Maria de Fátima Claudino Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna

Só a memória enriquece e alimenta.

Não há pedra que mais sangre nem asa que mais nos liberte.

Talvez por isso os saberes da memória respiram um tempo e um espaço muito

próprios.

A morte que tudo transfigura pratica as artes supremas da imprevisibilidade.

E, nesta impreveidência se compraz, irremediavelmente, a nossa humana condição.

Manuel Lopes

Prefácio, 1995

“O Barco Poveiro”, de Octávio Lixa Filgueiras

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INTRODUÇÃO

O forte de São Lourenço é um sítio arqueológico peculiar, visto ser a única estrutura militar que se conhece em território português submersa em água e imersa em areia. O forte foi erguido em plena Ria Formosa, rodeado de água, perto da Barra Grande, num contexto defensivo da entrada da cidade de Faro. Os solos arenosos onde o forte foi assente encontravam-se em constante movimentação para Levante, numa dinâmica permanente, levando a uma deslocação da barra para longe da fortificação. Os efeitos provocados pela sismicidade que ali se fizeram sentir, ajudaram ainda mais a fragilizar a estrutura construtiva ao longo dos anos. A dificuldade do estudo deste sítio provem do fato de os vestigios da estrutura se encontrarem dispersos à superfície e os trabalhos arqueológicos serem muito dificultados pelo fato de o acesso ao sítio ter de ser realizado em período de marés vivas, que permitam trabalhar o sítio a seco. Em meio submerso os trabalhos são dificultados pela forte corrrente existente. No entanto, estes trabalhos levados a efeito no contexto da aqueologia em meio aquático, foram fundamentais para estudar este tipo de sítio. Pretende-se, pois, demonstrar a importância estratégica desta fortificação ao longo da época moderna, integrado na planificação da defesa marítima da costa algarvia e mais especificamente na defesa da Barra de Faro, num contexto construtivo que representou o espírito da sua época. Pareceu-nos que este trabalho poderá ajudar a melhor conhecer as estruturas militares levantadas no pós-Restauração, bem como a evolução de um pensamento cujas opções de construção, podendo parecer estar condenadas ao fracasso desde os primeiros anos, nunca foram totalmente abandonadas, dada a importância estratégica para o qual a Forte foi planeado. Ele poderá permitir, também, trazer novos dados sobre os equipamentos disponíveis no Forte e a vida quotidiana da sua guarnição. Não há praticamente estudos sobre o Forte de São Lourenço, salvo o conhecimento do fundo particular de Carlos Pereira Callixto doado ao Arquivo Histórico Militar, bem como os seus trabalhos editados nos Anais do Município de Faro entre 1979 e 1986.

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Face à escassa informação disponível sobre o sítio, nomeadamente no que diz respeito a desenhos e plantas, este trabalho obrigará a uma pesquisa pormenorizada dos vestígios materiais existentes do Forte, relacionando-os e comparando-os com os documentos cartográficos e iconográficos disponíveis da época, a fim de ser possível a reconstituição histórica, o conhecimento sobre a sua construção e reconstruções sucessivas, relacionadas com a condição geoeconómica, sísmica, quotidiano e funcionalidade. Assim, quanto à metodologia da investigação arqueológica, procurámos alcançar os seguintes objectivos: relocalização do sítio arqueológico; definição das áreas de incidência de materiais pertencentes ao Forte; interpretação topográfica / batimétrica e geofísica rebocada; registo arqueográfico e posicionamento e recolha eventual de espólio associado ao sítio. Pretendeu-se avaliar o potencial arqueológico da zona, nomeadamente confirmar a existência de anomalias reveladas previamente pelo side scan sonar. Num trabalho de arqueologia histórica, será também muito importante recolher toda a informação presente na documentação escrita sobre o Forte de São Lourenço, investigando nomeadamente os pareceres dos Conselhos de Guerra existentes no Arquivo Histórico Militar, bem como a informação contida nos relatórios de inspecção às fortalezas da costa algarvia.

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Dividimos este estudo em cinco capítulos. No primeiro, Enquadramento geográfico, pretendemos analisar todo um contexto físico que se encontrava associado à fortificação, iniciando com uma abordagem geral sobre o e particularmente a região do Sotavento, mas centrando-nos essencialmente no sistema lagunar da Ria Formosa. Esta caracterização terá em conta aspectos relacionados com o regime de marés, os fundos e dinâmicas sedimentares, bem como a sismicidade histórica, visto terem condicionado a história do Forte de São Lourenço. A relação entre a geografia física e humana durante a Idade Moderna, a interacção histórica mar / terra e a

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exposição da costa do Algarve a diversas acções militares, no contexto turbulento da Idade Modera, serão outros temas aflorados. No segundo capítulo, Construção e evolução da estrutura fortificada, foram abordadas todas as questões relacionadas com a caracterização da estrutura militar e também as características e o material utilizado na sua construção. Fundamentalmente assentes em documentação escrita e na iconografia disponível, procuraremos traçar a evolução do Forte ao longo dos séculos posteriores à sua ereção em 1653 e até ao seu abandono em 1821. Nesse sentido iremos expor os dados históricos do Forte, a evolução da sua construção, referindo episódios que lhe estão associados, reconstrução e as causas naturais que se reflectiram neste processo. No terceiro capítulo, Caracterização do sítio arqueológico, foi feita uma análise dos vestígios existentes no local, com vista à localização e caracterização do Forte. Foi realizado em 2006 um primeiro levantamento da zona referenciada, mas sem resultados conclusivos quanto à localização exata do Forte. Já no âmbito da realização deste mestrado foi assumido como objetivo a continuação da caracterização dos vestígios de superfície e, sobretudo, a delimitação das suas áreas de dispersão. Efectuou-se um levantamento de todos os vestígios vísiveis em maré baixa através de GPS. Procurou-se, igualmente, interpretar os dados obtidos anteriormente por sonar de varrimento lateral, em comparação com a cartografia histórica. No quarto capítulo, Os equipamentos militares e a guarnição fizemos uma análise histórica sobre o quotidiano das guarnições que o Forte albergou. Apoiámo-nos da leitura das Relações da Guarnição e Artilharia, existentes no Arquivo Histórico Militar. Nesta documentação foi-nos dada informação sobre o número de efectivos, a caracterização da guarnição e as patentes militares. Analiámos o uso da artilharia utilizada no Forte e outros objectos relacionados com a a vida militar da fortificação, nomeadamente no que dizia respeito à sua origem, número de peças, calibre e o estado da sua conservação ao longo do tempo de vida do Forte. A documentação proporcinou também dados relativos à assistência espiritual e à existência de uma ermida. No quinto capítulo, Utilidade estratégica e militar, foi definida e avaliada a importância estratégica e militar do Forte de São Lourenço na defesa da Barra e Praça

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de Faro, no contexto lagunar da Ria Formosa. Importou avaliar sobre a funcionalidade e utilidade do Forte no seu período de actividade. Foi analisado o seu desempenho militar durante este período, se serviu para a inibição de combates, defesa e amparo das embarcações.

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O contacto direto com as evidências arqueológicas e manifestações de cultura constitui sempre uma apropriação e valorização da uma herança cultural, propiciando uma consciêncialização para o estudo da história, em particular num sítio que se caracteriza apenas pela existência de evidências dispersas e visíveis em alturas de baixa-mar. Fatores indispensáveis neste contexto, e que nos motivam particularmente, são a leitura do mundo que rodeia o sítio arqueológico, a promoção do diálogo e a dinamização de atitudes geradoras de posturas civicas em relação ao património. Desta forma, este estudo visa também ser um ponto de partida para a valorização deste património, a sua defesa, recuperação e divulgação. É, pois, importante que, para lá deste trabalho, se continue a consciencializar a população local para este valor histórico, desenvolvendo actividades que propiciem a aproximação a um património que é colectivo, nomeadamente junto das escolas do concelho, promovendo palestras e incentivando os professores a visitar o sitio onde se encontram os vestigios do Forte, com o apoio da capitania do Porto de Olhão. Uma acção que julgamos pertinente é a realização de uma exposição fotográfica, com base em todos os materiais recolhidos no decurso deste estudo, iniciativa que contaria com o apoio da Câmara Municipal de Olhão e da Bilbioteca Municipal, instituições fundamentais no desenvolvimento deste trabalho.

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CAPITULO I

Enquadramento geográfico

A unidade territorial portuguesa ficou definida com a conquista do Algarve, em 1249, e com a assinatura do Tratado de Alcanices em 1297. O medo de Castela reduziu a população na fronteira, a raia foi fortificada e intensificou-se o povoamento atlântico para um destino marítimo. Mas a costa do Algarve, desde muito cedo, ficou exposta a ações de força da mais variada espécie. Uma próspera e diversificada atividade marítima, incluindo a recoleção, a pesca, o comércio de cabotagem e de longa distância, além de uma agricultura e ganadaria proveitosa, haveriam de ser fatores de grande cobiça desde muito cedo1.

Se relacionarmos o mar e a serra, a fachada marítima Algarvia voltada a poente oferece-nos uma massa rochosa voltada aos difíceis ventos oceânicos, sendo de acesso marítimo muito difícil. Meridionalmente, até à foz do Guadiana, encontramos duas configurações distintas a definir a comunicação com o mar: até Albufeira, onde o recorte do litoral é feito por arribas, o Barlavento, dos promontórios do Sudoeste, dificultando o contacto com o mar; para nascente, um cordão de ilhas de natureza aluvial que defendem a linha de costa e os portos do Sotavento, Faro, Olhão, Fuzeta e , dando viabilidade a uma ativa e intensa economia marítima2. Em todo o caso, o litoral algarvio proporciona inúmeros ancoradoiros, tanto no Sotavento como no Barlavento.

Devido à ação de forças tectónicas que originaram e esculpiram diferenças entre o Sotavento e o Barlavento Algarvio após a última glaciação, a subida do mar

1 Luís L. Guerreiro, “Depradações, combates e capturas na costa do Algarve”, in Dinâmica Defensiva da Costa do Algarve. Do período islâmico ao século XVIII, Ed. Instituto de Cultura Ibero Atlântica, Portimão, dezembro de 2001, pp. 37-39 2 António Sérgio, Introdução geográfica-sociológica à História de Portugal, 2º edição, Livraria Sá da Costa, Lisboa. 1974. 6

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levou à movimentação de grandes quantidades de areia, fornecidas pelas ribeiras e à movimentação de grandes quantidades de areia, fornecidas pelas ribeiras e rios, que acosta, formando-se assim o Sistema das Ilhas Barreira3, na área Leste do Algarve.

A laguna da Ria Formosa integra um ambiente de deposição de sedimentos que separa o cordão arenoso do continente. No decorrer da fase máxima da última glaciação, os cursos de água que chegavam à Ria eram torrenciais e facilmente entravam nos vales, escavando e alargando os leitos, formando depressões que, mais tarde, com a invasão marítima, foram apoderadas pelo mar. Diz-nos Estrabão, no século I. d.C., que “na costa da Tordetânia (Algarve) há muitas aberturas, formando esteiros de água salgada onde se situam no interior cidades, tais como Ossonoba”4. Esta realidade explica-se pelo facto do volume do mar ser superior ao atual, facilitando a penetração nos vales, que deveriam estar pouco assoreados.

Fig. 1 –Ria Formosa (in http://www.lnec.pt/organization/dha/nec/estudos_id/berna)

3 Filipe Ceia, “Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na Óptica da Gestão”, in Revista da Gestão Costeira Integrada, 9 (1): 57-77, 2009, p. 57. 4 Alberto Iria, O Algarve e os Descobrimentos, Vol 2, Tomo 1, Instituto da Alta Cultura, Lisboa, 1976, p. 236. 7

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O sistema lagunar da Ria Formosa localiza-se, pois, no Sotavento Algarvio e é atualmente composto por duas penínsulas, Ancão e Cacela, que constituem os limites ocidental e oriental do sistema. É formado por cinco ilhas-barreira de Oeste para Este: Barreta, Culatra, Armona, Tavira e Cabanas. Dentro deste espaço, existe um vasto corpo lagunar com sapais, canais de maré, ilhotas e barras de maré, que, ao migrarem de posição, começam a assorear e através deste processo, as ilhas vão sendo progressivamente destruídas e construídas.5

O sistema de ilhas-barreira é assim designado por possuir um grupo de ilhas que define, entre estas e o continente emerso, um corpo lagunar; as ilhas constituem, assim, uma barreira entre a laguna e o oceano. Caracteriza-o uma dinâmica sedimentar muito intensa, com dois tipos de migração: uma longitudinal, com acumulação de areias na extremidade de uma ilha e erosão da extremidade da seguinte; outra transversal, empurrando todo o sistema em direção ao continente, respondendo a pequenas variações do mar. Os sedimentos têm naturalmente tendência para migrar de poente para nascente, até atingir uma posição limite, provocando assoreamento; este movimento leva a que, no decurso de um temporal maior, se abra uma barra a ocidente, iniciando-se, assim, novo ciclo6.

Analisando e comparando as representações cartográficas do sistema, a partir do século XVI, podemos inferir que as ilhas foram variando de forma e de localização. Num mapa quinhentista existente na Biblioteca do Escorial7 aparece a zona Oriental da atual Ria Formosa, delimitada de Tavira a Faro por cinco ilhas principais. Já a representação de 1590, mostra que as ilhas se prolongam e movimentam de Faro, passando por Figueira Godar, Tavira, Cacela e . A representação é, porém, claramente mais esquemática, evidenciando uma barra junto a Marim, outra em Tavira e a mais oriental em Faro. João Teixeira figura novamente esta zona em

5 P. Bernardo & J.A.Dias, “História da Ocupação das Ilhas Barreira da Ilha Formosa”, in 4º Simpósio sobre a Margem Ibérica Atlântica, Espanha, 7/10 de julho de 2003, p. 189. 6 J. A. Dias, Ó. Ferreira e D. Mou “O sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa” in II Reunião Científica, Rede Cyted-XVII – 3º Simpósio Interdisciplinar dobre Processos Estuarinos, UALG, 25-28 maio de 2004, p.1. 7 Fernando Castelo Branco, “Alguns aspetos da Evolução do Litoral Português”, in Boletim da Sociedade Portuguesa de Geografia, 75, Lisboa, 1957, p. 195. 8

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1648, mostrando que o sistema lagunar se alterara, e, pelos pontilhados existentes no desenho é-nos demonstrada a movimentação das ilhas, para Este. Acima de tudo a Ria parece fechar-se paulatinamente, dificultando a entrada e saída de embarcações.

O mapa de 1772 compilado por Francisco Pereira de Sousa evidencia também o prolongamento das ilhas para Oeste. São representadas as cinco ilhas barreira que se estendem de Vale do Lobo até Cabanas e a posição das suas barras. Figuram-se as de Farilhões, a Barra Nova junto a Faro, a Barra Grande a Sudoeste de Olhão, a Barra da Fuzeta e a de Tavira. Junto a Olhão foi representado o Forte de São Lourenço, algo afastado da Barra Grande.

