Fábio Rakauskas
Estado x Mercado:
Planejamento Urbano em São Bernardo do Campo 1964 a 2006
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.
Orientadora: Profª Drª Nadia Somekh
São Paulo 2012 R162e Rakauskas, Fábio Estado x Mercado: planejamento em Săo Bernardo do Campo - 1964 a 2006. / Fábio Rakauskas – 2012. 165 f. : il. ; 30cm.
Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2012. Bibliografia: f. 161-165.
1. Săo Bernardo do Campo. 2. Plano Diretor. 3. Industrializaçăo. 4. Plano de Desenvolvimento Integrado I. Título.
CDD 711.4 FÁBIO RAKAUSKAS
ESTADO X MERCADO: PLANEJAMENTO URBANO EM SÃO BERNARDO DO CAMPO 1964 A 2006
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.
Aprovada em 13 de Fevereiro de 2012.
BANCA EXAMINADORA
______Profa. Dra. Nadia Somekh Universidade Presbiteriana Mackenzie
______Profa. Dra. Angélica A. Tanus Benatti Alvim Universidade Presbiteriana Mackenzie
______Profa. Dra. Sueli Terezinha Ramos Schiffer Universidade de São Paulo AGRADECIMENTOS
À minha querida esposa, Lyhara, que dedicou grande parte do seu tempo me apoiando e dando força para que esta pesquisa se concretizasse.
À minha orientadora, Nadia Somekh, que me incentivou a ingressar no mestrado, me orientando com suas críticas construtivas e sugestões, sempre me direcionando para que a pesquisa se tornasse objetiva.
Às professoras Angélica A. Tanus Benatti Alvim e Sueli Terezinha Ramos Schiffer que contribuiram com suas críticas durante a qualificação e a defesa de mestrado.
A minha família, José Carlos, Regina, Patricia e Oswaldo que sempre me apoiaram durante estes dois anos de pesquisa.
Ao meu amigo, Vicente, que me deu dicas preciosas no momento mais crítico do trabalho, dicas estas que levarei para a vida toda.
Ao meu amigo, Alexandre (Xandão), que me mostrou e explicou pela primeira vez o PDIM, abrindo novas perspectivas para minha pesquisa.
À equipe da Secretaria de Planejamento Urbano e Ação Regional da Prefeitura de São Bernardo do Campo que contribui fornecendo informações preciosas para a elaboração da dissertação de mestrado. RESUMO
Este trabalho tem como foco central analisar a evolução dos Planejamento Urbano no município de São Bernardo do Campo a partir de um levantamento histórico das principais legislações urbanísticas que estruturaram a cidade entre 1964 e 2006. Esta análise é compreendida inicialmente com a da implantação da rodovia Anchieta e, consequentemente, da chegada da nova indústria no início dos anos 1950, quando a cidade iniciou um acelerado processo de urbanização. Neste sentido, a administração passou criar novos instrumentos de controle urbano em vista da nova dinâmica. Inicialmente os instrumentos eram pontuais e desarticulados, sendo apenas no início da década de 1960 elaborado o primeiro Plano Diretor do município. A urbanização acelerada e o impacto da indústria mostraram a necessidade de um instrumento gestão urbana com maior agilidade. Neste sentido foi elaborado, entre 1974 a 1977, o Plano de Desenvolvimento Integrado do Município (PDIM), com conceitos inovadores e planos de intervenções de curto, médio e longo prazo, articulado à recém criada Progresso São Bernardo do Campo S.A. (PRO-S.B.C.), que atuava como empresa de economia mista, gerindo os procedimentos de intervenções na cidade. A revogação do PDIM e as transformações urbanas, econômicas e produtivas, durante a década de 1980, levou São Bernardo do Campo à uma estrutura urbana desordenada. A criação do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC nasceu no início da década de 1990 a fim de equalizar os problemas que atingiam tanto a cidade como a região do ABC. Em 2006 aprovou-se o primeiro Plano Diretor orientado pelo Estatuto da Cidade, porém com índices intensivos de aproveitamento do solo, e consequentemente com grandes problemas de saturamento da infraestrutura e do sistema viário. Com a compreensão do planejamento urbano da cidade e o entendimento da evolução da estrutura urbana do município, influenciado inicialmente pela industrialização, foi possível entender o atual cenário urbano de São Bernardo do Campo. Além disso, o repertório histórico-urbano organizado nesta pesquisa poderá contribuir nos futuros trabalhos elaborados pela administração pública local.
