Capa / Cover: Lawrence Weiner. Obvious Aphorism. © 2016 LAWRENCE WEINER / ARS, New York / SPA, Lisbon.
Conteúdos Contents
Dedicado a João Appleton, um pai para a Appleton Square p. 6 / 10+1 Fatima Marques Pereira 10+1 / p. 9 Dedicated to João Appleton, a father to Appleton Square p. 14 / Uma nova Appleton Vera Appleton A new Appleton / p. 16
p. 20 / A fábrica João G. Appleton The factory / p. 21
p. 24 / O esplendor do sensível Rui Horta The splendour of perception / p. 25
p. 28 / Persistência e invenção Nuno Crespo Persistence and invention / p. 29
p. 32 / Appleton Square João Appleton Appleton Square O outro lado do espelho The other side of the looking glass / p. 34
p. 38 / Appleton Recess Ana Anacleto Appleton Recess Jogo, encontro, intervalo & Bruno Marchand Play, encounter, recess / p. 42
p. 48 / Vera, a Alma da Appleton Square Ana Nobre de Gusmão Vera, the Soul of Appleton Square / p. 50
p. 54 / A cultura é quem nos acompanha Nicolas de Oliveira Culture is the Company we keep / p. 60 & Nicola Oxley p. 66 / “If you want to go fast go alone. “If you want to go fast go alone. If you want to go far go together.” David Silva Revés If you want to go far go together.” 10 anos de Appleton Square 10 years of Appleton Square / p. 68
p. 121 / Função disfunção: afectologia Ana Cristina Cachola Function dysfunction: an affectology de um espaço (in)comum of an (un)common space / p. 156
ENTREVISTAS INTERVIEWS
p. 124 / Susana Mendes Silva Susana Mendes Silva / p. 159 p. 131 / Pedro Cabrita Reis Pedro Cabrita Reis / p. 166 p. 138 / Nuno Sousa Vieira Nuno Sousa Vieira / p. 172 p. 146 / José Pedro Croft José Pedro Croft / p. 180
p. 190 / Uma fábrica sem fumo David Barro A factory without fumes / p. 192 Una fábrica sin humo p. 194 10+1 da Velocidade da época contemporânea, mas privado de Lisboa, que está, por um lado não podemos também permitir que essa aberto à produção e co-produção artística Fatima Marques Pereira Velocidade ultrapasse o que nos propusemos e à difusão da cultura e conhecimento fazer, aquilo com que nos comprometemos. contemporâneos, e por outro, que vive em diálogo com a firme mutabilidade social, Se a perceção do nosso tempo laboral tem geopolítica, cultural e económica, “A velocidade é importante? – perguntei. Todavia, este “experimentalismo” não é diferentes entendimentos, o mesmo se passa e a ininterrupta dinâmica que caracterizam sinónimo de limbus. A Appleton Square, com a perceção do nosso espaço laboral, o século XXI. Doutra forma, seria um Violet olhou-me bem nos olhos e a meu ver, não actua nem vive na “margem”. e aqui, entenda-se espaço laboral aos níveis salto para o abismo, e jamais se poderia retorquiu: – Velocidade e estratégia, Hoje, a Appleton Square “ganhou” o seu conceptual e formal. pensar numa passagem, num outro ciclo. agora é isso que conta. […]”.1 lugar em Lisboa, e afirma-se pela sua génese, Acresce que este entendimento entre o tal como o seu website refere: Falar de espaços que trabalham com a projeto cultural e artístico e o programa Vera, obrigada pelo convite para escrever cultura e a arte contemporâneas não é fácil, arquitetónico resulta de uma afinidade entre este texto sobre a Appleton Square “[…] é um espaço polivalente, vocacionado porque o entendimento de cultura e arte dois irmãos: Vera Appleton e João Appleton. e obrigada pelo tempo que esperaste por ele. para diversas manifestações artísticas metamorfoseiam-se, fazendo com que uma Tal como Goethe afirma: e para a partilha de experiências linguagem que permite mudança possa criar Desde já, faço uma declaração: eu e a multidisciplinares. […]”.2 ambiguidades. Este foi, e é, o desafio “O carácter, a individualidade, as Vera somos amigas, no entanto nunca da Appleton Square. inclinações, a orientação, o lugar, trabalhámos juntas. Acompanhei, Aliás, basta analisarmos a programação o ambiente e os hábitos constituem, em particularmente, desde o ano de 2008, deste espaço cultural para verificarmos Gosto do desafio/ambição da Appleton conjunto, um todo, no qual cada homem (ano em que nos conhecemos o reconhecimento do mesmo no meio da Square, um projeto transdisciplinar paira como num elemento, numa atmosfera, pessoalmente), o percurso da Appleton Arte e da Cultura contemporâneas. que se centra na produção e difusão só ali ele encontra a sua comodidade e o seu Square. Conversámos e conversamos artística e do conhecimento e que bem-estar”.3 “horas a fio” sobre os nossos trabalhos, que Penso e olho para a Appleton Square estrutura a sua programação a partir da indubitavelmente se tocam, se cruzam ou como uma plataforma expositiva e de transdisciplinaridade e da transversalidade A forma como a Vera propõe aos artistas a se assemelham pelo(s) seu(s) objecto(s) de artes performativas que, para além da artística e cultural da Sociedade possibilidade de desenvolverem os projetos trabalho, e, acima de tudo, pelos sujeitos. permanente e regular produção e co- Contemporânea. Para fazê-lo é necessário naquele espaço é, também, do meu ponto produção artística que nos apresenta, um rumo, tomar opções, criando, de vista, um ato que é simultaneamente de Interessou-me escrever este texto pela se preocupa, do mesmo modo, com naturalmente, uma Estratégia que cimente liberdade e libertador. De liberdade para reflexão que ele me obrigou ao nível de o Conhecimento Contemporâneo, o rumo. quem executa a produção artística, uma “identificação” conceptual e formal particularmente aquele que se cruza e libertador para quem faz a programação. da Appleton Square enquanto espaço com a arte, a cultura e a inovação. Se a Appleton Square atinge os 10 anos A partir do momento em que a proposta cultural e artístico contemporâneo. Coloco querendo partir para o + 1 como sendo é aceite por ambas as partes, aquele espaço “identificação” entre aspas, porque sinto que O tempo do trabalho que desenvolvemos um ano de passagem conceptual e formal passa a ser um espaço de criação do(s) a palavra que cada vez mais me acompanha tem diferentes vertentes e, de facto, ao nível da sua programação artística, artista(s) e não somente um espaço para os é a dúvida, particularmente porque quer o confronta-se com a Velocidade que não posso deixar de referir que tudo isto artistas apresentarem/exporem as suas trabalho que a Vera desenvolve na Appleton caracteriza a Sociedade Contemporânea. se deve a uma Estratégia pensada, desde obras. Quando converso com a Vera sobre Square, quer o trabalho que desenvolvo, Por vezes, o nosso tempo laboral, não é a sua origem, com um programa global. os projetos de produção ou co-produção da atualmente, no ARQUIPÉLAGO – Centro o tempo dos outros. Por vezes, os outros não Isto é, quer a ideia de projeto cultural e Appleton Square, constato a preocupação de Artes Contemporâneas passa por um compreendem o nosso tempo laboral. Uma artístico, quer o programa arquitetónico da partilha do espaço com os artistas, onde “experimentalismo” constante e em continum. coisa é certa: não podemos perder a noção foram pensados de raiz para responder às a total “abertura” para a criação e produção necessidades e aos “desejos” da Appleton 1 Siri Hustvedt – Aquilo Que Eu Amava. Lisboa: 2 http://www.appletonsquare.pt/about.html. Square. Deste modo, criou-se a atmosfera 3 Johann W. Goethe – As Afinidades Electivas . Lisboa: D. Quixote, 2014, p. 86. 15.10.2018 do território conquistado por este espaço Relógio d’Água, 1999.
X+ I Fatima Marques Pereira / PT. 6/7 da obra é a essência daquilo que a Vera quer Uma passagem é como uma visita guiada 10+1 para ele: que seja um acolhimento, uma que oferece uma rota particular ou uma visão residência temporária. específica de uma travessia. A perseverança Fatima Marques Pereira de quem empreende a viagem acrescenta uma Com isto, não pretendo de forma alguma qualidade ritual à passagem. Algumas destas rotular a Appleton Square. Quero, apenas, viagens têm como objetivo o próprio ato de se referir a opção conceptual e formal de mover, enquanto outras contam com o poder “‘Speed is important?’ – I said to her. However, this ‘experimentalism’ is not um espaço privado que se rege/situa, a da memória e da associação para evocar uma synonymous with limbus. Appleton Square, meu ver, tal como referi anteriormente, leitura mais complexa da travessia. Algumas Violet fixed her eyes on mine and said: in my view, neither acts nor exists on the como um Lugar que acima de tudo é uma produzem uma conexão entre uma série de ‘Speed and strategy. That’s what matters ‘margins’. Today, Appleton Square has plataforma de arte, cultura e conhecimento lugares ou eventos desejáveis, enquanto outras now.’ […]”.1 ‘earned’ its place in Lisbon, and this is contemporâneos, onde a preocupação precisam apenas de uma mudança mínima de confirmed by its conception, as described assenta na exibição de projetos individuais, escala ou ângulo de visão para proporcionar Vera, thank you for inviting me to write this on its website: colaborativos e educativos aos níveis uma nova vista daquilo que é familiar. text about Appleton Square and thank you da arte, da cultura e do conhecimento Uma viagem pode ser medida pela distância for your patience while waiting to receive it. “[…] it is a versatile space, intended to house contemporâneos. percorrida, pela energia gasta para completá-la, different artistic displays and to share ou pelo tempo empregado. “A passagem, I’d like to begin with a disclaimer: Vera and multidisciplinary experiences. […]”. 2 De facto, a passagem para o + 1, onde no entanto, não envolve apenas a dimensão I are friends, but we have never worked a palavra mudança vai ser a constante, era física ou temporal, também nos expõe together. I have followed the journey of Besides, the programme for this cultural inevitável na sequência desta travessia de a novas experiências e nos oferece temas Appleton Square closely since 2008 (when space in itself provides ample confirmation 10 anos em que a Appleton Square para a reflexão”.4 we met in person). We have spent – and of its recognition on the contemporary art viajou pelo “experimentalismo”, ganhou continue to spend – countless hours and culture scene. conhecimento, se estruturou na e a partir da discussing our respective work, which gestão das artes e da cultura, cresceu a partir unquestionably shares specific points, I think of and view Appleton Square as da sua própria travessia que a obrigou a estar intersecting with and resembling that of the a platform for exhibitions and performing atenta ao percurso que foi desenvolvendo other due to the purpose of the work and, arts which, besides the ongoing, regular comparativamente com o que se ia above all, the topics. artistic production and co-production passando, e com o que se passa em espaços “A Appleton Square viajou which it presents, is equally concerned que têm na sua génese o trabalho com a pelo ‘experimentalismo’, I was keen to write this text in order to force with contemporary knowledge, arte e a cultura contemporâneas e que, me to reflect on a conceptual and formal particularly that which is linked to art, intrinsecamente, levou a Appleton Square ganhou conhecimento, se ‘identification’ of Appleton Square as a culture and innovation. a fazer uma reflexão. cultural and contemporary art space. I write estruturou na e a partir ‘identification’ in inverted commas, because The time of the work we produce has Esta reflexão levou a Vera a pensar e a da gestão das artes e da I feel that the word which comes closer for various aspects and clashes somewhat with querer uma transição para o seu espaço. me is doubt, especially since both the work the speed which characterises contemporary E, como já mencionei, se não é fácil falar cultura, cresceu a partir which Vera undertakes at Appleton Square society. At times, our working rhythms are de espaços que trabalham com a cultura e da sua própria travessia” and the work which I am currently engaged not in time with others. At times, others do a arte contemporâneas, não é, igualmente, in at ARQUIPÉLAGO – Contemporary not understand our working rhythms. One fácil gerir e programar estes espaços. Arts Centre is characterised by a constant, thing is certain: we cannot lose the notion Portanto, Vera, parabéns pelos 10 anos ongoing ‘experimentalism’. of speed in our contemporary era, but nor e força para o + 1. E, para terminar, não te esqueças, que tal como a Julia Schulz- Dornburg afirma: 4 Julia Schulz-Dornburg – Arte Y Arquitectura. 1 Siri Hustvedt – What I Loved. London: Sceptre, 2 http://www.appletonsquare.pt/about.html. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2002, p. 34. 2003, p. 59. 15.10.2017
X+ I Fatima Marques Pereira / ENG. 8/9 can we allow that speed to dominate our culture and knowledge, and existing, on the With these words, I in no way wish to label Some create a connection between a series of plans and our commitments. other hand, in dialogue with unwavering Appleton Square. I merely wish to note the desirable places or events, while others need little social, geopolitical, cultural and economic conceptual and formal choice of a private more than a tiny change in scale or angle of vision While our working rhythms may be mutability, and the round-the-clock space which, in my view, as I stated above, to provide a new vision of that which is familiar. understood in various ways, the same may dynamic which characterises the 21st embodies/positions itself as a place which is A journey may be measured by the distance be said of perceptions of our workspaces, century. Otherwise, it would be a leap in the a platform for contemporary art, culture and travelled, by the energy expended to complete it, or and here, ‘workspace’ is considered both dark, and it would be impossible to consider knowledge above all, where the focus is on by the time taken. The passage, however, involves conceptually and formally. a passage, another cycle. Moreover, this the exhibition of individual, collaborative not only the physical and temporal dimensions, alliance between the cultural and artistic and educational projects involving but also exposes us to new experiences and offers It is not easy to speak of spaces which work project and the architectural programme is contemporary art, culture and knowledge. us matters for reflection.4 with contemporary art and culture, because the result of an affinitybetween two siblings: our understanding of culture and art Vera Appleton and João Appleton. Indeed, the passage into the +1, where metamorphose, creating a language which As Goethe declares: the word change will be ever present, permits change but which also allows for was inevitable in the sequence of this ambiguities. This was, and continues to be, “Character, individuality, inclinations, 10 year journey in which Appleton Square the challenge of Appleton Square. orientation, place, environment and travelled through ‘experimentalism’, gained habits jointly constitute a whole, in which knowledge, organised itself around the “It is no easier to speak I like the challenge/ambition of Appleton each man floats as if in an element, in management of art and culture, grew of spaces which work Square, a transdisciplinary project an atmosphere, the only place where he from its own journey which obliged it to which focuses on the production and experiences comfort and wellbeing”.3 be attentive to the trajectory which was with contemporary art dissemination of art and knowledge, and emerging in comparison with that which which bases its programme on the artistic The way in which Vera offers artists the was happening, and is happening, in spaces and culture than it is to and cultural transdisciplinarity and possibility of developing projects in that which are born of work with contemporary manage and programme transversality of contemporary society. space is also, in my opinion, an act which art and culture, prompting Appleton Square To do this, it is necessary to find a direction, is simultaneously free and freeing. Free to reflect. for these spaces” to make choices, creating a strategy which for the person carrying out the artistic naturally cements its course. production, and freeing for the person who This reflection prompted Vera to ponder undertakes the programming. As soon as and seek a transition for her space. And, As Appleton Square celebrates its 10th the proposal is accepted by both parties, the as I’ve already mentioned, it is no easier anniversary and heads into +1 as a year space becomes a space for creation by to speak of spaces which work with of conceptual and formal passage in its the artist(s) and not only a space for artists contemporary art and culture than it is to artistic programming, I cannot help but to present/exhibit their works. When manage and programme for these spaces. note that this is all down to a well-thought- I discuss the production and co-production And so, Vera, congratulations for these out strategy, with a comprehensive plan in projects at Appleton Square with Vera, 10 years and all the best for the +1. place from the very beginning. This means I can see her concern with sharing the space To conclude, don’t forget that, in the words that both the idea of a cultural and artistic with the artists, in which full ‘openness’ to of Julia Schulz-Dornburg: project and the architectural programme the creation and production of the work were originally designed to respond to the is the essence of what Vera seeks: to welcome, A passage is like a guided tour which offers needs and ‘desires’ of Appleton Square. to offer a temporary residence. a particular route or specific vision of a journey. In this way, the atmosphere of the territory The perseverance of the traveller adds a ritual conquered by this private space in Lisbon quality to the passage. In some of these journeys, was created, open on the one hand to the aim is movement itself, while others call for 4 Julia Schulz-Dornburg – Arte Y Arquitectura. 3 Johann W. Goethe – As Afinidades Electivas. Lisbon: Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2002, p. 34. artistic production and co-production and Relógio d’Água, 1999. (N.T. our translation based on the power of memory and association to evoke (N.T. our translation based on the Portuguese version to the dissemination of contemporary the Portuguese version in the original essay) a more complex interpretation of the journey. in the original essay)
X+ I Fatima Marques Pereira / ENG. 10/11 João Paulo Feliciano
Sem Título / Untitled, 2017
Fotogravura, tintagem “a la poupée” com sangue do artista, sob papel 300 g somerset softwhite Photoetching, “a la poupée” printing with the artist blood, on 300 g somerset soft white paper
Dim. papel / Paper dim. : 20x25,5 cm Dim. imagem / Image dim.: 11,6x13,9 cm
Ed: 10 + 3 P.A. / A.P. Uma nova Appleton Vera Appleton
“Qualquer modelo, por muito dinâmico e eficaz o fim de dez anos é importante a passagem dos dez para os onze anos, reflectir, analisar os pontos fortes é certo que essa característica é a única que seja, corre o risco de Ae fracos do nosso trabalho, do projecto que deve permanecer inalterável: que se se esgotar. Dez anos é que efectivamente conseguimos concretizar. mantenha um lugar onde os artistas podem Verificar se atingimos a metas iniciais e se (e devem) fazer o que nunca poderiam tempo suficiente para que nos desviámos no bom ou no mau sentido. fazer numa galeria comercial ou numa a necessidade de mudança instituição. É então altura de parar para enfrentar Um espaço híbrido, “in between”, com uma surja quase diariamente” a “passagem” necessária. energia muito própria.
A Appleton Square fez dez anos e nesses dez Este livro encerra assim o ciclo dos dez, anos organizou cerca de noventa exposições, onze anos de história da Appleton Square, cinema ou multimedia, algumas das quais além de programas pontuais, de ciclos e chama-se por isso “dez mais um” (X+I). enquadradas em processos de residências curatoriais tais como Appleton Recess, Empty A partir daqui inicia-se um outro ciclo, nacionais e internacionais. Estará preparada Cube, Tryout, WhiteBox, Filmarte, cursos, com o kick-off programado para Setembro/ com infraestruturas de som e imagem que conferências e conversas. Tudo isto tendo Outubro de 2018. facilitem não só a concretização desses sempre como objectivo primordial garantir projectos artísticos como a continuação uma oferta cultural exigente e de qualidade A partir dessa altura será a Appleton Square da habitual programação de cursos, ao público. A Appleton Square foi vivendo num formato ligeiramente diferente, conferências e conversas. e existindo sem que a premissa comercial e passará a chamar-se simplesmente marcasse a sua atitude e as suas escolhas Appleton. O seu estatuto será alterado Qualquer modelo, por muito dinâmico programáticas, o que tornou a necessidade juridicamente para “sem fins lucrativos”, e eficaz que seja, corre o risco de se esgotar. de apoios e mecenas fundamental. afirmando assim uma das suas intenções Dez anos é tempo suficiente para que principais: mostrar arte (e não vender arte). a necessidade de mudança surja quase Foi durante estes dez anos um espaço diariamente. onde a liberdade de criação era óbvia e A nova Appleton passará a ter duas linhas inevitável, considerado embrionário por programáticas autónomas. A Appleton Será uma nova Appleton mas não deixará muitos artistas, onde nasceram, cresceram Square na sala do piso superior e a Appleton de ser a actual Appleton Square. e acabaram projectos artísticos de excepção, Box na sala do piso inferior. A Square únicos na sua especificidade de ligação apresentará menos exposições por ano A ideia de mudar é interessante, desafiante, ao lugar. Essa liberdade inspiradora, que e de duração mais longa. O carácter destas ambiciosa. É uma renovação. permitiu que quase tudo fosse possível exposições será institucional, baseado no tornou-se então uma das características princípio de ocupação total do espaço, com É procurar chegar um pouco mais longe mais marcantes da Appleton Square. um critério de programação um pouco mesmo que isso signifique apenas percorrer mais específico. A Box estará disponível um outro caminho, mesmo ali ao lado. Perante a intenção de terminar um ciclo para apresentações pontuais na área da e iniciar outro, tendo como referência performance, dança, música, teatro, vídeo, A autora não escreve segundo o novo acordo ortográfico
X+ I Vera Appleton / PT. 14/15 A new Appleton Vera Appleton
fter ten years, it is important to reflect With a view to closing one cycle and and to analyse the strong and weak beginning another, based on the transition Apoints of our work and of the project from ten to eleven years, it is clear that which we have successfully set in motion. this characteristic is the only one “It is an attempt to go a This is an opportunity to evaluate whether which must remain unchanged: Appleton we have achieved our initial objectives Square must remain a place where artists little further, even if that and whether or not we are heading in the can (and must) do what they could never means little more than right direction. do at a commercial gallery or institution. A hybrid, in-between space with a highly taking another path, right It is time to stop and tackle the necessary distinctive energy. transition. next to this one” This book brings the cycle of ten, eleven Appleton Square is celebrating its tenth years of history at Appleton Square to a anniversary, and during these ten years, it close, and for this reason it is entitled ‘ten theatre, video, cinema and multimedia, has organised around ninety exhibitions, plus one’ (X+I). From this moment on, a new some of which will be linked to national as well as other very specific events and cycle begins, whose launch is planned for and international residencies. It will curatorial cycles such as Appleton Recess, September/October 2018. be equipped with sound and image Empty Cube, Tryout, White Box, Filmarte, equipment which will facilitate not only courses and talks. The main aim in all of The format of Appleton Square will be the production of these artistic projects, this was to offer discerning, high quality slightly different in this new cycle, and it but also the continuation of the normal cultural events to the public. Appleton will be known simply as Appleton. Its legal programme of courses, lectures and talks. Square continued to operate without status will be changed to ‘non-profit’, thus being influenced in its approach and affirming one of its main aims: to display art No matter how dynamic and effective they programming choices by commercial (and not to sell art). are, all formats run the risk of beginning to concerns, which created a need for wear thin. Ten years are sufficient for the financial support and sponsors. The new Appleton will have two need for change to arise almost daily. independent programming strands. Throughout the last ten years, Appleton Appleton Square in the ground-floor room This will be a new Appleton, which will Square has been a space where creative and Appleton Box in the basement room. nonetheless continue to be the current freedom was evident and inevitable, The Square will exhibit fewer exhibitions Appleton Square. considered embryonic by many artists, per year for longer periods of time. where exceptional artistic projects with These exhibitions will be institutional The idea of change is interesting, a unique connection to the venue were in nature, and will occupy the entire challenging, ambitious. It is a renewal. conceived, developed and completed. This space in accordance with rather more inspiring freedom, which made everything specific programming criteria. The Box It is an attempt to go a little further, even if possible, became one of the most striking will be available for temporary events in that means little more than taking another characteristics of Appleton Square. the areas of performance, dance, music, path, right next to this one.
X+ I Vera Appleton / ENG. 16/17 Susana Mendes Silva
O que uma gravura é / What an etching is, 2017
Verniz mole, sob papel 300 g somerset white Soft ground, on 300 g somerset white paper
Dim. papel / Paper dim. : 20x25,5 cm Dim. imagem / Image dim.: 15x20 cm
Ed: 10 + 3 P.A / A.P. A fábrica The factory João G. Appleton João G. Appleton
primeira vez que visitámos o edifício minutos, andando entre as máquinas, he first time we visited the building was magical and we spent several minutes onde viria a ser a Appleton Square este hipnotizados pela sua música “tricoteante” that would eventually host Appleton walking around the machines, mesmerised Aainda estava ocupado por uma fábrica e pela multiplicidade das linhas coloridas TSquare, it was still occupied by by the music of their “knitting” and de passamanarias. A visita começou pelos que preenchiam o espaço dando-lhe uma a trimmings factory. The visit began the multiplicity of colourful lines that andares superiores onde se amontoavam materialidade diáfana. Quando visitou by the upper floors, where there were filled the space and gave it a diaphanous prateleiras carregadas de novelos de lã, aquela sala, o nosso pai disse que tinha de shelves lined with balls of woollen yarn, materiality. While visiting the room, our de enormes carros de linhas de algodão, de ser reservada para qualquer coisa especial. huge spools of cotton and silk thread, father expressed a view that it had to be seda, de franjas, cordões, borlas e pompons E assim foi. Na obra que depois se fez, fringes, laces, tassels and pompoms of every reserved for something special. And so it das cores e texturas mais diversas. O negócio aquele compartimento ficou em espera. shade and texture. The tired old owner was: the room was left untouched during estava “fora de moda, já não se usava na E só passados alguns anos foi encontrado explained the business was “old fashioned, the initial remodelling work and it was decoração” e os principais clientes eram um projeto para ele. A ideia da Vera para no longer so relevant for decoration” and only a few years later that we found agora “gente do teatro, dos cenários e dos a Appleton Square foi assim, desde o início, that the main customers were “theatre a purpose for it. From the outset, Vera’s figurinos, mas que compravam pouco” determinada, ou influenciada, pelo espaço people who work in scenery and costumes, idea for Appleton Square was driven, or at explicou-nos o proprietário velho e cansado. – aquele espaço fortemente matérico but only buy a little bit as needed.” least influenced, by that densely muscular e musculado onde, antes, misteriosas space in which the mysterious old O edifício parecia banal, apesar de máquinas antigas teciam as suas While the building seemed normal machines had woven their vibrant webs. localizado num local familiar e no bairro vibrantes teias. enough – it was located in a familiar place onde havíamos crescido, mas, a visita ainda in a neighbourhood we had grown up The architectural design was always não terminara. Na entrada, no rés-do-chão O projeto de arquitetura foi, por vocação in – the visit had more surprises in store. intended to be a white cube, by vocation and onde estava estacionado um velho Renault, e por indicação da Vera e da Cristina Guerra, At the ground-floor entrance, where an by indication of Vera and Cristina Guerra. por trás das portas duplas que ocultavam destinado a ser um white cube. No entanto old Renault was parked, the double doors However, the intention was that the beams, um espaço ainda desconhecido, ouvia- pretendeu-se que as vigas, os pilares concealed an as-yet-unknown space that columns and reinforced concrete porticos se um ruído constante e mecânico, um e pórticos de betão armado não deixassem emitted a constant, mechanical noise would remain visible. To this end, a new tricotar – tric-trac-tric-troc-tic-tic-tac. de estar presentes. Assim, foi desenhada like knitting: tric-trac-tric-troc-tic-tic-tac. “skin” was designed, detached from the main Este vinha de uma sala, de pé-direito duplo, uma nova “pele”, solta da estrutura principal It came from a room that housed large structure of the room, with a square floor onde estavam instaladas grandes máquinas, da sala, com 9 x 9 m de planta e 3,5 m metal machines in wooden frames that plan of 9 x 9 m and a 3.5 m high ceiling. metálicas, com bastidores altos de madeira de altura. Uma praça interior quadrada, almost reached the two-storey ceiling. An inner cube where everything could que se elevavam para o teto. Quando ali onde tudo poderia “ser”. E assim tem sido. We entered a room in which everything simply “be”. And so it has been. Although entrámos tudo estava em movimento. Apesar de os teares elétricos terem sido was moving. Flexible narrow metal hooks the wonderful life of the electric looms was Ganchos metálicos, estreitos e flexíveis, desmontados de surpresa silenciando were attached to the ceiling, supporting the abruptly silenced, there have been several elevavam-se para o teto e suspendiam fios abruptamente aquela vida maravilhosa, multi-coloured threads that filled the space moments throughout these ten years in de todas as cores que ocupavam o espaço ao longo destes dez anos foram vários os and glowed with the rays of the setting sun which we have passed through this space e brilhavam com os raios de luz poente que momentos, em que, com a mesma sensação coming in through the narrow openings with the same sense of magic entravam pelas frestas estreitas e altas. de magia e de encantamento, percorremos extending up the walls. The atmosphere and enchantment. O ambiente era mágico e ficámos ali muitos aquele espaço.
X+ I João G. Appleton 20/21 Julião Sarmento
Outro, 2017
Verniz duro, verniz mole, sob papel 300 g somerset soft white Hard ground, soft ground, on 300 g paper somerset soft white
Dim. imagem e papel / Image and paper dim. 20x25,5 cm
Ed: 10 + 3 P.A. / A.P. O esplendor do sensível The splendour of perception Rui Horta Rui Horta
ento explicar a alguém o que é a a experiência da arte performativa, intangível try to explain to someone what Appleton work, then the experience of performative Appleton Square e não funciona, tal por natureza, remete-nos para um lugar ainda Square is and it doesn’t work, just as with art, intangible by nature, takes us to a still Tcomo uma obra musical ou de dança. mais fugaz do sentir. Aquele onde a proximidade Ia piece of music or a dance. It does not more fleeting place of perception. A place Não pertence ao domínio das palavras, tem e a depuração convocam um novo olhar. belong to the realm of words, you have to go where proximity and simplicity lead to que se lá ir. Um pequeno/grande mundo there. A small, or a huge, world composed a new way of looking. In the projects we de encontros, intimidade, programações Nos projectos que fizemos e nos que ainda of encounters, intimacy and surprising have completed, and in those we have yet surpreendentes que fazem as grandes obras faremos, há um espaço de liberdade que vive programming that fits great works into to complete, there is a space of freedom caber em sítios pequenos, que fazem da apenas das ideias que se cruzam e aceita essa small spaces, that makes the gallery a place that lives only in the ideas that come galeria um sítio do mundo, do imaterial e, fragilidade e escala, algo de uma enorme of the world, of the immaterial and, most together and that accepts this fragility and importantíssimo, dos afectos. Na Appleton importância numa sociedade viciada no importantly, of the affects. At Appleton scale, something of huge importance in Square somos remetidos para a escala espectáculo e no épico. Deslocar o corpo, Square we are transported to a human a society addicted to spectacle and to the humana e para a descoberta do detalhe. do palco para a intimidade da galeria é, em scale and sent in discovery of detail. I am epic. To move the body, from the stage Estou certo que é esse entendimento si mesmo, uma declaração de amor, algo de certain that it is this understanding of to the intimacy of the gallery is, in itself, do sensível que seduz os criadores mais quase privado, um acto de resistência. perception that seduces the most noted a declaration of love, something almost reconhecidos que por lá têm exposto. artists who have exhibited there. private in nature, an act of resistance. Vezes houve em que ouvir o José Gil, o Rui Por isso, os ciclos que programei naquele Catalão ou o Gonçalo M. Tavares, divagar The various cycles I programmed in the There were times in which hearing José espaço dialogavam com essa premissa, sobre essas construções improváveis, space thus entered into dialogue with that Gil, Rui Catalão or Gonçalo M. Tavares foram sempre insólitos, frágeis e de uma remetia-nos para esse mesmo esplendor premise. They were always unusual, fragile muse on these impossible constructions proximidade desconcertante com o do sensível, uma espécie de amplificação and in disconcerting proximity to the reminded us of that same splendour espectador. Peças desconhecidas de autores da percepção operando naqueles detalhes viewer. Unknown pieces by known artists, of perception, a kind of amplification conhecidos, peças de autores novíssimos, que nos tinham escapado. Nessas viagens pieces by emerging artists, fragile pieces, of the senses enacted through those peças frágeis, peças quase impossíveis, deliciosas, paradas no tempo da conversa, almost impossible pieces, filigrees that details that had escaped us. On those filigranas que se dissolviam na experiência descobriam-se novas camadas da obra e dissolved in the very experience of the event delicious journeys, suspended in periods mesma do evento que lhes revelava as suas associações surpreendentes. A experiência that revealed their most secret qualities. of conversation, new layers and surprising qualidades mais secretas. Foi lindo. Foi amplificava-se e não queríamos partir. It was beautiful. It was utopian. And thus it associations were discovered. utópico. E por isso vive apenas na memória, No final, a tertúlia e um copo de vinho, eram lives only in the memory, as live art should The experience grew and we didn’t want to tal como deve viver a live art, que sobrevive a última paragem antes da rua, a última live, surviving in the interstices of thought, leave. At the end, the gathering and a glass nos interstícios do pensamento, e por isso homenagem que o espaço fazia aos autores and thus untameable. of wine were the last stop before the street, é indomável. e público que acolhia. Quando, finalmente, the last tribute offered by the space to the a porta se fechava, a Vera recolhia os copos To have Tânia Carvalho, André Teodósio, artists and the public that it hosted. When, Ter a Tânia Carvalho, o André Teodósio, e eu os cabos. Todos ajudávamos. As equipas Teresa Silva, Vitor Roriz or Sofia Dias finally, the door closed, Vera collected the a Teresa Silva, o Vitor Roriz ou a Sofia Dias, a eram, elas mesmas, reduzidas e dedicadas, centimetres away from us, to feel their glasses and I gathered up the cables. We all centímetros de nós, sentir o seu respirar e pois esse é o sentido das coisas e das causas. breath and see the drops of sweat that helped. The teams were, themselves, small ver a gota de suor que lhes escorre do corpo, é Afinal, o que andamos aqui a fazer?… trickle down their bodies, is a tribute to and dedicated, since this is the meaning of um tributo ao efémero. E se estar na galeria the ephemeral. And if being in the gallery things and of causes. After all, what else are é estar no lugar de encontro com a obra, então O autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico is being in the place of encounter with the we doing here?...
X+ I Rui Horta 24/25 Belén Uriel
Sem Título / Untitled, 2017
Monotipia, sob papel 300 g somerset white Monoprint, on 300 g somerset white paper
Dim. papel / Paper dim.: 20x25,5 cm Dim. imagem / Image dim.: 20x25,5 cm
Ed: 10 gravuras únicas / unique prints + 3 P.A. únicas / unique A.P. Persistência e invenção Persistence and invention Appleton Square Appleton Square Nuno Crespo Nuno Crespo
difícil escrever sobre o projecto t is hard to write about Appleton Square Appleton Square – sobre a sua – about its determination, perseverance Édeterminação, perseverança Iand inventiveness – without talking e inventividade – sem falar da singularidade about the singularity of the projects that, dos projectos que a partir do seu interior from within it, emerged into the city. chegaram à cidade. Esta indissociabilidade This indivisibility of its spatial nature, the entre a sua caracterização espacial, as suas direction of its programming, and the works linhas programáticas e as obras a que deu it generated – so different in type, scale, origem – tão diferentes em tipo, escala, intensity, format and support – is its most intensidade, formato e suporte – é a sua relevant characteristic. mais pertinente característica. What I mean by this is that in this square, Quero com isto dizer que neste square it is always the gestures of the artists, the são sempre os gestos dos artistas, dos architects, the designers, the performers, arquitectos, dos designers, dos performers, the musicians, that persist and take shape dos músicos, que persistem e se as significant exhibitions that, every materializam em importantes exposições time, transform and reinvent the space. que, de cada vez, transformam o espaço e o And this process of permanent movement re-inventam. E este processo de permanente and metamorphosis is its body. movimento e metamorfose é o seu corpo. The way that works persist, despite A maneira como apesar de todas as every invention demanded by new invenções, exigidas de cada vez por novas understandings of what an exhibition formas de compreensão do que é uma and an artistic experience should be, exposição e uma experiência artística, turned into a highly relevant programme as obras persistem, transformou-se num conveyed through a dual movement of muito pertinente programa que se traduz transformation and invention. And it is num duplo movimento de transformação e this relationship between persistence and invenção. E é esta relação entre persistência invention that is, to my mind, the challenge e invenção que, de onde escrevo, constitui o that confronts, stimulates and develops each desafio que enfrenta, estimula e desenvolve new exhibition. a cada nova exposição.
O autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico
X+ I Nuno Crespo 28/29 Ana Yokochi
Sem Título / Untitled, 2018
Verniz duro, sob papel 300 g somerset soft white Hard ground, on 300 g somerset soft white paper
Dim. papel / Paper dim. : 20x25,5 cm Dim. imagem / Image dim.: 15x24,7 cm
Ed: 10 + 3 P.A. / A.P. O outro lado do espelho “A Appleton Square é, João Appleton simultaneamente, um espaço polifuncional, multiusos, com vocação para acolher as mais face mais visível da Appleton artistas, a um nível muito elevado; por outro Square é, sem dúvida, a que a liga lado, a Appleton Square nasceu com a crise diversas actividades, com A à promoção e divulgação financeira que, em 2007, parecia ser apenas destaque para as áreas – menos à comercialização – da arte a dos outros mas que, logo, logo, caiu em contemporânea, mas a sua essência está cheio sobre toda a economia nacional e com ligadas à formação e às longe de ser representada por essa faceta enorme brutalidade sobre as actividades artes performativas” mais conhecida. culturais, “marginais” e “supérfluas”.
A Appleton Square é, simultaneamente, Apesar disso, não pode deixar de assinalar- permitido separar o trigo do joio. E, falando um espaço polifuncional, multiusos, com se o enorme sucesso que tiveram, sempre, claro, se a Appleton Square nunca cedeu vocação para acolher as mais diversas a série de cursos anuais sobre Lisboa, bem a facilidades, há muitos que nem sabem o que actividades, com destaque para as áreas como os cursos sobre reabilitação urbana isso quer dizer. Ou seja, vende-se muito gato ligadas à formação e às artes performativas, ou sobre música. pois a lebre é espécie em vias de extinção. como a música, o teatro ou a dança. Mas, acima de tudo, é um projecto, uma ideia, Note-se que, também na organização dos Apesar de alguns “fracassos”, a Appleton que se foi concretizando objectivamente cursos, a Appleton Square se revelou muito Square apresenta, ao longo destes 10 anos, ao longo de dez anos num percurso único eclética: cursos como os de reabilitação, de um curriculum invejável no que diz respeito no panorama cultural nacional. revestimentos decorativos ou de arquitectura a actividades não expositivas realizadas, tradicional tinham um claro cariz de mobilizando dezenas de “actores”, sempre de Desde o seu início, em 2007, a actividade formação profissional, outros, como os de primeiro nível no panorama nacional e na expositiva conviveu, pacificamente ou Lisboa ou de música, são cursos de espectro respectiva área de acção, e muitas centenas com mais conflitualidade, com a restante largo, de informação, para todas as idades e de participantes que demonstraram programação definida para os espaços, graus de instrução, quase de entretenimento. activamente a forma como apreciaram decorrendo essas actividades em paralelo, a qualidade do que lhes era apresentado. sala abaixo e sala acima, ou entrecruzando- O mesmo ecletismo esteve presente em se, implicando exercícios quase mágicos de outras acções que decorreram nos espaços Entretanto, o balanço final é muito positivo montagens e desmontagens “a la minute”, da Appleton Square: espectáculos, conversas e, apesar de no início de 2015 se ter perdido ou encaixando as coisas umas nas outras ou conferências, mais didáticas ou mais o coração da organização e dinamização dos permitindo, por exemplo, dar um curso lúdicas, mais simples ou mais complexas, cursos, é tempo de reprogramar actividades dentro de uma exposição e até mudar de com uma preocupação comum: a sua e de prosseguir um caminho que é um exposição dentro de um curso. abertura ao público, a qualquer público, sem destino: manter a Appleton Square como descriminações nem elitismos. um projecto cultural distintivo e como A opção por este caminho híbrido não se um espaço diferente, onde se conciliam revelou nunca de aplicação fácil: por um lado, Outras acções e cursos, muito promissores, actividades que não costumam coexistir a Appleton Square colocou sempre a fasquia ficaram pelo caminho. Porque a crise geral senão em espaços de grandes dimensões. da qualidade que exigia para as suas acções, não os poupou e talvez também porque no que se refere a formadores, oradores, o excesso de oferta nem sempre tenha O autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico
X+ I João Appleton / PT. 32/33 The other side of the looking glass João Appleton “Other very promising activities and courses fell by the wayside because ithout a doubt, the most visible during the financial crisis, which although side of Appleton Square is that in 2007 seemed as though it were someone the general crisis did not Wconnected to the promotion and else’s problem, was soon felt in full force spare them and perhaps presentation – and to a lesser extent the by the national economy and had a brutal commercialisation – of contemporary art, effect on – “marginal” and “superfluous” – also because the surplus but this more familiar aspect of the space cultural activities. of supply has not always barely scratches the surface of its essence. In spite of this, it is impossible not to notice made it easy to separate Appleton Square is simultaneously the enormous success always enjoyed by the a multifunctional and multi-use space series of annual courses on Lisbon as well as the wheat from the chaff” geared towards accommodating very the courses on urban restoration and music. diverse activities, in particular in areas related to training and performance arts It is also noticeable that Appleton Square made any concessions, there are many that such as music, theatre and dance. Above has proved to be very eclectic in its offer: don’t understand the significance of this. all, however, it is a project, an idea, that via courses such as urban regeneration, In other words: excellence is hard to come a unique trajectory over the last ten years architectural cladding and traditional by in a saturated market. has objectively emerged on the national architecture are clearly focussed on cultural landscape. professional training. Others, such as those In spite of some “failures”, for 10 years on Lisbon or music are broad spectrum, Appleton Square has presented an enviable Since its beginnings in 2007, exhibitions informative, even entertaining courses for curriculum of non-exhibiting activities, have been held, more peacefully or not, all ages and levels of study. mobilising dozens of first class “players” on alongside the rest of the schedule defined a national level, experts in their respective for the space. These activities ran in parallel, This very eclecticism is apparent in other fields, and many hundreds of participants up and down the stairs, intersecting, events that have taken place in Appleton that actively demonstrated how much they requiring “a la minute” near impossible feats Square: shows, talks and conferences appreciated the quality of the presentations. of installation and dismantling exhibitions ranging from the more didactic to the and the organisation of things around one more insightful, the simpler to the more Overall, the final balance is very positive another; allowing, for example, for a course complex, with one common concern: their and in spite of the loss of the heart of to be held inside an exhibition or even for accessibility to the public, the whole public, the organisation and impetus of courses exhibitions to be changed during a course. without discrimination or elitism. at the beginning of 2015; it is time to reprogramme activities and continue on Opting for this hybrid path was never an Other very promising activities and courses the path towards a goal that is our destiny: easy task: on the one hand, Appleton Square fell by the wayside because the general crisis keeping Appleton Square as a distinctive has always set the bar very high in terms did not spare them and perhaps also because cultural project and a unique space where of the quality of its activities in relation to the surplus of supply has not always made activities that do not usually coexist, teachers, speakers and artists. On the other it easy to separate the wheat from the chaff. except in very large spaces, can take place hand, Appleton Square came into being To be clear, if Appleton Square has never alongside each other.
X+ I João Appleton / ENG. 34/35 Joana Villaverde
Para mar / To sea, 2017
Verniz mole, Spite bite aguatinta, ponta seca, sob papel 300 g somerset antique Soft ground, Spite bite aquatint, dry point, on 300 g somerset antique paper
Dim. papel / Paper dim.: 20x25,5cm Dim. imagem / Image dim.: 16x21cm
Ed: 10 + 3 P.A. / A.P. Appleton Recess Daí que tenhamos optado por integrar obras capítulos e que funcionaria como uma de outras idades no seio de cada exposição. plataforma de apresentação de conteúdos paralelos à exposição, mas concebidos agora Jogo, encontro, intervalo AA: Exactamente. À definição dos critérios especificamente para o formato livro. Ana Anacleto e Bruno Marchand que balizariam este ciclo de exposições era intrínseca a possibilidade de cruzamento BM: Apesar do projecto ter tido apenas três geracional, metodológico e disciplinar. edições, a experiência da sua realização Interessava-nos trabalhar a partir de três pôs a nu algumas situações que inspiram premissas. Num primeiro momento, reflexão. Por exemplo: o Recess, de resto partiríamos, em cada uma das exposições, como a maioria dos projectos de base Bruno Marchand: Porque, na altura em que nos motivava e, nessa medida, interessou- da escolha de uma obra pertencente a uma curatorial que ainda vão existindo no país, surgiu o convite, as palavras mais ouvidas nos fortemente a possibilidade desse colecção e sobre a qual, como referiste, teve sempre muito mais apoio por parte nas bocas dos portugueses eram crise momento suspendido (esse intervalo) servir não houvera até à data um olhar ou uma de privados – começando, obviamente, e recessão. A onda de choque que tinha sido sobretudo para criar situações que nos reflexão mais profunda muito pelo facto de pela Appleton Square – do que por parte criada pelo Subprime e pelas subsequentes pareciam possíveis mas, simultaneamente, estar arredada dos contextos exibicionais dos organismos públicos (ou congéneres) falências estava a chegar a Portugal e tudo irrepetíveis fora do contexto específico que há já algum tempo. A partir deste dado contactados para o efeito. As instituições parecia girar em torno das consequências estávamos ali a criar. partíamos então para a possibilidade de portuguesas não só não demonstram dessa generalizada derrocada financeira. articulação dessa obra com um conjunto qualquer interesse por integrar nas suas Ao mesmo tempo a ideia de recess, tão BM: O facto de o Appleton Recess ser um de outras obras da autoria de um artista de programações propostas de iniciativa civil etimologicamente próxima de recession, ciclo de exposições e não um evento único, uma geração anterior e que pudessem (julgo que talvez a única exepção tenha sido apontava para a desaceleração expectável permitia-nos, à partida, jogar com essa ideia estabelecer com esta um interessante o final do projecto Slowmotion que Jorge no enquadramento económico-social que de continuidade e aplicá-la a algo que era diálogo. O terceiro dado na equação era Molder acolheu na Gulbenkian), como se se estava a instalar, mas também para pouco ou nada explorado em Portugal: introduzido pela selecção de um artista mais comportam, frequentemente, como agentes uma ideia de intervalo, de suspensão dos trabalhar com obras que estão integradas jovem a quem era comissionada uma obra de bloqueio. Num panorama onde era trabalhos habituais para um período de em colecções, públicas ou privadas, dando concebida especificamente para o contexto particularmente difícil ter acesso jogo, de ócio, no fundo, de prazer. especial relevância àquelas que estavam há da exposição em causa. a núcleos consideráveis da produção muito arredadas dos circuitos expositivos. artística nacional – o que significa, Ana Anacleto: E foi exactamente a partir Mais do que o já clássico período logo Nem sempre foram seguidas as premissas para além do mais, que o que não é visto dessa ideia de suspensão temporal (de um a seguir ao 25 de Abril – cuja historiografia na sua definição original, tendo-se optado também não é, normalmente, estudado – intervalo) que surgiu este projecto. era ainda muito deficitária, mas muito por garantir uma estrutura um pouco mais as instituições e o Estado optam por bloquear apetecível – interessava, também, rever flexível que permitisse trazer surpresas e ao invés de facilitar, estimular, apoiar. Enquadrado na programação da Appleton alguma da produção das décadas de 1980 articulações inesperadas decorrentes do Square mas simultaneamente no e 1990 e para a qual raramente houve um contacto e encontro dos vários artistas AA: É um facto que essa reflexão está ainda desvio desta, surgiu a possibilidade de espaço de exposição e de estudo permanente envolvidos. por ter lugar de uma forma verdadeiramente concebermos um ciclo de exposições no nosso país. Claro que a ideia não era consequente. cujo comportamento, dentro da linha fazer exposições de pendor histórico, Um quarto elemento, que em muito programática da Appleton Square, fosse e muito menos didáctico. O princípio de ajudaria a garantir esta flexibilidade Condenados a uma existência breve, mas exactamente o da suspensão. Foram que partíamos era, pelo contrário, o de que e um envolvimento mais directo por parte profundamente comprometidos com definidas as suas coordenadas e apontados estas obras – todas as obras! – são veículos de todos os artistas, prendia-se com o seu objecto de análise, projectos deste os critérios orientadores do ciclo (sobre os para uma experiência que tem lugar “aqui a existência de um objecto extra-exposição tipo acontecem, inevitavelmente, porque quais poderemos falar a seguir). e agora”, o que significa que, dentro de ao qual chamámos “Recess Manual”. a sua relevância e pertinência no nosso uma exposição, cada obra contribui na sua Tratar-se-ia de uma pequena publicação contexto é, felizmente, entendida por um Era o trabalho com obras que admirávamos medida para a construção de um tempo (de produção quase artesanal e tiragem pequeno conjunto de agentes (mais ou e o contacto directo com os artistas o que concomitante: o tempo do seu encontro. muito reduzida), organizada em quatro menos estabelecidos) que decidem arriscar na
X+ I Ana Anacleto e Bruno Marchand / PT. 38/39 produção e no apoio necessário, permitindo- obra do José de Carvalho (artista já falecido) lhes acontecer. Foi, de facto, o caso da pertencente à Colecção de Julião Sarmento, Appleton Square que suportou integralmente articulando-a com um vasto conjunto de o projecto no decorrer das suas três edições. obras da Ana Santos (uma artista na altura com um percurso menos visível) Com um olhar prospectivo em relação ao e com a encomenda de uma obra nova aos contexto da produção nacional na área osso exótico (colectivo constituído por das artes visuais e não só (não esquecer Francisco Tropa, André Maranha, Manuel a presença da poesia, da música ou da Mota, Patrícia Machás e David Maranha). performance), interessou-nos pensar cada Para a segunda edição contámos com uma das exposições do ciclo como um o empréstimo (pela Galeria 111) de uma encontro. E, aqui, foi também fundamental obra de Eduardo Batarda, que testámos “De certo modo, esta o suporte que nos foi proporcionado em diálogo com um conjunto de textos do pelos próprios artistas que muito Miguel-Manso e com uma nova instalação medida, esta triangulação, reconhecidamente aderiram ao projecto comissionada à Ana Yokochi. Na terceira pareceu beneficiar sempre e o acarinharam desde o seu lançamento. edição tomámos, como ponto de partida, um conjunto de obras de Jorge Pinheiro, mais o conjunto como BM: Foi interessante ver como esse limite gentilmente cedidas pela Fundação Ilídio de três presenças artísticas por exposição Pinho, decidimos mostrá-las em articulação todo do que o conjunto pré-estabeleceu um campo de forças com uma instalação da Ângela Ferreira, como soma das partes. peculiar para esse encontro. É uma cedida pela Fundação Leal Rios e lançámos questão de distâncias: já sendo grandes ao Nuno da Luz o desafio de conceber uma Claro que a generosidade o suficiente para não se cingirem a relações obra nova para o contexto, que resultou dos artistas e o seu biunívocas, estes grupos também não na criação de um conjunto de esculturas eram suficientemente numerosos para sonoras que permitiram ainda uma perfeito entendimento do que dentro deles se criassem subgrupos apresentação de carácter performativo. contexto em que estavam a autónomos, comunidades dentro de Dos três momentos ficou a enorme vontade comunidades. De certo modo, esta medida, de lhes dar continuidade, para além da participar foi determinante esta triangulação, pareceu beneficiar convicção profunda de que o trabalho sempre mais o conjunto como todo do que da curadoria assenta, em grande medida, neste efeito” o conjunto como soma das partes. Claro que na descoberta e na criação do melhor a generosidade dos artistas e o seu perfeito contexto possível para que estes entendimento do contexto em que estavam encontros possam ter lugar de uma a participar foi determinante neste efeito. forma verdadeiramente consequente. Naturalmente, isso foi mais perceptível A felicidade inerente à certeza de nas contribuições dos artistas convidados que, nestas circunstâncias, estamos a produzir trabalho especificamente verdadeiramente a colaborar num para cada exposição, mas o modo como processo de criação. os restantes artistas acolheram e se envolveram no processo curatorial acabou por ser também determinante.
AA: Logo na primeira edição (Janeiro 2010) Os autores não escrevem segundo o novo acordo trabalhámos a partir da escolha de uma ortográfico
X+ I Ana Anacleto e Bruno Marchand / PT. 40/41 Appleton Recess was intrinsic to the definition of the criteria course with Appleton Square – than from that would set the boundaries for this the public (or similar institutional) bodies series of exhibitions. We were interested in that were approached for this purpose. Play, encounter, recess working on the basis of three premises. First Portuguese institutions not only showed Ana Anacleto & Bruno Marchand of all, we would start each exhibition by no interest in including civil initiatives choosing a work from a collection which, in their programming (I think that the as you mentioned, hadn’t been looked at only exception might have been the end or examined more closely due to its being of the Slowmotion project that Jorge absent from the exhibition circuit for some Molder hosted at the Gulbenkian) but also Bruno Marchand: At the time of the same time, unrepeatable beyond the specific time. We then moved on to the possibility frequently put up obstacles. In a situation invitation, the words that were on context we were creating there. of linking this work with a group of in which it was particularly difficult everyone’s lips in Portugal were crisis and other works by an artist from an earlier to access significant sections of the art recession. The shock wave that had been BM: The fact that Appleton Recess is generation with which it could establish that has been produced in this country created by the subprime crisis and by the a series of exhibitions and not a unique an interesting dialogue. The third element – meaning that, in addition, what is not subsequent bankruptcies had reached event allowed us, from the start, to play in the equation was introduced through seen is not generally studied either – state Portugal and everything seemed to revolve with this idea of continuity and to apply it the selection of a younger artist who was institutions choose to block instead of around the consequences of this generalised to something that had been barely explored commissioned to produce a work conceived helping, encouraging or supporting. financial collapse. At the same time, the in Portugal: working with pieces that specifically for the exhibition in question. idea of recess, etymologically so close to were part of public or private collections, AA: It’s true that this idea hasn’t yet been set recession, pointed towards the predictable highlighting in particular those that had The premises weren’t always followed in out in a really coherent way. deceleration that was taking hold within long been absent from the exhibition their original form, since we had opted for the economic and social context, but also circuit. More than the already classic period a structure that was a little more flexible, Condemned to a brief existence, yet heavily towards an idea of suspending habitual that immediately followed the 25 April allowing for unexpected surprises and engaged with their object of analysis, work for a period of play, of leisure, of revolution – whose historiography was links that resulted from the contact and projects of this type inevitably happen enjoyment, essentially. still very deficient, yet very enticing – we encounter between the various artists because their relevance and pertinence in were interested in looking again at some of involved. A fourth element, that to a large our context is, fortunately, understood by Ana Anacleto: And that idea of temporal the work produced in the 1980s and 1990s, extent helped to ensure this flexibility and a small group of (more or less established) suspension (of a recess) was exactly what for which there was rarely a permanent a more direct involvement from all artists, actors who decide to take risks in their work inspired this project. exhibition and study space in Portugal. had to do with what we called the ‘Recess and in providing the necessary support, Obviously the idea was not to produce Manual’, an object that existed outside enabling them to happen. This indeed was Framed within Appleton Square’s exhibitions of a historical – or much less the exhibitions. It was a small publication what happened with Appleton Square, programming, while simultaneously a didactic – nature. The principle we started (almost handmade and with a very small which entirely supported the project diverging from it, the possibility arose of out from was, on the contrary, that these print run), organised in four chapters, throughout its three editions. designing a series of exhibitions whose works’ – all works! – were vehicles for which would function as a stage for parallel nature was precisely suspension. We defined an experience that takes place ‘here and content to the exhibition, yet designed here Taking a forward-looking approach to the series’ coordinates and set out its guiding now’, meaning that, within an exhibition, specifically for the book format. Portuguese visual arts, and looking beyond criteria (which we will shortly talk about). each work contributes in its way to the this field (since we chose to include poetry, construction of a concomitant time: the BM: Even though the project only had music and performance), we were interested What motivated us was working with pieces time of their encounter. Which is why we three editions, the experience exposed in seeing each of the exhibitions in the that we admired and having direct contact chose to include works from other periods certain situations that invite reflection. series as an encounter. And here too what with artists and, consequently, we were very at the heart of each exhibition. For example: Recess, like indeed the was really crucial was the support we had interested in the possibility of that suspended majority of curated projects in Portugal from the artists themselves who thankfully moment serving above all to create situations AA: Exactly. The possibility of generational, to this day, always received more support participated in and cherished the project that we thought were possible but, at the methodological and disciplinary encounter from the private sector – starting out of from the start.
X+ I Ana Anacleto & Bruno Marchand / ENG. 42/43 “Obviously the generosity André Maranha, Manuel Mota, Patrícia of the artists and their Machás and David Maranha). For the second edition we were loaned (by Galeria perfect understanding 111) a work by Eduardo Batarda, which we of the context they were tried out in dialogue with a group of texts by Miguel-Manso and a new installation “The fact that Appleton participating in was commissioned from Ana Yokochi. For the third edition we took a group of works by Recess is a series of decisive in this sense” Jorge Pinheiro, kindly loaned by Fundação Ilídio Pinho, as a starting point, and exhibitions and not a decided to show them in association with unique event allowed us, BM: It was interesting to see how limiting an installation by Ângela Ferreira, loaned each exhibition to three artists pre- by Fundação Leal Rios, and we challenged from the start, to play with established a particular gravitational Nuno da Luz to come up with a new work this idea of continuity and field for that encounter. It’s a question of for the context, which resulted in the distances: though these groups were large creation of a group of sound sculptures to apply it to something enough not to be restricted to two-way that also made it possible to present a relationships, they were also not numerous performance. These three experiences that had been barely enough for autonomous subgroups, left us with a great desire to carry on, explored in Portugal: communities within communities, to be and with a profound conviction that the created within them. In a certain way, work of curating is largely based on the working with pieces that this size, this three-way dynamic, always discovery and creation of the best possible were part of public or seemed to benefit the group as a whole context for ensuring that such encounters more than the group as the sum of its parts. can take place in a truly meaningful way. private collections” Obviously the generosity of the artists The happiness that comes with knowing and their perfect understanding of the that, in these circumstances, we are truly context they were participating in was collaborating in a process of creation. decisive in this sense. Naturally this was more evident in the contributions of artists invited to produce work specifically for each exhibition, but the way that other artists welcomed and got involved in the curatorial process also turned out to be important.
AA: In the first edition (January 2010) our starting point was the selection of a work by José de Carvalho (an artist who was no longer living) from the Julião Sarmento collection, linking it to a vast group of works by Ana Santos (an artist whose career was less visible at the time) and to a new work commissioned from osso exótico (a collective consisting of Francisco Tropa,
X+ I Ana Anacleto & Bruno Marchand / ENG. 44/45 Francisco Tropa
Sem Título / Untitled, 2017
Verniz duro, chine collé em papel japonês Atsukuchi 57 g, sob papel 300 g somerset white Hard ground, chine collé on japanese Atsukuchi 57 g paper, on 300 g somerset white paper
Dim. papel / Paper dim.: 20x25,5 cm Dim. imagem / Image dim.: 17x17 cm
Ed: 10 + 3 P.A. / A.P. Vera, a Alma da Appleton Square “Sei que muitas coisas Ana Nobre de Gusmão interessantes aconteceram, acontecem e acontecerão na AS exposições, música, performance, cursos, ndo para aqui à roda, à roda, à roda debates, palestras, you a tentar alivanhar umas palavras sobre a Appleton Square Auma memória, um acontecimento, um momento, uma sensação, um sentimento name it” esforço-me e ando à roda, à roda, à roda como se o facto de a Terra ser redonda só me permitisse ter um pensamento circular sem ângulos rectos nem esquinas para dobrar. A primeira coisa que me ocorre é que, extraordinarimente, na Appleton Square tanto se anda à roda como se dobram esquinas. Não sei como dobrar esquinas num círculo, mas a Vera que, sendo Appleton, de square nada tem sabe.
Para mim, escrever sobre a AS é escrever sobre a Vera e escrever sobre a Vera é bico de obra porque Uma memória - 2009 há a Vera do tempo do Mike A exposição de desenhos (‘Works on paper’) que o Mike lá inaugurou e que esteve na origem aquela miúda simpática, comunicativa, enérgica, assertiva e assim um nadinha irritante que do projecto do “Céu do Mike”. eu mal conhecia, raramente via e com quem praticamente só ‘contactava’ quando o Mike me pedia para lhe corrigir o português dos emails que trocava com ela por causa do projecto de Um acontecimento - 2010 S. Isabel a exibição da grande maquete da igreja de S. Isabel com a aguarela do Mike. e há a Vera pós-Mike aquela miúda simpática, comunicativa, enérgica, assertiva e assim um nadinha irritante que Um momento - 2013 eu mal conhecia, mas que comecei a conhecer no dia em que a simpatia se elevou a empatia. a morte do Mike e o que intui, quando o meu olhar se cruzou com o olhar da Vera.
Sei que muitas coisas interessantes aconteceram, acontecem e acontecerão na AS Uma sensação - 2016 exposições, música, performance, cursos, debates, palestras, you name it. de felicidade com a inauguração do “Céu do Mike”, reproduzido pela Factum Foundation, no Algumas tecto de S. Isabel. poucas, muito poucas (por defeito que é feitio) vi, ouvi, verei, ouvirei. Um sentimento (aliás, dois) - desde 2013 (e para o resto da vida) Assim, e já tonta de tanto andar para aqui à roda, à roda, à roda de cumplicidade e de amizade. reconheço a minha ignorância, deixo-me de rodeios e, via Vera e via Mike, alinhavo umas palavras e fecho círculo sem dobrar a esquina. A autora não escreve segundo o novo acordo ortográfico
X+ I Ana Nobre de Gusmão / PT. 48/49 Vera, the Soul of Appleton Square Ana Nobre de Gusmão
ere I am, mind spinning round and round and round, “Yet, if anything, at trying to cobble together a few words about Appleton Square Ha memory, a moment, an event, an impression, a feeling, Appleton Square there’s trying my best but still spinning around and around and around as much going around as as if compelled to circular thinking by the Earth’s very roundness no right angles or squares to bend. squares being bent” Yet, if anything, at Appleton Square there’s as much going around as squares being bent. I don’t know how to bend squares into a circle but Vera, who’s anything but square, knows.
For me, to write about Appleton Square is to write about Vera and to write about Vera is a tricky affair because there is Vera from the time when Mike was still around A memory - 2009 that friendly, outgoing, energetic, assertive and a tad bit irritating girl I hardly knew, seldom Mike’s show “Works on Paper” which originated the project later nicknamed “Mike’s Sky”. met and with whom I had almost no contact apart from checking Mike’s Portuguese in the emails on Santa Isabel’s project An event - 2010 and then there is Vera after Mike the exhibition of the big scale model of Santa Isabel’s church with Mike’s watercolour. that friendly, outgoing, energetic, assertive and a tad bit irritating girl I hardly knew but got to know as mutual empathy draw us closer together. A moment - 2013 Mike’s sudden death Although I missed, am missing and will miss most of it and what I perceived in an emotionally charged second, when my eyes met Vera’s, right after (mainly due to my not very sociable temperament) the posthumous ceremony in S. Isabel. I’m aware that many interesting things have happened, are happening and will be happening in Appleton Square, An impression - 2016 exhibitions, music sessions, performances, courses, talks, debates, lectures, you name it. the ever lasting impression when “Mike’s Sky”, a facsimile reproduced by the Factum Therefore Foundation, was first unveiled. growing dizzier and dizzier from all this spinning around and after conceding my ignorance of the Square and its bends A feeling (actually two) - 2013 (and for the rest of my life) all I have left to close the circle are a few words reminiscing on things with Mike and Vera. timeless complicity and friendship that is “inner than the bone” in Emily Dickinson’s words.
X+ I Ana Nobre de Gusmão / ENG. 50/51 Alexandre Conefrey
Felling you, 2018
Verniz mole, em duas chapas , sob papel 300 g somerset antique Soft ground, in two plates, on 300 g somerset antique paper
Dim. papel / Paper dim. : 20x25,5 cm Dim. imagem / Image dim.: 14x18 cm
Ed: 10 + 3 P.A. / A.P. A cultura é quem nos acompanha de Nova Iorque ou Berlim, a Londres, Buenos segue a tradição de espaços como o Büro Aires a Moscovo. Talvez a preponderância Berlin, o Museum of Installation (MOI), Nicolas de Oliveira e Nicola Oxley e o impacto desproporcionado destes de Londres, ou o Storefront for Art and espaços resida na sua própria independência Architecture, de Nova Iorque, para relativamente às fontes de poder e de nomear apenas alguns. Este último, um financiamento. O seu comportamento espaço projetual dirigido por uma artista fomenta ideias radicais normalmente experimental e um arquiteto apresenta Assim que um espaço fecha, abre logo outro... O poder de alavancagem oferecido pelas associadas as vanguardas artísticas e ao um conjunto particular de semelhanças talvez porque tenha ficado algo por dizer, instituições dominantes procura estabelecer desejo de experimentação com novas formas com a galeria de Lisboa. Embora muito ou por fazer.1 uma qualidade, uma ideologia ou um de arte e de colaboração. Aqueles com diferentes em termos geométricos, os modelo de negócios – reflexos altamente menos poder são sempre mais numerosos interiores altamente sintonizados de A Appleton Square é um projeto que tem predefinidos e parciais da cultura visual do que aqueles que o exercem, mas podem ambos os espaços são centrais para contribuído de forma inestimável para atual. Apesar de essas instituições ditarem contar com a ajuda uns dos outros. a apresentação dos projetos. Ambos são as artes visuais em Lisboa, em Portugal, o discurso prevalecente da arte e contentores flexíveis com um forte sentido e mais além, continuando a prestar provas dominarem a sua economia, não se Nas décadas de 1960 e 1970, estes espaços da elegância da apresentação. O espaço – se necessário fosse – que a programação encontram sozinhas na definição do relacionavam-se fortemente com as principal da Appleton Square é um cubo curatorial inovadora e o cuidado apoio ecossistema da arte; a ideia de um tal ideias radicais de desmaterialização branco autónomo alojado no interior das artes são os pilares de uma prática sistema implica a existência de um conjunto que caracterizam formas de arte como a de uma elegante instalação industrial, sustentável. de relações mutáveis e complexas entre instalação, a performance e o vídeo. apresentando-se como uma espécie de vazio todas as suas partes constituintes. Existem, O influente artista Allan Kaprow anunciou para ser ocupado pela obra. A cultura vira-se para as instituições como tal como foi defendido por Simon Sheikh, a emergência de um novo tipo de espaço se estas tivessem o dever de preservar os “outros lugares” nos quais um instituir independente, mais apropriado para a nossos valores comuns, hábitos e costumes. significativo se encontra também ativo. exposição de novas formas que fundem No setor público, essas organizações a estética com a experiência quotidiana: “O espaço principal da maiores são descritas como sendo os Em particular, o desenvolvimento de Appleton Square é um cubo museus, os institutos e as escolas de arte, organizações independentes e não- Os ambientes expostos nas galerias tendem enquanto no domínio comercial são lucrativas tem desempenhado um papel quase invariavelmente a ser intocáveis, branco autónomo alojado tipificadas pelas principais galerias de arte crucial na promoção do desenvolvimento contendo peças exibidas de forma estática, em no interior de uma elegante disseminadas pelo mundo. e na disseminação da arte e dos artistas, concordância com a tradição das galerias. [...] ações que adequadamente descrevem a A única direção frutuosa a tomar é no sentido instalação industrial” As instituições não são apenas estruturas contribuição da Appleton Square. daquelas áreas do quotidiano que são menos físicas, mas igualmente lugares – ou palcos abstratas, que têm menos a forma de uma – nos quais se institui, ou seja, nos quais se No passado, essas organizações eram caixa... as formas e os temas já presentes nesses O objetivo desta iniciativa: criar, estabelecer produzem certas relações e propõem certas descritas como “espaços alternativos” [espaços] podem indicar a ideia da obra de arte e apresentar ao público um estado pictórico ideias e ideologias. [...] As instituições são tanto – um termo cunhado pelo seminal autor e gerar não apenas o seu resultado, mas uma palpável nos limites de uma galeria de funcionais como ficcionais.2 Brian O’Doherty para descrever locais de relação de troca entre o artista e o mundo físico.3 pintura. Por outras palavras, a criação de uma exposição que se mantinham afastados atmosfera, de um genuíno ambiente pictórico, da cena artística convencional, dominada O continuado empenho da Appleton logo, invisível.4 1 Nicolas de Oliveira, Nicola Oxley, David Price, pelos museus e pelo mundo das galerias Square para com a arte da instalação A Book of Burning Matches: Collecting Installation Art Documents, Me-Collectors Room Berlin, Mulberry comerciais. Onde quer que a arte emergente – com encomendas de projetos site-specific – Tree Press, p. 91. – frequentemente não reconhecida pelas 4 Yves Klein, “Le Vide Performance”, Paris, instituições oficiais – tenha procurado Sorbonne, 1959, traduzido e republicado in Yves Klein 2 Simon Sheikh, “Instituting the Institution”, 3 Allan Kaprow, Assemblage, Environments and 1928-1962: a Retrospective, Houston Institute, Rice in Kunsthalle Lissabon: Performing the Institution(al), uma abertura, materializaram-se essas Happenings, Nova Iorque, H. N. Abrams, 1966, University, 1982. (N.T.: tradução nossa a partir do KH Lissabon e Atlas Projetos, 2012, p. 90-93. organizações. Surgiam em qualquer sítio, p. 182-183. texto inglês)
X+ I Nicolas de Oliveira e Nicola Oxley / PT. 54/55 A celebrada obra de Yves Klein, Le Vide concebe um espaço ideal, começando pela hospitalidade, permitindo-lhe ser Tal como argumentado pela curadora (1958), a exposição da galeria Iris Clert descrição das suas paredes: sua convidada. Elena Filipovic, esse posicionamento de Paris vazia, parece emblemática da implica “o agenciamento crítico de atmosfera do cubo da Appleton, dado Todas as paredes do lugar eram lisas, verticais A estreita rede de artistas, colaboradores operações e atividades que são levadas que ambos sugerem que se encontram e brancas... nenhuma delas permanecia estranha e visitantes da Appleton Square salienta a cabo por artistas, mas que podem não ser simultaneamente vazios e cheios. O cubo à exposição do trabalho e ao visitante. Claras, a importância da hospitalidade. A curadora entendidas como ‘artísticas’ no sentido branco, como o crítico Brian O’Doherty precisas e impecáveis, óbvias e impassíveis, as e autora Lucy Lippard sugere que uma mais tradicional.”10 o pretendia, não é um espaço real, mas paredes lisas, verticais e brancas permanecem identidade presa a um lugar consente uma um não-espaço definido por uma ideia, a uma certa distância, mantêm a sua distância. experiência mais lenta e de menor escala, Da mesma forma, um espaço dedicado enquanto o vazio de Klein se encontra Não entram em colisão com a expressão do com muito maior ênfase numa troca face à arte é uma entidade viva que enquadra completamente ocupado por uma arte trabalho, não competem com ele, não o alienam.6 a face.8 Esta ênfase na experiência sentida, e sustenta tudo aquilo que entra em que apresenta a particularidade de ser mais do que mediada, é própria do trabalho contacto com ele. A Appleton Square invisível. A obra contida, ou exposição, Em termos prosaicos, o espaço de exposição de espaços independentes que gerem com proporciona exposições, workshops, procura sobrepor-se ao espaço da galeria, pode ser descrito como um medium, especial cuidado a panóplia de relações seminários e residências, e trabalha em mas, independentemente do seu grau de mas necessita de uma atividade que necessárias para sustentar uma atividade grande proximidade com os artistas e os obliteração, este nunca deixa de significar o imponha como tal. Talvez seja preferível frequentemente precária. As celebradas visitantes. Os espaços independentes têm enquanto definição (da arte). considerarmos o espaço como uma espécie exposições de Lippard intituladas Numbers de esforçar-se mais dado que não possuem de prática. Tal prática, escreve o artista eram acompanhadas pelo seu documento a infraestrutura dos espaços públicos e romancista David Price, “é uma forma de “Care and Feeding: Daily”, um manual de e das galerias comerciais. O programa “O cubo branco, como conceber uma narrativa, mas tenta evitar instruções datilografado de duas páginas tem de resistir a um escrutínio apertado, a irrevocabilidade de uma narração fechada. dedicado à continuada manutenção da dado que procura inovar e inventar, o crítico Brian O’Doherty o [...] Espaços que nunca estão terminados ou exposição9. As suas palavras de apoio ecoam em vez de ser moldado pelo discurso pretendia, não é um espaço nunca são definitivos são importantes para através das décadas e continuam a servir de público ou pelas forças do mercado. tudo isto – espaços que são terra arável; confirmação para os curadores e diretores A autonomia resultante implica o custo real, mas um não-espaço espaços plantados, ceifados e arados de dos espaços independentes de hoje. da perpétua busca de financiamento modo a manterem a sua fertilidade. Mesmo e de outros apoios. Para além disso, os definido por uma ideia” durante o seu período de pousio continuam Os espaços artísticos alternativos de Nova líderes da organização têm de se esforçar a trabalhar, preparando-se para mais obras. Iorque mais cruciais de antigamente, incessantemente por inserir – uma e outra O espaço de uma galeria nunca está inerte, como o 112 Greene Street depois White vez – o espaço e as suas preocupações Quando consideramos as exposições está sempre à espera que surjam novas obras Columns , o Franklin Furnace, o Printed numa situação de hospitalidade criativa, realizadas na Appleton Square ao longo que se queiram mostrar.”7 Matter, o New Museum, ou o PS1, foram social e intelectual. “Não é que todos destes últimos dez anos, somos recordados pioneiros naquilo que podemos atualmente pensemos assim da mesma forma, é que de como uma “relação de afeto”5 com as Além disso, um “espaço branco” está chamar de “novas encomendas”. Alguns executamos esta atividade de pensar para próprias obras precede a demonstração sempre subtilmente inacabado, nunca desapareceram, enquanto outros cresceram e uns com os outros”11, escreveu física das afinidades entre conceito, completamente imaculado. O espaço em estatuto e perduraram, mas sem exceção a filósofa Hannah Arendt a propósito da exposição e espaço. Esta relação tripartida pode então convidar a obra a manifestar- foram todos construídos mediante uma correspondência criativa. Arendt tinha parece estar em consonância com as ideias se no seu interior com um pouco mais de estreita integração com os artistas e com as do artista e autor Rémy Zaugg, cujo livro suas preocupações mais alargadas. seminal The Art Museum of My Dreams 10 Elena Filipovic, “When Exhibitions Become Form”, 6 Rémy Zaugg, The Art Museum of My Dreams, in E. Filipovic (ed.), The Artist as Curator: An Anthology, Berlim, Sternberg Press, 2013. 8 Lucy Lippard, The Lure of the Local: Senses of Place in Mousse Publishing/Koening Books, 2017, p. 13. a Multicultural Society, Nova Iorque, New Press, 1991. 7 David Price, “Having Work Happening”, in Nicolas 11 Em inglês, “Culture as the company we keep” Han- 5 Mary Jane Jacob, in The Ways of Folding Space de Oliveira, Nicola Oxley, David Price, A Book of 9 Cornelia Butler et al, From Conceptualism to nah Arendt, citada in Celine Condorelli, Nick Aikens, & Flying: A project by Moon Kyungwon & Jeon Joonho, Burning Matches: Collecting Installation Art Documents, Feminism: Lucy Lippard’s Numbers Show 1969-74, Avery F. Gordon, Johan F. Hartle, Polly Staple, The Londres, Cultureshock Media, 2015, p. 66. op. cit., p. 91. Exhibition Histories, Afterall Books, 2012, p. 29. Company She Keeps, Londres, Bookworks, 2014, p. 15.
