UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Comunicação Social

Jéssica Malta Couto

DAS ARQUIBANCADAS PARA A INTERNET: O fã-ativismo do torcedor são-paulino nas redes sociais

Belo Horizonte

2013

Jéssica Malta Couto

DAS ARQUIBANCADAS PARA A INTENET: O fã ativismo do torcedor são-paulino nas redes sociais

Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social – Publicidade da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para o título de Bacharel em Comunicação Social – Publicidade.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Geane Carvalho Alzamora

Co-orientadora: Prof.ª Mª. Natália Moura Pacheco Cortez

Belo Horizonte

2013

Jéssica Malta Couto

DAS ARQUIBANCADAS PARA A INTERNET: O fã ativismo do torcedor são-paulino nas redes sociais

Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social – Publicidade da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para o título de Bacharel em Comunicação Social – Publicidade.

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Prof.ª Dr.ª Geane Carvalho Alzamora (Orientadora)

______

Prof.ª Mª. Natália Moura Pacheco Cortez (Co-orientadora)

______

Professor Dr. Carlos Frederico Brito D‟Andrea

______

Professor Me. Tiago Barcelos Pereira Salgado

Belo Horizonte, 5 de dezembro de 2013

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por me iluminar e me dar força durante esse percurso.

Aos meus pais pelo apoio, amor e carinho.

Às minhas avós pela atenção, pelo amor e pelo exemplo que representam para mim.

Aos meus irmãos por estarem ao meu lado e serem tão importantes em minha vida.

À Shai pela paciência e pelo amor.

À Vitória pela ajuda e pela amizade.

À Binha por ser minha irmã de coração, ao Alisson por ser meu tio com jeito de irmão.

À Geane e a Natália pela paciência, pela fundamental ajuda, pelo incentivo e apoio.

E a todos de que de alguma forma se fizeram presentes durante este processo.

“Aqui é trabalho, Meu Filho!”

Muricy Ramalho.

Belo Horizonte

2013

RESUMO

No ano de 2013, o São Paulo Futebol Clube viveu um momento conturbado, tanto no âmbito político como no âmbito esportivo. O presente estudo tem como objetivo compreender em que medida a atividade comunicacional gerada pelos torcedores são-paulinos em sites de redes sociais se insere no contexto do fã ativismo e como o contexto sociopolítico do clube permeia essa atividade comunicacional. Para a consecução do objetivo proposto, são consideras as noções de Cultura de Convergência, Cultura Participativa, Inteligência Coletiva e fandom como operadores analíticos a fim de investigar como se desenvolveram as atividades dos torcedores são-paulinos nos sites Twitter, Facebook e Youtube.

Palavras-chave: fandom, fã ativismo, cultura de convergência, futebol, São Paulo

ABSTRACT

In 2013, the soccer team São Paulo went through a troubled time, both in the political sphere as in sports. This paper has the intent to understand how the communicational activity generated by the Sao Paulo‟s fans is related with the context of fan activism and how the sociopolitical context of the team permeates this communicational activity. To achieve the proposed objective, the concepts of Convergence Culture, Participatory Culture, Collective Intelligence and fandom were considered as analytical operators to investigate how the activity of the Sao Paulo‟s fans was developed.

Keywords: fandom, fan ativism, convergence culture, soccer, Sao Paulo

LISTA DE IMAGENS

Figura 1 – Notícia fictícia do site Olé Brasil ------23

Figura 2: Vídeo sátira da TV Olé Brasil ------24

Figura 3: Vídeo com lances do atacante , contratação do São Paulo ------25

Figura 4 – Livro Whisky com Bolachas, feito por um perfil falso da internet ------26

Figura 5 – Fanpage de humor futebolístico no Facebook ------27

Figura 6 – Fansite sobre o ------27

Figura 7 – Torcedores cruzeirenses pedem a volta de Alex ------28

Figura 8: Matéria escrita pelo Neto, comentarista da Band ------35

Figura 9 – Postagem na fanpage Movimento Fora Juvenal Juvêncio ------43

Figura 10 – Tag #ForaJuvenal entre os assuntos mais comentados no Twitter ------47

Figura 11 – Fanpage do Movimento Fora Juvenal Juvêncio ------48

Figura 12 – Vídeo com fatos e números sobre a gestão do clube ------49

Figura 13 – Evento criado para a organização do protesto conta a diretoria ------53

Figura 14: Imagem do painel interativo da Allianz Arena ------55

Figura 15 – Informações do criador do site Crise no São Paulo ------56

Figura 16: Tweet que indicava o que seria feito no Morumbi ------57

Gráfico 1 – Horário em que ocorreram os Trending Topics ------59

Gráfico 2 – Dias em que os Trending Topics foram alcançados ------60

Gráfico 3 – Temas que motivaram os Trending Topics ------61

Gráfico 4 – Frequência da tag #AquiÉTrabalhoMeuFilho ------63

Gráfico 5 – Nuvem de hashtags ------64

SUMÁRIO

1. Introdução ------08

2. A cultura fã no futebol ------11

2.1 A cultura dos fãs: convergência, participação e inteligência coletiva ------11

2.1.1 Cultura participativa ------16

2.1.2 Inteligência Coletiva ------18

2.2 Os fãs de futebol no ambiente digital ------20

2.2.1 Produções de Torcedores ------21

2.2.2 O Fã ativismo nas redes sociais ------27

3. São Paulo: das glórias passadas aos tempos difíceis ------30

3.1 Breve História do Clube ------30

3.2 O clube em 2013 ------34

4. O fandom são-paulino nas redes sociais ------39

4.1 O fandom são-paulino ------39

4.2 A inteligência coletiva no fandom são-paulino ------44

4.3 Redes sociais como plataformas de participação da torcida ------45

5. O fã ativismo são-paulino ------50

5.1 Aspectos Metodológicos ------50

5.2 A atividade comunicacional gerada ------52

5.3 O fandom em atividade: o que motivou a torcida? ------58

6. Conclusão ------65

Referências Bibliográficas ------68

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1. Introdução

No primeiro semestre de 2013, o São Paulo F.C.1 viveu um período conturbado, marcado pelo mau desempenho esportivo e consequentes críticas à administração do clube, além de um conflituoso ambiente político, impulsionado pela proximidade das eleições para a presidência do clube – marcadas para abril de 2014. Em meio a esse contexto, a torcida são- paulina discutiu e desenvolveu ações relacionadas ao clube, visíveis principalmente em sites de redes sociais, como Twitter, Facebook e Youtube.

Sendo assim, destaca-se como objetivo dessa pesquisa investigar em que medida a atividade comunicacional dos torcedores são-paulinos – definida pelos Trending Topics e conteúdos observados nos sites Facebook e Youtube – se insere no contexto de fã ativismo, e de que modo o contexto sociopolítico do clube permeou tal atividade comunicacional.

A pesquisa teve como foco a atividade da torcida no Twitter, mensurada e observada através dos Trending Topics relacionados ao São Paulo. O caráter de discussão, próprio do Twitter, e a facilidade de mensuração das discussões – por meio dos os Trending Topics, que se referem aos assuntos mais comentados nesse ambiente – foram os principais motivadores para a escolha desse site. Facebook e Youtube foram observados a partir das relações entre as discussões presentes no Twitter e suas conexões com os conteúdos criados nos sites Facebook e Youtube. A partir dessa relação, foi observado que as redes se complementavam, constituindo partes da mesma discussão, mas com conteúdos específicos de cada um dos sites.

Partindo da identificação do futebol como um esporte fortemente midiatizado e também do caráter ativo da torcida, os torcedores foram entendidos como fãs, baseando-se, na compreensão apresentada por Jenkins (2008). A relação entre os fãs e o futebol, tem como base a pesquisa desenvolvida por Hunt, Bristol e Barshaw (1999) que caracteriza os tipos de fãs de futebol, que permitiu categorizar os torcedores são-paulinos.

Atuando de forma coletiva, engajados e reunidos por valores em comum, os torcedores são-paulinos constituíam uma comunidade. Como fãs, a comunidade formada pelos torcedores foi analisada sob a perspectiva do fandom, termo que designa as comunidades de fãs presentes, principalmente, na internet (JENKINS, 2009).

Para investigar o desenvolvimento e a participação dessas comunidades na internet, foi importante não só descrever o contexto vivido pelo clube – por meio da busca de notícias e

1 Abreviação para São Paulo Futebol Clube. 9

reportagens em sites esportivos brasileiros e no site oficial do São Paulo – mas também, compreender a atividade comunicacional do fandom em questão por meio do contexto de participação e as especificidades da ação da torcida nos ambientes e em suas conexões – nesse sentido, a Cultura de Convergência (JENKINS, 2009) foi utilizada como conceito central da pesquisa.

Para Jenkins (2009) a convergência refere-se a um contexto caracterizado pelo fluxo de conteúdos em diversas plataformas de mídia, pela cooperação de múltiplos canais midiáticos e pelo comportamento do público, que passa a buscar formas de entretenimento em diversos lugares. É importante destacar que, como o próprio autor afirma, a convergência se concretiza através da participação ativa do público. É nesse contexto, portanto, que a atividade dos fãs se desenvolve, já que os mesmos não apenas se apropriam das tecnologias, mas configuram uma nova forma de ação em relação aos conteúdos midiáticos.

O conceito de convergência não implica apenas na atividade fã, mas também da base para a criação dos fandoms, já que por definir esse novo contexto, aponta também as transformações que permitem essa união de indivíduos – como o encurtamento de distâncias e a facilidade de reunião entre pessoas com os mesmos interesses, permitidos através da internet.

Em uma cultura da convergência, todos os indivíduos são participantes, o conceito de Cultura Participativa relaciona-se a isso, já que é um contexto que incentiva a ampla participação e a criatividade alternativa – ações evidentes nas comunidades fãs. A discussão e troca de informações, também são atividades comuns nos fandoms. É por meio das discussões e interações entre os membros, que as relações se tornam mais fortes e os conteúdos mais visíveis, dada a lógica de conexões que rege os ambientes da Internet. Essas atividades constituem a Inteligência Coletiva, que para Jenkins (2009) refere-se à capacidade das comunidades de alavancarem a expertise combinada de seus membros.

A pesquisa organiza-se em seis capítulos, sendo o primeiro e o sexto, introdução e conclusão, respectivamente. No seguindo capítulo, encontra-se a revisão das teorias que dão base ao trabalho – definição de fã e fandom, Cultura da Convergência (JENKINS, 2009), Cultura Participativa (JENKINS, 2009), Inteligência Coletiva (JENKINS, 2009) e Fã- ativismo (JENKINS, 2012). No terceiro capítulo, é discutido o momento do clube, através de uma breve apresentação de sua história e da situação vivida no ano de 2013. No quarto capítulo, as noções de fandom, inteligência coletiva e cultura participativa são aplicadas ao 10

contexto são-paulino, discutindo, também, os sites de redes sociais em que se desenvolveu a atividade comunicacional da torcida. No quinto capítulo são apresentados os aspectos metodológicos utilizados na observação e coleta de dados e, em seguida, é descrita a atividade comunicacional da torcida, levando-se em conta o contexto são-paulino e as noções de fã ativismo.

A coleta manual dos Trending Topics e a observação das discussões desenvolvidas e seus desdobramentos nos outros sites de rede social forneceram os dados empíricos para a pesquisa. Relacionados às informações obtidas sobre o momento vivido pelo São Paulo, que se deu por meio da pesquisa de reportagens, notícias e o acompanhamento de jogos e coletivas de imprensa, foi possível compreender a relação entre o contexto sociopolítico e as discussões e conteúdos criados pelos torcedores. Foi notável a influência da imprensa na discussão dos torcedores, tanto em relação aos jogos televisionados – que motivavam discussões – quanto ás notícias, entrevistas e reportagens sobre o clube.

A revisão teórica possibilitou não só compreender o contexto em que se insere a atividade dos torcedores, mas também compreender a natureza dessas atividades. Notou-se que a reunião e a interação coletiva entre os membros impulsionaram as discussões e tornaram os conteúdos criados visíveis nos sites de redes sociais observados e, também, na própria imprensa. Desenvolveu-se, desse modo, o ativismo do torcedor são-paulino, impulsionado pelo próprio contexto vivido pelo clube. Nesse sentido os torcedores desenvolveram discussões, ações e conteúdos sobre o clube, conectando os ambientes mencionados, ampliando a visibilidade das questões levantadas a partir da organização do fandom.

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2. A cultura fã no futebol

De acordo com Monteiro (2007), o termo fã tem seu primeiro registro no final do século XIX, em jornais da época – sendo utilizado para denominar seguidores de equipes esportivas, já que o esporte havia se consagrado como uma forma de entretenimento comercial. Para entender o futebol como um entretenimento comercial, pode-se fazer uma analogia com os espetáculos de teatro. Ao comprar ingressos para uma partida, o torcedor compra o direito de assistir ao espetáculo – que no caso do futebol, é a própria partida. Atualmente, outro exemplo que reforça o caráter comercial do futebol como forma de entretenimento, é a venda de cotas de transmissão para as emissoras de televisão. No ano de 2012, a prorrogação de contratos de transmissão, custou para a Rede Globo, cerca de 30 milhões de reais, valor pago a cada clube pelo direito da transmissão das partidas até 20172.

Durante muito tempo, os fãs foram vistos através de estereótipos negativos, que os colocavam como indivíduos tão emocionalmente envolvidos com seus objetos de idolatria que seriam incapazes de distinguir a realidade da ficção, e que, por investirem tanto tempo nesses objetos, deixariam de viver sua vida em função do que idolatram, não tendo, portanto, “vida própria”. (JENKINS apud BANDEIRA, 2008). No contexto atual de convergência midiática os fãs são vistos por outros aspectos. Percebe-se, através de estudos sobre as práticas e organizações dos fãs, a importante relação entre os avanços tecnológicos e a forma pela qual os fãs recepcionam os conteúdos de seus objetos de idolatria.

2.1 A cultura dos fãs: convergência, participação e inteligência coletiva

Jenkins (2009) define a convergência como um processo que se refere ao:

fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas de mídia, à cooperação de múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca de experiências de entretenimento que desejam (JENKINS, 2009, p. 29).

Segundo o autor, o conceito de convergência consegue definir transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais e não deve ser compreendido como um processo apenas tecnológico, mas também como uma transformação cultural, visto que, a circulação de conteúdos – por diferentes sistemas de mídia, sistemas administrativos de mídias concorrentes e fronteiras nacionais – depende fortemente da participação ativa dos consumidores

1 Radar Online, Revista Veja. Disponível em http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/futebol/globo-prorroga- contratos-de-nove-grandes/#.T_9NVCfczjE.twitter. Acesso em 08 de setembro de 2013. 12

(JENKINS, 2009). Em outras palavras, a convergência não se encerra nas possibilidades permitidas pelos avanços tecnológicos, ela se concretiza apenas com a participação dos consumidores nesses ambientes convergentes. A convergência, de acordo com Jenkins (2009), ocorre dentro dos cérebros de consumidores individuais e em suas interações com os outros.

Ainda segundo o autor, o cientista político Ithiel de Sola Pool pode ser definido como o profeta da convergência. Seu livro Technologies of Freedom (1983) foi provavelmente o primeiro a apresentar a convergência como um poder de transformação dentro das indústrias midiáticas. Segundo esse autor:

um processo chamado “convergência de modos” está tornando imprecisas as fronteiras entre os meios de comunicação, mesmo entre as comunicações ponto a ponto tais como correio, o telefone e o telégrafo, e as comunicações de massa, como a imprensa, o rádio e a televisão. Um único meio físico – sejam fios, cabos ou ondas – pode transportar serviços que no passado eram oferecidos separadamente. De modo inverso, um serviço era oferecido por um único meio – seja a radiodifusão, a imprensa ou a telefonia – agora pode ser oferecido de várias formas físicas diferentes. Assim, a relação um a um que existia entre um meio de comunicação e seu uso está se corroendo. (POOL, 1986:112 apud JENKINS, 2009:37).

Ao contrário do que era esperado pelo paradigma da revolução digital, as novas mídias não substituem as antigas, elas interagem entre si, o que caracteriza o paradigma da convergência. Como afirmado por McLuhan (1988), as novas tecnologias recuperam algo já presente em outro meio. Os meios de comunicação não morrem, nem desaparecem, a lógica empreendida nesses meios continua a existir, mas passa a ser acessada de diferentes maneiras.