Finalmente em 1811 já se apresenta uma composição próxima da atual. As ilhas barreira estão então em ativa fase de migração e em direção ao continente.

Fig 2 - Costa do Algarve no Atlas da Península Ibérica (século XVI), existente na Biblioteca do Escorial (cf. Fernando Castelo Branco, “Alguns aspetos da Evolução do Litoral Português”, in Boletim da Sociedade Portuguesa de Geografia, 75, Lisboa, 1957, p. 195).

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Fig. 3 – Evolução geográfica do Sotavento do Algarve (cf. Fernando Castelo Branco, “Alguns aspetos da Evolução do Litoral Português”, in Boletim da Sociedade Portuguesa de Geografia, 75, Lisboa, 1957).

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Fig. 4 – Mapa datado de 1772, compilado por Francisco Pereira de Sousa

As barras que separam as ilhas são de caráter migratório e deslocam-se, ao longo do tempo, de Oeste para Este, até atingirem uma posição limite, onde começam

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a assorear. Podemos provavelmente aduzir a conclusão de que as ilhas iam variando de forma e localização.

As ilhas e penínsulas são atualmente separadas por seis canais de maré: Ancão ou São Luís, Faro - Olhão, Armona ou Grande, Fuzeta, Tavira e Lacém ou Cacela. Estas viabilizam trocas hídricas, sedimentares, químicas e de nutrientes entre o meio lagunar e o oceano. Das barras aludidas, a de Faro-Olhão e a de Tavira são artificiais, estando fixadas com molhes. Em termos gerais, o sistema tem cerca de 50Km de comprimento, que se desenvolve entre as longitudes de 8º02´W e 7º31´W. A Ria estende-se pelos concelhos de Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António, abrangendo uma área de aproximadamente 18.400 hectares8.

Apresenta-se como uma lagoa expansiva, pois o seu volume de água aumenta entre as maré baixa e a maré alta e a sua profundidade média situa-se entre os 3 a 5 metros. Esta grande variação é causada pela oscilação das marés mesotidais, as trocas de água que se estabelecem com o mar em cada ciclo de maré, pela profundidade média muito baixa da lagoa e pela existência de uma rede de canais que facilitam a propagação de ondas que se movem de Sul para Norte através da barreira arenosa9.

O fundo da Ria é essencialmente constituído por um banco de areia transportado pela deriva Oeste – Leste. Comunidades de plantas halófitas têm um papel determinante na colmatação da laguna, pois ao empatarem a circulação da água aliviam-na das matérias em suspensão, que se decantam e depositam no fundo, elevando-o por vezes cerca de 10cm em apenas 1 ano10.

Esta região caracteriza-se também pela particularidade da sua planície costeira ser recente, estreita e ladeada de calcários e relevos de xisto. A deposição destes materiais reflete uma intensa atividade tectónica que é testemunhada por uma rede de falhas ativas ainda mal conhecidas, por sismos e tsunamis intensos ao longo dos anos.

8 Filipe Ceia, “Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na Óptica da Gestão”, in Revista da Gestão Costeira Integrada, 9 (1): 57-77, 2009, p. 58. 9 Idem. 10 M. E. Figueirosa, “Margem Continenteal - Linhas de Costa”, in Atas da I Reunião do Quaternário Ibérico, Grupo de Trabalho para o Estudo do Quaternário, Vol. 1, Lisboa, 1985, p. 373. 12

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O Algarve encontra-se numa região de moderada e elevada perigosidade sísmica, dada proximidade de fronteira das placas Ibérica / Euro-asiática e Africana11. A análise de dados mostra que Portugal, e muito em especial o Algarve, tiveram uma atividade muito significativa. Dos quatro sectores de grande intensidade recenseados em Portugal, dois situam-se na margem sul: Banco de Goringe, a SW do Cabo de S. Vicente, onde se situam os epicentros dos sismos de 60 a.C., 382, 1356 e 175512, e as falhas da região Loulé-Tavira, onde se situam os epicentros dos sismos de 1587, 1722 e 1856 . A maioria dos autores, fundamentados na distribuição dos danos, localiza a área epicentral de alguns dos sismos históricos mais importantes que afetaram o território de Portugal continental, no mar, a sudoeste do Cabo de São Vicente, na região do Banco de Gorringe13.

Com dinâmica portuária ainda antes da romanização, o Sotavento Algarvio conheceu intensa ocupação urbana costeira durante a partir do século I a. C., moldando-se progressivamente aos novos padrões civilizacionais e humanos do império14.

Principal aglomerado urbano do Sotavento, em 1415, Tavira foi o porto de partida da armada portuguesa para o Norte de África, iniciando um período de grande prosperidade. Tornou-se escala de tráficos com o Magrebe, com a importação de cera, mel, courama, pescado seco, tâmaras e gado em troca de mercadorias diversas, nomeadamente para abastecimento às praças portuguesas conquistadas no Algarve de Além. Foi elevada a cidade em 1520. A economia e a população estavam então em crescimento, sendo o centro populacional mais destacado do Algarve. A sua principal indústria era a armaria, o comércio marítimo era florescente e recebia privilégios como forma de incentivo15.

11 Plano Regional de Ordenamento do Território - Apreciação do Risco Sismico no Algarve, Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, Vol II, anexo J– Caracterização e Diagnóstico, abril 2004, p. 7. 12 João M.C. Estevão, http://w3.ualg.pt/~jestevao/JEsismo_hist.html. 13 J.Alveirinho Dias,http://w3.ualg.pt/~jdias/GEOLAMB/GA5_Sismos/57_Portugal/572_SismicidPort.html 14 Maria da Graça Marques, O Algarve da Antiguidade aos nossos dias, Edições Colibri, Lisboa, 1999. 15 Ofir Chagas, Tavira, Memórias de uma Cidade, Edição O Autor, Tavira, Dezembro 2004, pp..43-78. 13

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O último quartel do século XVI em Tavira foi conturbado pela dominação filipina e pelo surto de peste em 1580. O porto foi encerrado, a população diminuiu e pragas de gafanhotos dizimaram culturas. Inimigos da monarquia hispânica ameaçavam o porto, e um novo surto de peste em 1599 arrasou a cidade. Em 1622 o assoreamento do rio e da barra acelerou a decadência da cidade.

A partir de meados do século XVI, com a decadência de Tavira, Faro foi dominando todo o comércio marítimo do Sotavento algarvio, a zona da província que mais contribuía nessa época para a exportação. Foi-se tornando assim o maior e mais importante aglomerado urbano do Algarve16. A Ria Formosa dotava Faro de um magnífico porto, que foi a causa determinante do seu desenvolvimento.

A Ria era, efetivamente uma zona de intensa atividade marítima. Frei João de referia em 1577 que “Desta barra (Tavira) à de Farão (Faro) acima dela há quatro léguas para a banda do poente e duma à outra corre um braço do mar por direito de terra (…), Há continuamente pescadores neste rio e torna-se nele todo o género de peixe e de marisco e tudo tão avantajado na bondade e sabor que facilmente se conhece17.

A conjuntura de finais do século XVI, o domínio filipino e o pós Restauração, foram caracterizados pelas investidas de piratas e corsários, o enfraquecimento da presença portuguesa no Norte de África e o resgatar clandestino sucessivo dos galeões das carreiras das Índias de Castela com metais preciosos, levando à consolidação do sistema defensivo do Algarve18. Desde meados de quinhentos que as autoridades algarvias manifestavam grande receio e representantes de interesses locais pediam uma urgente proteção litoral. A relação dirigida ao rei, em 1631, por Rodrigo Rebelo Falcão, provedor das almadravas, testemunhava a violência sistemática a que estavam sujeitos os pescadores19.

16 Idem. 17 Frei João de S. José, Corografia do Reino do Algarve, Universidade do Algarve, Faro, [s/d] 1577. 18 António Borges Coelho, Questionar a História (ensaios sobre a História de Portugal), Editorial Caminho, Lisboa, 1983, pp. 77 e 220. 19 Valdemar Coutinho, Dinâmica defensiva da Costa do Algarve, do Período Islâmico ao século XVIII, Instituto de Cultura Ibero Atlântica, Ed. Inventário e Itinerários, Portimão, 2001, pp. 39 - 53. 14

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Em 1638 temia-se um ataque à região e a Faro por holandeses e franceses. A cidade era tida como sendo a “mais rica, menos forte e com mais dezembarcações (…) os lugares mais abertos que nelle há”. O confronto entre franceses e espanhóis viria também a ameaçar o Algarve, em 1639. A correspondência trocada com o governador do Algarve, denuncia a defesa precária das povoações: cercas e baluartes em ruínas, pouca população para lutar, poucos recursos financeiros, armas e munições20.

A partir de 1640, com a Restauração da Independência, iniciou-se um esforço para suster as tentativas de invasão dos exércitos de Filipe IV, até o tratado de Paz ser definitivamente assinado, em 1668. O exército português foi, entretanto, amplamente reorganizado e ocorreu também um muito importante processo de construção, reconstrução ou readaptação de fortalezas e cercas urbanas21.

Ao longo dos anos, o assoreamento, a mobilidade das areias, o depósito de aluviões, tornaram impraticáveis ou de difíceis entradas as barras de Tavira e de Faro22. Outros povoados, foram então surgindo com os primitivos arraiais localizados em locais próximos e estrategicamente posicionados face à respetiva armação de pesca, onde os companheiros e seus agregados familiares se fixavam.

A convergência da intensa morfodinâmica da Ria, a pirataria, o corso, associado a uma ineficiência do sistema defensivo, levaram a que, apesar do potencial que a laguna constituía em termos de pescado, a ocupação das ilhas só se começasse a processar mais ou menos permanentemente já tarde, com o fim dos ataques e o intensificar das atividades piscatórias no fim do século XIX23.

Ao abrigo das ilhas que separam o mar da Ria, entre os esteiros e os sapais, desenvolveu-se na segunda metade do século XVII, um povo de pescadores e mareantes: os Olhanenses. Contudo, só a construção do Forte de São Lourenço, em

20 Carta dos Governadores do Algarve (1638-1636), Academia Portuguesa de História, 1978, p.52. 21 Natércia Magalhães, Algarve, Castelos, Cercas e Fortalezas, Letras Várias, Edições e Arte, Faro, novembro de 2008. 22 Joaquim Romero Magalhães, O Algarve Económico 1600-1773, Editorial Estampa, Lisboa, 1993. 23 J.A. Dias, P. Bernardo; “História da Ocupação das Ilhas Barreira da Ria Formosa” , in 4º Simpósio sobre a Margem Ibérica Atlântica, Vigo, Espanha, 7/10 de julho de 2003. 15

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1653 criou as condições de segurança para uma instalação populosa permanente nesta localidade24.

24 Joaquim Romero Magalhães, O Algarve Económico 1600-1773, Editorial Estampa,Lisboa,1980, p.112. 16

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CAPÍTULO II

Construção e evolução da estrutura fortificada

“O pescador de Olhão bastava-se a si próprio. Oo espírito de independência reinava e desde a construção da própria casa à improvisação das artes piscatórias e o aproveitamento dos meios materiais ao seu alcance, constituíram uma forma de vida muito própria e notada no espírito da classe. As casas construiam-nas perto da beira-mar, agrupadas om os meios que as rodeavam.. Nas dunas e barreiras das praias, colhiam o barrão, que com estruturas de paus e canas da Índia, formaram as primeiras cabanas, que foram evoluindo para as paredes laterais em alvenaria e finalmente foram substituídas por telhados com placas dee açoteias, sobre abóbodas de tijolos, dando origem à primeira povoação no lugar de Olhão”.

Adérito Fernandes Vaz, “Olhão da Restauração no tempo e a 1ª Invasão Francesa em 1808, no contexto regional e nacional”, Elos Clube de Olhão, 2º volume, 2009, p. 101.

Entre 1580 e 1640 a costa algarvia ficou particularmente vulnerável militarmente e a partir da Restauração foram efetuados esforços para constituir um sistema de vigilância da costa e a fortificação de variados locais, a fim de garantir o apoio à navegação, a continuidade da atividade pesqueira e a luta contra a atividade corsária25.

A cidade de Faro compreendia então as muralhas medievais que protegiam o núcleo urbano. Para além disto existiam outras fortificações, algumas de carácter provisório, edificadas em ilhas e construídas na sua maior parte com materiais frágeis e de pouca consistência, de areia, faxina ou madeira e tendo como alojamentos cabanas de junco e tabuado. Estas fortificações tinham pouco tempo de duração, devido à ação do mar e à própria morfodinâmica da Ria26.

Neste contexto frágil de construção, propôs-se em 1653 a construção do Forte de São Lourenço, para defesa da Barra de Faro. O engenheiro militar Pedro de Santa

25 Natércia Magalhães, Algarve, Castelos, Cercas e Fortalezas, Letras Várias, Edições e Arte, Faro, 2008, p. 29. 26 Carlos Callixto, “Apontamentos para a História das Fortificações da Praça de Faro”, sep do Anais do Município de Faro, Nº VIII, Faro, 1979. 17

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Colomba, ao acompanhar o Governador e Capitão General do Algarve, em missão de inspeção a todas as fortificações de Castro Marim a Sagres, sugeriu que o Forte fosse construído na ponta de uma elevação de areia. A sua estrutura e alicerces deveriam assentar em grade de madeira grossa, bem travada com pregaria, preenchida por alvenaria miúda. Sobre ela deveria colocar-se lajes, a partir das quais arrancariam as paredes27. O Forte deveria ter quatro baluartes, levantados em frente respetivamente, exterior e que se estenderia de ponta a ponta do baluarte28.

O financiamento do Forte importou a contribuição de várias autoridades. Os comerciantes de Faro ofereceram 2% dos impostos das fazendas que durante 6 anos saíssem ou entrassem da Barra. A Câmara de Faro contribuiu com seis anos sobre as sobras do cabeção das sisas e o próprio rei D. João IV decidiu autorizar uma despesa de 4.000 cruzados, tirados das sobras da alfândega da cidade ou, se esta contribuição fosse insuficiente, de qualquer outra fonte de financiamento pertencente à Real Fazenda.

