NOS VALES DOS RIOS: O DESENVOLVIMENTO DO SUL DA PROVÍNCIA DO ESPIRÍTO SANTO NO SÉCULO XIX

Aldieris Braz Amorim Caprini (IFES)

Resumo: A comunicação apresenta os resultados de estudos e de pesquisas sobre o Sul do Espirito Santo no século XIX, no que se refere às regiões de Itapemirim, Piúma e Benevente, ou seja, a porção litorânea, de forma a apresentar um panorama do processo histórico no que se tange as relações sociais estabelecidas no espaço que foi o início da ocupação da região sul da província mas, que acabou por ser esquecida com o desenvolvimento do interior. Salientamos o processo migratório e imigratório, especialmente a imigração inglesa e italiana, e ainda a contribuição da Colônia do Rio Novo. Nesse contexto, é na primeira metade do século XIX que Itapemirim alcança o auge de seu desenvolvimento, como centro político e econômico do sul da colônia e posteriormente da província, período que dura até 1860 quando a região perde seus líderes políticos e assume posição de destaque no cenário regional. E a região de Piúma e Benevente torna-se ponto de partida das levas de imigrantes para o interior, resultando na formação de municípios, no final do século XIX. Construímos assim, a partir desses elementos, um mosaico sobre a região objetivando apresentar como ocorreu a ocupação e o desenvolvimento, bem como as relações sociais e de poder, ou seja, como foi construída a história dessa porção capixaba no oitocentos. Palavras–chave: Oitocentos; Imigração Estrangeira; Espirito Santo; Rio Novo e ; Rio Benevente; Rio Itapemirim.

Abstract: The communication presents the results of studies and research on the South of the Holy Spirit in the nineteenth century, with regard to regions of Itapemirim, Piuma and Benavente, ie, the coastal portion, so as to present an overview of the historical process in that respect the social relations established in the space that was the beginning of the occupation of the south of the province, but it was eventually forgotten with the development of the interior. Emphasize the migration and immigration, especially the English and Italian immigration process and also the contribution of the Colony of New River. In this context, the first half of the nineteenth century that Itapemirim reaches the pinnacle of its development, as political and economic center of southern colony and later the province, a period that lasts until 1860 when the region lost their political leaders and Itapemirim assumes prominent position in the regional scenario. And the Region and Piuma Benavente becomes the starting point for waves of immigrants to the interior, resulting in the formation of municipalities, in the late nineteenth century. We build from these elements, a mosaic over the region aiming at presenting how the occupation and the development occurred as well as the social and power relations, ie, how the story was constructed in Espírito Santo portion of this hundred. Key words: Eight Hundred; Foreign immigration; Espírito Santo; Rio Novo and Iconha; Rio Benavente; Rio Itapemirim. 1

Introdução

O referido trabalho aborda o desenvolvimento da região sul litorânea da província do Espírito Santo, formado no Século XIX pelos municípios de Itapemirim e Benevente (atual Anchieta), e o vilarejo de Piúma, que pertencia à Benevente até 1891, a partir dos rios que neles desaguam respectivamente: Rio Itapemirim, Rio Benevente e Rio Novo e Iconha.

A maioria dos estudos e pesquisas na historiografia sul capixaba tratam do desenvolvimento econômico, político e social do interior da província, especialmente Cachoeiro de Itapemirim e a cafeicultura, a partir da segunda metade do oitocentos, fazendo- se assim, necessário levantar lacunas historiográficas do início do processo de ocupação do sul da província, no caso, a região sul litorânea e os vales dos rios que nele desaguam, para compreendermos o desenvolvimento social da região, sendo esse o objetivo do texto.

Havia, até meados do século XIX, no Sul do Espírito Santo, somente as vilas de Itapemirim e Benevente. O território que se estende hoje de Anchieta até a divisa de Piúma com Itapemirim pertencia a Benevente. O que hoje compõe o município de Itapemirim, Marataízes e Presidente Kenedy pertenciam à Itapemirim, e, no sentido oeste ainda não havia ocupação efetiva. Nesse cenário, apresentamos como estava ocupado a região litorânea, no caso, a foz dos Rios Itapemirim, Benevente e Rio Novo-Iconha, e como ocorreu o desenvolvimento dessas localidades e dos vales dos referidos rios, ou seja, a ocupação social do litoral para o interior.

A ocupação do baixo Rio Itapemirim

Até a segunda metade do século XVII a região do baixo Rio Itapemirim contava somente com a presença indígena e jesuíta. A partir desse período inicia-se a ocupação com fins de povoamento e desbravamento econômico.

A capitania do Espirito Santo havia sido vendida, em 1674, ao comerciante baiano Francisco Gil de Araújo que adquiriu as terras objetivando encontrar minas de ouro. A

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propaganda feita por Gil de Araujo atrai pessoas de outras partes da colônia para as terras do ES, o que resultou no início do povoamento de e Itapemirim.

Chega à Itapemirim no final do século XVII Domingos Freitas Caxanga e Pedro da Silveira com suas famílias e outras pessoas que se juntaram a esses. Explica-se assim por que a região foi chamada inicialmente de “Porto de Caxanga”. Sem lograr sucesso, a fazenda Caxanga foi vendida, em torno de 1702, para o sargento-mor Ignácio Pedro Cacunda que pretendia fazer do baixo Itapemirim uma base para a exploração das Minas do Castelo e Caxixe.

