UFRRJ INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

ÚLTIMA REFORMA ESTRUTURAL DO MARACANÃ E SUA RELAÇÃO COM O COMPORTAMENTO DE INTEGRANTES DA TORCIDA JOVEM DO FLAMENGO

ANGELUS BRAVIN DOS SANTOS

2016

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS

ÚLTIMA REFORMA ESTRUTURAL DO MARACANÃ E SUA RELAÇÃO COM O COMPORTAMENTO DE INTEGRANTES DA TORCIDA JOVEM DO FLAMENGO

ANGELUS BRAVIN DOS SANTOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Educação Física e Desportos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro para obtenção do título de licenciado em Educação Física.

Orientadora: Amparo Villa Cupolillo Seropédica, RJ Fevereiro de 2017

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS

ANGELUS BRAVIN DOS SANTOS COMISSÃO JULGADORA

______AMPARO VILLA CUPOLILLO(UFRRJ) Orientadora

______SEBASTIÃO NEVES SERRANO(UFRRJ)

______DENIS GIOVANI MONTEIRO NEVES NAIFF(UFRRJ)

Dedico esta a monografia a minha mãe, fonte de inspiração e dedicação, e a meu pai, cujo sonho compartilhado hoje se realiza, infelizmente sem seu camisa 4 e capitão, para levantar a taça.

“Ê que vida à toa, vai no tempo, vai E eu sem ter maldade Na inocência de criança de tão pouca idade Troquei de mal com Deus por me levar meu pai” João Nogueira - Espelho

AGRADECIMENTOS Agradeço a minha orientadora, Amparo Villa Cupolillo, pela oportunidade dada a mim de ser seu orientando. A minha namorada, por todo o tempo gasto comigo, me ajudando e reclamando a cada deslize, estando sempre junto, mesmo que longe, e que soube entender ou não, como foi complicado elaborar este trabalho monográfico. A todos os meus queridos amigos, seres de procedência duvidosa, mas que se instalaram comigo em uma casa (dividimos o aluguel) e estão comigo todos os dias, querendo ou não. A estes, deixo aqui palavras aleatórias pois não posso expressar meus reais sentimentos por essas criaturas oriundas do Tártaro. Do Tártaro também vieram outros amigos, que carinhosamente chamo de Monstros. Aos meus irmãos que o CTUR me deu, que me acompanham a muito tempo, o meu muito obrigado seus lindos! A minha família no geral, que é muita gente pra nomear um a um, por todos almoços de domingo e os gritos para olhar minhas sobrinhas pequenas. A família Rural Thunders Futebol Americano, o prazer de entrar em campo com essa camisa é indescritível e obrigado pela oportunidade de ter sido seu líder e hoje incorporar suas fileiras. Obrigado, meus queridos. A todos aqueles que ajudaram nesta árdua tarefa. Meus profundos agradecimentos, se eu esqueci de alguém, me perdoem. Ao time da Associação Chapecoense de Futebol, cujos sonhos foram prematuramente ceifados no pior acidente da história do Futebol brasileiro, e que sua história inspire todos nós. E obrigado, Rural, por tudo.

“Em minha visão, um artista é alguém que pode iluminar um quarto escuro. Eu nunca encontrei e nunca encontrarei diferença entre o passe de Pelé para Carlos Alberto na final da Copa de 1970 e a poesia do jovem Rimbaud. Há em cada uma dessas manifestações humanas uma expressão de beleza, que nos toca e dá a sensação de eternidade”

(Eric Cantona)

DOS SANTOS, AngelusBravin. 2017.60f. Trabalho de Conclusão de Curso - Departamento de Educação Física e Desportos. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica,2017.

RESUMO Desde que o estágio Jornalista Mário Filho, mais conhecido como Maracanã,foi inaugurado o futebol se fez presente no dia-a-dia da sociedade carioca, dos integrantes mais abastados aos mais desfavorecidos financeiramente. Por décadas, todas essas pessoas tiveram condições de frequentá-lo, mas, após a última reforma estrutural do estádio, o mesmo se modificou um pouco. Este estudo teve como objetivo analisar a relação desta mudança física com o comportamento de integrantes de uma do Clube de Regadas do Flamengo, a Torcida Jovem do Flamengo. Para tal, foram utilizadas imagens para realizar um comparativo dos diferentes momentos da torcida dentro do Maracanã, antes e depois da reforma. Foram detectadas mudanças no comportamento dos integrantes da mesma, o que se observou ter relação total com a plástica pela qual passou o local. PALAVRAS-CHAVE: Futebol, Torcidas Organizadas, Maracanã, Flamengo, Torcedores.

DOS SANTOS, Angelus Bravin. 2017.60f. Trabalho de Conclusão de Curso - Departamento de Educação Física e Desportos. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica,2017.

ABSTRACT Since the Jornalista Mário Filho stadium, better known as Maracanã, has been inaugurated the soccer game has been present in the daily life of carioca’s society, from the richest members to the more financial disadvantaged ones. For decades, all these people had conditions to frequent it, but, after the last structural reform of the stadium, it has changed a little. This study had as objective to analyze the relation between this physical changing with the members’ behavior of an organized crowd of the Clube de Regatas do Flamengo, the Torcida Jovem do Flamengo. For that, we used images to operate a comparison of the crowd’s different moments inside the Maracanã, before and after the reform. We could detect changings in the behavior of the crowd’s members, what one observed having total relation with the plastic for witch the place has undergone. KEYWORDS: Soccer, Ultras, Maracanã, Flamengo, Fans.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - O jogador Didi e o presidente Juscelino Kubistchek 09 Figura 2 - O presidente Médici e a seleção brasileira campeã do mundo em 1970 11 Figura 3-Time de futebol do Flamengo em 1912 15 Figura 4 - Final da Copa do Mundo de 1950, Brasil x Uruguai 18 Figura 5 - Milésimo gol de Pelé 19 Figura 6 - Final do campeonato brasileiro de 1983 19 Figura 7 - Imagem da TJF no Maracanã em 2009, antes da última reforma 29 Figura 8 -Imagem da TJF no Maracanã em 2013, depois da última reforma 29 Figura 9 - Área da torcida e seus integrantes antes da última reforma 31 Figura 10 -Área da torcida e seus integrantes após a última reforma 31 Figura 11 -TJF com sinalizadores no Maracanã antes da última reforma 34 Figura 12 -Mesma área da torcida, no jogo Flamengo x Corinthians após reforma 34 Figura 13 - Bolas de gás amarelas na TJF antes da reforma 37 Figura 14 - Faixa e bolas de gás na TJF antes da reforma 37 Figura 15- Bolas de gás e bandeiras na torcida após a reforma 38 Figura 16 -Setor Norte do Maracanã, local em que se localiza atualmente a Torcida Jovem do Flamengo 38

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

T.O Torcida Organizada TJF Torcida Jovem do Flamengo CRF Clube de Regatas do Flamengo

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 01 CAPÍTULO I – FUTEBOL: INFLUÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS 03 1.1 – História do futebol 03 1.2 – Conceito de futebol 04 1.3 – O futebol brasileiro 04 1.4 – Política e futebol 07 1.5 – Futebol como fator social e como espetáculo 12 1.6 – Futebol como identidade nacional 13 CAPÍTULO II – CLUBE DE REGATAS DO FLAMENGO: SUA CASA E SEUS MORADORES 15 2.1 – Clube de Regatas do Flamengo: Origem e desenvolvimento 15 2.2 – Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã 17 2.3 – Torcidas Organizadas 21 2.4 – Torcida Jovem do Flamengo 24 CAPÍTULO III – TEORIA, METODOLOGIA ANÁLISE 26 3.1 – Pressupostos teóricos 26 3.2 – Metodologia 27 3.3 – Hipótese 28 3.4 – Objetivo geral 28 3.5 – Objetivos específicos 28 3.6 – Análise das imagens 29 3.6.1 – Bandeiras 29 3.6.2 – Disposição e comportamento dos torcedores na área da torcida 31 3.6.3 –Utilização de sinalizadores 34 3.6.4 – Bolas de gás e faixas 37 CONCLUSÃO 40 REFERÊNCIAS 42

1

INTRODUÇÃO

Este trabalho analisa, por meio de fotografias, reportagens e análises de especialistas, a mudança de comportamento de integrantes da torcida organizada (TO) “Torcida Jovem do Flamengo”(TJF), dentro do Estádio Jornalista Mário Filho, o “Maracanã”, após a última reforma estrutural do estádio, de 2010 a 2013, tomando como fundamento a concepção do filósofo holandês Johan Huizinga(2000) de que o jogo é a representação de todas as emoções do ser humano e a ludicidade presente no ato de torcer está ligada a essa representação.

A motivação para a pesquisa partiu da visão que o autor deste trabalho teve ao estar presente em uma partida de futebol do Clube de Regatas do Flamengo (CRF), logo após a conclusão das obras do Maracanã, e perceber que a torcida organizada citada acima nitidamente estava tendo um comportamento diferente do apresentado nas partidas anteriores. A hipótese aqui trabalhada, portanto, parte do princípio de que a reforma, que configura modificação na disposição dos espectadores nas arquibancadas do estádio, compromete o comportamento dos mesmos.

Em nossa concepção, as mudanças estruturais provenientes da reforma pela qual o estádio passou visando à Copa do Mundo de futebol de 2014, tiveram impacto direto nessa transformação dos torcedores. Ao se modificar profundamente a arquitetura do Maracanã, modificou-se também a forma de torcer dos espectadores presentes no estádio, cujo formato, sobretudo o da arquibancada, tinhaparticipação crucial nos atos dos torcedores.

Para desenvolver a análise das fotografias, clicadas antes e depois da citada reforma, julgamos necessário situar o futebol brasileiro no contexto histórico e social para mostrar como ele está intimamente ligado à história nacional e às questões sociais, como as torcidas começaram a se organizar e como é importante o estádio do Maracanã nesse contexto. Conhecer a história do Clube de Regatas do Flamengo também se faz necessário nesse cenário, porque é o principal time que faz uso do Maracanã, desde sua inauguração, criando, assim, um forte laço sentimental entre seus torcedores, o estádio e o clube.

Este texto monográfico apresenta-se com a seguinte estrutura: no primeiro capítulo, mostram-se as questões políticas e sociais do futebol brasileiro; no segundo capítulo, tratamos do Clube de Regatas do Flamengo, do estádio do Maracanã, das torcidas organizadas e da Torcida Jovem do Flamengo; no terceiro, apresentamos a teoria que fundamenta a nossa pesquisa, o processo metodológico e a análise das fotografias, denominadas imagense, por fim, a conclusão deste trabalho. 2

A expectativa é a de que este texto possa aprofundar a discussão acerca das mudanças ocorridas no Maracanã e seus impactos na forma de vibrar dos torcedores presentes no estádio. Esperamos também que sirva de auxílio para quem se interessar sobre o tema.

3

CAPÍTULO 1

FUTEBOL: INFLUÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS

1.1 História do futebol

Não se sabe exatamente onde e como o Futebol começou. Indícios científicos1 apontam que aproximadamente entre 2 e 3 mil anos antes de nossa era durante a dinastia Han, o treinamento do exército chinês era desenvolvido de duas maneiras: 1) tentava-se acertar uma bola de couro enxertada com plumas e pelos em uma rede de 30 a 40 cm de abertura, cercada de bambus, somente usando os pés ou a cabeça e 2) duas equipes duelavam, tentando lançar esse protótipo esférico na rede adversária usando o corpo todo mas sem os pés. O “futebol primitivo” também fora encontrado, posteriormente, no Japão, na Grécia e em Roma, no auge de seus impérios. Em comum, todas as referências à origem desse esporte indicam a utilização de esferas e marcações em um campo em formato de alguma figura geométrica e de caráter recreativo.

Há relatos que, durante a Idade Média, havia grupos de pessoas correndo e chutando uma esfera de couro nas cidades inglesas da época, o que gerou inúmeras leis e decretos proibindo a prática desse “esporte”2. Têm-se ainda menções a um jogo em situações festivas na região da atual Itália durante sua unificação.