A construção do Forte deve ter-se iniciado ainda em 1653, pois em abril do ano seguinte se noticiava que a estrutura, assente em 2.000 traves de pinho grossas estaria prestes a receber artilharia num dos quatro baluartes, pelo bom ritmo em que a construção estava a ser levada a cabo previa-se que estaria concluído em dois anos29. Mas em 1657 as obras ainda continuavam e, apesar de estar concluída a parte do Forte voltado para a Barra, foi proposto que se fizessem de torrão os dois baluartes

27ANTT, Conselho de Guerra, caixa 17, maço 14, Documento 181, consulta de 21 de Outubro de 1654. Parecer do Engenheiro Pedro de Santa Colomba datado de 20 de Fevereiro de 1653, transcrito em Carlos Callixto, “Apontamentos para a História das Fortificações da Praça de Faro”, in Anais do Município de Faro, Nº XI de 1981, pp. 217-218. 28 A planta que acompanhou o parecer de Pedro Santa Colomba não consta da Consulta em 3. Neste desenho, a legenda informa-nos que a posição do forte já distava da Barra um quarto de légua e de Faro, uma légua grande. Tem 3 peças de ferro calibre 18 e duas de bronze de calibre 6. A entrada, e do lado direito, um poço, e ao fundo, a ermida. Os quartéis posicionam-se do lado esquerdo à ermida com o paiol ao fundo. No exterior, a referência a ruínas e a um rochedo. 29 ANTT, Conselho de Guerra, Decretos, maço 14, decreto de 24 de Abril de 1654, compilado pelo General Cláudio Chaby na “Synopse dos Decretos Remetidos ao Extinto Conselho de Guerra”, volume 1º, p. 287. Documento transcrito por Carlos Pereira Calixto, “Apontamentos para a História das Fortificações da Praça de Faro”, in Anais do Município de Faro, Nº 11, 1982. 18

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voltados para terra, pois este flanco era igualmente importante defendê-la de possíveis ataques30.

Contudo, cedo a estrutura demonstrou a sua fragilidade. Apenas oito anos após o lançamento da primeira pedra, em 1661, o Forte “começou-se a arruinar”31. Foi efetuado um esforço de reconstrução pela união das pedras com ferro, betume e mós de moinho32. Parecia ser difícil a reparação com um dos baluartes muito destruído, permitindo que as marés vivas alagassem o recinto até aos alojamentos. O estado do Forte levou mesmo a que fossem retiradas as peças de artilharia. Assim, em pouco tempo “ficaram as diligências baldadas e perdido o gasto pelo reparo se fez”33.

Não obstante a ruína em que o Forte se encontrava, a Coroa não desistiu da sua posição e ordenou em 1661 a Pedro Santa Colomba uma deslocação ao local, a fim de desenhar uma planta do terreno e da ruína, apontando o que seria necessário reparar e conservar. Os custos deveriam ser poucos e a utilidade do Forte inquestionável para defesa da barra e amparo aos pescadores e navios que fugiam dos corsários34. O rei acabou por determinar a reedificação do Forte de São Lourenço neste mesmo ano35. Contudo, em 1669, um dos baluartes do Forte estava destruído pelo mar36. Devido à falta de condições do terreno, a Coroa decidiu a reedificação em local mais seguro37. Em 1701, temos a informação que o Forte ainda se encontrava imperfeito38, pelo que podemos concluir que as ordens da Coroa não foram cumpridas ou que neste período de tempo o Forte teria sido reedificado e logo a seguir sofrido nova derrocada.

30 Synopse dos Decretos Remetidos ao Extinto Conselho de Guerra, pelo Major Cláudio Chaby, Volume 2º, Nº 29, p 20, Lisboa 1870, Carta do Conde de Val de Reis, Governador e Capitão General do Reino do Algarve, à Rainha Regente, 10 de Abril de 1657, anexa ao Decreto de 21 de Abril 1657. 31 Alberto Iria, Cartas dos Governadores do Algarve 1638-1663 p 411, documento 556, Carta do Governador do Reino do Algarve Martim Correa da Silva, 21 de Abril de 1661. 32 Idem. 33 Idem. 34 ANTT, Conselho de Guerra, Livro de Registo da Secretaria da Guerra, nº26 (etiqueta nº 24), folha 92, verso, 1661. 35 ANTT, Conselho de Guerra, º 25, 1661. 36 ANTT, Conselho de Guerra, caixa 28, maço 29, Consulta de 11 de abril de 1669. 37 ANTT, Resolução Real, caixa 28, maço 29 Consultas de 1669. 38 Geographia Histórica do Brasil, África, Ásia, Portugal, etc. Geographia do Reino de Portugal, fl 134, 1701. 19

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Devido à intensa dinâmica da Ria que conduzia a uma fragilidade do solo e dos fundamentos dos alicerces da construção - as areias corriam de Poente a Levante, e conjugando ainda a força das marés e do vento, o Forte ia derrocando sucessivamente A reconstrução era sempre temporária até nova derrocada.

Em 1707, encontramos o Forte artilhado e guarnecido, conforme consta da lista dos pontos fortificados do litoral português39. No seguimento de anteriores derrocadas e reconstruções o forte ruíra por completo. Contudo a necessidade de defesa da Barra levou à sua reedificação no governo do 10º Conde de Atouguia, D. Luis Peregrino de Ataíde (1700-1758), sendo os fundamentos da nova estrutura erguidos sobre a fortaleza arruinada. A documentação refere que foi erguida uma plataforma artilhada, com o fim de servir de registo às embarcações que entravam e saiam da Barra40. A subtileza da terminologia, opondo a nova “plataforma” à arruinada “fortaleza”, parece indiciar um carácter menos militar ou mais precário da nova estrutura.

Com o terramoto de 1755, o Forte de São Lourenço sofreu grande derrocada, tendo o mar arrasado por completo a construção 41. Porém, logo no ano seguinte a sua reconstrução foi mais uma vez proposta e de novo concedida42. Em duas das visitas de inspeção efetuadas nos anos seguintes aos pontos fortificados do litoral algarvio foi representado o Forte de São Lourenço43. Atentando ao desenho do Sargento Romão José do Rego, provavelmente de 1762, pensamos que este representa o estado do forte após a referida reconstrução.

39 Veja-se a obra do Mestre de Campo António do Couto Castelo-Branco, Memórias Militares, Ed. Lit. António de Novaes Ferram, 1707. 40ANNT, Conselho de Guerra, maço 20, consultas de 28 de setembro de 1753. 41 ANTT, Papéis do Ministério do Reino, Ofício do Governador e Capitão General do Reino do Algarve, D. Rodrigo António de Noronha e Menezes dirigido a Sebastião José de Carvalho e Melo, 9 de Fevereiro de 1756. 42 Arquivo Histórico Militar, DIV/1/06/28/46, ofício de José Vieira da Luz para D. Luís da Cunha Manuel, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, sobre a autorização para obras na Fortaleza de São Lourenço da Barra, Setembro de 1756. 43 BN, Reservados – Casa Forte, Tesouros do ANTT, Plantas do Ministério do Reino, doc Nº 2 e 6- Relatório de Lagos, 22 de Junho de 1754 – Visita de Inspecção a todos os pontos fortificados do litoral algarvio, publicado por Carlos Callixto, “Apontamentos para a História das Fortificações da Praça de Faro, A Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro”, in Anais do Município de Faro, Faro, 1978, Nº VIII, p.88. Arquivo Histórico Militar, Romão José do Rego, Rellação da Artilharia, Palamentas, pólvora e ballas que há nos Armazens da Cidade de Faro, Planta do Reduto de São Lourenço, 2ª metade do século XVIII. 20

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A fortificação apresentava a traça de um quadrado de 15 varas de comprimento (16,50 m). Os alojamentos, alguns destruídos e outros em ruina, situavam-se virados a Norte e a plataforma com as peças de artilharia a Este. Entre os alojamentos e a plataforma, ao fundo da construção, encontra-se a ermida. É-nos assinalado no desenho, do lado exterior à ermida, o sítio mais frágil do forte, onde se iniciava nova derrocada. A toda a sua volta encontra-se registado o que nos parece ser os reforços da estrutura, provavelmente posteriores ao terramoto e, finalmente, a Sul representava-se a porta arruinada.

Fig. 5 – Romão José do Rego, Rellação da Artilharia, Palamentas, pólvora e ballas que há nos Armazens da Cidade de Faro, Planta do Reduto de São Lourenço, 2ª metade do século XVIII, Arquivo Histórico Militar

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No entanto, as obras de reparação do Forte sucederam-se, pois estão documentadas em 177244. Em relatório de inspeção realizado em 1792 foi proposto proceder a realização de trabalhos de consertos no Forte de São Lourenço, pois era necessária a continuação da funcionalidade de fiscalização das embarcações que entravam e saíam da Barra. Os trabalhos de reconstrução foram levados a efeito, pois em relatório datado do ano seguinte é-nos indicado que o Forte já se encontrava operacional e em bom estado de conservação, necessitando apenas de algumas reparações nos seus telhados45. O Forte era então denominado como “pequena bateria”46.

Baltazar de Azevedo Coutinho, capitão do Real Corpo de Engenheiros, deixa- nos um desenho do Forte de São Lourenço, datado de 1798.

Fig. 6 - ANTT, “Fortificações do Algarve”, 1798, Baltazar de Azevedo Coutinho, Capitão do Real Corpo de Engenheiros.

44 ANTT, Registo da Secretaria da Guerra, Livro Nº 64, fl.20, de 6 de outubro de 1772. 45 Arquivo Histórico Militar, caixa 18, “Relatório do Tenente-Coronel do Real Corpo de Engenheiros, Alexandre José Montana – Visita de inspeção feita a todas as fortalezas da costa algarvia desde o Forte da Arrifana à Praça de , 1793”. 46 Arquivo Histórico Militar, DiV/4/1/04/22,“Projeto sobre as Fortificações do Reino do Algarve, 27 de agosto de 1796”. 22

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Anastácio Joaquim Roiz, nesse mesmo ano de 1798, fornece-nos uma minuciosa descrição do Forte de São Lourenço47. O Forte era então um quadrilátero, com o maior lado de comprimento de 10 toesas. As suas frentes viradas a Oeste e Norte não tinham plataformas para a artilharia e eram mais elevadas que as outras duas. Era na parede Norte que encostavam as casas para a guarnição e uma dependência para o Governador repousar, o conjunto edificado tinha também um armazém, e uma capela, ao fundo, entre os alojamentos e a bateria. Estas últimas dependências seriam cobertas de telha. Tinha uma guarita no ângulo Nordeste e no ponto mais alto, um paiol adossado aos quartéis.

Nesta descrição Anastácio Roiz não refere a existência de poço, ao contrário do desenho de Baltazar Coutinho, que o figura no canto Sudeste à entrada do Forte. Esta fazia-se pelo lado Sul. Os parapeitos da bateria eram a barlete, pelo que as peças assentavam sobre ele, não existindo canhoneiras; eram construídos de alvenaria e tinham 1 pé e meio de espessura (0,49cm). O resto das muralhas era de pedra e terra, com ¾ a 4 pés de grossura (1,20m). Para Este e para o lado do mar, a Sul, existiam duas baterias em plano mais baixo, também à barla. São assinaladas ruínas a toda a volta da fortificação, em especial do lado Sul.

Comparando a descrição de Baltazar Coutinho de 1798 com a mencionada representação do Forte de Romão José do Rego, datada de 1762, observamos algumas diferenças. No desenho de 1762 não encontramos referência à existência do poço, do paiol ou de artilharia montada. Também não há referência a ruínas, mas sim “ao sítio por onde mais propícia arruinar a Fortaleza”. A maior diferença é, porém, que no desenho de Baltazar Coutinho se nota um alargamentos da estrutura fortificada em dois flancos – no lado da bateria e no lado da entrada do Forte, pelo que podemos deduzir que este alargamento serviria para reforçar a estrutura defensiva.

Em 1821, o Forte de São Lourenço era um reduto de alvenaria em ruinas, cercado por um fosso e assente numa coroa de areia. Via-se a porta por onde se entrava no Forte, os alojamentos da guarnição caídos, e a ermida arruinada. Por uma

47 Arquivo Histórico Militar, caixa 4, nº 6, Anastácio Joaquim Roiz, Rapport sur le Fort Appelé São Lourenço de Olhão, 22 de março de 1798. 23

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escada de pedra de 2 palmos de largo (4,44m), subia-se à bateria , levantada por 2 braças sobre o nível do mar, com plataformas de lajedo, em melhor estado que tudo o resto, e tinha 24 passos de comprimento e 11 de largo (17,76m de comprimento e 6,06m de largura). Num dos ângulos, do lado da gola é de abóboda. O mar entrava na construção, correndo o risco de ruir se não fosse reparada48.

Outra documentação coeva descreve o Forte. “Estava de tal modo arruinada que não se podia observar, nem conhecer a sua configuração a não ser em baixa-mar”. O alicerce da muralha, estava com a estacaria descoberta e parte da sapata caída a Oeste. Ainda se podia observar a bateria rasante e superior, para Leste. A bateria superior, deixava ver a sua configuração. Tinha ruína no alicerce da parede que ficava para a bateria rasante49. Nos anos subsequentes50, revela-se a progressiva e irreversível ruina do Forte de São Lourenço ao longo do século XIX.

*

No contexto das Guerras da Restauração, toda a costa portuguesa foi reforçada militarmente. Foi, pois, quando o sistema medieval das torres de vigia deixou de corresponder às necessidades tácticas da guerra anfíbia, praticada pela pirataria turca, que se iniciou a construção de fortalezas modernas, a partir de meados do século XVII51.

Após a Restauração, a principal preocupação foi assegurar a defesa do Reino contra as investidas espanholas e, para isso, em 11 de dezembro de 1640 foi instituído

48 Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar, “Memória Resumida do Reconhecimento Militar feito à Costas e Fortificações do Reino do Algarve, compreendiadas desde a Foz do Rio de Odeceixe até à Foz do Guadiana, 1821”. 49 Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar – 3231, 1821. 50Arquivo Histórico Militar, Decretos, “Reconhecimento de Todos os Pontos Fortificados desde o Forte de Arrifana no Oceano Atlântico, à Praça de Alcoutim no Rio Guadiana, Comissão de Reconhecimento de Oficiais do Real Corpo de Engenharia, 1825”. Arquivo Histórico Militar, 3D9SCIN49,“Mapa Geral das Fortificações Existentes na 8ª Divisão Militar, 1840”. 51 Rafael Moreira, “A arquitetura militar do Renascimento em Portugal”, in Atas do Congresso Centenário de João de Romão. Introdução da Arte da Renascença na Península Ibérica, Coimbra, 1980. 24

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o Conselho de Guerra com a finalidade de coordenar a defesa do Reino52. A defesa marítima foi assegurada por meio de fortificações de caracter precário e de efémera existência pelos materiais nelas utilizadas e devido às sua fundações em areia, sendo disto exemplo as Baterias de Farrobilhas, Ancão, Barreta, Barra Nova, Olhão, Bateria de São José da Armona, Lama, e Ponta de Mós todas localizadas no mesmo contexto geográfico do Forte de São Lourenço, a Ria Formosa 53. Todas estas estruturas obedeciam aos protótipos das pequenas fortificações marítimas, típicas da estratégia seiscentista da defesa da costa54.

A chave da estratégia desta época foi pois a construção de pequenos fortes. Ciclicamente, perante o ressurgir de ameaças à segurança do Reino, o terramoto de 1755, no envolvimento de Portugal na Guerra dos Sete Anos (1762-63), bem como em iniciativas preventivas no pós Revolução Francesa (1793), foram lançadas programas de reconstrução destas fortificações, nas quais o Forte de São Lourenço também foi envolvido55.