PALAVRAS-CHAVE: Plano Diretor. São Bernardo do Campo. Industrialização. Plano de Desenvolvimento Integrado. Progresso São Bernardo do Campo S.A. ABSTRACT
This work has as its central focus analyzing the evolution of urban planning in the municipality of São Bernardo do Campo from a historical survey of the main urban laws that structured the city between 1964 and 2006. This analysis is realized with an initial deployment of the Anchieta highway and therefore the arrival of new industry in the early 1950s, when the city began a rapid process of urbanization. In this sense, the administration has new tools for urban control in view of the new dynamic. Initially the instruments were off and disconnected, and only at the beginning of the 1960s developed the first Master Plan of the municipality. Rapid urbanization and the impact of the industry showed the need for an urban management tool with greater agility. In this sense was developed between 1974 to 1977, the Integrated Development Plan of the City (PDIM), with innovative concepts and plans for interventions of short, medium and long term, linked to the newly created Progressive São Bernardo do Campo S.A. (PRO-SBC ), which acted as a mixed economy company, managing the procedures for interventions in the city. The repeal of PDIM and the urban, economic and productive during the 1980s, Sao Bernardo do Campo led to a chaotic urban structure. The creation of the Intermunicipal Consortium of the Greater ABC was born in the early 1990s in order to equalize the problems that affected both the city and the region of the ABC. In 2006 approved the first master plan supervised by the City Statute, but with indices intensive land use and therefore with great saturamento problems of infrastructure and road system. With the understanding of urban planning and understanding of the evolution of urban structure in the city, initially influenced by industrialization, it was possible to understand the current urban landscape of São Bernardo do Campo. Moreover, the historical repertory-urban organized this research may help in future works prepared by the local public administration.
KEYWORDS: Master Plan. São Bernardo do Campo. Industrialization. Integrated Development Plan. Progress São Bernardo S.A.
6 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...... 14
1. CAPÍTULO 1 - O PLANEJAMENTO DA NOVA INDÚSTRIA: A ELABORAÇÃO DO PRIMEIRO PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO EM 1964 ...... 18
1.1. Antecedentes históricos à urbanização de São Bernardo do Campo ...... 19
1.2. A implantação da rodovia Anchieta em 1947 e a nova indústria ...... 23
1.2.1. Plano Geral da Cidade de 1956 e os Novos Parâmetros Urbanísticos ...... 35
1.2.2. Comissão de Estética Urbana de 1957 ...... 38
1.3. O Plano Diretor de 1964: o primeiro plano de desenvolvimento do município e a nova centralidade ...... 39
1.3.1. O Plano Diretor de 1964 ...... 42
1.3.2. Convênios para Planos Urbanísticos: Avenida Marginal do Ribeirão dos Meninos ...... 53
1.3.3. Plano Geral do Sistema Viário de 1964 ...... 54
1.3.4. Os Planos Trienais e as Grandes Obras Públicas: 1965 a 1969 ...... 59
1.3.5. O Plano de Urbanização da Praça Samuel Sabatini e o Paço Municipal ...... 62
2. CAPÍTULO 2 - A GESTÃO INOVADORA: A ELABORAÇÃO DO PLANO DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO EM 1974 E A PROSBC S.A ...... 68
2.1. O Progresso São Bernardo do Campo S/A e o Plano de Desenvolvimento Integrado ...... 73
2.1.1. Progresso São Bernardo do Campo S.A. - 1973 ...... 82
2.1.2. Plano de Reurbanização do Novo Centro de São Bernardo do Campo em 1974 ...... 89
2.1.3. Plano de Urbanização do Parque Industrial dos Imigrantes - 1974 ...... 96
2.1.4. Elaboracão do Plano de Desenvolvimento Integrado do Município: 1974-1977 ...... 98
2.2. Década de 1980 ...... 117
3. CAPíTULO 3 - O PLANEJAMENTO NA METRÓPOLE CONTEMPORÂNEA: O PLANO DIRETOR DE 2006 ...... 123
3.1. Consórcio Intermunicipal do Grande ABC - 1990 ...... 125
3.1.1. Câmara Regional do Grande ABC - 1997 ...... 127
3.1.2. Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC ...... 128 3.2. Plano Diretor de 1996 ...... 131
3.2.1. Lei de Uso e Ocupação do Solo - 1996 ...... 135
3.2.2. Plano de Diretrizes do Sistema Viário Global de 1996 ...... 136
3.3. Plano de Transporte Urbano de 2002 ...... 139
3.4. Plano Diretor de 2006 e a Saturação Urbana ...... 143
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 158
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 161 LISTA DE ILUSTRAÇÕES
21 Figura 1.1 Vista geral da Usina Hidrelétrica Henry Borden
21 Figura 1.2 Contrução da barragem de Pedreira no braço do Rio Grande, 1928
24 Figure 1.3 Intensidade do tráfego rodoviário entre São Paulo e as regiões vizinhas em 1950
25 Figura 1.4 Rodovia Anchieta na década de 1950
