Denúncia Em Separado, Laudas Digitadas Somente Em Anverso, Refe- Rente Ao Inquérito N
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Nº 227637/2017 – GTLJ/PGR Inquérito nº 4325/DF Relator: Ministro Edson Fachin 1. Introdução O PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA oferece denúncia em separado, laudas digitadas somente em anverso, refe- rente ao Inquérito n. 4325/DF, em face de LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA (LULA), DILMA VANA ROUSSEFF (DILMA), ANTONIO PALOCCI FILHO (PALOCCI), GUIDO MANTEGA (MANTEGA), GLEISI HELENA HOFFMANN (GLEISI), PAULO BERNARDO SILVA (PAULO BERNARDO), JOÃO VACCARI NETO (VAC- CARI) e EDSON ANTONIO EDINHO DA SILVA (EDI- NHO), por terem praticado o crime previsto no o art. 2º, § 3º e § 4º, II, III e V, da Lei n. 12.850/2013. Documento assinado via Token digitalmente por RODRIGO JANOT MONTEIRO DE BARROS, em 05/09/2017 19:32. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 38CD2210.989E79C2.D37DBCA2.88AD21F4 Procuradoria-Geral da República Pelo menos desde meados de 2002 até 12 de maio de 20161, os denunciados, integraram e estruturaram uma organização crimi- nosa com atuação durante o período em que LULA e DILMA ROUSSEFF sucessivamente titularizaram a Presidência da Repú- blica, para cometimento de uma miríade de delitos, em especial contra a administração pública em geral. Além dos denunciados, o núcleo político de referida organização era composto também por outros integrantes do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e do Partido Progressista (PP), agentes públicos cujas condutas são objeto de outros inquéritos. 2. Da organização criminosa A “Operação Lava Jato” desvelou um grande esquema criminoso, envolvendo agentes públicos, empresários e operadores financeiros, voltado para a prática de delitos como corrupção e lavagem de ativos, relacionados, mas não restritos, à sociedade de economia mista federal Petróleo Brasileiro S/A – PETROBRAS. Verificou-se a atuação de organização criminosa complexa, estruturada basicamente em quatro núcleos: a) O núcleo político, formado por partidos e por seus integrantes; b) o núcleo econômico, formado por empresas que eram contratadas pela Administração Pública e que pagavam vantagens indevidas a 1 Data do afastamento provisório de DILMA ROUSSEFF da Presidência da República. 2 de 21 Documento assinado via Token digitalmente por RODRIGO JANOT MONTEIRO DE BARROS, em 05/09/2017 19:32. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 38CD2210.989E79C2.D37DBCA2.88AD21F4 Procuradoria-Geral da República funcionários de alto escalão e aos componentes do núcleo político; c) o núcleo administrativo, formado pelos funcionários de alto escalão da Administração Pública; e, finalmente; d) o núcleo financeiro, formado pelos operadores que concretizavam o repasse de propinas. A atuação do núcleo econômico era intrinsecamente depen- dente da atuação do núcleo político, uma vez que este era respon- sável por indicar e manter um núcleo administrativo nos entes públicos contratantes voltados para a realização dos interesses ilíci- tos. O núcleo econômico financiava os integrantes do núcleo político, mas, não obstante, precisava ainda comprar proteção. Em paralelo, em constante contato com todos os núcleos citados, figura o núcleo financeiro, responsável por viabilizar o repasse de valores. Verificou-se o desenho de um grupo criminoso organizado, amplo e complexo, com uma miríade de atores que se interligam em uma estrutura de vínculos horizontais, em modelo cooperati- vista, nos quais os integrantes agem em comunhão de esforços e objetivos, bem como em uma estrutura mais verticalizada e hierar- quizada, com centros estratégicos, de comando, controle e toma- das de decisões mais relevantes. Alguns membros de determinadas agremiações políticas se organizaram internamente, valendo-se de seus partidos e em uma estrutura hierarquizada, para cometimento de crimes contra a Administração Pública. Nesse aspecto há verticalização da organização criminosa. Noutro giro, a horizontalização é aferida pela articulação existente entre alguns membros de agremiações 3 de 21 Documento assinado via Token digitalmente por RODRIGO JANOT MONTEIRO DE BARROS, em 05/09/2017 19:32. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 38CD2210.989E79C2.D37DBCA2.88AD21F4 Procuradoria-Geral da República diversas, adotando o mesmo modus operandi e dividindo as fontes de desvio e arrecadação ilícita. Nessa linha, alguns membros do PP, PMDB e PT, entre outros, utilizando indevidamente de suas siglas partidárias, dividiram entre si, por exemplo, as Diretorias de Abastecimento, de Serviços e Internacional da PETROBRAS. Como visto, a indicação de determinadas pessoas para importantes postos chaves da entidade pública, por membros dos partidos, era essencial para implementação e manutenção do projeto criminoso. Em relação ao PMDB, as evidências apontam para uma subdivisão interna de poder entre o PMDB com articulação na no Senado Federal e o PMDB com articulação Câmara dos Deputados, tendo sido instaurados inquéritos diversos perante o Supremo Tribunal Federal para investigar cada um desses grupos, respectivamente. Os fatos devem ser analisados no contexto de uma única or- ganização criminosa complexa, com especial atenção, nestes autos, para a denúncia ora oferecida em relação ao núcleo do PT. As práticas espúrias voltadas a atender interesses privados, a partir de vultosos recursos públicos, não se restringem àqueles reportados na denúncia ora ofertada. 