A Influência Da Imigração Italiana E Da Educação Dos Filhos De Imigrantes Para O Desenvolvimento Do Município De Venda Nova Do Imigrante/Es
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A INFLUÊNCIA DA IMIGRAÇÃO ITALIANA E DA EDUCAÇÃO DOS FILHOS DE IMIGRANTES PARA O DESENVOLVIMENTO DO MUNICÍPIO DE VENDA NOVA DO IMIGRANTE/ES RODRIGO PASTE FERREIRA Instituto Federal do Espírito Santo [email protected] O município de Venda Nova do Imigrante tem sua história atrelada à expansão e ocupação dos imigrantes europeus na região sul do Espírito Santo. Os motivos para o processo migratório para município foram além da pouca fertilidade do solo e a consequente miséria, o isolamento e o descaso do governo provincial do Espírito Santo com os imigrantes italianos que viviam no núcleo colonial Castello, situado em áreas bastante acidentadas da província capixaba. Esta realidade acabou por dar o impulso 1 necessário ao deslocamento para as áreas mais interioranas e mais férteis do território capixaba. A ocupação do território capixaba já era significativo e os arredores do atual município de Venda Nova já convivia com a presença de grupos familiares que mais tarde se tornariam molas propulsoras do desenvolvimento municipal. Tais famílias acabaram dando origem à base do que, no futuro, se tornaria o município de Venda Nova do Imigrante1, local que hoje tem grande destaque dentro do Estado do Espírito Santo, devido a sua estrutura econômica baseada, de forma geral, no agroturismo e na agricultura. Junto com essa ocupação iniciava também a história de lutas, sofrimentos e alegrias de muitos dos antepassados dos atuais habitantes do município. Ao longo dos anos, a população cresceu em ritmo acelerado, a fertilidade do solo, aliados à garra e vontade de crescer dos imigrantes foram suficientes para superar o isolamento em que estavam submetidos. Todo o crescimento populacional verificado, acabou por levar ao longo do século XX à uma busca de meios necessários para o desenvolvimento da 1 O município foi criado pela Lei nº 4.069, de 6 de maio de 1988, desmembrado de Conceição de Castelo e instalado em 1º de janeiro de 1989. comunidade que se formava, fosse para o desenvolvimento econômico (principal foco), fosse para o desenvolvimento comunitário e também para o desenvolvimento pessoal dos filhos da terra. E neste ponto focaremos a busca pelo desenvolvimento pessoal dos moradores de Venda Nova do Imigrante com base na educação formal. Durante leituras realizadas sobre imigração e desenvolvimento do município, uma das falas constantes entre os moradores e descendentes era a preocupação que algumas famílias deram a educação de seus filhos. Comumente as famílias de imigrantes e descendentes de imigrantes mandavam seus filhos estudarem fora devido ao fato da ausência de escolas regulares na comunidade. As poucas escolas que existiam na primeira metade do século XX eram escolas de ensino primário, o equivalente ao Fundamental 1 nos dias de hoje, e as famílias que quisessem ver seus filhos avançando para as séries seguintes muitas vezes faziam uso das escolas religiosas que ficavam em outras localidades. Aqui encontramos um dos valores fundamentais para muitos dos descendentes de imigrantes italianos e moradores do município de Venda Nova do Imigrante. A educação para muitos era o 2 caminho para o progresso, para o desenvolvimento e para a “fuga da roça”. Para uma parcela significativa dos descendentes de imigrantes a educação era o caminho para a emancipação do indivíduo diante de uma realidade que apontava as fileiras dos cafezais como destino certo. Diante disso [...] seja por razões políticas, seja por razões ligadas ao indivíduo, a educação era vista como um canal de acesso aos bens sociais e à luta política e, como tal, um caminho também de emancipação do indivíduo diante da ignorância. Dado este leque de campos atingidos pela educação, ela foi considerada, segundo o ponto de vista dos diferentes grupos sociais – ora como síntese dos três direitos assinalados – os civis, os políticos e os sociais ora como fazendo parte de cada qual dos três. A magnitude da educação é assim reconhecida por envolver todas as dimensões do ser humano: o singulus, o civis, e o socius. O singulus, por pertencer ao indivíduo como tal, o civis, por envolver a participação nos destinos de sua comunidade, e o socius, por significar a igualdade básica entre todos os homens. [...]