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formas políticas que se pretendam reno- Sul-Africana, ou formando novos grupos vadoras. de negociações multilaterais como o G20. É isso o lulismo: A combinação exitosa de Davos (Fórum Mundial Econômico) e Leany Barreiro Lemos é Oxford-Princeton Porto Alegre (Fórum Mundial Social), Global Leader Fellow, Princeton University. com forte apoio particularmente das cama- Foi pesquisadora visitante das universidades de Oxford (2006 e 2009-2010) e Georgetown das de renda mais baixas e das classes (2003-2004). É servidora de carreira do Sena- médias ascendentes. do Federal há 17 anos (atualmente licenciada) E com Dilma, teremos mais ou menos e professora associada do Instituto de Política lulismo? Se depender da Dilma, com cer- da Universidade de Brasília. Correio eletrôni- teza teremos mais lulismo, tanto no plano co: [email protected]. interno como externo. É o que indica a sua própria biografia e é o que indicam os nomes escalados para postos estratégicos como os ministérios da área econômica, Gilberto Calcagnotto da área social e da área externa. Escolhida candidata pelo presidente Luiz Inácio Dilma e o problema de seguir Lula da Silva, Dilma fez parte do governo mudando o imutável. Novas petista desde o primeiro momento, em 2003. Foi ministra das Minas e Energia e perspectivas para a reforma ministra-chefe da Casa Civil, cargo que política no Brasil? assumiu no lugar de José Dirceu, demiti- do, em 2005, em meio às denúncias do O lema da campanha eleitoral de Dil- esquema do mensalão, que se destinava a ma foi: “Para o Brasil seguir mudando.” O distribuir a partidos da coalizão “mensali- que mudou com Lula no governo? Em pri- dades” financeiras no intuito de assim meiro lugar, mudou o arraigado hábito de angariar votos para projetos do governo. governantes romperem radicalmente com Como ministra das Minas e Energia, Dil- a política de seu antecessor – muito embo- ma defendeu nova política industrial, ra o próprio Lula negue ter seguido, em fazendo com que as compras de platafor- seu cerne, a política macroeconômica de mas pela Petrobras tivessem necessaria- estabilização de seu antecessor, Fernando mente um determinado nível de conteúdo Henrique Cardoso. Em segundo lugar, nacional, para que fossem gerados mais mudou a forma como a política econômi- empregos no país. Na Casa Civil, substi- ca e social conseguiu amortecer, no nível tuiu o método “financeiro” aparentemente micro, o forte impacto restritivo da estabi- usado pelo então ministro-chefe da mes- lização ortodoxa (de juros altos etc.) prati- ma Casa, José Dirceu, por um outro, base- cada no nível macro. Isso, no plano inter- ado mais fortemente no “soft power” da no. E no externo, o que mudou foi a atitu- argumentação discursiva centrada em de altiva e desinibida com que Lula abriu objetivos operativos fixados pelo Presi- várias frentes de diálogo efetivamente dente e sua Casa Civil para cada um dos negociador tanto com o Primeiro Mundo ministérios, como coordenadora das ações XI, 41 (2011) como com o Terceiro Mundo, a partir de do governo em programas como Luz para alianças ou diálogos específicos com paí- Todos, Minha Casa, Minha Vida e outros. ses como Alemanha, Índia e Japão (refor- Já no segundo mandato de Lula, a partir ma da ONU) ou China, Índia e República de 2007, este método desembocou no Pro- Iberoamericana, Rev41-02 10/3/11 12:01 Página 170

