Dossiê Retrato Oficial: Rafael Pagatini
DOCUMENTOS 1. Retrato Oficial: manipulação e materialidade da imagem fotográfica (Rafael Pagatini. Revista Farol, 2(18), 73–80)
2. Ação civil pública por danos a memória nacional, a honra e a dignidade de grupos sociais e ao patrimônio, movida pelo Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas no Estado do Paraná, Centro Acadêmico Hugo Simas e Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba. 21 de agosto de 2017.
INDICAÇÃO DE LIVROS Arte de Guerrilha. Vanguarda e Conceitualismo no Brasil (Artur Freitas. EDUSP, 2013)
Catástrofe e representação - com ficção inédita de Bernardo Carvalho e Modesto Carone (Arthur Nestrovski e Márcio Seligmann-Silva (org.). Editora Escuta, 2000)
Estranhas catedrais: as empreiteiras brasileiras e a ditadura civil-militar, 1964-1988 (Pedro Henrique Pedreira Campos. Eduff, 2014)
Estratégias da arte em uma era de catástrofes (Maria Angélica Melendi. Cobogó, 2018)
Forças Armadas e política no Brasil (José Murilo de Carvalho. Todavia, 2019)
Os cartazes desta história: Memória gráfica da resistência à Ditadura Militar e da redemocratização (1964 - 1985) (Vladimir Sacchetta (org). Escrituras, 2012)
Os militares na política - as mudanças de padrões na vida brasileira (Alfred Stepan. Artenova S.A., 1975)
Retrato Calado (Luiz Roberto Salinas Fortes. Editora Unesp, 2018)
VÍDEO Fala de Marilena Chaui durante lançamento do livro “Retrato Calado”, realizado no dia 29 de agosto de 2021 no Teatro da Universidade de São Paulo (São Paulo - SP): Parte 1 | Parte 2 | Parte 3
WEBSITES Governo do Brasil, Planalto: Galeria dos Presidentes Site Rafael Pagatini
Este documento foi feito em ocasião da exposição Ocupações Memorial: Rafael Pagatini, realizada no Memorial da Resistência de São Paulo | Maio 2021 RETRATO OFICIAL: MANIPULAÇÃO E MATERIALIDADE DA IMAGEM FOTOGRÁFICA
TÍTULO êM êSPAN”OL
Rafael Pagatini DAV-UFES
Resumo: O presente artiîo discute o processo de criação da produção art stica Retrato Oicial. O tra- balho apresenta o detalhe das bocas dos presidentes militares - impressas sobre preîos de aço cravados na parede do espaço expositivo. O artiîo analisa o uso da imaîem oicial do îoverno militar como matéria para a criação artística. Investiga os retratos dos presidentes brasileiros para identiicar a constituição do pensamento em torno da imaîem, a im de promover a desconstrução da ideia de oicialidade das íotoîraias dos cheíes de estado no per odo. éessa íorma, busca reletir sobre os usos da imaîem para a reconstrução de narrativas hist ricas e os conlitos existentes no processo de representação.
Palavras-chave Retrato oicial, îoverno militar, desconstrução, oicialidade, narrativas, representa- ção .
Resumen: êl presente artículo discute el proceso de creación de la producción artística Retrato Oicial. êl trabajo presenta en detalle las bocas de los presidentes militares - impresas sobre clavos de acero clavados en la pared del espacio expositivo. êl artículo analiza el uso de la imagen oicial del gobierno militar como materia para la creación artística. Investiga los retratos de los presidentes brasi- leños para identiicar, a trav s de la iconografía, la constitución del pensamiento en torno a la imagen, a in de promover la desconstrucción de la idea de oicialidad de la s fotografías de los jefes de estado en el período. ée esta manera, busca relexionar sobre los usos de la imagen para la reconstrucción de narrativas históricas y los conlictos existentes en el proceso de representación .
Palavras-èlave Oficial portrait, military government, deconstruction, oficialdom, narratives, represen- tation.