Na cultura da convergência, as separações entre os meios são derrubadas o que faz com que o mesmo conteúdo flua por canais diferentes, assumindo diferentes formas de recepção. Mais do que mudanças tecnológicas, a convergência representa uma mudança nas relações entre as tecnologias existentes, as indústrias, os mercados, os gêneros e o público. Ela altera a lógica de operação da indústria midiática e a lógica pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento. A convergência não é algo que vai acontecer no futuro, nós já vivemos numa cultura da convergência. (JENKINS, 2009).

Os celulares nos permitem enviar e-mails, fotos, acessar redes sociais, gravar vídeos e músicas, entre outras atividades. Por meio do computador podemos assistir canais de televisão, seriados, partidas de futebol, nos comunicar através de vídeo e áudio. Esses dispositivos desprendem-se das características de um mero telefone, ou um mero computador, 13

tornando-se importantes ferramentas na recepção, na apropriação e, também, na produção de conteúdos. O conceito de convergência vai além da convergência de diversos meios em apenas um – Falácia da Caixa Preta3 – ele representa uma mudança na forma de consumo dos indivíduos, suas interações sociais e suas relações com as tecnologias contemporâneas.

De acordo com Jenkins (2009), a convergência também precisa ser vista a partir de dois processos: um corporativo e outro alternativo. As mudanças ocorrem tanto de cima para baixo (empresas de mídia-consumidores) quando de baixo para cima (consumidores-mídia). Do lado corporativo as indústrias estão aprendendo a acelerar e multiplicar o fluxo de conteúdos através de diferentes canais a fim de reforçar a relação com o público, expandir as possibilidades de lucro e os mercados. Do lado alternativo os consumidores estão aprendendo a controlar o fluxo de conteúdo nas múltiplas tecnologias disponíveis, tornando seu papel mais ativo nas esferas de produção e circulação de conteúdos. Esses processos são simultâneos, ao mesmo tempo em que a indústria estuda como agir de acordo com as mudanças no público, os sujeitos apropriam-se da tecnologia em busca de novas experiências, como discute Silveira (2009).

O acompanhamento de uma partida de futebol através do computador, por exemplo, pode acontecer por diversas plataformas simultaneamente. O indivíduo pode receber a imagem do jogo por stream (transmissão de eventos em tempo real pela internet), ouvir a narração através de uma web rádio, seja ela oficial ou não oficial, comentar e acompanhar comentários sobre a partida nas redes sociais. Mais do que a capacidade do computador de abarcar essas diferentes formas de acompanhamento, existe uma mudança na cultura do indivíduo, que não satisfeito em acompanhar o jogo apenas por um canal, busca acompanha-la através de outros canais. Essa atitude reflete o caráter migratório do público, que oscila entre diversos canais em busca de novas experiências de entretenimento. A convergência representa essa mudança cultural, já que os consumidores passam a ser incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a diversos conteúdos, como propõe Jenkins (2009).

Segundo esse autor, a convergência ocorre quando as pessoas tomam o controle das mídias, e, ao tomar esse controle, os resultados podem ser incrivelmente criativos. Os avanços tecnológicos permitem uma facilidade no acesso, no armazenamento, na distribuição, na apropriação e na produção de conteúdos. A convergência, portanto, impacta na forma como

3 Neste fenômeno, acredita-se que todos os conteúdos de mídia irão fluir por um único aparelho. (JENKINS, 2009 p. 42). 14

consumimos os meios de comunicação. Fãs de determinados seriados, por exemplo, podem capturar amostras de diálogos no vídeo, resumir episódios, transmiti-los ao vivo através do stream, legendá-los, criar fanfictions, produzir seus próprios filmes por meio de fragmentos da série, entre outras coisas, e distribuírem todos esses conteúdos por meio da internet.

Nesse contexto, Jenkins (2008) afirma que as comunidades de fãs são as primeiras a adotar e usar criativamente as mídias emergentes. Eles “são o segmento mais ativo do público das mídias, aquele que se recusa a simplesmente aceitar o que recebe, insistindo no direito de se tornar um participante pleno” (Jenkins, 2008, p.181). De acordo com o autor, os fãs produtores, fomentam um tipo de ataque surpresa à cultura de massa, apoderando-se de seus materiais e desafiando as autoridades autorais e a propriedade intelectual. Para Kelly (2004) os fãs de todos os lugares do mundo atuam como uma guerrilha do consumo, transformando a recepção do entretenimento em produção. (KELLY apud CORREA, SANTOS, GARCIA, PERSIGO. 2013).

A criação de fanfilms pode ser utilizada como exemplo da transformação da recepção em produção. Essas produções feitas por fãs podem ter diversos temas, desde série de TV e filmes a jogadores de futebol. No caso das séries de TV, esses vídeos são construídos através de fragmentos da série, fragmentos de entrevistas, bastidores, entre outros materiais audiovisuais relacionados ao tema abordado no vídeo. Entre os temas mais comuns, estão os vídeos dos shippers, que são fãs que admiram o relacionamento, principalmente o amoroso, de certos personagens fictícios. Esses relacionamentos não precisam existir na ficção, basta que o fã “torça” por esse casal. Desta configuração surgem não só as produções em vídeo, mas também fanfiction, fanarts, entre outras produções fã.

A internet tem um importante papel na atividade dos fãs, neste contexto, ela surge como um potencializador dessas atividades, já que, além de permitir uma ampla camada de interações, configura-se como uma plataforma de armazenamento e divulgação de conteúdos, possui um alcance global, permitindo que as distâncias sejam encurtadas, facilitando o encontro entre pessoas com os mesmos gostos e interesses. Nesse contexto desenvolvem-se as comunidades de fãs, conhecidas também como fandom.

O fandom é um termo que surge da união das palavras inglesas – fan (fã) e kingdom (reino). É usado para designar comunidades de fãs de um determinado produto cultural e estão presentes, principalmente, na internet. Segundo Jenkins (2006b), essas comunidades são caracterizadas por um sentimento de camaradagem e solidariedade entre os membros. Elas 15

representam mais que um grupo de amigos com os mesmos interesses, representam um grupo de amplitude global, ativo, envolvido, consumidor e produtor de conteúdos (SOUZA e MARTINS, 2012). O senso de comunidade encontrado no fandom vem da união de indivíduos com o mesmo interesse e que valorizam a reunião, o debate de ideias, o compartilhamento de conhecimentos e experiências que transformam reações pessoais entre os indivíduos e o objeto em interações sociais, tanto entre os fãs, quanto entre os fãs e os produtores (ESTEVAO, 2011). O fandom também é visto por Jenkins (2006), como um veículo para grupos subculturais4 marginalizados (mulheres, jovens, gays e outros), que abre espaço para seus consentimentos culturais dentro de representações dominantes. O fandom é uma forma de apropriação e releitura de textos de mídia, de maneira que ele sirva a diversos interesses, é uma forma de transformar a cultura de massa em cultura popular (JENKINS, 2006, p. 40).

Para Abercrombie e Longhurst (1998, p. 141) existem diferentes níveis de paixão e envolvimento nas atividades dos fãs. Os níveis de engajamento com a mídia variam entre consumidor e pequeno produtor (aqueles que comercializam suas produções de fã com os próprios fãs). Por outro lado, o envolvimento dos fãs varia entre entusiástico e fã. Sandvoss (2005) define os fãs de uma maneira mais inclusiva. Para o autor, o fandom é o consumo regular e emocionalmente envolvido de algum produto midiático. (SULLIVAN, 2013).

De acordo com Fiske (2002), os fãs criam uma cultura com seus próprios sistemas de produção e distribuição. Para o autor, o fenômeno do fandom está associado a produções culturais mais relacionadas à sociedade – como os esportes, as séries de televisão, atores ou atrizes, gêneros musicais, entre outros. Para discutir as características principais do fandom, o autor propõe três categorias – Discriminação e Distinção, Produtividade e Participação, e Acúmulo de Capital. A primeira categoria refere-se à preocupação da cultura dos fãs em se definir claramente os limites que pertence ou não a sua esfera cultural. Os limites definidos pelas diferenças culturais estabelecem uma distinção entre os membros da comunidade e a sociedade em geral quanto ao grau de influência cultural. O autor argumenta que a cultura dos fãs influencia o comportamento, os valores e autoestima dos fãs de determinado produto cultural (JORGE; NAVIO, 2013).

4 O termo subcultura refere-se ao conjunto de particularidades culturais de um grupo que se distancia do modo de vida dominante, sem se desprender dele. 16

Na segunda categoria proposta, Fiske (2002) divide a produtividade dos fãs em três categorias – produtividade semiótica, produtividade enunciativa e produtividade textual. A produtividade semiótica refere-se à criação de identidade social a partir das fontes semióticas dos produtos culturais, a produtividade enunciativa remete a transformação pública dos significados criados pelos fãs após sua divulgação e a produtividade textual relaciona-se a produção e circulação de textos e narrativas em relação ao objeto do fandom (JORGE; NAVIO, 2013).

A última categoria proposta pelo autor diz respeito à acumulação de capital. No contexto do fandom, essa acumulação refere-se a uma acumulação de capital cultural5². Os fãs procuram aumentar esse capital através da produção de textos, da organização e participação de eventos e pela criação de seus próprios conteúdos. A acumulação de conhecimento sobre o objeto de fandom, antes dos outros, é entendida como uma forma de poder. Esses indivíduos são denominados experts. (JORGE; NAVIO, 2013).

O avanço dos estudos sobre fãs nas ultimas décadas, direcionou-se para a exploração das atividades dos fãs como práticas de pessoas comuns, fugindo da visão negativa e estereotipada, e observando a maneira como essas práticas se inserem no cotidiano (GRAY, SANDVOSS E HARRINGTON, 2007). Ser fã tornou-se uma prática mais normalizada, na medida em que, nos ambientes virtuais, se torna acessível para mais indivíduos, e também, na medida em que suas práticas passam a fazer parte do cotidiano de quem participa dessas comunidades (JORGE e NAVIO, 2013).

2.1.1 Cultura participativa

De acordo com Jenkins (2009), o momento atual de transformações midiáticas reafirma o direito dos indivíduos de contribuírem ativamente com sua cultura. É um contexto que incentiva a ampla participação e a criatividade alternativa, que se se relaciona a essa capacidade dos fãs de criarem seus próprios conteúdos, o alternativo, neste contexto, relaciona-se a criações não oficiais, em outras palavras, criações alternativas às criações oficiais. Na cultura de convergência, todos são participantes – mas os níveis da participação e sua influência são diferentes. O autor considera importante a distinção entre interatividade e participação, por serem palavras usadas muitas vezes indistintamente. Em seu livro, Cutura

5 Termo cunhado por Pierre Bordeau (1979) que se refere ao conjunto de recursos, competências e apetências disponíveis e mobilizáveis em matéria de cultura dominante ou legítima. Disponível em http://www.infopedia.pt/$capital-cultural;jsessionid=+0OqgUEU7D4IvWr-CffAAA__. Acesso 03 de novembro de 2013. 17

da Convergência, o autor compreende como interatividade o modo como as tecnologias são planejadas para responder ao feedback do consumidor. As restrições da interatividade são, portanto, tecnológicas. Por outro lado, a participação é moldada por protocolos culturais e sociais, sendo mais ilimitada e menos controlada pelos produtores de mídia e mais controlada pelos consumidores de mídia. Neste sentido, Jenkins (2009 p. 189-190) cita o exemplo do cinema, em que a participação do espectador é moldada pela tolerância do público, que pode aceitar ou não, que o filme seja comentado durante a seção.

A expressão cultura participativa, surge nesse contexto de participação, e relaciona-se às transformações no papel dos consumidores em relação aos meios de comunicação. Atualmente, os papéis dos produtores e dos consumidores não devem ser vistos separadamente, ambos devem ser considerados como participantes interagindo de acordo com um novo conjunto de regras (JENKINS, 2009, p. 30). Para Ricardo Oliveira (2010, p. 4) o poder de elaborar e transmitir conteúdos não é mais um privilégio exclusivo dos grandes conglomerados midiáticos, os consumidores passam a ser atuantes nas mídias (OLIVEIRA apud SOUZA; MARTINS, 2012).

Segundo Souza e Martins (2012) a cultura participativa é resultado de duas tendências contemporâneas – a convergência midiática e a apropriação tecnológica por parte do público – representando um convite aos fãs e consumidores em geral a produzir e difundir novos conteúdos a partir da adaptação e conformação de produtos culturais, que podem ter fins lucrativos – como a criação de novos objetos para a série de jogos The Sims, que são comercializados em sites destinados apenas a esse tipo de produto – e também conteúdos sem fins lucrativos, como alguns vídeos, recapitulações de temporadas de seriados, entre outros.

Vista principalmente no ambiente online, a apropriação tecnológica é o suporte da maioria dos fandoms e suas produções. Com a possibilidade de se exibir trabalhos construídos de forma caseira, uma nova tendência para a valorização da criatividade e da expressão pessoal é gerada. De acordo com Jenkins (2008), a internet facilita a visibilidade dessas produções alternativas. Nesse contexto, a produtividade do fã representa uma rejeição à ideia de que o produto oferece apenas a visão de seus produtores, podendo ter sua visão expandida, através das criações dos fãs que, em alguns casos, podem surgir como uma criação de novas histórias, a partir da história presente em um livro, a expansão da história de determinados personagens, entre outros (VARGAS apud SOUZA; MARTINS, 2012). 18

De acordo com Fiske (2002), a participação dos fãs também pode ser vista como uma forma de resistência política, feita através do estabelecimento de um senso de propriedade sobre seu produto midiático favorito e do engajamento dos fãs na construção de várias interpretações para esses produtos. Segundo o autor, os fãs desenvolvem sua própria identidade em relação aos produtos midiáticos que consomem.

A internet, segundo Jenkins (2009), é um lugar de experimentação e inovação. Nesse ambiente os amadores podem sondar o terreno, desenvolver novos métodos e temas e criar materiais que podem atrair seguidores. A mídia absorve os métodos mais viáveis comercialmente, seja por meio da contratação de novos talentos e pelo desenvolvimento de trabalhos com bases nesses materiais ou por meio da imitação da mesma estética e temática. Ela pode também fornecer inspiração para outros empreendimentos amadores impulsionando a cultura popular em novas direções. Em um contexto como esse, os trabalhos dos fãs não podem ser mais encarados apenas como derivados de materiais comerciais, mas sim como trabalhos que também são passíveis de apropriações e reformulações, tanto da indústria midiática – através da criação de conteúdos em resposta às produções ou aos desejos dos fãs – como dos próprios fãs (Jenkins, 2009 p. 207).

Fernandez e Falchetti (2011) demonstram como ocorre a apropriação de conteúdos produzidos por fãs pelos próprios fãs, ao afirmarem que a internet confere espaço para que outros usuários criem obras como resposta às obras já divulgadas, sem a necessidade de negar ou excluir informações anteriores. De acordo com os autores, a cultura participativa garante constante alteração e evolução de obras difundidas na internet. No ambiente digital, essas obras se inter-relacionam, dialogam-se, separam-se, se reconstroem e voltam a dialogar. Os usuários, mesmo sendo de diferentes lugares, são capazes de se encontrar graças a seus interesses em comum e, a partir disso, podem trabalhar colaborativamente na construção de novas obras. A construção está sempre em mudança, nunca se concretiza (FERNANDEZ; FALCHETTI, 2011).

2.1.2 Inteligência Coletiva

De acordo com Jenkins (2009), a era da convergência das mídias permite modos de audiência comunitários ao invés de modos mais individualistas. Neste contexto, os produtos midiáticos fornecem material para discussões. A famosa conversa na hora do cafezinho, apontada pelo autor, ganha um espaço de discussão ampliado no ambiente virtual. Nesse contexto de espaços de discussão surgem exemplos como fóruns de discussão, e redes sociais 19

como Twitter e Facebook são fortalecidas, por também, também ampliarem esses espaços. A possibilidade de compartilhar comentários, ideias, notícias, opiniões e conhecimentos é uma abertura para esses espaços de discussão.

