Nos Vales Dos Rios: O Desenvolvimento Do Sul Da Província Do Espiríto Santo No Século Xix
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NOS VALES DOS RIOS: O DESENVOLVIMENTO DO SUL DA PROVÍNCIA DO ESPIRÍTO SANTO NO SÉCULO XIX Aldieris Braz Amorim Caprini (IFES) Resumo: A comunicação apresenta os resultados de estudos e de pesquisas sobre o Sul do Espirito Santo no século XIX, no que se refere às regiões de Itapemirim, Piúma e Benevente, ou seja, a porção litorânea, de forma a apresentar um panorama do processo histórico no que se tange as relações sociais estabelecidas no espaço que foi o início da ocupação da região sul da província mas, que acabou por ser esquecida com o desenvolvimento do interior. Salientamos o processo migratório e imigratório, especialmente a imigração inglesa e italiana, e ainda a contribuição da Colônia do Rio Novo. Nesse contexto, é na primeira metade do século XIX que Itapemirim alcança o auge de seu desenvolvimento, como centro político e econômico do sul da colônia e posteriormente da província, período que dura até 1860 quando a região perde seus líderes políticos e Cachoeiro de Itapemirim assume posição de destaque no cenário regional. E a região de Piúma e Benevente torna-se ponto de partida das levas de imigrantes para o interior, resultando na formação de municípios, no final do século XIX. Construímos assim, a partir desses elementos, um mosaico sobre a região objetivando apresentar como ocorreu a ocupação e o desenvolvimento, bem como as relações sociais e de poder, ou seja, como foi construída a história dessa porção capixaba no oitocentos. Palavras–chave: Oitocentos; Imigração Estrangeira; Espirito Santo; Rio Novo e Iconha; Rio Benevente; Rio Itapemirim. Abstract: The communication presents the results of studies and research on the South of the Holy Spirit in the nineteenth century, with regard to regions of Itapemirim, Piuma and Benavente, ie, the coastal portion, so as to present an overview of the historical process in that respect the social relations established in the space that was the beginning of the occupation of the south of the province, but it was eventually forgotten with the development of the interior. Emphasize the migration and immigration, especially the English and Italian immigration process and also the contribution of the Colony of New River. In this context, the first half of the nineteenth century that Itapemirim reaches the pinnacle of its development, as political and economic center of southern colony and later the province, a period that lasts until 1860 when the region lost their political leaders and Itapemirim assumes prominent position in the regional scenario. And the Region and Piuma Benavente becomes the starting point for waves of immigrants to the interior, resulting in the formation of municipalities, in the late nineteenth century. We build from these elements, a mosaic over the region aiming at presenting how the occupation and the development occurred as well as the social and power relations, ie, how the story was constructed in Espírito Santo portion of this hundred. Key words: Eight Hundred; Foreign immigration; Espírito Santo; Rio Novo and Iconha; Rio Benavente; Rio Itapemirim. 1 Introdução O referido trabalho aborda o desenvolvimento da região sul litorânea da província do Espírito Santo, formado no Século XIX pelos municípios de Itapemirim e Benevente (atual Anchieta), e o vilarejo de Piúma, que pertencia à Benevente até 1891, a partir dos rios que neles desaguam respectivamente: Rio Itapemirim, Rio Benevente e Rio Novo e Iconha. A maioria dos estudos e pesquisas na historiografia sul capixaba tratam do desenvolvimento econômico, político e social do interior da província, especialmente Cachoeiro de Itapemirim e a cafeicultura, a partir da segunda metade do oitocentos, fazendo- se assim, necessário levantar lacunas historiográficas do início do processo de ocupação do sul da província, no caso, a região sul litorânea e os vales dos rios que nele desaguam, para compreendermos o desenvolvimento social da região, sendo esse o objetivo do texto. Havia, até meados do século XIX, no Sul do Espírito Santo, somente as vilas de Itapemirim e Benevente. O território que se estende hoje de Anchieta até a divisa de Piúma com Itapemirim pertencia a Benevente. O que hoje compõe o município de Itapemirim, Marataízes e Presidente Kenedy pertenciam à Itapemirim, e, no sentido oeste ainda não havia ocupação efetiva. Nesse cenário, apresentamos como estava ocupado a região litorânea, no caso, a foz dos Rios Itapemirim, Benevente e Rio Novo-Iconha, e como ocorreu o desenvolvimento dessas localidades e dos vales dos referidos rios, ou seja, a ocupação social do litoral para o interior. A ocupação do baixo Rio Itapemirim Até a segunda metade do século XVII a região do baixo Rio Itapemirim contava somente com a presença indígena e jesuíta. A partir desse período inicia-se a ocupação com fins de povoamento e desbravamento econômico. A capitania do Espirito Santo havia