Revista De Educação a IMPLANTAÇÃO OFICIAL DA PEDAGOGIA Vol
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Revista de Educação A IMPLANTAÇÃO OFICIAL DA PEDAGOGIA Vol. XI, Nº. 11, Ano 2008 HISTÓRICO-CRÍTICA NA REDE PÚBLICA DO ESTADO DO PARANÁ (1983–1994): LEGITI- 1 MAÇÃO, RESISTÊNCIAS E CONTRADIÇÕES Alexandra V. de Moura Baczinski Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE RESUMO [email protected] O presente estudo parte da problemática de como se deu a implan- tação oficial da Pedagogia Histórico-Crítica no estado do Paraná, no César Aparecido Nunes período de 1983 a 1994. Tendo como objetivo investigar, analisar e Faculdade de Educação - UNICAMP contextualizar a iniciativa do estado do Paraná em otimizar seu [email protected] sistema educacional pela implantação oficial da Pedagogia Histó- rico-Crítica, o estudo demonstrou que a referida implantação não se efetivou, constituindo-se numa estratégia política de hegemonia da proposta liberal. Conclui-se, portanto, a necessidade da reafir- mação da atualidade e da densidade política da educação e da pedagogia Histórico-Crítica para o Paraná e para o sistema educa- cional brasileiro. Palavras-Chave: Educação, Pedagogia Histórico-Crítica, Filosofia, Polí- tica educacional, Educação – Paraná. ABSTRACT This study focus on how the Historical-Critical Pedagogy was offi- cially instituted in the State of Paraná from 1983 through 1994. It aims to investigate, analyze and contextualize the initiative of the State of Paraná in optimizing its educational system by imple- menting the official Historical-Critical Pedagogy. The study showed that such institution was not effective, constituting a clear hegemonic political strategy of a liberal proposal. There is, there- fore, the need for reaffirmation of today, of political density of education and of the Historical-Critical Pedagogy for Paraná and for the Brazilian educational system. Keywords: Education, Historical-Critical Pedagogy, Philosophy, Educa- tional Policy, Education – Parana. Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181 [email protected] Coordenação Instituto de Pesquisas Acadêmicas e Desenvolvimento Educacional - IPADE 1Texto reelaborado a partir da dissertação de Mestrado em Educação, rea- Artigo Original lizada sob a orientação do Prof. Dr. César Aparecido Nunes, na Faculdade Recebido em: 30/06/2008 Avaliado em: 03/08/2008 de Educação – Grupo PAIDEIA – da Universidade Estadual de Campinas. Publicação: 13 de outubro de 2008 169 170 A implantação oficial da Pedagogia Histórico-Crítica na rede pública do estado do Paraná (1983–1994): legitimação, resistências e contradições 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho resulta da pesquisa de mestrado, a qual teve por finalidade inves- tigar como se deu a implantação oficial da Pedagogia Histórico-Crítica no estado do Pa- raná. O período estudado é aquele que foi historicamente marcado pelos movimentos sociais de reivindicação e conquista da redemocratização do país, após mais de 20 anos de vigência de um regime de exceção, a denominada ditadura militar. A pesquisa con- templa o período entre 1983 e 1994, abrangendo os governos de José Richa, Álvaro Di- as e Roberto Requião, no estado do Paraná. A referida pesquisa objetiva explicitar o grau de comprometimento presente no processo de implantação da Pedagogia Histórico-Crítica como proposta pedagógica oficial do estado do Paraná. Quais as reais intenções dos governantes ao assumir tal pedagogia naquele contexto histórico e atmosfera política de contestação e cooptação no cenário político internacional e brasileiro, em vista do esgotamento da intervenção autoritária militar e as exigências de arranjo na ordem jurídica, vida política e sistemas de poder no Brasil. A década de 1980 foi cenário de um intenso processo de afirmação da cidada- nia, luta contra a ditadura militar e conquista de liberdade política e organizacional. É a década da redemocratização, das eleições livres nos Estados e nas Capitais, a causa da Anistia, de afirmações de classes e categorias emancipatórias. A educação e o resga- te da escola pública estiveram no centro destas lutas. A maior intervenção na democracia efetuada pelo Estado Civil-Militar não foi apenas a supremacia do Executivo sobre os demais poderes e a edição de atos institu- cionais e decretos; o que a tornou mais grave e perigosa foi a cassação de todos os par- tidos políticos existentes e a criação de dois novos: Aliança Renovadora Nacional (ARENA), representando as forças governistas, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), o qual representava a oposição “consentida” pelo regime militar que, doravan- te, seriam os canais pelos quais passariam as escolhas dos representantes políticos que elaborariam as leis do país. Apesar das inúmeras