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Impresso Especial

9912196297-DR/RS ORNAL DA NIVERSIDADE UFRGS J U Prêmio Destaque Andifes de Jornalismo das Ifes CORREIOS

Porto Alegre | RS | Brasil Ano XIV | Número 133 Novembro e Dezembro de 2010 FOTOS FLÁVIO DUTRA/JU FOTOS

Excelência a distância De janeiro a abril próximos, a Universidade realizará a formatura das primeiras turmas de Educação a Distância: Administração, Pedagogia, Biologia e Desenvolvimento Rural (Plageder). Verdadeiras caravanas chegarão de alguns dos 41 polos existentes dentro e fora do estado para a grande cerimônia, pois todos querem comemorar a conquista de um sonho até então inimaginável: ter uma formação superior. Nesta edição, o JU traz a trajetória da EAD na UFRGS, modalidade que, desde o início, tem sido referência nacional no desenvolvimento de P9,10,11e12 tecnologias e ambientes de aprendizagem.

ENCARTES ESPECIAIS DANIEL DENNET INTERNACIONALIZAÇÃO Filosofi a e Missão da UFRGS à Ásia Os filhos da Durante 10 dias, uma comitiva da Universidade, presidida pelo reitor Carlos investigação Alexandre Netto, visitou universidades, parques tecnológicos, centros de pesquisa e empresas privadas de três países do continente asiático: Coreia do

FilosofiaEncarte especial sobre os 40 anos da divisão da Faculdade de FilosoÀ a da UFRGS - Novembro e Dezembro de 2010 científi ca Sul, China e Cingapura. A viagem serviu para a assinatura de diversos acordos de cooperação. Para a comunidade acadêmica, o resultado mais imediato é inseparáveis o acerto da instalação do Instituto Confúcio, órgão mantido pelo

Sala de redação da recém- criada Fabico: à esquerda, Haydée Diebold; à direita, Ida governo chinês para a difusão da língua e da cultura daquele país. e Ivo Stigger. Quem puder O fi lósofo, que se apresentou no ciclo P14 identificar as demais pessoas nesta foto, deve enviar e-mail para jornal@ ufrgs.br Fronteiras do Pensamento, falou de sua teoria da mente humana. Ele

pela linha do tempo da história da Comunicação cação (Secom), unifi ca setores dispersos, como a e da Informação na estrutura da Universidade, Rádio da Universidade, a Gráfi ca e a Assessoria poderemos observar como o ensino dessas áreas de Imprensa. É também lançado o Portal da Uni- vai-se desenvolvendo concomitantemente. versidade – o site da UFRGS na Internet – e, logo, O Curso de Jornalismo, nos primeiros anos Jornal da Universidade, sempre com intensa defende uma controversa articulação Do chumbo à na década de 50, está ligado à implantação da participação de professores e alunos da Fabico. Rádio da Universidade – com professores e alunos E, em 2005, fi nalmente implanta o projeto da estagiários. Da mesma forma, o antigo Gabinete Unidade Produtora de Televisão – a UFRGSTV. de Imprensa, depois Assessoria de Imprensa nas Hoje, pelo trabalho do Clube de Criação do Curso décadas seguintes, serve de campo de atuação de Publicidade, amplia-se ainda mais a interação para os alunos do curso. e o atendimento às necessidades de comunicação comunicação Por sua vez, o Curso de Biblioteconomia e institucional interna e externa. entre ciências cognitivas, darwinismo SAJU Documentação, que surge como curso técnico A Fabico sempre proporcionou, ao lado do no fi nal dos anos 40, visava atender à demanda ensino e da pesquisa, uma intensa atividade de crescente das Bibliotecas Universitárias. Depois extensão universitária. Projetos de desenvolvi- de alguns percalços na década de 50, ele começa mento comunitário e de interação com setores a se consolidar e, a partir de 1958, constitui-se da sociedade, na capital e no interior do estado, integrada como um curso de nível superior aprovado pelo caracterizaram sua atuação ao longo desse tempo: Conselho Universitário. do Carro-biblioteca à Vila de Itapoã nos anos 80, e computação para explicar A partir da criação da Faculdade de Biblio- ao município de São José dos Ausentes nos 90, ou Ricardo Schneiders da Silva* teconomia e Comunicação, e ao longo das o de Canoas, já nos anos 2000. Da mesma forma, décadas de 70 e 80, consolida-se, por um lado, foram reconhecidos seus vários programas per- m janeiro de 1970 fi z o Ves- mia e Documentação, que funcionava no prédio o Sistema de Bibliotecas da UFRGS, alargando manentes de extensão, como os desenvolvidos tibular Unificado para os da Faculdade de Ciências Econômicas. o campo de trabalho profi ssional dentro da es- pelo Núcleo de Fotografi a e aqueles voltados às cursos da Faculdade Filosofi a Na discussão da comunidade acadêmica sobre trutura universitária e os espaços para estágios Bibliotecas Escolares e ao Incentivo à Leitura. Pelos direitos e a cidadania da UFRGS. Estava inscrito o futuro da UFRGS frente à Reforma Universi- e bolsas para os estudantes. Por outro lado, a Hoje, acompanhando a realidade de toda a fenômenos como a consciência, o para o de Jornalismo, que tária de 68, o Conselho Universitário aprovara área da Comunicação assume importância cada Academia, amplia sua presença no oferecimento oferecia 30 vagas e tinha a a criação de duas Unidades autônomas para as vez maior na gestão política e administrativa da de programas em nível de especialização, sejam duração de três anos. Passei. áreas da Biblioteconomia e da Comunicação comunidade universitária. de caráter presencial ou de ensino a distância. Há Mas quando chegou março, atrasou o início Social. No Curso de Jornalismo, já se avançara Mas é na década de 90 que se atinge a reestru- pouco se concluiu a edição de curso em Gestão dasE aulas, e fi nalmente, ao começarem, a turma na proposta de criação da Faculdade de Comu- turação e se encaminha a formatação atual, tanto de Bibliotecas Escolares e Acessibilidade, e já se fora ampliada para 60 vagas, o curso passou a se nicação e de sua instalação no prédio da Gráfi ca da própria Faculdade como da sua inserção na projetam novos cursos, como o de Jornalismo chamar Comunicação Social e teria a duração de da Universidade. E na Escola de Biblio teconomia vida da Universidade. Na área de Biblioteconomia Esportivo, na área de Comunicação, a ser ofe- livre-arbítrio e a fé religiosa. Sobre quatro anos! Em breve seríamos incluídos numa e Documentação havia a mesma resistência e o e Documentação, cria-se o Curso de Graduação recido no próximo ano, face à perspectiva da nova faculdade que ainda não existia! Era o fi m da desejo de autonomia plena. em Arquivologia, e o Departamento assume a realização da Copa do Mundo de Futebol e dos antiga Filosofi a e a plena realização da Reforma Mas o projeto foi reformatado em Brasília e, denominação de Departamento de Ciências da Jogos Olímpicos no Brasil. Um serviço de assessoria jurídica organizado, gerido e desenvolvido por Universitária imposta pelo Governo Federal. então, de acordo com a Portaria n.º 714 de 1.º de Informação. No mesmo período é instituído o A interação da Faculdade com a Universi- Talvez tenha sido a resistência que se viven- setembro de 1970, o reitor Eduardo Faraco cria Programa de Pós-graduação em Comunicação dade e sua inserção na sociedade refl etem uma ciou naquele período, os anos de chumbo do a Fabico, promovendo, assim, um “casamento” e Informação, em nível de mestrado, e no ano crescente qualifi cação dos cursos de graduação governo Médici, o estopim para a futura decisão forçado entre as duas áreas! de 2000, o doutorado, demonstrando as possibi- e o desenvolvimento e a maturidade no ensino o ceticismo de alguns cientistas em de me dedicar, de corpo e alma, à Universidade, Hoje a realidade é outra: os campos das Ciên- lidades de desenvolvimento integrado e interativo de pós-graduação, na pesquisa e na extensão, ao ensino e à Fabico. cias da Informação e da Comunicação Social entre os dois campos. produzidos pela Fabico, descortinando cada vez Passados 40 anos, não me arrependo! caminham de forma adjacente, às vezes conver- A Universidade também propõe um novo mais novas possibilidades e oportunidades de A Faculdade de Biblioteconomia e Comuni- gente. Aprendemos a trabalhar juntos e a superar projeto de comunicação que tem como ponto atuação para as próximas décadas. estudantes. Assim é o Saju, prestigiado projeto de extensão localizado cação é o resultado da união do antigo curso de os eventuais confl itos, e o nosso crescimento se fundamental a recriação de sua logomarca e a Jornalismo, criado em 1952 e vinculado a nossa dá com o crescimento e o amadurecimento da projeção de uma nova imagem insti tucional. Mais antiga Filô, com a então Escola de Bibliotecono- própria Universidade. Ao lançarmos nosso olhar adiante, com a criação da Secretaria de Comuni- * Diretor da Fabico relação à contribuição que a fi losofi a pode proporcionar a seus estudos, no porão da Faculdade de Direito. Além de atender residentes de Porto comentou: “Eu me delicio em mostrar Alegre com renda de até três salários mínimos, há também grupos de FILHOS DA FILOSOFIA a alguns cientistas arrogantes assessoria popular – caso do Grupo de Assessoria Justiça Popular (Gajup). que pensam que não precisam de Segundo o monitor Marcelo de Azambuja, o Grupo trabalha com educação Os 40 anos fi losofi a como eles cometem alguns popular dentro da Vila Chocolatão e tem-se empenhado na criação de uma da divisão da erros elementares de lógica na Associação de Catadores e Recicladores. Essa atividade sustenta ampla abordagem do problema de maioria dos moradores da comunidade, como Mário Dias Duarte, Faculdade pesquisa”. P13 que reside na vila há 12 anos. P7

ILTON SAFFER/SUINFRA HISTÓRIA O centenário da Revolta da Chibata e o legado do Almirante Negro

Reitorado 2008-2012 iniciou-se conceito, sendo que, hoje, mais de 20% dos 79 destaque o processo de construção do Plano de sob o signo da expansão das uni- cursos possuem conceitos 6 e 7. A internacio- Desenvolvimento Institucional, o PDI. Numa versidades federais decorrente do nalização, por sua vez, torna-se essencial para mobilização coletiva, foi recentemente encami- forte apoio do Programa Reuni. uma universidade que almeja ser um centro de nhado ao Conselho Universitário o documento Ao refletir sobre os dois anos, desenvolvimento científico e cultural com reco- que indica os rumos a seguir nos próximos anos. recém-completados,O de intensa atividade, per- nhecimento global. Para aperfeiçoar a comunicação e o atendimento cebemos que a Universidade efetivamente cresceu A UFRGS é identificada nacional e interna- à comunidade, foi implantada a Ouvidoria. Página 16 de forma sistêmica, e também evoluiu. cionalmente pela excelência de sua pesquisa; Expansão e inclusão exigem o aperfeiçoamen- Expansão acadêmica com qualidade e am- ocupou lugar de destaque nos principais ran- to da infraestrutura institucional, e diversas ações pliação do quadro de servidores, apoiados na kings e recebeu diversos prêmios individuais – a foram desenvolvidas neste período. Destacamos renovação e ampliação da estrutura física e das pesquisadores – e institucionais. Uma vez que o o início da construção do prédio de salas de aula políticas de atendimento à comunidade univer- conhecimento deva contribuir para a melhoria do Câmpus Centro (foto acima), a entrega da du- sitária, especialmente da assistência estudantil, da qualidade de vida por meio da transferência plicação do RU do Câmpus do Vale e da reforma são os pontos fundamentais a partir dos quais as dos resultados da pesquisa inovadora para a da Casa do Estudante da Cefav, bem como a re- ações do Plano de Gestão vêm sendo desenvolvi- sociedade, trabalhou-se no sentido da criação forma em execução da Casa do Estudante da João das. São ações pautadas pelo compromisso com e implantação do Parque Tecnológico, que será Pessoa. No total, a Suinfra tem em andamento uma universidade inclusiva, democrática, capaz de fundamental importância para o desenvolvi- 64.091,00 m² quadrados de áreas em reformas/ de incrementar sua capacidade de liderança na mento tecnológico regional. construções e 42.674,00 m² de reformas/cons- inovação científica e tecnológica, de introduzir Ainda na direção da contribuição da Universi- truções em processo de licitação. Muito mais foi novas tecnologias de ensino na graduação e na dade ao seu entorno social, a política de Extensão realizado, tanto pelas áreas já mencionadas como Novembro e Dezembro de 2010 Novembro pós-graduação, impulsionando a relação trans- da UFRGS incentiva o desenvolvimento de pro- pelos setores responsáveis pela avaliação institu- formadora entre Universidade e Sociedade. gramas e projetos sociais e de difusão da cultura cional, comunicação, tecnologias da informação, O ensino de graduação teve a maior expansão sob as mais diversas formas de expressão. Nestes gestão ambiental, patri mônio histórico, educação da história da Universidade com o aumento de dois anos foram mais de 60 mil participantes em básica e segurança. 750 vagas no vestibular, muitas no turno da noite, diferentes ações. Toda essa expansão, acompanhada de cres- Expansão com qualidade proporcionando significativa inclusão, além de Associado ao crescimento acadêmico, o cente qualificação acadêmica e do ambiente POLÍTICA programas de apoio acadêmico, visando à per- Projeto Reuni e outras ações do Ministério da institucional, é expressão da universidade que manência do aluno e à consequente diminuição Educação trouxeram a oportunidade de inédita desejamos e construímos, instituição que atende da evasão. Integrada à oferta presencial, a Uni- renovação e qualificação do quadro de servidores às demandas da sociedade, e as antecipa, e que fala versidade vem aperfeiçoando seus processos de docentes e de servidores técnico-administrativos. de igual para igual com as grandes universidades Um balanço dos educação a distância, com cursos nos diferentes Tivemos mais de 650 contratações e o ofere- do mundo. É o resultado da competência e da dois anos de níveis, prioritariamente interdisciplinares, em cimento de mais de 400 turmas de capacitação, extrema dedicação de gestores, nos seus mais áreas estratégicas para o atendimento de novas além de medidas para a melhoria das condições diversos níveis, e também do conjunto das mais administração demandas da sociedade. de trabalho. A conquista do novo Plano de Saúde de 40 mil pessoas que constituem a comunidade Os órgãos da administração O aspecto fundamental do desenvolvimento e o início do movimento que resultou na possi- da UFRGS. central da Universidade qualificado deve-se à política de articulação en- bilidade de ressarcimento a todos os servidores Muito obrigado pela oportunidade de, juntos, apresentam as inovações do tre o ensino de pós-graduação e a produção que têm contratos individuais merecem destaque. darmos continuidade à construção desta grande biênio 2008-2010 do conhecimento. Nesse sentido, novos cursos Com os recursos do PNAES, várias ações de Universidade! E bom trabalho pelos próximos foram criados e houve um forte investimento na assistência estudantil foram ampliadas no que anos! aquisição de equipamentos. Na última avaliação tange a auxílio saúde, moradia estudantil, auxílio trienal da Capes, dezenove cursos subiram de transporte e material de ensino. Merece especial Carlos Alexandre Netto, reitor Os paradoxos GESTÃO 2008-2010 da democracia Expansão com no processo compromisso de eleitoral qualidade brasileiro Página 4 2 | JORNAL DA UNIVERSIDADE | NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2010 OPINIÃO

Espaço da Carlos Alexandre Netto Reitoria Reitor UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Av. Paulo Gama, 110 - Bairro Farroupilha, Porto Alegre – RS | CEP 90046-900 Fone: (51) 3308-7000 | www.ufrgs.br

Reitor Confi rmando os rumos Carlos Alexandre Netto Vice-reitor Rui Vicente Oppermann Pela primeira vez em sua Inovação decorrente da aplicação desenvolvimento. Chefe de Gabinete João Roberto Braga de Mello história, a UFRGS mobilizou-se na do conhecimento básico gerado A internacionalização, por sua Secretário de Comunicação Social construção coletiva de um Plano de nos laboratórios às necessidades da vez, é um imperativo para todas as Flávio Porcello JORNAL DA UNIVERSIDADE Desenvolvimento Institucional (PDI). sociedade, motor do Parque Tecnológico, instituições de reconhecimento global, Publicação mensal da Secretaria de Comunicação Social da UFRGS A partir da refl exão sobre a missão da cujo regimento também segue para e as universidades têm um papel central Fones: (51) 3308-3368 / 3308-3497

Instituição e sobre a sua visão de futuro, apreciação do Conselho. na diplomacia cultural – aquela que de Conselho Editorial Cassiano Kuchembecker Rosing, Cesar Zen num processo desenvolvido durante doze De fato, a pesquisa científi ca é fato aproxima os povos e contribui para a Vasconcellos, Daltro José Nunes, Edson Luiz Lindner, Fernando Cotanda, Flávio Porcello, meses, a reitoria enviou ao Conselho atividade que diferencia a UFRGS. Além cultura da paz. Foi essa compreensão que Maria Heloisa Lenz, Maria Henriqueta Luce Kruse, Ricardo Schneiders e Rudimar Universitário o documento que confi rma dos prêmios a pesquisadores, docentes motivou a primeira missão da UFRGS à Baldissera

os rumos a seguir nos próximos anos, e estudantes, e à própria instituição (os Àsia, relatada na página 14 desta edição Editora-chefe Ânia Chala expressão da maturidade em planejar- recentemente atribuídos pela Capes, do JU. Repórteres Caroline da Silva e Jacira Cabral da Silveira se e em assumir compromisso com a CNPq e Scopus são alguns exemplos), a Inegavelmente, entramos em nova Projeto gráfi co Juliano Bruni Pereira expansão acadêmica qualifi cada e com a UFRGS foi reconhecida como uma das etapa de crescimento, respeitando a Diagramação Aluísio Pinheiro inclusão. cinco mais importantes universidades trajetória histórica da Universidade Fotografi a Cadinho Andrade, Flávio Dutra Um dos pilares do PDI é a articulação de pesquisa no país no Relatório da e buscando, no aprofundamento das Revisão Antônio Falcetta entre os distintos níveis de ensino, em Unesco sobre Ciência 2010. Foi a primeira relações com a sociedade organizada e na Bolsistas Diego Mandarino, Fernando Costa, João Flores associação com a pesquisa e a extensão. vez que o Brasil recebeu destaque no interação com instituições de qualidade da Cunha, Mariana Sirena, Martina Morsch e Rafaela Redin A esse modelo, característico desde a relatório, certamente por ter assumido global, soluções para os desafi os de Circulação Márcia Fumagalli fundação da Universidade, integramos importante posição na produção de inclusão social e para o desenvolvimento Fotolitos e impressão Gráfi ca da UFRGS hoje a inovação e a internacionalização. conhecimento entre os países em sustentável da sociedade brasileira. Tiragem 12 mil exemplares

Mural do leitor [email protected] Memória da UFRGS ACERVO FABICO-UFRGS Controle da população canina Quero parabenizá-los pelo jornal, que está cada vez melhor. A diversidade de assuntos e as entrevistas apresentadas mostram que o valor humano está destacado entre as notícias. A UFRGS, formada pelo conjunto de seus alunos, docentes e técnicos, mostra o valor de cada acontecimento. Gostaria de sugerir, então, uma matéria sobre os alunos, docentes e técnicos envolvidos no controle das zoonoses e da população canina no Câmpus Vale. Os grupos formados fazem milagres em favor desses animais e merecem respeito. Não há na mídia tradicional nada que saliente ou divulgue ajuda para esses grupos. Vilma Lopes, bióloga da ex-Escola Técnica da UFRGS, agora Instituto Federal (IF-RS)

Jornal online Em conversa telefônica recente, interessei-me pelo Jornal da Universidade online para guardar os excelentes artigos em meus arquivos e também para repassá-los aos meus alunos e colegas. Fiquei sabendo das difi culdades de pessoal capacitado para tal tarefa e ocorreu-me de, sendo aposentado, sugerir o aproveitamento dos vários aposentados ainda capazes de prestar bons serviços à nossa UFRGS e à nossa comunidade como colaboradores. Carlos Araujo, professor aposentado do Instituto de Química

Créditos das imagens Na edição n.º 132 (outubro), a foto da coluna Meu Lugar na UFRGS da página 15 foi creditada incorretamente. A autora é Martina Morsch. Já na edição de n.º 130 (agosto), deixou de constar o crédito da ilustração publicada na página de 4, de autoria de Laly, aluna ligada ao Núcleo de Inauguração das instalações do laboratório de fotografi a da recém-criada Fabico. À esquerda, Ilustração e Quadrinhos (NIQ) do Instituto de Artes da UFRGS. 1970 o fotógrafo Santos Vidarte, primeiro professor de fotojornalismo da faculdade. Quem puder identifi car as demais pessoas nesta foto deve enviar e-mail para [email protected] A editora

Artigo Recomendações quanto à contracepção de emergência

contracepção de emergência é a desprotegida nesse período, os espermatozoides dia seguinte”, todas contendo o hormônio Farmácia Escola da UFRGS (Farmácia Popular do alternativa para evitar a gravidez irão permanecer no trato genital de um a cinco levonorgestrel na forma de 2 comprimidos de Brasil) também disponibiliza esse medicamento, A em situações excepcionais, como dias, mas o transporte do espermatozoide e do 0,75mg ou dose única de 1,5mg. Os comprimidos mediante apresentação de prescrição médica. quando ocorre rompimento do preservativo, óvulo será impedido, pela ação do levonorgestrel, de 0,75 mg devem ser administrados em duas O uso de “pílula do dia seguinte” deve ser esquecimento da pílula anticoncepcional ou componente ativo da pílula. Isso ocorre pela tomadas, sendo que a segunda deve ser 12 horas ocasional, não devendo substituir os métodos injetável, deslocamento do DIU ou violência modifi cação do muco, que se torna mais espesso após a primeira. A dose única foi criada com clássicos de contracepção, pois estes são mais sexual. Nessas situações, usa-se então a pílula do e difi culta a mobilidade do espermatozoide. O o objetivo de simplifi car o tratamento, sem efetivos para uso rotineiro. Pacientes portadoras dia seguinte ou pílula de emergência, que deve ser medicamento também altera o desenvolvimento aumentar os efeitos colaterais, além de eliminar de doenças cardiovasculares severas, enxaqueca, prescrita pelo médico e seu uso iniciado em até 72 dos folículos, impedindo a ovulação ou o risco de esquecimento ou retardo da ingestão asma, hipertensão, insufi ciência renal, horas após a relação desprotegida. retardando-a, o que pode acontecer em quase da segunda dose. Deve-se usar um método diabetes mellitus, distúrbios lipídicos, doenças Estudos indicam que sua capacidade de ação 85% dos casos. contraceptivo adicional pelo menos até o próximo tromboembólicas, trombofl ebites, AVC, epilepsia está vinculada ao menor espaço de tempo entre Segundo a médica obstetra e ginecologista do ciclo menstrual, pois alterações no ciclo podem e depressão intensa devem ser observadas com a relação sexual e a ingestão do medicamento: Hospital Ernesto Dornelles Roberta Aline Seff rin ocorrer e acarretar uma gravidez indesejada. atenção. até 24 horas depois da relação, as chances de Sikandar, metade das pacientes que a procuram Conforme a farmacêutica Fabiane Leff a, evitar a gravidez são de 95%; de 25 a 48 horas fazem uso de algum método contraceptivo, da Unidade de Saúde Bom Jesus da Prefeitura após, a efi cácia diminui para 85%; e de 49 a recorrendo à “pílula do dia seguinte” no caso de de Porto Alegre, o Ministério da Saúde, através Profa. Edyane C. Lopes 72 horas, esse índice cai para menos de 50%. esquecimento ou de não utilização correta do do Programa da Saúde da Mulher, fornece o Farm. Sara Maria Gallina Essa pílula não interrompe uma gravidez já preservativo. medicamento às unidades básicas de saúde, que Anita Figueira, Bruna Gonzatto, Jacqueline estabelecida, portanto, não é abortiva. Ela atua No mercado brasileiro é possível encontrar o distribui sem custos à população mediante a Gonçalves Rehm e Pedro Ernesto de Resende, no período fértil, logo, se houver uma relação diferentes marcas comercias de “pílulas do apresentação de prescrição médica do SUS. A estudantes do curso de Farmácia da UFRGS JORNAL DA UNIVERSIDADE | NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2010 | 3 EM PAUTA