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grama de Aceleração do Crescimento Casa Civil durante a campanha presiden- (PAC), do qual ela foi a principal formula- cial e agora ministra do Planejamento. dora e a coordenadora geral até desvincu- Outros ministros que serviram a Lula tam- lar-se do governo em inícios de 2010 para bém se encontram no ministério de Dilma: a campanha presidencial. A partir de , ministro da Fazenda de então, o PAC funcionou, por assim dizer, Lula de 2003 a 2005, é agora ministro- como o amálgama operativo de um minis- chefe da Casa Civil; Gilberto Carvalho, tério que, apesar de heterogêno, conseguiu ex-chefe de gabinete de Lula e agora uma visibilidade apta a arrebanhar, até ao secretário-geral da Presidência; Luís Iná- final do mandato, uma aprovação de mais cio Adams, que permanece advogado- de 80 por cento nas pesquisas de opinião geral da União; Jorge Hage, controlador- sobre o desempenho do governo. Além geral da União de Lula e da presidenta disso, Dilma foi presidenta do Conselho Dilma; Wagner Rossi, da Agricultura; de Administração da Petrobras e coorde- , da Defesa; Fernando Had- nadora da comissão interministerial enca- dad, da Educação; Orlando Silva, do rregada de definir as regras para a explo- Esporte; Izabella Teixeira, como ministra ração do petróleo em águas profundas na do Meio-Ambiente; , do Tra- área denominada “Pré-Sal”, que se esten- balho; Alfredo Nascimento, dos Transpor- de desde o Rio de Janeiro até à altura do tes; Alexandre Padilha, que ocupava a Rio Grande do Sul. Secretaria de Relações Institucionais e, Em todas estas atividades, segundo agora, assume o Ministério da Saúde. afirma o próprio ex-presidente Lula, Dil- Tudo isso é sinal da continuidade do lulis- ma imprimiu ao ministério de Lula um mo/dilmismo no governo Dilma para que perfil bastante “dilmista”, de tal forma o Brasil siga mudando. que, ao nomear, já presidenta, como novos Mas para avaliar se será possível ministros boa parte dos antigos ministros, seguir mudando o que para Lula se reve- Dilma apenas estava confirmando nomes lou imutável – por exemplo, a reforma que já faziam parte do “governo dela”, política –, é necessário ponderar melhor como diz Lula, pois ela se reunia mais tanto a composição do ministério de Dil- com os ministérios da área econômica do ma, como a do Congresso igualmente saí- que com o próprio Lula, levando a ele os do das urnas em 2010 e inquirir se ambos projetos só após “três ou quatro reuniões” poderão dar um salto qualitativo na linha com os respectivos ministros. E assim, traçada por Lula, de modo a poder atacar segundo Lula, “ela escolheu a turma o “imutável” com chances de êxito. dela”, da qual constavam, por exemplo: Quanto aos ministérios, como é praxe , que começou no governo no “presidencialismo de coalizão” em uso Lula como ministro do Planejamento e no Brasil, sua composição resultou de duas ocupou a presidência do Banco Nacional “cotas” diferentes: a dos partidos e a da pre- do Desenvolvimento Econômico e Social sidenta. A dos partidos foi distribuída entre (BNDES), passando a ministro da Fazen- os sete partidos da coalizão obedecendo da de Lula e agora, de Dilma; Paulo Ber- mais ou menos à respectiva representação XI 41 (2011) nardo, que foi ministro do Planejamento e no Congresso: 17 ministérios foram para o agora, das Comunicações; Edison Lobão, Partido dos Trabalhadores PT, 5 ministérios que continua ministro de Minas e Energia; e uma secretaria (de Assuntos Estratégicos) Miriam Belchior, coordenadora do PAC para o Partido do Movimento Democrático

Iberoamericana, Iberoamericana, no governo Lula, sucessora de Dilma na Brasileiro, um ministério e uma secretaria Rev41-02 10/3/11 12:01 Página 171

