Universidade Federal De Juiz De Fora Pós-Graduação Em Educação Mestrado Em Educação
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO KARINE GABRIELLE FERNANDES DIÁLOGOS A PARTIR DO VEGANISMO: A QUESTÃO ANIMAL E SUA ABORDAGEM EM DOCUMENTOS OFICIAIS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL JUIZ DE FORA – MG 2019 KARINE GABRIELLE FERNANDES DIÁLOGOS A PARTIR DO VEGANISMO: A QUESTÃO ANIMAL E SUA ABORDAGEM EM DOCUMENTOS OFICIAIS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL Dissertação de mestrado apresentado ao programa de Pós-graduação em Educação, área de concentração em Educação Brasileira: Linguagem, Conhecimento e Formação de Professores, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestra em Educação. Orientadora: Cristhiane Carneiro Cunha Flôr Coorientadora: Rita de Cássia Reis JUIZ DE FORA – MG 2019 Dedico esta dissertação a todos os animais não-humanos que me ensinaram parte do seu amor, lealdade e sinceridade; que me possibilitaram constituir parte de suas vozes para que eu pudesse lutar por eles; e que me tornaram uma pessoa mais empática e compassiva. A eles também peço meu sincero perdão. GRATIDÃO Aos amigos, colegas e familiares que me auxiliaram a zelar pela veracidade dos fatos descritos a partir de suas experiências de cunho religioso, tecnológico, agropecuário, veterinário e ideológico. Ao Mateus e Thales Maia, que dispenderam seu tempo ao revisar textos, acrescentá- los com seus conhecimentos e, principalmente, pela amizade e paciência durante esse período. Aos companheiros do mestrado e aos colegas ativistas, que não deixaram uma única dúvida sem resposta. Aos meus pais João e Jane pelo amparo, pelas conversas e por sempre acreditarem no meu potencial. A minha avó Orlita por ser o meu pingo d’água na folha de inhame. Aos meus irmãos epistemológicos Nielsen de Moura, Wagner Eiras e, em especial, à Marcela Meirelles pelo carinho e por sempre estar de prontidão para ajudar com as mais diversas dúvidas. Às minhas orientadoras Cristhiane Flôr e Rita Reis pelos valiosos aprendizados e por me apoiarem nessa empreitada. A Hilda Micarello por toda ajuda e por me inserir no mundo da Educação Infantil. Aos amigos do Co(m)textos, em particular à Ana Carolina pelos diversos insights e por compartilhar sua experiência, sempre me tratando como igual. To Melanie Joy for the brief talks, the valuable tips and for inspiring me to continue in spite of the adversities. Ao Gustavo pelos momentos de descontração, apoio, auxílio, companheirismo, compreensão, ternura e e e. Ao seu lado o mundo se torna vegano. A CAPES pelo fomento que tornou o caminho menos árduo. A todos que, de uma forma ou de outra, fizeram parte desse movimento. Da utilidade dos animais Terceiro dia de aula. A professora é um amor. Na sala, estampas coloridas mostram animais de todos os feitios. É preciso querer bem a eles, diz a professora, com um sorriso que envolve toda a fauna, protegendo-a. Eles têm direito à vida, como nós, e além disso são muito úteis. Quem não sabe que o cachorro é o maior amigo da gente? Cachorro faz muita falta. Mas não é só ele não. A galinha, o peixe, a vaca… Todos ajudam. – Aquele cabeludo ali, professora, também ajuda? – Aquele? É o iaque, um boi da Ásia Central. Aquele serve de montaria e de burro de carga. Do pelo se fazem perucas bacanas. E a carne, dizem que é gostosa. – Mas se serve de montaria, como é que a gente vai comer ele? – Bem, primeiro serve para uma coisa, depois para outra. Vamos adiante. Este é o texugo. Se vocês quiserem pintar a parede do quarto, escolham pincel de texugo. Parece que é ótimo. – Ele faz pincel, professora? – Quem, o texugo? Não, só fornece o pelo. Para pincel de barba também, que o Arturzinho vai usar quando crescer. Arturzinho objetou que pretende usar barbeador elétrico. Além do mais, não gostaria de pelar o texugo, uma vez que devemos gostar dele, mas a professora já explicava a utilidade do canguru: – Bolsas, mala, maletas, tudo isso o couro do canguru dá pra gente. Não falando da carne. Canguru é utilíssimo. – Vivo, fessora? – A vicunha, que vocês estão vendo aí, produz… produz é maneira de dizer, ela fornece, ou por outra, com o pelo dela nós preparamos ponchos, mantas, cobertores, etc. – Depois a gente come a vicunha, né fessora? – Daniel, não é preciso comer todos os animais. Basta retirar a lã da vicunha, que torna a crescer… – A gente torna a corta? Ela não tem sossego, tadinha. – Vejam agora como a zebra é camarada. Trabalha no circo, e seu couro listrado serve para forro de cadeira, de almofada e para tapete. Também se aproveita a carne, sabem? – A carne também é listrada?