26 Figura 1.5 Ortofoto de 1957 -Rodovia Anchieta na altura do km 23
30 Figura 1.6 Manchas das Zonas Urbanizada em 1955
43 Figura 1.7 Zoneamento Conforme Lei Municipal n. 913 de 1961
55 Figura 1.8 Plano Geral do Sistema Viário de 1964
63 Figura 1.9 Maquete da proposta de implantação do Paço Muncipal
64 Figura 1.10 Ortofotos de 1957 - trecho da região central
65 Figura 1.11 Ortofoto de 1970 - trecho da região central
65 Figura 1.12 Construção do Paço Municipal e Urbanização da Praça Samuel Sabatini, 1966
66 Figura 1.13 Construção do Paço Municipal em 1967
67 Figura 1.14 Inauguração do Paço Municipal em 1968
70 Figura 2.1 Expansão Urbana do Município de São Bernardo do Campo entre 1930 e 1985
75 Figura 2.2 Zoneamento do Município conforme Lei Municipal n˚1980/72
93 Figura 2.3 Croqui esquemático da proposta de percurso do Trem Expresso Elevado
94 Figura 2.4 Croqui esquemático exemplificando o trem elevado em Wuppertal na Alemanha
95 Figura 2.5 Croqui esquemático exemplificando o bonde de San Antonio, New Town, EUA
96 Figura 2.6 Esquema de implantação do Novo Centro
98 Figura 2.7 Mapa do Perímetro do Plano de Urbanização do Parque Industrial Imigrantes
109 Figura 2.8 Mapa Rede de Centros proposta pelo PDIM
111 Figura 2.9 Mapa Sistema de Árvores proposta pelo PDIM
113 Figura 2.10 Mapa Sistema Viário Básico proposto pelo PDIM
114 Figura 2.11 Mapa do Zoneamento proposto pelo PDIM
119 Figura 2.12 Evolução do Perímetro Urbano
121 Figura 2.13 Ortofoto de 1993 - Área Central
121 Figura 2.14 Construção do Terminal Ferrazópolis 126 Figura 3.1 Perímetro da Região do Grande ABC inserido na Região Metropolitana de São Paulo
137 Figura 3.2 Hierarquia Viária do Plano de Diretrizes do Sistema Viário Global de 1996
138 Figura 3.3 Diretrizes do Sistema Viário Global
140 Figura 3.4 Mapa do Plano de Transporte Urbano
144 Figura 3.5 Perímetro da Lei de Outorga Onerosa
146 Figura 3.6 Mapa do Macrozoneamento do Plano Diretor de 2006
149 Figura 3.7 Mapa do Zoneamento do Plano Diretor de 2006
150 Figura 3.8 Mapa de Unidade de Planejamento e Gestão do Plano Diretor de 2006
152 Figura 3.9 Mapa de Zonas Especiais de Interesse Social do Plano Diretor de 2006
153 Figura 3.10 Mapa de Zonas Especiais de Interesse Ambiental do Plano Diretor de 2006 LISTA DE TABELAS, QUADROS E GRÁFICOS
42 Tabela 1.1. Hierarquia de Zonas
44 Tabela 1.2 Evolução da Densidade Demográfica e da Quilometragem de Ruas
45 Tabela 1.3 Classificação de Categorias de Trabalhadores
46 Tabela 1.4 Distribuição de Trabalhadores das Indústrias
47 Tabela 1.5 Numero de Prédios Residenciais
71 Tabela 2.1 Evolução da Ocupação Urbana - 1950/1974
141 Tabela 3.1 Relação de Intervenções prevista no PTU
143 Tabela 3.2 Relação de Coeficientes conforme usos no Perímetro de Outorga
155 Tabela 3.3 Instrumentos de Política Urbana
36 Quadro 1.1 Classificação de Loteamentos
36 Quadro 1.2 Categorias de Vias Públicas Implantadas nos Loteamentos
48 Quadro 1.3 Transição de Zonas entre Leis
49 Quadro 1.4 Zonas e Usos do Perímetro de Aglomeração
56 Quadro 1.5 Relação de Vias Alargadas
58 Quadro 1.6 Relação de Implantação de Novas Vias
60 Quadro 1.7 Principais Edifícios Modernistas Previstos no Plano Trienal 1965-1967
61 Quadro 1.8 Obras Previstas pelo Plano Quadrienal 1964-1967
74 Quadro 2.1 Crescimento Populacional entre Década de 1950 e 1974
76 Quadro 2.2 Zoneamento e Usos Permitidos da Lei Municipal n˚1980/72
91 Quadro 2.3 Definição de Área de Estacionamento de Acordo com Uso
101 Quadro 2.4 Quadro de Organização dos Relatórios do PDIM - 1977
104 Quadro 2.5 Objetivos Físico-Territoriais do Relatório Inicial do PDIM
106 Quadro 2.6 Diretrizes Gerais do PDIM
110 Quadro 2.7 Sistema de Árvores Verdes e Recreação
112 Quadro 2.8 Classificação e Função do Subsistema Viário 115 Quadro 2.9 Relação de Zonas, Uso e Coeficientes
125 Quadro 3.1 Brasil: Instalações e Ampliações de Empresas Automotrizes a partir de Meados dos anos 1970
128 Quadro 3.2 Planejamento dos Programas de Acessibilidade e Infraestrutura
130 Quadro 3.3 Programas do Eixo Estruturante Ambiente Urbano de Qualidade
130 Quadro 3.4 Principais Ações Regionais - Infraestrutra/ Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (1990-2008)
132 Quadro 3.5 Politicas de Gestão e Desenvolvimento do Plano
135 Quadro 3.6 Zonas e Subzonas
138 Quadro 3.7 Hierarquia do Sistema Viário Global
147 Quadro 3.8 Relação de Zonas Vocacionais inseridas nas Macrozonas
148 Quadro 3.9 Esquema de Hierarquia de Macrozonas e Zoneamento
154 Quadro 3.10 Zonas Especiais e suas Subzonas
159 Quadro C.1 Fases do Planejamento Urbano no Município de São Bernardo do Campo
82 Grafico 2.1 Taxa Geométrica de Crescimento Anual (%) LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AGESBEC Armazéns Gerais e Entrepostos Aduaneiros São Bernardo do Campo S.A.
