6.7 Aves O Parque Nacional Do Viruá É Uma Das Unidades De Conservação Com a Maior Diversidade De Aves Da Amazônia (Figura 6.7.1)
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6.7 Aves O Parque Nacional do Viruá é uma das unidades de conservação com a maior diversidade de aves da Amazônia (Figura 6.7.1). São 531 espécies registradas, e mais de 550 estimadas, pertencentes a 71 famílias de aves. As ordens com maior número de espécies são Passeriformes (282), Apodiformes (28), Accipitriformes (25), Piciformes (24), Psittaciformes (21) e Charadriiformes (17). As famílias com maior riqueza são Tyrannidae (48), Thamnophilidae (44), Thraupidae (41), Accipitridae (24), Trochilidae (22), Psittacidae (21), Dendrocolaptidae (18), Rhynchocyclidae (18) e Picidae (16) (Anexo 6.7.1, Apêndice 6.7.1). Das espécies de aves do PNV, 27 encontram-se sob diferentes graus de ameaça segundo critérios da BirdLife International 2012 (IUCN 2013), incluindo 01 espécie criticamente ameaçada de extinção, 08 espécies vulneráveis e 18 espécies quase ameaçadas (Anexo 6.7.2). Destas, 41% (11) são especialistas de florestas de várzea, duas delas com distribuição geográfica restrita: o chororó-do-rio-branco Cercomacra carbonaria (Criticamente Ameaçado), endêmico das florestas aluviais do rio Branco, e a choquinha-do-tapajós Myrmotherula klagesi (Quase Ameaçada), com ocorrência em áreas restritas dos Estados de Roraima, Amazonas e Pará. A perda de hábitats florestais representa a principal ameaça para estas e outras 23 espécies consideradas. A caça é a maior causa de risco para o pato-corredor Neochen jubata e o uiraçu-falso Morphnus guianensis (Quase ameaçadas), afetando também outras 11 espécies. A sensibilidade à fragmentação é mais um fator, relevante para 07 destas aves. Figura 6.7.1 Unidades de conservação com maior riqueza de aves na Amazônia Brasileira. Fontes: WHITTAKER et al. 2002 - Resex Alto Juruá, ALEIXO et al. 2012 - Flona Carajás, ARROLLO 2009 - PE Cristalino, SCHULZ-NETO et al. 2007 - Rebio Trombetas, BORGES & ALMEIDA 2011 - PN Jaú, POLETTO e ALEIXO 2006 - PN Serra do Divisor, OREN E PARKER III 1997 - PN da Amazônia, SILVA 1988 - Esec Maracá, BUZZETTI 2006 - Rebio S. do Cachimbo, COHN-HAFT et al. 1997 - Arie PDBFF, COLTRO-JR. 2006 - PN M. Tumucumaque, SOUZA et al. 2008 - PN Cabo Orange. 6.7-1 AVES SOB DIFERENTES GRAUS DE AMEAA COM OCORRNCIA NO PNV Anselmo d’Affonseca Anselmo Robson Czaban Robson João Quental João Thiago Laranjeiras Thiago Figura 6.7.2 Espécies de aves sob diferentes graus de ameaça registradas no Parque Nacional do Viruá: uiraçu-falso Morphnus guianensis (acima à esquerda), choquinha-do-tapajós Myrmotherula klagesi ♀ (acima à direita, outra localidade), chororó-do-rio-branco Cercomacra carbonaria (abaixo à esquerda), pato-corredor Neochen jubata (abaixo à direita). Além das 27 espécies sob ameaça, são consideradas de interesse especial para a conservação outras 23 aves endêmicas e/ou de distribuição restrita consideradas na designação da IBA-RR04 Campinas e Várzeas do rio Branco1 (Quadro 6.7.1), as aves migratórias e espécies vulneráveis à caça e ao tráfico de animais silvestres. Pelo menos 45 espécies de aves migratórias buscam abrigo e recursos alimentares sazonalmente no PN Viruá, 12 das quais dependentes de áreas úmidas (Anexo 6.7.3). Durante a vazante (outubro a março), são avistadas na região 27 espécies migratórias do norte (boreais), com destaque para maçaricos (Scolopacidae, 8 espécies), mariquitas (Parulidae, 5 espécies) e andorinhas (Hirundinidae, 3 espécies). Espécies migratórias austrais e de outras regiões da Amazônia fazem uso do PNV no período das chuvas (abril a agosto) ou outras épocas (Naka et al. 2006). 