Uma Tarde No Senado
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SENADO FEDERAL Senador CRISTOVAM BUARQUE UMA TARDE NO SENADO Brasília – 2016 Buarque, Cristovam. Uma tarde no Senado / Cristovam Buarque. – Brasília : Senado Federal, Gabinete do Senador Cristovam Buarque, 2016. 80 p. 1. Buarque, Cristovam, atuação parlamentar. 2. Discurso parlamentar, Brasil. I. Título. CDD 320.981 Uma tarde no Senado Discurso pronunciado pelo Senador Cristovam Buarque (PPS – DF) na sessão do Senado Federal do dia 17 de fevereiro de 2016 SUMÁRIO Pág. Apresentação: Cristovam Buarque ........................................ 7 ORADORES: Cristovam Buarque ............................................................... 11 Ana Amélia ........................................................................... 17 Marta Suplicy ....................................................................... 18 Lasier Martins ....................................................................... 21 Ronaldo Caiado .................................................................... 24 Cássio Cunha Lima ............................................................... 26 Vanessa Grazziotin ................................................................ 28 José Serra .............................................................................. 29 Álvaro Dias ........................................................................... 33 Aécio Neves .......................................................................... 34 Antonio Anastasia ................................................................. 39 Blairo Maggi ......................................................................... 41 Simone Tebet ....................................................................... 42 Waldemir Moka .................................................................... 44 José Agripino ........................................................................ 46 Hélio José .............................................................................. 48 Aloysio Nunes Ferreira .......................................................... 49 Pág. Zeze Perrella ......................................................................... 51 Ataídes Oliveira ..................................................................... 53 Benedito de Lira .................................................................... 54 Lúcia Vânia ........................................................................... 56 Tasso Jereissati ...................................................................... 57 Randolfe Rodrigues ............................................................... 58 Wellington Fagundes ............................................................ 60 Acir Gurgacz ......................................................................... 62 Reguffe ................................................................................. 63 Lindbergh Farias ................................................................... 64 Garibaldi Alves Filho ............................................................. 65 Eunício Oliveira ..................................................................... 66 Fernando Bezerra Coelho ...................................................... 67 Elmano Férrer ....................................................................... 69 Raimundo Lira ...................................................................... 70 Paulo Paim ............................................................................ 72 Telmário Mota ...................................................................... 73 Gleisi Hoffmann .................................................................... 75 Rose de Freitas ...................................................................... 76 Fátima Bezerra ...................................................................... 77 José Medeiros ....................................................................... 78 Antonio Carlos Valadares ...................................................... 79 Renan Calheiros .................................................................... 