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são do Partido Socialista Brasileiro PSB e carência absoluta de perfil estrategista os restantes ficaram para o Partido Progres- para o peemedebista ocupante da pasta, o sista PP, o Partido da República PR, o Parti- frustrado ex-governador do Rio de Janei- do Democrático Trabalhista PDT e o Parti- ro, . O Partido Socialista do Comunista do Brasil PcdoB, com um Brasileiro PSB ficou com dois postos de ministério cada qual. primeiro escalão:o Ministério da Inte- Sob o prisma da “cota partidária”, o gração Nacional e a Secretaria dos Portos. aspecto decisivo para a continuidade do Para os demais partidos foram os ministé- lulismo no governo Dilma foi a manu- rios das Cidades (PP), do Esporte (PcdoB) tenção de uma composição partidária mais e do Trabalho (PDT). próxima do centro ideológico do que da Ao que consta, Dilma usou sua “cota esquerda, característica assumida pelo presidencial” para manter no Ministério governo Lula a partir do segundo mandato da Defesa o peemedebista Nelson Jobim, (2007-2010). Já após o escândalo do men- um cargo muito importante para o delica- salão em 2005, o presidente Lula reduzira do equilíbrio de poder entre a área civil e a marcadamente o papel do PT no governo militar. Coerentemente com sua postura para abrir espaço ao partido “centrista” eminentemente técnica, Dilma também PMDB. No segundo mandato, Lula sacri- lançou mão de sua cota presidencial para ficou 5 ministérios petistas para admitir na nomear os chefes dos ministérios das coalizão oficialmente este parceiro de Relações Exteriores, do Meio Ambiente, peso, o maior partido no Congresso, que da Cultura, assim como a presidência do lhe prometia métodos menos abusivos do Banco Central, todos eles pessoas sem que os atribuídos a Dirceu para garantir a partido e/ou técnicos de carreira. Dilma fidelidade governamental dos partidos da elevou de quatro para nove o número de coalizão. Prestigiando o PMDB, Lula deu- mulheres integrantes do primeiro escalão, lhe 6 ministérios, entre os quais os da reservando-lhes, entre outros, ministérios Defesa, da Saúde e de Minas e Energia. relevantes como o do Planejamento e o do Dilma manteve basicamente esta orien- Meio Ambiente. tação centrista, mas aumentou em um Entretanto, o processo de composição ministério a participação do PT e dimi- do ministério deixou claro onde estão os nuiu em um ministério a do PMDB, com- principais pontos de atrito entre os parti- pensando-o com uma secretaria. No entan- dos da coalizão e, portanto, os possíveis to, sua disposição de “seguir mudando” fatores que poderão impedir Dilma de ficou clara no fato de ter entregue ao PT “seguir mudando”. Como ficou claro com os dezessete ministérios que conformam a a polêmica desencadeada logo após a pos- espinha dorsal do governo nas áreas se do Minstério nos dias 1 e 2 de janeiro econômica, política e social, deixando de 2011, o que mais doeu ao PMDB foi para os demais partidos da coalizão os justamente o fato de Dilma ter-lhe subtraí- ministérios menos empenhativos e mais do um dos ministérios mais bem dotados “executores” do ponto de vista estratégi- com recursos orçamentários: o da Saúde. co. Assim, entregou ao PMDB – além da E a acirrada disputa pelos chamados car- Defesa – os ministérios da Agricultura, de gos do “segundo escalão” – ou seja, por XI, 41 (2011) Minas e Energia, Previdência Social, milhares de postos de chefia em empresas Turismo e a Secretaria de Assuntos Estra- estatais e mistas tradicionalmente preen- tégicos – esta última, apesar de seu nome, chidos em consonância com critérios “de

de significado inteiramente vazio, dada a confiança”, mais do que de competência Iberoamericana, Rev41-02 10/3/11 12:01 Página 172

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técnica –, segue justamente o objetivo de fracos do quadro político brasileiro: a falta compensar neste nível as perdas sofridas de uma regulamentação satisfatória do no primeiro escalão, tendo em vista o fato financiamento dos partidos e, simultanea- de que, por exemplo, os recursos movi- mente, um dos pontos mais debatidos no mentados por estatais elétricas chegam a âmbito da pretendida reforma política. um montante mais de dez vezes superior Interesses “fisiológicos” ou particula- ao do orçamento do ministério de Minas e ristas de cada partido voltados à satisfação Energia, ao qual estão ligadas. Segundo de seu curral eleitoral – lançando mão análise do Departamento Intersindical de quase exclusivamente do poder de dispor Assessoria Parlamentar DIAP, ao PT toca, sobre o orçamento para fazer obras cuja no ministério de Dilma, uma parcela orça- visibilidade lhes permita (mais do que mentária quase quatro vezes maior do que “programas”) assegurar polpudos dividen- a do PMDB, embora este detenha na dos eleitorais – constituem um dos fatores Câmara o segundo lugar em número de que explicam a ausência quase completa, cadeiras, logo após o PT, e, no Senado, o no Brasil, de partidos programáticos, vol- primeiro. Desfez-se assim o delicado tados à formulação de um projeto político equilíbrio alcançado no segundo mandato para a nação. As mais recentes tentativas de Lula, quando tanto o PT como o PMDB de instalação para tais partidos foram as comandavam ministérios com um respec- do PT e do PMDB, fundados nos anos tivo orçamento total em torno de 150 1980 com a declarada ambição de um pro- bilhões de reais. A disputa pela chefia dos jeto nacional social-democrata. Mas Correios (ligados ao Ministério das Comu- ambos parecem ter fracassado, ao menos nicações, liderado por um petista), por temporariamente – o PT, com o escândalo exemplo, ou da segunda maior hidrelétri- do “mensalão” em 2005, e o PSDB, com ca do mundo, Itaipu (ligada ao Ministério sua desfigurante coalizão com o conserva- de Minas e Energia, liderado por um pee- dor PFL, nos dois mandatos de Fernando medebista), por exemplo, esquentou a tal Henrique Cardoso de 1995 a 2002. Se é ponto nos primeiros dias do governo de verdade que o PT, com a ajuda de Lula, Dilma, que esta se viu obrigada a intervir, conseguiu – após as drásticas perdas nas exigindo suspensão dos debates até feve- eleições de 2006 – recompor sua bancada reiro de 2011, quando o parlamento eleger parlamentar, tornando-se a primeira força os presidentes as duas casas legislativas. na Câmara dos Deputados e a segunda no Com isso, Dilma demonstrou não Senado, não é menos verdade que só o estar disposta a dar livre curso a critérios conseguiu graças ao carisma de Lula que, meramente “fisiológicos” para a compo- embora sendo “maior do que o PT”, logrou sição de seu ministério pela cota partidá- manter junto à opinião pública a imagem ria. Deste modo, ela deixa claro estar dis- de identificação pessoal com o partido. posta a enfrentar o apetite “fisiológico” Quanto a programa partidário, nada houve dos partidos, como se designa no Brasil o na campanha para as eleições parlamenta- assanhamento com que as agremiações res e mesmo presidenciais de 2010 que políticas – e particularmente o PMDB – tivesse um eivo sequer de projeto nacional XI 41 (2011) procuram apoderar-se dos cargos públicos que servisse de diferença específica entre dotados de orçamentos polpudos. Aqui, um partido e outro. Tudo se resumiu a um Dilma parece “seguir mudando”, já que discurso de continuação da mudança prag- esta disputa por recursos orçamentários maticamente concretizada por Lula em