1 Iniciativa da BirdLife International e SAVE Brasil para a identificação de áreas importantes para a conservação das aves em todo o mundo. Para detalhes ver Capítulo 3 - Contexto legal e Capítulo 4 - Representatividade. 6.7-2 Aves sujeitas à pressão de caça incluem os inhambus (Tinamidae), patos (Anatidae), mutuns e jacutingas (Cracidae), totalizando 17 espécies. As mais vulneráveis ao tráfico de animais silvestres são os papagaios e periquitos (Psittacidae), tucanos e araçaris (Ramphastidae), as aves canoras (curió) e sanhaços (Thraupidae) (WWF-Brasil 1995). QUADRO 6.7.1 ESPÉCIES RARAS DE CAMPINARANAS Registros de espécies raras e de distribuição restrita realizados no Parque Nacional do Viruá contribuíram para o reconhecimento das Campinaranas e Várzeas do Baixo rio Branco como sítio de importância internacional para a conservação das aves (De Luca et al. 2009). Espécies de destaque, especialistas de Campinaranas, incluem o formigueiro-de-yapacana Aprositornis disjuncta - Thamnophilidae, registrado no Brasil apenas em duas localidades: PN Jaú e PN Viruá (Cohn-Haft et al. 2001, Naka et al. 2006), o papa-capim-de-coleira Dolospingus fringilloides - Thraupidae e a maria-da-campina Hemitriccus inornatus - Rhynchocyclidae (Czaban 2005, Cohn-Haft et al. 2009). Renato Rizzaro Renato Anselmo d’Affonseca Anselmo Endrigo Edson Rizzaro Renato Aves raras de campinaranas registradas no Parque Nacional do Viruá*: Dolospingus fringilloides (acima à esquerda), Hemitriccus inornatus (acima à direita, outra localidade), Aprositornis disjuncta ♀ (abaixo à esquerda), Aprositornis disjuncta ♂ (abaixo à direita). * Nomenclatura e classificação de espécies conforme CBRO (2014), disponível em http://www.cbro.org.br. 6.7-3 O conhecimento sobre as espécies de aves do PN Viruá é proveniente principalmente de levantamentos realizados por equipes do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia sob a coordenação de Mario Cohn-Haft, iniciados em 2001 e ampliados em 2006 e 2008 para o Plano de Manejo, os quais possibilitaram o registro de 501 espécies e 442 (83%) novos registros para a UC. Nas duas expedições para o Plano de Manejo, foram visitadas áreas representativas da diversidade de ambientes do PNV, incluindo as várzeas e igapós dos rios Branco, Baruana, Anauá e Iruá, as Campinaranas do megaleque Viruá, a savana de Vista Alegre e as florestas de terra firme da Serra do Viruá (Anexo 6.7.4). Os métodos utilizados consistiram de registros visuais e auditivos, capturas com redes de neblina e armas de fogo. O registro das espécies foi sempre que possível documentado através de fotografias e gravações, coleta de exemplares e material genético depositados em coleções científicas do INPA. Outras pesquisas ornitológicas (MPEG, INPA, USP, ICMBio, UFPE) e observações feitas por especialistas (IBAMA, Estación Biológica Doñana-ES) contribuíram com 17% (67 e 22 respectivamente) de novos registros para o Parque (Figura 6.7.3). Figura 6.7.3 Evolução dos registros de aves para o PN Viruá: Cohn-Haft et al. 2001 (104), Naka e M.Barnett 2001 (187), Santos 2003 (30), Czaban 2005 (20), Laranjeiras et al. 2006 (09), Silveira et al. 2007 (08), Cohn-Haft et al. 2009 (151), Gutierrez et al. 2009 (02), Laranjeiras et al. in press (20). O gráfico considera a disponibilização de registros por meio de relatórios. An ise biogeogrfica regiona O Parque Nacional do Viruá está inserido em uma região com características biogeográficas especiais na Amazônia, onde estão situadas barreiras físicas e condições ecológicas de importância chave na diversificação de aves do Escudo das Guianas (Naka et al. 2012, Quadro 6.7.2). Sua localização a leste do rio Branco, em área de contato entre espécies com padrões distintos de distribuição, resulta em uma condição privilegiada para a composição de aves, com a ocorrência de elementos típicos das Guianas, Imeri, como também do sistema Solimões-Amazonas, em uma das regiões de maior diversidade do planeta (Naka et al. 2012). A variedade de hábitats e o contato abrupto entre fitofisionomias florestais e de campinaranas permitem que uma grande diversidade de espécies coexistam, fazendo do Viruá um Parque Nacional megadiverso na Amazônia (Figura 6.7.1). 6.7-4 QUADRO 6.7.2 *REAS DE ENDEMISMO NO ESCUDO DAS GUIANAS No Escudo das Guianas (linha amarela) estão delimitadas cinco áreas de endemismo para aves: Pantepui, Guianas, Imeri, Jaú e Napo (Naka et al. 2012). Situado a leste do rio Branco, o PN Viruá (seta laranja) conta com uma grande contribuição de espécies da área de endemismo das Guianas, incluindo 77% (69) das 89 espécies/ subespécies endêmicas de florestas de terra firme da região (Naka 2011, Áreas de endemismo para aves em terras baixas do Escudo Naka et al. 2012, Anexo 6.7.5). das Guianas. Retirada de Naka et al. 2012. Para espécies não-florestais, análises filogeográficas demonstram uma alta afinidade entre populações do PN Viruá e PN Jaú, sugerindo a existência no Médio rio Negro de uma unidade biogeográfica para aves de Campinaranas (Capurucho et al. 2013). A ocorrência nestes Parques de espécies endêmicas do Imeri, típicas de Campinaranas (A. disjuncta, M. cherriei, H. flavivertex e D. fringilloides), sugere limites possivelmente mais amplos para esta área de endemismo, da porção oeste do Escudo das Guianas (Borges 2007). ZONA DE SUTURA Com sua bacia inserida em uma zona de sutura* para aves (avian suture zone), o rio Branco e suas várzeas, assim como as savanas, serras e outros rios da região fucionam como barreiras que condicionam a distribuição de espécies/ subespécies endêmicas de florestas de terra firme das Guianas. Estas apresentam três padrões principais de distribuição, cujos limites são definidos Padrões de distribuição de aves endêmicas de florestas de pelo curso do rio Branco e suas terra firme das Guianas. Retirada de Naka 2011. fisionomias de savana (>51%, marrom escuro), por áreas no interflúvio rio *Zona de sutura: região com alta incidência de Branco-rio Negro (26-50%, marrom contatos e substituição entre espécies/ subespécies claro), e pelos cursos do rio Negro-rio com diferentes padrões de distribuição e endemismo. Orinoco (8-25%, amarelo) (Naka 2011, Naka et al. 2012). No PN Viruá, 42% (29) das 69 espécies/ subespécies endêmicas de florestas de terra firme das Guianas têm sua distribuição limitada pelo rio Branco. Outras 22 (32%) têm ocorrência registrada até o interflúvio rio Negro-rio Branco e 18 (26%) têm distribuição limitada pelo rio Negro (Anexo 6.7.5). 6.7-5 Uso de hbitats As florestas aluviais (de várzea e igapó) abrigam a maior diversidade de aves no PNV, fornecendo hábitats para 85% (450) das espécies registradas (Figura 6.7.4).