Nesse contexto virtual, desenvolve-se o que pode ser chamado de inteligência coletiva. Para definir a inteligência coletiva, Pierre Lévy (2007), parte do princípio de que “se os outros são fonte do conhecimento, a recíproca é imediata” (LÉVY, 2007, p. 28), a inteligência coletiva, é, portanto, “uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada e mobilizada em tempo real” (2007, p. 30). Ainda segundo o autor, na internet, a expertise dos indivíduos é subordinada a objetos e fins comuns. Baseando-se na definição de Lévy (2007), Jenkins (2009), define a inteligência coletiva como a capacidade das comunidades virtuais de alavancarem a expertise combinada de seus membros. Mas como essa inteligência coletiva é construída? De onde ela parte?

Para Jenkins (2009), a nova cultura do conhecimento surge em um momento em que nossos vínculos sociais estão se modificando, sendo menos limitados à geografia física. A partir disso surgem novas comunidades, “definidas por afiliações voluntárias e táticas, reafirmadas através de envolvimentos emocionais e empreendimentos intelectuais comuns” (2009, p. 57). Em outras palavras, o encurtamento das distâncias, proporcionado pela internet, facilita o encontro e o agrupamento de pessoas com os mesmos gostos, interesses e objetivos. Desse agrupamento surgem novas comunidades, que discutem, produzem e combinam seus conhecimentos de acordo com objetivos e fins comuns, elas se mantem através dessas atividades de produção e troca de conhecimento. Para Mascarenhas e Tavares (2010), essas comunidades de conhecimento são incitadas por laços sociais e, ao mesmo tempo, colaboram com o fortalecimento social na internet.

É bom destacar que inteligência coletiva e inteligência compartilhada têm significados distintos. Segundo Lévy (2007), o conhecimento compartilhado refere-se a informações tidas como verdadeiras e conhecidas pelo grupo inteiro, já a inteligência coletiva refere-se à soma de todas as informações retidas pelos indivíduos, que podem ser acessadas em resposta a uma pergunta específica. O conhecimento é coletivo, já que não se encontra em apenas um indivíduo e é compartilhado com outros, ou seja, parte de todos os membros. O conhecimento surge nessas comunidades por meio de uma troca mútua, numa relação na qual todos têm algo a oferecer. 20

A prática de inteligência coletiva pode ser observada principalmente em fóruns de discussão. Antes de comprar uma guitarra, por exemplo, é possível que se encontre fóruns relacionados ao assunto contendo tópicos sobre os melhores modelos para iniciantes, guitarras com melhor custo-benefício, dicas sobre os acessórios, comparações entre tipos e modelos e outros inúmeros assuntos. Neste caso, estão representadas diversas opiniões, cada uma delas relacionada a um ponto específico. Existe também a possibilidade de se criar tópicos, tirar suas dúvidas e ajudar a tirar dúvidas de outra pessoa. A inteligência coletiva se trata dessa construção de um conhecimento que parte da troca de informações entre os indivíduos, da contribuição de cada um.

Sendo assim, a inteligência coletiva não se consolida na posse do conhecimento, mas sim no processo social que envolve a aquisição desse conhecimento, um processo dinâmico e participativo que continuamente testa e reafirma laços sociais do grupo social, como discute Jenkins (2009). Para Lévy (2007), o ideal dessa inteligência é a valorização técnica, econômica, jurídica e humana de uma inteligência que distribuída em toda parte, é capaz de desencadear uma dinâmica positiva de reconhecimento e de mobilização de competências.

2.2 Os fãs de futebol no ambiente digital

Segundo Rocco (2006), a popularização do futebol no Brasil aconteceu a partir de 1930, quando atingiu todas as classes brasileiras, tornando-se um fenômeno de massa. Com a popularização do esporte, as torcidas começam a se desenvolver e no ano de 1939, a primeira torcida organizada foi fundada, a Grêmio São Paulino, que no ano seguinte, passou a se chamar Torcida Uniformizada do São Paulo. Porém, o ato de torcer envolve diversas formas e níveis de consumo e envolvimento, assim como as torcidas organizadas se desenvolvem em grupos, os torcedores comuns – aqueles que não fazem parte de torcidas organizadas – e mais engajados desenvolvem-se em comunidades, geralmente encontradas no ambiente digital, já que é uma ambiente que facilita o encontro ente os torcedores.

Em 1999, Hunt, Bristol e Barshal (1999) desenvolveram uma pesquisa que classifica os diferentes tipos de fãs do esporte, levando em conta os graus de envolvimento e comprometimentos dos fãs, e também, variáveis geográficas e temporais. Os fãs são divididos em quatro categorias – fãs temporários e geográficos, fãs devotos, fãs fanáticos e fãs disfuncionais. A categoria dos fãs temporários e geográficos baseia-se no tempo em que a pessoa tem um comportamento fã com o esporte. Podemos citar, como exemplo dessa categoria, indivíduos que se interessam por futebol durante a Copa do Mundo, neste período o 21

indivíduo consome o esporte, acompanha as partidas, mas com o término da competição, perde o interesse pelo esporte. Os fãs devotos não possuem limitações, sua motivação e envolvimento pelo time permanecem mesmo com o passar do tempo e mesmo com mudanças geográficas que o impeçam de acompanhar as partidas de perto. Os fãs disfuncionais têm o time como seu principal método de identificação e como algo vital para sua existência. Exemplos desse grupo são torcedores violentos, capazes inclusive, de matar por motivos relacionados ao time. Os fãs fanáticos possuem um envolvimento emocional maior que o apresentado nos fãs devotos e menor que os fãs disfuncionais. Esses fãs tem um forte engajamento com seus clubes, participam de discussões, vão aos jogos, acompanham notícias, consomem diversos produtos licenciados e relacionados ao time.

Os torcedores fanáticos buscam diferentes formas de experienciar seu clube, o advento da internet abre inúmeras possibilidades a esses torcedores, que munidos não apenas de um número amplo de informações em tempo real, são capazes de se reunirem em comunidades de torcedores, que assim como eles, são engajados, discutem, produzem e compartilham suas produções e conhecimentos.

2.2.1 Produções de Torcedores

A cultura de convergência representa mudanças tanto nas relações sociais, como nas relações entre os consumidores e os produtos midiáticos. Nesta lógica, os consumidores, munidos de inúmeras ferramentas de produção e divulgação, transformam a forma de recepcionar e consumir os produtos midiáticos. A produção amadora tem amplo espaço na internet, muito pelas facilidades de divulgação e compartilhamento das produções, mas também, pela liberdade de se experimentar novas técnicas e novos temas. O futebol, como forma de entretenimento, ganha espaço nos meios virtuais através de diversas produções feitas por torcedores. Esses conteúdos podem ser relacionados a diversos temas, dirigentes de futebol, jogadores e os próprios clubes – tanto de forma específica como de forma geral. As possibilidades de formatos também são diversas, variando desde portais de notícias a páginas de humor. Abaixo seguem alguns exemplos de conteúdos produzidos por torcedores.

Em seu perfil no Twitter, com mais de dois mil seguidores, o blog canelada6 se intitula como “um blog de futebol, mas de torcedor para torcedor”. Na página do blog, as notícias são segmentadas tanto pelos clubes, quanto pelas colunas especiais do site. Contando com a contribuição de cerca de dois torcedores de cada um dos 23 clubes apresentados no site, o

6 Twitter Blog Canelada. Disponível em https://twitter.com/blogcanelada 22

blog se compromete em divulgar a opinião do torcedor, fato que é afirmado em um dos trechos do “Manifesto Canelada7”, presente em na seção de mesmo nome:

Ao assistir um jogo de futebol, todos tentam entender algo. Por que a bola não entra? Por que nosso time está jogando assim, e não assado? (...) Para cada uma dessas perguntas existem pelo menos umas cinco respostas respeitáveis e diferentes, isso sem falar nas „não respeitáveis‟ (...) E aí tem o narrador que solta uma pérola, o repórter de campo que complementa, e o torcedor que acredita cegamente, deixa de ter sua própria opinião para ter a opinião do comentarista, que por sua vez falou aquilo no calor do jogo com apenas a primeira impressão em mente. Ossos do ofício, mas a verdade é que cada pessoa, profissional ou não, tem um opinião a ser dada sobre futebol. E a opinião do torcedor? (...) Essa é só a mais importante de todas. A mais passional, e por isso a mais honesta. A mais parcial, e por isso a mais intensa. Torcedor quer saber o que seu comentarista de confiança tem a dizer, mas ele é bom mesmo em torcer! Se for pra defender seu time, seu ídolo e sua torcida, ele sabe achar uma brecha no assunto para assegurar um raciocínio como uma verdade absoluta com validade até o próximo jogo. A internet hoje nos apresenta uma nova forma de comunicação que nem é mais tão nova assim. O mundo mudou. A imprensa descarrega suas informações muitas vezes até tendenciosas e corrompidas, mas o torcedor só pode comentar o que foi dito ou escrito com o amigo do trabalho, com o pessoal do bar ou com a família em alguns casos. Na internet isso não cabe! O torcedor tem que ter sua voz! (Manifesto Canelada in: Blog Canelada)

O “Manifesto Canelada” também explica as práticas do site, que refletem a produção de novos conteúdos a partir da apropriação de conteúdos midiáticos já existentes: Nós não informamos, mas sim usamos a informação. Somos torcedores. O jornalista publica uma matéria e nós comentamos, e quem lê nossos comentários, comenta também. O Canelada é um refugio on-line para torcedores que querem dar sua opinião altamente e assumidamente parcial. O torcedor não vai encontrar no Canelada um profissional tentando ou fingindo ser imparcial. O torcedor que visita o Canelada encontrará outro torcedor sendo parcial assim como ele, tentando arrumar sempre o melhor ponto de vista que faça bem para seu time, mesmo que seja em críticas. A parcialidade no Canelada é assumida! (Manifesto Canelada in: Blog Canelada)

7 Manifesto Canelada. Disponível em http://canelada.com.br/manifesto-canelada/ 23

E ao final do texto, o manifesto coloca o blog como um ambiente dos torcedores, onde eles têm liberdade para participarem e interagirem uns com os outros:

No Canelada, você vai xingar o seu técnico que insiste em escalar o Pedrão, zagueiro de uma perna só e míope. No Canelada, você vai brigar com o outro torcedor que escreve, o Caneleiro. Afinal, como ele pode ter uma opinião dessas e torcer pro mesmo time que você? Safado! No Canelada você vai torcer. É pra isso que ele existe. O Canelada é a mesa de seu boteco preferido, a esquina de sua rua e até a arquibancada do estádio de seu time. O Canelada é onde se fala de bola, mas não com a boca, e sim com o coração. Seja bem vindo, puxe uma cadeira e vai sentando pois o papo aqui só acaba quando o juiz apita. Ou não…

Construído a partir de notícias fictícias, o site Olé do Brasil8 é um portal de notícias com teor humorístico e crítico. Possuindo, em sua conta no Twitter, mais de 27 mil seguidores e 104 mil likes no Facebook. O seu sucesso, provavelmente, se deve por refletir uma prática muito comum entre os torcedores: “a gozação”. Provocar torcedores adversários com piadas faz parte do consumo do esporte.

Figura 1 – Notícia fictícia do site Olé Brasil

Fonte: Olé do Brasil, 20139.

8 Olé do Brasil. Disponível em http://oledobrasil.com.br/ 9 Captura da imagem. Disponível em . Acesso em 05 de set. de 2013. 24

A TV Olé, produzida também pelo site, mostra notícias em vídeo, também fictícias e com teor humorístico e crítico presentes nas notícias escritas. O exemplo abaixo revela uma crítica à relação entre a Rede Globo e o Corinthians e entre o clube e a arbitragem brasileira.

Figura 2: Vídeo sátira da TV Olé Brasil

Fonte: Olé do Brasil, 201310.

A relação entre as produções de torcedores e as redes sociais não é restrita apenas da divulgação de outras páginas, pois, nesses ambientes surgem diversos tipos de conteúdos, que variam desde produções audiovisuais a páginas e perfis de personagens fictícios baseados em jogadores, dirigentes, técnicos, e outros indivíduos relacionados ao esporte. No Youtube, por exemplo, existem inúmeros exemplos de produções de torcedores. Práticas comuns são as produções de vídeos com melhores momentos de jogos e vídeos homenagem feitos a jogadores. Outra prática interessante é a produção de vídeos com melhores momentos de recém-contratados pelos clubes. Neste último caso, os torcedores criam esses vídeos a partir de fragmentos de partidas disputadas pelo jogador, a fim de apresentar aos outros torcedores seu estilo de jogo e seus melhores momentos. Essa prática é comum quando o jogador contratado é desconhecido por grande maioria da torcida. Um exemplo recente desse tipo de conteúdo, é o vídeo produzido pelo canal Soberano FC11, que mostra os melhores lances do jogador Welliton, nova contratação do São Paulo F.C. e ainda pouco conhecido no país.

10 Captura de imagem. Tv Olé disponível em < http://oledobrasil.com.br>. Acesso em 05 de set. de 2013. 11 Vídeo sobre o atacante Welliton. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=xvrvgg-Ea4o 25

Figura 3: Vídeo com lances do atacante Welliton, contratação do São Paulo

Fonte: Youtube, 2013.

Esse vídeo é um exemplo da prática da inteligência coletiva, já que é uma troca de conhecimento, tanto do criador quando dos indivíduos que o assistem e comentam, já que esses comentários, em sua maioria, partem de análises feitas a partir do vídeo e opiniões sobre como o jogador pode ajudar ou não no clube, se existe espaço para sua titularidade, entre outros comentários relacionados à vinda do jogador.

Outro exemplo bastante comum que encontramos nas redes sociais, tanto Facebook quanto Twitter, é a criação de personagens fictícios baseados em jogadores, técnicos, dirigentes e outros indivíduos relacionados ao futebol. Também chamados de fakes, esses personagens ganham notoriedade nesses ambientes virtuais12 por tratarem o esporte através de críticas bem humoradas e sátiras. Como exemplo desses personagens, temos o perfil feito como uma sátira do atual presidente do São Paulo Juvenal Juvêncio13, com mais de 56 mil likes em sua fanpage no Facebook e 26 mil seguidores no twitter, o criador do personagem foi responsável pela produção do primeiro livro escrito por um perfil falso da internet, chamado de Wisky com Bolachas.

12 A criação desses perfis, se dá, principalmente em redes sociais que priorizam a construção de um perfil pessoal, por isso a escolha de exemplos que desenvolvem-se no Twitter e no Facebook. 13 Perfil fake. Disponível em https://twitter.com/jjuvencio e https://www.facebook.com/jjuvenciospfc?fref=ts. Acesso 05 set. 2013. 26

Figura 4 – Livro Whisky com Bolachas, feito por um perfil falso da internet

Fonte: Divulgação do livro.

As redes sociais possuem outros inúmeros exemplos de produção de torcedores, que vão desde páginas relacionadas aos clubes e aos jogadores, a páginas de humor que fazem piada sobre os acontecimentos no futebol de uma maneira geral, ou páginas específicas sobre clubes, muitas vezes criadas por torcedores do time rival. Neste sentido, o ambiente virtual permite que a rivalidade seja levada também em um tom de brincadeira, representada muitas vezes por essas páginas de humor, presentes tanto no Facebook, quanto no Twitter.

Figura 5 – Fanpage de humor futebolístico no Facebook

Fonte: Facebook14, 2013.

14 Captura de imagem. Humor esportivo, disponível em . Acesso em 05 set. 2013. 27

Fora das redes sociais temos os exemplos de fansites criados para os clubes, alguns delas reunindo a história dos times, outros com um intuito maior de informar e opiniar sobre temas recorrentes relacionados ao clube. A presença de fóruns de discussão também é notável na internet.

Figura 6 – Fansite15 sobre o Cruzeiro Esporte Clube

Fonte: Cruzeiro Online, 2013.

