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O VALOR Por MAIS ALTO Natália Correia

O caminho para a perda da independência na­ é claro e clara teria de ser a respost:i. cional pode muito bem começar pela fa lta de dig­ Como era de esperar ela fez-se ouvir: " nidade nacional. Subvertida esta, pouco sobeja não permitirá que Angola interfira nos seus assun­ com que obstar às diferentes formas de que a tos internos." Isto disse Ramalho Eanes. Isto di!r colonização se serve para corroer a soberanfa de seram outras vozes que ainda falam portuguê~ um Estado. aprendido na materna cartilha que não de Karl O subentendido deste preâmbulo é, como se Marx. .percebe, a suspensão das relações diplomáticas de Em termos de dignidade nacional não é real­ Angola com Portugal e não hesitamos em dizer me nte concebível que a injúria possa suscitar ou­ que nelas se patenteia o propósito de colocar a tra espécie de reacção. Mas suscitou. Tomemos o questão no plano da chantagem. caso de Melo Antunes. De facto, como foi noticiado, a retirada dos Surpreendido com a decisão de Luanda, o mi­ nossos representantes diplomáticos em Angola é ni stro dos Negócios Estrangeiros logo se recom­ decidida unilateralmente pelo Governo da RPA põe do efeito desse pontapé angolano no traseiro na sequência de pressões exercidas sobre Portugal que dz mais mostraram os que mesureiramente pela facção pró-soviética do MPLA no sentido de conduziram as nossas relações com a RPA , para nos ditar uma orientação política moldada a pla­ atinar primordialmente com a de tecção de um nos que têm a sua génese no Kremlin. fantasma muito das suas insónias: a atitude de Desde a inclassificável tentativa do ingerir nos Angola favorece a estratégia das forças da direita. nossos órgãos de Comunicação Social até ao desa­ Ninguém duvida de que a estupidez das es­ foro de nos indicar um candidato à Presidência querdas é o ga nho das direitas e vice-versa. O que que encarnaria as virtudes sonhadas por Moscovo. '~ estranha é que um político que nas suas fun­ não nos poupou Luanda a coacções que tradu­ ~·

EDI TOR! AL por Nat ália Correia . 1

NACIONAL Director: Presidenciais Natália Correia. Re lações com Angola (i VidaêJ ai "Retornados" .. rnun i Chefe de Redacção: Capitão Fernandes 8 ?auh Figueira Humor 9 Os que riem ... . 14 Subchefe de Redacção: A la minuta ... . 1S Carlos Planticr Vêm aí os chineses . 5G Vera Lagoa . 5 7 Greves . 50 Secretário de Redacção: Os surdos . . r,1 \f. Manuela de Sousa Rama

ENTREVISTA REDACÇÃO: Frei til< do A n1a ral ..•.....•.•...... 111 Afonso Manta, Carlos Pinto Coelho, Dórdio Guimarães, Feliciana Ferreira, r:. Guerra. EN ERGIA ATÓMICA João de Almeida, José Machado, José Maquinação polí11< .• . .. 16 PRESIDENCI A IS: '-:. r:crnandes, Tomás Ribas As cartas H ISTÓRI A estão na mesa Fotografia : Onde estão as obras As eleições presidenciais es· Abe l Fonseca de arte da fam ília ião a cavar cisões nos princi· reaP . 21 pais partidos democráticos. Secretariado: Há 50 anos: o "28 de Maio . 61 Ouem está a fomentá-las? E .. \ faria Manuela Andrade quem interessam? O artigP JUSTI ÇA sobre as presidenciais (na pá!J. Colaboradores: Jur(ldos p.1ra mun . .. 24 3) fornece as principais pisrns A.C'. Monteiro, Egídio Álvaro (Artes Plásti· para a compreensão deste "fe. .:as), João Costa (Economia), Jorge Gu ima­ LI V ROS nómeno". rães (Livros), Philipe de Saint-Robert Os equ ívocos do dr. Rebelo . 39 (Paris), Sérgio Lima (Televisão) "Fogo Preso" . . . . . 40 José Martins Garcia . . 41 Preço: 15SOO Verg ílio Ferreira . 43 separata Os dez mais . 43 Assinaturas: CINEMA " Relações Escaldantes" . 44 Via ordinária " 1\.1.il ícia de Vénus" . 44 Continente e Ilhas - 3 meses: 175$50, 6 Pornoqr;ifin política . 45 meses: 351 SOO, 12 meses: 702300; Angola, Moçambique, Ca bo Verde, S. Tomé e Prínci­ TEATRO pe, Macau, Timor, Espan ha e Brasil - 6 Uma revista remoçada 45 meses: 351 SOO, 12 meses: 702$00; outros Grupo 4 ...... 46 países - 6 meses: 455SOO , 12 meses: 910SOO. BAILADO "Jok" da Moldávia ...... 47 Via aérea 12 meses: Ilhas Adjacentes - 764SOO; An­ TV A REVISTA go la, Moçambique, Cabo Verde, S. Tomé e Os " deslizes" ... 4 7 À PORTUG UESA Princípe, Macau e Timor - 1201$00; Es­ panha - 764SOO; Brasil - 1284SOO;países ECONOMIA Expressão mais genuína· mente portuguesa da expres­ europeus (excepto Es panha) - 1034SOO; Portugal entre os são teatral, a revista é o tema outros países - 1493SOO. pobres ...... 50 da separata deste número da "Vida Mundial". Das suas raí• INTERNACIONAL Redacção e Administração: zes prol undas, que me rgulham Rua de "O Seculo", 63 - Telef. PBX Crónica de Saint· Robert . 52 nas farsas vicentinas e no tea· 36 27 51/5. Espionagem na R F A . . 53 tro de cordel dos sécu los XVII Composição e Impressão: Líbano . 54 e XVI 11, às rábulas do Parque Rua de "O Seculo", 41 - Lisboa-2. Rodapé . 54 Mayer dos nossos dias, a revis­ Propriedade: Nato .. . 55 ta à portuguesa é bem "o sal e Sociedade Nacional de Tipografia . pimenta" do nosso espírito (págs. 27 a 38). Sai às quintas-feiras. 2 n acional

Apesar das tranquilizantes afirma­ Presidenciais ,·ões de ~lário Soares "O Partid11 Socialista está unido em torno d.1 candidatura de Ramalho l anes" - . os sintomas de que a crise deverá assumir novas dimensões manjfcstam-se quase PARTIDOS EM CRISE: diariamente. Comu nicados atribu ídos às bases do Partido Socialista. contestando a sua direcção, têm aparecido cm alguns locais. QUEM APROVEITA? É certo que os dirigentes do PS negam que tais comunicados tenham saído das estruturas partidárias. No

Passada que foi a surpresa da candidatura de Octávio Pato, o PCP remeteu-se ao silêncio. Entretanto, as CONSELHOS AO pressões sobre Costa Gomes para que se candidate, nas quais o MDP esteve Nove andares de um ediflcio ainda em de apoio: o conselho. E, assim, chegaram empenhado, a questão da elegibilidade construção foram colocados ao dispor da nos últimos dias cartas onde o general é de Otelo Saraiva de Carvalho, as candidatura do general Ramalho Eanes. aconselhado, prudentemente, sobre a ar­ declarações de Pinheiro de Azevedo e Paredes nuas e algum mobiliário provisó­ te de bem governar. de Galvão de Melo dominaram as rio constituem o pano de fundo de uma Até um a senhora, com mais de atenções na semana transacta. Ulti­ màquina posta a funcionar no dia 20 des­ 90 anos, decidiu pegar na pena e dirigir­ mam-se os preparativos para o início te mês. ·se a Eanes. Explica que é a primeira vez da campanha eleitoral. Todos quantos ali t rabalham fazem­ que escreve a um político e diz de sua A preocupação dos comentadores ·no em regime de voluntariado. Desde os justiça. A todas estas pessoas um serviço notàrios que. no rês-do-chão, reconhe­ especial procura dar resposta através de esteve na tentativa de desmontagem cem as assinatu ras aos jornalistas e fun­ uma carta que contenha a assmatura do das tácticas partidárias e na observação cionários administrativos, todos são general. do que se vai desenrolando no interior apoiantes do general, que, metendo fé­ Paralelamente ao centro, funcionam dos partidos. rias ou pedindo licença nos respectivos também serviços de recolha de assinatu­ Depois da manifesta crise dos empregos. contribuem para que a cam­ ras nas sedes dos partidos que expressa­ socialistas, habilmente explorada com panha seja levada a bom termo. ram o seu apoio a Eanes. E cada um tem o lançamento da campanha de Pinhei­ Atê ao momento, mais de 30 mil pes­ o seu representante numa "comissão po­ ro de Azevedo, tornou-se patente a soas preencheram os impressos de ade­ lltica" assim constituída: Alfredo de existência de dificuldades no PPD. são. As 7500 assinaturas já vão" longe e, Sousa, pelo PPD, Manuel Alegre, pelo Até que ponto o aparecimento de das 9 da manhã atê cerca da meia-noite, PS, e Pedro de Vasconcelos, pelo CDS. centenas de apoiantes aglomeram-se fren­ Sempre que pode, o general vai atê ao certas candidaturas tem a ver com o te ao número 16 da Avenida da Repúbli­ centro. Muitas vezes, visitas ràp1das, mas. despoletar de crises no seio das forças ca. Mas não é só através dos boletins que havendo tempo, percorre os serviços e partidát'i()s? Até que ponto certas o público mostra o seu apoio a Eanes. contacta pessoalmente com toda a gente. eru1didaturas têm sido catalisadores Diversas formas de adesão chegam ao De um modo geral, é ao fim do dia o dessas crises? Escaparão o CDS e o centro, formas essas que vão desde os te· horário de chegada de Ramalho Eanes. PCP de doenças semelhantes? legramas às flores, passando pelas mensa­ Atê agora não se registou nenhum in­ gens, livros com dedicatórias, cartões cidente no local. Passe o serviço de segu­ CANDIDATURAS E CRISES com problemas pessoais e recortes de jor­ rança que, metodicamente, vai executan­ nais sublinhados. Alguns cidadãos mais do o seu t rabalho... Se a efectivação da candidatura do preocupados descobriram um novo tipo F.F . actual Primeiro-Ministro alargou as 3 n acional

Pinheiro de Azevedo: a quem aproveita a Ramalho Eanes: o alvo ~ divisão do PS?

~ candidatura de C'osta Gomes afirma­ da no PPD em consequência do 'lllJI ram pt;blicamentc contar com o apoio Congresso de Aveiro, optaram por de gente do PS e mesmo do PPD. A ficar no partido mediante certas acreditá-los, resulta que o lançamento condições. Terão, porventura, as suas do nome do actual Presidente da razões. Todavia, não deixa de ser República poderia levar água ao curioso observar-se a simultaneidade moinho da crise socialista e dos do rea parecimento destes "condicio­ populares democráticos. nais" e as declarações dos proponentes Sendo falsa a afirmação, ela resulta de Costa Gomes - e a coincidência numa intenção deliberada de lançar a com os interesses de quantos jogam na confusão nas ftlciras do PS e do PPD. divisão dos partidos democráticos. dir.:cta na campanha, fez declarações ã Qualquer das alternativas aponta As circunstâncias obrigam a não Imprensa e partiu para o estrangeiro. para a · actuação do MDP como desprezar e os rumores que, desde há As suas palavras poderão ter pareci­ explorador de contradições internas tempos, se ouvem cm certos me ios do estranhas; quanto a nós, são a cm partidos democráticos. E uma vez políticos lisboetas: estaria na forja um primeira manifestação das consequên­ que o .MDP, nas vésperas das eleições novo partido socialista indepen­ cias de uma hábil manobra que legislativas, recusou o estatuto de dente, congregando alguns dos dissi­ denunciámos no último número da partido político, torna-se claro que a dentes do PS em 1975 (companJ1eiros "VM" sua actuação vem em proveito de de Manuel Serra), alguns dos ex-M ES e Disse o ge neral que a candidatura de terceiros. novos dissidentes socialistas e sociais­ Ramalho Eanes é susccptível de Quanto ao PPD , para além das -democratas. '.'colagens" e infiltrações por parte de mencionadas declarações dos propo­ certos grupos de coloração esquerdista, nentes da candidatura de Costa Go­ AS PREOCUPAÇÕES DE GALVÃO o que acarretaria nefastos resultados. mes, o grupo dos "condicionais" com DE MELO Donde, contrariando a opção do CDS, iníluência no CE RESD (Centro de Galvão de Me lo revele a sua simpatia Estudos Socia l-Democrata) apareceu a O general Galvão de Melo, que por Pinheiro de Azevedo. pressionar a reali/ação de um congres­ chegou a ser tido como presidenciável, Quase simultaneamente, José Ma­ so para solução de uma crise existente foi definitivamente afastado da corrida nuel Barroso publicou em "O Jornal" no partido dirigido por Sá Carneiro. a Belém. O CDS optou pelo apoio a um curioso artigo, no qual, sublinhan­ Os "condicionais" são um conjunto Ramalho Eanes. Galvão de Melo, do a convergência táctica da candida­ de personalidades que, na cisão ocorri- perdido o ensejo de uma participação tura de Pinheiro de Azevedo com a 4 OCANDIDATO MAIS EXCÊNTRICO

Manuel Grangeio Crespo, não desfa· vertigem alucinogénea, ao encontro da zendo o seu curricu lum de homem, artis· imaginação de um povo que subjaz em ta e escritor de muitas e variegadas an· um D. Quixote serôdio. danças por este mundo e o outro, pro· Mas será, concretamente, Manuel põe-se como franco atirador candidato Grangeio Crespo um homem livre? Tem do povo às eleições presidenciais de a sua candidatura a chancela da liberda· 1976. de? Sim, cremos que um certo arrivismo De 36 anos e habilitado técnico psico· de generosidade o inspirou a esta cena de nauta, vem livreme nte representar "orga· "commedia dei arte", ou não fosse ele nização nenhuma". De peito aberto, qua· um dramaturgo su i generis. se saudável, quase capaz de ser porta-voz Leia-se o seu livro "Apelo ao Povo" das aspirações mais recôndit as que, ape· que condensa a sua posição perante a si· sar de tudo. ainda viceja m nos corações tuação pol ítica do país e, simultanea· presidente da República, tr,ll ,, ,1ragem portugueses. Vem, num passo de dança mente, anuncia o seu programa de gover· fresca da ironia e a descompressão do mental, voluntariamente satisfeito com a no. Menos penetrantes são, porém, as no· sentido do humor tão necessário para ali· sua cabriola. Quase auto-suficiente. Com tas à margem, subscritas pelo seu "con­ viar estas coisas da rígida realidade. Pelo toda uma benfazeja e congénita decadên­ se lheiro" Luiz Pacheco. Cuidado, Gran· menos, o gérmen do totalitarismo está cia de princípios e de estilo, com todo o geio Crespo! ausente nesta candidatura como, infeliz· aprumo do absurdo cósmico com que a Seja como for, a candidatura do me· mente, em algumas outras não se verifi· natureza o dotou. E vai, na pressa da sua nos ortodoxo dos nossos candidatos a ca ... manobra eleitoral do PCP, concluiu que o · almirante seria o candidato disponível para a direita. Aliás, Pinhei­ ro de Azevedo em entrevistas conced i­ das ao "Seculo Uustrado" e ao "Expresso" procurou apresentar-se co­ mo o mais firme "antipecepista" de todos os candidatos. Que tudo isto é susceptível de criar embaraços ao general RamaU10 Eanes, revelou-o Galvão de Melo. O lançamen• to das múltiplas candidatutas, a repartição dos mesmos apoios por vários candidatos, o "mistério" dos apoios a Pinheiro de Azevedo (porque não revela o almirante a composição da sua comissão de apoio?), a súbita promoção do actuaJ Primeiro-Ministro UMA (talvez involuntariamente feita) por alguns semanários que deran1 início à sua campanha, aponta para um facto: Ramalho Eanes é o principal alvo de TRADIÇAO certas correntes políticas, apostando aparentemente na diversidade de can­ didaturas, tentam unir todas as forças mobilizáveis contra o chefe do Esta­ do-Maior do Exército. SERIEDADE A possível divisão dos partidos democráticos, neste momento, poderá ter em vista o enfraquecimento dos NA aparelllos partidários que deran1 apoio ao general Ramalllo Eanes. Outro candidato lucraria com isso. • i\ . ~1. INFORMACAO - 5 nacional ANGOLA- TERRA QUEIMADA