X+ I Nicolas de Oliveira e Nicola Oxley / PT. 56/57 uma elevada consciência da importância “Aquilo em que os da cultura partilhada ou comum. melhores espaços No mundo da arte atual, pode considerar-se que os seus argumentos subjazem a uma independentes, como grande quantidade de atividades, que abrangem desde a documenta 14, em a Appleton Square, são Atenas e Kassel, ou a Bienal de Liverpool, particularmente bem cujo programa se focava explicitamente na arte como forma de hospitalidade, sucedidos é na produção até à preponderância de práticas sociais de um ‘valor acrescentado’, e performativas nos principais museus e galerias. Porém, num mundo da arte instituído por uma visão crescentemente profissionalizado, espaços abrangente e gerado sem objetivos lucrativos são duplamente produtivos; apesar das dificuldades que por muitas mãos e experimentam para assegurar o labor artístico e curatorial necessário para muitas mentes. Criam montar programas significativos, usam ‘valor’ para lá do objeto como alternativa a colaboração, a amizade e a comunidade para manter o seu caráter artístico – um valor que é inovador. Aquilo em que os melhores simultaneamente estético espaços independentes, como a Appleton Square, são particularmente bem sucedidos e relacional, espelhado é na produção de um “valor acrescentado”, na expressão ‘A cultura instituído por uma visão abrangente e gerado por muitas mãos e muitas mentes. enquanto quem nos Criam “valor” para lá do objeto artístico – um valor que é simultaneamente estético acompanha’” e relacional, espelhado na expressão “A cultura enquanto quem nos acompanha”12. Este valor não procura crescer como um lucro, é partilhado como um dividendo entre os seus muitos membros através do programa criativo. A recompensa é fazer parte de um lugar, de acordo com o artista Vito Acconci, “um lugar de encontro, um lugar onde uma comunidade se pode constituir.”13
12 Hannah Arendt, ibid, p. 16.
13 Henry M. Sayre, The Object of Performance: The American Avant-Garde since 1970, Chicago e Londres, University of Chicago Press, 1989, p. 6.
X+ I Nicolas de Oliveira e Nicola Oxley / PT. 58/59 Culture is the Company we keep collaborations. Those with less power are Square’s main space is a freestanding white always more numerous than cube housed within an elegant industrial Nicolas de Oliveira & Nicola Oxley those that wield it, but they have one another dwelling; it presents a kind of void to be for support. occupied by the work.
In the 1960s and 70s, these spaces The object of this endeavour: to create, establish, hewed closely to the radical ideas of and present to the public a palpable pictorial state As one space closes, another opens…perhaps an ideology or a business-model – highly dematerialization that characterize artforms in the limits of a picture gallery. In other words because something remains to be said or made.1 scripted and partial reflections of today’s such as Installation art, Performance and the creation of an ambience, a genuine pictorial visual culture. But while such institutions Video. The influential artist Allan Kaprow climate, and, therefore, an invisible one. 4 ppleton Square is a project that has command art’s prevailing discourse and heralded the emergence of a new kind of provided an invaluable contribution dominate its economy they are not alone in independent space, better able to exhibit Yves Klein’s celebrated work Le Vide (1958), Ato the visual arts in Lisbon, Portugal shaping art’s ecosystem; the idea of such a new forms that melded aesthetics with the display of the empty Iris Clert Gallery and beyond, and continues to present system proposes the existence of a mutable everyday experience: in Paris, seems emblematic of the ambiance proof – if it were needed – that innovative and complex set of relations between all of Appleton’s cube since both suggest that curatorial programming and the careful constituent parts. There are, as stated by Gallery exhibited environments almost they are simultaneously empty and full at nurturing of art are the pillars of writer Simon Sheikh, ‘other sites’ where invariably tend to be untouchable, static display once. The white cube, as intended by critic sustainable practice. significant instituting is taking place. pieces in conformity with the gallery tradition.[…] Brian O’Doherty, is not an actual space The only fruitful direction to take is toward those but a non-space defined by an idea, while Culture looks to institutions to enshrine In particular, the development of areas of the everyday which are less abstract, Klein’s void is fully occupied by an art that our shared values, habits and mores. In the independent, not-for-profit organisations less boxlike…the forms and themes already happens to be invisible. The contained work public sector, these major organisations has had a crucial part to play in the present in these [spaces] can indicate the idea of or exhibition seeks to overwrite the gallery are described as museums, institutes and nurturing and dissemination of art and the artwork and generate not only its outcome space, but no matter how much of the latter artschools, while in the commercial realm artists, actions that aptly describe Appleton but a give-and-take between the artist and the is obliterated, it never ceases to signify as they are typified by the main galleries with Square’s contribution. physical world.3 a definition (of art). showrooms across the world. In the past those organisations have been Appleton Square’s overarching When considering the exhibitions over ten Institutions are not just physical described as ‘alternative spaces’ – a term commitment to Installation art years at Appleton Square, one is reminded structures, but also sites – or scenes – coined by seminal writer Brian O’Doherty, to – to commissioned site-specific projects – of how a ‘caring relationship’ 5 with the for instituting, meaning that they produce describe exhibition venues that stood apart follows in the tradition of spaces such as works themselves, precedes the physical certain relations and posit certain ideas from the conventional artscene dominated Büro Berlin, the Museum of Installation demonstration of the affinity between and ideologies. […] Institutions are as much by museums and the commercial gallery (MOI), London, or the Storefront for Art concept, display and space. This tripartite functional as fictional.2 world. Wherever emerging art – often not and Architecture, New York, to name relationship appears to chime with the ideas sanctioned by official institutions – sought but a few. The latter, an experimental of the artist and writer Rémy Zaugg whose The leverage wielded by mainstream an outlet, organisations materialised. artist and architect-run project space has seminal book, The Art Museum of My Dreams, institutions seeks to establish an ethos, They were located anywhere, from New a particular number of similarities to the lays out an ideal space. He begins with York or Berlin, to London, Buenos Aires or Lisbon gallery. Though geometrically a description of the walls: Moscow. Perhaps the preponderance and very different, the highly tuned interiors 1 A Book of Burning Matches: Collecting Installation art disproportionate impact of these spaces of both spaces are central to the staging of Documents, Nicolas de Oliveira, Nicola Oxley, David 4 Yves Klein, Le Vide Performance, Sorbonne, Paris, Price- authors, Me-Collectors Room Berlin, Mulberry relies on their very independence from projects. Both are flexible containers with 1959, translated and reprinted in Yves Klein 1928-61:a Tree Press, p.91. sources of power or funding. Such attitudes a strong sense of elegant display. Appleton Retrospective, Houston Institute, Rice University, 1982. foment radical ideas usually associated 2 Simon Sheikh, Instituting the Institution, in: 5 Mary Jane Jacob, in The Ways of folding Space and Kunsthalle Lissabon:Performing the Institution(al) ), KH with an artistic vanguard and the desire for 3 Allan Kaprow, Assemblage, Environments and flying: Moon Kyungwon & Jeon Joonho, Cultureshock Lissabon and Atlas Projectos, 2012,p.90-93. experimentation with new artforms and Happenings, H.N.Abrams, New York, 1966, p.182/183. Media, London 2015, p.66
X+ I Nicolas de Oliveira & Nicola Oxley / ENG. 60/61 All the walls of the place are flat, vertical and “A space dedicated to art is ’the critical agency of operations and activities with art as a form of hospitality, to the white…none of them remain foreign to the a living entity that frames that are taken up by artists but might not be preponderance of social and performative exposure of the work and the beholder. Clear, seen as “artistic” in the most traditional sense.’10 practices in major museums and galleries. precise and impeccable, obvious and impassive, and sustains everything But in an increasingly professionalized the flat, vertical and white walls remain at a Accordingly, a space dedicated to art is artworld, not-for-profit spaces are doubly distance, they keep their distance. They do not that comes into contact a living entity that frames and sustains productive; though they struggle to afford enter into a collusion with the expression of the with it” everything that comes into contact with the artistic and curatorial labour required work, they do not compete with it, they do not it. Appleton Square provides exhibitions, to mount significant programmes, they alienate it.6 workshops, seminars, residences, and instead use close collaboration, friendship writer Lucy Lippard infers that an identity works closely with artists and visitors. and community to maintain their cutting Exhibition space may be described bound to a place allows for a slower Independent spaces have to work edge. What the best independent spaces – prosaically speaking – as a medium, but – smaller scale experience, with much more harder, since they do not have the larger such as Appleton Square thrive on is it requires an activity to render it thus. emphasis on a face-to-face exchange.8 infrastructure of either public places or a ‘surplus value’ instituted by great vision Perhaps one might then consider space as This emphasis on felt, rather than mediated commercial galleries. The programme and generated by many hands and minds. a kind of practice. Such a practice, writes experience is characteristic of the work of must withstand a great deal of scrutiny It creates ‘value’ outside of the art object artist and novelist David Price, ‘is a means independent spaces that exercise special as it seeks to innovate and invent, rather – a value that both aesthetic and relational of laying out a narrative, but it attempts to care over the panoply of relationships than be shaped by public discourse or as an expression of ‘culture as the company avoid the finality of a definitive telling.[…] required to sustain an often precarious market forces. The resulting autonomy we keep’12. This value does not seek to grow Spaces that are never finished or are never activity. Lippard’s celebrated Numbers shows comes at a cost levied by the perpetual as a profit, but it is shared out as a dividend definitive are important to all this – spaces were accompanied by her document ‘Care search for funding and other support for to its many members through the creative that are working land; planted, harvested and Feeding: Daily’, a two-page, typewritten the gallery. Beyond this, those at the heart programme. The reward is to be part of and turned over to maintain their fertility. instruction manual for the ongoing upkeep of the organisation must strive ceaselessly a space, according to artist Vito Acconci, Even at the moment of their lying fallow of the show9. Her supportive words echo to insert – time and again – the space and ‘a meeting place, a place where community they remain working, doing the work of through the decades and continue to serve its concerns into a situation of creative, could be formed.’13 preparing themselves for more work. as a confirmation to curators and directors social, and intellectual hospitality. ‘It’s A gallery space is never inert; it is always of independent spaces today. not that we think so much alike, but we waiting for new work to show itself.’7 do this thinking-business for and with Those seminal alternative New York art spaces each other’11, wrote the philosopher What the best independent Furthermore, a ‘white space’ is always subtly of the period such as 112 Greene Street – later Hannah Arendt on the subject of creative unfinished or not-quite whitened. The space White Columns – Franklin Furnace, Printed correspondence. Arendt was highly spaces such as Appleton might then invite work to speak within it Matter, the New Museum, or PS1 pioneered prescient on the importance of shared or Square thrive on is a a little more hospitably, allowing work to what we might call ‘new commissions’ today. common culture. In today’s artworld her be its guest. Some vanished while others grew in stature arguments can be said to underpin a great ’surplus value’ instituted by and endured, but without exception were all deal of activity, ranging from Documenta great vision and generated Hence, Appleton Square’s close network of constructed on close integration with artists 14 in Athens and Kassel, or the Liverpool artists, collaborators and viewers highlights and their wider concerns. As argued by curator Biennale which were explicitly concerned by many hands and minds the importance of hospitality. Curator and Elena Filipovic such a stance acknowledges
10 Elena Filipovic, When Exhibitions Become Form, 6 Rémy Zaugg, The Art Museum of My Dreams, 8 Lucy Lippard, The Lure of the Local: Senses of Place in The Artist as Curator:An Anthology, E.Filipovic ed., Sternberg Press, Berlin, 2013. in a Multicultural Society, New Press, New York, 1991, Mousse Publishing/Koening Books, 2017, p. 13. op.cit. 12 Hannah Arend, ibid, p.16. 7 David Price, Having Work Happening, in A Book of 11 Hannah Arendt, quoted in Celine Condorelli, Burning Matches: Collecting Installation art Documents, 9 Cornelia Butler et al, From Conceptualism to Nick Aikens, Avery F.Gordon, Johan F. Hartle, Polly 13 Henry M.Sayre, The Object of Performance: The Nicolas de Oliveira, Nicola Oxley, David Price - authors, Feminism: Lucy Lippard’s Numbers Show 1969 – 74, Staple, The Company she Keeps, Bookworks, London, American Avantgarde since 1970, University of Chicago Me-Collectors Room Berlin, Mulberry Tree Press, p.91. Exhibition Histories, Afterall Books. 2012, p.29. 2014, p.15. Press, Chicago and London, 1989, p.6.
X+ I Nicolas de Oliveira & Nicola Oxley / ENG. 62/63 Edgar Pires
Sem Título / Untitled, 2018
Verniz duro, ponta seca, sob papel 300 g somerset white Hard ground, dry point, on 300 g somerset white paper
Dim. papel / Paper dim.: 20x25,5 cm Dim. imagem / Image dim.: 14x20 cm
Ed: 10 + 3 P.A. / A.P. “If you want to go fast go alone. e motivação mas, sobretudo, aprendizagem, “A Appleton Square é um tão importantes para mim nesta lugar particular, e isso aproximação a “qualquer coisa” que procuro If you want to go far go together.” iniciar no mundo da arte. Seria, pois, injusto nota-se. Nota-se pela não falar na Leonor, o braço direito e o braço elevada qualidade das suas 10 anos de Appleton Square* esquerdo da Vera. A incansável, hiperactiva David Silva Revés e sempre pronta Leonor, que se multiplica exposições, feitas de uma em tantas, tantas outras. vontade entusiasta e de A minha experiência não seria aqui trazida um descomprometimento a não ser pelo facto de revelar uma forma de estar que transversalmente encontro em relação aos padrões ste é um ano especial para a Appleton performances, projectos alternativos na Appleton Square e que, certamente, estabelecidos” Square: completa uma década de – feitas de uma inquietude enérgica fará com que estes últimos dez anos se Eexistência. Dez anos de constante e desafiante que traz uma dinâmica viva redobrem noutros dez (e outros tantos, actividade e permanente consolidação a toda a estrutura. E nota-se, principalmente, espero). Porque falo agora do futuro, será junção lógica de vontades. São instituições de uma identidade formuladora da sua pela atitude apaixonada, contagiante e sobre o futuro da Appleton Square que quase irmãs, similares na sua dinâmica presença no mundo da arte portuguesa. profundamente comprometida de Vera avanço neste texto e sobre a forma como organizativa e na forma de actuação Às devidas comemorações deve juntar-se Appleton, a sua fundadora, que todos os dias ela própria avança sob novas formas de se e predisposição à criação de projectos um olhar avaliativo da forma como uma procura transcender os constrangimentos reinventar. Ou melhor, de se redifinir inovadores, libertos dos constrangimentos instituição (chamemos-lhe assim) que do meio artístico, abrir novas possibilidades e prolongar em novas intenções. impostos pelo mercado da arte ou pelas foge às tradicionais regras do mercado e desenhar novos caminhos que levam formalidades e entraves burocráticos que expositivo se consegue aguentar (e a palavra a Appleton Square a afirmar-se O timing não poderia ser mais perfeito (é a uma instituição tradicional necessariamente é mesmo esta – aguentar) numa conjuntura continuamente como um dos mais Vera que o diz): 2017 é também o ano em que enfrenta. Vivem num espaço de liberdade que parece impor maiores dificuldades ou estimulantes locais expositivos de Lisboa a Appleton Square dá início à sua parceria e imaginação que espelham de forma natural barreiras operativas do que facilidades e do país. Um verdadeiro lugar da arte com a galega DIDAC - DARDO Instituto nas relações que estabelecem. na programação e orientação de um – para a arte – criado sob uma visão humanista do Deseño e das Artes Contemporáneas. espaço cultural. Não sendo uma galeria, de cultura, desvinculada de formalidades Recentemente inaugurado, este organismo Numa época em que a sobrevivência de a Appleton Square foge a uma categorização acessórias e preocupada na criação de de carácter fundacional, apesar de fixar a sua locais dedicados à cultura e pensamento ontologicamente fechada, inserindo-se num terrenos comuns, sinergias desencadeadoras sede em Santiago de Compostela e tomá-la crítico parece depender da persistência território dito “alternativo” e trabalhando de novas potencialidades. É aí que está a sua como palco-primeiro para os seus projectos daqueles que a eles se dedicam diariamente num plano interdisciplinar e multiforme força e diferença – um estar com as coisas, um expositivos, perspectiva-se como uma pela força de um fazer contínuo e resistente, que a transforma num palco para a criação estar nas coisas – em todos os projectos que instituição satélite, não se circunscrevendo ver surgir novos dispositivos para a sua contemporânea nas suas variadas vertentes acolhe e encara com um entusiasmo quase a um espaço físico específico, capaz de apresentação e exploração reforça a crença e formas de actuação. infantil, próprio das primeiras e mais valiosas orbitar em redor de outras instituições e na sua continuidade e resiliência com a descobertas. Isso é motivador e constrói definir parcerias estratégicas com o objectivo perfeita e lúcida consciência de que, tal A Appleton Square é um lugar particular, afinidades. Uma disponibilidade que se sente. de dar visibilidade à arte contemporânea – como a Appleton Square já o afirma à e isso nota-se. Nota-se pela elevada qualidade Uma disponibilidade na qual se trabalha. uma rede de actuação pela união de esforços entrada do seu espaço: “If you want to go fast das suas exposições, feitas de uma vontade conjuntos. Conhecendo David Barro, um dos go alone. If you want to go far go together.” * entusiasta e de um descomprometimento Não acompanhei este projecto do início. seus directores, rapidamente encontramos em relação aos padrões estabelecidos A minha relação com ele é mais recente uma vontade e empenho, formados de – uma liberdade que passa para os artistas. – sensivelmente de há dois anos para cá – um gosto profundo e desinteressado pelo * Texto publicado na Revista Contemporânea, edição Nota-se pelas actividades que desenvolve e parte, principalmente, das relações de artístico, os mesmos que encontramos na de maio/junho 2017. paralelamente – cursos, conversas, concertos, amizade que ali encontro. Do carinho, atenção Vera Appleton, fazendo desta parceria uma O autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico
X+ I David Silva Revés / PT. 66/67 “If you want to go fast go alone. learning which has been so important to procedures, as well as in their predisposition me in this process of moving towards that to creating innovative projects free from the ‘something’ which I seek to initiate in the constraints imposed by the art market or by If you want to go far go together.” art world. It would also be an injustice to fail the formalities and bureaucratic obstacles to mention Leonor, Vera’s right-hand and which a traditional institution inevitably 10 years of Appleton Square* left-hand woman. The untiring, hyperactive faces. They exist in a space of freedom and and always available Leonor, who performs imagination which is reflected naturally in David Silva Revés numerous, multiple functions. the relationships which they establish.
I would not be recounting my experience here At a time in which the survival of venues if it were not to reveal a way of being which dedicated to culture and critical thinking I have encountered transversally at Appleton appears to depend on the persistence of his is a special year for Appleton alternative projects – created with a vibrant, Square and which will certainly ensure that those who commit their time daily through Square, as it celebrates a decade of defiant restlessness which brings a lively these last ten years become another ten (and continual, resilient doing, to see new schemes Texistence. Ten years of constant dynamic to the structure as a whole. And many more, I hope). Because I would like to for exhibiting and exploring these areas activity and ongoing consolidation of an it is evident most of all in the passionate, talk now about the future: in this text, I will strengthens faith in their sustainability and identity which has shaped its presence in contagious and deeply committed attitude discuss the future of Appleton Square and its resilience with the perfect, lucid awareness the Portuguese art world. The deserved of Vera Appleton, its founder, who seeks to progress towards new ways of reinventing that, as inscribed in the entrance to Appleton commemorations should be accompanied transcend the constraints of the art world itself. Or rather, of redefining itself and Square: “If you want to go fast go alone. If you by an evaluation of the way in which an each day, and to open up new possibilities moving forward with new intentions. want to go far go together.” * institution (let’s assign it this label for and sketch out new paths which prompt now) which circumvents the traditional Appleton Square to assert itself continuously The timing could not be more perfect (Vera rules of the exhibition sector has been able as one of the most stimulating exhibition herself says so): 2017 saw the birth of the to endure (and endure is definitely the venues in Lisbon and in Portugal. A true partnership between Appleton Square and the “Appleton Square is right word) in a context which appears to place of art – for art – created on the basis Galician DIDAC - DARDO Instituto do Deseño not a gallery, and it impose difficulties or operational barriers of a humanist vision of culture, divested of e das Artes Contemporáneas. Despite locating rather than facilitate the programming unwanted formalities and concerned with its headquarters in Santiago de Compostela, eludes an ontologically and direction of a cultural space. Appleton the creation of common ground, of synergies which will be the main site for its exhibition Square is not a gallery, and it eludes an which give rise to new potential. Herein lies projects, this recently inaugurated foundation fixed categorisation, ontologically fixed categorisation, operating its strength and uniqueness – being with is designed as a satellite institution which operating instead on a instead on a so-called ‘alternative’ terrain things, being in things – in all the projects is not limited to a specific physical space and working to an interdisciplinary, which it hosts and undertakes with an but which is able instead to orbit around so-called ‘alternative’ multifaceted agenda which transforms it almost childlike enthusiasm befitting of the other institutions and to establish strategic terrain and working into a stage for contemporary creation in its earliest and most valuable discoveries. This partnerships with the aim of enhancing the various strands and areas of activity. motivates and builds affinities. An openness visibility of contemporary art – a network for to an interdisciplinary, which one can sense. An openness which creating projects through joint efforts. Upon multifaceted agenda which Appleton Square is a unique place, and this shapes the working environment. meeting David Barro, one of the directors of is clearly evident. It is evident in the high the institute, we quickly observe the same transforms it into a stage quality of its exhibitions, produced with I haven’t followed this project from the determination and commitment born of enthusiastic determination and disengaging beginning. My relationship with it is more the same deeply rooted, selfless love of art for contemporary creation” with established patterns – a freedom which recent – dating to around two years ago – as we see in Vera Appleton, making this also permeates the artists. It is evident in the and is primarily based on the friendships partnership a logical joining of wills. The two activities which are organised in parallel I have made there. On the affection, institutions are almost sisters, similar in their * Text published in Revista Contemporânea, May/ – courses, talks, concerts, performances, attention and motivation, but above all, the organisational dynamics and operational June 2017
X+ I David Silva Revés / ENG. 68/69 Ângela Ferreira
Sem Título / Untitled, 2018
Verniz duro, sob papel 300 g somerset soft white Hard ground, on 300 g somerset soft white paper
Dim. papel / Paper dim. : 20x25,5 cm Dim. imagem / Image dim.: 14x20 cm
Ed: 10 + 3 P.A. / A.P. Ângela Ferreira · Talk Tower for Ingrid Jonker · Com / With Paul Grendon · 06–07/2017 Augusto Alves da Silva · Cielo y Luz · 01–02/2017 Adelina Lopes · 254 Objectos · 02–03/2010 Tryouts · Rui Catalão · Auto-retrato Assistido de Constatin Brancushi · Curador / Curator Rui Horta · 10/2011 Aires Mateus · Voids · Curador / Curator Nuno Crespo · 07–09/2011 Em colaboração com / In collaboration with O Espaço do Tempo
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invenção de um espaço (público) A propósito da comemoração do décimo – pelo menos, de um pertinente – aniversário da Appleton Square, escrevi A assenta numa formalização e em Abril de 2017: “A Appleton Square ritualização que o refere, identifica, que não é (só) uma galeria de arte. A primeira o reproduz e o reinventa enquanto lugar frase que se pode ler na descrição deste específico. Esta especificidade tem de espaço, que celebra 10 anos de existência, conter, simultaneamente, uma identidade é a fórmula mais sintética para tentar singular, mas também irrepetível, que o descrever um lugar que ao longo da última constitua enquanto território (in)comum década acolheu diversos programas que para a comunidade que serve. O aparato apesar de distintos não se desviaram de performático que envolve a invenção de um mesmo eixo programático: produzir o espaços, a sua construção e reconstrução contemporâneo através da criação artística, arquitectónica, as actividades que nele do pensamento crítico e da convivialidade.” acontecem – também as que ficaram por A Appleton Square é, contudo, muito mais acontecer -, os afectos que nele circularam, do que isto e não cabe, com certeza na dependem fundamentalmente daquilo que sempre insuficiente palavra escrita (ou dita). o espaço é e representa para todos aqueles que o frequentam. Em primeiro lugar, a Appleton Square é, na sua forma edificada, um cubo branco A impossibilidade de conter a representação perfeito. Muito já se discorreu, dentro e de um lugar num espartilho narrativo, fora do sistema artístico, sobre a ideologia quando situado num território que e axiologia deste conceito cunhado resulta sempre de uma produção alargada (e criticado) por Brian O’Doherty, em de significados dependente dos seus 1976. A tese avançada pelo autor, discutia espectadores, participantes, obriga a que esse a vontade neutral da arquitectura de lugar seja muitas coisas. A sua significação exibição artística, após o modernismo: é sempre uma prática negociada, nos fluxos o espaço galerístico ou museológico contingentes da sociabilidade e da radicação moderno como sendo quase sempre um contextual. Consequentemente, um lugar cubo (ou um seu sucedâneo de outra significa no campo aberto da interpretação, geometria) de janelas seladas, pintado na voz de uma alteridade múltipla, complexa de branco, limpo, sem nenhum tipo de e muitas vezes contraditória. É neste campo artifício formal, de modo a exorcizar expandido de significação e afectos que qualquer experiência que não a puramente a Appleton Square é aquilo que é. estética. Esta ilusão é herdeira de alguma
Edgar Pires · Restless Until It Becomes Gold · 03–04/2017 120/121 vontade teórica modernista – cuja voz A Appleton Square é o conjunto de pessoas dissertação de mestrado intitulada Appleton de entrevistas a alguns dos artistas que mais sonante é, sem dúvida, a de Clement que a concretizaram, ao longo destes dez Square: site-specific e a dinâmica de um conceito, estabeleceram relações particulares com Greenberg – dogmática na certeza de que anos, enquanto lugar da cultura e do cultural apresentada à Universidade Católica o espaço físico e simbólico que é a Appleton a arte se deveria centrar sobre si própria, em Lisboa. É um espaço relacional, em que Portuguesa, em 2015. Com uma enorme Square: Susana Mendes Silva, Pedro Cabrita nas suas propriedades formais – cor, linha, cada coisa que nele acontece se ancora nas coragem e proficiência crítica, Appleton Reis, Nuno Sousa Vieira e José Pedro traço, expressão – de forma a garantir relações espaciais e principalmente afectivas retoma o conceito de site-specific, sem Croft. Tal como afirma Iwona Blazwick, uma autonomia estética que impedisse a que se estabelecem entre a equipa, os artistas, temer a sua complexa genealogia (e também no seu ensaio An anatomy of the interview, intrusão do mercado e do tecido político os curadores e o seu público. A flexibilidade anacronia?), a enorme pegada teórica que a entrevista assume-se como um formato nos artefactos artísticos. A Appleton deste lugar, que em tudo contraria a fixidez o conceito e a sua prática acarretam, desde “irresistível”, imprescindível à narrativa Square assumiu na sua constituição do cubo branco, amplia o espectro, já a década de 1960. histórica mas também como testemunha toda esta genealogia ideológica, alargado, de possibilidades que um território de relações de um diálogo construído desconstruindo-a em todos os momentos que se nega a posições categóricas. Os trabalhos site-specific obstinados com a e desenvolvido em proximidade. São estas da sua programação, permitindo não A Appleton Square insinua-se como presença, mesmo quando efémeros e sempre quatro entrevistas que tomam parte deste esgotar em vagas anteriores exercícios de camaleão que se transforma de acordo sujeitos ao desaparecimento ou destruição, volume e serão, sem dúvida, uma das suas crítica institucional ainda tão necessários. com aquilo que se coloca sobre as suas continuam a actuar sobre a mancha artística partes essenciais. É no jogo de pergunta- paredes, chão e tecto. A sua função é uma contemporânea de forma inequívoca. resposta que se discerne a Appleton Square A Appleton Square é o conjunto de disfunção sempre orientada por diálogos Se a historiografia nos diz que de práticas e a sua afectologia, o mapa de afectos que programação que nela decorre, não se e afectos. Não será mera coincidência que, marginais, as intervenções site-specific conjuga e expande. filiando em dinâmicas exclusivistas (tome- desde Abril, estejam inscritos na porta da rapidamente se transformaram em focos se como exemplo o binómio comercial/ Appleton Square o nome de todos aqueles de atenção para museus de arte moderna não comercial ou à diferenciação entre que lá trabalharam. e contemporânea (bem como para outros artes visuais e artes performativas) exibidores), também nos revela que a partir “A Appleton Square é e unidisciplinares no que às expressões daí o conceito é nebuloso. Inicialmente, artísticas respeita, e não se furtando, ao “A flexibilidade deste lugar, o site-specific apresentou-se como experiência um lugar incomum pela mesmo tempo, a um posicionamento ético e estética, oriunda de uma época específica comunidade militante político. A inclusão de práticas distintas e as que em tudo contraria a associada a fortes convicções ideológicas parcerias com outras instituições artísticas fixidez do cubo branco, e acções de crítica institucional, mas pouco que consegue reunir, pela e académicas auxiliam esta dimensão depois o termo metamorfoseou-se e/ou diversidade de propostas inter-disciplinar que vai muito para além amplia o espectro, já encontrou sucedâneos que continuam de um chavão descritivo e se constitui na a problematizar a criação artística que que apresenta, pelo constante renovação estatutária do modo alargado, de possibilidades se processa na relação com um espaço de programar. Se por um lado, a grande que um território que específico, acarretando, ou não, motivações modo como os artistas se maioria da programação deste espaço, nos políticas. Deixando de lado juízos de valor envolvem com este lugar” últimos dez anos, se focou nas exposições se nega a posições sobre as diversas significações que o conceito individuais de artistas portugueses com foi ganhando ou perdendo através do uso, projectos inéditos; por outro, nunca categóricas” o certo é que se existe pertinência na sua deixou de incluir outras formulações, investigação, será com certeza na relação A Appleton Square é um lugar incomum nacionalidades e vontades. Há algo de com a Appleton Square. pela comunidade militante que consegue profundamente radicante na programação A Appleton Square é a Vera Appleton. reunir, pela diversidade de propostas que da Appleton Square, para usar o conceito de A Vera que a pensou, concretizou e fez este Vera Appleton fá-lo fazendo uso de apresenta, pelo modo como os artistas Nicolas Bourriaud que descreve aqueles que espaço ao longo dos últimos dez anos, todos diversas ferramentas críticas e analíticas: se envolvem com este lugar. A Appleton radicalmente não se incomodam em voltar os dias, incansavelmente. A Vera que, na uma cuidada revisão biblio-teórica, um Square é um lugar específico. Prova atrás, que escolhem caminhos mesmo que sua passagem pela Academia, continuou a questionamento crítico de conceitos a irrefutável disso, são estas entrevistas não tenham um sítio onde voltar. reflectir sobre a Appleton Square, com uma montante e a jusante do site-specific e através reunidas por Vera Appleton.