Assim, as plantas de que dispomos do Forte de São Lourenço, mostram-nos os seus espaços distintos. Ao nível da organização, o Forte segue as características que identificam as pequenas fortificações costeiras erguidas durante a Restauração56. A traça é simples, e as dimensões reduzidas. A bateria retangular, cuja plataforma serviria para a artilharia, tinha na sua retaguarda, adossado, um edifício destinado aos alojamentos, igualmente de planta retangular, subdivididos em quatro compartimentos. Ao fundo, a capela, entre os quartéis e a bateria. O paiol, localizava- se junto aos alojamentos.

A organização funcional e o traçado destas estruturas modernas eram, pois, comuns em muitos aspectos: adoptaram a solução das baterias voltadas a barlete, usando-as na defesa da costa, por deste modo se dar menos tempo à direção das

52 Carlos Callixto, “As Fortificações Marítimas no tempo da Restauração”, in História das Fortificações Portuguesa no Mundo, dir de Rafael Moreira, Edições Alfa, 1989. 53 Idem. 54 Mário Barroca, As Fortificações do Litoral Portuense, Edições Inapa, s/d, p 103. 55 Joaquim Boiça; Maria de Fátima Barroso; Margarida de Magalhães Ramalho, As Fortificações Marítimas da Costa de Cascais, Quetzal Editores, dezembro 2001, p 21. 56 Idem, p. 108. 25

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bocas-de-fogo e em todos os sentidos contra um alvo, como uma embarcação, permitindo assim uma mais eficaz movimentação das bocas-de-fogo57. Os alojamentos (separados por um corredor central), ocupavam uma área sensivelmente igual à da bateria. Os compartimentos eram destinados a servir de quartel, registando-se normalmente um espaço destinado a cozinha, um a armazém, outro a paiol da pólvora, a casa da palamenta, além de guaritas e poço ou cisterna58.

De notar que embora nas descrições destas fortificações seja referida a existência de uma cozinha, o fato é que não há qualquer referência a um compartimento específico para estes fins no Forte de São Lourenço. Contudo, no aparece-nos a referência sobre a existência de um tacho para cozinhar, a mesa e as cadeiras da guarnição59, pelo que a guarnição confeccionava certamente as suas refeições no local. Ao todo, este tipo de fortes podia ocupar uma área de 200m2, como se verifica em alguns exemplares da costa de Cascais, para as quais existe estudo sitstemático60.

Enfim, desde o ano da sua construção, até ao abandono da guarnição, em 1821, o Forte de São Lourenço sofreu diversas derrocadas e intervenções de reconstrução, ainda que efémeras. A sua história acompanhou vários contextos políticos e militares do Portugal moderno, num total de 168 anos de presença num local de difícil conservação, mas sempre presente no quotidiano da população.

57 Idem, p. 115. 58 Joaquim Boiça; Maria de Fátima Barroso; Margarida de Magalhães Ramalho, As Fortificações Marítimas da Costa de Cascais, Quetzal Editores, dezembro 2001, pp. 96, 101, 107-8, 122, 139, 140-143, 148, 183, 201-208. 59 Arquivo Histórico Militar, DIV/4/1/04/05, “Extrato dos Petrechos, Palamentas, Muniçoens que existem na Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro, em 8 de fevereiro de 1795”, de José Lopes de Souza. 60 Joaquim Boiça; Maria de Fátima Barroso; Margarida de Magalhães Ramalho, As Fortificações Marítimas da Costa de Cascais, Quetzal Editores, dezembro 2001, p. 87. 26

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CAPÍTULO III

Caracterização do sítio arqueológico

Os vestígios do Forte de São Lourenço não foram objeto de qualquer investigação de terreno até 2006. Perduraram, porém, na memória local, até ao presente, nomeadamente entre as comunidades marítimas de pescadores e mariscadores da Ria, habituados a fazer as suas presas nas ruínas do Forte. Os três canhões de ferro que se encontram in situ, são local constante apanha de polvos pelos pescadores. A população local quando se desloca para uma certa zona da Ria, utiliza vulgarmente a expressão, “vamos à pesca no Forte”, ou “vou buscar búzios ao Forte”.

Em 2006, uma equipa da Universidade Autónoma de Lisboa e da Universidade de Connecticut realizou um primeiro levantamento da zona referenciada, mas sem resultados conclusivos quanto à localização exata do Forte. Foi, contudo, possível delimitar uma zona de potencial arqueológico, contituida por vestigios dispersos de elementos em pedra, um conglomerado construtivo circular de 3,5m de diâmetro e 65cm de espessura e três bocas-de-fogo de ferro muito concrecionadas.

Apesar da sondagem arqueológica realizada no decurso daqueles trabalhos de levantamento não ter permitido identificar com segurança a estrutura primitiva, permitiu recolher espólio arqueológico do período moderno e contemporânio, nomeadamente fragmentos de cerâmica, objetos em metal e material de construção. Numa análise mais pormenorizada, verificou-se que os artefactos recolhidos, cuja função seria doméstica, eram exógenos à zona sondada e que o depósito seria resultante dos efeitos das marés61.

Em 2007, a Universidade Autónoma de Lisboa e a Universidade de Aveiro realizaram nesta área trabalhos de prospeção geofísica através de sonar de varrimento

61 Proc. Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, CNANS 2006/024. 27

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lateral, com vista a localizar a área onde se referenciavam os vestígios do Forte de São Lourenço. Em março de 2011, e já no âmbito deste mestrado, esses resultados foram objeto de tratamento e de avaliação. Assumimos, dentro dos limites logísticos possíveis, que o trabalho de sonar por varrimento lateral foi realizado na extensão da Ria onde se localizavam os vestígios superficiais do Forte de São Lourenço em 2006, tendo sido gerados diversos arquivos de imagens digitalizadas.

Fig 7- Olhão e o sítio arqueológico na CMP 611 (1980)

Recentemente foram realizados trabalhos na mesma área sob a direcção de Mário Ferreira e da signatária. Foi assumido como objetivo a continuação da caracterização dos vestígios de superfície e, sobretudo, a delimitação das suas áreas de dispersão. Efectuou-se um levantamento de todos os vestígios vísiveis em maré baixa através de GPS. O acesso ao sítio tem de ser efetuado em períodos de marés vivas, que permitem trabalhar no sítio a seco, caso contrário o trabalho em meio submerso é

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mais dificil, uma vez que o sítio se encontra em local de muita corrente, sobetudo na vazante. A metodologia de trabalho definida assentou pois no registo georeferenciado e caracterização sumária dos vestígios de superfície. No caso das bocas de fogo, muito concressionadas, optou-se por um registo gráfico e por uma caracterização crono- tipológica seguindo o que foi estabelecida por Francisco Alves para o sitio de Faro B62.

Fig. 8 - Geoposicionamento dos achados arqueológicos (vestígios de superfície)

A área objeto de trabalho de terreno situa-se em plena Ria Formosa, em sítio submerso e parcialmente a seco aquando das marés vivas, nas coordenadas WGS84, Latitude 37.00813N, Longitude -7.81963W. Fundamentalmente, a superfície da área de intervenção é constituída por uma dispersão de materiais de construção de

62 Francisco Alves, “Ponta do Altar B, Arqueologia de um naufrágio no Algarve nos alvores do século XVII, in O Arqueólogo Português, Série IV, Volume 8 / 10, Lisboa, 1990-1992. 29

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pequenas e grande dimensão, alguns blocos em alvenaria, que se crê fazerem parte dos muros do Forte, registando-se grande dispersão destes vestígios por uma área de 289m2, orientado NE-SW.

Registaram-se 32 blocos aparelhados, com uma significativa concentração a Nordeste do conglomerado circular; estes blocos mediam entre os 40 e os 80 cm de comprimento, entre os 50 e 60 cm de largura e os 15 e 30cm cm de espessura (Fig. 15, 16, 17, e 18). Encontrando-se bastante concressionados, devem ter pertencido a alvenaria de pedra e silharia, idêntica à de grande parte das construções desta época, como é o caso do Forte da Conceição, em Tavira, o Forte da Meia Praia, em Lagos, o Forte da Ponta da Bandeira, também nesta cidade, o Forte do Burgau, em Vila do Bispo, o Forte de Santa Catarina, em Portimão, ou ainda o Forte do Rato, em Tavira, todos erigidos no século XVII63.

Os edificios destinados a usos militares e de defesa, eram construções resistentes com argamassas duráveis. As paredes dos edificios variavam com a época, a região e tipo de edificio, mas com caracteristicas comuns, em função da resistência, da proteção em relação aos agentes climáticos e às ações externas. Em geral os materiais eram porosos e a capacidade de resistência e de proteção era assegurada através da sua espessura64.

A Nordeste do conglomerado circular, já perto do limite oriental da área, registaram-se dois fragmentos de muro aparelhados, com blocos envolvidos por argamassa do tipo arenoso, de cor esbranquiçada . Os blocos nº 34 e nº 64 encontram- se alinhados, podendo corresponder a um dos lados do Forte, dada a sua dimensão e constituição, sendo um dos lados visivelmente alisado. O maior deles media 2,40m de comprimento, 1,20m de largura e 60cm de espessura. (Fig. 19 e 20)

Verificou-se também uma maior dispersão de blocos de pedras de tamanho muito variado, entre os 30 e 40 cm cm de comprimento e os 20 e 30 cm de largura,

63http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPASearch.aspx?id=0c69a68c-2a18-4788-9300- 11ff2619a4d2. 64 Maria do Rosário Veiga, “Alvenarias de Edificios Históricos: intervenções sustentáveis com materiais compativeis”, in VI Encontro Nacional de Estudos de Engenharia Civil, LNEC, abril de 2010. 30

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com vestígios de argamassa, também a Este do conglomerado construtivo. (Fig. 21 e 22). Outros blocos dispersos, não aparelhados, foram registados a Norte e Nordeste do conglomerado; estes podem corrresponder ao enchimento das cortins do forte, ao ao contrário dos aparelhados, que deviam formar os paramentos (Fig. 23).

Fig. 9- Posicionamento das bocas-de-fogo

As bocas-de-fogo encontram-se localizadas a Nordeste do conglomerado circular, junto ao referido local onde se detectou maior quantidade de blocos aparelhados. Todas elas foram fabricadas em ferro, têm entre 3,10m e 3,15m de comprimento, entre 0,35cm e 0,40cm de largura e 0,20cm a 0,23cm de diâmetro de boca. Estas peças estão certamente relacionadas com o armamento do Forte, podendo interpretar-se como esperas, muito comuns nos finais do século XVIII65. Com efeito, no registo arqueológico é muito normal encontrarem-se peças de artilharia nas

65 Agradecemos esta informação a João Pedro Cardoso. 31

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imediações de fortalezas66. Geralmente tratam-se de peças abandonadas, obsoletas do ponto de vista militar, já sem utilidade (Fig. 24 e 25).

A dispersão dos materiais e ausência de alguma coerência construtiva deve-se ao continuado desgaste pela ação das marés, que tem vindo a afastar de forma muito desordenada as pedras de menores dimensões para longe da sua implantação original. Acrescente-se a utilização destas pedras pela população local para a delimitação dos viveiros de bivalves e também o reaproveitamento destas pedras para a construção de habitações. Claro que se deve ter em conta que a estrutura foi continuadamente erguida e reconstruída sobre areia, em certas ocasiões sobre estrutura de madeira, o que impediu também uma melhor conservação. Em todo o caso, os dados arqueológicos apontam para uma concentração de vestígios estruturais a Este- Nordeste do conglomerado circular referido, local onde também repousam as peças de artilharia. Este facto pode sugerir-nos uma eventual localização do cerne do Forte.

Encontraram-se, ainda, alguns fragmentos de cerâmica descontextualizados, provenientes por arrastamento sendo atribuíveis a período cronológico recente. Em ambientes de grandes movimentações de areias resultantes do assoreamento da ria Formosa, o espólio recolhido não foi por isso revelador.

Outros materiais estão referenciados como sendo provenientes do Forte de São Lourenço, embora essas informações careçam de confirmação segura. Por um lado, registou-se uma boca-de-fogo em ferro no Museu Municipal de Olhão. Esta peça encontra-se na reserva do Museu desde os anos 80 e foi entregue por pescadores que na altura disseram pertencer aquele forte. (Fig. 26 e 27).

Por outro lado, Carlos Pereira Callixto informa-nos que em 1986 foi detectado um pedaço de azulejo perto do sítio onde, estamos em crer, se encontrarem os vestígios do Forte de São Lourenço. Fernando Cartucho, um pescador local, terá

66 http://www.igespar.pt/media/uploads/cnans/16/16.pdf 32

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encontrado este material no local, mostrando-o depois ao investigador José Meco, que o datou do século XVII67. Não foi possível confirmar a sua existência no Museu de Faro.

Não havendo especificidade quanto ao azulejo, pensamos que este poderá ter pertencido à ermida, eventualmente revestida, pelo menos parcialmente, com este tipo de material. Assim se verifica, por exemplo, no Forte de São Filipe, em Setúbal, erigido em finais do século XVI, no Forte da Ponta da Bandeira de Lagos, datado do século XVII, e no Forte da Insua, em Caminha68. Ao longo do século XVII foram produzidos azulejos com composições de diferentes padrões, lembrando tapeçarias suspensas, um efeito decorativo que resultava da repetição regular de padrõe69, pricipalmente utilizado nos revestimentos de igrejas e capelas; incluíam composições figurativas autónomas de pequenas dimensões, representando séries de santos e episódios de narrativas religiosas. Estes registos representavam de um modo geral cenas do Antigo e Novo Testamento e imagens de santos colocados sequencialmente nas paredes. Podiam ainda figurar apenas símbolos da Eucaristia, sendo aplicados então isolados em lugares especialemente simbólicos do espaço.

Existe também uma pedra de armas no Museu Paroquial de Moncarapacho, em Olhão, que segundo a conservadora do Museu pertenceu ao Forte de São Lourenço70. A pedra, de calcário, apresenta o escudo real português, as cinco quinas, rodeada por sete castelos. Peça simples, é característica da época de construção do Forte, detetando-se idênticas em parte das fortalezas erguidas na época após a Restauração (Fig. 28).

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67 Informação obtida na consulta efetuada ao fundo documental de Carlos Callixto, existente no Arquivo Histórico Militar. 68http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3607e http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPASearch.aspx?id=0c69a68c-2a18-4788-9300- 11ff2619a4d2. 69 J.M. dos Santos Simões, e Emílio Guerra de Oliveira, Azulejaria em Portugal no século XVII, Tomo I, Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1971, pp. 11-13. 70 Esta pedra de armas foi adquirida pelo padre Isidoro Domingos da Silva a um particular. Encontrava-se exposta à porta de uma taberna em Moncarapacho. 33

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Os dados obtidos por sonar permitiram registar uma anomalia na mesma área onde realizámos os trabalhos arqueológicos atrás descritos e cujos vestígios pensávamos poderem corresponder ao Forte de São Lourenço, nomeadamente a referida concentração de elementos pétreos. Identificaram-se “alterações” no leito da Ria, mostrando-nos diversas feições salientes no fundo, de coloração escura nos registos. As áreas mais claras, diziam espeito a sombras e substratos incosolidados, como lamas.

