Traficantes, Justiceiros E Rappers. a Invasão Dos Setores Da Margem Na Produção Nacional De Documentários
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Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Filosofia e Ciências Humanas Escola de Comunicação Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Traficantes, justiceiros e rappers. A invasão dos setores da margem na produção nacional de documentários Gustavo Souza Rio de Janeiro 2006 Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Filosofia e Ciências Humanas Escola de Comunicação Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Traficantes, justiceiros e rappers. A invasão dos setores da margem na produção nacional de documentários Gustavo Souza Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Comunicação e Cultura da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em Comunicação e Cultura. Orientadora: Profª. Drª. Ivana Bentes Co-Orientadora: Profª. Drª. Ilana Strozenberg Rio de Janeiro 2006 Gustavo Souza Traficantes, justiceiros e rappers. A invasão dos setores da margem na produção nacional de documentários Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Comunicação e Cultura. Rio de Janeiro, 31 de março de 2006 Banca Examinadora ______________________________________________ Profª. Drª. Ivana Bentes Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) ______________________________________________ Profª. Drª. Angela Prysthon Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) ______________________________________________ Profª. Drª. Consuelo Lins Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Souza, Gustavo Traficantes, justiceiros e rappers. A invasão dos setores da margem na produção nacional de documentários. / Gustavo Souza – Rio de Janeiro: 2006, 176 p. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – UFRJ, Escola de Comunicação. 1. Comunicação 2. Documentários brasileiro 3. Marginalidade 4. Violência Urbana 5. Visibilidade I. Título II. UFRJ. Escola de Comunicação. III. Bentes, Ivana; orientadora. Resumo Este trabalho quer investigar a relação entre a produção nacional de documentários e grupos socialmente marginalizados. O recorte cronológico se dá a partir da segunda metade dos anos 90, pois, desse período em diante, o cinema nacional empreendeu a sua “retomada”. Dessa forma, a realização de documentários tornou-se representativa não apenas quantitativamente, mas também qualitativamente. Os documentários selecionados para essa pesquisa são: Notícias de uma guerra particular (João Moreira Sales e Kátia Lund, 1999), O rap do pequeno príncipe contra as almas sebosas (Paulo Caldas e Marcelo Luna, 2000) e Fala tu (Guilherme Coelho, 2003). O fio condutor desses três filmes é a abordagem, cada um à sua maneira, da experiência com o cotidiano de violência urbana e marginalidade. A partir desses três documentários, procuraremos entender que fatores possibilitam a escalada dos segmentos marginalizados do morro ou favela para as telas de cinema. Para isso, centraremos as atenções em seus personagens, pois a partir deles é possível perceber a complexidade que os cercam. Veremos como os meios de comunicação, em especial o noticiário, e as estruturas de poder se articulam de modo a conferir visibilidade a tais grupos. Palavras-chave : documentário, marginalidade, violência urbana, visibilidade. Abstract This paper is aimed at investigating the relationship between national production of documentaries and socially marginalized groups. It is chronologically circumscribed in the late 90's, when the national cinema undertook a "resurgence". Therefore, making documenaries became representative, not only quantitatively but also qualitatively. The documentaries selected for this research are: Notícias de uma guerra particular (João Moreira Sales and Kátia Lund, 1999 ), O rap do pequeno príncipe contra as almas sebosas (Paulo Caldas and Marcelo Luna, 2000) and Fala tu (Guilherme Coelho, 2003). Considering their particularities, the common point in these three films is the approach to the daily experience of urban violence and marginality. Through those documentaries mentioned we try to identify what factors allow those marginalized slums segments to get to the cinema screens. To achieve that, this paper is focused on the characters, because by them it is possible to reach the surrounding complexity of their lives. We intend to verify how the media, specially the news, and the ruling structures may dialogue in order to provide visibility to such groups. Key-words : documentary, marginality, urban violence, visibility Na vida não nos interessa o todo do homem mas apenas alguns de seus atos com os quais operamos na prática e que nos interessam de uma forma ou de outra. É ainda em nós mesmos que somos menos aptos e conseguimos perceber esse todo da nossa personalidade. Mikhail Bakhtin A única teoria que vale a pena reter é aquela que você tem de contestar, não a que você fala com profunda fluência. Stuart Hall Aos meus pais, Rita e Reginaldo, e à minha tia, Izabel. Sumário Agradecimentos 10 Introdução 12 1. Documentário: pontos de tensão 23 Documentário, realidade e verdade, 32; Documentário e jornalismo: aproximações , 42. 