Sem obter êxito na mineração, a ocupação se limita ao baixo Itapemirim promovendo o desenvolvimento da região a partir da fundação, por Pedro Bueno e do capitão Baltazar Caetano Carneiro, de um engenho real e da construção de uma capela na propriedade chamada “Fazendinha”. Paralelo ao desenvolvimento da cana , embora pequeno, surge a cultura do feijão e da mandioca e o povoamento, tanto que em 1769 a aldeia é elevada à categoria de freguesia e paróquia.

A foz do Rio Itapemirim continua a se desenvolver e portanto, atrair mais pessoas, enquanto seu interior ainda continua sem ocupação efetiva. O capitão Tavares de Brum, vindo de , adquire, em torno de 1800, a propriedade “fazendinha” e promove um maior desenvolvimento. Muitos forasteiros oriundos das gerais chegam a região em decorrência da decadência da mineração. Ao mesmo tempo, Joaquim Marcelino da Silva Lima, um paulista, chega à Benevente junto de seu pai. O jovem Lima vem a ser mais tarde genro de Brum e futuro Barão de Itapemirim. A figura do Barão merece um estudo a parte, considerando seu poder que extrapolou a esfera local, o que não será tratado nesse trabalho.

Podemos afirmar que é na primeira metade do século XIX que o baixo Rio Itapemirim alcança o auge de seu desenvolvimento, como centro político e econômico do sul da colônia. A província concentrava a população e as atividades econômicas no litoral, e a cana-de-açúcar no baixo Itapemirim era o principal produto do sul do Espírito Santo.

No início do século XIX, ocorre uma política de abertura de estradas no interior da Província, destacando , ao norte, e Cachoeiro de Itapemirim, ao sul da província. O objetivo era promover o contato com as Gerais, proibido oficialmente no século XVIII, e, assim, propiciar o desenvolvimento econômico e a ocupação do interior da província. Nesse

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contexto, constrói-se um Quartel às margens do Rio Itapemirim, no último ponto navegável, para dar proteção aos que buscavam instalar-se na região, hoje a sede do município de Cachoeiro de Itapemirim.

A partir da segunda metade do século XIX, o interior do Rio Itapemirim e seus arredores assistiu à intensa ocupação populacional devido ao desenvolvimento da cafeicultura. A expansão das áreas cultivadas, a partir do Rio Paraíba, atingiu o Espírito Santo e, consequentemente, atraiu para as terras capixabas interessados em ocupar as terras virgens propícias para o café. Fluminenses e mineiros vão se estabelecer nas áreas dos Rios Itabapoana e Itapemirim utilizando a mão-de-obra escrava.

Na década de 1850, o café torna-se o principal produto da economia provincial e o responsável pela ocupação do interior, o que permitiu uma virada na trajetória econômica e populacional capixaba.

Ao sul, nos vales do Itapemirim e Itabapoana, porém, o processo foi muito mais agressivo. Ali o café não somente substituiu a antiga cultura, mas atuou principalmente como um poderoso atrativo econômico no processo de ocupação das matas virgens no interior dessa região. Na verdade, a história administrativa dessa parte do Espírito Santo reflete o resultado da rápida ocupação cafeeira. Cachoeiro de Itapemirim, de pequena povoação pertencente à vila de Itapemirim de 1852, tornou-se freguesia em 1856, e em 1872 já tem sob a sua jurisdição as seguintes freguesias: São Pedro D’ Alcântara do Rio Pardo, São Miguel do Veado, São Pedro do Itabapoana, São José do Calçado, Nossa Senhora da Conceição do aldeamento Affonsino e Nossa Senhora da Penha do Alegre. (ALMADA, 1984:63) As fazendas no sul da província mantinham a estrutura econômica do plantation , atraindo fazendeiros fluminenses e mineiros, em busca de terras virgens e férteis e com eles vinham o dinheiro e os escravos.

A partir de então, a região do baixo Rio Itapemirim entra em decadência econômica e perde seus líderes políticos, o que faz o alto Rio Itapemirim, que vem a ser o município de Cachoeiro de Itapemirim, assumir a posição de destaque no cenário regional e o baixo Itapemirim, o litoral, fica estagnado.

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Imigração no vale do Rio Novo e do Rio Iconha

A região do Vale do Rio Novo e Rio Iconha representa muito bem o contexto histórico do Espírito Santo no século XIX: um litoral pouco povoado e um interior sem povoamento que sofre transformações com a imigração e a produção do café.

O termo Vale do Rio Novo e Rio Iconha refere-se à região correspondente aos atuais municípios de , de Iconha e Piúma. É importante ressaltar que o Rio Novo e o Rio Iconha, que percorre os municípios que lhe dão nome, se encontram para desaguar em Piúma. Assim, a história da ocupação desses três municípios pode ser desenvolvida a partir dos vales desses rios.

A ocupação do município de Rio Novo do Sul está ligada também ao Rio Itapemirim, uma vez que a Colônia do Rio Novo deu-se a partir da ocupação agrícola do em torno da Vila de Itapemirim. Essa integração pode ser verificada na construção do Canal do Pinto, ligando o Rio Novo ao Rio Itapemirim.

