Revista FAMECOS: mídia, cultura e tecnologia ISSN: 1415-0549 [email protected] Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Brasil

Amaral, Adriana Cybersubculturas e cybercenas: explorações iniciais das práticas comunicacionais electro -goth na Internet Revista FAMECOS: mídia, cultura e tecnologia, núm. 33, agosto, 2007, pp. 21-28 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Porto Alegre, Brasil

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Cybersubculturas e cybercenas: explorações iniciais das práticas comunicacionais electro-goth na Internet

RESUMO análise das práticas sociais e de consumo em O presente artigo problematiza os conceitos de cena torno da música tem sido objeto de pesquisas (Straw, 1997, 2006) e de cybersubcultura (Bell, 2000 A no campo dos estudos culturais, da antropolo- e Caspary & Manzenreiter, 2003) em sua pertinência gia, sociologia, e da comunicação desde o século XX. para o estudo dos processos e práticas sociais de A partir da disseminação das tecnologias de comu- comunicação, produção e divulgação/distribuição nicação é notória a problematização de conceitos de informações no contexto da cibercultura. A partir como subcultura, cena, movimento e mesmo de co- das teorias da cibercultura e dos estudos pós-sub- munidade1 em um contexto diferente do qual eles culturais britânicos propusemos a discussão dos con- foram originalmente formulados, uma vez que tais ceitos em relação a algumas práticas concretas de práticas necessitam ser compreendidas no âmbito comunicação e sociabilidade da subcultura “electro- das formações sociais fluidas e complexas que se goth/industrial” na Internet. apresentam desde a teatralidade urbana dos clubs, das lojas de discos, da mídia especializada, até o PALAVRAS-CHAVE ciberespaço, nos quais a sociabilidade urbana apre- • cybersubcultura senta uma riqueza de fenômenos empíricos. As ali- • cena anças formadas por afinidades de gosto que transi- • internet tam por entre as ruas na vida offline, parecem se auto-apresentar e se autopromover2 com ainda mais ABSTRACT força na vida online. Em trabalhos anteriores, apon- The present paper discusses the concepts of scene (Straw, tamos como essas subculturas estão inseridas no 1997, 2006) and cybersubculture(Bell, 2000 e Caspary & contexto da cibercultura, a partir da subcultura cy- Manzenreiter, 2003) and it´s importance to the studies of berpunk (Amaral, 2005a), mapeando os seus desdo- processes and cultural practices of communication, pro- bramentos nas figuras dos hackers e rivetheads3 duction and publicizing/distribution of information in- (Amaral, 2005b). No presente artigo, partimos da side cyberculture´s context. Having cyberculture´s theo- problematização do conceito de “cena” apresentada ries and british post- studies as a theoretical por Straw (1997 [1991], 2006) e da noção de cyber- framework, we propose the discussion of these two con- subcultura (Bell, 2000, Caspary & Manzenreiter, 2003) cepts, relating them to some empirical practices of com- para propor uma análise introdutória – cujo objetivo munication and sociability of the so-called “electro-goth/ maior é um mapeamento e tipologia das cenas inse- industrial” on the Internet. ridas nessa subcultura através da etnografia virtual (Hine, 2000) - das práticas sociais e comunicacionais KEY WORDS da “cybercena” electro-goth/industrial na Internet. • cybersubculture Nosso foco é o papel da auto-apresentação e auto- • scene promoção dessa subcultura particular que, através • internet dos múltiplos usos da Internet, conferem ao online mais um espaço social, um local de trocas, críticas, discussões ou mera demarcação de pertencimento dos elementos constituintes de uma possível “cyber- cena”. Seria possível então que as redes de relacio- namento do ciberespaço re-elaborem as hierarquias dos participantes em uma cybersubcultura? De que forma a fala dos participantes faz eco aos conceitos? Repensando o espaço das “cenas” e as relações subculturais com as tecnologias As tensões e críticas no que diz respeito ao legado dos estudos subculturais britânicos da década de têm ocupado espaço nas discussões dos chamados estudos pós-subculturais dos anos 90.4 A partir do esforço revisionista dos pós-subculturalistas

Adriana Amaral proliferam novas terminologias (canais, subca- UTP nais; redes temporárias de subcorrentes, cenas;