Fig. 10 – Levantamento de sonar

A informação obtida pelos dados de sonar foi cruzada com o geoposicionamento dos vestígios de superficie e com a cartografia antiga. Utilizou-se a cartografia de 1875, levantada sob a direção de Filipe Folque, com vista a relacionar os dados antigos que localizam o Forte, com os vestígios revelados pelos trabalhos arqueológicos. A Direção Geral dos Trabalhos Geodésicos apresenta um trabalho com bastante rigor, tendo sido possível sobrepô-la aos mapas atuais. Nele se indicavam “Pedras do antigo Forte São Lourenço”, que nesta data estava já sem guarnição,

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desmantelado e em ruínas, como referimos no capítulo anterior. Aparentemente aqueles vestígios estavam então localizados sobre uma pequena ilhota, num dos pontos mais altos do solo arenoso da Ria, perto da barra da Armona.

Fig. 11 - Plano hydrographico das barras e portos de Faro e Olhão [Material cartográfico] / levantado por B. M. F. de Andrade, A. J. Pery e G. A. Pery ; sob a direção de F. Folque. - Escala 1:20000. - [Lisboa] : Direção Geral dos Trabalhos Geodésicos, 1875, com indicação da área provável de localização do Forte de São Lourenço.

Esta ilhota foi confrontada com a cartografia militar de finais do século XX, bem como com a fotografia aérea atual. A sobreposição revelou que a ilhota do mapa oitocentista era ainda representada há três décadas, revelando uma assinalável manutenção da orografia da Ria neste ponto, talvez em torno dos vestígios pétreos enterrados do Forte. Note-se, no entanto, que na cartografia militar apenas subsiste já uma porção da ilhota, devido a mudanças na configuração da Ria.

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Fig. 12 - Carta Militar de Portugal, 1:25, 0000, nº 611 , Faro, Instituto Geográfico do Exército, 1980, assinalando-se a localização do Forte de São Lourenço representada na cartografia de 1875.

Fig. 13 – Ortofotografia assinalando-se a localização do Forte de São Lourenço representada na cartografia de 1875.

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FIg. 14 - Posicionamento sobre ortofotografia.

Enfim, verificou-se ma coincidência apreciável entre a área onde realizámos a referida prospeção, detectando-se os referidos elementos pétreos e peças de artilharia, a anomalia detetada no levantamento de sonar e a cartografia de 1875, onde os vestígios do forte ainda eram visíveis, embora arruinados. A cartografia e fotografia atual ainda assinalam aqui uma área mais elevada, coincidente com a antiga ilhota. Assim, ficam claramente relacionados os vestígios arqueológicos identificados com e o antigo Forte de São Lourenço.

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Fig. 15 – Conglomerado construtivo circular

Fig. 16 – Concentração de blocos aparelhados a Nordeste do conglomerado

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Fig. 17 - Bloco aparelhado junto ao conglomerado circular

Fig. 18 - Blocos aparelhados e dispersos junto ao conglomerado

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Fig. 19 – Fragmento de muro com restos de argamassa (nº34 da planta)

Fig. 20 - Frgamento de muro junto ao conglomerado, com restos de argamassa (nº 64 da planta)

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Fig. 21 – Medição entre dois vestigios de muro (nº 34 e nº 64 da planta)

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Fig. 22 – Fragmento de muro com restos de argamassa

Fig. 23 - Blocos de pedra não aparelhados

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Fig. 24- Boca- de- fogo C1 (nº31 da planta)

Fig. 25- Bocas- de- fogo C2 e C3 (nº32 da planta)

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Fig. 26 – Boca-de-fogo do Museu Municipal de Olhão

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Fig. 27 – Boca- de-fogo no Museu Municipal de Olhão

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Fig. 28- Pedra de Armas no Museu Municipal de Moncarapacho

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Capitulo IV

Os equipamentos militares e a guarnição

A documentação coeva dá-nos alguns dados relativamente a diversos aspetos da vida do Forte de São Lourenço, úteis para a compreensão da sua funcionalidade e evolução. Um desses elementos tem que ver com os equipamentos militares.

O nascimento oficial da artilharia em Portugal data do século XIV. Por carta régia de 29 de janeiro de 1515, D. Manuel I criou em Lisboa os bombardeiros da nomina, em número de cem, considerados o primeiro esboço de organização da artilharia em Portugal. Em 1641 esse número seria aumentado para trezentos. Mas só no reinado de D. Pedro II, em 1701, foi feita oficialmente a militarização dos artilheiros71. Nessa época, os requisitos para ser um bom artilheiro eram: “para saber bem do seu offício hade ser bom christão, são de pés e de mãos, de boa vista e bom juízo. Alem do seu ofício deve entender os seguintes: que meça, compare e pese, entender do offício de polvorista, e carpinteiros, ferreiro, etc”72.

A partir de 1744, com a obra Exame de Artilheiros de Fernandes Alpoim e por influência dos estrangeiros que se encontravam ao serviço do Exército Português, os calibres por que eram designadas as bocas-de.fogo passaram a ter relação direta com o peso da bala de ferro em arráteis ou libras. A normalização dos calibres nos moldes atuais só viria a ser regulamentada a partir de 1865, já com as peças estriadas73.

A artilharia era, pois, a arma de combate fundamental à época de construção do forte. Um ano após o início da construção do Forte, em 1654, existiam quatro peças

71 João Vieira Borges, A Artilharia na Guerra Peninsular, Tribuna da História-Edição de Livros e Revistas, Lda., abril de 2009, p. 25. 72 “Tratado de Artilharia de La isla”, cit. Por João Manuel Cordeiro, Apontamentos para a História da Artilharia Portuguesa, s. 1., Typographia do Commando Geral da Artilharia, 1895, p. 186. 73 João Vieira Borges, A Artilharia na Guerra Peninsular, Tribuna da História-Edição de Livros e Revistas, Lda., abril de 2009, p. 43. 47

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de artilharia no recinto74. Trata-se, contudo, de um dado único para o primeiro século de existência do Forte, só se voltando a ter informação, então mais detalhada, a partir de meados do século XVIII. Em 1753 as bocas-de-fogo eram apenas três75. A partir do ano seguinte verificamos um aumento do número de peças para seis, mantendo-se esse quadro até 1764. O reforço defensivo estará relacionado com a Guerra dos Sete Anos (1756-1763).

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Fig. 29 - Número de peças

Por essa altura o Marquês de Pombal chamara a Lisboa o Conde de Lippe, a fim de reformar o exército português, que se encontrava desorganizado, miserável, sem fardamento e sem dinheiro. Lippe mandou restaurar e artilhar da maior parte das fortalezas portuguesas76, de tal forma que muitas das bocas-de-fogo produzidas na sua época ainda foram utilizadas durante a Guerra Peninsular, mais de meio século depois; depois de 1763, chegou-se a fundir uma peça por dia em Portugal, tal era a capacidade

74 ANTT, Conselho de Guerra, consulta de 21 de outubro de 1654. 75 ANTT, Conselho de Guerra, maço 20, consulta de 28 de setembro de 1753. 76 Margarida de Magalhães Ramalho, Fortificações Marítimas, Câmara Municipal de Cascais, 2010, pp. 20-23. 48

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e empenho neste domínio77. Este facto parece ter tido consequência na fortificação marítima ao largo de Olhão, dado o referido aumento do dispositivo militar.

No ano de 1765 o arsenal voltou a reduzir-se para cinco peças, mas foi rapidamente colmatado com um reforço de três peças de ferro provenientes do Forte da Armona, que por esta altura já se encontrava arruinado78. Entre 1768 e 1786 o número de peças manteve-se estabilizado em cinco unidades. Em 1793 verificamos um reforço do número de peças, aumentando-se para sete unidades, facto que se poderá relacionar com uma conjuntura política de conflitos armados, nomeadamente as guerras revolucionárias francesas, que levaram a um confronto entre a França e a Grâ- Bretanha, incluindo também os Países Baixos, a Espanha e Portugal, ficando os navios portugueses sujeitos ao corso dos navios franceses.

O acréscimo de peças de artilharia foi, porém, fugaz, já que logo a partir de 179379, e até o período 1802-180580, o Forte manteve o seu número médio de cinco a seis peças. Atingiu o seu número máximo nos anos das Guerras Peninsulares, entre 1805 e 1806, quando foram contabilizados oito bocas-de-fogo. As derradeiras informações reportam-se ao período posterior à Revolução Liberal de 1820, quando existiam no Forte de São Lourenço três peças.

Assim, verificamos que houve um aumento do número de peças, por altura, respetivamente, da Guerra dos Sete Anos, e das Invasões Francesas. As estruturas e as peças de artilharia eram alvo de maior ou menor cuidado de manutenção ao sabor da oscilante sucessão dos períodos de guerra e paz81.

Quanto ao material das peças de artilharia de fogo registam-se bocas-de-fogo em ferro e em bronze. O predomínio foi quase sempre das peças em ferro, sendo que

77 João Vieira Borges, A Artilharia na Guerra Peninsular, Tribuna da História-Edição de Livros e Revistas, Lda., abril de 2009, p. 43. 78 Arquivo Histórico Militar, 3D9SC87NS, Romão José do Rego, “Visita de Inspeção a todas as Fortificações desde o Cabo de S. Vicente à Bateria da Fuzeta, 18 de julho, 1765”. 79 Arquivo Histórico Militar, Mapa da Guarnição e Artilharia, 1763. 80 Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N54, José Garcia, “Mapa da Guarnição referente aos meses de junho e dezembro”, 1805 e idem. 81 Margarida de Magalhães Ramalho, Fortificações Marítimas, Câmara Municipal de Cascais, 2010, p. 183

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entre os anos 1786 e 1793 não temos registo quanto à informação sobre o material das peças existentes no Forte. Registamos que apenas nos anos de 176582, 176683 e 180684, o número de peças em bronze e em ferro foi igual.

Fig. 30 - Material das peças

Destacamos o fato de que em 1821, aquando do desmantelamento do Forte, existiam três peças em ferro e duas em bronze85, e em 182386 sabemos haver três

82 Idem. 83 Arquivo Histórico Militar, 3D9SC95N6, “Dos Governadores das Praças do Reino”, 1766. 84 Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N56, José Garcia, “Mapa da Guarnição referente ao mês de junho 1806”. 85 Arquivo Histórico Militar, 3D9SC87N23, António Pereira e Sousa, “Memória Resumida do Reconhecimento Militar feito às Costas e Fortificações do Reino do Algarve, compreendidas desde a Foz de Odeceixe até à foz do Guadiana, por ordem do Il.mº Senhor Luís Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado, Marechal de Campo e Comandante Geral do Nacional e Real Corpo de Engenheiros, Inspetor das Praças e Fortalezas do Reino”, 1821. 50

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peças em ferro12. Deduzimos que pelo atrás anunciado relativamente ao desmantelamento do Forte, e ao número de peças existentes, que as peças em bronze existentes tenham sido levantadas nessa altura.

Sobre a utilização e operacionalidade de todas as peças em ferro e em bronze atrás referidas entre os anos 1653 e 1821, encontramos referência no ano de 1758 a seis peças montadas em carros na areia, por não estarem as muralhas do Forte de São Lourenço suficientemente capazes estruturalmente para as susterem na sua posição original87, o que nos leva a crer que nesta altura o Forte ainda estaria a sofrer as consequências do terramoto de 1755.

Os reparos estariam incapazes em 1776, registando-se que as três peças em ferro estavam encravadas e as peças em bronze desmontadas88. Esta situação continuava em 177889, com uma das três peças de ferro encravadas, e em reparos incapazes, e as peças em bronze desmontadas sem reparos ou em carros onde laborar.

Sem registo quanto ao seu material, encontramos em 1802 as seis peças existentes montadas em carros na areia pois as muralhas não as podiam suster90. Em plena invasão francesa, o Forte tinha três peças incapazes de ação, uma peça em bronze montada em reparos arruinados e uma peça em bronze pronta a servir91. No ano do seu desmantelamento, o Forte de São Lourenço possuía três peças em ferro desmontadas e incapazes e duas peças em bronze montadas mas em reparos incapazes92. Relativamente ao estado de operacionalidade das peças, não obstante o

86 Gabinete de Estudos Arqueológicos e de Engenharia Miliar, nº 3189 / II, José Feliciano, “Relatório de Inspeção”, 3 de janeiro de 1823, nº 3189 / II. 87ANTT, Sebastião de Sousa, Dicionário Geográfico, vol. V, 1758. 88Arquivo Histórico Militar, 3D9SC95N26, “Mapas de Artilharia”, 1776. 89 Arquivo Histórico Militar, 3D9SC95N26, “Mapas de Artilharia de 31 de dezembro de 1776 a 30 de abril de 1778”. 90 Arquivo Histórico Militar, “Relação das Praças que tem Governadores na Província do Alentejo e Reino do Algarve e as que se acham vagas, de 14 de junho de 1802”. 91 Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N4, “Mapa dos Artilheiros Avulsos da Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro, 8 de abril de 1807”, 92 Arquivo Histórico Militar, 3D9SC87N23, António Pereira e Sousa, “Memória Resumida do Reconhecimento Militar feito às Costas e Fortificações do Reino do Algarve, compreendidas desde a Foz de Odeceixe até à foz do Guadiana, por ordem do Il.mº Senhor Luís Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado, Marechal de Campo e Comandante Geral do Nacional e Real Corpo de Engenheiros, Inspetor das Praças e Fortalezas do Reino”, 1821. 51

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referido que assinala-se que tal não impediu que cumprissem o seu papel. Veja-se por exemplo os registos em 1758 e em 1802, onde vimos que as peças, apesar de se encontrarem na areia, ainda se mantinham em função.

Assim, os números avançados inicialmente devem ser matizados. Embora seja impossível avaliar a prontidão militar da artilharia do Forte ao longo destes séculos, esta, deve ter conhecido flutuações mais importantes que as assinaladas. A momentos de reequipamento militar, sucediam-se outros de quase ausência de defesa. Esta situação não pode deixar de estar relacionada com as próprias construções e reconstruções sucessivas do forte.

Relativamente ao calibre das peças, verificamos grandes variações e nem sempre temos informações fidedignas. Assim, o primeiro registo de que dispomos data de 1754, quando o Forte tinha três peças em ferro de calibre 18, provenientes do Forte da Armona, que se havia desmoronado nesta data e três peças em bronze, duas de calibre três e uma calibre cinco93.

Analisando os calibres e o material das peças, registamos que as peças em ferro tinham calibres 18 e 24, ao passo que as de bronze tinham calibres três, quatro, cinco, seis, oito, nove e 12. Registamos ainda que as peças de calibre 18 e calibre 24, em ferro, foram as mais frequentes e que as peças calibre oito e calibre três, em bronze, são as que mais se registam.