Em 1855 é fundada, pelo major Caetano Dias da Silva, a Colônia do Rio Novo, de capital privado. O major era ex-traficante de escravos, empresário no e proprietário de terras em Itapemirim, destacando-se a fazenda do Limão em torno da qual surgiu a colônia no entroncamento do Rio Novo com o Rio Pau d’Alho.

Essa colônia se diferenciava das demais pelo seu caráter comercial, desse modo, não tinha o mesmo objetivo que as colônias de Santa Isabel e , o de povoar. O povoamento seria uma conseqüência do objetivo principal dos proprietários: o lucro.Esse contexto é apresentado por Luciana Ozório Costa:

A colônia do Rio Novo, fundada por uma associação de capital particular, e que portanto visava lucros, assume, diante da crença generalizada de que as colônias desenvolvidas na Província eram colônias de povoamento, um novo caráter, desconhecido no próprio Estado. (COSTA, 1981:38) A forma de ocupar a terra é assim descrita pela autora:

Os colonos que ocupavam os lotes rurais eram proprietários foreiros por contrato de foro perpetuo, onde se regulavam as condições de domínio útil e direto. Os que se encontravam sob o regime de parceria produziam cana na fazenda do Limão e nesta categoria eram os chineses que tinham melhor desempenho. Segundo o engenheiro Adalberto Jahn, estes chineses, quando

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se dedicavam integralmente ao trabalho nos seus lotes, pouco ou nada produziam, dadas as condições extremamente precárias que se encontraram – em lotes cobertos de matas ou que eram verdadeiros pântanos, com péssimos caminhos ligando um lote a outro Toda esta dificuldade impedia que a produção desse resultados que permitissem certo lucro para os imigrantes saldarem suas dívidas contraídas com a Associação. (COSTA, 1981:38) A produção consistia no cultivo do arroz, feijão, milho, mandioca e outros produtos para a subsistência, e o café para obter lucro, além da criação de animais. É interessante ressaltar que a colônia não proporcionava boas condições de trabalho e vida para a população. Os lotes encontravam-se, em sua maioria, dentro de matas, outros eram localizados em regiões pantanosas, com caminhos mal conservados e falta de estradas e pontes para facilitar o escoamento da produção. Sem falar nas moléstias, que dizimavam a população, e na falta de serviços médico, religioso e educacional. Podemos analisar o cotidiano da colônia através do relato do Barão de Tschudi, em sua viagem ao Espírito Santo em 1860:

Não pude visitar os assentamentos dos colonos belgas e holandeses, já que não existe sequer um caminho que nos leve até eles a cavalo. Ao retornar para a fazenda Pau d’alho encontrei ali um grande número destes colonos esperando-me para contar suas reclamações e desejos. As queixas eram quase sempre as mesmas que as dos outros colonos e dirigiam-se sobretudo contra Caetano Dias e seu filho inescrupuloso. Suas maiores queixas estavam relacionadas à brutalidade e à violência deste ultimo, ao abastecimento irregular e deficiente e ao estado deteriorado dos gêneros alimentícios prometidos no contrato, a falta de uma igreja, de escola e de tratamento medico decente. Todos elogiaram a fertilidade do solo e confessaram que tinham muita esperança no futuro, caso a colônia passasse a ser propriedade do governo. Eram 176 pessoas saudáveis ao chegarem, porém mais da metade havia morrido ( TSCHUDI; 2004:111-112). A última frase, referindo-se aos mortos, é uma informação preciosa para entendermos a situação desses colonos, assim como a falta de estrutura como igreja e escolas, mostra também a falta de capitais para conduzir a colônia.

Nesta situação, em 1861, a colônia do Rio Novo foi encampada pelo Governo Imperial, em vistas ao fracasso da Associação na administração do empreendimento. No entanto, com a gerência do Império, a situação de pobreza dos colonos não mudou muito. Embora o governo tenha realizado obras públicas, como derrubada de matas, e custeado, salário aos colonos, ainda era comum que saíssem da colônia em busca de emprego, conforme apresentado por Costa:

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Os graves problemas que se abatiam sobre a população podem ser avaliados através do relatório de 21/01/1863, em que o diretor da colônia relatava que, quase diariamente, apareciam na casa da administração colonos pedindo licença para saírem do distrito da colônia a procura de trabalho assalariado, por que não podiam sustentar suas famílias com o produto de seus lotes.Além de passarem fome e miséria, ainda tinham que arcar com o rígido controle da administração, que entendia que estes pedidos de saída podiam significar um modo fácil dos colonos livrarem-se de suas dividas e mais obrigações que talvez tivessem com o Governo ( COSTA:1981:52). Observa-se que a colônia contava com poucos recursos do governo e tinha baixa arrecadação dos colonos, também se fazia necessária uma melhoria na infra-estrutura para aumentar a produção.

De 1855, quando fundada, até 1875, já nas mãos do governo, a colônia do Rio Novo apresentava-se, segundo Costa (1981:53) com uma superfície de seis léguas de circunferência ou 11.400.000.000 braças de N.S.L.O.

Contudo, a colônia vai ampliar seu território a partir de 1875 para receber imigrantes italianos. Serão demarcados mais 04 territórios no sentido norte, em direção ao Rio Benevente. A sede da colônia era o primeiro território, o Rio Novo.