Redação Caroline da Silva e Ânia Chala| Fone: 3308-3368 | Sugestões para esta página podem ser enviadas para [email protected]

Expansão Da capital, estado adentro

O dia 25 de outubro foi dedicado a tratar da FLÁVIO DUTRA/JU expansão física da Universidade pelo RS. Pela manhã, foi a vez da reunião do comitê de expansão SEAD da UFRGS no Litoral Norte, cuja intenção é a for- mação de recursos humanos nas áreas de turismo, Desafi os e meio ambiente, pesca, agricultura e saúde. Em fase adiantada de negociações, com local já defi nido para possibilidades da a construção do câmpus, comitivas de vereadores, educação a distância secretários e prefeitos municipais da região manifes- taram o interesse em ter uma estrutura da Univer- Integrada à Universidade sidade na faixa litorânea. desde 2003, a Secretaria de A deputada federal Maria do Rosário esteve Educação a Distância (Sead) busca presente e afi rmou que todos os parlamentares promover institucionalmente gaúchos são favoráveis ao projeto. Integrante da a implementação de atividades Comissão Mista de Orçamento da Câmara Federal, de educação a distância e de ela se propôs a lutar pelos recursos orçamentários. aperfeiçoamento pedagógico, pela Fazendo parte também da Comissão de Educação utilização dos meios e tecnologias e Cultura, colocou-se à disposição da iniciativa. “É da informação e da comunicação. importante destacar que os Ministérios da Edu- Vista como uma alternativa cação e o do Planejamento, desde o primeiro mo- ao ensino tradicional, essa mento, foram parceiros.” modalidade de ensino permite O vice-reitor Rui Opperman confi rmou que que o aluno não esteja fi sicamente a construção se dará no município de Traman- presente em um ambiente daí, junto à RS-030, quase na divisa com Osório. formal de ensino-aprendizagem, O terreno, em processo de doação por parte da Deputadas federais da bancada gaúcha prestigiaram a reunião presidida pelo vice-reitor possibilitando o autoestudo em prefeitura, soma 14 hectares e já tem três prédios, tempo distinto. Esse caráter de onde funcionava uma escola técnica agrícola. Nesse separação temporal ou espacial local, segundo o superintendente de infraestrutura Prêmio Capes de Tese Grupo Coimbra Brasil entre professor e estudante garante Alberto Tamagna, serão desenvolvidas todas as a fl exibilidade da carga horária, atividades acadêmicas e administrativas, incluindo UFRGS conquista Internacionalização do funcionando como um incentivo as colônias de férias. As verbas para a licitação do mérito institucional ensino superior em debate ao estudo. projeto já estão disponíveis. Sobre as difi culdades didáticas Presentes à reunião, representantes do Ceclimar Nove teses defendidas nos programas de De 25 a 27 de novembro, a UFRGS sediou que a distância pode trazer, Sérgio manifestaram a intenção de integrar o Câmpus pós-graduação da Universidade foram agraciadas a III Assembleia Geral do Grupo Coimbra de Roberto Kieling Franco, secretário Litoral Norte, e a administração central assegurou com o Prêmio Capes de Tese 2009 –, premiação Universidades Brasileiras, entidade que tem por de Educação a Distância, o comprometimento com o curso de Biologia oferecida anualmente às melhores teses de missão promover a integração interinstitucional afi rma: “É possível acompanhar Marinha. doutorado defendidas no Brasil no ano anterior. e internacional, mediante programas de claramente o processo de “O Litoral Norte para nós representa um desafi o Nessa edição, a UFRGS foi a segunda instituição mobilidade docente e discente. O encontro foi construção do conhecimento pelo de desenvolvimento regional”, ressaltou o vice-rei- com maior número de trabalhos premiados: presidido pelo reitor Carlos Alexandre Netto e aluno, pois as suas produções tor. “Queremos que a forma como vamos trabalhar Guilherme Lunardi (Administração), Paulo congregou dirigentes de inúmeras instituições parciais de cada disciplina fi cam esse desenvolvimento seja um modelo para outras Antônio da Silveira (Artes Visuais), Júlia Genro de ensino superior. Na ocasião, foram realizadas registradas”. áreas do país que estão em situação semelhante. A (Genética e Biologia Molecular), André Schmidt reuniões do Grupo de Trabalho América Latina Por ser uma didática recente, Universidade não produz sozinha, precisamos de (Bioquímica), André Corrêa (Direito), Sandra do Coimbra Group e do Grupo Montevidéu. a educação a distância ainda sofre apoio político, das outras instituições, da indústria, Andrade (Educação), Raphael Zillig (Filosofi a), Integrando a programação, também foi preconceito e resistência tanto do mundo do trabalho, de toda a sociedade.” Carlos Alberto Feldens (Epidemiologia) e promovido o II Seminário Internacional “Razões no meio acadêmico como na No turno da tarde, reuniram-se deputados Daniela Alves (Sociologia). Outros três trabalhos da Internacionalização da Educação Superior”. comunidade externa. Entretanto, federais e estaduais, prefeitos, vereadores e secre- receberam menção honrosa: os de Daniela Buske, Esse evento abriu espaço para a discussão dos algumas pesquisas já mostram tários municipais de cidades serranas. Na ocasião, do PPG em Engenharia Mecânica; de Bibiana seguintes temas: políticas e fi nanciamento para que o método traz tanto resultado o professor Rui reafi rmou o interesse de expansão de Araújo, do PPG em Ciências Farmacêuticas; a internacionalização; currículos, acreditação quanto o ensino tradicional. “Essa da UFRGS na Serra gaúcha, mas disse que isso e de Omar Martins, do PPG em Química. Os e mobilidade acadêmica; diversidade cultural, disputa entre educação presencial depende rá de uma atitude pró-ativa dos municípios pesquisadores receberão bolsa de pós-doutorado inclusão e inovação na educação superior. Uma e educação a distância é um envolvidos: “É necessário que haja consenso. A Uni- nacional e ainda irão concorrer ao Grande reportagem com a cobertura completa dessas aspecto que precisa ser superado”, versidade quer a inserção regional, considerando Prêmio Capes de Tese. A cerimônia de premiação atividades poderá ser lida na próxima edição do diz Daisy Schneider, assessora tanto as potencialidades como as carências locais”. ocorrerá no dia 7 de dezembro em Brasília. Jornal da Universidade. pedagógica da Sead. A Secretaria contribui para a oferta cursos de graduação, Mulheres na Ciência de extensão e especializações. Dia da Doação Utilizando plataformas na Pesquisadoras da UFRGS Internet, a educação a distância Evento terá 11.ª edição em 8 de dezembro estabelece uma comunicação recebem Prêmio Scopus Brasil de múltiplas vias, ampliando as Em 8 de dezembro será realizado o Dia da aos prédios históricos, com saídas às 10h30min e As professoras Mara Helena Hutz e Th aisa possibilidades de inserção do Doação, campanha que a Secretaria do Patrimônio às 15h; gravação de depoimentos para o projeto Storchi-Bergmann foram premiadas na aluno como sujeito de seu próprio Histórico (SPH) organiza anualmente para captar “Lugares de Memória” do Museu Universitário em quinta edição do Prêmio Scopus Brasil, que processo de aprendizagem, recursos destinados à recuperação dos prédios parceria com a UFRGSTV; exposição “Secretaria consagra dez pesquisadoras brasileiras com e ainda com a vantagem do históricos da UFRGS. O evento ocorrerá das 9h às do Patrimônio Histórico: 10 anos restaurando signifi cativa produção científi ca. A cerimônia compartilhamento dos conteúdos. 17h em dois locais: no Salão Nobre do gabinete memórias”; e a apresentação do Duo Trompete/ de entrega foi realizada no dia 10 de novembro, Mas para que o estudo dê do reitor e no pátio do quarteirão 2 do Câmpus fl ugelhorn e piano, com Francisco Gomes e Dionara resultados, Gisele Dorneles Centro em um toldo montado entre a Faculdade Schneider, às 16h. Além de ampliar o número no Edifício Sede da Capes, em Brasília. As de Educação e o Museu Universitário. O espaço do de contribuintes, o evento busca conscientizar a vencedoras foram selecionadas de acordo com Fernandes, aluna do curso de Salão Nobre será destinado às doações. No pátio comunidade para a importância da preservação. sua produção científi ca, traduzida pelo número especialização em Informática do quarteirão 2 serão realizadas visitas guiadas Informações pelo telefone 3308-3018. de artigos publicados e indexados na base na Educação, diz que “o aluno SciVerse Scopus, pelo número de citações feitas precisa ser uma pessoa autônoma, CADINHO ANDRADE/ESPECIAL JU por outros pesquisadores, pelo índice h – que organizada, e ter um tempo analisa o impacto de cientistas, baseando-se nos disponível para o estudo, além seus artigos mais citados –, e pelo número de de poder se conectar à Internet e orientados de cada pesquisadora, de acordo com pesquisar sobre o que está sendo o Currículo Lattes. A geneticista Mara Helena disponibilizado”. Hutz é professora do Departamento de Genética, tendo desenvolvido nos últimos 12 anos pesquisas sobre a suscetibilidade genética do Transtorno Bruna Oliveira, estudante do 2.° do Défi cit de Atenção e Hiperatividade, junto ao semestre de Jornalismo da Fabico Programa de Transtornos de Défi cit de Atenção e Hiperatividade do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. A física Th aisa Storchi-Bergmann é docente dos Departamentos de Física e de Assista aos programas Astronomia e Chefe do Grupo de Pesquisa em Astrofísica. Sua descoberta mais importante Para saber mais sobre a SEAD, contribuiu para a teoria vigente, de que há assista ao programa Conhecendo buracos negros supermassivos no núcleo da a UFRGS, que será exibido nos maioria das galáxias. Criou também um Atlas dias 23 e 30 de novembro, Espectral de Galáxias, disponível na homepage às 20h10min, com reprise às 23h10min, pela UNITV, canal 15 do Instituto do Telescópio Espacial, largamente da NET POA. utilizado pela comunidade astronômica internacional. 4 | JORNAL DA UNIVERSIDADE | NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2010 DEBATES Paradoxos democráticos: um parâmetro para a análise das eleições brasileiras

Paulo Peres*

eralmente utilizada para res- forçosamente a máxima vox populi vox saltar que o regime democráti- dei. Trata-se de um deus numérico, G co consiste numa forma de quantitativo, intrínseco à vontade governo conforme a vontade popular majoritária. Por um lado, as decisões deve ser obedecida à risca, a tão erro- democráticas ocorrem sempre sob a neamente consagrada “a voz do povo regra majoritária; por outro, mapear é a voz de Deus”, de fato, vem sendo essa vontade e agir em sintonia com ela a tônica dominante nas campanhas provoca, no limite, o desencanto com eleitorais dos últimos 40 ou 50 anos nos a própria democracia. Seria, então, a países que adotam essa forma de go- frustração e o desencanto o preço a se verno. Apesar de não conter o disposi- pagar pela liberdade e pelos direitos fun- tivo da soberania direta, preconizado damentais propostos pelo liberalismo, pelo primeiro e grande teórico defensor somente garantidos pelos paradoxais da democracia, Jean-Jacques Rousseau, regimes democráticos? levado ao extremo esse mote implica a Alguns poderão dizer que uma saída aceitação de que a vontade majoritária possível seria investir numa ação de deva ser ouvida, cortejada, promovida, verdadeira liderança política, ou seja, quase sem limites. Os representantes investir em discursos inovadores que deixariam de ser líderes políticos e pas- procurem mudar as opiniões, formando sariam a ser liderados pelos represen- uma “nova” vontade majoritária. Em- tados, transfi gurados em “marionetes” bora seja teoricamente possível, há dois que abrem a boca pelos mãos e falam problemas nessa estratégia. Primeiro, com a voz do “povo”. Ou, então, num quem fizer isso enfrentará a inércia jogo estratégico retórico, os represen- da vontade já constituída, que será tantes falam aquilo que o “povo”, em sua cortejada por outros políticos mais maioria, quer ouvir, mas não pretendem pragmáticos. Segundo, procurar atuar ou não têm condições de realizar, de na formação de uma “nova” vontade fato, o que irresponsável ou falsamente majoritária significa que ela ainda é prometeram. No primeiro caso, have- minoritária e, portanto, difi cilmente será ria o perigo da tirania da maioria; no transformada em majoritária no curto segundo, o perigo da degeneração do prazo, ou que não se trata propriamente governo democrático em demagogia. de uma “nova” vontade majoritária, mas, Obviamente, também é possível uma sim, de outra vontade que estava em se- forma de governo degenerada mista: a gundo plano ou de uma vontade antiga tirania demagógica. que estava “adormecida”. De uma forma Em realidade, a expressão vox populi ou de outra, ainda se tratará de cortejar vox dei traduz a preocupação que a maioria, com a diferença de que cada personalidades políticas e religiosas qual se forma em torno de um tema tem com o advento histórico da demo- preexistente. Inclusive, ressuscitar uma cracia. O problema vislumbrado era a vontade majoritária antiga pode con- disseminação da crença inabalável de sistir na abertura da caixa de pandora, que a soberania passaria a residir na deixando que afl orem preconceitos e vontade inquestionável de um novo conservadorismos ainda mais radicais. deus: o “povo”. Então, a alusão à vontade Agora, pensemos nas eleições popular como sendo a vontade de Deus brasileiras deste ano. Será que essas tinha conotação negativa, pois explici- considerações poderiam nos ajudar a tava que a democracia poderia induzir à fazer uma análise mais abrangente desse falsa e “perigosa” concepção de que essa processo? Acredito que sim. Mas deixo vontade é sempre certa, infalível, tal qual isso por conta do leitor, inclusive porque a de Deus: o “povo” sabe de tudo, está penso que, ao invés de apresentar fatos, por toda a parte e, portanto, pode tudo. números e qualquer tipo de futurologia Mas havia ainda outro problema: acerca do novo governo, que podem como todo “povo” é uma grande abst- ser facilmente encontradas em outros ração, e decisões consensuais pratica- jornais, ou ainda interpretações unila- mente inexistem, na prática, esse novo terais que pululam pela internet, o mais deus não seria nada mais do que a vontade majori- acerca das políticas que devem ser seguidas e in- década de 1960. O descontentamento com os interessante é dar um instrumental analítico que tária. Sem maiores cuidados e limites, indivíduos dica quem serão seus representantes nessa tarefa. políticos, com as instituições representativas e possa levar ao exercício de interpretação por conta e grupos minoritários poderiam ser tiranizados Mas a vontade majoritária expressa o debate até mesmo com a democracia é signifi cativo, própria. Verá, nobre leitor, que várias peças do em nome da democracia, em nome da vontade do agendado pelas lideranças políticas ou, pelo como mostram diversas pesquisas de política jogo eleitoral se encaixarão, e a política, em geral, demos, um deus que poderia se tornar tão violento contrário, as lideranças políticas, na verdade, comparada que se baseiam em séries históricas e a brasileira, em específi co, passará a ser vista e vingativo como aquele do Velho Testamento. são lideradas pela vontade majoritária que as- de enquetes. O desencanto com os políticos se como uma atividade humana cheia de dilemas e Pensadores liberais como Benjamin Constant e sim impõe os termos do debate? Essa tem sido transforma em desencanto com a política e pode paradoxos de difícil resolução. Alexis de Tocqueville foram alguns dentre aqueles a grande preocupação de alguns teóricos. Cor- se transformar em desencanto com a democracia. Então, procure analisar quem conduziu a que chamaram a atenção para tais aspectos. tejar a vontade popular, dizer o que o “povo” Por isso, segundo os críticos, a utilização das vontade majoritária estabelecida e quem tentou Seja como for, do ponto de vista histórico, a quer ouvir traria sérias consequências para a estratégias de marketing na competição eleitoral, trazer à tona outra vontade, baseada em outros democracia representativa acabou se tornando própria efetividade dos governos representativos. com o mapeamento da vontade majoritária ou do temas, com o objetivo de conquistar o poder. o regime político predominante no mundo con- Promessas que não serão cumpridas são feitas, consumidor de políticas para a produção de um Quem tentou construir uma “nova” vontade temporâneo. A força de sua legitimidade é tão gerando frustrações com a própria democracia; discurso sintonizado com aquilo que o “povo” majoritária e teve de lidar com a inércia pre- grande que, na atualidade, a teoria das formas propostas de políticas irresponsáveis que, quando quer ouvir, é o caminho mais seguro para a frus- dominante? Avalie as consequências práticas de de governo acabou se reduzindo a apenas dois implementadas, criam difi culdades administrati- tração com a política e a democracia. cada estratégia, seus resultados e, inclusive, os tipos: democracia ou ditadura. Em realidade, o vas e orçamentárias, levando ao enfraquecimento Porém, se a democracia representativa é uma contrafactuais; ou seja: e se Marina tivesse ven- grande debate que mobiliza teóricos, políticos e da capacidade de execução de outras políticas forma de governo na qual prevalece a posição cido, teria condições de implementar uma “nova” cidadãos em geral se dá em torno dos modelos públicas e, por extensão, a novas insatisfações majoritária, como exigir que políticos e partidos política? Se não tivesse, o que poderia ocorrer? alternativos de democracia, e não acerca de algum com o governo e com o regime. Além disso, que nutrem a ambição genuína de ocupar os E se a estratégia de impor uma decisão eleitoral modelo alternativo à democracia. dizer simplesmente o que o “povo” quer ouvir cargos representativos façam outra coisa que não baseada em valores morais conservadores real- A despeito de variações nos desenhos consti- pode levar a políticas conservadoras, pois novos agir em consonância com a vontade da maioria? mente prevalecesse, que consequências políticas tucionais, as democracias contemporâneas par- caminhos ainda não visualizados pela maioria Não é possível chegar ao governo sem contar teríamos a partir da formação de uma vontade tilham de algumas características básicas: todas sequer entram na pauta do debate público. Isso com os votos da maioria dos eleitores. Não é pos- majoritária antiga reavivada? combinam o sistema de divisão dos poderes com a sem contar que, se todas as “lideranças” políticas sível governar de maneira satisfatória sem contar Visto desse modo, o processo eleitoral pode soberania popular, que se manifesta pela vontade investirem nessa estratégia demagógica, pratica- com o apoio da maioria dos eleitos. Defender levar ao desencantamento. Mas, ao mesmo tempo, majoritária, mas que encontra limites em direitos mente não haverá diferenças substantivas entre novos valores, sintonizados com a minoria, não esse desencantamento com a política e as eleições individuais fundamentais inscritos nas Consti- os postulantes aos cargos representativos. Se conduz aos postos de governo. Tentar imple- deixará de ser frustração para ser o que deve ser: tuições. Essa vontade majoritária se manifesta todos dizem as mesmas coisas, a própria escolha mentar políticas inovadoras, sintonizadas com a renúncia a ver a política como uma atividade por meio de processos de decisão coletivos, de fi ca comprometida, porque não há uma escolha preferências minoritárias, não resulta em apoio encantada, mágica, na qual tudo é possível a partir escolhas sociais entre certas alternativas que lhes verdadeira em questão. majoritário nas casas legislativas, o que signifi ca de um simples ato de vontade. são apresentadas. Assim, no templo da demo- Aqueles que se preocupam com esse fenô- que tal comportamento será inócuo, ingênuo ou cracia, a liturgia por meio da qual essa deidade, meno encontram evidências disso nos crescentes até temerário, com sérias chances de conduzir a o “povo”, expressa seus desejos, seus interesses e índices de abstenção eleitoral nos países de de- situações de impasse e crise institucional. * Professor do Depto. de Ciência Política e do suas preferências constitui o processo eleitoral. mocracias mais antigas. A identifi cação partidária Talvez, não exista uma alternativa a esse para- Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Por meio dele, a vontade majoritária se pronuncia nos países europeus vem se reduzindo desde a doxo. Talvez, nas democracias, de fato prevaleça UFRGS - E-mail: [email protected]

ILUSTRAÇÃO GUILHERME CASTRO - NIQ/UFRGS JORNAL DA UNIVERSIDADE | NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2010 | 5 ATUALIDADE

Para o professor da Faculdade de

Educação Nilton FLÁVIO DUTRA/JU Pereira, “O ensino de história é um lugar de memória, e também de esquecimento, que tem efeitos muito signifi cativos na formação das novas gerações”

