UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

GABRIEL NICKOLAS CAZOTTO

O IMPACTO ECONÔMICO DO FUTEBOL NO CENÁRIO GLOBAL: UM ESTUDO SOBRE A FIFA DE 1990 A 2018

São Paulo 2018

GABRIEL NICKOLAS CAZOTTO

O IMPACTO ECONÔMICO DO FUTEBOL NO CENÁRIO GLOBAL: UM ESTUDO SOBRE A FIFA DE 1990 A 2018

Dissertação apresentada ao Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à obtenção de título de Mestre em Economia e Mercados.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Mauricio Fronzaglia

São Paulo 2018

C386i Cazotto, Gabriel Nickolas. O impacto econômico do futebol no cenário global: um estudo sobre a FIFA de 1990 a 2018 / Gabriel Nickolas Cazotto – 2018. 76 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado Profissional em Economia e Mercados) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2018. Orientador: Prof. Dr. Maurício Fronzaglia Bibliografia: f. 68-76.

1. Economia do futebol. 2. FIFA. 3. Economia da copa do mundo. 4. Nacionalismo no futebol. 5. Governança internacional. I. Título.

CDD 657.9

Bibliotecário Responsável: Silvania W. Martins – CRB 8/ 7282

GABRIEL NICKOLAS CAZOTTO

O IMPACTO ECONÔMICO DO FUTEBOL NO CENÁRIO GLOBAL: UM ESTUDO SOBRE A FIFA DE 1990 A 2018

Dissertação apresentada ao Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à obtenção de título de Mestre em Economia e Mercados.

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA

Às minhas avós: Angelina e Lebina por verem o início da minha caminhada para me tornar mestre, por aqui, e observarem o final do céu.

AGRADECIMENTOS

Agradeço principalmente aos meus pais: Dirceu e Aparecida, que sempre estiveram comigo nesta empreitada. Ao meu orientador e amigo Prof. Dr. Maurício Fronzaglia por toda a paciência e ajuda na elaboração do trabalho. Ao Prof. Dr. Joaquim Carlos Racy pelas importantes anotações de melhorias do trabalho. A todo o excelente corpo docente do Mestrado em Economia do Mackenzie. Aos meus amigos e familiares, sem os quais eu não teria a vontade de ser um Mestre: Sônia, Gabriel, Tadeu, Marcelo, Eric, Sérgio, José Vinícius, Sasha; Alessandra e Sanlay, André e Alyne; Tiago e Fernanda; Leonardo e Thoti; Auriluci e Fábio; Júlio e Juliana. Ao meu amigo da vida: Dr. Estevão. Aos Mestres que conheci na vida como professor e que me agregaram muita coisa profissional e pessoalmente: Rosana Matsushita e José Carlos Merito. Aos que infelizmente já se foram: Lebina, Angelina, Armando e Thiago. A Deus, em qualquer religião ou sagrado que você, leitor, há de acreditar. E por fim, à minha melhor amiga: Giselle.

O futebol não é uma questão de vida ou de morte. É muito mais importante que isso (Shankly, Bill).

RESUMO

Esta dissertação tem como principal objetivo estudar o impacto econômico do futebol no cenário internacional, principalmente através da Copa do Mundo. A pesquisa concentra-se na atuação econômica e política da FIFA, desde suas origens até o momento atual. O estudo abrange a sua legalidade jurídica, sua atuação no contexto da governança internacional e a movimentação financeira que o futebol traz dentro de diversos setores da economia mundial. Finalizando com o impacto que a organização da Copa do Mundo causou na infraestrutura, na movimentação turística e no crescimento marginal do PIB tanto nos dois últimos países-sede, África do Sul e Brasil, quanto nas expectativas para a Rússia. O trabalho também observa a questão do ganho de receitas da FIFA durante os últimos quinze anos, como as regras de filiação de novos países sofrem a influência do nacionalismo e as consequências geopolíticas ao se associarem à FIFA.

Palavras-chave: Economia do futebol. FIFA. Economia da Copa do Mundo. Nacionalismo no futebol. Governança internacional.

ABSTRACT

This thesis has as main objective to study the economic impact of football in the international scenario, mainly through the World Cup. This research focuses on the economic and political acting of FIFA, since its origins to the present. The study covers its juridical legality, its performance in the context of international governance and the financial movement that football brings within various sectors of the world economy. Finishing with the impact that the organization of the World Cup causes as much on the infrastructure, tourist movement and marginal growth of the GDP in the last two host countries, South Africa and Brazil, as the expectations for Russia tournament. The study also observes the question of FIFA's earning of revenue over the last fifteen years and how the rules of affiliation of new countries are influenced by nationalism and the geopolitical consequences of joining FIFA.

Keywords: Football economics. FIFA. World Cup economics. Nationalism in football. International governance.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Parceiros e stakeholders da FIFA ao longo das Copas do Mundo de 1982 a 2018...... 20 Figura 2 – As bases da “Boa Governança”, segundo Sheng...... 21 Figura 3 – Número de países-membros da FIFA por Confederação...... 24 Figura 4 – Lista de presidentes da FIFA desde a sua criação...... 30 Figura 5 – Evolução do número de países filiados à FIFA desde sua criação...... 31 Figura 6 – Organograma da FIFA ...... 34 Figura 7 – A evolução do número de filiados no congresso da FIFA por confederação...... 35 Figura 8 – Evolução das receitas das 5 maiores ligas europeias de 2006 a 2018...... 48 Figura 9 – Fees das redes televisivas para as cinco principais ligas Europeias em 2016/2017...... 49 Figura 10 – Evolução dos lucros das Copas do Mundo de 1986 a 2018 –US$ Bilhões...... 52 Figura 11 - Participação (%) das receitas e custos da Copa do Mundo no quadriênio da FIFA - base 2014...... 53 Figura 12 - Evolução dos custos das Copas do Mundo de 1994 a 2018 – US$ Bilhões...... 54 Figura 13 – Market-share das empresas esportivas no Mundial de 2014 no Brasil...... 56 Figura 14 – Market-share das empresas esportivas no Mundial de 2018 na Rússia...... 57 Figura 15 – Evolução das receitas das Copas do Mundo de 1986 a 2026 –US$ Bilhões...... 58 Figura 16 – Evolução da entrada de turistas de dois anos anteriores ao Mundial até dois anos após o Mundial – Var. (%) ano a ano...... 59 Figura 17 – Evolução do PIB de dois anos anteriores ao Mundial até dois anos após o Mundial – Var. (%) ano a ano...... 60 Figura 18 – Evolução das receitas da FIFA nos últimos 15 anos – US$ Bilhões...... 63

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...... 13 2 REFERENCIAL TEÓRICO ...... 15 2.1 A FIFA DENTRO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ...... 15 2.1.1 A governança internacional ...... 16 2.1.2 As diferenças entre a velha e a nova governança ...... 17 2.1.3 A visão do enquadramento da FIFA dentro da questão da governança internacional ...... 18 2.2 A FIFA DENTRO DO DIREITO INTERNACIONAL ...... 22 3 HISTÓRIA, FORMAÇÃO POLÍTICA E ESTATUTO DA FIFA ...... 25 3.1 A HISTÓRIA DA FIFA ...... 25 3.1.1 O início do futebol e a criação da FIFA ...... 25 3.1.2 Os anos 1920 e 1930, com a criação da Copa do Mundo FIFA ...... 27 3.1.3 O período entre guerras ...... 28 3.1.4 O pós-guerra, João Havelange e o crescimento de filiados na FIFA ...... 29 3.1.5 A globalização, os casos de corrupção na FIFA e o cenário atual ...... 32 3.2 A ESTRUTURA DA FIFA ...... 33 3.2.1 O congresso ...... 34 3.2.2 O conselho ...... 36 3.2.3 A secretaria geral ...... 38 3.2.4 Os demais comitês ...... 38 3.3 DIRETRIZES PARA A FILIAÇÃO NA FIFA ...... 40 4 A IMPORTÂNCIA POLÍTICO-ECONÔMICA DO FUTEBOL E O IMPACTO DA COPA DO MUNDO NESSE CENÁRIO ...... 42 4.1 O FUTEBOL COMO UM SETOR ATUANTE NA POLÍTICA GLOBAL ...... 42 4.2 O FUTEBOL COMO UM SETOR ATUANTE NA ECONOMIA GLOBAL ...... 46 4.3 OS RESULTADOS ECONÔMICOS DA ENTRADA DA MÍDIA GLOBALIZADA NA COPA DO MUNDO NAS RECEITAS E NOS LUCROS DA ENTIDADE ...... 50 4.3.1 Copa do mundo de 2010 - África do Sul ...... 58 4.3.2 Copa do mundo de 2014 - Brasil ...... 59 4.3.3 Copa do Mundo de 2018 – Rússia – Previsão ...... 61 4.4 A FIFA pela visão empresarial nos últimos 15 anos ...... 62

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 66 REFERÊNCIAS ...... 68

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INTRODUÇÃO

O objetivo de estudo desta dissertação de mestrado é demonstrar a relevante movimentação financeira que o futebol traz dentro da economia global através da gerência de uma organização internacional focada nesse esporte, a Federação Internacional de Futebol (FIFA), tendo esta uma importância considerável também no âmbito das relações internacionais e geopolíticas na questão envolvendo a filiação de membros e a realização da Copa do Mundo. A pergunta que norteia este trabalho é: qual é a abrangência econômica e geopolítica da atuação da FIFA? A hipótese é de que os eventos organizados e supervisionados pela FIFA movimentam economicamente um nicho de mercado grande o suficiente para que tanto as principais ligas como o principal torneio organizado pela FIFA, a Copa do Mundo, tragam resultados substanciais dentro da economia internacional em diversos subsegmentos, sendo eles a geração de empregos, fees de televisões, influxo monetário em transferências, propaganda e marketing com patrocínio e merchandising de produtos durante o Mundial, assim como a visibilidade do torneio também impacta diretamente o influxo do turismo, da infraestrutura e do crescimento marginal da economia dentro dos países-sede durante a competição. A importância da elaboração desses estudos passa prioritariamente pela análise dos resultados da Copa do Mundo tanto em termos financeiros quanto do ponto de vista do impacto econômico dentro da FIFA, dos países que a sediaram entre 1990 e 2018, assim como a perspectiva futura de um aumento de seu impacto nas receitas, cada vez mais numerosos. Sendo o advento da Copa do Mundo uma análise-chave para o entendimento de como se dá a sustentação econômica da entidade para suas confederações, assim como do caráter de uma certa “submissão” política de suas confederações para poderem sediar, participar e até lucrar internamente com o principal evento da entidade, o arcabouço teórico do estudo traz também, em voga, a relação de caráter exploratório da legislação da entidade, buscando entender, através da sua história, a complexidade que uma estrutura como a FIFA traz para três frentes: a) economia; b) política; e c) relações internacionais. A hipótese também traz a relevância de uma entidade juridicamente bem organizada atuando no cenário internacional, ao abordar questões de transparência e ações sobre os principais stakeholders, assim como questões políticas e de cunho nacionalistas. No estudo da formação da entidade, levar-se-á em consideração seu estatuto, sua

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natureza jurídica, a fim de oferecer uma visão dentro da governança internacional, da política e de demonstrar o impacto econômico que o futebol gera através da FIFA, proporcionando uma grande movimentação financeira, principalmente quando a Copa do Mundo passou a dar lucros e receitas significativas passando a merecer atenção de toda a comunidade econômica global. A dissertação segue a seguinte estrutura: no capítulo um, será discutido o referencial teórico sobre a importância e a complexidade da FIFA como uma entidade atuante no cenário internacional e de grande relevância, mas que não é interestatal nem supranacional, e mesmo assim cria um impacto significativo em sua governança internacional no que se refere a seus stakeholders. Também serão tratadas as questões de legalidade jurídica da FIFA e de qual modelo de governança internacional é utilizado pela entidade. O segundo capítulo trará a criação histórica da entidade por meio da apresentação de uma linha do tempo, de seu organograma e de como é feita a filiação de novos membros, culminando no capítulo três, no qual serão exploradas a importância econômica do futebol, regido pelas regras da FIFA, e a questão política e nacionalista que está por trás da importância do futebol tanto dentro da economia global como da geopolítica por meio de dados fundamentados pelo referencial teórico adotado no presente trabalho. No terceiro e último capítulo serão apresentados os dados econômicos que impactam a entidade e a economia global durante a Copa do Mundo, destacando os dois últimos torneios - África do Sul e Brasil - e as previsões para o mais recente, na Rússia, ainda em 2018. Indicando os ganhos de receita da FIFA nos últimos quinze anos. Por fim seguem as considerações finais.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

A FIFA é o principal órgão legislativo, judiciário e executivo do futebol. Seus stakeholders são principalmente as próprias confederações filiadas à entidade e que representam cada um dos países existentes de maneira global, incluindo alguns que sequer são reconhecidos por entidades mais significativas no eixo das relações e da política internacionais, assim como em territórios ultramarinos. A complexidade da entidade pode ser percebida tanto por meio de sua importância para o futebol quanto por uma importância subjetiva na política, na economia e nas relações internacionais, dado que seu principal torneio, a Copa do Mundo, traz uma movimentação mundial que diversos fóruns internacionais de outras entidades não alcançam. Com isso em mente, é importante notar como uma entidade tão complexa, que não é interestatal, que é privada, e não pode gerar lucros segundo a legislação suíça, onde se estabelece sua sede, e sequer é uma entidade supranacional tem a necessidade de expor e explorar política e economicamente o fenômeno passional que é o esporte que ela rege: o futebol. Para um melhor entendimento dessa complexidade que envolve a FIFA, esta dissertação inicia demonstrando como a entidade é formada juridicamente, quais são suas questões legais e como é posicionada sua governança, tendo em vista que esse estilo próprio de “negócio” culminou em um escândalo de corrupção em 2016, o que motivou uma reformulação em sua governança para que stakeholders e governos das nações pudessem novamente confiar, de certo modo, nas políticas e leis da entidade.

2.1 A FIFA DENTRO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Em um primeiro momento de análise, serão exploradas a ação e a legislação da FIFA dentro do campo das relações internacionais, envolvendo a governança, sua legislação jurídica e relação com os stakeholders, analisando como a FIFA se enquadra na atual governança internacional no contexto atribuído por James Rosenau e Ernst-Otto Czempiel, em 1992, e John Ruggie em 2014.

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2.1.1 A governança internacional

A governança pode ser descrita como um dos principais instrumentos que garantem a manutenção da ordem internacional. “A governança é um sistema de ordenação que depende de sentidos intersubjetivos, mas também de constituições e estatutos formalmente instituídos. Para dizê-lo mais claramente, a governança é um sistema de ordenação que só funciona se for aceito pela maioria” (ROSENAU, 1992, p.16). Ela se caracteriza por sistemas domésticos de política, em que há uma capacidade de governar, de articular interesses e de alcançar os objetivos almejados. Segundo Ana Carolina Evangelista Mauad, em seu artigo “Governança global: intersecções com paradiplomacia em meio à crise climática”, de 2013:

No sistema internacional, que tradicionalmente teve sua manutenção através da anarquia, ou seja, pela inexistência de uma autoridade hierárquica de governo, a governança adquiriu outros significados. Dessa forma, governança internacional – ou governança global – está relacionada a outros elementos que indicam a existência de certa ordem, ainda que na ausência de governo central (MAUAD, 2013, p.17).