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comunidades emocionais; culturas club; estilos Já em um artigo mais recente, Straw (2006) redis- de vida; neotribos), em substituição ao conceito cute essa concepção, afirmando que as cenas são de subcultura, cujo valor heurístico – alega-se – vividas enquanto efervescência10 que proporciona prá- solapa diante das mutáveis sensibilidades e múl- ticas e espaços organizados, sejam eles a favor ou tiplas estratificações e interações das culturas contra as mudanças. Percebe-se então que o conceito juvenis do pós-punk (Freire Filho, 2005, p. 141). de cena, embora elástico, ainda guarda alguma rela- ção com a noção de espaço dentro dos centros urba- Tais terminologias fornecem pistas valiosas para nos. Mas e quando as noções geográficas, sociais e cultu- o entendimento dos estudos pós-subculturais, mas rais de espaço se alteram em função do ciberespaço? De não cremos que substituam o conceito de subcultu- que maneira o conceito de cena acompanha ou não tais ra. Compreendemos a utilização dessas terminolo- rupturas? A partir de uma primeira inserção ao cam- gias enquanto parte do próprio léxico da gramática po, observamos que essa concepção ligada ao espa- subcultural. Interessamo-nos por descrevê-las no con- ço e às práticas, por um lado se mantém tanto dis- texto da comunicação mediada por computador, e de cursivamente (na fala dos participantes e no discurso que formas as transformações terminológicas podem das mídias jornalísticas especializadas) quanto nas apontar para mudanças ou não nas práticas sociais dos trocas offline (no espaço dos clubs, lojas de roupas/ seus participantes. Enfatizamos a utilização indistinta discos, etc) ou online (nos websites, fóruns, e-zines, do conceito de cena e sua migração para o ciber- blogs, Orkut, discussões via MSN, etc e, no próprio espaço. Segundo Will Straw (2006), o termo cena MySpace). Salientamos novamente que nossa análi- tem sido usado para designar fenômenos e locais se centra-se no electro-goth/industrial, uma vez que tão distintos quanto bares, movimentos musicais, globais ou locais, entre outros. Cena parece, por as cenas são as apropriações locais dos gêneros11 e exemplo, caber na flexibilidade de exemplos como a têm características próprias, sem dúvida. Na cena ou às movimentações subculturais lo- verdade, hoje, eu acho que não dá mais pra calizadas ( “a cena carioca”) ou globais.5 falar nem mesmo na cena de uma cidade como um todo – mas sim nas cenas diversas do Rio Scene will describe unities of highly variable sca- (de house, de D&B, de electro); de SP, etc...mas le and levels of abstraction. “Scene” is used to seria leviano eu traçar aqui as diferenças, rapi- circumscribe highly local clusters of activity and damente. Tem mesmo que analisar caso a caso – to give unity to practices dispersed throughout como algumas cenas são mais fortes ou volá- the world. It functions to designate face-to-face teis, quais os hábitos e valores de cada um dos sociability and as a lazy synonym for globalized grupos, etc (SÁ, 2006, online).12 virtual communities of taste (Straw, 2006, p. 6). A cena “acontece” ou é construída, a partir do Percebemos essa utilização intensa de “cena” mes- espaço onde ocorrem as trocas, hábitos e práticas mo na fala dos seus participantes: “É comum per- sócio-comunicacionais, tanto em nível macro (glo- guntarmos como é a cena em um determinado lu- bal) como em nível micro (local). É pertinente falar- gar” (WTek, músico e produtor de eventos mos então, em cenas, uma vez que, elas ocorrem ou electro-goth/industrial).6 Quando questionado pela de forma simultânea ou de forma alternada. Anali- revista belga Side-Line, Andy LaPlegua, vocalista da samos a virtualização das cenas – os espaços de banda de electro-industrial Combichrist7 explica que trocas dentro do ciberespaço – enquanto um fator os títulos dos seus EPs - “With success comes bitching” dependente do crescimento e da consolidação, tanto (Com o sucesso chegam as reclamações) e “What the dos estilos e subestilos musicais quanto das próprias fuck is wrong with you people? (Que raios está errado subculturas. com vocês?) - remetem ironicamente às próprias ne- As diferentes cenas parecem ser mais um entre os gociações entre os participantes da cena electro-goth: tantos elementos e terminologias da complexa gramá- “It’s basically about this scene8 in