X+ I Ana Cristina Cachola / PT. 122/123 Entrevista Susana Mendes Silva (2014) da memória dos espaços, das pessoas que percepção, o recinto da galeria, são os habitaram ou que passaram por ali e, comuns a todas elas as transgressões / Square Disorder (2008) portanto, o Square Disorder nasce da sala de da lógica, a dissociação dos sentidos e o cima da Appleton Square, da sala principal tédio. A ordem (o público) experimenta de exposições. As características do espaço nessas arenas quanto de desordem determinaram a minha obra, sim… agora, ela suporta. Estes lugares são então Susana, antes de trabalhares a exposição, Na tua opinião, a Appleton Square não é uma questão de ser fácil ou difícil para metáforas de consciência e revolução. qual era a tua ideia acerca do projecto está mais próxima da galeria ou da mim; foi uma questão de decidir trabalhar O espectador é convidado a um recinto Appleton Square? Era claro o seu estatuto instituição? sobre este espaço e, a partir daí, fosse difícil onde o acto de aproximação se volta específico? ou fácil, era ou que era, porque eu queria contra si mesmo». Esta expressão aplica- Acho que nem uma coisa nem outra porque abraçar esse projecto. se ao que se passou com o teu projecto? Sim, eu já conhecia o espaço, tinha vindo uma instituição, a palavra «instituição», cá a várias exposições e se, quando falas tem sempre uma carga muito mais pesada, Brian O’Doherty disse que, «com o pós- Com o meu projecto Square Disorder, essa em estatuto específico, é o facto de não ser muito mais formal. Uma galeria representa, modernismo o recinto da galeria não é mais ideia do recinto «voltar-se contra» não galeria, sim, isso interessava-me bastante, com uma série de obrigações a cumprir, neutro, a parede torna-se uma membrana acontece. Porque, como a obra abarca todo para além de que era o único verdadeiro fazer uma exposição de x em x tempo, ir às através da qual os valores estéticos e o espaço, tu só a vês se entrares nela e, ao white cube em Lisboa. feiras, todas essas obrigações e, portanto, comerciais se permutam por osmose». entrares nela, és tocado por ela. Ou seja, eu acho que a Appleton Square é um tipo O facto de se tratar de um white cube a própria obra perverte e coloca questões Fazia sentido para ti, claro, a questão de espaço diferente, ou seja, mais próximo complica ou facilita o processo criativo? sobre o que é então este espaço chamado física do espaço. E o facto de na Appleton de um projecto como a Kunsthalle Lissabon, white cube e, nesse sentido, é isso que o Square o orçamento de apoio à produção um espaço de exposição, de projecto, que Bem, neste caso específico, o facto de ser um resultado, a instalação que, com as pessoas ser reduzido e muitas vezes adaptável às não tem a carga nem da galeria nem da white cube foi o princípio de tudo e, logo, lá dentro, se torna algo performativo, acaba características específicas da produção instituição. para mim, não é uma questão de facilitar, por questionar. O João Seguro falou nisso artística, sem regras pré-definidas, mas é a fonte de onde as coisas surgiram quando escreveu o texto – aquela questão influenciou o teu acto criativo? E, na tua opinião, a Appleton Square é, no e, portanto, também não posso dizer que da crítica institucional que a obra acabava seu âmbito geral, um projecto site-specific? dificultou. por ter, que essas questões são pensadas, Não. O que eu vim fazer acabou por ter um mas depois o que acontece com o público é orçamento muito reduzido, mas não o fiz Muitos artistas trabalharam essa condição, Sim. Mas, na tua opinião, achas que um completamente diferente, o público não tem por causa dessa limitação. e reflectiram sobre este espaço enquanto site- white cube complica ou facilita o processo uma distância de contemplação, tem que specific, mas nem todos. E isso é interessante, criativo? estar dentro da peça, senão ela não existe. O facto de não ter o estatuto de uma galeria isso de um espaço fazer com que, sem comercial e, no entanto, ser possível ser imposto, os artistas se interessem por Acho que depende sempre do projecto que Nunca tinha pensado nisso em relação vender, afectou de alguma forma o teu trabalhar o site-specific. temos em mãos e o que é que queremos à tua peça, nessa questão de tu nunca pensamento artístico ou as tuas intenções? fazer. Aliás, como tu conheces o meu estares a observar, não há um observador E então, sendo o espaço determinante trabalho, há muitas coisas que são feitas propriamente. Há alguém que vive Não. Aliás, a obra que eu fiz na Appleton para a concepção do projecto expositivo, para espaços estranhíssimos como casas de a peça, que está dentro dela. Square acabou por ser comprada por um o que pensas sobre as condições físicas de banho, salas que mais ninguém quer como, colecionador. Tendo em conta o panorama exposição na Appleton Square? por exemplo, nos Maus Hábitos, no Porto, Porque, na arte, tu tens sempre aquela ideia português, na verdade, eu nunca achei em que usei a antiga sala da caldeira, que era de que as coisas são para ser contempladas, que a peça fosse vendida, mas é uma coisa No meu caso, como tu sabes, a obra surgiu muito estreita. aqui tu nunca tens a totalidade da obra. comum, muitas vezes as peças em que eu do espaço e muitos dos meus trabalhos O que tu vês é um vazio, mas o que tu sentes acho que as pessoas vão ter interesse, mas surgem dos espaços, o espaço geográfico, Brian O’Doherty disse: «A clássica é um cheio e lembras-te quando a peça foi não vão ter coragem de comprar, são as que a especificidade do próprio espaço – a sua hostilidade de vanguarda expressa- desmontada, que parecia que ela ainda aqui são vendidas. estrutura, a sua tipologia, e outras vezes se pela remoção das constantes de estava, como se fosse um fantasma?
X+ I Entrevista Susana Mendes Silva / PT. 124/125 Sim, é verdade. Há bocado, estávamos quadrícula, replica a planta e a estrutura é irrepetível e aí voltamos ao Richard quadrada, sim, adaptei-a àquele espaço, a falar sobre isto e vou citar Richard do espaço, e passa a ser rectangular, que Serra e realmente tu destróis aquele mesmo na altura, as portas são mais altas. Serra «To remove the work is to destroy podia ser, por exemplo, 40-50, mas não, rectangle disorder... it». Tenho particular curiosidade em é 40-60, porque o espaço é muito comprido, Isso não está indicado no Manual? relação à tua resposta. A tua obra foi até porque se fosse um rectângulo mais Ou seja, isso é uma questão relativamente pensada para este espaço? É repetível comprido, por exemplo, 40-70, já estaria a fácil enquanto os artistas são vivos, quando Não. noutras circunstâncias? O que é que se destruir a ideia da peça, porque criaria um os artistas já não são vivos já será mais passa com a Fundação Leal Rios, com espaço muito largo onde as pessoas podiam complicado. Mas, para todos os efeitos, Mas isso não poderia ser uma coisa que o Rectangle Disorder, deste-lhe outro passar sem tocar quase. A peça teria sempre vendemos a peça com as instruções e com tu indicavas no Manual, «esta peça é nome? É outra peça? que manter a relação com a nossa escala o vídeo que explica como é que aquilo adaptada ao seu espaço transportando a humana e, portanto, a malha nunca poderia se faz, e que é para um espaço que tem sua planta para a grelha»? Essa frase do Richard Serra é muito ser aberta de maneira a depois não tocar determinadas características, e que tem importante e foi importante no sentido de no corpo. Agora, a questão que tu pões, aquela malha, etc. Qualquer adaptação só Não, porque isso retira-me poder e autoridade marcar, ou seja, de definir o que é que era se é outra peça ou não, e que já ontem o pode ser feita por mim e por mais ninguém. sobre a peça. Imagina que, depois, podiam essa questão do site-specific. No entanto, se João Seguro na conversa referiu, se era um Imagina, eu morro amanhã (esperemos que pedir a alguém, em vez de me pedirem a nós pensarmos, hoje, muitas obras a que gémeo diferente, eu acho que acaba por ser não), a Fundação não pode voltar a repetir mim, que mudasse aquilo como quisesse e, nós chamamos site-specific, são mais context- diferente, a peça original é o Square Disorder. aquela peça. de repente, fazer uma asneira. Porque, vê uma specific, relacionadas com o contexto, mas Esta é uma adaptação àquele espaço, que coisa, hoje a peça é da Fundação, imagina esta definição, devido a acontecimentos também tem aquela estrutura de white cube, Ou seja, só poderá repetir se for num que por alguma razão, alguma infelicidade, diversos nos anos 90, e a que chamaram que é uma sala comprida, branca, espaço igual à Appleton Square, é isso a Fundação a vende e depois como é que é? context specific, nomeadamente na língua com aquele tipo de luz, todos aqueles que tu me dizes? É uma porta que o artista não pode abrir... alemã, kontext kunst, ficou com muito «má tiques arquitectónicos… mas, depois, Por isso, ficou definido no manual que, se fama» e então passou a utilizar-se muito tem algumas caraterísticas que tornam Sim. a peça se voltar a instalar, sem ser pela minha pouco esta expressão. Mas, se se faz uma a percepção do espaço diferente, como mão, terá que ser com uma relação idêntica obra para um sítio e só para aquele sítio, ela, o facto de ser uma sala muito comprida, Com as medidas da Appleton Square? à da Appleton Square. de facto, talvez não faça sentido em mais enorme, dos 20 metros de comprimento lado nenhum. Mas, aqui, eu fiz uma obra que cria corredores muito compridos, coisa Não é preciso ser as medidas, tem de ser Douglas Crimp afirmou: «the private que não era só para este espaço. No sentido que não acontecia aqui e é claro que qualquer é um espaço quadrado. domain of the artist’s studio could no em que este espaço é um modelo: então espaço quadrangular é muito diferente de longer be the site of production...» Qual esta obra pode ser feita em outros white um espaço retangular e mesmo a percepção Então rectangle disorder era uma a importância criativa de a produção ser cubes semelhantes a este. Esta obra não está da grandeza diferente. Se pensarmos num impossibilidade se tu não estivesses cá? feita in loco, o próprio atelier ser a galeria? pensada para viver noutro tipo de espaço, ou espaço retangular estreito, ele é sempre seja, nesse sentido é um «white cube specific». diferente de um espaço retangular mais Imagina que eles tinham comprado a peça Isso para mim é muito importante. aproximado de um quadrado e, portanto, e eu tinha desaparecido. Se eles quisessem Durante muito tempo, não tive atelier e ia Ou seja, Square Disorder tem de existir a Fundação Leal Rios comprou a peça, Square expor a peça, não a poderiam expor daquela trabalhando em espaços em casa ou onde num white cube. Tu consideras a Disorder, mas aquela é a minha adaptação forma, não chegavam àquele resultado calhava, e achava que o meu atelier era Fundação Leal Rios um white cube? àquele espaço específico. sozinhos, como é óbvio. dentro da minha cabeça. Hoje, tenho um atelier mas acho que o meu atelier continua A Fundação Leal Rios é uma versão de white Mas quando defines que é outra peça, Porque isto, no fundo, foi uma nova a ser a minha cabeça e aquilo é um quarto cube porque é um paralelepípedo e, devido há um valor intrínseco da peça, sendo criação tua, não é? Foi um acto criativo grande que eu tenho a felicidade de ter, a essas características, a obra, para ser única, não é? Ou tu assumes que isto novo? onde posso ir para pensar ou fazer coisas exposta naquele espaço, foi transformada é uma adaptação que te foi pedida por e, de facto, é muito bom ter um atelier. por mim. A malha do tecto, ou seja, da parte aquele colecionador que comprou a peça, A partir da peça que foi feita aqui, que era Quando lá vão fazer visitas de estudo alunos que suspende a peça, em vez de ser uma que tem direito a vê-la adaptada, mas para este tipo de espaço, com uma planta das Belas Artes, como aconteceu agora há
X+ I Entrevista Susana Mendes Silva / PT. 126/127 pouco tempo, eu não tenho nada para lhes e a reacção lá já deu para testar alguma uma subtileza muito grande. Tem um lado Este projecto nunca podia ser feito num mostrar no sentido clássico, ou seja, não coisa. Mas a ideia era ver o que é que orgânico, apesar de ser artificial, a réplica espaço público, não é como aquela peça estou lá a pintar um quadro, ou não estou lá acontecia e, de facto, a questão da é uma réplica quase perfeita e, na verdade, do Jesús Rafael Soto em que ele tem uma de fato-macaco a partir pedra, e aí o atelier performatividade das pessoas, só consegui é muito diferente do nylon, embora seja estrutura e, dessa estrutura, caem uma série é um sítio de conversa, onde eu lhes posso percebê-la aqui. Por exemplo, o facto de da mesma família, porque o nylon é um de linhas que eu penso que são de plástico mostrar coisas e vestígios das instalações. algumas pessoas reagirem ao material material muito mais rígido. Parecendo que e de cor, em que as pessoas entram e estão a Quando eles lá foram, mostrei alguns quando percebiam o que é que era. não, este criava ondas, aqui, a instalação, ser vistas de fora e brincam, pois é bastante cabelos que tinha lá montados, poucos, mas A reacção do público nunca se pode prever. parecia que o cabelo encaracolava com a resistente, e vêem-se os miúdos a saltarem, já deu para falar, e imagens, e os desenhos e Mas eu, muitas vezes, faço projectos como, humidade, mudava, subia mais. Ontem, por como quem balança numas cortinas maquetas, e coisas que eu posso estar a fazer. por exemplo, o do Elevador de Santa Justa, exemplo, eu achei que os cabelos estavam compridas. Mas, dada a sua fragilidade, Mas acho que o espaço de trabalho é onde em que eu pedia a participação das pessoas muito mais em cima, ou seja, a instalação Square Disorder é uma peça mesmo for e depende do projecto, e pode ser na rua e, se elas não participassem, o projecto muda conforme há mais ou menos pensada para estar dentro deste espaço. porque também há um grande trabalho de não era nada. De facto, uma jornalista humidade… E também com as correntes de A questão do desafiar ou não, já falámos pesquisa no meu caso. E então o meu espaço perguntou-me isso: E então, se ninguém ar e tudo isso, coisa que com outro tipo há bocado… devido à sua própria natureza, de trabalho é qualquer um, é aquele que participasse, o projecto não era nada? E eu, de material já não ia conseguir. quer do espaço quer da obra, as duas estão tiver que ser e, portanto, concordo com essa sim, é um risco que eu corro, pronto. Mas profundamente fundidas, não existe uma afirmação já há muitos anos. aqui não era tão radical embora, à medida sem a outra. Portanto, aqui, eu acho que a que a peça foi sendo construída e algumas questão do público e do privado não se põe. pessoas entravam, também desse para “A relação com o público De qualquer maneira, para mim, a arte toda ir percebendo. No entanto, houve uma interessa-me bastante, acaba por ser pública, porque ou ela é dada “Durante muito tempo, não questão em que eu nunca tinha pensado, a ver ou então não existe. Está num espaço tanto que, muitas vezes, tive atelier e ia trabalhando dessas várias, das várias reacções que eu privado mas, se qualquer pessoa pode consegui ver nas duas experiências e na para mim as pessoas não entrar, é público. A relação com o público em espaços em casa ou montagem aqui e que só percebi mais tarde, interessa-me bastante, tanto que, muitas são de todo público, são onde calhava, e achava que a questão de carícia e erótico que algumas vezes, para mim as pessoas não são de todo pessoas sentiram, nomeadamente porque mesmo participantes e não público, são mesmo participantes e não o meu atelier era dentro da era verão e as pessoas tinham menos roupa, é no sentido de participante entre aspas. coisa que, por exemplo, agora não está a é no sentido de participante Ou seja, se elas não estão lá, o projecto não minha cabeça” acontecer na Fundação Leal Rios, porque existe. Ontem, alguém disse na conversa as pessoas têm casacos e estamos em pleno entre aspas. Ou seja, uma coisa muito interessante: eu nunca Inverno. E então, como era verão e as se elas não estão lá, queria vir cá sem ninguém porque o que eu Na concepção do projecto expositivo, pessoas vinham de manga curta ou vinham mais gostei, para além de gostar muito da tiveste a intenção de usar a especificidade de manga cava, eram muito mais tocadas o projecto não existe” peça, foi de ver as pessoas lá dentro, do espaço para gerar determinada reacção pela peça e era muito forte, essas impressões e a maneira como elas se mexem e como no público? depois mudavam. Mas eu nunca tinha elas interagem. pensado nesse lado até depois de ontem, A questão do domínio privado e público, Eu tinha feito algumas experiências no com a conversa com o João Seguro e com mesmo dentro de um espaço de uma Num acto performativo que tu geras com Goldsmiths College, duas vezes, só que eram o texto do Pedro de Llano que fala nessa galeria, influenciou o teu projecto? o público. espaços muito mais pequenos, era uma questão do cabelo como fetiche. Mas isso («... defies the gallery’s authority, relação de 3 por 3 metros no máximo… é uma coisa que aconteceu à posteriori, não declares it a site of struggle. That the Exactamente e isso era o mais interessante. espaços pequeninos, ateliers pequeninos foi algo que eu previ. Eu não usei o cabelo terms of this struggle hinge in part on que eram uma espécie de white cube – os com essa conotação, usei o cabelo porque questions of the private versus the public Aliás, porque tu vês melhor a instalação ateliers do Goldsmiths têm paredes brancas era um material que não era igual a uma site of art willingness of the contested quando há movimento, ela torna-se como se fossem stands de feiras de arte – linha, tem uma movimentação, uma leveza, institution…», Douglas Crimp). menos invisível.
X+ I Entrevista Susana Mendes Silva / PT. 128/129 Exactamente, foi isso que ela referiu. Não sei se é só isso. Porque há muitas Entrevista Pedro Cabrita Reis (2014) Torna-se menos invisível e começa a tomar galerias que têm boas características físicas, outras formas, transforma-se e, de repente, mas é preciso haver um capital intelectual / Unveiled Revealed (2010) já os fios estão baralhados ou não estão ou para perceber e entender e dar espaço as pessoas criam caminhos ou os grupos aos artistas para poderem fazer as coisas. criam dinâmicas. Por exemplo, eu lembro-me que, quando tu me convidaste, tivemos uma reunião, Pedro, antes de trabalhares a exposição, uma componente do trabalho de que só No fundo, a vida que a peça ganha, que eu expliquei-te o que é que ia fazer, nem qual era a tua ideia acerca do projecto ficariam os vestígios mas que, para mim, é uma das qualidades desta tua obra, sequer trouxe um desenho e disse que era Appleton Square. Era claro o seu estatuto fazia parte do entendimento do trabalho. depende da interacção com o público? uma ideia muito maluca e que eu própria específico? É um momento que, apesar da sua violência, não tinha muita certeza se ia correr bem é intimista se nos lembrarmos que, afinal, Exactamente. mas ia fazer uns testes, lembras-te? E tu O espaço da Appleton Square era, foi apenas experimentado por um grupo ficaste encantada. Quantas pessoas é que à partida, um espaço muito bem desenhado restrito de intervenientes que participaram, Ao fim de quase sete anos, a Appleton Square fazem isto, percebes? É muito difícil porque e tinha essa circunstância de sugerir um assistiram, viram ou estiveram presentes. adquiriu um posicionamento muito específico a maior parte das pessoas quer ver coisas enorme rigor métrico. O espaço tinha, Disso ficou a ruína. Mas também é através no meio da arte. Parece-te claro agora, que já e não dá espaço para haver esta surpresa na sua construção, uma unidade interna da percepção e da tentativa de descoberta passaram muitos anos da tua exposição, o seu e esta construção, porque não é fácil as muito forte, o que de algum modo fez de um sentido para as ruínas que se pode estatuto? Terão as características específicas pessoas acreditarem em ti e acompanharem surgir em mim a ideia de confrontar essa fazer uma aproximação ao entendimento que aqui falámos contribuído para a afirmação o teu pensamento, coisas que ainda estão circunstância. Apetecia-me trazer para da história. Construímos um possível texto, da Appleton Square? a ser geradas, ou seja, querem o bebé já feito dentro do espaço a crítica desse rigor uma narrativa qualquer, um território e não têm muito interesse no período de arquitectónico com uma intervenção que de compreensão a partir de fragmentos Acho que sim, porque o que este espaço gestação. E depois o que outras pessoas, tivesse o carácter de uma intervenção total. deslocados, sem integração e, quando tem permitido é que aconteçam projectos outros artistas me falam é que aqui, na Total no sentido em que não só havia uma tentamos reconstruir com esses pequenos que, se calhar, não iam existir noutro relação contigo, artistas e até curadores necessidade de reconfigurar por uma acção pontos, esses pequenas iluminações sítio; e, quando eu falo de projectos, não têm possibilidade de desenvolver esse «violenta» essa métrica de equilíbrio e fragilíssimas, tentamos construir um são só exposições… estou a falar também período de gestação, essa parte processual, harmonia do espaço, como também fazer sentido para a história e para os actos que de performances, de concertos e de outras não é? Que é muito interessante e é muito convergir nele, a partir dessa intervenção, imaginamos terem sido os que, na sua coisas que têm acontecido no campo das importante, porque só assim é que surgem uma quantidade de circunstâncias, uma sequência, nos trouxeram até ao presente. artes visuais e que, muitas vezes, não têm certos projectos, senão eles nunca surgem, minoria de pequenos elementos que, por Portanto, ali há, de alguma forma, uma espaço noutros lugares. Contam-se pelos nunca saem para a luz do dia. cima da destruição efectuada sobre a caixa, mímica do processo histórico a partir dedos as galerias que estão disponíveis para viessem ainda acrescentar uma cartografia do momento em que o espectador essas práticas mais abertas, embora existam de pontos de partida para outros lados. é confrontado com a obra. os espaços alternativos que muitas vezes À crítica da arquitectura, justapunha- não têm condições. Portanto, há coisas que se o «transporte» do atelier, de uma O facto de, na Appleton Square, tu não podes fazer, não é? Eu lembro-me autobiografia a partir do atelier. o orçamento de apoio à produção ser daquelas performances do Pedro Diniz Reis, reduzido, muitas vezes adaptável às não era muito fácil pensá-las num outro tipo Então, em relação à pergunta que eu te características específicas da produção de espaço. faço, basicamente, a força do projecto artística, sem regras pré-definidas, estava relacionada com a questão física influenciou o acto criativo? Mas falas de características físicas, de do espaço? qualidade de material disponível? Ou Este tipo de circunstâncias acontece falas de não ser fácil porque uma Galeria Inevitavelmente. Neste caso particular na Appleton e acontece na Tate Modern, Comercial é mais fechada a esse tipo da intervenção na Appleton Square, faz parte do processo, do modus operandi de coisas? a componente performativa era importante, de todos os lugares onde se expõe arte.
X+ I Entrevista Pedro Cabrita Reis / PT. 130/131 É preciso sempre ter em conta as condições e ético junto dos artistas que uma galeria é uma instituição. Uma instituição é a Appleton Square, embora tenha obviamente do real, aquilo que designamos como real. comercial dificilmente teria e, por isso, Gulbenkian, é Serralves, é a Culturgest, isso uma construção física e um envelope Entre essas condições, necessariamente, não creio que haja quaisquer problemas são instituições. Há espaço para um lugar métrico que não é, com certeza, baseado em está a engenharia financeira que permite em encontrar artistas que queiram mostrar como a Appleton Square, que é um lugar nenhuma proporção particular ou esotérica a um artista poder expressar de uma o seu trabalho num espaço com estas de experimentação, que é um território ou uma regra de ouro, tem ainda assim uma forma mais ou menos perfeita aquilo que características. Há muitas maneiras de onde, de uma forma entusiasta, rigorosa harmonia particular. Não é um cubo e é um pretende realizar. No caso da Appleton, ganhar dinheiro, há outros sítios para ganhar e permanente, são propostas ao público cubo. Há uma harmonia bastante grande não me recordo de ter tido qualquer dinheiro mas, provavelmente não haverá experiências e trabalhos que, provavelmente nesta espécie de intermitente negociação constrangimento de ordem financeira. muitos sítios para se poder desenvolver um de outra forma, não poderiam ser vistos. mental quando se olha para aquilo e nos Para um artista, é fundamental poder, projecto de uma forma aberta, justamente Eu entendo a Appleton Square assim. apercebemos que aquilo poderia ser algo à partida, saber que, na medida do possível, porque não existem obrigações comerciais. Tenho a percepção que, independentemente a caminho de um cubo, mas não é. Esse não há limitações ao desejo, à vontade de Sendo certo que isso é verdade, ou seja, que do tipo de projectos que a Appleton tem tipo de medida, pelo menos para mim, não fazer este ou aquele trabalho. A Appleton, ao artista é dado uma absoluta liberdade mostrado e revelado ao público, a verdade só foi bastante palpável como foi um dos no que me diz respeito, foi uma história e não lhe é imposto nenhum tipo de é que esses projectos acabam por ter todos factores de apetência pelo espaço. Porque exemplar nesse sentido e esse trabalho é constrangimento, como os que sabemos um denominador comum, são situações o cubo é, com certeza, uma forma que para mim um trabalho que tem e manterá fazerem parte da lógica de uma galeria construídas de uma forma particular, tem características muito particulares, sempre uma presença bastante forte, não comercial, passe a redundância, os artistas para apresentar um determinado tipo de sabemo-lo, não é? E tem implicações só por ele mesmo, mas pelas condições, sentem-se naturalmente com uma margem trabalho. Se os artistas se sentem impelidos muito particulares, uma ergonomia e uma pela paisagem que se desenrolou, humana, muito maior e bastante mais estimulados, a desenhar uma estratégia que lhes permita, forma de construir uma relação nossa com logística e o resultado foi um resultado que porque não têm que pesar nos pratos da ainda assim, poder fazer uma retoma do o mundo pela particular proporção de me agradou bastante. balança aquilo que tornará o seu trabalho seu investimento, essa é uma preocupação medidas que tem, pela identidade e infinita mais atractivo do ponto de vista comercial. válida e não há razão nenhuma para a pôr sequência destas medidas que são iguais, E o facto de não ter um estatuto de uma em causa, mas é preciso que tenhamos em as arestas, as bases, etc. Bom, isso gera um galeria comercial e, no entanto, ser conta que a Appleton Square, à partida, território de trabalho que é bastante sedutor, possível vender, afectou de alguma forma nunca terá iludido ninguém em relação problemático e desafiante e foi talvez por o teu pensamento artístico? “Lugares de às suas funções, às suas perspectivas e às isso que eu senti a vontade de fazer a crítica suas intenções programáticas. Portanto, disso mesmo, escavacando-o por completo. De forma alguma. Aliás, eu já estou experimentação têm um um artista que entra com um projecto na habituado a nem sequer vender nas galerias estatuto privilegiado, se não Appleton Square terá que saber que não o Brian O’Doherty disse que, «com o pós- comerciais. Os lugares desenvolvem através está a mostrar numa galeria comercial e modernismo, o recinto da galeria não da sua prática um tipo de reputação e, no mesmo superior aos lugares que, se eventualmente quiser comercializar é mais neutro. A parede torna-se uma caso da Appleton Square, é uma reputação onde se faz comércio” o seu trabalho, imagino que será uma membrana através da qual os valores que, imagino eu, fará com que os artistas responsabilidade dele e não dos mentores estéticos e comerciais se permutam por se interessem por apresentar aí o seu do próprio espaço. osmose». O facto de se tratar de um white trabalho. O facto de não ser uma galeria cube complica ou facilita o processo comercial, ou o facto de potencialmente Então, na tua opinião, a Appleton Square Sendo o espaço determinante para a criativo? o trabalho desenvolvido não se transformar está mais próxima do estatuto de galeria concepção de um projecto expositivo, em receita, não implica constrangimento ou de instituição? o que pensas sobre as condições físicas Para podermos responder a essa pergunta, na acção porque o que a Appleton Square e de exposição da Appleton Square? teríamos que perder algum tempo tem é a reputação de ser um lugar de Eu não entendo a Appleton como uma a analisar se os processos criativos são, em experimentação. Lugares de experimentação nem como outra das coisas. Porque não Nós já abordámos essa questão. Eu diria si mesmos, passíveis de serem complicados têm um estatuto privilegiado, se não mesmo é claramente uma galeria comercial nem que uma das coisas mais interessantes… ou facilitados. Duvido. Mas, pondo isso de superior aos lugares onde se faz comércio. tem essas intenções nem parece ter sido isto pode parecer bastante subjectivo, parte, eu diria que entre um artista e um A Appleton Square tem um capital moral esse o desenho estratégico à partida e não é a questão da divina proportione. O espaço da espaço no qual esse artista se proponha
X+ I Entrevista Pedro Cabrita Reis / PT. 132/133 investir, não se estabelecem relações dessa que, na altura, era inovador e que depois, palavra, mesmo nos sentidos mais obscuros. obras que possam ser expostas «per se», natureza. Os espaços podem colocar aos como sempre acontece com as rupturas E a intervenção que fiz na Appleton Square independentemente das circunstâncias artistas desafios interessantes que serão introduzidas pelas vanguardas, se tornou é apenas mais um passo, uma outra faceta físicas dos lugares. resolvidos com a apropriação que o artista numa disciplina e método de pensamento que se inscreve nessa perspectiva que tenho faça desse espaço. A única coisa que é e acção e paulatinamente se academizou e do meu trabalho, e deve ser identificada relevante e interessante, aqui, é justamente integrou o discurso da história, e da história nessa mesma linha de pensamento, esse delicadíssimo processo interior em e da prática das artes plásticas. Hoje, não há assim como, um exemplo entre outros, “Eu quero apenas produzir que se vão entretecendo as relações entre qualquer forma de imaginar que seja um as esculturas que eu faço com materiais obras que possam o artista e o o espaço e que se prefiguram acto transgressor partir as paredes de uma que encontro no lixo. A intervenção na no espírito desse autor, revelando-se-nos galeria, antes pelo contrário… Appleton Square é uma escultura cujas ser expostas ‘per se’, através do trabalhos por ele realizados. dimensões coincidem com as dimensões do independentemente das Não há como estabelecer graus de próprio espaço. O próprio espaço, a própria complexidade ou facilidade em relação arquitectura são absorvidas e passam a ser circunstâncias físicas à natureza do processo criativo. Tal como “Hoje, não há qualquer escultura, através de uma acção que resultou não há maus espaços, e também não há num processo de revelação da estrutura dos lugares” maus artistas, há apenas artistas que nos forma de imaginar que seja construtiva do espaço. Não creio que a podem despertar maior ou menor interesse um acto transgressor partir intervenção que fiz na Appleton Square pela obra que trazem até nós. Depois há, possa ser abarcada pela visão de O’Doherty Por isso aboliste a questão do site-specific? é certo, uma quantidade indeterminada de as paredes de uma galeria, que, claramente, é uma visão que se aplicava pessoas que praticam as belas artes o que a um tempo histórico particular, específico… Exactamente. Portanto, essa frase do Serra é não quer dizer que sejam necessariamente antes pelo contrário…” e a um tempo de mudança muito rico e de interessante, não pelo que ela diz mas pelo artistas, mas isso já é outra história... cujos rendimentos vivemos hoje. que ela implica e pela forma como eu a leio. Se me voltares a perguntar: Ok e então este «A clássica hostilidade da vanguarda Achas que não? Richard Serra disse «to remove the work trabalho que concebeste para o espaço da expressa-se (...) pela remoção das is to destroy it». Já sei que a tua obra Appleton Square desaparece do teu processo constantes de percepção, o recinto da Acho que não, acho que é um acto que vem foi pensada para aquele espaço, mas é de trabalho porque desapareceu também galeria. São comuns a todas elas as já de uma longa história de happenings, repetível noutras circunstâncias? fisicamente? Eu digo que não, porque este transgressões da lógica, a dissociação dos de performances, de manifestações que trabalho, a única coisa que releva dele, é o sentidos e o tédio. A ordem (o público) constituem, na sua sequência, um devir A obra não é repetível, o programa sim, programa. O programa que está subjacente a experimenta nessas arenas quanto de bastante denso e complexo e, por isso com certeza. Essa frase do Serra integra um este trabalho: o olhar, a acção desenvolvida, desordem ela suporta. Esses lugares mesmo, qualquer coisa que se faça e que modo de pensamento que não se revela de a construção e a contaminação de vários são, então, metáforas de consciência e aparentemente seja similar nas intenções, forma explícita no que está dito, mas no patamares, a contaminação do espaço revolução. O espectador é convidado a na forma e no processo, já não pode ser que está por trás. Eu reivindico igualmente autobiográfico, das obras que vieram do um recinto onde o acto de aproximação entendido, por um olhar contemporâneo, que mudar uma obra de lugar é destruí-la. atelier com coisas encontradas ao acaso, se volta contra si mesmo», Brian como algo revolucionário mas, sim, como Ora, isso leva-me directamente ao meu com a intervenção num território. Há aqui O’Doherty, No Interior do Cubo Branco. algo que é exercido num terreno semântico pensamento actual, ou seja, eu não faço, uma densidade semântica muito rica e que Esta expressão de O’Doherty aplica-se pré-existente, tal como uma pintura a óleo eu não estou interessado em produzir permite muitas leituras e que é apenas, e ao que se passou com o teu projecto na se inscreve na história de todas as pinturas obra que tenha como condicionante pré- afinal, um programa de pensamento Appleton Square? a óleo. Já que estamos nesta questão, existente a natureza do espaço onde ela e de acção. quero deixar claro que não tenho a menor vai ser instalada pela primeira vez, ou seja, Bom, esse texto de O’Doherty é um texto intenção de ser lembrado como um artista não estou interessado em instalações site- Falaste da questão toda performática do início dos anos 70 e relaciona-se de vanguarda ou como um artista de specific. Eu faço esculturas e essas esculturas que faz parte da obra, nós registámos em nomeadamente com a cena nova-iorquina rupturas. Antes pelo contrário, considero- podem ter dimensões variáveis, maiores ou vídeo a destruição do espaço. Isso lembra e o Black Mountain College. É um ambiente me um artista clássico em todo o sentido da mais pequenas. Eu quero apenas produzir realmente esta questão dos anos 60,