Iberoamericana, Iberoamericana, põe a descoberto um dos principais pontos seus dois mandatos. O próprio candidato Rev41-02 10/3/11 12:01 Página 173

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oposicionista, José Serra, teve todo o cui- seu poder de fogo operacional homoge- dado em evitar uma discussão mais apro- neizando-o tendencialmente em torno do fundada dos sucessos econômicos e PT. Por outro lado, enquadrou os demais sociais de Lula, limitando-se a incursões partidos em ministérios de menor mais ou menos atabalhoadas na área da importância funcional em torno do PMDB. política externa. Portanto, na partilha dos ministérios entre Assim, tanto tecnicamente como sob o os partidos da coalizão, Dilma deixou de aspecto político-partidário, Dilma optou lado considerações ligadas ao tamanho do por continuidade, sim, mas mudando o orçamento e priorizou critérios político- método, que passou da pura e simples operacionais. A questão que se coloca contemporização com os pesos político- refere-se à fidelidade que poderá esperar partidários para uma maior homogenei- de sua coalizão dentro desta taxonomia zação política da espinha dorsal do gover- anti-status-quo. no, em detrimento de seus componentes A ampla maioria numérica de Dilma menos decisivos ou, pelo menos, não tan- tanto no Senado (55 senadores sobre um to sensíveis a alterações da conjuntura total de 81) como na Câmara dos Deputa- governamental. Exemplo disso pode ser dos (355 deputados sobre um total de 513) visto nos casos do vice-presidente da permite-lhe inclusive, em princípio, alte- República e do ministro da Defesa. Trata- rar a Constituição. Mas esta maioria se de uma continuidade que vem desde numérica não é garantia de fidelidade. A épocas anteriores a Lula. O vice-presiden- briga sobre a distribuição dos ministérios te , presidente licenciado do pautou-se pela insatisfação quanto à res- PMDB, foi presidente da Câmara dos pectiva dotação orçamentária e não, por Deputados de 1997 a 2001 durante o critérios de políticas públicas. Foi por isso Governo de Fernando Henrique Cardoso que, em seu discurso de posse, Dilma e, fiel a seu desempenho pró-governista apresentou como primeiro passo para de então, apoiou em 2002 o candidato de fazer avançar a democracia brasileiro na FHC para a Presidência da República con- era pós-Lula o da reforma política: “Na tra o vitorioso Lula. Já no segundo man- política, é tarefa indeclinável e urgente dato de Lula, porém, Temer foi um dos uma reforma com mudanças na legislação fiadores da lealdade do PMDB ao governo para fazer avançar nossa jovem democra- lulista. O ministro da Defesa Nelson cia, fortalecer o sentido programático dos Jobim, igualmente do PMDB, também já partidos e aperfeiçoar as instituições, res- havia prestado seu apoio tanto ao presi- taurando valores e dando mais transparên- dente Cardoso na função de ministro da cia ao conjunto da atividade pública.” Justiça (1995 a 1997) como ao presidente Mas como um partido “fisiológico” Lula na função de ministro da Defesa a poderá lançar as bases para o surgimento partir de julho de 2007. Há, portanto, uma de partidos “programáticos” e transparen- continuidade até mesmo pessoal entre o tes? No dizer áspero mas, sob certo aspec- “fernandismo” de um lado e o “lulismo” to, certeiro de um dos mais contundentes de Dilma, do outro. Trata-se aqui de um críticos do governo Lula, Paulo Roberto continuismo no relacionamento interinsti- de Almeida, poderia ser fatal para as XI, 41 (2011) tucional do governo: Executivo-Legislati- demais reformas colocar a reforma políti- vo e Executivo-Forças Armadas. ca como ponto de partida: “Poder-se-ia, de Concluindo, impõe-se constatar que, imediato, colocar a questão da reforma