No ano de 1874, dois relatórios demonstram o interesse do governo imperial em utilizar a colônia do Rio Novo para desenvolver o povoamento da região e brevemente emancipá-la. No relatório emitido pelo Conselheiro Thomaz José Pinto Serqueira, designado para inspecionar a colônia, além de detalhar as condições da colônia, ele relata: “ E agora que dito qual é o estado em que se acha a colônia, respondendo a pergunta de V. Ex., se está habilitada para ser emancipada, cumpre-me dizer que sim.”

E continua: “Mas se a colônia do Rio Novo pode ser emancipada, nem por isso julgo que convenha ser: pelo contrário, é meu parecer que aquela colônia pode e deve servir de base a um vasto estabelecimento colonial naquelas paragens”

E conclui: “A colônia do Rio Novo tem um Segundo Território, que me constou estar medido, que tais registros não constam em seu arquivo, deve ser aproveitado. Povoado o Segundo Território, então nada obstará a que o primeiro seja emancipado.”

Assim verifica-se que o conselheiro concluiu que a colônia do Rio Novo tinha condições de emancipar-se, atendendo aos interesses do governo. Contudo, antes disso, deveria servir ainda para ampliar a ocupação na região. 7

É interessante relacionar esse relatório com um outro apresentado pelo diretor da colônia, Joaquim Adolpho Pinto Pacca, no mesmo ano, ao também Ministro da Agricultura que solicitou o número de lotes para a introdução de imigrantes na colônia. Pinto Pacca escreve que seria desvantajoso para o governo conduzir os imigrantes para o Segundo Território pois, próximo à sede da colônia existiam fazendas decadentes que, se adquiridas pelo Império, seria mais vantajoso, conforme segue:

[...] as terras do segundo território, completamente em matas virgens, sem caminhos, estradas, pontes, pontilhões e apenas com 50 prazos medidos, sem a casa para receber imigrantes [...] . [...] peço licença para expender a V. Exª. o que me parece mais convir no estabelecimento de imigrantes, nas imediações da colônia do Rio Novo.. [..] nas regiões circunvizinhas encontram-se 04 fazendas abandonadas por falta de braços, já com grande valor real pela suas grandes lavouras [...] ( RELATÓRIO apresentado Ministro da Agricultura pelo diretor da colonia de Rio Novo, Joaquim Adolpho Pinto Pacca. 1974.) Pinto Pacca, além do relato, faz um quadro comparando as despesas na instalação de imigrantes no 2º Território e nas fazendas, deixando evidente o interesse que ele tinha em concentrar os imigrantes italianos próximos à sede da colônia.

Os dois documentos são importantes para compreendermos os interesses na povoação da região e principalmente, como isso ocorreria, tanto da parte do Império, como do diretor Pinto Pacca, e que merece um estudo mais aprofundado para verificar essa política pública. No momento observamos que o Governo Imperial tinha interesse em povoar áreas ainda cobertas por floresta, uma vez que preferiu a expansão em direção ao Rio Benevente do que utilizar as fazendas próximas à colônia de Rio Novo e da Vila de Itapemirim, ou seja, ocorre a expansão territorial em direção ao Rio Benevente.

A ocupação do Vale do Rio Iconha, deu-se a partir da foz do rio, em Píuma que devido sua localização litorânea, já havia, no início do século XIX, um pequeno povoado formado por descendentes de indígenas. Esses habitantes viviam da pesca e da agricultura de subsistência, na forma de aldeia de pescadores. O clima de Piúma é tropical, amenizado por uma brisa marítima. Por essa localização e clima, desenvolveu o comércio com mais rapidez, e passou a receber visitantes importantes.

Por volta de 1800, chega, em Iconha, que era um lugar coberto por florestas e bastante montanhoso, o imigrante alemão Sr. Henrique Francisco Christiano Bourguignon, vindo de

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Frankfurt, Alemanha, para extrair madeira, mas, este, não permanece na região por muito tempo.

A penetração dos imigrantes na região gerou conflitos entre os nativos e os imigrantes. Essa luta foi uma forma de banir os indígenas e abrir espaço para o povoamento. Em Iconha ocorreu um desses conflitos em que agricultores moradores nas margens do rio Iconha entraram em choque com os indígenas, pois o território ainda não havia sido habitado por brancos, contexto apresentado por Rocha:

Desde quando se estabeleceu um destacamento de pedestres nas margens do rio Iconha, os agricultores foram chegando, mais confiantes. A providência seria recente, a julgar-se do oficio de Francisco Antonio da Fonseca, endereçado, a 26 de fevereiro de 1817, ao Governador Rubim. Contava que os ‘bárbaros gentios’ não perdiam ocasião de atacar, matando, destruindo, roubando.’ ... no dia que dei parte a V.Sª. das mortes e malfeitorias do inimigo, convoquei os moradores sujeitos ao gentio, os quais contribuíram com todo gosto e prontidão,para as despesas de uma entada e gastaram-se nela 18.880 rs. E porque os da entrada topassem o gentio o qual sem temor a tiros atacaram a nossa bandeira e durou o ataque, surpreendendo os bárbaros ao alvorecer, nas suas choupanas: ‘ ... e por fortuna, sucedia que alguns sessenta homens ficaram desarmados nos diferentes ranchos pois sem acordo correram sem arcos.’ Refeitos da surpresa, organizaram –se na defesa e já escasseava a pólvora dos atacantes, ‘ caboclos da Vila Nova’, quando o seu comandante, soldado miliciano José Pinto, protegido pelo gibão, se embarafustou entre os índios e, a tiros e cutiladas, os fez fugir, deixando seis mortos, aos quais foram cortadas as orelhas, enquanto a bandeira teve a baixa de cinco feridos, dois gravemente flechados no peito. E eis os troféus: ‘ Tomamos muita roupa, como saias, facões, muitas facas que entre os do ataque se repartiram, e fizeram uma fogueira onde lançaram sessenta e tantos arcos e muitas dúzias de flechas. (ROCHA: 1971, 68). Na década de 1820, chegam à região de Iconha os ingleses João Batista Rodacanack e Ernesto Midosi, que tinham o objetivo de montar uma empresa para extração de madeira, pois como já foi dito, a mata era fechada e com muitas árvores. Mas, os ingleses, não conseguiram manter a empresa Rodacanack e Midosi acabaram por abandonarem o projeto, limitando-se a uma exploração da madeira, no início da década de 1820, sem qualquer povoamento na região.

As terras que foram concedidas a referida empresa foram adquiridas por Thomaz Dutton Junior, junto ao governo provincial,na década de 1860, para realizar empreendimentos agrícolas e comerciais na região.

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O fundador de Piúma, Thomaz Dutton Júnior, nasceu na cidade de Londres, em 1822, e fez parte de um grupo de colonos ingleses, que se aventuraram rumo à América, em busca de enriquecimento.

Thomaz Dutton Júnior, então, passa a viver em uma vila de pescadores no Sul da província do Espírito Santo, e começa a promover o processo de povoamento da Vila, pois como apresentamos anteriormente, não havia, em Piúma, uma estrutura para desenvolver uma agricultura para exportação. Desse modo, Dutton estava consciente de que deveria dar condições à região para alcançar seu intento.

Dutton era um homem com uma visão empreendedora, e essa é uma característica marcante dele, que via naquela região litorânea, com foz de um rio, um local ideal para seus empreendimentos. Esse, por sua vez, foi ponto importante para o desenvolvimento das cidades, conforme é registrado na História do Brasil, em que as primeiras cidades surgiram no litoral e na foz de rios.

Ele chamava aquela região, Piúma, de Nova Londres. No litoral via a oportunidade de exportar com o porto, e, no interior, a extração de madeiras e a produção agrícola, que seriam exportadas por Piúma. Assim, Dutton começa a desenvolver o pequeno vilarejo, trazendo vários benefícios para a região.

Thomaz Dutton começa a se destacar no desenvolvimento da pequena Vila de Piúma onde, à margem do rio Iconha, constrói, na década de 1860, um trapiche e, em anexo, sua própria residência e a de alguns colonos ingleses. O trapiche estava muito bem localizado, exatamente na foz do Rio Iconha e com uma boa infra-estrutura.

Através da construção do trapiche, podemos observar que Dutton tinha o desejo de transformar Piúma em um grande centro comercial, o que tinha muita probabilidade de dar certo por causa do porto às margens do rio de Piúma. O porto, com certeza, seria muito útil no processo de exportação, pois a produção se daria no interior. Desta forma, o trapiche também serviria como local de desembarque das pessoas que chegavam à região.

Após sua chegada à região, na década de 1860, Dutton proporciona uma nova configuração econômica, política e social ao Vale do Rio Iconha. Os empreendimentos de Dutton iam muito bem até que, em 13 de maio de 1888, acontece no Brasil, a abolição da

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escravatura, fato este que causou horror para a família real e à monarquia brasileira. Devido a perda do domínio do trabalho escravo, a mão de obra ficaria totalmente escassa.

Com o fim do Império, Dutton começa a entrar em decadência, pois adquiriu empréstimos com o Sr. José da Costa Gonçalves Beiriz (Congressista que esteve no poder) para dar prosseguimento aos seus empreendimentos. Desta forma, encontrou-se bastante endividado e, como não conseguiu honrar seus compromissos, o Coronel José Gonçalves da Costa Beiriz moveu uma ação judicial hipotecária contra Dutton, auxiliado pelo Deputado Estadual Virgilio Silva, aliado político de Beiriz, e, assim, ele perdeu seu patrimônio.

O patrimônio de Dutton foi levado a leilão e, segundo CASTRO, (2003: 50) o mesmo foi avaliado em aproximadamente 1.600 contos de réis, mas Dutton só recebeu 800 contos de réis como pagamento, ou seja, a metade do valor, e ainda continuou com dívidas. O trapiche e imóveis de Dutton, em Piúma, a Fazenda Monte Belo, que ocupava quase todo o alto Rio Iconha e as benfeitorias da fazenda, passaram para o coronel Beiriz.

Com o empobrecimento de Dutton, a colônia inglesa começou a sofrer alguns desgastes, caminhando lentamente para o fracasso. Muitos colonos retornaram a Inglaterra ou migraram para os Estados Unidos e outras partes do Brasil, permanecendo poucos na região, pois além da queda de seu líder, alguns não se adaptaram às condições locais, e levaram consigo o sonho de firmar, ali, uma colônia.