X+ I Entrevista Pedro Cabrita Reis / PT. 134/135 e das performances, que desapareciam e se quisermos ser mesmo objectivamente construtivo do espaço, revelação essa que foi falámos contribuído para a afirmação só ficava o registo. O teu projecto na rigorosos, o atelier do artista é o seu feita pela anulação das barreiras, que são as da Appleton Square? Appleton Square acaba por ser isso? pensamento. Se quisermos abordar esta paredes, fronteiras que escondem ao olhar Fica o registo e as imagens. questão com a seriedade de uma leitura do público aquilo que está por trás, e havia Eu acho que a resposta a isso é muito que se diz genericamente filosófica, então, também a necessidade de revelar o próprio simples e é imediata e é sim. Ao fim destes E o registo acaba por ser mais do que um vamos ter de admitir que, se o atelier do processo, e ainda a questão da permanência sete anos de actividade, a Appleton Square registo, acaba por ser outra camada em cima artista é o seu pensamento, o mundo inteiro das ruínas do próprio processo no próprio tem inequivocamente esse perfil, pelo do trabalho. É uma camada imponderável é a loja de materiais. E no mundo inteiro, local. O local foi revelado e, ao mesmo menos, na comunidade artística portuguesa. mas que tem esse privilégio, de algum seja em espaços objectivamente designados tempo, manteve a história desse processo Tem o perfil de um lugar que é um lugar modo perverso, de oferecer a única forma como espaços de revelação de arte de revelação. É natural que um acto dessa exigente, demanding, é um território de de perceber o que é que ali aconteceu num – os museus, as praças públicas, as galerias – natureza tenha como consequência desafio e só se completa e só tem uma determinado momento e com determinadas seja onde o artista quiser revelar a sua obra. imediata a questão da discussão dos persistência de carácter se justamente se pessoas. Sendo certo que, ainda assim, Tudo isso se esbate, e essas nuances acabam encontros ou desencontros entre o domínio mantiver como um lugar de desafio e que ver um registo sobre uma obra, nunca por ter muito pouco sentido, as diferenças público e o privado. De uma forma assim seja entendido pelas pessoas que nele é ver a obra. Mas eu entendo isto como entre umas e outras têm tendência a esbater- metafórica, mais até do que simbólica, se propõem intervir. Não creio que hoje haja um enriquecimento e não como um défice se. Porque, no fundo, independentemente da existiu ali naquele trabalho, e fazia parte do quaisquer dúvidas em relação a esse perfil, em relação ao projecto original. especificidade social ou política, são lugares programa inicial, criar essa espécie de perda pelo menos na comunidade de artistas de revelação daquilo que emerge do atelier de referências e garantir que tudo fizesse portugueses. É claro, pelo menos para Mas este foi um projecto site-specific? do artista, ou seja, do próprio pensamento parte de uma coisa só. Fazer convergir todos quem perceba um pouco destas coisas, que e olhar do artista. Portanto, eu nunca os diversos níveis de acção que ali há… até há uma amplitude que é específica e uma Um projecto site-specific... É muito senti, não sentirei, constrangimentos ou o vosso escritório que passou a ser visto atitude dirigida. Não se faz uma intervenção, interessante essa pergunta… Foi um diferenças no que diz respeito a isso. e a ter visão, o que não era o caso. ou não se apresenta um projecto na projecto em que eu usei o próprio lugar Appleton Square, como se apresentaria, como mais um material de trabalho. Na concepção do projecto expositivo, Foi uma experiência interessante para por exemplo, numa galeria comercial. Ao atacar as paredes e ao intervir da forma tiveste a intenção de usar a especificidade nós, nunca estivemos ou vamos voltar como intervim, o espaço transformou-se do espaço para gerar uma determinada a estar naquela situação; existe uma numa matéria para mim, como o texto que reacção do público? barreira visual e não sabemos o que se se escreveu na parede, como os objectos está a passar na sala… “A Appleton Square tem o que levei do atelier. Poderá ser entendido Não, de facto, não. como site-specific, não porque tenha sido Quem por ali passasse, para estar naquele perfil de um lugar que é um concebido e feito para se adaptar à natureza A questão do domínio privado e público, território, haveria de ter noção, de uma lugar exigente, demanding, ou às medidas do lugar mas, sim, porque mesmo dentro de um espaço de uma forma mais ou menos clara, consoante a o próprio lugar foi entendido como material galeria, influenciou o teu projecto? perspicácia das pessoas, de que havia ali é um território de desafio de trabalho. («... defies the gallery’s authority, uma vontade de transformar aquilo tudo declares it a site of struggle. That the numa amálgama. O escritório era uma parte e só se completa e só tem Douglas Crimp afirmou: «the private terms of this struggle hinge in part on da escultura tal como as paredes destruídas, uma persistência de carácter domain of the artist’s studio could no questions of the private versus the public tal como o chão, tal como os objectos que longer be the site of production...» Qual a site of art willingness of the contested apareciam nem se sabe porquê. se justamente se mantiver importância criativa de a produção ser feita institution...» Douglas Crimp) como um lugar de desafio in loco, de o próprio atelier ser a galeria? Ao fim de quase sete anos, a Appleton Ali, naquele trabalho, havia uma Square adquiriu um posicionamento e que assim seja entendido Eu, hoje, acho que tudo ficaria melhor se componente muito forte a que muito específico no meio da arte. pelas pessoas que nele se nos habituássemos à ideia de que já não há chamaríamos razões de revelação. Parece-te claro o seu estatuto? Terão as fronteiras dessa natureza. De facto, A revelação não só do dispositivo características específicas de que aqui propõem intervir”
X+ I Entrevista Pedro Cabrita Reis / PT. 136/137 Entrevista Nuno Sousa Vieira (2014) esse é um facto perfeitamente claro, são da coleção do MOCA, Los Angeles, que não perturba. a ideia de site-specific perde-se muitas vezes. / Wall Stop For This (2012) Existe uma peça de uma artista polaca, que E na tua opinião a Appleton Square é a Monika Sosnowska, que foi feita para está mais próxima da galeria ou da representar a Polónia na Bienal de Veneza instituição? de 2007, que é uma peça que se intitula Nuno, antes de trabalhares a exposição, E o facto de, na Appleton Square, 1:1, na qual essa ideia de um para um é qual era a tua ideia acerca do projecto o orçamento de apoio à produção ser É um híbrido, mesmo. É qualquer coisa uma ideia muito forte, já que ela está em Appleton Square? Era claro o seu estatuto reduzido e muitas vezes adaptável às que responde a requisitos de ambos verdadeira grandeza. A artista desenvolveu específico? características específicas da produção os lugares, sendo que essa junção, essa a peça numa articulação com o próprio artística, sem regras pré-definidas, justaposição se transforma. Não é que Pavilhão da Polónia, nos Giardini. A Bienal Era, eu conhecia bem o projecto, porque já influencia o acto criativo? ele seja metade de uma coisa e de outra, de Veneza fechou em Outubro/Novembro cá vinha há bastante tempo, mesmo antes mas o programa que vocês têm definido e, oito meses depois, em Basileia, ela de nos conhecermos. Eu era um visitante Influencia. Eu não consigo trabalhar de uma autonomiza-se porque é um programa que inaugurou uma retrospetiva, uma grande mais anónimo, passava mais despercebido, forma desvinculada com as pessoas, com os tem uma natureza institucional, como o exposição individual, que incluiu essa peça mas vinha ver. Conhecia bem o projecto, espaços e com as suas características. Este atesta a ideia de desenvolverem exposições e é a mesma peça que tinha tudo para ser conhecia tanto o espaço, as possibilidades projecto não funciona da mesma maneira enquanto projectos expositivos que têm entendida enquanto obra site-specific do espaço, como o projecto em si, porque em mais nenhum sítio – há uma ideia de sempre alguém que está por trás, um é um projecto que se demarca. É claramente base, que pode ser aferida e testada noutros curador, alguém que escreve ou alguém que Mas tu achas que deixou de ser site- singular no panorama artístico português lugares, mas a experiência que aqui era acompanha. Há uma série de requisitos specific? e eu tinha perfeita noção e consciência desse proposta é irrepetível. Até porque existem que vêm claramente de um lado muito mais potencial que existia. coisas que fizeram parte integrante deste institucional… aliás, se eu tivesse de optar Eu não acho que deixou de ser, mas acho projecto que, dificilmente, se conseguiriam por um deles, optava pelo institucional, que fica comprometida a ideia. O meu E achas que essas características muito adaptar da mesma forma a outro lugar, onde sendo que eu não acho que o projecto problema é que existe uma ideia inicial do específicas eram claras, ou para ti era um há outro espaço, com outras pessoas, que o cumpra na totalidade. que é site-specific e, quando as pessoas falam projecto com características por definir serão diferentes das que trabalham aqui. em site-specific, nem sempre estão a dizer a ainda? Na tua opinião, a Appleton Square, no mesma coisa, não é um conceito universal, O facto de não ter o estatuto de uma âmbito geral, é um projecto site-specific? tem várias interpretações. A determinada O projecto evoluiu. Desde o primeiro galeria comercial e, no entanto, ser altura, há um conjunto de teóricos que projecto que desenvolvi até o projecto possível vender, afetou de alguma Eu tenho um carinho muito especial pela defendem como, por exemplo, a Miwon final Wall stop for this, o projecto foi sendo forma o teu pensamento artístico ou ideia de site-specific, é uma coisa que me Kwon, que não há site-specific em white cubes, alterado, foi evoluindo, até mesmo na as tuas intenções? agrada muito e sou simultaneamente muito que é preciso um enraizamento histórico. própria relação com o espaço. Houve favorável e muito crítico a essa ideia. Talvez Mas depois, por outro lado, o enraizamento inclusive coisas que sofreram alterações Não, não, de todo. Eu, quando estou por isso, a minha tese de mestrado reflicta histórico constrói-se... eu gosto da ideia de por questões operacionais e técnicas, a trabalhar, penso na obra, penso no algumas dessas preocupações … Eu tenho site-specific e, acima de tudo, gosto muito da ou porque não poderiam ser executadas espectador enquanto alguém que vai ativar muita dificuldade em definir e, quanto mais ideia de poder, e isso é que está na génese exactamente daquela maneira. Por uma e experienciar a minha obra, não penso investiguei, com mais dúvidas fiquei sobre deste projecto, acho que ela incorpora a ou por outra ordem de razões, existem, em no comprador… por isso, o facto de ser a ideia de site-specific. E, mesmo em relação ideia. Eu acho que a ideia é extraordinária todos os projectos, constrangimentos que um lugar, uma galeria comercial que tem às obras mais paradigmáticas que nós mas depois, se nós formos puristas em vão surgindo à medida que os projectos determinado tipo de lógicas ou um espaço encontramos de site-specific, como seja relação à ideia que nela ficou estipulada se vão materializando e há razões que vão independente que, em determinada altura, o Tilted Arc, de Richard Serra, ou as peças no início, torna-se redutor. ganhando corpo e se vão intrincando nas incorpora algumas dessas lógicas, é uma que ele desenvolveu com o ferro lançado relações desenvolvidas com o próprio lugar questão organizacional que, para mim, sobre as esquinas da Leo Castelli Gallery, Sendo o espaço dominante para a que recebe os projectos. não interfere. Desde que esteja conversado, em 1969, em Nova Iorque, que, nesta altura, concepção do projecto expositivo,
X+ I Entrevista Nuno Sousa Vieira / PT. 138/139 o que é pensas sobre as condições físicas que entram, outros que falam, existem de experiência, e, para isso, dupliquei a há uma primeira exposição que é o próprio de exposição na Appleton Square? sempre acontecimentos, logo, essa ideia parede e fi-lo por ser a parede de entrada, espaço expositivo e há uma segunda de que é possível idealizar um espaço que separava e definia a fronteira. O projecto exposição que, de alguma maneira, eu Eu vou falar do ponto de vista do que e mantê-lo quase inviolado em relação aos nasceu de uma ideia de duplicação da procuro que seja o que é expectável quando desenvolvi: a Appleton Square, para mim, outros, é uma ideia que é frágil. Quando parede de entrada. Toda a parede de entrada, nós vamos ver uma exposição. Não é que tem dos espaços mais extraordinariamente um espectador entra para ver a obra, fazendo uma rotação, foi tornada visível nos seja dado a ver um espaço, pode ser, e até difíceis, e digo extraordinariamente difíceis esta sai comprometida até porque se, enquanto objecto dentro de um espaço, o pode fazer parte do projecto, mas não é isso porque é extraordinário o espaço, porque por exemplo, entrarem dois espectadores, meu projecto partiu da possibilidade que eu, que é expectável… Depois de ver o espaço, é quadrado; tudo o que é quadrado já está é sempre possível haver um espectador que enquanto espectador, tenho de ver o próprio o espectador tem então a possibilidade de numa proporção muito correta, equilibrada está em frente ao outro, e o outro que diz espaço de fora, sendo que estou dentro de ver novamente, depois de «requestionar» e depois tudo o que tu colocas lá dentro, «com licença» para poder passar, e tudo um mas estou a ver o outro, que é o objecto o que é entrar num espaço expositivo pode, pode desequilibrar. Ou tu és extremamente isto vai fazendo parte da experiência que se artístico, e há estas trocas e inversões de então, ter acesso à própria obra. cuidadoso e meticuloso ou o espaço pode vai construindo com aquelas obras e com lugares que potenciam o questionamento «cair», quando tu olhares para o todo aquele espaço. de cada um deles. Sim, então e no teu caso, pegando no do espaço, ele pode tombar porque está Serra que diz «to remove a work is to desequilibrado… É mais difícil equilibrar Para a próxima pergunta, cito mais As transgressões da lógica. destroy it», a tua obra foi pensada para uma coisa que já está equilibrada colocando uma vez Brian O’Doherty: «a vanguarda aquele espaço específico e é irrepetível lá coisas, não é? Então aí é um confronto, expressa-se pela remoção das constantes Exactamente… para questionar cada um. noutras circunstâncias? um conflito, que gera algumas tensões e que de percepção, o recinto da galeria, são O espaço não se questiona a si próprio mas eu acho que são extremamente aliciantes comuns a todas elas as transgressões o espectador questiona o espaço em que É aí que o meu problema com o site-specific para o desenvolvimento do trabalho. da lógica, a dissociação dos sentidos e o está, dentro do espaço expositivo, e o espaço aparece, eu acho que não… Eu tenho uma tédio. A ordem (o público) experimenta da obra e pode haver estes confrontos. Por outra obra, que também é uma parede e que Brian O’Doherty disse que, «com o pós- nessas arenas, quanto de desordem isso, se eu duplicar um espaço de natureza foi desenvolvida para o Pavilhão Branco, modernismo, o recinto da galeria não ela suporta. Estes lugares são então habitacional, eu já não estou a duplicar e é uma peça que se chama Visite-nos. Por é mais neutro, a parede torna-se uma metáforas de consciência e de revolução. um espaço de exposição, estou a duplicar razões da natureza do projecto, essa peça membrana através da qual os valores O espectador é convidado a um recinto outro espaço. O white cube é uma tipologia não foi materializada no Pavilhão Branco estéticos e comerciais se permutam por onde o ato de aproximação se volta contra de espaço expositivo que está muito mas foi materializada dois anos depois, osmose». Eu ia perguntar-te se o facto de si mesmo». Esta frase serve de pretexto enraizada na história da arte dos últimos numa exposição que eu desenvolvi no se tratar de um white cube complicava ou para que tu fales especificamente do 50, 60 anos e que, aqui neste projecto, Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, que facilitava o teu processo, no fundo está teu projecto e de que forma é que isto eu encontrei precisamente… como um se chamava Um atelier, uma sala de exposição, ligado ao que tu me estavas a dizer. se aplica ao que se passou contigo na território absolutamente riquíssimo para uma fábrica, nem sempre por esta ordem Appleton Square. poder materializar aquilo que eu pretendia. – eu materializei fisicamente essa obra Até porque, numa outra passagem do E depois, então, há a segunda entrada dentro nesse espaço porque havia um conjunto Inside the White Cube, ele também diz que, Aliás, num espaço que não tenha as do próprio espaço – entro no espaço e volto de requisitos que o espaço do Jardim da em termos ideais, era bom que nem se características físicas deste, dificilmente a entrar dentro do espaço – aí é que eu tenho Sereia e do Círculo de Artes Plásticas de ouvissem os passos do espectador, ou seja, consigo desenvolver alguma coisa que se a minha exposição, num espaço mais exíguo, Coimbra e do Pavilhão Branco, de Lisboa era como se houvesse a possibilidade de aproxime do que desenvolvi aqui. Será no que resulta de sobreposição destes dois tinham em comum, que eram requisitos experienciar a obra num lugar onde não muito difícil mesmo… porque temos um espaços que, no fundo, são o mesmo espaço. arquitectónicos e de relação com o meio houvesse espectador, onde tudo fosse uma espaço expositivo, o white cube, que é uma envolvente – ambos tinham vidraças, construção mental. Daí que essa ideia de das poucas construções que nós temos Sim, como se aquela exposição é que ambos estão implantados num Jardim white cube não possa existir em absoluto, e que vem da modernidade para o espaço fosse a exposição… e ambos têm circulações entre as salas. não podendo existir um white cube puro, ele expositivo. O que eu fiz aqui, de alguma é apenas uma ideia. E depois existem coisas, maneira, foi tornar essa construção ideal, ela Exactamente… Aliás, há ali uma coisa que Encontraste coisas em comum, o que te existem pessoas, existe gente, existem uns própria num objecto artístico, um objecto é: há uma exposição dentro da exposição, levou a transportar a obra.
X+ I Entrevista Nuno Sousa Vieira / PT. 140/141 Exactamente. Ou seja, imaginando que das partes, o todo tem de ser reajustado, das pessoas que não produzem arte, mas instaladas no atelier, entre as quais estava existe outro projecto com aquela parede, repensado e aí surge um dos meus que são absolutamente vitais para que ela a Razão número 1 que, mais tarde, veio a fazer a parede que eu construí aqui, eu só a posso problemas com o site-specific. possa acontecer. parte deste projecto na Appleton, transporta construir aqui. Agora, posso repetir a ideia consigo uma ideia de um número, de um que está na génese dela desde que obedeça a Aquilo que, para mim, é muito importante E isto liga-me a uma outra pergunta que emparedamento de uma construção. um conjunto de requisitos que eu considero nesta exposição é tu entrares num eu ia fazer: a questão do domínio privado Há uma coisa que se oferece ali como que são determinantes para esse projecto. espaço que é paradigmático como espaço e público, mesmo dentro de um espaço de barreira e ela faz parte deste projecto mas, Se eu não encontrar essas condições, não faz expositivo, do ponto de vista idealizado uma galeria influenciou o teu projecto? a pertencer a algum projecto, é ao do sentido para mim voltar a fazê-lo. (e o white cube é isso), e, a seguir, teres uma Pavilhão Branco. Apesar disso, a primeira parede que é repetida e tu reconheces que Influenciou brutalmente, até porque vocês vez que ela foi vista, enquanto obra, foi Se assim for, é este projecto ou é outro? já passaste por ela. Isso faz-me achar que, têm essa ideia entre privado e público aqui, porque durante o projecto do Pavilhão em tese, este é um projecto absolutamente aqui materializada de forma muito curiosa Branco ela ficou no atelier. Houve algumas Eu acho que é o mesmo projecto. Eu posso irrepetível. Até porque não conheço porque a zona de trabalho, que é a zona de pessoas que foram ao atelier, mas houve ter duas exposições com as mesmas obras, muitos espaços que tenham uma parede escritórios, a zona operacional, é uma zona também pessoas que não viram a peça, uma exposição montada aqui, em que como esta, que cria uma zona de escritório que antecede mesmo a galeria. só viram imagens dela no catálogo. estabeleço uma relação de aproximação e e que se vê antes de entrar na sala de E isso também é uma preocupação, que é de afastamento entre elas mas, se o espaço exposição. Tu vês claramente uma parede E pegando no Douglas Crimp, que perceber que, em última instância, as obras for outro, vai ser diferente porque muda que simultaneamente é fronteira do afirmou: «the private domain of the pertencem todas aos seus ateliers, eles são o contexto expositivo das obras dessa espaço e te mostra uma espécie de outro artist’s studio could no longer be the site lugares de génese, são uma espécie de cama. exposição mas a génese dela é a mesma. lado do backstage, da parte do trabalho, of production…», qual a importância e isso é exactamente uma coisa que me criativa da produção ser feita in loco Mas a tua parede, então, pertence Exposições itinerantes entre o museu, interessa muito, que é o facto de aquele e o próprio atelier ser a galeria? à Appleton Square. passam de um espaço para o outro. espaço existir (a galeria) porque existe um espaço antes, que é um espaço de labor, que Engraçado… Porque há uma série de coisas Naquele momento, foi feita cá, logo, ela A exposição é a mesma e há obras que, aparentemente não tem nada a ver com arte. que se cruzam nas nossas investigações pertence cá, aquela parede é de cá… aliás, inclusive, estão presentes numa exposição São questões de secretaria, de contactos, de e nos nossos estudos e aquilo em que nós isso é uma coisa que fica, ficará sempre num determinado museu e não estão falar com pessoas, de tratar de produções acreditamos evolui. Eu não penso como acoplado a este projecto, é impossível no museu seguinte, sendo que mas que, se não existissem, todo o resto do quando comecei a fazer investigação, dissociar aquela peça de todo o contexto. a exposição continua a ser a mesma. projecto podia existir, mas era outra coisa, há cinco anos atrás. Tinha um conjunto Agora, tento simplificar esta questão ao Agora, naturalmente, há situações em que não era aquilo. de aproximações a definições para dizer que o atelier é o lugar onde eu ando os contextos de determinadas obras, se determinadas coisas muito mais claras do e, assim, torna-se mais fácil porque, durante nós pensarmos em termos sociopolíticos, Aliás, isto é uma coisa que me interessa, há que aquelas que tenho hoje. Actualmente, este projecto, há um conjunto de partes em contextos muito diferentes do nosso, um projecto de 2010, que eu tenho, que se tenho mais dificuldade em as definir. que são desenvolvidas no meu atelier elas podem ganhar determinado tipo de chama mesmo Don’t underestimate the impact Começas a perceber um conjunto de mas, simultaneamente, há uma parte do significações que podem levar a que haja of the workplace no qual uma das peças dessa conexões que tornam as coisas menos claras, projecto que é desenvolvido aqui na sala a opção de as retirar. exposição não era visível na exposição a determinada altura. A mim interessa-me de exposição, na Appleton Square. Por porque só era visível na sala do gabinete do essa questão do atelier e da galeria, é uma isso, sendo o atelier o lugar onde a obra Porque a exposição é mais do que aquelas diretor. Ela foi colocada lá e o que estava coisa que me interessa brutalmente e o que é trabalhada, é desenvolvida e é pensada obras, uma exposição é cada uma das obras na exposição era um poster que as pessoas me interessa é precisamente essa deslocação a génese dela, mesmo que depois ela seja em particular, mas também as relações podiam levar com a imagem do que estava entre a categoria dos espaços e a inversão produzida em oficinas, onde quer que seja que aquelas obras estabelecem umas com no gabinete do diretor. É precisamente esta dos lugares. por questões técnicas e operacionais, sendo as outras. Às vezes, mudando estas duas ideia, a de que, se não existissem pessoas, o atelier esse lugar originário de estudo e coordenadas no lugar e no contexto em nada daquilo existia. E, neste caso, o que eu A exposição do Pavilhão Branco, em que de pensamento, então, de alguma maneira, que são inseridas, ou seja, mudando uma quis foi tornar visível esse lado do labor, houve uma série de obras que ficaram neste projecto tive dois ateliers, a Appleton
X+ I Entrevista Nuno Sousa Vieira / PT. 142/143 Square e o meu atelier. Mas, a determinada e, como tal, a presença do espectador é Eu acho que aquilo que contribuiu para A obra tem de passar pela pessoa, porque altura do processo, há uma parte em que parte integrante do projecto. O espectador a afirmação da Appleton Square, em senão não faz sentido… a Appleton Square deixa de ser o atelier é uma parte determinante, especialmente primeiro lugar, foi o trabalho que tu e a para ser o lugar de sala de exposição. É uma aqui, dadas as características daquele tua equipa desenvolveram, as escolhas que Eu tenho um conjunto de peças e de coisa temporal, transforma-se, porque ganha espaço mais pequeno, com significativa foram fazendo, a correção com que lidaram trabalhos, que estão finalizados e que não público e ganha um conjunto de relações concentração de obras, onde a presença do com as pessoas, porque os projectos depois mostro, e, porque nunca foram expostos, que são próprias da sala de exposição e já outro espectador e o confronto são muito fazem-se também disso, fazem-se do não fazem parte do meu Currículo. não são próprias do atelier, já não são da visíveis. Ainda para mais, isto tudo saía reconhecimento. Tem sido o vosso trabalho Ao não terem sido ainda expostos, mesmo natureza do trabalho do atelier. reforçado com a ideia dos espelhos, que que tem feito a Appleton Square porque que isso possa ser uma coisa pessoal… estavam nas obras. Neles, as pessoas viam-se a sala podia ser absolutamente irresistível conduziu a que eles ainda não ganharam Na concepção do projecto expositivo, a ver e viam os outros a ver e há aqui uma mas, se o vosso trabalho não fosse o que é, público e, ao não ganharem público, eles tiveste a intenção de usar a especificidade série de duplicações e de sobreposições de se não fosse visível, o espaço não seria também não ganharam território, por isso, do espaço para gerar determinada reação coisas que reforçam o papel da presença de o que é. Eu acho-o particularmente curioso para mim, eles ainda estão embrionários, no público? cada um daqueles agentes. Se não existisse e uma metáfora disso mesmo… que é, antes falta-lhes qualquer coisa. Até porque, no público, aqueles espelhos não refletiam de veres a exposição, vê-se o vosso trabalho seguimento do meu projecto artístico, Pessoalmente, interessa-me a relação da nada, coisa nenhuma, porque o que eles e eu acho isso quase uma inversão, gosto muita da minha obra seguinte, do trabalho experiência da obra com o público, é um refletem nós não vemos, pegando aí numa disso e, por isso, essa coordenada estava no que eu vou fazer, resulta do que eu fiz e do elemento que é reativo, eu não faço obras peça de Michelangelo Pistoletto, Um metro meu projecto. O projecto Appleton Square «requestionamento« de algumas dessas para ficarem, eu não desenvolvo o meu cúbico de infinito, que é uma coisa de projeção não seria o mesmo se não houvesse esse coisas. E houve coisas que eu tentei fazer, trabalho para não chegar ao público. Ele mental. Há aqui uma coisa que eu acho trabalho, empenho, gosto e esse querer, para as quais tinha determinados objetivos, é mesmo desenvolvido para me relacionar, absolutamente extraordinária mas, essa honestidade e a seriedade com que que se revelaram diferentes daquilo a que me para provocar, procuro mesmo interagir, no meu projecto, há uma coisa mais de vocês desenvolvem isso. E, mesmo com tinha proposto. Eu tenho de olhar para isso criar uma aproximação, esse para mim é fisicalidade, é uma coisa mais de corpo, o facto de a equipa ir variando, a Appleton e perceber de que forma é que determinadas o momento mais interessante, que é quando de massas corporais. Square é a Appleton Square, o resto são coisas são recebidas e isso interessa-me, as obras ganham público. Quando as obras elementos que a Appleton Square vai interessa-me colocar isso no meu trabalho… passam, para o bem e para o mal, é um convocando para si… os artistas vão confronto e o confronto é sempre violento. mudando, há uns que voltam e vão estando Agora, o espaço é fundamental mas os “Eu não desenvolvo o meu presentes e há uma coisa curiosa, que é espaços são feitos pelas pessoas, se não Eu aqui sei que a tua resposta seria trabalho para não chegar quando nós vimos à inauguração e vemos houvesse as pessoas, determinado espaço sempre sim, não é? sempre um número de artistas que por não existia daquela maneira. E, se não ao público. Ele é mesmo aqui passaram, que é uma coisa muito houvesse esse espaço, mas houvesse Sim, sim, é um confronto que é de tensão. desenvolvido para me engraçada… ninguém vai aos sítios onde essa vontade, haveria outro espaço. não gosta de estar, não é? A não ser que seja O projecto não era este, mas era igualmente Tiveste a intenção de usar a relacionar, para provocar” por uma necessidade extrema. E, se não interessante. Ter-se-ia tornado, ao longo especificidade, óbvio, não é? puderem vir à inauguração, esses artistas destes sete anos, fosse onde fosse, da mesma Construíste a parede, criaste aquele vêm depois ver as exposições. Há uma forma, um espaço que se tinha afirmado nicho onde as pessoas tinham que E estamos já na última pergunta: ao fim ideia... Nós vamo-nos sentindo parte dela pelas suas qualidades e pela qualidade se apertar. de quase sete anos, a Appleton Square e deste projecto e isso é uma conquista do dos projectos que tinha desenvolvido adquiriu um posicionamento muito teu trabalho e da forma como ele é feito e apresentado… ter-se-ia tornado sempre um Exactamente, onde tinham que se específico no meio da arte. Parece-te e afirmado. Eu acho sempre que as pessoas espaço singular. E isso é produzido pelas aproximar, onde o próprio papel do claro o seu estatuto agora? Terão as são mais importantes do que as obras, pessoas, os espaços são potência, são uma espectador era questionado porque características específicas que aqui eu prefiro as pessoas às obras, apesar de coisa em potência, as pessoas são mais as distâncias correctas para ele poder falámos contribuído para a afirmação produzir obras e não pessoas… do que isso. experienciar as obras não foram respeitadas da Appleton Square?
X+ I Entrevista Nuno Sousa Vieira / PT. 144/145 Entrevista José Pedro Croft (2014) as resolver, portanto, não fazia nenhum sentido ao trabalho de uma galeria. sentido encomendar x vidros e x peças Eu quis que houvesse uma colaboração / Dois Desenhos, Uma Escultura (2012) de madeira porque eu sabia que a meio entre a Appleton Square e a galeria Filomena do percurso não as ia usar, seria melhor Soares justamente por achar que a Appleton não partilhar a produção com a galeria, Square era uma galeria e não queria qualquer assumindo a galeria a responsabilidade de ambiguidade tanto em termos de mercado José Pedro, antes de trabalhares artística, sem regras pré-definidas, transformar todo esse trabalho em vendas. como de público, era importante estabelecer a exposição qual era a tua ideia acerca influenciou o teu acto criativo? um vínculo com a galeria Filomena Soares. do projecto Appleton Square? Era claro O facto de não ter o estatuto galeria o seu estatuto específico? Não. Isso foi conversado logo à partida. comercial mas, no entanto, ser possível Mesmo sabendo que não dispunha de vender, afectou de alguma forma o teu “A venda é só uma Não e sim, ou seja, eu trabalho sempre orçamento para produção artística, quis pensamento artístico e as tuas intenções? em função dos espaços ...de exposição... que esta exposição fosse ambiciosa, o que pequena parte do e sabia que queria que, no espaço da galeria para mim era importante no momento Claro trabalho da galeria, da Appleton Square, o meu trabalho fosse que nós estávamos a viver, um momento um gesto, funcionasse como uma peça de uma enorme crise económica e Na tua opinião a Appleton Square apresentar o trabalho, única e trabalhasse em relação directa financeira, em que parecia impossível está mais próxima da galeria ou da com a arquitectura. Encontrei uma mesa vender, e em que a sensação de demissão instituição? apresentá-lo que tinha umas proporções realmente era generalizada. Muitos partiam do condignamente, fazer interessantes, porque era uma mesa que princípio de «não arriscar muito para, Para mim, é uma galeria, claramente, não não era doméstica, no sentido em que depois, a decepção também não ser muito tenho dúvida nenhuma sobre esse tema. uma boa divulgação, tinha seis metros de comprido e pertencia grande», uma situação de controle pelo Agora, dentro das galerias, há tantas galerias saber explicar, ter uma à Faculdade de Ciências, ao Laboratório de medo. A minha ideia foi exactamente quanto as pessoas que as dirigem, porque Química. Tinha essa presença, por um lado, o contrário: ocupar-me da produção cada projecto é único. Umas actuam em noção do que é o meu de ser uma mesa com escala humana e, por e não contar com a galeria Appleton palcos internacionais, outras são galerias trabalho e o que está outro lado, de ter uma dimensão que não era Square para isso. Até porque, durante os de uma outra geração e que têm um olhar doméstica. Era um objecto que transportava seis ou oito meses que durou a preparação completamente diferente sobre a relação para trás, tudo isso são o humano já com o «colectivo« e queria da exposição e daquela peça, na realidade, entre o artista e o galerista, portanto, que ela ...participasse... da arquitectura. ela sofreu transformações enormes. Eu não haverá tantas galerias diferentes quantas as assuntos que tornam Portanto, a minha primeira ideia foi cortá-la, quis ficar agarrado a um programa que me pessoas porque, no fundo, trata-se sempre de e que dão sentido ao serrá-la e trabalhá-la contra um canto da definisse quais eram os custos e, portanto, relações humanas. galeria, de maneira a fazer uma diagonal em a um orçamento pré-definido. trabalho de uma galeria” relação ao espaço, depois... esta ideia... foi O que faz uma galeria, e a razão pela qual eu evoluindo, ganhou autonomia, continuando De certa forma, também te dava quero ter representação com uma galeria, a trabalhar o espaço, mas a partir de um liberdade. e tenho com a Filomena Soares com carácter Para haver uma relação transparente, ponto central. Queria sobretudo que fosse de exclusividade, não é só ter uma relação porque tínhamos estatutos mais um gesto claro, em vez de ter várias peças Deu-me liberdade, eu gosto de trabalhar de trabalho, é querer que se ocupem de parecidos? que formassem uma exposição, queria um sem rede e a liberdade é justamente isso. muitas coisas para as quais eu não estou gesto que ...se fizesse presente... Não trabalho de forma muito racional no disponível. A venda é só uma pequena parte Exactamente. Para que ficasse tudo claro sentido de conceber um projecto e depois do trabalho da galeria, apresentar o trabalho, e por respeitar o contrato de exclusividade, O facto de, na Appleton Square, o ser coerente até ao fim. Ele vai sofrendo apresentá-lo condignamente, fazer uma boa inclusive no respeito a vendas. orçamento de apoio à produção ser imensas alterações à medida que vou divulgação, saber explicar, ter uma noção do reduzido e muitas vezes adaptável às tropeçando e que as minhas contradições que é o meu trabalho e o que está para trás, Na tua opinião, a Appleton Square é, no características específicas da produção vão ficando mais claras e eu vou ter que tudo isso são assuntos que tornam e que dão seu âmbito geral, um projecto site-specific?