Holocausto rememorado

Educação tando ser ine xistente o ensino sobre esse momento o de fragmentar os conteúdos a serem ensinados voltados à democracia e aos direitos humanos; o histórico nas escolas do ensino básico de Porto de tal forma que, em lugar de promover a ideia máximo, então, que uma medida como essa lei Lei que obriga a Alegre e impressionado com o que viu no museu, de vínculo que se propõe, promova uma maior pode alcançar é reafi rmar o compromisso do aceitou a su gestão do prefeito de propor uma lei separação”, afi rma. ensino de História”, comenta. inclusão de capítulo abordando essa temática em sala de aula, criando Manoel Silva, do grupo de assessoria em Ainda assim, a indagação sobre o papel do um ponto de partida para o desenvolvimento de relações étnico-raciais da Secretaria Municipal legislador na sociedade é suscitada, já que a de- sobre o holocausto certos valores na educação escolar. À época do de Educação (SMED), que faz parte do trabalho cisão no sentido do que deve e do que não deve aprendizado, no ensino fundamental, promove- de refl exão sobre a implementação da lei, também ser ensinado nas escolas municipais é da classe dos no conteúdo de se a ideia de “plantar a semente da tolerância no segue essa linha de raciocínio. “Daqui a pouco, professores. “Qualquer lei é inútil se o professor início da formação do nosso caráter”, segundo o tere mos uma diretriz para cada grupo, na con- não está convencido política e teoricamente de que História das escolas vereador. tramão do trabalho que propomos de solidarie- aquele conteúdo é adequado ao ensino”, comenta municipais de Porto A lei foi acolhida pela comunidade judaica de dade”, afi rma. Ele conta que, antes mesmo da me- Nilton Pereira, e destaca também o caráter político uma maneira muito positiva. Quem afi rma é o dida, o grupo já tinha começado uma interlocução da regra, mais evidente do que o educacional. Alegre gera debates líder religioso da Sociedade Israelense Brasileira com as entidades judaicas da cidade, no sentido de “O efeito da medida está no nível do movimento de Cultura e Benefi cência (SIBRA), o rabino Guer- dar atenção ao maior número possível de grupos político, da importância de lembrar um momento shon Kwasniews. Ele acredita que a importância preferenciais no tratamento de questões relativas marcante da História”, complementa. da medida está no evitar que o episódio se repita. à tolerância, como afrodescendentes, indígenas, Um dos artigos da Lei diz respeito à exibição A preocupação em manter um evento da Se- “O que aconteceu durante a Segunda Guerra judeus, palestinos, ciganos. de ao menos um material audiovisual sobre o gunda Guerra Mundial vivo na memória das no- Mundial foi uma fábrica de morte; trazer isso para Em 2010, houve uma jornada de estudos sobre holocausto na escola. “Não é tarefa do legislador vas gerações chegou ao poder legislativo de Porto a memória é reforçar como regimes ditatoriais o ensino do holocausto. O professor Manoel co- delimitar os instrumentos pedagógicos e didáticos Alegre. A lei que torna obrigatório o ensino sobre podem chegar a envolver toda uma população menta que, naquele momento, a constatação não que o professor vai usar em sua sala de aula. Quem o holocausto na rede municipal de Porto Alegre, e levá-la à brutalidade”, explica. O rabino, que era da ausência do ensino sobre o assunto, mas, tem autoridade pra fazer isso são os professores proposta pelo vereador Valter Nagelstein (PMDB) é também membro do grupo de diálogo inter- sim, da necessidade de dar resposta ao trabalho e os estudiosos do tema” – diz o professor Nilton e sancionada no dia 18 de outubro deste ano, foi religioso de Porto Alegre, chama a atenção para o mais antigo do grupo da SMED: a educação para Pereira. Segundo Valer Nagelstein, tal artigo tem notícia em jornais nacionais e estrangeiros. A par- perigo da negação do holocausto: “No século XXI, relações étnicas raciais a partir de noções como fi ns lúdicos e de fi xação do conteúdo. tir do ano que vem, as aulas de História deverão ainda existem chefes de Estado que propagam tolerância, solidariedade, supressão do racismo. “A O vereador conta que houve certa resistência contemplar este que é considerado um dos maio- essa ideia”. Ele referiu-se à fi gura de Mahmoud nossa ideia é propor uma diretriz para as relações à proposta no sentido da sua constitucionalidade, res crimes da humanidade. A implementação da Ahmadinejad, presidente do Irã, como grande étnico-raciais que contemple valores gerais, não uma vez que muitos afi rmam que não cabe a um medida, porém, é alvo de questionamentos, uma representante do negacionismo. apenas sobre o holocausto”, diz. A capacitação de legislador defi nir esse tipo de ação. “Isso é parcela vez que, segundo alguns professores, o assunto já é O vereador Nagelstein considera a matança professores faz parte do processo desenvolvido no da incompreensão sobre o papel do político, pois sufi cientemente abordado no contexto de estudos dos judeus na Segunda Guerra Mundial um even- âmbito do grupo. a política está como moldura do processo da sobre a Segunda Guerra Mundial. to “sem paralelos na História da humanidade”. Em O massacre de indígenas no colonialismo própria constituição da sociedade. É o legislador O projeto de lei conseguiu rara unanimidade relação ao fato de que os atuais confl itos, como espanhol, muito violento nas regiões dos im- que molda e que constrói o ambiente” – afi rma, na sua aprovação por parte das diversas banca- o que ocorre entre Israel e Palestina, também périos asteca, inca, maia, o tráfi co negreiro e dizendo também que a forma de implementação das da Câmara de Vereadores de Porto Alegre. provocam vítimas em larga escala, ele diz que até os eventos da Segunda Guerra Mundial que da medida, sim, será definida pela classe dos Segundo o professor da Faculdade de Educação “comparar é desconhecer o acontecimento, devido geraram vítimas não judias são citados como professores. da UFRGS Nilton Pereira, esse fato se deve à à forma pela qual a matança de civis indefesos momentos aos quais também se deve prestar Manoel da Silva acrescenta que quem tem relevância do tema enquanto forma de reforçar ocorreu”. Afi rmando serem lamentáveis todas atenção, conforme o professor André dos Reis. “O poder de decisão sobre o modo de implementação certos valores da sociedade: “Qualquer pessoa que as guerras que geram vítimas civis, ele acredita que impressiona especifi camente no holocausto da lei é o Conselho Municipal da Educação, e o ache importante que se conservem os valores da que, se uma atenção especial ao genocídio dos são a escala industrial da morte e a capacidade de que o grupo de trabalho da Secretaria do qual ele democracia e dos direitos humanos será favorável judeus pode se tornar um argumento contrário multiplicar isso em um curto período de tempo”, participa tem feito é refl etir sobre alguns aspectos a que se estude o holocausto na escola básica”. à lei, deveriam ser abordadas nas escolas todas completa. Ele também reforça que não se deve a serem propostos. “Nós vamos sugerir, ao Conse- Nilton diz que os únicos que poderiam se opor as mazelas da História, no intuito de formar esquecer das novas vítimas da irracionalidade lho, diretrizes com bases no que já foi pensado em a essa lei são os revisionistas do holocausto, e os cidadãos melhores. humana em situações que remetem às mesmas relação à educação para as relações étnico-raciais”, temas revisionistas, nesse caso, não são contem- questões colocadas em xeque pelo holocausto. A comenta. O que paira é a preocupação em torno plados no ensino da História – a própria Constitu- Educação para tolerância –“O ensino da História xenofobia na Europa e nos Estados Unidos são da abordagem a ser desenvolvida em aula sobre o ição brasileira exclui esses enfoques do currículo. é um lugar de disputa, pois lida com identidades”, aspectos que o professor ressalta. holocausto, que pode ser justifi cada com a coloca- comenta o professor de Economia da UFRGS ção de Nilton Pereira: “O ensino de história é um Gênese da Lei – A medida surgiu de uma ex- André dos Reis, que já lecionou História na rede Implementação – O professor Nilton Pereira lugar de memória, e também de esquecimento, periência pessoal de Nagelstein, vinculado à municipal de ensino de Porto Alegre. Ele acredita relembra a existência de parâmetros curriculares que tem efeitos muito signifi cativos na formação comunidade israelita. Ele conheceu o Museu do que o holocausto é tema já bem abordado na nacionais que estabelecem o norte dos conteúdos das novas gerações”, afi rma o professor. Holocausto, em Jerusalém, e, depois da viagem, História Contemporânea do Século XX e coloca escolares, não definindo os assuntos a serem acompanhou uma audiência do então prefeito um contraponto à lei, no que diz respeito à criação abordados, mas delimitando, por exemplo, temas José Fogaça com representantes da Federação de diretrizes específi cas para determinados acon- transversais. “Obviamente que esses parâmetros Mariana Sirena, estudante do 8.º Israelita do Rio Grande do Sul (FIRGS). Acredi- tecimentos. “O risco de uma medida como essa é pretendem uma educação e um ensino de História semestre de Jornalismo da Fabico 6 | JORNAL DA UNIVERSIDADE | NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2010 CÂMPUS

Glauber Rocha e o A pesquisa audiovisual André Araujo, estudante de Jornalismo, apresentou o trabalho “Cinema na televisão: a experiência de Glauber Rocha no ‘Abertura’”. O Abertura foi um programa que estreou em 1979 e tinha por objetivo e o futuro fazer uma televisão capaz de refl etir o clima de otimismo com o início da abertura política. O objetivo a que o estudo se propôs foi descobrir o Formação acadêmica que signifi cava, para Glauber Rocha, As histórias de dois alunos e seus trabalhos no Salão de Iniciação Científi ca fazer cinema na televisão. No programa, o cineasta realizou diversas experiências. Na

FLÁVIO DUTRA/JU apresentação para a banca, André Entre os dias 18 e 22 de outubro, mostrou um trecho em que Glauber foi realizado o XXII Salão de Iniciação se movimenta em frente à câmera e Científi ca da UFRGS. Na cerimônia recusa-se a responder às perguntas, de encerramento, o pró-reitor de Pes- quebrando o script. Dessas técnicas, quisa, João Edgar Schmidt, lembrou que não fazem parte da estética que o SIC é o segundo maior evento televisiva, emerge um novo da Universidade, atrás apenas do ves- audiovisual, na visão de André. Ou tibular. Os números divulgados pela seja, para Glauber, fazer cinema na Pró-reitoria de Pesquisa são, de fato, televisão não signifi caria seguir nem impressionantes: entre alunos, profes- a gramática cinematográfi ca nem a sores e visitantes, o Salão deste ano televisiva, e sim realizar um produto contou com 4.502 participantes, sendo novo, resultante de um experimento 3.955 da UFRGS. Com tantas pessoas estético e técnico. envolvidas, o melhor jeito de compor André abriu o trabalho com uma matéria sobre o evento é a partir uma citação de Glauber: “Não existe de suas histórias. Esta reportagem traz confl ito nenhum entre cinema o relato de dois alunos, de diferentes e televisão. Inclusive, é cada vez áreas, que falam sobre os trabalhos mais necessário fazer cinema NA que apresentaram, a sua relação com televisão”. Isso é emblemático a academia e as expectativas que man- porque o ponto de partida da têm para o futuro na Universidade. pesquisa do orientador de André, o professor Alexandre Rocha da Silva, Porto Alegre 2014 – Leonardo Lima, são os próprios cineastas. estudante de Arquitetura, apresentou Ela se propõe a sistematizar uma o trabalho “Porto Alegre e a Copa teoria dos cineastas brasileiros sobre do Mundo de 2014 – uma escolha o audiovisual a partir da noção de sedes”. Trata-se de um estudo que de que eles deixaram dispersas, averigua qual a melhor opção de está- em entrevistas que concederam dio, dentre três possíveis, para receber e nos produtos audiovisuais os jogos da Copa, considerando-se a que realizaram, as bases para a região da cidade em que estão localiza- formação de uma teoria, mas não dos. Os estádios considerados foram o a concretizaram. É um estudo que Beira-Rio, que fi ca no bairro Menino tenta provar, por exemplo, que, além Deus, o Olímpico, na Azenha, e a nova de um grande cineasta, Glauber Arena do Grêmio, a ser construída no Rocha também foi um grande bairro Humaitá. teórico. Assim, de acordo com a Paulista, torcedor do São Paulo pesquisa, Glauber estrutura sua ideia Futebol Clube e apaixonado por do audiovisual em quatro pontos: futebol, Leonardo passa longe das técnica, linguagem, relações com a polêmicas que separam os torcedores indústria e comunicação. de Grêmio e Internacional. “Eu não sou gremista nem colorado, não A relação com a academia estou de lado nenhum”, brinca. Seu O estudante diz que a pesquisa é estudo é técnico e leva em conta quatro construída em colaboração direta variáveis: mobilidade urbana, rede ho- com o orientador, e que não se reduz teleira, infraestrutura e criminalidade. à análise de conteúdo: “A ideia é Esses seriam os pontos fracos da can- revisar as teorias a partir do Glauber, didatura de Porto Alegre, conforme le- tendo como referenciais autores vantamento baseado em informações da fi losofi a, da linguística e da divulgadas pela imprensa. semiótica. Evoluir o pensamento a Leonardo não fez uma análise dos partir do objeto, e não usar as teorias estádios em si. O trabalho consiste em como simples ferramentas para pensar a capital como um sistema e, a tentar criar uma tese sobre ele”. partir daí, olhar para cada área como André já teve certeza de que parte dele, tendo como problema de seguiria na academia, mas hoje não pesquisa a escolha da sede da Copa. está tão seguro: “Cada vez mais, O primeiro passo é analisar qual parte me aproximo do jornalismo”. Ele da cidade é a melhor em certo aspecto, não vê, no entanto, uma separação como a infraestrutura, por exemplo; entre a prática jornalística e a depois, comparar os atributos espa- O Salão de Iniciação Científi ca deste ano contou com 4.502 participantes, sendo 3.955 da UFRGS teoria acadêmica, pelo contrário: ciais das regiões dos estádios a essa “Tento unir as duas coisas. É muito para descobrir qual delas está mais importante ter uma formação próxima do ideal. O estudante foi ori- Olímpico se saiu melhor. localizado numa área estratégica da que o seu estudo é baseado na morfo- intelectual sólida para exercer o entado pelo professor Romulo Kraft a. A rede hoteleira se desdobra em cidade, próximo à principal entrada logia urbana – que é uma de muitas jornalismo. Estou aprendendo os duas medidas: a convergência e a de automóveis e ao aeroporto Salgado abordagens existentes sobre a cidade. métodos do pensamento teórico”. O estudo – A primeira variável con- oportunidade espacial. O primeiro Filho. Além disso, existem mais alter- Além disso, ele atribuiu um peso igual Ele diz que está criando siderada pelo futuro arquiteto é a mo- dá conta dos locais para onde os visi- nativas para se chegar ao estádio – ou a todas as variáveis. Se à infraestrutura “bagagem intelectual” para o bilidade urbana. Esse critério leva em tantes que estiverem em Porto Alegre seja, a Arena do Grêmio leva a melhor. for dada prioridade, por exemplo, o exercício da profi ssão. “Gosto conta a facilidade de chegar ao estádio tendem a ir – pontos turísticos, bares A quarta variável é a da criminali- resultado pode ser outro. De fato, o muito da carreira acadêmica e de e, ao mesmo tempo, se o caminho não noturnos, etc. A região do estádio do dade, para a qual foram mapeadas as pesquisador acredita que esse seria o pensar sobre jornalismo a partir concentra outros fl uxos. Nesse ponto Inter é a que tem mais condições de estatísticas de crimes registrados em principal aspecto a ser considerado dos autores que eu estudo. Antes, da apresentação, ele mostrou uma atrair os turistas. Já a oportunidade delegacias no primeiro semestre de – ou seja, a Arena seria a vencedora. eu encarava a academia como uma foto das avenidas Borges de Medeiros espacial investiga em qual parte da 2010. A área do Beira-Rio registrou Leonardo pretende se formar no possibilidade de emprego. Agora, e Padre Cacique, com o Beira-Rio ao cidade há hotéis com maior privilégio um número menor que as demais. fi nal do próximo ano e diz que sua vejo como crescimento pessoal para fundo, e o trânsito completamente locacional frente a uma gama de locais Não é preciso entender de futebol intenção é seguir no meio acadêmico me tornar uma pessoa melhor e parado. O jogo era noturno, e o fl uxo em que o público turista tende a se para acertar o resultado: com um – fazer mestrado e doutorado – e, no um profi ssional melhor”, conclui, de carros indo para o estádio se mis- dirigir. Há um empate entre as zonas placar de 3 a 2 a 1, o Beira-Rio foi futuro, dar aulas. lembrando que renovou a bolsa turou ao do sentido dos moradores da do Olímpico e do Beira-Rio. o vencedor. Porém, Leonardo faz de iniciação científi ca – vai para o Zona Sul que retornavam para casa, ao O terceiro aspecto é o da in- questão de dizer que a conclusão do João Flores da Cunha, estudante do 4.º segundo ano. fi m do dia. Nesse primeiro quesito, o fraestrutura. O bairro Humaitá está trabalho não é defi nitiva. Ele lembra semestre de Jornalismo da Fabico JORNAL DA UNIVERSIDADE | NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2010 | 7 CÂMPUS

Começo Justiça, direitos para alunos e graduados

Muitos membros da humanos e cidadania comunidade acadêmica conhecem Roberto Manoel FOTOS FLÁVIO DUTRA/JU Juckowsky Macedo como o Saju coordenador de Informática Tripé de do Vestibular. Poucos sabem que como servidor técnico- valores baseia administrativo do Centro de Processamento de Dados ele as atividades está aposentado, mas continua vinculado à UFRGS como do serviço professor do Departamento de Informática Aplicada do desenvolvido por Instituto de Informática - daqui a dois anos, completa-se estudantes o tempo para a aposentadoria também dessa função. Mas um número menor ainda deve ter Caroline da Silva conhecimento de sua faceta de advogado. Ele se graduou em Direito em janeiro de 2009 na PUCRS. Em seguida, Às vezes, chegam às salas do Serviço passou na prova da OAB (que de Assessoria Jurídica Universitária segundo ele tem somente 13% (Saju), no porão da Faculdade de Direito, de aprovação). Entrou para vasos de fl ores e caixas de doces. São o Saju em agosto de 2009, formas de as pessoas atendidas agradece- passando a integrar o grupo rem o acolhimento dos estudantes, que de Direito Cível e Família, nos além de se preocupar com as demandas atendimentos da segunda-feira judiciais dos clientes, procuram, antes de à tarde. tudo, resolver seus problemas. “A área da Informática Os coordenadores Guilherme é muito interessante, mas a Jantsch e Maria Angélica Feijó esclare- Estudantes do Saju prestam assistência jurídica aos moradores da Vila Chocolatão, no Centro da capital turma jovem praticamente cem que não é prática aceitar presentes assumiu. Entendi que precisava como retribuição aos serviços, mas é olhar para alguma atividade difícil negar algo dado de coração. Nesse que me permitisse manter a caso, as iguarias são repartidas entre toda adolescente, direitos da mulher, imigran- estudantes tomem a frente dos casos. Segundo o grupo, o principal pedido cabeça ocupada e ajudar as a equipe. E deve faltar doce para tanto tes e refugiados e a assessoria popular), Então eles vão atrás, estudam o as- dos imigrantes é para se naturaliza- pessoas de alguma forma. colaborador... O Saju divide-se em 14 mas a organização não é o único objetivo sunto, elaboram os documentos que rem brasileiros. Os graduandos estão Poderia chegar num escritório grupos de trabalho, sendo que cada um da divisão, segundo os coordenadores. precisam ser levados ao Judiciário. Já elaborando uma cartilha que explica de advocacia e me candidatar deles tem de 10 a 15 integrantes, numa “Isso permite que separemos os os advogados supervisionam todo esse esse processo e também informa os es- a estágio voluntário, sem proporção média de 10 estudantes para horários de reunião e de atendimento. atendimento e o acompanhamento dos trangeiros sobre seus direitos e deveres ganhar nada, só para aprender. cada cinco advogados já formados. Há um grupo que se reúne toda se- processos porque, como estudantes, não no Brasil. Aqueles que estão em situação A outra forma era unir o útil “Tentamos atender a pessoa da gunda à tarde, outro, na segunda à noite. temos como postular no Judiciário. O ilegal, por exemplo, têm direito a serem ao agradável, que era do meu melhor forma. Se tiver que botar 10 pro- Também dispomos de grupos todas as trabalho dos advogados não é só formal, atendidos pelo SUS e a cursar o Ensino interesse: ajudar as pessoas e cessos na Justiça, paciência. Queremos tardes, sendo que alguns atendem no como o dos professores. Eles realmente Fundamental e Médio. ao mesmo tempo aprender. que eles saiam daqui com o pro blema horário do meio-dia”, comenta Gui- trabalham aqui e têm um grande valor”, Então, a opção natural foi o resolvido”, conta a vice-coordenadora lherme Jantsch. A área de cível e família, destaca Guilherme. Justiça – Os alunos que fazem parte do Saju. Tenho outros colegas Maria Angélica. Conforme a aluna do por ser a de maior demanda, abrange Serviço de Assessoria Jurídica Universi- advogados que atuam, sexto semestre, os clientes são pessoas nove grupos. Cidadania – Maria Angélica explica que tária passam por uma seleção anual que converso bastante com eles, que não puderam ser atendidas pela No Saju, há advogados formados a maioria dos grupos lida com assistên- reúne entre 50 e 60 interessados, mas não tiro dúvidas, e eles comigo. Defensoria Pública, “seja porque não que atuam voluntariamente, bem como cia jurídica, “que seria essa parte dos há nenhum pré-requisito acadêmico. Nós nos aprimoramos na área conseguiram uma ficha ou porque a graduandos de Direito de outras uni- estudantes, orientados pelos advogados, “Por ser um projeto de extensão, acredi- e ao mesmo tempo ajudamos a renda delas não se encaixa”. versidades e também alunos de outros atendendo às pessoas carentes que che- tamos que nessa troca não há prejuízo comunidade e os estudantes.” Os critérios para receber atendi- cursos. “Procuramos fazer com que os gam aqui”. Já a assessoria envolve estudo se as pessoas são de semestres inferio- Macedo se inscreveu no mento gratuito no Saju são: ser residente e prática: “As pessoas se capacitam, leem res. Pelo contrário, como eles não têm edital e passou pelo processo de Porto Alegre e não possuir condições textos sobre educação popular. Dentro ambição de fazer estágio, têm bastante de seleção, com prova e fi nanceiras para pagar advogado sem o da sua temática, alguns trabalham com vontade de atuar”, relata Maria Angélica. entrevista. Ele conta que o prejuízo de seu próprio sustento ou de Nascida em direito à moradia, tendo contato com Na seleção é aplicada uma prova com atendimento ao cliente é feito sua família. Maria Angélica explica: “A Rivera, com comunidades através de ONGs que questões sobre o estatuto do Saju, na sempre com um advogado e rigor, não temos uma renda fi xa, nos fazem um trabalho lá, seja ajudando na qual é preciso acertar 50% das perguntas. o assistente. Sobre os alunos, balizamos em três salários mínimos, pai brasileiro, regularização daquela área urbana, seja Também é solicitada uma carta de inten- comenta: “Muitos deles entram mas há casos em que as pessoas ganham no deslocamento dos moradores da Vila ções e há a entrevista com os grupos. “Aí sem nenhum conhecimento, R$ 2 mil, mas têm muitos gastos, fi lhos”. Eunice Pilar Chocolatão, por exemplo”. o pessoal pondera o interesse, a motiva- tanto do ponto de vista da No entanto, a vice-coordenadora relata: de los Santos ção e a disponibilidade, porque, além de legislação, do Direito, das “Já recorreram a nós pessoas que tinham Direitos Humanos – A vice-coorde- ter que atuar aqui durante a semana, tem regras, das normas, quer dizer, condições de pagar. No grupo de direito Bueno requereu nadora cita como novidade o trabalho que fazer estudo, petição, ir no Fórum”, eles não sabem como conduzir. do consumidor, houve uma mulher que desenvolvido pelo Grupo de Assessoria a especifi ca a vice-coordenadora. E acabam aprendendo um agendou o atendimento por telefone di- nacionalidade Imigrantes e Refugiados (Gaire). “Inicia- Como projeto de extensão, o Saju monte. Eles participam dos zendo ter feito uma cirurgia plástica que brasileira mos como um grupo que fazia só estudos representa a legítima via de duas mãos: atendimentos, ouvem. Às vezes não havia dado certo. Quando chegou nessa área, depois começamos a atuar atende à comunidade que não tem se propõem a redigir a peça aqui, era uma superperua. Pedimos que através do Saju junto à Igreja da Pompeia, que abriga condições de pagar e precisa de assistên- para a gente acertar”. Dessa ela trouxesse o comprovante de renda e a Associação Antônio Vieira (Asav) – cia jurídica e também contribui na for- forma, o advogado é o modelo constatamos que ela ganhava perto de ONG gaúcha ligada ao Alto Comissari- mação dos alunos. “O Serviço se moveria do estudante. R$ 8 mil por mês. Conversamos e dis- ado das Nações Unidas para Refugiados por um tripé: justiça, direitos humanos O servidor avalia a semos que não tínhamos como tratar (ACNUR), uma instituição que recebe e cidadania. E, logicamente, tem o lado relevância do Serviço: do caso porque deixaríamos de atender os imigrantes. Muitos deles precisam do aprendizado dos estudantes, da for- “Acontece de tudo, e acho alguém que precisasse”. O coordenador de certa documentação. Então, tem um mação acadêmica”, afi rma Guilherme. o atendimento muito Guilherme retifi ca: “Mas tentamos evi- advogado que ajuda os estudantes dentro O coordenador informa que quando importante. Ocorrem tar fazer isso, porque às vezes é muito dessa área”. o Saju surgiu, em 1950, não era um os casos mais variados, traumático pras pessoas... Ela é real- Conforme Eliane de Oliveira, secre- projeto de extensão. “Até onde sabemos, inclusive eventuais brigas, mente pobre e ainda fi camos pedindo tária do padre Joaquim Filippin, da Igreja a extensão era algo muito incipiente desentendimentos. Os alunos, comprovante de renda”. da Pompeia (que realiza atendimento aos no Brasil. Ele era um órgão do Centro então, veem todas essas coisas imigrantes), todas as questões jurídicas Acadêmico, um serviço organizado que acontecem no dia a dia Funcionamento – Os atendimentos dessas pessoas são resolvidas pelo Saju. prestado à sociedade. Com o passar dos mesmo. A área de família é são por agendamento. Há uma secre- Ela esclarece que, quando os imigran- anos, foi se desvinculando do Centro muito grande: fi lhos, guarda, tária de segunda a sexta, das 14h às 18h, tes têm qualquer problema familiar, de Acadêmico, até que, em 1997, houve a pensão, divórcio, separação. Há para fazer a triagem, ver quais são os regulamentação, relativo a INSS ou até desvinculação defi nitiva e ele passou a um grupo inclusive de direitos problemas e saber a qual grupo o cliente mesmo à opção de nacionalidade, são ser um programa de extensão da Uni- à mulher, que atende a casos deve ser encaminhado. Essa secretária contatados “os meninos da faculdade”. versidade. Hoje não há qualquer vínculo específi cos, mas não aos casos é, na verdade, uma estudante de Direito O grupo se diz o mais interdisci- com o Centro Acadêmico, só com a Pró- de violência. A experiência é que recebe uma bolsa de extensão. Os plinar do Saju, pois reúne dois advogados reitoria de Extensão e também com os muito interessante”. grupos acabam se dividindo em áreas do formados e alunos de Psicologia, Rela- professores que coordenam o projeto Direito (cível, família, penal, trabalhista, ções Internacionais e Ciências Sociais, – porque todo projeto de extensão tem previdenciário, consumidor, criança e além de estudantes de Direito, é claro. que ser coordenado por um servidor.” 8 | JORNAL DA UNIVERSIDADE | NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2010 CÂMPUS FLÁVIO DUTRA/JU Suporte clínico Atenção à saúde Servidores e estudantes contam com diversos serviços de atendimento

