistência de uma instituição com competência legal para fiscalizar, normatizar e punir as condutas inadequadas dos profissionais da imprensa. É válida a observação acerca da relevância de tal instituição, visto que, no jornalismo, encontra-se uma das principais Redes.Com Nº 6 63 Valério CRUZ BRITTOS · Paola MADEIRA NAZÁRIO fontes de acesso à realidade e ao conhecimento das populações. Sendo assim, é bastante relevante a discussão do projeto pela criação do Conselho Federal de Jornalismo, mesmo que tal iniciativa tenha sido rejeitada, sendo possível vislumbrar, a partir disso, o posicionamento e da força das indústrias culturais. Argumento intensificado pela extinção da exigência legal para o exercício do jornalista. O fim do decreto-lei 972/69 significa um forte firmamento da autoregulamentação da imprensa brasileira, fato preocupante na contemporaneidade, visto que existe uma explosão mundial do uso da informação, através da difusão massiva da notícia e pela utilização exacerbada de manchetes e imagens e com a crescente disseminação de opiniões através de blogs e outras ferramentas proporcionadas pela internet. Partindo do pressuposto de que essas informações servem à maioria dos cidadãos, para o monitoramento dos acontecimentos próximos e remotos, torna-se pertinente avaliar a imprensa, os jornalistas e sua relação com a sociedade. A utilização de um conselho profissional na área do jornalismo no Brasil seria uma forma de regulamentação, uma ferramenta para auxiliar no exercício da ética jornalística, combatendo a invasão de privacidade, os pré- julgamentos sobre os fatos e a forte parcialidade da cobertura de imprensa, principalmente agora, como a liberação do diploma, que as diretrizes da produção da notícia não irão passar nem pelo filtro técnico trazido pelos cursos de graduação. Falar também que a questão de não exigir o diploma é mais uma ferramenta a ser explorada pelos interesses de mercado. As organizações, tanto televisivas quanto impressas, radiofônicas ou da internet, fazem parte de uma importante fatia da movimentação econômica do Brasil, a qual, para tornar-se efetiva e ampla, necessita da assimilação e aceitação da notícia por parte dos receptores, em um cenário onde o trabalho intelectual do jornalista é explorado por empresas jornalísticas, que são entidades capitalistas. Considerando esse fato, é perceptível a necessidade de projetar meios que estipulem barreiras para frear o domínio mercadológico descontrolado no exercício do jornalismo, pois uma imprensa independente (nos limites do capitalismo) precisa estar desvinculada, no maior grau que isto é possível, dos interesses políticos partidários e de mercado. JORNALISMO E FORMAS DE EXPRESSÃO Através de notícias e reportagens elaboradas pelas empresas jornalísticas é que a maior parte da população estabelece contato com o que acontece na sociedade e no mundo. O cidadão não está presente em todo o lugar que lhe é mostrado como notícia, dependendo, portanto, da agenda dos meios de comunicação de massa para perceber os fatos: Toda mídia trabalha sobre nós de uma forma total. Esses meios são tão intensos em suas conseqüências pessoais, políticas, econômicas, estéticas, psicológicas, morais, éticas e sociais que não deixam nenhuma parte nossa intocada, não afetada, inalterada. O meio é a mensagem. Qualquer compreensão sobre mudanças sociais e culturais é impossível sem um conhecimento do modo como a mídia funciona como contexto.1 Sendo a compreensão de mundo, em parte significativa, elaborada a partir das informações fornecidas pela mídia, o pluralismo manifesta-se como expressa necessidade, no jornalismo. Dessa maneira os jornalistas que formulam as notícias não podem gozar de absoluta independência, fator que é intensificado com a liberação do diploma, ação que afasta o produtor de informação dos cursos de graduação, o qual é responsável pela absorção 64 ISSN 1696-2079 Conselho Federal de Jornalismo: uma corporação necessária técnica de tal conhecimento, sendo a técnica fator essencial para o crescimento de qualquer exercício prático. Este afastamento é desconectar o modo de produzir notícia como uma ciência, é colocar a produção de notícias na vala de conhecimentos comuns e desconecta-la de um conjunto de compromissos éticos e valores sociais. Questões éticas, como a busca pela verdade, é fundamental na construção da informação, afinal, o ofício do jornalismo pretende construir ou reconstruir a realidade e não criar espaços ficcionais a partir do livre pensamento do autor ou do conjunto de autores das indústrias culturais, também não podendo ser uma atividade à mercê da lógica mercantil. A criação de um conselho seria um dispositivo fundamental para a legitimação desta ética, visto que a notícia deve perseguir distanciamento ideológico, político e econômico. “Quem entra no ramo de informar o público tem que oferecer informação independente, isto é, informação voltada exclusivamente para atender o direito à informação”2. Percebe-se, não obstante, com a análise do comportamento midiático, que o exercício do jornalismo muitas vezes inverte a informação pela opinião, relegando a um plano inferior a busca da verdade objetiva dos fatos. Os meios de comunicação de massa seguem lógicas mercantis, afastando-se de metas de bem estar social, formando uma opinião pública e consciência coletiva através de motivações privadas e não do interesse público. O que se identifica na imprensa nacional é uma conduta diretamente mercadológica, tratando a notícia como mercadoria e não privilegiando os preceitos informativos. Os conflitos de interesses, tanto os vividos pela empresas, como, especialmente, pelos próprios jornalistas, revelam-se uma ameaça à veracidade de informação transmitida ao público. Colaborando com este quadro está a liberdade de exercer o jornalismo. Mais uma vez se percebe o papel do legislador, assumido pelo STF no campo da comunicação, o qual cria mais um vácuo normativo na área, a primeira refere-se ao julgamento da inconstitucionalidade da Lei de Imprensa. Fala-se de colaboração com o cenário mercantil da notícia devido a clareza das intenções do STF em liberar a obrigatoriedade do diploma, sendo nítido que a população não será beneficiada com este fato, pois a exigência de um conhecimento técnico supervisionado pelo Ministério da Educação não é contraditório a liberdade de expressão e sim favorável as empresas de comunicação. Este fato é comprovado pela dinâmica dos próprios meios de comunicação de massa, como grandes jornais, revistas e emissoras de televisão, as quais dão espaço a não jornalistas a partir de colunas, artigos e entrevistas. Dessa maneira, percebe-se que a falta de regulamentação para o exercício de jornalista é interessante aos donos de empresas de comunicação