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A íotoîraia oicial de um cheíe de estado o do processo de análise das imagens e os pro- resultado de construções de visibilidade, jogos cedimentos de apropriação, manipulação, im- de poder, manipulações, maquinações, intrigas pressão, bem como a instalação do trabalho no e formas de se criar uma imagem, de se forjar espaço expositivo para reletir sobre a relação a suposta legalidade de um governo, ou seja, entre memória e representação. apresenta a representação da ideologia do go- verno de exceção brasileiro - . As liîa- Retrato Oicial a suposta oicialidade ções entre militares e civis ao longo do regime O processo de pesquisa do trabalho Retrato que governou o país por 21 anos se estabele- Oicial partiu da análise sobre a construção de ceram como uma aliança, a qual administrou imagens, as formas pelas quais elas materiali- e construiu as bases do Brasil contemporâneo. zam discursos e relações sociais como elemen- Dessa forma, a partir da problematização do tos do próprio pensamento artístico. Para isso tipo íotoîráico presidencial no Brasil, o presen- foram utilizadas para a investigação as fotogra- te artiîo prop e uma relexão sobre o proces- ias oiciais do îoverno militar brasileiro - so de desenvolvimento da produção artística 1985). Dessa forma, a pesquisa se baseou na Retrato Oicial, a partir das escolhas realizadas investiîação iconoîráica com o objetivo de in- ao longo do processo de criação. O artigo parte dicar os ecos que essas imagens ainda repercu-
74 tem na atualidade. Nesse contexto, os retratos , ’loriano Vieira Peixoto - , ”er- dos presidentes brasileiros são resultados de mes Rodriîues da ’onseca - e ‘urico processos de construção ideológica, de formas “aspar éutra - . de visibilidade que indicam um pensamento ‘ssas duas tipoloîias levam à contradição da que se materializa e denota as relações de po- representação dos generais brasileiros ao lon- der e conlitos dentro do estado brasileiro. go do regime, justamente pelo predomínio da O desenvolvimento da imagem pública do presença do tipo íotoîráico pol tico de a chefe de estado ao longo do regime militar 1985. Chama a atenção a ausência da farda, jus- apresenta também o imaginário relacionado ao tamente no período comandado por militares: presidente. ‘la oíerece a visualidade íotoîráica èastelo Branco - , Artur da èosta e Sil- que contrasta com a tradição do retrato oicial, va (1967-1969), Emílio Garrastazu Médici (1969- anteriormente utilizada pelos chefes de esta- , ‘rnesto “eisel - e João Baptista do. Ao longo do período republicano, desde a Figueiredo (1979-1985). Esse fato merece desta- Rep blica Velha at a atualidade, as íotoîraias que, tendo em vista que o uniforme se estrutura presidenciais seguem uma lógica compositiva e como elemento importante dentro do imaginá- temática do retrato que atravessa as décadas e rio militar, ele apresenta a união do coletivo e que comp e um tipo íotoîráico presidencial. O sua importância dentro do espírito da organiza- predomínio do masculino, a pose ereta, a face ção, da qual o então presidente fazia parte. Dife- voltada para frente da objetiva ou ainda de três rentemente de outros países latino-americanos, quartos indicam uma tipologia que permeou nos quais os militares apresentavam-se com a o imaginário de gerações de fotógrafos do go- íarda nas íotoîraias oiciais de seus îovernos, verno. A partir da relexão de Marion “autreau1 como por exemplo, Auîusto Pinochet no èhile, sobre o tipo íotoîráico presidencial no M xico, no Brasil ela foi subtraída, como estratégia na podemos identiicar duas tipoloîias íotoîrái- tentativa de dar ares de legalidade ao governo cas nos retratos dos presidentes brasileiros: o de exceção. tipo íotoîráico pol tico, constante na imaîem Os mandatários do per odo de - ves- do homem civil usando terno e gravata ou rou- tiram ternos de gala em seus retratos, o que su- pa de îala; e o tipo íotoîráico militar, no qual geria associação com a tradição do retrato, en- a farda é ostentada como emblema da ligação quanto o último, Figueiredo, reintroduz o terno e rever ncia às íorças armadas. Nos retratos da e gravata, o que contrasta com os demais e pro- galeria de presidentes, no Palácio do Planalto, move a criação de uma visualidade mais moder- em Brasília, pode-se observar que todos que na relacionada ao imaginário presidencial. No possuíam patentes militares e que assumiram entanto, a construção da imagem de Figueiredo o poder anteriormente a , vestiram a íarda representa a tentativa de criar o emblema de militar ao posarem para a íotoîraia oicial do um governo de transição, de abertura política, îoverno. èomo exemplo podemos indicar os o que é ressaltado pela ausência do óculos e o retratos de Manoel Deodoro da Fonseca (1889- sorriso mais amplo e mais arrojado que os de- mais, como airma o autor da íotoîraia, Rober- 1 Marion Gautreau, “Militar o político: la imagen del presi- to Stuckert Já era o momento de abertura do dente durante la Revolución”, disponível em https://revistas. país para a democracia, mas os óculos eram pe- inah.îob.mx/index.php/historias/article/view/ / , acessado em 22/10/2017.