Criado há 10 anos, o Departamento de diversas atividades na UFRGS, tais de Atenção à Saúde (DAS) faz parte como capacitações voltadas à promoção da estrutura da Pró-reitoria de Gestão da saúde do servidor, preparação para a de Pessoas e dá suporte a questões de aposentadoria e comissão de avaliação saúde no ambiente da UFRGS, ofere- de estágio probatório. cendo vários serviços à comunidade Outro setor que faz parte do Depar- universitária. O órgão, que tem sua sede tamento de Atenção à Saúde é a Divisão principal no Câmpus Saúde, dispõe de Segurança do Trabalho, responsável ainda de um ambulatório no Câmpus pela realização de vistorias em todas as do Vale, que realiza procedimentos e unidades da UFRGS. Essas vistorias consultas de enfermagem, psicologia e são feitas por iniciativa própria, a par- serviço social. tir de solicitações das diretorias ou de Iniciado há pouco, o serviço de servidores e em casos de acidente. Se psicologia do Departamento conta com for constatada uma situação de risco, duas psicólogas para o acompanhamen- a unidade é notificada. O próprio to de possíveis situações de sofrimento servidor acidentado deve acessar o psicológico no ambiente de trabalho. Formulário de Acidente e Incidente de Dependendo do caso, recomendam Serviço (Fais) pelo Portal do Servidor, buscar tratamento na rede pública ou imprimi-lo e preenchê-lo para abrir um privada. processo: “Isso pode ser feito mesmo que a unidade não concorde”, explica Atendimento – O foco do atendimento o chefe da Divisão Vinicius Ciulla. O ambulatorial não são as emergências. processo chega ao Departamento de Para procedimentos de enfermagem, Atenção à Saúde, que encaminha para como curativos e retirada de pontos, uma perícia – que pode ou não resultar tanto o ambulatório do Câmpus do Vale em licença para tratamento de saúde quanto a sede do DAS atendem a ser- por acidente em serviço. Em 2009, a vidores ativos e inativos e a estudantes Divisão registrou 16 acidentes. com benefício saúde SAE. Os ambulatórios também se encar- Perícias e exames – Os ingressos de regam das vacinações de servidores servidores na UFRGS e a avaliação de ativos e inativos, conforme os critérios afastamento dos integrantes da comu- da Secretaria Municipal de Saúde, sob nidade universitária por motivo de a orientação do Ministério da Saúde. saúde passam pela Divisão de Saúde e A maior demanda é pela vacina contra pela Junta Médica. a gripe comum, sendo que, em 2009, Para solicitar o afastamento, o Servidores ativos foram realizadas 5 mil vacinações. inte res sado já deve ter realizado uma e inativos, seus Servidores ativos e inativos, seus consulta prévia e portar um atestado dependentes, dependentes e alunos com benefício médico com a Classificação Inter- Investimento em e alunos com saúde SAE podem agendar consultas nacional de Doenças (CID). Para os benefício SAE com médicos, enfermeiros, nutricio- estudantes, a perícia é agendada pelo podem agendar qualidade de vida nistas e dentistas. Essas consultas telefone do DAS e, para servidores, a consultas devem ser marcadas presencialmente marcação é solicitada pela chefi a do odontológicas ou por telefone, todos os dias, exceto as setor por e-mail. Também são pericia- na sede do Viva mais – O objetivo do programa que fumava havia 21 anos, conseguiu odontológicas, que são agendadas na dos os casos de acidente de trabalho e de Departamento de Viva Mais, formado por profi ssionais largar o cigarro num período de dois manhã do primeiro dia útil de cada mês pedido de isenção de imposto de renda. Atenção à Saúde da do DAS e colaboradores de outras meses de tratamento: “Tudo começa de forma presencial. São disponibiliza- De acordo com a Política de Atenção UFRGS na manhã do unidades, é realizar campanhas de pre- com a decisão de parar; mas, sem essa das as seguintes especialidades médicas: à Saúde do Servidor Público Federal, o primeiro dia útil de venção contra doenças causadas por ajuda, nada se consegue”. clínica geral, pediatria, dermatologia e DAS está trabalhando para implantar cada mês determinados hábitos, como o fumo clínica para a cessação do tabagismo. o Decreto Federal n.º 6.856, de 2009, e a má alimentação. O coordenador, Viver melhor – O Serviço Social do Servidores com prontuário no Hospital que dá direito a exames periódicos de Alexander Daudt, explica que existem DAS acompanha o Grupo Viver Me- de Clínicas também podem marcar saúde aos servidores públicos federais. quatro grupos de doenças – do cora- lhor na Melhor Idade, formado por suas consultas via Departamento. O Departamento planeja uma maneira ção, cânceres, diabete e respiratórias aposentados e pensionistas da UFRGS. No atendimento odontológico, são de atender a essa demanda, obedecendo crônicas – que estão lotando os hospi- Em sala própria, no Anexo I da reitoria, oferecidas consultas para revisão, lim- às peculiaridades de cada servidor, tais: “Temos, na prática, uma epidemia, eles se reúnem todas as quintas-feiras à peza, restauração e extração de dentes. por meio de uma terceirização desses e o sistema de saúde estrangulou, então tarde para trocar experiências sobre a Para tratamentos mais especializados, procedimentos, que serão opcionais e está claro que temos de trabalhar com vida na aposentadoria e planejar ativi- como ortodontia, prótese e tratamento oferecidos a cada dois anos. De acordo a prevenção”. dades como passeios, cursos, palestras de canal, o setor encaminha o paciente. com a diretora do DAS, Marília Hack- Atualmente, a equipe do programa e bailes. O Viver Melhor é vinculado mann, o início desses atendimentos está Endereços do está envolvida com o projeto “Ambi- à Progesp e gerenciado pelos próprios Serviço social – Integrada ao Depar- previsto para 2011. Departamento de ente livre da fumaça do tabaco”, que aposentados. O vice-coordenador, tamento de Atenção à Saúde, funciona Ainda em relação à implantação Atenção à Saúde visa diminuir o fumo passivo. O grupo Gilberto Soares, relata: “Fico na expec- a Divisão de Serviço Social (DSS) que, dessa política, além do público da já realizou uma intervenção na reitoria, tativa das reuniões. A gente costuma por meio de ação articulada com UFRGS, a perícia e o serviço social do em que promoveu conversas com os gostar porque sente falta desse calor outros setores da Universidade, for- Departamento atendem a servidores Sede trabalhadores daquele local e, poste- humano”. A secretária Miriam Pereira mula estratégias e ações para garantir de outros órgãos federais, por meio de Av. Protásio Alves, 297 riormente, implantou a proibição do fala de sua experiência no grupo: “De- o acesso dos servidores aos serviços de um acordo de cooperação técnica. Estão Câmpus Saúde fumo no interior do prédio. O mesmo pois de aposentados, acabamos fi cando saúde ofertados, aliando-os às Políticas incluídos nesse acordo: o Ministério da Horário: segunda a sexta, processo está em curso na Escola de muito sozinhos, e aqui encontramos Sociais vigentes e às diretrizes preconi- Agricultura, a Universidade Federal das 8h às 18h Engenharia. um grupo de amigos. A gente vive o Fones: 3321-3249/3321- zadas na Política de Atenção à Saúde de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Daudt afi rma que não é uma ação que os outros estão vivendo, procura 3106 do Servidor Público Federal (SIASS). o Instituto do Patrimônio Histórico contra a pessoa que fuma, mas contra ajudar, se telefona”. Dessa forma, as demandas expressas e Artístico Nacional, os Institutos Fe- a fumaça do cigarro em nome da saúde Todo aposentado ou pensionista na Universidade e que são foco da ação derais de Educação, Ciência e Tecnolo- Ambulatório Câmpus coletiva: “Inclusive em paralelo se ofe- da UFRGS pode participar. Atual- da Divisão incluem aspectos relativos gia, que incluem a antiga Escola Técnica do Vale rece auxílio para as pessoas que querem mente, são 79 pessoas cadastradas que à qualidade ambiental no trabalho, ao da UFRGS, o Cefet de Bento Gonçalves, Av. Bento Gonçalves, 9.500 parar de fumar”. Foram estabelecidos participam de diferentes eventos. Às acompanhamento de servidores em a Escola Agrotécnica de Sertão, e o Tri- Prédio 43353, junto ao grupos de cessação do tabagismo em terças-feiras, por exemplo, reúne-se Licença para Tratamento de Saúde e em bunal de Contas da União. setor de segurança parceria com o Instituto de Psicologia. um grupo de artesanato, que todos Licença por Acidente em Serviço, por Horário: segunda a sexta, das O próprio Daudt atende no DAS pes- os anos distribui sua produção, como dependência química ou por pro blemas Diego Mandarino, estudante do 8.º 8h às 12h e das 13h às 17h soas que querem abandonar o hábito. os enxovais para recém-nascidos da de saúde mental. A DSS participa ainda semestre de jornalismo da Fabico Fone: 3308-6940 O servidor Heron Alves, da Progesp, Santa Casa. JORNAL DA UNIVERSIDADE | NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2010 | 9 EspecIal

Formação FLÁVIO DUTRA/JU A rotina de quem ensina e aprende na Educação a Distância

TEXTOS JACIRA CABRAL DA SILVEIRA E DIEGO MANDARINO FOTOS FLÁVIO DUTRA

“Eu não teria outra chance não fosse pela Educação a Distância.” A afi rmação é de Adilson Räder, 28 anos, aluno da 1.ª edição do curso de gradua- ção em Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural (Plageder) da UFRGS, do polo de Três Passos. O curso possui, ao todo, 300 alunos e 12 polos no estado. Ao iniciar o curso em 2007, ele já trabalhava no frigorífi co da Sadia como desossador de suínos. Em 2009, foi promovido a um cargo administra- tivo no setor de agropecuária: “Só tive oportunidade de trocar de setor devido ao curso”, relata. Geralmente, são três aulas presen- ciais por disciplina. As tarefas são pas- sadas pela Internet através da plataforma Jovens da equipe de desenvolvimento de objetos de aprendizagem realizam gravação para o curso de Licenciatura em Música a Distância Moodle: “Mas fazemos vários trabalhos em grupo, visitando agroindústrias”, explica Adilson. O estudante vive com a esposa e o fi lho de dois anos, dedicando- se ao curso à noite, após voltar do tra- Em 2010/2, os balho, e nos fi ns de semana. “A relação com a família não mudou muito, foi cursos de EAD mais em relação à vida social. Antes, eu da UFRGS irão jogava bola no sábado e no domingo. Universidade Agora parei um pouco”. graduar 950 Adilson está na última etapa do curso e, para o Trabalho de Conclusão, formandos. escolheu o tema da sustentabilidade ambiental. A previsão para a formatura, com seus 30 colegas de polo, é abril de mais próxima Segundo a 2011. Secretaria Inclusão – A professora Margareth Sobrecarga – A UFRGS realiza cursos essa formação. “Em Ariquemes (RO), a vez por mês. Ele avalia a experiência de Educação Axt, com formação em linguística, foi a distância em nove áreas: Administra- coordenadora de polo criou um ponto como “uma oportunidade única, que pesquisadora durante 12 anos no Labo- ção, Pedagogia, Planejamento e Gestão de cultura onde nossos alunos dão aula vai ajudar na carreira acadêmica. Senti a Distância ratório de Estudos Cognitivos (LEC) do para o Desenvolvimento Rural, Artes para crianças do município – hoje, se que melhorou meu entendimento dos Instituto de Psicologia, onde começou Visuais, Ciências Biológicas, Letras, tu fores naquela cidade, tem crianças problemas do aluno e de como conduzir do MEC, o seus estudos sobre informática na edu- Inglês, Matemática e Música. levando violão nas costas por todo a turma”. Brasil tem 210 cação, principalmente de crianças. “Tudo mudou quando passei a ser lugar. Fico arrepiado com isso.” Ela verifi cou que, ao programarem o professor de EAD”, relata o docente Orguho – “Tenho o maior orgulho de instituições de computador em busca de um resultado, do curso de licenciatura em música a Tutor em tempo real – Ariquemes é ser aluna da UFRGS”, afi rma Simone as crianças aprendiam a desenvolver a distância, Rodrigo Schramm, a res- um dos 41 polos de EAD da UFRGS, Scharlau, 43 anos, estudante do nono ensino superior escrita e a leitura: “Uma criança que peito de sua rotina. Com formação em dos quais 31 são no Rio Grande do semestre de pedagogia e interação com credenciadas estava há 6 anos na escola com difi cul- computação e música, ele já trabalhava Sul. Os demais estão distribuídos nos tecnologia a distância. Ela começou o dades de aprendizagem, em três meses desde 2003 com a professora Helena de estados da Bahia (4), Santa Catarina (3), curso pouco depois de se tornar profes- para a estava lendo e fazia tudo”. Souza Nunes na elaboração de materiais Rondônia (2) e Espírito Santo (1). sora do primeiro ano da escola Anita Margareth tornou-se professora do didáticos para EAD. Em 2008, ingres- Cláudio Maia nunca havia traba- Ligia Wingert, em Sapiranga, dando modalidade. pós-graduação da Faculdade de Educa- sou na UFRGS como professor. lhado com EAD até tornar-se tutor do aulas para crianças de seis e sete anos. ção da UFRGS em 1996. Não pretendia Na disciplina de multimeios da Plageder em 2008. O tutor é essencial Simone conta que o curso mudou mais trabalhar com informática, mas modalidade EAD, ele tem de atualizar para o acompanhamento dos alunos sua vida pessoal e profi ssional: “Hoje De 2007 para com aquisição da linguagem, área em a plataforma online toda a quarta-feira de cada polo de educação à distância. sou uma pessoa muito diferente, tenho que fez seu doutorado. Porém, ao rece- para proporcionar o material da nova Com doutorado em desenvolvimento outra visão de mundo, de escola e de 2008, ocorreu ber uma aluna surda em sua turma de semana aos seus cerca de 450 alunos, rural no Programa de Pós-graduação como lidar com as crianças”. Ela revela um salto no Filosofi a da Linguagem, resolveu voltar distribuídos em 11 polos por todo o em Desenvolvimento Rural (PGDR), que foi difícil adaptar-se às exigências às tecnologias: “Havia uma intérprete, país, alguns destes no interior da Bahia sua experiência didática anterior havia do curso: “Era dona de casa e, de um número de mas fi quei preocupada porque ela não e em Rondônia. “EAD não é fácil; pelo sido em estágio de docência: “Abro os momento para outro, fui chamada para conhecia certos termos técnicos e isso contrário, consome o triplo de horas. fóruns para discussão e lanço questões docência e para o curso de Pedagogia”. matrículas: de poderia prejudicar a aprendizagem”. No presen cial, sei que vou chegar lá, dar para que os alunos tirem as dúvidas A primeira coisa foi aprender a ligar 369.766 para Então propôs aos alunos trabalhar aula e tirar as dúvidas na hora. Na EAD, em relação às leituras que realizam”, o computador. “Tive muito apoio do em rede para que todos fi cassem em tenho que ir pro fórum e ver se alguém explica. Cada tutor geralmente fica meu esposo; se não fosse isso, eu não sei 761.00. Em 2010, condição de igualdade: “O problema era tem dúvida, para não deixá-lo espe- responsável por uma disciplina. Sua se eu conseguiria aguentar”. A profes- que ninguém sabia usar computador”. rando. Às vezes, passo o fi m de semana carga horária é de 20 horas por semana, sora diz que sua rotina fi cou bastante foram 878.893 Só havia um aparelho na biblioteca da atendendo alunos.” Rodrigo acrescenta em que fi ca online para responder a puxada, tendo de se dedicar todas as matrículas. faculdade. A turma teve de ir ao CPD que tem bastante trabalho para atuali- perguntas e provocar debates. Nesse noites e nos fi ns de semana. para aprender a trabalhar com a rede e zar a plataforma: “Fui dormir às três da período, os alunos também precisam Ela observa que o impacto do curso usar os equipamentos de lá. manhã hoje porque passei cinco horas acessar a plataforma e participar. É uma a distância se estende para a comu- A professora passava os textos e preparando o material”. sala de aula virtual em tempo real. nidade: “De uma forma ou de outra, O último Censo os alunos discutiam em rede: “A pro- A sobrecarga é avaliada por ele Cláudio diz que essas 20 horas não incentivávamos as colegas a inovarem em EAD, de fundidade com que discutiram, numa como algo que precisará ser soluciona- são sufi cientes para responder a todas o seu trabalho na sala de aula. Elas aula presencial, jamais teria ocorrido, do nos próximos semestres. No entanto, as dúvidas dos alunos, que lançam seus começaram a ter outra visão e a gostar 2008, revelou porque não há tempo para todos fala- Rodrigo também destaca o pioneirismo questionamentos no fórum a qualquer da forma como trabalhamos”. rem e se aprofundarem. Eles liam os da UFRGS, a primeira universidade a hora do dia. Simone acha que as evasões no curso um índice de livros e faziam postagens enormes, que propor um curso de música a distância, O tutor desenvolve seu trabalho de se deveram à exigência na rotina: “Tive 18,5% de evasão todos podiam ler e assim a discussão se e o fato de que, não fosse isso, muitos forma autônoma em relação ao profes- colegas que, ao ingressarem na modali- mantinha”. não teriam possibilidade de buscar sor. Cláudio também vai aos polos uma dade a distância, não aguentaram”. no país. 10 | JORNAL DA UNIVERSIDADE | NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2010 Criada em 2002, a SEAD conta atualmente com 41 polos em todo o território brasileiro EAD: inovação com inclusão

Existe demanda de formação que porte na produção de materiais virtuais possa ser melhor atendida na modalidade a serem utilizados em suas aulas, presen- “A EAD na a distância? A pergunta é do professor ciais ou não. Universidade Sérgio Franco, Secretário de Educação a Distância da UFRGS (SEAD), em resposta PerÀ l e estrutura – A dimensão de todo nasce com à questão sobre o que caracteriza uma esse trabalho resultou em grande parte demanda de EAD. Defensor confesso da das discussões e dos encaminhamentos a missão da modalidade, e seu articulador desde a oriundos do Fórum de EAD, que comple- democratização origem do debate até a instalação ofi cial tou uma década de existência este ano na Universidade, Sérgio argumenta: “Não e teve como uma das comemorações a do ensino e com é pensar se esse curso pode ou não ser aquisição de uma caminhonete Ranger, oferecido a distância, mas sim o que pode de cabine dupla e capacidade para seis o compromisso ser a distância nesse curso? Em que situa- pessoas, que será usada nos deslocamen- de atingir ções o processo de aprendizagem ganha tos para as atividades presenciais nos mais, usando estratégias a distância e polos gaúchos. O Fórum foi criado para populações estratégias presenciais?”. congregar professores, estudantes e téc- nicos que vi nham desenvolvendo alguma que residem Polos – Criada em 2002, a SEAD conta forma EAD na Universidade. Reunidos, em municípios atualmente com 41 polos em todo o eles poderiam defi nir políticas e formas território nacional, o que representa de estruturação. distantes dos a existência de alunos-UFRGS em lo- Desde o começo, a intenção era pro- calidades como Ariquemes e Porto mover uma modalidade descentralizada grandes centros” Velho, em Rondônia, a 3.500km de Porto de ensino, cabendo às unidades todo o Alegre. “A EAD na Universidade nasce gerenciamento pedagógico dos cursos, tutor residente próximo ao polo, chamado com a missão da democratização do e à Secretaria, a mediação institucional de tutor presencial. Cabe a ele a interme- ensino e com o compromisso de atingir com agências de fomento e instâncias diação administrativa e pedagógica entre populações que residem em municípios como a Universidade Aberta do Brasil alunos, curso e professor. O tutor a dis- distantes dos grandes centros e que não (UAB). Outra condição fundamental, tância, por sua vez, é aquele que trabalha teriam condições de frequentar os cursos presente desde o princípio, foi a questão diretamente com o professor responsável presenciais”, explica o vice-secretário, da qualidade dos cursos: “A EAD na pela disciplina, dando suporte pedagógi- Silvestre Novak. Universidade vem sendo construída a co, esclarecendo dúvidas, encaminhando Existem ainda quatro polos na Bahia, partir de três eixos principais: inovação trabalhos e acompanhando discussões três em Santa Catarina, um no Espírito tecnológica e pedagógica, qualidade de nos ambientes virtuais de aprendizagem. Santo e 31 no interior do Rio Grande do ensino e inclusão”, detalha Silvestre. Tanto os tutores como alguns dos Sul. Nesses polos são oferecidos cursos professores, monitores (alunos da gradua- de extensão, de especialização e um ou Junção de saberes – A interdisciplinari- ção que auxiliam alunos e professor) e mais dos nove cursos de graduação: dade também tem sido uma das marcas técnicos administrativos que trabalham Matemática, Letras/Inglês, Ciências Bio- do setor, destaca Sérgio Franco. É o caso na modalidade a distância recebem lógicas, Administração, Artes Visuais, do Centro Interdisciplinar de Novas Tec- qualifi cação através da Sead. Só em 2009, Música, Pedagogia e Desenvolvimento nologias na Educação (Cinted), criado em foram realizadas 13 capacitações com a Rural (Plageder). Destes, os três últimos 1999 para institucionalizar o Programa participação de aproximadamente 200 terão suas cerimônias de formatura nos de Pós-graduação de Informática na monitores e professores. Conforme Sér- meses de dezembro e janeiro, algumas Educação. Este veio a ser o primeiro curso gio Franco, a SEAD e a Pró-reitoria de no Salão de Atos, outras nas cidades polo. interdisciplinar do Brasil, numa colabo- Graduação já estão alimentando a ideia Segundo Sérgio Franco, mestre em ração da Faculdade de Educação e dos de uma formação de professores para o Educação e doutor em Ciências da Com- Institutos de Psicologia e de Informática. uso de tecnologias. putação, a educação a distância hoje na Outra instância interdisciplinar é o Para o secretário, o uso da tecnologia Universidade é presença inquestionável. Núcleo de Apoio Pedagógico à Educação passará a ser tão frequente no cotidia- Além de fazer parte do projeto do futuro a Distância (Napead), que começou a no da educação que o professor terá a Câmpus Litoral Norte da UFRGS, tam- operar em 2009, no Câmpus do Vale. mesma preocupação tanto para saber se bém está inserida no Plano de Desen- Ele tem por função dar suporte às ações a lâmpada de sua sala está funcionando, No À nal dos anos 1970, o volvimento Institucional (PDI): “Ela não de EAD na Universidade, com ênfase no quanto conferir como estão as condições primeiro computador da deve estar segregada num setor à parte, apoio à produção de objetos de aprendiza- da tecnologia que ele precisará para dar UFRGS foi construído na mas integrada à concepção e à dinâmica gem digitais. Faz parte também do núcleo, aula. “Meu horizonte é o seguinte: todos garagem do físico José pedagógicas da UFRGS”. Nesse sentido, um dos polos da Rede Gaúcha de Ensino os cursos da Universidade terem disci- Medero, contrariando Destaque para ques está prevista, no capítulo de infraestru- Superior a Distância (Regesd). plinas a distância e disciplinas presenciais. o regime militar que A terceira edição do curso EAD tura do Plano, a criação de um centro de Do ponto de vista de recursos hu- Tudo o que pudermos fazer para que o controlava o uso e a apoio ao uso de tecnologia de ensino de manos, foi criada a fi gura do tutor como aluno melhor aproveite o seu tempo na de graduação tecnológica em importação desses Planejamento e Gestão para o educação a distância. Esse centro contará apoio ao professor. Quando as atividades Universidade será enriquecedor para ele”, equipamentos com uma equipe técnica para prestar su- são presencias, quem presta assessoria é o conclui o professor. Desenvolvimento Rural, Plageder III, que terá início em 2011, será oferecida em módulos já programados nos moldes de curso permanente. Até então, assim como os demais cursos de graduação a distância O que há de novo na sala de aula virtual desenvolvidos na Universidade, o Plageder vem sendo oferecido como projeto especial, com entrada única, Plataformas em EAD ou ambientes virtuais durante os sete dias da semana, tais ferramentas ferramenta ao controle acadêmico da Universidade, o que implica a impossibilidade aos de aprendizagem são programas que auxiliam na exigiram a contratação de equipes de suporte e o que implica ter acesso a dados como alunos alunos matriculados de rodarem em construção de cursos via web. Na UFRGS existem desenvolvimento, com programadores específi cos matriculados e professores regentes, para a montagem alguma disciplina, pois esta não será três dessas plataformas hospedadas no Centro para trabalhar em cada ambiente de aprendizagem. de ambientes exclusivos a cada disciplina. mais oferecida. de Processamentos de Dados (CPD). De acordo As próximas contratações deverão atender a um Outra inovação, e que começa a repercutir De acordo com o coordenador do com Hubert Ahlert, diretor do Departamento de projeto em andamento junto à Secretaria de Educação nacionalmente, é a Autenticação Federativa, Plageder, Lovois de Andrade Miguel, Sistemas de Formação do Centro, duas delas foram a Distância (SEAD) para o desenvolvimento de uma que possibilitará ao aluno ou professor terem a cada nova oferta do curso entram construídas no âmbito da Universidade: a Rooda plataforma virtual para a Universidade. O objetivo validadas suas identifi cações institucionais (cartão 500 alunos, o que equivale a 10% dos (Rede Cooperativa de Aprendizagem), desenvolvida desse novo ambiente é integrar as três plataformas universitário) dentro de um grupo como a Rede que ingressam na UFRGS via exame no Núcleo de Tecnologia Digital aplicada à Educação já existentes, minimizando a diferenciação existente Gaúcha de Ensino a Distância, por exemplo. Ou seja, vestibular. Para o professor, isso (Nuted/CNPq), da Faculdade de Educação, e a Navi entre elas e potencializando cada uma. a partir de uma única página, os participantes de demonstra a capacidade da EAD em (Núcleo de Aprendizagem Virtual), projetada na Dentre essas plataformas, a que demandou cursos oferecidos pelas universidades que integram aumentar a oportunidade de acesso Escola de Administração pelo Núcleo de mesmo maior adaptação por parte do CPD foi a Moodle, a Rede podem navegar no ambiente, informando ao ensino superior. Pioneiro na área, nome. A terceira plataforma é a Moodle (Modular em função de ser um soft ware livre, usado por sua identidade institucional.“Essa é uma tecnologia existe apenas um curso semelhante – Object Oriented Distance Learning) do MEC. um grande número de pessoas – proposta que que pretendemos levar não só para a EAD, mas para oferecido pela Universidade Federal Em função do grande volume de acessos e do representou inovação no setor. Conforme Hubert, outros serviços comuns a várias instituições”, projeta de Santa Maria –, o Plageder, segundo fato de permanecerem em funcionamento por 24h, foram necessários seis meses para integrar a nova o diretor. JORNAL DA UNIVERSIDADE | NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2010 | 11 O Pós-graduação em Informática na Educação foi o primeiro curso interdisciplinar do país FOTOS FLÁVIO DUTRA/JU