X+ I Entrevista José Pedro Croft / PT. 146/147 Eu acho que há muita confusão em relação Exactamente. porque isso é absolutamente neutro, não “O que me tem interessado ao site-specific. Vi uma exposição do Richard tem alma… o que tem alma são as exposições é trabalhar os limites do Serra na Gagosian em que ele trabalha o Falaste do exemplo daquela tua obra que que estiveram antes e as exposições que espaço em função da forma de instalação está ali nos Coruchéus. vieram a seguir e as condições em que nós espaço, a relação com das obras. Qualquer artista que trabalhe nos pusemos a trabalhar. a escala humana e com num projecto de galeria ou de museu terá, Isso é um site-specific. Estou a pensar em naturalmente, de o fazer pensando no peças site-specific como, por exemplo, a do E o facto de ser um white cube facilita o caminhar” espaço e nas relações espaciais, trabalhará Walter De Maria e aquele apartamento que o processo criativo dos artistas que por sempre a favor ou contra o espaço, mas ele enche de terra, que está no Soho, lá passam? nunca de uma maneira neutra, nem o projecto foi pensado para aquele sítio. constantes de percepção, o recinto da indiferente. No meu caso, eu fiz uma Ou «The Broken Kilometer», do mesmo É mais neutro do que a maioria das galerias galeria. São comuns a todas elas as escultura para a Appleton Square, mas não artista, que está também no Soho. O site- em Portugal. Interessante o exemplo da transgressões da lógica, a dissociação dos site-specific. No caso da galeria Filomena specific implica um compromisso com o galeria da Alda Cortez, uma galeria que sentidos e o tédio. A ordem (o público) Soares, quando faço as peças, quando espaço, senão é um site-specific «ambulante». já não existe, que acabou em 97, e que experimenta nessas arenas quanto de escolho as obras, escolho as que devem, era um corredor com chão de madeira desordem ela suporta. Esses lugares no meu entender, ir para lá. Por exemplo, Sendo o espaço determinante para a com 10 metros de comprimento, mas que são, então, metáforas de consciência e uma das esculturas que mostrei na última concepção de um projecto, o que é que trabalhou com imensos artistas, a Ana revolução. O espectador é convidado a exposição, já tinha a mostrado na Arco pensas sobre as características físicas e de Jotta, o Pedro Casqueiro, o Miguel Branco, um recinto onde o acto de aproximação e os desenhos são os desenhos que faço exposição na Appleton Square? Qual é a o Jorge Queirós, o que mostra que o espaço, volta-se contra si mesmo», Brian normalmente e as outras esculturas de tua opinião sobre aquele espaço? na realidade, não é determinante. Tu O’Doherty, No Interior do Cubo Branco. parede eram esculturas de parede que eu encontras o gesto certo para cada realidade. Esta expressão de O’Doherty aplica-se estava a fazer. Depois, escolhi aquelas dez O espaço para mim é muito importante, mas Na Alda Cortez, apresentei uns bancos ao que se passou com o teu projecto na que falavam umas com as outras naquele o motivo principal para aceitar um projecto com gesso, fiz várias exposições diferentes, Appleton Square? espaço, isso não é um site-specific. não depende das qualidades do espaço. encontrei, de cada vez, uma solução para o Acho que aquelas qualidades de espaço são espaço. A arte não trabalha com facilidade, Tu tens aí algum problema com os teóricos... Como, em relação a esta exposição na interessantes, não são extraordinárias. O que trabalha com constrangimentos, toda a Appleton Square, usei a métrica da galeria, me levou a intervir lá, e a aceitar com muito minha vida trabalhei com dificuldades Mas tu há bocado falaste na questão os 10 por 10 metros, parti de um canto, gosto o teu convite, foi a energia que aquele e com constrangimentos. A capacidade de teres que colocar a tua peça um e desenhei uma diagonal. Mas não eram espaço tem, a tua energia, que é a energia dos criativos é de encontrarem soluções bocadinho mais distante, isso tem a ver aquelas paredes de arquitectura que me que tu lá pões. Não há bons espaços nem para grandes problemas, não são pessoas com a relação com o espectador. Tu já interessavam, eram aquelas ou outras há maus espaços e, voltando às galerias, há que têm a vida facilitada. Mas o espaço da pensavas nisso? quaisquer: o que eu estava a trabalhar eram galerias que são impressionantes e com as Appleton também é um espaço que tem as sinergias daquele espaço, como no atelier. quais não trabalharia, porque a energia que constrangimentos e isso é interessante, Como te estava a dizer, o que me tem Como trabalho no atelier, tenho em conta as lá está por trás é complicada. Acho que um porque são 10 x 10 metros, portanto, damos interessado é trabalhar os limites do suas relações de espaço, faço 50 esculturas artista deve ser responsável pelos seus gestos dois passos e já estamos no meio da sala, espaço, a relação com a escala humana (que não são site-specific) com as condições e, quando os decide tornar públicos, tem para um escultor isso pode ser um problema, e com o caminhar. Estas são as minhas que lá estão, os cantos e as paredes do atelier responsabilidades, tudo o que está à frente especialmente quando quer fazer um gesto perplexidades, uma constante. Tínhamos e o chão. Quando saio daquele chão da cortina e por trás da cortina é da sua «claro e grande». Eu tive que trabalhar ali uma extensão de uma mesa, uma ruína e daquelas paredes, vou para outro espaço responsabilidade, por isso não pode fazer questões de ilusão óptica, de posição, para de uma mesa, que estava em muito boas e a escultura tem de funcionar. de conta que não vê. Aquilo que eu faço são que, quando se entrasse na sala, se tivesse a condições; fui eu que a cortei, a fragmentei gestos, sejam em papel sejam na escultura, sensação que a peça estava «longe». e a desconstruí. De alguma maneira, havia Para ti, o site-specific está ligado à questão portanto, quando refiro a energia daquele uma relação com escala humana porque da permanência? espaço, não estou a falar da energia daquele «A clássica hostilidade da vanguarda era uma mesa com 80 cm de altura, escala espaço como um espaço arquitectónico expressa-se (...) pela remoção das essa que se transforma quando a mesa
X+ I Entrevista José Pedro Croft / PT. 148/149 tem 6 metros de comprimento. De alguma assinaturas, precisam de uma explicação o que eu poderia fazer, era depois de tudo receberem esses objectos em condições maneira, ocupou o espaço todo da galeria. para terem acesso porque, sem bússola, partir a obra à machadada e fazer uma cama, «ideais», as vitrines com os fatos do Médio Quando depois a coloquei num plinto, criei ninguém se arrisca a comprar e ficar com isso seria concluir o site-specific.. Oriente de seda têm um rectângulo central uma relação de frieza e distância com «nada». As perplexidades, o fantástico, e depois encolhem assim como se fossem o espectador e a mesa passou a jogar com o esse lado misterioso e maravilhoso, não há A tua obra não é um site-specific, e foi uns ombros de um fato, a parte egípcia plinto e o plinto, cujo desenho mimetizava espaço para ele, não é reconhecido. Para justamente uma obra que já vimos começa com granito para depois receber o desenho da mesa, uma forma curva, uma mim, é um problema estar a comentar exposta noutros sítios, embora eu sinta a parte da arte da Síria, entra-se numa cabeceira curva; e depois do outro lado autores que escrevem e que, ao escrever, já que aquela obra, na Appleton Square, caverna e depois passa-se para uma zona estava um espelho que desestabilizava estão a limitar e dando «explicações» que estava em circunstâncias perfeitas. de luz. Tudo é pensado, os desenhos, a luz, tudo, não só a mesa se desconstruiu como o as justificam. As obras não permitem um os materiais, portanto, isso, para mim é espelho transportava o espectador que discurso que as explique, e isso é verdade Mais faltava que eu não achasse o mesmo. uma instalação, uma forma de mostrar que a olhasse. Era como um navio a afundar-se, em relação a Botticelli, como em relação também fixa naquele sítio as obras. mas eu cheguei lá medindo com o corpo a Duchamp, é verdade em relação aos Em Badajoz, achei-a meia caótica. e não racionalizando. Foi feito sempre surrealistas e aos conceptuais, mesmo aos Um outro exemplo foi uma escultura que fiz de uma maneira muito intuitiva, desistir conceptuais mais duros e estou a pensar, Mas tomava conta da exposição e, apesar para a galeria Helga de Alvear, em Madrid, de um caminho, destruir o que está feito, por exemplo, no Donald Judd, que tem de tudo o espaço, tinha uma área bastante em que parti dos elementos de arquitectura a voltar a construir, a voltar a destruir, um horror à transcendência e ao sublime. maior que a Appleton Square. Mas na do espaço, neste caso os ferros, para definir a a voltar a construir, a voltar a destruir. As suas obras têm uma carga telúrica Appleton Square foi tudo muito trabalhado, inclinação das peças. As obras funcionavam Quando, de repente, se tem um discurso e, portanto, aquela rigidez nas métricas fiz uma maquete, tive de medir várias vezes como biombos em relação a uma parte da em que se explicam todas as emoções, dos cubos e a perfeição na execução o espaço, fizemos uma pré-montagem dois estrutura arquitectónica, digamos que eram e tudo o que se pensa e tudo o que nos interpelam a um nível de tal maneira meses antes da exposição, foi um assunto umas asnas que existiam em ferro. Nesse passa pela cabeça, todo o enquadramento enigmático, críptico e inexplicável, e de muito cuidado. caso, quis trabalhar as relações espaciais, de um programa em abstracto, eu fico ordem da epifania, que realmente lhe embora essa obra fosse autónoma, depois completamente aterrado. Quando estamos dá uma dimensão que é mágica. E sem A obra não é destruída, mas há qualquer já foi instalada em outros espaços, por a falar deste texto, é tentar sistematizar experiência não há magia porque a magia coisa que muda. Há qualquer coisa que exemplo, no Centro Cultural de Belém um funcionamento das obras de arte, não se transmite, vive-se. Esse lado da muda na obra ao descontextualizá-la da e em Cáceres. Tal como a obra que fiz para tarefa impossível. ordem da epifania não se pode ignorar, Appleton Square? a Appleton Square, não é site-specific. porque está presente e é tão complexa e tão Imagina o que é desenhar uma cadeira em Isto transforma-se noutra questão, que inexplicável... onde os artistas verdadeiros Ela existia autonomamente, ela existia aqui que o tecido e o estampado são iguais às é a invisibilidade da obra, e é muito entregam a sua vida. no atelier já como uma obra autónoma e cortinas e as cortinas têm o mesmo desenho importante falar sobre isso. Quando se acabada, foi instalada lá, mas ela existia e foi que também está no papel de parede… Essa tenta explicar a obra num dado contexto, Richard Serra disse «to remove the work pensada para lá, mas não para ficar lá. cadeira funciona autonomamente e quando é como amputar a obra em si e retirar-lhe os is to destroy the work». Já sei que a tua deixa esse espaço continua a ser uma cadeira sentidos; à obra, que é sobretudo invisível, obra foi pensada para aquele espaço, mas Eu acho que o Museu Gulbenkian é um que traz a memória da casa onde esteve, para só se tem acesso verdadeiramente pela é repetível noutras circunstâncias? bom exemplo do conceito site-specific. No a qual foi criada. experiência e não através do discurso. Este Museu Gulbenkian, cada peça tem uma pode-nos dar enquadramentos mas, quando É. A obra foi pensada para aquele espaço vitrine que foi desenhada para receber Mas não é isso que faz dela site-specific? se está à frente da obra, abrem-se tantas de uma forma impermanente. Eu gostei aquela peça e, portanto, de alguma possibilidades que é impossível chegar lá de pensar naquele espaço de uma forma maneira, aquele Museu é pensado como Não. através do discurso do artista ou de outros. impermanente, era um contrato que nós um percurso em função de uma colecção tínhamos, em que eu pensava numa peça e como uma instalação, portanto, na minha O que tu me estás a dizer é que uma Estamos num mundo muito perturbado em para aquele espaço, para estar visível opinião, é site-specific, sendo que nenhuma obra site-specific é uma obra que não é termos gerais, confusão onde não escapa durante um mês e meio e depois saía de lá. das obras o é. As vitrines das porcelanas transportável para outro sítio, voltamos o mercado. Os «colecionadores» compram E, portanto, se eu quisesse criar um site-specific, chinesas têm uma forma determinada para à questão da permanência.
X+ I Entrevista José Pedro Croft / PT. 150/151 Sim. Desde o momento em que passa a ser únicas, nunca é igual. Depende também A cabeça? O corpo? O coração? A mão? de que a peça estava no centro da sala. (transportável) e não perde qualidade ou da interpretação, portanto, cada vez que Esse jogo foi estudado e foi ao centímetro perde umas e ganha outras, não é site-specific. é actualizada, sobretudo ao fim de 100 ou O corpo, exactamente, e pode ser em casa, que se decidiu o ponto certo para criar Por exemplo, no caso do David, de Miguel 200 anos, transporta essa actualização. debaixo da ponte, num barracão, pode ser essa percepção. Foi muito encenada, mas Ângelo, escultura que foi feita para uma Ouvir o Beethoven no séc. XX, numa sala num palácio, pode ser numa galeria, tudo uma encenação discreta. Acho que se, praça em Florença e depois, ao fim de 100 confortável, não é a mesma coisa que ouvir onde seja possível criar. por exemplo, tivesse mantido o primeiro anos, foi transportada para a Academia e o Beethoven num palácio em Viena de projecto, em que a escultura integrava o foi feita uma réplica que é a que está nessa Áustria, num determinado contexto, à luz Também é uma coisa muito canto e se fundia na arquitectura, ia ser praça, não podemos falar em site-specific. da vela. Portanto, há um contexto em que, contemporânea, a questão de tudo poder muitíssimo mais espectacular mas menos sobre a estrutura fixa que é a partitura, se acontecer em qualquer sítio. séria. Mas, como tu sabes, nós trabalhámos Mas então podemos dizer que a base do recria, se improvisa, e se cria uma música aquela peça durante mais de um ano, eu, tu site-specificé, efectivamente, a expressão «nova» de cada vez. Mas a obra transporta Não, não pode acontecer em qualquer sítio, e o João, quantas vezes tu vieste aqui para do Serra, «remover é destruir»? no seu «ADN» a sua memória, o que nós têm que estar reunidas as condições. Porque ver o estado em que ela estava, não é? temos consciência é apenas uma pequena há uma ideia de que pode tudo acontecer Absolutamente… parte daquilo que nós sabemos; aquilo em todo o espaço e é como se os espaços E lembro-me daquela encenação mais a que nós temos acesso aqui e agora é só fossem todos iguais, e não são todos iguais. espetacular do canto, e das dúvidas… Não existem estas variantes uma pequena parte do todo. É como se todas as pessoas fossem iguais e contemporâneas a que a pessoa acaba tudo fosse descartável. É preciso contrariar e Parecia que já estava quase acabada por chamar site-specific… Tal como a realidade não é dada de combater a banalização, ser selectivo, perder e não estava acabada coisa nenhuma. uma forma total, é fragmentada, a parte tempo, é preciso trabalhar como as pessoas Foi preciso coragem para, quando já estava Isso retira-lhe o sentido, quer dizer, estamos contém o todo… É disso que se trata. que comem slow-food, uma pessoa que se «acabada», destruir tudo e recomeçar tudo a falar sobre sentidos e, se ele pertence No fundo, é como se eu, a partir de uma entrega não pode aceitar ser descartável. outra vez, criando outro contexto, trazê-la absoluta e radicalmente àquele lugar, não ponta do iceberg, pudesse intuir o resto que para o centro e depois fazer-lhe uma base. pode sair dali, ou não será mais. me é interdito, porque nós temos Na concepção do projecto expositivo, Foram dias e dias e dias, e semanas e meses uma visão muito limitada mas sabemos tiveste a intenção de usar a especificidade a trabalhar, e não desistir até ficar com o Então, na tua opinião, uma obra site- que o universo é muito maior do que do espaço para gerar determinada reação peso «certo» em tudo. A arquitectura e as specific não é comercializável, a não ser o «nosso» sistema solar. Não temos acesso no público, a maneira como olhavam suas relações, mais as relações internas da que seja para o espaço público e fique lá. a tudo mas, em cada parte que nos toca para a tua peça e entravam na sala, existia própria escultura, há imensos registos de viver, temos também um lado infinito, um percurso, isso tudo foi pensado? todas essas fases de trabalho. Exactamente… Eu acho que há um erro de que transportamos. Um lado infinito e um conceito. Site-specific é uma coisa que foi lado de medida, são estas duas coisas que Foi, foi pensado e até acho que, tratando-se A questão do domínio privado e público, feita para o momento, para aquele sítio transportamos em simultâneo. de uma peça tão escultórica, foi pensada mesmo dentro de um espaço de uma exclusivamente, como as palavras indicam. como um trompe l’oeil para que quem galeria, influenciou o teu projecto? Quanto à comercialização, tudo se vende Douglas Crimp afirmou: «the private entrasse na galeria não ter exactamente («... defies the gallery’s authority, e se compra.... domain of the artist’s studio could no a noção de como era a peça, de imediato, declares it a site of struggle. That the longer be the site of production...» Qual e a percepção se alterasse com a aproximação, terms of this struggle hinge in part on Faz mais sentido falar sobre a questão a importância criativa de a produção ser com ilusões ópticas de alguma maneira. questions of the private versus the public da memória. feita in loco, o próprio atelier ser Foi uma peça muito teatral. site of art willingness of the contested a galeria? institution…», Douglas Crimp) Da memória transportada, obviamente. Acho que foi muito importante essa Uma estrutura e uma partitura, por Quando perguntam «Como é o teu atelier?», encenação. O espaço de uma galeria é um espaço exemplo, estamos a falar de música, cada eu respondo como o Giacometti ao Breton: público. É um sítio que, na cidade ou no país vez que é transportada, que é recriada por «dois pés que andam». Esse é o atelier… Essa montagem foi fundamental... Encostar a onde está inserido, tem uma acção e alguma um autor, há outras variantes que são escultura quase ao fundo, dando a sensação voz pública, qualquer que ela seja.
X+ I Entrevista José Pedro Croft / PT. 152/153 Nesse sentido, o gesto de um artista numa galeria é político.
Ao fim de quase sete anos, a Appleton Square adquiriu um posicionamento muito específico no meio da arte. Parece-te claro o seu estatuto? Terão as características específicas de que aqui falámos contribuído para a afirmação da Appleton Square?
A ética dá um sentido ao trabalho, que é fundamental. A Appleton Square tem “A ética dá um sentido uma característica muito boa que é o seu ao trabalho, que é carácter experimental, não só nos trabalhos de exposição mas também em todas as fundamental. A Appleton outras actividades paralelas ao trabalho de Square tem uma exposição. Sete anos são sete anos, portanto, tendo um carácter experimental, há sempre característica muito boa portas que se abrem e se fecham. Para continuar a ser experimental, se calhar tem que é o seu carácter de mudar, mantendo essa dinâmica… experimental, não só nos
E chamam-lhe espaço de projecto, achas trabalhos de exposição que é adequado? mas também em todas Acho que é irrelevante, o projecto é as outras actividades arquitectura ou engenharia, costuma-se paralelas ao trabalho de chamar projecto a uma obra em potência, que ainda não está concretizada, nesse exposição” sentido não. A Appleton Square agarra e concretiza projectos, o que é completamente diferente de ser um espaço de projecto. As exposições estão sempre de partida, estão sempre com as malas feitas, e essa dinâmica de estar sempre com as malas feitas, porque é preciso estar sempre a mudar, é importante. De uma maneira clara, a Appleton Square está no mapa português.
Acho que temos de ter mais ambições, evoluir, estamos num novo ciclo. Na transcrição das entrevistas não se adoptou Num novo ciclo, outro virar. o novo acordo ortográfico
X+ I Entrevista José Pedro Croft / PT. 154/155 Function dysfunction: an affectology a certain modernist theoretical will – of Appleton Square is the group of people which Clement Greenberg was undoubtedly who have transformed it into a place of the most significant proponent –, dogmatic in culture and of the cultural in Lisbon over of an (un)common space (2014) the certainty that art should focus upon itself, the past ten years. It is a relational space, Ana Cristina Cachola upon its own formal properties – colour, line, in which each thing that takes place is stroke, expression – in order to guarantee an anchored in the spatial and particularly aesthetic autonomy which would impede affective relations which are established intrusion by the market and political between the team, the artists, the curators institutions in artistic artefacts. Appleton and the audience. The flexibility of this Square adopted this ideological genealogy in place, which contrasts with the fixity of he invention of a (public) space With regard to the commemoration of its constitution, deconstructing it at all times the white cube in all aspects, broadens – or at least, of a relevant one – the tenth anniversary of Appleton Square, in its programming, ensuring that previous the already wide range of possibilities Tis based upon a formalisation and I wrote the following in April 2017: exercises in institutional critique which were offered by a territory which rejects firmly ritualisation which names, identifies, “Appleton Square is not (just) an art gallery. still so necessary would not be depleted. held positions. Appleton Square emerges reproduces and reinvents it as a specific The first phrase to appear in the description as a chameleon transforming itself in place. This specificity must simultaneously of this space, which is now celebrating 10 Appleton Square is the range of activities accordance with whatever is placed on its encompass a unique, unrepeatable identity, years of life, is the most concise formula developed in it, which do not adhere to walls, floor and ceiling. Its function is a which constitutes it as an (un)common to attempt to describe a place which has exclusivist dynamics (one such example dysfunction which is constantly guided by territory for the community it serves. hosted various programmes throughout is the commercial/non-commercial dialogue and affections. It is no coincidence The performative apparatus surrounding the last decade, which while different have divide or the differentiation between that, since April, the names of all those who the invention of spaces, their architectural adhered to a single programmatic line: to visual and performative arts), which are have worked at Appleton Square have been construction and reconstruction, the produce the contemporary through artistic unidisciplinary with regard to artistic inscribed on its door. activities which take place within them creation, critical thought and conviviality.” expression, but simultaneously do not shy – as well as those which haven’t –, and the Appleton Square is therefore far more than away from ethical and political positioning. Appleton Square is Vera Appleton. It was affections which circulate within them are this, and certainly cannot be summarised The inclusion of different practices and Vera who conceived of this space, and who fundamentally dependent upon what the by means of the perpetually insufficient partnerships with other artistic and implemented and created it tirelessly every space is and represents for all those who written (or spoken) word. academic institutions contribute to this day of the last ten years. It was Vera who, frequent it. interdisciplinary dimension which goes in her time in the Academy, continued First of all, Appleton Square is, in its built far beyond a descriptive slogan and is to reflect upon Appleton Square, with a The impossibility of compressing the form, a perfect white cube. Both within embodied in the continual statutory Master’s dissertation entitled Appleton representation of a place into a narrative and beyond the artistic system, there has renovation of the programming method. Square: site-specific e a dinâmica de um conceito straitjacket, when it is located on a territory been much discussion of the ideology While on the one hand, the vast majority of [Appleton Square: site-specific and the dynamic resulting necessarily from an extended and axiology of this concept coined (and programming in this space over the past ten of a concept], submitted to the Universidade production of meanings dependent upon its critiqued) by Brian O’Doherty in 1976. years has focused on individual exhibitions Católica Portuguesa in 2015. With great viewers and participants, obliges this place The theory posited by the author concerns by Portuguese artists with groundbreaking courage and critical proficiency, Appleton to be many things. Its meaning is always a the neutral intention of the post-modern projects, on the other hand it has never returns to the concept of site-specific, practice negotiated in the uncertain flows architecture of artistic exhibitions: the excluded other formulations, nationalities without fearing its genealogical complexity of sociability and contextual radication. modern gallery or museum is almost always and intentions. There is something (and anachronism?) nor the immense Consequently, a place holds meaning in the in the form of a cube (or substituted by a profoundly radicant in the programming at theoretical footprint which the concept and open field of interpretation, in the complex different geometry) with sealed windows, Appleton Square, to use Nicolas Bourriaud’s its practice have produced since the 1960s. and often contradictory voice of a multiple painted white, clean, with no type of formal concept describing those who radically do otherness. It is in this enlarged field of contrivance, in such a way as to exorcise any not trouble themselves with going back, Site-specific works focused on presence, meaning and affections that Appleton experience which is not purely aesthetic. who choose paths even if they do not have even when they are ephemeral and Square is what it is. This illusion descends from a place to return to. constantly subject to disappearance
X+ I Ana Cristina Cachola / ENG. 156/157 or destruction, continue to act on the question-and-answer game that Appleton Interview with Susana Mendes Silva contemporary artistic field. While Square and its affectology begin to be historiography tells us that site-specific discerned, along with the map of affections (2014) / Square Disorder (2008) interventions quickly transformed from which it declines and extends. marginal practices to focuses of attention for modern and contemporary art museums Appleton Square is an uncommon place Susana, before you worked on In your opinion, is Appleton Square (as well as for other exhibitors), it also due to the activist community it succeeds the exhibition, what was your closer to a gallery or an institution? reveals that the concept beyond this in bringing together, the diversity of the understanding of the Appleton Square remains rather nebulous. Initially, the proposals it offers, and the way in which the project? Was its special status clear I don’t think it’s either because an site-specific was presented as an aesthetic artists are involved in this place. Appleton to you? institution, the word institution, always experience, originating in a particular era Square is a unique place. The interviews carries a much heavier, more formal weight. linked to strong ideological convictions conducted by Vera Appleton provide Yes, I already knew the space. I had come And a gallery has a whole list of obligations and actions of institutional critique. But, irrefutable proof of this. to several exhibitions here and if by special to fulfil, has to hold exhibitions with shortly after, the term metamorphosed and/ status you mean the fact that it is not a a certain frequency, has to go to fairs or found substitutes which continue to gallery, yes, that always interested me, and has all these other obligations. problematise artistic creation processed in besides the fact that it was the only real So I think Appleton Square is a different relation to a specific space, whether or not white cube in Lisbon. space, a bit closer to a project like the this is associated to political motivations. “Appleton Square is an Kunsthalle Lissabon, an exhibition space, Setting aside value judgements regarding It made sense to you, of course, the a space for projects, which is neither a the various meanings which the concept uncommon place due to physical, spatial element. And the fact gallery nor an institution. gained or lost throughout its use, it is clear the activist community that the Appleton Square production that it if it is relevant to Vera’s research, it is support budget is relatively low So would you say Appleton Square, also relevant to Appleton Square. it succeeds in bringing and often adapted to the specific in its more general scope, is a together, the diversity of characteristics of an artistic production site-specific project? Vera Appleton’s work makes use of various without pre-defined rules, did this critical and analytical tools: a careful the proposals it offers, and influence how you approached your Many artists worked on this understanding bibliographic and theoretical review, the way in which the artists creative act? and understood the space as site-specific, a critical interrogation of concepts prior but not all. And a space that invites artists to and following the site-specific, and are involved in this place. No. What I ended up doing had a very small to work on something site-specific is itself interviews with some of the artists who budget, but not because of this limitation. something interesting. established a particular relationship with Appleton Square is the physical and symbolic space which is a unique place” Appleton Square is not a commercial So, if the nature of the space has such an Appleton Square: Susana Mendes Silva, gallery but it is still possible to sell impact on the concept of an exhibition Pedro Cabrita Reis, Nuno Sousa Vieira and the exhibited work. Did this somehow project, what do you think about the José Pedro Croft. In the words of Iwona affect your artistic thinking physical conditions for exhibitions at Blazwick in her essay An anatomy of the and intentions? Appleton Square? interview, the interview is an “irresistible” format, which is essential to historical No. In fact, the work I did at Appleton In my case, as you know, the work narrative as well as in witnessing Square was eventually bought by a I exhibited here in particular emerged relationships developed in close proximity collector. In view of the Portuguese scene, from space, as a lot of my work does, from through the creation of dialogue. It is I truly never thought the piece would sell. geographic space and the nature of a specific these four interviews which form part of But it’s often like that: the pieces I think space itself – its structure, its typology, and this volume and which will undoubtedly people will find interesting but won’t have sometimes the memory of spaces, of people represent one of its core sections. It is in this the courage to buy end up getting sold. who inhabited them or passed by. And so
X+ I Interview with Susana Mendes Silva / ENG. 158/159 Square Disorder arose from the context of the senses, and boredom. In these arenas Yes, that’s true. A little while ago, we could be around 40x50, but it’s actually the room upstairs at Appleton Square, the order (the audience) assays what quotas were talking about this and I’m going 40x60 because the space is quite elongated. main showroom. So yes, the characteristics of disorder it can stand. Such places are, to quote Richard Serra to you now: “To If it were any longer, like a 40x70 rectangle, of space have determined my work... But then, metaphors for consciousness and remove the work is to destroy it.” I’m for example, it would ruin the idea of the it’s not a matter of it necessarily having to revolution. The spectator is invited into curious what you think about that. piece because it would create a very wide be easy or difficult for me. It was a matter a space where the act of approach is Was your work designed exclusively space where people could pass through of deciding to develop work based on that turned back on itself.” Does this apply for this space? Is it repeatable in other almost without touching. The piece should space because I wanted to embrace this to what happened with your project? circumstances? What is going on with always be related to our human scale and project. Whether it was difficult or not the Leal Rios Foundation, with Rectangle therefore the mesh should never be widened wasn’t important. With Square Disorder, this idea of the room Disorder, did you just give it another so people’s bodies don’t touch it. Now, on “turning back on itself” doesn’t happen. name? Or is it another piece? the question of whether it’s another piece Brian O’Doherty said that “With Because, as the work embraces all the space, or not, and that João Seguro also mentioned postmodernism, the gallery space is you only see it if you enter into it, and when That statement from Richard Serra is very in the conversation yesterday... well, let’s no longer ‘neutral’. The wall becomes you enter into it, you are touched by it. That important. It was important in the sense of call it a twin piece because I think it turned a membrane through which esthetic is to say, the work itself perverts and raises defining that whole question of site-specific out different in the end. The original piece and commercial values osmotically questions about what this space called a art. However, if we think today of the many is Square Disorder. This is an adaptation to exchange.” Does a white cube complicate white cube really is and in that sense, that’s works that we call site-specific, they’re that space, which also has that structure of or facilitate the creative process? the result, that’s what this installation with actually more context-specific or context- white cube: a long, white room with that people inside and becoming something related. But this phrase, or what they call type of light and all those architectural Well, in this particular case, the fact that performative ends up questioning. João kontext kunst in German, got a really “bad mannerisms... but then there are some it was a white cube was the beginning of Seguro talked about this when he wrote the reputation” after various events in the 1990s characteristics that change your perception everything, so for me it’s not a matter of text – about this question of institutional and fell into disuse. But if you make a piece of the space, like the fact that it is a very facilitation, but rather the source where criticism that the work ended up having. for a specific place and only for that place, it long room, huge, like 20 meters long. things came from, so I can’t say that it made These questions are raised, but then what indeed may not make sense anywhere else. This creates very long corridors, which is it easier or more difficult either. happens to the public is completely different, But in this case, I made a piece that was not something that didn’t happen here, and the public doesn’t have that distance of just for this space alone. In the sense that I clearly a square space is very different from Ok. But, in your opinion, do you think contemplation and has to actually be inside used this space as a model, then this piece a rectangular space. Even the perception a white cube complicates or facilitates the piece or else it doesn’t exist. can also work in other white cubes similar of scale and size is different. If we think the creative process? to this one. This work is not intended to live of a long narrow rectangular space, it’s I’ve never thought about that in relation in another type of space though. In other always different from a rectangular space I think it always depends on the project to your work, this question of one never words, it is “white cube-specific”. that is closer to a square. So the Leal Rios at hand and what we want to do. In fact, being able to simply observe it. There can Foundation bought the piece, Square as you know in my work, there are many be no real spectator to your piece. There So Square Disorder has to exist in a white Disorder, but that it is my adaptation to that things made for really strange spaces like is only someone who lives the piece, who cube. Do you consider the Leal Rios specific space. bathrooms or rooms that no one wants any is inside it. Foundation a white cube? more, such as in Maus Hábitos [Bad Habits], But when you define it as another piece, in Porto, where I used the old boiler room, Because, in art, you always have that The Leal Rios Foundation is a version of does it take on an intrinsic value as a which was very narrow. idea that things are there for your white cube because it is a parallelepiped unique piece? Or do you assume that this contemplation, but here you can never and, because of this, I had to transform the is an adaptation that was requested by Brian O’Doherty also said: “Classic attain the totality of the work. What you see work for exhibition in that space. The mesh the collector who bought the piece, who avant-garde hostility expresses itself is a void, but what you feel is a presence. on the ceiling, that is, the part that suspends has a right to see it adapted, but that, [...] by removing perceptual constants Do you remember how even after the piece the piece, instead of being a grid actually in truth, it is unrepeatable, bringing us (the gallery space). Common to all are was dismantled, it seemed that it was still replicates the plan and structure of the back to Richard Serra, and that you really transgressions of logic, dissociation of here, like a ghost? space, and it becomes rectangular. The space destroyed Rectangle Disorder...
X+ I Interview with Susana Mendes Silva / ENG. 160/161 Well, this is a relatively easy matter to But couldn’t this be something things. It’s great to have a studio. When just kind of die? And I said that yeah, that’s solve while the artists are alive, but when indicated in the Manual, like “adapt this Fine Arts students come on study visits, as the risk I’m running. But here it wasn’t so the artists are no longer alive it’s more piece to your space by using the floor happened recently, I have nothing to show extreme, because the piece was being built complicated.For all intents and purposes, we plan for the mesh”? them in the classical sense. That is, I am not on site and some people came in, so I could sell the piece with the instructions and the there painting and I’m not there in overalls see how that went. However, there was one video that explains how to put it together, No, because that takes away my power sculpting stone. So then the studio becomes thing which I had never thought of, from and that it is for a specific space with certain and authority over the piece. Imagine a place of conversation, where I can show the various reactions I was able to gauge characteristics and has that mesh, etc. if they asked someone else to change you things and vestiges of installations. from the two experiments and the assembly An adaptation can only be made by me and something and they made a mistake. When they were there, I showed them process, and that I only noticed later. And no one else. But imagine I die tomorrow Because, right now, the piece belongs to the some hair that had been assembled, which that was the whole issue of physical touch (hopefully not), the Foundation can’t repeat Foundation, but imagine that because of wasn’t much, but it was enough to start a and the erotic side that some people felt. that piece again. some unpredictable event the Foundation conversation along with some drawings and It was summer and people had fewer clothes sold it. Then what would happen? That’s models and other things I was doing. But I on, which, for example, is not the case Well, it can only repeat it in a space a precedent the artist mustn’t set... So, it think the workspace can be anywhere. now at the Leal Rios Foundation, because like Appleton Square, is that what was defined in the manual that if the piece It depends on the project. For me it can even we are in the middle of winter and people you’re saying? was reinstalled by someone other than me, be on the street because there is always have coats and things. And so, because it would have to be in a setting similar to a lot of research work. I’ve always said it was summer and people were wearing Yes. Appleton Square. my workspace is anywhere it can be and short-sleeves or sleeveless tops, they were wherever it needs to be. really touched by the piece and it was very With the dimensions of Appleton Square? Douglas Crimp said: “The private domain powerful. But those impressions changed of the artist’s studio could no longer be When designing the project, did you later. But I had never thought of that side It doesn’t have to be the exact same the site of production...” What is the intend to use the specificity of the space to until yesterday, with the conversation with measurements, but it has to be a square space. creative importance of the production generate a certain reaction in the public? João Seguro and the text of Pedro de Llano being done in situ, with the gallery itself that talks about this issue of hair as a fetish. So Rectangle Disorder would be being the studio? I had twice done some experiments at This is something that happened afterwards, impossible if you weren’t around? Goldsmiths College, but they were much not something I predicted. I didn’t use the smaller spaces with a ratio of 3 x 3 m at hair with that connotation. I used the hair Suppose they bought the piece and I most... tiny studio spaces that that were because it was a material that was different disappeared. If they wanted to exhibit the “While I still think the real kind of like a white cube – the Goldsmiths to string. It has a movement, a lightness, piece, fine, but they couldn’t do it in that new studios have white walls like stands at art a subtlety. It also has an organic side, even way. They needed me around, of course. studio is in my head, today fairs – and the reaction I had there already though it is actually artificial in this case. I have an actual physical gave me some indication. The idea of seeing The replica is almost perfect and, in fact, Because, in the end, this was a new what exactly would happen and the whole is very different from nylon, although it is creation of yours, right? Was it a new studio” question of the performativity of people, from the same family of materials, because creative act? I could only see that here. To see how nylon is a much more rigid material. people actually react to the material when This actually created waves, here, in the From the piece that was made here, which This is very important to me. For a long they realize what it was. You can never installation because it seemed that the was for this type of space, with a square time, I had no studio and I was working in foresee the public’s reaction. But I often hair curled up more and changed with plan, yes. I adapted it to that new space, with spaces at home or wherever I was, and my do projects, such as the one involving moisture. Yesterday, for example, I thought a different height and doors. studio was kind of inside my head. While the Santa Justa Lift, where I ask people to that the hair was much higher, that is, the I still think the real studio is in my head, participate and, if they don’t really get into installation changes with the humidity... And all this isn’t indicated in the Manual? today I have an actual physical studio. The it, the project comes to nothing. In fact, a And also with the drafts of air and things physical space is big and I’m lucky to have journalist once asked me whether if no one like that, something which wouldn’t No. somewhere where I can go to think or do participated in a project, would the project happen with another type of material.