2. Estruturas narrativas 51 Nas malhas do tráfico , 52; Dois caminhos rumo à justiça , 56; Rappers, sonhos e realidade , 60. 3. Marginalidade em foco 64 Marginalidade e violência urbana , 72; Alguns temas sobre violência urbana , 76; O peso e a importância das manifestações culturais: funk, hip-hop e samba, 89. 4. Estéticas da violência 97 O interesse pelo documentário: questões de mercado e de estética , 98; Em busca de uma estética da violência , 104; Música e narrativa , 116. 5. O personagem no documentário 118 O tipo revisitado ,125; Ambigüidade moderada , 128; O personagem em aberto , 129; Mídia e visibilidade , 131; Uma questão de diferenças , 136; Visibilidade: uma questão de poder , 141; O personagem no documentário: vítimas, interlocutores e intercessores , 151. Conclusão 157 Filmografia 162 Referências Bibliográficas 170 Agradecimentos Meu envolvimento com o documentário começou nos primeiros anos da graduação, quando ingressei numa pesquisa de iniciação científica cujo foco era o aspecto textual e discursivo desse tipo de filme. Trabalhamos bastante com documentários de “caráter social”, e isso foi me direcionando a querer saber muito mais os motivos pelos quais aquelas pessoas e seus universos despertavam o interesse de cineastas, que as tomavam como personagens de seus filmes, do que possíveis implicações lingüísticas identificáveis nos documentários. Dessa inquietação resultou o trabalho que agora apresento. O caráter individual e solitário - constante no desenrolar de qualquer projeto de pesquisa -, em muitos momentos, foi posto de lado, de forma que pude compartilhar minhas dúvidas e questionamentos com Ivana Bentes e Ilana Strozenberg, que me orientaram no decorrer deste processo. A elas, meus agradecimentos. O resultado de uma pesquisa requer inevitavelmente um “segundo olhar”, para que o texto cresça em seus diversos aspectos. Nessa direção, agradeço às professoras Angela Prysthon e Consuelo Lins pelo convite aceito para integrarem a banca examinadora desta dissertação. O amadurecimento das idéias aqui defendidas se deu a partir dos questionamentos e sugestões propostos pelos amigos Isaltina Gomes, Cristina Teixeira, Ana Rosa Marques, Douglas Gomes, Fernanda Martineli, Maurício de Bragança, Maíra Brito, Gustavo Costa e em especial Sofia Zanforlin, que, durante a execução do trabalho, foi para mim uma terceira orientadora. Devo registrar também meus agradecimentos à “equipe” de revisão - composta por Cláudio Brant, Lenilton Araújo e Leidosn Macedo -, crucial num momento em que não tinha mais condições de visualizar possíveis deslizes. O apoio que recebi da minha família foi também vital para o desenvolvimento desta pesquisa e sem eles tudo teria sido muito mais difícil: agradeço aos meus pais, Rita e Reginaldo, à minha tia Izabel, e aos meus irmãos Rodrigo e Romanda, por estarem sempre comigo ainda que geograficamente distantes. A realização desta pesquisa deve ao material bibliográfico sobre a teoria do documentário (ainda escasso no país), gentilmente cedido por Silvio Da-Rin. Nessa direção, os empréstimos de André Villas-Boas, Maurício de Bragança e Sofia Zanforlin foram também importantes para a elaboração do trabalho. Os dados relativos ao mercado cinematográfico foram fornecidos por Pedro Butcher, a quem agradeço também. Algumas informações sobre os filmes foram obtidas diretamente com os diretores; dessa forma, obrigado a Guilherme Coelho e a Nataniel Lecrery pela entrevista concedida. Por fim, meus agradecimentos ao CNPq, pela bolsa destinada à realização deste estudo. Introdução O cinema brasileiro conheceu, a partir de 1993, uma fase que pouco tempo depois seria denominada de retomada . A escassez da produção que permeou os anos 80 se intensificou ainda mais no final desta década. Este panorama agravou-se após um decreto do então presidente Fernando Collor de Mello, que extinguiu em 1990 a Embrafilme – empresa pública responsável por boa parte do financiamento para a realização de filmes no país. Tal conjuntura viria a mudar após a renúncia de Fernando Collor à presidência, devido ao seu envolvimento em escândalos de corrupção amplamente divulgados pela mídia. Os governos posteriores empreenderam uma política cultural que possibilitaria a produção de filmes, a partir de leis cujos recursos viriam tanto do setor público como do privado. 1 Esse