Após cinco anos da decisão judicial em que perdeu todo o seu patrimônio, o Srº Thomaz Dutton Júnior falece na Vila de Piúma, em 04 de dezembro de 1906, aos 84 anos de idade, com registro de morte natural, totalmente falido.

Simultaneamente ao período de decadência de Dutton ( 1890-1906), a região continua a desenvolver-se, mas, agora, sob a influência dos coronéis José Gonçalves da Costa Beiriz e Antônio José Duarte.

O Coronel Antônio José Duarte e Coronel José Gonçalves da Costa Beiriz, sócios, vão se tornar, a partir de 1890, os senhores da região e exercer um poder que extrapolou a esfera local. Mas, devemos considerar que Dutton deu início ao que hoje é Iconha e Piúma. Nesse período, chegam várias famílias de imigrantes, principalmente italianos, que darão prosseguimento ao povoamento e desenvolvimento do Vale do Rio Iconha.

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É importante salientar que os italianos chegam na região a partir de 1877 e, de forma mais intensa a partir de 1890, através da venda de terras da Fazenda Monte Belo. Os imigrantes ingleses chegam a partir da década de 1860, através de Dutton, provando que os italianos não foram os pioneiros no povoamento de Iconha, como é aceito por muitas pessoas.

Os referidos coronéis já haviam adquiridos terras de Dutton desde 1890. Em 1901 arremataram, com o leilão, o que restava da fazenda. Assim, desde o final do século XIX, esses coronéis vão dividir as terras da fazenda Monte Belo e vender lotes para imigrantes italianos, que vão ampliar a área cultivada pelo café. Ressalta-se que esses italianos compravam as terras para pagá-las com a colheita aos coronéis.

Desse modo, enquanto Dutton entra em decadência, a partir de 1890, Iconha e Piúma, regiões em que foi praticamente o fundador, continua a se desenvolver, agora sobre o domínio do coronel Duarte e do coronel Beiriz, tornando-se prósperas na primeira década do século XX, quando Dutton morre. O ideal de Dutton, de ver o interior do Vale do Rio Iconha produzindo, e essa produção escoar por Piúma, concretizou-se, mas não com ele à frente dos negócios. Foram os coronéis citados que lucraram com essa estrutura comercial, o que nos permite afirmar que Dutton idealizou, iniciou seus planos e os desenvolveu, mas, os resultados, não foram parar em suas mãos.

A Casa Comercial Duarte e Beiriz tornou-se uma das maiores do estado e foi responsável pela transformação de uma região praticamente desabitada em um município com infra-estrutura. Os proprietários da firma, especialmente Antônio José Duarte, tornaram-se grandes chefes políticos locais, tanto que tinham o título de coronel. No entanto, esse desenvolvimento comercial não ocorreu por acaso ou sorte, nem as obras públicas realizadas pela firma foram fruto da caridade, bem como o poder político obtido pelos comerciantes foi resultado de seus méritos espontâneos na urna.

Quando foi criada a casa comercial, a vila era praticamente desabitada, o que do ponto de vista comercial não é lucrativo, mas os comerciantes tinham outro objetivo. A região consistia em terras virgens e, a partir de 1877, chegavam imigrantes italianos em busca de terra para o plantio do café. Os comerciantes compraram as terras, que hoje compõem o município, e dividiram em grandes lotes. Quando os imigrantes chegavam eram vendidos esses lotes na condição de pagarem através das futuras colheitas de café.

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Nesse contexto, os imigrantes adquiriam produtos alimentícios e ferramentas na casa comercial, já que tinham uma floresta a desbravar e deveriam partir do nada e, assim, a venda fornecia tudo de que precisavam. Os comerciantes vendiam “fiado” para que os italianos pagassem com a colheita. Importante salientar que, além das terras, os imigrantes também deviam os bens adquiridos. Quando era época da colheita, o agricultor levava a produção até a casa comercial para vendê-la. Contudo, era descontado o que devia e continuava a dever, afinal continuava a comprar e havia juros, sem falar que as terras adquiridas levavam anos para serem pagas.

A casa comercial polarizava a vida da vila, era o vendeiro que, por estar próximo do produtor e ser único com instrução, estabelecia vínculos com as pessoas. Era responsável por dar conselhos, ajuda econômica e apadrinhar. Como o comerciante também era o político, arrumava empregos públicos e fazia a lei do município.

Desse modo, o comércio foi o sustentáculo de poder político à medida que, através dele, o coronel manteve a sociedade atrelada a sua casa comercial e, portanto, deveria retribuir por meio do voto. Salienta-se que a firma financiava as obras que, para a população dominada, era um ato de bondade, mas simbolizava, na verdade, o poder do coronel na região.

A vila de Iconha foi surgindo e ganhando forma ao redor da casa comercial Duarte e Beiriz. É interessante observar que o centro comercial vai polarizar o desenvolvimento da vila.

Nas palavras de Simão (1991 ) o município foi construído por Duarte e Beiriz, sem a ajuda do Estado. Salvo os exageros, não se pode negar que a firma teve papel importante na formação de Iconha, afinal, além de interesses comerciais havia interesse político.