A governança, analisada por Rosenau (1992), não precisa de autarquia, ela em si é aceita pela grande maioria dos atores globais pelo papel que exerce em um sistema internacional caracterizado como anárquico, já que não há um governo global institucionalizado e reconhecido. Ela apresenta normas e regras, mas diferentemente de um governo, não são efetivadas pelo poder de coerção do Estado, simplesmente porque não há um “Estado Global”.

Governança não é o mesmo que governo. Os dois conceitos referem-se a um comportamento visando um objetivo, [...], no entanto o governo sugere atividades sustentadas por uma autoridade formal, pelo poder da polícia que garante a implementação das políticas devidamente instituídas, enquanto a governança refere-se às atividades apoiadas em objetivos comuns (ROSENAU, 1992, p.15).

Sendo assim, tem-se a necessidade de considerá-la para entender o funcionamento da FIFA, através das ações tomadas pela entidade e que têm impacto econômico e geopolítico em diversos setores das relações internacionais. Para entender melhor esse posicionamento, observar-se-á que tipo de governança mais se adapta à compreensão das ações da FIFA dentro do sistema internacional.

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2.1.2 As diferenças entre a velha e a nova governança

A considerada velha governança se apresenta, segundo Rosenau e Czempiel (1992), como um sistema anárquico (o que já foi discutido no tópico anterior). Ou seja, uma governança rígida, ligada aos movimentos que o mundo tinha para manter o status quo de um pacto de não agressão durante a Guerra Fria entre Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS), devido à instabilidade política da época, quando não havia a preocupação efetiva, por parte das superpotências, de dar “respostas” ou “explicações” para os demais atores políticos nacionais e internacionais. Sobre a questão da governança em relação às organizações internacionais, James Rosenau e Lawrence Finkelstein em seus livros “Governança sem Governo”, de 1992, e “What is International Governance”, de 1991, levantam a indicação da necessidade da governança em um mundo cada vez mais interdependente, em que se exige a instituição de regras governamentais sobre entidades de soberania internacional. Uma questão que também já tinha sido observada por Inis Claude (1964), no que diz respeito aos Estados-Nações, que reforça que o mundo tem menos governança do que a maioria dos estados, mais do que alguns deles e provavelmente menos do que necessita (CLAUDE, 1964). Enquanto a velha governança ainda se apega a valores mais rígidos, datados de certo anarquismo global, e a visões de organizações internacionais datadas do final da década de 1940, quando o cenário viável era a proliferação da paz no pós-guerra, assim atingindo uma governança mais rígida, a nova governança traz abertura aos demais stakeholders para que possam atuar fortemente com novas ideias para as mesmas instituições. A rigidez de outrora é trocada por uma abertura maior de opiniões sobre como uma entidade internacional deve se comportar através de sua estrutura legislativa, leis, deveres e direitos. Em um cenário mais recente, Ruggie (2014) discorre sobre como a antiga governança em sistema anárquico não tem mais significado para os dias atuais, longe da bipolaridade do pós-segunda guerra. Ele descreve que tal atributo fora usado para representar o sistema de organizações internacionais criadas após o fim da segunda guerra mundial pelos países vitoriosos: Rússia (antiga URSS), França, China, EUA e Reino Unido, mas que teria ficado obsoleto a partir de um cenário mais globalizado no qual as instituições e organizações começam a ter uma voz maior sobre as decisões antes discutidas. Este autor, em seu texto “Global governance and ‘New Governance Theory’: lessons from business and human rights”, de 2014, apresenta a diferença entre as governanças que podem ser observadas nas

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organizações internacionais. A nova governança é expressa através da presença e importância da ação de organizações internacionais, atores políticos internacionais, nacionais e subnacionais, e representantes da sociedade civil (cientistas, médicos, empresários e demais stakeholders), com o objetivo de construir formas de ação e decisão mais atualizadas na esfera global. Com isso em mente, o presidente de Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Joseph Deiss vai ao encontro do que é proposto por Ruggie (IDEM), destacando a importância do questionamento de que tipos de atores definirão o futuro da governança e como será incluída a sociedade civil, que, ultimamente, tem cada vez mais presença no ambiente da governança, indo de encontro com a diferenciação da velha com a nova governança internacional. Para entender as ações da FIFA ao atribuir a filiação das associações de futebol, mesmo estas não sendo um estado soberano, é importante entender como funciona a governança internacional nesta entidade internacional. A nova governança foi adotada parcialmente pela FIFA, após os escândalos de corrupção, com a intenção de dar maior transparência para seus stakeholders e para o público que acompanha seus eventos. Ela visa também dar maior liberdade para a entidade na gestão dos seus negócios. Contudo, a entidade ainda mantém uma estrutura de comando rígida, nos moldes da velha governança. Desta forma, pode-se considerar que a FIFA apresenta elementos da nova e da velha governança em sua estrutura e nas suas ações. Mas será que essa visão da nova governança vista na ONU é a mais próximo ao que acontece com as decisões internas da FIFA? Como a entidade que regula o futebol global é categorizada dentro dos organismos internacionais? Como conseguiu ter tamanha importância econômica, financeira e geopolítica?

2.1.3 A visão do enquadramento da FIFA dentro da questão da governança internacional

Ao observar o modus operandi da FIFA no âmbito das relações internacionais, pode- se classificá-la em uma política de governança internacional e não dentro de um regime internacional1. A FIFA apresenta uma mescla dos dois tipos de governança já descritos.

1 “Os regimes internacionais são dentro da coexistência, cooperação e interdependência dos Estados-Nações com as organizações internacionais fomentadoras não apenas das questões que envolvem a atual governança internacional, mas todo o cenário político e econômico global, os regimes internacionais são princípios normativos e regras que permitem a tomada de decisão do Estado e nos permite observar como esse movimento age dentro das relações internacionais executando ações em conjunto com as mesmas instituições

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É importante indicar que a governança da FIFA pode ser compreendida dentro do estudo da análise construtivista das relações internacionais, ou seja, de regras e acordos que condicionam a ação dos atores políticos cujos papéis estão em constante mudança pela dinâmica existente na cooperação entre Estados e organizações internacionais. “O regime internacional, nada mais é do que um conjunto de princípios, normas, regras e procedimentos de tomada de decisões em torno dos quais convergem as expectativas dos atores em uma área específica das relações internacionais” (KRASNER, 2012, p. 93). Assim, a entidade poderia expressar a ideia dos acadêmicos construtivistas tendo assumido recentemente uma postura mais próxima da nova governança internacional do que daquela antiga e rígida, focada nas ações e nos rumos da própria entidade, sem que se considerasse a opinião de suas confederações constituintes. Estes teriam pouca ou nenhuma voz dentro da entidade estando limitadas a seguir o código de ética e de filiação da FIFA. Desse modo as confederações nacionais de futebol ainda estão totalmente interligadas às ações da FIFA, e assim direcionadas a seguir suas decisões sem questionamento. O mesmo ocorria com seus principais patrocinadores e parceiros, que ao assumirem uma postura mais agressiva em relação às ações da entidade, podiam ser substituídos rapidamente por outros patrocinadores com governanças corporativas questionáveis, ou sequer possuindo uma, como no caso da empresa russa de gás, a Gazprom2. Esse é um dos aspectos que foi claramente modificado a partir do recente escândalo de corrupção na entidade envolvendo seu ex-presidente Joseph Blatter, assim se mesclando à expressão da nova governança, o que fez com que a ação dos patrocinadores fosse escancarada para o mundo, questionando se manteriam seus contratos com a FIFA, e prejudicando suas respectivas imagens, como foram os casos da VISA 3 , Hyundai e principalmente da Coca-Cola4, uma das mais antigas parceiras da entidade. A figura 1 traz um panorama de quais foram os parceiros e stakeholders da entidade nas copas de mundo realizadas entre 1982 e 2018.

através do ponto de vista de três diferentes regimes internacionais. Tais regimes imputam uma visão diferente sobre como pode ser observada a função da governança dentro do estudo das relações internacionais”. (HASENCLEVER; MAYER; RITTBERGER, 1997, p.16-17). 2 . Is Gazprom driven by politics or profit? Disponível em: . Acesso em: 05 abr. 2018. 3 O Globo Visa Ameaça romper patrocínio por causa de escândalos da FIFA. Disponível em: https://oglobo.globo.com/esportes/visa-ameaca-romper-patrocinio-por-causa-de-escandalos-na--16284185 4 Terra. FIFA é questionada por patrocinadores e tem ameaça de fim de contrato. Disponível em http://esportes.terra.com.br/futebol/fifa-e-questionada-por-patrocinadores-e-tem-ate-ameaca-de-fim-de- contrato,1c496cefc200db88c7ea0881a6909c3f1tbcRCRD.html

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Figura 1 – Parceiros e stakeholders da FIFA ao longo das Copas do Mundo de 1982 a 2018.

2018 2014 2010 2006 2002 1998 1994 1990 1986 1982 adidas x x x x x x x x x x Coca-Cola x x x x x x x x x x Qatar Airwais x Hyundai-Kia Motores (2002-2006: Hyundai) x x x Sony x x x x Visa x x x Gazprom x Wanda Group x Alfa Bank x Alfa Romeo x Anheuser-Busch InBev (Budweiser) x x x x x x x x Avaya x x Bata x Canon x x x x x Castrol x x Cinzano x Continental x x x Deutsche Telekom x Energizer x Fuji Xerox Fujifilm x x x x x x Gillette x x x x x x Hisense x Iveco x Johnson & Johnson x JVC x x x x x x Korea Telecom/NTT x MasterCard x x x x McDonald's x x x x x x x Mengniu Dairy x Metaxa x MTN x Oi x Opel (1994:GM) x x x Phillips x x x x x x Rostelecom x x x RJ Reynolds (1986:Camel/1982:Winston) Russia Railways x Satyam x Seara x Seiko x x Snickers (1990: Mars/m&m's) x x x Toshiba x x Vini d'Italia x Yadea x Yahoo! x x Yingli Solar x Fonte: Elaborada pelo autor com base em dados da FIFA (2016).

A legitimidade de uma entidade dentro de uma boa governança depende da transparência normativa de suas regras e da abertura das suas relações com governos e com o público (SHENG, 2009), algo que a FIFA não possuía historicamente. De fato, suas ações chegaram a ser comparadas às da máfia italiana segundo o documentário da BBC “FIFA dirty secrets”, de 2010. No entanto, a fraca governança da FIFA no período mais recente, em desacordo com a boa governança, ilustrada na figura 2, de acordo com a teoria de Sheng (2009), começa a ser substituída por uma governança de melhor qualidade, logo após o Relatório de Michael García sobre a corrupção de Joseph Blatter, em 2016, convergindo com a necessidade de mudança que a entidade precisava para recuperar seu prestígio global.

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Figura 2 – As bases da “Boa Governança”, segundo Sheng.

Fonte: SHENG (2009).

Dessa forma, a entrada de Gianni Infantino como presidente da entidade trouxe mais transparência às disputas, principalmente, no que se refere ao combate à corrupção existente na escolha de países-sede para a Copa do Mundo, algo altamente criticado no relatório García5 e que praticamente retirou Joseph Blatter do poder, assim como seu possível sucessor, o ex-presidente da UEFA, Michel Platini, devido às acusações de corrupção na eleição de Rússia e Qatar (THE TELEGRAPH, 2018) como países-sede dos Mundiais de 2018 e 2022. Buscando uma maior transparência, hoje todos os relatórios da FIFA estão disponibilizados no site da entidade, assim como a votação que ocorreu em junho de 2018 para eleger o país-sede do Mundial de 2026, vencido pela América do Norte (EUA-México- Canadá) em disputa com o Marrocos, que não foi uma votação fechada como ocorrera por

5 O “Relatório García” é um relatório produzido por Michael J. García, advogado da corte de apelações de Nova Iorque nos EUA, contratado pela FIFA para analisar, por cerca de um ano e meio, a possível existência de corrupção da FIFA para a escolha de Rússia e Qatar como países-sede dos Mundiais de 2018 e 2022, respectivamente. Contratado pela FIFA, seu relatório não foi publicado corretamente pela entidade, o que levou a um grande escândalo de corrupção, a própria rescisão do acordo por Michael García, dado que em Setembro de 2014, Hans-Joachim Eckert, presidente da transparência da FIFA, produziu apenas alguns trechos do relatório, e trechos favoráveis à decisão da entidade, o que levou Michael García a publicar, na íntegra, indícios fortes de corrupção em ambas as escolhas, que levou à expulsão de diversos membros da FIFA, como a retirada de Joseph Blatter da presidência, assim como do presidente da UEFA, na época, Michel Platini, e o afastamento de ambos por 6 anos das atividades ligadas ao futebol. Pressionada pelo jornal alemão Bild, a FIFA, então, disponibilizou na íntegra o relatório. Disponível em: . Acesso em: 05 abr. 2018.

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anos na entidade, principalmente desde a entrada de João Havelange no poder (JENNINGS, 2015), como será descrito mais a frente, conferindo uma legitimidade maior às normativas para concorrer e receber a competição. Nessa eleição, foram dadas notas de 1 a 5 para cada quesito levantado para os países, sendo que a infraestrutura e a aceitação pública tiveram peso maior do que a construção de estádios (FIFA, 2018)6, tudo para que se tenham normas de governança mais abertas aos stakeholders, para que não ocorra a criação dos famosos “elefantes brancos”7 pós-mundial e para tentar restabelecer uma maior credibilidade da entidade em sua atuação político- econômica e social.

2.2 A FIFA DENTRO DO DIREITO INTERNACIONAL

De acordo com o código civil suíço, a FIFA é considerada uma organização não governamental internacional sem fins lucrativos, e funciona com base na associação e filiação de associações-membros. Ainda sobre o código civil suíço, no qual se encontram os registros da entidade, verifica-se que ela se enquadra no art. 60, capítulo II no registro de comércio:

Art. 60: As associações com fins políticos, religiosos, científicos, culturais, caritativos, sociais ou outros fins não comerciais adquirem personalidade jurídica assim que sua intenção de existir como órgão corporativo é aparente de seus estatutos. Os artigos de associação podem ser feitos por escrito e indicar os objetivos da Associação, seus recursos e sua organização. (CÓDIGO CIVIL SUÍÇO, 1907)8

Os benefícios fiscais aos quais a FIFA tem direito vêm, segundo o mesmo código civil, do caráter associativo não lucrativo declarado pela própria entidade que não considera ter qualquer propósito econômico-financeiro (FIFA, 2017), ficando obrigada a usar suas reservas para ser tributada segundo a lei fiscal suíça aplicada às associações, com uma carga tributária reduzida de 4% sobre o lucro líquido, metade do exigido para entidades societárias com fins lucrativos (CÓDIGO CIVIL SUÍÇO, 2017). Justamente pela sua grande capacidade de aquisição de renda, torna-se difícil a

6 2026 FIFA World Cup guidelines. 7 Elefantes Brancos são estruturas, principalmente estádios, construídos com altos valores financeiros e que não têm nenhum uso para o pós-evento, tornando-se estruturas abandonadas. 8 Tradução do original: Art. 60: Associations with a political, religious, scientific, cultural, charitable, social or other non-commercial purpose acquire legal personality as soon as their intention to exist as a corporate body is apparent of their articles of Association. The articles of Association must be done in writing and indicate the objects of the Association, its resources and its organization (Código Civil Suíço, 1907).