general. People tica subcultural, não sendo uma substituta conceitual don’t like to see other people make it. People would da mesma. O uso do termo subcultura aqui pode rather bitch and complain”9 Em relação específica à apresentar uma determinada ambigüidade, contudo questão da cena musical, Straw (1997) destaca a im- tendemos a concordar parcialmente com a revisão do portância da comunicação na construção de práticas mesmo feita pelos estudiosos pós-subculturalistas, e é e de alianças musicais. nesse contexto que o utilizamos. Vejamos então como se constitui a proposta do termo cybersubcultura e de A musical scene is a cultural space in which a que forma ele dialoga com as cenas. range of musical practices coexist, interacting with each other within a variety of processes of Cybersubculturas e cybercenas differentiation, and according to widely varying Para David Bell, cybersubculturas são “social for- trajectories of change and cross-fertilization mations that either signal an expressive relationship (Straw, 1997, p.494). to digital technologies13 (...) or make use of it to

22 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 33 • agosto de 2007 • quadrimestral Cybersubculturas e cybercenas • 21–28 further their particular project” (Bell, 2000, p. 205). dos anos 80 – cujo foco estava centrado mais no rock Em seu estudo sobre as , McCall (2001) aponta pós-punk – a subcultura electro-goth/industrial, assu- essa apropriação das tecnologias pela subcultura miu também sua influência advinda da música ele- raver. trônica como o techno e o electro.18 Sob esses aspec- tos, essa subcultura pode ser considerada uma ´s relationship with technology spreads cybersubcultura, uma vez que, sem os elementos much further than the Internet. With its inhe- tecnológicos ela não teria como surgir nem como se rent relation to digitalization and computers, disseminar e ganhar novos adeptos. electronica is not only the anthem of rave, but is Apesar dessa definição de cybersubcultura pare- often equated with a wider cyber aesthetic (Mc- cer mais apropriada, ainda assim, ela contém um Call, 2001, p.127). caráter discutível, principalmente no quesito “proje- to não-comercial” a que ela se refere. Uma vez que Os fortes laços entre tecnologia e a própria sub- as ferramentas tecnológicas como sites, e redes de cultura aparecem também na análise da cena Noise relacionamento como o MySpace19 também funcio- Japonesa.14 Como explicam Caspary e Manzenreiter nam como parte do marketing e da auto-promoção (2003, p. 62), por ser um estilo que “relies heavily on (atravé s da divulgação de press-releases, agenda de digitalized production work (so-called “industrial turnê, arquivos de áudio, fotos e vídeos e até venda music”) as well as personal computer usage and de ingressos online, etc), torna-se problemática utili- computer networks to disseminate its products, the zação desse termo. No entanto, se pensarmos na deliberate “cyborgization”15 of the subculture seems conotação que o termo não-comercial possui dentro to be inevitable.”No entanto, a noção de Bell sobre da linguagem subcultural, entendemos que ele não cybersubcultura é criticada por Caspary e Manzen- exclui o comércio em si, principalmente no quesito reiter (2003, p. 63) como demasiadamente ampla, ten- de estimular os fãs a irem aos shows e a comprarem do perdido o fio condutor que distingue uma forma- o material produzido pelas bandas – focado em um ção subcultural do chamado mainstream. Para os segmento de fãs que apreciam os estilos – mas sim, autores, essa categoria indefinida pode ser aplicada à que o projeto não foi feito com o objetivo de agradar a “públicos maiores” e às grandes gravadoras. Essa social formations whose members pursue a non- é uma possibilidade de entendimento do termo den- commercial, subcultural project that is essenti- tro do próprio universo da subcultura em questão. ally dependent on communication technology Se o termo não-comercial for substituído pelo não for its existence. We recognize a cybersubcultu- menos controverso termo underground, ainda estarí- re when the relationship between technology, amos no campo das oposições simplistas que não on the one side, and the social structures and dão conta do complexo fenômeno da cooptação dos communicative processes that constitute the estilos subculturais pelo mainstream, como Caspary community, on