Passaram-se quatro meses desde que o Presidente da Re· da a luta que se trava no seio daquelr pública tomou a iniciativa de reconhecer o Governo de Luan· movimento, entre racções rivais, cont i­ da. Depois de várias ingerências nos nossos assuntos internos, nua a ser mais plausível a primeira h1 pó tese. aquele país acaba de cortar os laços diplomáticos com Portu· Certamente, não terá sido por acas11 gal. que o governo ele Agostinho Neto :1guardou o período eleitoral para pro­ Pôde e soube o Presidente da Rt·· nunca quis imiscuir-se nos problema' ~eder ao corte de relações diplomáti­ pública reunir várias vezes o Co11selh1> 111ternos de Angola e, conscquentr- -:as, tanto mais que os motivos oficial­ de Revolução e depois o ConscU10 (k 111c nte, não permitirá que aquele pah mente evocados para tal se tinham pro­ \linistros. para tomar a decisão que _j.i interfira nos assuntos que digam re,. duzido já há cerca de três semanas c•ra a sua e dos que nisso o acompanha­ peito à nossa vida interna". .1t rás. vam : reconhecer o governo de Agost i· E certamente é também disso qu t· De facto, as autoridades de Luanda nho Neto. ~e trata quando as autoridades da RP,\ demonstram claramente o seu desagra­ Quatro meses passaram e eis que o~ •~·ntam intervir na liberdade de info1- do pela constituição de um governo acontecimentos vêm, de novo, levantai 111ação cm Portugal. Tanto mais que e~· c'm Portugal que englobe certas força ~ o problema e dar novos argumentos a sa liberdade, no caso em questão, s~· políticas que eles consideram de rcac­ todos aqueles que, na altura. preconi· limitou a dar a conhecer as opiniões dt· cionárias: " Essas dificuldades ( en trc 1avam o diálogo sério e a prévia discus­ um dirigente político angolano, embo­ \ngola e Portugal) são devidas, prú1ci­ são com o ~1PLA sobre as formas de ra opositor do regime de Luanda, bem palmen tc, à mentalidade colonialista cooperação entre os dois países. como a noticiar um congresso realiza· de alguns portugueses que hoje se en­ Pode mesmo di1er-se que, mau gra­ do em Angola por um movimento rival contram no governo e que não se mo­ do o inusitado entusiasmo com que o do MPLA. A este respeito, aliás, pro­ dificou". general fosta Gomes, o major Melo nunciar-se-ia também o almirante Pi­ E, ao mesmo tempo, demonstram Antunes e o PCP promoveram o reco­ nheiro de Azevedo: "defendemos em claramente as suas simpatias: no mes­ nhecimento do governo de Luanda, ª' Portugal a liberdade de imprensa, co· mo dia em que foi tomada a decisão relações diplomáticas entre os dois pa í• 1110 um direito constitucional". do corte de relações com Portugal - -;es se encontram agora numa situação sublinhou a agência angolana de infor­ bem pior do que a que antecedeu mação, Angop - Sérgio Vilarigues, um ,1quele reconhecimento. dos dirigentes do PCP, parte para A iniciativa do corte de relações LIGAÇÃO COM A CAMPANHA Luanda para "tratar de problemas rela­ diplomáticas com Portugal ficar-se-ia :1 ELEITORAL cionados com o reforço entre aquela dever, segundo os seus promotores, ao organização e o MPLA". A mesma facto de o governo português não ter Entretanto, alguns círculos polít i· agência infonnaria também: "Esta visi· satisfeito as exigências contidas numa cos levantam a hipótese de ligação di­ ta é mais um testemunho de que o mensagem enviada pelas autoridades recta entre esta atitude diplomát ica e a MPLA continua a fazer uma nítida dis· de Luanda, no dia '27 de Abril, ao mi­ campanha eleitoral em curso, enquan­ tinção entre o povo português e gover· nistro dos Negócios Estrangeiros, ma­ to outros, que classificam de "sur­ nantes vendidos aos interesses do ú11· jor Melo Antunes. preendente" a atitude do Governo an­ perialismo internacional". Os motivos evocados, contidos na golano, ac ham prefer ível justificá-la fo. É também de sublinhar a coincidên­ referida nota, aliás extremamente vio­ ra do contexto da "mterfcrência nos cia da iniciativa diplomática com a re­ lenta, e à qual era dado um prazo lk assuntos últernos portugueses". solução de confiscar as propriedades resposta de 48 horas, foram considera­ Para estes, normalmente próximos particulares cujos donos, mes mo com dos pelo almirante Pinheiro de Azeve­ das ideias políticas do major Melo An­ procuradores constituídos cm Angola, do de "pueris". tunes, ter-se-ia tratado de "dar satisfa­ não se encontrem lá a residir. Por seu turno, enquanto o brigadei­ ção a uma forte corrente que, actual­ Entretanto, é curioso notar a inten­ ro Vasco Lourenço expressava a opi­ mcnte, cm Luanda, se manifesta no sa e estranha actividade que o PCP tem nião de "Portugal não querer passar de seio do MPLA, da qual é normalmenh' ui timamente desenvolvido junto aos colonizador a colonizado", o general considerado líder o comandante 1 ih> ··retornados'', em coincidência com os Ramalho Eanes a firmara: "Portuga 1 Alves". Porém, mesmo sendo conheci- crescentes motivos de descontenta· 6 mento que o JAR vem provocando. sença das forças cubano-soviéticas em Segundo alguns, a situação pode me,. território angolano. A este respeito. :1 China, o maior país do grupo dos po­ 1110 tornar-se explosiva no princípio d11 próximo mês. bres e que goza de grande prestígio no ~c u seio, tem desde há muito uma posi­ ção clara. PCP : ÚNI CO INTERLOCUTOR? Denuncia incessan teme ntc as act i­ vidades da União Soviética em Angola. De qualquer modo, para muitos quer nas Assembleias do Conselho ck Cal não oferece qualquer ltipótese de milhares de pessoas, nos bairros de lata verno para uma resposta ao seu cader­ , anidade), num acampamento de for­ de Lisboa e Porto e, também, wna no reivindicativo. tuna erguido com tudo quanto os pu­ tabela realista de subsídios a conceder Por outro lado, termina na segun­ desse resguardar, dezenas de retorna­ :1os refugiados ainda desempregados. da-feira o prazo estabelecido pelo Con­ dos mantêm-se nos jardins de S. Bento, Com estes novos dados, é possível selho de Ministros para o abandono pe­ como lembrança viva de que conti­ que se chegue a uma plataforma de los refugiados de todos os hotéis de 3 a nuam a existir. entendimento e que, pela primeira vez, 5 estrelas. Nesta curta trégua, os ânimos acal­ desde que começaram a chegar a Por­ Acaba assim a curta "trégua" no mam, as cabeças esfriam, as manipula- tugal refugiados das ex-colónias, se en­ combate dos "retornados" pela resolu­ 1.·ões partidárias desmontam-se, os er­ verede por uma verdadeira resolução ção dos seus problemas - trégua qul· ros corrigem-se e os planos aperfei- do problema. M. R. F. foi marcada pela presença em Lisboa de uma delegação de portugueses resi­ dentes em Angola, que se deslocou a Portugal para "desmistificar a campa­ Capitao Fernandes: nha da Imprensa direitista cont r:1 a RPA". do golpismo ã produção literãria Se, no dizer dos elementos de:-sa O golpe abortado em 25 de ovem­ eficiente distribuidor de armas que foi. deputação, o acoUtimento que lhes foi bro metamorfoseou-se em produção O caso é que usar gatilhos é mu ito dispensado pelos "retornados" teria livresca. Numa infantil nostalgia dos diferente de usar palavras. E quando os ·'ultrapassado todas as expectativas", a "merry good times" revolucionários que manejam aqueles se atrevem a ma­ verdade é que a delegação não contac­ do COPCON, reaparece o capitão Fer­ nejar estas, sai-ll1es o tiro pela culatra. tou com nenhuma das agremiações que nandes, que, ao tempo, foi notícia por Que é como quem diz, literatura de contam com maior número de associa­ ter desviado 1500 armas, que passou a paiol. dos "retornados'', limitando-se a con­ boas mãos. Se Fernandes faz escola, receamos tactos muito restritos, como, por Desbivaca-se agora o novel escritor que, ao contrário do que o título do exemplo, em destaque, com a célula em demonstrar no curso insano de 169 seu manual de falhar tiros sugere, em do PCP junto dos refugiados. páginas que em "Portugal nem tudo es­ Portugal tudo está perdido. 1 ã'o é de esperar que a comissão tá perdido". Este o título do livro que Roubar armas, vá que não vá. Rou­ vinda de Luanda tenha um acolhimen­ Fernandes, o capitão, via 13iblioteca bar papel a quem culturalmente tanto to sequer "razoável" por parte da gran­ Ulmeiro, atira para os escaparates onde dele necessita, isso não. de massa dos refugiados. Das declara· a cultura portuguesa esperava encon­ ão resistimos a estabelecer um in­ ções públicas dos seus elementos, atra­ trar por fim o seu alimento. Mas, em quietante paralelo. Será que, por inver· vés da Televisão (que lhes concedeu lugar do sustento de que está tão care­ são, Fernandes se quer identificar com tempo de antena muito além do habi­ cente, deparam-se-lhe G3s em forma Rimbaud, que começou poeta e aca­ tual...), induz-se ser a mesma compost a de Livro. da autoria de alguém cuja dis­ bou em traficante de armas? ... por elementos fortemente comprome- tribuição de ideias não está ã altura do 8 ALf\.10ÇO NA RELVA

(Segundo Manet, por António. Na estampa reconhecem-se Jorge Sampaio, Melo Antunes, João Cravinho e Álvaro Cunhal.) 9 entrevista

Freitas do Amaral: ''UM GOVERNO MINORITARIO NAO PODERA DURAR''

Diogo Freitas do Amaral é o mais novo dos dirigentes políti­ cos portugueses. Presidente do CDS desde a fundação deste par­ t ido, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lis ­ boa, é originário do Norte e vive em Lisboa. Foi membro do Conselho de Estado até ao 11 de Março e, a partir desta data, 1íd er da oposição. O CDS apresentou-se como a alternativa democrática a seis governos provisórios de predominância socialista. Mas, num país onde o Governo ganha, habitualmente, todas as eleicões o CDS não conseguiu ser a "Alternativa-76" que alardeava, ·ne~ sequer t riplicar os votos obtidos em 75 como, antes das eleições, che­ gou a prever. Foi, apesar de tudo, o partido que maior benefício tirou das últimas eleições, duplicando a percentagem de sufrá· gios conseguida nas eleições para a Constituinte e tornando-se o terceiro partido nacional. Freit as do Amaral conseguiu, ao cabo de dois anos de luta política, rodear-se de certo prestígio (reconhecido pelos adversá­ rios) em Portugal e no estrangeiro. Falámos com ele, há poucos dias, na sede do CDS.

Vida Mundial - Na entrevista que. as eleições falou-se com insistência suas divergências. Está-se hoje em Por­ na passada semana, Sá Carneiro conce­ num " namoro" PS-CDS. Depois da' tugal, sob esse aspecto, numa fase mui­ deu à "Vida Mundial", afirmou-se con­ eleições, a linguagem dos dois part i do~ to mais adulta do que há um ano ou victo de que o CDS atingira o seu pon­ parece desmenti-lo. A que atribui essa dois e isso 6 francamente positivo, do to de estabilização eleitoral. Concorda modificação? ponto de vista da consolidação da de­ com esta opinião? F .A. - Nunca houve qualquer "na­ mocracia. Freitas do Amaral - Não concordo. moro" entre o PS e o CDS . O que E faço notar que o dr. Sá Carneiro não aconteceu foi que, sendo nossa inten­ O CDS NÃO ABANDONOU adiantou quaisquer argumentos para ção estabelecer relações cordiais, tanto GALVÃO DE MELO fundamentar a sua convicção. A verda­ com o PS como com o PPD, o primei­ de é, pelo contrário, que praticamente ro considerou isso natural, enquanto o V.M. - Constou que o almirante só agora o CDS começa a ter acesso à segundo, durante meses, se "fechou Pi nheiro de Azevedo teria contactado televisão, à rádio e à Imprensa cm ter­ cm copas". Daí que aos olhos do p(1- o CDS com o fito de ter o apoio deste mos razoáveis - e, mesmo assim, ainda blico pudesse parecer que privilegiáva­ partido para a sua candidatura à Presi­ não em condições de igualdade com os mos o PS. A situação hoje está norma­ dência. Qual o fundamento deste outros partidos. Só agora é que o Povo lizada e temos, de m modo geral, " diz-se"? português começa verdadeiramente a boas relações com ambos os partidos. F.A. - O ahnirante Pinheiro de ouvir o CDS falar. ão atingimos, por­ O facto de partidos diferentes dialoga­ Azevedo quis ter para com o CDS a tanto, o ponto de estabilização do nos­ rem não significa que se "namorem", gentileza de me anunciar pessoalmente so eleitorado: atingimos, sim, a nossa nem pode ver-se em cada encontro bi­ a sua candidatura à Presidência. Foi rampa de lançamento. lateral o embrião dum pacto ou o iní• uma longa e interessante conversa, de Daqui para iliantc é que vamos, de cio duma aliança: é indispensável à de­ mais de duas horas. Mas o senhor almi· facto, crescer. mocracia que os partidos se falem e se rante não me propôs o apoio do CDS à V.M. - No período que antecedeu dêem bem, independentemente das sua candidatura, até porque no dia em 10 # que falámos já o CDS tinha revelado \ cz, com o general Galvão de Me lo. Po­ que apoiaria o general RamaU10 Eane ~. de discutir-se se a grande proximidad·· É certo que o Primeiro-Ministro tew dele em relação ao CDS, durante o pl'· palavras de simpatia para com o CDS e ríodo de 1975-76, o não terá identifi­ reconheceu, realista como é, o papel cado demasiado com um só partido, a indiscutível que o CDS tem a desem­ ponto de o prejudicar em termos de penhar na política portuguesa. Mas estratégia presidencial. Pode mesmo não nos pediu o nosso apoio para a sua sustentar-se, talvez, que doravante a candidatura: fiquei mesmo com a im­ imagem do general Galvão de Melo, co­ pressão de que o senhor almirante vé mo possível candidato às eleições pre­ com certo interesse o facto de nenlrnrn sidenciais seguintes, só terá a lucrar partido o apoiar. cÓm um certo djstanciamento dele em V.M. - E quanto ao ge neral Galvão de Melo? Diz-se que o CDS o "deixou cair" na altura em que ele mais conta­ "Tudo depende ainda do Presidente va com o vosso apoio ... da República eleito ( ... ) A escolha f.A. - Isso não é verdade . O CDS do Primeiro-Ministro só poderá ser encarava de há muito o general Galvão feita depois de ouvidos o Conselho de Melo, pela sua coragem, pelo seu da Revolução e os partidos repre- , passado, pela sua popularidade, como sentados na Assembleia da Repúbli- candidato potencial à Presidência da ca'' República. Mas o senhor general sem­ pre declarou que nunca aceitaria ser o candidato do CDS, pois não queria ser relação ao CDS. O que não pode, sem o candidato dum só partido. De modo grave injustiça, é dizer-se que tenha ha­ É isto o que fundamentalmente nos que nunca poderíamos ser nós a dei­ vido da nossa parte qualquer falta tk interessa . Não queremos um presiden­ xá-lo cair. Temos por ele grande an1iza­ solidariedade para com o nosso com­ te-CDS tal como não queremos um de, estima e consideração. O que se panheiro de luta, que de resto nós con­ presidente-PPD ou um presidente-PS. passou foi que o general Galvão de Me­ sideramos para todos os feitos na situa­ Queremos sin1, um presidente-árbitro lo nos declarou, de uma forma perem­ ção de "reserva da República". que, precisan1ente por ser apartidário e ptória, e por razões de fundo, que nós estar fora e acima dos pariidos, possa compreendemos muito bem, que não " NÃO QUEREMOS hoje dar o governo ao ~S com o mes­ se candidataria desta vez à Presidência UM PRESIDENTE - CDS" mo à-vontade com que o dará amanhã da República. Passou-se isso numa au­ ao CDS (ou ao PPD), se em novas elei­ diência que, em sua casa, concedeu ao V.M. - Porque se decidiu o CDS ções o PS sair derrotado e nós vitorio­ presidente, ao vice-presidente e ao se­ pelo ge neral Ramalho Eanes? Será que sos. O rei, em Inglaterra, não é traba­ cretário-geraJ do CDS, no dia 29 de esse candidato corresponde à linha lhista nem conservador: chama um ou Abril. A partir desse momento, o CDS programática es pecífica do CDS? outro partido conforme os resultados não podia contar mais com a hipótese F.A. - O CDS vê, na pessoa do ge­ . de cada eleição. neral Ramalho Eanes, reunidas várias qualidades que justificam plena.mente "TUDO DEPENDE "Queremos um presidente-árbitro a nossa opção. Para além das qualida­ DO PRESIDENTE ELEITO" que, precisamente por ser apartidá­ des indispensáveis de honestidade, in­ rio e estar fora e acima dos parti­ teligência e carácter, o general Rama­ V.M. - O general Ramalho Eanes dos, possa dar o governo ao PS com lho Eanes apresenta as seguintes vanta­ afirmou que a base do seu programa o mesmo à-vontade com que dará gens : é um mili tar, distinto oficial do era a Co.nstituição e que a sua actuação amanhã, ao CDS (ou ao PPD), se Exército, que tem um forte apoio das se nortearia pela determinação de fa­ em novas eleições .o PS s~ir derrota- Forças Armadas (imprescindível neste zê-la cumprir. O CDS votou cG ntra a do". momento); é um de mocrata, que seba­ Constituição. Como concilia esta atitu­ ·.' teu com êxito pela liberdade e pela de­ de com o apoio dado ao general Eanes mocracia no 25 de Novembro; é um pelo seu partido? Galvão de Melo e tinha de se definir, a chefe, que foi capaz de restaurar o F.A. - Há para aí quem se escanda­ tempo, face aos outros eventuais can­ Exército Português e restituí-lo à dig­ lize pelo facto de o CDS dar o seu didatos: foi então que nos decidimos nidade perdida na indisciplina anarqui­ apoio a um candidato que faz questão pelo general Ramalho Eanes, que en­ zante do período gonçalvista; e é um de dizer que vai cumprir a Constitui­ tretanto parecia já poder vir a reurúr o homem a.partidário, capaz de concitar ção . O que não diriam, porém, os mes­ consenso dos principais partidos de­ o apoio convergente dos principais par­ mos que assim pensam, se nós apoiás­ mocráticos portugueses. tidos democráticos sem se vincular a semos um candidato que se propusesse O mesmo não se verificou, desta nenlrnm. violá-la? ENTREVISTA

do que lhe propuser sobre o assunto o

·- ~I' -~---~- "Galvão de Melo declarou-nos que nãó se candidataria desta vez à Pre­ sidência da República"