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distribuição de qualquer excedente de lucro. Assim, a FIFA, para tornar o futebol um esporte global, fundamenta seus ganhos financeiros em investimentos dentro da própria entidade, para seus próprios eventos e expansão global do esporte com medidas para fomentá-los em países que carecem de ferramentas básicas para a prática do futebol – bolas, estádios, campos, uniformes, etc. – como realizado e divulgado no FIFA Forward Football Development Programme (2018). A própria FIFA, em seu estatuto, declara-se uma entidade esportiva de adesão universal (RODRIGUES, 2015) e, para isso, ela deve ter a representatividade de ao menos 60 países no total, ou 30 países em pelo menos dois continentes, com uma distribuição geográfica bem balanceada (YEARBOOK OF INTERNATIONAL ASSOCIATIONS, 2014). A FIFA, então, consegue tal atributo ao possuir 211 federações, constituídas como associações, que são organizações orientadas a alcançar objetivos caracterizados pelos centros dinâmicos de poder com função de gestão, direção, planejamento e controle, pela sua forma de atuação estratégica junto à entidade que os rege, sendo ambos semelhantes de forma organizacional.

Trata-se de uma organização complexa, constituída e orientada para atingir objetivos específicos, caracterizada [...] por seus centros dinâmicos de poder com funções de gestão, direção, planejamento e controle, pela sua capacidade de agir estrategicamente, pela extrema sofisticação de suas formas de atuação. (FARIA, 2016, p.26).

A FIFA está dividida em seis confederações regionais: a) CONMEBOL – Confederación Súdamericana de Fútbol – responsável pelos países da América do Sul à exceção de Guiana e Suriname, vinculados à CONCACAF, e a Guiana Francesa, não filiada à FIFA; b) UEFA – Union des Associations Européennes de Football – responsável pelos países da Europa, mais Cazaquistão e Israel; c) CONCACAF – The Confederation of North, Central America and Caribbean Associacion Football – responsável pelos países da América do Norte, Central, Caribe, Guiana e Suriname; d) CAF – Confédération Africaine de Football – responsável pelos países africanos; e) AFC – Asian Football Confederation – responsável pelos países asiáticos mais a Austrália; e f) OFC – Oceania Football Confederation – responsável pelos países da Oceania, com exceção da Austrália, que pediu filiação à AFC em 2005, sendo aceita em 2006. A figura 3 traz o número de países-membros de cada uma das confederações da FIFA.

24

Figura 3 – Número de países-membros da FIFA por Confederação.

10, 5% 11, 5%

55, 26% UEFA 35, 16% CAF AFC CONCACAF OFC CONMEBOL 46, 22% 54, 26%

Fonte: FIFA (2018). Nota: Número de afiliados - à esquerda - e representatividade (%) dentro da entidade – à direita.

A entidade, de maneira jurídica, também responde ao que foi cunhado como lex FIFA, que significa juridicamente que sua legislação está imposta sobre os limites, em conjunto, do país-sede da entidade, a Suíça, e da União Europeia, onde tanto o direito desportivo quanto o estatal estão coligados e transnacionalmente vinculados às normas do direito internacional solidificados tanto nos estatutos da Suíça quanto nas normas da União Europeia (FARIA, 2016).

25

3 HISTÓRIA, FORMAÇÃO POLÍTICA E ESTATUTO DA FIFA

Para entender melhor a relação da FIFA e as nuances políticas, econômicas e da governança internacional, é de suma importância o entendimento da entidade desde sua criação, passando por uma linha do tempo de expansão e consolidação global através de sua história.

3.1 A HISTÓRIA DA FIFA

3.1.1 O início do futebol e a criação da FIFA

Segundo Paul Mitchell em “The first international football match”, de 2007, após o primeiro jogo inicial de seleções em 1872, entre Inglaterra e Escócia, a moda do futebol começou a se espalhar pelo mundo. Temendo que os jogos amistosos perdessem validade, foi proposta a criação de uma entidade que regulasse as 13 principais regras do esporte nesses jogos. Em um primeiro momento, com a criação da Football Association (FA)9, a Associação Inglesa de Futebol em 1863, foi identificada a necessidade da criação de uma entidade que pudesse fundamentar as regras e ter a governança das questões esportivas do futebol10. No entanto, as chamadas Home Nations (criadoras do jogo: Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda), foram contra. Primeiramente, eram contra o pagamento de salário para amadores (BECK, 1999) como a FIFA propunha, e em um segundo momento, porque haviam acabado de fundar a International Board, que para eles teria exatamente essa função de “regulamentação” dos países que praticassem o esporte. Havia também o medo, principalmente das federações escocesas e galesas, que um novo órgão tirasse essa soberania sobre o futebol dos países e realizasse o que o Comitê Olímpico Internacional (COI) havia feito com o Reino Unido, criado uma federação única para os quatro países (PALMER, 2010). A Inglaterra, através do auxílio do barão Edouard de Laveleye e de Lord Kinnaird, presidente da FA, entraria na FIFA (FIFA, 2017), o que causaria uma quebra com os demais países do Reino Unido, reclamando da participação do futebol inglês como Reino Unido nas Olimpíadas, o que ia contra o acordo inicial com a International Board e o Home Nations Agreement (HASSAN, 2012).

9 Federação Inglesa de Futebol. 10 The History of FIFA. Disponível em: . Acesso em: 02 jun. 2017.

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Para que houvesse uma maior organização no crescente número de jogos realizados internacionalmente entre equipes e seleções de diferentes países, assim como a “pouca empatia” do COI para o incentivo da propagação do esporte, nasceu a ideia da criação de uma entidade que pudesse controlar a situação descrita (ROUSSEAU, 2014). Os estatutos iniciais da FIFA declararam que11: • Somente as Associações Nacionais representadas seriam reconhecidas; • Clubes e jogadores só podiam jogar para duas Associações Nacionais ao mesmo tempo; • Todas as associações reconheceriam a suspensão de um jogador em qualquer associação; • Os jogos deveriam ser jogados de acordo com as "Leis do Jogo da Associação de Futebol Ltda."; • Cada Associação Nacional pagaria uma taxa anual de 50 francos franceses; • Somente a FIFA poderia organizar partidas internacionais. Contudo, com o jogo se espalhando principalmente pela Europa insular e América do Sul, em 1904, em um conselho na Rua Saint Honoré, 229, em Paris, foi criada a FIFA (Federação Internacional de Futebol Associado ou no original, Fédération Internationale de Football Association) pelo presidente Robert Guérin. Inicialmente com as presenças de Bélgica, Dinamarca, França, Holanda, Espanha (Representada pelo Madrid12 Futebol Clube, já que não havia a Federação Espanhola) e Alemanha13. Em 1906, durante o 3o congresso da FIFA, em Berna, Suíça, a Associação Inglesa postulou e conseguiu o cargo máximo da entidade, incitando as demais federações britânicas a se filiar. Em 1908, em Viena, dada a força da FA, a Federação Inglesa, assim como as federações de Escócia e Irlanda foram rejeitadas por desejarem serem vistas como associações diferentes de apenas um “apêndice” de uma possível Federação do Reino Unido, contrariando o que havia sido postulado pela Inglaterra, que previa uma única associação para o Reino Unido (LANFRACHI et al., 2004), de tal forma que originaria a disputa associativa de cada um dos quatro países britânicos postulantes às associações individuais que ficariam conhecidos e aceitos até hoje como o Home Nations Agreement14.

11 Idem rodapé anterior. 12 Hoje Real Madrid. 13 FIFA Organization. 14 O Home Nations Agreement inicialmente foi proposto pela FA e International Board – formada pelas quatro associações que teriam disseminado o futebol internacional – Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, estabelecia que, ao contrário do COI, onde todos seriam representados pela Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, na FIFA, cada país teria uma associação independente para aceitar o retorno à entidade. Posteriormente,

27

3.1.2 Os anos 1920 e 1930, com a criação da Copa do Mundo FIFA

Nos anos seguintes, Argentina, Uruguai, África do Sul e as próprias Home Nations iriam se filiar a entidade, que passou a controlar o futebol nos jogos olímpicos até a criação da Copa do Mundo, pelo então presidente Jules Rimet, em 1928, devido ao sucesso que envolveu a participação do público nos jogos de Amsterdã, no mesmo ano. Anos antes, as Home Nations (agora com a Irlanda dividida em Irlanda do Norte e República da Irlanda) tendo todas as suas federações – com exceção da República da Irlanda - se desfiliado da FIFA, principalmente por ela ter aceito dentro de sua instituição os países que fizeram parte do “Poder Central”, inimigos do Reino Unido durante a Primeira Guerra Mundial, como Alemanha, Bulgária, Império Otomano (já como Turquia) e Império Austro- Húngaro (agora dividido em Áustria e Hungria), onde retornariam como federações filiadas à FIFA apenas em 1946 (BECK, 2013).15 Segundo Brian Glanville, em seu livro “The story of the World Cup”, de 2014, com o sucesso da Copa do Mundo, diversas vezes os britânicos foram convidados a se filiarem novamente para participarem, alegando agora, que “venceriam” qualquer competição, mas apenas a República da Irlanda aderiu até o início dos anos 1950, ano em que os países da Home Nations cederiam, ao firmar, junto com a International Board que a FIFA não interferiria na criação da soberania das quatro Seleções Nacionais como representantes individuais (algo que não havia acontecido no futebol dos jogos Olímpicos, e que teria causado um mal estar nas federações), como citado por Palmer, em seu artigo “Why does the United Kingdom get to have four national soccer teams?”, de 2010. A primeira Copa do Mundo foi realizada no Uruguai, em 1930 (vencedor do pleito para ser país-sede contra Itália, Holanda, Espanha, Suécia) (FIFA, 2016). Com a vitória do país para sediar o evento, houve diversos boicotes de países europeus contra o torneio na América do Sul devido às longas viagens de navio (GLANVILLE, 2014), fazendo com que apenas a Romênia, impulsionada pelo Rei Carol, um fã dos torneios de futebol, a França de Jules Rimet, a Iugoslávia e a Bélgica, aliada da França, fizessem a viagem (FIFA, 2016). Com o sucesso do torneio, a FIFA repetiria o Mundial, em 1934, que seria boicotado

o Home Nations Agreement se tornou um “pacto” onde cada seleção Britânica apenas poderia ter jogadores de duas nacionalidades sendo que a segunda nacionalidade estaria que estar diretamente ligada a um dos países do Reino Unido. Disponível em: . Acesso em: 05 abr. 2018. 15 Também citado como motivo da saída do Reino Unido em 1919, por Alan Tomlinson, em seu livro “FIFA (Federation Internationale de Football Association): The men, the myths and the money”, de 2014.

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pelo então campeão mundial, Uruguai, em resposta à não participação dos países europeus em seu mundial. Em 1938, a Copa do Mundo foi realizada na França, o que contrariava o “rodízio” proposto por Jules Rimet, causando um boicote, novamente do Uruguai, da Argentina e dos demais países da América, com exceção de Brasil e Cuba (GLANVILLE, 2014). No torneio de 1938, a Alemanha nazista de Hitler, impulsionada pelo sucesso obtido nas Olimpíadas de Berlim e pelo belo time que a Áustria possuía, aproveitaria o cenário de pré-guerra mundial com o Anschluss - a anexação da Áustria pela Alemanha - incorporando jogadores da equipe ao time alemão (GLANVILLE, 2014). A FIFA, com uma seleção a menos, convidou a Inglaterra que, ainda em conflito com a entidade, se negou a participar. Foi proposto que a Letônia, vice-campeã do grupo pudesse entrar no torneio, o que não foi considerado, ficando o torneio com 15 equipes (BECK, 1999) e tendo como notável a ausência da Espanha - que fizera um bom mundial em 1934 - dada a guerra civil que o país participava (GLANVILLE, 2014).

3.1.3 O período entre guerras

Durante a Segunda Guerra Mundial cessaram quaisquer atividades de futebol internacional, a não ser torneios e amistosos disputados na América do Sul, como a Copa América, longe do foco do evento, e amistosos entre equipes europeias de modo esporádico, como o famoso jogo entre alemães nazistas e ucranianos contrários ao regime, que fora denominado “Game of Death”, pois existe uma hipótese de que os ucranianos do FC Start teriam se recusado a perder para os nazistas e teriam sido mortos pelo regime de Hitler no pós-jogo16. Após o final da Segunda Guerra Mundial, a FIFA fez um esforço para que a Inglaterra e os demais países do Reino Unido pudessem se juntar novamente à FIFA para recuperar certo prestígio perdido durante o período de conflito Mundial. A Inglaterra, então, finalmente aceitaria – assim como os demais países britânicos – desde que Alemanha, Japão e Itália, os principais fomentadores da II Guerra Mundial fossem expulsos da entidade (BECK, 1999). Em um primeiro momento, a FIFA aceitou. No entanto, após uma análise, ficou assumido em congresso que apenas seriam suspensos da entidade até o final da primeira Copa

16 Game of Death: literalmente o “Jogo da Morte”.

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do Mundo pós-guerra, que seria realizada no Brasil em 1949 (GLANVILLE, 2014), mas foi postergada para 1950 para que os países em reconstrução do conflito pudessem participar do torneio. A Inglaterra aceitou através dos esforços dos então dirigentes da FA Artur Drewry e Sir Stanley Rous - que viria se tornar presidente da FIFA -, refiliando-se após um jogo festivo, firmado pela FIFA, em 1947 (BECK, 1999) e, assim como os demais países britânicos iniciaria a participação nas eliminatórias para o Mundial no Brasil através do Home Nations Tournament, o qual venceu, garantindo a sua classificação. Teoricamente a Escócia também participaria como a vice-campeã, mas se recusou por não ter sido proclamada campeã britânica. Portugal foi convidado, mas rejeitou o convite (GLANVILLE, 2014). A Itália, então bicampeã do mundo, mesmo participando da guerra como um dos rivais da Inglaterra, não sofreu as mesmas sanções de Alemanha e Japão, pois o então vice- presidente da FIFA e presidente da Federação Italiana de Futebol (FIGC), Giorgio Vaccaro fez-lhe um grande favor, conseguindo esconder dos nazistas o troféu criado por Abel Lefleur em uma caixa de sapatos, embaixo de sua cama durante o período da segunda guerra mundial. Seguiram então Campeonatos Mundiais em países pouco afetados pela guerra enquanto haveria a reconstrução, principalmente de Grã-Bretanha, Aliados e Alemanha. Houve competições na Suíça, em 1954, e Suécia, 1958, onde a FIFA conseguiu outro grande trunfo: a entrada a URSS como uma de suas associações - uma das principais vencedoras da guerra e que ainda esnobava a competição, valorizando mais os torneios olímpicos e amadores para promoção do governo comunista.

3.1.4 O pós-guerra, João Havelange e o crescimento de filiados na FIFA

A partir desse momento, a FIFA criou uma política para a entrada de países em sua entidade. Continentes como Ásia e África, isolados pelo antigo presidente Sir Stanley Rous, começam a ter importância e uma grande influência para um aumento considerável de votos nas eleições presidenciais de João Havelange, nas quais países africanos recém-independentes nos anos 60 ganharam filiação à FIFA sem qualquer método de votação entre as outras entidades, mostrando a busca da expansão da FIFA como uma entidade empresarial até mais do que no mérito esportivo. A figura 4 mostra todos os presidentes da entidade desde sua criação até 2018.