X+ I Interview with Susana Mendes Silva / ENG. 162/163 Has the issue of the private and public In a performative act that you generate you just can’t do, right? I remember those domain, even within a gallery space, with the public. performances by Pedro Diniz Reis. It would influenced your project? (“... defies the be difficult to have done them in another “This space has allowed gallery’s authority, declares it a site of Exactly. That was the most interesting part. type of space. projects to happen struggle. That the terms of this struggle hinge in part on questions of the private And in fact, because you see the But are you talking about physical that perhaps wouldn’t versus the public site of art willingness installation better when there is characteristics, about the quality of space otherwise. And when of the contested institution ...”, movement, it actually becomes less available? Or just that it’s not so easy Douglas Crimp). invisible. because commercial galleries are more I say projects, I don’t closed to such things? This project could never be done in Exactly, that’s what she was saying. I just mean exhibitions... a public space. It is not like that piece by t becomes less invisible and begins to take I don’t know if it’s only that. Because there I’m also talking about Jesús Rafael Soto, which has a structure on other forms, it becomes transformed and are many galleries that have good physical with a series of hanging strings made of suddenly the hairs might get all tangled characteristics, but there needs to be the performances, concerts coloured plastic, I think, which people up or people create a path or groups create intellectual resources to perceive and and other things that have walk and play amongst and can be seen certain dynamics. understand and give space to the artists from outside. Those strings were quite to be able to do things. For example, happened in the field of strong and children could play around and Basically, the life of the piece, which is I remember that when you invited me, the visual arts and that swing on them like curtains. Because of its one of the qualities of the work, depends we had a meeting and I explained what fragility, Square Disorder is a piece that was on the interaction with the public? I was going to do, but I didn’t even bring often can’t find a space always intended to be within this space. a drawing or anything and I was saying it The question of whether to “defy authority” Exactly. was a bit of a crazy idea and that I wasn’t elsewhere” or not we spoke about a while ago... really sure myself if it would work, but that because of its very nature, both the space After almost seven years, Appleton I was going to do some tests... remember? and the work, the two are deeply fused, you Square has acquired a very specific And you were delighted with the idea. It’s can’t have one without the other. So here, positioning in the art scene. Does its like, how many people out there do that, I think the question of the public and the status seem clear to you now, many you know what I mean? It’s difficult because private doesn’t really arise. Anyway, for me, years since your exhibition? Have the most people want to see things and there is all art ends up becoming public, because specific features we have discussed here no room for a surprise like this construction either it is exhibited publicly or it ceases to enhanced Appleton Square’s standing in because it’s not easy for people to believe exist. It’s in a private space, but if anyone your view? in you and follow ideas that are still being can enter it’s public. The relationship with developed. They want the baby already the public interests me a lot. So much so I think so, because this space has allowed made and don’t have much interest in the that, for me, many times the public are projects to happen that perhaps wouldn’t gestation period. And then what other actually participants, and not just in the otherwise. And when I say projects, I don’t people, other artists tell me is that here, in sense of being a “participant” in quotation just mean exhibitions... I’m also talking the relationship with you, artists and even marks, but that if they are not there, the about performances, concerts and other curators are able to develop this period of project doesn’t exist. Yesterday, someone things that have happened in the field of the gestation, this procedural part, right? said something very interesting in the visual arts and that often can’t find a space Which is very interesting and very conversation: I never wanted to come elsewhere. You can count on one hand the important, because this is the only way for here alone because what I liked the most, number of galleries that are available for certain projects to happen. Otherwise they besides enjoying the piece a lot, was seeing these more open practices. Although there never do, they never see the light of day. the people inside, and the way they move are alternative spaces, they often don’t have and how they interact. adequate facilities. So there are some things
X+ I Interview with Susana Mendes Silva / ENG. 164/165 Interview with Pedro Cabrita Reis this or that work. As far as I am concerned, will make their work more attractive from Appleton was an exemplary case in that the commercial point of view. (2014) / Unveiled Revealed (2010) sense and this work is one that has and will always have a very strong presence for me. So, in your opinion, is Appleton Square Not only because of the work itself, but closer to a gallery or an institution? also because of the conditions, the whole Pedro, before you worked on the it was only experienced by a small group of human, logistical landscape that unfolded I don’t think of Appleton as either. Because exhibition, what was your understanding people who participated, observed or attended. around it. And the outcome was one that I it’s clearly not a commercial gallery. of the Appleton Square project? Was its The ruins resulted from that moment. But it was very pleased with. It doesn’t have that kind of intention and special status clear to you? is also through perceiving and attempting doesn’t seem to have had that as part of its to discover a meaning for the ruins that we Appleton Square is not a commercial strategy since the beginning. And it’s not From the outset, Appleton Square has can approach an understanding of history. gallery but it is still possible to sell the an institution either. An institution is the been a very well-designed space with a We construct a possible text, any narrative, exhibited work. Did this somehow affect Gulbenkian, the Serralves, the Culturgest. real formal rigour. The way the space is a territory of understanding from displaced, your artistic thinking? Those are institutions. There is room for constructed gives it a very strong internal dis-integrated fragments. When we try to a place like Appleton Square, as a place of unity, which in some way spurred me on to reconstruct all these small points, these tiny In no way. And I’m used to not selling, even experimentation, as a territory where in an confront that. I wanted to bring to the space and fragile illuminations, what we are doing in the commercial galleries. Places create enthusiastic, rigorous and permanent way, a criticism of its architectural rigour with an is trying to make sense of history and all the a reputation through their practice, and in the public is presented with experiences intervention that had the character of acts that we imagine, in their sequence, have the case of Appleton Square, I think it’s a and works that would probably not be seen a total intervention. Total in the sense that brought us up to the present. So the moment reputation that will always interest artists otherwise. That’s how I think of Appleton not only was there a need to reconfigure this the viewer is confronted with the work to present their work there. The fact that Square. I have the feeling that, regardless formal spatial balance and harmony with somehow mimics the historical process. it is not a commercial gallery or the fact of the type of projects that Appleton has a “violent” action, but also to bring together that the work may not generate revenue hosted and shown to the public, the truth a number of circumstances and a minority And the fact that the Appleton Square shouldn’t be seen as a constraint because is that these projects end up having a of small elements which, in addition to production support budget is relatively Appleton Square has a reputation for common denominator as situations built in the destruction carried out on the cube, low and often adapted to the specific being a place of experimentation. Places of a particular way and to present a particular would include a mapping of points of characteristics of an artistic production experimentation have a privileged, perhaps type of work. If artists feel compelled to departure to other sides. The criticism of without pre-defined rules, did this even superior status to commercial places. come up with a way to make a return on the architecture was juxtaposed with the influence your creative approach? Appleton Square has moral and ethical their investment, that’s a valid concern “transporting” of the studio, with a studio- capital among the artists that a commercial and there’s no reason to question it, but we based autobiography. This kind of thing happens at Appleton gallery doesn’t and so I don’t think there are have to bear in mind that Appleton Square, and at the Tate Modern. It’s all part of the many problems in finding artists willing to from the outset, has never misled anyone So, in relation to the first question, was process, of the modus operandi of every show their work in a space like that. There about its functions, its perspectives and the strength of the project related to space where art is exhibited. We must are many ways and places to make money, its programmatic intentions. So an artist questions of physical space, basically? always take into account the circumstances but there probably aren’t many places putting on a project at Appleton Square of reality, what we call reality. Among these, where you can develop a project in such an must be aware that it’s not a commercial Inevitably. In the particular case of the necessarily, are the financial arrangements open way, precisely because of the lack of gallery and that if they eventually want to intervention at Appleton Square, the that allow an artist to express in a more commercial obligations. While it’s true that sell their work it will probably be their own performative component was important. or less perfect way what they intend to the artist is given absolute freedom and isn’t responsibility, not of the organisers of the It was a component of the work of which accomplish. In the case of Appleton, I don’t subject to any kind of constraint, which we space itself. only traces would remain, but which to me remember having any financial constraints. know is part of the logic of a commercial was part of the understanding of the work For an artist, it’s fundamental to know from gallery, artists naturally feel much more If the nature of the space has such an as a whole. It was a moment that, despite its the outset that, as far as possible, there are room to move and much more stimulated impact on the concept of an exhibition violence, was intimate if we keep in mind that no limitations on the desire, the will to do because they don’t have to weigh up what project, what do you think about the
X+ I Interview with Pedro Cabrita Reis / ENG. 166/167 physical conditions for exhibitions at and a space in which this artist proposes to academically integrated into the discourse a time of very rich change, the consequences Appleton Square? work, no relationships like the ones you’ve of history as well as the history and practice of which we still feel today. described are established. of the visual arts. Today, it’s inconceivable We have talked about this before. I would that breaking the walls of a gallery would be Richard Serra said “to remove the work say that one of the most interesting things, hing that is relevant and interesting here is seen as a transgressive act. On the contrary... is to destroy it”. I know that your work and this may seem quite subjective, is the precisely that very delicate inner process in was designed for that space, but is it question of the divina proportione. While the which the relation between artist and space You don’t think so? repeatable in other circumstances? space at Appleton Square obviously doesn’t is interwoven and suggested by the spirit have a physical construction or formal of the artist revealed in the work. There is No, I think it’s an act that emerges The piece is not repeatable, but the design based on any particular or esoteric no way to establish degrees of complexity from a long history of happenings, of programme is, of course. This statement proportion or golden rule, it still has a in relation to the nature of the creative performances, of manifestations that from Serra is informed by a way of thinking particular harmony. It both is a cube and process. Like there are no bad spaces and constitute, in their sequence, a rather that is not revealed explicitly in what is said, isn’t. There is quite a lot of harmony in that no bad artists either. There are only artists dense and complex emergence. And for but in what lies behind it. I also think that kind of intermittent mental negotiation who can arouse more or less interest in the that reason, anything done that seems to change the setting of a work is to destroy that goes on when you’re looking at it and work they bring to us. And then of course to be similar in terms of its intentions, it. Now, this leads me directly to my current realize that it’s something like a cube, but there are the unknown number of people form and process, can no longer be thinking, which is that I’m not interested not. This kind of proportion, at least for me, who practice the fine arts, but may not understood as something revolutionary in producing work that has as a pre- was not only palpable, it was also one of the necessarily be artists themselves... But that’s in the contemporary context, but rather existing condition the nature of the space factors that really attracted me to the space. another topic... as something carried out on a pre-existing where it will be installed for the first time. Because, as we know, the cube is certainly semantic terrain, just like an oil painting That is, I’m not interested in site-specific a form with very particular characteristics. “Classic avant-garde hostility expresses is inscribed within the entire history of oil installations. I make sculptures and these And its particular dimensions, the identical itself [...] by removing perceptual painting. Since we are on this issue, I want sculptures can have different dimensions. nature of the edges, the bases and so on constants (the gallery space). Common to make it clear that I have no intention Some larger, some smaller. I just want to and their infinite sequencing have very to all are transgressions of logic, of being remembered as an avant-garde produce works that can be exhibited per se, particular implications, an ergonomics and dissociation of the senses, and boredom. artist or as an artist of ruptures. On the regardless of the physical circumstances of a way of constructing our relation with the In these arenas order (the audience) contrary, I consider myself a classical their setting. world. And that creates a rather seductive, assays what quotas of disorder it can artist in every sense of the word, even the problematic and challenging workspace. stand. Such places are, then, metaphors darkest sense. And the intervention I made So you’ve completely done away with the That is perhaps why I felt the urge to for consciousness and revolution. The at Appleton Square is just one more step in site-specific aspect? criticize it by destroying it completely. spectator is invited into a space where that direction, another part inscribed in this the act of approach is turned back on perspective I have of my work. It should be Exactly. This phrase from Serra is interesting, Brian O’Doherty said that “With itself.” Brian O’Doherty, Inside the White identified in the same line of thought as, for not because of what it says but for what it postmodernism, the gallery space is Cube. Does O’Doherty’s expression apply example, the sculptures I do with materials implies and how I read it. If you ask me again no longer ‘neutral’. The wall becomes to what happened with your project at found in the trash. The intervention at whether what I designed for the Appleton a membrane through which esthetic Appleton Square? Appleton Square is a sculpture whose Square space disappears from my work and commercial values osmotically dimensions coincide with the dimensions process because it disappeared physically, exchange.” Does a white cube complicate Well, this O’Doherty quote is from a text of the space itself. Space itself, architecture I’d say no, because with this work, the only or facilitate the creative process? from the early 70s and relates in particular itself are absorbed and, through an action thing that comes out of it is the programme. to the New York and Black Mountain that resulted in a revelatory process of the The programme that underlies this work: the In order to answer this question, we would College scene. It’s an environment that constitutive structure of that space, become way of looking at the space, the action carried have to spend some time looking at whether was innovative at the time and then, as is sculpture. I don’t believe that O’Doherty’s out, the construction and the contamination creative processes themselves are able to be always the case with avant-garde ruptures, vision applies to my intervention at of several levels, the contamination of the complicated or facilitated. I doubt that. But it became a discipline and method of Appleton Square. It’s clearly a vision that autobiographical space and of the works that aside, I would say that between an artist thought and action and gradually became applied to a particular historical moment... that came from the studio with things found
X+ I Interview with Pedro Cabrita Reis / ENG. 168/169 at random, with intervention in a territory. creative importance of the production Has the divide between the private and clear way, depending on how observant There is a very rich semantic density here that being done in situ, with the gallery itself public domain, even within a gallery they are, that there was a desire there to allows for many readings and that in the end is being the studio? space, influenced your project? (“... amalgamate everything. The office was a part just a programme of thought and action. defies the gallery’s authority, declares of the sculpture just like the walls that were it a site of struggle. That the terms of destroyed, just like the floor, just like the You spoke of the whole performative this struggle hinge in part on questions objects that were there for whatever reason. question that is part of the work, “By attacking the walls of the private versus the public site the destruction of the space which and intervening the way of art willingness of the contested After almost seven years, Appleton we recorded on video. This really institution...” Douglas Crimp) Square has acquired a very specific reminds us of this issue from the 60s of I did, the space became positioning in the art scene. Does its performances that disappeared and left a material for me” That work was strongly motivated to status seem clear to you? Have the only a record. In the end, is your project “reveal”’ or “unveil”, you might say. I had specific features we have discussed here at Appleton Square like that? With only the need to reveal not only the constructive enhanced Appleton Square’s standing in the record and images remaining? device of space, a revelation made by your view? Today, I think everything would be better the annulment of barriers, that is, the And the record turns out to be more than if we got used to the idea that there are walls, the borders that hide that which I think the answer to this is very simple. Yes. just a record. It turns out to be another no such borders any more. In fact, if is behind them from the public eye, but At the end of these seven years of activity, layer of the work. An imponderable layer, we want to be objectively rigorous, the also to reveal the process itself and the Appleton Square has unequivocally attained but one that has this somewhat perverse artist’s studio is his or her thinking. If we question of the permanence of the ruins this profile, at least within the Portuguese privilege of being the only way to perceive want to approach this question with the of the process in the exhibition setting. artistic community. It has a reputation as what happened at a given moment with a seriousness of a reading that we might call The setting was unveiled and, at the same a place that is a demanding, challenging given group of people. But it’s still true that “philosophical”, then if the artist’s studio time, retained the story of the process of and it will only be complete and retain seeing the record of a work is not actually is his thinking, we have to admit that its unveiling. It’s natural that such an act this character if it remains true to itself seeing the work. But I understand this as an the whole world is the store of materials. should immediately lead to a discussion as a place for challenges and understood enrichment and not as a detraction from the And I mean all over the world, whether in of the relationship between the public and as such by the artists who want to work original project. spaces objectively designated as spaces for private domains. In a metaphorical sense, there. I don’t think there is any doubt about exhibiting art – museums, public squares, even more than symbolic, the work ended this reputation today, at least among the But was this a site-specific project? galleries – or wherever the artist wants to up creating this kind of loss of references Portuguese artistic community. And, at least show his or her work. All this fades, and and ensuring that everything was part of for those who understand a little bit about A site-specific project... This question itself is these nuances end up making very little one single thing, which was intended in the these things, it definitely has a scope and interesting... It was a project in which I used sense, the differences between one and initial programme. To make all the various attitude that are very specific. There are the setting as another material to work with. the other tend to fade. Because, basically, levels of action implied there converge... no interventions or projects at Appleton By attacking the walls and intervening the regardless of the specific social or political Even with your office space becoming Square like those that would appear at way I did, the space became a material for context, they are all places that show what visible and having a view, which was not a commercial gallery, for example. me, like the text that was written on the wall, emerges from the artist’s studio, that is, the case before. like the objects I took from the studio. It can from the artist’s own thought and gaze. be understood as site-specific, not because it Therefore, I have never and will never feel It was an interesting situation for us, was conceived and made to fit the nature or constraints or differences in that sense. which we had never experienced and “There are no interventions measurements of the setting, but because the will never experience again, as now there or projects at Appleton place itself was understood as a material. When designing the project, did you is a visual barrier and you can’t see what is intend to use the specificity of the space to happening in the room... Square like those that Douglas Crimp said: “The private domain generate a certain reaction in the public? would appear at a of the artist’s studio could no longer be Anyone passing through that space would the site of production...” What is the No, not really. have to have some notion, in a more or less commercial gallery”
X+ I Interview with Pedro Cabrita Reis / ENG. 170/171 Interview with Nuno Sousa Vieira and this junction, this juxtaposition changes piece that had everything necessary to be it into something else. It’s not like it’s half considered a site-specific work. (2014) / Wall Stop For This (2012) of one thing and half of the other, but the programme you have defined is its thing, So you think it’s no longer site-specific? though it has an institutional nature, as you can see in the idea of developing exhibitions I don’t think it stopped being site-specific, Nuno, before you worked on the characteristics of an artistic production as exhibition projects that always have but I think the idea is compromised. My exhibition, what was your understanding without pre-defined rules, did this someone behind them, a curator, someone problem is that there was an initial idea of of the Appleton Square project? Was its influence your creative approach? who writes or someone accompanying what site-specific was, but when people talk special status clear to you? it. There are a number of characteristics about it, they’re not always talking about It did. I can’t work in a way that is totally that clearly come from a much more the same thing, it’s not a universal concept It was. I knew the project well because unrelated to people, spaces and their institutional side... in fact, if I had to opt for and it has several interpretations. And then I used to come here before, even before we characteristics. This project doesn’t work one of them, I’d go for an institution, though there is a set of theorists like Miwon Kwon met. I was an anonymous visitor that you in the same way anywhere else – there is a I don’t think that fits entirely. who claim there can be no site-specific in wouldn’t have noticed but I did come to basic idea, which can be gauged and tested white cubes, that a historical grounding is see things. I knew the project well. I knew elsewhere, but the experience proposed here So would you say Appleton Square, needed. But then, on the other hand, the both the space and its possibilities and the is unrepeatable. There are things that were generally, is a site-specific project? historical grounding is built... I like the idea project itself because it’s one that stands out. an integral part of this project that could not of site-specific and, above all, I really like the It is completely unique on the Portuguese be adapted in the same way to another place I have a very special affection for the site- idea of possibility. And that is at the heart of artistic scene and I was perfectly aware of that is different to here, with different space specific. It’s something I really like though this project. I think it incorporates that its potential. and people. I’m both very favourable and critical of this idea. I think the idea is extraordinary but idea. That’s probably why my Master’s thesis then, if we are purists about the idea Were these very specific characteristics Appleton Square is not a commercial reflects some of those concerns... I find it that was stipulated in the beginning it clear, or was it a project with gallery but it is still possible to sell the hard to define, and the more I researched becomes reductive. characteristics that were yet to be defined exhibited work. Did this somehow affect it, the more doubts I had about the concept for you? your artistic thinking and intentions? of site-specific. And even in relation to the If the nature of a space has such an more paradigmatic site-specific works, such impact on the concept of an exhibition The project has evolved. From the first No, not at all. When I am working, I think of as Richard Serra’s Tilted Arc, or the pieces project, what do you think about the project I developed there until the final the work, I think of the viewer as someone he developed with iron in the corners of physical conditions for exhibitions at project Wall stop for this, the project changed who is going to activate and experience my the Leo Castelli Gallery in 1969 in New Appleton Square? and evolved, even in terms of the relation work, but I don’t think of the buyer... so the York, which are now part of the MOCA, Los with the space itself. There were also things fact that a place is a commercial gallery that Angeles collection, the idea of site-specific is I will speak from the point of view of what that changed for operational and technical has a certain type of logic or an independent often lost. Polish artist Monika Sosnowska, I have done here. For me, Appleton Square reasons, or because they couldn’t be space that, at a certain point, incorporates who represented Poland at the 2007 Venice has the most extraordinarily difficult performed exactly the way I had intended. some of that logic is an organizational issue Biennale, created a piece called 1:1, in which spaces to work in. And I say extraordinarily For one reason or another, in all projects that, for me, doesn’t interfere. Once it’s this idea of a unique correspondence is difficult because the space is extraordinary, there are constraints that arise as projects been established it’s just a fact of life and it very strong, especially because of its huge on account of it being square. Everything are developed and there are ideas that gain doesn’t upset you. scale. The artist developed the piece in that is square is already perfectly ground and get bound up in the project’s complete harmony with the architecture of proportioned and balanced so anything you relationship to its setting. And in your opinion, is Appleton Square Poland’s Pavilion in the Giardini. The Venice put in there can unbalance it. Either you closer to a gallery or an institution? Biennale closed in October/November and are extremely careful and meticulous or the And the fact that the Appleton Square eight months later, she had a retrospective space will “collapse”, when you look at the production support budget is relatively It’s a hybrid really. It’s something that in Basel, a large solo exhibition that whole of the space, it can kind of fall over low and often adapted to the specific meets the requirements of both things, included that piece – the exact same because it’s unbalanced... It’s difficult to
X+ I Interview with Nuno Sousa Vieira / ENG. 172/173 balance something that is already balanced Common to all are transgressions of logic, but seeing the other, which is the artistic work designed for that specific space and when you are putting things in there, dissociation of the senses, and boredom. object. And there are these exchanges unrepeatable in other circumstances? you know? So there it is a confrontation, In these arenas order (the audience) and inversions of places that enhance the a conflict that generates some tensions assays what quotas of disorder it can questioning of each one of them. That’s where my problem with site-specific which I think are extremely enticing for the stand. Such places are, then, metaphors comes in. I don’t think so... I have another development of the work. for consciousness and revolution. The Transgressions of logic. work, which is also a wall and which was spectator is invited into a space where the developed for the White Pavilion. It’s called Brian O’Doherty said that “With act of approach is turned back on itself.” Exactly... to question each one. The space Visite-nos [Visit us]. Because of the nature postmodernism, the gallery space is This sentence serves as a pretext for you to doesn’t question itself but the spectators of the project, it wasn’t exhibited at the no longer ‘neutral’. The wall becomes speak specifically about your project and question the space where they find White Pavilion but was two years later in an a membrane through which esthetic how this applies to what happened to you themselves, within the exhibition space, exhibition I did in the Coimbra Visual Arts and commercial values osmotically at Appleton Square. and the space of the work and there are Circle. The piece was called Um atelier, uma exchange.” I was going to ask you these confrontations. So if I duplicate a sala de exposição, uma fábrica, nem sempre por whether a white cube complicates or room-like space, I am no longer duplicating esta ordem [A studio, an exhibition room, facilitates the creative process, which an exhibition space, I am duplicating a factory, not necessarily in that order]. is kind of connected to what you were “My project started from another space. The white cube is a typology I did the work for this space because there saying to me. the possibility that I, as of exhibition space that is very grounded was a set of characteristics that the space in the history of art of the last 50, 60 years of the Jardim da Sereia and the Coimbra In another passage from Inside the White a spectator, have to see and which, here in this project, I found to be Visual Arts Circle and the White Pavilion Cube, he also says that, ideally, it would be the space from outside, absolutely fertile territory for what I wanted in Lisbon had in common, which were good if you couldn’t even hear the footsteps to do. And then there is the second entrance architectural features and their relationship of the spectator, as if there was a possibility being inside one but seeing into the space itself – I enter the space and with the surrounding environment of experiencing the work in a place without then I enter it again – that is where I have – both had glazing, both were deployed spectators, where everything was a mental the other, which is the my exhibition, in the smaller space that in a Garden and both have circulation areas construction. That idea of white cube cannot artistic object” results from the overlap of these two spaces between the rooms. exist. There can be no pure white cube, which, fundamentally, are the same space. it’s just an idea. There are things, there are You found things in common, which people, some who enter, others who speak. In a space with different physical Yes, as if that exhibition was the made you transport the work. There’s always something happening, so this characteristics, I couldn’t develop anything exhibition... idea that it’s possible to idealize a space and that comes close to what I did here. It would Exactly. That is, if there were another keep it almost inviolate in relation to others be difficult because the space, the white Exactly... It’s like an exhibition inside an project with that wall, the wall that I built is a fragile idea. When a spectator enters to cube, is one of the few buildings with this exhibition: there is a first exhibition that is here, I could only build it here. However, see a work, it is compromised because if, for kind of modern exhibition space that we the exhibition space itself, and then there is a I could repeat the basic idea as long as example, another spectator enters, it’s always have. What I did here, somehow, was to second exhibition that, somehow, is what we the space meets a set of conditions that possible to have one spectator standing in make an ideal construction, itself an artistic expect when we go to see an exhibition. It’s I consider essential for the project. If those front of another, and one who says “excuse object, an object of experience, and for not just a space to look at. Though this could conditions aren’t met, it doesn’t make sense me” to get past, and all this is part of the that I duplicated the wall, which was the be part of it, it’s not what we expect... After for me to do it again. experience that is being built with those entry wall and separated and defined the seeing the space, the viewer then has the works and with that space. border. The project was born from an idea possibility to see it again, “re-question” what If you did do it again, would it be the of duplicating the entry wall. Rotating the entering an exhibition space can be, after same project or another? For the next question, I quote Brian entire entry wall made it visible as an object which they have access to the work itself. O’Doherty again: “Classic avant-garde within the space. My project started from I think it’d be the same project. I can have hostility expresses itself [...] by removing the possibility that I, as a spectator, have to Yes, so in your case, if Serra says that “to two exhibitions of the same work: one perceptual constants (the gallery space). see the space from outside, being inside one remove a work is to destroy it”, is your exhibition set up here, in which I establish
X+ I Interview with Nuno Sousa Vieira / ENG. 174/175 a relation of approximation and distance What, for me, is very important in this And this brings me to another question walls in a building. There is one thing that between the works but, if the space is exhibition is that you enter a space that is I was going to ask: Did the divide acts as a barrier there which is part of this different, it will be different because it a paradigmatic exhibition space from the between the private and public domain, project but belongs more to the White changes the context of the works exhibited idealised point of view (and that’s what a even within a gallery space, influence Pavilion project, even though the first time but its basic idea is the same. white cube is), and then you have a wall your project? the work was seen, it was here, because that is repeated and you recognise that you during the White Pavilion project it stayed Exhibitions travelling between museums have just passed through it. This makes me It had a huge, even brutal influence, because in the studio. There were some people who move from one space to another. think that, in theory, this is an absolutely you have this idea of private and public went to the studio, but there were also unrepeatable project. space expressed here in a very curious way people who didn’t see the piece and only because the work zone, which is the office saw pictures of it in the catalogue. And Even just because I don’t know many spaces area, the operational zone, is a zone that that’s a concern: to realize that, ultimately, “The exhibition is more that have a wall like this, that creates an precedes the gallery. all works belong to their studios, they are than just the works, an office-like area that you can see before the places where they originate, like a kind entering the exhibition space. You clearly Quoting Douglas Crimp, who said: of bed. exhibition is each of the see a wall that is simultaneously a border in “The private domain of the artist’s works in particular, but this space and kind of shows you the other studio could no longer be the site of So your wall belongs to Appleton Square side, the backstage, of the work. And the fact production...”, what is the creative then... also the relationships that that that space exists (the gallery) with this importance of the production being done space in front of it, which is a workspace, in situ, with the gallery itself being the those works establish with which apparently has nothing to do with studio? “Somehow in this project each other” art, really interests me. Here, there are questions of administration, contacts, Funny... Because there are a lot of things it was like I had two talking to people, dealing with productions that intersect in our investigations and in studios, Appleton Square that, if they didn’t exist, wouldn’t stop the our studies and what we believe in evolves. The exhibition is the same. It’s still the project going ahead, but would change it I don’t think the same as when I started and my own studio. But at same even if some works present in an into something else. doing research five years ago. It had a set of some point in the process, exhibition in one museum are not present understandings and definitions of certain in the next museum. Now, of course, there Incidentally, and this is something things that were much clearer than the Appleton Square ceases to are situations where the contexts of certain that interests me, in one of my projects ones I have today. I have more difficulty be the studio and becomes works, if we think in socio-political terms, from 2010, which was even called Don’t defining things now. At some point, you in very different contexts from ours, can underestimate the impact of the workplace, one begin to notice a set of connections that the exhibition space” gain certain kinds of meanings that may of the pieces from the exhibition wasn’t make things less clear. I am interested in lead to their withdrawal. even visible in the exhibition because it was this issue of the studio and the gallery, only visible in the director’s office. It was it is something that interests me a lot. That wall is here and the piece was made Because the exhibition is more than just the put there and what was on display in the What interests me specifically is this shift here, so it belongs here... this is something works, an exhibition is each of the works exhibition space was a poster that people between the categorisation of spaces and that will always remain, will always be in particular, but also the relationships could take with the image of what was in their inversion. coupled to this project. It is impossible that those works establish with each other. the director’s office. It is precisely this idea to separate that piece from that broader Sometimes, by changing one of these that none of it could exist without people. The exhibition at the White Pavilion, in context. I might try to simplify this question factors, the place and the way the works And in this case, what I wanted was to which there was a series of works that were by saying that the studio is the place where are arranged, the whole thing has to be make visible this side of the work, of the installed in the studio, including Razão I generally spend my time and that makes readjusted, rethought. And therein lies one people who don’t produce art, but who are número 1 [Reason number 1], which later it easier because, during the project, there of my problems with site-specific. absolutely vital for it to happen. became part of this project at Appleton, was a set of parts that I developed in my carries with it an idea of a number and of studio but simultaneously there was a
X+ I Interview with Nuno Sousa Vieira / ENG. 176/177 part of the project that I developed here in you created that niche people had to a project. It has been your work that has much of the work that I am going to do the exhibition space at Appleton Square. squeeze into. made Appleton Square, because a room results from what I have already done and Therefore, as the studio is the place where could be absolutely perfect but if you didn’t from the process of “re-questioning” some the work is done, where it is developed and Exactly, where spectators had to approach, do what you do, if it weren’t visible, the of those things. There are things that I tried where its origins are, even if later on it is where the spectator’s own role was space would not be what it is today. I find it to do and for which I had certain goals, set up in workshops or wherever else for questioned because the correct distance to particularly curious, almost like a metaphor, which turned out different from what I whatever technical or operational reasons, experience the works was not respected that before you see the exhibition, you see had intended. I have to look at this and the studio is the original place of study and and so the spectator’s presence became an your work space and I find it almost like understand how certain things are received thought. So somehow in this project it was integral part of the project. The spectator an inversion. I like that and that’s why this and that interests me, I’m interested in like I had two studios, Appleton Square and is an especially critical aspect here, given arrangement was part of my project. The putting all that in my work... my own studio. But at some point in the the characteristics of that smaller space Appleton Square project wouldn’t be the process, Appleton Square ceases to be the with a heavy concentration of works, where same without that hard work, commitment, Space is fundamental but spaces are made studio and becomes the exhibition space. It’s the presence of the other spectators and taste, desire, honesty and sincerity with by people, if there were no people, a certain a matter of time, something that gradually confrontation are very visible. This was also which you do everything. And even as the space wouldn’t exist in the same way. And emerges, because the public start to come reinforced by the mirrors that were part team changes, Appleton Square is Appleton if there was no such space but there was and the work gains a set of relations that are of the works. People could see themselves Square. The rest are things that Appleton that desire, there would be another space. unique to the exhibition space and are no and others spectators and there was a series Square brings in... the artists change, there The project would be different, but just as longer part of the studio or the work that of duplications and overlaps of things are some who come back and stay around. interesting. Even if it was in another place goes on there. that reinforce the role of every spectator’s And it’s funny how at the openings we entirely, in the course of these seven years it presence. If there was no public, those always see a number of artists who have would still have been a space renowned for When designing the project, did you mirrors would reflect nothing at all, because worked here before... I mean, nobody goes to its qualities and the quality of the projects intend to use the specificity of the space to we don’t see what they reflect. A bit like a place they don’t like, right? Not if they can that it developed and presented... it would generate a certain reaction in the public? the piece by Michelangelo Pistoletto, Cubic help it anyway... And if they cannot come have always been a unique space. And this Meter of Infinity, which is kind of a matter of to the opening, these artists will come and is produced by people. Spaces have a latent Personally, I am interested in the public’s mental projection. That is something I find see the exhibitions later. The whole idea potential, but people are more important. experience of the work. It’s an element absolutely extraordinary, but in my project here... We feel part of this project and this is that is reactive. I don’t do works to just it’s more an issue of physicality, more of the an achievement of your work and the way hold on to them. I don’t develop my work body, of physical masses. it’s done and made visible. I always think without wanting it to reach the public. that people are more important than the I work so I can relate to the public, provoke And here we are already at the last work itself. I prefer people to art, despite them. I want to interact with them, create question: after almost seven years, producing art and not people... an approximation. That for me is the most Appleton Square has acquired a very “Space is fundamental but interesting moment, when the works are specific positioning in the art scene. Does The work has to be about the person, accessed by the public. For good or bad, its status seem clear to you? Have the otherwise it wouldn’t make sense... spaces are made by people, a work is a confrontation and confrontation specific features we have discussed here if there were no people, is always violent. enhanced Appleton Square’s standing in I have a set of pieces and works which are your view? finished but that I don’t show and so they’re a certain space wouldn’t And that will always be your view, right? not part of my CV. As they haven’t yet been exist in the same way” I think what contributed to Appleton shown, sometimes for personal reasons, it Yes. It’s a confrontation. And a tense one Square’s standing, in the first place, was the means they haven’t yet gained an audience at that. work that you and your team developed, the and, without an audience, they haven’t choices you made, the honest way you dealt gained a territory either, so for me they You clearly intended to use the with people, because that means you’re are still embryonic and lack something. specificity, right? You built the wall, recognised and that is also part of Because, in the course of my artistic activity,