Mas não foi somente a vila de Iconha que desenvolveu. A firma Duarte e Beiriz estabeleceu filiais em Confiança e Duas Barras, comunidades de Iconha, sendo estas ligadas a matriz em Iconha e a outra filial em Piúma por linha telefônica. Além disso, a firma possuía 03 vapores de pequena cabotagem que navegavam, transportando passageiros e mercadorias do porto de Piúma a Vitória. Além de canoas que faziam o transporte do café de Iconha a Piúma onde era armazenado em trapiche da firma. Praticamente todo café era levado para o porto do Rio de Janeiro pelas empresas Rio de Janeiro e Novo Lloyd Brazileiro. O rio Iconha

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era navegável somente até o centro da vila, portanto, das lavouras até a casa comercial o trabalho ficava por conta das tropas.

Podemos verificar desse modo que nos 20 anos que sucederam a inauguração da firma o desenvolvimento da mesma e da vila de Iconha foi grande. Mas, a firma trouxe outras conseqüências, o poderio econômico e político do Antonio Jose Duarte.

Duarte e o Beiriz tinham suas tarefas definidas. Enquanto Antônio José Duarte cuidava dos negócios da casa comercial e, principalmente, da política, José Gonçalves Beiriz dedicava-se , além do comércio, especialmente a venda das terras e o trato com os imigrantes.

Desse modo, quando descrevemos o desenvolvimento da casa comercial Duarte e Beiriz e o crescimento da vila de Iconha estamos apresentando a trajetória do Coronel Antonio Jose Duarte. Não há como separar as duas coisas. Um fato importante a acrescentar é que o Duarte casou-se com a filha do Beiriz e as duas famílias formaram uma grande parentela. Também é importante destacar que o governo imperial o nomeou comandante da 20ª Brigada da Guarda Nacional.

Não podemos ignorar o fato de que o coronel adotou essa terra como sua e, portanto havia interesse pessoal em desenvolve-la mas, não podemos negar o fato de que o crescimento de Iconha simbolizava seu crescimento, esse era seu espaço, seu protetorado político.

Assim, os Vales dos Rio Novo e Iconha foram ocupados por imigrantes estrangeiros em colônia oficiais, no caso de Rio Novo, e não oficiais, como os ingleses de Dutton, e os italianos que satelizavam em torno da Casa Duarte e Beiriz, formando uma estrutura social, política e econômica no interior da província mas, partindo do litoral, foz dos rios.

Imigração no Vale do Rio Benevente

A partir de 1875, a região do Rio Benevente, no município de Benevente e hoje Anchieta, começou a receber imigrantes, ocorrendo a expansão territorial da colônia. É importante ressaltar que, nessa época, havia, no litoral, a vila de Benevente (Anchieta), na foz do rio de mesmo nome com o porto. No sentido oeste, com as terras cobertas pela floresta que formavam o 2º, 3º, 4º e 5º Territórios da Colônia de Rio Novo. 14

Os imigrantes desembarcavam, principalmente no porto de Benevente e eram conduzidos aos lotes designados pelo governo. O maior número de imigrantes foi destinado ao 4º Território da Colônia do Rio Novo, localizado no alto Benevente.

Esse processo de imigração para os novos territórios da Colônia do Rio Novo é assim descrito, por Gilda Rocha:

Na década de 70, quando aumentaram as entradas de imigrantes no Espírito Santo, a colônia do Rio Novo se expandiu territorialmente. Ao núcleo inicial (1º território) foram acrescentados mais quatro. O 2º território, situado ás margens do Rio Benevente, recebeu seus primeiros povoadores – 230 tiroleses- em 1875. O 3º território, que ocupava terras do município de Itapemirim e Benevente, recebeu a primeira leva de imigrantes, composta de 773 italianos, em 10 de março de 1878; pouco depois chegaram 264 cearenses. O 4º território, também situado em benevente, começou a ser povoado em 30 de julho de 1875, por imigrantes austríacos. Finalmente o 5º território, situado em terras pertencentes ao município de Benevente e Guarapari, foi fundado em novembro de 1876, data em que recebeu os primeiros imigrantes (ROCHA: 2000 p.78-79). As famílias que chegavam não encontravam condições ideais de estabelecer-se nos territórios, o que não é novidade ao estudar a imigração estrangeira: promessas não cumpridas. A começar pela distribuição das terras. Os imigrantes reclamavam de que os lotes ficavam confinados no meio da mata e de difícil acesso aos recursos e ao transporte da produção. Ressalta-se que não recebiam moradias e, nos primeiros dias, ficavam alojados em barracões e à mercê dos perigos das matas. Reclamavam da falta de auxílio até que começassem a produzir. Em muitos casos as famílias passavam fome. Os caminhos abertos eram insuficientes e de péssima qualidade, sem falar na falta de pontes.

A região do 4º território, atual município de , cresceu em termos populacionais e Alfredo Chaves ganhou certa autonomia em relação a colônia de Rio Novo, que segundo Derenzi ( 1974:85): “ Alfredo Chaves fez parte da Colônia de Rio Novo como cessão [ departamento]. Seus fatos administrativos, na era monárquica, se confundem.”