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Figura 4 – Lista de presidentes da FIFA desde a sua criação.

Presidente Nação Período 1 Robert Guérin França 1904-1906 2 Daniel Burley Woolfall Inglaterra 1906-1918 - Cornelis Hirschmann (temp.) Holanda 1918-1921 3 Jules Rimet França 1921-1954 4 Rudolphe Seeldrayers Bélgica 1954-1955 5 Arthur Drewry Inglaterra 1955-1961 6 Sir Stanley Rous Inglaterra 1961-1974 7 Dr. João Havelange Brasil 1974-1998 8 Joseph Blatter Suíça 1998-2015 - Issa Hayatou (temp.) Camarões 2015-2016 9 Gianni Infantino Itália / Suíça 2016-atual Fonte: FIFA (2018). Nota: temp. = temporário.

A busca da expansão pela FIFA tem como ponto de partida o boicote ao Mundial de 1966, na Inglaterra, onde o então presidente da FIFA, o britânico Stanley Rous não assegurou nenhuma vaga direta à confederação e não baniu a África do Sul devido ao apartheid17, algo que os demais órgãos mundiais, esportivos ou não, já haviam feito como indicado por Sudgen e Tomlinson em “Global power struggles in world football: FIFA and UEFA, 1954-74, and their legacy”, de 1997, ou o caso da exclusão da Iugoslávia durante a Guerra dos Bálcãs em 1992. Ainda segundo Sudgen e Tomlinson (1997), com a entrada do brasileiro João Havelange como presidente, o futebol seria espalhado pelo restante do mundo, tendo dois aumentos significativos nos participantes dos Mundiais, para prover às Federações Continentais mais vagas e mais votos para sua escolha como presidente. Segundo a legislação da FIFA, por menor que seja a federação, esta tem o mesmo peso do voto de um país como o Brasil, na época tricampeã mundial, por exemplo. Contudo, há muita controvérsia sobre questões de corrupção na eleição de João Havelange em seu confronto com Sir Stanley Rous durante as votações para 1974. O brasileiro teria entrado em acordo com as confederações da África e da Ásia para garantir sua eleição. Essas confederações tiveram um acréscimo significativo de sócios após o processo de independência pós-segunda guerra mundial.

17 Regime de segregação racial que imperava na política da África do Sul entre 1948 e 1994.

31

João Havelange teria prometido uma maior participação dos países no mundial, com mais vagas, e a expansão da Copa do Mundo - como ocorreria já em seu mandato, em 1982, para 24 seleções, em detrimento das 16 de 1934 a 1978 - em troca de votos para a sua eleição, quando ele daria duas vagas diretas a cada uma dessas confederações para a Copa do Mundo na Espanha (SUDGEN; TOMLINSON, 1997). A figura 5 mostra a evolução do número de países filiados à FIFA desde sua criação, o que permite constatar sua expansão ao longo dos anos.

Figura 5 – Evolução do número de países filiados à FIFA desde sua criação.

250

200

150

100

50

0

1904 1908 1912 1916 1920 1924 1928 1932 1936 1940 1944 1948 1952 1956 1960 1964 1968 1972 1976 1980 1984 1988 1992 1996 2000 2004 2008 2012 2016

Fonte: Elaborada pelo autor com base em dados da FIFA (2018).

Com o poder da maioria das associações com votos diretos para João Havelange, o brasileiro institucionalizaria um governo de mais de 20 anos que seria passado para o seu secretário geral, Joseph Blatter, que, segundo Andrew Jennings, em seu livro “FIFA: a dirty game”, de 2015, instituiria a corrupção lasciva na entidade, comandando quase todos os contratos internacionais de marketing esportivo, direitos televisivos e propaganda da Copa do Mundo, e começaria a ter os resultados mais significativos em valores econômico-financeiros para a entidade no período, quase instituindo um quid pro quo18, onde cada associação estaria diretamente ligada à votação para a perpetuação da dupla Havelange-Blatter desde que se

18 Expressão em latim que significa "tomar uma coisa por outra", ou um favor pelo outro.

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mantivesse o número de países nos mundiais (JENNINGS, 2015). O que ainda contaria com o aumento de uma vaga para uma seleção africana em detrimento à uma seleção europeia em 1994. (GLANVILLE, 2014). Essa situação se agravaria com a falência da ISL, empresa de marketing esportivo da FIFA19, em meados dos anos 2000, e a posteriori seriam “escancaradas” as questões de corrupção envolvendo Blatter e o finado João Havelange.

3.1.5 A globalização, os casos de corrupção na FIFA e o cenário atual

Em 1998, ocorreria outro aumento, agora para 32 seleções, coincidindo com a saída de João Havelange para que seu secretário, Joseph Blatter, assumisse o comando da entidade, e com anos de questionamentos sobre corrupção, o que seria confirmado com a escolha de Rússia e Catar para sediarem os Mundiais de 2018 e 2022 segundo o relatório de Michael Garcia, indicado anteriormente durante a dissertação. A troca de Blatter por Gianni Infantino amenizou o problema, mas para acalmar as federações, o novo presidente já prometera um novo aumento de vagas para a Copa de 2026, para 48, com melhorias na governança para a escolha do país-sede. Tudo devido às investigações norte-americanas após o relatório do advogado Michael García, que culminaria com a prisão de Blatter e de diversos outros representantes20. Recentemente a FIFA conta com 211 seleções nacionais, entretanto se contesta a filiação de confederações de países cujas soberanias têm impacto político na ONU, por exemplo, a proposta recente de adesão de três países: Sudão do Sul, aprovado por todos os membros; Kosovo, cuja adesão a Sérvia era contra, mas a maioria da FIFA a favor; e Gibraltar, a força política Espanhola através do vice-presidente Ángel Maria Villar vetou a entrada do enclave britânico, que era contestado em soberania pela Federação Espanhola, o que levava a FIFA a desconsiderar sua filiação, mesmo que a UEFA, ao contrário, filiasse Gibraltar entre seus membros. Essas articulações fizeram com que Gibraltar conquistasse, no Tribunal Arbitral do Esporte (TAS-CAS)21, o direito de participar das eliminatórias para o Mundial de 2018. A

19 A empresa de marketing esportivo que foi à falência em 2001 seria o primeiro indício de corrupção latente na FIFA, que seria descoberta durante a eleição dos países-sede para as Copas de 2018 e 2022, em 2010; e as severas reeleições de Joseph Blatter no comando da FIFA entre 2002 e 2015. 20 Gianni Infantino unveils plans to increase World Cup to 40 or 48 teams. Disponível em: . Acesso em: 04 dez. 2017. 21 O TAS-CAS julgou como jurisprudência o caso de Gibraltar com a Espanha, pelo fato deste país não fazer

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filiação do Kosovo22 ocorreu no mesmo período com a maioria da votação de filiados da FIFA, mesmo a contragosto da Sérvia e após ter sido realizado o sorteio para a competição.

3.2 A ESTRUTURA DA FIFA

A formação estrutural da FIFA é composta principalmente por três órgãos que representam os poderes legislados na entidade, havendo certa semelhança com a disposição de poderes entre as principais democracias globais de forma mutatis mutandis23 (FARIA, 2016). São eles: o Congresso, órgão supremo e com poder legislativo; o Conselho, antigo comitê executivo, designado pelas Associações para o poder executivo, no qual o principal poder se concentra no presidente - hoje, o ítalo-suíço Gianni Infantino; e a Secretaria geral, órgão administrativo comandado, no recente período, pela senegalesa Fatma Samoura. Há também o poder judiciário da entidade, formado por um órgão menor, o Comitê de Ética, que está relacionado às questões de transparência, ética, processos disciplinares e de apelações. É encarregado de julgar principalmente atletas que se envolvam em questões de dopagem e transferências; clubes que “aliciem” jogadores, principalmente menores de 18 anos, e associações que não estejam de acordo com os direitos e deveres da FIFA (FIFA, 2016). Na figura 6, pode-se verificar o organograma da FIFA, com todos os seus órgãos representativos e hierarquias correspondentes.

parte do Estado Espanhol, sendo assim obrigado a ser aceito pelas duas Federações, algo que provavelmente iria contra a Catalunha, que pertence à Espanha, mesmo com uma possível declaração de independência. O material pode ser acessado em: . 22 Kosovo becomes FIFA member after congress vote. Kosovo entra como membro da FIFA. 2'26". Disponível em: . Acesso em: 05 abr. 2017. 23 Do latim: “Tendo substituído ou levado em conta certas termos diferentes ou a serem modificados”. Muito utilizado nas obras de Direito Internacional.

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Figura 6 – Organograma da FIFA

Presidente da FIFA Secretaria Geral

Congresso Conselho da FIFA (Antigo Comitê Executivo)

UEFA UEFA Associações 3 Vice-Presidentes 5 membros

CONMEBOL CONMEBOL Associações Vice-Presidente 4 membros

CONCACAF CONCACAF Associações Vice-Presidente 4 membros

AFC AFC Associações Vice-Presidente 6 membros

CAF CAF Associações Vice-Presidente 6 membros

OFC OFC Associações Vice-Presidente Sênior 2 membros

Chairman Comitê de ética Comitê de Desenvolvimento Deputy chairwoman Membros

Chairman Comitê de stakeholders Deputy chairwoman Membros

Chairman Comitê Médico Deputy chairwoman Membros

Chairman Comitê das Competições da FIFA Deputy chairwoman Membros

Chairman Comitê de árbitros Deputy chairwoman Membros

Chairman Comitê de Finanças Deputy chairwoman Membros

Chairman Comitê de Governança Deputy chairwoman Membros

Chairman Comitê das Associações membros Deputy chairwoman Membros

Chairman Comitê dos jogadores Deputy chairwoman Membros Fonte: Elaborada pelo autor com base em dados da FIFA (2018).

3.2.1 O Congresso

O Congresso é o órgão supremo da FIFA dentro da hierarquia organizacional da entidade, exerce as funções de poder legislativo e é responsável pela elaboração do estatuto da entidade24. Compõem o Congresso todas as 211 associações afiliadas, assim como cada uma das seis confederações globais a qual cada uma está interligada (FARIA, 2016), conforme pode ser observado na figura 7.

24 FIFA Statutes.

35

Figura 7 – A evolução do número de filiados no congresso da FIFA por confederação.

1904 1925 1950 1975 1990 2005 2012 2018 UEFA 8 28 32 35 35+1 51 53 55 Conmebol 0 6 9 10 10 10 10 10 Concacaf 0 3 12 22 27 35 35 35 AFC 0 1 13 33 37+1 46 46 46 CAF 0 1 1 35 48 53 53 53 OFC 0 0 1 4 8 12 11 11 Total 8 39 68 139 167 207 209 211

60

50 UEFA 40 Conmebol

30 Concacaf AFC 20 CAF

10 OFC

0 1904 1925 1950 1975 1990 2005 2012 2018 Fonte: FIFA (2018).

Dentro do Congresso, cada uma das associações tem deveres e direitos que devem cumprir, tendo como obrigações atender aos regulamentos e decisões finais da FIFA, assim como trabalhar em colaboração total com a entidade quando requisitada por ela, principalmente para evitar a criação de ligas independentes internacionais sem o consentimento expresso da FIFA, que visa manter o monopólio global sobre o futebol profissional. Devem cumprir suas normas tanto no comitê executivo quanto em relação às leis que forem redigidas em órgãos judiciários da FIFA ou quando requisitado ao TAS/CAS. As associações também devem pagar uma subscrição de US$ 1.00025 como filiadas, assim como cada associação deve fazer valer o regulamento da FIFA sobre jogadores, clubes, dirigentes e agentes, impedindo, de qualquer forma, qualquer interferência externa sobre a objetividade do comportamento da associação, principalmente interferência governamental, estando sujeita às punições e até à desfiliação da FIFA. Dentre os direitos que as associações possuem estão integrar o Congresso, com direito a voto; indicar os candidatos à presidência da FIFA; fazer parte de qualquer competição organizada pela entidade e exercer qualquer direito acordado dentro do seu estatuto.26

25 Em 2017. 26 A lista completa de direitos e deveres da FIFA pode ser encontrado dentro dos artigos 12 e 20, respectivamente, do estatuto.

36

Os deveres da entidade estão diretamente interligados com o Congresso, visto que este, por meio de seu estatuto, tem a premissa de punição em caso de não cumprimento das obrigações, o que deve ser julgado no congresso e votado no conselho. Para ter direito a voto, cada associação deve ter uma governança interna, com auditoria e compliance, além de divulgar demonstração de balanço e aprovação de contas orçamentárias para que sejam consideradas aptas para exercer suas funções de direito como associações nacionais. As associações também devem estar isentas de qualquer intervenção estatal, indicando corretamente os integrantes de seus órgãos executivos, assim como detêm o direito de indicar e votar em eleição de presidente da entidade – como ocorrido em 201627, quando o Congresso Extraordinário da FIFA elegeu Gianni Infantino com 115 votos contra 88 do Xeique Salman bin Ibrahim al-Khalifa, do Bahrain, 4 votos do Príncipe Ali bin Hussein da Jordânia – além de outras normativas que sejam de interesse mútuo, como a mais recente eleição para sede do Mundial de 2026, na qual as associações votaram diretamente na sede, ao contrário do que foi realizado nas últimas eleições feitas apenas pelo comitê executivo. A votação para qualquer escolha dentro da FIFA deve ser designada pela maioria de três quartos em primeira instância, ou pela maioria em segunda instância (FIFA, 2016). Caso não exerça os direitos da entidade, o país pode ser punido dentro de suas atribuições, conforme artigo 26 do Estatuto da FIFA. Para isso abre-se uma votação no Conselho, na qual a associação deverá seguir o que a entidade exige por votação.

3.2.2 O Conselho

Conhecido até 2016 como o Comitê Executivo da FIFA (ComEx), o Conselho simboliza o órgão executivo da entidade (FARIA, 2016), composto por 34 membros, subdivididos entre: i) presidente da FIFA; ii) seis vice-presidentes eleitos pelas confederações e representantes das associações; iii) outros 34 membros das associações; e iv) uma representante do sexo feminino dentro da entidade, hoje, ocupando o cargo de Secretária Geral. A importância do conselho é crucial para o seguimento diário da FIFA. Se o

27 Entre os candidatos elegíveis, por conseguirem no mínimo 5 indicações por associações, ainda estavam presentes o francês Jérome Champagne e o sul-africano Tokyo Sexwale. Já outros candidatos não conseguiram as 5 indicações das associações-membros, tornando-se inelegíveis. Entre os mais famosos, os ex-jogadores Zico, Figo e Maradona. Estavam suspensos Joseph Blatter, ex-presidente da entidade; Michel Platini, ex- presidente da UEFA e Jérome Valcke, ex-secretário geral da FIFA.