Ainda no continente europeu, mais precisamente na Inglaterra, do meio para o final do século XIX, começa-se a pensar em definir leis mais específicas para o esporte e é fundada a primeira associação de futebol do mundo, a Associação de Futebol e Rúgbi daquela região. Nessa época, o Futebol ainda se assemelhava bastante a esse esporte coletivo, muito famoso, o que levou a Associação de Futebol a proceder a algumas modificações nas regras em relação ao tempo de jogo e ao direito de uso da mão na bola, que passou a ser permitido apenas a um jogador de cada equipe.O primeiro livro de regras é escrito em 1863 na Inglaterra.

O críquete era o esporte mais popular da Inglaterra da era Vitoriana, mas no final do século XIX, algumas equipes de futebol estavam surgindo, dentre elas Arsenal Football Club e Tottenham Hotspur Football Club que se fazem presentes até hoje. Ainda no referido século, o primeiro campeonato de futebol da Inglaterra teve seu início em 1888 e persiste até hoje, mesmo mudando sua estrutura administrativa e o nome durante a última centena de anos. Após a virada do século, o futebol já estava mais difundido pelo globo terrestre, com representantes

1http://www.fifa.com/about-fifa/who-we-are/the-game/index.html em 08/03/2016 2 Na idade média o conceito de esporte ainda não existia. 4 em diversos países o que culminou na criação da “FédérationInternacionale de Football Association”, a FIFA, em 1904 na Suíça.

1.2 Conceito de Futebol

A palavra “Futebol” está assim definida no dicionário Michaellis:

“futebol -fu.te.bol sm (inglfoot-ball) Esp Jogo entre dois grupos de onze jogadores, em campo retangular, onde cada grupo procura fazer entrar uma bola no gol adversário, sem lhe tocarem com a mão, tantas vezes quantas forem possíveis, durante os noventa minutos de prática.” Porém, a definição do dicionário sozinha não consegue expressar o sentido sociológico, antropológico, político e econômico que essa manifestação cultural e corporal adquiriu para a humanidade. Segundo Guterman (2010, p. 9), “O futebol é o maior fenômeno social do Brasil. Representa a identidade nacional e também consegue dar significado aos desejos de potência da maioria absoluta dos brasileiros”. Para Toledo (1996, p. 12), o Futebol apresenta um fenômeno que é uma mistura de sentimentos, o lúdico se envolve com a competição e mesmo no ambiente de festa e entretenimento, há um comportamento transgressor, desordeiro. O Futebol e suas torcidas organizadas inserem no meio urbano determinadas regras sociais que transcendem os limites das partidas e jogos.

Sabe-se que o futebol no Brasil, mas em também diversos outros países, apresenta-se como um fenômeno predominantemente urbano, ditado pela competição esportiva, porém impregnado de um sentimento lúdico, do âmbito da festa e do entretenimento, mas também vivenciado cotidianamente, muitas vezes consubstanciado em um comportamento transgressor, desordem das ruas, ainda, despertando interesses políticos variados, potencializando diferenças. Inscreve-se na cidade, através do futebol e de suas torcidas, uma variada gama de emoções, preferencias clubísticas, adesão a grupos, que traduzem no nível social determinadas regras, padrões de comportamento, que transcendem os limites das partidas e jogos em si.

Deduz-se que o Futebol é, pois, um dos poucos esportes que transcende a lógica utilitária da racionalidade. Desde que começou a ser praticado no Brasil, tornou-se um esporte capaz de propiciar histórias de loucuras cometidas por pessoas que resolvem acompanhar seu clube de coração, de pessoas que foram às lágrimas somente com um gol em final de campeonato, de atos generosos impensáveis se remetessem a equipes de outros esportes.

1.3 – O futebol brasileiro

Charles Miller, Oscar Alfredo Cox, Antônio Casemiro da Costa o “Costinha”, são nomes que estão eternizados na história do futebol brasileiro. Segundo Guterman (2009), essas três pessoas foram responsáveis diretos pela vinda do “football”¹ ao Brasil.Todas oriundas de 5 famílias abastadas da sociedade carioca e paulista, estudaram na Inglaterra no final do século XIX e lá conheceram o fabuloso esporte bretão. Ao retornarem de seus estudos em terras estrangeiras, trouxeram consigo, além das bolas de couro, chuteiras e uniformes,acessórios inexistentes no país nessa época, propiciando o início da prática brasileira do referido esporte.

A caminhada de tal esporte em terras brasileiras começou por volta de 1890, mas as regras oficiais foram usadas somente no ano de 1895 em um jogo entre os funcionários da companhia de gás e da São Paulo Railway (GUTERMAN, 2009). A classe alta preferia outros esportes, o que se tornara um obstáculo para a difusão do futebol no Brasil. Segundo Hollandaetall (2014), no final do século XIX o turfe e o remo eram os esportes mais populares da burguesia e foi onde os primeiros sinais de uma “torcida” apareceu, pois naquela época a classe alta transformava a ida nestes eventos esportivos em eventos sociais.

No ano de 1908 ocorreram algumas partidas de futebol entre times do Brasil e da Argentina em solo brasileiro nas quais os argentinos ganharam a maioria dos embates e de maneira indiscutível. Essas partidas geraram na imprensa da época um enorme desconforto e reclamações para com a forma que o "foot-ball" era jogado no país. Poucos anos após destas partidas a principal liga de futebol no país, a Liga Metropolitana3, no Rio de Janeiro, começava a permitir a participação de clubes cujossócios não faziam parte da aristocracia carioca fazendo com que aos poucos, clubes oriundos de outras camadas sociais pudessem participar da liga (PEREIRA L. 2000).

Com uma maior participação de clubes com origens operárias, como o Bangu e o Andaraí, as partidas de futebol começaram a se fazer presentes em áreas mais afastadas da cidade do Rio de Janeiro, atraindo cada vez mais público para esses embates. Pereira L. (2000) comenta que em pouco tempo, após começarem a disputar o campeonato carioca, partidas de times poucos conhecidos começaram a ter público em torno de 2 mil pessoas, o que para a época era um avanço claro para uma participação cada vez maior das classes mais baixas da sociedade. Começava de fato a transformação do Brasil no país do Futebol.

Como, no início do século XX, o futebol deixou de ser esporte de elite, passando também à preferência da população mais carente, foi aberta uma porta para a classe política que usou da massa popular para manipulá-la. Assim, se, por um lado, esse esporte promoveu a relação de identidade entre Brasil e país do futebol, por outro, propiciou a manipulação dessa massa que passou a ser representada, na década de 40, pelas torcidas organizadas, cujo perfil é desenhado de acordo com a época e com as modificações pelas quais a sociedade passa. A

3 Primeira Liga de futebol do Rio de Janeiro, organizou o primeiro campeonato de futebol do estado do Rio de Janeiro em 1906 (ASSAF e MARTINS 2010). 6 hipótese desta pesquisa, como veremos a seguir, é a de que as reformas do Maracanã promovem a transformação do perfil dessas torcidas.

O Futebol, contudo, ainda engatinharia na era amadora por mais alguns anos, tendo no aparecimento do primeiro grande jogador brasileiro - Arthur Friedenreich- e no início dos principais embates contra outras seleções sul-americanas, as principais marcas de profissionalização do esporte entre 1900 e 1930(GUTERMAN, 2009). Pereira M. afirma que:“apesar de o profissionalismo haver sido implementado em 1933, pode-se dizer que a era profissional, pra valer, só começou em 1936.” Após esse marco histórico, a seleção brasileira teve uma atuação destacada na Copa do Mundo de 1938, na França, já que alcançou o terceiro lugar, emplacando o artilheiro do torneio, além de revelar ao mundo o craque, Leônidas da Silva, o Diamante Negro(GUTERMAN, 2009).

A década de 1940 revelou-se um período complexo para o futebol de muitos países, porque a Segunda Grande Guerra, ocorrida nesse período, pausou campeonatos importantes, inclusive a Copa do Mundo de 1942 e a de 1946. Após a guerra, os governos participantes do conflito passavam por reestruturação econômica e social, o que levou a FIFA a marcar o evento no Brasil, garantindo a sua realização.

Inicialmente, seria em 1949, mas passou para 1950 a pedido dos próprios brasileiros (GUTERMAN, 2009 e ALVITO, 2013).

A Copa do Mundo de 1950 trouxe um misto de sentimentos: a sensação de que tínhamos um selecionado nacional capaz de fazer frente a qualquer outra seleção do globo e o sabor amargo da derrota, na partida final, para o Uruguai, frente a 200 mil pessoas atônitas. Essa mistura de sentimentos gerou uma forte e singular sensação de tristeza e fracasso na população brasileira, levando a população, governantes e a imprensa especializada no Futebol, a transformarem um único jogador, o goleiro Barbosa, no culpado pela perda do título de campeão da Copa do Mundo. Culpa que Barbosa carregou até o dia de sua morte (GUTERMAN, 2009; ALVITO, 2013 e CORNELSEN, 2013).

Esse jogo serviu também para deixar marcadas na história diversas frases e crônicas, ditas ou escritas por aqueles que estiveram ou não presentes no Maracanã em 16 de junho de 1950. Desse conjunto de frases, destacam-se duas: a do jornalista Mário Filho, dita após o apito final do árbitro: “silêncio mortal de duzentos e vinte mil brasileiros” e a frase do próprio Barbosa, em um documentário sobre sua vida: “A maior pena que existe para um crime no Brasil é de trinta anos, mas desde 1950 eu sou condenado”(MORAES NETO,2000, p.118). Essas frases são importantes para mostrar como o futebol já desempenhava um papel importante na sociedade brasileira, a ponto de provocar reações humanas carregadas de 7 complexidade que se revela, também, na postura de pessoas influentes, cuja paixão por esse esporte os levou a cunhar expressões indicativas de rejeição ao comportamento submisso do torcedor brasileiro.

É o caso da expressão cunhada por Nelson Rodrigues: “Complexo de vira-latas”. O jornalista e dramaturgo utilizava-a sempre que precisava se referir a uma atitude considerada inferior em relação a outros países. Segundo o próprio autor, esse complexo de inferioridade é consequência da perda dramática do campeonato mundial em 1950. As marcas emocionais não se dissiparam nem mesmo com as vitórias do Brasil em 1958,1962 e1970, além do tetracampeonato, em 1994, e o pentacampeonato em 2002. Apesar de todos esses títulos, dos times e craques revelados no país e de termos nos tornado o "País do Futebol", ainda lamentamos a perda da Copa do Mundo de 1950, que foi relembrada recentemente, no campeonato mundial de 2014, no Brasil, por conta do histórico placar de 7x1, resultado da partida entre Brasil e Alemanha, que se sagrou campeã de forma brilhante.

1.4- Política e futebol

O futebol surgiu como uma opção de lazer, sendo considerado, posteriormente, prática profissional, não tendo, portanto, vieses político-partidários. Apesar disso, se manteve a parte da política, já que sua capacidade de mobilização de massas o colocou na condição de esporte de preferência nacional.A escolha das pessoas pelo Futebol despertou na classe política o interesse pelas vantagens que o apoio ao jogo bretão poderia trazer-lhes. Por ouro lado, a atuação daqueles envolvidos na política partidária transformou-se em pré-requisito para a existência de tal prática esportiva no modelo praticado na atualidade.

No Brasil, o primeiro exemplo do uso do Futebol pela política se dá na década de 1930, com o presidente Getúlio Vargas, que foi o pioneiro no que diz respeito ao uso político do Futebol pelos governos brasileiros. Como relatado por Guterman (2009) e Couto (2014), Getúlio empreendeu inúmeros esforços para alcançar seus objetivos, como, por exemplo, o lobby político para a profissionalização dos jogadores de Futebol a fim de que estes não saíssem de seu controle e fossem, ao mesmo tempo, um meio de difusão dos ideais de seu governo. Além desses aspectos, os autores também apontam a participação do presidente na tentativa de estatizar esse esporte, o que acelerou o processo de profissionalização da prática do futebol no Brasil. Na verdade, tratava-se de uma forma de manipulação da opinião pública, refletida nas torcidas. Um fato que revela essa manipulação é a escolha da filha de Getúlio, Alzira Vargas, para o posto de madrinha da seleção nacional durante a copa do mundo de1938, 8 quando ocorreu o início das transmissões radiofônicas no país e a utilização do estádio de São Januário para comícios.