the other, are so intimate that & Manzenreiter (2003) mesmo indicam. without technology, this subculture would cease to exist16 (Caspary e Manzenreiter, 2003, p. 63). Nowadays, it seems that a strict binary system of underground versus mainstream music cul- A definição dos autores parece esclarecer a ques- tures (and at the same time groups that can be tão da mera transposição de uma subcultura para o mapped solely by styles or genres) has vani- contexto do ciberespaço e de uma subcultura na shed completely. The question of whether a qual as tecnologias já são em si mesmas um fator musical style, a group of fans or a group of essencial para o seu nascimento e disseminação. As- musicians is articulating something different, sim como no caso da cena Noise japonesa, estilos new or innovative, something that points out of como o Industrial, o Darkelectro, o Synthpop, Future- this place, needs to be mapped in a much more pop, EBM, Hellectro, TBM, entre outros também pos- sensitive way (CASPARY & MANZENREITER, suem sua produção dependente de instrumentos di- 2003, p. 63). gitais como computadores, samplers, baterias eletrônicas, etc, mesmo que, muitas vezes, em sua Um exemplo dessa complexidade está na entre- visualidade/sonoridades próprias tais estilos sejam vista de lançamento do álbum mais recente da ban- associados – principalmente por parte dos membros da eslovena de industrial/experimental Laibach.20 de outras subculturas dentro da música eletrônica Questionado pela revista belga Side-Line sobre a es- como o techno ou o house, por exemplo – à chamada colha de um produtor de mixagens (P-Dub) que “low-tech” (tecnologias mais antigas, mais simples trabalhou com artistas eletrônicos de caráter mais de utilizar que tornam-se cultuadas). Além disso, a pop como Goldfrapp, Björk e até mesmo Madonna, o própria temática “tecnologia” aparece no discurso vocalista Alexei Monroe respondeu: “If he is good dos produtores, DJs, bandas, seja em capas de ál- enough for Madonna, he should be good enough for buns, letras, entrevistas, moda, etc. Embora, uma de Laibach as well!”.21 O que seria algo contestado e suas matrizes subculturais seja o gótico/darkwave17 discutido há alguns anos na subcultura é aceito como

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transformador dentro desse contexto. “A cena góti- bersubcultura enquanto uma categoria de fundo, ca atual abraça avidamente as novas tecnologias e as mais abrangente de um contexto que está além da possibilidades que elas oferecem – em particular música; e cybercena como cada espaço de apresen- aquela que permite a exploração do território som- tação tecnológica de auto-apresentação e auto-pro- brio enquanto desfruta do sucesso comercial”. (Bad- moção das subculturas (sites oficiais e não-oficiais deley, 2005, p.263). Essa dificuldade em mapear e dos artistas, fóruns de discussão, blogs, fotologs, delimitar uma subcultura em relação às questões perfis e comunidades no Orkut e no MySpace, etc). não-comerciais ou underground reflete o mesmo di- Uma vez compreendidas as categorias no âmbito lema que os seus participantes encaram, seja nas dessa pesquisa, prosseguiremos com uma breve des- discussões entre os fãs/produtores a respeito de “au- crição da cybersubcultura electro-goth/industrial com tenticidade”22 e do velho clichê dos “sell-outs”.23 enfoque nas práticas sociais observadas nos primeiros De volta à questão da cybersubcultura, percebe- contatos. mos que sim, a noção é pertinente para dar conta de subculturas que têm na tecnologia sua principal ên- A cybersubcultura electro-goth/industrial e a face fase desde sua constituição – como o caso dos ha- mais sombria da eletrônica. ckers24 ou os clubbers e na electro-goth/industrial – bem como todos as subculturas surgidas a partir da soci- A história da cena alternativa da década de 90 abilidade proporcionada pela música eletrônica – na foi dominada pelo advento do que chamamos qual a tecnologia é uma de suas forças constituintes de música industrial. A cena gótica já havia centrais – até a produção (no caso da música eletrô- incorporado o industrial com todo o entusias- nica no qual os instrumentos são tecnológicos), di- mo no fim da década de 1980, graças principal- vulgação, distribuição e disseminação de seus con- mente ao paralelo entre os dois estilos, em par- teúdos através da Internet, dos celulares, das