V.M. - Para terminar. uma pergun­ ta de círcu nstáncia. A ideia que ficou. 1: 111 certos 'ectores. do seu di :í logo com Portela Filho na televisão foi a de que revelou excessiva passividade fac e :i acut il ância do se u entrevistado r. Foi uma atitude deliberada ou tempera­ mental? F.A. Pessoalmente, creio ter res- pondido de forma cabal a todas as questões postas por Artur Portela Fi­ lho. Se o programa consistisse num de­ bate entre mim e o líder doutro parti­ do político, caber-me-ia, sc111 dúvida, tomar iniciativas, contra-atacar, procu­ rar vencê-lo. Tratando-se. porém, du­ teridade que se impõem? Será 1.:apa1 Primeiro. porque para governar l~ ma entre\ is ta condu1 ida por um jorna­

:--Ião caiu no esquecimento o discurso proferido por Morais e Silva , qu.111Jll Jo Jura­ mcnlo de Bandeira na Base da Ota. Nele, o chefe do Estado-Maior da Força J\é.rea marcou bem a posição do seu ramo em relação ao reconhecimento da RPA. Ficou-se a saber que este sector militar punha reservas aos argumentos invocados para o reconhecimento do Governo de Luanda. Os factos vêm agora comprovar que as reservas tinham o seu funda­ mento. In felizmente, os resultados negntivos da ansiedade de Melo Antunes e Costa Gomes cm reconhecer aa RPA estão à vista. ~!orais e Silva contempla-os com um sorriso de quem preferia não ter tido razão. ~las teve. E os que Lha quiseram tirar dificilmente escapam a serem alvo do riso escarninho que, por nossa coma e risco. aqui colocamos na boca que tão acertadamente se pronun­ ciou sobre o precipitado reconhecimento da RPA.

Vera Lagoa é uma mulher que ri quando escreve. O ridendo castigai mores tem sido o lema desta discutida cronista. Sentada no banco dos réus em vir tude de um artigo de sua autoria ser considerado injurioso para o Presidente da Repúb li ca, apurou-se que a acusação carecia de fundamen­ to. E é aqui que surge a figura do juiz 1l crm ínio Ramos, cuja decisão lhe dá merecido relevo entre os que integralmente interpretam a ideia de que a Justiça e a Democracia são insepará vc is. O e>..emplar magistrado não só absolveu Vera Lagoa como a exortou, em considerações finais. a continuar a pôr a sua pena ao serviço da liberdade e da Independência do País. Vera Lagoa ganhou - e com ela a democracia. Ainda outro motivo de boa disposição para a triunfante cronista. Dadas as exigências estéticas que tem manifestado quanto a presidentes da República, a bela presença de Fanes enche-a de satisfação . ... e os que choram

Almeida Santos tem sobejas razões para estar carrancudo. Realmente. no caso da carreira ministerial de Almeida Santos estar a atingir o seu termo. não se pode dizer que o projecto de decreto-lei de reestruturação da Imprensa cstafüada é uma despedida brilhante. Aquele que nos deu boas razões para acreditarmos que em nada se identificava com o seu predecessor é tentado a repetir a façanha que assinalou o fim do reinado de Jesuíno, lar~çando um projecto que teve como recepção uma retumbante impopularidade no meio onde iria vigorar. Dissemos tentado e não por acaso. De facto, aquele Palácio Foz parece continuar sob o signo da tentação do dirigismo, não conseguindo os que lá pontificam libertar-se dos espectros que ali deixaram os antigos zeladores da ln formação ao serviço do Poder. ão há dúvida que os fantasmas do Palácio Foz pregaram urna partida a Almeida Santos. Porque os tempos mudaram. Da f a expressão cabisbaixa do ministro.

:'\ão era fácil imaginar qu~ .\leio Antunes voltasse com tanta rapidez à galeria do~ tristonhos. :O.las não está só. Acompanham-no Costa Gomes, Vítor Crespo e outros. O rompimento diplomático de Angola com Portugal afunda as esperançosas teses que aque­ les militares tão calorosamente sustentaram para o reconhecimento da RPA. Na verdade, provou-se que o interesse nas boas relações entre Portugal e a sua ex-coló• nia era unilateral, já que para ser bilateral impunha condições que ofendiam a nossa dignidade de povo soberano. Constata-se, pois, que os entusiastas do reconhecimento, entre os quais se distingue Melo Antunes. foram pouco previdentes. Ou contariam com condescendências da parte de Portugal. só elas cnpazes de evitarem a suspensão de relações diplomáticas entre Portugal e Angola? Em qualquer caso, as teses esperançosas de Melo Antunes falharam. Parece que os portugueses não estão dispostos a saltar de colonizadores para colonizados. J\ transição seria por de ma is violenta. 14 a la minuta

CONTRARIA 100 A SUA "OPÇ Ão·· taJ. Também há CUFs da grande políti• ..:a e. por conseguinte, a grande política Diz-nos José Carlos de Vasconcelos também tem os seus ~leios." (cm "O Jornal", número SS) que sec­ tores e individuafidadcs diversos, mes­ mo das FA, que apoiarão a candidatu­ INVOLUÇÃO ra de Ramalho Eanes são de opinião que a pessoa que mais condições reuni­ A nota-se uma curiosa involução ria para o cargo continua a ser Costa consonântica. O GIS passou a IS. Per­ Gomes. E segue-se um longo cncómio deu o G, que era a iniciaJ da garantia do ainda Presidente da República, que da sua independência esquerdista. Re­ é apresentado como a potcstadc salva­ ceia-se que, pela lógica desta tendên­ dora da revolução. cia, perca o 1, que assina la a sua isen­ Queremos crer que o autor do arti­ ção partidária. Neste caso ficaria redu­ go não se encontra entre aqueles que, zido a S, o que provocaria a tentação contrariando a sua "opção'', oferecem de se Lh e acrescentar um E. Teríamos a sua entusiástica aclividadc à candida­ então o movimento Se. Sempre pronto tura de Eanes, à qual José Carlos de a intervir, se .... Vasconcelos vem dedicando a sua aten­ Um movimento realmente consoan- ta colaboração. tC.

UM NEWTON Robyn Amorim DA POÜTICA MOSTRAR COMO É AOS FRANCESES "COM TODAS Eduardo Prado Coelllo, apoiante de AS LETRAS"? O Grémio Literário proporcionou Eanes entre um grupo de intelectuais, em primeira mão em Portugal a visão revela-nos agora (em "O Jornal", nú­ . o úJtimo programa "Com Todas (e audição) da mesa-redonda gravada mero 56) o motivo da sua adesão à :is Letras", na televisão. coordcnadP cm Lisboa para a ORTF, em que parfi­ candidatura do actual C'E~ I E. Citamos: por Eduardo Prado CoeUio e outros. ciparam ~ l ário Soares, Sá Carneiro, "Mas nenhuma candidatura Eanes terá fez-se uma retrospectiva sobre o pré­ Freitas do Amaral, Álvaro Cunhal e para nós (o sublinhado é de Prado mio atribuído a Luandino Vieira pela Vítor Alves. Tendo adquirido "video­ Coell10) sentido se não ouvir o inaud í­ :intiga Sociedade Portuguesa de Escri­ ·lapcs" do programa, o Grémio insta­ vel deste discurso." O discurso inaudí• tores, que foi encerrada por esse moti­ lou vários apare lhos de televisão nas vel é de Otelo, que Prado descreve co­ vo. suas salas. Aí uma multidão entusiasta mo "delírio de palavras soltas" e "esfa­ A imagens tantas, cm que se evoca­ e clegan te vibrou com Sá Carneiro relamento da raz:io". va uma mesa-redonda com Amândio quando este disse que o PCP não era César, este falou de um jornalista en­ um partido de esquerda, mas de Leste; tão expulso de Angola. Estranhamente com Freitas do AmaraJ, quando abana­ (ou voluntariamente?) dessa gravação va a cabeça nuina negativa muda para omitiu-se o nome do jornaJista. contrariar as afirmações de Cunhal, de Pois bem, aí vai o nome daquele que o seu partido era de direita e sau­ que foi obrigado a abandonar Angola dosista do anterior regime; e riu bas­ por motivos de ordem política entre os tante quando Soares expunha, imper­ quais avulta o de, antecipando-se à ex­ turbável, que a situação económica tinta Sociedade Portuguesa de Escrito­ não era tão má como a pintavam. r.:s, ter distinguido o mesmo livro de Em França o programa serviu, pode Prado Coelho: surpreendente Luandino Vieira com um prémio de li­ dizer-se, os interesses de Giscard d'Es­ teratura angolana: trata-se de Roby taing - o qual, não tendo conseguido Ficamos assim a saber que, para Amorim. até agora separar o PSF do PC F, alian­ Prado Coelho, a importância de Eanes do a si ~ l itterrand (como ainda chegou não está em si próprio mas reside na ME LOS a pensar) procura mostrar a pouco bri- complementaridade de Otelo. Eis final­ 1ha n tc situação portuguesa como mente achado o binómio da saJvação Um destes dias, um espirituoso di­ exemplo do que pode resultar de um nacional. Um cwton da polftica, este zia a nosso lado : PS e um PC a governarem em conju n­ sempre surpreendente Eduardo Prado "Nem todos os Meios são da CUF e to. Lá como cá, a TV ao servjço do C'oeU10. nem todas as CUFs são do grande capi- Governo. 15 Energia Atómica MAQUINACOES POLITICAS POR DETRAS DA CENTRAL

"Não à central nuclear!" Este o grito que percorre a Imprensa português de energia nuclear reconhe­ portuguesa desde há meses. O projecto governamental que visa cem que tanto a radioactividacle como responder às necessidades do País em energia eléctrica tem sofri­ a poluição térmica podem não ser pre­ do um ataque frontal - ao qual, aliás, não são estranhas as judiciais, desde que sejam respci ta elas determinantes de natureza política. as normas e regulamentos determina­ dos através de estudo prévio. A Comissão Promotora do Encon­ tamina o homem e a natureza. Esta a Acontece precisamente que a Com­ tro acional de Política Energét ica ini­ 1~ cla persistente dos opositores da panh ia Portuguesa de Electricidadc, ciou este mês um ciclo de conferên­ ·nergia nuclear. Para além disso, salicn­ entidade responsável pelo projecto, cias, realizadas por técn.icos estrangei­ iam o problema ela poluição té rmica, tem um programa que permitirá, em ros, com vista à informação e ao deba­ isto é, o aumento ele temperatura cau­ colaboração com dctcrm.inados depar­ te das questões relacionadas com a ins­ sado pela energia não aproveitada sob tamentos estatais, colher os dados ne­ talação ele centrais nucleares no nosso a forma eléctrica e os seus efeitos na cessários a tal estudo. país. Este ciclo irá por certo reavivar a ílora e na fauna da região. Ass im, o problema resume-se, por polémica cm torno ela opção nuclear, No caso concreto de Ferrei, perto parte daqueles que clefcnclcm a opção preparando o encontro cuja realização ele Peniche, a rejeição no mar da água nuclear, a uma ex igência sobre a efccti­ se prevê para Junho. ele arrefecimento provocaria sérios da­ vação ele estudos e, posteriormente, Os problemas especiais levantados nos na actividadc piscatória ela zona, sobre o processamento da instalação e pela energia nuclear no que diz respei­ uma das mais importantes cio País. da qualidade cios materiais emprega­ to às possíveis implicações no meio A juntar a tudo isto, há a inda o dos, os quais devem ser rigorosamente ambiente e no homem, para além da­ problema cios acidentes, derivados de fiscalizados. queles que se relacionam com o domí• eventuais defeitos de fabrico ou de ins­ nio ciuma técn ica ele importância estra­ ta lação. e ainda aqueles que poderão POS IÇÕES RETRÓGRADAS tégica no xadrez político mundial, fa ­ surgir devido a processamento opera­ zem que muitas questões sejam coloca­ ciona l inadequado. Esta a posição que caracteriza uma das no centro das atenções. Acontece Duma forma geral, os especial istas e perspectiva virada para o futuro e o mesmo que os cletractores da opção técnicos garantem que as centrais só desenvolv imento de fo rmas modernas nuclear tendem a fugir ao debate das ~ão instaladas no caso de have r garan­ de produção de energia no nosso pa ís. questões ele fundo para se refugiar nos tias de segurança . Mesmo assim, os cle­ Não é descabida a comparação que cer­ problemas que, embora importantes, tractores empolam os perigos. Isso tos observadores fazem com posições são passíveis ele causar um clima mais acontece entre nós, como em muitos assumidas no passado por determina­ favorável às suas posições. Por esse mo­ outros países, havendo em muitos ca­ das forças sociais, as quais, face ao sur­ tivo se explica a projecção que atingiu sos claras motivações de ordem po líti­ gi.me nto de novas técnicas e processos, •' na 1m prcnsa o problema da poluição e ca, que, não sendo de forma alguma ele se lhes opuseram obstinadamente. dos efeitos desta no meio ambiente. É cariz progressista (embora se apresen­ A produção de electricidade por via evidente que se torna relativamente fá­ tem corno tal), pretendem tirar efeitos nuclear é uma indústria jovem. Como cil mobilizar a população contra um fáceis e demagógicos. Contudo, a fragi­ todas as inovações importan tes, o seu projecto que ameaçaria a sua própria lidade desta posição, sobretudo quan­ apuramento acarreta riscos. Contudo, saúde. do sustentada por técnicos e cientistas, a própria técnica permite o controlo e leva alguns- deles a admitir que os efei­ a redução desses riscos a limites aceitá­ CONT AMI NACÃO tos nocivos podem ser desprez íve is. veis, pelo que atitudes de oposição E ACIDENTES Embora salientando os perigos e fa­ através do empolamento dos riscos de­ zendo da exploração demagógica um rivam tão-só de posições retrógradas As centrais nucleares são centros di­ cavalo-de-batalha contra a energia nu­ re lativamente ao desenvolvimento ela fusores de rad ioactividade, a qual con- dear, certos opositores ao projecto ciência e da sociedade . 16 ( Uma outra barricada onde os oposi­ Uma central atbmica no encargos financeiros, combustíver- , o tores ã opção nuclear se acantonam diz Pars de Gales. A polui­ custo do megavátio/hora (Mwh) atingi­ respeito ã rentabilidade do empreendi­ ção é um perigo a consi- ria o montante de 29 028 contos. No mento e ao montante em divisas es­ . derar, mas existem pos­ projecto de Setúbal - dois grupos tér­ trangeiras envolvido. Nem o estudo da sibilidades técnicas de a micos utilizando "fuel" - , aquele cus­ CPE nem outros dados conhecidos per­ evitar to elevar-se-ia a 36 359 contos. Esta mitem afirmar que o quilovátio/hora grande vantagem em. favor da central (kwh) nuclear seria mais barato que o nuclear reflecte-se, ainda, nos gastos obtido por outras soluções, afirma o rá. Outros factores são lançados por es­ com divisas, os quais seriam 60 por prof. Delgado Domingos. Este técnico, te técnico na balança dos custos, no­ cento mais elevados no caso da central um dos que mais se ttêm salientado no meadamente certas verbas respeitantes térmica a "fuel", devido ã diferença de ataque ã central nuclear, defende que a encargos com a central nuclear que preços dos respectivos combustíveis. os cálculos realizados pela CPE estão não teriam sido considerados pelos es­ falseados e que o nosso endividamento pecialistas. externo aumentará. Os valores compulsados pela CPE ENERGIA MAIS BARATA O problema é colocado em torno apontam para uma apreciável vanta­ dos custos a efectuar com os respecti­ gem a favor da energia nuclear. Entran­ O kwh nuclear é mais barato. Esta a vos combustíveis ("fuel" e urânio emi­ do em conta com os encargos totais constatação feita, não só em Portugal quecido), afirmando Delgado Domin­ (segundo o critério da CPE) relativos ã como em outros países onde as cen­ gos que o urânio irá aumentar, enquan­ duração de vida do projecto nuclear - trais nucleares já funcionam. Aí, as ba- > to o petr~eo pos~ivelmente até b~ixa- investimentos, encargos de exploração, ses onde assentam os cálculos são mais · - 17 Energia atõmica

Como dissemos de início, o que es­ tá em causa é a política energética na­ cional. Não se trata de uma simples op­ ção entre central nuclear e central hi­ droeléctrica. Trata-se, sim, de saber aquilo que, dentro do desenvolvimento económico português, será necessário adoptar para que este se processe du­ ma forma satisfatória.