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Congresso se dispõe como o principal órgão legislativo da entidade, o poder executivo toma forma no conselho da FIFA. Ele representa o cerne de todas as associações e confederações, uma vez que é o responsável por executar o estatuto da entidade e as deliberações das quais o Congresso não tem como participar de forma diária (FIFA, 2016). Assim como é ele, em conjunto com o Comitê de Ética, o responsável por exercer o poder executivo de ordem em relação ao cumprimento das regras e à punição em caso de desrespeito a elas. Em suma, o Congresso delibera e vota, e o Conselho executa. Dentro das atribuições do Conselho se encontram: a) Regulamento de transferência de jogadores; b) Regulamento da organização da FIFA c) O código deontológico; d) Regulamento eleitoral do presidente da FIFA; e) Regulamento eleitoral geral; f) Código de ética; g) Código disciplinar; h) Regulamento sobre os intermediários – antigo regulamento sobre os agentes de jogadores; i) Regulamento sobre o órgão arbitral; j) Regulamento de admissão de novas associações; k) Convênio de colaboração entre a FIFA e os Estados para a realização de competições.28 O presidente do Conselho, no caso, o presidente da FIFA, também tem, dentro do Conselho, a prerrogativa das decisões aprovadas pelo congresso com o aval da Secretaria Geral, além de supervisionar o trabalho da Secretaria Geral, assim como nomear e destituir o responsável por esta instância, tendo, por fim, uma função direta com as associações e confederações junto com os membros de órgãos políticos e organizações nacionais. É o Conselho, por meio de seu presidente, que supervisiona o Congresso e demais comissões designadas, colocando as pautas em votação e exercendo o direito de “voto de minerva”29 caso a questão não alcance uma resolução direta (FIFA, 2016; FARIA, 2016).

28 A lista geral dos regulamentos da FIFA pode ser encontrada no site oficial da entidade. FIFA Laws and Regulations. Disponível em: < http://www.fifa.com/about-fifa/official-documents/law-regulations/index.html>. Acesso em: 05 abr. 2018. 29 O voto de minerva é oriundo do mito greco-romano, onde Athena ou Minerva, deusa da guerra e da sabedoria tomou, para si, a decisão final de um julgamento empatado, após Orestes matar a mãe e o amante dela para

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3.2.3 A Secretaria Geral

Segundo os artigos 71 e 72 do Estatuto da FIFA, a Secretaria Geral da entidade tem como responsabilidade todo o trabalho administrativo da FIFA, destacando-se entre eles: a) Implementar as decisões do Congresso e do Conselho; b) Administrar as contas da FIFA; c) Gerir e manter as correspondências da FIFA com as confederações, associações, órgãos e entidades internacionais assim como com o público em geral; d) Assinar as decisões das comissões da FIFA quando os regulamentos forem omissos; e) Assumir o papel do presidente, quando este não se encontrar presente, principalmente em divulgações para as competições da entidade; f) Prestar as contas oficiais da FIFA no lançamento de seu balanço financeiro. O mais famoso dos secretários gerais da FIFA foi o ex-presidente Joseph Blatter, que serviu como braço direito de João Havelange, de 1981 a 199830 (SUDGEN; TOMLINSON, 1997). Blatter serviu como seu secretário e assumiu, por diversas vezes, esse posto de “cara da FIFA”, principalmente em sorteios dos Mundiais de 1982 a 1994, já com a expectativa de assumir o cargo de presidente em 1998. Além dos “três poderes” da FIFA, há como descrito no início do capítulo, o judiciário da entidade dentro do Comitê de Ética, antigo Comitê de Assuntos Jurídicos. Além desse comitê, há mais nove comitês integrando toda a rede de responsabilidades sobre o futebol global da entidade.

3.2.4 Os demais comitês

a) Comitê de Ética - Segundo o estatuto da FIFA, no artigo 61, trata-se de um órgão judicial dividido em três comissões: comitê de ética, comitê disciplinar e comitê de apelação. Designado a julgar as questões da lex FIFA (FARIA, 2016) ligada às transferências ilegais de jogadores, à idade mínima para transferência de jogadores, ao status das associações dentro da entidade e a possíveis punições para jogadores

vingar a morte do pai. Ao ser julgado por 12 cidadãos, houve empate, e Atena, que presidia o júri, proferiu o voto de desempate a favor de Orestes. Neste momento, o voto de desempate passou a ser conhecido como Voto de Minerva. 30 Dados da FIFA.

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no controle antidopagem. As decisões do comitê de ética só podem ser apeladas na TAS-CAS (FIFA, 2018). b) Comitê de Desenvolvimento - Destinado a cumprir a funções da FIFA para o desenvolvimento do esporte em países mais pobres através de estratégias e análises para o seu financiamento (FIFA, 2018). c) Comitê de Stakeholders - Serve como um comitê de conselheiros para o conselho da FIFA principalmente no que diz respeito às questões da estrutura do jogo, técnica e relacionamento entre clubes, ligas e atletas (FIFA, 2018). d) Comitê Médico - Designado às questões médicas envolvendo o futebol (FIFA, 2018). e) Comitê de Associações - Comitê que age diretamente com as associações, principalmente monitorando possíveis ações contrárias ao Estatuto da FIFA. Também se dispõe a propor cooperação entre a FIFA e as associações que estejam em dificuldade, tanto financeira quanto na questão política dentro da entidade (FIFA, 2018). f) Comitê de Competições - Designado a indicar os resultados, prioridades, problemas e vistoriar as associações onde serão realizados os próximos torneios da FIFA (FIFA, 2018). g) Comitê de Finanças - Comitê de auxílio ao conselho na prestação de contas da entidade, divulgação de balanço trimestral, anual e análise do budget para o próximo ano da entidade (FIFA, 2018). h) Comitê de Jogadores - Age junto com o “Regulamento para o Status de Transferência dos Jogadores” monitorando transferências, disputas de litígio entre clubes, disputas laborais tanto no que diz respeito a clubes e associações, clubes e jogadores, jogadores e associações e disputas na formação de jogadores (FIFA, 2018). Órgão fundamental para prevenir conflitos que seriam julgados no Comitê de Ética da FIFA ou no TAS/CAS (FARIA, 2016), atuando como uma ação de compliance31 para os jogadores. i) Comitê de Árbitros - Comitê designado a indicar aos árbitros as leis do jogo, assim como a implementar novas propostas dentro do Conselho da FIFA (FIFA, 2018). Como exemplo mais recente, tem-se o Video Assistant Referee (VAR) – Assistente

31 Grupo designado a realizar a ação de cumprimento de normas legais e regulamentares, políticas e diretrizes propostas, tentando detectar para evitar qualquer possível desvio ou inconformidade com o proposto pela legalidade judicial.

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de Árbitro de Vídeo, e sua regulamentação de uso para o Mundial de 2018, na Rússia32. j) Comitê de Governança - Indicado a trabalhar diretamente com o conselho, com o foco na transparência da entidade, como conduzir tarefas de verificações da elegibilidade de suas federações membros e revisões de independência (FIFA, 2018).

3.3 DIRETRIZES PARA A FILIAÇÃO NA FIFA

Segundo a FIFA, as diretrizes para a filiação estão indicadas dentro do estatuto, sendo o mais recente, de abril de 2016, em que se encontra a seguinte indicação:

Qualquer associação que seja responsável pela organização e supervisão do futebol em todas as suas formas em seu país pode se tornar uma associação membro. Consequentemente, recomenda-se que todas as associações membros envolvam todas as partes interessadas relevantes no futebol na sua própria estrutura, onde apenas uma associação deve ser reconhecida como associação membro em cada país. (FIFA, 2016, p. 10).

A filiação de uma associação só é permitida, dentro da FIFA, se a própria associação for atualmente membro de uma confederação. Com isso, o Conselho pode emitir regulamentos em relação ao processo de admissão. Qualquer associação que pretenda se tornar uma associação-membro deve solicitar isso por escrito ao secretariado geral da FIFA. Os estatutos legalmente válidos da associação devem ser anexados ao pedido de adesão e conter as seguintes disposições obrigatórias: a) sempre cumprir os estatutos, regulamentos e decisões da FIFA e da confederação relevante; b) estar de acordo com as regras do jogo; c) reconhecer o Tribunal de Arbitragem para o Desporto, conforme especificado nos presentes estatutos. Para ser aceito como uma federação na FIFA, o estatuto diz que qualquer país será considerado soberano aos seus olhos e capaz de disputar suas competições, se cumprir o estatuto da entidade e receber uma maioria de votos no conselho para a sua aceitação na FIFA. No caso das quatro associações britânicas, cada uma delas deve ser reconhecida como uma associação separada de membros da FIFA, e quando se tratar de uma associação de uma região que ainda não seja independente, pode-se, com a autorização da associação-membro do

32 https://www.theguardian.com/football/2018/mar/03/var-premier-league-ifab

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país a que pertence, também solicitar admissão à FIFA33. O processo de filiação ocorre da seguinte forma: o Conselho solicita ao Congresso que admita ou não uma associação, e a admissão se dá pela aprovação da maioria das associações filiadas. Se necessário, a associação requisitante pode indicar os motivos da sua aplicação ao congresso34. Assim, de uma maneira simples, e até “democrática”, há uma votação entre todas as associações e um voto majoritário que aceita ou não a filiação de uma nova associação- membro na FIFA. Um grande questionamento político sobre a votação para a entrada de países é em relação ao lobby político e à força internacional geopolítica de determinado país, seja a favor ou contra, como o caso de Espanha com Catalunha e Gibraltar ou de muitos países onde o futebol é sequer o segundo esporte ou com uma economia frágil, democracia fraca e liberdade econômica baixa, que detém o mesmo poder de voto de países que tem o esporte como uma força motriz na economia, como é o caso de territórios ultramarinos dos EUA. Um segundo exemplo é a recente admissão do Sudão do Sul, em 2011. O que levaria quatro anos, na teoria, foi “alavancado” em menos de 10 meses (BBC, 2017) para sua filiação, tendo em vista a votação para a expansão do Mundial e para a presidência da FIFA, considerando ser este um país situado em um local estratégico economicamente para o petróleo, embora o atletismo seja seu esporte principal. Tal atitude demonstra novamente a busca desenfreada da FIFA pela expansão procurando novas filiações para programar suas ações esportivas de ajuda a esses países, visando um futuro lucro ou votos para decisões importantes, como adição de novos membros, aumento de vagas em Copas do Mundo para federações de menor histórico esportivo ou votações presidenciais que impactam diretamente o acréscimo das receitas financeiras da entidade. Tendo isso em vista, seguindo as diretrizes - com a política que precede a indicação retirada – qualquer membro recém-admitido faz parte da FIFA, tendo direitos e deveres, os quais devem ser cumpridos para se manterem aptos a participar dos congressos da entidade.

33 Aqui a principal diferença que existe entre a FIFA e as demais organizações mundiais na está na questão de aceitar países-membros com associações não soberanas no âmbito do direito internacional, como é o caso de países que estão sob o comando de outros, por exemplo: a Nova Caledônia da França, Ilhas Faroé da Dinamarca e a atual tentativa de Zanzibar pela Tanzânia, o que será votado na próxima reunião geral entre os países-membros da FIFA, após autorização pelos países que os controlam. Contudo há questões geopolíticas como as de Kosovo e Sérvia, assim como Gibraltar e Espanha, em que os últimos não foram permitidos pelos ditos “soberanos”, mas a formação política empresarial da FIFA de expansão global do esporte, nacionalismo exacerbado de seus torcedores e busca pela implementação maior do esporte em regiões adjacentes fez com que a entidade aceitasse Kosovo e Gibraltar. 34 FIFA Statute.

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4 A IMPORTÂNCIA POLÍTICO-ECONÔMICA DO FUTEBOL E O IMPACTO DA COPA DO MUNDO NESSE CENÁRIO

O quarto e último capítulo vem demonstrar a importância do futebol tanto no cenário econômico quanto no político, transferindo para esses âmbitos o impacto que ele tem sobre as federações, como pode ser observado no nacionalismo oriundo da paixão pelo esporte, na formação de governos ditatoriais e em propagandas baseadas no futebol. Nesse contexto, a FIFA aparece como uma entidade de postura assertiva diante da movimentação financeira gerada pelo futebol, cujas leis e normas são ditadas por esta instituição. Ademais, procura-se ressaltar o impacto que Copa do Mundo traz tanto para a economia quanto para a política dos países-sede por meio da análise histórica do evento de 1990 a 2018, com foco especialmente nos três últimos mundiais (2010, 2014 e 2018), principalmente no que diz respeito aos ganhos de receita da própria entidade.

4.1 O FUTEBOL COMO UM SETOR ATUANTE NA POLÍTICA GLOBAL

O esporte, cada vez mais, tem assumido um papel importante dentro da análise da economia, dentro da diplomacia, da globalização cultural, das questões envolvendo guerras, soberania, identidade cultural e mídia (RODRIGUES, 2015). Tanto dentro da pesquisa político-econômica quanto das relações internacionais, o segmento é visto como: a) Um fator de grande relevância social e cultural, principalmente no que diz respeito às questões nacionalistas, da paixão pelo esporte em si, e da própria reconstrução política e cultural que pode ocorrer com uma nação, como o caso da Alemanha após a vitória na Copa de 1954, que “resgatou” o orgulho alemão após os resultados da segunda guerra mundial (HEINRICH, 2003; SIEMES, 2003). b) Assim como o resgate do “orgulho alemão”, há um impacto da vitória brasileira de 1958, ao se sagrar Campeã Mundial de Futebol, apagando o vexame de 1950, ao perder o torneio, em casa, para o Uruguai, como uma vitória do sentimento latino- americano, e mais precisamente brasileiro - cunhado como “complexo de vira-lata” por Nelson Rodrigues - sobre o europeu. Após aquela vitória, o brasileiro não se sentia mais um cidadão de terceiro mundo diante das demais potências mundiais, tanto no esporte como na política. (RODRIGUES, 1958) c) Com uma relação de globalização do esporte, cria-se o intuito de se obter

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interdependência em um sistema internacional tanto entre as relações políticas com em relação às questões comerciais entre os países, através de transações internacionais comerciais, impactando diretamente o modo de como se implica financeiramente a criação de partidas globais entre seleções (amistosos recentes como Argentina e Israel, tanto de cunho político e comercial no pré-Copa 2018 e depois abandoando por pressões políticas da Palestina) e os próprios megaeventos esportivos, como a Copa do Mundo através de stakeholders interessados em resultados financeiros com os jogos em questão, e que ao mesmo tempo, possuam uma governança transparente exercida pela FIFA. d) Uma ótima ferramenta para a política governamental, como forma de sustentar um regime econômico e político de maneira quase autoritária, como visto na Copa de 1934, com o fascismo de Mussolini, e nas Olimpíadas de 1936, sob a ótica do nazismo de Hitler (KRÜGER, 1998; RIPPON, 2006) ou como o Ministro das Relações Exteriores britânicas, Boris Johnson afirmou sobre a recente forma de propaganda do governo russo para o Mundial de 2018 (BBC, 2018). Além disso, os países se aproveitam de eventos esportivos dessa magnitude para assegurar o sucesso na manutenção de governantes e políticas de governo, considerando que a sociedade ainda está “entorpecida” pelo evento. e) O Brasil também utilizou esse cenário com a vitória da Seleção de 1970, contextualizada como a melhor de todos os tempos, para apoiar a força da ditadura presente no país, como uma forma de “tentar explicar” a importância de tal forma de governo para o sucesso internacional do Brasil, transmutando do cenário esportivo para o cenário político-econômico, tentando estabelecer uma similaridade entre ambos com a ditadura militar como base de sucesso para tais meios, que ficariam intrínsecos na forma de governo da Confederação Brasileira de Futebol – CBF por décadas (FARIAS; SOARES, 2016). f) A relevância econômica que as organizações privadas internacionais detêm dentro da administração do esporte é fator relevante de estudo dentro das organizações internacionais e transnacionais, como pode ser observado nas diversas formas de merchandising e patrocínio de grandes empresas para grandes torneios do futebol, assim como no fornecimento de material esportivo para eles (SUPPO, 2012). O futebol aparece dentro do segmento esportivo como a maior movimentação cultural, social, econômica, nacionalista e de um cunho geopolítico entre todos os esportes, levando a uma maior gama de pesquisas devido ao que traz de importante nos segmentos elencados

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acima, principalmente porque o futebol vem se misturando, ao longo de sua criação, com questões do uso do nacionalismo, da política como propaganda de governo, das transações econômicas envolvendo os jogadores e os maiores eventos de mídia de toda a economia global. Hobsbawn (2007) cita a importância do futebol como uma expressão de identidade nacional e como esse esporte tão popular transformou a mídia e os meios de comunicação em um complexo industrial e capitalista de categoria e tamanho global, principalmente para atividades de negócio. O mesmo autor (IDEM) também identifica como a paixão que o futebol provoca na população tem o poder de ser usado como forma de nacionalismo na busca da soberania de um país ou para reforçar a identidade cultural e social de um poder governamental já estabelecido nacionalmente ou buscando afirmação quando visto negativamente pela maioria de sua população.