- pergunta que desencadeia riso geral. – Não riam da Betty, ela é uma garota que quer saber direito as coisas. Querida, eu nunca vi carne de zebra no açougue, mas posso garantir que não é listrada. Se fosse, não deixaria de ser comestível por causa disto. Ah, o pinguim? Este vocês já conhecem da praia do Leblon, onde costuma aparecer, trazido pela correnteza. Pensam que só serve para brincar? Estão enganados. Vocês devem respeitar o bichinho. O excremento – não sabem o que é? O cocô do pinguim é um adubo maravilhoso: guano, rico em nitrato. O óleo feito da gordura do pinguim… – A senhora disse que a gente deve respeitar. – Claro. Mas o óleo é bom. – Do javali, professora, duvido que a gente lucre alguma coisa. – Pois lucra. O pelo dá escovas é de ótima qualidade. – E o castor? – Pois quando voltar a moda do chapéu para os homens, o castor vai prestar muito serviço. Aliás, já presta, com a pele usada para agasalhos. É o que se pode chamar de um bom exemplo. – Eu, hem? – Dos chifres do rinoceronte, Belá, você pode encomendar um vaso raro para o living da sua casa. Do couro da girafa Luís Gabriel pode tirar um escudo de verdade, deixando os pelos da cauda para Tereza fazer um bracelete genial. A tartaruga-marinha, meu Deus, é de uma utilidade que vocês não calculam. Comem-se os ovos e toma-se a sopa: uma de-lí-cia. O casco serve para fabricar pentes, cigarreiras, tanta coisa. O biguá é engraçado. – Engraçado, como? – Apanha peixe pra gente. – Apanha e entrega, professora? – Não é bem assim. Você bota um anel no pescoço dele, e o biguá pega o peixe mas não pode engolir. Então você tira o peixe da goela do biguá. – Bobo que ele é. – Não. É útil. Ai de nós se não fossem os animais que nos ajudam de todas as maneiras. Por isso que eu digo: devemos amar os animais, e não maltratá-los de jeito nenhum. Entendeu, Ricardo? – Entendi, a gente deve amar, respeitar, pelar e comer os animais, e aproveitar bem o pelo, o couro e os ossos. (Carlos Drummond de Andrade) RESUMO Pensar o veganismo e a educação, ainda que sejam temas pouco abordados no meio acadêmico, se torna cada vez mais coerente conforme o passar do tempo. Nesta pesquisa, procurei discutir o significado, principais fundamentos, a ótica do carnismo, histórico e vertentes que perpassam o movimento vegano mundial e brasileiro. Sua relação com a educação é esclarecida em seguida, apresentando o que a literatura analisada traz sobre o papel da instituição escolar na perpetuação da ideologia dominante, sobretudo no início da fase escolar. Apresento, ao finalizar meu embasamento teórico, uma revisão articulada em periódicos e eventos cujos temas abarcam, prioritariamente, educação, ensino, ambiente, ciências sociais, saúde, comunicação, ciências e interdisciplinaridade. Minha questão de pesquisa está associada a se a filosofia vegana, considerando o papel cultural escolar, é apresentada ou silenciada no contexto da Educação Infantil por meio de seus documentos oficiais norteadores. O objetivo geral é analisar documentos oficiais para a Educação Infantil em busca de compreender as possibilidades de diálogo com a questão animal. Para tanto, ao aproximar a filosofia tida pelo veganismo, em sua máxima de buscar excluir todas as formas de exploração e crueldade com os animais, e a instituição escolar como campo de disputas ideológicas, parti da análise documental como referencial metodológico. Foram selecionados sete documentos oficiais, dentre eles leis, resoluções, portarias, normativas, parâmetros e propostas, responsáveis por nortear a Educação Infantil nos âmbitos nacional e do município de Juiz de Fora – MG. Como critério para a exploração dos documentos, optei pela Análise de Conteúdo descrita por Bardin, capaz de fornecer a superação da incerteza através da validação do conteúdo da mensagem, ou seja, se o que eu julgo ver na mensagem está efetivamente contido nesta, e o enriquecimento da leitura, cujo olhar imediato, espontâneo e fecundo se tornará ainda mais produtivo a partir da leitura atenta. Dentre os resultados encontrados, foi possível considerar que o carnismo enquanto hegemonia possui formas ideológicas e de poder para se propagar nas mais diversas comunidades e instituições, o que inclui a escolar. Existem, entre os documentos, contradições quando à alimentação, o cuidado ao animal e o que se considera ideologia. Apesar disso, demonstra-se haver espaço para a discussão do veganismo enquanto estilo de vida e cultura de determinadas famílias e comunidades. Palavras-chave: Educação infantil. Ideologia. Questão animal. Veganismo. Valores. ABSTRACT Thinking about veganism and education, even though they are subjects seldom related inside the academia, becomes more and more coherent with the passing of time. In this research, I sought to discuss the meaning, the main foundations, the carnist viewpoint, the history and the main strands that define the Brazilian and international vegan movement. Its relation with education is clarified next, presenting what the analysed literature has about the role of the school in the perpetuation of the dominant ideology, above all in preschool years. I present, in finishing my theoretical background, an articulated revision of papers and events whose themes encompass, primarily, education, teaching, environment, social sciences, health, communication, sciences and interdisciplinarity.