2.2.2 O Fã ativismo nas redes sociais

O fã ativismo, de acordo com Jenkins (2012), se refere às formas de engajamento que emergem de dentro da própria cultura fã, geralmente em resposta aos interesses compartilhados pela própria comunidade de fãs (JENKINS apud VIMIEIRO 2013). Segundo Kliger-Vilenckin et al. (2012), o fã ativismo traz tanto elementos do fandom quanto elementos tradicionalmente atribuídos ao voluntariado e ao ativismo. De acordo com os autores, o fã ativismo pode ser entendido como uma prática incorporada nas comunidades, criada e mantida através das experiências compartilhadas pelos fãs e pelo desejo que eles têm de ajudar. O fã ativismo traz consigo o poder do fandom em conectar, engajar e mobilizar os membros.

15 Captura de imagem. Cruzeiro Online, disponível em . Acesso em 05 set. 2013. 28

No universo dos fandom, o ativismo está presente desde o surgimento das comunidades de fãs, já que elas começam a ser organizar como resposta dos fãs ao cancelamento de suas séries preferidas. Neste contexto, as comunidades de fãs surgiram para alavancar esforços em uma tentativa de influenciar as redes de televisão quanto ao futuro das séries. O fã ativismo é um comportamento também presente nas comunidades dos fãs de futebol, neste caso, o engajamento pode vir como apoio a seus clubes ou jogadores e também como críticas, tanto ao clube quanto a pessoas relacionadas ao esporte. Como exemplo de apoio, temos a campanha feita pelos torcedores do Atlético Mineiro, que criaram a tag #YesWeCAM, em alusão à frase da campanha eleitoral do presidente Barack Obama, Yes We Can, e à sigla do clube, CAM (Clube Atlético Mineiro), como demonstração do apoio da torcida durante a disputa da Libertadores16. Como apoio das campanhas a favor de jogadores, podemos citar a campanha feita pela torcida cruzeirense, que pediu a volta do ex-jogador do clube, Alex. Campanha que teve espaço também nas ruas, onde cerca de três mil torcedores caminharam da Praça Sete, no centro de Belo Horizonte, até a sede do Clube, no bairro Barro Preto.

Figura 7 – Torcedores cruzeirenses pedem a volta de Alex

Fonte: Rodrigo Franco, 201317.

A campanha #ForaRicardoTeixeira, que teve como plataforma principal o Twitter, diferente das campanhas de apoio, é um do exemplos do engajamento dos torcedores por melhorias no esporte. Depois de episódios suspeitos, investigações e CPIs do Futebol que

16 Principal competição de futebol da América Latina. 17 Imagem disponível em . Acesso em 05 set. 2013. 29

apontavam irregularidades no mandato do ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), fãs de futebol ao redor do país mobilizaram-se numa campanha que pedia a saída de Ricardo Teixeira da entidade de futebol brasileira, ganhando força a partir de uma entrevista dada à revista Piauí, em que ele afirmava “estar cagando para as denúncias”, as manifestações ganharam mais força tanto nos ambientes online, quanto nos estádios brasileiros. (PINHEIRO apud VIMIEIRO, 2013).

Como podemos notar, existem situações que geram a participação ativista dos fãs de futebol, seja para apoiar ou criticar seus clubes e instituições relacionadas ao esporte. Situações como crises, permanências ou retornos de ídolos e grandes disputas de título impulsionam discussões e, em alguns casos, o resultam em uma busca mais ativa pela mudança.

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3. São Paulo: das glórias passadas aos tempos difíceis

No ano de 2013, o São Paulo viveu um momento complicado. A crise, reforçada com eliminações em competições do primeiro semestre, não se restringiu apenas ao âmbito esportivo, se estendendo também aos âmbitos políticos e administrativos. E por isso, é apontada como uma das piores crises de toda história do clube.

A questão política é conturbada desde as últimas eleições do São Paulo, que ocorreram após uma reformulação do estatuto do clube, que permitiu a candidatura de Juvenal Juvêncio – o estatuto, até então, permitia apenas uma reeleição e o presidente já havia cumprido dois mandatos consecutivos pelo clube. Essa decisão chegou a ser contestada judicialmente, mas o mandato, iniciado em 2011, segue em vigor. Atualmente, com novas eleições próximas – marcadas para abril de 2014 – a política voltou a ganhar destaque, somada aos maus resultados do clube e aos erros cometidos administrativamente – como o aumento de dívidas, contratações de jogadores que não deram certo, entre outros – que formam o contexto do momento vivido pelo São Paulo.

Para entender a crise, é importante descrever a história do clube, a fim de compreender porque ela é tratada com tais proporções e, compreender também, o percurso de acontecimentos que levaram o clube a ter sua gestão, antes considerada como modelo, tão criticada.

3.1 Breve História do Clube

Fundado em 27 de janeiro de 1930, o São Paulo Futebol Clube, conhecido neste período como São Paulo Futebol Clube da Floresta, surgiu da união entre dois clubes paulistas – o Club Athlético Paulistano, importante clube na era do amadorismo do futebol brasileiro, e a Associação Atlética Palmeiras. O São Paulo foi formado, a partir desta união, pelos jogadores do C. A. Paulista e contava com as estruturas da Associação Atlética Palmeirense, dente elas o estádio Chácara da Floresta – daí o nome de São Paulo Futebol Clube da Floresta, ou simplesmente, São Paulo da Floresta.

O fim do São Paulo da Floresta se deu em um contexto que envolvia conflitos entre o futebol amador e o futebol profissional, conflitos de bastidores relacionados à liberação de jogadores para a Copa do Mundo de 1934 e uma crise financeira, pelas dívidas contraídas 31

pelo clube. De acordo com o historiador, Thomaz Mazzoni (1950)18, a crise foi apenas um pretexto para a fusão com o Clube de Regatas Tietê, já que o montante da dívida, na época 214 contos de réis, poderia ser facilmente pago com a venda de dois ou três jogadores do clube. A união dos times, portanto, teria sido motivada por questões políticas, já que muitos colaboradores do time não concordavam com a adesão à Liga Paulista de Futebol (LPF) e a consequente subordinação às regras da Confederação Brasileira de Desportos (CBD). Em uma assembleia, que contava apenas com os sócios considerados fundadores do clube, cerca de 250, a fusão foi aprovada e no dia 14 de maio de 1935 o departamento de futebol do clube foi oficialmente extinto. Após a fusão com o C.R. Tietê, antigos sócios, que não aceitaram a extinção do time, organizaram-se e criaram Grêmio Tricolor, que foi responsável, pela fundação do São Paulo Futebol Clube, mantendo o mesmo escudo e as três cores – resultantes da união entre o C. A. Paulistano, que era alvinegro, e a Associação Atlética Palmeirense, que sustentava as cores vermelha e branca.

Os primeiros anos do São Paulo foram difíceis, o clube era fraco tecnicamente e não se destacava tanto no cenário esportivo, conquistando em seus dois primeiros anos, o oitavo e o sétimo lugar, respectivamente, no de 1936 e 1937. Em 1938 ocorreu uma nova fusão, desta vez com o clube Estudante Paulista, fundado em maio de 1935 por dissidentes do antigo São Paulo da Floresta. O clube voltava de uma excursão feita no Peru e no Chile, em uma situação que beirava a falência, já que o empresário do time havia fugido com todo dinheiro arrecadado. Com a união dos clubes o São Paulo herdaria a dívida, mas poderia contar com os jogadores do Estudante Paulista, que eram mais fortes tecnicamente, e ficaria com o estádio Antônio Alonso. Por ter mais tradição e uma torcida já formada, o nome São Paulo Futebol Clube prevaleceu e a fusão foi confirmada.

Com a criação do Estádio do Pacaembu, em 1941, o futebol paulista passou a ter o maior e mais moderno estádio da América Latina, na época com capacidade para 70 mil torcedores. No mesmo ano o São Paulo conquistaria o primeiro título oficial no estádio, em um torneio inicial do Campeonato Paulista, ficando em sexto no lugar ao final do campeonato. O crescimento do time veio com o tempo. A contratação de da Silva, o Diamante Negro, é considerada como um divisor de águas na história do clube, que passava a contar com um grande jogador da época. O título do Campeonato Paulista veio em 1943, e também nos anos 1945, 1946, 1947, 1948 e 1949.

18 Informação retirada do Site oficial do Clube. Disponível em 32

Os anos 50 vieram com o sonho da construção de um estádio que pertencesse ao clube, que tinha passado a mandar os jogos no Canindé a partir de 1944. O projeto dos dirigentes era construir o maior estádio particular do mundo, o terreno, que suportava esse grande projeto, foi encontrado no final de 1951, no bairro Morumbi, na época uma região pouco habitada de São Paulo. Em agosto do ano seguinte, precisamente no dia 15, o então presidente, Cícero Pompeu de Toledo assinou o contrato de construção do estádio. Durante este período o futebol ficou em segundo plano, toda a renda do clube e o dinheiro arrecadado – com a venda do estádio do Canindé, a venda de jogadores e de cadeiras cativas no novo estádio – foi direcionada para a construção. Apesar disso, o São Paulo conquistou os títulos do Campeonato Paulista de 1953 e 1957.

O estádio foi inaugurado no dia 2 de outubro de 1960, ainda não terminado – com menos da metade do anel superior completo. Com os recursos ainda voltados para o término da construção do estádio, o futebol continuou em segundo plano e o clube passou 13 anos sem conquistar títulos. O estádio foi concluído em 1970 e, assim, o clube pôde voltar sua atenção ao futebol. Novos jogadores foram contratados, e no mesmo ano, o São Paulo conquistava mais um titulo do Campeonato Paulista. Em 1971, o clube também conquistou o Campeonato Paulista, o vice-campeonato brasileiro e a vaga na do ano seguinte, conquistando o quarto lugar, em sua primeira participação. Em 1975 outra conquista do Campeonato Paulista, e dois anos depois, a conquista inédita do Campeonato Brasileiro.

Os anos 80 começaram com o bicampeonato paulista, em 1980 e 1981, e um vice- campeonato brasileiro, também em 81. Desses títulos surgiram os apelidos de Máquina Tricolor e Tricolaço. Porém, os anos seguintes não foram tão bons, com dois vice- campeonatos seguidos diante do rival Corinthians, o São Paulo passou por uma reformulação, a partir de 1984, vieram novos jogadores, Falcão contratado pelo clube, Silas e Müller, das categorias de base. Com essa reformulação, o clube conquistou o bicampeonato brasileiro, em 1986, e o Campeonato Paulista de 1986 e 1987. Em 1988, o time não conquistou títulos, no ano seguinte, apesar do início pouco animador, o time conquistou o Campeonato Paulista.

Apesar de começar mal, a década de 90 foi vitoriosa, pelo menos até 1994 – período que ficou conhecido como a Era Telê – em uma alusão ao técnico Telê Santana, que comandou o time nestes anos. Em 1991, o time conquistou o Campeonato Paulista e o Campeonato Brasileiro, este último garantia uma vaga para a disputa da Taça Libertadores, no ano seguinte. E essa foi a prioridade da diretoria, que definiu a disputa como a principal 33

daquele ano. O clube conquistou o título, em um jogo que contava com mais de 105 mil torcedores no Morumbi e outros 15 mil torcedores nos arredores do estádio. Com o título da Libertadores, que garantia a chance de disputar o Mundial de Interclubes, o São Paulo de Telê conquistou, em um jogo contra o Barcelona, o título de melhor time do mundo, ainda no ano de 1992. No ano seguinte, o clube repetiu o feito, se sagrando bicampeão da Libertadores e do Mundial Interclubes. Em 1994, último ano sob o comando do técnico Telê Santana, o clube foi campeão da Copa Conmebol, com o time que ficou conhecido como Expressinho – contava com jogadores juniores e reservas do São Paulo. O afastamento do técnico Telê, por motivos de saúde, e sua substituição definitiva, em 1996, declarou o fim da Era Telê. Entre 1996 e 2004 passaram pelo clube catorze técnicos, conquistando poucos títulos, dentre eles o Campeonato Paulista de 1998 e 2000, a Taça Rio-São Paulo em 2001 e o Supercampeonato Paulista em 2002.

Após um período de dez anos, o clube voltou a participar da Libertadores em 2003, sendo eliminado na semifinal. Outra eliminação, também na semifinal, no ano seguinte, rendeu uma reformulação no time. Sob o comando do técnico Leão, o time conquistou o Campeonato Paulista de 2005, porém, sua permanência não durou, e após o a conquista do título, e com a Libertadores já em andamento, Leão pediu demissão e fui substituído pelo técnico , que deu continuidade ao trabalho, conquistando a Libertadores e o Mundial de Clubes. Com a saída de Paulo Autuori, que passou a treinar o Kashma Antlers no Japão, o técnico foi contratado. Dando continuidade a era vencedora do clube, Muricy foi responsável pelo feito inédito de conquistar o tricampeonato brasileiro consecutivamente, nos anos de 2006, 2007 e 2008.

Mesmo conquistando três títulos brasileiros, a derrota na final em 2006 e as seguidas eliminações na Libertadores, em 2007, 2008 e 2009, fizeram com que o comando do time fosse trocado. Com o técnico o clube conquistou novamente a vaga na disputa da Libertadores, e, no ano seguinte, foi eliminado mais uma vez, o que ocasionou outra troca de comando. Sérgio Baresi, técnico das categorias de base, foi o escolhido, mas após resultados ruins, o técnico foi demitido depois de catorze jogos sob o comando do clube. Paulo César Carpegiani assumiu a equipe, mas o objetivo de conquistar a vaga na Libertadores 2011 não foi alcançado, o time ficou apenas em nono lugar no Campeonato Brasileiro e o comando da equipe foi trocado no final da temporada de 2011. Emerson Leão assumiu o comando, mas após as eliminações no Campeonato Paulista e na Copa do Brasil, 34

também foi demitido. assumiu o cargo, conquistando a vaga da Libertadores e o título inédito da Copa Sul-americana no final de 2012.19

3.2 O clube em 2013

O ano de 2013 se iniciou com as disputas do Campeonato Paulista e da Pré- Libertadores, competição que antecede a primeira fase da Copa Bridgestone Libertadores. No Campeonato Paulista, o clube fechou a primeira fase em primeiro lugar, mas foi eliminado nas quartas-de-finais pelo rival Corinthians. A campanha na Pré-Libertatores foi melhor, garantindo ao clube o acesso à fase de grupos da competição. Já na fase de grupos, o São Paulo voltou a apresentar maus resultados. Sem conquistar vitórias em jogos disputados fora do Morumbi, o clube precisou de uma combinação de resultados – uma vitória contra o Atlético Mineiro no Morumbi e derrota do The Stongest, time argentino – para seguir na competição.

Seguindo na competição, o São Paulo enfrentou novamente o Atlético Mineiro, agora pelas oitavas-de-final, sendo derrotado nos dois jogos disputados nessa fase. Na primeira partida, disputada no Morumbi, o time foi derrotado pelo placar de 2 a 1. Na segunda partida, disputada no Estádio Independência, o São Paulo sofreu uma goleada, perdendo de 4 a 1 e sendo eliminado da competição. A má campanha e a eliminação do time acarretaram no afastamento de sete jogadores que compunham a equipe reserva do São Paulo. A decisão de afastar os jogadores, divulgada na mídia através de uma lista com os nomes dos afastados, foi contestada, tanto pela imprensa como pela torcida20.

As principais críticas foram direcionadas à diretoria do clube e à escolha dos jogadores, já que grande parte dos jogadores escolhidos pouco participou ou sequer participou de jogos pelo clube, inclusive dos jogos que acarretaram a eliminação e, anteriormente, a fraca campanha na Libertadores. O contra-argumento utilizado pela diretoria para explicar o afastamento foi de que os jogadores pouco se esforçaram nos treinos, não conquistando, portanto, as vagas do time titular.

19 Ver referências bibliográficas. 20. Matéria escrita por um torcedor, no blog Canelada. Disponível em . Acesso em 05 de set. de 2013. 35

Figura 8: Matéria escrita pelo Neto, comentarista da Band

Fonte: Blog do Neto21, 2013.

A eliminação também fez com que a diretoria do São Paulo entrasse em atrito com o jogador Luís Fabiano, sendo contestado por suas lesões e por seu temperamento em campo, que acarretava em diversas suspensões, o deixando fora de partidas importantes. Neste período, a diretoria chegou a cogitar a venda do jogador, principal atacante do elenco. A torcida contestou essa decisão, pedindo pela permanência do jogador através das redes sociais. Depois de algumas reuniões com a diretoria, o próprio jogador chegou a anunciar, também pelas redes sociais, que continuaria no clube.