75 farol sados demais para passar isso para o público”2. ‘mbora o contexto conservador tenha pre- A ausência da farda apresenta o pensamento valecido, as imagens dos retratos ainda ecoam autoritário e reacionário que loresceu e promo- na atualidade, seja por um contexto pol tico veu a tentativa de dar uma suposta oicialidade conservador que ascendeu ao poder, seja pelo ao regime instaurado, após um golpe de estado desconhecimento da dimensão da participação que retirou do exerc cio do mandato o então civil no îoverno militar. Apenas em a èomis- presidente João “oulart em . ‘ssa cons- são Nacional da Verdade5 publicou um relatório tatação exp e a relação entre civis-militares na ainda inconcluso no qual apresenta indicações imagem do poder e fomenta o debate sobre a das relações de empresários e políticos envol- prática política do Brasil, principalmente tendo vidos com o îoverno de exceção, bem como em vista o uso da força pela estrutura que ges- crimes cometidos por eles. Assim nos parece tou e estruturou o golpe militar, mas igualmen- uma possibilidade de reação o questionamen- te pelo corpo institucional tanto do congresso to de organizações sociais que, tendo em vista brasileiro, quanto do poder judiciário. Assim, da proximidade do debate e as poss veis conse- podemos deinir que essas íotoîraias apresen- quências, em 2017, promoveram uma ação civil tam os presidentes como uma força que promo- pública que pede a retirada dos retratos dos veu um golpe não apenas militar, mas também presidentes militares da galeria presidencial no institucional, que se aproxima da deinição pro- Palácio do Planalto, por danos à mem ria nacio- posta por ”eiji Tanaka3 ao abordar os aconte- nal, à honra e à diînidade de îrupos sociais e ao cimentos de e a relação entre pol ticos e patrim nio brasileiro. A ação judicial6 solicita a militares, do golpismo como prática política no retirada de todas as honrarias e a suspensão do Brasil. Essa prática teria se perpetuado através processo de ascensão ao poder dos generais. da articulação da elite brasileira com as forças Ela se baseia na sessão de 2013 do congresso armadas, íato que, nesse contexto, se expressa brasileiro, que declarou nula a sessão de nos retratos dos militares posando com roupas que afastou o então presidente João Goulart e de civis. èabe destacar que essa aproximação deu início ao golpe militar. A ação civil pública incorporou, igualmente e de forma orgânica, demonstra mais do que apenas o interesse de grande parte do empresariado brasileiro que, um îrupo em reescrever a hist ria; ela nos in- juntamente com o capital internacional, se dica que existe alîo latente nessas imaîens, as beneiciaram com as pol ticas econ micas im- quais atravessam a história e nos mostram que plantadas pelos militares . Capital privado que a construção do pensamento relacionado às provinha principalmente da inlu ncia ameri- imaîens à pr pria hist ria do reîime militar bra- cana no Brasil, como ica evidente no apoio do sileiro ainda está em disputa. O passado é apre- governo americano. sentado a partir da forma pela qual é observado pelo presente. Essa construção constante nos 2 Entrevista com o fotógrafo disponível em: http://gq.globo. permite perceber a instabilidade da memória com/Prazeres/Poder/noticia/ / /todos-os-retra- coletiva, principalmente quando ela envolve os tos-da-presidencia.html, acessado em 22/10/2017. espaços públicos construídos como espaços de 3 ”eiji Tanaka, ée Varîas ao Militarismo o îolpismo como prática política”, Akrópolis, Revista de Ciências Humanas da rememoração. Unipar, 2005, disponível em http //revistas.unipar.br/index. php/akropolis/article/view/ , acessado em 22/10/2017. 5 èomissão Nacional da Verdade. http //www.cnv.îov.br/ René Armand Dreifuss, A conquista do êstado, Petró- 6 Link da ação judicial https //www.poder .com.br/wp- polis, Vozes, 1981, 899p. content/uploads/2017/08/ACP.pdf, acessado em 22/10/2017.