ticular o interesse pelo lado mais sombrio da plataformas/redes sociais, wikis, blogs, enfim, do vida compartilhado por ambos. (Baddeley, 2005, aparato digital do qual elas não podem ser excluí- p. 157) das. Contudo, o termo parece carecer de sentido quando aplicado às subculturas que não possuem Nascida no começo da década de 80, a subcultura uma vinculação direta com a tecnologia, mas que electro-goth/industrial27 ganhou mais força nos anos meramente transpõem seus dados físicos e os seus 90, com a disseminação e a popularização das tecno- relacionamentos offline para o online. logias de comunicação, assim como os softwares de Enquanto o termo cybersubcultura abrange as re- produção musical e equipamentos como baterias ele- lações implícitas numa subcultura, ou seja, as impli- trônicas, samplers, etc. Segundo Baddeley (2005), as cações da mesma com os aspectos tecnológicos, sua origens da música industrial28 estão no fim dos anos moção ou força essencial de criação; a noção de 70, em bandas de vanguarda e experimentais como cena nos ajuda a compreender de que maneira os o Throbbing Gristle (considerada publicamente por participantes fazem uso de suas práticas e em quais muitos críticos como a primeira banda de industrial espaços, hierarquias e níveis (micro/macro,online/ propriamente dito) e Test Department. Devido a offline25). Assim, as duas terminologias podem ser seus excessos avant-garde e experimentações cheias utilizadas, não como sinônimos, nem como oposi- de barulhos, ruídos e caos sonoro, o Throbbing ções, mas como elementos complementares para o Gristle criou seu próprio selo, o Industrial Records. entendimento basilar da sociabilidade pós-subcultural. A partir daí, a imprensa musical inglesa começou a Conforme nos apontam nossas primeiras aproxi- rotular diversas outras bandas que apresentavam mações com o campo, ao contrário de subcultura – trabalhos nesse sentido como industrial. que desdobrou-se no termo cybersubcultura – e que A influência britânica atravessou o Atlântico, e o surgiu a partir de ruminações teóricas a partir do Canadá e os EUA acabaram absorvendo esse estilo empírico; o termo cena foi transposto para os espa- sonoro e criando suas próprias bandas, que mistu- ços virtuais, adotado tanto pelos veículos especiali- raram esse som barulhento com um rock mais gui- zados – no caso dos estilos musicais ou de vida – tarreiro e um apelo mais comercial (no caso do Mi- quanto pelos próprios integrantes - produtores e nistry, NIN e outros nos Estados Unidos), ou, como audiência, que muitas vezes são os mesmos - dessas no Canadá, mantiveram um som mais sombrio e subculturas. Talvez por sua flexibilidade e sensibili- espectral (no caso do Skinny Puppy) ou dançante (o dade (apontada por Straw), e/ou mesmo por seu Frontline Assembly). No presente paper optamos pela uso jornalístico,26 a noção de cena permanece no utilização do termo electro-goth/industrial em vez de ciberespaço e parece repercutir com mais ressonân- apenas industrial29 pelo estilo ser apenas um dentre cia dentro e fora das cybersubculturas como um os vários estilos de música relacionados a essa cy- vocábulo “coringa”, ou seja utilizado extensivamen- bersubcultura. Outro fato que influenciou a opção te por analistas e por participantes da cena. Para os por esse termo, é que nos anos 90, houve uma apro- objetivos desse trabalho, em relação à Internet e ou- priação do termo “música eletrônica” pela mídia em tras tecnologias de comunicação, pensamos em cy- geral para designar subcultura raver/clubber, o que

24 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 33 • agosto de 2007 • quadrimestral Cybersubculturas e cybercenas • 21–28 deixou sem uma nomenclatura específica os produ- do campo, não tratamos das práticas relativas à rela- tores e fãs das tendências eletrônicas mais ção produtor-audiência (que a partir da Web 2.0 se obscuras.Por outro lado, seria mais fácil utilizar a tornam cada vez mais estreitas), do espírito de remi- terminologia cybergótico, termo que facilitaria a com- xagem e das convergências de gosto, assim como a preensão do fenômeno e o apresentaria de forma própria utilização e apropriação das mídias “tradi- mais visual. No entanto, como procuramos compre- cionais” (como fanzines, revistas, etc). É preciso, em ender cada fenômeno sociológico a partir de suas novas pesquisas, concentrarmo-nos