Dessa dicotomia entre, por um lado, o “nacional”, último refúgio das paixões do mundo antigo, e, por outro o “transnacional”, trampolim do ultra liberalismo do mundo novo, resulta, para os amantes do futebol, assim como para os meios que gravitam em torno desse esporte, uma verdadeira esquizofrenia extremamente complexa [...] que ilustra perfeitamente o mundo ambivalente no qual todos vivemos. (HOBSBAWN, 2007, p. 44).

E, de tal modo, o futebol tem sido usado, ao longo dos últimos dois séculos, como uma “ponte” entre a geopolítica global e suas movimentações, apoiando-se no nacionalismo que tal prática esportiva demonstra para o cerne social. Se o antigo treinador do time italiano A.C. Milan, Arrigo Sacchi, disse, em 1994, durante o mundial nos EUA, que “O futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes”, alguns fatos destacados a seguir mostram o tamanho da importância que o esporte tem na geopolítica global e nas questões econômico-financeiras. E, com isso em mente, demonstra-se como uma organização como a FIFA, que rege o futebol, tem atuado diante dessa situação buscando tanto os impactos financeiro e midiático quanto as atuações que gerem questões de soberania e governança internacional, a serem descritas a seguir. Primeiramente, pode-se ver, ao longo dos anos, o impacto do nacionalismo, descrito por Hobsbawn (2007) em regiões autônomas da Espanha que buscam uma identidade para o povo não considerado espanhol após a guerra civil, como pode ser observado abaixo: a) A criação da equipe do Barcelona como um ícone da Catalunha, mais amado pelos próprios catalães do que a própria Seleção Espanhola, e a possibilidade, já discutida

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com a FIFA, da Seleção da Catalunha poder fazer um jogo amistoso durante o ano vigente, como uma forma de demonstração de nacionalismo da região (AGOSTINO, 2002)35. b) Esse caso também se aplica à Seleção Basca, mas vai além da questão de clubes, uma vez que o Athletic Bilbao pode jogar apenas com jogadores nascidos no País Basco ou que sejam de origem basca, não importando se o país teria o poderio econômico e esportivo para enfrentar outras grandes equipes tanto em competições nacionais como em competições europeias (THE GUARDIAN, 2016). c) Houve também uma das principais ações nacionalistas relacionadas à guerra civil. A Iugoslávia, que se fragmentou em 1992, viu o seu jogador croata Zvonimir Boban se envolver em uma “batalha campal” com policiais sérvios para proteger torcedores croatas, o que o levou à suspensão da equipe iugoslava em 1990, a qual os croatas viriam a retaliar em um amistoso em Zagreb, contra a Holanda, ao torcerem contra o “próprio” país, apoiando aquela equipe, dada a semelhança da bandeira holandesa com a de sua verdadeira nação, a Croácia, em uma guerra que eclodiria meses depois (GAULT, 2015). Há também grandes questões sociopolíticas que o futebol gera em diversas situações, por exemplo: a) Questões envolvendo a propaganda de um evento esportivo, como a Copa do Mundo, para proveito da “força” do governo interno, como ocorreu primeiramente com o fascismo de Mussolini na Copa de 1934, na Itália, onde o próprio time serviu como instrumento para espalhar a força e a soberania do povo italiano, a ponto de se contarem histórias como a de que o time Tcheco teria temido pela vida na final contra a Itália (MARTIN, 2004)36. Outro caso diz respeito à Copa de 1978, na Argentina, durante a ditadura do General Videla. Até hoje levantam-se questionamentos sobre o jogo entre Argentina e Peru, que teria sido “entregue” para que a Argentina chegasse à final e vencesse o torneio. (GONÇALVES, 2014). b) Destaca-se o poder do futebol em questões políticas de guerra, como a famosa interferência de Pelé e do Santos, que pararam a guerra civil em Biafra, na Nigéria

35 Também disponível em: https://www.politico.eu/article/fc-barcelona-catalonia-independence-upheaval/ http://fcf.cat/seleccio-absoluta https://www.theversed.com/44176/catalonia-national-team-fabregas-barcelona/#.k1521k1167o5661v2. https://blogdorafaelreis.blogosfera.uol.com.br/2017/10/06/catalunha-ja-tem-selecao-joga-uma-vez-por-ano-e- ate-derrotou-o-brasil/ 36 Também disponível em: http://www.uefa.com/worldcup/news/newsid=24834.html.

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(GLOBO ESPORTE, 2013). c) Questões de propaganda política do governo soviético em todos os tipos de esporte, mas que também se apegou ao futebol, com o uso de práticas científicas e pregando o amadorismo a jogadores teoricamente profissionais para levar certa vantagem em vitórias em Olimpíadas e na Eurocopa de 196037. d) O recente caso da Síria e sua campanha nas Eliminatórias da Copa de 201838, nas quais chegaram ao playoff final da Ásia, levando torcedores a se juntarem em meio à guerra e Bashar al-assad a se “apoiar” na equipe nacional também como uma forma de propaganda para o seu próprio governo, que enfrentava os rebeldes em Ghouta. e) Por fim, a recente especulação de um boicote da Seleção da Inglaterra à Copa de 2018, na Rússia, devido ao atentado contra antigos espiões russos pelo próprio país do leste europeu em Salisbury39, Inglaterra. O que possivelmente traria um boicote da Federação Inglesa à Rússia, sede do Mundial, que vê o torneio como uma possibilidade da própria exposição do governo Vladimir Putin no cenário global.

4.2 O FUTEBOL COMO UM SETOR ATUANTE NA ECONOMIA GLOBAL

O impacto econômico se dá principalmente no início da década de 1980-1990 com a inserção do marketing televisivo e do merchandising nas principais ligas europeias. Com elas, as principais marcas de produtos começam a aproveitar o ápice financeiro que a modalidade começa a trazer a esses países para proporcionar o crescimento econômico-financeiro de suas empresas (JEANRENAUD; KÉSENNE, 2006). Um esporte que gera emoção e é praticado por mais de 210 milhões de pessoas apresenta um nicho de mercado fundamental para a economia gerar uma receita financeira positiva, aproveitando-se, principalmente, dos torcedores e amantes deste esporte dispostos a investir em marcas, produtos, camisas e ingressos provenientes do que o setor pode trazer de benéfico economicamente (STEWART, 2007). Além do marketing e da exposição midiática, o mercado traz um incremento alto dos

37 Disponível em 38 UOL Esporte. Síria nas Eliminatórias. Disponível em 39 SKY Sports. UK Ministers and Royal Family memers will boycott Wolrd Cup. Theresa May confirms. Disponível em

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valores monetários para as transações e os salários de jogadores, algo que não era visto até o futebol começar a ser vendido como um produto para todas as classes de renda, através da exposição nas televisões e remodelação dos estádios (SZYMANSKI, 2010). Não ficando restrito somente a essa situação anterior, desde a entrada da visão econômica, principalmente na Inglaterra, com a implementação da e a mídia televisiva exportada para todos os países mundo, também com o Campeonato Italiano, através da venda de cotas televisivas, começa-se a gerar receitas para as principais mídias dos países que transmitem a competição, devido a altos índices de audiência que impactam diretamente as receitas dos clubes (SZYMANSKI, 2010). O impacto financeiro-econômico também vai além de apenas merchandising, mídia e televisão, todos têm uma ação visível nos valores transacionais dos jogadores e os salários pagos aos mesmos para se exibirem como garotos propagandas de produtos associados às suas marcas. Essa questão fica mais clara na movimentação das janelas de transferências40, como a de inverno de 2018, na qual as cinco maiores ligas do futebol internacional – Espanha, Alemanha, Inglaterra, Itália e França – tiveram uma movimentação de US$ 979 milhões, o que representa um aumento de 70,6% no período, com um total de 530 transferências durante esse mês de janeiro, e 3.317 jogadores chegando a um valor de US$ 1,28 bilhão (FIFA, 2017). Contudo o cenário econômico não fica mensurado apenas pelas transações de jogadores e pelos resultados econômicos das equipes, ele é um fator de acréscimo na receita dos principais times e das cinco principais ligas do mundo, assim como na participação televisiva e de venda de produtos dentro do mercado, conforme observado na figura 8. Dessa forma, o futebol passa a ser visto como uma importante ferramenta econômica global.

40 Período onde os clubes de futebol podem fazer transferências de jogadores entre si. Há duas janelas, a de verão (ambas mensurações com base na Europa), que dura três meses, de junho a agosto; e a de inverno, que dura um mês (janeiro).

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Figura 8 – Evolução das receitas das 5 maiores ligas europeias de 2006 a 2018.

16 15,0 14,3 14 13,4

12,1 12 11,3

9,8 10 9,3 8,4 8,6 7,9 8 7,7 7,2

6

4

2

0 2006 / 2007 2007 / 2008 2008 / 2009 2009 / 2010 2010 / 2011 2011 / 2012 2012 / 2013 2013 / 2014 2014 / 2015 2015 / 2016 2016 / 2017 2017 / 2018 Fonte: Statista (2018). Disponível em:

Só em 2017, segundo o estudo da Deloitte Football Money League, as receitas, tanto televisivas quanto de merchandising ou venda de ingressos se concentram também nas cinco ligas europeias, com o acréscimo de um time russo e um time português, gerando cerca de US$ 9 bilhões, com o Manchester United da Inglaterra tendo uma receita de US$ 676,3 bilhões no período, seguido por Real Madrid, da Espanha; Barcelona, da Espanha; Bayern de Munique, da Alemanha e Manchester City, da Inglaterra; com US$ 674, US$ 648, US$ 588, US$ 528 bilhões respectivamente. As grandes competições também lucram com os direitos televisivos, como pode ser notado na figura 8 que demonstra os ganhos obtidos pelas cinco principais ligas globais. O mesmo ocorre com a participação de patrocinadores em grandes competições supervisionadas pela FIFA, como a UEFA Champions League, a Eurocopa ou a Copa do Mundo, que respectivamente tiveram receitas aumentadas por seus representantes, gerando valores de US$ 3,5 bilhões em relação ao ano anterior, devido ao aumento de patrocínio da Heineken para as duas competições europeias e a entrada da Gazprom para o Mundial. Foram US$ 2,13 bilhões, um aumento de 34% de 2012 para 2016, o que significa US$ 1,6 bilhão de aumento de 2010 a 2014.

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Figura 9 – Fees das redes televisivas para as cinco principais ligas Europeias em 2016/2017. EUR Milhões US$ Milhões Reino Unido 359 318 Itália 263 233 Espanha 192 170 França 173 153 Alemanha 148 131 Fonte: Elaborada pelo autor com base em dados da Statista (2018). Nota: US$ Dólares - média de 2017.

No Brasil, a cota televisiva chega a mais de R$ 1,3 bilhão ou US$ 558 milhões nas chamadas “cotas fixas” para os grandes clubes do país, principalmente para serem televisionados pela Rede Globo. Dividindo tais equipes em tiers, cada um recebe um valor maior de cotas televisivas. O mercado do futebol também impacta a geração de emprego, com mais de 13 mil empregos gerados dentro do Brasil, segundo dados da FGV, tendo assim um forte impacto no PIB. No Brasil, a FGV indica que o futebol, em 2017, foi responsável por 1,1% do PIB Brasileiro, o mesmo que gerou toda a extração mineral do país em 2016, segundo as contas trimestrais do PIB pelo IBGE. Em Portugal, o futebol representou, em 2017, 0,25% do PIB - cerca de 456 milhões de Euros (ou US$ 515 milhões) – aproximando-se de setores como o de educação (0,47%), imobiliário (0,88%) e saúde (1,69%), segundo a PORDATA, site oficial dos dados estatísticos portugueses. O impacto econômico também pode ser sentido no setor têxtil através do patrocínio esportivo para os grandes clubes e seleções, em uma via de duas mãos. Por exemplo, a Nike tem o Brasil como um dos seus principais fornecedores esportivos, com um contrato de US$ 12 milhões ao ano.41 O futebol, portanto, tem uma movimentação econômico-financeira relativamente alta, impactando diversos setores de serviços da economia, como o publicitário, o têxtil, os de direitos televisivos, vendas de ingressos e transferências internacionais, o que impacta diretamente o PIB e até a balança comercial de diversos países e empresas.

41 UOL Esporte. CBF renova contrato com a Nike até 2018. Disponível em

50

4.3 OS RESULTADOS ECONÔMICOS DA ENTRADA DA MÍDIA GLOBALIZADA NA COPA DO MUNDO NAS RECEITAS E NOS LUCROS DA ENTIDADE

Com a prometida expansão do torneio para 24 vagas na Espanha, em 1982, como uma plataforma política de João Havelange para ser eleito presidente da FIFA, que com isso geraria mais vagas no torneio para seus eleitores da África e da Ásia (SUDGEN; TOMLINSON, 1997), a FIFA começou a perceber a competição com foco nos negócios de maneira a transformar seu principal torneio como forma de auferir lucros e receitas nunca antes conseguidos no torneio com 16 equipes. O plano de negócios começou a ser posto em prática logo na segunda competição com 24 equipes, no México, em 1986. A FIFA, logo após a desistência da Colômbia de sediar o torneio devido ao narcotráfico instituído no país42, na votação para quem sediaria o torneio – antes mesmo da vitória mexicana por hours concour - teve como principal ideia de país-sede os EUA, em virtude da então recente ida de Pelé e Beckenbauer para a Liga Americana, quando a expansão do futebol passava a dar frutos e a mecânica de negócios de grandes torneios no país davam ainda mais força para que a FIFA escolhesse os EUA como país-sede No entanto, temendo a possibilidade de baixo público devido ao fato de, no período, o futebol ser pouco disseminado na cultura daquele país, o México, que havia sediado com sucesso a Copa de 1970 foi escolhido como o local para o certame. Os lucros e as receitas atingiram o esperado, muito superior ao que havia sido a maior receita da história da FIFA: 1966 na Inglaterra, quando arrecadou 2 milhões de Libras Esterlinas ou US$ 2,8 milhões43. A FIFA buscava mais. No final da década de 1980, o campeonato italiano de futebol era o mais conhecido e mais atrativo dos campeonatos nacionais. Vários dos melhores jogadores do mundo atuaram por clubes italianos, como os holandeses Ruud Gullit e Marco van Basten a um recorde de 10 milhões de Liras, cerca de 5 milhões de Euros para os padrões atuais. A FIFA então levou a Copa do Mundo para a Itália para que seu plano de negócios de expansão não apenas global, mas de receitas da entidade para um torneio de proporções monumentais fosse atingido. Os gastos com o Mundial não foram tão altos - cerca de 300 milhões de euros (corrigidos pela Lira de 1990 para o Euro de 2018) - se comparados ao que a Série A recebia de direitos de transmissão na época: 525 milhões de euros (corrigidos pela

42 The New York Times. Colombia won’t host the World Cup. Disponível em 43 Calculado com o UK Inflation Calculator e Major Exchange Rates.

