Monarquia E a República : Aspectos Das Relações Entre Brasil E Estados Unidos Durante O Império / Marcelo Raffaelli
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A Monarquia & a República Marcelo Raffaelli A Monarquia & a República Aspectos das relações entre Brasil e Estados Unidos durante o Império chdd / funag Rio de Janeiro - 2006 ministério das relações exteriores fundação alexandre de gusmão Presidente: Embaixador José Jerônimo Moscardo de Souza Ministério das Relações Exteriores Esplanada dos Ministérios, bloco h, anexo 2, térreo, sala 1 70170-900 - Brasília, df Telefones: (61) 3411 6033 / 6034 Fax: (61) 3411 9125 www.funag.gov.br centro de história e documentação diplomática Diretor: Embaixador Alvaro da Costa Franco Palácio Itamaraty Avenida Marechal Floriano, 196 20080-002 - Rio de Janeiro, rj Telefax: (21) 2233 2318 / 2079 [email protected] / [email protected] Direitos de publicação reservados à Fundação Alexandre de Gusmão - funag Impresso no Brasil - 2006 Raffaelli, Marcelo A Monarquia e a República : aspectos das relações entre Brasil e Estados Unidos durante o Império / Marcelo Raffaelli. – Rio de Janeiro : [Brasília] : chdd ; funag, 2006. 296 p. ; 21cm isbn 85-7631-063-1 (broch.) 1. Monarquia – Brasil – História – Séc. xix. 2. Brasil – Relações exteriores – 1822-1889. 3. Diplomacia. 4. Brasil – Relações exteriores – Estados Unidos. 5. Estados Unidos – Relações exteriores – Brasil. I. Título: Aspectos das relações entre Brasil e Estados Unidos. II. Centro de História e Documentação Diplomática. III. Fundação Alexandre de Gusmão. Sumário Prefácio · 11 1 Reconhecimento do Brasil independente · 21 2 Os Chefes de Missão · 33 3 Instruções aos Chefes de Missão · 47 4 Tráfico de escravos e escravidão · 73 5 A Guerra de Secessão · 99 6 A abertura do rio Amazonas · 135 7 Arbitragens, bons ofícios e mediação · 161 8 Diplomatas pouco diplomáticos · 171 9 Diplomatas brasileiros e os Estados Unidos · 219 10 Os brasileiros aos olhos dos americanos · 229 11 O fim do Império · 249 Notas · 257 Bibliografia · 275 Índice onomástico · 283 Agradecimentos Este livro baseou-se em pesquisas feitas no Arquivo Histórico do Itamaraty, no Rio de Janeiro; em Brasília, na bi- blioteca do Ministério das Relações Exteriores, na biblioteca e na Seção de Documentação Parlamentar da Câmara dos Deputados e no acervo da Subsecretaria dos Anais do Senado Federal; nos Estados Unidos, na Biblioteca do Congresso e nos National Archives II, em College Park, Maryland; no Reino Unido, no Public Records Office, em Kew, Richmond, Surrey. Em todos esses lugares, fiquei devedor de seus fun- cionários, cujo conhecimento, boa vontade, paciência e ajuda muito apreciei e muito agradeço. A vários colegas do Ministério das Relações Exteriores, sou especialmente grato. Ao embaixador João Hermes Pereira de Araújo, cujo pro- fundo conhecimento da história do Brasil aliou-se à sua boa vontade a fim de ajudar-me a preencher várias lacunas para as quais minhas pesquisas não encontravam resposta. Ao embaixador Sérgio Fernando Guarischi Bath, que após ler o projeto em estágio adiantado, fez diversas sugestões que a meu juízo serviram para melhorar a estrutura deste livro. Ao ministro Carlos Henrique Cardim, que também me fez várias sugestões, todas aceitas. Às embaixadoras Heloísa Vilhena de Araújo e Maria Stella Pompeu Brasil Frota e aos embaixadores José Jerônimo Moscardo de Souza e Alvaro da Costa Franco, que tornaram possível a publicação desta obra. Finalmente, à jornalista Maria do Carmo Strozzi Coutinho, que deu feição de livro ao que era um manuscrito de amador. Prefácio O momento histórico Esta não é uma obra de historiador. Não pretendi escrever um livro de história, mas apenas uma resenha de fatos que recolhi em arquivos dos Estados Unidos e do Brasil; com eles alinhavei esta narrativa, que cobre o período de 1822 a 1889, isto é, da independência do Brasil ao fim do Império. O Brasil tornou-se independente num momento em que o mundo estava prestes a dar um salto tecnológico que o transformaria totalmente. Até então, a rapidez com que se viajava praticamente não mudara desde os primeiros dias da história da humanidade: a navegação marítima dependia dos ventos e as viagens por terra faziam-se a cavalo ou em veícu- los à tração animal. A primeira ferrovia comercial viria a ser inaugurada na Inglaterra, em 1825; o primeiro navio a vapor a atravessar o Atlântico, o americano Savannah, o fizera em 1819, mas foi só pelo final da década de 1830 que melhoramentos 12 | A Monarquia & a República técnicos permitiram aos navios a vapor disputar seriamente a primazia aos veleiros. Essas grandes mudanças no campo da técnica não eram correspondidas em igual proporção no cenário político mun- dial. Por um lado, a maioria das colônias espanholas na Amé- rica Latina alcançara a independência, enquanto na Europa a Grécia começara, no ano anterior, a luta contra o domínio otomano, que resultaria pouco depois em sua independência. Por outro lado, a política reacionária da Santa Aliança conti- nuava imutável: em 1822, o Congresso de Verona reuniu-se