BARRAGENS NÃO BASTAM

Os números divulgados pelas entida­ des oficiais são claros: nos próximos O "coração" sete anos o consumo de electricidade de uma central será o dobro do actual. Isto, partindo atómica france­ do princípio de que o aumento do sa consumo se processará ao mesmo rit­ mo que nos últimos anos. Onde iremos buscar a energia eléctrica que necessi­ tamos para um crescimento dessa or­ dem? É um problema grave, se nos lembrarmos de que são precisos anos para se erguer novas centrais e que há sérios condicionalismos para aproveitar os recursos hídricos ainda existentes. De facto, construir novas barragens, de forma a preencher a totalidade das nossas capacidades nesse campo, signi­ ficaria erguer 30 barragens simultanea­ mente. A sua potência não daria para cobrir sequer o aumento de consumo previsto até 1982. Por outro lado, de­ vemos admitir que novas centrais a sólidas. Nos Estados Unidos, os valores Tanto no Ocidente como no Leste, "fuel" e a carvão poderiam preencher

A eles se contrapõem os defensores "Considero a decisão de optar pela via "A solução nuclear é uma questão po­ da central nuclear, nomeadamente nuclear um absurdo económico e uma lftica. ( ...1 Alguns dos que atacam a cen­ aqueles que se encontram no Governo. obra de fachada. ( ... ) Em termos de pre­ tral nuclear, e já podiam tê-la atacado em Estes fazem assentar a sua opção num sente e de futuro, deve ser-se merid iana­ Julho e Agosto de 1975, mas nessa altura plano de desenvolvimento económico mente claro: podemos prescindir inteira­ não era nada conveniente para os seus e industrial que exige o decisivo arran­ mente das centrais nucleares para a satis­ interesses partidãrios, esquecem ou ten­ que de novas formas de produção eléc­ fação das nossas necessidades futuras em tam fazer esquecer que o Pa fs campeão trica. Mesmo que os seus detractores se energia. O contributo das centrais nu­ da sua ideologia já há muito adoptou as orientem meramente por razões de or­ cleares para a nossa independência ener­ centrais nucleares." (João Cami11'1aj. gética é um mito que nos arriscamos a "Jornal Novo", 26-4- 76) dem exclusivamente energética - nos seus aspectos científico, técnico, eco­ nómico - , o que desde já recusamos a português. Além das centrais hldroe­ Tanto mais que a opção nuclear acarre­ acreditar, não pode ser esquecido que léctricas ou termoeléctricas (clássicas) ta encomendas ao estrangeiro, acarreta essa posição, a viabilizar-se, terá inci­ cuja iJ1capacidade já referimos, tem-se recorrência à tecnologia estrangeira. E dências graves sobre a economia portu-' falado no aproveitamento das energias as iJ1evitáveis consequências. guesa. Quando a prof. Marieta da Sil­ geotérmicas, solar e eólica. Trata-se, O ataque é linear, assumindo aspec­ veira, catedrática da Faculdade de afinal, do complemento necessário pa­ tos comuns a todas as denúncias que Ciências de Lisboa, diz que a solução ra negar a necessidade da central nu­ nos países dependentes se faz à domj­ está na construção de centrais térmicas clear. Felizmente que os responsáveis nação imperialista. a "fuel" ou a carvão e nos aproveita­ pela política energética nacional não O fornecimento de centrais nuclea- mentos hldroeléctricos aiJ1da por cons­ são homens que chupem u1~1 rebuçado res está hoje limitado a um punhado truir, colocando-se na perspectiva dos pensando ter iJ1gerido uma lauta refei­ de países desenvolvidos, em que os Es­ próximos oito ou nove anos, isso pode ção. A refeição da qual depende, afi­ tados Unidos ocupam um lugar de des­ significar para o País um importante nal, a manutenção dum organismo tão taque. O enriquecimento do urânio. atraso que, na próxima década, tería- complexo como é um país ... operação que este minério terá de so- ) 19 Energia atõmica

<üer no caso de se optar pelo reactor trapassado em termos de rentabilidade. evidente que a União Soviética coloca do tipo de urânio enriquecido, está res­ Usam esses reactores nucleares urânio condições nas suas transacções com 0 tringido a um número menor de paí• natural em vez de urânio enriquecido. estrangeiro. Os egípcios que o digam. ses. Presentemente só os Estados Uni­ Daí que o "Diário" fale nessa opção A estratégia soviética, no que diz dos e a URSS têm fábricas que possibi­ como mais vantajosa para nós. respeito ao campo nuclear, é bem co­ litam essa operação, embora na Europa Pela mesma razão, outros técnicos e nhecida: enquanto ela desenvolve afin­ se preparem duas ou três grandes insta­ o próprio "Diário'', que tanto atacam cadamente o seu programa, munindo­ lações para o efeito. o projecto nuclear governamental, não -se do mais sofisticado arniamento, Os países europeus, devido às neces­ deixam de falar nos reactores regenera­ preconiza que os outros países, despro­ sidades colocadas pelo nível do seu de­ dores. Este novo tipo de reactor, ainda vidos de meios de dissuasão contra a senvolvimento, enveredaram pela via não comercializado por nenhum país, guerra atómica, se comprometam a nuclear na produção de energia eléctri­ está a ser activamente estudado pelos continuar nesse estado. A produção de ca. Inicialmente recorreram à tecnolo­ europeus e pela URSS. energia nuclear não é propriamente gia e aos equipamentos americanos, Estamos, também aqui, em presen­ bomba atómica. Mas o domínio da sua uma vez que estes eram os únicos exis­ ça de uma hábil manobra. É necessário tecnologia parece incomodar certos in­ tentes. Contudo, o desenvolvimento que Portugal se deixe levar pelo canto teresses fundados em monopólios. europeu e a unidade crescente dos paí• da sereia antinuclear e se ponha pa­ O desenvolvimento da nossa econo­ ses do Velho Mundo têm conduzido a cientemente à espera que os cientistas mia ao nível a que hoje se situa o co­ uma situação em que os americanos completem o estudo. Na próxima dé­ nhecimento técnico e científico exige não podem dispor já do domínio sobre cada (então sim!) já poderíamos deci­ medidas que envolvem opções radicais. os programas energéticos dos países dir. É natural que Portugal opte por aquilo europeus através do ascendente criado A opção que o País terá de fazer que lhe seja favorável e que procure os no campo das centrais nucleares. dentro do nuclear não pode ser encara­ meios onde, apesar dos inconvenientes A dependência que os oponentes da em meros termos de vantagens eco­ que sempre existem, não se boicote o agitam para impedir o programa ener­ nómicas (custos baixos) e técnicas. A seu programa para o desenvolvimento. gético português de avançar decidida­ divisão do mundo em blocos e o seu É de facto uma questão de soberania e mente é um falso problema. A depen­ jogo de influências e dependências co­ de independência. dência sobrevirá, sim, se Portugal não locam outros importantes factores no • . J.M. dispuser de formas eficientes e moder­ prato da balança. nas de produção de electricidade. O Não se pode avaliar, pelo menos nosso desenvolvimento será estrangula­ que tenhamos conhecimento, quais as CENTRAIS do e ficará dependente das soluções condições económicas da União Sovié­ que nos serão impostas por terceiros. tica na venda a Portugal duma central NUCLEARES EM nuclear. Relativamente ao tipo de cen­ OS FORNECEDORES tral que esse país nos poderá vender, FUNCIONAMENTO PôEM CONDIÇÕES sabe-se já que um deles está tecnologi­ em 30 de Junho de 1975 camente em atraso relativamente aos É curioso notar que no seio daque­ actualmente vendidos por americanos les que atacam a opção nuclear para e europeus. E o outro tipo ainda não é País Número Potência (Mw) Portugal se destacam duas correntes: comercializável por ninguém - sendo, de centrais os oponentes a todo o transe e aqueles de facto, o de nível tecnológico mais Estados Unidos 50 35 700 que atacam sobretudo a compra do avançado, aquele que irá encarnar, se­ Reino Unido 29 6100 União Soviética 16 3 700 equipamento americano. Misturando gundo se diz, a nova geração de gera­ França 10 3 000 dores nucleares. sabiamente o ataque às centrais nuclea­ R. F. Alemã 7 3 400 res (em bloco) e aos reactores a urânio Contudo, há outras condições que a Japão 7 3 100 enriquecido (fabricados sobretudo pe­ URSS não deixará de colocar. O matu­ Canadá 6 2 600 los americanos), as vozes que se expri­ tino "Diário" já deu uma amostra do Suécia 3 1 900 mem no "Diário" dão mostras de uma que poderá representar para a nossa so­ Espanha 3 1100 orientação que se guia pelo adiamento berania a compra de uma central nu­ Sulça 3 1 000 da decisão. Adiamento que pode signi­ clear, se determinadas forças puderem Itália 3 640 ficar interesse pelos fornecimentos fu­ impor as suas condições. Dizia o arti­ fndia 3 620 turos, a serem feitos por um novo for­ culista desse jornal, em 1 de Março Holanda 2 520 passado: Do ponto de vista jurídico, R. D. Alemã 2 520 necedor, até aqui sem condições para Bulgária primeiro seria preciso que Portugal as­ 440 disputar as possíveis encomendas exis­ Bélgica 410 tentes: a URSS. sinasse o Tratado de Não Proliferação Argentina 340 A União Soviética poderá vir a co­ de Armas Nucleares. Paquistão 140 mercializar um tipo de reactores, já É evidente que o "Diário" não é a Checoslovãquia 110 produzido no Ocidente, o qual está ul- voz oficial da URSS. Mas também é 20 historia

Filha de D. Carlos pergunta:

Enquanto, descaradamente, va liosas obras de arte desapare· guado que um outro valioso tríptico, cem dos monumentos nacionais para serem negociadas no do século XV ou XVI, no valor de cen­ estrangeiro, Maria Pia de Bragança, filha natural de D. Carlos, tenas de contos, esteve "ausente" do penúltimo rei de Portugal, reclama judicialmente os direitos Palácio da Ajuda durante alguns meses, após ter sido roubado e recuperado de dos bens que pertenciam a seu pai e avós. forma rocambolesca e ainda não devi­ damente esclarecida. Desde que D. João l V, oitavo d u­ que, para tal, tenha direito. E o mais Dir-se-á, pelos acontecimentos que que de Bragança, subiu ao trono que a beneficiado com essa fortuna não é, passamos a relatar, que o Palácio da História portuguesa se funde intima­ certamente, o povo português. Ajuda, onde se guardam obras de arte mente com a Ca casa de Bragança. Du­ A }ústória do recente aparecimento e jóias cujo valor ascende a milhões de rante 270 anos, os duques possuidores da duquesa de Bragança em Lisboa co­ contos, está a saque ou, pelo menos, daquele título foram reis de Portugal, meça assim: votado a um desprezo que se torna cri­ ou seja, de 1640 até 1910, data em Em Paris, Londres e Genebra apare­ minoso. Elementos da GNR, armados que é in1plantada a República, dois ceram, nos últimos meses, algumas de G3, guardam agora o exterior do anos após o assassínio de D. Carlos, pe­ obras de arte, que foram vendidas em belo edifício real, dia e noite, mas tu­ núltimo rei de Portugal. Sucedeu-lhe leilões, sendo dadas, concretan1ente, do indica que o Governo deve tomar seu filho, D. Manuel, com quem, pen­ como provenientes do Palácio da Aju­ medidas, incluindo uma sindicância, sou-se, a dinastia ficaria extinta, dado da, em Lisboa, de onde teriam sido que ponha a claro os meandros de uma que morreu sem deixar sucessores. Sa­ roubadas. questão que não pode deixar de preo­ lazar, quando desejou resolver o pro­ O escândalo que envolve estes acon­ cupar a opinião pública. O clima que bl~rna dos Braganças, deixado em aber­ tecimentos estalou em Portugal por reina no interior do palácio, entre os to durante a 1 República, ignorou a duas vias: na Assembleia Constituinte, seus guardas e o conservador, tem de existência de uma filha de D. Carlos, onde deputados do MDP/CDE fizeram ser devidamente posto a claro, tanto que fora, durante anos, escondida, por um requerimento ao Governo, em Mar­ mais que se sabe que o tríptico rouba­ conveniências sociais evidentes. ço último, exigindo que fossem dadas do estava no andar nobre, no salão de Essa mulher, que conta agóra mais explicações sobre o assunto e por via pintura de D. Luís, que não é facil­ de 70 anos, está em Portugal, onde de uma queixa apresentada, na Polícia mente acessível de fora para dentro do veio reivindar os seus direitos. Entre Judiciária, pela sra. D. Maria Pia de Sa­ palácio. Nem é simples passar as portas eles, não se conta o de ser rainha. Mas xe-Coburgo Bragança, na sua alegada com três quadros de razoáveis dimen­ deseja, obviamente, reaver alguns dos qualidade de herdeira dos bens do sões ... bens familiares, dos quais está muita morgadio de.Bragança. A queixa apresentada na Polícia pe- ) gente a "comer", n~te momento, sem Posteriormente, foi por nós averi- la duquesa de Bragança, relativa a ou-

21 historia

tras obras de arte nacionais, vendidas no estrangeiro, levantará o problema < da sua legitimidade para fazê-lo, uma vez que aquela aristocrata se apresenta na invocada qualidade de filha de D. Carlos, penúltimo rei de Portugal. Levanta-se, assim, 44 anos após a mor­ te de D. Manuel II (l 932), a questão dinástica portuguesa.