No Campeonato Brasileiro, apesar do bom início, vencendo os dois jogos iniciais, um deles por 5 a 1 contra o Vasco, o São Paulo não fez uma boa campanha. Antes da pausa, ocorrida para a disputa da Copa das Confederações, o time acumulou maus resultados. A torcida, que já cobrava o técnico desde a eliminação na Copa Libertadores, pediu a troca de comando durante a pausa, porém o técnico Ney Franco foi mantido no cargo.

Com o final da Copa das Confederações, o São Paulo teria, de imediato, duas competições pela frente – o Campeonato Brasileiro, que voltava após a pausa, e a Recopa Sul- Americana, disputa entre o campeão da Libertadores de 2012 e o campeão da Sul-Americana do mesmo ano. O clube havia se credenciado para a disputa da Recopa após o título da Sul-

21 Captura de imagem. Matéria disponível em . Acesso em 05 de set. de 2013. 36

Americana e, enfrentaria o rival Corinthians, campeão da Libertadores. Com derrotas no Brasileiro e a derrota no primeiro jogo disputado pela Recopa, o comando do clube foi trocado. Apesar dos pedidos por Muricy, que já havia treinado o clube, o técnico escolhido pela direção foi Paulo Autuori, que havia comandado o São Paulo em 2005, conquistando os títulos da Libertadores e do Mundial de Clubes. Apesar da troca de comando, o time não conquistou a Recopa. E com mais uma derrota, somou durante esse período a pior sequência de toda sua história - foram oito derrotas consecutivas, sendo duas na Recopa e seis no Campeonato Brasileiro, e onze jogos sem vencer. Durante esse período mais um jogador foi afastado do time, o zagueiro Lúcio, que apesar da experiência, acumulava fracas atuações e problemas disciplinares.

Na excursão, planejada desde o início do ano, que contava com a participação em três competições internacionais – Copa Audi, na Alemanha, Copa Eusébio, em , e a Copa Suruga, no Japão – o time também não deve boas atuações, ampliando a sequência sem vitórias para catorze jogos, quebrando o jejum na Copa Eusébio, vencendo o Benfica por 2 a 0. Na Copa Suruga, competição que fechava a excursão, uma nova derrota e mais um título perdido.

Com o retorno do elenco ao Brasil, o time voltou a disputar o Campeonato Brasileiro, os resultados conquistados por Paulo Autuori não foram suficientes para tirar o São Paulo da zona do rebaixamento, onde permaneceu por doze rodadas. E após dois meses de trabalho, o comando de técnico foi substituído pelo comando de Muricy Ramalho, que já havia sido pedido pela torcida anteriormente.

O mau momento do clube, não ficou apenas restrito ao campo. Na véspera das eleições para a escolha do novo presidente do clube – marcadas para abril de 2014 – o São Paulo também convive com uma conturbada situação política e administrativa. No dia 20 de julho, em um dos jogos válidos pelo Campeonato Brasileiro, a torcida havia marcado um protesto que seria realizado antes do jogo, tendo como foco principal a atual diretoria do clube. Porém, o protesto que havia sido organizado por torcedores comuns, ou seja, aqueles que não participam de torcidas organizadas, foi impedido por membros das organizadas, que em maior número, vetaram as críticas ao presidente Juvenal Juvêncio e direcionaram o protesto aos jogadores.

No dia seguinte, em um churrasco na sede social do clube, membros da Torcida Independente, uma das organizadas do São Paulo, foram acusados de agredirem sócios que 37

apoiavam a oposição – neste churrasco, os opositores vestiam camisas pretas, em forma de protesto contra a diretoria do clube. Houve também uma discussão entre um dos opositores e o próprio Juvenal Juvêncio, divulgada em um vídeo pela internet. Na segunda-feira, dia 22 de julho, os sócio-torcedores do clube receberam uma nota da Torcida Independente que esclarecia o ocorrido e fazia críticas ao candidato de oposição, Marco Aurélio Cunha, através do e-mail oficial do programa sócio-torcedor, o que fez com que muitos sócio-torcedores cancelassem o programa. De acordo com o “Movimento Por Um Futebol Melhor”, programa que contabiliza o número de sócio-torcedores dos clubes, em 20 dias, o São Paulo perdeu cerca de dois mil adeptos ao programa sócio-torcedor do clube22.

Os bastidores do São Paulo também tiveram momentos conturbados no primeiro semestre de 2013. A saída do técnico Ney Franco e as consequentes críticas feitas pelo goleiro Rogério Ceni, não foram bem recebidas pelo ex-treinador, que rebatou fazendo fortes críticas ao goleiro. Adalberto Baptista, na época diretor de futebol do time, também criticou o goleiro, e ídolo do clube. As críticas feitas pelo diretor não foram bem recebidas pela diretoria e pela torcida. Adalberto, pressionado, se demitiu do cargo.

A briga política também fez com que os bastidores do clube ganhassem destaque na mídia. Júlio Casares, vice-diretor de marketing do São Paulo, fez críticas ao candidato de oposição, Marco Aurélio Cunha, e chegou a discutir com o mesmo em um programa de televisão – nesta ocasião Marco Aurélio Cunha estava presente no programa e Júlio Casares participou pelo telefone.

A situação política do São Paulo não é complicada apenas internamente, a relação com outros clubes brasileiros também é conturbada. Dirigentes das categorias de base de alguns dos principais clubes brasileiros - dentre eles Botafogo, Flamengo, Fluminense, Vasco, Atlético-MG, Cruzeiro, Goiás, Sport e Vitória – chegaram a se unir e organizar um boicote ao São Paulo, sob a acusação de que o clube teria aliciado jogadores da base de outros clubes. A intenção do boicote era cancelar a participação na Copa São Paulo de Juniores, caso o clube confirmasse sua participação. A decisão, porém, foi adiada após o posicionamento do clube, que se comprometeu a estudar as acusações feitas pelos outros clubes.

O São Paulo foi, durante grande parte da sua história, reconhecido como um exemplo de modelo administrativo a ser seguido, com uma ótima estrutura esportiva – possuindo o

22 Dados retirados de matéria publicada no site brasileiro da ESPN, no dia 23 de julho de 2013. http://www.espn.com.br/noticia/344152_afundado-na-crise-sao-paulo-perde-quase-2-mil-socios-em-20-dias 38

Estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Centro de Treinamento de Barra Funda, o Centro de Formação de Atletas Laudo Natel, conhecido como Cotia, por causa da região em que localiza e o Núcleo de Reabilitação Esportiva Fisioterápica e Fisiologica, o Reffis. Porém, durante os últimos anos, o time não vem conseguindo bons resultados. A administração, antes modelo de eficiência, vem sido criticada pelas atitudes tomadas, como a demissão de importantes profissionais da equipe técnica e médica do clube e pelo endividamento contraído e ampliado nos últimos anos. Rocco (2013) considera a gestão do clube como a principal culpada pela fase vivida atualmente:

Práticas ditatoriais, apego ao poder, negociatas com jogadores, aproximação com empresários unicamente interessados em faturar, vaidades e um descaso com as “coisas” do clube, colocaram o Tricolor na pior crise esportiva e administrativa da sua longa história. (...)

O “exemplar” modelo de gestão Tricolor não cumpre, então, os preceitos básicos que caracterizam uma boa administração. O avanço no resultado econômico, com o aumento da receita, não gerou reflexos na melhoria do resultado financeiro (o endividamento aumentou), tampouco trouxe títulos para o Morumbi (ROCCO, 2013)

Nesse contexto, a torcida que já demonstrava sua participação nos estádios, através de cantos e gritos relacionados ao time, da exaltação do clube ou jogadores através de bandeiras, ou das manifestações de protesto, tem seu espaço de discussão ampliado na internet. A facilidade e a rapidez na divulgação de informações, o encurtamento de distâncias, que permite o encontro de inúmeros torcedores sem a necessidade de um espaço físico, são uma das características que impulsionam as discussões nos ambientes digitais, ampliando, portanto, o espaço de discussão e participação da torcida.

39

4. O fandom são-paulino nas redes sociais

Como apresentado no capítulo anterior, a crise vivida pelo São Paulo em 2013 envolve um momento político complicado, impulsionado pela proximidade das eleições para a presidência do clube, marcadas para abril de 2014, péssimos resultados conquistados nas primeiras competições disputadas no ano e um ambiente administrativo conturbado, marcado por episódios de atrito entre jogadores e comissão técnica, e atritos entre diretores do clube e jogadores.

Durante esse período, foi observada a atividade dos torcedores são-paulinos nas redes sociais, partindo principalmente da observação dos Trending Topics no Twitter e de seus desdobramentos no Facebook e Youtube – buscados por meio da observação das tags que figuraram entre os assuntos mais comentados no site. Notou-se, que nesse período a torcida demonstrou seu descontentamento com a situação vivida pelo clube e seu apoio tanto aos jogadores quanto ao time em geral. Alguns protestos chegaram a extrapolar os ambientes digitais, acontecendo também nos estádios e fora deles. As campanhas de apoio, também não se restringiram a esses ambientes. Uma delas incentivava a presença da torcida nas partidas disputadas pelo time em seu estádio, gerando resultado tanto no aumento da presença de torcedores quanto no próprio clube, que em resposta reduziu dos ingressos.

O desenvolvimento dessas ações e a visibilidade que tiveram só foram possíveis graças ao esforço coletivo dos torcedores – participando de discussões, desenvolvendo e divulgando ações relacionadas ao clube e ao momento vivido por ele. Neste sentido, pode-se afirmar que para que esse esforço se tornasse coletivo ele precisou se desenvolver entre pessoas que tivessem objetivos, valores e interesses em comum. Portanto, nota-se que as ações dos torcedores foram motivadas e desenvolvidas dentro de uma comunidade, que partilhava o amor pelo clube e também às preocupações relacionadas ao momento vivido pelo São Paulo.

4.1 O fandom são-paulino

O fandom é o termo utilizado para se designar comunidades de fãs, visíveis principalmente na internet. O senso de comunidade encontrado no fandom vem da união de indivíduos que compartilham o mesmo interesse e que valorizam a reunião, a discussão, o compartilhamento de conhecimentos e experiências (ESTEVÃO, 2011). Esse tipo de 40

comportamento também pode ser observado nos fãs de futebol, no caso desta pesquisa, especificamente nos torcedores são-paulinos.

A comunidade são-paulina surge da união de indivíduos que compartilham a paixão pelo clube – os torcedores. Como sabemos, a internet facilita o encontro de indivíduos com mesmos interesses e valores. Portanto, munidos das tecnologias que facilitam essa reunião e encontro, os torcedores reúnem-se, também, em ambientes digitais – não apenas nos estádios, bares ou em rodas de amigos.

Porém, não basta que os indivíduos compartilhem interesses para que se desenvolva uma comunidade fã. Existe nessas comunidades uma forma de atividade comum aos indivíduos participantes. Recorrendo ao que foi afirmado anteriormente, notamos que os fãs constituintes dessas comunidades valorizam a reunião, a discussão e o compartilhamento de ideias e de experiências.

No caso são-paulino, a experiência compartilhada relaciona-se diretamente ao clube. Partidas disputadas, vindas de jogadores, trocas de técnico, destaques negativos ou positivos do time, entre outras coisas, direcionam o que é discutido, o que é planejado e também a forma como esses acontecimentos são entendidos e recebidos pela torcida. Em redes sociais como Facebook e Twitter, por exemplo, observam-se manifestações de comemoração em vitórias, de descontentamento em derrotas, de apoio ou simplesmente demonstrações de paixão ao clube.

A experiência compartilhada durante a disputa de títulos pode desenvolver-se nos ambientes digitais de diversas maneiras. Nesses momentos é comum que a experiência do torcedor seja compartilhada antes – com conteúdos que demonstrem apoio, amor ao clube -, durante – com comentários sobre a disputa, demonstrações de apoio, reclamações, entre outros – e depois – também com comentários, demonstração de apoio ou indignação (que costumam depender do resultado conquistado), entre outros. Percebe-se, portanto, que as experiências vividas pelos torcedores também os unem e motivam a interação, discussão e criação de conteúdos, campanhas, ações, etc.

Nota-se que grande parte da definição do fandom é apontada pelas características dos participantes que constituem a comunidade de fãs. É a participação dos fãs que molda o fandom e que o define como tal. Partindo disso, torna-se importante definir o perfil do torcedor são-paulino que participa dessas comunidades. Como apontado por Hunt, Bristol e 41

Barshal (1999), existem diferenças entre os níveis de torcedores e seu envolvimento com o clube. De acordo com a pesquisa desenvolvida pelos autores, os fãs de futebol são divididos em quatro categorias, que levam em conta não só o envolvimento com os times, mas também variáveis geográficas e temporais.

As categorias apontadas pela pesquisa de Hunt, Bristol e Barshalw (1999) dividem os fãs em fãs geográficos e temporários, fãs devotos, fãs fanáticos e fãs disfuncionais. A categoria de fãs fanáticos é a que representa os torcedores com o comportamento mais semelhante aos indivíduos que fazem parte de comunidades de fãs. De acordo com Hunt, Bristol e Barshal (1999), os fãs dessa categoria tem um forte engajamento com seus clubes, participam de discussões, acompanham notícias e vão aos jogos, além de consumirem produtos licenciados e relacionados ao clube.

No caso da torcida são-paulina, foi observado um forte engajamento e discussão de temas relacionados ao clube, motivado principalmente pelo momento conturbado vivido pelo São Paulo. Como observamos na própria definição de fandom, os indivíduos que formam essas comunidades valorizam a discussão, a troca de conteúdos e conhecimentos entre os membros, tendo, portanto um forte engajamento com seus objetos de fandom. Características que observamos também na categoria de fãs fanáticos, proposta por Hunt, Bristol e Barshal (1999). É importante destacar que, os fãs devotos, também possuem um grande envolvimento com o clube e, assim como os fãs fanáticos, esse envolvimento não possui limitações. Porém, apesar do grau de envolvimento, essa categoria não possui um engajamento forte com o clube, distanciando-se, portanto, da prática dos membros de comunidades de fãs.

Uma característica importante do fandom apontada por Jenkins (2006b) é de que são comunidades caracterizadas por um sentimento de solidariedade e camaradagem. No caso são-paulino, percebemos um esforço em se desenvolver e divulgar ações relacionadas ao clube, tanto para apoiar quanto para criticar. Neste sentido, a solidariedade desenvolveu-se não apenas entre os membros, mas em um esforço coletivo em prol do São Paulo. Na situação da crise, que colocava o objeto do fandom em risco, o fã ativismo do torcedor ganhou força. Mas esse desenvolvimento só foi possível graças à outra característica importante presente nas comunidades dos fãs – a força das conexões presentes entre os membros.

De acordo com Recuero (2009), as conexões presentes nas comunidades de fãs são construídas através de laços sociais, que são formados a partir da interação entre os indivíduos. A interação entre os torcedores são-paulinos se deu, em primeira instância, 42

ancorada nas próprias características de dois, dos três ambientes observados – Twitter e Facebook. Como redes sociais, a lógica desses ambientes por si só prioriza a interação através de trocas de mensagens, conteúdos ou participação de discussões. Porém, podemos apreender que em uma interação mais direcionada – como o ativismo dos torcedores são-paulinos – as características dos ambientes foram aliadas à própria vontade do torcedor de participar, discutir, interagir e se reunir. Como foi observado no caso dos protestos marcados através do Facebook em que tanto os usuários, como os criadores do evento, convidaram mais e mais participantes, demonstrando não só a participação dos torcedores, mas também, como a interação entre eles foi importante para que o protesto se espalhasse e se tornasse visível para mais usuários.