76 para dar a mim mesmo, conceder-me em be- A fotograia como reconstrução da história nefício próprio, uma “anistia ampla, geral e ir- As cinco íotoîraias apresentadas acima e re- restrita”, já que ninguém me concede. Por que îistradas entre - íoram utilizadas como não? Quem impede? Uso deste espaço para não deixar que tudo se perca, se evapore. ‘ matéria para a construção do trabalho Retrato continuo dizendo dessa forma canhestra e Oicial pelos conlitos latentes que maniíestam imprecisa, iniel e abstrata. O íato que tudo e atualizam o debate sobre a violência no Bra- mudou, que era o mundo antes, o meu, bem sil. Esse fato pode ser observado através da re- diíerente. ‘ tudo vai icar por isso mesmo? ferência ao processo de vinculação da relação Eles torturaram, mataram, destruíram, tripu- civil-militar ao semblante austero, no qual as diaram, achincalharam, humilharam e conti- nuam a , ju zes inais, são eles que decidem o bocas fechadas e semiabertas dos militares se que é certo ou errado, o que é bom ou mau.7 associam à pr pria representação da condição histórica do período. Os relatos esparsos e o pouco debate manifestam o silêncio como ca- A partir dos retratos foram selecionados deta- racterístico do período militar e que reverbera lhes das bocas com o objetivo de promover a re- na imagem das bocas. A autoridade da lei mar- presentação do poder oicial desenvolvido pelo cial silencia e persegue ideias e ideologias, leva próprio estado. Desse modo, a pesquisa partiu à paranoia, à tortura, ao medo e à prisão. Nessa da análise da imagem e suas possibilidades de situação, o relato de José Roberto Salinas que manipulação. O silenciamento do retrato oicial descreve sessões de tortura no livro Retrato èa- e a perseguição de ideias e ideologias presentes lado oferece a imagem do retrato do regime na no texto de Salinas apresentam a íala como ins- representação das bocas fechadas como ele- trumento de controle e nos mostram como os mento compositivo que ecoa nos retratos oi- retratos oiciais dos militares carreîam a visuali- ciais. Salinas narra o drama psicológico de ser dade do poder, presente até a atualidade. torturado, a paranoia criada, a convivência com Neste contexto, a íotoîraia se constitui como a injustiça e o silenciamento. Por meio de seu possibilidade de problematizar a ideia de oicia- texto, o autor busca uma anistia ampla, îeral e lidade das imagens. Ela se torna matéria para ser irrestrita que, no contexto brasileiro, promoveu remodelada, reenquadrada, manipulada, com o o desconhecimento de parte da história e me- objetivo de apresentar uma história latente no mória do período. espírito de cada período histórico. Ademais, as
A única coisa que sou capaz de dizer no mo- 7 José Roberto Salinas, Retrato Oicial, São Paulo, Cosac mento é que se as escrevo – as memórias – é Naiíy, , p., p. 80.
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bocas fechadas sugerem a violência institucio- tos de lado, mostram a sua força e conjunto. nal presente na constituição do estado militar Al m disso, à medida que o p blico se posi- camulado com a íarda civil . ciona em írente ao trabalho, a íotoîraia res- A íotoîraia se coaîula no metal para poten- saltada. As imagens são vistas frontalmente e cializar as características presentes na constru- quanto maior a distância, mais a referência foto- ção do pensamento em torno da imagem. Neste îráica salientada. ‘sse processo reíorça a re- cenário, Retrato Oicial busca no gesto forte do lação entre perda e permanência da referência prego forjado em aço entrando na parede do da imaîem íotoîráica dos retratos oiciais dos espaço expositivo a reíer ncia a viol ncia atra- presidentes militares. Quanto mais distantes do vés das mais de 9000 marteladas. O aço, como olhar do observador, melhor é a observação dos elemento que não contamina e não deixa con- detalhes da boca e do colarinho. A aproximação taminar, manifesta uma pureza e assepsia, ide- do público com o trabalho realça as camadas ais presentes no pensamento de modernização de cores que lutuam entre o branco, o preto e econ mico brasileiro. É o aço das construç es o violeta. éessa íorma, a íotoîraia entra num e ediicaç es, o aço do min rio de íerro e dos processo de sublimação, passando do estado sonhos nacionalistas que povoaram o imaginá- etéreo da imagem para a uma materialização rio dos anos 70 e da euforia no Milagre Brasilei- no aço. Nesse processo de ressiîniicação da ro. Dessa forma, os pregos aguçam a interação imaîem íotoîráica, remodelamos o tempo e do espectador com a obra, ao constituírem a o estendemos à inindáveis possibilidades de superfície irregular que recebe as imagens, ao reconstrução do próprio instante de captura mesmo tempo em que criam uma tridimensio- da imagem. É importante ressaltar ainda que nalidade ao sair da parede e criar o volume. Vis- não é apenas a imagem que se remodela, mas a