X+ I Interview with Nuno Sousa Vieira / ENG. 178/179 Interview with José Pedro Croft (2014) would be better not to share the production because I thought Appleton Square was costs with the gallery, without the gallery a gallery, and I didn’t want any ambiguity / Dois Desenhos, Uma Escultura (2012) assuming the responsibility for turning all in terms of the market or the public. It [Two Drawings, One Sculpture] (2012) this work into sales. was important to establish a link with the Filomena Soares Gallery. Appleton Square is not a commercial gallery but it is still possible to sell the To have a transparent relationship, José Pedro, before you worked on influence how you approached your exhibited work. Did this somehow affect because we operate on similar the exhibition, what was your creative act? your artistic thinking? principles? understanding of the Appleton Square project? Was its special status clear No. This was understood from the outset. Of course. Exactly. So that everything was clear and in to you? Even though I knew I didn’t have a accordance with the exclusivity agreement, budget for artistic production, I wanted So, in your opinion, is Appleton Square including sales. Yes and no. I always work according to the this exhibition to be ambitious. This was closer to a gallery or an institution? space... of an exhibition... and I knew that important for me at the time, which was So would you say Appleton Square, in its I wanted my work in the gallery space of a time of huge economic and financial For me, it’s a gallery, clearly, I have no doubt general scope, is a site-specific project? Appleton Square to be a gesture, to act as crisis, when selling anything seemed an about that. a single piece in direct relationship with the impossibility and there was a widespread I think there is a lot of confusion regarding architecture. I found a table that had really feeling of resignation. Many assumed the Now, there are as many galleries as there site-specific. I saw an exhibition by Richard interesting proportions. It was a table that principle of “if you don’t take too many are people who run them and each project Serra in Gagosian in which he works the wasn’t domestic, in the sense that it was six risks, then the disappointment can’t be too is unique. Some act on an international space according to the way the works are meters long and belonged to a chemistry great,” a situation where you are controlled stage, others are of a different generation installed. Any artist who works in a gallery laboratory in the Faculty of Sciences. It had by fear. My idea was the exact opposite: take and have completely different views of or museum project will naturally have to this presence, on the one hand, as a table care of production yourself. Don’t rely on the relationship between the artist and think about the space and spatial relations, with a human scale and, on the other hand, the Appleton Square gallery. In fact, during the gallery owner. So there are as many always working with or against the space, with these non-domestic dimensions. It was the six to eight months of the preparation of different galleries as there are people but never in a neutral or indifferent way. an object that carried the human together the exhibition and of that piece, it actually because, basically, it is always about human In my case, I did the sculpture for Appleton with the “collective” and I wanted it... to underwent enormous changes. I didn’t want relationships. Square, but it’s not site-specific. When participate... in the architecture. So, my first to get caught up in a programme, or in a I make pieces for the Filomena Soares idea was to cut it with a saw and to position pre-defined budget, that would tell me what What makes a gallery and makes me want Gallery, when I choose works, I choose the it in a corner of the gallery, so as to make the costs were. to have something to do with it – and I ones that, in my opinion, should go there. a diagonal in relation to the space. Then the have an exclusive relationship with the For example, one of the sculptures I showed idea evolved and gained autonomy as In a way, it gave you freedom. Filomena Soares Gallery – is not only in the last exhibition, I had already shown I continued to work it into the space, but having a working relationship, it is wanting in Arco and the drawings were drawings from a central point. Above all, I wanted it to It gave me freedom. I like to work without them to take care of things that I can’t. I do normally and the other wall sculptures be a clear gesture, instead of having several a safety net. That’s what freedom is. The sale is only a small part of the gallery’s were just wall sculptures that I was doing pieces making up the exhibition, I wanted a I don’t work very rationally in the sense work. Presenting the work, presenting it at the time. Then I chose the ten pieces that gesture that... would have a presence... of designing a project and then seeing it properly, promoting it properly, knowing spoke to each other in that space. This is not through coherently to the end. There are how to explain it, having a sense of what site-specific. And the fact that the Appleton Square a lot of changes as I muddle through. The my work is and what’s behind it – all production support budget is relatively contradictions become clearer while I solve these are matters that constitute and give As for the exhibition at Appleton Square, low and often adapted to the specific them, so it made no sense to order x pieces meaning to the work of a gallery. I wanted I used the gallery dimensions, 10 by 10 characteristics of an artistic production of glass and x pieces of wood because I knew a collaboration between Appleton Square metres. I went from one corner, drawing the without pre-defined rules, did this that I wouldn’t end up using them and it and the Filomena Soares Gallery precisely diagonal. But it wasn’t the walls of that space
X+ I Interview with José Pedro Croft / ENG. 180/181 specifically that interested me. They are spaces and, returning to galleries, there because the spaces are 10 by 10 metres, so metres in length. Somehow, it occupied the the same as any other. What I was working are galleries that are impressive but that with two steps you are already in the middle whole gallery space. When I then laid it on on were the synergies of that space, like in I wouldn’t work with, because the energy of the room. For a sculptor, this can be a a plinth, it created a relationship of coldness a studio. Because I work in a studio, I take behind them is too complicated. I think an problem, especially when you want to do and distance from the spectator, and the the spatial aspects into account. I make 50 artist should be responsible for his or her a “clear and large” gesture. I had to work on table began to play with the plinth, which sculptures (which are not site-specific) with gestures, and when you decide to make issues of optical illusion, of positioning, so had a similar design to the table, a curved the conditions that are there, the corners your gestures public, there are certain that when I entered the room I would feel shape, like a curved headboard. And then on and walls of the studio and the floor. When responsibilities. Everything in front and that the piece was “far away.” the other side was a mirror that destabilized I leave that floor and those walls, I go to behind the curtain is your responsibility, everything, not only the deconstructed another space and the sculpture has to work. you can’t turn a blind eye to anything. What “Classic avant-garde hostility expresses table, but the viewer who looked at it too. I do are gestures, whether on paper or in itself [...] by removing perceptual It was like a sinking ship, but I measured For you, site-specific is linked to the sculpture, so when I refer to the energy of constants (the gallery space). Common everything with the body, not abstract question of permanence? a space, I’m not talking about the energy to all are transgressions of logic, rationalising. It was always done in a very of that space as an architectural space, dissociation of the senses, and boredom. intuitive way, to leave the path, to destroy Exactly. because that is absolutely neutral, it has no In these arenas order (the audience) what was done and rebuild, to destroy it soul... what has a soul is the exhibitions that assays what quotas of disorder it can again and rebuild and then destroy it again. You spoke of your work in the were there before and the exhibitions that stand. Such places are, then, metaphors And suddenly there is an entire discourse Coruchéus gardens. followed, and the conditions in which we for consciousness and revolution. The in which all the emotions and everything began to work. spectator is invited into a space where that you’ve thought about and that went That one is site-specific. I’m thinking of site- the act of approach is turned back on through your head, the whole framework specific pieces like that of Walter De Maria In your opinion, does the fact that it is a itself.” Brian O’Doherty, Inside the White of a programme in the abstract – all of and that apartment he fills with earth. The white cube facilitate the creative process? Cube. Does O’Doherty’s expression apply that is explained and I become completely project was designed for that site in Soho. to what happened with your project at awestruck. Talking about this is trying to Or “The Broken Kilometer,” by the same It is more neutral than most galleries in Appleton Square? systematise how artwork functions, which artist, which is also in Soho. The site-specific Portugal. The example of Alda Cortez’s is an impossible task. implies a commitment to a space, otherwise gallery is interesting, a gallery that no What is it with you and theorists...? it is an “itinerant” site-specific. longer exists, which closed in 1997, and This becomes another issue, which is the which was just a corridor with a 10 metre But earlier you spoke about the issue invisibility of the work, which is very If the nature of the space has such an long wooden floor, but which worked of having to make your piece a little important to talk about. When one tries to impact on the concept of an exhibition with lots of artists like Ana Jotta, Pedro more distant, which has to do with its explain the work in a given context, it’s like project, what do you think about the Casqueiro, Miguel Branco, Jorge Queiroz. relationship to the viewer. Have you ever trying to amputate the work and withdraw physical conditions for exhibitions at This really shows that space, in reality, is thought about this? it from its senses. One only has access to Appleton Square? What is your opinion not a decisive factor. You find the right the work, which is fundamentally invisible, of that space? gesture for each reality. At Alda Cortez, As I was saying, what interested me was through experience and not through I presented some plaster benches, I did working with the limits of the space, the discourse. Discourse can give us Space is very important for me, but the several different exhibitions and found, each relationship with the human scale and how a framework, but when you’re in front main reason for accepting a project doesn’t time, a solution for the space. Art doesn’t people would walk around it. These were of the work, so many possibilities open up depend on the qualities of the space. I think come from easy solutions, it comes from a constant dilemma. We had an extension that it is impossible to get there through the qualities of the space are interesting, but constraints. My whole life I have worked of a table, the ruins of a table which was the discourse of the artist or others. not extraordinary. What led me to intervene with difficulties and constraints. The ability in very good condition. It was I who had there, and to accept your invitation with of creative people is to find solutions to cut it up into pieces and deconstructed it. We live in a very disturbed and confused pleasure, was the energy that space has, significant problems. It’s not an easy life. Somehow, there was a relationship with world in general terms, and the market your energy, which is the energy that you And the Appleton space is also one that the human scale because it was 80 cm high, can’t escape this either. “Collectors” buy put there. There are no good spaces or bad has its constraints, and this is interesting a scale that changes when the table is 6 signatures. They need an explanation in
X+ I Interview with José Pedro Croft / ENG. 182/183 order to have access to a work, because, Your work isn’t site-specific, and it is Syrian art section. You enter into a cavernous after 100 years, was transported to the without a compass, no one risks buying a work we have already seen elsewhere, section and it soon becomes a light-filled Academy and a replica was made, which is something and ending up with “nothing.” though I feel that Appleton Square was area. Everything is thought out. The the one in that square now... In this case we The perplexities, the fantastic, this perfect for that work. drawings, the light, the materials. And so this, can’t say that it’s site-specific. mysterious and wonderful side, there’s for me, is an installation, a way of showing no room for it. It doesn’t get recognised. That’s the way I feel too. that also fixes the works in that site. So we can say that the basis of site- For me, it’s a problem to be commenting specific is, in fact, that expression of on artists who write and who, in writing, I found it a bit chaotic in Badajoz. Another example is a sculpture I made Serra, “to remove is to destroy”? create limitations and give “explanations” for the Helga de Alvear gallery in Madrid, that justify their works. The works don’t But it took over the exhibition, even though where I started from the architectural Absolutely… allow a discourse to explain them, and the space had a larger area than Appleton elements of the space, in this case the irons, this is true of Botticelli and of Duchamp, Square. Also, at Appleton Square I did a to define the slope of the pieces. The pieces But can’t there be some contemporary and of the surrealists and the conceptual lot of work. I made a model and I had to worked like screens in relation to a part of variants which can be considered site- artists, even the harder conceptual artists measure the space several times. We did the architectural structure. Like trusses, specific...? like Donald Judd, for example, who abhors a pre-assembly two months before the say, made from iron. In this case, I wanted transcendence and the sublime. His works exhibition. It all took a lot of care and to work with spatial relations, although That takes away the meaning. I mean, let’s have a telluric charge. And that rigidity attention. this work was autonomous. Later it was be consistent: if a work belongs absolutely in the size of the cubes and the perfection installed in other spaces, for example, in the and radically to a place, then it cannot leave of their execution produce something The work is not destroyed, but there Cultural Centre of Belém and Cáceres. Like or it will cease to be that work. enigmatic, cryptic and inexplicable, almost is something that changes. Is there the work I did for Appleton Square, it’s not like an epiphany, which actually gives anything that changes in the work when site-specific. Imagine designing a chair in So, in your opinion, a site-specific work them a magical dimension. And without it is taken out of Appleton Square? which the fabric and the print are the same is not marketable, unless it’s for the experiencing it, there is no magic because as the curtains and the curtains have the public space and will stay there. magic only comes from actually living It existed autonomously. It existed here in same design as on the wallpaper... This chair something. And you can’t ignore that the studio already as an autonomous and works autonomously and when it leaves Exactly... I think there’s a mistake in the epiphanic dimension, because it’s present finished work. It was installed there, and it this space, it remains a chair that evokes the concept. Site-specific is something that and so complex and so inexplicable... existed and was intended for that space, but memory of the house where it originated, was done for the moment, for that site it’s what true artists give their lives to. not to stay there. for which it was created. exclusively, as the words indicate. As for marketing, everything is bought and sold... Richard Serra said “to remove the work I think the Gulbenkian Museum is a good But isn’t that what makes it site-specific? is to destroy the work”. I know that your example of the site-specific concept. It makes more sense to talk about the work was designed for that space, but is In the Gulbenkian Museum each piece has No. issue of memory. it repeatable in other circumstances? a display case that was designed to receive that piece and so, in some way, that Museum So if what you’re telling me is that a Of transported memory, for sure. If we take Yes. The work was developed for that space is designed as a journey through a collection. site-specific work is a work that is not the case of music, for example, every time in an impermanent way. I thought of that Like an installation. So in my opinion, it is transportable to another place, we return a structure and a score are transported, space in an impermanent way. It was a site-specific, while none of the works there to the question of permanence. recreated by another artist, unique contract, in which I thought of a piece that are. The Chinese porcelain display cases have variations are produced. It’s never the same. would be visible in that space for a month a certain shape for displaying those objects Yes. From the moment it becomes It’s also a matter of interpretation. It gets and a half, and then it would leave. And so, in “ideal” conditions. The display cases for transportable and doesn’t lose something or regularly updated, every 100 or 200 years. if I wanted to create something site-specific, the Middle Eastern silk garments have loses something and gains something else, it Listening to Beethoven in a comfortable which was an option, afterwards I’d have to a central rectangle and then they shrink like is not site-specific. For example, in the case room in the 20th century is very different to break the work into pieces and make a bed. the shoulders of a suit. The Egyptian section of Michelangelo’s David, a sculpture made listening in a palace in Vienna, Austria, in That would be the end of the site-specific. begins with granite to later receive the for a square in Florence and then which, a certain context, by candlelight. So there
X+ I Interview with José Pedro Croft / ENG. 184/185 is a context, in which you continually No, it can’t happen anywhere. Certain architecture, it would be more spectacular enhanced Appleton Square’s standing in recreate, improvise and create “new” music conditions must be met. Because there’s an but less serious. But as you know, we your view? on top of the fixed structure that is the idea that anything can happen in any space, worked on that piece for over a year. score. But the work still carries its memory as if all spaces were the same, and they’re Me, you and João. I don’t how many times Ethics give meaning to the work, which in its “DNA”. What we are aware of is only not at all the same. It’s as if all people were you came to check what state it was in. is fundamental. Appleton Square has one a small part of what exists; what we have the same and everything was disposable. very good feature which is its experimental access to here and now is only a small part It’s necessary to counteract and combat And I remember that spectacular staging in nature. Not only in the exhibited works of the whole. banalisation. To be selective, to waste time. the corner, but also the doubts... but in all the other activities that run You have to work like people who eat parallel to the work. Seven years are seven Just like reality doesn’t exist in an absolute slow-food. People who give themselves to It looked like it was almost finished, but also years, so with an experimental character, sense. It’s fragmented, the part contains the something can’t accept being disposable. like nothing was finished. It took courage there are always some doors that open whole... that’s what it’s all about. Basically, when it was “finished” to destroy everything and others that close. To continue being it’s like if from one end of the iceberg When designing the project, did you and start all over again, creating another experimental, maybe you have to change, I could intuit the rest that is forbidden to intend to use the specificity of the space context, bringing it to the centre, and while maintaining this dynamic... me. Because we have a very limited vision, to generate a certain reaction in the then making a base for it. It was day after but we know that the universe is much public? The way they looked at your day after day, weeks and months of work, And some people call it a project space, bigger than “our” solar system. We don’t piece and entered the room, there was not giving up until everything had the do you think this is appropriate? have access to everything, but in everything a pathway, was it all thought out and “correct” weight. The way it related to the we experience we bring an infinite aspect planned? architecture, as well as the internal relations I think it is irrelevant. A project is with us. An infinite aspect and a measured, of the sculpture itself. There are a lot of architecture or engineering. They often finite aspect are the two things we always It was. It was all deliberate and I even records of all these phases of the work. call a potential work a project, something have with us simultaneously. think that, as it’s such a sculptural piece, not yet realized, so in that sense it’s not it was planned as a trompe l’oeil, so that Has the divide between the private and appropriate. Appleton Square takes projects Douglas Crimp said: “The private domain anyone who entered the gallery wouldn’t public domain, even within a gallery and realises them, which is completely of the artist’s studio could no longer be immediately have a clear notion of what the space, influenced your project? (“... different to a project space. Exhibitions are the site of production...” What is the piece was like. And that their perception defies the gallery’s authority, declares always starting here, always ready to go. creative importance of the production would change as they approached the piece, it a site of struggle. That the terms of And this dynamic of always being ready being done in situ, with the gallery itself in some kind of optical illusion. It was a this struggle hinge in part on questions to go is important because it’s necessary to being the studio? very theatrical piece. of the private versus the public site constantly evolve. Clearly, Appleton Square of art willingness of the contested is well-established on the Portuguese map. When they ask “What is your studio?” I think the whole staging was very institution...”, Douglas Crimp) I reply like Giacometti to Breton: “It is two important. I think we have to be more ambitious, feet that walk”. That’s what a studio is... The space of a gallery is a public space. to evolve. We are entering a new cycle. The assembly was fundamental... Laying It is a place that, in the city or country The head? The body? The heart? The the sculpture almost against the back, where it’s located, has a public action and A new cycle, another direction. hand? giving the impression that the piece was in voice, whatever that may be. In this sense, the centre of the room. It was something the gesture of an artist in a gallery The body, exactly, and it can be at home, that took a lot of work to achieve. It was is political. under a bridge, in a shed, in a palace, in a question of centimetres that decided the a gallery, anywhere it’s possible to create. exact spot to create this perception. It was After almost seven years, Appleton “Ethics give meaning a very staged but discreet presentation. Square has acquired a very specific to the work, which is That’s a very contemporary thing, I think that if, for example, I had kept it like positioning in the art scene. Does its the whole idea anything can happen the first project, in which the sculpture was status seem clear to you? Have the fundamental” anywhere. placed in the corner and merged with the specific features we have discussed here
X+ I Interview with José Pedro Croft / ENG. 186/187 Ana Jotta
Olho nu / Naked eye, 2018
Xilogravura sob papel japonês Bunkoshi 71 g Woodcut on japonese 71 g Bunkoshi paper
Dim. papel / Paper dim.: 20x25,5 cm Dim. imagem / Image dim.: 20x25,5 cm
Ed: 10 provas únicas / unique proofs + 3 P.A. únicas / unique A.P. Uma fábrica sem fumo ou comissários, a ética e a honestidade com capazes de debater ativamente o modelo da que apoia a criação, economicamente e não galeria, este sistema que persistiu durante David Barro só discursivamente, podem representar um longos anos e que só raramente considerou novo modelo, uma mudança de paradigma. outras formas de crescer e de ocupar novos territórios, fossem eles simbólicos Houve alturas em que a Vera Appleton ou físicos. Tudo isto é escrito por um confessou ter-se desviado das metas iniciais teórico convicto da importância vital que bem possível que o músculo cultural e a moda, ou seja, do poder das massas se que estabeleceu para a Appleton Square. as galerias têm no momento de conferir artístico de uma cidade se possa medir poderia enriquecer o papel da arte na nossa Noventa exposições, programas expositivos visibilidade e de fortalecer o sistema É pelo número de museus e instituições sociedade. Razão não lhe faltava. Basta específicos e outras atividades dizem-nos da arte e a sobrevivência dos artistas. que esta possui e pela capacidade lançar um olhar sobre a lista de exposições que não foi assim. A tarefa não era fácil, e Pelo menos as que atuam com consciência económica dos mesmos – quer o seu legado realizadas na Appleton Square para a necessidade de persistência para atingir e responsabilidade, e não são poucas. quer a sua infraestrutura. Coisa diferente compreender o quanto Crimp tinha razão, os resultados ainda menos. Mas conseguiu Mas o que é certo é que têm faltado é o seu pulso cultural, que mede se essa e como essa desejada perspetiva múltipla constituir-se como um projeto site-specific, alternativas, novos modelos e formas cidade vive um tempo de desenvolvimento foi assumida em programações de primeira um modelo singular, único, credível. Um de trabalho, de produção, de promoção, ou crescimento de ideias, e é aqui que linha. Mas o que é realmente interessante, laboratório de ideias e projetos artísticos de cumplicidade. Poucos modelos projetos como os da Appleton Square neste caso, é que a Appleton Square não capazes de não entrar em obsessão com as estiveram tão vivos em todo este marcam a diferença. Porque projetos deste é um centro de arte – apesar de se lhe inevitáveis e cruéis exigências comerciais. enquadramento como a Appleton Square, tipo – e procuro não o adjetivar como assemelhar em muitos aspetos – nem uma A Appleton Square necessitou, e continuará que reflete a multidisciplinaridade alternativo já que este é um termo que, no galeria de arte – apesar de em alguns aspetos a necessitar, das galerias, e as galerias desses ansiados espaços de criatividade, mundo da arte, está diretamente vinculado parecê-lo – nem um centro de produção – continuarão a necessitar de lugares como formativos e experimentais, produtivos à precariedade e esta é uma aposta apesar de sempre parecer sê-lo. Trata-se de a Appleton Square, antes e depois da e comunicadores, que emergem nas alternativa ao alternativo – são um um espaço privado com vocação pública, sua transformação em entidade sem fins conversas de todos os debates quando termómetro pelo qual é possível medir um modelo híbrido que, pessoalmente, me lucrativos. Se há algo de verdadeiramente se trata de falar de trabalhar em rede. a temperatura artística de uma cidade, pareceu tão interessante que não só serviu necessário no contexto da arte é este tipo A Appleton Square é uma verdadeira e a sua expectativa cultural, uma vez como modelo para a criação da Fundação de espaços intermédios, como a Appleton fábrica sem fumo e, longe de se esgotar, que é apenas pela construção de caminhos DIDAC como também deixámos claro que Square. Confesso abertamente que, sem o espetáculo tem de prosseguir. Porque diferentes, ainda que paralelos, à rigidez do a Appleton Square teria de ser, desde logo, ter observado o seu trabalho de perto, apenas conseguiremos proteger a nossa museu que se poderá avançar neste ainda o nosso principal aliado, a nossa primeira nunca teria nascido a Fundação DIDAC, cultura se a conseguirmos renovar. jovem século XXI. companhia. pelo menos no seu formato atual. A DIDAC constitui-se como organização do Foi já há algumas décadas que Douglas Entre outras coisas, a Appleton Square tipo fundação e nasce com a intenção de Crimp apontou o estado de crise no qual seduz pela escala. Não me refiro apenas divulgar e projetar o desenho e as artes “A Appleton Square é se encontrava o museu enquanto conceito, às suas proporções arquitetónicas, mas contemporâneas, na convicção de que é referindo que este apenas conseguiria também à sua escala de trabalho, diferente necessário gerar instituições dinâmicas e uma verdadeira fábrica renascer com a demolição das suas paredes, da de um museu, mais próxima da de uma flexíveis, adaptadas a este século XXI que sem fumo e, longe de se com a introdução, no seu interior, de pequena kunsthalle e afastada – apesar de já não exige grandes infraestruturas, mas práticas artísticas que se desenvolvem no não alheada – da pressão comercial de sim programações sérias e rigorosas com esgotar, o espetáculo tem exterior, na vida quotidiana. Que apenas uma galeria. O modo como acompanha os discursos capazes de consolidar-se no tempo de prosseguir. Porque através da dessacralização da chamada projetos, a proximidade e a cumplicidade e com inequívoca independência, como é “alta cultura” e do reconhecimento que estabelece com os artistas, a produção o caso da Appleton Square. apenas conseguiremos da ação marginal da cultura popular, da direta, o risco na hora de assumir propostas proteger a nossa cultura se aceitação de novos campos de criação como experimentais, a sua maneira de se ligar com A Appleton Square tem sido um dos poucos o audiovisual, a publicidade, a música ou o ambiente envolvente de galerias exemplos ao nível da Península Ibérica a conseguirmos renovar”
X+ I David Barro / PT. 190/191 A factory without fumes On certain occasions, Vera Appleton has “It is evident that there confessed to straying from the initial goals David Barro which she set out for Appleton Square. has been a lack of Ninety exhibitions, specific exhibition programmes and other activities show alternatives, of new models that this is not the case. The task has and ways of working, not been easy, and the persistence and t is very likely that the cultural and wrong. The list of previous exhibitions achievements which have come with it producing, promoting and artistic muscle of a city is measured by the held at Appleton Square is sufficient to still less so. Because it has succeeded in collaborating. Few models Inumber of museums and institutions it understand how right Crimp was, and becoming a site-specific project, a singular possesses, and by their economic capacity how that multiple perspective which model, unique and credible. A laboratory have been as active in in terms of both legacy and infrastructure. he longed for has been included in this of ideas and artistic projects capable of all of this as Appleton The cultural pulse, on the other hand, forefront programming. However, what avoiding obsession with the inevitable depends on whether the city is experiencing is truly interesting here is that Appleton cruel commercial demands. Appleton Square, which reflects the a period of development and proliferation Square is not an arts centre – although it is Square has needed and will continue to of ideas, and it is here that projects such as similar in many ways –, nor is it a gallery need galleries, and galleries need places like multidisciplinarity of these Appleton Square make a difference. Because – although it is similar in some ways –, Appleton Square, both before and after its long-awaited spaces for projects of this kind – which I do not like to nor is it a production centre – although it transformation into a non-profit project. describe as alternative, as in the art world, always looks like one–. It is a private space One thing which the art world truly needs creativity and training” this term is directly linked to precarity and aimed at the public, a hybrid model which, is intermediate spaces such as Appleton this is a project which is an alternative to personally, is so interesting to me that not Square. I say this while confessing that the alternative –, are a thermometer by only did it serve as a model for us when without observing the work at Appleton These words are written by a theorist who which to measure the artistic temperature creating the Fundación DIDAC, but it was Square first hand, the Fundación DIDAC is convinced of the vital importance of of a city, and ultimately of cultural also clear to us that Appleton Square was would never have been created, or at least galleries in strengthening and making the expectations, as it is only by constructing to be our main ally, our first companion. not in its present form. DIDAC is established art system more visible, and boosting different yet parallel paths alongside the as a foundation, and was founded with the survival of artists. At least, those rigidity of the museum that progress can be Among other aspects, Appleton Square the aim of promoting and projecting galleries which act in a conscious, made in this still young 21st century. attracts attention due to its scale. I am contemporary art and design, based on responsible manner, of which there are not referring only to its architectural the conviction that there is a need for the many. Nonetheless, it is evident that Several decades have passed since Douglas proportions, although these too are creation of dynamic, flexible institutions there has been a lack of alternatives, Crimp emphasised the state of crisis in impressive, but to the scale of the work adapted to a 21st century which no longer of new models and ways of working, which the museum as a concept was undertaken, which is different to that of a requires large infrastructure but thoughtful, producing, promoting and collaborating. mired, affirming that revival would only museum, close to that of a small kunsthalle, rigorous programming, with narratives Few models have been as active in all of be possible by tearing down its walls and and distinct from – although not entirely which may be consolidated over time with this as Appleton Square, which reflects inserting the artistic practices which removed from – the commercial pressures unequivocal independence, as is the case of the multidisciplinarity of these long- take place in the outside world, as part of a gallery. The way of supporting the Appleton Square. awaited spaces for creativity and training, of daily life, into its interior. Only by projects, the proximity and complicity with which are experimental, productive and demystifying so-called ‘high culture’ and the artists, the direct production, the risks in Appleton Square has been one of the few communicative, which surface in every acknowledging the marginal intervention embracing experimental proposals, the way models in the Iberian Peninsula which have discussion about working in networks. of popular culture, accepting new fields of relating to other galleries and curators, succeeded in openly debating the gallery Appleton Square is a true factory without such as the audiovisual, advertising, and the ethics and integrity in promoting model, a system which has lasted for many fumes, and far from drawing to a close, music and fashion, that is, the power of creation starting from economic and not years and which in few cases has considered the show must go on. Because we can the masses, could the role to be played by only discursive support may signify other ways of growing and occupying only protect our culture if we succeed art in our society be enriched. He wasn’t a change in model, a new paradigm. new symbolic or physical territories. in reinventing it.
X+ I David Barro / ENG. 192/193 Una fábrica sin humo En alguna ocasión Vera Appleton constituye como una organización confesó haberse desviado de las metas de naturaleza fundacional y nace con David Barro iniciales que se marcó con Appleton la intención de divulgar y proyectar Square. Noventa exposiciones, programas el diseño y las artes contemporáneas, expositivos específicos y otras actividades convencidos de la necesidad de generar nos dicen que no fue así. El reto no era institucionesdinámicas y flexibles, fácil, la constancia y el resultado todavía adaptadas a un siglo XXI que ya no l músculo cultural y artístico de Razón no le faltaba. Basta con echar un menos. Porque ha conseguido ser un demanda grandes infraestructuras sino una ciudad es muy posible que se vistazo al histórico de exposiciones de proyecto site-specific, un modelo singular, programaciones serias y rigurosas, con Emida por el número de museos e Appleton Square para entender cuánta único, creíble. Un laboratorio de ideas discursos capaces de consolidarse en el instituciones que posee y la capacidad razón tenía Crimp y cómo esa anhelada y proyectos artísticos capaces de no tiempo con inequívoca independencia, económica de estas –ya sea su legado o sus perspectiva múltiple ha sido asumida en obsesionarse con las inevitables y crueles como es el caso de Appleton Square. infraestructuras–. Otra cosa es su pulso programaciones de primera línea. Aunque exigencias comerciales. Appleton Square cultural, si esa ciudad vive un tiempo de lo realmente interesante aquí, es que ha necesitado y continuará necesitando Appleton Square ha sido de los pocos desarrollo o crecimiento de ideas, y es ahí Appleton Square no es un centro de arte a las galerías y las galerías necesitan de ejemplos peninsulares que ha conseguido donde proyectos como Appleton Square –aunque en muchas cosas lo parezca–, ni lugares como Appleton Square, antes debatir activamente el modelo galerístico, marcan la diferencia. Porque los proyectos es una galería -aunque en algunas cosas lo y tras su reconversión en proyecto non un sistema que tiene muchos años y que de este tipo –que no me gusta adjetivar parezca–, ni es un centro de producción – profit. Si algo necesita el contexto del en pocos casos se ha planteado otras como alternativos, ya que es un término aunque siempre lo parezca–. Es un espacio arte es espacios intermedios, como formas de crecer y ocupar nuevos que en lo artístico se vincula directamente a privado con vocación pública, un modelo Appleton Square. Lo afirmo confesando territorios simbólicos o físicos. Lo escribe lo precario y esta es una apuesta alternativa híbrido que, personalmente, me ha parecido que sin observar su trabajo de cerca no un teórico convencido de la importancia a lo alternativo–, son un termómetro para tan interesante, que no solo nos ha servido hubiese nacido la Fundación DIDAC, vital que las galerías tienen a la hora de medir la temperatura artística de una de modelo a la hora de crear la Fundación o por lo menos como tal. DIDAC se visibilizar y fortalecer el sistema del arte ciudad, y en definitiva, de la expectativa DIDAC sino que hemos tenido claro que y la supervivencia de los artistas. Por lo cultural, ya que únicamente desde la tenía que ser Appleton Square nuestro menos, las que actúan con conciencia, construcción de senderos diferentes aunque principal aliado, nuestro primer compañero. “Appleton Square ha sido y responsabilidad, que son muchas. Pero paralelos a la rigidez del museo se puede de los pocos ejemplos es cierto que han faltado alternativas, avanzar en este todavía joven siglo XXI. Entre otras cosas, de Appleton Square nuevos modelos y formas de trabajo, de seduce la escala. No me refiero únicamente peninsulares que ha producción, de promoción, de complicidad. Hace ya bastantes décadas que Douglas a sus proporciones arquitectónicas, que Pocos modelos han estado tan vivos en Crimp subrayó el estado de crisis en el que también, sino a su escala de trabajo, conseguido debatir todo ello como Appleton Square, que se encontraba el museo como concepto, diferente a la de un museo, cercana activamente el modelo encaja con la multidisciplinariedad de aseverando que únicamente conseguiría a la de una pequeña kunsthalle y distinta esos ansiados espacios de creatividad, renacer con el derrumbamiento de sus –aunque no ajena– a la presión comercial galerístico, un sistema formativos y experimentales, productivos paredes, introduciendo en su interior de una galería. El modo de acompañar los que tiene muchos años y comunicadores, que emergen en las las prácticas artísticas que se desarrollan proyectos, la cercanía y complicidad con el conversaciones de todos los debates en el exterior, en la vida cotidiana. Solo artista, la producción directa, el riesgo a la y que en pocos casos se cuando se trata de hablar de cómo trabajar desacralizando la denominada ‘alta cultura’ hora de asumir propuestas experimentales, ha planteado otras formas en red. Appleton Square es una verdadera y reconociendo la marginal actuación su manera de conectar con el entorno de fábrica sin humo y lejos de agotarse, de la cultura popular, aceptando nuevos galerías o comisarios, la ética y honradez de crecer y ocupar nuevos el espectáculo debe continuar. Porque campos como el audiovisual, la publicidad, a la hora de apoyar la creación desde lo solo podemos proteger nuestra cultura la música o la moda, es decir, el poder de económico y no solo desde lo discursivo, territorios simbólicos si conseguimos renovarla. las masas, se podría enriquecer el papel que pueden significar un cambio de modelo, o físicos” el arte había de jugar en nuestra sociedad. una mudanza de paradigma.
X+ I David Barro / ESP. 194/195
Agradecimentos Aknowledgements Aproveito para agradecer à Udra/San Jose I would like to thank Udra/San Jose for its o apoio integral para a produção deste livro, committment to the production of this ao mecenas exclusivo da Appleton Square, book, as well as HCI, the exclusive sponsor HCI pelo apoio incondicional ao longo of Appleton Square, for their unconditional destes 10+1 anos, e ao A2P pela partilha de support during these 10+1 years. I also thank espaço, empatia e solidariedade para com A2P for sharing their space, empathy and o projecto. solidarity with our project.
Agradeço especialmente a todos os artistas I give special thanks to all the artists who que colaboraram connosco. Eles fizeram have collaborated with us. They have made a Appleton Square. Appleton Square what it is.
Agradeço a todos os que organizaram cursos, Thank you to all those who have organised conversaram, apresentaram programas ou courses, given talks, presented programmes lançaram livros. Reforçaram a dinâmica da or launched books here. They have played Appleton Square. a key role in reinforcing the dynamics of Appleton Square. Agradeço a todos os que fazem parte deste livro. Seja através da palavra, da imagem, do Thanks to all those who appear in this book desenho, da impressão, da publicação. Cada in some way, whether through the written um foi essencial para chegar a este todo. word, an image, a drawing, the printing or publishing. Each is essential to the whole. Agradeço aos fornecedores, parceiros, curadores, galeristas com quem trabalhámos I thank the many suppliers, partners, ao longo destes anos. curators and gallery owners we have worked with over the years. Agradeço ao público frequente, assim como ao que vem de vez em quando. O nosso Thank you to our regular visitors and to objectivo é que o nosso trabalho chegue those who drop in from time to time. Our a todos. goal is to have our work reach everyone.
Finalmente a maior gratidão fica Finally, our deepest gratitude to those few para aquelas pessoas raras, que nos individuals who have been at our side acompanharam sempre, fora e dentro do throughout our entire history, both from sistema artístico, com profissionalismo, outside and within the art scene, for their lealdade, coerência, ética, amizade professionalism, loyalty, consistency, ethics, e sobretudo verdade. friendship and, above all, their truth.
Não preciso de as nomear, porque sabem I do not need to name this last group of quem são. people, they know who they are.
Catarina Real. OBRIGADA, 2018 Vera Appleton Edição / Published by Obrigada Fotografias / Photographs APPLETON SQUARE Catarina Real Alípio Padilha Photodocumenta Rui Luz Apoios livro / Book sponsors Cartaz / Poster João Pedro Fonseca & Adelina Lopes A Kills B San Jose Miguel Vieira Baptista João Cristóvão Leitão Albano Silva Pereira Aires Mateus UDRA Alexandre Conefrey Ana Pérez - Quiroga Textos / Texts António Jorge Silva Ângela Ferreira André Sier Mecenas / Main sponsor Ana Anacleto Carlos Nogueira António Bolota “Appleton Recess” HCI Ana Cristina Cachola António Olaio Belén Uriel Ana Nobre de Gusmão Bruno Lopes Augusto Alves da Silva “Céu Santa Isabel” Apoio / Support Bruno Marchand Bruno Cidra & Buhlebezhe Siwani David Maranha & A2P David Barro Gonçalo Barreiros Dealmeida Esilva Manuel Mota Imacustica David Silva Revés Catarina Dias Elizabete Francisca & Filipe Alarcão Miragem Fatima Marques Pereira “Craking the code” Teresa Silva João Louro João Appleton Edgar Pires Henrique Pavão Jorge Humberto Capa / Cover João G. Appleton Igor Jesus Jose Pedro Croft Lawrence Weiner Nicola Oxley Claudia Costa Javier Fernandez Luis Paulo Costa Nicolas de Oliveira “O olho do tigre” Jeanine Cohen Manuela Marques Gravuras / Prints Nuno Crespo Joana Villaverde Michael Biberstein Alexandre Conefrey Rui Horta Francisco Nogueira João Onofre Miguel Horta Ana Yokochi Vera Appleton Ricardo Jacinto João Queiroz Miguel Palma Ana Jotta José Loureiro Nuno Sousa Vieira Ângela Ferreira Traduções / Translations João Urbano Rui Toscano Pedro Cabrita Reis Belén Uriel KennisTranslations Celine Condorelli, Jacopo Marco Pires Tomaz Hipolito Edgar Pires Miliani, Mariana Silva Mariana Gomes Francisco Tropa Concepção Gráfica Marianne Mueller Teresa Santos Joana Villaverde / Graphic Design Jordi Wijnalda Miguel Vieira Baptista David Maranha & João Paulo Feliciano DARDO (Cristina Moralejo) Karen Sztajnberg Misha Bies Golas Manuel Mota Julião Sarmento Teresa Pavão Francisco Tropa Susana Mendes Silva Impressão e acabamento José Caldeira Trish Vonna Michell Vitalina Sousa / Printing and binding Victor Hugo Pontes Rita Gaspar Vieira Gravador / Printmaker Gráficas Anduriña Rui Catalão Meel, Press - Hugo Amorim Pedro Tropa Rui Sanchez ISBN: 978-989-20-8407-7 Vitalina Sousa Sinapsismo / Synapticism José Loureiro
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Procurou identificar-se os créditos para todas We have tried to identify the credits for all as imagens, mas dada a quantidade de pessoas images, but given the number of people who que colaboraram connosco é possível que exista have collaborated with us, there may be some algum erro, se alguém o detectar agradecia que errors. If you know of one, we would appreciate nos comunicasse. it if you got in touch. Colophon O livro Appleton Square X+I foi desenhado e The book Appleton Square X+I was designed and publicado no âmbito dos 10+1 anos da Appleton published in the context of the 10+1 years of Square, com uma edição de 500 exemplares, e Appleton Square’s existence, with a print run of 500 Rua Acácio Paiva n.º27 R/C lançado no dia 19 de Abril de 2018 em Lisboa. copies to be launched on 19 April 2018 in Lisbon. 1700-004 Lisboa-Portugal www.appletonsquare.pt Este livro não pretende ser um livro documental. The intention of this book is not to document O seu objectivo é marcar o final de um ciclo de 10+1 Appleton Square per se, but rather to mark the end anos através de textos genéricos que apresentam of a 10+1 year cycle with generic texts that present diversos pontos de vista sobre a Appleton Square, various viewpoints on Appleton Square and with e da publicação das entrevistas conduzidas por the publication of interviews conducted by Vera Vera Appleton a quatro artistas no âmbito da sua Appleton with four artists within the scope of dissertação do mestrado em Arte Contemporânea her Master’s thesis on Contemporary Art at the na Universidade Católica Portuguesa. Catholic University of Portugal.
O livro apresenta também a reprodução de The book also features reproductions gravuras de onze artistas feitas especificamente of engravings by eleven artists made in para esta ocasião em colaboração com a Meel, collaboration with Meel, Press specifically for this Press, e integra um cartaz comemorativo dos X+I publication and includes an X+I commemorative anos da Appleton Square. poster from Appleton Square.
No que diz respeito a imagens procurou It is important to note that our intention was to apresentar-se na parte da cronologia uma imagem have one image for each project presented in the por projecto, o que nem sempre foi possível. Foi chronology section of the book, though this was incluído um caderno central com fotografias de not always possible. We have also included a central algumas exposições e performances e é importante section with photographs of some exhibitions and reforçar que o critério de escolha está apenas performances, though it is important to point out relacionado com a qualidade e estética da imagem that choices were based purely on the quality e não pretende responder a qualquer critério and aesthetics of the images in question and do not qualificativo relativo ao trabalho ou à respectiva represent a judgement as to the quality of certain exposição do artista. works and exhibitions over others.
Do livro faz parte também o manifesto feito por The book also includes the manifesto made by José José Loureiro por ocasião da sua exposição “Rivais” Loureiro on the occasion of his exhibition ‘Rivais’ na Appleton Square. (Rivals), held at Appleton Square.
A capa feita por Lawrence Weiner utiliza a frase The cover by Lawrence Weiner uses the phrase enviada pelo artista à Appleton Square no âmbito da sent by the artist to Appleton Square as part of performance “Square Party” de Susana Mendes Silva the ‘Square Party’ performance by Susana Mendes integrada na comemoração dos 8 anos do espaço. Silva, part of the 8 year celebrations of the space.
O critério para a ordem de entrada no livro tanto The order of both the reproductions of prints da reprodução das gravuras como das entrevistas and the interviews is chronological, based on the aqui publicadas foi cronológico, de acordo com a date of the artists’ collaboration with Appleton data da colaboração dos artistas com a Appleton Square. The order of texts was based purely Square. A ordem dos textos seguiu critérios on editorial choice. meramente editoriais.