Como podemos notar a interação entre os torcedores foi crucial para que a comunidade são-paulina se tornasse cada vez maior e, também, para que os conteúdos discutidos e criados se tornassem mais visíveis, não só entre a comunidade, mas também entre todo o ambiente – como o caso dos Trending Topics alcançados. As conexões entre os usuários, oriundas da interação e suas relações nas redes também foram importantes, já que tornaram possíveis o desenvolvimento de ações como a tag #TodosAoMorumbi. A tag criada por um torcedor passou a ser replicada e utilizada pelos membros que faziam parte de sua rede (seus seguidores) e, a partir daí, outros usuários que faziam parte das redes dos que haviam replicado a tag, passaram a utilizá-la também, fazendo com que a tag fosse um dos assuntos mais comentados no site23. Além disso, a tag também gerou uma resposta do próprio clube, que apoiando a iniciativa de convocar os torcedores a comparecerem aos jogos, abaixou o preço dos ingressos criando a campanha #3cores1sóTorcida.

O ambiente em que essa participação se desenvolve, não apenas facilita a interação24 – seja por de discussões ou mesmo compartilhamentos, replicações e criação de conteúdos –, como também delineia a forma pela qual as interações se desenvolvem e o formato dos produtos replicados, compartilhados e criados. A observação do fandom são paulino foi voltada para sua participação nas três principais redes sociais utilizadas no Brasil – Facebook, Twitter e Youtube – e, as especificidades de cada uma dessas redes moldaram as formas de interação entre os torcedores.

23 A Tag #TodosAoMorumbi alcançou os Trending Topics na noite de 18 de agosto, por volta das 20h 30 minutos. 24 Segundo Primo (1995), a interação é uma “ação entre”, na qual o foco é voltado para a relação estabelecida entre os próprios interagentes. 43

É importante destacar que, apesar de ser reconhecido como uma rede social, o Youtube possui uma lógica distinta às demais observadas, sendo utilizado principalmente como plataforma para a hospedagem de conteúdos audiovisuais. Apesar de permitir a criação de perfis de usuários, do acompanhamento de canais e conteúdos específicos, o Youtube foi utilizado, pela torcida são-paulina, como um complemento ao que vinha sido desenvolvido, não gerando discussões significativas no ambiente observado, mas sim nos ambientes em que os conteúdos hospedados nele eram divulgados. Além de vídeos que continham os melhores momentos dos jogos disputados pelo time, bastante divulgados e presentes nas redes sociais, vídeos que relatavam as disputas políticas no clube também foram divulgados e discutidos pela torcida. Além do vídeo da confusão na sede social do clube – que relatava a discussão entre membros da oposição e presidente Juvenal Juvêncio e seus apoiadores – o vídeo25, recuperado de uma transmissão da TV Gazeta26, também gerou discussão entre a torcida. Esse vídeo continha uma discussão, ocorrida ao vivo em um programa esportivo, entre Júlio Casares, apoiador da situação e vice-presidente de marketing do clube, e Marco Aurélio Cunha, um dos principais articuladores da oposição são-paulina.

Figura 9 – Postagem na fanpage Movimento Fora Juvenal Juvêncio

Fonte: Facebook27, 2013. Esse percurso e fluidez dos conteúdos entre as redes sociais foram possíveis porque existe uma lógica de compartilhamento entre as redes. Essa lógica está presente tanto nas próprias interfaces – como o Youtube, que permite o compartilhamento do vídeo em diversas

25 Vídeo da discussão entre Júlio Casares e Marco Aurélio Cunha. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=YsqkkoiBL1c&sns=tw. Acesso em 19 de novembro de 2013. 26 Rede de televisão brasileira, fundada em 1970. 27 Captura de imagem. Postagem disponível em . Acesso em 05 de set. de 2013. 44

redes sociais – quanto na própria mente dos usuários. É comum que, ao gostar ou achar interessante um vídeo, notícia ou outro conteúdo, o usuário o compartilhe em suas redes sociais, divulgando-o para os outros usuários que formam sua “rede”. É uma lógica que parte do próprio usuário – lógica que permitiu a interligação entre redes que não são interligadas pela interface, como o Twitter o Facebook.

4.2 A inteligência coletiva no fandom são-paulino

Como foi observado, um dos principais movimentos do fandom são-paulino foi a discussão dos acontecimentos relacionados ao clube. Novos conteúdos eram gerados, a partir do que era discutido entre os torcedores – tanto nos próprios ambientes em que ocorria a discussão, quanto em outros ambientes também apropriados pelos torcedores. Nesse sentido, notamos o movimento da torcida na troca de opiniões e conhecimentos relacionados a um objetivo – um exemplo é o caso da criação da tag #crisenosaopaulo e o site com a contagem regressiva para o rebaixamento do clube. Ao ser divulgado no Twitter, o site e a tag passaram a ser replicados pelos rivais e, também, discutidos entre os torcedores são-paulinos.

Uma das primeiras atitudes tomadas pelos torcedores foi descobrir quem havia criado o site, já que isso não estava especificado na página. Com a descoberta do criador, seus dados passaram a ser replicados entre diversos usuários são-paulinos. À medida em que a discussão fluía, mais dados eram descobertos – um deles, inclusive, apontava que o criador do site era torcedor do Palmeiras, um dos clubes rivais do São Paulo.

Essa troca de informações, conhecimentos e opiniões é uma atividade presente no fandom. E é disso que se trata a inteligência coletiva, esse movimento de construção de conhecimento, através da troca de informações e conhecimento pelos próprios indivíduos. Não se trata de um conhecimento consolidado, mas sim do processo de aquisição de conhecimento que, segundo Jenkins (2009), é dinâmico, participativo e reafirma os laços sociais do grupo social. No caso do fandom do São Paulo, notamos a importância da discussão entre os membros – na medida em que participaram, discutiram e se envolveram com os acontecimentos do clube, não só novos conteúdos surgiram, mas também se tornaram visíveis nos ambientes em que eram divulgados.

Esse movimento de construção de conhecimento, discussão de opiniões, tornou o fandom são-paulino forte. A participação dos torcedores, principalmente na discussão de assuntos relacionados ao time, gerou conteúdos que influenciaram não só a torcida, mas 45

também o próprio clube – que em resposta, criou também conteúdos baseados nas demandas dos torcedores, como ingressos mais baratos, hashtags e produtos relacionados ao que era discutido. Foi perceptível, portanto, uma troca de informações e conhecimento, não só entre a torcida, mas também entre o clube e a torcida – que observava o que era discutido e produzia, quase numa dinâmica de participação com a torcida, conteúdos desejados pelos torcedores.

Um movimento também interessante, entre o clube a torcida, foi a criação de um aplicativo que personalizava os avatares28 – tanto do Facebook quanto do Twitter – em apoio a campanha #3cores1sóTorcida – fazendo com que, o apoio ao clube, e a adesão à campanha, inicialmente criada pela torcida, fosse demonstrada visualmente – tanto pelo perfil dos torcedores, como pelo perfil oficial do clube.

4.3 Redes sociais como plataformas de participação da torcida

Existem situações que motivam as discussões e geram uma participação mais ativista dos torcedores. O mau momento vivido pelo São Paulo impulsionou não só a discussão, mas também a organização de ações e a produção de conteúdos que representavam a insatisfação da torcida e que demonstravam seu apoio ao clube. A cobertura feita pela imprensa, que divulgou a situação tanto política e administrativa quanto esportiva, e a transmissão das partidas também impulsionaram essas ações. Esse comportamento participativo configura o que é entendido como cultura participativa, já que os torcedores também passam a produzir seus próprios conteúdos e a divulgá-los.

Como Jenkins (2009) afirma, a internet facilita a visibilidade desses conteúdos alternativos, neste caso, dos conteúdos produzidos pelos torcedores. Nesse contexto de crise, as redes sociais se tornaram importantes plataformas, não apenas para a hospedagem dos conteúdos criados pelos torcedores, mas também para a divulgação e ampliação do espaço de discussão da torcida. As estruturas desses ambientes e sua abrangência permitem que esse tipo de atividade se desenvolva nesses locais. Uma característica importante a ser destacada é que estes ambientes permitem um contato “mais direto” com outros usuários, além de darem a liberdade, na maioria dos casos, aos próprios usuários a escolherem quem e o que fará parte de suas “redes”.

De acordo com Marteleto (2001, p. 72), as redes sociais “representam um conjunto de participantes autônomos reunindo ideias e recursos em torno de valores compartilhados”

28 Aplicativo para o Twitter. Disponível em: http://twibbon.com/support/eu-vou-com-f%C3%A9/twitter 46

(MARTELETO apud TOMAÉL; ALCARÁ; CHIARA 2005). É neste sentido, apontado pela autora, que se desenvolve a participação dos torcedores. Eles são os participantes que reúnem ideias e recursos em torno do valor compartilhado, que neste caso, é o clube. Os conteúdos e ações produzidas pela torcida desenvolveram-se principalmente no Facebook, Youtube e Twitter, que, segundo pesquisa feita em 2012 pelo CNT/MDA, são as redes sociais mais utilizadas no país. Mais do que a popularidade, as características das interfaces desses sites permitiram o desenvolvimento desse tipo de atividade nesses ambientes.

O Twitter possui uma interface que prioriza conteúdos textuais curtos, o que possibilita a discussão, a troca e o acompanhamento de informações. Ao seguir, bloquear ou deixar de seguir algum perfil o usuário constrói sua própria rede de acordo com os seus interesses, ou seja, uma característica do Twitter é a possibilidade de se segmentar os assuntos a serem acompanhados de acordo com os perfis escolhidos para seguir. Outra forma de segmentar os assuntos é através da utilização de tags, com elas o usuário pode acompanhar o que tem sido falado sobre determinado assunto e emitir a sua opinião. Além disso, o usuário também é capaz de observar quais são os temas mais falados naquele momento através dos Trending Topics, podendo também participar da discussão usando alguma das tags representadas nessa seção do site ou também criar suas próprias tags e, a partir delas, gerar discussões – o que dependerá da participação de outros usuários.

Já o Youtube prioriza os conteúdos audiovisuais, permitindo que a discussão se desenvolva no espaço dedicado aos comentários. Assim como o Twitter, o Youtube permite uma segmentação de acordo com as preferências do usuário, que pode pesquisar os conteúdos através de palavras-chave ou através o título do conteúdo buscado, e se inscrever em canais específicos, recebendo, assim, as atualizações feitas naqueles canais. Um importante aspecto do Youtube, observado na pesquisa, é o seu papel como plataforma de hospedagem de vídeos. O conteúdo do site foi utilizado como complemento a argumentos discutidos pela torcida ou, em alguns casos, como o motivo para a discussão – como foi observado na divulgação do vídeo da confusão ocorrida em um churrasco na sede social do clube29.

O Facebook, por outro lado, permite a hospedagem de conteúdos visuais, audiovisuais e textuais. Além disso, é possível criar tanto perfis pessoais quanto fanpages. A segmentação, assim como acontece no Twitter e no Youtube, também está presente no Facebook. Neste

29 Vídeo da confusão na sede social do clube. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=qSqOoZSLxW0. Acesso em 17 de setembro de 2013. 47

caso, ela ocorre de duas formas: o usuário acompanha as publicações dos usuários que fazem parte da sua rede, àqueles que foram adicionados à lista de amigos ou os perfis assinados, e as publicações das fanpages que o usuário curtiu – ao curtir uma página o usuário passa a receber as atualizações dela.

As características presentes nas interfaces das redes sociais observadas foram importantes na definição de como os conteúdos feitos pelos torcedores se desenvolveram nesses ambientes, além disso, as possibilidades de segmentação presentes nos três sites propiciaram o encontro entre os torcedores, seja comentando em páginas do Facebook ou organizando protestos, seja em uma discussão no Twitter ou assistindo e comentando o vídeo e divulgando-o para outros usuários. Além disso, pode ser observado que essas redes se complementaram, fazendo com que os conteúdos, mesmo não prioritários daquele ambiente circulassem por eles.

Em algum desses casos essa interligação foi permitida pela própria interface. Como o Youtube, que permite que o vídeo seja compartilhado em diversas plataformas, desde blogs a redes sociais – fator que reforçou o seu uso como um complemento ou motivo para a discussão, ampliando-a para os ambientes em que era compartilhada. Por outro lado, a interligação entre o Twitter e o Facebook foi mais complementar e partiu dos próprios usuários, neste caso, os resultados das discussões desenvolvidas no Twitter geravam conteúdos que passavam a ser divulgados no Facebook. As interfaces de cada ambiente e sua apropriação pelos torcedores permitiu que o uso do Twitter, Facebook e Youtube se configurasse dessa maneira.

Figura 10 – Tag #ForaJuvenal entre os assuntos mais comentados no Twitter

Fonte: Dados da pesquisa. Os protestos contra a presidência do clube, por exemplo, desenvolveram-se no Twitter através de uma tag usada e criada pelos torcedores, já no Facebook eles se desenvolveram 48

através da criação de fanpages e da organização de protestos que aconteceriam fora dos ambientes virtuais. Conteúdos divulgados no Youtube, também complementavam essas ações, tanto no Facebook como no Twitter. Em algum dos casos, como já citado, os conteúdos se tornavam pauta das discussões nas outras redes sociais.

Figura 11 – Fanpage do Movimento Fora Juvenal Juvêncio

Fonte: Facebook30, 2013. Como podemos perceber, os ambientes propiciaram não só o desenvolvimento dos conteúdos, mas também a complementação e união das redes sociais para que esses conteúdos circulassem e tivessem maior alcance, aumentando assim o volume de participação e de discussão entre os torcedores. Na medida em que os conteúdos eram compartilhados e passavam a circular por mais ambientes, eles tomavam proporções maiores, sendo, em alguns casos, pauta também da mídia esportiva brasileira.

A confusão na sede social é um exemplo. Filmado por uma das pessoas presentes no churrasco, o vídeo que continha uma discussão entre oposição e situação – incluindo o próprio presidente do clube, Juvenal Juvêncio – foi postado na internet. Já nesse ambiente, passou a ser compartilhado e replicado, alcançando cada vez mais usuários e gerando discussão entre a torcida. Por se tratar de um tema delicado e também, por ter acontecido em um momento complicado do clube – que na época ainda acumulava derrotas nos campeonatos disputados – o vídeo, já replicado entre os torcedores, virou pauta dos principais portais esportivos e

30 Captura de imagem. Fanpage disponível em Acesso em 24 de nov. de 2013. 49

programas de televisão dedicados ao esporte. O vídeo legendado31, exibido em uma matéria no programa Jogo Aberto, da Band, também foi hospedado por torcedores no Twitter e replicado nas redes sociais, alcançando ainda mais usuários.

Figura 12 – Vídeo com fatos e números sobre a gestão do clube

Fonte: elaborado pela autora32.

Nota-se que os ambientes observados tornaram-se plataforma para o desenvolvimento da atividade dos torcedores e que as características presentes em cada uma das redes sociais observadas facilitaram não apenas o desenvolvimento e divulgação dos conteúdos, mas também nortearam o formato dos conteúdos e a forma como foram utilizadas.

31 Vídeo exibido no Jogo Aberto, programa esportivo da Band. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xQvTf_QTV1w 32 Captura de imagem. Vídeo disponível em Acesso em 24 de nov. de 2013. 50

5. O fã ativismo são-paulino

Como foi abordado, de acordo com Jenkins (2012), o fã ativismo se refere às formas de engajamento que emergem de dentro da própria cultura fã em resposta a interesses compartilhados pelos fãs. Além disso, o autor aponta que a própria infraestrutura presente nas práticas e relações dos fãs é utilizada por eles nessas atividades. A participação dos são paulinos se desenvolveu nesse sentido. O ativismo dos torcedores surgiu em resposta ao momento vivido pelo clube e teve como principais plataformas o Twitter, o Facebook e o Youtube.

Como Jenkins (2012) aponta, os fãs utilizam estruturas já presentes em suas práticas e relações. O Twitter, por exemplo, é um ambiente de comum discussão sobre futebol, como aponta a pesquisa feita em 2012, pela consultoria E.Life33. O esporte é segundo assunto que mais influencia o que chega aos Trending Topics, sendo o futebol responsável por mais de 40% dos assuntos relacionados à categoria Esporte. É importante destacar, que a pesquisa foi feita em 2012, em um período em que as Olimpíadas também eram comentadas nas redes sociais, mas mesmo assim, o futebol se manteve à frente, sendo o assunto mais comentado de sua categoria.