sido vendida, em 1674, ao comerciante baiano Francisco Gil de Araújo que adquiriu as terras objetivando encontrar minas de ouro. A 2 propaganda feita por Gil de Araujo atrai pessoas de outras partes da colônia para as terras do ES, o que resultou no início do povoamento de Guarapari e Itapemirim. Chega à Itapemirim no final do século XVII Domingos Freitas Caxanga e Pedro da Silveira com suas famílias e outras pessoas que se juntaram a esses. Explica-se assim por que a região foi chamada inicialmente de “Porto de Caxanga”. Sem lograr sucesso, a fazenda Caxanga foi vendida, em torno de 1702, para o sargento-mor Ignácio Pedro Cacunda que pretendia fazer do baixo Itapemirim uma base para a exploração das Minas do Castelo e Caxixe. Sem obter êxito na mineração, a ocupação se limita ao baixo Itapemirim promovendo o desenvolvimento da região a partir da fundação, por Pedro Bueno e do capitão Baltazar Caetano Carneiro, de um engenho real e da construção de uma capela na propriedade chamada “Fazendinha”. Paralelo ao desenvolvimento da cana , embora pequeno, surge a cultura do feijão e da mandioca e o povoamento, tanto que em 1769 a aldeia é elevada à categoria de freguesia e paróquia. A foz do Rio Itapemirim continua a se desenvolver e portanto, atrair mais pessoas, enquanto seu interior ainda continua sem ocupação efetiva. O capitão Tavares de Brum, vindo de Minas Gerais, adquire, em torno de 1800, a propriedade “fazendinha” e promove um maior desenvolvimento. Muitos forasteiros oriundos das gerais chegam a região em decorrência da decadência da mineração. Ao mesmo tempo, Joaquim Marcelino da Silva Lima, um paulista, chega à Benevente junto de seu pai. O jovem Lima vem a ser mais tarde genro de Brum e futuro Barão de Itapemirim. A figura do Barão merece um estudo a parte, considerando seu poder que extrapolou a esfera local, o que não será tratado nesse trabalho. Podemos afirmar que é na primeira metade do século XIX que o baixo Rio Itapemirim alcança o auge de seu desenvolvimento, como centro político e econômico do sul da colônia. A província concentrava a população e as atividades econômicas no litoral, e a cana-de-açúcar no baixo Itapemirim era o principal produto do sul do Espírito Santo. No início do século XIX, ocorre uma política de abertura de estradas no interior da Província, destacando Linhares, ao norte, e Cachoeiro de Itapemirim, ao sul da província. O objetivo era promover o contato com as Gerais, proibido oficialmente no século XVIII, e, assim, propiciar o desenvolvimento econômico e a ocupação do interior da província. Nesse 3 contexto, constrói-se um Quartel às margens do Rio Itapemirim, no último ponto navegável, para dar proteção aos que buscavam instalar-se na região, hoje a sede do município de Cachoeiro de Itapemirim. A partir da segunda metade do século XIX, o interior do Rio Itapemirim e seus arredores assistiu à intensa ocupação populacional devido ao desenvolvimento da cafeicultura. A expansão das áreas cultivadas, a partir do Rio Paraíba, atingiu o Espírito Santo e, consequentemente, atraiu para as terras capixabas interessados em ocupar as terras virgens propícias para o café. Fluminenses e mineiros vão se estabelecer nas áreas dos Rios Itabapoana e Itapemirim utilizando a mão-de-obra escrava. Na década de 1850, o café torna-se o principal produto da economia provincial e o responsável pela ocupação do interior, o que permitiu uma virada na trajetória econômica e populacional capixaba. Ao sul, nos vales do Itapemirim e Itabapoana, porém, o processo foi muito mais agressivo. Ali o café não somente substituiu a antiga cultura, mas atuou principalmente como um poderoso atrativo econômico no processo de ocupação das matas virgens no interior dessa região. Na verdade, a história administrativa dessa parte do Espírito Santo reflete o resultado da rápida ocupação cafeeira. Cachoeiro de Itapemirim, de pequena povoação pertencente à vila de Itapemirim de 1852, tornou-se freguesia em 1856, e em 1872 já tem sob a sua jurisdição as seguintes freguesias: São Pedro D’ Alcântara do Rio Pardo, São Miguel do Veado, São Pedro do Itabapoana, São José do Calçado, Nossa Senhora da Conceição do aldeamento Affonsino e Nossa Senhora da Penha do Alegre. (ALMADA, 1984:63) As fazendas no sul da província mantinham a estrutura econômica do plantation , atraindo fazendeiros fluminenses e mineiros, em busca de terras virgens e férteis e com eles vinham o dinheiro e os escravos. A partir de então, a região do baixo Rio Itapemirim entra em decadência econômica e perde seus líderes políticos, o que faz o alto Rio Itapemirim, que vem a ser o município de Cachoeiro de Itapemirim, assumir a posição de destaque no cenário regional e o baixo Itapemirim, o litoral, fica estagnado. 4 Imigração no vale do Rio Novo e do Rio Iconha A região do Vale do Rio Novo e Rio Iconha representa muito bem o contexto histórico do Espírito Santo no século XIX: um litoral pouco povoado e um interior sem povoamento que sofre transformações com a imigração e a produção do café.