na repercussão características internas, com a segmentação dentro dessas questões dentro desse cenário complexo e da própria cybersubcultura, cybergótico acabou de- heterogêno.Assim, entendemos nosso contexto de signando uma das cenas dentro da cultura do indus- pesquisa como “both the circumstances in which the trial. No início dos anos 90, os fãs e participantes Internet is used (offline) and the social spaces that acabaram se subdividindo entre os chamados cyber- emerge through its use (online)” (Hine, 2000, p.39) góticos (seguidores dos sons mais modernos30) e os e, para tanto torna-se necessário um mapeamento rivetheads31 (seguidores do industrial old-school,32 vi- dessas cybercenas emergentes, a partir de novos es- sual mais militarizado, etc). Isso sem contar os - tudos etnográficos com enfoque nos usos de ferra- vitorianos (que unem a obsessão pela era vitoriana mentas tecnológicas e redes sociais voltadas ao com- às tecnologias recentes e que possuem um visual partilhamento de sociabilidades musicais, como por diferenciado dos dois anteriores). Paul Hodkinson exemplo o MySpace e o Last.FM. nFAMECOS (2002, p. 68) nos apresenta sua definição de cybergó- tico como um cruzamento entre os clubbers/ravers e NOTAS os góticos, tanto na mistura visual como na adoção de estilos musicais mais sombrios.Embora todos se- 1. Alguns trabalhos interessantes a respeito de co- jam elementos importantes dentro da cybersubcul- munidades virtuais encontram-se em Rheingold, tura, percebe-se que as noções de hierarquia de or- Casalegno, Recuero, entre outros. dem social, da qual nos falam Caspary e Manzenreiter (2003) continuam a existir de forma 2. Self-promotion and self-presentation are charac- sutil, mesmo que dentro de um domínio, aparente e teristic traits of computer-mediated conscious discursivamente de maior liberdade como é o caso communication”(Caspary & Manzenreiter, 2003, da Internet. No domínio informal tanto do boca-a- p. 71). boca quanto das discussões em fóruns, etc, depreen- de-se que os possuem uma atitude mais 3. Cabeças de rebite. Como são chamados os parti- crítica e distópica em relação às tecnologias, enquanto cipantes da subcultura industrial”. (Amaral, 2006, os cybergóticos a abraçam de forma mais positiva p. 226) ou mesmo de deslumbramento. A cybersubcultura da qual essas cenas fazem parte, possuem práticas e 4. Thornton (1996), Gelder & Thornton (1997), Mu- usos próprios da rede que influenciam, principal- ggleton (2000) Hodkinson (2002), Muggleton & mente suas maneiras estéticas e estilísticas de auto- Weinzerl (2003), entre outros são alguns dos re- apresentação e auto-promoção, seja na construção presentantes dos estudos pós-subculturais. dos seus perfis e avatares online, seja nas discussões em fóruns, etc e mesmo na produção do seu 5. A questão do global versus local aparece, ainda conteúdo. segundo Straw (1997, p. 494) como “the manner in which musical practices within a scene tie the- Considerações finais mselves to processes of historical change occur- Com a segmentação das cenas dentro da categoria ring within a larger international music culture maior chamada música eletrônica (a partir da déca- will also be a significant basis of the way in whi- da de 90 surgiram muitos estilos e subestilos crian- ch such forms are positioned within that scene at do cenas paralelas), não é mais possível falar das the local level”. cybersubculturas da música eletrônica de forma ge- neralizada, pois perdem-se nuances, muitas vezes 6. Depoimento colhido via MSN, dia 12 de janeiro sutis, das diferentes noções de alteridade e subjetivi- de 2007. A entrevista completa integra o mapea- dades, dos hábitos, comportamentos, usos e práticas mento da cena electro-goth brasileira (ainda em que cada segmento faz das ferramentas tecnológi- desenvolvimento) através do método de etno- cas. Nesse artigo, introdutório na questão de análise grafia virtual. da cybercena electro-goth/industrial, tensionamos a discussão sobre as noções de cena e de cybersubcul- 7. Site oficial disponível em: tura, procurando apontar exemplos práticos e carac- . Perfil no MySpace: terísticas encontradas na discursividade e na auto- www.myspace.com/combichrist Acesso em: apresentação e auto-promoção de seus integrantes 13/12/2006. via rede. Por se tratar de uma primeira exploração