Em relato de Couto(2014, p.41) explicita-se bem esse aspecto manipulador de Vargas, que usava o Futebol para alcançar vitórias políticas:

Getúlio Vargas utilizou como poucos governantes o espaço simbólico construído em torno do futebol para promover sua autoimagem que, metonimicamente, confundia-se com a imagem do próprio Estado. Nas solenidades oficiais promovidas costumeiramente nos estádios de São Januário, no Rio de Janeiro, e do Pacaembu, na cidade de São Paulo, o governante surgia de forma triunfal em desfiles em carro aberto, quando então era ovacionado pelas multidões. A relação entre a pátria e o futebol estreitava-se à medida que os estádios, lugares privilegiados para a população extravasar suas emoções, passavam a servir como verdadeiras arenas políticas catalisadoras das multidões. Getúlio utilizou muito bem a radiodifusão no país para ter um contato maior com a população e levar os ideais do Estado Novo a todas as camadas sociais presentes na sociedade (COUTO, 2014 p. 46). Nessa época, houve a criação da "Rádio Nacional", da "Hora do Brasil" (ativa até hoje) e o início das transmissões esportivas. Guterman (2009) mostra que os jornais da época descreviam Getúlio e a família como ouvintes assíduos de rádio, meio utilizado para os brasileiros acompanharem a Copa de 38.

Na década seguinte, ocorre a Segunda Grande Guerra, que impediu a realização das copas do mundo nos anos de 1940, em cujo final, o Brasil se candidatou a sediar o evento de 1950 que viria a se tornar o maior desastre da história futebolística nacional até o fatídico 7 x 1¹. A final da copa de 1950 realizou-se no Maracanã em 24 de junho desse referido ano, ficando conhecida como "Maracanazo", na qual o Uruguai venceu o Brasil por 2 x 1 e se sagrou campeão do mundo. Os políticos tiveram participação destacada nos dias antes desse jogo, porque iam à concentração da seleção, discursavam como se já fôssemos campeões do mundo,resultando numa organização conturbada do mundial. Muitos populares culparam os "cartolas"4 e a imprensa esportiva da época pelo ambiente de euforia na sociedade antes da partida (ALVITO, 2013).

Durante a década de 50, na qual o Brasil experimentou o sabor amargo da derrota, o país também vai sentir o doce gosto da vitória. Desde 1938, na França, o selecionado nacional já era visto com outros olhos pela imprensa mundial, o terceiro lugar e o desfile de gala de Leônidas da Silva nos campos franceses deram o tom do time que representou o Brasil na Copa do Mundo de 1938, e, 20 anos depois desse mundial, mostrou a que veio.

4 Essa palavra é a forma pejorativa do termo "Dirigente". Como registrado no dicionário Michaellis, Cartola é um "Dirigente de entidade futebolística que negocia jogadores e atua de outras formas, tidas como ilícitas, para obter lucros e respeito." 9

O ano de 1958 começou com a seleção brasileira classificada para a copa do mundo desse ano e com uma equipe de grande nível técnico e tático, que contava com nomes como Didi, Bellini, Pelé, Garrincha, Nilton Santos entre outros (RIBEIRO,2014). Mesmo com jogadores de alta qualidade e de um futebol bem jogado, a população ainda estava descrente com o time, fato relatado acima no fragmento de Nelson Rodrigues. Porém, durante o Mundial, com grandes vitórias, a população volta a se reunir nas ruas para ouvir as partidas e torcer pela seleção, iniciando novamente o processo de histeria pelo selecionado nacional que levou Getúlio Vargas a tratar o futebol como caso de Estado (RIBEIRO, 2014; COUTO, 2014; GUTERMAN, 2009).

No retorno para o Brasil, após a conquista do primeiro título mundial de futebol, tivemos novamente a presença do presidente, na época Juscelino Kubitschek, recepcionando os atletas campeões e correlacionando o sucesso do esquete canarinho com o de seu governo.

Figura 1- O jogador Didi e o presidente Juscelino Kubistchek Fonte: http://banco.agenciaoglobo.com.br/Pages/DetalheDaImagem/?idimagem=8537 - Acesso em 4/10/2016 10

Quatro anos após a conquista do mundo pela primeira vez, o Brasil, novamente, aparecia como um dos postulantes ao título e, mantendo a base campeã da seleção de1958, era visto como favorito. Na semi-final do referido campeonato, uma expulsão levou mais uma vez a política a interferir diretamente no futebol. Trata-se da expulsão de Garrincha, principal jogador da equipe. Sabendo do risco de não ter seu grande gênio da bola em campo, o governo brasileiro entrou em cena. Couto (2014) relata que após este fato, ocorreu uma manobra que envolveu o primeiro-ministro do Brasil, Tancredo Neves, e o presidente do Peru, país do árbitro da partida. Eles conseguiram retirar da súmula da partida a referência à expulsão do jogador, que pôde, assim, jogar a final.

Vale aqui, novamente, o destaque que Couto atribui à atuação da política no futebol brasileiro:

A interferência direta dos chefes de estado do Brasil e do Peru em uma questão que aparentemente estaria reduzida ao campo esportivo evidencia, de forma clara, o redimensionamento do futebol: para além das dimensões lúdico- esportivas, projetava-se aí o imaginário da nação, o que justificaria, portanto, esforços de qualquer natureza em sua natureza (...)(COUTO, 2014, pág 101)

Como dito anteriormente e pontuado mais a frente neste trabalho, a política nacional se envolve profundamente no futebol brasileiro, interferência estatal é só mais um tipo de ação que o esporte sofreu e sofre. Um determinado fato oriundo da vontade de controle da população pelo Estado e que modificou a forma como se assiste ao futebol e como o acompanhamos foi a criação das torcidas organizadas. Sua criação foi um ato político para manter o controle e a ordem sobre os espectadores, mas se transformou em um ambiente popular, em que a festa e os cânticos servem para mostrar apoio aos seus times e para passar mensagens de cunho político.

Nos anos seguintes, o país entra em uma época de instabilidade política que culmina no golpe civil-militar em 1964, originando a última ditadura militar brasileira. Como toda a sociedade civil, o Futebol também sofreu com as armadilhas do regime. Mesmo utilizando de inúmeras medidas institucionais para se manter no poder, como o AI-5 e a implementação da repressão contra pessoas consideradas subversivas ao sistema (NETO, 2005), os governos da ditadura militar que existiram no Brasil entre 1964 e 1985 se utilizaram de uma imensa bandeira publicitária, o Futebol, para reforçar sua imagem de crescimento econômico, melhora social e controle frente à população brasileira. 11

Neto(2005), Couto (2014) e Guterman (2009) relatam alguns pontos em comum sobre essa época tenebrosa da história nacional, tais como a interferência do governo militar na seleção brasileira, a criação de filmes utilizando o selecionado nacional, folhetos publicitários, mostrando o General Ernesto Geisel como um assíduo torcedor brasileiro e a relação próxima do próprio presidente com alguns jogadores. O controle sobre a CBD5 era tanto que, assim que o golpe foi consumado, o governo exigiu que toda a cúpula da entidade fosse composta de militares, a fim de manter o controle.

A preocupação do regime com o Futebol era tanta quena época da copa do mundo de 1970, fora entregue para os jogadores uma cartilha de comportamento, bem ao estilo militar, que proibia desde os cabelos longos até qualquer demonstração de cunho político. A preparação física para a copa também teve participação militar e toda a estrutura existente à época fora disponibilizada pelo governo à CBD (NETO, p.31), ganhar a copa do mundo era crucial para o sucesso e a continuidade do regime ditatorial militar.

Figura 2- O presidente Médici e a seleção brasileira campeã do mundo em 1970 Fonte: http://trivela.uol.com.br/wp-content/uploads/2014/04/medici_pele_70_ae_hg1.jpg - acesso em 4/10/2016.

Figols (2016) e Neto (2005) também fazem menção a outros regimes que utilizaram o esporte como propaganda política: a Espanha do ditador Francisco Franco, com suas histórias sobre os embates entre o clube apoiado pelo regime franquista (Real Madrid Club de Futebol) e o clube da resistência catalã e espanhola (Football Club Barcelona) e a Alemanha Nazista de Hitler e Goebbls, que utilizou as olimpíadas de 1936, em Berlim, e a Copa do Mundo de 1938

5 Confederação Brasileira de Desportos 12 a fim de mostrar ao mundo o poderio do “império ariano”. Em todos a mesma situação: a utilização do esporte por regimes totalitários para demonstração de poderio e controle do povo.

1.5-Futebol como fator social e como espetáculo De prática esportiva de pessoas da classe alta ao posto de esporte mais popular do planeta, o Futebol percorreu um longo caminho. Se no começo era símbolo de status, logo começou a ser praticado pela população mais pobre, o que levou, em poucas décadas, ao reconhecimento do Brasil como o "País do Futebol". Essa população vê no esporte não só uma chance de crescimento econômico e social mas também uma forma de escapar da cruel realidade social em que vivem muitas famílias. Borges (2008) afirma que, além dessa fuga, o esporte tece ainda complexas relações humanas, das camadas mais baixas até as mais altas da sociedade.

Gastaldo (2013), ao fazer uma releitura do livro "Homo ludens: o jogo como elemento da cultura" de Johan Huizinga (1938), destaca que, para esse autor, o "“espírito do jogo” preside todas asprincipais manifestações da cultura humana, em todas as épocas e sociedades"(pág3).Para o autor, na modernidade isso estaria sendo corrompido, numa situação em que o "jogo" virou "trabalho" e o "trabalho" virou "jogo",já que, a partir do momento em que se têm um contrato e uma rotina de treino, um jogador deixa de ser somente um jogador para ser um trabalhador. E é nesse limiar que a maioria da população vive em relação ao futebol como fator social: uma manifestação cultural e um trabalho. Segundo Borges (2008),o ato de torcer por um clube ou pela seleção do país promove uma mudança de comportamento dos indivíduos, porque os coloca como agentes de ação da vida social, além de contribuir para a construção de identidades que extrapolam o âmbito privado, tais como a casa e a família, estendendo-se ao espaço público, ao qual passam a pertencer. Essa sensação de pertencimento a um espaço comum a várias outras pessoas com os mesmos ideais e com a mesma realidade está, provavelmente, na origem das Torcidas Organizadas, que, além de se transformarem em palco para o compartilhamento de emoções, são agentes de inclusão social de sujeitos que percebem nelas um modo de vida. Essa função social do Futebol está diretamente associada ao seu poder de sedução pelo espetáculo que patrocina. Gastaldo (2013) se posiciona sobre essa questão ao dizer que mesmo com a mercantilização6 do futebol, a sociedade segue um caminho oposto, a de tratar o jogo como algo "sagrado", acima do mercado e de algo que seja somente dinheiro. Segundo o autor,

6"Submetido a lógica de mercado, os jogadores transformaram-se em mercadoria, os torcedores em consumidores, o jogo num ativo financeiro, e o futebol é visto como um grande negócio" Gonçalves, César, Carvalho e Amélia (2006) sobre a definição de mercantilização no futebol. 13 esse processo de "sacralização" de alguns elementos da vida moderna pela sociedade consiste num aspecto muito comum, sendo o universo esportivo o exemplo mais emblemático desse tipo de processo. Como podemos perceber, o Futebol é muito mais do que somente um esporte e, conforme abordaremos mais a frente, a sua "sacralização", bem como a forma de encará-lo, torna o torcedor a própria alma do time, o que justifica, ou explica, a dedicação de uma vida a um clube sem pedir nada em troca, além de vitórias. O torcedor extrapola o limite do individual para, em conjunto, compartilhar ações que promovem também um espetáculo à parte dos jogos.