51

Lira de 1990 para o Euro de 2018) para a transmissão da RAI para o Mundial, que custou um bilhão de euros para o período44. No entanto, foi a partir de 1994, nos EUA – como antes proposto pela FIFA – que a expansão da Copa do Mundo como uma marca midiática se deu de maneira esperada, o mercado esportivo focado no marketing, na expansão principalmente de patrocínio de grandes marcas, como Adidas e Coca-Cola, levou à FIFA mais de US$ 1,4 bilhão de receitas, incluindo a divulgação do torneio em solo americano. O público, que era visto como uma possível barreira, encantou-se com o futebol – mesmo com baixíssimas receitas nas transmissões para televisão. No entanto, as receitas caíram em relação a 1990, na Itália, devido ao pouco apelo e conhecimento da maioria do público dos EUA pelo esporte, no período. Mesmo assim, até hoje, o maior público geral da história das copas se deu nos EUA, com mais de 69 mil espectadores em média, sendo que a final entre Brasil e Itália, disputada em Pasadena, Los Angeles, no famoso estádio de futebol americano, Rose Bowl, rendeu mais de 3,6 milhões de espectadores pela televisão, público maior do que o do Superbowl45 no mesmo ano, além de render US$ 6,2 milhões para Los Angeles - US$ 440 milhões a mais do que a final do futebol norte-americano, o esporte número um no país.46

44 Dados da RAI e cálculo com a Major Exchange Rates. 45 A final do futebol Americano, principal evento esportivo dos EUA. 46 De acordo com a World Finance de 2018, dados de 1994.

52

A figura 10 mostra a evolução dos ganhos com as Copas do Mundo de 1986 a 2018.

Figura 10 – Evolução dos lucros das Copas do Mundo de 1986 a 2018 –US$ Bilhões.

4

3,5

3

2,5

2

1,5

1

0,5

0 México 1986 Itália 1990 EUA 1994 França 1998 Coreia/Japão Alemanha África do Sul Brasil 2014 Rússia 2018 2002 2006 2010 Fonte: Elaborada pelo autor com base em dados da FIFA, The Global Economic of Sports e World Finance (2018).

A FIFA então começa a ver a Copa do Mundo como algo mais que sua principal competição, mas como uma ferramenta para expansão financeira e geopolítica da entidade. O número de países candidatos a sediar e participar do torneio cresce cada vez mais. O market-share das receitas da entidade cresce a mais de 90% no quadriênio antes de cada torneio (figura 11) e a valorização da marca pode ser percebida ao verificar o quanto valorizou o troféu da Copa do Mundo. Se, em 1971, a taça feita de ouro maciço por Silvio Gazzaniga para o torneio na Alemanha Ocidental, em 1974, equivalia a US$ 50 mil, hoje a valiosa taça tem expectativa de valor de mais de US$ 10 milhões.47

47 The Cnversation. Hard evidence in what is the World Cup worth. Disponível em

53

Figura 11 - Participação (%) das receitas e custos da Copa do Mundo no quadriênio da FIFA - base 2014.

Receitas 5% 5%

Copa do Mundo Ações Financeiras Outros eventos

90%

Custos

16%

2% Copa do Mundo 4% Desenvolvimento Ações Financeiras 6% 52% Governança do Futebol Imagem e direitos Outras despesas

20%

Fonte: Balanços da FIFA (2014).

Com uma nova expansão feita por João Havelange, agora com o foco em passar a presidência da FIFA para Joseph Blatter, e com isso garantir um aumento significativo de vagas, novamente para Ásia e África (GLANVILLE, 2014), a Copa na França, com 32 seleções se torna o primeiro fracasso financeiro da FIFA48. Os altos custos – observados na

48 Dados da World Finance. Disponível em: .

54

figura 12 - levados em conta principalmente pelo próprio governo Francês ao construir o Stade de France, em Saint-Denis, revelam-se como uma medida a ser discutida e modificada em mundiais futuros, com a iniciativa privada participando da construção dos estádios, ou com parcerias público-privadas - PPP.

Figura 12 - Evolução dos custos das Copas do Mundo de 1994 a 2018 – US$ Bilhões.

14

12

10

8

6

4

2

0 EUA 1994 França 1998 Coreia/Japão Alemanha 2006 África do Sul Brasil 2014 Rússia 2018 2002 2010 Fonte: Elaborada pelo autor com base em dados da FIFA, Nordea Markets e World Finance (2018). Nota: expectativa da FIFA para 2018.

Novamente há uma queda nas receitas de 1998 em relação ao Mundial de 1990, na Itália, e um gap grande em relação ao que, em 2002, a Coreia e o Japão alcançariam para a FIFA. O resultado negativo se dá pela “fuga” de turistas devido ao medo dos hooligans49 ingleses, de uma provável superlotação de turistas e pelo fato de os próprios Franceses não entenderem que sua seleção fosse capaz de vencer o torneio, já que havia sequer se classificado para as Copas de 1990 e 1994 - o que se tornaria irônico, já que a França venceu o torneio (DAUNCEY; HARE, 1998). Além disso, muitos turistas avessos ao futebol deixaram de viajar para a França no período da Copa, fazendo com que a expectativa inicial de 50 mil turistas a mais do que não

49 Torcedores arruaceiros que vão aos torneios internacionais apenas para o confronto físico com outras torcidas, tendo nos ingleses a sua maior representatividade.

55

fosse atingida50. Com um mercado crescente como o da Coreia do Sul, e a força do mercado japonês, que investira bastante no futebol na década de 1990, a FIFA levou ao mundial da Ásia o sucesso que conseguira na Copa de 1994, ao estabelecer parcerias com empresas de propaganda, apostar num marketing bem forte e em venda de ingressos principalmente pela internet, aproveitando a novidade para o mercado do futebol tanto na venda de ingressos quanto para os patrocínios e as campanhas de marketing que começaram a ser divulgadas também pela internet. Aliada a isso, a construção de 20 novos estádios através da iniciativa privada elevaram a receita da FIFA novamente para a marca de US$ 1,9 bilhão, recuperando do ganho de apenas US$ 114 milhões em receitas quatro anos antes. Esse crescimento de 310% foi seguido por um sucesso ainda maior na Copa da Alemanha, que atraiu 15 milhões de turistas a mais durante o torneio, e a venda de produtos de marketing excedeu os US$ 3 bilhões culminando, na final, com o maior número de espectadores globais - 715 milhões. O marketing e o plano de negócios da FIFA para a expansão de seu principal produto estavam consolidados. Mas havia a expectativa de expansão global da FIFA visando também o que as Olimpíadas vinham fazendo há anos: deixar legados às cidades-sede. Para isso, Joseph Blatter recomendava um rodízio entre continentes para a escolha da sede dos mundiais (GLANVILLE, 2014). Países em desenvolvimento que começavam a ter economias estabelecidas e fortes no início dos anos 2000 eram vistos como os mercados mais fortes para tal expansão. Com isso, o Mundial, através da votação do Conselho, foi levado para três BRICS51, em sequência: África do Sul, Brasil e Rússia. Com os três torneios, as receitas - focadas principalmente em televisão, marketing e patrocinadores - e lucros - contando despesas, custos, ingressos e pagamento para participação das equipes - da FIFA chegam respectivamente aos seus maiores índices: US$ 1,4; US$ 4,8 e expectativa de US$ 5,5; com lucros de US$ 2,2, US$ 2,3 e expectativa de US$ 3,8 – tudo em bilhões de dólares –, e representam um incremento quadrienal de crescimento médio entre 1986 e 2018 de incríveis 67% em receitas e 61% em lucros. O torneio também traz uma grande movimentação financeira para a indústria têxtil, através das marcas patrocinadoras das seleções participantes que buscam a visualização de

50 De acordo com a World Finance disponibilizada em 2018, com dados de 1999/2000. 51 Países que no início da década de 2000 apareciam como promissores na economia Mundial foram cunhados com esse nome pelo economista Jim O’Neill em 2001, representando os países Brasil, Rússia, Índia e China, com a África do Sul sendo adicionada posteriormente.

56

seus produtos durante a transmissão das partidas. Segundo o site de relações com investidores da marca esportiva, a Nike também lucra com as vendas de camisas principalmente durante o Mundial, como foi o caso do Brasil, em 2014, com crescimento de 6%, com aumento para US$ 685 milhões em relação a 2013. Isso tem levado as fornecedoras esportivas a buscarem um maior número de seleções para patrocinarem durante o Mundial. Este é um mercado que movimenta cerca de US$ 11 bilhões anuais, sendo que, nas últimas cinco Copas do Mundo (2002-2018), das 160 equipes participantes, 119 vestiam três marcas: Nike, Adidas e Puma, concentrando, portanto, 74,4% do mercado esportivo e demonstrando a importância do incremento financeiro de cada empresa, durante o torneio, com a venda de camisas para o público.

Figura 13 – Market-share das empresas esportivas no Mundial de 2014 no Brasil.

1, 3% 1, 3% 1, 3% 2, 6% 10, 32% Nike Adidas Puma Joma 8, 25% Marathon Uhlsport Burrda

9, 28%

Fonte: Elaborada pelo autor.

Um bom exemplo é a recente situação da Puma, uma das três grandes marcas presentes na competição. O recente caso da eliminação da Itália, principal representante da empresa, fez a gigante alemã literalmente buscar países em final de contrato de patrocínio para ter uma maior representatividade durante a competição na Rússia. A figura 14 demonstra que a Puma, patrocinadora de oito seleções em 2014, tinha apenas duas após as eliminatórias para a Copa de 2018 – e fica pior ao comparar esses dados com os do Mundial de 2006, quando a Puma patrocinou 11 equipes. Para aumentar seu market share em 2018, a empresa fechou contratos com Sérvia e Senegal.

57

Figura 14 – Market-share das empresas esportivas no Mundial de 2018 na Rússia.

1, 3% 1, 3% 1, 3% 1, 3% Nike 2, 6% 10, 31% Adidas Puma New Balance 4, 13% Uhlsport Umbro Hummel Errea

12, 38%

Fonte: Elaborada pelo autor.

É importante também identificar o incremento positivo em três fatores sociais tanto da África do Sul quanto do Brasil e na expectativa para a Rússia: i) o turismo; ii) a infraestrutura; e iii) o incremento marginal no PIB do país. Se por um lado, na Copa do Mundo da França, os resultados foram menores que os esperados, por outro lado, a Copa do Mundo realizada na Coreia e no Japão apresentou resultados positivos. Tal fato se repetiu nas copas seguintes, disputadas na Alemanha, África do Sul e no Brasil. A expectativa permaneceu positiva para a Copa do Mundo da Rússia, ainda que existissem complicações com a política de vistos. Desconsiderando todas as questões existentes e comprovadas envolvendo licitações de estádios com obras superfaturadas, corrupção latente, projetos de infraestrutura prometidos e inacabados, assim como compra de votos para sediar a Copa do Mundo nesses três últimos países - que não é o foco da dissertação -, observa-se de forma analítica apenas como essas três questões impactaram diretamente a economia da África do Sul, do Brasil e tendem a impactar também a da Rússia. A figura 15 mostra a evolução das receitas das Copas do Mundo entre 1986 e 2014 e traz dados relativos às expectativas de receitas em relação aos mundiais de 2018, 2022 e 2026.

58

Figura 15 – Evolução das receitas das Copas do Mundo de 1986 a 2026 –US$ Bilhões.

7

6

5

4

3

2

1

0 México 1986 Itália 1990 EUA 1994 França 1998 Coreia/Japão Alemanha África do Sul Brasil 2014 Rússia 2018 Qatar 2022 2026 2002 2006 2010 Fonte: Elaborada pelo autor com base em dados da FIFA e World Finance (2018). Nota: Expectativa e previsão da FIFA para 2018, 2022 e 2026.

4.3.1 Copa do mundo de 2010 - África do Sul

Uma primeira análise se dá sobre o impacto na África do Sul, em 2010. A expectativa, segundo o ministro das finanças do país, Nhlanhla Musa Nene, em relação à primeira copa no continente Africano se dava como um catalisador para o investimento e a infraestrutura em todo o continente, com criação de empregos e desenvolvimento econômico (ARAGAO, 2015). Segundo o Departamento de Esportes e Lazer do país, houve um gasto de US$ 3,12 bilhões em transportes, telecomunicações e estadia, sendo importante para o país aprender a lidar com os megaprojetos e como eles podem ser desenvolvidos no país (OCDE; Obserber & Nene, 2013). No âmbito econômico, houve um impacto de US$ 509 milhões no PIB real da África do Sul, em 2010, incluindo infraestrutura e principalmente geração de emprego – com mais de 130 mil empregos sendo criados, principalmente com o turismo. (OCDE, Obserber & Nene, 2013). O país também teve um bom investimento em expansão da infraestrutura das cidades,

59

como mobilidade pública e implementação de telefonia e internet, realizando uma estimativa de quase US$ 2 bilhões, segundo o Departamento de Esporte e Lazer do país. O incremento no turismo também foi bem impactante, como se pode ver na figura 16. Mais de 306 milhões de entrada de turistas, com gastos de mais de US$ 444 milhões, 24% a mais do que era esperado durante o período na África do Sul, país – retirando o Norte da África – que mais atrai turistas segundo a Organização Mundial do Turismo na África (ARAGAO, 2015).

Figura 16 – Evolução da entrada de turistas de dois anos anteriores ao Mundial até dois anos após o Mundial – Var. (%) ano a ano.

30%

20%

10%

EUA 1994

França 1998

Coreia 2002 0% Japão 2002

Alemanha 2006

África do Sul 2010

Brasil 2014 -10%

-20%

-30% t-2 t-1 Copa t+1 t+2 Fonte: Elaborada pelo autor com base em dados da Nordea Markets e US Tourism (2018).

4.3.2 Copa do mundo de 2014 - Brasil

O Brasil teve gastos de mais de US$ 15 bilhões no período (FIFA, 2014), um dos maiores entre os países que sediaram o mundial, principalmente para a construção dos estádios (ARAGAO, 2015), tendo como estimativa impactos na infraestrutura de mobilidade urbana e principalmente de aeroportos de US$ 2,34 bilhões (BRANDÃO, 2014).

60

Um estudo da FIPE também indicou que a Copa do Mundo injetou mais de US$ 13 bilhões na economia brasileira, algo que é corroborado pelo Ministério do Turismo, estando dentro da expectativa inicial de R$ 30 bilhões ou dos US$ 13 bilhões que foram identificados. Isso gerou, marginalmente, um incremento na economia real brasileira de R$ 6,7 bilhões ou cerca de US$ 3 bilhões, mais ou menos 0,7% do PIB brasileiro no período. (MTUR, 2014).