80 Respeito nas diferenças Com seu humor irreverente, Darcy Ribeiro dizia que o Senado era o céu onde se podia ir em vida. Esta é uma das poucas frases do Darcy que eu discordo, mesmo reafirmando meu desejo de ser igual a ele quando eu crescer. Vejo o Senado como um lugar de disputa política consumindo quase todas as horas do dia. Para mim, o céu se parece mais com uma imensa biblioteca, mas dei razão ao Darcy, na tarde do dia 17 de fevereiro de 2016, ao ficar aproximadamente três horas na sessão que este folheto retrata. Durante esse tempo pude viver uma tarde extremamen- te gratificante, talvez a mais gratificante destes anos em que estou no Senado. Outras tiveram repercussão histórica, que esta não carrega, mas foi nessa tarde que pessoalmente vivi um momento de reconhecimento ainda em vida. Por trás das manifestações dos senadores há uma aula de política parlamentar: a possibilidade de convivência saudá- vel e respeitável, mesmo entre políticos que discordam. São manifestações de afeto, não de apoio. O eleitor verá que no futuro, sem desmentir estes pronunciamentos muitos de nós estaremos em lados diferentes na política. As demonstrações de afeto indicam respeito pessoal, as discordâncias indicam divergências de opinião na maneira como conduzir os desti- nos do País. Este é um retrato da prática parlamentar, em que a disputa política se faz sem romper relações pessoais e reco- nhecimentos mútuos. Por cada um dos que participaram desta 7 tarde eu tenho o mesmo respeito que eles manifestaram por mim, como demonstro nos meus comentários. Por isso agra- deço e retribuo a simpatia. E manifesto um desejo: que este espírito se mantenha na sociedade. Diante de nós, neste momento, a política nas ruas está se radicalizando, rompendo a possibilidade de diá- logo entre os que estão de um lado e aqueles de outro. Não podemos deixar que esta radicalização nas ruas e praças des- trua a capacidade de diálogo aqui dentro, e devemos tentar desarmar os espíritos das praças e ruas. Espero que a publicação desta foto do diálogo em uma tarde no Senado, além de meu reconhecimento pelos colegas que dela participaram, sirva também, ainda para mostrar que é possível respeito nas diferenças. Cristovam Buarque Senado Federal, Março 2016. 8 MUDAR DE SIGLA PARA NÃO MUDAR DE PARTIDO Alegra-me que este discurso se faça sob sua presidência, Senador Medeiros. Pessoas como nós caminhamos na política carregando bandeiras, e, a cada momento temos que tomar decisões: continuar carregando a bandeira ou se acomodar diante das dificuldades. Na maior parte das vezes prevalece o acomodamento escondendo a decisão tomada. Quando jovem, carreguei a bandeira da luta pela de- mocracia e pelo socialismo. Por conta disso, saí do Brasil por nove anos e, ao voltar, passei a carregar a mesma bandeira: de uma maneira tranquila como professor universitário, na Universidade de Brasília. Carregava a bandeira de uma maneira acadêmica, for- mulando ideias. Algumas se espalharam pelo Brasil, como a Bolsa Escola, que virou Bolsa Família, que surgiu ali na Universidade de Brasília, onde fui eleito reitor. Em 1990, decidi que, para carregar as bandeiras de transformações sociais, deveria entrar em um partido político. Embora tenha votado no primeiro turno de 1989 em Leonel Brizola, entrei no Partido dos Trabalhadores, que me parecia a formação mais concreta para realizar as transformações que queríamos. E, ali, continuei tentando: fui Governador do Distrito Federal, cheguei ao Senado, fui Ministro no Governo Lula. Em 2005, consolidou-se minha sensação de que, ou me acomodava ou mudava para continuar tentando. Vi que o Partido dos Trabalhadores tinha perdido o vigor transformador da sociedade brasileira que ele nos oferecia; para implantar 11 governos transparentes, sem corrupção; fazer a grande refor- ma na educação de base, o que tentei, como Ministro; fazer a formulação de um projeto industrial que fosse capaz de con- viver com o meio ambiente equilibrado, distribuir renda, criar produtos de alta tecnologia. O PT perdeu o vigor transformador e eu superei a tentação de desistir. Decidi ingressar em um novo partido. Naquele momento, lembro-me de uma reunião em São Paulo, em que conversei com o Presidente do PPS, Roberto Freire, e com o Presidente do PDT, Carlos Lupi, para saber qual seria o melhor terreno por onde carregar as bandeiras que eu queria continuar carregando, na oposição a um governo sem vigor transformador. Tão próximas eu sentia essas duas agremiações, para seguir carregando minhas bandeiras, que de maneira trans- parente e leal me reuni com os presidentes. Decidi ingressar no PDT, por conta de Darcy Ribeiro, um grande mestre; por conta do Brizola; por conta da bandeira da educação. Aí continuei a luta, inclusive, sendo candidato a Presidente da República em 2006, disputando com Lula. E o PDT, quando me abrigou, era de oposição. O Presidente Carlos Lupi era um opositor radical, eu diria. Quero aqui prestar uma homenagem: não fosse Carlos Lupi, depois da morte de Brizola, talvez o PDT não tivesse sobrevivido. Acontece que, terminada a eleição em que disputei pela oposição, o presidente Lupi resolveu levar o PDT para dentro do Governo. Carlos Lupi virou Ministro. Fui contra, manifestei que aquilo era um gesto que traria dificuldade para o Brasil, porque o Brasil precisava de uma formulação alternativa trans- formadora, e, dentro do Governo, ficaríamos amarrados. Mas não consegui fazer prevalecer minha ideia de o PDT ser um 12 partido querendo