QUESTÃO DINÃSTICA

D. Carlos I era um belo homem, português à moda daquele tempo, meio marialva, gostando de touros e touradas, pintando como um bom ar­ tista, dotado de qualidades de carácter que o faziam querido das mulheres. As suas relações amorosas com a rainha, Amélia de Orléans, sempre foram pou­ co calorosas. A francesa, bela e altiva, era dada como fazendo um favor ao Ligar o seu principado ao de Bragança. No dizer de testemunhas da época, te­ rá sido, a partir de 1903 - quando um desastroso incêndio cremou em Vila Viçosa, a primeira filha do casal com poucos meses de idade - que as rela­ ções se tornaram mais tensas. Desde aí parece terem-se acentuado as divergên­ cias do casal. Foi mais ou menos por essa época que passou por Lisboa um meio fidalgo brasileiro, de apelido Lc­ Ma ria Pia, duquesa de Bragança, que não quer ser rainha redó, acompanhado por sua mulher t' por uma ftlha, Maria Amélia de Murça. Liberdade, em Lisboa, nascia, em casa nhã, ao abandonar o paço-mor da casa que, nessa altura, tinha apenas quinzt' dos avós maternos, quase em segredo, ducal, onde passara a noite, o último anos e era rapariga de deslumbrante uma rapariga, baptizada na Freguesia gesto de Carlos de Bragança terá sido o beleza. O par, rico proprietário de fa­ do Sagrado Coração de Jesus, à qual de depor na fronte da sua filha legiti­ zendas no nordeste brasileiro, trouxera foi dado o nome de Maria Pia. No dia mada um beijo de pai amoroso. Horas a jovem às cortes europeias na mira de seguinte, a mãe recebia uma mercê as­ após a morte do rei e do príncipe her­ arranjar-lhe um bom casamento. sinada por D. Carlos, onde llle eram deiro, ocorrida, como se sabe, no Ter­ O que viria a acontecer. Leredó foi, dadas as honras de fidalga e, a sua fi. reiro do Paço, a pequenita Maria Pia certa noite, convidado para uma festa llla, todas as prerrogativas e direitos era levada à pressa, com sua mãe, para no Paço, onde compareceu acompa- próprias de filha do rei. Espanha. Com ela andaria sempre, du­ 1ihado pela filha . Diz-se que D. Carlos passou a fazer rante mais de meio século, até que Ma­ Uma breve reverência de Amélia de vida em comum com a sua amante bra­ ria Amélia de Murça veio a falecer, em Murça bastou para incendiar o coração sileira, de 1903 a 1908, acalentando Roma, em 1958, com 78 anos, vitima­ de D. Carlos. Amélia de Orléans, a seu sempre o desejo, aliás impossível de da por uma longa e dolorosa doença. lado, dura e fria, mal terá percebido concretizar, (embora Leão Xlll chegas­ O infante D. Afonso, irmão do rei, aquele rebrilhar de olhos, aquele rápi­ se a ser discretamente sondado para o a quem o povo chamava de "Arreda'', do pestanejar malicioso que levaria efeito) de desposá-la. devido aos gritos de medo que arranca­ Carlos de Bragança, daí a pouco, -a O casal encontrava-se com frequên­ va a alta velocidade (20 km à hora) do convidar a bela brasilcirinha para um cia em Vila Viçosa, de onde o rei par­ bólide que quase sempre conduzia, de­ "tour de volte". Daí ao nascimento de tiu, a 1 de Fevereiro de 1908, para a sempenhou um papel importante no uma formosa menina foi um passo. jornada que o traria a Lisboa, onde foi salvamento da criança e da mãe: foi no Em 1906, num prédio da Avenida da assassinado, ao fun da tarde. Pela ma- belo automóvel de seu tio que Maria

22 Pia seguiu para EspanJ1a, onde seria do de O. João I que vinham acumulan­ por aquele país e pela Aústria. confiada aos cuidados de Afonso Xlll do bens pessoais, tornando-se donos de Foi aí que Salazar buscou o seu her­ e da corte espanhola. meio Portugal. A certa altura, desde deiro para o trono português, Duarte que D. João IV, duque de Bragança, se uno, tetraneto de D. Miguel. A MONARQUIA tornou rei, os bens da coroa e os do· Havia, entretanto, a filha legitimada morgadio podiam confundir-se mas es­ de D. Carlos, Maria Pia de Saxe-Cobur­ TinJrn começado aí a questão dinás­ tiveram legalmente separados. go Bragança. tica portuguesa. Para resolver este cmbróglio dinásti­ A partir de 1950, Maria Pia come­ A O. Carlos sucedeu seu filho se­ co, Salazar decretou que "ficaram, çou a reclamar os direitos do que era gundo, D. Manuel, que reinaria apenas pois, os bens da a.ntiga casa de Bragan­ de seu pai e avós. dois anos. A 5 de Outubro de 1910, a ça pertencendo em plena propriedade Veio a Portugal, pela primeira vez, Revolução Republicana estava triun­ a D. Manuel II, como o último admi­ em 19 58 e tentou ser recebida por Sa­ fante. nistrador do vínculo e por não haver lazar. Este mandou dizer-lhe por Solla­ D. Manuel II, acompanhado por sua presuntivo sucessor, nos termos do ar­ ri Alegro, seu secretário: "Saiba V. Al­ mãe e sua avó, respectivamente, Maria tigo 2 da lei de 19 de Maio de 1863". teza que não há trono para um e, mui­ Pia de Sabóia e Amélia de Orléans, fu­ Assim, Maria Pia foi posta fora dos to menos, para dois." giu para o palácio-convento de Mafra, arranjos testamentários, cabendo o Em 1968, Maria Pia voltou a Portu­ de onde logo seguiria rumo à Ericeira. grosso dos bens de D. Manuel II a gal para reclamar. Foi presa e enviada Ao largo, um iate esperava a faml1ia Amélia de França, mãe do rei, e D. Au­ para Caxias, de onde a livrou o dr. Má­ real. Esta, como se pode ler numa pla­ gusta Vitória de Hoenzollern, sua mu­ rio Soares, seu advogado durante ca colocada na igreja da Ericeira so­ lher. Os bens da rainha-mãe passariam, 12 anos. branceira ao porto, dali partiu "sob o por sua morte, à viúva do defunto rei respéito e a simpatia da população lo­ e, desta, aos seus sucessores. Assim, No exílio, Maria Pia recebeu e pro­ cal". D. Manuel fixar-se-ia cm Inglater­ neste momento, é um príncipe alemão, tegeu todos os emigrados, de Humber­ ra, perto de Londres, (Rich.mond), ca­ sobrinho de O. Augusta Vitória, quem to Delgado aos socialistas, que se espa­ sando com uma princesa alemã - está a receber as rendas das proprieda­ füavam por Roma e Paris. Em 25 de D. Augusta Vitória de Hoenzollern Sig­ des do morgadio de Bragança, no valor Abril 74, decidiu voltar ao País para maringen, que veio a ser a última rai­ anual de alguns milhares de contos. reclamar os seus direitos e lutar, como nha de Portugal. Também D. Manuel II As rendas de numerosos prédios do nos disse, pelo povo que sente ser o não se entendeu muito bem com a Chiado vão mensalmente parar à Ale­ seu. mulher, fazendo ambos vida separada. manha. Entre os direitos que julga possuir, Era conhecida a pr~ferência do rei por­ Para ter um sucessor português ao estão os de propriedade de alguns dos tuguês por algumas actrizes, no que trono, Salazar decretou, pois, como bens da Casa de Bragança, como os mais não fazia que seguir uma secular extinta a linha dos Braganças proce­ mifüares de objectos de arte, dos quais tradição de seus antepassados, para os dente de D. Maria II. alguns se afirma estarem a ser ilegal­ quais certo tipo de moral conjugal Como se sabe, D. João VI teve dois mente vendidos no estrangeiro, após pouco existiu, sendo muitos os bastar­ filhos - O. Pedro e D. Miguel - que se roubo efectuado nos antigos paços dos que produziram. envolveram nas chanrndas lutas libe­ reais. Em 1932, D. Manuel II morria sem rais. "De 25 de Abril de 1828 até Chegada a Lisboa, apresentou quei­ deixar descendentes. 31 de Julho de 1831 foran1 presos xa na Polícia Judiciária, onde decor­ Em 1951, falecia sua mãe, Amélia 26 370 indivíduos, degredados 1600, rem investigações relacionadas com o de Orléans, e l\laria Pia, mergulhada na executados, 39 e andariam homiziadas caso. No dia em que estivemos no Palá­ loucura, já deixara também este mun­ 5000 pessoas, emigradas 13,700 e con­ cio da Ajuda, tinha sido colocado nu­ do, cada uma no seu país de origem. fiscados os bens a 80 000 famílias." ma vitrina o valioso tr{ptico quinhen­ Proclamada a I República, que vive­ Isto passava-se sob o domfnio do tista que, em Outubro de 1974, fora ria apenas dezasseis anos, Portugal absoll} tista D. Miguel, que acabaria por roubado da Ajuda e vendido a um anti­ mergulhou nas dissidências políticas perder a guerra em que se envolvera quário da Sé, pela quantia de l O. con­ que se conhecem e conduziram à dita­ com o seu irmão liberal D. Pedro IV, tos, tendo ele afirmado desconhecer a dura do . primeiro imperador do Brasil. identidade do vendedor da obra. Quem Relativamente à família real, Sala­ Os Braganças liberais continuaram é o ladrão e como é possível que valio­ zar decretou que os seus descendentes no trono português, após a guerra civil, sas obras de arte permaneçam meses até ao quarto grau fossem impedidos e D. Miguel exilou-se para a Alemanha, fora dos monumentos nacionais sem de entrar em Portugal, até 1950. onde casou com a princesa Adelaide que se saiba como tal acontece? Assim, o luso ditador entendeu ter Sofia Amélia Luíza Joana de Horwens­ Qual o mistério que envolve o rou­ chegado a altura de resolver o proble­ tein - Wertheim - Rochefort, de bo de obras de arte de palácios portu­ ma dos grandes senhorios dos Bragan­ quem teve sete filhos, que se foram es­ gueses e o seu contrabando para o es­ ças. Estes, como se sabe, desde o reina- palhando, como a sua descendência, trangeiro? J .F. .

23 Justiça

JURADOS PARA QUÊ? Os jurados, escolhidos por sorteio, voltaram aos tribunais Um júri excepcional. No caso portugueses. Aparentemente, a sua institucionalização parece " Angola e Metrópole", devido à traduzir um esforço de democratização da justiça. Mas, na complexidade dos debat es, os ju· rados eram todos magistrados realidade, para que servem os jurados?

Instituídos na monarquia constitu­ tribunal colectivo, e por oito jurados A QUEM CABE cional e extintos em 1927, os jurados efectivos e dois suplentes, que só inter­ O PODER DE DECISÃO? voltaram a aparecer nos tribunais por­ virão quando, durante o julgamento, tugueses, por determinação do Decre­ algum dos efectivos estiver incapacita­ O problema-chave que se põe em to-Lei 605, de 3 de Novembro de do. relação aos jurados é saber se, de facto, 1975. À partida, nenhum julgamento é eles têm ou não poder de decisão. O Diz este diploma que "a instituição obrigado a ter um júri. Ele só actuará art. 492 do decreto citado diz-nos que, do júri impõe-se como postulado da se for requerido pela acusação ou pela "findas as alegações, o juiz presidente ordem democrática instaurada pelo defesa. Quanto à escolha, os jurados perguntará ao réu se tem mais alguma Movimento das Forças Armadas. Na são sorteados a partir dos cadernos coisa que alegar em sua defesa, ouvin­ verdade, só os regimes totalitários po­ eleitorais. Deste modo, qualquer cida­ do-o em tudo o que disser a bem dele. derão recear a intervenção dos repre­ dão português com capacidade de voto Feito isto, o juiz presidente declarará sentantes do povo, base e alicerce de pode ser chamado a integrar um júri. encerrada a discussão da causa e orga­ toda a ordem democrática, no julga­ É-lhe proibido recusar, a não ser que nizará os quesitos que por ele serão mento dos arguídos". prove incapacidade mental ou física. lidos em voz alta". Ora, na medida em E é aqui que bate o ponto. Até Em quase todos os países da Euro­ que os quesitos, isto é, a matéria de onde, efectivamente, os jurados podem pa existe o júri misto, ou seja, do tipo facto que está em discussão, conti­ garantir a democraticidade de que fala adoptado em Portugal. Nos Estados nuam a ser organizados pelo juiz, é ele o decreto? Até onde a presença do Unidos, o sistema de jurados é ligeira­ que mantém o poder selectivo, poder júri pode colmatar erros que, porven­ mente diferente, na medida em que esse que influencia directamente a de­ tura, existam nos processos? integra apenas cidadãos, não havendo, cisão dos jurados. Deste modo, estes Para já, o júri só se aplica aos pro­ portanto, um tribunal colectivo. Para ficam reduzidos, na prática, ao papel cessos de querela, isto é, aqueles que muita gente, a forma utilizada nos de dizerem apenas SIM ou NÃO. Isto, compreendem pena maior. Ele é com­ EUA resulta mais eficaz do que a euro­ porque a organização dos quesitos é a posto por três juízes, que constituem o peia. pedra-de-toque para a absolvição ou 24 condenação, já que a organização im· entre os jurados, por outro, caso haja vieram alterar o andan1ento dos pro­ plica na qualificação dos factos. alguma irregularidade durante a delibe­ cessos. Limitados pela acção dos juí• Mas ainda não é na orgruúzação dos ração, não existe nenhuma maneira de zes, subordinados a um código, em quesitos que se encontra a questão denunciar essa irregularidade. E nova­ muitos aspectos por rever, os jurados fundamental. l lla reside, em nossa opi· mente gailham importância os proces­ nada decidem. Servem, sim, para dar ruão, nas bases do sistema legislativo, sos políticos, onde, durante a delibera­ uma cobertura democrática. E dizemos isto é, o Código Penal, que, em muitos ção, surgem maiores oportunidades de "cobertura", pois aqui ficou-se pelo pontos, remonta ao tempo do fascis­ atropelos. exterior. llá que ir ao fundo dos pro­ mo. Assim, é na lei que tudo vai en­ Em resumo, do nosso ponto de vis­ blemas. llá que resolver o cerne da troncar. De facto, a aplicação da pena ta, os jurados pouco ou quase nada questão. • F. F. é fixada pelo júri, mas dentro do que a lei dispõe. Deste modo, por mais bem montada que estivesse a máquina dos jurados, supondo que um júri seria constituído por pessoas tidas como A possibilidade de pratica r Artes verdadeiras democratas, sobre as quais não pairava nenhuma sombra de dúvi­ Orientais ao seu alcance da, e, indo mais além, imaginando um júri só formado por operários e campo­ EN'CICLOPéDIA-CURSO DE ARTES neses, os problemas serian1 os mesmos. DE COMBATE ORIENTAIS Havendo injustiças na lei, o processo fica viciado desde o início.

FACTOS CONCRETOS E QUESTÕES PO L(TICAS

Por outro lado, há que considerar o aspecto pol ftico das coisas. Em certos processos, abertamente políticos, a re­ dução das questões à pura matéria de facto pode escamotear o que, na verda­ de, aconteceu. Vejamos, por exemplo, um crin1e político: pode este ser redu­ zido ao facto concreto de matou ou não matou? Numa ocupação de terras pode ficar-se pela pergunta se ocupou ou não ocupou? E aqui que a organi­ zação dos quesitos e certos artigos do Código Penal, nomeadamente aqueles que dizem respeito à segurança do Es­ tado, têm particular relevância. Um outro problema que ainda se levanta em relação aos jurados refere­ -se ao "segredo de justiça". Encerrado o julgamento, os jurados retiram-se pa­ ra deliberar. Sobre isto, vejamos o art. 510: "Nem os juízes que constituem o tribunal colectivo nem qualquer dos jurados poderão revelar o que se tenha passado durante a deliberação e vota­ ção e que se relacione com a causa nem exprimir a sua opinião sobre o REVISTA MENSAC. veredicto do júri depois de proferido. Se os juízes que constituem o tribunal DE ARTES MARCIAIS colectivo ou algum jurado infringirem À VENDA EM TODO O PAíS o disposto neste artigo, incorrerão nas penas por violação de segredo de justi­ . àt'1(. ça, incorrendo ainda os juízes nas res­ distribuidora pectivas sanções disciplinares." \~"t- o SECULO Ora, se, por um lado, é correcto que se mantenha o segredo da discussão 25 NOVIDADES ROS SELECÇÃO DA SEMAN,A

OPODER POPULAR AUTOBIOGRAFIA a~ de &ana mulher EM CUBA O PODER DE UMA MULHER emancipada POPULAR . Autor: RAUL CASTRO EMANCIPADA -- EM CUBA Autor: ALEXANDRA KOLLONTAI De acordo com os princípios mar· xlstas-leninistas aplicados às nossas Dotada de uma grande vivacidade, condições concretas, instituir a elei· começou a evidencia r-se na propaganda ção de órgãos ele Poder PopulM. de de ideias comunistas aos dezoito anos de idade. modo que as massas fiquem i ncor~ 111tAQ1,. C ASTlltO radas institucionalmente M d irecção Expandiu então com todo o " lgor estai&! e administrativa e que o povo em conlerêncies e em artigos nos jor­ forme parte d irecta dos órgãos de • por~tos nais, a propaganda do que ela enten­ Estado, como este um Estado Socia· -.- de vista d ia por emancipação da mulher. <.. H< ..... ••• ' --·••• lista dos trabalhadores, profundamente Triunfando a re.iolução bolchevista em democrático e revolucionário. 1917 reg

A TEIA OPERSON ALISMO DAS MULTINACIONAIS (1) Autor: EMMANUEL MOUNIER Estamos perante um filósofo que Autor: ARMAND MAT.TELART não hesitou em sacrificar a fi losofia a uma obra que na acção se perfez; O propósito da presente Investiga­ estamos perante um homem que niic ção é precisM os contornos da ofen· hesitou em abandonar os caminhos siva Ideológica das classes dominantes, que uma acção política normalmente nesta etapa de acumulação lnternac10 implica, a impediu de se contradizer nal do capital, apreender a mobilidade ou decompor em opções cujo carácter dos seus agentes e determinar as concreto fosse contra o verdadeiro outorgas de poder que a fase actual ~promisso em que se empenhavo exige. e se baseava

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REVOLUÇÃO MALRAUX ESARTRE nialr&UX e sartre E CONTRA-REVOLUÇÃü FALAM OE ••• :talam de... NA ALEMANHA Dois homens fa lam do que os preo cupa - do que nos preocupa JUtt"U.~ o:r.u.ui:~:.:.a~·•:lt ;&Jo;trl"_. Dois homens cujo pensamento e u.n::v•a.. Autor: KARL MAR.X 11:• •L:,n c.1.:..:11 n.s· v... -~ ;,...ll)o.J... A..'i'l:Jl'TI :.D:~u.r. :.a~ acção de algum modo intervieram na ~J.U~ n":.J.Ula; Numa revolvçlo, aquele que cornao­ história nossa contemporànea. '-"W.tA'. IUU02V.n• UIQU"ta da uma posiçlo vital e a entrega em Dois textos diversos mas que abor· l> IS~J1".ff.Ul vez de forçer o Inimigo a ganh6-la em dam alguns dos temas fundarnenta's luta d iffcil merece sempre ser clas­ do mundo de hoje. sificado de traidor. MORAES - Preço: 70$00 ULMEIRO - Preço: 65$00

+- ~... ~ distribuidora o SECULO

26 Vidéb 1J1Wluiai separata

N. 1889 · 27/5/76

sal e pimenfJJ do espírifM portugues

Porque dar lugar à revista nesta separata? Porque ela é, na tradição teatral a expressão mais genuina­ mente portuguesa. As suas raízes são longín• quas. Mergulham nas far­ sas vicentinas, que, indo desaguar no teatro de cordel dos séculos XVI 1 e XVI 11, mantém vivos os elementos que futura­ mente, no enquadramen­ to do espectáculo musical copiado do modelo fran­ cês, culminarão na revis- , ta. Recorda-se ainda que no "apimentado" da revista perma nece uma das gran­ des linhas de força da nossa cultura: a sátira.