No Câmpus do Vale funciona um dos polos da Rede Gaúcha de Ensino a Distância (Regesd), criada em abril de 2007

Projetos têm repercussão nacional

Muitos dos projetos desenvolvidos na sibilidade, e o Instituto de Informática, equipamentos quanto na confi guração dos UFRGS que aproximam novas tecnolo- A Federação de encarregado de defi nir os padrões para computadores, que foram adequados às gias e educação têm garantido destaque Repositórios TV digital e os dispositivos móveis para necessidades de uso dos alunos especiais. nacional e internacional à Universidade. que esses objetos possam ser recuperados Em 2009, o NIEE passou a oferecer o Em novembro, o Cinted aprovou o projeto Educa Brasil via celular e TV. Coube ao Centro dar curso para professores de oito países de Fede ração de Repositórios Educa Brasil apoio na parte de rede, re quisito para web língua espanhola – entre eles Uruguai, (FEB), cujo objetivo é defi nir um modelo permitá aos e repositórios. No total, fazem parte da Argentina e Chile –, o que levou o MEC fede rativo de repositórios que possibilitará usuários acesso a iniciativa 12 alunos e quatro professores, a criar uma política de educação especial aos usuários acesso a conteúdos digitais provenientes dos três setores envolvidos. junto ao Mercosul. Isso fez com que o NIEE de aprendizagem, armazenados em dife- conteúdos digitais “Temos trabalhado em pesquisas para o começasse a tradução para o espanhol rentes locais, a partir de um único ponto desenvolvimento de sistemas educacionais do livro-base do curso, lançado no ano de acesso, contemplando as plataformas de aprendizagem baseados em tecnologias da Inteligência passado: Tecnologias Digitais Acessíveis. Web, TV Digital e dispositivos móveis. O armazenados em Artifi cial (IA)”, comenta Rosa. Essa obra compreende todo o conteúdo FEB concorreu com mais 11 propostas ao do curso desenvolvido em módulos e é edital da Rede Nacional de Tecnologia e diferentes locais Acessibilidade – O Núcleo de Pesquisa de acompanhada de um CD com vídeos. tem a parceria da , pelo Programa Informática na Educação Especial (NIEE) O MEC também solicitou a formação Interdisciplinar de Pós-graduação em da UFRGS é o único que faz pesquisa a distância de professores surdos e com Computação Aplicada (PIPCA). MEC, todos com confi gurações diferentes, nessa linha em todo o país desde 1984. Em defi ciência visual. “Foi um novo desafi o”, De acordo com a diretora do Cinted o que os torna adequados para a imple- 2000, deu início a sua primeira formação garante Lucila, pois tivemos de adaptar e coordenadora do projeto, Rosa Maria mentação da Federação e para o teste dos de professores de educação especial na todo o material da plataforma TeleEduc Vi cari, com o aumento da produção de padrões decorrentes desse projeto. modalidade a distância, visando à inclusão para o uso de pessoas surdas, passando objetos de aprendizagem em inúmeras sociodigital. Como a Universidade ainda para Libras todas as palestras e vídeos instituições no Brasil e no mundo, consta- OBAA – Outro projeto de grande reper- não dispunha de plataforma própria, o e montando um glossário para surdos. tou-se que esses conteúdos não seriam de cussão nacional do Cinted, também coor- curso foi realizado em parceria com a Também foram desenvolvidas novas fer- grande utilidade para os possíveis usuários, denado por Rosa Vicari, é o Padrão para Unicamp por meio de seu ambiente de ramentas de acessibilidade, como um bate- a menos que pudessem ser descobertos, lo- Metadados de Objetos de Aprendizagem aprendizagem, o TeleEduc. Depois disso, papo sonoro e visual, um teclado virtual calizados e recuperados de forma efi ciente Multiplataforma (OBAA), implantado a formação passou a ser desenvolvida para escrita em Libras. e globa lizada. Assim, a ideia é solucionar em 2009. Ele permitirá o uso de objetos inteiramente pela UFRGS, tendo na co- Esse processo desencadeou uma série essa lacuna, pois não existe, atualmente, de aprendizagem em um contexto de ordenação as professoras Liane Tarouco e de pesquisas no sentido de desenvolver um infraestrutura global de apoio à busca de inte gração tecnológica, unindo Internet e Lucila Maria Costi Santarosa – esta última ambiente educacional inclusivo e acessível conteúdos de aprendizagem. TV Digital. “O padrão proposto tem um também coordenadora do NIEE. a todas as defi ciências, o que resultou no Cinco repositórios da Universidade – conjunto de metadados para objetos de Já passaram pelo curso cerca de cinco Eduquito, premiado internacionalmente. Coletânea de Entidades de Suporte ao uso aprendizagem, com enfoque em questões mil professores que trabalham com alunos Embora não fosse uma plataforma para stões regionais de Tecnologia na Aprendizagem (Cesta), educacionais específicas do contexto especiais em escolas da rede pública de EAD, e sim um ambiente inclusivo para SACCA, RIVED, ENGEO e OBAA – já brasileiro”, explica a diretora. ensino e que, atualmente, possuem salas criação de projetos de aprendizagem, Lovois, só tem sentido na modalidade fazem parte do protótipo da Federação, Também participaram do projeto a de recursos multifuncionais. A monta- ferramentas do Eduquito puderam ser a distância, pois é fundamental que o além da Biblioteca Nacional e do Banco Faculdade de Educação, responsável pela gem dessas salas contou com a assessoria empregadas para tal fi m por terem sido aluno faça o curso imerso nas questões Internacional de Objetos Educacionais do parte pedagógica e pelos padrões de aces- do NIEE, tanto na escolha dos diferentes inspiradas no TeleEduc. regionais para poder operar sobre elas. Por outro lado, o coordenador reconhece que ainda há muito DIVULGAÇÃO a fazer para que a Universidade esteja mais preparada para a oferta Com o RS e no Brasil permanente de EAD. “Ainda não conseguimos implementar uma gestão Em 2005, com a criação da Universi- de Educação Tecnológica de Pelotas, Uni- do Plageder não tão artesanal, por dade Aberta do Brasil, a UFRGS passou a versidade Federal do Rio Grande (Furg), isso queremos na terceira edição integrar o sistema nacional como forma Universidade de Caxias do Sul (UCS), do curso nos aproximar bastante do de contribuir para a expansão pública da Universidade Estadual do Rio Grande do sistema acadêmico de gestão.” Dessa educação superior demandada pelo MEC. Sul (UERGS), Universidade Federal de forma, eles pretendem diminuir a Hoje, 88 instituições integram o Sistema Pelotas, Universidade Federal de Santa sobrecarga de trabalho e melhorar UAB, entre universidades federais e es- Maria e Universidade de Santa Cruz do o funcionamento geral do curso. Por taduais e Institutos Federais de Educação, Sul (Unisc). edição, o curso envolve o trabalho Ciência e Tecnologia (IFETs). O Núcleo de Apoio Pedagógico à Edu- de 30 a 40 professores, sendo que Para dar conta da demanda do MEC cação a Distância (Napead), no Câmpus a folha de pagamento de bolsas por cursos de graduação em licenciaturas do Vale, abriga um dos 17 polos de apoio de novembro deste ano foi de 160 na modalidade a distância, a UFRGS presencial dos cursos oferecidos pela Re- pessoas, envolvendo professores, juntou-se a outras instituições de ensino gesd, que atualmente são: Artes Visuais, técnicos administrativos e tutores: “É superior do RS, pois não havia à época Ciências Biológicas, Letras/Inglês, Letras/ maior que muita empresa gaúcha”, universidade devidamente preparada para Espanhol, Matemática, Geografi a. Os três brinca. Mas está mais para ato de se responsabilizar sozinha por um curso de primeiros cursos são coordenados pela magia, se considerarmos que tudo graduação nessa modalidade. UFRGS, que oferece, ainda, junto à UAB, isso é administrado por apenas quatro Assim nasceu a Rede Gaúcha de En- os cursos de Administração e Desenvolvi- pessoas. sino Superior a Distância (Regesd), da mento Rural – ambos projetos especiais, qual fazem parte: UFRGS, Centro Federal com entrada única. Estudantes em aula presencial no polo de Ariquemes, Rondônia 12 | JORNAL DA UNIVERSIDADE | NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2010 As proibições da ditadura não foram sufi cientes para impedir o sonho destes professores A coragem FOTOS FLÁVIO DUTRA/JU de quem foi pioneiro

Começo do nhecem – como a formação dos arco-íris, governo militar para explicar a neces- por exemplo – e transmitam o conheci- sidade de um computador para suas caminhar mento obtido ao fi nal do processo – em pesquisas em educação. Nem mesmo que recorrem a diversas fontes – para a o “não” que recebeu dos militares foi Ousadia e turma. A professora criou o Laboratório capaz de dissuadi-la de criar as condições de Estudos Cognitivos (LEC) em 1975 necessárias a suas investigações. persistência para desenvolver pesquisas nessa área. Foi mais ou menos nessa época que foram cruciais descobriu que a solução estava bem mais Informática como ferramenta – Léa, próxima do que pensava, mais precisa- na origem da então, formou parceria com o neurologis- mente no Instituto de Física, onde um dos ta argentino Antônio Maria Battro, que professores pesquisava clandestinamente EaD na UFRGS estudara com Piaget durante quatro anos a arquitetura dos computadores. Depois no Centro Interdisciplinar de Epistemo- de muita insistência da colega, ele acabou logia Genética de Genebra. Com Battro, aceitando o arriscado desafi o de cons- Durante 20 anos, Léa Fagundes deu ela inteirou-se a respeito da chamada truir o que seria o primeiro computador aulas para crianças, até entrar no curso inteligência artifi cial, tema que vinha da UFRGS. de Pedagogia da UFRGS, em que viria a ganhando espaço em diferentes setores. ser professora a partir de 1972. As difi cul- Um dos maiores entusiastas dessa A distância – A evolução da tecnologia dades de aprendizagem verifi cadas em temática era o matemático sul-africano com a comunicação em rede possibilitou seus alunos levaram-na a pesquisar sobre Seymour Papert, que também havia a interação, fundamental no modelo as causas dessa realidade e a buscar novos estudado com Piaget. Com ele, Battro dos estudos cognitivos, por permitir o métodos de ensino. iniciou o estudo da relação entre crianças contato entre quem busca a informação e computadores – a máquina, assim, pas- e aquele que a tem. Léa percebeu aí a Teoria e prática – Segundo Léa, o sou a ser planejada como ferramenta de possibilidade de levar cursos a outros Léa Fagundes e José Medero contornaram a negativa dos militares modelo tradicional nas escolas segue o aprendizagem. locais e, assim, disseminar sua concepção paradigma do behaviorismo, em que Para tanto, Papert criou a lingua- construtivista de educação. a resposta esperada é premiada e a in- gem Logo, que permite às crianças que Outro aspecto técnico, a transforma- desejada, punida: “Condiciona apenas programem de forma criativa, pois são ção de voz em linguagem escrita, tam- Vamos pra América Central refl exos [como no treinamento militar] e elas que ensinam os computadores para bém favoreceu o trabalho do LEC para o comportamento de animais”, sustenta que eles cheguem à resposta desejada. aprimorar a educação de surdos – outra Em todas as escolas da Costa Rica, os professores : “Disse que não podia, era a professora. Para ela, o ser humano, por No caso de a criança errar, ela mesma vertente investigativa do Laboratório em 1986, haviam sido instalados mãe de sete fi lhos e trabalhava na UFRGS”. ter a capacidade não só de adquirir, mas pode descobrir onde está o erro, já que para tornar a educação mais inclusiva. computadores para desenvolver a O problema se resolveu com a educação de construir o próprio conhecimento, cada passo fi ca registrado, e ela pode No início, foi essencial a tecnologia de inteligência, o raciocínio lógico e a a distância. Ao apresentar à Pró-reitoria necessitaria de um processo diferente, em experimentar como as modifi cações em radioamador, porque ainda não havia a aprendizagem em ciências e tecnologia de Pós-graduação o projeto de curso de que ensinar é a melhor forma de aprender. cada etapa infl uenciam o resultado fi nal. Internet. Com recursos da Organização – tudo com recursos do Banco especialização de 24 professores da Costa Foi assim que Léa conheceu os estu- Ao acompanhar, no Hospital Del dos Estados Americanos (OEA), Léa Interamericano do Desenvolvimento Rica, Léa foi questionada: como dar um dos cognitivos do suíço Jean Piaget, que Niño, em Buenos Aires, a efi cácia do solicitou computadores e a instalação de (BID). Após cinco anos, o banco exigiu a curso para pessoas que não moravam no não era trabalhado à época na Pedagogia, método no atendimento a crianças com antenas: na UFRGS, em Caxias do Sul, contratação de um avaliador, e Léa foi Brasil nem falavam português? convidada em função de seus estudos. Enquanto aguardava a resposta, deu mas no então Departamento de Psicolo- prejuízos em seu desenvolvimento, Léa em Pelotas e em Novo Hamburgo. Depois de uma primeira avaliação, a início ao curso informalmente. Depois gia, para onde se transferiu. Léa explica passou a buscar um computador para Léa recorda que a professora Carla professora concluiu que os alunos não de algum tempo, imprimiu os diálogos que, conforme o paradigma piagetiano, o o LEC. Mas esbarrou nas proibições Valentini, de Caxias, teve de subir no aprendiam, por um lado, porque o método realizados via e-mail com os professores prêmio é adquirir o conhecimento. impostas pelo Brasil da ditadura, quando telhado da escola em que trabalhava de ensino empregado não se baseava nos costa-riquenhos e os levou à PROPG. Nos estudos cognitivos, não há grade não era permitida a importação de para instalar a antena: “Tudo o que nós estudos cognitivos e, por outro, porque os Sua ideia era mostrar que a interação de disciplinas ou de horários; os profes- computadores e assemelhados; somente fi zemos foi com uma forte motivação professores não acompanhavam os alunos era possível, mesmo com a diferença dos sores precisam trabalhar em conjunto. àqueles que retornassem de viagem de de mudança e de melhoria”. Assim, em nos laboratórios. Ao relatar sua conclusão idiomas. Aprovado, o curso foi o primeiro A ideia é que os alunos pesquisem, com estudo era dada permissão de trazer seu 1985, começaram os cursos de extensão aos costa-riquenhos, recebeu um pedido de pós-graduação latu sensu a distância da a orientação docente, sobre fenômenos PC. A saída, pensou Léa, seria procurar de formação de professores de surdos, os para que desse um curso de formação para UFRGS e, possivelmente, do Brasil. que lhes interessem e cuja causa desco- a Secretaria Especial de Informática do primeiros a distância da UFRGS. Computador underground

Foi na garagem da casa de José Medero dentre os quais o sistema operacional CPM o teclado. Medero teve a ideia de modifi car e Ivone que a fi lha Gabriela, de três anos, (um ancestral do Windows). uma televisão para que ela transmitisse ima- começou a brincar com componentes ele- José não pôde trazer consigo um PC da gens coloridas, já que Léa trabalharia com trônicos que o pai deixava ao seu alcance, Apple, mas conseguiu que um dos doutoran- crianças. O teclado foi elaborado de forma enquanto trabalhava na calada da noite dos que morava no Canadá lhe trouxesse um. totalmente artesanal, com o uso de chapas montando computadores. Era fi nal dos anos Este foi desmontado no IF para, em seguida, de alumínio. O processo levou um ano e 70, e a Comissão de Coordenação das Ativi- ser remontado: “Fizemos a enge nharia foi enfrentado graças à insistência de Léa, dades de Processamento Eletrônico (Capre) inversa porque não havia ninguém para ex- como lembra Ivone: “Se não fosse por ela, o controlava o uso e a importação desses equi- plicar como funcionava, então começamos a meu marido nem teria feito ou então teria pamentos. A pesquisa também era proibida estudá-lo”, explica. “Foi tudo de brincadeira, atrasado uns dez anos”. Muitos cafezinhos – exceto a de alguns organismos licenciados nós fazíamos de curiosidade, para aprender.” tomaram juntas, enquanto José trabalhava pelo governo – e os computadores só eram Assim, o professor adquiriu conhecimento na encomenda. permitidos a pesquisadores que os trouxes- para construir um novo computador. José e Ivone montaram uma empresa sem do exterior para uso próprio. “Eles Foi durante esse processo, feito em se- chamada ProMicro e construíram dez queriam reinventar a roda”, comenta José. gredo pelo temor de uma possível repressão, computadores até receberem uma carta da Formado em Engenharia Elétrica, Mede- que Léa descobriu (devido à proximidade Capre, alertando o senhor José Medero sobre ro era professor e pesquisador na área de entre o Departamento de Psicologia e o IF, a inconveniência de tal atividade. eletrônica no Instituto de Física (IF). Em que à epoca funcionavam no Anexo I da O primeiro PC de Léa, construído por 1974, foi aos Estados Unidos para fazer um reitoria) e encomendou um computador a José, ainda está no Laboratório de Estudos curso na Intel, em San Francisco, no Vale do Medero. Por meio de contatos com pesqui- Cognitivos (LEC), no Instituto de Psicologia, Silício. Lá, conheceu pesquisadores de outras sadores na América do Norte, José passou a e chama-se Micro Plus. O pioneiro dos com- universidades brasileiras. receber, por correio, uma a uma as partes de putadores brasileiros, o “Patinho Feio”, foi Naquela época, a recém-criada empresa um computador. Ivone lembra que o proces- construído em 1972 – mas, segundo Medero, norte-americana Apple fazia sucesso com sador veio dentro de um livro cortado para “era compatível apenas com ele mesmo”. seus microcomputadores, relativamente evitar a fi scalização: “A Léa nem sabe disso”, O Micro Plus é possivelmente o primeiro baratos e funcionais, como não havia até comenta o casal entre risos. computador comercializável construído no então. Sua vantagem era a capacidade de O processo de montagem teve desafi os, Brasil e compatível com os programas mais rodar todos os programas mais utilizados, pois faltavam componentes como a tela e usados à época. JORNAL DA UNIVERSIDADE | NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2010| 13 CULTURA