APRM-B Área de Proteção e Recuperação dos Mananciais da Bacia Hidrográfica da Represa Billings
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento
CEU Comissão de Estética Urbana
COMPAHC Conselho Municipal de Patrimônio Histórico
CURA Projeto Comunidade Urbana para Recuperação Acelerada
DER Departamento de Estradas e Rodagem
DERSA Desenvolvimento Rodoviário S.A.
EMURB Empresa Municipal de Urbanização de São Paulo
FDU Projeto Fundo de Desenvolvimento Urbano
FIDREN Projeto Fundo de Saneamento Básico
GCP Grupo Central de Planejamento
GEIA Grupo Executivo da Indústria Automobilística
GPS Grupos de Planejamento Setorial
IAPI Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários
PAC Plano de Aceleração do Crescimento
PCMU Plano Comunitário de Melhoramentos Urbanos
PDIM Plano de Desenvolvimento Integrado do Município
PGG Programa Global de Governo
PIT Progressividade ao Imposto Territorial
PMSBC Prefeitura do Município de São Bernardo do Campo
PRODASB Processamento de Dados de São Bernardo do Campo S.A.
PRO S.B.C. Progresso São Bernardo do Campo S.A.
PROSERV Promoção de Serviços de São Bernardo do Campo S.A.
PROTUR Turismo de São Bernardo do Campo S.A.
PTU Plano de Transporte Urbano de São Bernardo do Campo
RMSP Região Metropolitana de São Paulo
SABESP Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
UCPTU-SBC Unidade de Coordenação do Programa de Transporte Urbano de São Bernardo do Campo INTRODUÇÃO
Esta dissertação trata do processo de evolução do planejamento urbano a partir das transformações urbanas no município de São Bernardo do Campo, entre 1947 a 2006. Por meio da descrição dos principais Planos Diretores e do entendimento dos referentes contextos urbanos e sócio-político, a pesquisa gerou um repertório sobre o planejamento urbano da cidade que poderá contribuir para futuras elaborações de planos e projetos urbanísticos realizados pela administração pública.
O levantamento e análise dos planos, como foco principal, mostrou que São Bernardo passou por três períodos de planejamento, sendo o primeiro caracterizado por um planejamento voltado para a “nova indústria” e os grandes investimentos em obras públicas, que iria desde a chegada da indústria automobilística e a implantação da rodovia Anchieta na década de 1950, até o final da década de 1960, quando fora elaborado o primeiro Plano Diretor do município. Um segundo momento, no início da década de 1970, caracterizado pela consolidação das indústrias, a alta urbanização, um instrumento de gestão inovador que não chegou a ser implantado por completo, e a estagnação do planejamento urbano até final dos anos 1980. E finalmente, quando São Bernardo do Campo, vendo seus limites dissolvidos na mancha urbana da Região Metropolitana de São Paulo, elaborou planos voltados para a atualidade, tendo em vista os problemas contemporâneos.
Conforme Santos e Montandon (2011, p.27) o uso do Plano Diretor como instrumento de planejamento
Aparece na história do urbanismo brasileiro desde a década de 1930, quando foi elaborado o Plano Agache no Rio de Janeiro. No entanto, primeiramente com a promulgação da Constituição de 1988 e posteriormente com a instituição do Estatuto da Cidade, em 2001, a abrangência dos Planos Diretores foi ampliada, e seu sentido, alterado, estando agora vinculados à definição da função social da cidade e da propriedade e ao plano de desenvolvimento urbano municipal.
14
O município de São Bernardo do Campo está localizado na Sub-região Sudeste da Região Metropolitana de São Paulo, conhecida principalmente como Região do Grande ABC Paulista, formada inicialmente por Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul, sendo posteriormente acrescida pelos municípios de Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.
Atualmente seu território possui 407,1 km², situado no alto da Serra do Mar do planalto Atlântico, a cerca de 730 metros acima do nível do mar, com 70,8% inserido na Área de Proteção Ambiental, e os outros 29,2% em zona urbana. Sua posição geográfica, com característica como eixo de passagem norte-sul, entre a aglomeração urbana do Estado de São Paulo e o Porto de Santos, levou a cidade a ter importante suporte logístico no transporte de mercadorias e pessoas. Atualmente o município conta com uma população de 765.203, sendo 752.417 localizada em área urbana e 12.786 em área rural (IBGE, 2010).
A implantação de estruturas urbanas, como por exemplo a construção de rodovias, na metrópole paulistana no final dos anos 1940 e início dos anos 1950, levou a um alto grau de urbanização no Estado de São Paulo, tornando-se a maior do Brasil pelas décadas posteriores.
Estes novos eixos atraíram a implantação de grandes plantas industriais. De acordo com Baldoni (2002) “constituíram-se neste período as áreas industriais ao longo das recém implantadas rodovias Anchieta, Dutra e Anhanguera, que passaram a receber novas indústrias, principalmente multinacionais”.