1.6 - Futebol como identidade nacional

No Brasil, estabelece-se uma relação muito próxima entre Futebol e sociedade, que contribui para moldar nossa identidade nacional. Sem dúvida, essa proximidade advém dos muitos títulos alcançados pela Seleção Brasileira, mas, segundo Borges ( 2008), a imagem grandiosa de “País do Futebol” foi criada, sobretudo, pela linguagem jornalística dos cronistas esportivos dos grandes jornais do país. Nesse sentido, pode-se concluir que tal imagem é uma construção discursiva que emana dos grandes cronistas esportivos, daqueles que narravam as epopéias do futebol brasileiro para o grande público de maneira teatral, às vezes beirando um pouco o limite da imaginação literária. Foram esses cronistas, e a mídia em geral, que tornaram, por exemplo, a camisa dez imortalizada como a "camisa do craque" em todo o mundo.

Abrahão, Di Blasi e Salvador (2007),em um artigo sobre a "camisa 10" e a manutenção da identidade nacional por meio do discurso midiático, fazem duas colocações deveras pertinentes ao tema: a primeira é a de que esta camisa é um símbolo do Futebol brasileiro e, como guardiã e difusora de suas memórias, a mídia, seja televisiva, seja jornalística, seja digital, quer manter a "camisa 10" como materialização da identidade nacional, ainda que grandes jogadores tenham usado outras numerações. Garrincha, por exemplo, usava a camisa 7 no Botafogo. A segunda colocação é a de que esta numeração passa a ser motivo de orgulho de determinadas equipes por representar gerações vitoriosas desses times, sendo tal discurso adotado também pelas torcidas e pela mídia. Em relação ao time do Flamengo, por exemplo, a camisa dez do clube da gávea é sempre associada a Arthur Antunes Coimbra, o "Zico". Ainda em referência à aura em torno da camisa dez, um dado curioso sobre a seleção brasileira da Copa do Mundo de 1970 é o fato de somente Pelé ter tido a 14 oportunidade de usar essa camisa nos jogos da seleção, embora todos os jogadores da linha ofensiva do selecionado a usassem em seus clubes, estando aptos, pois, a usarem na Copa.

Essa importância atribuída à camisa 10 a transformou num símbolo. Trata-se do que Canetti (1995), citado por Neto (2005) chamou de símbolo de massa: “cada nação possui um símbolo de massa, que se relaciona ao que existe de singular em cada uma e esse símbolo não pode estar à mercê dos outros. Além disso, os indivíduos nascidos neste país acreditam nesse símbolo - na sua particularidade -, sobretudo em situações-limite” (2005, pág 42.). Essa simbologia também revela-se na imagem do jogador mestiço que, na Copa do Mundo de 1938, na França, ganhou relevância na figura de Leônidas da Silva, conhecido como Diamante Negro. Esse jogador mostrou-se o melhor atleta do torneio, alçando o Brasil ao posto de terceiro melhor país do mundo, o que contribuiu para a associação entre o jogador de futebol negro e a imagem de herói. Essa relação remete-nos às reflexões de Gilberto Freyre (1933), para quem a mestiçagem consiste no diferencial do povo brasileiro. Esse diferencial, revelado no Futebol, foi usado por Getúlio Vargas para promover o Brasil no âmbito nacional e internacional, ressaltando um modelo de país multirracial que se revela por meio dos símbolos humanos desse esporte.

Essa valorização do jogador negro a ponto de transformá-lo em símbolo de massa remonta à origem da própria nação brasileira, que se estruturou sob a conjugação de elementos socioculturais e econômicos, advindos do modelo patriarcal português, e dos oriundos de sociedades africanas. Os negros submetidos ao regime de escravidão, vigente no país até o século XIX, mantiveram-se durante muito tempo excluídos dos principais eventos da sociedade “branca”, que negava uma identidade brasileira alicerçada na cultura deles. Quando, porém, à cor dos jogadores se atribui a força de um povo não há mais como dissociar Futebol de cultura e de identidade nacional. Atreladas a essa associação estão também, como visto anteriormente, as construções idealizadas do brasileiro promovidas pela mídia e pelos governos, que desenharam a imagem do “País do Futebol”, que, apesar das péssimas atuações mais recentes, continua a retratar o Brasil, revelando nossa identidade.

15

CAPÍTULO 2

CLUBE DE REGATAS DO FLAMENGO: SUA CASA E SEUS MORADORES

2.1 - Clube de Regatas do Flamengo: origem e desenvolvimento No final do século XIX, não existia um esporte favorito no Brasil.As atenções eram dividias entre o turfe e o remo, ambos esportes aristocratas e somente frequentados por pessoas de alto poder aquisitivo, que transformaram as visitas às corridas e as regatas em verdadeiros eventos sociais para a classe alta da cidade do Rio de Janeiro (HOLLANDA, 2014). Com a grande procura pelo remo, por parte da população que se localizava em frente ao mar, principalmente na Baía de Guanabara, formou-se em cada praia uma equipe de regatas.As praias de Botafogo, Gragoatá e Icaraí já possuíam suas equipes de remo, faltava somente a do Flamengo constituir seu grupo, o que ocorreu em 17 de novembro de 1895, com a participação de seis rapazes, que se reuniram para fundar o Clube de Regatas do Flamengo ( PEREIRA M., 2010).

De 1895 a 1912, o clube vivia exclusivamente em prol do remo, conquistando alguns poucos títulos e figurando no cenário esportivo da época como somente mais uma equipe.No ano de 1912, após um desentendimento entre os jogadores do Fluminense FC (Clube de Futebol do Rio de Janeiro), dissidentes do tricolor carioca (alcunha pela qual é conhecido o Fluminense em decorrência de suas três cores) migraram para o Clube de Regatas do Flamengo e fundaram o departamento de esportes terrestres. A primeira partida da nova equipe foi contra a equipe do Mangueiro, com o placar de 15 x 2 para o Flamengo.

Figura 3 - Time de futebol do Flamengo em 1912 - Em pé, da esquerda para a direita: Lawrence, Amarante, Píndaro, Baena, Nery e Gallo. Sentados, da esquerda para a direita: Curiol, Arnaldo, Zé Pedro, Miguel e Borgerth. Fonte:http://www.flamengo.com.br/site/conteudo/detalhe/969? Acesso em 12/10/2016 16

Nas décadas seguintes, o clube cresceu e se desenvolveu como uma potência esportiva carioca em relação ao futebol. Assim como os outros times do Rio de Janeiro, profissionalizou-se no meio da década de 1930 e chegou ao seu primeiro tricampeonato carioca na década de 1940.Atualmente é detentor de cinco (5) tricampeonatos estaduais. Nos anos subsequentes, o time não ganhou muitos títulos, mas sempre contou com elencos competitivos.No início da década de 1970, chega ao clube um elenco profissional de jogadores, um grupo de jovens oriundos da base rubro-negra que viria a formar o time mais vitorioso do clube.

No decorrer dessa década, o Flamengo elevou ao posto de atletas profissionais jogadores como o lateral-esquerdo Júnior, o lateral-direito Leandro, os meias Andrade e Adílio, o atacante Júlio César "Uri Geller" e o maior jogador da história do clube, Artur Antunes Coimbra, o Zico. Esses atletas, ao lado de outros jogadores de qualidade técnica acima da média, formaram o time-base que ganhou o campeonato mundial pelo clube. Esse time foi também campeão do campeonato brasileiro de futebol pela primeira vez em 1980, depois em 1982, 1983 e 1987.Porém, os principais títulos do clube, que persistem até os dias de hoje, foram a conquista da Copa Libertadores da América de futebol, torneio que reúne clubes de futebol de toda a América do Sul e que dava direito a enfrentar o campeão europeu de futebol, o que aconteceu no dia 13 de dezembro de 1981, quando o Clube de Regatas do Flamengo (CRF), ganhou de 3 x 0, do Liverpool Futebol Clube, time inglês de futebol. Nas décadas seguintes, o clube conquistou o campeonato brasileiro de futebol mais duas vezes, outros títulos estaduais e nacionais, mas não viria a ter outra equipe tão conhecida, mesmo com grandes jogadores vestindo sua camisa.

Todo esse percurso foi acompanhado por pessoas dispostas a compartilharem com o CRF as emoções provocadas pelas conquistas e derrotas do clube. Trata-se dos torcedores flamenguistas, cujo número aumentava à medida que o rádio e a televisão transmitiam os jogos ocorridos no Maracanã para outras regiões do país. Assim,além dos títulos alcançados e da participação de grandes jogadores no clube, outros elementos foram responsáveis pelo aumento do número de pessoas que compõem a torcida do Flamengo. São eles: o Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã, a televisão e o rádio.

Pereira M. (2010, p. 47 e 123) mostra que o rádio e a televisão no Brasil foram veículos centrais da difusão do nome do clube, porque o surgimento desses recursos tecnológicos e sua expansão pelo país coincidem com épocas de grandes conquistas pelo CRF. Assim, quanto mais aparelhos existiam pelo Brasil, mais transmissões eram feitas e mais jogos transmitidos, chegando ao maior número de pessoas possíveis em todo território nacional. 17

Como a maioria dos jogos acontecia no Maracanã, esse estádio passou a ter uma forte relação com a torcida do Flamengo e com o clube em si, já que desde a inauguração do referido estádio, o CRF atua como mandante nesse local7. Com isso, a torcida do rubro-negro da Gávea (como o Clube de Regatas do Flamengo também é conhecido) adotou o Estádio Mário Filho como sua "casa".

Em praticamente todas as grandes vitórias do clube no Maracanã, a torcida do Flamengo se fez presente em grande número e com diversas demonstrações de apoio ao clube, em virtude disso e da divulgação em massa pela mídia desses atos da torcida, criou-se um ambiente muito ímpar quando há jogos do Flamengo no estádio. Citando novamente Gastaldo(2013), a sociedade tem o poder de tornar elementos aleatórios, figuras de cunho sagrado, e assim fora feito pelos torcedores do Flamengo, ao santificarem um clube e um estádio, clamando para si, sua proteção e utilização.

2.2 - Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã

Ao ser eleito como país sede da Copa do Mundo de 1950, o Brasil tinha uma pequena gama de estádios para comportar o torneio. Em função de alguns interesses políticos, foram eleitas seis sedes para receberem os jogos, e o Rio de Janeiro, por ser capital da República, era uma das escolhidas e para tal precisava construir um estádio capaz de mostrar ao mundo que o Brasil podia organizar e receber um evento deste porte. O primeiro grande embate sobre a construção do estádio foi a sua localização: de um lado, um grupo formado pelo radialista Ary Barroso, o prefeito Angelo Mendes de Moraes e o jornalista Mário Filho; do outro, o parlamentar Carlos Lacerda e outros políticos. O primeiro grupo queria que o estádio fosse construído na área do antigo Derby Club, no bairro da Tijuca, às margens do rio Maracanã; o segundo, que fosse construído numa área qualquer na região de Jacarepaguá. Com a escolha feita em favor do primeiro grupo, a obra teveinício em 1948 e finalizado em 1950. Com a conclusão efetivada poucos dias antes da Copa do Mundo de 1950, nascia o estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã(GUTERMAN 2009, TAVARES & VOTRE 2014, ALVITO 2014). Segue uma imagem do estádio recém-construído.

7 O clube não tem um estádio próprio, que obedeça às regras da FIFA/CBF, para utilizar como mandante das partidas, recorrendo assim, a outros estádios. 18

Figura 4 - Final da Copa do Mundo de 1950, Brasil x Uruguai, vista frontal do Maracanã. Fonte:Acervo Blog Maracanã online, acesso em 14/04/16.