Coordenação de TOMAZ RISAS 27 A revista a po1·tuguesa

Mulheres tocando e bailando, ST ÁV AMOS no final do sécu­ desenho de uma gra· E lo XIX. Das outras capitais vie­ vura do século XII I ra-nos a moda das sessões de varieda­ des com o nome de "music-hall". A revista era uma sequência do "music­ ·hall", que deixara as salas dos restau­ rantes, com um pequeno palco, e viera para a largura dos proscénios, onde antes se tinham repre'sentado os me­ lodramas. Espectáculo deslumbrante, rácter deste espectáculo era o da graça, Lisboa", "Lisboa à Noite", "Prá frente por excelência, onde a graça e a fanta­ como se afirmou. Um personagem, Lisboa'', "Marcha de Lisboa", "Cidade sia se misturavam, resultando um géne­ com o nome de Compadre, comentava Maravilhosa", "Cartaz de Lisboa", ro aliciante de teatro, que gânhou as o fio do enredo, que se desenrolava em "Férias em Lisboa". maio·res atenções. Em cena aberta, o quadros de fantasia, sendo o primeiro Um mundo de teatro mágico, que espectador transportava-se para um rei­ num lugar paradisíaco, logo seguido se espalha pela população alfacinha, no imaginário, onde as coisas tinham por outro da rua. Tipos pitorescos de povoando-lhe as noites com os fantas­ voz e as pessoas dialogavam com elas, costumes tinham sempre lugar. Havia o mas maravilhosos. como se estivessem noutra irrealidade. Polícia, o Bêbado, a família que tinha Depois havia o coro, aquele descenden­ ido para as hortas, etc. A personagem AZINHAL ABELHO te do corifeu helénico, que, mais do de Compadre possuía u'ma graça, de ( in "Teatro Popular Português" vol. V) que a voz, aqui tinha o corpo, um réplica sagaz, para comentar os aconte­ corpo de linhas esbeltas, com pele cor cimentos do dia. Muitas vezes, as pia­ OS ARREMEDILHOS de pérola, emoldurado de plumas ou das eram inventadas por ele, sem co­ E OS MOMOS véus reluzentes e brilhantes. nhecin1ento dos autores. Também as As revistas fan1osas no estrangeiro melodias cénicas criaram uma acentua­ Antepassados Medievais tinham sido as de Paris, onde a vedeta ção especial. Estilizavam o folclórico, do nosso Teatro de Revista - Mistinguette descia a ribalta até à pla­ popularizando um pitoresco descritivo teia, para divertir os oficiais que regres­ da paisagem, ficando um regionalismo O teatro dos jograis savam da Flandres, em gozo de licença, sofisticado. falta de textos também se faz na chamada guerra mundial. Nos títulos destes espectáculos po­ A sentir quanto às manifestações Lisboa teve o seu teatro de revista. demos ver, de certo modo, a sua ex­ dramáticas de carácter profano que te­ Na queda da monarquia e advento da pressão. Nos tempos de excitação e rão divertido os portugueses até ao fun República, o género que mais divertia exaltação política apontemos estes no­ do século XV. Também aqui teremos o públicó era então o da ."revista do mes de peças que fizeram sucesso :"Ó de recorrer a outros documentos para ano", chamada assim porque as cenas da guarda", "Ali à preta", ''Tim-tim poder afirmar que floresceu em Portu­ comentavam os acontecimentos sociais por tim-tim'', "Lisboa amada", "A ci­ gal, antes de Gil Vicente, uma tradição e políticos do período dos doze meses. dade onde a gente se aborrece ... " . espectacular laica cujas sedes foram a A riqueza dos enquadramentos dos ce­ Depois vem a série de revistas com praça pública e a Corte e cujos actores nários e o luxo do guarda-roupa eram os nomes onde a culinária servia de eram os jograis. substituídos pela graça das piadas ou o motivo: "Sal e pimenta", "Chá·e torra­ sentimentalismo das cantigas. Grandes das", "Chá das cinci", "Café com lei­ Muito se tem falado, a propósito êxitos se podem assinalar neste mo­ te'', "Cabaz com morangos'', "Cozido deste filão jogralesco, dos chamados mento do teatro em Portugal. Rábulas à portuguesa'', "Salada de alface'', "arremedilhos", supostas farsas carac­ políticas, alegorias patrióticas, estribi­ "Sardinha assada", "Água pé", "Tre­ ter ístjcas da cena portuguesa já desde lhos divulgados. Até o grande poeta, moço saloio", "Vinho novo", "Iscas o sêculo XU, sempre na base de um que foi Guerra Junqueiro, assinou uma com elas", "Feijão frade", "Fava ri­ documento de 1193 em que os bobos revista que foi levada à cena com o ca", "A ginginha", "Tripas à moda do Bonamis e Acompanhado, para que se título "Viagem à volta da Parvónia" . Porto'', Há os títulos que convidam ao confirmasse uma doação a seu favor, Num recanto da cidade estabele­ divertimento: "Rambaio", "Balancé", prometiam a D. Sancho I "unum arri­ ceu-se o viveiro de cultura deste teatro. "Pernas ao léu'', "Sol e dó", "Há festa midilum": No chamado Parque Mayer construí• na Mouraria'', "Há festa no Coliseu", ram-se teatrinhos populares, onde se "Arraial". Nos mzmi suprenominati debemus representaram e representam os maio­ Actualmente, sob o signo do turis­ Domino nostro Regi pro rebotatione res êxitos da revista em Lisboa. O ca- mo temos: "Lisboa Nova'', "Boa noite unum arrimidilum. 28 . 1 Quadro da revista "Sonho Dourado". em 1451, por ocasião do casamento da um dos grandes sucessos do principio irmã, a infanta D. Leonor, com Frede­ do século rico III, organizou momos em Lisboa; O. João li, pelo seu lado, foi o actor nifestação tipicamente portuguesa ou, principal dos que espantaram f vora cm 1490, fielmente descritos por Car­ ~EmprcmJcR IVILEC.10 REAL. tiveram em toda a Europa nomes li­ uma sociedade chegada ao apogeu da (to) gados ao grego "mimos" (e depois sua trajectória, as alegorias medievais Que coisa era o "arrimidilum", eis o "momos'', personificação mitológica misturam-se com um exotismo evoca­ que o documento não diz. Toda a es­ do escárnio e da reprovação), como dor de mundos longínquos. Os temas, peculação ã roda deste suposto termo um exemplo os "momes" e as "mome­ inspirados em romances ou poemas, procede do significado que lhe deu ries" francesas medievais e as "mo­ ganham actualidade ao inserirem-se nas Viterbo ao incluí-lo no seu "Elucidá­ marie" vem:zianas de Quatrocentos. paisagens de aventura e conquista em rio" de termos arcaicos, qual sinónimo Em Portugal o gosto pelo morno - que os portugueses andavam pelos fins de entremez, farsa, comédia ou repre­ mascarada pomposa apoiada na mí• de Quatrocentos e princípios de Qui­ sentação jocosa. O apoio que ilustres mica muito mais do que na palavra - nhentos: a África, desvendada palmo a estudiosos, como Carolina Michaelis, deve-se talvez à influência francesa. A palmo e, por fun, circum-navegada, a óscar de Pratt e, mais recentemente, primeira dinastia viera da Borgonha e é índia, maravilhoso campo de experiên­ Fidelino de Figueiredo, deram a esta natural que os dois países mantivessem cias a partir de 1498, e, depois, o Bra­ tese tornaram-na intocável até aos relações estreitas. Mas não é de excluir sil, de grandes rios e árvores imensas. nossos dias. Disse-se que os "arreme­ "a priori" a influência dos espectá­ Dragões, homens, gigantes e demónios dilhos" eram verdadeiras e próprias culos ingleses da série "mununing-dis­ significam simultaneamente a luta do farsas em miniatura, dotadas de música guising-masque", tão afins do morno homem medicvo contra o mal e o e, sobretudo, de um "texto" escrito ibérico e, como ele, baseados no dis­ triunfo do homem moderno sobre os segundo o esql!ema do contraste, pelo f arcc e na mímica silenciosa. Em Por­ elementos. E a fóm1Ula castelhana que a recitação deveria ser confiada a tugal, todavia, numa primeira acepção. "justear dei dia e momear la noche" um par de actores pelo menos. E acres­ a palavra "morno" não designou a re­ define como nenhuma outra o am: centou-se que esses actores teriam go­ presentação dramática a que nos esta­ biente e o alcance do morno. Os textos zado de grande fama ao longo da Idade mos referindo, mas sim a própria más­ são reduzidos à expressão mais sim­ Média portuguesa, embora se não te­ cara e também o homem mascarado. O ples: desafios, embaixadas, mensagens, nham achado citações de "arreme­ outro significado apareceu mais tarde. denominados "breves" ou "letras", são dilhos" com o sentido que lhes é atri­ Em 1276, por exemplo, a infanta por vezes recitados, outras vezes entre­ buído. D. Mafalda, por testamento, legou ao gues escritos à maneira dos breves ré­ irmão (D. Pedro) o seu "momum qua­ gios de rolandiana tradição. Omomo dratum", ou seja, a sua máscara qua­ ...... Outro género dramático pré-vicen­ drada; e, cerca de 1413, conta Azu­ Para o Portugal dos séculos XV e tino representaria, ao lado dos "arre­ rara, havia alfaiates e tecelões especia­ XVI o morno não é um divertimento medilhos", quase todo o teatro medie­ lizados que aprontavam librés e qualquer: é o espelho dos tempos, mas val português: trata-se do "morno". mornos para "funções" na Corte, as espelho em que não se vislumbra mais Mas foi indevidamente que alguns estu­ quais, como ingrediente fundamental do que uma estilização, um pálido re­ diosos, historiadores e lexicógrafos que eram de todas as festas do reino, flexo das formidáveis mascaradas que aproximaram as duas expressões, pois muito teriam contribuído para o apu­ todos os dias deslumbravam o povo de a história do morno é bem diversa da ramento do morno-mascarada. Foi Lisboa. que teria caracterizado as palhaçadas com mornos que o infante D. Henrique jogralescas dos bobos "remcdadores". celebrou, em Viseu, a Epifania LUCIANA STEGAGNO PICCHIO Os mornos não constituem uma ma- de 1414 e o próprio D. Afonso V, (in " História d o Teat ro Po rtuguês") 29 prestígio do género mantém-se, porém,' Duas 11 revistas do ano 11 apesar de todos os transformismos do tempo. •l

en1 1852 e 1856 GUSTAVO DE MATOS SEQUEIRA (da conferência "O Teatro de Revista", in "A Evolução e o Espírito do Teatro em Portugal") Quando a revista apegou em Portu­ porque atravessava as ruas de Lisboa gal havia pefo menos já largos anos que ridiculamente vestido, exibindo "uns bracejava pela Inglaterra e pela França. amplos punhos voltados de tal abun7 Andrade Ferreira, no prólogo de dândia de fazenda que se diria que as "Os Melhoramentos Materiais", revista fraldas da camisa lhe saíam a flux pelas de 1859, que subintitulou de "Comé­ mangas da camisa", como escreveu An­ dia Satírica e Fantasmagórica", defi­ drade Ferreira na "Gazeta Literária do niu-a assim: "É um resumo dos acon­ Porto''. tecimentos que deram uma fisionomia especial ao decurso do ano, personi­ JORGE DE FARIA ficados ou simbolizados em figuras que ("Notas para a Históra de Revista em Portu­ a sátira encara pelo seu lado cómico". gal", in "Teatro Popular Português" Vai. V, Pendo a crer, conta Sousa Bastos, atri­ de Azinhal Abelha) buindo-a a Francisco Palha, que a pri­ meira revista portuguesa subiu à cena QUANDO AS "GI RLS" em Dia de Reis de 1852, no Ginásio, e V IERAM PAR A A REVISTA se intitulava "O festejo de Um Noi­ vado". Eram três actos curtos, em N A"Água-Pé'', que sucedera no prosa, entremeados de alguns breves ~xito ao "Tiro ao Alvo" (duas números de música. O seu autor foi o épocas inteiras em dois teatros), apare- actor Brás Martins, o do Santo Antó- ceram pela primeira vez as "girls", tra- AS "BRINCAS" nio. Conheço dela apenas duas rábulas, dução em estrangeiro, das históricas DE ÉVORA "O Candeeiro de Gás" e "O Candeeiro coristas, ensinadas por Francis. de Azeite", alusão à iluminação a gás A revista deixou de ser sátira, talvez (Porque a revista, entre os vanos que surgira pela primeira vez no D. Ma- porque a vida a exija em demasia. Dei- elementos de que se compõe e que ria em 1850, com a estreia nesse teatro xou também de se cantar e, quando se estão na sua origem, lançou mão de do "Frei Luís de Sousa". Logo no ano anuncia um número de canto, aparece, expressões teatrais populares, evocam­ seguinte, no mesmo teatro, pelo mes- em geral, um artista que não tem voz, -se aqui as "brincas" do Alentejo.} mo tempo e possivelmente pelos mes- e erguida no palco a haste negra de um mos intérpretes, porque o elenco não microfone, como quem diz: - Façam As brincas eram levadas a efeito por variou, subiu nova revista de Brás Mar- favor de desculpar. um agrupamento de indivíduos, regra tins, também em três actos, intitulada Quanto ao mais, a evolução vai se- geral trabalhadores rurais. "Qual beles o Trará?". Em 1854, guindo naturalmente, acompanhando a O tema escolhido era o mais diver­ ainda outra revista do mesmo, "Vin- moda, os gostos, os costumes. Das sificado, pois tanto focava a crítica gança do Cometa". De 1855, não te: meias da Pepa Ruiz, à malha inteira da social, história, geografia ou assuntos nho nota de nenhuma revista. E Mercedes Biasco, vai meio século; da locais, etc. de 1856 a primeira que se imprimiu: malha inteira, que foi escandalosa e Após o tema ter sido desenvolvido "Fossilismo e Progresso", em três agora nos faz sorrir, até à perna toda pelo decimeiro, quase sempre analfa­ actos e seis quadros, de Manuel Rous- nua, e ao resto, vai outro meio século. beto, mas inspirado, o agrupamento sado. Subiu também à cena no Giná- Nesta evolução do revestimento ao não entrava em ensaios, o que obrigava os _, sio, em 6 de Janeiro e, logo na pri- revestimento das pernas está a história seus componentes a um esforço enor­ . meira noite, ergueu larga celeuma pelas da revista do ano, como pode estar na me, não só pelas distâncias a percorrer alusões transparentes e pela crítica noção da beleza plástica dos corpos. A de suas casas ao local da reunião (a acerada. Um dos motivos do escândalo corista que em 1910 teve o primeiro bicicleta era ainda um transporte carís• foi a exibição do enviado do Brasil, prémio de beleza seria rejeitada hoje simo para quem dispunha de tão ma­ Maciel Monteiro, depois barão da por qualquer director de cena. As Síl- gros salários) como pelo facto de os ltamaracá, que Isidoro caricaturou fides destronaram as Vénus Caiopigias ensaios terminarem a horas impróprias admiravelmente, vestido de casaca e a nudez já não atemoriza ninguém. para quem tinha de trabalhar ao nascer verde, calça de ganga, colete branco, Olhamos hoje uma "girl" a resvalar do sol. lenço encarnado, sapato de laço, pu- para o trajo paradisíaco com os mes- Quanto ao processamento da repre­ nhos desmesuradamente voltados, mos olhos desinteressados com que se sentação, mais ou menos era o seguin­ luvas amarelas e chapéu de palha. Real-_ .. miraram, em 1855, as botinas da Emí• te: o mestre rompia com a sua fala, mente o mirústro prestava-se à troça, lia Cândida, na revista do Ginásio. O dirigindo-se a uma das figuras do 30 grupo, após o que este respondia, mas pondo em jogo outro personagem e assim sucessivamente, até intervirem todos os do grupo. Antes da declama­ ção, ou intercaladas por vezes, o grupo exibia as suas danças marcadas, acom­ panhadas pela orquestra, que se com­ punha de bombo e caixa de rufo (in­ dispensáveis), castanholas e ronca. Palmira Bastos, a A representação iniciava-se com o maior actriz portu· baile e todo o grupo se dispunha em guesa do nosso círculo, só então dando lugar ao diá­ tempo, iniciou a logo, no meio do maior silêncio, res­ sua carreira t raba· peito e apreciação do numeroso pú­ lhando em opere­ blico que rodeava e que se deslocava tas, mãgicas e re· das suas longínquas quintas ao local da vistas. V emo-la exibição. aq ui na caricatura O guarda-roupa raramente coincidia da sua "Severa" com o personagem fantasiado. Um fato antigo que tanto podia represen­ tar um cavaleiro da Idade Média como um planeta. SILVA GODINHO lin "Teatro Popular Portugu ês", Vol. VI, de Azinhal Abelho)