78 própria conjuntura política-história que é incor- trato em pó e os pregos. O ruído transforma a porada à íotoîraia. ‘sse lastro hist rico ativa imagem, gera uma nova relação cromática e faz possibilidades de percepção sobre a íotoîraia com que a transposição do íotoîráico para um e mecanismos críticos sobre a construção do novo suporte potencialize a própria condição retrato e da pr pria oicialidade. éesse modo, do retrato e seu aspecto fantasmático inerente ocorre um processo de “instabilização” do su- à condição da íotoîraia como um vest îio do porte íotoîráico no qual tudo se torna ru na, referente. Dessa forma, a transposição se as- de forma que a autoridade reforçada pela ma- socia à tradução, pela produção de uma nova terialidade também se torna fugaz, inconstante, imaîem a partir daquela já existente, sendo que mutável, possibilitando assim uma nova forma a perda de alguns elementos da referência ori- de olhar sobre a imagem e, consequentemente, îinal se associa à pr pria restrição t cnica, no sobre a história. caso da impressora, com seus limites de cores e O processo de impressão das bocas gera um qualidades de impressão. O oriîinal não exis- ruído que transforma a imagem em outra. Nes- te, mas sim uma nova forma de construção da te processo, a íotoîraia sobre os preîos se as- própria imagem. O processo de digitalização socia à constituição hist rica da îravura como dos retratos já aponta possíveis mudanças, pois processo de reprodução de imagens. Como a luz permeia todo o processo desde o instan- c diîo num rico, a íotoîraia diîitalizada se te em que o fotógrafo mede a luminosidade materializa através de impressão UV ao promo- do ambiente, arranja a cena com as roupas, a ver a impregnação da imagem na superfície do íaixa presidencial, o semblante dos îenerais e metal. A luz UV seca o pigmento em frações de aperta o botão do disparador, até a impressão segundo e faz a união entre a fugacidade do re- e secagem por meio da luz UV. Em Retrato Oi-
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cial, a luz que íorma a íotoîraia se estrutura mentos marcantes da memória nacional ainda como a constituição da pr pria imaîem; ela estão em disputa. o passado que se revela, reatualiza, reinscreve, e se materializa no olhar do observador quan- do esse percebe as nuances do trabalho ao se Rafael Pagatini aproximar ou se distanciar da obra. Assim, a luz É mestre em Artes Visuais pela UFRGS e doutorando no escreve a história justamente por se constituir PPGArtes, da Unicamp. É artista visual, pesquisador e pro- como passado, memória de um instante de cap- fessor do Departamento de Artes Visuais da Ufes. Tra-balha tação íotoîráica que reconiîurada e retra- principalmente com procedimentos associados a gravura, a balhada. Nesse contexto, a perda não apenas íotoîraia e a instala-ção. Sua produção recente se caracteri- do instante de captação8, mas um conjunto de za pela crítica da sociedade contemporânea, atra-vés da in- perdas que passam, seja da própria consciência vestigação das relações entre a arte, a memória e o política. histórica, seja do vão entre os pregos, os quais Realizou exposiç es individuais e coletivas, tais como ’issu- fazem com que parte da imagem escoe e acen- ras, Paço das Artes, ; èonversas com a Pai-saîem, João tue a relação entre ausência e presença. Desse Pessoa, PB, ; Rumos Ita èultural, ; ‘m Suspensão, modo, o procedimento de perda envolve todo Santander èultural, ; Possui obras em coleç es p blicas o trabalho, ao mesmo tempo em que promove e privadas. Recebeu o Prêmio Energi-sa Artes Visuais, Bolsa a construção de outra imagem a partir de uma Estímulo a Produção em Artes Visuais, FUNARTE, Bolsa Iberê suposta oicialidade. Camargo - Ateliê de gravura e V Prêmio Açorianos de Artes Em conclusão, cabe destacar que Retrato Plásticas. Oicial busca, através do estudo das imagens, reletir sobre a elaboração da representação do chefe de estado e sobre as questões que permeiam a construção do retrato. As imagens apropriadas revelam uma latência em sua per- cepção na atualidade, indicam assim conlitos existentes na constituição da narrativa hist rica sobre o período militar e o quanto as discussões sobre o tema ainda reverberam na contempora- neidade. Assim, a íotoîraia do retrato presiden - cial ao ser utilizada como matéria para a cons- trução de um trabalho de arte evoca discussões e debates que povoam o imaginário em torno da imaîem. A arte, nesse contexto, possibilita a ressiîniicação da visualidade relacionada à construção imaî tica do îoverno de exceção, ao mesmo tempo em que atualiza o debate e apresenta como as narrativas sobre aconteci-