Como consequência, a concentração industrial, em 1975, nos municípios de São Paulo, Guarulhos, Osasco e região do ABC equivalia a 75% da produção do Estado de São Paulo, e consequentemente, um dos maiores pesos na economia nacional (BALDONI, 2002).
A região do Grande ABC, tornou-se uma importante região industrial da Região Metropolitana de São Paulo. Seu produto interno bruto representa atualmente 2,43% do PIB nacional, e sua participação na atividade industrial na
15 região metropolitana é de 22,8%, sendo no Estado de São Paulo uma atividade equivalente a 13,8% e 7% no índice nacional (REIS, 2008).
Estas transformações, tanto urbanas quanto econômicas, trouxeram uma nova dinâmica às cidades afetadas. No caso de São Bernardo do Campo, a implantação da rodovia Anchieta, entre 1947 e 1953 atraiu grandes indústrias, em especial as automobilísticas. Como consequência o município sofreu grande expansão demográfica, pois entre o período de 1940 e 1950 o número de habitantes saltou de 11.685 para 20.000 (LANGENBUCH, 1971). Porém, o investimento na infraestrutura da cidade ainda era mínimo, não acompanhando o ritmo do crescimento e impacto urbano.
A década de 1960 foi um momento de grandes investimentos em obras públicas, dando um novo desenho urbano a cidade. Porém no decorrer das décadas até os tempos atuais os investimentos públicos reduziram drasticamente, em contrapartida os investimentos do mercado imobiliário e demais investimentos da iniciativa privada contribuíram para uma saturação da infraestrutura urbana.
A metodologia adotada para a pesquisa apoiou-se na revisão histórica dos principais Planos Diretores e instrumentos urbanísticos do município de São Bernardo do Campo, que de certa forma contribuirão para a formação do atual cenário urbano da cidade. Os dados organizados consideraram informações referentes às Leis Urbanísticas Municipais, dados socioeconômicos e políticos, mapas e aerofotolevantamentos. A análise dos dados resultou na identificação dos principais planos que estruturam a malha urbana da cidade e a influência política e socioeconômica na elaboração dos mesmos.
A pesquisa foi estruturada em três capítulos, além da introdução e conclusão, numa hierarquia histórica de dados, na qual os Planos Diretores eram o principal foco de estudo, proporcionando repertório suficiente para concluir o objetivo da pesquisa.
O primeiro capítulo apresenta um breve histórico do período que antecedeu o primeiro Plano Diretor de 1964, dando um panorama do impacto da implantação da rodovia Anchieta que trouxe as grandes indústrias automobilistas, mudando a 16 dinâmica urbana da cidade. Neste contexto o capítulo mostra a fase da elaboração do plano e seus instrumentos de controle urbano em vista da nova indústria que acabava de se estabelecer. Conforme Ascher (2010) a cidade da revolução industrial levou a um grande crescimento demográfico, gerando empobrecimento de parte da população urbana e diferenciação social através de novos elementos urbanos. A concepção e organização das cidades eram regidas pelos princípios estabelecidos pela lógica industrial. Neste contexto o Urbanismo moderno propunha um zoneamento monofuncional para as cidades, influenciado pela Carta de Atenas.No fim dos anos 1960 a produção repetitiva em massa entra em choque com a diferenciação social e com a diversificação de novas demandas (ASCHER, 2010).
O segundo capítulo mostra, durante a década de 1970, a consolidação da indústria no município, a implantação da rodovia Imigrantes, a constituição do parque industrial e o impacto na estrutura urbana na cidade com o grande crescimento demográfico, fragmentação urbana e precária mobilidade. Neste período apresenta-se a elaboração do Plano de Desenvolvimento Integrado do Município (PDIM) e a criação da Progresso São Bernardo do Campo S.A. (PRO- S.B.C.), uma empresa de economia mista a qual a administração tinha o objetivo da agilidade nas intervenções urbanas e implementação dos planos, a fim de acompanhar o ritmo de desenvolvimento de São Bernardo do Campo. Num segundo momento a pesquisa apresenta a estagnação econômica da década de 1980 e as revisões dos instrumentos urbanos.
O terceiro capítulo mostra a criação do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC em 1990, num cenário de transformações produtivas e econômicas das indústrias, criando instrumentos de governança regional, passando posteriormente para a implementação do Plano Diretor de 2006, aos moldes do Estatuto da Cidade e da Constituição Federal de 1988.
Com relação a capítulo de conclusão busca-se, a partir do repertório dos principais planos levantados, entender o atual cenário urbano do município, e com isso poder contribuir para futuras intervenções e elaborações dos novos instrumentos urbanos realizados pela administração pública.
17
O PLANEJAMENTO DA NOVA INDÚSTRIA
1.1. Antecedentes históricos à urbanização de São Bernardo do Campo
O município de São Bernardo do Campo, antes da implantação da rodovia Anchieta e da indústria de grande porte, no início da década de 1950, apresentava um território característico de subúrbio rural, pouco integrado ao processo de pré- metropolização que vinha sofrendo São Paulo e territórios vizinhos interligados por infraestrutura de transporte. A conexão do município com São Paulo e Santos a partir da implantação da rodovia Anchieta deu ao território um caráter integrador e estratégico, logisticamente, a nova indústria de porte que tomava conta do mercado nacional, levava a cidade a um processo de urbanização intenso durante as décadas posteriores. A necessidade de novos instrumentos pela administração pública para controle do novo cenário levou São Bernardo do Campo a desenvolver e implantar o primeiro Plano Diretor do município.
