Trajetória Epistemológica De Milton Santos
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Departamento de Geografia Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana FLAVIA CHRISTINA ANDRADE GRIMM Trajetória epistemológica de Milton Santos uma leitura a partir da centralidade da técnica, dos diálogos com a economia política e da cidadania como práxis SÃO PAULO 2011 Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Departamento de Geografia Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana Trajetória epistemológica de Milton Santos uma leitura a partir da centralidade da técnica, dos diálogos com a economia política e da cidadania como práxis Flavia Christina Andrade Grimm Orientadora: Professora Doutora María Laura Silveira Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutora SÃO PAULO 2011 ao Zé Luiz em memória Resumo O objetivo desta tese de doutorado é analisar a trajetória epistemológica do geógrafo Milton Santos (1926-2001) a partir da gênese e evolução de conceitos e categorias que foram pila- res de seu sistema teórico. A escolha pelo autor foi pautada por sua inegável importância na história da Geografia brasileira, sobretudo em seu movimento de renovação a partir de meados da década de 1970. Como partido de método, adotamos a “abordagem contex- tual” (Berdoulay, [1981] 2003) e as relações entre os eixos de análise aqui elaborados para esse fim: centralidade da técnica, diálogos com a economia política e a busca pela cidadania como práxis. Nesse exercício, foi central reconhecer, nos gran- des temas trabalHados pelo geógrafo, o processo de internali- zação de categorias externas à Geografia e os contextos históri- cos por ele vividos durante essas mais de cinco décadas de trabalho. Partimos do pressuposto que esse processo de internaliza- ção de categorias externas à Geografia – tais como, técnica, tempo, totalidade, social, formação sócio-econômica, divisão do trabalHo, forma, função, processo, estrutura, objetos, ações, norma e intencionalidade, entre outras – teve um papel extre- mamente dinamizador na releitura de categorias e conceitos internos à disciplina, como região, paisagem, espaço geográfico e território, e, portanto, na construção de uma teoria geo- gráfica. Podemos afirmar que, embasado em mais de quatro déca- das de estudos e pesquisas, o geógrafo baiano alcançou na década de 1990 uma complexa sistematização teórica. Desta- camos a elaboração – iniciada na década de 1970 – de novos conceitos e categorias que vieram enriquecer os debates epis- temológicos da geografia. Podemos mencionar a elaboração da teoria dos circuitos da economia urbana e a ênfase na necessi- dade do espaço geográfico ser compreendido como objeto da disciplina, elevando-o à instância da sociedade. Somam-se ainda a elaboração de categorias e conceitos como formação socioespacial, circuitos espaciais de produção e círculos de cooperação, meio técnico-científico e, posteriormente, meio técnico-científico informacional, entre outros. Quanto a con- tribuições para um debate ontológico sobre o espaço geo- gráfico, o autor passou da noção de fixos e fluxos ao conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações (1991). Foi exatamente durante os anos de 1990, partindo do en- tendimento da técnica – vista em sua totalidade – como fenô- meno técnico, que Milton Santos propôs que a Geografia fosse compreendida como uma filosofia das técnicas e como uma epistemologia da existência. Elaborou ainda a categoria de território usado, proposto como sinônimo de espaço geo- gráfico. Abstract This doctorate tHesis aims at analyzing tHe complete epis- temological path of geographer Milton Santos (1926-2001) de- parting from the Genesis and evolution of concepts and cate- gories which were the pillars of his theoretical system. The choice for this author was done based on his unquestionable importance in the history of Brazilian Geography and on the course of its renewal from the mid-1970s on. As a metHodical outset, we Have adopted tHe “contextual approach” (Berdoulay, [1981] 2003) and the relations between the analisys axis that were elaborated to support them: the centrality of the technique, the dialogues with the political economy and the search for the citizenship as praxis. During this exercise, it was Paramount to recognize, witHin tHe greater themes witH wHicH tHe geograpHer Has worked, tHe proccess of internalization of categories external to Geography and the historical contexts in which he has lived during more than five decades of work. We Have assumed that this process of internalization of ca- tegories external to Geography – sucH as tecHnique, time, tota- lity, social instance, socio-economic formation, labor