Como observado, o futebol já é um assunto de comum discussão em redes sociais, aliado a isso, o momento conturbado vivido pelo São Paulo impulsionou ainda mais a discussão e participação da torcida nas redes sociais. Durante o período de observação, notou- se uma forte ligação entre que era divulgado na imprensa e os assuntos que eram discutidos pelos torcedores pelo Twitter e seus desdobramentos em outras redes sociais.

Tornou-se evidente, portanto, não só o engajamento da torcida, em acompanhar as notícias e discuti-las, mas também o caráter midiático do futebol, que possui uma enorme divulgação e presença na mídia brasileira, tanto na transmissão de partidas, como na transmissão de programas que discutam e noticiem os acontecimentos relacionados ao esporte. Esse caráter midiático reforça, também, a compreensão de parte da torcida como um fandom, já sua atividade é relacionada ao que é transmitido e divulgado sobre o São Paulo.

5.1 Aspectos Metodológicos

A atividade comunicacional dos torcedores são-paulinos foi observada a partir do Twitter e seus desdobramentos no Facebook e Youtube. O Twitter foi escolhido por permitir a

33 Pesquisa disponível em: http://www.slideshare.net/Elife2009/estudo-elife-trending-topics-3-trimestre2012 51

visualização dos assuntos mais comentados durante todo o dia, facilitando não só a coleta de dados, mas também a observação e a mensuração da atividade da torcida, visto que os temas mais discutidos e citados figuram em uma seção especial do site – os Trending Topics. Os desdobramentos no Facebook e Youtube foram observados através do próprio Twitter, já que, apresentados em conteúdos audiovisuais, textuais ou na organização de campanhas e eventos, eram divulgados e discutidos no próprio site.

A observação ocorreu entre 10 de julho de 2013 e 8 de novembro de 2013. Durante esse período, foram anotados os Trending Topics do Brasil referentes ao São Paulo, desde jogadores à comissão técnica e administrativa do time, em diferentes horas do dia. Além disso, a observação também buscou, através da leitura e acompanhamento das discussões, os desdobramentos significantes que tais discussões poderiam ter em outras redes sociais – como a tag #ForaJuvenal e a organização do protesto através do Facebook.

Após o término da observação foi construída uma linha do tempo que buscava relacionar o que havia ocorrido com o clube com as hashtags encontradas nos Trending Topics brasileiros. Para a análise dos dados coletados, os Trending Topics foram divididos em nove categorias que separavam os temas de acordo com seus objetivos e conteúdos. A categoria Incentivo, uniu os Trending Topics que representavam o apoio da torcida ao time. Na categoria Jogadores, como o próprio nome sugere, foram relacionados os Trending Topics que continham o nome de jogadores do time. A categoria Técnicos e ex-técnicos reuniu os assuntos que se referiam aos comandantes e ex-comandantes do time. A categoria Placares de Jogo reuniu Trending Topics que consistiam no placar literal do jogo, como por exemplo, São Paulo 2 x 1 Fluminense. A categoria Time reuniu os Trending Topics que falavam do clube em geral, representados pela sigla SPFC, entre outros. A categoria Rivais reuniu Trending Topics relacionados aos rivais, sejam criados por eles para zombar do clube ou criados pelos próprios torcedores são-paulinos para zombar de seus rivais. A categoria Homenagem reuniu assuntos que tinham como objetivo homenagear jogadores ou técnicos. A categoria Estádio reuniu os Trending Topics que continham os nomes dos estádios em que o São Paulo disputava as partidas. A categoria Diretoria reuniu os assuntos relacionados à diretoria do clube. E por fim, a categoria Disputas/Campeonatos reuniu Trending Topics relacionados às disputas e campeonatos os quais o São Paulo participou. A mensuração desses assuntos foi feita a partir da observação e separação dos Trending Topics apresentados nos dias observados. 52

Uma nuvem de tags também foi criada, a partir de todas as palavras-chave e hashtags observadas. Além disso, foram produzidos também outros dois gráficos, relacionados aos dias em que o São Paulo ou termos relacionados alcançaram os Trending Topics – o primeiro dividia os dias em dias em que o São Paulo disputava alguma partida e alcançou os Trending Topics e os dias em que não havia partidas, mas os Trending Topics também foram alcançados. A observação da ocorrência de Trending Topics relacionados aos jogos disputados em dias anteriores ou seguintes às disputas motivou a criação de um segundo gráfico, que mensurava as ocorrências nas vésperas e nos dias seguintes aos jogos – que geralmente ocorriam de madrugada.

A análise da frequência das tags utilizadas pelos torcedores foi feita através do site topsy.com34, que permite a mensuração dos tweets que contém determinada hashtag, a mensuração do tweet mais influente – em número de replicações – e também a análise da frequência da hashtag pesquisada. Os gráficos foram produzidos através do site infogr.am35.

5.2 A atividade comunicacional gerada

Em meio ao contexto conturbado vivido pelo São Paulo, a torcida desenvolveu discussões, campanhas e ações, que demonstravam tanto o apoio ao time, quanto a crítica a certas questões do clube. A atividade comunicacional da torcida, portanto, foi compreendida como os conteúdos gerados pelos torcedores nos sites de redes sociais observados em meio ao contexto vivido pelo clube durante o período de observação.

No dia 10 de julho de 2013, além do jogo disputado contra o Bahia pelo Campeonato Brasileiro e o estádio vazio, a torcida pediu a volta do treinador Muricy, mesmo após a confirmação do retorno do técnico Paulo Autuori. Essas questões refletiram diretamente nos Trending Topics da noite desse dia, dentre os assuntos mais comentados estavam Paulo Autuori, Morumbi e Muricy. A chegada do treinador e os jogos seguintes disputados pelo São Paulo também movimentaram o Twitter, assuntos relacionados ao clube também chegaram aos Trending Topics nos dias 11, 14 e 16 de julho.

Apesar da insatisfação da torcida com a direção do clube, às manifestações só começaram a ganhar visibilidade por causa dos maus resultados conquistados pelo time em campo. Durante a disputa da Recopa Sul-Americana, tendo a segunda partida ocorrida em 17

34 Ferramenta disponível em: http://topsy.com/ 35 Ferramenta disponível em: http://infogr.am/ 53

de julho, a torcida demonstrou seu apoio através da tag #AvanteMeuTricolor, alusão a uma música cantada pela torcida nos estádios. Neste dia, ocorria também a disputa da final da Libertadores, entre Atlético Mineiro e Olímpia, o que fez com que os torcedores diferenciassem a tag #EuAcredito, já presente nos Trending Topics e utilizada pelos torcedores atleticanos, surgindo outra tag de apoio ao time - #EuAcreditoSPFC. Com a derrota e a consequente perda da Recopa, os torcedores protestaram contra a já criticada diretoria, através da tag #ForaJuvenal. Apesar de já ser um tema recorrente nas discussões dos torcedores – existem registros de protestos contra o presidente Juvenal Juvêncio também em 201236 - os protestos de 2013 só ganharam força após os maus resultados conquistados pela equipe nos campeonatos disputados.

Os protestos contra a diretoria também se desenvolveram fora do Twitter. Através da criação de um evento no Facebook, torcedores organizaram uma manifestação marcada para o dia 20 de julho – dia em que o time jogaria no Morumbi, pelo Campeonato Brasileiro. A manifestação, sem o apoio das organizadas, recebeu a adesão de torcedores comuns, porém já no estádio, torcedores organizados, em maior número, impediram manifestações contra a diretoria e direcionaram as críticas aos jogadores. Manifestações ocorreram também dentro do Morumbi, durante a derrota por 3x0 para o Cruzeiro, parte da torcida gritava “Fora Juvenal”, em protesto à situação do time e à diretoria37.

Figura 13 – Evento criado para a organização do protesto conta a diretoria

Fonte: Facebook38, 2013.

36 Vídeo de um dos protestos ocorridos em 2012, contra o presidente Juvenal Juvêncio: http://www.youtube.com/watch?v=cTMnY--hvFU 37 Torcida pedindo a saída de Juvenal, durante o jogo disputado no dia 20 de julho: http://globotv.globo.com/globocom/tempo-real/v/torcida-do-sao-paulo-protesta-e-pede-saida-de- juvenal/2705831/ 38 Captura de imagem. Imagem disponível em 54

No dia seguinte, dia 21 de julho, em um evento de confraternização na sede social do clube, membros da oposição – trajados de preto em protesto à gestão do clube – entraram em atrito com o presidente Juvenal Juvêncio. A confusão foi filmada por um dos torcedores presentes no local e hospedada no Youtube. O vídeo também foi divulgado pela TV e em portais esportivos do Brasil. A presença de torcidas organizadas, que já haviam impedido os protestos no dia anterior, foi denunciada. Na segunda-feira, dia 22 de julho, um email com a versão dos fatos da Torcida Independente, uma das organizadas são-paulinas, foi enviado através do mailing e da conta oficial do programa sócio-torcedor do clube. Além de relatar o ocorrido, o comunicado atacava o, até então, candidato de oposição Marco Aurélio Cunha. Nesse contexto, campanhas que incentivavam o cancelamento do programa sócio-torcedor foram criadas e divulgadas, além da insatisfação com o ocorrido com o email do programa, os torcedores também reivindicavam o direito a voto na escolha do presidente do clube.

A confusão ocorrida na sede social do clube também motivou outros tipos de ações, além dos protestos que já ocorriam e que ganharam ainda mais força, torcedores criaram um abaixo-assinado39 no site Avaaz, no dia 23 de julho. O abaixo-assinado tinha como objetivo juntar cinco milhões de assinaturas que seriam entregues ao Conselho Deliberativo do clube, em busca do Impeachment do presidente Juvenal Juvêncio, mas houve pouca adesão, e o número estipulado não foi alcançado.

Em campo a situação também continuou complicada, no dia 24 de julho, após outra derrota, o São Paulo chegou a uma sequência de onze jogos sem vitória. A torcida protestou novamente no estádio pedindo a saída do presidente Juvenal Juvêncio. Nas redes sociais, a discussão sobre a situação do time se manteve, Luís Fabiano expulso durante a partida ficou entre os assuntos mais comentados do Twitter. No dia seguinte, mais um acontecimento movimentou a torcida. Adalberto Baptista, que na época ocupava o cargo de diretor de futebol, pediu demissão do cargo. O diretor estava sendo pressionado, tanto internamente como por torcedores, suas críticas ao ídolo e goleiro Rogério Ceni não foram aceitas tanto internamente, quanto pela torcida são-paulina. O dirigente já havia sido alvo de críticas, suas contratações e negociações eram um dos alvos. Sua passagem como dirigente também havia ficado marcada pelo episódio em que deixou de acompanhar o time em um importante jogo da Libertadores para disputar uma corrida de Porshe, na Europa – fato que lhe rendeu apelidos, entre a torcida, como Porshista, Adalberto Porshe Baptista ou simplesmente Porshe.

39 Petição disponível em: https://secure.avaaz.org/po/petition/Impeachment_do_Presidente_do_Sao_Paulo_Juvenal_Juvencio/?aGKxtdb 55

A excursão para a Europa, ocorrida entre o final de julho e inicio de agosto, também movimentou a torcida. A crise esportiva foi ampliada. Com as derrotas na Copa Audi, disputada na Alemanha, o time chegou a catorze partidas sem vencer. A disputa também ficou marcada pelo placar interativo que divulgava mensagens enviadas por torcedores com a tag #HelloAudiCup. Uma das mensagens exibidas enviada pelo usuário @DarkFabuloso, um perfil fake do Twitter, continha uma ofensa ao lateral do São Paulo, Douglas. A imagem ganhou fama na internet, inicialmente divulgada pelas redes sociais, principalmente o Twitter. A mensagem virou assunto de diversos canais e sites esportivos brasileiros.

Figura 14 – Imagem do painel interativo da Allianz Arena

Fonte: Site ESPN Brasil, 2013. 40

A vitória do segundo torneio disputado na Europa, a Copa Eusébio, também foi comentada no Twitter. Mas a movimentação maior aconteceu no dia 6 de agosto, quando o ex-técnico Ney Franco, resolveu rebater as críticas feitas pelo goleiro Rogério Ceni. Em suas declarações, o ex-técnico acusou o goleiro e ídolo da torcida de minar contratações, como a do meio-campo e, também, por jogar por marcas individuais e não pelo coletivo. A entrevista, dada ao jornal O Globo, fez com que o ex-técnico figurasse entre os assuntos comentados durante grande parte do dia, Rogério Ceni e Ganso também ficaram entre os assuntos mais comentados. A resposta às declarações de Ney Franco veio no dia

40 Imagem disponível em . Acesso em 17 de setembro de 2013. 56

seguinte. Após uma nova derrota, na disputa da Copa Suruga no Japão, o goleiro Rogério Ceni afirmou que se tivesse toda a influência apontada pelo ex-treinador, ele já teria sido demitido há muito tempo. O Twitter mais uma vez foi palco para a discussão entre os torcedores, o meia Paulo Henrique Ganso, que marcou um dos gols na partida, figurou entre os assuntos comentados em grande parte do dia, o São Paulo também apareceu através de sua sigla SPFC e o técnico Ney Franco, agora criticado por Rogério Ceni, também foi um dos assuntos mais comentados.

De volta ao Brasil, o time continuou conquistando maus resultados no Campeonato Brasileiro. Buscando o maior apoio da torcida, foi criada a campanha #TodosAoMorumbi, que incentivava a presença da torcida nos jogos disputados no Morumbi. Em resposta a essa convocação, o São Paulo criou a campanha #3cores1SóTorcida, abaixando o preço dos ingressos para incentivar ainda mais a presença dos torcedores. A campanha surtiu efeito, a média de público do São Paulo teve um aumento significativo.

O momento de crise também fez com que torcedores rivais criassem conteúdos para zombar do clube. Um deles era um site que, intitulado de Crise no São Paulo, continha um relógio com a contagem regressiva para a queda do clube a série B. A hashtag #crisenosaopaulo, relacionada ao site, alcançou os Trending Topics no dia 13 de agosto. Nesse mesmo período, a torcida se movimentou em busca de informações do criador do site. As informações descobertas foram divulgadas e replicadas por diversos perfis do Twitter e também em fanpages do Facebook.

Figura 15 – Informações do criador do site Crise no São Paulo

Fonte: Twitter, 2013. 57

A má fase do clube continuou preocupando os torcedores, os jogos se mantiveram entre os assuntos mais comentados do Twitter. O time acumulou outra sequência negativa, ficando 12 jogos sem vencer no Campeonato Brasileiro. Apesar da evolução do time, pênaltis e finalizações perdidas preocupavam os torcedores. No dia 24 de agosto, um perfil de um dos fóruns de torcedores são-paulinos – o Arquibancada Tricolor – divulgou no Twitter que algo seria feito no Morumbi antes da partida. No dia seguinte, durante a transmissão, foi mostrada a escada que ligava o vestiário são-paulino ao campo, a pedido do Repórter Bandana, um dos criadores do fórum, um dos funcionários havia colocado sal grosso nas escadarias. O time conquistou a vitória, assuntos relacionados ao jogo chegaram aos Trending Topics e, além de um vídeo41 divulgado no Youtube – que mostrava a distribuição de sal grosso também entre os torcedores – a história também esteve presente em portais e programas esportivos brasileiros.

Figura 16 – Tweet que indicava o que seria feito no Morumbi

Fonte: elaborado pela autora.

Apesar do sal grosso, o time não conseguiu manter uma boa sequência no Campeonato Brasileiro. A torcida continuava a participar pelas redes sociais, fazendo com que os assuntos relacionados às partidas disputadas pelo São Paulo continuassem a figurar entre os Trending Topics. No dia 7 de setembro Rogério Ceni completava 23 anos jogando pelo São Paulo, no Twitter o ídolo foi homenageado com a tag #M1TO23anos42, que permaneceu nos Trending

41 Vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=MmUpqrZVInY 42 O jogador é conhecido como M1TO entre os torcedores são-paulinos, o número um em referência a camisa um, usada pelo goleiro. 58

Topics durante todo o dia. No Facebook as fanpages também se mobilizaram criando e divulgando conteúdos e imagens que homenageassem o ídolo da torcida.