Cronologicamente, as peças de calibre menor (três e cinco) aparecem registadas em 175494, a única de calibre quatro, em 176395. Entre 1770 e 1778, as peças calibre oito e nove encontram-se registadas sempre juntas96. As peças em ferro, de calibre 18, registam-se entre 175497 e 176398, em 180799 e após o

93 ANTT, Plantas do Ministério do Reino, Maço nº 625, documentos nº2 e nº 6, 1754. 94 Idem. 95 Arquivo Histórico Militar, 3D9SC95N3, “Mapa de guarnição e artilharia de 31 de março de 1763”. 96 Arquivo Histórico Militar, 3D9SC95N26, “Mapas de Artilharia, 1776” e “Mapas de Artilharia de 31 de dezembro de 1776 a 30 de abril de 1778”. 97 ANTT, Plantas do Ministério do Reino, maço n0 625, documentos nº 2 e nº 6, 1754. 98 Arquivo Histórico Militar, 3D9SC95N3, “Mapa da Guarnição e artilharia, 31 de março de 1763”. 99 Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N4, “Mapa dos Artilheiros Avulsos da Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro, 8 de abril de 1807”. 52

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desmantelamento do forte, em 1823100. Relativamente às peças em ferro, calibre 24 registam-se entre 1770 101e 1778102, e depois em 1821103 e em 1823104. Assim, as peças de maior calibre foram as mais utilizadas no Forte, na segunda metade do século XVIII e início do século XIX.

Fig. 31- Calibres

100 Gabinete de Estudos Arqueológicos e de Engenharia Militar, José Feliciano, “Relatório de Inspeção, 3 de janeiro de 1823, nº 3189 / II. 101 Arquivo Histórico Militar, 3D9SC95N26, “Mapas de Artilharia, 1776” e “Mapas de Artilharia de 31 de dezembro de 1776 a 30 de abril de 1778”. 102 Arquivo Histórico Militar, 3D9SC87N23, António Pereira e Sousa, “Memória Resumida do Reconhecimento Militar feito às Costas e Fortificações do Reino do Algarve, compreendidas desde a Foz de Odeceixe até à foz do Guadiana, por ordem do Il.mº Senhor Luís Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado, Marechal de Campo e Comandante Geral do Nacional e Real Corpo de Engenheiros, Inspetor das Praças e Fortalezas do Reino”, 1821. 103 idem. 104 Gabinete de Estudos Arqueológicos e de Engenharia Militar, José Feliciano, “Relatório de Inspeção, 3 de janeiro de 1823”, nº 3189 / II. 53

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Bartholomeu da Costa (1731-1801), especialista em artilharia desta época, informa-nos que, tipicamente, quanto maior era o calibre das bocas-de-fogo menor era o seu número. Do seu trabalho avulta a normalização dos calibres, tendo como referência as artilharia inglesa e a alemã. Assim, o calibres três, seis, nove e 12 eram os mais indicados para utilização em campanha, enquanto que as peças de calibre 18 e 24 eram sobretudo de sítio105. Poderemos, pois, inferir que as peças em ferro foram as que mais estiveram ao serviço do Forte, embora tenham sido as de menor custo e longevidade.

Relativamente a outro material militar existente no Forte, encontramos apenas uma descrição relativa ao ano de 1795, mas que de alguma forma podemos extrapolar para toda esta época. Destacam-se as espingardas, pólvora armazenada, projéteis de artilharia de vários calibres, e balas de chumbo, talvez para armas ligeiras. Ainda relativamente ao equipamento militar, e no que diz respeito à palamenta, encontramos soquetes (carregador), lanadas (alimpador), coxarras (colheres) de vário calibre, diamantes (para desentupir o orifício através do qual se dava fogo à peça), sacas de trapo, pranchadas de chumbo, agulhas e polvarinho de escovas. Tratavam-se de ferramentas básicas, que procuravam assegurar o bom funcionamento da artilharia instalada no Forte. Neste quadro, existe igualmente a informação sobre a bandeira do Forte de São Lourenço.

Também faz parte desta lista outro material da guarnição, como barris para o armazenamento de água, natural num contexto de uma fortificação rodeada por mar e que, pelo menos até 1762106, não dispôs de uma fonte de água potável. Referem-se ainda um tacho para cozinhar, provavelmente de grandes dimensões e para confecção de alimento para toda a guarnição, além da mesa e das cadeiras da guarda, a candeia de iluminação, e finalmente a tabuleta onde se inscreviam as ordens107.

105 João Vieira Borges, A Artilharia na Guerra Peninsular, Tribuna da História-Edição de Livros e Revistas, Lda., abril de 2009, p. 43. 106 Recorde-se o desenho de Baltazar de Azevedo Coutinho. 107 Arquivo Histórico Militar, DIV/4/1/04/05, José Lopes de Sousa, “Extrato dos Petrechos, Palamentas, Muniçoens que existem na Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro, em 8 de fevereiro de 1795”. 54

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Tratava-se pois de uma fortificação artilhada, que, nestes finais de seiscentos, dispunham de seus apetrechos, palamentas e munições. A eficácia das fortificações após a Restauração, prendia-se sobretudo pelo seu caracter dissuasor. As dificuldades económicas levavam a que a defesa se organizasse em caso de perigo. Assim se compreende que a maior parte delas se encontrasse sem guarnição ou munições108.

Por este quadro inferimos que estaria pronta e ativa e que a sua guarnição ali permanecia. Claro que esta situação não foi permanente.

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Sobre a guarnição do Forte de São Lourenço, verificamos a existência de duas fases. Na primeira, de 1657 até 1755, o capitão residiu na própria fortaleza, em habitação própria, e a guarnição era permanente. A partir do terramoto e até ao final do uso militar da estrutura, em 1821, o capitão foi residir para Olhão e a guarnição passou a ser rendida de 8 em 8 dias109.

A nomeação do capitão do Forte era da responsabilidade do Conselho de Guerra, tendo isso ficado definido aquando do primeiro provimento, em 1657. De notar que em 1753, o sistema de comunicação acerca da selecção de candidatos para o lugar alterou-se ligeirmente, passando a ser efetuado por aviso do Secretário da Guerra e pela edição de editais, para eventuais opositores poderem contestar no prazo de quinze dias. Destacamos o fato de que neste aviso se obrigava o novo capitão a residir no Forte, “pelo respeito que se lhe impõe tal cargo e prudência e pela importância que tinha a Barra”110. A verdade é que, como referido, rapidamente esta exigência foi abandonada.

108 Margarida de Magalhães Ramalho, Fortificações Marítimas, Câmara Municipal de Cascais, 2010, p 20- 23. 109 Arquivo Histórico Militar, 1D65L, fl. 167. 110ANTT, Conselho de Guerra, maço 20, consulta de 28 de setembro de 1753. 55

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Encontramos variações quanto ao tempo de permanência no cargo de capitão e diferenças no percurso das suas carreiras. Quanto ao mandato dos capitães, este variava entre os 4 e os 31 anos, sendo que o primeiro capitão do forte permaneceu 19 anos, após o que professou como Agostinho Descalço. O capitão nomeado posteriormente permaneceu 22 anos até à sua morte. Outro registo informa-nos sobre outro capitão que, após 5 anos de permanência no cargo, pediu transferência para outro posto, em Tavira. Assim, não obstante a grande diversidade de períodos de permanência neste cargo, parece que a nomeação era na prática vitalícia, sendo interrompida em caso de interesse do próprio ou de provimento noutro posto mais apetecível.

Encontramos igualmente diferenças relativamente à proveniência de cada capitão do forte. A Companhia do Terço da Guarnição do Reino do Algarve foi uma das unidades de recrutamento mais comuns para os nomeados com a capitania. Outros foram propostos no decorrer da publicação de editais. Tratava-se, pois, de um destacamento face a militares que já serviam nesta região.

Havendo referências de tentativas de prática de contrabando através da Barra onde se instalava o forte, dispomos de um caso em que o próprio capitão foi implicado. Verificou-se logo em 1662, quando o capitão do forte foi acusado de descaminho da Fazenda Real111, tendo a rainha mandado prendê-lo até prova em contrário, foi efectivamente solto em 1667, optando poém pela vida religiosa112, talvez como expiação para os seus inconfessáveis pecados.

Interessante também verificar como as relações familiares interferiam e se envolviam com as relações profissionais. No caso supracitado, o filho do capitão detido, que assentara praça no forte com apenas dezasseis anos, foi nomeado Tenente em 1675, acabando por suceder ao pai113. Muito embora no ano seguinte sucedesse novo capitão do Forte114, foi apresentada uma reclamação pelo Governador do Reino

111 ANTT, Secretaria de Guerra, L29, 46V, consulta de 12 de maio de 1662. 112 ANTT, Secretaria de Guerra, L33, 184, consulta de 1677. 113 ANTT, Conselho de Guerra, consulta de 17 de junho de 1676. 114 ANTT, Conselho de Guerra, maço 132, nº 141, consulta de 9 de fevereiro de 1677. 56

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do Algarve junto do Conselho de Guerra por o filho do capitão ter assentado praça muito jovem, e não ter antes ocupado o posto de Alferes na hierarquia115. Mas não foram encontradas causas para que o acusado baixasse de patente e foi-lhe restituído o posto para que fora nomeado pelo trabalho que executou durante o período em que esteve ao serviço do Forte116.

Com o terramoto de 1755, o Forte de São Lourenço deixou de apresentar condições para a prmanência do capitão nas suas instalações, pelo que este passou a residir em Olhão117. A partir desta data os registos de nomeação são escassos, pelo que apenas em 1762, 1786 e em 1804, voltamos a ter referências pelos registos dos falecimentos dos capitães do Forte, enterrados respetivamente na Igreja Matriz118 e na Igreja Paroquial de Nossa Senhora do Rosário de Olhão119, localidade onde se teriam certamente enraizado. Também a informação de óbito do último capitão, de que temos registo120..

Relativamente à guarnição, vimos atrás que até 1755, ano do terramoto, será predominantemente composta, além do capitão, que lá residia, por homens com as patentes de tenente, artilheiro e soldado, e atestando-se também a existência de prisioneiros em 1659121. Depois de 1755, foram integrados homens com patentes diversificadas que se rendiam de oito em oito dias, até ao seu desmantelamento, em 1821. Além de praças, soldados e cabos, registam-se artilheiros, praças, sargentos, tenentes, um tambor122 e um ajudante da fortaleza, a partir de 1802123.

Entre 1763 e 1767, o número de praças vai diminuindo de dez até sete, seguindo-se um interregno de informação quanto à guarnição do Forte. A partir de

115 ANTT, Conselho de Guerra, caixa 35, maço.45, consulta de 12 de maio de 1685. 116 ANTT, Resolução Real de 11 de abril de 1687. 117 Arquivo Histórico Militar, 1D, 65, L44, fls 167, 1755. 118 ANTT, Livro de Óbitos da Freguesia de Olhão, fls. 164v, assento do Prior Sebastião de Sousa, 1762. 119 “Livro de Óbitos de Olhão”, assento do Prior Sebastião de Sousa,1762, fls 164V, 1718-1778, ANTT. 120 ANTT, Livro de Óbito da Freguesia de Olhão, fl.3-37v, assento do Prior António Joaquim Palma, de 14 de julho. 121 ANTT, Conselho de Guerra , caixa. 321, maço 19ª, de 8 de agosto 1659. 122 Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N49-50, “Mapa dos Oficiais inferiores, Tambor e Soldados de Artilharia Avulsa da Guarnição de São Lourenço do Registo da Barra de Faro com o seu vencimento do mês de dezembro de 1799”. 123 Gazeta de Lisboa, julho de 1802. 57

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1792, o número de soldados vai aumentando, até se atingir os vinte sete, em 1799124, e os vinte e oito, em 1805125. A patente de sargento foi registada a partir de 1792126 até 1807127. O cabo foi registado a partir de 1799128, em número de três, e em 1806129, o número era mantido, não havendo registos desta patente até 1821.

Como referido, o Forte contava com uma capela para apoio espiritual à guarnição, onde eram celebradas missas, a que acorria também a própria população de Olhão, além obviamente da guarnição do forte 130.

Quanto às peças que constituíam o acervo desta capela, temos registo do que era considerado necessário para a devida assistência religiosa em 1795 131. Assim, nesta época e relativamente a peças sacras temos a imagem de São Lourenço; em prata, com a palma e grelha, e um missal, com estante. Relativamente ao material de apoio ao serviço religioso, temos registo de um frontal do altar, velho e incapaz, colherinhas de prata, uma patena de prata, dois castiçais em estanho, palhetas e pratinhos, toalhinhas de altar e de lavatório, uma casula, uma alva com cordas, uma estola, uma cómoda de madeira de pinho para guardar ornamentos, uma candeia e uma tabuleta para as ordens da missa.

Faça-se notar que o Bispo Algarve visitou a capela do Forte, em 1803132, tendo opinado que o espaço era muito limpo e cuidado. Substituiu a pedra de ara por achá-la

124 Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N49-50, “Mapa dos Oficiais inferiores, Tambor e Soldados de Artilharia Avulsa da Guarnição de São Lourenço do Registo da Barra de Faro com o seu vencimento do mês de dezembro de 1799”. 125 Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N54, “Mapa dos oficiais de Infantaria”. 126 Arquivo Histórico Militar, 3D9SC87N7, Conde de Oeynhausen, “Visita de Inspeção feita a todas as fortalezas da costa Algarvia desde o Forte da Arrifana à Praça de Alcoutim”, 1 de abril de 1792. 127 Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N4, “Mapa dos Artilheiros Avulsos da Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro, 8 de abril de 1807”. 128Arquivo Histórico Militar, “Mapa dos Oficiais inferiores, Tambor e Soldados de Artilharia Avulsa da Guarnição de São Lourenço do Registo da Barra de Faro com o seu vencimento do mês de dezembro de 1799”. 129 Arquivo Histórico Militar, José Garcia, “Mapa da Guarnição referente ao mês de junho”, 1806. 130 Francisco Xavier de Ataíde Oliveira, “Monografia do Concelho de Olhão”, 3ª edição, Algarve em Foco Editora, Câmara Municipal de Olhão, 1999, p 236. 131 Arquivo Histórico Militar, José Lopes de Souza, “Extrato dos Petrechos, Palamentas, Muniçoens que existem na Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro, em 8 de fevereiro de 1795”. 132 Francisco Xavier de Ataíde Oliveira, “Monografia do Concelho de Olhão”, 3ª edição, Algarve em Foco Editora, Câmara Municipal de Olhão, 1999, p 116. 58

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imprópria e partida. O Forte de São Lourenço revelou-se um espaço de vivência e convivência militar e espiritual. O equipamento militar que sempre sustentou aquele espaço, e que foi característico de uma época, a guarnição que ali se manteve, mesmo em alturas de continuada construção e reconstrução e das frágeis condições logísticas em que se encontravam, devido à frequente erosão por ação do mar, fez parte da história identificador daquela época naquele espaço. A comunidade local interagiu com o Forte, fazendo daquele sítio um local também seu. Os seus destinos foram-se ligando cada vez mais à emergente povoação de Olhão.

