Revista FAMECOS: mídia, cultura e tecnologia ISSN: 1415-0549 [email protected] Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Brasil Amaral, Adriana Cybersubculturas e cybercenas: explorações iniciais das práticas comunicacionais electro -goth na Internet Revista FAMECOS: mídia, cultura e tecnologia, núm. 33, agosto, 2007, pp. 21-28 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Porto Alegre, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=495550189003 Como citar este artigo Número completo Sistema de Informação Científica Mais artigos Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Home da revista no Redalyc Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto CULTURA VIRTUAL Cybersubculturas e cybercenas: explorações iniciais das práticas comunicacionais electro-goth na Internet RESUMO análise das práticas sociais e de consumo em O presente artigo problematiza os conceitos de cena torno da música tem sido objeto de pesquisas (Straw, 1997, 2006) e de cybersubcultura (Bell, 2000 A no campo dos estudos culturais, da antropolo- e Caspary & Manzenreiter, 2003) em sua pertinência gia, sociologia, e da comunicação desde o século XX. para o estudo dos processos e práticas sociais de A partir da disseminação das tecnologias de comu- comunicação, produção e divulgação/distribuição nicação é notória a problematização de conceitos de informações no contexto da cibercultura. A partir como subcultura, cena, movimento e mesmo de co- das teorias da cibercultura e dos estudos pós-sub- munidade1 em um contexto diferente do qual eles culturais britânicos propusemos a discussão dos con- foram originalmente formulados, uma vez que tais ceitos em relação a algumas práticas concretas de práticas necessitam ser compreendidas no âmbito comunicação e sociabilidade da subcultura “electro- das formações sociais fluidas e complexas que se goth/industrial” na Internet. apresentam desde a teatralidade urbana dos clubs, das lojas de discos, da mídia especializada, até o PALAVRAS-CHAVE ciberespaço, nos quais a sociabilidade urbana apre- • cybersubcultura senta uma riqueza de fenômenos empíricos. As ali- • cena anças formadas por afinidades de gosto que transi- • internet tam por entre as ruas na vida offline, parecem se auto-apresentar e se autopromover2 com ainda mais ABSTRACT força na vida online. Em trabalhos anteriores, apon- The present paper discusses the concepts of scene (Straw, tamos como essas subculturas estão inseridas no 1997, 2006) and cybersubculture(Bell, 2000 e Caspary & contexto da cibercultura, a partir da subcultura cy- Manzenreiter, 2003) and it´s importance to the studies of berpunk (Amaral, 2005a), mapeando os seus desdo- processes and cultural practices of communication, pro- bramentos nas figuras dos hackers e rivetheads3 duction and publicizing/distribution of information in- (Amaral, 2005b). No presente artigo, partimos da side cyberculture´s context. Having cyberculture´s theo- problematização do conceito de “cena” apresentada ries and british post-subcultures studies as a theoretical por Straw (1997 [1991], 2006) e da noção de cyber- framework, we propose the discussion of these two con- subcultura (Bell, 2000, Caspary & Manzenreiter, 2003) cepts, relating them to some empirical practices of com- para propor uma análise introdutória – cujo objetivo munication and sociability of the so-called “electro-goth/ maior é um mapeamento e tipologia das cenas inse- industrial” subculture on the Internet. ridas nessa subcultura através da etnografia virtual (Hine, 2000) - das práticas sociais e comunicacionais KEY WORDS da “cybercena” electro-goth/industrial na Internet. • cybersubculture Nosso foco é o papel da auto-apresentação e auto- • scene promoção dessa subcultura particular que, através • internet dos múltiplos usos da Internet, conferem ao online mais um espaço social, um local de trocas, críticas, discussões ou mera demarcação de pertencimento dos elementos constituintes de uma possível “cyber- cena”. Seria possível então que as redes de relacio- namento do ciberespaço re-elaborem as hierarquias dos participantes em uma cybersubcultura? De que forma a fala dos participantes faz eco aos conceitos? Repensando o espaço das “cenas” e as relações subculturais com as tecnologias As tensões e críticas no que diz respeito ao legado dos estudos subculturais britânicos da década de têm ocupado espaço nas discussões dos chamados estudos pós-subculturais dos anos 90.4 A partir do esforço revisionista dos pós-subculturalistas Adriana Amaral proliferam novas terminologias (canais, subca- UTP nais; redes temporárias de subcorrentes, cenas; Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 33 • agosto de 2007 • quadrimestral 21 Adriana Amaral • 21–28 comunidades emocionais; culturas club; estilos Já em um