No mesmo ano da inauguração, o CRF pisou pela primeira vez no gramado do “Maracanã” com uma vitória sobre o Bangu. Nas doze partidas seguintes, perdeu sete vezes, empatou uma e ganhou quatro pelejas. Assim começava a relação do clube com o maior estádio do mundo à época (PEREIRA M. 2010). Como citado anteriormente, o Futebol jogado no Brasil fomentou uma identidade para a população, como um símbolo nacional. E, com certeza, o Estádio do Maracanã teve uma importantíssima participação na formação e consolidação dessa identidade. Além de ter sido o palco da final da Copa do Mundo de 1950, também foi palco de marcos na história, como o milésimo gol de Pelé, o maior público pagante de uma partida de Futebol entre dois clubes (Final do campeonato brasileiro de Futebol do ano de 1983, Flamengo x Santos, com 155.253 pagantes (Revista PLACAR de três de Junho de 1983), o maior público pagante de uma partida de Futebol entre duas seleções (Final da Copa do Mundo de 1950, Brasil x Uruguai, 170.980 pagantes), entre outros.

19

Figura 5 - Milésimo gol de Pelé Fonte: Acervo do jornal Estadão, acesso em 14/04/16

Figura 6 - Final do campeonato brasileiro de 1983, Flamengo x Santos, na imagem o meio campista Adílio passa por um marcador do Santos FC. Fonte:Acervo Jornal do Brasil, acesso em 14/04/16.

Cabem aqui, também, algumas constatações de Tavares e Votre (2014, p. 8) sobre a memória de torcedores cariocas em relação ao estádio. Elementos como a localização 20 geográfica (área central do Rio de Janeiro), a arquitetura, a acústica e o caráter democrático do local são relacionados pelos indivíduos que participaram da pesquisa dos autores. Esse aspecto democrático fora inclusive apresentado pelos políticos envolvidos na construção do Maracanã como objetivo a ser alcançado quando estivesse funcionando. Entretanto, essa democratização foi afetada diretamente pela última reforma estrutural ocorrida no estádio, de 2010 a 2013, para a Copa do Mundo do Brasil em 2014 e para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016. Andrade (2013, p. 23) enumera, em uma tabela aqui transcrita, as obras pelas quais o estádio já passou:

Maracanã – Construção, obras e reformas

1 O projeto do Estádio Maracanã 1941 a 1948

2 A construção do Maracanã e o término das obras 1948 a 1965

3 A primeira reforma para o Campeonato Mundial de Clubes da 1999 a FIFA 2000 2000

4 A segunda reforma para os Jogos Pan-Americanos do Rio de 2005 a Janeiro 2007 2007

5 A terceira obra e reconstrução para a XX Copa do Mundo FIFA 2010 a 2014 2013

A primeira reforma a que se refere Andrade (2014) fora em decorrência do Campeonato Mundial de Clubes da FIFA, no ano de 2000, realizado no Rio de Janeiro, que diminuiu consideravelmente a capacidade do estádio. A última vez que um time de futebol do Rio de Janeiro atuou como mandante de um jogo com mais de 100 mil presentes no estádio ocorreu na final da Copa do Brasil, entre Botafogo de Futebol e Regatas e o Esporte Clube Juventude, em 1999.Logo após, essa primeira reforma se inicia e o estádio perde a sua capacidade de público. Andrade (2014, p. 29) também reforça que"A principal consequência dessa obra foi que acabaram com os espaços populares que davam uma personalidade toda especial ao Maracanã".

A segunda reforma executou-se em virtude dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro e em função da Copa do Mundo de 2014, provocando a primeira grande perda do ambiente 21 democrático do estádio, pois antes dessa reforma estrutural, existia um setor popular, de concreto, no qual as pessoas assistiam às partidas em pé e a qual se tinham direito com ingressos a preços populares.Tratava-se do espaço denominado de Geral e seus participantes, geraldinos. Estes, por sua irreverência nas fantasias e destaque nas manchetes de jornais, ficaram conhecidos nacionalmente. Mas, após a referida reforma, o estádio perdeu esse local, sendo o cimento substituído por cadeiras e o campo rebaixado. Não se podia mais torcer em pé próximo ao campo.

A terceira obra pela qual o estádio passou ocorreu em função da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.Ele sofreu mudanças profundas em sua arquitetura, tais como destruição total das arquibancadas, que foram substituídas porcadeiras,unindo todo o estádio em uma única sequência, e mudanças nos acessos e nos arcos, impactando diretamente a acústica, além da diminuição do número de pagantes. Em suas considerações finais, Andrade (2014, p. 40) relata que: "O novo Maracanã embora lindo e confortável, perderá o folclore dos "geraldinos" e dos "arquibaldos"8. É o futebol cada vez mais elitizado." Mais uma vez a reforma estrutural ataca diretamente a democratização que outrora fora o objetivo daquele lugar.

2.3 – Torcidas Organizadas

No dicionário Michaelis a definição de Torcedor é: tor.ce.dor adj (torcer+dor2) Que torce. sm 1 Instrumento para torcer. 2 Fuso. 3 Arrocho.4 Engenho rústico. 5 Antigo aparelho para extrair o caldo da cana. 6 Aquele que torce nos jogos esportivos.

E a de Torcida: tor.ci.da sf (fem de torcido) 1 Ato ou efeito de torcer. 2 Mecha de candeeiro ou de vela feita de fios de linho ou de algodão torcidos; pavio. 3 Qualquer objeto comprido que se torceu. 4 Conjunto de torcedores de um clube. 5 Reg (Bahia) Enchimento do charuto, constituído de folhas de fumo enroladas.

Não se encontra, porém, o significado de “Torcida Organizada” (TO). Esse termo foi cunhado e amplamente difundido pelo Jornal dos Sports no início da década de 1940,embora a

8 Assim como os frequentadores da Geral eram chamados de geraldinos, os frequentadores da Arquibancada eram conhecidos por arquibaldos. 22 organização das torcidas tenha se iniciado oficialmente em 1943, em virtude de algumas partidas da seleção carioca contra a seleção paulista em São Cristóvão. Nessas partidas, o famoso radialista Ary Barroso fora o designado para “controlar” uma pequena parte da arquibancada que era formada por um número de pessoas, previamente selecionadas, uniformizadas e que apoiariam o time carioca com cânticos e outros tipos de demonstração. Braga (2010, p. 10) observa que:“Antes dos anos 1940, já era possível identificar pequenos grupos de torcedores (chamados pelos jornais e revistas da época de fans, adeptos, torcedores ou assistentes) que se encontravam em um mesmo lugar nos estádios”. E dali em diante, as “torcidas organizadas” eram o agrupamento de pessoas que apoiavam seu selecionado ou clube por toda a peleja.

Um ano antes do episódio supracitado, ocorreu a criação da “Charanga Rubro-Negra”, considerada por muitos a primeira torcida organizada do Brasil(TOLEDO 1996, CUNHA 2006, HOLLANDA 2012, PEREIRA 2010). Essa torcida chamava-se charanga por ser composta por alguns integrantes com instrumentos de sopro, que ficavam nas arquibancadas do lado onde o Flamengo estivesse jogando, apoiando-o (HOLLANDA, 2012). O mesmo autor cita que, após a criação dessa torcida, outras torcidas surgiram nos demais clubes de futebol de expressão no Rio de Janeiro e que a intenção dos governantes à época e a dos meios de comunicação, principalmente o “Jornal dos Sports”9, era a de que essas torcidas mantivessem o padrão organizado das arquibancadas.O trecho a seguir do jornal mostra o tamanho da preocupação com a postura dos torcedores nos estádios: “(...) tinha em vista também a preocupação com a disciplina e a paideia do público futebolístico, por mais tosco que fosse”.

Em 1967, a Charanga sofre com uma dissidência.O grupo da ala mais jovem da torcida, insatisfeito com os rumos que a torcida seguia, a censura que Jayme de Carvalho, fundador e presidente da torcida, impunha à livre expressão dos integrantes e à forma como poupava os atletas e dirigentes de uma crítica mais incisiva, resolveu romper com o líder da Charanga e fundar a “Poder Jovem” que no ano de 1969 viria a se chamar “Torcida Jovem do Flamengo” (HOLLANDA,2012). Com essa nova nomenclatura, utilizando o verbete “Jovem” em seu nome, surge um novo estilo de “torcida organizada”, que moldou as torcidas criadas a seguir.

Toledo (1996) mostra que as “TO’s”10 se tornam para alguns integrantes um “estilo de vida”. Eles mudam sua rotina diária e suas atividades para que incluam atividades associadas às torcidas, além de mudanças em suas vestimentas (Utilização de produtos de sua TO) e de

9 No capítulo 3, será apresentada a importância deste jornal para a difusão do futebol e para as torcidas organizadas no Brasil. 10 TO - Torcida Organizada 23 seu ciclo social. Normalmente, conseguem postos de confiança dentro dessas torcidas, tais como cargos de diretores, responsáveis pela bateria, pelas bandeiras entre outros. Toledo (1996, p. 87) também afirma que "estas pessoas chegam a perder propostas de emprego em virtude da dedicação com a torcida”. Hansen (2007) também trata dessa relação entre torcedor e torcida organizada em seu trabalho acerca da Torcida Organizada “Os Fanáticos” do Club Atlético Paranaense.A autora explicita que alguns torcedores da referida instituição transformaram a participação na mesma em emprego, sendo contratados pela Torcida como funcionários que cuidam de determinados setores da instituição.

Para a maioria dos integrantes de uma TO, a torcida e o próprio clube são motivos suficientes para sua própria existência como ser humano. A identificação com a agremiação e sua inclusão no convívio social promovem uma personalidade coletiva presente em todos os integrantes da instituição (GASTALDO, 2009). Dando prosseguindo à ideia de pertencimento de um indivíduo para com a sua torcida, Monteiro (2003), em seu livro sobre a Raça Rubro Negra (RRN), outra TO do Clube de Regatas do Flamengo, comenta que, em uma de suas visitas de campo a um agrupamento da torcida, teve contato com uma pessoa desempregada, que não portava documentos, somente uma cópia de sua certidão de nascimento.Não tinha escolaridade conhecida, mas estava sempre na torcida, viajando para transportar os materiais dela, tais como faixas e bandeiras, além de cuidar de tal material, gozando de certo prestígio e conhecimento na Torcida. Uma fala transcrita de um torcedor sobre essa pessoa deixa clara a importância da TO na vida dela: "não faz nada para ninguém, não estuda e não trabalha; se perguntarem para ele o que ele faz, ele vai dizer que é um raça. Um sujeito desses só serve para isso mesmo; se não tivesse a Raça, o que ele seria? Um merda completo"(MONTEIRO, 2003,pág 91 ).

Em uma sociedade cada vez mais excludente, o perfil da maioria dos integrantes de uma TO, segundo Toledo (1996), é o homem, classe baixa, de 16 – 24 anos, integrante de uma parcela da população mais à margem da sociedade. A participação desses indivíduos em um conglomerado social e a ideia de inserção em um ambiente democrático, que seriam os estádios e os clubes, levam à reflexão acerca do impacto que a inserção social tem no ser humano. Leva-nos também à reflexão de como as TO impactam a vida desses indivíduos,contribuindo para a sua vivência em sociedade. Pereira (2010, p. 13) utiliza-se de uma escrita de Nelson Rodrigues em uma de suas crônicas para relatar o pertencimento de um torcedor à torcida durante uma partida: “Lá fui eu me meter nas arquibancadas do Maracanã. Era uma das quase duzentas mil pessoas presentes. Aconteceu então que, imediatamente, perdi qualquer sentimento de minha própria identidade." 24

2.4 – Torcida Jovem do Flamengo

Este trabalho trata especificamente da Torcida Jovem do Flamengo (TJF), sua relação com o clube e com o estádio jornalista Mário Filho, conhecido popularmente como "Maracanã". Como citado anteriormente, essa torcida surgiu em dezembro de 1967, fruto de uma dissidência da Charanga Rubro-Negra, oriunda da insatisfação dos integrantes mais jovens da Charanga com a passividade da diretoria da mesma em relação aos jogadores e dirigentes do Clube de Regatas do Flamengo. Esses jovens dissidentes queriam mais independência para questionar e reclamar dos integrantes do clube, por maus resultados.Por isso, criaram a Torcida Jovem do Flamengo, a primeira torcida organizada brasileira a ter a alcunha "Jovem" no nome e a pioneira no estilo de torcer em pé, que permearia as torcidas organizadas seguintes, tais como Raça Rubro-Negra (T.O também do Flamengo), Força Jovem do Vasco ( T.O do Club de Regatas Vasco da Gama), Torcida Jovem do Botafogo (T.O do Botafogo de Futebol e Regatas) e Torcida Young Flu (T.O do Fluminense Football Club) (HOLLANDA 2012) (TEIXEIRA 2006).