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8. Grifo da autora. Manzenreiter (2003). De acordo com a Wikipe- dia, “Noise music is loosely related to industrial 9. McNEALLY,Vlad. TBM or Techno, LaPlegua music, sharing its DIY ethos, independence and does it his own way. Side-Line Magazine, no- ethic of using “non-musical” sources. Often vember 03rd 2006. Disponível em http:// described as “punishing and abrasive” by those www.side-line.com/ with a flair for the dramatic, Noise music can be interviews_comments.php?id=18675_0_16_0_C very loud and dissonant, ranging from the free- Acesso em 15/11/ 2006. form extreme electronic music of Merzbow and Masonna to the more sculptured sounds of 10. Essa efervescência parece devedora de uma in- Boyd Rice and Leather Jesus, to the cold fluência do pensamento neotribalista maffesoli- haiku sound-scapes of Ryoji Ikeda and Sachiko niano. “Num processo de massificação constan- M”. Disponível em: http://en.wikipedia.org/ te, operam-se condensações, organizam-se wiki/Noise_music. Acesso em 08/01/2007. tribosmais ou menos efêmeras que comungam valores minúsculos, e que, em um balé sem fim 15. A questão da ciborgização aparece nesse contex- entrechocam-se, atraem-se, repelem-se numa to de forma um tanto quanto metafórica, apenas constelação de contornos difusos e perfeitamen- como forma de mencionar os estudos sobre ci- te fluidos” (Maffesoli, 1999, p.52). Nesse momen- borgues e pós-humanos como o de Haraway, to, não pretendemos abordar a discussão do ter- Hayles, Terranova, entre outros. Essa ciborgiza- mo tribo ou neo tribo, em função de nosso recorte. ção aqui talvez remeta às relações homem-má- Para uma abordagem sobreas diferenças entre quina que estão no cerne da criação da música tribo e comunidade no âmbito do ciberespaço eletrônica, seja em sua produção, divulgação ou ver Casalegno, Federico. Entre tribalisme et com- estética. munautés; des configurations sociales émerge- antes dans le cyberespace. Media-Institute, On- 16. Grifo da autora. line forum,Rethinking Media, Jan-March 2001. 17. Para um maior entendimento do gótico/darkwa- 11. Grifo da autora. Como vimos anteriormente es- ve indicamos, entre outros, Mercer (1997), Ho- sas apropriações não ocorrem apenas no âmbito dkinson (2002), Thompson (2002) e Baddeley local, mas também no âmbito global. No caso do (2005). electro-goth/industrial, a “cena”mundial (que teve início na metade dos anos 90 na Europa, 18. Mesmo assim, carece reafirmar que a subcultura América do Norte e Ásia, sobretudo Alemanha, electro-goth/industrial pode ser tanto vista como Reino Unido e países nórdicos, Estados Unidos e uma das “cenas”da subcultura gótica/darkwa- Canadá e Japão) émuito mais sólida e sedimen- ver – principalmente em nível nacional no qual a tada do que a “cena brasileira”(uma doção tar- maioria das festas/eventos agrega tanto o rock dia dos brasileiros que começou a despontar a como a eletrônica ou enquanto uma cena à parte, partir de 2000) que se restringe a algumas capi- no nível internacional, no qual existem eventos tais, especialmente em São Paulo, Rio de Janeiro, apenas cybergóticos e industrial. Esse é um pon- Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba. to que merece uma pesquisa mais detalhada a partir do empírico. 12. Entrevista feita com a pesquisadora Simone de Sá pelo portal de música eletrônica PoaBeat. 19. Disponível em www.myspace.com Acesso em Pense e dance: a experiência estética da música 05/01/2007 eletrônica. 10.Ago.2006. Disponível em: http://www.laibach.nsk.si/ Acesso em: 04/01/ Acesso em 10/08/2006. 2007. Perfil no MySpace disponível em: http:// www.myspace.com/laibachAcesso em 07/01/2007. 13. Bell (2000, p.04) cita como exemplos de cyber- subculturas os MUDders, osneo-luditas, os ha- 21. Isacker, Bernard Ivan. Laibach - If he is good ckers, os , entre outros, todas subcul- enough for Madonna, he should be good enou- tura fortemente centradas na tecnologia enquanto gh for Laibach as well! Revista Side-Line, 22 leit-motifcentral de suas existências. Dec. 2006. Disponível em http://www.side- line.com/interviews_comments.php? 14. O Noise é um tipo de música eletrônica experi- id=19739_0_16_0_C Acesso em 23/12/2006. mental derivado do industrial. A partir dos anos 80, esse subestilo ganha muitos adeptos no 22. Questão discutida como central para o acúmulo Japão, como aponta o estudo de Caspary e de capital subcultural em Thornton (1996).