artigo mais recente, Straw (2006) redis- de vida; neotribos), em substituição ao conceito cute essa concepção, afirmando que as cenas são de subcultura, cujo valor heurístico – alega-se – vividas enquanto efervescência10 que proporciona prá- solapa diante das mutáveis sensibilidades e múl- ticas e espaços organizados, sejam eles a favor ou tiplas estratificações e interações das culturas contra as mudanças. Percebe-se então que o conceito juvenis do pós-punk (Freire Filho, 2005, p. 141). de cena, embora elástico, ainda guarda alguma rela- ção com a noção de espaço dentro dos centros urba- Tais terminologias fornecem pistas valiosas para nos. Mas e quando as noções geográficas, sociais e cultu- o entendimento dos estudos pós-subculturais, mas rais de espaço se alteram em função do ciberespaço? De não cremos que substituam o conceito de subcultu- que maneira o conceito de cena acompanha ou não tais ra. Compreendemos a utilização dessas terminolo- rupturas? A partir de uma primeira inserção ao cam- gias enquanto parte do próprio léxico da gramática po, observamos que essa concepção ligada ao espa- subcultural. Interessamo-nos por descrevê-las no con- ço e às práticas, por um lado se mantém tanto dis- texto da comunicação mediada por computador, e de cursivamente (na fala dos participantes e no discurso que formas as transformações terminológicas podem das mídias jornalísticas especializadas) quanto nas apontar para mudanças ou não nas práticas sociais dos trocas offline (no espaço dos clubs, lojas de roupas/ seus participantes. Enfatizamos a utilização indistinta discos, etc) ou online (nos websites, fóruns, e-zines, do conceito de cena e sua migração para o ciber- blogs, Orkut, discussões via MSN, etc e, no próprio espaço. Segundo Will Straw (2006), o termo cena MySpace). Salientamos novamente que nossa análi- tem sido usado para designar fenômenos e locais se centra-se no electro-goth/industrial, uma vez que tão distintos quanto bares, movimentos musicais, globais ou locais, entre outros. Cena parece, por as cenas são as apropriações locais dos gêneros11 e exemplo, caber na flexibilidade de exemplos como a têm características próprias, sem dúvida. Na cena psychobilly ou às movimentações subculturais lo- verdade, hoje, eu acho que não dá mais pra calizadas ( “a cena carioca”) ou globais.5 falar nem mesmo na cena de uma cidade como um todo – mas sim nas cenas diversas do Rio Scene will describe unities of highly variable sca- (de house, de D&B, de electro); de SP, etc...mas le and levels of abstraction. “Scene” is used to seria leviano eu traçar aqui as diferenças, rapi- circumscribe highly local clusters of activity and damente. Tem mesmo que analisar caso a caso – to give unity to practices dispersed throughout como algumas cenas são mais fortes ou volá- the world. It functions to designate face-to-face teis, quais os hábitos e valores de cada um dos sociability and as a lazy synonym for globalized grupos, etc (SÁ, 2006, online).12 virtual communities of taste (Straw, 2006, p. 6). A cena “acontece” ou é construída, a partir do Percebemos essa utilização intensa de “cena” mes- espaço onde ocorrem as trocas, hábitos e práticas mo na fala dos seus participantes: “É comum per- sócio-comunicacionais, tanto em nível macro (glo- guntarmos como é a cena em um determinado lu- bal) como em nível micro (local). É pertinente falar- gar” (WTek, músico e produtor de eventos mos então, em cenas, uma vez que, elas ocorrem ou electro-goth/industrial).6 Quando questionado pela de forma simultânea ou de forma alternada. Anali- revista belga Side-Line, Andy LaPlegua, vocalista da samos a virtualização das cenas – os espaços de banda de electro-industrial Combichrist7 explica que trocas dentro do ciberespaço – enquanto um fator os títulos dos seus EPs - “With success comes bitching” dependente do crescimento e da consolidação, tanto (Com o sucesso chegam as reclamações) e “What the dos estilos e subestilos musicais quanto das próprias fuck is wrong with you people? (Que raios está errado subculturas. com vocês?) - remetem ironicamente às próprias ne- As diferentes cenas parecem ser mais um entre os gociações entre os participantes da cena electro-goth: tantos elementos e terminologias da complexa gramá- “It’s basically about this scene8 in general. People tica subcultural, não sendo uma substituta conceitual don’t like to see other people make it. People would da mesma. O uso do termo subcultura aqui pode rather bitch and complain”9 Em relação específica à apresentar uma determinada ambigüidade, contudo questão da cena musical, Straw (1997) destaca a im- tendemos a concordar parcialmente com a revisão do portância da comunicação na construção de práticas mesmo feita pelos estudiosos
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