um espectáculo vivo, alegre, espontâ· neo, pitoresco, ch1ro nas suas intenções Os pe1·,:a111i11l1os artísticas, simples na sua forma literá­ ria, acessível na psicologia das suas fi. guras, comunicativo no seu ritmo, na da 1·e,~ ista po1·tu:.fuesa sua fantasia, no seu simbolismo, no seu sentido filosófico - e, por consequên­ LGUMAS enciclopédias bastante cia, muito longe de qualquer interpre­ Amais profanas, defmindo a re­ tação espiritualmente depreciativa. vista como uma peça cénica agradável Não desvirtuemos, porém, os seus ã vista mas sem grande proveito para o objcctivos, antes os integremos na sua espírito - expressões textuais -, en­ tradição. carregaram-se de criar a este género de Se a revista, como peça cénica, espectáculo, com certo carácter oficial, constitui, fundamentalmente, uma su­ uma pesada atmosfera de desconfiança cessão de cenas representadas ou can­ manifestamente nociva ao seu prestí• tadas em que o autor, através de um gio e manifestamente contrária aos risonho simbolismo e, por vezes, com seus propósitos. O facto de, por vezes, um picante sabor irónico, procura a revista ter descido a um nível inferior focar determinados personagens e fac­ não pode generalizar a circunstância de tos - em regra, as figuras do momento se admitir esse baixo nível como carac­ e os casos do dia, digamos assim -, terística de tal forma de teatro. g certos autos de Gil Vicente (por exem­ certo que a revista sendo por natureza plo o "Auto da Feira" ou o "Auto da um espectáculo popular não guarda a Barca") têm de considerar-se, pela sua transcendência da alta dramaturgia, estrutura, pelos seus intuitos, pela sua embora sejamos forçados a admitir feição popular, pelos tipos que neles que, mais do que uma vez, à expressão passam, pela própria oportunidade dos "popular" terá sido atribuído - até acontecimentos que se pemútem por revisteiros menos exigentes - um comentar, verdadeiras revistas do seu significado que ela não pode conter; tempo, aliás, escritas por um homem mas quando dizemos espectáculo po­ de génio. Faltou, evidentemente, a pular não podemos, em síntese, querer esses autos, se os compararmos com os significar outra coisa que não seja isto: actuais espectáculos do género, o con­ Chaby Pinheiro curso duma maquinaria aperfeiçoada, 31 o jogo dos cenários, os efeitos de luz, a movimentação de numerosas massas corais· mas como nas revistas de hoje, O aeto1· e a 1·evista lá en~ntra~1os o "compcre"; lá vemos o chefe de quadro; os números decla­ ENSO que é de grande impor­ relevante do que afirmamos - e não se mados, cantados e bailados sucedem-se P tância para os actores - especial­ diga que o crítico também não gosta num ritmo vivo; aparecem as rábulas: me nte para os jovens o cspectáculo de admirar. .. surgem as próprias apoteóscs; e já não de revista. Os mestres de teatro tive­ falo na graça, na intenção, no traço ram sempre como indispensáveis, para Finalmente, Vasco Santana, que caricatural, no espírito crítico, na riso­ os comediantes, exercícios aturados de continuo a considerar um caso único nha e oportuna filosofia - qualidades mímica, dança e canto, a fim de desen­ no teatro português e para quem já que são, em grande parte, a alma e o volverem todos os órgãos de exterio­ não são precisos para coisa alguma os sorriso deste género teatral - , porque, rização, dando-lhes a elasticidade ne­ "exercícios" de revista que me permiti a este respeito, Gil Vicente é, não ape­ cessária para a criação de personagens. aconselhar aos mais jovens. Tudo nele nas cronologicamente mas até litera­ Barrault, por exemplo, inclui nos ho­ é a tal facilidade e espontaneidade que riamente, o nosso primeiro revisteiro. rários de trabalho dos artistas da sua serve todos os géneros de teatro. companlúa esses exercícios. À míngua O que é fora de dúvida é que a de outra, a revista poderia ser, em Por­ REDONDO JÚNIOR revista tem o seu passado; mais, tem tugal, uma escola admirável se os acto­ (da critica à revista "Mulheres ... Há Muitas" . uma tradição portuguesa caracterís• res, além de bem dirigidos, orientassem de 1954; in "Pano de Ferro") tica. Longe de ser uma espécie de as suas intervenções no sentido de um nova-rica do teatro, com a sua lingua­ aperfeiçoamento das suas plásticas gem pouco clássica e o seu falso espa­ vocal e física. A criação de tipos, a OS T EATROS vento de tarlatana, é uma gentil dona, maior parte das ve:tes caricaturais, dá DO PARQUE MAYER senhora de pergaminhos, com brasão ao actor a facilidade e a espontanei­ no livro de oiro da nobreza artística e dade do gesto e do movimento e da EGUNDO Norbcrto de Araújo, que, nem por mostrar quantas vezes as colocação de voz. A disciplina déssa S nas suas "Peregrinações em Lis­ pernas até às redondezas da alma - ou facilidade e dessa espontaneidade, pela boa'', o Parque Mayer substituiu, de talvez por isso mesmo - , tem deixado observação e pelo estudo, conduzirá o certo modo, a velha Feira de Agosto, de merecer a corte de ilustres homens actor ao encontro dos personagens do que existiu na Rotunda. O palácio de letras. ~ certo que Junqueiro, por teatro declan1ado. onde hoje está instalada a representa­ exemplo, ao recordar a "Viagem à O resultado, porém, da experiência ção diplomática de Espanha foi adqui­ volta da Parvónia", que escreveu para da revista tem sido muito diferente, rido cm 1920, quando das partilhas da o "Ginásio'', me dizia uma tarde: "Por com a aquisição de vícios irremediáveis família Mayer por Artur Brandão e, essas e por outras, meu amigo, é que e incompatíveis com qualquer outro um ano depois, por Luís Galhardo, cu deixei crescer as barbas"; mas esta género de teatro, precisamente porque que fundou a Sociedade Avenida Par­ frase, reflexo (quem sabe?) de um se desconhecem os benefícios que que. vago despeito, talvez não sigrúfique apontámos atrás. E é, agora, altura de O teatro mais antigo é o Maria Vitó- senão que ele - o genial poeta - não aludir às excepções que a oportuni­ foi inteiramente feliz nessa aventura. dade da revista do Variedades me ofe­ Mas se dos autores passarmos aos intér­ receu. pretes, verificaremos que grandes ar­ Em primeiro lugar, Laura Alves. E tistas não têm hesitado, igualmente, porquê Laura Alves? Por nã'o lhe en­ em dedicar-se ao teatro de revista. Os contrarmos, na comédia, qualquer in­ exemplos de Taborda, de Vale, de Ana fluência defeituosa da revista, demons­ Pereira, de Ângela Pinto, de José Ri­ trando raras qualidades de adaptação. cardo, de Chaby, de Adelina Abran­ Há, portanto, duas artistas indepen­ ches, de Palmira Bastos, de Lucília dentes, que sabem usar da experiência Simões, de Maria Matos, de Amélia e do of1"cio num lado e no outro. Da Rey Colaço e de tantos outros, grandes disciplina e do autodomínio que a artistas de declamação, só para falar do comédia exige, resulta na revista a que se passa em Portugal, são por de sobriedade que até a fantasia transbor­ mais elucidativos. Quer dizer: a tradi­ dante reclama. Pelo contrário, a mí­ ção literária e artística deste género de mica caricatural revisteira não perturba teatro pode bem calçar a sua luva a comediante que, talvez por excesso - tal como sua branca, à semelhança da tradição que de escrúpulo, tantas vezes pretetide mulher, Lulsa Durão - foi anima os outros géneros preconceituo­ obter naturalidade, prejudicando a per­ um dos mais perfeitos ra­ samente reputados nobres. bulistas e "compadres" dos sonagem cm proveito da personalidade nossos palcos de revista LUÍS DE OLIVEIRA GUIMARÃES da pessoa-humana-actriz. A sua Exis­ (caricatura de Fernando (in "Teatro de Revista", Conferência) tencialista ficará como um modelo Bento) 32 ria. Era ainda uma simples construção garída Martins, Ilda Silva, Jorge Rol­ truído no local onde tinha existido um de madeira e serapilheira quando se dão, Joaquim de Oliveira, José David e dos dois lagos dos Jardins Mayer. 1naugurou, na noite de 1 de Julho Artur Rodrigues, nomes hoje esque­ de 1922, com a revista "Lua Nova", cidos, figuras desaparecidas que, no Grandes figuras da cena portuguesa em dois actos e onze quadros, da au­ entanto, fizeram de "Lua Nova" um trabalham nos teatros do Parque toria de Ernesto Rodrigues, Félix Ber­ estrondoso êxito popular. Era ajovem Mayer, como Nascimento Fernandes, mudes, João Bastos e llenrique Rol­ Camtinda Pereira quem cantava a can­ Palmira Bastos, Adelina Abranches, dão, com música de Alves Coelho. ção que deu nome ã peça. Maria Matos, Alves da Cunha, Silvestre Nesse espectáculo, o primeiro de Depois, apareceram o Pavilhão Por­ Alegrim, Teresa Gomes, Amarante, muitas centenas que durante quase tuguês - que pertenceu a Artur Aires Vasco Santana, Maria Lalande, Ar­ meio século ali têm sido apresentados. - e o Alhambra. E, em 8 de Julho mando Machado, João Perry (pai), foram vedetas Elisa Santos, Amélia de 1926, com a revista "Pó-de-Arroz", Carlos Leal, Villaret, para só falar de Perry, Eva Viçoso, Clara Baptista, Mar- abria as suas portas o Variedades, cons- alguns que a morte levou e que deram vida a figuras ainda hoje recordadas por muitos com saudade. Hermlnia Silva ê tã'o gran· de fadista como modelar Um dia, em que faziam mais chin­ rabulista (caricatura de Fer· nando Neves) frim do que o habitual, Maria Matos chamou a atenção do contra-regra para o facto. Mas a resposta veio pronta, lá de trás: " Impossível! Hoje é domingo e, para mais, ganhou o Benfica!" Maria Matos achou graça e, sor­ rindo, retorquiu compreensiva: "Então está bem ... não há nada a fazer! ... " E o Vasco, o grande Vasco Santana, permanentemente bem disposto, de sorriso e resposta sempre prontos? Um dia, findo o espectáculo, aban­ donava ele sem pressas o Variedades, na companhia do seu fi.lho Henrique Santana, quando um provinciano, que o aguardara pacientemente, à entrada, junto à porta dos artistas, foi ao seu encontro. Vendo que o desconhecido tardava Laura Alves, a grande co· em dizer o que queria, Vasco Santana mediante que há muito animou-o com o seu habitual "Olé! ... " abandonou a revista, género e o provinciano, ganhando coragem, onde alcançou grandes êxi· decidiu-se: tos (caricatura de Fernando - Pois tome lá cinco escudos, que Bento) gostei muito de o ver, lá no palco, a representar. - Obrigadinho! - retorquiu imper­ turbável o grande artista, metendo a moeda no bolso. Henrique Santana, ainda muito jo­ vem, quis intervir julgando ver na ati­ tude do provinciano uma falta de respeito para com o pai. Mas Vasco Santana agarrando-lhe o braço, acalmou-o: - Henrique, estes cinco escudos são como que uma medalha: a da consagra­ ção popular. Para mim, têm mais valor do que muitas que tenho lá em casa. Eugénio Salvador ê o her­ E a pequena moeda foi debruada a José Viana ê hoje conside­ grandes "campa. cetim e colocada na vitrina onde Vasco rado o melhor rabulista da outros tempos Santana guardava as suas recordações. nossa revista (caricatura de de Fernando Ne­ ALBANO ZINK NEGRÃO Fernando Neves) ves lin "O Parque Mayer") 33 O "COCHICHO DA MENINA"

" Pobre cochico, quem te ouviu e quem te ouve!. .."

Olha o cochicho Que se farta de apitar, Repipi pipi pipi, Beatriz Costa é E nunca mais desafina. hoje uma legenda Eh, rapaziada! do que foi a re· Quem é que quer assoprar, vista de entre as Repipi pipi pipi, duas guerras... e No cochicho da menina. foi a "menina querida" do nosso Este foi o maior êxito de uma re­ teatro ligeiro vista no Teatro Variedades. Cantou-o Maria das Neves, durante três dias ... Eu estava lá, mas ainda na segunda fila! Nunca cheguei a saber o motivo por que no próprio dia da estreia, depois daquele êxito da linda marcha de Raul ano em duas sessões (sem senhas... ). do número, resolvi improvisar um fi. Ferrão, me mandaram decorar o nú­ Tinha noites de o repetir dez vezes, e na!, que muito divertiu o público: mero, pois teria apenas dois dias para até hoje muita gente pensa e teima que substituir a sua intérprete, Maria das fui eu a sua criadora. Mas o seu à sua Olha o cochicho Neves, que foi uma das maiores e mais dona ... Maria das Neves, a célebre cria­ Que se farta de apitar, completas artistas do teatro musicado. dora das "Carvoeiras", de Frederico Repipi pipi pipi, Tinha legiões de adrrúradores. Lembro­ Valério, que cantava, representava e E nunca mais desafina. -me de um a quem Teresa Gomes cha­ era gente! Eu dei outro jeito ao nú­ É rapaziada! mava "o Quilhordas d'Arrifana"; o mero, que resultou muito bem. Mais Quem é que quer assoprar, pobre homem nem sequer era de Arri­ para o lado da galhofa. Estava em cena Repipi pipi pipi, fana; o que ele era era chato ... Maria a elegantíssima Georgina Cordeiro, "No imbigo da Jorgina"! (e metia lá nem o conhecia, mas arrasava-o com num lindo vestido francês decotado o dedo.) aquele sorriso. A ideia de substituir até aos joelhos. Via-se um umbigo que uma artista daquela categoria deixou­ faria o orgulho da Berta Cardoso, que, BEATRIZ COSTA -me assustada. Tomei conta do "cochi­ além de grande fadista, é competen­ cho da Maria", que cantei quase um tíssima parteira. Numa das repetições (in "Sem Papas na Llngua")

Depoimentos seá-la. As piadas picantes, apimen­ que por vezes fizeram revista, como a tadas também fazem parte da revista: lucilia Simões, o Erico , o BEATRIZ COSTA mas uma coisa são a graça picante e a Villaret e a Maria Matos. Ah! A Maria A vedeta popular piada, outra coisa são a "bojarda" e o Matos! A maior actriz que eu já vi até "Para mim, o teatro lle revista foi palavrão. Não sou puritana, nem hoje... e olhe que tenho visto as sempre um teatro muito importante mesmo nada que se pareça com isso, maiores de todo o mundo. e muito dif1cil... até porque vem mas fico muito triste e desagradada Que saudades, meu filho, que sau­ desde a mais longínqua tradição bu­ quando hoje vejo, na boca de actri· dades! fonesca popular e, até, do próprio Gil zes, o palavrão contundente: é tão Vicente. Mas, hoje, o novo "exem· feio o palavrão na boca de uma mu­ LUfS OLIVEIRA GUIMARÃES piar" teatro de revista sofreu um lher! E, então, quando vem acampa· (Autor de mais de 25 revistas) "colapso" com a morte dos grandes nhado de gesto! Antigamente, éra­ autores da época d'ouro da 1evista. mos só "brejeiras". Se, um dia, entre nós, se fizessem De resto, a morte da genuína revista Depois, na revista, houve sempre e eleições para aparar quais os géneros . portuguesa desde há muito que se ainda há grandes actores. Para só teatrais preferidos pelo público por­ processava: o afastamento de grandes falar dos do meu tempo recordarei: o tuguês, estou certo que um dos mais escritores que não desdenharam es­ Nascimento Fernandes, o Amarante, votados, senão o mais votado, seria a crever para a revista e as imposições o Vasco Santana, a Satanela, a Irene revista. da censura dos anos 30 até há pouco. Isidro e a Aida Baptista que ainda Adivinh'o a objecção. Entretanto, Hoje, a revista está demasiado po­ hoje animam a revista no seu melhor não devemos ver, nessa preferência, lítica e demasiado pornográfica. A estilo de representação, a Teresa um sintoma de incultura e de po­ cn'tica... poHtica é necessária e faz Gomes, a Maria das Neves, o Carlos breza de espfrito. Se desbravássemos parte da revista... mas é preciso do- leal... Eu sei lá! E, até, os grandes as raízes da sua árvore genealógica, 34 ADELAIDES E CARTOLINHA ADELAIDE

Letra de EduardoSchwalbach Co'a tua saía posta a jeito Música de Alves Coelho, Todos me comem por mulher! CORO CARTOLINHA Entre piadas, entre picuinhas, Quer para elas, quer pros seus alcaides, Co'as tuas calças a preceito Vão as gentis e belas Cartolinhas D'homem eu faço se quiser! Co'os lindos e dengosos Adelaídes. ADELAIDE ADELAIDE

ó Cartolinha, meu amor, Tu d'homem e eu de mulher Ser, quero, a jóia do teu engaste ... Era galinha! Bastava a gente q'rer ó Cartolinha! !