division, form, function, process, structure, objects, actions, norm and intentionality, among others – has had an extremely dinami- zing role in rereading categories and concepts which are inter- nal to the discipline, such as region, landscape, geographical space and territory, and consequently in the construction of a geographic theory. We can affirm that, relying on more than four decades of study and research, the geographer from Bahia has reached a complex theoretical systematization during the 1990s. We wish to highlight the elaboration of new concepts and categories that happened during the 1970s and came to enrich the epis- temological debates of Geography. We can mention the formu- lation of tHe tHeory of tHe circuits in urban economy and tHe emphasis on the need for the geographical space to be unders- tood as the object of the discipline, elevating it to an instance of society. We can add to that the elaboration of categories and concepts such as the sócio-spatial formation, the spacial circu- its of production and the cooperation circles, the technical- scientific medium (later on reconceived of as technical- scientific-informational) among others. It was precisely during the 1990s, departing from the un- derstanding of technique, viewed in its totality as a technical phenomenon, that Milton Santos proposed that Geography should be comprehended as a philosophy of techniques and as an epistemology of existence. He has, furthermore, conceived the category of used territory, which was proposed as a sino- nimous of geographical space. Agradecimentos O primeiro agradecimento que quero fazer é a María Laura Silveira, pela sua seriedade e comprometimento como geógrafa e professora, pelos cuidados na orientação e, principalmente, pela confiança que depositou em mim durante todo este processo. Quero agradecer também a professores que marcaram minHa escolha e permanência na geografia. A Maria Silvia Araújo que, nos tempos do então “colegial”, lá pelos idos do final da década de 1980, me proporcionou reconhecer nesta disciplina uma maneira crítica de ver o mundo. A Sandra Lencioni que, com muito carinHo e compro- metimento, me guiou pelos primeiros caminHos da pesquisa durante a realização de meu trabalho de graduação individual, entre os anos de 1996 e 1997. Ao professor Milton Santos, que vi pela primeira vez no dia 10 de março de 1992 quando, caloura no curso de Geografia da Universidade de São Paulo, assisti à sua aula inaugural da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, denomi- nada “1992: a redescoberta da natureza”. Passados alguns anos, a partir de 1998, tive a oportunidade de participar de sua equipe de pesquisa e, também, de ser sua orientanda de mestrado. Em seus escritos tive a oportunidade de conhecer uma “grande geografia” e sinto-me privilegiada de tê-lo como um mestre. Às professoras Adriana Bernardes e Maria Amélia Masca- renhas Dantes pelos apontamentos feitos a este trabalho na ocasião do exame de qualificação. Às instituições que deram o suporte na realização deste projeto através de bolsas de pesquisa: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Contei ainda com o apoio da CAPES (Brasil) e do Ministerio de Ciencia, Tecnología e Innovación Productiva (Argentina) para a realização de uma missão de estudos durante o mês de maio de 2010 na Argentina. Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana do Departamento de Geografia, nas gestões do professor André Martin (coordenador) e professora Mónica Arroyo (vice- coordenadora) e, posteriormente, das professoras Mónica Arroyo (coordenadora) e Rita de Cássia Ariza da Cruz (vice- coordenadora), que manteve um ambiente propício ao desenvolvimento desta e tantas outras pesquisas. Sou grata também aos funcionários da Secretaria de Pós-Graduação, com atenção especial à Rosângela, à Cida, à Jurema e à Ana, que me acompanHaram com atenção e cuidado durante esses anos de pós-graduação, iniciados em 1999 a partir da elaboração de meu mestrado. Aos amigos da “Copiadora L&M” que desde 1992 sempre me acolheram com carinho. Nestes muitos anos de convivência agradeço por tudo que me ajudaram, pela atenção aos pedidos de última Hora e também pelas descontraídas conversas. Um muito obrigada à Márcia, ao André, à Joise, ao Marcos e, especialmente, ao Zé (carinhosamente chamado por todos de Zezinho) que sempre trabalhou com todo cuidado ao manusear documentos raros, jornais e outros materiais importantes para a realização desta pesquisa. Quero agradecer também a amigos e amigas que tenHo a imensa alegria de ter por perto. Muito especialmente a Paula Borin, para quem não existe uma palavra que comporte todo meu amor e alegria por tê-la em minha vida.