3. Do desmembramento em relação aos demais investigados sem prerrogativa de foro 4 de 21 Documento assinado via Token digitalmente por RODRIGO JANOT MONTEIRO DE BARROS, em 05/09/2017 19:32. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 38CD2210.989E79C2.D37DBCA2.88AD21F4 Procuradoria-Geral da República A denúncia ora apresentada se refere a um núcleo específico da organização criminosa, qual seja o político do PT. Membros que, mesmo pertencentes ao núcleo político do PT, não tenham sido incluídos na presente denúncia, devem ser investigados e pro- cessados no Juízo competente, o qual, no caso, é a 13ª Vara Federal de Curitiba2. Em decorrência dos diversos crimes praticados pelos mem- bros da organização criminosa, tais como cartel, corrupção e lava- gem, já foram processados e julgados dirigentes da PETROBRAS e de algumas das empreiteiras envolvidas, além de ex-agentes políti- cos (já destituídos de foro por prerrogativa de função). Conforme reconhecido nas respectivas sentenças, por exem- plo, restou provado que dirigentes da CAMARGO CORREA (ação penal nº 5083258-29.2014.4.04.7000), OAS (ação penal nº 5083376-05.2014.4.04.7000), MENDES JUNIOR (ação penal nº 5083401-18.2014.4.04.7000), GALVÃO ENGENHARIA (ação penal nº 5083360-51.2014.4.04.7000 e ENGEVIX (ação penal nº 2 A Lava Jato começou em 2009 com a investigação de crimes de lavagem de recursos relacionados ao ex-deputado federal José Janene, em Londrina, no Paraná. Além do ex-deputado, estavam envolvidos nos crimes os doleiros Alberto Youssef e Carlos Habib Chater. A primeira fase da operação deu origem aos seguintes processos criminais, todos com trâmite na 13ª Vara Federal de Curitiba: 5025676-71.2014.404.7000, 5025695-77.2014.404.7000, 5025699-17.2014.404.7000, 5025687-03.2014.404.7000, 5025692- 25.2014.404.7000, 5026212-82.2014.404.7000, 5026243-05.2014.404.7000, 5026663-10.2014.404.7000, 5035110-84.2014.404.7000, 5049485- 90.2014.404.7000, 5035707-53.2014.404.7000, 5061472-26.2014.404.7000, 5047229-77.2014.404.7000 e 5049898-06.2014.404.7000. 5 de 21 Documento assinado via Token digitalmente por RODRIGO JANOT MONTEIRO DE BARROS, em 05/09/2017 19:32. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 38CD2210.989E79C2.D37DBCA2.88AD21F4 Procuradoria-Geral da República 5083351-89.2014.4.04.7000) pagaram, respectivamente, R$ 50.035.912,33, R$ 29.223.961,00, R$ 31.472.238,00, R$ 5.512.430,00, e R$ 15.247.430,00, em propina à Diretoria de Abas- tecimento da PETROBRAS. Nas ações penais nº 5023135-31.2015.4.04.7000 e 5023162- 14.2015.4.04.7000, também já foram processados e condenados ex- agentes políticos que receberam propinas do esquema criminoso, respectivamente, PEDRO DA SILVA CORREA DE OLIVEIRA ANDRADE NETO e JOÃO LUIZ CORREIA ARGOLO DOS SANTOS. Na ação penal nº 5036528-23.2015.404.7000 foram processa- dos e condenados excecutivos da ODEBRECHT pela prática dos delitos de pertinência a organização criminosa, corrupção ativa e la- vagem de dinheiro nacional e internacional. Nesse contexto, tam- bém já foram denunciados e processados executivos da ANDRADE GUTIERREZ por organização criminosa, corrupção ativa e passiva, e lavagem de dinheiro nacional e internacional (ações penais nº 5036518-76.2015.404.7000). Os executivos da ODEBRECHT foram ainda denunciados por corrupção envolvendo ex-funcionários da PETROBRAS, entre eles RENATO DE SOUZA DUQUE (ação penal nº 5051379- 67.2015.4.04.7000, ex-Diretor de Serviços da PETROBRAS). RE- NATO DUQUE foi, ainda, denunciado e processado por favore- cer a empresa SAIPEM na contratação de obras da PETROBRAS (ação penal nº 5037093-84.2015.4.04.7000) e por crimes envol- vendo propinas pagas via SETAL ÓLEO E GÁS e EDITORA 6 de 21 Documento assinado via Token digitalmente por RODRIGO JANOT MONTEIRO DE BARROS, em 05/09/2017 19:32. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 38CD2210.989E79C2.D37DBCA2.88AD21F4 Procuradoria-Geral da República GRÁFICA ATITUDE LTDA. (ação penal nº 5019501- 27.2015.4.04.7000). Nesta última, também figura como réu JOÃO VACCARI NETO (ex-tesoureiro do PARTIDO DOS TRABA- LHADORES). Os dois e JOSÉ DIRCEU foram denunciados ainda por crimes cometidos no âmbito da Diretoria de Serviços da PETROBRAS, no período de 2003 a 2015 (ação penal nº 5045241- 84.2015.404.7000). As tabelas abaixo correlacionam, por partido (PT, PMDB e PP), as principais denúncias já oferecidas perante a 13ª vara Federal de Curitiba, no âmbito da operação Lava Jato. Em destaque estão grifadas aquelas denúncias nas quais já foi imputado, a membros diversos, o crime de organização criminosa: PT Número do Crimes Denunciados Sentença processo imputados André Luis Vargas Ilário, 5029737- Lavagem de Sim.