Anterior a esta fase de urbanização, do início da década de 1950, vale citar os primeiros elementos estruturantes da região que contribuíram para modelação do território de caráter urbano. Na primeira metade do século XVII a região conhecida por Santo André da Borda do Campo era formada por fazendas e mosteiros beneditinos, e já utilizada estratégicamente como eixo de passagem pelo acesso do “caminho do mar” . Foi fundada em 1717 a Fazenda de São Bernardo dos Monges Beneditinos. Em 1812, a então conhecida Vila de São Bernardo, elevou-se a Freguesia, através do alvará do Marques de Alegrete. Em 1814 foi aberta a Rua Marechal Deodoro e suas primeiras transversais junto ao Largo da Matriz (LEVI, 1991).
Em 1847 São Bernardo, ainda como núcleo colonial, fazia parte de processo imigratório, que atraia europeus de diferentes regiões, fugidos da crise de abastecimento que sofria a Europa. Neste momento estabeleciam-se quatro núcleos na periferia da capital Paulista: São Bernardo, São Caetano, Glória e Santana. Estes faziam parte de uma reforma do espaço urbano da cidade, onde gerava-se um “cinturão” de caráter agrícola, estruturado para atender o abastecimento alimentício, servir de reserva de mão-de-obra, promovendo a elevação da densidade demográfica na região. Este anel rural, intitulado de banlieu 19 O PLANEJAMENTO DA NOVA INDÚSTRIA
coloniale atuava como um filtro entre o “núcleo urbano” e o “sertão inculto” (ALVES et al., 2001, p.54). Através da lei n˚ 23 de 1854 transferiu-se parte do território ao município de São Paulo.
Até a década de 1890 a região era apenas um distrito de São Paulo, distante dos focos de decisões. O crescimento populacional e o desenvolvimento das atividades econômicas levaram o Governo Provincial a criar em 12 de março de 1889 o município de São Bernardo1 através da Lei n˚38 e sua instalação em 2 de maio de 1890, passando a ter 817,5km² de território. Neste período, entre 1889 a 1900, juntamente com a febre da especulação, colaboradora da crise do café, foram criados no Estado 41 novos municípios (MORSE, 1970).
Em 1901, a partir da Lei n˚804 são estabelecidas as divisas do município de São Bernardo com os municípios de Conceição de Itanhaém, Santo Amaro, Capital, Mogi das Cruzes, Santos e São Vicente.
Durante a década de 1920 iniciou-se o processo de modernização das rodovias, onde foram construídas diversas estradas extra-regionais no Estado de São Paulo, seguindo os antigos traçados dos caminhos de tropas, porém numa escala regional. Estes eixos irradiavam-se em: São Paulo-Minas; São Paulo-Mato Grosso; São Paulo-Paraná; São Paulo-Rio. Em 1923 a estrada Caminho do Mar foi a primeira a ser pavimentada no Estado de São Paulo (REIS, 2010). A Estrada Caminho do Mar, franqueada ao trânsito público, era um importante eixo de ligação entre a capital e o litoral paulistano que cortava o território de São Bernardo (LANGENBUCH, 1971). Isso já demostrava sua importância quanto a localização logística estratégica, que posteriormente, na década de 1950 se tornaria mais evidente.
Em 1927 iniciou-se o processo de inundação do que seria posteriormente a Represa Billings2. O projeto era de responsabilidade da Companhia Light (“The São
1 O município de São Bernardo, criado em 1889 referia-se ao atual território do Grande ABC.
2 No final da década de 1940 é ampliado a represa do Rio Grande, passando a se chamar Represa Billings, e recebendo agora as águas do Alto Tietê. Neste momento a represa passava a ter a função de abastecimento a fim de atender ao expressivo crescimento populacional trazido pela industrialização na região. 20
O PLANEJAMENTO DA NOVA INDÚSTRIA
A crise mundial de 1929 e a posterior Revolução de 1930, no Brasil, trouxe mudanças no sistema empresarial do país nas relações econômicas internas e externas do país. O capital nacional urbano (indústrias, finanças e construção civil) ganhou importância, em contrapartida o setor rural perdeu força com a baixa exportação de café e outros produtos primários. Com incentivo do Estado, em quase todos os países, iniciaram as políticas de incentivo às indústrias, a fim de substituir as importações, dando maior autonomia ao processo de desenvolvimento. Esta nova dinâmica atraiu empregos e reforçou o mercado interno, ampliando as perspectivas para construção civil (REIS, 2010).