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CAPITULO V

Utilidade estratégica e militar

“A população *de Olhão+ é marítima e de tanta habilidade que El-Rei só d´elles se serve nos seus escaleres da Ribeira das Naus, indo para lá todos os annos quasi quatro centos homens, que se rendem em levas”.

Ataíde Oliveira, “Monografia do Concelho de Olhão”,

Algarve em Foco Editora, 3ª edição, Faro, 1999, p. 56

A grande fronteira do Algarve foi o mar, uma linha constantemente frágil. Alvo de assédios de vária índole, eram comuns os assaltos da pirataria, corso e incursões militares, originando insegurança junto das populações. Disso foi testemunho a ocupação da fortaleza de Sagres por Francis Drake, em 1587, e o assalto a Faro por Robert Devereux, conde de Essex, em 1596, no regresso de uma expedição a Cádiz. A cidade foi pilhada, tendo o corsário levado parte do espólio da livraria do bispo do Algarve, D. Fernando Martins Mascarenhas133.

Mas foi muito antes, a partir das definições jurídico-administrativas do Tratado de Badajoz, em 1261, que o Algarve se inseriu numa zona estratégica para os intentos da realeza portuguesa, para salvaguarda das fronteiras a Sul. Tal facto, demandou a edificação de estruturas defensivas, como castelos, cercas, torres de vigia e fortes. Foi só a partir de D. Sebastião que o sistema de defesa se veio a reforçar, embora com enormes carências. Foi elucidativo o relatório de Alexandre Massai, iniciado em 1617 e terminado em 1621, resultado se uma inspeção ao estado das fortificações da região

133 Artur Manuel Ceia, “O Fenómeno da Guerra no último Quartel do Século XIV em Portugal, Tipologia e Caracterização”, in Separata da Revista Militar, Lisboa, 1986. 60

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algarvia: estas encontravam-se degradadas, algumas mesmo decrépitas, sendo mal dotadas de armas e munições134.

Com D. João IV passou a dar-se muito mais atenção à questão da defesa da costa marítima, no âmbito da Guerra da Restauração. As preocupações viram-se para o estado dos sistemas defensivos, face a uma previsível reação de Filipe IV de Espanha, nomeadamente os que defendiam os acessos diretos à capital135.

No século XVII, a cerca urbana islâmica de Faro não tinha capacidade para alojamento de todos os habitantes, pelo que a cidade se tornou vulnerável aos ataques do exterior e tornava-se imperativo defender as populações. Vivia-se o medo da incursão de piratas e a ameaça das potências maritimas navais. Era necessário vigiar convenientemente o litoral. Desde 1638 que se receava a aparição das armadas da Holanda e da França, em resposta aos sucessos militares alcançados por D. Lope de Hoces , general de mar e guerra ao serviço dos Austrias, pois temia-se um ataque à região e Faro era tido como alvo previsível136.

Em 1639, as carências defensivas do Algarve preocupavam o Governador Henrique Correia da Silva que considerava a cidade de Faro “abrigada por muros muito pouco capazes de defensão”. Também “a uma légua da cidade se construíra uma trincheira de 300 passos e um reduto para quatro peças de artilharia, tudo custeado pela população”. Lugar marítimo de fácil acesso, a cidade não dispunha de capitão137.

A primeira noticia sobre a necessidade da construção de uma cerca urbana para Faro, data de 1654, quando o Cabido de Faro se opõe às obras realizadas nas muralhas e no Castelo Vila Adentro, insistindo na construção de uma cerca que envolvesse os arrabaldes. Em 1662, Martim Correia da Silva, governador militar do Algarve, determinou a construção dessa cerca, a fim de criar uma linha defensiva à cidade de

134 Alexandre Massai, “Descrição do Reino do Algarve – Na Relação e Traça da Cidade de Faro”, Manuscrito da Coleção do Coronel Vieira da Silva (Museu da Cidade de Lisboa), 1621. 135 Margarida de Magalhães Ramalhão, Fortificações Marítimas, Câmara Municipal de Cascais, setembro 2010, pp. 20-23. 136 Luis L. Guerreiro, “Depradações, combates e capturas na costa do Algarve”, in Dinâmica Defensiva da Costa do Algarve. Do período islâmico ao século XVIII, Ed. Instituto de Cultura Ibero Atlântica, Portimão, dezembro de 2001, p. 49. 137 Idem. 61

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Faro, procurando prevenir a hipótese de eventual invasão espanhola, na sequência da Restauração; pretendia-se dificultar quaisquer ataques que ocorressem nos flancos urbanos orientados a terra138.

A fortificação era composta por seis panos de muralha, que integravam cinco baluartes e dois meios baluartes. Paralelamente foi estabelecida uma zona “non aedificandi” no seu perímetro fortificado, correspondendo a uma área de uso militar, nomeadamente para melhor uso do poder de fogo. A cerca era extensa, com mais de 2800m, circundada por um fosso em toda a sua extensão, muros com pelo menos quatro metros de altura e as linhas de fogo rasante chegavam a tingir 300m139. No entanto, pela Memória Paroquial, referente aos efeitos do sismo de 1755 na cidade de Faro, sabemos que a estrutura apresentava um estado de ruína140.

Desde meados do seculo XVII que eram, contudo, evidentes a falta de condições para que a cidade de Faro se sentisse plenamente defendida no seu tecido urbano, face à pouca protecção do setor marítimo. Foi a partir desta altura que se formou a consciência real e efetiva para a urgente necessidade de reforço da defesa maritima da cidade e da consolidação da defesa da costa maritima. Foram, pois, levantadas fortificações, a nascente e a poente da cidade, a fim de atalhar a entrada na Ria Formosa141.

No seguimento desta preocupação, D. Nuno de Mendonça, 2º conde de Val de Reis e governador e capitão general do Reino do Algarve (1612-1692), bem como 27 personalidades de Faro emitiram uma ordem sobre a necessidade de se defender Faro e bem assim a respetiva Barra142. Pedro de Santa Colomba, engenheiro militar encarregue de várias obras de defesa da costa, e designado para servir “em Alentejo,

138 Natércia Magallhães, Algarve, Castelos, Cercas e Fortalezas - As Muralhas como Património Histórico Edit. Letras Várias, Edições e Arte, Faro, novembro 2008, p. 97. 139 Francisco Sousa Lobo, “O sistema defensivo da cidade”, in, Monumentos, nº 24, Lisboa, março de 2006. 140 Idem. 141 Livio da Costa Guedes, “Aspetos do Reino do Algarve nos séculos XVI e XVII. A «Descripção» de Alexandre Massai (1621)”, in Separata do Arquivo Histórico Militar, Lisboa, 1988. 142 ANTT, consulta de 21 de outubro de 1654, caixa 17, maço 14, Documento 181, Parecer do Engenheiro Pedro de Santa Colomba datado de 20 de Fevereiro de 1653, transcrito por Carlos Callixto, “Apontamentos para a História das Fortificações da Praça de Faro”, in Anais do Município de Faro, Nº XI 1981, pp. 217-218. 62

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Lisboa e Algarve”143, foi incumbido de inspecionar todas as fortificações desde Castro Marim a Sagres. Opinou que a defesa da Barra de Faro exigia a construção de um Forte com a maior brevidade possível, justificando esta celeridade por achar a cidade muito povoada e pouco defendida. Pedro de Santa Colomba assinou um contrato por três anos, com 40$000 reis de soldo ao mês, pagos adiantadamente, e partiu de França trazendo como ajudante o seu irmão, Bartolomeu de Massiac144.

O rei concordou com esta proposta e deu a escolher o nome da Fortificação a D. Nuno de Mendonça, o referido governador do Algarve (1612-1692), afirmando que “uma pedra seja posta, em local conveniente, em que se declare o nome da fortificação que se obrou em meu e vosso tempo”145.

Começando-se a construir o Forte de São Lourenço, logo a seguir a sua utilidade foi posta em causa pelo Cabido da Sé de Faro146, afirmando que a estrutura não defendia a cidade, além do que a sua fundação em areias fragilizaria a construção. Neste último ponto estava, como já vimos, correta a avaliação. Pedro de Santa Colomba visitou as instalações do Forte e após concluir ser de pouco custo, propôs a conservação do Forte após as primeiras destruições, pela necessidade de defender a barra e servir de amparo aos pescadores e navios ameaçados pelos corsários147. Refira- se que mais nenhum Forte existia naquela área, tendo este servido de dinâmica de desenvolvimento populacional na então praia de Olhão148.

O Forte era, então, considerado como um importante ponto estratégico na defesa da costa marítima, apesar de se verificar que a Barra de Faro se estava a afastar meia légua de distância.149. Ao insistir em manter uma fortificação junto à Barra, em zona claramente imprópria para a sua conservação, sem solo rochoso para se afirmar,

143 Portarias do Reino, Tomo 3º, p. 229, in Cristóvão Aires de Magalhães Sepúlveda, História de Exército Português, Lisboa, 1929, Volume 16, p. 76-77. 144 ANTT, Livro de Registos da Secretaria de Guerra, nº12, fla 155, Carta Patente de 8 de julho de 1648. 145 ANTT, Conselho de Guerra, consulta, carta Real, 1653. 146 ANTT, Conselho de Guerra, consultas, caixa 17, maço 14ª, documento 181. 147 ANTT, Conselho de Guerra, Livro de Registo da Secretaria da Guerra, nº26 (etiqueta nº24), folha 92, verso, ANTT, 1661. 148 Joaquim Romero Magalhães, O Algarve Económico 1600-1773, Editorial Estampa, s/d, pp. 112-113. 149 Carlos Callixto, “Apontamentos para a História das Fortificações da Praça de Faro, A Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro”, in Anais do Município de Faro, Faro, Nº VIII, 1978, p. 88. 63

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deveu-se ao facto de ser efetivamente a única hipótese de defender a Barra. O afastamento da Barra face a terra impedia que uma eventual fortificação aqui erguida tivesse alcance de fogo para proteger a principal entrada na Ria Formosa junto a Faro.

Em meados do século XVII, a construção e posterior reparação do Forte de São Lourenço integrava-se no projecto de criação de um sistema defensivo de todo a costa oriental algarvia. O Forte da Fuzeta, obra iniciada no tempo de D. Sebastião, foi intervencionada no período da Restauração150. Instalado na costa junto a esta povoação, procurava protege-la e à barra que lhe dava acesso. Já o Forte de Santo António, em Tavira, e a Fortaleza de São João, erguida em Cabanas, deviam proteger o acesso à velha povoação do rio Gilão. Este último foi edificado depois do Forte de Sto António, que a partir daí passou a ter um papel secundário na estratégia defensiva151. Quanto à Fortaleza de Cacela, cuja primitiva fortificação remontava à época islâmica, foi reconstruído por ordem de D. Sebastião, neste mesmo contexto de defesa das margens da Ria Formosa.

Enfim, todas estas estruturas tinham por missão defender as respectivas barras de acesso à Ria Formosa, impedindo a entrada de corsários nos canais navegáveis de acesso a Faro. Procuravam também segurar as povoações junto às quais estavam implantadas, cabendo neste caso ao Forte de São Lourenço a defesa do principal acesso à cidade de Faro. Note-se assim a influência e características do espaço ser único onde se podia fazer tanto a defesa terrestre como da costa marítima. Estas construções defensivas testemunham a preocupação da Coroa portuguesa com a defesa da costa Algarvia durante os séculos XVI e XVII, uma vez que esta era considerada então, como afirmava Frei João de São José, “ o muro e fortaleza cuja sombra o Reino se tem por seguro”152.

Em meados do século XVIII, o Forte recebeu nos seus fundamentos uma plataforma de artilharia de pequeno calibre, para servir de registo às embarcações que

150 Francisco Xavier de Ataíde Oliveira, Monografia do Concelho de Olhão, 3ª edição, Algarve em Foco Editora, Câmara Municipal de Olhão, 1999, p 172. 151 in www.igespar.pt/ptpatrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/ 152 www.igespar.pt/ptpatrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/ 64

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entravam e evitando-se deste modo o contrabando153. Assim, além da função estritamente defensiva, ligada aos eventos militares, o Forte assegurava também um policiamento da atividade económica, garantindo uma eficaz fiscalidade régia.

Fig. 32 – “Visita de Inspeção a todos os pontos fortificados do litoral algarvio”, de Lagos, 22 de Junho de 1754. BN, Reservados– Casa Forte, Tesouros do ANTT, Plantas do Ministério do Reino, doc Nº 2 e 6.

A planta datada de 1754, de Francisco Lobo Cardinal, faz referência à existência de quatro Barras na Ria Formosa: a primeira e mais próxima da cidade, a Barra da Barreta (A), aparentemente sem grandes condições para o tráfego marítimo; a Barra Nova (B), por certo aberta há menos tempo no já mencionado processo de evolução deste sistema geográfico e cuja largura parece também limitada; a Barra Grande (C), considerada a principal, figurada como a mais larga e com acesso interior mais livre de

153 ANTT, Conselho de Guerra, maço 20, consultas de 28 de setembro de 1753. 65

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ilhotes ou bancos de areia; e a Barra da Fuzeta (D), em frente a esta povoação, com acesso mais acidentado. Foram também identificados os povoados mais importantes à época, a Fuzeta, Olhão, e, claro, a cidade de Faro.

A única estrutura militar representada é o Forte de São Lourenço, assente sobre uma ilhota, com clara centralidade nesta área da Ria Formosa, muito embora um pouco afastado da sua barra principal. Este facto, também relacionado com o citado processo de evolução litoral, fazia com que a importância do Forte fosse decrescente, para mais sendo constantemente assolado pela força do mar. Era, ainda assim, o único ponto fortificado ou passível de defesa nesta parte da Ria Formosa. Era, assim, a única forma minimamente viável de assegurar o controlo sobre o principal acesso à capital do Algarve.

Refira-se que, anos antes, se procurara reforçar a defesa da mesma Barra Grande. O Forte da Armona, de efémera existência pela sua construção sobre areias, teve a sua edificação iniciada em 1743, durante o reinado de D. João V. Tinha por objetivo complementar o Forte de S. Lourenço na defesa da principal Barra de acesso a Faro, por onde entravam os navios de comércio com destino à cidade. A sua construção revela ou um desejo de cruzamento de fogos entre as duas estruturas fortificadas, ou mais provavelmente o intuito de implantar uma nova estrutura militar mais próxima da embocadura da Barra, que mantinha a sua mutação para Leste. A ação erosiva das ondas e esta deslocação da Barra, tornou-a impossível de conservar154.