FOTOS FLÁVIO DUTRA/JU

Entrevista Para Daniel Dennett, Filosofi a fi losofi a e investigação científi ca são impura inseparáveis

aniel Dennett é um fi lósofo in- ideia segundo a qual a mente possui um único gináveis são redutíveis a essa simples estrutura. comum. Sua aparência lembra centro organizador autônomo que articula Turing tinha plena consciência de que sua o eterno clichê do velho sábio toda a experiência subjetiva. Dennett defende máquina não precisava entender as operações de barba branca e dicção tran- que a mente é, ao contrário, um pandemônio que realizava, ela tão-somente precisaria quila, preocupado em ostentar de processos neurais complexos e altamente estar programada para tanto. A máquina Dos ancestrais conhecimentos que a tradição fragmentários desprovido de qualquer centro (como a evolução darwiniana) desenvolve dos homens tão-somente através dele poderia racional intrínseco. competências reais, mas que ela própria não nos legar. Nada mais enganoso. Dennett é um Sua teoria da mente, recorre a alguns precisa entender. “Acho que a palestra que pensador heterodoxo, avesso à quase totalidade raciocínios extremamente contraintuitivos eu dei ontem [no Fronteiras do Pensamento] da tradição fi losófi ca, questionador não só – mais ainda, invertidos. Ele se vale das “es- tratou disso de uma maneira legal. Darwin das abordagens tradicionais aos problemas tranhas inversões do pensamento” propostas e Turing apresentam a ideia de competência relevantes, mas, em alguns casos, da maneira por Charles Darwin e por Alan Turing, sem compreensão, e não há intencionalidade, como os problemas são, em si, formulados. matemático britânico e um dos pioneiros das a não ser no processo de programação em si. Sua fi losofi a é impura: não se limita a de- teorias da computação moderna. A isso, ele Ou seja, está na ‘mãe natureza’, no engenheiro duzir as entidades e relações fundamentais a acrescenta sua própria torção conceitual da que constroi o robô”, explica Dennett. partir de especulações puramente abstratas – tradição fi losófi ca. inversamente, ela as impregna com a experiên- Tendemos a pensar que para toda a ação A mente revista – E como essas inversões cia do mundo material. O projeto fi losófi co há um agente, para todo projeto, um proje- nos ajudam a entender a mente humana? de Dennett propõe um extenso intercâmbio tista – um afresco é pintado por um artista e Como elas contrapõem a noção cartesiana com as ciências naturais. Evitar o estereótipo esta página é escrita por um jornalista. Não de sujeito? Dennett conta que uma entrevista de “filósofo ignorante em ciência” (como imaginar uma mente humana agindo por trás sua concedida a um jornal italiano saiu com classifi ca alguns de seus oponentes) é uma o seguinte trecho de uma resposta sua como tarefa que ele assumiu desde sua graduação em título: “Sim, temos uma alma, mas ela é feita Harvard. “Trabalhei todos esses anos tentando de muitos robozinhos”. A frase, só então ele estabelecer respeito e confi ança mútuos entre percebeu, sintetizava tão bem seu argumento cientistas e fi lósofos”, afi rmou em entrevista ao Quebrando que se tornou uma espécie de lema da sua JU. Esse posicionamento radical em favor de abordagem fi losófi ca ao problema da mente. uma visão de mundo essencialmente natura- o encanto Os “robozinhos” são, metaforicamente, os lista – na qual a indagação fi losófi ca se legitima neurônios, cerca de dezenas de bilhões deles, na organização coerente dos dados empíricos As opiniões de Daniel Dennett são cada um dos quais, a partir de operações celu- das ciências – não causaria maiores controvér- frequentemente identifi cadas com o lares puramente mecânicas e limitadas, contri- sias, não fosse, talvez, a natureza problemática chamado neoateísmo, uma espécie de bui para constituir a totalidade das ope rações do objeto preferencial dos estudos de Dennett: movimento liderado por seu amigo cerebrais. As inversões radicais de Darwin a mente humana. Richard Dawkins, um infl uente e Turing são aplicadas, assim, ao sistema da Em sua recente visita a Porto Alegre para biólogo evolucionista e divulgador mente (sistema intencional, tal como Dennett participar do ciclo de palestras Fronteiras do da ciência. O objetivo dos neoateus o denomina): as competências que atribuímos Pensamento, ele apresentou ao público que o é promover uma visão de mundo à mente (cognição, consciência, sentido, etc.) recebeu no Salão de Atos da UFRGS sua teo- científi ca contrária, segundo afi rmam, surgem sem qualquer compreensão por parte ria sobre a mente humana, que propõe uma a qualquer forma de crença religiosa. dos neuromecanismos que as geram. controversa articulação de ciências cognitivas, Uma das bandeiras do movimento é a Talvez a mais controversa contribuição do darwinismo e computação para explicar até os teoria darwiniana da evolução, da qual fi lósofo seja a de mostrar que, em sua constitui- fenômenos sutis como a consciência, o livre ar- Dennett é um fervoroso defensor. ção fundamental, os processos cerebrais que bítrio e mesmo a fé religiosa (ver box). Se, para Em um de seus últimos livros, engendram a mente não possuem qualquer alguns, essa combinação já é escandalosa hoje, Quebrando o encanto: a religião como racionalidade intrínseca. “Quando se chega o que se diria em meados da década de 1960, um fenômeno natural (2006), ele às primeiras formas de vida que fazem coi- quando Dennett começou a desenvolver suas defende a tese de que a crença religiosa sas por razões que elas não conhecem, tudo primeiras refl exões rumo a uma compreensão é condicionada pela evolução biológica some: é a fundação sem milagres. Logo, a rica inteiramente objetiva, “em terceira pessoa”, da da espécie humana. Caberia à ciência, intencionalidade em sua escala humana é um mente, evitando recorrer aos procedimentos portanto, “quebrar o encanto” que efeito muito tardio, não essa fonte miraculosa dominantes entre os fi lósofos para estudar o situa a religião além de qualquer na nossa cabeça, mas um resultado dessas assunto, como a introspecção, o subjetivismo domínio da investigação. “Religiões pequenas ‘coisas’ [organismos mais simples] ou a análise puramente conceitual da lingua- são fenômenos tão importantes que que existem como se tivessem intenciona- gem, por meio da qual expressamos nossos precisamos estudá-los com todos os lidade”, resume o pensador. O conceito de estados mentais. recursos disponíveis, e isso quer dizer “intencionalidade” referido por Dennett é um Era uma ambição que causava vertigem que precisamos arrancar o véu, temos tradicional jargão que fi lósofos utilizam para mesmo aos cientistas, então mais afeitos aos es- que parar de ser hiper-respeitosos com indicar a competência mental de referir-se às tudos comportamentais que revelam somente relação à religião. Temos que tornar os coisas do mundo. Para ele, a intencionalidade aspectos mais exteriores da vida mental. “Até membros de todos os grupos religiosos nunca é intrínseca à consciência, mas derivada, os anos 80, cientistas nunca escreveram sobre do mundo responsáveis pelos pelo processo evolutivo do cérebro humano, de a cons ciência. Era considerado o tópico louco problemas que suas religiões criaram. formas biológicas mais rudimentares. que se deixava para os fi lósofos excêntricos. Até Não há como fazer isso sem chocar Com todo esse aparato conceitual, de- que Gerald Eldeman publicou Th e Remem- algumas pessoas”, completa Dennet. senvolvido incansavelmente em décadas bered Present [1990] e eu publiquei Conscious- de pesquisa, Dennett conseguiu promover ness Explained [Consciência Explicada, 1991]. sua própria estranha inversão na filosofia Até então, eles haviam pensado secretamente da mente: consciência a partir da operação em consciência por anos e perceberam que de processos que envolvem complexidade e absolutamente ignorante dos intrincados havia o perigo de um fi lósofo, um maldito fi ló- inteligência nos parece absurdo. E esse absurdo mecanismos cerebrais. Sua teoria, porém, sofo, conseguir uma teoria antes deles. E assim é precisamente o cerne subversivo da inversão ainda desperta alguma hesitação não só entre eles começaram a pensar: ‘É, talvez seja melhor proposta por Darwin, que, segundo Dennett, o público como entre alguns cientistas céticos eu prestar atenção nesses fi lósofos’”, brinca. teve a melhor ideia singular que alguém já teve, em relação à contribuição que a fi losofi a pode simples o bastante para ser resumida em pou- proporcionar para seus estudos. “As pessoas Pensar às avessas – No século XVII, o fi ló- cas linhas já bem conhecidas: evolução através são hostis por algumas razões. Quanto aos sofo francês René Descartes formulou uma da reprodução diferencial e da seleção natural cientistas, acho que há um espectro, com três concepção de mente humana muito difundida ao longo do tempo. Um possível subproduto tipos: há os que têm desprezo pela fi losofi a, os entre todos nós até hoje: o eu é uma alma desse processo, em condições adequadas, são que têm medo da fi losofi a e os que acham que imortal, uma substância com propriedade organismos estonteantemente complexos: fi losofi a pode realmente funcionar. E é notável mentais qualitativas, inteiramente distintas da projetos sem projetistas ou, pelos menos, sem o quanto alguns desprezam a fi losofi a, o que substância material regida unicamente pelas projetistas dotados de razões próprias, apenas não os impede de fazer fi losofi a, e fazê-la muito leis da física. Tal separação nos parece muito mutação contingente e seleção natural cega. mal. Eu me delicio em mostrar aos cientistas cômoda – de um lado, o domínio da subjetivi- A segunda inversão de que nos fala arrogantes que pensam que não precisam dade, da liberdade, do propósito e da cultura; Dennett, a de Alan Turing na computa- de fi losofi a como eles cometem alguns erros de outro, o campo da matéria inanimada, do ção, é análoga à de Darwin na biologia. O elementares de lógica na abordagem do pro- determinis mo físico e da natureza. É primor- matemático britânico idealizou, em 1937, sua blema de pesquisa”, comenta. dialmente a esse dualis mo arraigado em nossa famosa “máquina de Turing”, um dispositivo percepção do mundo que a fi losofi a de Dennett que manipula símbolos conforme as instruções se contrapõe com veemência: tal noção implica de um programa (algoritmo) preestabelecido Fernando Costa, estudante do no que ele chama de “teatro cartesiano”, a – todos os processos de computação ima- 6.º semestre de Jornalismo da Fabico 14 | JORNAL DA UNIVERSIDADE | NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2010 INTERNACIONAL

Instituto Confúcio

Um dos pontos cruciais da missão à Ásia foi a parceria fi rmada com a Hanban, uma instituição pública ligada ao Ministério da Missão Ásia Educação da China responsável pela difusão da língua e da cultura DIVULGAÇÃO chinesas em todo o mundo. Pelo acordo, a UFRGS está autorizada a instalar o terceiro Instituto Confúcio de cultura chinesa no Brasil (os outros estão na Unesp e na UnB). “Teremos provavelmente, ainda no próximo ano, a inauguração das atividades desse instituto, que nos dará capacidade para trabalhar muito bem os temas da língua e da cultura chinesas”, diz o reitor. Segundo ele, o prédio do Instituto de Letras será reformado para sediar o Instituto. A iniciativa teve o apoio da Universidade de Comunicação da China (UCC), com a qual a UFRGS mantém importante colaboração de mobilidade acadêmica. Jizhou Liu é um dos estudantes da UCC que realizam o curso de português para estrangeiros no Instituto de Letras. Ele vê com muito entusiasmo o conjunto de parcerias com a China. “O Brasil e a China estão mantendo uma relação próxima de comunicação comercial e cultural cujo futuro é promissor, e a colaboração de ensino superior é uma oportunidade muito boa. Na China, cada vez mais pessoas se interessam em conhecer e estudar português. Podemos ter convicção de que a UFRGS e as universidades da China vão ampliar a cooperação”, prevê. Jizhou Liu também é otimista em relação à ideia de internacionalizar a universidade: “Isso pode ajudar a manutenção do vigor da UFRGS. O recebimento de alunos que representam culturas e opiniões diferentes signifi ca que a Universidade pode sempre obter O professor Carlos Alexandre Netto foi recebido por Park Chul, reitor da Universidade de Estudos Estrangeiros de Hankuk, na Coreia do Sul inteligência de todo o mundo”.

embaixadas porque muitas das uni- do Sul é tida como uma referência em parceria com laboratórios da Univer- de internacionalização das instituições Conexão versidades asiáticas são vinculadas aos função do desenvolvimento enorme sidade. Para que esse desenvolvimento visitadas. Para ele, essa é uma tendência internacional go vernos, aos ministérios, especifi ca- pelo qual passou, devido a um investi- prossiga é fundamental que tenhamos em toda a Ásia, sobre a qual se apoia mente, por isso esse aporte diplomático mento maciço em educação e, em espe- também um parque tecnológico, porque grande parte do desenvolvimento recen- Comitiva da é importante para se conseguir um espa- cial, nas engenharias, que contribuíram aí essa interação mais direta com as te do continente. Nessas universidades, ço”, diz Liane Hentschke, secretária de para o crescimento de várias indústrias empresas vai acontecer com uma pos- há uma crescente internacionalização UFRGS visitou Relações Internacionais da UFRGS, que de ponta no setor eletrônico (Samsung, sibilidade de sucesso maior”. do corpo docente (50% dos professores des taca o “apoio ímpar” das representa- LG), automotivo (Kia, Hyundai) e na- O regimento do parque tecnológico em Cingapura são estrangeiros); na países asiáticos ções do governo brasileiro no exterior. val. Cingapura é um país que depende está em sua versão final e deve ser China e na Coreia do Sul, o inglês é de Além do contato com as instituições de fortemente de sua indústria de alta tec- encaminhado em breve aos conselhos uso corrente na pós-graduação e mesmo para fortalecer ensino, as embaixadas auxiliaram na nologia, da qual a engenharia também superiores da Universidade. O início em alguns módulos da graduação. logística da viagem, como no transporte é um importante alicerce. A China está das atividades está previsto para 2011. Esse compromisso das instituições parcerias de um local a outro, por exemplo. prestes a se tornar a maior economia O reitor cita o exemplo de outras uni- asiáticas com a internacionalização é A UFRGS foi a primeira univer- mundial, tendo a engenharia também versidades – públicas e privadas – para visto por Liane como exemplar para No final do mês de outubro, a sidade brasileira a fazer uma visita um papel de grande relevância”. as quais a implementação do parque a UFRGS. Até o momento, as princi- UFRGS enviou uma missão à Ásia. Du- institucional a Cingapura. Há dois Fazendo uma comparação entre tecnológico signifi cou um “ganho de pais colaborações com universidades rante os dez dias de viagem, a comitiva anos, o Ministério da Ciência e Tec- o cenário brasileiro e o do continente escala” na interação com empresas. daquele continente se deram na área de esteve em três países daquele continente nologia (MCT) acertou um termo de visitado, o reitor diz que “no Brasil, idiomas. Segundo ela, os resultados da – Coreia do Sul, China e Cingapura cooperação científi ca com o ministério nunca houve tanto recurso para ciência, Internacionalização – A missão à Ásia recente missão servirão para estender – e visitou catorze universidades, três equivalente daquele país. De acordo com tecnologia e inovação como temos hoje. representou um marco importante para o âmbito das cooperações. “Temos parques tecnológicos e oito outras en- informações da Embaixada do Brasil em O investimento, nos últimos anos, já está o processo de internacionalização da que situar nossa marca internacional- tidades, incluindo centros de pesquisa Cingapura, os acordos assinados pela na faixa dos bilhões. Mas ainda falta UFRGS. Segundo Liane Hentschke, o mente. O importante é trabalhar a e empresas privadas. Foram assinados UFRGS com a Nanyang Technological um envolvimento maior das empresas sucesso da missão está nas várias parce- cultura da internacionalização dentro diversos acordos de cooperação com University (NTU) e a Agência de Pes- privadas, além do aumento do número rias de mobilidade acadêmica fechadas da UFRGS. Até hoje, a cooperação era universidades da região. Entrevistados quisa A*Star são os primeiros resultados de engenheiros formados. Talvez essas principalmente nas áreas de tecnolo- feita entre professores. Agora, estamos pelo JU, os quatro representantes da concretos dessa parceria. sejam as maiores diferenças entre o gia, engenharias, idiomas, medicina, trabalhando para institucionalizar a UFRGS que estiveram na Ásia afi rma- desenvolvimento asiático e o brasileiro”. agronomia e veterinária. “A Ásia hoje internacionalização”, defende. ram que a viagem foi um sucesso. Para Tecnologia de ponta – O diretor do Flávio Wagner destaca que na via- é estratégica, uma vez que, em termos Carlos Alexandre Netto vai além: a comunidade acadêmica, o resultado Instituto de Informática, Flávio Wagner, gem também foi possível observar a globais, os países asiáticos são alguns argumenta que a internacionalização mais imediato é o acerto da instalação diz que a viagem permitiu confi rmar o relação próxima que as universidades de dos grandes responsáveis pelo desen- deverá se tornar o quarto pilar da uni- do Instituto Confúcio, mantido pelo nível de excelência de algumas institui- ponta mantêm com empresas privadas volvimento econômico, principalmente versidade, complementar à tradicional governo da China. Trata-se de um pro- ções de ensino superior do continente, a partir de seus parques tecnológicos. a China, a Coreia, com um enorme tríade formada por ensino, pesquisa e jeto semelhante aos Institutos Goethe, algo já sabido por conta das posições que “Em muitas universidades que visitamos desenvolvimento tecnológico, e também extensão. Uma de suas maiores satis- de idioma alemão, e Cervantes, de es- elas ocupam nos rankings das melhores existem parques tecnológicos dentro ou Cingapura, que é um parque de pesqui- fações durante a visita, foram os encon- panhol, que visam à difusão da língua do mundo: “Pudemos constatar in loco em volta, com empresas fortes, sejam sas muito importante. A UFRGS, uma tros com estudantes da UFRGS: “Foi e da cultura desses países. o avanço que as universidades asiáticas elas internacionais, atraídas para essas vez se propondo à internacionalização, importante não apenas por ver que eles “Essa foi a primeira missão da tiveram no cenário mundial. Conver- áreas, ou locais que se desenvol veram. É precisa visitar esses espaços e estabelecer estão bem, como também por ouvir UFRGS a instituições de ensino e de sando com as pessoas e visitando os perfeitamente natural a interação entre cooperações”, observa. das universidades a apreciação positiva pesquisa em países asiáticos. No geral, laboratórios, vimos que os governos as universidades e as empresas”, afi rma. A missão ao Oriente é também um do trabalho deles. Nessas universidades foi um sucesso. Conseguimos estreitar daqueles países estão fazendo investi- Na visão do reitor, a constatação do sinal da expansão da área de interesse eles estão tendo um papel diplomático, parcerias já existentes, principalmente mentos fantásticos em ciência e tecno- sucesso do modelo de interação com as da Universidade. Historicamente, a levando a cultura do Brasil e, através de com instituições coreanas e chinesas, logia e no ensino superior”. empresas privadas, na Ásia, confi rma UFRGS estabelecia parcerias com seu sucesso acadêmico, conquistando e trouxemos propostas de acordo com De acordo com Carlos Eduardo o acerto da aprovação, pelo Conselho instituições de ensino da Europa e das o interesse dos jovens de lá pela nossa muitas outras instituições”, afi rma o Pereira, vice-diretor da Escola de En- Universitário, em abril deste ano, da im- Américas. Nos últimos anos, vem tra- Universidade”. reitor Carlos Alexandre Netto. genharia, “nos três países visitados, a plementação do Parque Tecnológico da balhando também com universidades engenharia é considerada estratégica UFRGS. À época, a decisão gerou con- da África e da Ásia. Ajuda das embaixadas – “Foi funda- para o desenvolvimento econômico, trovérsia. “Temos, no mercado, vários O professor Flávio Wagner se im- João Flores da Cunha e Fernando Costa, mental contar com a colaboração das social, tecnológico e científi co. A Coreia produtos que foram desenvolvidos em pressionou com o processo acelerado estudantes de Jornalismo de Fabico TITO OLIVEIRA\DIVULGAÇÃO 15 cou fi ULTURA C Na parte do seminário dedicada “Nelson era um bonachão... Eu o Um autor para uma atriz às adaptações das peças do dramaturgo para o cinema, a atriz Darlene Glória roubou a noite. Ela interpretou a prostituta Geni no Castigada, Nudez Será longa Toda dirigido por Arnaldo Jabor em “Nelson era considerado 1973. um maldito, boca suja, horroroso. Mas eu o acho fantástico, porque abriu a cortina e botou a hipocrisia na luz. Nunca vi um caretão maior do que aquele homem. Ele era sem graça pessoalmente: era um sapo, fumante louco. Mas era demais, não dava nada amigo, sabe? Você por ele, vivia naquela janela da avenida Atlântica”, conta Darlene sobre o autor que mudou a sua vida. reverenciava e ele falava muito bem de mim, me elogiava para o Jabor. Por muitas vezes quis que eu fosse à casa dele. Nunca fui por pura a honra de ter sido timidez. Tenho premiada com a Geni, por Jabor ter errado e me trazido para esse naquele momento,projeto e por, ter vivido toda a bagagem de dor que trouxe à Geni e ali ter mostrado que era atriz. É um papel que eterno.” Darlene, que atualmente mora em Nova Iorque, diz que Toda Nudez às vezes passa em ciclos de cinema de arte na Big Apple. A é ele se em casa sentiu é ele Na última noitedo semi- –

NIVERSIDADE | NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2010| DE 2010| E DEZEMBRO | NOVEMBRO NIVERSIDADE U Conforme Ruy, isso criou no au- no criou isso Ruy, Conforme tor certator ojeriza ao intelectualismo, contracul- carapaça uma formando tural. isso, ao escrever a coluna Por vida como ela escrevendo para jornal uma crônica crônica uma jornal para escrevendo todo o dia, contando uma história de podia ele adultério da Zona Norte: “Aí dar vazão ao anti-intelectualismo dele. a dar então, começou, essasNelson declarações quando de que Vestido fez não sabiade Noiva, nada de teatro, mas não era dez verdade, anos antes era ele um intelectualmente”. pretensioso Tragédias nário, a professora Reginanário, a professora Zilberman A tragédiaabordou em Senhora dos Afogados. Segundo ela, o título do espetáculo se refere à importância da simbologia o mar que tem na peça, um de aniquilaçãosendo fator das per- se destroem. “Então nele que sonagens é uma de dissolução forma do sujeito. umaHaveria recorrência, à qual Flávio Aguiar faz referência em uma inter- pretação de Senhora dos Afogados, ao fato de que essa personagem ma, personagem que morre se chama Moe afogada poema no de Santa Rita Durão A peça estreou Rio no (Caramuru).” de dividiu-se:Janeiro A plateia em 1954. Bur- uma parte a de gênio, chamou Nelson “Burros! palco: do reagiu,outra O autor gritou “tarado”. vociferando Ironicamente, uma de suasros!”. frases mais conhecidas, ficou para que as décadas a bur- posteriores, “Invejo foi rice, é eterna”. porque ORNAL DA DA ORNAL J sticação essa sticação co, de taradoco, e – Para o biógrafo Breno Ketzer Saul ca sticação intelectual. Sofi apoiando as perseguições...”. Carpintaria teatral Carpintaria dos anos ao longo perdendo foi que a ver na medida 1940, começou em que pela própria eraque incompreendido crítica. A crítica de teatroestava no à altura Brasil não de Nelson e passou mais chamando-o tempo de nos anos 1940 pornográfi de imoral, Ruy Castro,Ruy Rodrigues Nelson “sabia entre burropra de carpintaria 1930, teatral”. Ruy de década na que, contou fun- em sanatório ao vindas e idas as ção de uma tuberculose, foi Nelson repórter do jornal O Globo: Municipal.ópera O diretor Teatro no “Ele cobria a dentro para colocando-o adorava, o toda hora. Assistia aos ensaios das co- xias e aprendeu comolista funcionava O jorna sa do teatro dentro”. por a coi- peças, primeiras suas “Nas destaca: so- grande de homem um era Nelson fi Ele é o dramaturgo mais importante do Brasil até hoje, foi transformador. A partir dele, o teatro brasileiro se modifi

, ), do A vida Inteligência – O professor – O professor . “As rubricas do . “As O óbvio ululante – Em seguida à exposição ccionista, um cultista, um um cultista, um ccionista, o cronista, que manteve nesta de tentar xei ideia estudar Luiz Arthur se ateve a um dos cativas retardar e de, exemplo, por rmou o professor. O pesquisador rmou o professor. Nelson na obra teatral são maravilho- são teatral obra na Nelson sas, dá vontade de mantê-las inclusive texto próprio do espetáculo.no E por são feitas elasque são tão boas? Porque ouvidas serem pra mas público, pelo eraele um fi romancista, de folhetins. um autor Nas Nelson de lado esse aparece rubricas, o narradorcom falando parênteses nos iluminarpra a trajetória do diretor e numa montagem.” dos atores maiselementos fortes das narrativas rodrigueanas: traço “Um o subúrbio. naturalista teatro no se encontra que evocação poderosa essa é Nelson do social. essa Essa minúcia, ambiente do deve se vida da reportagem da precisão à experiênciamuito jornalística dele, jornal no adolescente começou que que pertencia da ao pai Manhã].” [Correio as de teatro encenou O professor Hora fictícias histórias da coluna Última Jornal no como ela é diariamente da con- década “Os ao longo de 1950. tos eram chamados crônicas, mas na a formarealidade, pensar, for se a gente literária mais muito corresponde à muito São relatos do conto. forma que atualidade, da estruturados bem falam de crimes, adultérios, suicídios. São tragédias do cotidiano dos su- cariocas.búrbios Essa expressão tão naturalistatipicamente de colher uma fatia de vida era nada mais um do que de partidaponto para a imaginação. cores relatos aos imprimia Nelson fortes.” muito melodramáticas ensaísta ou Cronista UFRGS da Brasileira Literatura de Luís Augusto dedicou Fischer o seu aos livrosdoutorado de crônicas de ( A cabra vadia e O reacionário qual resultou a obra com dor – Nelson Rodrigues ensaísta Ele discutiu 2009). os (Arquipélago, em sua pesquisa,gêneros atribuindo caráter um dramaturgo do textos aos ensaístico. é um “Nelson frasista maravilhoso, tem um muito humor peculiar é muito tempo e ao mesmo ferino. Mas é discreto. não dá A gente gargalhada ri mais a gente ele, com a barriga”, com do que o cérebro com afi de um o autor a ler começou que relata frase saborosa, íntimo: jeito “Aquela o ritmo de texto sensacional, aquela capacidade tem de ao mesmo ele que dizertempo frases fortes muito e sig- nifi a ação. Ele consegue fazer essa mistura realmente de um singular. jeito Então fi eu me Rodrigueso Nelson cronista”. maneiras de acessar o personagem – tanto para o diretor para como o comenta.ator”, Naturalismo de Ramiro Silveira, aposen- o professor tado do Instituto de Artes da UFRGS Luiz Arthur a palestra Nunes proferiu O melodrama e o naturalismo no teatro Rodrigues Nelson de a ca”, ca”, Flor de de Flor Com ar ar Com – Para abrir a pro- de Nelson a Vida co:

: esse genial, eu acho é virando-se de costas, com nervosa como compete a uma , sobre a vida, sobre e a obra do com intransigência brinca- com intransigência ,