Nessa região de imigração, de colônias, formou-se a pequena propriedade que produzia gêneros alimentícios necessários à sobrevivência e o café, para vender e obter lucro. Nesse contexto, surgiu, na região, um pequeno comércio onde se vendiam produtos aos imigrantes que não eram produzidos localmente como o sal e o querosene. Em muitos casos, comprava-se deles a produção de café e revendia para as grandes casas comerciais, conforme Saletto: 15

O pequeno produtor ligava-se ao mercado mundial através da ‘ venda’, que comprava seu café e o abastecia dos artigos que não produzia. A venda estabelecia uma relação permanente com seus ‘fregueses’, que tinham contas correntes, nas quais eram registradas as mercadorias que eles retiravam ao longo do ano e que seriam pagas com o café que entregariam na época da colheita (SALETTO: 1996, p.42). A partir de 1880, a colônia de Rio Novo foi emancipada. Assim, seus territórios vão formar os municípios de Rio Novo do Sul e Alfredo Chaves e ainda, integrar partes ao município já existente de Benevente ( Anchieta). Em 1891, Piúma emancipa-se de Benevente e as terras que correspondiam ao 2º território, juntamente com as terras ao redor da vila de Piúma, formam esse município, Piúma, incluindo a vila de Iconha.

É importante destacarmos que o interior do então município de Benevente vai ser ocupado por imigrantes a partir do litoral, na vila de mesmo nome, por meio do Rio Benevente e que a maior parte do interior do município constava como território da Colônia do Rio Novo.

CONCLUSÃO

Ao abordarmos o processo de ocupação do sul da província do Espirito Santo, podemos constatar que as vilas situadas na foz dos rios tiveram uma grande contribuição no povoamento da região.

A Vila de Itapemirim foi a região de maior desenvolvimento do sul da província até meados do século XIX quando o interior passou a ser ocupado com a cafeicultura, no baixo Itapemirim. Os atuais municípios de Rio Novo do Sul e Iconha foram ocupados a partir da imigração, especialmente italiana, que deu-se no vale dos rios Novo e Iconha que cortam os atuais municípios. O vale do Rio Benevente foi o “caminho” pelo qual seguiram os imigrantes para o interior de Anchieta e ainda formaram Alfredo Chaves e muitos imigrantes avançaram para o que hoje é o município de Castelo e o de .

Verificamos nesse trabalho que as vilas de Anchieta, Piúma e Itapemirim, ponto de partida de ocupação do interior no século XIX, não acompanharam o desenvolvimento da província sendo que seu interior alcançou maior crescimento econômico e social, inclusive,

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com maior poderio político, muito bem demonstrado: na emancipação do Município de Cachoeiro de Itapemirim, no Vale do Rio Itapemirim, em relação à Vila de Itapemirim; a emancipação de Alfredo Chaves em relação à Anchieta, no Vale do Rio Benevente; e a elevação de Iconha à categoria de sede do município de Piúma, no vale do Rio Iconha.

Observa-se também que relações sociais, de poder político e econômico surgiram na medida que avançava a ocupação das vilas litorâneas pelos rios do sul capixaba.

Essas regiões, hoje municípios, necessitam ser (re)visitados historiograficamente para compreendermos esse processo de ocupação e não limitar-se ao estudo do pós-ocupação, como ocorre em muitos trabalhos.

Ressaltamos que a imigração para a porção sul capixaba ocorreu a partir do fluxo migratório de mineiros e fluminenses na marcha do café mas, o caminho litoral – interior necessita ser considerado também na construção histórica do oitocentos.

Observamos nessa pesquisa um trânsito de portugueses, ingleses, italianos, africanos, alemães, chineses e remanescentes indígenas que passam muitas vezes despercebidos na construção social da história do Espirito Santo. É verificado ainda, a formação de redes de poder entre o local e a província, verificado nos coronéis de Iconha e Piúma, e chegando até “as barbas” do imperador, no caso das disputas de poder e relações partidárias em Itapemirim. Na economia, temos uma região que estabeleceu intenso comércio com a capital da província e com o Rio de Janeiro, verificado em Itapemirim e em Iconha com a casa comercial dos Duarte e Beiriz.

Desse modo, levantamos um cenário historiográfico e questões sociais, políticas, culturais e econômicas do sul do Espirito Santo no oitocentos que merecem ser aprofundadas para a compreensão do processo histórico nos rincões que compreendem a história capixaba.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACHIAMÉ, Fernando Antônio Moraes. A colonização e a pequena propriedade: a colônia do Rio Novo . Vitória, mimeo., s/d.

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ALMADA, Vilma P. E. de. Escravismo e transição: O Espírito Santo, 1850-1888. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1984.

CAPRINI, Aldieris Braz Amorim.[et.al.] Nosso Mumicípio: Iconha. Iconha: Instituto

Histórico e Geográfico de Iconha do Espírito Santo, 2004.

COSTA, Luciana Osório. Colônia de Rio Novo . Vitória, mimeo., 1981.

ROCHA, Gilda. Imigração estrangeira no Espírito Santo- 1847-1896 .FCCA: Vitória, 2000.

ROCHA, Levy. Viajantes Estrangeiros no Espírito Santo .Vitória: Brasília,1971.

SALETTO, N. Transição para o trabalho livre e a pequena propriedade no Espírito Santo. Vitória: Ed. EDUFES, 1996.

______, Trabalhadores nacionais e imigrantes no mercado de trabalho do Espírito Santo. Vitória: EDUFES,1996.

SIMÃO, Idalgiso. História de uma Colonização. 2. ed. Iconha e Piúma, 1991.

TSCHUDI, Johann Jakob. Viagem à Província do Espírito Santo . APES: Vitória, 2004.

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