. (CURY, 2002, p. 254) E tomando esta ideia como base, as famílias de descendentes de italianos buscaram na educação a forma de emancipar os seus filhos tanto no campo político, civil e sociais. Era a chance de mudar as vidas de seus familiares, trazendo dos bancos das escolas novos horizontes. Era a chance de mudar a vida de sua comunidade, garantindo a nascente cidade um grupo de moradores com grau de instrução diferenciado e que com as novas ideias, com os novos conhecimentos poderiam dinamizar a vida da população em todos os sentidos, fosse social, político, cultural, econômico, etc. É de conhecimento de todos que dê muitos valores que constantemente são associados a espécie humano temos como grande destaque a Educação. A ela associamos grande parte de nosso conhecimento, crescimento e formação moral, princípios estes que ajudam a nos diferenciar das outras espécies existentes no planeta. E neste sentido muitos moradores vendanovenses apostaram todas as suas economias, abriam mão da ajuda, dos braços de seus filhos nas lavouras para enviá-los para escolas durante todo o ano para assim receberem uma educação adequada e com ela a possibilidade de uma carreira fora das lavouras, da plantação. Como não podemos deixar de perceber, todas as culturas que se formaram ou estão em formação passam pelo processo de desenvolvimento educacional. E diante 3 disso temos a realidade do município de Venda Nova do Imigrante, quando esgotadas as possibilidade de estudo no local, as famílias muitas vezes enviavam seus filhos para escolas religiosas que existiam no Estado do Espírito Santo ou até mesmo em outros estados brasileiros. Essa carência de estabelecimentos de ensino em terras brasileiras é uma realidade que a tempos figura entre os fatores para os possíveis atrasos e mazelas de nosso povo. Segundo Cury As consequências da colonização e escravatura, associadas às múltiplas formas de não-acesso à propriedade da terra, (...) e uma fraca intervenção do Estado no sistema de estratificação social produzirão sociedades cheias de contrastes, gritantes diferenças, próprias da desigualdade social. A persistência desta situação de base continua a produzir pessoas ou que estão “fora do contrato” ou que não estão tendo oportunidade de ter acesso a postos de trabalho e bens sociais mínimos. Isto explica o enorme número de pessoas que sequer possui educação primária sendo ainda grande o número de pessoas que possui poucos anos de escolaridade. (...). Para os tempos contemporâneos, em que vai se constituindo a chamada “sociedade do conhecimento”, a distância entre pobres e ricos aumenta também por causa do acesso aos conhecimentos disponíveis e às novas formas de linguagem que necessitam de uma socialização própria. Essa distância também tem aumentado a distância entre países ricos e países pobres, no momento em que o conhecimento tem-se constituído em mais- valia intelectual e base para o desenvolvimento dos países. (CURY, 2002, p. 258) Essa mais-valia intelectual foi exatamente um dos pontos buscados pelas famílias de Venda Nova do Imigrante. Foi a procura pelo conhecimento formal que levou essas famílias a abrirem mão de parte de sua força de trabalho dentro das propriedades. Parece contraditório mas não é, muitas unidades familiares abriram mão de parte de sua força de trabalho, proveniente de seus filhos, que poderiam ajudar na lavoura e com isso aumentar os ganhos familiares com o aumento da produção, o aumento das áreas plantadas, a maior agilidade na colheita, no beneficiamento e com isso um aumento no pecúlio familiar. Abriram mão desta possibilidade de aumento nos ganhos para enviar seus filhos a estas escolas, ficando assim afastados durante praticamente o ano todo. E daí pode surgir a ideia equivocada de que isso era um retrocesso, mas devemos entender que foi um projeto a longo prazo, o retorno econômico viria no futuro e não apenas da lavoura, mas de outros setores da economia. 4 Para se ter uma ideia de como a educação formal era tida como fundamental para os moradores da comunidade, por volta de 1951, o que muitas vezes ocorria era que Os filhos adolescentes eram enviados para fora a fim de estudarem e com os estudos não podiam prever o que o futuro reservava para eles quanto à escolha dos meios de subsistência. Naquele tempo, mais de 30% da população do lugar estudava fora. (Zandonadi, 1992, p. 87) Diante do exposto, fica claro que era por opção familiar abrir mão de 30% de seu efetivo nas atividades ligadas ao sustento da família para que, sem saber o que o futuro reservava, seus filhos pudesse ter acesso a educação. Os moradores viam na educação uma forma de dar a seus filhos uma possibilidade de crescimento fora das atividades laborais tipicamente ligadas a terra. Destaca-se aqui a busca pelo crescimento intelectual, era uma preocupação com a educação para a cidadania, a preocupação de educar para os costumes, atitudes posturas e relações com os outros (MOGARRO E MARTINS, 2010). Os jovens estudavam ao longo do ano e no período das férias regressavam para suas casas para ajudar nos afazeres familiares, geralmente trabalhos relacionados a lida com a terra. O caminho seguido pelos filhos dos imigrantes que buscavam uma formação formal de níveis superiores era via de regra a mesma, seminários, noviciados, congregações religiosas dentro e fora do território capixaba. Também no Espírito Santo era possível perceber que Enquanto os seminários e noviciados procuravam futuros religiosos entre filhos de colonos italianos na zona rural, as congregações religiosas instalaram-se na zona urbana, servindo as camadas médias da população. [...] Mantidas pelas mensalidades dos alunos foram responsáveis pela formação de mão-de-obra capacitada para a nova realidade econômica do Brasil.