, como que fugindo a um contato , . Para esse de o diretor, colorido Na primeira rodada de palestras, palestras, de rodada primeira Na O anjo pornográfico cele- já foi especial da e data da função Em m da tarde de dezembro do dia de 21 Caroline da Silva Literatura do cronista e Trinta anos da morte Rodrigues dramaturgo Nelson das letras das O craque gramação, convidado o jornalista foi e escritor Castro, Ruy da biografi autor repelente diz Ketzer Breno de Saul, coordenador Artes Cênicas da Prefeitura. Para ele, em de Noiva, de Vestido a montagem de Rio do emblemática: foi dezembro de 1943, Municipal início“Deu ao moderno teatro nacio- Teatro No nal. Janeiro, o diretor Ziembinski polonês umafez concepção artística elaborada o segundonesse foi que texto encenado Antesde Nelson. disso, era somente uma promessa. Depois, tudo mudou, até tornar-se referência em nosso teatro”. Flor de obsessão O Anjo Pornográfi Rodrigues, lançada pela Cia 1992 em das Letras. seguiu O evento três por a realização com noites, de mesas- encenações por precedidas redondas de peças do autor. o diretor de teatro Ramiro Silveira os seusfalou experimentos sobre ao seu o Para levar Rodrigues Nelson para os pal- autor. Toda do cos, afirmando ter trabalhado com elegeu textos os todos Londres, em mestrado SeráNudez Castigada e também che- como cita em de Noiva Vestido a montar gou Ramiro Noruega. na Oslo, qualidades rodrigueanas o leque de palavras conseguia Nelson que buscar riqueza para adjetivar uma estados emocionais de de “É personagens: suas citar para Só fantástica. vocabulário de alguns: misteriosa, excitada, sardônica, obstinada, doce, cética, apaziguadora, saturada, aí e por vai”. Ele também nas presentes rubricas as comentou peças, como dengue lhona obsessão polêmico e fascinante “Ele autor. é o dramaturgo mais importante transformador. foi A partir hoje, até do Brasil dele, o teatro brasileiro se modifi biografia, foi enredo de escola de de escola de enredo Ganhou formas. diversas de brado foi biografia, samba carioca. A sua contribuição para a dramaturgia nacional é incon- assimtestável, para como as áreas da literatura e do futebol. Justamente no fi obteria em que o êxito1980, de somar esportiva, loteria num na treze pontos “bolão” seu irmão com Augusto e al- guns amigos do jornal O Globo. representatividade para o teatro, a Prefeitura Alegre, de Porto via Coor- em denação de Artes Cênicas promoveu da Secretaria Cultura, da Municipal maio deste ano o seminário noiva rubricas é interessante quando se fala de experiência de direção. “ a criação de uma imagem para adje- umativar, bela de uma as pista sobre de sonâmbula de 16 | JORNAL DA UNIVERSIDADE | NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2010 CULTURA

Há muito tempo nas águas da Guanabara O dragão do mar reapareceu JU indica Na fi gura de um bravo marinheiro Leituras críticas sobre Maria da Conceição A quem a história não esqueceu Tavares

Conhecido como o Almirante Negro Juarez Guimarães (organizador) Editora Fundação Perseu Abramo/Editora Tinha a dignidade de um mestre sala UFMG Coleção Intelectuais do Brasil R$ 28 (valor médio)

Maria da Conceição Tavares é uma das maiores economistas que o país já Chibata vencida teve e, segundo o organizador desta obra, José Antônio“ dos Santos* cendentes da senzala, o que se revelou um engano, solitária subterrânea em que estavam. Ele foi trans- a maior viva. Nascida em Portugal, eles adquiriram autonomia na realização das tarefas ferido para o Hospital Nacional de Alienados com a fugiu de sua terra natal logo no início da nos vasos de guerra. alegação de distúrbios mentais. O psiquiatra baiano ditadura salazarista e veio para o Brasil. Assim começa a letra original, sem a censura do A revolta dos marinheiros contra os castigos Juliano Moreira (1873-1933), diretor do hospital, Herdeira da tradição do pensamento de regime militar, composta em 1973 por João Bosco corporais, entre os quais a chibata, ocorrida na noite atestou que o marinheiro estava em plena sanidade. e da Cepal, construiu sua e Aldir Blanc. Eles reverenciavam João Cândido de 22 de novembro de 1910, foi o desfecho do que Novamente preso, ele passou a ser defendido por carreira acadêmica na Unicamp, onde Felisberto, nascido em Encruzilhada do Sul, na Serra vinha se desenhando há algum tempo. Seis dias advogados contratados pela Irmandade do Rosário teve como alunos Dilma Rousseff e José do Herval (hoje Dom Feliciano), em 24 de junho antes, o marujo de 2ª. Classe Marcelino Rodrigues, dos” Homens Negros do Rio de Janeiro. Evaristo de Serra. Aos 80 anos, celebrados em abril, de 1880. Ele entrou na Escola de Aprendizes de depois de ser surpreendido ao levar duas garrafas Moraes (1871-1939), um intelectual carioca, foi o segue pensando o Brasil do ponto de vista Marinheiros de Porto Alegre em 1894, um daqueles da “nacional” para o navio e ferir o denunciante, foi principal advogado a abrir mão do pagamento na econômico com a abordagem humanista, jovens recrutados e alistados à força, depois de condenado a 250 chibatadas. Foi o estopim para a defesa do “almirante”. que é central em sua obra. acusados de vadiagem, jogatina ou mendicância. revolta que se daria ao toque de recolher do encou- A liberdade foi conquistada passados mais de As Leituras Críticas consistem em Os aprendizes permaneciam internados por cerca raçado Minas Gerais, às 22 horas. Tão logo soou o dois anos da revolta. João Cândido Felisberto foi artigos de Ricardo Bielschowsky, Emir de dois anos, período em que eram alfabetizados e sinal nas águas da Baía de Guanabara, os canhões expulso da Marinha de Guerra e se viu jogado no Sader, José Carlos de Souza Braga e Maurício Borges Lemos, além de uma preparados para o ofício. foram guarnecidos por marujos dispostos a atirar anonimato sem qualquer indenização, mesmo entrevista com Conceição Tavares. Os Em 1908, como marinheiro de 1ª. Classe, João ao menor sinal de impedimento ao levante. com 17 anos de serviços prestados. Morreu, em 6 estudos abordam diferentes aspectos Cândido foi enviado para acompanhar a frota que Tudo se seguiu conforme o combinado nas de- de dezembro de 1969, ao lado do mar, distante da da obra da autora, valorizando a se construía na Inglaterra e iria colocar o Brasil mais embarcações (São Paulo, Bahia e Deodoro) que Marinha e da sua terra, pobre como nasceu. sua capacidade analítica e o caráter entre as três maiores forças marítimas do planeta. apontaram seus canhões para a capital e exigiram: Desde o início, a música “Mestre-sala dos mares” heterodoxo de suas ideias. Ainda que, Para os ofi ciais a Armada ou Marinha de Guerra, maiores soldos, o fi m dos castigos físicos, anistia passou a ser cantada como um hino ao “Almirante por vezes, o texto seja denso e técnico era o palco da elite militar, extensão do elitismo dos revoltosos e melhores condições de trabalho. Negro, que tem por monumento as pedras pisadas demais – especialmente no último artigo latifundiário dos antigos escravocratas, reduto dos O recém-eleito presidente da República, marechal do cais”, uma das poucas lembranças que se tinha –, o livro é uma boa opção não só para os fi lhos dos coronéis. Ainda se vivia sob o signo das Hermes da Fonseca, que festejava a sua posse no da sua história. Em 2008, ele foi anistiado post mor- familiarizados com o assunto, mas também falsas ciências do século XIX, em que as “raças” Clube Tijuca, voltou às pressas ao palácio e se reu- tem, junto com os demais revoltosos, pelo Governo para leigos que quiserem entender um se organizavam como uma pirâmide – no topo niu com o ministério. Ao amanhecer a população Federal. Também foi nesse ano que teve inaugurada pouco mais sobre economia. A obra traz estavam os brancos europeus e seus descendentes, em polvorosa comentava com alarde a rebelião – a sua estátua, agora sim um verdadeiro monumento, ainda uma bibliografi a completa, listando na base os negros, indígenas e mestiços. Esses eram quem podia deixava a cidade em direção à serra ou em sua homenagem no antigo Palácio do Catete a produção intelectual da economista. a maioria dos marinheiros, tratados com castigos ao subúr bio com medo do bombardeio. Os mais (hoje Museu da República). Colocado de frente para De fato, como afi rma o organizador da corporais, baixos salários e péssimas condições de curiosos subiam os morros para ver os imponentes a Baía de Guanabara, guarda os jardins do palácio publicação em seu prefácio, “talvez o maior trabalho. navios fundeados na Baía. Os militares e o governo que há cem anos esteve sob a mira dos canhões que mérito deste livro esteja simplesmente em A experiência de viver na Europa por dois anos tentaram de todas as formas resistir ao ultimato, comandou. Como um enredo de carnaval, a sua iluminar o caráter clássico de uma obra que mexeu com os marujos. Segundo memórias de um mas a superioridade dos marinheiros não deixou história pode ser contada com atributos de coragem continua”. (João Flores da Cunha) comandante, “lá sofreram as piores infl uências dos alternativa. Depois de cinco dias de negociações, e “dignidade de um mestre-sala”, legados que deixou centros anarquizados pelas ideias subversivas de um foram atendidas as exigências, embora o acordo não na luta em defesa dos direitos humanos. liberalismo mal compreendido”. Para se adaptarem passasse de uma estratégia para pôr termo à revolta. O que se passa na cabeça às novas embarcações e manusearem os modernos A vingança do governo e dos ofi ciais da Marinha dos cachorros e outras mecanismos, obtiveram conhecimentos técnicos não tardou. João e mais 17 companheiros foram *Servidor do Departamento de Educação e aventuras que elevaram a moral e a autoestima. Embora fos- presos no Batalhão Naval, 16 morreram na cela Desenvolvimento Social da Prorext sem vistos pelos ofi ciais como toscos e rudes des- infestada de pó de cal, usado para “desinfetar” a e doutorando em História na UFRGS Malcolm Gladwell Sextante, 2010, 400 págs. R$ 40 ( valor médio) DIVULGAÇÃO Deliciosa coletânea de textos que o autor publicou desde 1996 em sua coluna na revista The New Yorker. Gladwell reúne aqui tentativas de entender o ponto de vista do outro, tão importante quanto o nosso em qualquer diálogo. A história que dá título ao livro, por exemplo, acompanha as experiências de César Millan, apresentador do programa de TV a cabo “O encantador de cães” que se especializou em resolver problemas de comportamento canino. No mais das vezes, o maior problema são os próprios donos que, não sabendo como disciplinar seus animais de estimação, permitem que eles literalmente ditem as regras da casa. Ao analisar as razões do controle de Millan sobre esses animais, Gladwell mostra que tudo passa pela linguagem corporal desenvolvida pelo apresentador, capaz de transmitir calma e confi ança ao mais indisciplinado dos cães. Oriundo do interior do México, onde passou a infância e a adolescência observando o modo de agir dos cães na fazenda de seu avô, Millan intuiu algo fundamental quanto ao relacionamento entre humanos e seus fi éis companheiros: a humanização desses animais só difi culta o convívio, impondo sacrifícios a ambas as partes. Isso é mais verdadeiro ainda em uma sociedade como a norte-americana, em que muitos donos tratam seus cães como crianças. (Ânia Chala) Estátua de João Cândido Felisberto, situada junto ao Museu da República, homenageia o líder da Revolta da Chibata JORNAL DA UNIVERSIDADE | NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2010| 17 CULTURA A música do corpo EMILIANO DANTAS/DIVULGAÇÃO Unimúsica pessoas aprendem fazendo som com o corpo. E quando você aprende assim, não só teoricamente, Naná Vasconcelos você nunca vai esquecer, porque o seu corpo vai se lembrar”, revela. Trata-se da noção de música encerra a edição deste orgânica, segundo a qual “o melhor instrumento é o corpo”. Naná não considera que uma forma ano, apresentando de aprendizado musical é melhor do que outra – a teórica e a prática –, visto também o seu esforço de as nuances da sua ligar o erudito ao popular. A ideia de conceber os ritmos de uma maneira percussão a partir mais orgânica surgiu na década de 1970, quando da ideia da música o músico descobriu a possibilidade de compor só com o corpo por meio do trabalho psiquiátrico orgânica com crianças francesas que tinham difi culdades de coordenação motora. “Fiquei pensando em como utilizar a música pra ajudar as crianças a vencer Naná é apelido dado pela mãe. O nome verda- com o corpo, coordenando movimentos, batendo deiro é Juvenal de Holanda Vasconcelos. “Não vá palmas, batendo pé”, conta. Coincidentemente, divulgar este nome”, comenta o músico entre risos. na mesma época, estava compondo a história de O Naná surgiu da abreviação de Juvenal, que em Zumbi dos Palmares. Foi então que decidiu pela uma pequena alteração de pronúncia assemelha-se composição totalmente orgânica, priorizando ao nome da mais respeitada orixá, Nanã, senhora a imaginação sobre a primeira vez que o corpo das águas. O percussionista com nome de orixá africano chegou ao Brasil. sobe ao palco do Salão de Atos da UFRGS no show Neste contato com as crianças, ele percebeu de encerramento do Unimúsica no dia 2 de dezem- a importância de transmitir informações sobre a bro, misturando folclore, ritmo e criatividade. natureza que eram desconhecidas fora do Brasil, No último espetáculo da contagem regres- uma vez que lidava com alguns instrumentos, siva proposta pelo projeto para este ano, Naná se como o e a cabaça. Mesmo utilizando apresenta sozinho. Ou melhor, com a banda inteira O percussionista pernambucano se apresenta no Salão de Atos no dia 2 de dezembro instrumentos, Naná emprega a noção de organici- que tem dentro de si. Em entrevista ao Jornal da dade, já que ele mesmo os produz ou tenta conhe- Universidade, falou sobre como a intuição serviu A miscigenação em termos musicais ocorrida no Independentemente da preocupação com a cer as pessoas que os confeccionam. Assim, ele ao seu trabalho musical na adaptação das suas nordeste, segundo Naná, em que a música dos letra, o que Naná explora em seus concertos é procura colocar o percussionista em contato com sonoridades aos momentos culturais que viveu africanos foi recebida e reinterpretada agregando a mistura e a miscigenação próprias da música a própria riqueza natural, que em nosso país é tão dentro e fora do país, nunca esquecendo de suas instrumentos de outras culturas, é um fenômeno brasileira, naquilo que ele chama de extremo abundante. Seus trabalhos mais recentes lidam raízes nordestinas, da sua identidade musical muito particular. Instrumentos que vieram de som: “É misturar a musica do Sul à do Nordeste, com a infância e o folclore, como o projeto Língua brasileira e dos ritmos do próprio corpo. partes diferentes da África, e que nem existem o vanerão com o forró, o chamamé com o xote. Mãe, que uniu crianças de três países de língua mais hoje, encontraram-se ali e compuseram Dessa junção de sons dos extremos sai uma terceira portuguesa – Brasil, Angola e Portugal – para Miscigenação musical – A ligação com a cul- novos ritmos. “A minha região é muito rica no coisa muito bonita, que representa o Brasil”. cantar canções folclóricas. É um desdobramento tura de Pernambuco e, de uma maneira mais sentido dessa mistura e foi um conservatório de O percussionista acredita que a maior riqueza do projeto anterior, ABC Musical, de iniciação geral, do Nordeste, é responsável por boa parte informação musical incrível. É até hoje”, comenta. do nosso povo é a intuição, e foi através dessa musical com alunos de escolas públicas do país. do direcionamento dado ao trabalho musical de Para o músico, acaba tornando-se mais fácil o ideia que ele percebeu que poderia encaixar a sua Dando uma prévia da ofi cina gratuita que irá Naná Vasconcelos, inclusive no que diz respeito à reconhecimento do percussionista fora do Brasil do musicalidade no contexto internacional. Em seus realizar no dia 1.º de dezembro no Salão de Festas opção pela careira solo, mesmo que ela tenha se que dentro do país, ainda que a percussão brasileira espetáculos, procura compor cenários brasileiros da reitoria, Naná comenta que não é necessário fi rmado basicamente no cenário internacional. seja mundialmente famosa por sua qualidade. por meio das sonoridades. Uma herança da mu- levar instrumentos, nem mesmo ser músico percus- Admitindo a difi culdade de ser solista no trabalho “Isso é porque aqui tudo vira percussão: caçarola, sicalidade de Vila- Lobos, que valorizou a música sionista. “Bailarinos, dançarinos, atores... Qualquer com instrumentos não melódicos, ele percebeu panela, qualquer coisa. Lá fora, eles não têm tanto folclórica do Brasil, traçando-a sinfonicamente de pessoa pode descobrir de forma divertida sons que que poderia embrenhar-se por esse caminho por esse costume.” O motivo do pouco sucesso no maneira a suscitar imagens mentais. talvez nunca imaginasse que conseguiria fazer com volta dos anos 1970, época em que morava em contexto brasileiro seria a forte ligação do público os pés, as mãos e a voz simultaneamente.” Sobre Paris. Naná já havia passado pelos Estados Unidos com a questão da letra. Públicos internacionais Música orgânica – A experiência de apresentar-se o que o público de Porto Alegre pode esperar do quando intuiu que poderia explorar o que tinha de estariam mais acostumados à música instrumen- com orquestras de música erudita vai ao encontro espetáculo de dezembro, Naná responde que será particular em relação aos músicos internacionais tal. “A bossa nova fez sucesso nos Estados Unidos do prazer de Naná Vasconcelos pelo desafi o, uma uma grande celebração, e que todos vão construí- com quem trabalhava. sem ninguém entender o que João Gilberto estava vez que sua linha de raciocínio musical tem um la juntos: “A plateia vai ser uma grande orquestra”, Nesse ponto, a formação musical no seu lugar cantando, porque a riqueza melódica era imensa”, sentido mais desligado da partitura, da teoria, conclui. de origem exerceu grande infl uência: “Eu tenho exemplifi ca, acrescentando que os movimentos e volta-se para a prática pelo entendimento dos conhecimento da riqueza folclórica do meu país, da musicais brasileiros foram mais poéticos do que ritmos através do corpo. “Todos os ritmos estão Mariana Sirena, estudante do 8.º semestre mistura que compõe a minha identidade”, explica. melódicos, como o Tropicalismo. entre um passo e outro. Essa é a minha tese: as de Jornalismo da Fabico

No tom FLÁVIO DUTRA/JU

á tempos, a cultura popular fornece a rítmica da Amazônia não haviam sido o também percussionista Mimo Ferreira e vasto material para a experimenta- devidamente registradas, experimentadas e o compositor e intérprete Ângelo Primon,, Hção artística. Ritmos e instrumen- difundidas, como já ocorrera com a música que acompa nhou o trio com viola e rabeca. tos musicais tradicionais de comunidades carioca e a nordestina. Sobre a infl uência de seu trabalho no inteiras sobrevivem no mundo moderno Assim surgiu o Trio Manari, grupo fortalecimento da identidade do norte somente pelo registro histórico e pelas apro- voltado para o estudo das sonoridades e brasileiro, Nazaco diz: “A gente quer priações estéticas de artistas engajados em dos instrumentos percussivos próprios da representar a música do Norte, porque preservar e difundir as “raízes populares” região amazônica. Contemplado com uma quanto mais a região estiver coesa, mais das culturas nacionais. Essa tendência se verba simbólica de 15 mil reais do Instituto vai poder mostrar sua produção para concretiza no trabalho dos percussionistas de Artes do Pará, o trio empreendeu uma vários lugares do Brasil”. Ao fi m do espe- Márcio Jardim, Nazaco Gomes e Kleber pesquisa audaciosa pelos braços do rio táculo, Kleber proferiu um belo manifesto Benigno, o Trio Manari, que se apresentou Amazonas, que resultou no primeiro CD, em defesa da miscigenação e da cultura no dia 7 de outubro, no Salão de Atos pelo com o título mais que apropriado de Bra- popular brasileira. projeto Unimúsica. ços da Amazônia. “Não somos um grupo O trio está para assumir responsabi- Em 2000, quando integravam a banda folclórico, somos um grupo de percussão. lidades na área de incentivo cultural com Percussão Brasil, os três participavam de Fazemos um ins trumental mais contem- a criação de um instituto em Belém. O uma apresentação em Montreal quando porâneo, mas sem perder a nossa essência”, Instituto Tribo Manari vai oferecer ofi - perceberam que a música amazônica observa Kleber. cinas para a formação de novos artistas. despertava no público mais interesse que O virtuosismo do Manari fascinou o pú- os ritmos brasileiros mais conhecidos no blico que lotou o Salão de Atos. O show teve Fernando Costa, estudante do 6.º exterior. Aí a fi cha caiu: a sonoridade e a participação de dois músicos convidados: semestre de Jornalismo da Fabico 18 | JORNAL DA UNIVERSIDADE | NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2010 AGENDA Redação Caroline da Silva | Fone: 3308-3368 | Sugestões para esta página podem ser enviadas para [email protected]