A consolidação do processo de urbanização e industrialização no Brasil aprofundou-se a partir da década de 1930, “quando os interesses urbano-industriais conquistam a hegemonia na orientação da política econômica, sem, entretanto, romper com relações arcaicas de mando baseadas na propriedade fundiária” (MARICATO, 2002, p.1). Num primeiro momento, entre a década de 1930 até o fim da Segunda Guerra Mundial, a estrutura urbana transformou-se pela notória concentração industrial distribuídas ao longo da Estrada de Ferro Santos- Jundiaí. Este eixo gerava certa articulação entre os municípios de São Paulo, São Caetano do Sul e Santo André (LEVI, 1991). São Bernardo, apesar de estar fora do eixo ferroviário em cerca de oito quilômetros, obtinha um nível de industrialização, ainda que reduzido e restrito, na atividade moveleira, perfazendo, em 1938, um total de 37 estabelecimentos industriais, onde trabalhavam 1.551 operários (ALVES et al., 2001). São Bernardo permaneceu como subúrbio rural até início da década de 1940, onde ampliou sua atividade na extração de madeira para a fabricação de dormentes para a ferrovia, de material para construção civil e fabricação de móveis (LANGENBUCH, 1971).
Em 1939 a cidade de São Bernardo passou a ser chamada do Santo André, recuperando sua autonomia como município de São Bernardo “do Campo” em 1944,
22 O PLANEJAMENTO DA NOVA INDÚSTRIA
dividindo o território do que seria o futuro Grande ABC3 com o município de Santo André.
1.2. A implantação da rodovia Anchieta em 1947 e a nova indústria
A implantação da rodovia Anchieta, no final da década de 1940, pode ser considerada um marco na história da urbanização de São Bernardo do Campo. A viabilidade logística da via, juntamente a posição geográfica do município acarretou na implantação de diversas industrias ao longo do eixo rodoviário, gerando grandes bolsões industriais. Esta nova infraestrutura urbana provocava um momento de transição quanto a perspectivas da administração pública. Neste contexto são criados ao longo dos anos 1950 planos e instrumentos, ainda que pontuais, a fim de integrar a estrutura urbana obsoleta às novas transformações.
A redemocratização no país, entre 1934 e 1937, traziam medidas institucionais a fim de dar respaldo técnico e cultural às transformações urbanas que estavam ocorrendo. Em 1934 criou-se o Departamento de Estradas e Rodagem (DER), responsável pelas obras rodoviárias no âmbito do Estado. A implantação das rodovias no Estado fazia parte dos programas rodoviários, dando apoio a produção industrial. Como consequência as obras traziam a valorização das terras ao redor das cidades, gerando o aumento de valor dos capitais fixos privados. Inicialmente as grandes rodovias eram feitas paralelamente aos principais eixos ferroviários (REIS, 2010).
3 A Região do Grande ABC é formada pelos sete municípios da Sub-região Sudeste da Região Metropolitana de São Paulo: São Bernardo do Campo, Santo André, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Entre as décadas de 1940 e 1970 os municípios supracitados sofreram um processo de emancipação, configurando-se na atual divisão política (LEITE, 2008). 23
O PLANEJAMENTO DA NOVA INDÚSTRIA
ao início do processo de obsolescência das linhas férreas (FELDMAN, 2005). Dentre as obras realizadas estavam a rodovia para Santos, Campinas e Rio-São Paulo, que deu origem a rodovia Presidente Dutra (REIS, 2010).
Durante a década de 1950 e início de 1960, São Paulo entrava em processo de descentralização dos pavilhões industriais, que concentravam-se ao longo das linhas férreas por intermédio da construção das rodovias Presidente Dutra (1951), Fernão Dias (1959) e a Regis Bittencourt (1961) através de investimento federal, e a rodovia Anchieta (1953) e rodovia Anhanguera (1953) através de investimentos do Estado (REIS, 2010). A articulação metropolitana entre litoral e o interior paulista, proporcionada por estes novos eixos, colocava a região como principal polo econômico e demográfico do país, e por consequência aumentava o espraiamento da mancha urbana (AGUILAR, 2009).
A rodovia Anchieta foi a primeira grande rodovia projetada e construída no Estado de São Paulo. Considerada, na época, uma das obras mais complexas do Brasil, pois exigiu grandes esforços técnicos nos trechos da Serra do Mar em função da elevada quantidade de túneis e viadutos com grandes vãos. Sua primeira fase foi entregue em 1947 (pista norte) e em 1953 a segunda fase (pista sul) (REIS, 2010).
Figura 1.4 - Rodovia Anchieta na década de 1950. Disponível em: http://www.estradas.com.br/ . Acesso em 10 de agosto de 2011.
25 O PLANEJAMENTO DA NOVA INDÚSTRIA
Este novo eixo cruzava o município de São Bernardo do Campo por toda a sua extensão norte-sul, estabelecendo uma rota estratégica, do ponto de vista logístico, para as novas indústrias que viriam a se instalar no seu entorno, gerando grandes bolsões industriais, estes quase sempre localizados a oeste da rodovia (WILHEIM, 2009). Na Figura 1.5 é possível notar a recém implantada via Anchieta e diversas plantas industriais localizadas em sua margem. Por exemplo a Industria da Volkswagen com apenas parte de suas instalações.
Figura 1.5 - Ortofoto de 1957 - Rodovia Anchieta na altura do km 23/ Planta da fábrica Volkswagen. Fonte: PMSBC, 2011.