e aprovou a intervenção francesa na Espanha, com o objetivo de repor Ferdinando VII no trono espanhol. E, para maior sossego da Santa Aliança, Napoleão Bonaparte morrera no ano anterior. Ao se tornar independente, o Brasil tinha uma extensão territorial não muito diferente da atual, pois, se veio a perder a província Cisplatina, mais tarde ganhou o Acre. A população era reduzida. Estimativas da época e outras, feitas no século XX, davam-lhe entre quatro e cinco milhões de habitantes.1 Quanto aos Estados Unidos, ainda estavam longe das di- mensões atuais. Em 1822, o país ocupava área correspondente a menos de 60% dos 7.830.000 quilômetros quadrados dos atuais 48 estados contíguos: ainda não lhe pertenciam os territórios dos atuais estados de Arizona, Califórnia, Idaho, Nevada, Oregon, Utah e Washington, quase todo o Texas, a maior parte do Novo México, etc. O recenseamento de 1820 encon- trou uma população de pouco menos de 9.700.000 almas. Tal é o cenário em que se inicia o período coberto por este livro. E é importante para nós, que viemos do século XX para o XXI, ter sempre em mente o quanto eram lentas as comu- nicações naquele tempo: em 1819, John Graham, acreditado Prefácio .| 13 ministro junto à corte do rei de Portugal (então ainda no Bra- sil), informou o secretário de Estado americano de que havia chegado ao Rio “após uma agradável viagem de 47 dias”. Como resultado da demora nas comunicações, os diploma- tas eram verdadeiros plenipotenciários, isto é, seus poderes não eram apenas nominais. Tinham mais responsabilidade, mas também mais independência, do que em nossa era de comunicações instantâneas. Freqüentemente tinham de agir sem instruções, ou de acordo com o que consideravam estar dentro dos limites de instruções de caráter geral recebidas de seus governos. As coisas começaram a se acelerar com a introdução da navegação a vapor: em 1853, o novo cônsul dos Estados Unidos no Rio saiu de Nova York a bordo do vapor Uncle Sam e chegou ao seu posto depois de, nas palavras de comunicação da legação americana para Washington, uma “viagem extremamente rápida de 20 dias”. Ao final do período em exame, foi estabelecida a ligação telegráfica entre os dois países. A era moderna da diplomacia, em que o plenipoten- ciário o é apenas no título, começava a engatinhar. Devido ao seu sistema de governo, os Estados Unidos tiveram diversos presidentes durante o período em exame, enquanto o Brasil teve apenas dois imperadores, o segundo deles por 58 anos. Em compensação, as mudanças de minis- tério eram tão freqüentes nos primeiros decênios da vida do Brasil independente que, em junho de 1848, David Tod, referindo-se a mais uma mudança de gabinete, escreveu que “Assim, durante minha residência nesta corte, de apenas 9 me- ses, tivemos nada menos de quatro mudanças de gabinete”. A cronologia dos ministérios, desde José Bonifácio, em 1822, até Limpo de Abreu, que tomou posse em maio de 1845, mostra que o Brasil teve 23 ministros dos Negócios Estrangeiros, em 14 | A Monarquia & a República 23 anos de vida independente. Outro diplomata americano queixava-se de que a nomeação de cada novo ministro dos Negócios Estrangeiros significava que a negociação dos as- suntos pendentes tinha de recomeçar da estaca zero, já que o novo titular precisava familiarizar-se com eles. Os diplomatas brasileiros lotados em Washington tinham mais sorte, pois os secretários de Estado geralmente permaneciam por todo o mandato presidencial. Sobre as relações diplomáticas Durante quase todo o século XIX, as representações diplo- máticas tiveram o nível de legação, cuja chefia era confiada − por ordem crescente de hierarquia – a um encarregado de negócios, ministro residente ou ministro plenipotenciário. Na primeira hipótese, o encarregado de negócios era o titular permanente da legação; em sua ausência, ou na do ministro, qualquer que fosse o grau deste, a legação ficava entregue a um encarregado de negócios interino. A elevação de representações diplomáticas ao nível de embaixada só começou a se generalizar no fim do século, se bem que às vezes o enviado diplomático fosse chamado de ‘embaixador’. Os Estados Unidos não receberam ou envia- ram embaixadores até 1893, quando seus representantes na Alemanha, França, Grã-Bretanha e Itália foram elevados àquele nível; em 1905, o Brasil e os Estados Unidos elevaram suas representações diplomáticas em Washington e Rio de Janeiro, respectivamente, ao nível de embaixada. Joaquim Nabuco tinha sido convidado para chefiar a legação na capital americana, mas quando assumiu o posto, em 1905, já o fez Prefácio .| 15 como embaixador, o primeiro representante brasileiro desse nível junto ao governo de Washington. A Secretaria dos Negócios Estrangeiros (doravante sne) enviava ‘despachos’ às legações do Brasil, que por sua vez lhe endereçavam ‘ofícios’. O Department of State (doravante ds) enviava ‘instruções’ às legações americanas, que res- pondiam com ‘despatches’. Para evitar confusões, despatch será empregado, sem tradução, quando nos referirmos à correspondência das legações americanas para o ds.