Durante os anos subsequentes, a Torcida Jovem se consolidou como a principal torcida organizada do clube, vindo a dividir este posto com a Raça Rubro-Negra (RRN), a partir de 1977, quando essa torcida foi fundada, dez anos depois da fundação da Torcida Jovem. Nas décadas de 1980 e 1990, as torcidas organizadas viveram um aumento significativo da violência entre elas, com inúmeros casos de agressões físicas a integrantes de outras torcidas e até mesmo de mortes causadas por esses confrontos. Mesmo assim, as T.Osprotagonizavam verdadeiros carnavais nas arquibancadas dos estádios.

Durante as partidas de futebol do Clube de Regatas do Flamengo no Maracanã, as torcidas organizadas do clube levavam bandeiras, bolas de encher, faixas entre outros elementos de manifestação festiva. Começaram um movimento para assistir o jogo em pé (a RRN reivindica o posto de primeira T.O a adotar este estilo (MONTEIRO 2003)), fazendo-se presentes no estádio em partidas com significativo número de torcedores, tal como ocorreu no jogo entre Flamengo x Santos na final do campeonato brasileiro de 1983, que detém o recorde de público de uma partida envolvendo dois clubes no Maracanã.

Essas atitudes festivas transformavam o estádio, durante os jogos, num espaço de festa, no qual a alegria e as manifestações espontâneas contribuíam para imprimir à participação da Torcida Jovem um caráter lúdico, que foi se perdendo, como veremos na análise, para dar lugar a relações mercantilizadas pela reforma do Maracanã de 2013. Na década de 2000 até o fechamento do estádio em 2010, a Torcida Jovem protagonizou diversas imagens que corroboram a tese de Huizinga (2000), que mostra a relação sem fins lucrativos 25 dos integrantes da torcida com o Futebol e suas demonstrações de alegria e de festividades visando ao apoio ao clube. Imagens que serão analisadas com base em Huizinga (2000) e Gastaldo (2013) .

26

CAPÍTULO 3 TEORIA, METODOLOGIA E ANÁLISE

3.1 – Pressupostos teóricos A análise aqui apresentada toma como base a perspectiva antropológica de Huizinga (2000), explicada por Gastaldo (2013). Trata-se de uma visão de jogo como elemento fundamental de cultura em que relações humanas se misturam para acessarem regras que se revelam não só nas competições entre jogadores, mas também nas relações entre torcedores e jogadores. A palavra "jogo" tem diferentes significados e sentidos. Segundo Huizinga (2000), é a forma elementar de todos as principais manifestações do espírito humano. Ele vem antes da cultura e não é simplesmente algo psicológico ou fisiológico. É algo voluntário, que não segue ordens ou regulamentos. Todos os envolvidos em um jogo seguem um mesmo objetivo e o fazem sem subsídios financeiros, estão presentes pelo seu prazer. Uma brincadeira qualquer é um tipo de jogo. Uma atividade religiosa e a própria linguagem, por mais que seja estranho, podem ser consideradas um tipo de jogo. Nesse sentido, pode-se considerar as relações presentes numa Torcida Organizada um jogo.

Se o futebol profissional já perdeu o status de "jogo" para ser tratado como "esporte", o mesmo não se pode falar de suas torcidas e de seus torcedores. Uma torcida organizada é composta de pessoas com um objetivo em comum, o apoio ao seu clube favorito, o respeito ao mínimo possível de regras que regulamentam esta torcida e todos os filiados não o fazem por questões financeiras, mas sim por questões "que transcendem as necessidades básicas da vida e dão um sentido à ação" (2000, p. 5). Esses motivos, com base em Huizinga (2000), são suficientes para classificar uma torcida organizada como um jogo.

O Futebol ainda tem muito de sua base lúdica.Ela está presente nas partidas sem fins lucrativos e sem muitas regras, como as peladas de rua e as brincadeiras de chutar bolas pelo quintal, mas, no mais alto patamar futebolístico, essa base não existe mais ou está muito fragilizada. Jogadores viraram funcionários; dirigentes; investidores e torcedores;consumidores. Esse tipo de mercantilização é a que Huizinga(2000) mostra-se contrário em sua teoria. Para ele é o que acabaria com o jogo em si e com o futebol. O que ele não esperava que fosse acontecer é que o inverso também ocorresse na mesma proporção: a "sacralização" do futebol por meio de seus torcedores, que é uma afronta à mercantilização do esporte, citada acima.

Como Huizinga (2000) explicita, a transformação do jogo em algo mercantil gera mudanças nas pessoas que acompanham as partidas de seus times. E todo o ambiente esportivo 27 acaba se movimentando em prol dessa mercantilização, os torcedores se transformaram em clientes, os estádios sofreram mudanças para gerar um conforto a esses clientes e os jogadores se transformam em funcionários, que veem o Futebol somente como um emprego. Com essas mudanças estruturais nos estádios, o valor médio dos ingressos aumenta, selecionando somente aqueles que podem pagar uma alta taxa para ver partidas de Futebol de baixo nível técnico, pois os atletas não jogam mais pelo jogo em si mas sim porque são obrigados por um contrato a estarem em campo. Toda essa transformação vai ao encontro do que Huizinga (2000) lista em sua teoria. Esse pressuposto fundamenta a análise desenvolvida a seguir, servindo também de ponto de partida para o levantamento da hipótese e para a elaboração dos objetivos.

3.2 – Metodologia

Como metodologia, utilizamos uma pesquisa de cunho qualitativo (TRIVIÑOS, 1987). A análise foi, pois, desenvolvida a partir de interpretações de imagens, que, para nossa pesquisa, foram destacadas de páginas da internet: o site oficial do Clube de Regatas do Flamengo (http://www.flamengo.com.br/site/principal) e uma página sobre a torcida em uma rede social, mantida por integrantes da torcida organizada, a página se chama "Dinossauros - da TJF" (https://www.facebook.com/TorcidaJovemdoFlamengo/?fref=ts), que não tem ligação com a página oficial da torcida. As imagens retiradas foram analisadas mostrando o comportamento de integrantes da Torcida Jovem do Flamengo dentro do Maracanã, antes e depois da última reforma estrutural iniciada em 2010 e finalizada em 2013.Foram observadas e analisadas sob a ótica das teorias apresentadas em 3.1, explicitando as mudanças, ou não, do comportamento dos participantes da referida torcida.

Lançamos mão da fotografia para dar conta das relações e comportamentos estabelecidos pelas regras impostas pelo contexto social que engloba a torcida, o clube, o estádio.Focalizamos nossa atenção nas tendências repetitivas, entendendo que o conteúdo imagético releva mais intensamente as informações das dimensões valorativas e afetivas e promove melhor a compreensão da realidade social. Com as imagens, temos informações sobrepostas, proporcionando uma melhor visão para nossa análise. A imagem oferece um registro restrito, mas poderoso, das ações temporais e dos acontecimentos reais.

A escolha da página em uma rede social e do site se deu pelo fato de haver poucas imagens sobre a TJF no Maracanã em periódicos ou revistas.No ambiente virtual, a oferta de material para este trabalho mostrou-se superior, o que se tornou determinante para a decisão da escolha das fontes de onde foram retiradas as imagens. 28

A análise desenvolveu-se com base em quatro critérios. Observaremos 1) a presença ou não de bandeiras, 2) a forma como os integrantes estão posicionados na arquibancada e em outros espaços do estádio, 3) a utilização de sinalizadores e 4) a presença de faixas e de bolas de gás.As conclusões serão apresentadas no capítulo próprio para tal.

3.3 – Hipótese

A reforma estrutural do Maracanã de 2010-2013, como consequência da mercantilização do futebol, desencadeou mudança de comportamento da Torcida Jovem do Flamengo, que perdeu parcialmente o aspecto lúdico presente nas partidas do time ocorridas antes de 2010.

3.4 – Objetivo geral

Analisar imagens da Torcida Jovem do Flamengo para verificar se há influência da última reforma estrutural do estádio Jornalista Mário Filho, o "Maracanã", na mudança de comportamento de torcedores, integrantes da Torcida Jovem do Flamengo, dentro desse estádio durante as partidas do clube rubro-negro.

3.5 - Objetivos específicos

1.Verificar o comportamento da Torcida Jovem do Flamengo antes e depois da reforma de 2010-2013.

2. Comparar os resultados obtidos para cada período de tempo estabelecido.

29

3.6 – Análise das imagens

3.6.1- Bandeiras

Figura 7 - Imagem da TJF no Maracanã em 2009, antes da última reforma. Fonte:https://www.facebook.com/TorcidaJovemdoFlamengo/?fref=ts - acesso em 08/12/2016

Figura 8 - Imagem da TJF no Maracanã em 2013, depois da última reforma. Fonte:https://www.facebook.com/TorcidaJovemdoFlamengo/?fref=ts - acesso em 08/12/2016

30

Análise das imagens 7 e 8 A imagem 7 registra um momento da TJF quatro anos antes da reforma de 2013. Do ângulo em que a fotografia foi clicada, é possível observar a aglomeração da referida torcida na parte de frente da arquibancada. Por esse ângulo, a visualiza-se a antiga estrutura do Maracanã que favorecia a disposição de faixas e bandeiras penduradas no muro de proteção da arquibancada. Percebe-se ainda, nessa imagem, um número significativo de bandeiras que, no conjunto, transmitem com mais intensidade a alegria dos torcedores. Enquanto na imagem 8,nota-se um número menor desses símbolos. Chamamos a atenção, nessa fotografia, para a linearidade da estrutura física do estádio, que, depois da reforma, não apresentou mais o muro de proteção da arquibancada.

Não sabemos se a quantidade de bandeiras está ligada a alguma restrição imposta pela polícia militar ou por quem comanda o estádio.O fato é que, desde a última reforma, a presença de bandeiras vem diminuindo a cada ano. A utilização de bandeiras de mastro é uma forma de demonstrar que o espaço onde elas se encontram é da torcida. Assim, quanto maior o número de integrantes maior o número de bandeiras e vice-versa. O menor número desses símbolos sugere, pois, a diminuição do número de integrantes da torcida no estádio.

Podemos listar também a diferença das estampas das bandeiras da imagem nº 7 e nº 8, enquanto na primeira imagem há uma maior diversidade de estampas e cores, uma maior diversidade de opiniões dos integrantes; na segunda imagem, todas seguem o mesmo padrão, retratando uma perda na criatividade, decorrente ou não, da diminuição da ludicidade presente no espaço que a torcida ocupa no estádio.