CINEMA Vertentes do (Brasil, 1954, 90min), de marido a está traindo e exterminar um bando DESTAQUE cinema brasileiro resolve vingar-se. de jagunços, Antônio das Mortes encontra Sessões: 9 de dezembro, Sessões: 17 de estranhos personagens. Ciclo da Sala Redenção 19h; 10 de dezembro, dezembro, 19h; 20 de Sessões: 29 de traz títulos nacionais com 16h dezembro, 16h dezembro, 19h; 30 de entrada franca. No velho oeste, a Exercício no palco pequena City Down AS AMOROSAS dezembro, 16h LIMITE recebe a visita de dois (Brasil, 1968, 100min), ROCHA QUE VOA (Brasil, 1931, 120min), vigaristas atrapalhados. de de Mario Peixoto Universitária vive em Num barco perdido no ESSE MILHÃO É MEU permanente estado de oceano, três náufragos (Brasil, 1959, 93min), de perplexidade e indecisão contam suas histórias. Carlos Manga emocional. Sessões: 1.º de Funcionário é Sessões: 20 de dezembro, 19h; 2 de atormentado pela mulher dezembro, 19h; 21 de dezembro, 16h para que ganhe mais dezembro, 16h dinheiro. AVISO AOS NAVEGANTES Sessões: 10 de PINDORAMA (Brasil, 1950, 113min), dezembro, 19h; 13 de (Brasil, 1970, 102min), de Watson Macedo dezembro, 16h de Arnaldo Jabor Companhia de teatro Paródia do Brasil dos retorna ao país num navio NADANDO EM DINHEIRO anos 70 através do (Brasil, 2002, 94min), de depois de apresentar-se retrato das loucuras Eryk Rocha em Buenos Aires. de nossa formação de Documentário sobre o Sessões: 2 de dezembro, colônia portuguesa. papel dos intelectuais na 19h; 3 de dezembro; 16h Sessões: 21 de dezembro, 19h; 22 de América Latina, baseado nos anos em que Glauber CARNAVAL NA ATLÂNTIDA dezembro, 16h Rocha viveu como exilado (Brasil, 1953, 91min), de em Cuba. Carlos Manga O BANDIDO DA LUZ Sessão: 30 de dezembro, Dois empregados de VERMELHA 19h um estúdio de cinema (Brasil, 1968, 92min), de querem transformar Rogério Sganzerla o clássico Helena de Assaltante usa técnicas Troia numa comédia extravagantes para Projeto Interlúdio e Recitais de Graduação abrem espaço para a música erudita carnavalesca. (Brasil, 1952, 90min), de roubar casas luxuosas Geerge Sessões: 3 de dezembro, Abílio Pereira de Almeida em São Paulo. 19h; 6 de dezembro, 16h e Carlos Thiré Sessões: 22 de Ciclo promovido pelo Homem pobre tem a vida dezembro, 19h; 23 de Grupo da Faculdade de Música é importante para o aluno, além das aulas, a BARNABÉ TU ÉS MEU mudada da noite para o dezembro, 16h Educação que estuda experiência profi ssional da apresentação, o (Brasil, 1952, 90min), de dia ao herdar uma grande relações de gêneros contato com o público leigo. Um exemplo é o José Carlos Burle fortuna. BARRAVENTO e sexualidade. Com Alunos do Instituto de Sessões: 13 de (Brasil, 1962, 80min), de entrada franca, na Sala caso do formando Rodolfo Faistauer, que em Funcionário que Artes fazem prova ao vivo acidentalmente carimba dezembro, 19h; 14 de Glauber Rocha Redenção. 12 de novembro apresentou no Interlúdio um numa das mãos a estrela dezembro, 16h Negro retorna à vila de recital de piano com obras de Bach, Beethoven de David se vê envolvido pescadores onde nasceu JOGO DE CENA O ano de 2010, em que foi comemorado e Chopin, e uma semana depois fez seu recital em grande confusão. SAI DA FRENTE para tentar libertar o povo Sessões: 6 de dezembro, (Brasil, 1952, 80min), da crença no misticismo. o bicentenário de Chopin, ofereceu muitas de conclusão de curso no Instituto de Artes. 19h; 7 de dezembro, 16h de Tom Payne e Abilio Sessões: 23 de opções de música erudita com entrada Conforme Winter, o público do projeto foi Pereira de Almeida dezembro, 19h; 27 de franca para a comunidade acadêmica. Em variado, reunindo em média 60 pessoas por AMEI UM BICHEIRO Humilde motorista de dezembro, 16h caminhão se envolve em oito edições mensais, de abril a novembro, concerto: “Pessoas que estão pelo Câmpus, (Brasil, 1952, 88min), de Jorge Ileli e Paulo grandes confusões. DEUS E O DIABO NA foi realizado, no Câmpus Centro da vizinhos do entorno, alguns servidores que Wanderley Sessões: 14 de TERRA DO SOL Universidade, o projeto Interlúdio. A parceria assistiram sistematicamente”. O docente Jovem ambicioso vem dezembro, 19h; 15 de (Brasil, 1964, 125min), entre o Departamento de Difusão Cultural da estabelece uma diferença entre o público que para o Rio de Janeiro, dezembro, 16h de Glauber Rocha Depois de matar o patrão, Pró-reitoria de Extensão e o Departamento vai aos recitais no Auditorium Tasso Corrêa onde se envolve com o jogo do bicho. TICO-TICO NO FUBÁ vaqueiro e sua mulher de Música do Instituto de Artes da UFRGS do IA e os do Interlúdio: “No Instituto de Sessões: 7 de dezembro, (Brasil, 1952, 109min), vagam pelo sertão, apresentou uma série de recitais de estudantes Artes, são os frequentadores dos saraus, 19h; 8 de dezembro, 16h de Adolfo Celi encontrando um deus (BRA, 2007, 105min), de da Universidade, buscando descentralizar a pessoas envolvidas. No Câmpus Central, Cinebiografi a do negro, um diabo loiro e compositor brasileiro o temível Antônio das Atrizes interpretam produção do IA. a plateia não estuda, mas gosta de música. DE VENTO EM POPA (Brasil, 1957, 102min), Zequinha de Abreu. Mortes. as histórias de vida O coordenador artístico do projeto, o As pessoas se aproximam da Universidade de Carlos Manga Sessões: 15 de Sessões: 27 de contadas por um grupo professor de música de câmara e fl auta através da música”. Dupla sertaneja faz de dezembro, 19h; 16 de dezembro, 19h; 28 de de mulheres. Leonardo Winter, explica os objetivos do Para quem perdeu as apresentações tudo para tocar a bordo dezembro, 16h dezembro, 16h Sessão: 15 de dezembro (quarta-feira), às 19h Interlúdio: “Queremos criar o hábito de do projeto Interlúdio neste ano, a boa de um navio. Sessão: 9 de dezembro, NOITE VAZIA TERRA EM TRANSE frequentar recitais, aproximar as pessoas da notícia é que a intenção é mantê-lo em 16h (Brasil, 1964, 98min), de (Brasil, 1967, 106min), produção artística dos alunos da graduação 2011. Existe ainda a opção de assistir aos Walter Hugo Khouri de Glauber Rocha MATAR OU CORRER Dois amigos contratam Num país fi ctício, em Música. Nos programas, não houve recitais e saraus do IA programados para dupla de prostitutas, jornalista e poeta oscila só música erudita, mas também peças dezembro. Como elucida Leonardo Winter, mas o que seria uma entre forças políticas em CURSOS jazzísticas”. Os concertos foram realizados às que também coordena o Auditorium Tasso noite de prazer acaba luta pelo poder. 12h30min (para contemplar o intervalo de Corrêa, os recitais de fi m de curso são uma se transformando num Sessões: 28 de Existe uma embate verbal. dezembro, 19h; 29 de educação almoço) na Sala João Fahrion e também no exigência acadêmica para a graduação: “Há Sessões: 16 de dezembro, 16h brasileira? Salão de Atos, de acordo com as possibilidades a banca liberatória de recital, composta por dezembro, 19h; 17 de de data do espaço, a fi m de utilizar o piano professores que avaliam a qualidade do que dezembro, 16h O DRAGÃO DA MALDADE O último encontro do Ciclo Steinway da instituição. será apresentado. Não tem trabalho escrito CONTRA O SANTO de Conferências UFRGS O CORPO ARDENTE GUERREIRO (Brasil, sobre Brasil e Brasilidade, O coordenador artístico disse que seleciona porque entendemos que o recital de conclusão (Brasil, 1966, 85min), de 1969, 100min), de organizado pela Pró- os programas pelas propostas recebidas e pelo é o próprio TCC”. O resultado pode ser Walter Hugo Khouri Glauber Rocha reitoria de Extensão, nível do trabalho apresentado. Segundo ele, conferido no palco do auditório. Mulher descobre que o Contatrado para tem a participação da professora Merion Campos Bordas. Data: 8 de dezembro MÚSICA (quarta-feira) Ofi cina com Naná O músico nascido OSPA-UFRGS 2 DE DEZEMBRO Caldas e Leandro Orientação: Fredi Gerling. de Regência Coral Local e horário: Sala João em tem uma Faber. Orientação: Silvia e de Canto Coral. Fahrion, às 18h30min Vasconcelos Entrada franca trajetória de projeção 21.º CONCERTO OFICIAL Carvalho. 20h30min: Recital de Coordenação: Vilson Ofi cina com a atração internacional em que Sob a regência de Graduação em Viola Gavaldão e Jocelei de dezembro do projeto foi consagrado como Manfredo Schmiedt, 19h: Recital de de Gabriel Santos Bohrer. Unimúsica, o renomado um dos mais versáteis Abertura sobre Três Graduação em Violão Polycarpo. Orientação: percussionista percussionistas e Temas Russos, - de Thiago de Campos Hella Frank. 20h30min: Recital de pernambucano Naná difundiu o berimbau pelo de Balakirev, e Kreutz. Orientação: Meio de Curso em Piano ONDE? Vasconcelos. mundo. Naná gravou Scheherazade, op.35, de Paulo Inda. 8 DE DEZEMBRO de Renan Eduardo Stoll. Auditorium Tasso Data: 3 de dezembro com músicos diversos Rimsky-Korsakov. 17h45min: Recital de Orientação: Catarina Corrêa do IA/UFRGS (quarta-feira) como o guitarrista B. Apresentação: 7 de 20h30min: Recital de mestrado em Violino Leite Domenici. Rua Senhor dos Local e horário: Salão de B. King, o violinista dezembro (terça-feira) mestrado em Práticas de Tiago Sabino Ribas. Passos, 248 – térreo Festas, às 20h Jean-Luc Ponty e o Local e horário: Salão de Interpretativas em Orientação: Fredi Gerling. 10 DE DEZEMBRO Fone: 3308-4318 Inscrições: no site www. grupo , Atos, às 20h30min Violão de Eduardo 17h30min: Recital de difusaocultural.ufrgs.br liderado por David Byrne. Ingressos: R$ 20 na 12h: Sarau de Alunos - Vagner Soares Pastorini. 19h: Recital de Graduação em Violão Pinacoteca Barão No encerramento do bilheteria do Salão de Atividade de Extensão. Orientação: Daniel Wolff. Graduação em Canto de Josué Santos Farias. de Santo Ângelo do Unimúsica, sobe ao Atos. Coordenação: Hella de Ricardo Caldas. Orientação: Flávia IA/UFRGS Unimúsica palco acompanhado Frank. 6 DE DEZEMBRO Participação de Ricardo Domingues Alves. Rua Senhor dos por toda uma família 17h30min: Sarau de Caldas e Leandro Passos, 248 – 1.º de instrumentos 19h: Recital Extra Alunos - Atividade de Faber. Orientação: Silvia 19h: Recital de andar percussivos. Recitais de Flauta Doce de Extensão. Coordenação: Carvalho. Graduação em Viola Fone: 3308-4302 Data: 2 de dezembro Vladimir Rodrigues Hella Frank. de Caroline Malinski (quinta-feira) Apresentações dos Soares. Participação 20h30min: Recital de Argenta. Coordenação: Sala Alziro Azevedo Local e horário: Salão de alunos do Departamento de Fernando Cordella, 19h: Recital de Graduação em Violino Hella Frank. Av. Salgado Filho, 340 Atos, às 20h de Música no Auditorium Vinícius Nogueira e Fábio Graduação em Violão de Caroline Hallberg Fone: 3308-4318 Ingressos: distribuição Tasso Corrêa Chagas. Orientação: de César Haas Costa. Frauches. Coordenação: 20h30min: Recital de gratuita na bilheteria do Lúcia Carpena. do Instituto de Artes da Orientação: Flávia D. Hella Frank. Graduação em Violino de Sala Redenção Salão de Atos, a partir UFRGS. Alves. Rômulo Beltrão Sprung. Rua Luiz Englert, s/n.º de 29 de novembro, 20h30min: Recital de 9 DE DEZEMBRO Coordenação: Fredi Fone: 3308-3933 mediante a doação de 1.º DE DEZEMBRO Graduação em Canto 20h30min: Recital de 17h30min: Recital de Gerling 1kg de alimento não de Gabriela Garcia. 19h: Recital de meio Graduação em Viola de mestrado de Práticas Salão de Atos perecível. Orientação: Caroline Emanuel Caramaschi. Interpretativas em Violão O show de encerramento de curso em violão de Av. Paulo Gama, 110 Informações: 3308- Abreu. Coordenação: Hella de Guilherme Sperb. da Série Percussionistas, Josias Gustavo Mueller. Fone: 3308-3066 3034 Frank. Orientação: Daniel Wolff. organizada pelo Orientação: Paulo Inda. 3 DE DEZEMBRO Departamento de Salão de Festas 13h: Recital de 7 DE DEZEMBRO 19h: Concerto das Difusão Cultural da 20h30min: Recital Av. Paulo Gama, 110 Graduação em Canto 19h: Recital de Meio atividades acadêmicas Universidade, apresenta dos grupos corais da – 2.º andar de Ricardo Caldas. de curso em Violino de de Regência Coral - Naná Vasconcelos. Extensão. Coordenação: Fone: 3308-3034 Vilson Gavaldão. Participação de Ricardo Ariel Santos Polycarpo. Recital das turmas

CRÉDITO DAS IMAGENS: DESTAQUE (FLÁVIO DUTRA) / CINEMA (DIVULGAÇÃO) / MÚSICA - UNIMÚSICA (DIVULGAÇÃO) E RECITAIS (FLÁVIO DUTRA) JORNAL DA UNIVERSIDADE | NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2010 | 19 ENTRE NÓS

Meu Lugar Perfi l na UFRGS RAFAELA REDIN/ESPECIAL JU Muito além da academia

projetos: “Tive uma formação que sas circunstâncias. “Meu doutorado foi Rumi Regina hoje pode-se dizer multidisciplinar. ligado a uma situação de confl ito em Durante toda a minha graduação, tra- Maquiné, que envolveu uma planta Kubo balhei principalmente desenvolvendo usada em arranjos fl orais, uma samam- Iniciação Científi ca ligada a genética baia. São áreas de Mata Atlântica e de A pesquisadora em populações indígenas. Depois, encosta em que essa planta ocorre. fala da terminado o curso, em 1989, fui fazer Como a Legislação Ambiental proíbe especialização em genética pensando se plantações, os moradores viram no importância de faria um mestrado na área”. Mas Rumi extrativismo dessa planta uma alter- Entre universos de acabou optando por iniciar um mes- nativa”, conta. O doutorado permitiu a uma formação trado em Etnobotânica, com ênfase em ela desenvolver um trabalho não ape- plantas medicinais e, por essa época, nas acadêmico como também ativista conhecimento distintos interdisciplinar trabalhou como técnica de laboratório junto à ONG Ação Nascente Maquiné da UFRGS. “A Universidade permitiu (Anama): os estudos acabaram por O estudante Vagner Cardoso Vagner ainda não sabe para realizar seus essa possibilidade de transitar entre mostrar que o extrativismo da samam- prefere não denominar a espécie exatamente no que vai trabalhar áreas, porque enquanto fazia o mes- baia sobre o qual residia o sustento da grande árvore que fi ca no pátio após sair da Universidade. “Eu sei do projetos trado, passei no vestibular para Artes da comunidade local era compatível principal da Odontologia. Segundo que eu não gosto, mas a questão é Plásticas na UFRGS. E, paralelamente, com uma noção de sustentabilidade ele, as controvérsias sobre o assunto que gosto de muita coisa, também”, fi z o curso com enfoque em fotografi a”, ambiental. “Esse ativismo [em ONGs] são muitas, e o que importa é o que diz, participando de uma confusão Ela é uma pesquisadora inter- afi rma. permite, na medida do possível, aproxi- a árvore representa para a faculdade: recorrente entre os estudantes. “Uma ilha de tranquilidade no meio Porém, sobre a vontade de graduar-se disciplinar. Em sua sala, no Centro Desde então, Rumi vem contribuin- mar da universidade esses grupos, levar do furacão”, defi ne. Não poderia ser em Ciências Contábeis, mesmo não de Estudos e Pesquisas Econômicas do, como pesquisadora, em trabalhos a eles o que a gente pode produzir. Só outro o lugar na UFRGS escolhido pretendendo trabalhar na área, ele (Iepe), objetos artesanais de várias do Núcleo de Estudos em Desenvolvi- que temos de reconhecer que ainda por Vagner, ainda que ele tenha afi rma que a base dos estudos exatos comunidades tradicionais coexistem mento Rural Sustentável da Mata existe um vão muito grande entre o considerado difícil elegê-lo. “Escolhi permite um raciocínio diferente. Além com livros e revistas de Botânica e Eco- Atlântica (Desma), vinculado ao Pro- meio acadêmico e a realidade dessas aqui porque, além de ter sido o disso, os conhecimentos de direito logia. Essa imagem traduz bem a linha grama de Pós-graduação em Botânica. pessoas. O pouco que a gente conseguiu primeiro lugar que eu vi quando e economia que o curso agrega mestra de toda a trajetória de Rumi Os projetos no Núcleo exigiam que fazer é levar uma pesquisa aplicada a cheguei na Odonto, é um lugar fornecem subsídios para diversas Regina Kubo como pesquisadora desde ela pesquisasse na fronteira entre a um problema específi co”, conclui. desestressante, tem uma sombra análises. “Talvez o meu caminho seja 1985, quando começou a graduação em natureza e as populações humanas. Mesmo tendo uma extensa produção agradável”, explica sentado no banco por aí: pegar duas áreas tão distintas Biologia pela UFRGS: a relação entre o Foi pela necessidade de trabalhar com acadêmica aliada a um forte trabalho de de madeira sob os galhos da árvore. e inserir meu conhecimento numa ser humano e a natureza. Esse campo mais propriedade que Rumi optou pelo ativista, Rumi considera que o meio Quem conhece o cotidiano atividade de que eu goste e em que da Faculdade de Odontologia eu possa ser útil”, conta. de estudo limítrofe entre as ciências doutorado em Antropologia Social. Em universitário ainda é muito resistente à talvez compreenda o porquê da O estudante aproximou-se da da natureza e as da sociedade foi o complemento a isso, também desen- ideia de pesquisadores com formação comparação com um furacão. “Lá Odontologia Social e tem encontrado que a conduziu por meios acadêmicos volveu projetos no âmbito da Antro- interdisciplinar, que dificilmente se dentro é uma loucura, é gente indo nessa área uma possibilidade para o tão segmentados como a Botânica, a pologia Visual, sobrepondo interesses enquadram nas especificidades dos e vindo, é paciente, é professor, é tu seu caminho profi ssional. Ele conta Antropologia e a Fotografi a. de pesquisa em ciências sociais com quadros de disciplinas tradicionais. tentando fugir de um professor pra que, há alguns anos, a Odontologia “Meus pais sempre foram agricul- sua formação anterior em fotografi a. Ainda assim, nas últimas décadas, o que ele não te veja e cobre alguma não tinha a preocupação com a tores; e minha vida, antes de entrar na Nesses trabalhos, ela trata a imagem crescente aparecimento de campos de coisa”, conta o estudante. Ainda população que utiliza o serviço Universidade, foi no interior. Então, como uma forma de conhecimento: pesquisa de interface (como a Etno- que pareça uma área de estresse público. “Isso era uma grande um pouco dessa escolha se deveu à vida “Toda essa parte de abordagem do botânica e a Etnoecologia, no caso de contínuo, a escolha de Vagner pelo contradição, tu estares numa rural, mais próxima da natureza. De- conhecimento no âmbito da cultura Rumi) é um fato inegável, e a academia curso foi segura – ele largou o curso universidade pública, mas quando pois acho que veio o imaginário ligado em relação às plantas, o trabalho com vem amainando algumas de suas de Ciências Contábeis quando já formado atenderes a uma parcela tinha realizado 75% do currículo para mínima da população”, comenta. O à ciência: eu queria ser uma cientista. cultura material é muito propício à próprias estruturas mais rigidamente ingressar de novo na UFRGS, porém currículo do curso mudou para incluir A biologia congregava essa questão da imagem. E trabalhar, por exemplo, com disciplinares. “Um grande problema na Odontologia. Se se arrepende? Ele esta nova visão sobre a relação entre natureza com a perspectiva de fazer agricultores e com populações locais, de ser pesquisador na área de interface afi rma que não. E o mais peculiar de Odontologia e a sociedade, e neste ciência, de conhecer”, conta Rumi, é muito mais interessante a partir da é se inserir num meio acadêmico todo sua história é que ele não desistiu de sentido, Vagner vê a oportunidade que nasceu em 1966 numa família de imagem do que a partir da palavra separado por disciplinas. Ninguém terminar também Contábeis. de aplicar seus conhecimentos de japoneses. Seu pai chegou ao Brasil em escrita, seja na forma de registro, seja quer ser interdisciplinar, mas a gente Muitos chamaram Vagner de contabilidade e o setor público. 1958, na primeira leva de 20 imigrantes, na inserção da imagem no processo da acaba chegando lá”, brinca Rumi, que, maluco por trocar de curso quando Conversar com pessoas de outros rapazes entre 18 e 20 anos que vieram pesquisa”. em agosto deste ano, assumiu o cargo de estava quase concluindo, ainda mais cursos é uma das atividades de que diretamente para o Rio Grande do Sul O Desma desenvolve trabalhos de professora adjunta do Departamento de por uma área tão diversa. “São cursos ele mais gosta, e sente-se algumas contratados para trabalhar em grandes conservação ambiental atento às popu- Desenvolvi mento Rural da Faculdade diferentes em muitos aspectos, mas vezes frustrado por ter a maior parte propriedades rurais, enquanto sua mãe lações que moram em áreas protegidas, de Ciências Econômicas da UFRGS. sou um cara diferente em muitos de seu tempo tomado em função aspectos também”, comenta entre da faculdade, o que o impede de se mudou para o Brasil com a família ou seja, pesquisas voltadas para o uso risos. Ele mesmo confessa que se ampliar suas relações com outros cerca de dois anos depois. sustentável dos recursos naturais pelas considera um pouco afobado por não estudantes. “Acho que é fundamental No curso de Biologia, ela encontrou comunidades que deles dependem – e Fernando Costa, estudante do 6.º ter terminado Ciências Contábeis para uma universidade promover o a possibilidade de desenvolver seus situações de confl ito não são raras nes- semestre de Jornalismo da Fabico antes de tornar-se estudante de contato entre os cursos, ainda mais

Odontologia, uma vez que deseja uma com o porte da UFRGS, que tem FLÁVIO DUTRA/JU graduar-se em ambas as áreas. tanta diversidade”, afi rma. Levando Porém, quando relembra o período em conta as suas ideias, é possível da decisão por prestar vestibular interpretar que o lugar de Vagner novamente e trocar de curso, afi rma na UFRGS não é apenas entre as ter feito a escolha correta. sombras dos galhos da árvore do “Quem chegava no fi m do dia pátio da Odontologia. É também resmungando por, no dia seguinte, ter no espaço entre universos de de fazer o mesmo trabalho de novo conhecimentos distintos, porém, na era eu. Então, sabia o que era melhor ótica do estudante, completamente para mim”, explica. Por isso, mesmo conciliáveis. trabalhando em uma empresa de auditoria bastante reconhecida no Por Mariana Sirena, estudante do 8.º mercado fi nanceiro e tendo muitas semestre de Jornalismo da Fabico possibilidades profi ssionais nesse sentido, não se preocupou com o que os outros diriam sobre a sua opção. Esta coluna resulta de uma Quando decidiu prestar vestibular parceria entre o JU e a UFRGS para Ciências Contábeis, refl etira em TV. Os programas com as termos de mercado de trabalho; no entrevistas aqui publicadas momento em que optou pela Odonto, serão exibidos ao longo da pensou em estudar o que realmente programação do Canal 15 da gostaria de fazer, e considerou a sua NET diariamente, a partir das afeição pela área da saúde. Hoje está 20h10min. no terceiro semestre.

Você tem o seu lugar na UFRGS? Então escreva para [email protected] e conte sua história – ou a de alguém que você conheça – com esse local 20 | JORNAL DA UNIVERSIDADE | NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2010 ENSAIO

ra uma vez, num quilombo no sertão da Bahia, uma menina chamada E Cazumbinha. Quando nasceu, as águas tomavam conta de tudo, enchendo lagoas e criando caminhos na terra. Protegida pela deusa das águas, Cazumbinha descobre o universo mágico que a rodeia, repleto de saberes de ontem e hoje. E assim seus dias vão sendo povoados por heróis vaqueiros, plantas que curam, brinquedos inventados, bichos e crianças que vivem livres às margens do rio São Francisco. O trecho acima é parte do livro Histórias da Cazumbinha, da gaúcha Marie Ange Bordas e da baiana Meire Cazumbá. Tendo se encontrado em São Paulo, as duas viraram parceiras de aventuras. Marie Ange encantou-se pelos escritos escondidos de Meire, que tinham por inspiração a infância passada em uma comunidade quilombola no sertão baiano. Sua paixão pelos livros a levou a se 1 tornar a redatora das cartas que os moradores da comunidade, analfabetos, enviavam aos parentes. Narradas em um tom próprio da oralidade, suas histórias transmitem o ritmo da vida local. Inspirada em sua experiência com projetos de arte participativa e alfabetização visual em diferentes países, Marie Ange concebeu esse livro como uma brincadeira, na qual palavras e imagens se misturam até se tornarem inseparáveis. As duas passaram dois verões na comunidade do Quilombo Rio Histórias da das Rãs, às margens do rio São Francisco. Foi lá que, ouvindo e contando histórias, fotografando, desenhando e brincando, crianças e adultos se uniram para criar imagens feitas para serem lidas e histórias Cazumbinha feitas para serem vistas. FOTOS MARIE ANGE BORDAS, COM A COLABORAÇÃO DAS CRIANÇAS DO QUILOMBO RIO DAS RÃS 4

MARIE ANGE BORDAS É ARTISTA E EDUCADORA. FORMADA EM JORNALISMO NA FABICO-UFRGS, JÁ DESENVOLVEU PROJETOS NA FRANÇA, ÁFRICA DO SUL, ETIÓPIA E BRASIL, ENTRE OUTROS LUGARES. SEU TRABALHO PODE SER VISTO EM WWW. MARIEANGEBORDAS.COM.