No dia 8 de setembro, em disputa pelo Campeonato Brasileiro, o time sofreu uma nova derrota. A torcida se manteve engajada, e temas relacionados à partida também figuraram entre os Trending Topics. No dia seguinte, a torcida se manifestou novamente. O anúncio da volta do técnico Muricy, que já tinha seu nome gritado durante diversos jogos do campeonato, movimentou a torcida. Em alusão ao canto “O campeão voltou”, famoso durante o tricampeonato brasileiro conquistado sob o comando do técnico, a torcida criou a tag #OMuricyVoltou. A apresentação oficial também movimentou a torcida, Muricy figurou entre os temas mais comentados durante o período da coletiva. O efeito da volta do treinador também foi visto em campo, além da vitória conquistada no primeiro jogo sob o comando do técnico, todos os ingressos disponíveis para o jogo foram esgotados.

A campanha do clube no campeonato melhorou e, consequentemente, os protestos contra a diretoria e alguns jogadores tiveram uma grande diminuição. No período em que Muricy assumiu o time até o último dia de observação, 8 de novembro, os assuntos discutidos pelos torcedores que chegaram aos Trending Topics foram estritamente relacionados às partidas e ao âmbito esportivo do clube. Durante esse período, o ex-diretor de futebol Adalberto Baptista, assumiu um cargo administrativo no clube. A volta do dirigente foi criticada, mas com proporções menores às observadas durante os períodos mais críticos do time, quando a diretoria era fortemente criticada, tanto nas redes sociais quanto nos estádios.

5.2 O fandom em atividade: o que motivou a torcida?

Um comportamento comum entre os torcedores de futebol deixa evidente a lógica de convergência na qual se inserem as atividades observadas. Durante a transmissão de jogos as redes sociais, principalmente as que possuem um formato que permita a divulgação de conteúdos textuais – como o Facebook e o Twitter – podem se tornar plataformas para a discussão, compartilhamento de comentários e até expressão de apoio ou crítica ao time. Nesse caso, percebemos não só o aparato tecnológico facilitando essa atividade, mas também a própria vontade do torcedor em compartilhar seus comentários e pensamentos sobre temas relacionados à partida a qual acompanha. 59

Esse comportamento, de se comentar, discutir, demonstrar apoio ou protestar durante os jogos foi expressivo na participação dos torcedores são-paulinos. Durante o período de observação, grande parte da movimentação dos torcedores, representado através da coleta dos Trending Topics relacionados ao São Paulo, ocorreu durante os períodos em que os jogos aconteceram – os horários das partidas variam das 16h às 18h, das 18h e 30 mim às 20h 30 min, das 21h às 23h e das 21h 50 min às 23h 50 min. Como podemos notar no gráfico abaixo, a maior parte dos Trending Topics foi alcançada das 16h ás 18h e das 21h às 00h. A única ocorrência de Trending Topic observada entre às 7h e às 10h aconteceu durante a transmissão da Copa Suruga, que devido ao fuso horário japonês, foi transmitida ás 8h da manhã.

Gráfico 1 – Horário em que ocorreram os Trending Topics

Fonte: elaborado pela autora.

A análise dos dias em que os Trending Topics foram alcançados também reforça a percepção de que a participação dos torcedores foi motivada principalmente pelos jogos disputados pelo time, dentre os 35 dias em que o clube teve algum tema relacionado nessa seção do Twitter, 21 foram em dias em que o clube disputaria uma partida. Dos 14 dias restantes, sete representavam temas relacionados a partidas que seriam ou que tinham sido disputadas, ocorrendo na véspera deles ou na madrugada seguinte – esse caso foi comum em jogos disputados à noite, já que terminam por volta das 23h 50 min. 60

Gráfico 2 – Dias em que os Trending Topics foram alcançados

Fonte: elaborado pela autora.

Apesar de o São Paulo ter vivido um período conturbado politicamente, foram, em grande maioria, os resultados e acontecimentos esportivos que motivaram a discussão dos torcedores e, também, às próprias críticas feitas às questões políticas e administrativas do time. O #ForaJuvenal, por exemplo, ocorreu após a perda do título da Recopa para o rival Corinthians, no dia 18 de julho, madrugada seguinte à disputa. Além desses acontecimentos, a participação e discussão dos torcedores foram motivadas pelo que era divulgado a respeito do time. Entrevistas e notícias que afetavam ou colocavam em risco valores, ideias e pensamentos compartilhados pelos torcedores, ganhavam proporções maiores. A entrevista dada pelo ex-técnico Ney Franco é um desses casos. A crítica feita ao goleiro Rogério Ceni gerou muita discussão entre os torcedores, temas relacionados a esse acontecimento figuraram entre os Trending Topics durante boa parte do dia. Por se tratar de um ídolo, considerado um dos maiores de toda a história do clube, as críticas feitas a ele não foram bem recebidas pela torcida. O teor das acusações feitas pelo ex-técnico, também foi responsável por essa proporção que a entrevista tomou, já que além de atingirem o ídolo da torcida, também colocavam em dúvida o amor e o respeito do jogador pelo clube, fatores que a torcida exalta no jogador. Outro exemplo ocorreu no último dia de observação, 8 de novembro, quando foi 61

noticiado que o zagueiro Antônio Carlos, que vinha se destacando nas últimas partidas, seria desfalque para o jogo disputado no dia seguinte, 9 de novembro.

Gráfico 3 – Temas que motivaram os Trending Topics

Fonte: elaborado pela autora. Os assuntos que mais motivaram a torcida a discutir também reforçam a ideia de que, apesar do contexto político conturbado, o esporte em si é o que mais motivou o torcedor. O que é refletido também nas campanhas desenvolvidas. O protesto contra a diretoria ocorreu fora do Morumbi em um período em que o time acumulava maus resultados. Os protestos ocorridos dentro do estádio também, e se iniciavam, geralmente, após ou nos minutos finais de jogos em que o time era derrotado. Percebemos a motivação esportiva também nas campanhas de apoio, a campanha #TodosAoMorumbi incentivava justamente a presença da torcida no Morumbi. Ao verem a situação complicada do clube, a baixa presença de torcedores, os são-paulinos resolveram incentivar a presença, para que em campo, o time fosse “empurrado” pela torcida. O próprio clube aderiu à campanha, criando uma versão chamada “Três cores, uma só torcida”43, sendo batizada nas redes sociais através da hashtag #3Cores1SóTorcida. Além disso, foram criados também aplicativos simples, em que o usuário do Twitter e Facebook poderia adicionar uma moldura especial na foto, em apoio à campanha

43 Campanha Três cores, uma só torcida. http://www.saopaulofc.net/noticias/noticias/torcida/2013/8/13/tres- cores,-uma-so-torcida/ 62

e ao time. O clube também abaixou o preço dos ingressos, que passaram a custar entre R$2,00 e R$ 30,00.

A discussão dos torcedores também foi relacionada aos jogadores e suas atitudes. A forma como o jogador joga, se ele se destaca ou compromete o time, influencia na discussão dos torcedores. Dentre os jogadores são-paulinos, o meio-campo Paulo Henrique Ganso foi o que mais figurou entre os Trending Topics, aparecendo nessa seção em seis dias com o termo “Ganso”. O motivo dessas aparições foi, na grande maioria dos casos, relacionado ao seu desempenho dentro de campo. A única oportunidade em que sua atuação não foi motivação para a discussão, foi no episódio da crítica feita pelo ex-técnico Ney Franco, em que o jogador era citado. Os outros jogadores que também figuraram nos Trending Topics, também seguem a mesma motivação, com exceção do goleiro Rogério Ceni, que foi homenageado ao completar vinte três anos de clube. Porém, as outras ocorrências seguem relacionadas aos jogos, o que mais uma vez, reforça a percepção de que a torcida costuma discutir as partidas disputadas pelo São Paulo.

O apoio da torcida também foi um tema recorrente durante os jogos. Além da campanha de incentivo à presença no Morumbi, a torcida também demonstrou apoio em alusões a cantos da torcida, como representado na hashtag #AvanteMeuTricolor e em alusões a outras tags, como a #EuAcreditoSPFC. Existiram ocorrências também de hashtags que tinham como objetivo homenagear jogadores e técnicos, como o caso do goleiro Rogério Ceni e também ao anúncio do retorno do técnico Muricy, em que, em mais uma alusão aos cantos da torcida, foi criada a tag #OMuricyVoltou.

Acompanhando o movimento já constante no Twitter, o clube também desenvolveu uma tag a partir de um bordão do técnico Muricy, #AquiÉTrabalhoMeuFilho, muito utilizada também pela torcida, principalmente após os jogos disputados pelo time. Como pode ser notado no gráfico abaixo, os principais picos ocorrem em dias em que o time disputou alguma partida. No dia 9 de novembro, que representa o maior pico com mais de 1.500 tweets com a hashtag, o São Paulo, que se encontrava ainda em situação complicada no Campeonato Brasileiro, havia derrotado o Cruzeiro, líder do campeonato. Além disso, a frase dita pelo técnico durante a coletiva, também movimentou os comentários dos torcedores e as 63

replicações no Twitter. O tweet44 com a frase, postado pela conta oficial do clube, foi o mais influente com a hashtag, tendo 433 retweets.

Gráfico 4 – Frequência da tag #AquiÉTrabalhoMeuFilho

Fonte: Site de análise Topsy.

Nota-se que a relação entre o que é divulgado e transmitido pela imprensa e o que é discutido pelos torcedores é bem estreita. Apesar de ter sido observado que os resultados obtidos pelo time foram, em grande parte, responsáveis pela discussão e pela ação dos torcedores. Nota-se que, muito do que foi discutido também partiu de notícias e reportagens sobre o clube. Além disso, se nos atentarmos para o fato de que os jogos também são televisionados, essa relação se torna ainda mais estreita. O clube viveu uma situação difícil, mas para que ela fosse discutida, a torcida precisou tomar conhecimento do que estava acontecendo, seja por meio de reportagens, seja por meio da transmissão de jogos, seja pela própria discussão e divulgação de conteúdos nas redes sociais.

A análise das palavras representadas na nuvem de hashtags também reforça o a observação da ligação entre o que a torcida discutiu e o que foi transmitido e divulgado pelos diferentes meios. Podemos concluir, portanto, que as redes sociais se tornaram plataformas que desenvolvem também uma nova maneira de torcer – observamos isso nas alusões aos cantos da torcida representados nas hashtags – e também de discutir sobre o time, o que há

44 Tweet do perfil oficial do São Paulo. Disponível em https://twitter.com/saopaulofc/status/388146730803683328 64

anos atrás se desenvolvia em uma roda de amigos, passa a ter uma amplitude um alcance bem maior. Na internet, as discussões ganham força devido ao alcance maior que permite. Além disso, a facilidade de reunião e de encontro de pessoas com interesses comuns também facilita essa “nova forma de torcer” representada nos ambientes virtuais.

Gráfico 5 – Nuvem de hashtags

Fonte: elaborado pela autora. A participação da torcida são-paulina se desenvolveu nesse contexto, em que a reunião de membros, o encontro de indivíduos com interesses e valores semelhantes é facilitado. Os aparatos tecnológicos, as redes sociais utilizadas, aliados ao pensamento mais participativo do torcedor constituíram a comunidade fã são-paulina e sua, consequente, movimentação nos ambientes digitais.

65

6. Conclusão

A presente pesquisa teve como objetivo compreender em que medida a atividade comunicacional dos torcedores são-paulinos em sites de redes sociais se insere no contexto de fã ativismo e de que modo o contexto sociopolítico do clube permeou tal atividade comunicacional. A comunidade dos torcedores são-paulinos foi analisada sob a perspectiva do fandom, podendo ser caracterizada, a partir daí, quanto sua estrutura e seu funcionamento. Para tal relação foi importante fundamentar teoricamente a definição de fãs e sua relação com o futebol, baseadas na conceituação de Jenkins (2009) e na pesquisa de Hunt Bristol e Barshaw (1999).

Partindo dessa compreensão, foi possível reconhecer a estrutura de comunidade de fãs presente nas relações entre os torcedores são-paulinos, visto que os conteúdos se desenvolveram em redes sociais e que, para que se tornassem visíveis, foi necessária a participação e o engajamento coletivo dos torcedores. Os conceitos de Convergência (Jenkins, 2009), Cultura Participativa (Jenkins, 2009) e Inteligência Coletiva (Jenkins, 2009) deram base para a compreensão do contexto em que a atividade e a comunidade dos torcedores são- paulinos se desenvolveram e também a compreensão da própria atividade desenvolvida pelos torcedores.

Como Jenkins (2012) aponta, o fã ativismo surge nas próprias comunidades fãs. Relacionado ao contexto de convergência no qual as comunidades de fãs se inserem, e no qual a comunidade de torcedores são-paulinos também foi inserida, o fã ativismo dos torcedores foi percebido na própria atividade comunicacional gerada por eles. O ativismo do torcedor são-paulino se desenvolveu na medida em que foram criadas ações, discussões e conteúdos em prol do clube. Desse modo, a torcida demonstrou sua opinião, suas preferências – como o pedido pela volta do técnico Muricy – e o seu apoio através de tags, campanhas e ações.

A partir dessa análise, foi possível compreender a importância das discussões observadas no Twitter, já que, a partir delas, a atividade comunicacional da torcida se tornava visível nesse ambiente – através dos Trending Topics – e também, alavancavam a criação de conteúdos e ações não só no Twitter, mas também nos sites Facebook e Youtube – como a organização de protestos, campanhas, criação e divulgação de vídeos. Portando, notou-se que a configuração de comunidade são-paulina e sua ação coletiva, foram fundamentais para o desenvolvimento da atividade comunicacional da torcida, visto que, quanto mais participantes 66

na discussão, mais visível ela se tornava, como observado nos temas que alcançavam os Trending Topics.

Aprofundando-se na análise dos conteúdos gerados, foi possível notar sua relação com o contexto vivido pelo clube, sendo ancorada principalmente, pela presença do clube na imprensa. Os conteúdos e discussões gerados pelos torcedores tratavam-se de comentários sobre as partidas – que são televisionadas, transmitidas por rádio e também por stream na internet – sobre coletivas de imprensa, trocas de técnicos – amplamente divulgadas em portais esportivos – entrevistas com jogadores, ex-técnicos, entre outros.

Além disso, a observação sistemática dos ambientes – principalmente do Twitter, foco principal da pesquisa – permitiu a compreensão das especificidades de cada site de rede social e forma pelas quais as atividades se desenvolveram em cada um desses ambientes. O caráter de discussão presente no Twitter e a possibilidade de observação dos assuntos mais comentados, através dos Trending Topics foram um dos aspectos motivadores para o enfoque nesse site de rede social.

Foi observada, sob o ponto de vista do Twitter, a relação complementar entre as discussões desenvolvidas nesse site e seus desdobramentos no Facebook e Youtube. Sendo notada, portanto, a utilização do Youtube como uma plataforma de divulgação de vídeos, que de acordo com o conteúdo complementava ou pautava as discussões dos torcedores. Já a utilização do Facebook teve um teor de reunião e organização de torcedores, através da divulgação de campanhas, criação de fanpages e a organização dos protestos contra a diretoria do clube.

A partir dessa pesquisa foi possível compreender como a atividade dos fãs pode ser relacionada ao torcedor de futebol. Sob a perspectiva do ativismo, foi possível observar como se desenvolveu na questão dos torcedores são-paulinos, suas relações com a situação do clube e, também a influência desses conteúdos não só na comunidade dos torcedores são-paulinos, mas no clube e na própria imprensa brasileira, que divulgou algumas das ações da torcida, como os protestos nos portões do Morumbi e também dentro do estádio.

A pesquisa, porém, não deve se encerrar na observação do Twitter, a capacidade de reunião de pessoas e organização presente no Facebook, como observado na organização dos protestos e divulgação de campanhas, demandam aprofundamentos. Além disso, sua relação estrita com a cultura fã, percebida na criação das fanpages e dos conteúdos presentes nelas, 67

também é um tema interessante a ser estudado. A relação entre o Youtube e a criação dos torcedores também é um ponto a ser estudado posteriormente, já que os conteúdos são variados, indo desde criações relacionadas estritamente ao fandom, quanto conteúdos com teor mais informativo – como resumos de jogos, vlogs opinativos, entre outros.

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