31

3.6.2 – Disposição e comportamento dos torcedores na área da torcida

Figura 9 - Figura mostrando a área da torcida e seus integrantes antes da última reforma. Fonte:https://lh5.googleusercontent.com/ac37IA3vbL8/T8rXNjroWUI/AAAAAAAAElQ/Hc WXEO86LwE/s600/obr_tjf.jpg acesso em 20/12/2016

Figura 10- Figura mostrando a área da torcida e seus integrantes após a última reforma. Fonte:https://www.facebook.com/FFlamengo/photos/a.779200658770206.1073741832.21271 4685418809/1021697874520482/?type=3&theater acesso em 20/12/2016

Análise das imagens 9 e 10 -

Na imagem 9 e 10, revelam-se dois aspectos que se apresentam de maneira diferente em cada imagem: a) a quantidade de pessoas e b) o modo como elas se encontram no estádio: em pé ou sentadas. Em relação ao primeiro aspecto, na imagem 8, fotografia clicada antes da 32 reforma de 2013, verifica-se uma grande quantidade de pessoas presentes na área da torcida (delimitada pela faixa exposta pela torcida (TOLEDO1996), o que não se observa em 10, fotografia clicada após a reforma. Quanto ao segundo aspecto, fica claro, na imagem 9, que todas as pessoas, na área delimitada pela faixa, estão torcendo de pé, enquanto na imagem 10, observamos que grande parte dos torcedores se encontra sentada. A relação entre o número de torcedores e a forma como eles se mantém no estádio, em pé ou sentado, revela também a influência da reforma estrutural do Maracanã no comportamento da TJF. Assim, enquanto em 9, o caráter festivo é percebido claramente, porque há muitos torcedores em pé, demonstrando estar livres; em 10, esse caráter está minimizado.

É sabido que a quantidade de pessoas que o Maracanã comporta vem diminuindo consideravelmente em virtude das reformas estruturais, somado a este fato, o valor dos ingressos no estádio teve um aumento significativo em relação à época antes da reforma, o que dificulta a ida da parcela da população mais pobre ao local, há ainda o fato de que a TV fechada começou a transmitir jogos ao vivo para o mesmo estado em que eles estão ocorrendo, fato que não acontecia anteriormente. Não há como precisar o real motivo dessa evacuação das camadas mais pobres, historicamente mais presentes ao estádio,mas que o fenômeno se estabeleceu, isto está claro.

O ato de o torcedor estar de pé durante uma partida de futebol sugere mais considerações do que podemos observar num primeiro olhar. Estar torcendo com o corpo ereto no decorrer dos 90 minutos de bola rolando é um movimento adequado do ser humano. Modo de estar no estádio que permite que a pessoa se expresse de diversas formas, utilizando de elementos sonoros, tais como palmas e a própria voz, elementos decorativos, tal qual a dança ritmada das mãos em direção ao campo, para demonstrar apoio aos jogadores e ao clube. Essa posição ereta do corpo facilita ao torcedor saltar, correr e abraçar as pessoas ao redor, para demonstrar a alegria com o gol marcado pelo time, situações em que o movimento adequado do ser humano diz mais do que qualquer palavra.

Após a última reforma estrutural do estádio, a administração ficou a cargo de um consórcio de empresas, que ganhou o direito de explorar o Maracanã, criado e reformado com dinheiro público, através de uma licitação. Em 2013, ano da reabertura, este consórcio tentou estabelecer algumas regras que vão na contramão do estímulo lúdico do torcedor. O presidente, na época, João Borba, em uma entrevista para um jornal11 disse que

11http://oglobo.globo.com/esportes/ambiente-exige-respeito-no-novo-maracana-9000186

33

"Temos de trabalhar com os clubes nesta mudança de hábitos. Bandeirões gigantes, mastros de bambu, torcedores sem camisa, não assistir aos jogos em pé... — diz Borba. — Fui no último fim de semana às finais do tênis em Wimbledon, e no convite, estava escrito que não é recomendável ir com uma determinada roupa... Quando um inglês lê “não recomendável”, entende que não deve usar aquele tipo de roupa." João Borba muito provavelmente confundiu o esporte que o consórcio geria com o Tênis, cuja atuação da torcida é bem diferente da do Futebol, para a qual torcer é bem diferente de qualquer outro esporte. O fato de o torcedor dar asas a sua imaginação, com bandeiras e fantasias, de demonstrar todo seu apoio e carinho pelo clube, revelando a ludicidade e a honestidade nessas demonstrações é o que faz o Futebol ser o esporte mais popular no país, talvez até do mundo, e isso não se consegue torcendo sentado.

Mesmo que o discurso tenha mudado após críticas, a ideia do empreendimento, a de se controlar e de se condicionar o torcedor ao modo como ele deve torcer pelo seu time, persiste. Na segunda entrevista de Borba, desta vez para um canal de televisão 12, ele diz que pelo fato das cadeiras serem retráteis e acolchoadas, as pessoas não deveriam ficar pulando em cima delas. De fato, não devem, assim como um estádio que fora projetado para ser um ambiente democrático e inclusivo não deveria ter cadeiras retráteis e acolchoadas, que encarecem o valor do ingresso e se perde o sentido inicial de estádio democrático.Pois este conforto paga um preço, a exclusão daqueles que não podem pagar por ele.

12http://espn.uol.com.br/video/342031_dono-do-maracana-espera-fim-dos-problemas-e-explica- mudancas-que-pretende-implementar-no-estadio

34

3.6.3 – Utilização de sinalizadores

Figura 11- TJF com sinalizadores no Maracanã antes da última reforma, provavelmente no início dos anos 2000. Fonte:ttps://www.google.com.br/imgres?imgurl=https%3A%2F%2Flh6.googleusercontent.com%2F-- BLsJpQEWu8%2FT8rXOPez2TI%2FAAAAAAAAElU%2F6Cueiaxluf0%2Fs550%2Fobr_tjf.jpg&imgrefurl=ht tp%3A%2F%2Fwww.organizadasbrasil.com%2Ftorcida%2FTORCIDA-JOVEM-DO-FLAMENGO- 13.html&docid=qgDL_puYQVW6MM&tbnid=hdxORzjsCPn6jM%3A&vet=1&w=550&h=367&safe=off&clien t=firefox-b- ab&bih=617&biw=1366&q=torcida%20jovem%20do%20flamengo&ved=0ahUKEwj_1ZrIxZDSAhXFGpAKH U4gCisQMwgyKAEwAQ&iact=mrc&uact=8#h=367&imgrc=hdxORzjsCPn6jM:&vet=1&w=550 - acesso em 20/12/2016

Figura 12- Mesma área da torcida, no jogo Flamengo x Corinthians em 20/11/2016. Fonte:http://www.flamengo.com.br/site/galeria/detalhe/2687/flamengo-x-corinthians-galeria- 2-23-10-2016?pg=9#/lightbox%5B2687_galeria_thumb%5D/2/

35

Análise das imagens 11 E 12

Na figura 11, percebe-se que três artefatos pirotécnicos estão acessos e produzindo luz e fumaça de cor vermelha, produzindo um efeito estético diferenciado na torcida. A utilização desse artifício para embelezar a presença da torcida no estádio era bastante utilizada no país até a sua proibição pelo Estatuto do Torcedor13(Art 13-A, de 2010) e no município do Rio de Janeiro. Há ainda a lei de nº75 de 2013, que “proíbe o uso de sinalizadores, fogos de artifícios, artefatos pirotécnicos ou produtos similares que produzam faísca ou fogo, nos estádios de futebol e dá outras providências”14.

A justificativa apresentada pelos redatores das respectivas leis é a de que a utilização desses artefatos poderia causar acidentes e até mesmo incêndios nos locais. A lei do município carioca cita, por exemplo, o caso de um jovem torcedor boliviano que morreu após ser atingido por um sinalizador náutico, durante um jogo de futebol entre o time do Corinthians-BR e do San José-BOL, na Bolívia. Sendo a segurança do torcedor o principal argumento das respectivas leis, podemos deduzir que a utilização dos artefatos corretos e de maneira organizada pode contribuir para a utilização dos sinalizadores pelas torcidas nos estádios de forma a manter o ambiente como um espaço de festividades, onde o ato de torcer pela sua equipe favorita não seja regulamentado por diversas leis e limitem a imaginação do torcedor.

Um fato que corrobora essa dedução é a utilização por algumas torcidas da chamada "Rua de fogo"15, que consiste em formar um corredor em rua próxima ao estádio, na qual o ônibus com os jogadores do time vai ser conduzido e, ao passar pelo corredor, os torcedores acendem sinalizadores específicos (os sinalizadores náuticos são proibidos, porque explodem depois de um certo tempo) para criar o efeito de uma rua pegando fogo. Essa prática deve ser autorizada pela Polícia Militar e até o presente momento não tem gerado problemas. Se a atitude tomada de forma organizada cria um efeito estético e enfeita o apoio dos torcedores, sem gerar problemas em relação à segurança dos mesmos, não haveria motivos para uma proibição mas sim para uma regulamentação do uso de sinalizadores dentro de estádios durante jogos de futebol.

13 Lei de nº 10.671, de 15 de maio de 2003, que estabelece normas de proteção e defesa do torcedor brasileiro, válido em todo território nacional. http://cdn.cbf.com.br/content/201210/244593910.pdf - acesso em 12/12/2016 14http://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/scpro1316.nsf/249cb321f17965260325775900523a42/04b9fdc3 7e1b62d003257b1f00675fde?OpenDocument - acesso em 12/12/2016 15http://esporte.uol.com.br/futebol/campeonatos/brasileiro/serie-a/ultimas-noticias/2016/10/01/torcida-do- inter-repete-apoio-com-ruas-de-fogo-por-fuga-da-degola.htm - Pode-se ver imagens da utilização de sinalizadores na "Rua de fogo" feita por torcedores do Internacional-BR. acesso em 12/12/2016 36

A ausência do efeito estético que eles proporcionam também sugere a perda de ludicidade no comportamento da TJF, evidente na imagem 12, que registra uma partida recente16, na qual estava proibida qualquer alusão a uma determinada TO. Observa-se, nessa fotografia, uma homogeneidade de cores, que se mantém durante todo o tempo de jogo, já que não há mais um momento para os artefatos pirotécnicos emitirem fumaças coloridas, cujo efeito é o de festividade, que, por conseguinte, remete à alegria não só do jogo em campo, mas também à felicidade de estar na torcida comemorando o desempenho dos jogadores. Com a proibição de tais artefatos, de certa forma, inibe-se o aspecto lúdico verificado na imagem 11.

O ato de torcer e apoiar o time fica menos intenso sem o auxílio desses materiais. Como a TJF se tornou somente mais uma torcida, não há diferença nem demonstrações das inúmeras sensações que o ser humano pode transmitir. O ato de torcer acaba sendo apenas mais um aspecto em um estádio que troca suas arquibancadas de cimento por cadeiras; seus torcedores, por meros clientes.

Com a perda da ludicidade por parte das torcidas organizadas, muitas acabam por trilhar um caminho na qual se tornam grupamentos análogos ás gangues, com comportamentos pouco propensos ao sentido de coletividade e à ludicidade. Fato este visto nos últimos anos no futebol brasileiro, com inúmeros casos de brigas de torcidas e diversos casos de violência envolvendo as mesmas. O estádio deixa de ser um espaço voltado para festividades para se transformar somente em um pretexto para embates violentos entre indivíduos que se dizem torcedores.

16 Ver em anexo o comunicado que notifica a proibição. 37

3.6.4 - Bolas de gás e faixas

Figura 13- Bolas de gás amarelas na Torcida Jovem do Flamengo antes da reforma. Fonte:https://www.facebook.com/FFlamengo/photos/a.779200658770206.1073741832.21271 4685418809/1034723033217966/?type=3&theater - Acesso em 20/12/2016

Figura 14 - Faixa e bolas de gás na Torcida Jovem do Flamengo antes da reforma. Fonte:https://www.facebook.com/FFlamengo/photos/a.248736551816622.67487.2127146854 18809/769832379707034/?type=3&theater - Acesso em 20/12/2016 38

Figura 15 - Bolasde gás e bandeiras na Torcida Jovem após a reforma. Fonte:https://www.facebook.com/GRCTorcidaJovemdoFlamengo/photos/a.178647830830258 7.1073741830.1704845639799188/1799142887036129/?type=3&theater - Acesso em 20/12/2016

Figura 16- Setor Norte do Maracanã, local em que se localiza atualmente a Torcida Jovem do Flamengo. Fonte:http://www.flamengo.com.br/site/galeria/detalhe/2725/flamengo-x-santos-27-11- 2016?pg=7 - Acesso em 20/12/2016

39

Análise das imagens 13, 14, 15 e 16

No carnaval, diversos elementos são utilizados para colorir a festa popular. Penas, plumas, placas pintadas e afins dão um brilho especial ao evento. A ludicidade não se revela. Ela é a essência da festa. No Maracanã, o aspecto lúdico subjaz aos jogos. Ele é revelado, como já mostrado anteriormente, por meio de recursos materiais e por meio da postura dos torcedores. Já analisamos imagens em que sobressai o uso de bandeiras e de sinalizadores, mas os torcedores usam outros recursos materiais que imprimem uma relação mais próxima com os ambientes festivos: o uso de balões de gás e de faixas. Os balões consistem num recurso material muito utilizado em vários tipos de festas. Já as faixas eram levadas para o estádio com o objetivo de demarcarem o espaço da torcida, mas transformavam-se também em recursos festivos.