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23. Em português “vendidos”. No discurso dos mem- 29. Salientamos que o uso do termo industrial nesse bros da subcultura há um circuito de reclama- caso específico éuma espécie de “genérico”, vago ções sobre autenticidade/legitimidade que ocor- e passível de críticas apenas como forma de iden- re nos espaços onde se dáa cena e que é tificação mais visível da subcultura, pois além constantemente discutido pelos seus adeptos. A do industrial, os adeptos da subcultura também fala do produtor Andy la Plegua (Combichrist) escutam outros estilos e subestilos musicais. explicita essa preocupação: “Before a band gets a club hit, everybody is bitching about the bands 30. As definições desses estilos podem ser conferi- that are played out on the clubs. Then, as soon as dasem http://www.cybergothic.org.uk. Acesso their favourite band is being played, they bitch em 15/08/2006. about that too, because then they don’t wanna hear it anymore... because then its a ‘sell out’and 31. Na comunidade Cybergoths and Rivetheads do over-played.Whatever. SuicideCommando’s ‘He- Orkut, há inúmeras referências a essa discussão llraiser’ is way overplayed, but it wouldn’t have entre os dois grupos, pois ambos pertencem a been played this much if it sucked. The reason um contexto similar, embora nem sempre se why things are played, is because people want haja similaridades entre ambos. Ao mesmo it”. Disponível em: http://www.side-line.com/ tempo, as diferenças são muito tênues e de difí- interviews_comments.php? cil observação para quem éde fora dos grupos. id=18675_0_16_0_C Acesso em 13/12/2006. Disponível em: http://www.orkut.com/ Community.aspx? 24. Para uma compreensão histórica do termo ver cmm=24015663. Acesso em 05/01/2007. Steven Lévy (1984), já para um entendimento político-filosófico além das questões subcultu- 32. Notadamente observamos aqui um problema re- rais consultar McKenzie Wark (2004). lativo às hierarquias dentro da cybersubcultu- ras, que continuam repetindo os modelos de ge- 25. É também pertinente lembrar que as relações ração mais antiga e detentora das informações estabelecidas por meio da comunicação mediada “puras” e geração mais nova que está se inserin- por computador jásão em si mesmas socialmen- do no contexto. te produzidas. “The space in which online inte- ractions occur is simultaneously socially produ- REFERÊNCIAS ced through a technology that is itself socially produced” (Hine, 2000, p. 39). AMARAL, Adriana. Visões Perigosas: uma arque-ge- nealogia do . Comunicação e cibercultura. 26. Eis uma hipótese que necessita de maior apro- Porto Alegre: Sulina, 2006. fundamento e análise genealógica dentro do con- texto do jornalismo musical. ———. Uma breve instrodução à subcultura cyber- punk. Estilo, alteridade, transformações e hibri- 27. O industrial é o lado mais obscuro da música dismo na cibercultura. Revista E-Compós, Brasí- eletrônica e também o menos visível na maior lia, v.03, Ago. 2005. Disponível em parte dos estudos do meio acadêmico”.(Amaral, www.compos.org.br/e-compos. 2006, p. 168). Mesmo nos estudos subculturais observamos uma lacuna no que diz respeito a ———. Visões obscuras do underground: hackers e esse gênero e também a subcultura a que ele rivetheads como subcultura híbrida. Revista corresponde. Uma importante referência encon- 404NotFound, Salvador, n.47, Jul.2005. tra-se em Monroe, Alexei. Thinking about muta- tion. Genres in 1990 electronica. In: Blake, An- BADDELEY, Gavin. Goth Chic. Um guia para a cultu- drew. Living through pop. New York; Routledge, ra dark. Rio de Janeiro: Rocco, 2005. 1999. Monroe, além de pesquisador é um dos fundadores da banda eslovena laibach. BELL, David, KENNEDY, Bárbara M (ed.). The cy- bercultures reader. New York: Routledge, 2000. 28. Uma outra referência do industrial nos remete à própria revolução industrial, uma vez que por CASALEGNO, Federico. Entre tribalisme et com- exemplo, ela fica explícita em nomes de compila- munautés; des configurations sociales émerge- ções de bandas como o Industrial Revolution (do- antes dans le cyberespace. Media-Institute, On- selo Cleópatra), quanto um programa de webrá- line forum, Rethinking Media, Jan-March 2001. dio chamado Industrial Factory, transmitido online pela rádio WZBC de Boston, Massachus- CASPARY, Costa, MANZENREITER, Wolfram. sets. From subculture to cybersubculture? The Japa- nese Noise alliance and the Internet. In: GOTTLI-

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