na composição ministerial, Dilma reforçou política em primeiro lugar, por muitos Iberoamericana, Rev41-02 10/3/11 12:01 Página 174

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considerada como a chave-mestra de para a reforma política poderia ser uma todas as demais reformas, mas justamente saída para o dilema colocado por Paulo tendo em vista a complexidade do empre- Roberto de Almeida. Primeiro, reformar o endimento, e as características “especiais” financiamento dos partidos para evitar do sistema político brasileiro, cabe recon- futuros “mensalões”. Depois, estreitar a hecer que fazer dessa reforma a condição vinculação eleitor-eleito diminuindo o essencial para empreender todas as demais tamanho dos distritos eleitorais, atualmen- poderia significar a paralisação de todo o te excessivamente grandes por serem conjunto de tarefas tidas como relevantes coextensivos às fronteiras estaduais, para a modernização brasileira.” fazendo com que o eleitor acabe por Desta forma, para avaliar se a demo- esquecer o deputado federal que elegeu e cracia brasileira, com Dilma, poderá assim por diante. avançar pelo menos quanto a uma maior transparência financeira e eleitoral, será necessário analisar a qualidade dos eleitos Gilberto Calcagnotto é sociólogo aposentado. deste ano. Quanto a isso, o fato de Tiririca De 1981 a 2009, pesquisador do Instituto de Estudos Íbero-Americanos/GIGA especialmen- (um conhecido comediante de São Paulo te na área de estudos brasileiros. E-mail: Cal- que, como candidato, alardeava sua [email protected]. ignorância sobre o que se passa em Brasí- lia, prometendo, em troca do voto, uma vez eleito, contar ao eleitorado o que lá descobrir...) ter sido o deputado federal Andrés Malamud com o maior número de votos é simples- mente expressão do anseio de transparên- La política externa cia que move o eleitorado, mesmo que, como no caso de Tiririca, a transparência de : venha a mostrar as vísceras nepotistas e ¿menos de lo mismo? fisiológicas de grande parte do quadro político brasileiro. La política externa brasileña inicia Pelo que depender do espectro de par- cada siglo con una década fundacional. tidos a sustentar o governo Dilma, será Entre 1902 y 1912, el barón de Río Bran- muito difícil acrescentar ao lulismo aquilo co definió las fronteras territoriales, los que o próprio Lula identificou como principios diplomáticos y el alineamiento urgência número um para sua sucessora: a internacional que –con matices y ajustes– reforma política. Vamos torcer para que a regirían desde entonces. Sólo la historia “ficha limpa” (condição legalmente fixada podrá confirmar si la gestión de Celso já para as eleições de 2010 no sentido de Amorim, entre 2003 y 2010, fue tan deci- vetar candidatos com “ficha suja”, ou seja, siva para su país; en cualquier caso, el que tenham sido condenados em juízo canciller de Lula logró dos hechos inédi- colegiado ou que tenham renunciado ape- tos: en el ámbito nacional, sus ocho años nas para escapar de processos de cassação con Lula más los dos en que integró el XI 41 (2011) de mandato) faça escola, excluindo gabinete de Itamar Franco (1993-1995) lo corruptos ou “fisiológicos” da política, transforman en el ministro de Relaciones sem prejuízo para a eficácia da mesma. Exteriores más longevo de la República, Círculo quadrado? Não necessariamente. superando incluso al mítico barón; en el internacional, la influyente revista Foreign

Iberoamericana, Iberoamericana, Para tanto, um procedimento incremental