Na imagem 13, a utilização dessas bolas de gás, na cor amarela, dá um certo contraste com as cores preto e vermelho, usadas em praticamente quaisquer objeto alusivo a torcida. Elas aparecem novamente na figura 14, junto de uma imensa faixa com o nome da torcida, expressando o sentimento infantil de balançar bolas coloridas para comemorar um aniversário, por exemplo. O uso de uma imensa faixa e de bolas para enfeite nos remete novamente ao aspecto lúdico no ato de torcer.

Na imagem 15, clicada após a reforma de 2013, o uso de bolas de gás amarelas ainda existe, mas em menor quantidade, o que diminui o efeito lúdico e o brilho de uma festa na arquibancada, conforme observado nas imagens clicadas antes da citada reforma. A beleza proporcionada pela faixas também é minimizada. Na imagem 16, se observam poucas e diminutas faixas das torcidas. Essa imagem é a do setor Norte do estádio, local em que a Torcida Jovem do Flamengo, atualmente, se instala durante os jogos. Essas faixas não servem mais ao seu propósito de demarcação de território das torcidas nem atingem o objetivo de criar um clima estético. Elas não só diminuíram como perderam a beleza em conseqüência da mudança estrutural que inviabilizou totalmente o uso de imensas faixas com o nome da torcida ou com mensagens para o time.

40

CONCLUSÃO

Este trabalho analisou fotografias, aqui denominadas imagens, da TJF, clicadas antes e depois da última reforma do Maracanã, para mostrar a influência das transformações do estádio no comportamento dessa TO. Para, contudo, desenvolvermos tal análise, julgamos necessário dedicar um capítulo sobre o futebol e um sobre o CRF, a TJF e o Maracanã. Mostramos, em um primeiro momento, o início e a história do futebol de maneira geral. Num segundo, a importância do futebol brasileiro para a formação da identidade nacional, sua relação com a política e sua importância social. No segundo capítulo, apresentamos a história do Clube de Regatas do Flamengo, a história do Estádio jornalista Mário Filho, o Maracanã, a formação das torcidas organizadas de futebol, principalmente a TJF. Esse procedimento mostrou-se fundamental, porque partimos das informações apresentadas para entendermos que, em qualquer época, as manifestações lúdicas promovidas por torcedores dos clubes de futebol estão ligadas a um desenvolvimento político-econômico engendrado pelas relações entre povo e instituições governamentais e privadas. Essa percepção nos levou à escolha da metodologia da análise das imagens e da teoria que a embasou.

Como ficou claro nas análises, a estrutura física do estádio não permite mais que a torcida mantenha elementos visuais, tais como faixas grandes, bem como não mais oferece condições para que se torça de pé. A postura sentada é diferente da adequada do torcedor: a ereta, que lhe possibilita demonstrar os sentimentos de maneira mais festiva. A última reforma do Maracanã promoveu o condicionamento dos torcedores, que conseqüentemente transmitem com menos ludicidade o ato de torcer. Demonstramos ainda que a proibição dos sinalizadores também provocou a ausência dos efeitos visuais pirotécnicos, o que contribuiu para diminuir a sensação de que as partidas transformam-se em festas. O uso de bolas de gás, embora não seja proibido, diminuiu, o que colabora também para a perda da ludicidade das partidas do CRF no Maracanã.

Não fora exposto neste texto monográfico o impacto do aumento do valor médio do ingresso do Maracanã, mas como relatado na entrevista de um presidente do consórcio,que administra o estádio, cobra-se mais caro por um estádio mais confortável, mas esse conforto também exclui o torcedor que não tem condições financeiras para pagar o valor do ingresso. Por isso, ele acaba não indo mais ao Maracanã, o que vai contra a expectativa inicial dos idealizadores do estádio: a de que o local deveria ser um ambiente democrático, ao qual toda a população teria condições de acesso (ANDRADE 2013). 41

Por fim, o foco deste trabalho não é apontar soluções para esse problema, mas demonstrar que as mudanças físicas da última reforma do Maracanã provocaram mudanças no comportamento dos torcedores organizados da TJF, o que foi atestado por meio das análises das imagens. Estas mudanças de comportamento se articulam diretamente com as mudanças estruturais ocorridas no estádio, não há condições de se pensarem separadamente, uma está intimamente ligada a outra. Ao trocar a estrutura física do estádio, como a substituição das arquibancadas por cadeiras, de substituir espaços em que bandeiras pudessem ser colocadas por locais que inibem este tipo de manifestações, o estádio força o seu frequentador a se adequar a novas regras, o que nem sempre gera um fato positivo.

O Futebol é sem dúvidas um fenômeno que tem uma importância impar no país, visto sua importância como um agente social, do seu apelo cultural, político e econômico, além do espetáculo esportivo visto por todo o mundo. E como dito anteriormente, o estádio do Maracanã está diretamente ligado ao Futebol brasileiro, não só como palco de grandes apresentações de times e seleções mas também, outrora, como um local em que o povo carioca se fazia presente, na qual a maior parcela da população tinha condições de frequentar e assim o fez por décadas, mas hoje já não o faz mais.

Estas mudanças que foram impostas ao estádio, tiveram reflexo não só no Maracanã, mas também na sociedade ao redor. Um local que outrora foi pensado para ser um espaço democrático hoje se vê como um ambiente de exclusão, no qual poucas pessoas tem condições de frequentar.

42

REFERÊNCIAS

ABRAHÃO, B. O. de L., DI BLASI,F., SALVADOR, M.A.S., A “camisa 10” do futebol como um símbolo na manutenção da identidade nacional – o discurso da mídia -, Esporte e Sociedade ano 2, n.6, Jul.2007/Out.2007, Disponível em: Acesso em 4 de abril de 2016. ALVITO, M. DC - Antes do silêncio... a canção, Esporte e Sociedade,Rio de Janeiro, ano 8, n 22, set.2013 Disponível em Acesso em 5 de abril de 2016. ANDRADE, F.E.R., Maracanã, 1948 - 2014, estudo de caso do ex-maior estádio do mundo, 2013, 44 f, Monografia apresentada com vista à obtenção do grau de pós-graduação em Gestão de Esportes, na área de especialização de Gestão Desportiva. Faculdade UNINOVE, Campus da Barra Funda, São Paulo,2013.

ASSAF, R.; MARTINS , C., História dos campeonatos cariocas de futebol 1906/2010, Rio de Janeiro, Maquinária Editora, 2010. BRAGA, J. L. M., As Torcidas Uniformizadas (Organizadas) de Futebol, Esporte e Sociedade, Rio de janeiro,ano 5, n.14, mar.2010/jun.2010. Disponível em: . Acesso em 4 de Abril de 2016. BORGES, L. H. de A. Não mais vira-latas... Um homem genial! O brasil como país do futebol,Esporte e Sociedade, ano 3, n.8, Mar.2008/Jun.2008 CAVALCANTI, E.A.;SOUZA, J.; CAPRARO,A. M., O fenômeno das torcidas organizadas de futebol no brasil – elementos teóricos e bibliográficos – Revista da ALESDE, Curitiba, v. 3, n. 1, p.39-51, abril 2013. CORNELSEN, E.L. A memória do trauma de 1950 no testemunho do goleiro Barbosa, Esporte e Sociedade, Rio de Janeiro, ano 8, n 21, março 2013. Disponível em :< http://www.uff.br/esportesociedade/pdf/es2102.pdf> Acesso em 4 de abril de 2016. COUTO, E. F., Da ditadura à ditadura: uma história política do futebol brasileiro (1937- 1978), Rio de Janeiro, Editora da UFF, 1ª edição, 2014. CUNHA, F. A.TORCIDAS NO FUTEBOL ESPETÁCULO OU VANDALISMO?,São Paulo, Scortecci Editora, 1ª ed, 2006. GASTALDO,E.,HELAL R., Homo Ludense o futebol-espetáculo,Revista Colombiana de Sociologia, Vol.36, N. 01, j u n . 2 0 13 ISSN: impresso 0120 -159X - en línea 2256-5485, Bogotá , Colômbia pp.111-122. GASTALDO, E. Futebol, mídia e interações sociais entre torcedores no Brasil: Um estudo etnográfico. Razón y Palabra, México, n. 69, pp. 1-9. 2009. GUTERMAN, M. O Futebol explica o Brasil, Rio de Janeiro:Editora contexto, 2009. HANSEN, V. Torcida organizada os fanáticos:Relacionamentos e sociabilidade,2007, 101 f,Dissertação(Mestrado em Educação Física), Departamento de Educação Física, Setor de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná,Curitiba, 2007. HOLLANDA,B. B. B. De. et al. A TORCIDA BRASILEIRA, Rio de Janeiro: 7 letras, 2012. 43

HUIZINGA, J., Homo Ludens, São Paulo, Editora Perspectiva,4 ed,2000. MONTEIRO, R. A. TORCER, LUTAR, AO INIMIGO MASSACRAR:RAÇA RUBRO- NEGRA!, Rio de Janeiro, FGV editora, 1ª ed, 2003. MORAES NETO, G. Dossiê 50 – os onze jogadores revelam os segredos da maior tragédia do futebol brasileiro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. NETO V. F. O papel do Futebol na promoção dos regimes militares do Brasil e da Argentina - 2005, 90f. Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - 2005. PERDIGÃO, P. Anatomia de uma derrota. Porto Alegre: L & PM. (edição revista e ampliada), 2000. PEREIRA, L. A. De M. ,FOOTBALLMANIA: Uma história social do futebol no rio de janeiro, 1920 - 1938, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 2000. PEREIRA, M. A nação – Como e por que o Flamengo se tornou o clube com a maior torcida do Brasil, Rio de Janeiro: Maquinária Editora, 2010. RODRIGUES FILHO, M..O negro no futebol brasileiro,Rio de Janeiro, Editora Mauad,2003 p. 288. RODRIGUES,J.A.FERNANDES, F.. (orgs.), DURKHEIM, É. (1978). Sociologia da Religião e Teoria do Conhecimento. Durkheim. São Paulo: Ática. TAVARES, A., VOTRE, S. Estádio do Maracanã 1950-2010 na memória de torcedores Movimento. Porto Alegre, v. 20, n. 3, p. 1017-1038, jul./set. de 2014. Disponível em: Acesso em 4 de abril de 2016. TEIXEIRA, R. C., Torcidas jovens cariocas: símbolos e ritualização Esporte e Sociedade,Rio de Janeiro,ano 1, número 2, Mar2006/Jun2006,http://www.lazer.eefd.ufrj.br/espsoc/, acesso em: 7/10/2015. TOLEDO, L. H De, Torcidas Organizadas de Futebol, São Paulo, Editora Autores Associados, 1996. TRIVIÑOS, A. N. S., Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. Editora Atlas, 1987.

http://www.ibopeinteligencia.com/noticias-e-pesquisas/flamengo-e-corinthians-sao-os-times- brasileiros-com-mais-torcedores-e-simpatizantes/ - acesso em 12/10/2016.

acesso em 6 de abril de 2016. http://oglobo.globo.com/esportes/ambiente-exige-respeito-no-novo-maracana-9000186 http://espn.uol.com.br/video/342031_dono-do-maracana-espera-fim-dos-problemas-e-explica- mudancas-que-pretende-implementar-no-estadio