tentativas de obter consenso, o governo militar perdia cada vez mais aliados, com isso crescia o grupo de oposição, o qual formou a “ Aliança Democrática ”. A referida Aliança constitui-se pela junção entre o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) – grupo esse que consistiu a “oposição consenti- da” em todo o período do governo militar –, dissidente do PDS (Partido Democrático Revista de Educação • Vol. XI, Nº. 11, Ano 2008 • p. 169-203 Alexandra Vanessa de Moura Baczinski, César Aparecido Nunes 171 Social), grupo aliado ao regime militar, os quais, em oposição ao regime, passaram a compor a sigla PFL (Partido da Frente Liberal). Nas eleições de 1982, para governador, os partidos de oposição (PMDB e PDT) obtiveram em torno de “ 5 milhões e 200 mil ” votos a mais que o partido da situação (PDS). O Partido Democrático Social (PDS) venceu para governador nos Estados do Maranhão, Ceará, Rio Grande no Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O Partido do Movimento Democrá- tico Brasileiro (PMDB) foi vitorioso em São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Goiás, Pará, Amazonas e Acre. E o Partido Democrático Traba- lhista (PDT) venceu as eleições no Rio de Janeiro (GERMANO, 1994). Isso significou o fim dos militares no governo, além do domínio que os partidos oposicionistas obtive- ram com relação ao Colégio Eleitoral para a escolha do novo Presidente da República, em 1985. Nas referidas eleições de 1982, o estado do Paraná elegeu o governador José Richa do Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB (na época MDB - Mo- vimento Democrático Brasileiro) o que representou o início da retomada da democra- cia, tal como foi entendida no contexto das lutas populares em torno das eleições dire- tas. Durante o mandato de José Richa (1983-1986), os professores da rede pública reali- zaram debates e estudos em torno de uma proposta de educação democrática. Nesse processo de transição política, onde os educadores mobilizaram-se para a universaliza- ção da educação pública e de qualidade para todos, construiu-se uma nova proposta educacional, a qual se fundamentou na concepção da Pedagogia Histórico-Crítica 2. Pe- dagogia anunciada, como teoria crítica da educação, no livro Escola e Democracia de Dermeval Saviani, neste mesmo ano de 1983. Tal proposta foi utilizada como funda- mento para a implantação do Currículo Básico para a Escola Pública do Estado do Paraná, sendo sistematizado em redação final no ano de 1990, no mandato do governador Ál- varo Dias, também do PMDB (1987-1990). Esta proposta de educação, fundamentada na Pedagogia Histórico-Crítica manteve-se até 1994, perdurando por três mandatos subseqüentes (Richa, Álvaro Dias 2O trabalho de reestruturação do Currículo de 1º Grau da Rede Estadual de Ensino teve como ponto de partida a im- plantação do Ciclo Básico de Alfabetização que, dentro da proposta de Reorganização da Escola Pública de 1º Grau do Paraná, constitui-se em um primeiro passo. Através do envolvimento de professores da rede Estadual e Municipal, re- presentantes dos Núcleos Regionais de Educação, das Inspetorias Estaduais de Educação, dos Cursos de Magistério, da Associação dos Professores do Paraná, Associação Educacional do Oeste do Paraná, da União de Dirigentes Municipais de Educação e das Instituições do Ensino Superior, em uma seqüência de encontros, foram discutidos os princípios da pedagogia histórico-crítica que fundamentam teoricamente esta proposta. (PARANÁ-SEED, 1992, p. 13). Revista de Educação • Vol. XI, Nº. 11, Ano 2008 • p. 169-203 172 A implantação oficial da Pedagogia Histórico-Crítica na rede pública do estado do Paraná (1983–1994): legitimação, resistências e contradições e Roberto Requião). A continuidade governamental não é, por si, penhor da manuten- ção ou reconhecimento de sua implantação. Este é o terreno histórico e o recorte temático de nossa pesquisa: como se de- ram os processos de implantação, convencimento e ordenação institucional da Peda- gogia Histórico-Crítica no Paraná? Explicitar as contradições deste período e a política educacional estadual, centrada na Pedagogia Histórico-Crítica, aferir suas repercussões e graus de internalização na rede pública, na estrutura curricular e organizacional da escola, é o objetivo central deste trabalho. A relevância do tema justifica-se por contribuir à compreensão da história da educação brasileira e seus condicionantes sociais, políticos e econômicos. Vale lembrar que tal estudo não tem a pretensão de esgotar o tema, mas sim contribuir com o con- junto das pesquisas realizadas no âmbito acadêmico. No cenário nacional, os estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Ca- tarina e Rio Grande do Sul foram pioneiros na implantação de um sistema educacional contestatório ao modelo determinado