Com o terramoto de 1755, as fortalezas costeiras, sobretudo as do Algarve e da Barra do Tejo, ficaram muito deterioradas. O Forte de São Lourenço sofreu grande destruição mas continuou a ser mantido e conservado, certamente devido àquela sua importância estratégica. Em finais do século XVIII os relatórios de inspeção sobre o estado em que se encontravam as fortalezas algarvias referem, invariavelmente, a mesma situação: a maior parte dos fortes estava desguarnecido de tropas, e o armamento era sofrível.

154 Arquivo Histórico Militar, “Visita de Inspeção pelo Governador e Capitão General do Reino do Algarve. D. Rodrigo de Noronha e Meneses”, 1754. 66

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A função da defesa do acesso a Faro e de amparo aos navios e pescadores contra os corsários foi-se esbatendo, dando lugar a outras funcionalidades. Na segunda metade de Setecentos, o Forte passou a servir essencialmente como ponto de registo e fiscalização das embarcações que entravam e saiam da Barra155. Era então uma pequena bateria, que visava sobretudo um controlo sobre a actividade económica do porto, isto é, mais um estabelecimento de guarda fiscal que uma estrutura militar. Refira-se que mais nenhum Forte existia naquela área, tendo este servido de dinâmica de desenvolvimento populacional na então praia de Olhão156.

Já em finais do século XVIII, esta parte da Ria Formosa foi objecto de novo levantamento cartográfico. Comparando esta representação com a de 1754, esta apresentava-nos, para além da Barra da Barreta, a Barra Nova, a Barra da Fuzeta e a Barra Grande, esta útima sendo a principal e a mais larga. Nesta representação, a Barra Grande apresenta-se mais fechada e mais afastada do Forte de São Lourenço. Já as Barras de Ferrobilhas e de Tavira aparecem nesta representação, bem como o Forte da Fuzeta, o Forte de Sto António e a Fortaleza de São João de Tavira e a Fortaleza de Cacela, todas parte do referido dispositivo defensivo criado na centúria anterior. Faro, Olhão, Monte Gordo e Tavira são os povoados figurados, numa clara conjuntura defensiva tanto terrestre como maritima.

155 Arquivo Histórico Militar, 3D9SC87N5, “Relatório do Sargento-Mor Romão José do Rego, 18 de abril de 1765”. 156 Joaquim Romero Magalhães, O Algarve Económico 1600-1773, Editorial Estampa, s/d, p 112-113. 67

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Fig. 33- Arquivo Histórico Militar, Secretaria de Estado das Relações Exteriores, Códice 4, pasta 2. “Carta corographica e hydraolica da Costa do reino do Algarve desde a Cidade de Faro até a vila de Alcoutim”, do “Projeto sobre as fortificações do Algarve pelo General de Engenheiros José de Sande Vasconcelos”, 1796.

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A utilidade do Forte de São Lourenço continuou a ser referida nos relatórios de inspeção exarados regularmente157. E a sua utilidade foi ainda confirmada pela visita de D. Francisco Gomes, Bispo do Algarve, efetuou à capela do Forte, em 1803.

As invasões francesas trouxeram outra dinâmica e funcionalidade ao Forte, pois apoiou os sublevados, cedendo a pólvora que possuía. A sublevação de Olhão teve a particularidade de ter sido a primeira das revoltas populares contra a ocupação francesa, em que houve um real enfrentamento dos invasores. Por alvará régio de 15 de novembro de 1808, o futuro rei de D. João VI elevou o lugar de Olhão a “Vila de Olhão da Restauração”, igualando-a “às vilas mais notáveis do reino”, expressamente por este facto158.

Refira-se um relatório de inspeção realizado ao Forte em 1815, que conclui que este fora útil quando a Barra estava próxima, deixando no entanto esta situação de se verificar159, pela citada movimentação natural dos solos.

No ano em que o Forte foi desativado, em 1821, já deixara de cumprir a sua funcionalidade, pelo continuado afastamento da Barra e pelo estado de ruina em que se encontrava. O relatório exarado nesta data recordava que o local da construção era estratégico, pois defendia a costa e a Barra Grande, que após o seu afastamento deixou de ter defesa160.

O Forte de São Lourenço se encontrava integrado na planificação da defesa marítima da costa Algarvia, por ser julgada a parte mais exposta de Portugal, mais especificamente na defesa da Barra Nova, no contexto da guerra da Restauração e em que toda a costa foi reforçada com construções defensivas.

157 Arquivo Histórico Militar, 3DSC87N18, Euzébio de Sousa Soares, “Relação das Praças Fortes e Baterias Distribuídas por toda a Linha Fronteira do Reino do Algarve, Quais devem Ser Conservadas e Guarnições que Devem Ter”, 12 de fevereiro de 1815. 158 Francisco Xavier de Ataíde Oliveira, Monografia do Concelho de Olhão, 3ª edição, Algarve em Foco Editora, Câmara Municipal de Olhão, 1999, p. 89-90. 159 Arquivo Histórico Militar, Euzébio de Sousa Soares, “Relação das Praças Fortes e Baterias Distribuídas por Toda a Linha Fronteira do Reino do Algarve, Quais Devem Ser Conservadas e Guarnições que devem Ter, 12 de fevereiro de 1815”. 160 Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar, 3231, 1821. 69

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A inibição de combates e o amparo dos pescadores e das embarcações, associado ao seu funcionamento como registo às embarcações, infere-se que o seu grau de prontidão sempre se manteve, desde que foi iniciada a sua construção em 1653 até á data do seu desmantelamento, em 1821.

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CONCLUSÂO

A construção do Forte de São Lourenço não só pretendeu dar resposta a uma necessidade estratégica que se impunha após a Restauração, como também veio permitir a dinamização e o desenvolvimento de um pequeno núcleo populacional de pescadores olhanenses que viviam na praia, em simples cabanas. População corajosa, responsável pela primeira sublevação no contexto das invasões francesas, arriscou-se no caique “Bom Sucesso”até ao Brasil, a fim de dar a Boa Nova ao Rei, foi o expoente máximo desta gente no propósito dos seus objetivos e de coragem.

O contexto físico associado ao Forte foi determinante para a sua existência e depois desmantelamento. A instabilidade do local de implantação, aliada à sismicidade histórica, foram factores de fragilização da estrutura. Estas características refletiram- se em todo o processo de construção e de sucessiva reconstrução da fortificação, ao longo dos seus 168 anos de vida. Mas apesar das fragilidades verificadas, impôs-se a sua continuidade ao longo deste período, num contexto de necessidade de defesa e de salvaguarda da barra de Faro e das comuidades locais acossadas por habituais incursões de piratas e de desamparo que sofriam no seu quotidiano.

Os trabalhos arqueológicos realizados no decorrer deste mestrado, bem como a análise de dados produzidos em intervenções anteriores, possibilitaram a delimitação das áreas de dispersão de vestígios de superfície. Associando estes registos à cartografia antiga e aos dados de sonar de varrimento lateral, foram relacionados os vestígios arqueológicos com o antigo Forte de São Lourenço, que assim foi localizado com um grau de aproximação relativamente seguro.

A análise do equipamento material e da guarnição revelou ter havido momentos de reforço da artilharia instalada, coincidente com os principais momentos de perturbação ou reforma militar. A estrutura esteve sempre guarnecida, embora a partir de meados do século XVIII o seu comando seja assegurado a partir de Olhão,

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havendo maior rotação na guarnição residente. A assistência religiosa que decorria no espaço do Forte, pela existência de uma ermida, e a acorrência habitual da população à missa, deu-nos a conhecer uma realidade afetiva e vivenciada entre a comunidade local e a fortificação.

Por último, quanto à importância estratégica militar do forte, no contexto lagunar da Ria Formosa, ressalvamos que, não obstante as dificuldades e fragilidades construtivas, houve um claro esforço para a manutenção desta posição, dado ser o meio mais eficaz de proteger uma barra fundamental de acesso à cidade de Faro, muito afastada da costa para que pudesse ser dali defendida.

A construção e a continuada e insistente reconstrução e conservação do Forte ao longo de 168 anos, acompanhou toda uma evolução histórica no quotidiano de uma população que continuadamente ali permaneceu e que ainda hoje se verifica pela constante presença dos pescadores no sitio onde se encontram os vestigios do Forte. As bocas de fogo que ali se encontram in situ continuam a servir de guarida aos polvos que são regularmente apanhados pelos pescadores.

Os trabalhos de arqueologia que ali se têm vindo a realizar desde 2006, e também as visitas ao local que foram proporcionadas com o apoio da Câmara Municipal de Olhão, no âmbito das férias escolares dos alunos das escolas do concelho, têm vindo a revelar-se de grande importância tanto ao nível regional como municipal para as populações que se identificam com o património arqueológico local. Nestes campos de férias, temos vindo a sensibilizar os jovens com idades entre os 12 e os 17 anos, para um melhor conhecimento do seu património, conseguindo deste modo aproximar a população da sua história e a valorizar a cidade onde vivem. Mais ainda, a entenderem o quanto a arqueologia é importante para a compeensão do passado. Embora não sejam estes vestigios os mais expetaculares, eles não deixam de ser importantes para as comunidades locais e para a sua identidade.

Sendo de uma importância vital a existência de uma educação patrimonial que não se quede apenas em atividades escolares de Verão, procurámos envolver nesta temática as escolas em Olhão que pertencem à Rede de Escolas Associadas da

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UNESCO, e que durante um ano letivo estas desenvolveram um projeto de trabalho em conjunto, sobre a sua cidade e as suas tradições. Os alunos, em contato com a comunidade local, com o saber antigo e as tradições, expresssas na arte de reconstruir replicas de antigas embarcações de pesca que navegavam na Ria Formosa, souberam reconhecer a importância do conhecimento patrimonial para o seu enriquecimento pessoal e coletivo.

A escola, é, por excelência, o local ideal para a prática de valorização e defesa do património e é pelo envolvimento dos jovens em projetos que saiem da sala de aula, que a escola cumpre o seu papel como lugar de transmissão de valores da prática da cidadania e do saber.

Enfim, a construção do Forte de São Lourenço testemunhou durante toda a sua existência, um processo de desenvolvimento histórico, tendo sido uma importante fonte de informação sobre a vida das pessoas que a ele estiveram ligadas. O seu estudo permitiu-nos divulgar o conhecimento do património e através da observação dos vestígios do passado ainda existentes no sítio, e pela leitura das fontes - registos essenciais para a sua compreensão, sabemos que o Forte de São Lourenço fez parte de um património que a todos continua a pertencer.

Pretendeu-se com este trabalho confirmar a existência de um património que fez parte de um dado momento da história de Portugal, assegurar a sua memória junto das comunidades locais e apoiar o desenvolvimento de atividades que propiciem uma rede de conhecimento patrimonial depositário de memórias e de identidades coletivas.

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Internet http://mnazulejo.imc-ip.pt/pt-PT/mnaz/salas/ContentDetail.aspx?id=358. http://www.igespar.pt/media/uploads/cnans/16/16.pdf http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3607 http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPASearch.aspx?id=0c69a68c- 2a18-4788-9300-11ff2619a4d2. http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPASearch.aspx?id=0c69a68c- 2a18-4788-9300-11ff2619a4d2. www.igespar.pt/ptpatrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/

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Lista de figuras

Fig. 1 –Ria Formosa (in http://www.lnec.pt/organization/dha/nec/estudos_id/berna)

Fig 2 - Mapa da costa do Algarve que faz parte do Atlas da Península Ibérica (século XVI), existente na Biblioteca do Escorial.

Fig. 3 - Representações cartográficas do Sotavento do Algarve, incluindo o sistema lagunar da Ria Formosa, em 1590, 1648 e 1811.

Fig. 4 – Mapa datado de 1772, compilado por Francisco Pereira de Sousa

Fig. 5 – Romão José do Rego, Rellação da Artilharia, Palamentas, pólvora e ballas que há nos Armazens da Cidade de Faro, Planta do Reduto de São Lourenço, 2ª metade do século XVIII, Arquivo Histórico Militar.

Fig. 6 - ANTT, “Fortificações do Algarve”, 1798, Baltazar de Azevedo Coutinho, Capitão do Real Corpo de Engenheiros.

Fig 7- Olhão e o sítio arqueológico na CMP 611 (1980)

Fig. 8 - Geoposicionamento dos achados arqueológicos (vestígios de superfície)

Fig. 9- Posicionamento das bocas-de-fogo.

Fig. 10 – Levantamento de sonar.

Fig. 11 - Plano hydrographico das barras e portos de Faro e Olhão [Material cartográfico] / levantado por B. M. F. de Andrade, A. J. Pery e G. A. Pery ; sob a direção de F. Folque. - Escala 1:20000. - [Lisboa] : Direção Geral dos Trabalhos Geodésicos,, 1875, com indicação da área provável de localização do Forte de São Lourenço.

Fig. 12 - Carta Militar de Portugal, 1:25, 0000, nº 611 , Faro, Instituto Geográfico do Exército, 1980, assinalando-se a área provável de localização do Forte de São Lourenço representada na cartografia de 1875.

Fig. 13 – Ortofotografia assinalando-se a área provável de localização do Forte de São Lourenço representada na cartografia de 1875.

FIg. 14 - Posicionamento sobre ortofotografia.

Fig. 15 – Conglomerado construtivo circular.

Fig 16– Concentração de blocos aparelhados a Nordeste do conglomerado construtivo

Fig. 17 - Bloco aparelhado junto ao conglomerado circular.

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Fig. 18 - Blocos aparelhados e dispersos junto ao conglomerado.

Fig. 19 – Fragmento de muro com restos de argamassa (nº34 da planta).

Fig. 20 - Frgamento de muro junto ao conglomerado, com restos de argamassa (nº 64 da planta).

Fig. 21 – Mediçãoo de dois vestigios de estruturas (nº 34 e nº 64 da planta).

Fig. 22 – Fragmento de muro com restos de argamassa (nº34 da planta)??.

Fig. 23 - Blocos de pedra não aparelhados.

Fig. 24 - Boca-de-fogo C1 (nº31 da planta).

Fig. 25- Bocas- de- fogo C2 e C3 (nº32 da planta).

Fig. 26 – Boca-de-fogo do Museu Municipal de Olhão.

Fig. 27 – Boca- de-fogo no Museu Municipal de Olhão.

Fig. 28- Pedra de Armas no Museu Municipal de Moncarapacho.

Fig. 29 - Número de peças.

Fig. 30 - Material das peças.

Fig. 31- Calibres.

Fig. 32 – “Visita de Inspeção a todos os pontos fortificados do litoral algarvio”, de Lagos, 22 de Junho de 1754. BN, Reservados– Casa Forte, Tesouros do ANTT, Plantas do Ministério do Reino, doc Nº 2 e 6.

Fig. 33- Arquivo Histórico Militar, Secretaria de Estado das Relações Exteriores, Códice 4, pasta 2. “Carta corographica e hydraolica da Costa do reino do Algarve desde a Cidade de Faro até a vila de Alcoutim”, do “Projeto sobre as fortificações do Algarve pelo General de Engenheiros José de Sande Vasconcelos”, 1796.

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