Figura 17 – Evolução do PIB de dois anos anteriores ao Mundial até dois anos após o Mundial – Var. (%) ano a ano.

10

8

6

EUA 1994

4 França 1998

Coreia 2002

Japão 2002 2 Alemanha 2006

África do Sul 2010

Brasil 2014 0 Rússia 2018

Qatar 2022

-2

-4

-6 t-2 t-1 Copa t+1 t+2 Fonte: Elaborada pelo autor com base em dados do IMF – Agosto de 2018.

O impacto do turismo foi ainda mais benéfico ao Brasil, com a entrada de mais de 3,7 milhões de visitantes durante o Mundial, tendo São Paulo e Rio de Janeiro ficado com mais de 60% do mercado, principalmente pelos visitantes das seleções sul-americanas e dos EUA, como o incremento de 200 mil empregos em um evento que comercialmente foi um sucesso. (MTUR, 2014). Marcas brasileiras como a Seara e principalmente as brands de cervejas da Ambev no Brasil e suas outras marcas mundiais – como a Budweiser para jogos dos EUA – tiveram

61

exposições significativas com mais de 3,6 bilhões de espectadores e um cenário de lucro trimestral no período pós-copa bem significativo52. Com essa divulgação global, empresas como a Oi se interessaram em continuar a apresentar a marca como parceira no Mundial da Rússia em 201853. O Brasil, no entanto, é o único país dentre os analisados que teve queda significativa no PIB durante os dois anos após o Mundial, como visto no gráfico 17, mas nada correlacionado ao evento, e sim, a uma sucessão de questões envolvendo política e corrupção – essa envolvendo também o evento – que culminou em um cenário geopolítico e econômico de queda e recessão no país. Isso se dá principalmente devido aos resultados econômicos na África do Sul e, em maior extensão no Brasil, por se tratarem de países do BRIC, em crescimento, ou seja, mais propensos a investimentos que atuem de forma significativa em suas produções nacionais, situação que não ocorreu tão drasticamente em economias mais consolidadas, como Japão e Coreia, Alemanha e EUA, que sequer sofreram algum impacto.

4.3.3 Copa do Mundo de 2018 – Rússia – Previsão

Por fim, há uma análise da expectativa da Rússia, que contou com o maior custo na produção de sediar o evento, principalmente com 30% do dinheiro designado pelo governo (US$ 13 bilhões) impactado em infraestrutura de estádios (DAVYDOV; EVDOKIMOVA, 2018). Mas a expectativa foi extremamente positiva: foi esperado que 500 mil turistas viajem para a Rússia (DAVYDOV; EVDOKIMOVA, 2018), vindo principalmente de países que retornam ao mundial depois de anos, como Egito e Peru, assim como de mercados crescentes em turistas como EUA, China e Índia (FIFA, 2018). As 11 cidades russas receberiam mais de US$ 13 bilhões também em investimentos, com a expectativa de crescimento do consumo interno durante o Mundial no incremento de entrada monetária, tanto de turistas quanto de espectadores russos, de US$ 2,5 a 4 bilhões, resultando em uma estimativa de crescimento do PIB em 0,3% para 2018 e um legado no turismo que se permeie por 2 a 3 anos em um país, de certo modo, desconhecido e fechado como é a Rússia (DAVYDOV; EVDOKIMOVA, 2018). Com isso, a expectativa é de que os lucros e receitas desse megaevento esportivo da FIFA seja algo mais do que apenas um evento de futebol que cresce na medida em que a

52 http://www.infomoney.com.br/ambevsa/noticia/2889360/empresa-mais-valiosa-brasil-ambev-lucra-trimestre 53 Vide figura 6.

62

entidade investe na infraestrutura, na logística e no turismo de cada cidade, e tende a ficar ainda mais específico com o aumento de receitas e visibilidade no Qatar, em 2022, um país pequeno onde deverá ter um influxo do turismo gigante, um investimento em estádios a ser construídos em ouro e dentro do estreito do Golfo Pérsico, sendo o espectador capaz de comprar tickets para mais de um jogo no mesmo dia. Além disso, a FIFA espera receitas altíssimas com uma nova expansão, no Mundial de 202654, que será sediado nos três países da América do Norte (EUA-Canadá-México) e que deve render entre US$ 6,6 e 6,5 bilhões com infraestrutura (FIFA, 2018), exposição de marcas e uma relação econômica entre os países, refletida na movimentação e na geração de empregos e PIB, como também em questões geopolíticas, com nações como o Qatar mostrando ao mundo todas as diferenças da cultura muçulmana para um grande número de expectadores, expondo como a religião e os costumes podem ser diferentes e benéficos perto de um certo preconceito existente no Ocidente55.

4.4 A FIFA PELA VISÃO EMPRESARIAL NOS ÚLTIMOS 15 ANOS

Mesmo sem poder atuar diretamente como uma empresa em si, mas sim como uma organização sem fins lucrativos, a FIFA tem receitas constantes que indicam, dentro de um cenário empresarial, uma situação de maturidade visando investimento após declínio. (KOTLER; KELLER, 2006). Sua saúde financeira é constante e crescente, apoia-se no marketing da empresa, na boa gestão através de uma visão de governança internacional – como estudado no capítulo sobre ela – que age também como uma governança corporativa (BERK; DE MARZO, 2000). A FIFA tem também ações publicitárias e segmentação tanto de sua gestão, através do que já foi visto em seu organograma, como de produtos, com os diversos campeonatos que promove, algo importante para o ciclo de crescimento mesmo como organização visando o ciclo de vida da entidade (ADIZES, 2009). Dentro desse cenário de ciclo de vida, no período da entrada de João Havelange, essa visão empresarial foi vista como algo crucial para uma implementação e um crescimento da entidade, principalmente durante os anos 70 e 80 (SUDGEN; TOMLINSON, 1997; JENNINGS, 2015), quando a FIFA, como uma organização formada por associações, viu o

54 US Soccer. 2026 United bid. Disponível em 55 Harvard Politics. Case Qatar. Disponível em

63

crescimento de suas receitas da mesma forma que uma empresa internacional vê o seu crescimento dentro do ciclo de vida de uma empresa: cenários positivos que proporcionavam melhoria em seus produtos e receitas. Principalmente partindo desde a criação da FIFA, do início de sua fundação, passando pelo período de crescimento e expansão de membros e receitas financeiras durante o comando da dupla Havelange-Blatter. A maturidade se deu mais recentemente, quando os mundiais contribuíram fortemente para os resultados de receitas positivas da FIFA, chegando ao declínio no cenário em que houve o escândalo de corrupção. Mas, como se pode ver na figura 18, a FIFA tem as suas maiores receitas nos períodos em que organiza uma Copa do Mundo. As quedas de receitas ocorridas em 2015 e 2016 (anos entre copas) já seriam esperadas, mas foram maiores devido aos escândalos de corrupção. A expectativa é que para a Copa de 2018, as receitas sejam as maiores dos últimos anos, e a mudança no sistema de governança da entidade, ocorrida a partir de 2016, acentua essa expectativa positiva, algo que funciona do mesmo modo que a saúde financeira de uma empresa, que para resgatar o seu prestígio vê a troca de um presidente ou um investimento, principalmente de marketing, do seu produto principal, no caso da FIFA, a Copa do Mundo de 2018 (BERK; DE MARZO, 2000; KOTLER; KELLER, 2006).

Figura 18 – Evolução das receitas da FIFA nos últimos 15 anos – US$ Bilhões.

4,5 Copa do Mundo 4

3,5

3

2,5 Copa do Mundo

2

Eleição - Copa do Mundo 1,5 Presidente Denúncias 1 Copa do Mundo de corrupção.

0,5

0 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Fonte: Elaborada pelo autor com base em dados da FIFA e Statista (2018). Nota: Expectativa da FIFA para 2018.

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Desde o início da entidade como uma organização internacional, ela também tem agido com ações semelhantes às de uma empresa, passando principalmente pelos chamados ciclos de vida das organizações: início, crescimento, maturidade e declínio (ADIZES, 2009). A situação do biênio 2015/2016 poderia ser analisada como um período de declínio, e o próximo passo seria a falência. Como a FIFA não é juridicamente uma empresa, essa possibilidade estaria descartada, contudo, os sucessivos escândalos de corrupção geraram uma quebra de confiança nos stakeholders e uma crise de legitimidade junto aos seus membros. Para superar essa situação, foi necessário ocorrer a troca do sistema de governança da entidade e também do presidente. Mesmo não sendo, de fato, uma empresa com viés lucrativo, a FIFA busca resultados positivos para poder se manter e sustentar suas associações mais pobres com empréstimos para fundamentação do esporte nesses países e com a utilização dos lucros e receitas dentro da “Fundação FIFA”, que age como uma ONG com função de ajuda às questões esportivas e também humanitárias junto com a ONU, provendo o esporte e material para países pobres, principalmente na África e Sul/Sudeste da Ásia (FIFA, 2018). Ao alcançar, então, os resultados de declínio na situação “empresarial”, a FIFA se viu, nesse momento, com uma questão importante para alcançar um maior crescimento após o Mundial na Rússia. Assim como qualquer empresa que atinge sua maturidade econômica, ela busca um investimento para continuar os resultados positivos cada vez maiores. E, com isso, a entidade tem tido duas propostas para uma coparticipação em empresas de marketing esportivo, para que estas, e não a FIFA – algo inédito dentro da entidade, possam criar e promover dois campeonatos propostos: um mundial de clubes com 24 equipes e o chamado “Final 8” de uma “Nations League” global, tudo fundamentado em investimentos para a entidade em mais de US$ 25 bilhões, por 12 anos, em uma disputa entre um consórcio japonês, um chinês e um saudita.56 Como indicado e deixando explicitamente claro, a FIFA não é uma empresa, não deseja ser e não tem essa questão permitida devido ao estatuto e à lei jurídica da Suíça que a proíbe de ter e utilizar lucros, mas suas ações podem ser encaradas de maneira similar à de uma empresa de pequeno porte, tendo o seu market-value equivalendo hoje a uma expectativa de US$ 3,9 bilhões para 2018, o mesmo que a de uma “startup unicórnio” de tecnologia57,

56 The Guardian. Fifa chief to hold meeting over plan to create 24-team Club World Cup. Disponível em 57 Startups do setor de tecnologia com alto poder de crescimento financeiro.

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algo que pode ser visto como muito positivo financeiramente. Pode-se observar, portanto, que as principais receitas da FIFA nos últimos 15 anos vieram da prospecção midiática, de merchandising e propaganda que a Copa do Mundo trouxe para a entidade, aumentando significantemente suas receitas nos anos do torneio. Nessa situação de incremento financeiro, a sua receita passou de pouco mais de US$ 400 milhões de dólares para mais de US$ 4 bilhões - expectativa para o Mundial na Rússia -, em um CAGR58 de 14% entre 2003 e 2018, um alto índice dentro do mercado empresarial.

58 Do inglês Compound Annual Growth Rate, ou a taxa média de crescimento em um determinado período de tempo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi demonstrado a importância que o impacto econômico do futebol causa em escala global. Este esporte apresenta uma movimentação financeira anual alta, mas que encontra seu pico durante a Copa do Mundo, tanto para os países-sede como para a FIFA. Assim cumpriu- se o objetivo do trabalho de descrever e explicar o funcionamento e a abrangência desta entidade internacional tanto na sua atuação econômica como na sua importância social e geopolítica. Primeiramente, porque tendo como principal função a gerência e a promoção do futebol internacionalmente, a FIFA tem um papel relevante como ator das relações internacionais. Sua atuação apresenta repercussões econômicas e políticas importantes, ainda que em menor escala se comparada às principais organizações internacionais. A entidade mantém também uma série de ações sociais nos seus países-membros. A FIFA também possui uma organização muito bem estabelecida quanto ao seu estatuto, principalmente na filiação de novos membros, com uma diretriz legal de funcionamento apoiada juridicamente, detendo direitos e deveres de suas associações muito bem explicitadas, assim como uma situação hierárquica muito bem consolidada. Muitos desses países são palco das suas ações sociais. A sua importância pode ser demonstrada quando da realização do seu principal e mais lucrativo torneio: a Copa do Mundo. A Copa tem uma enorme repercussão internacional que contribui para confirmar sua relevância dentro da economia política internacional. O torneio movimenta, hoje em dia, mais de US$ 4 bilhões, com uma movimentação importante também em setores de merchandising, mídia – principalmente televisiva – e marketing esportivo. A entidade também apresenta índices econômicos interessantes com valores altos nas transferências de jogadores, aumento incremental em turismo, emprego e PIB durante seus torneios principalmente a Copa do Mundo, assim como contribui, dentro da produção de megaeventos, para melhorias infraestruturais dos países que sediam o torneio, trazendo cada vez mais novos países interessados nesse meio. Com essa mesma motivação e com as altas receitas econômicas que tais torneios trazem, diversas empresas têm-se oferecido para a expansão da Copa do Mundo - que ocorrerá em 2026 - para trazer maior visibilidade e propaganda aos novos países e para a expansão global da entidade. Alguns mercados econômicos como EUA, China, Índia e países do Oriente Médio, outrora indiferentes ao futebol, começaram a se interessar pela movimentação econômica

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trazida pelo esporte principalmente durante a realização da Copa do Mundo. O país-sede fica em evidência internacional durante o torneio, além de receber melhorias estruturais e investimentos externos diretos, entrada de novas empresas e marcas. Ademais, há a questão de afirmação ou reafirmação das questões nacionais dos países-sede. A FIFA tem um impacto não somente na grande movimentação econômica, mas também na transparência de seus negócios no âmbito das relações internacionais, como ocorreu no caso recente de corrupção em que a corte americana influiu com a prisão de dirigentes. A entidade também tem impacto de cunho geopolítico, tendo em vista que a FIFA, por não ter certa necessidade política nas questões de soberania, adota e filia facilmente novas associações representando países que não são reconhecidos por outras organizações internacionais e intergovernamentais. Tal fato pode servir de combustível para movimentos e demandas nacionalistas. Pode-se citar como exemplo o fato de a FIFA ter aceitado a filiação da Croácia ainda no ano de 1992 com a sua guerra de independência contra a Iugoslávia ainda ocorrendo. Portanto, demonstra-se a importância e relevância da FIFA no cenário internacional e suas repercussões nas questões econômicas e geopolíticas. Através da organização ou supervisão de suas competições, há um forte impacto econômico em diversos subsegmentos dentro do nicho de mercado esportivo. Da mesma forma, a entidade também traz uma representatividade importante como uma organização dentro do cenário internacional, mesmo que em menor escala que as demais organizações internacionais, pois além do impacto econômico, como discorrido, há também questões geopolíticas de afirmação de suas associações em questões de soberania e poder político dentro do esporte apresentadas pelo crescente interesse dos países em sediarem seu principal torneio, a Copa do Mundo, que registra receitas positivas e investimentos importantes para os países escolhidos, assim como os deixam em evidência por alguns anos no cenário global. Finalmente foram descritos exemplos de expressões nacionalistas que se originam da questão da filiação de novos países (através de suas confederações), o que indica uma vasta abrangência econômica e geopolítica de uma entidade cujo foco principal é “apenas” o futebol.

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