26 O PLANEJAMENTO DA NOVA INDÚSTRIA
Apesar dos benefícios à iniciativa privada, a cidade e os municípios vizinhos tiveram de repensar a estrutura urbana em vista da mobilidade. O alto impacto da rodovia e a demanda de fluxo que a indústria trazia tornavam a malha urbana existente um tanto obsoleta. Em vista deste cenário, em 1954, a prefeitura do Município de São Bernardo do Campo (PMSBC), juntamente com os municípios de São Paulo, Santo André e São Caetano do Sul realizaram um Convênio de Planos Urbanísticos 4. O então prefeito Lauro Gomes, da PMSBC, promulgou o convênio através da Lei Municipal n˚264 5 , que definia áreas específicas nas divisas regionais dos municípios envolvidos, que sofreriam intervenções.
O Convênio estabelecia planos de intervenção ao longo do Rio Tamanduateí, Rio dos Meninos, Rio Oratório (Iguassu), avenida do Estado, avenida Pedro I e avenida dos Meninos. Para intervenções em rios intermunicipais e vias de grande tráfego, de interesse regional, era solicitada a colaboração do Governo do Estado.
Entre os municípios de São Paulo, Santo André e São Caetano do Sul, o plano de construção do canal do Tamanduateí superior e a abertura das avenidas marginais estariam incluídos em programas preferenciais de ambos os municípios, onde as diretrizes dos arruamentos, loteamentos e edificações lindeiras ao eixo em questão deveriam estar dentro de um plano comum entre as prefeituras. As intervenções contemplavam o trecho do canal do Tamanduateí superior até a foz do Rio dos Meninos, na divisa com São Caetano do Sul. Entre o município de São Paulo e Santo André previa-se a execução da canalização do Tamanduateí e obras das avenidas marginais.
Também ao longo do eixo do Rio dos Meninos, nas divisas entre os municípios de São Paulo, São Caetano do Sul, Santo André e São Bernardo do Campo definiu-se diretrizes de intervenção dentro de um plano comum entre as prefeituras. As obras previam a canalização do Rio dos Meninos e execução das avenidas marginais ao longo do eixo.
4 Lei Municipal n˚265/1954 - Convênio para Coordenação de Planos Urbanísticos.
5 O convênio deveria ser definido através de lei municipal específica. No ano de 1954 as prefeituras eram representadas pelos seguintes prefeitos: Jânio Quadros (São Paulo), Fioravante Zampol (Santo André) e Anacleto Campanela (São Caetano do Sul). 27 O PLANEJAMENTO DA NOVA INDÚSTRIA
Numa mesma perspectiva de intervenção, as prefeituras de Santo André e São Paulo estudavam conjuntamente a canalização do Rio Oratório, ou Iguassu, no trecho que iria da foz do Tamanduateí até aproximadamente os bairros de Iguassu, localizado em São Paulo, e Vila Iracema, localizado em Santo André.
A prefeitura de Santo André se responsabilizaria, também, pela canalização do Tamanduateí entre o trecho acima da foz do Oratório até Capuava, limite com o município de Mauá. Esta intervenção deveria ter como plano preferencial do município o trecho que compreendia a foz do Oratório e a avenida Antônio Cardoso.
Em São Bernardo do Campo, a prefeitura se responsabilizaria pela canalização do Rio dos Meninos no trecho que corta o município.
O convênio de desenvolvimento urbanístico estabelecia normas para execução de obras adjacentes, dentre elas: a avenida do Estado, no trecho entre Parque Pedro II e avenida Pedro I seria alargada para 76 ou 80 metros a calha de leito carroçável, criando seis faixas em cada direção. Entre o trecho da avenida Pedro I e Capuava a largura da via seria de 60 metros, e 50 metros no trecho que pertencia a Mauá, com previsão de quatro pistas.
As avenidas dos Meninos e Oratório, entre os municípios de São Bernardo do Campo e Santo André teriam a largura mínima do leito carroçável de 45 metros, com previsão de três faixas em cada sentido.
A abertura do Rio dos Meninos, no trecho entre o Tamanduateí e estrada das Lágrimas, seria previsto a passagem de ramal ferroviário com desvio para as indústrias (área do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários (IAPI)).
Com relação às edificações ao longo das marginais seria exigido recuos mínimos de seis metros, oito metros (nos troncos principais) e quatro metros na avenida do Estado, no trecho entre o Parque Pedro II e avenida Pedro I.
Nas quadras paralelas aos rios seria previsto o alongamento, reduzindo o número de cruzamentos e pontes, antevendo nos cruzamentos mais importantes espaços para futuras pontes e travessias em desnível.
28 O PLANEJAMENTO DA NOVA INDÚSTRIA
As intervenções nas vias marginais propostas teriam como um dos objetivos aliviar fluxo e retardar a ampliação de mais uma faixa na rodovia Anchieta nos dois sentidos, no trecho entre São Paulo e São Bernardo do Campo. O plano de intervenção referente ao eixo Tamanduateí se tornaria um dos principais meios de acesso ao Aeroporto Internacional de Santo Angelo6.
As diretrizes definidas pelo convênio, para futuras intervenções, deveriam ser mantidas, mesmo sem início imediato das obras, a fim de garantir que futuras obras, por parte da iniciativa privada, não interferissem na execução do plano.