CARTOLINHA

Que graça, Ad'laide, t'ria Alfredo Ruas e Laura Costa Para brincar! Inda havemos um dia· CARTOLINHA D'exp'rimentar!

Antes eu quero ser a flor, O FADO DO 31 E tu, Ad'laíde, a núnha haste. Letra de Luís Galhardo, Pereira ADELAIDE Coelho e Alberto Barbosa. Música de T. Delnegro e Alves Coe­ Ai, como tu a homem cheiras! lho. Corina Freire - "o mais lindo sorriso E como pegas na badine! Gran.de sucesso do actor Estêvão de Paris" -. actriz e cantora. foi a Amarante na revista "O 31". primeira portuguesa a trabalhar no 0 1· CARTOLINHA ympia de Paris e a cantar para o · Prl n­ À porta da Brasileira cipe de Gales, depois, Duque de Win­ São de mulher essas olheiras, Dois bicos encontram dois, dsor Esse carmim e a veloutine! Ficam os quatro e depois lá começa a chi11frineira! ver/amos ralzes da revista entrela­ ADELAIDE Azeda-se a cavaqueira! çadas em Aristófanes e Gil Vicente. Vai aumentando o zunzum, Por sua vez, uma revista - uma re­ Tu d'homem e eu de mulher Vem bomba, rebenta e pum... vista bem feita, evidentemente - é Era galinha! E agora aqui o vereis um espectáculo em que se pode dar Bastava a gente q'rer 24 e 26 ao grande público, com maior sen­ ó Cartolinha! ! 29 e 31 ! tido de comunicabilidade, uma lição de critica, de cultura, de cor, de CARTOLINHA Ah! ritmo, de bom gosto. De onde se Olariló, lá, ai! conclui que a revista é um género Que graça, Ad'laíde, t'ria Como este não há nenhum teatral difr"cil. Eu, que melhor ou Para brincar! Tudo bate em Portugal pior cultivei todos os géneros teatrais Inda havemos um dia O Fado do 31! (excepto a ópera), estou com André D'exp'rimentar! li Brun quando dizia: "Não há mais tra­ Um homem que quer sarilhos ADELAIDE balhosa tragédia do que fazer uma Por um motivo qualquer re11ista agradável. " Discute com a mulher Da cinturinha para baixo Não considero, portanto, a revista E dá castanha nos filhos! D'uma campainha tens o aspecto, um género inferior. A circunstância A tia nos mesmos trilhos, de, por vezes, a revista haver descido Também não fica em jejum, CARTOLINHA a um baixo nível, não pode genera­ A sogra leva um fartum.. . lizar o facto de se admitir esse baixo Desata tudo ao biscoito .. . E eu não sei bem o que em ti acho, nivel como caracteristica de tal e28 Mas não te acho um homem completo. 24 J<>rma de teatro. 29e 31- II BAILE DE RODA MANDADO

MANECAS Era uma dança de arraial. Mas, do terreiro passou ao palco e, hoje, Se eu pudesse dava-te tudo é um espectâculo cénico, com todos os re­ Bons sapatos, cetins e jóias quisitos de teatro musicado e muito usado Um vestido todo em veludo na revista. Automóveis e tipóias. A voz do mandador tem improvisos, o que torna este Baile uma função nova, com matizes diferentes, todas as vezes em que se .RITA exibe, constituindo um exerclcio de reg alo .

Ai! Manecas eu bem conheço Está uma roda parada Teu pensar que não tem bravatas Há falta de mandador Mas crê tu, que eu dou mais apreço Mas agora cheguei eu À bondade com que me tratas. Siga a roda com valor. Carlos Candeira, galã dos anos 20, foi o famoso criador do duet o "Adelaides e (Refrão) Cartolinhas" Lá vem o homem dos nabos Com trezentos mil dinbos RITA E MANECAS Vem, vem junto a mim Com o seu burrinho coxo et., etc. A moça que o brajeira l erra de Lufs Galhardo, Alberto Barbosa Disse-lhe por brincadeira , e Xavier de Magalhães III • Que o seu nabo era roxo. Música de Raul Portela e Ltds d'Aquino 1 MANECAS Baile de roda bem mandado MANECAS Não va{ só 110 tocador Apesar de ser fraco e pobre Vai também 110 pateado Minha flor, minha linda Rita, De ciúmes eu fico louco E na voz do mandador. Inda hás-de vir a ser rainha! E até sinto que sou mais nobre Não mereces, cara bonita, Quando alguém de ti faz pouco. Toda a moça que é bonita Ser assim tão pobrezinha ... Que não chora e que não grita RITA Não havera de nascer RITA E conw a pêra madura Não és pobre, não meu Manecas Da quinta do padre cura És tão bom, és tão meu amigo, Vales mais do que os homens todos Que todos querem comer. Que eu, ao frio e até com larica, . Que não passam duns alforrecas Se em teu peito encontro um abngo E tu tens meu bem alma a rodos Puladinho e chegadinho Julgo logo ser muito rica. Siga o baile e siga bem (Refrão) Dá-lhe agora um abracinho (Refrão) Ninguém viu ... Vem, vem junto a mim Não viu ninguém. Vem, vem junto a mim, et., etc. Dar-me o calor Da tua mão. Vasco Santana e Mirita Casimiro que, na vida real, MANECAS foram marido e mulher - consti­ Vem encher-me assim tulram um dos Mimosa flor mais queridos pa­ De amor res da nossa revis­ O coração! ta

OS DOIS

Sós no mundo os dois Sem nada ter Nem pai nem mãe! Tu verás depois Que bom vai ser Viver Sem mais rúnguém! 36 Nicolau Breyner... o talento, à versatili· Humberto Mad eira saiu da ràdio para Ivone Silva, a grande rabuli,na e vedeta dade e a imaginação ao serviço da re­ os palcos de revista onde a sua morte popular dos nossos d ias vista actual causou um vãcuo insubstituível

Certo, certinho taria talvez ele próprio de as ter ati­ Quem se engana paga o vinho COMPADRIO DE GRUPELHOS rad0 à cara do antagonista, como Já 11wrreu a minha gata símbolo de oposição, ao que está esta­ Que era mãe do meu gatinho ~ perfeitamente imoral que não belecido. Assim, ele é o homem que se Baila o gato, baila o cão aflija ninguém a obscenidade, intei­ queixa da carestia da vida, o sacrifi­ Cada carta meio tostão ramente destitufda de nobreza "es­ cado ·dos impostos, o esquecido dos O meu cão mordeu no teu catológica", que se consente aos poderes, o maltratado, o espezinhado Cada carta meio tostão revisteiros, e que não seja possível que Bordalo Pinheiro encarnou na cari­ O meu cão mordeu no teu tratar a sério, "sem obscenidade", catura do zé povinho. Este homem E essa culpa não tive eu. os mesmos temas. Porque não há-de paga e não bufa, reclama e ninguém conseguir-se que a gente que traba· lhe responde, grita e ninguém lhe Eu contigo quero figos lha para o teatro, que faz dele a sua acode. O palco da Revista serve para Eu contigo quero passas vida, melhore, na medida do possí• esta entidade popular apresentar as Eu quero fazer contigo vel, a sua consciência cultural e so­ suas queixas e a cena torna-se em púl­ Mas quero que tu me faças. cial de quanto ao teatro devem? pito e pelourinho. Aqui, então, se fa. Porque não há-de conseguir-se que zem e desfazem reputações, se guinda Omem à noite à meia-noite desapareça ou se desmascare o com­ à fama, se achincalha o génio ou se Ou meia-noite seria padrio de meia d(Jzia de grupelhos, desfaz a glória, ante o gáudio e os Ouvi cantar o meu galo que, com a sua incompetência ga· aplausos duma assembleia. No teu poleiro Maria. nanciosa, têm dominado os destinos Por isso, desde que surgiu, foi o do pouco teatro que a inda sobre­ género de Teatro mais temido e vi­ Ó menina da cidade vive? giado pelos dirigentes contra os diri­ Que lhe importa o que eu trago gidos. Uma piada pode fazer perigar a O tempero da panela JORGE DE SENA ordem? A representação proibida da A cebola mai lo nabo. (do artigo "Sobre a Crise do Teatro em "Viagem à Volta da Parvónia" assim Portugal", in "Estrada Larga", Vol. Ili nos diz qualquer coisa. Até o prof. Marcello Caetano numa das suas "Conversas de Família" (em RE VISTA À PORTUGUESA Na Revista à portuguesa o texto 22 de Outubro de 1971) comenta: versa, com sátira contundente, o calen­ "Vamos hoje conversar acerca do O GÉNERO DE TEATRO dário quotidiano, comentando com custo da vida. MAIS TEMI DO E CENSURADO cantigas de maldizer e compartici­ ~ um assunto que está a preocupar pando com escárnio das inquietações toda a gente, e com razão. Constitui Revista à portuguesa, assim cha­ colectivas. E de tal jeito interpreta a tema de conversas e de artigos nos mada, porque o estilo de Teatro se fónnula que o espectadot se identifica jornais, dá matéria para o teatro de diferencia de qualquer congénere de com o papel de homem da rua que há revista." importação, onde o enredo do poema em todos nós. O assistente evade-se e deriva para a fantasia mágica, apro­ comparticipa das chalaças, das piadas, AZINHAL ABELHO priada às encenações e montagens. das mofas e dos dichotes, que até gos- (in "Teatro Popular Português". Vol. VI 37 A ida Baptista, Palco", "Cenas de Lisboa", "O Vale de grande rabulista e Lisboa", "Juízo do Ano", "Tim Tim vedeta dos nossos por Tim Tim", "Sal e Pimenta", "Tal­ dias, no número vez te Escreva", de António Sousa "A República ... Bastos; "Porto por um Canudo", de Sá Esfarrapada", enor- de Albergaria; o "Porto em Camisa", me sucesso de de Sousa Rocha; o "Reino da Bolha'', uma revista de 1971. " Agulhas e Alfinetes". "O Dia do Juízo'', "Verdades e Mentiras", "Ovo de Colombo'', de Eduardo Schwal­ Dois momentos da bach; " À Procura do Badalo", de Baptista Dinis, "O 31 ", de Luís Ga­ lhardo, Pereira Coelho e Alberto Bar­ bosa· "Não desfazendo" e a "Revista CADA PAIS de Pr' axedes", de André Brun; "O TEM O TEATRO Diabo a Quatro", "Maré de Rosas", QUE MERECE "Capote e Lenço". A "Lua Nova" da A poesia portuguesa, a parçaria de Ernesto Rodrigues, Félix tica, a ensaística, da nossa época, Bermudes e João Bastos; "O Cabaz de apresentam-se temporalmente irres­ Morangos", de Lino Ferreira, Silva ponsáveis - com raras excepções, Tavares, Luna de Oliveira e Acúrcio na poesia, nenhuma no romance, Pereira; "Água-pé", de Luís Galardo, nenhuma nos ensaios, que ninguém Xavier de Magalhães e Alberto Bar­ escreve. Que se pode exigir do tea­ bosa· "O Sete e Meio", de Pereira tro? Cada pafs tem o teatro que Coelho, Gustavo de Matos Sequeira, ' merece, acho que já o escrevi algu­ Vasco de Matos Sequeira e Luís de res. Se o tempo vai sendo em Por­ Oliveira Guimarães. E quantas, quantas tugal mero conceito meteorológico, o utras: "A Rambóia", "Trolaró", como é que nas tábuas de um palco, ,. A REVISTA: "Cozido à Portuguesa", "Siga a Dan­ entre ilusões de cor e de movi­ ça", " O Pica-Pau", "Arre Burro", "O mento, se pode propor um diálogo ALGUNS TÍTULOS Mexilhão", " A Sardinha Assada", "Re­ de mútua exaltação, onde a pre­ E ALGUMAS FIGURAS tiro dos Pacatos", " Balancé", "O Jogo sença colectiva do espectador en­ "tio Diabo'', "Enquanto Houver Santo contre imagem que o alarme e satis­ E tantas e tantas revistas repre­ António". E devem citar-se alguns au­ faça? O tempq que os une, se nâ'o é D sentadas, se muitas se diluíram tores notáveis no género, como, por sabido nem de uma banda nem de ha névoa do tempo, muitas houve - exemplo, Ahneida Amaral, Álvaro San­ outra, acaba por desaparecer. Ine­ cumpre acentuá-lo - que ficaram na tos, Amadeu do Vale, Aníbal Nazaré, xistente a sua função de guiar os História, ou pela sua graça, ou pela sua António Cruz, Arnaldo Leite, Ascen­ homens, dando-lhe conhecimento realização, ou pelo seu espírito renova­ são Barbosa, Carlos Lopes, Feliciano de si e do mundo, acaba o teatro. dor, um autêntico acontecimento. Santos, Fernandes dos Santos, Henri­ Tal e qual como se está a ver. Citaremos por exemplo, o "Micróbio" que Roldão, Henrique Santana, José e e o "Ano das Pontas", de Francisco Luís Galhardo, Lourenço Rodrigues, JOSl! AUGUSTO FRANÇA Jacobety; a "Lisboa em Camisa", de Pedro Bandeira, Rodrigo de Melo, San­ (excerto do artigo "Notas sobre poesia e Ernesto Desforges; "Coisas do Arco­ tos Braga. teatro histf>rico", in "Estrada larga", -da-Velha" , de Baptista Machado; (da "Grande Enciclopédia Vol. li) "Pim-Pam-Purn" ,_de Argus; "Lisboa no luso-Brasileira") 38 os EQUÍVOCOS DO DR. REBELO

AlJfORES, boletim interno da Socie­ dade Portuguesa de Autores, nova série, n. 81, Janeiro-Março de 1976

Ao abrirmos o saco pardo que a Sociedade Portuguesa de Autores nos vai enviando trimestrahnente, depará­ mos com o boletim em novo formato e arranjo gráfico, assinado por Bernardo lonesco e Luís Francisco Rebelo: duas con· cepções diferentes sobre. o teatro compro· Santareno. metido t bem curioso referir que este bole­ tim permanece chato, ahnanaqueiro, provinciano. ~ verdade e é pena, e é pena que seja verdade, ccomo disse Shakespeare noutros propósitos. Mas é assim, desesperantemente assim: não há nada a fazer. Parece que o boletim mos na razão, que as palavras de Iones­ camente, só do autor de "O Dia Se­ dos autores poderia e deveria dar um co são publicadas por norma, nanja guinte", sob a complacência directiva exemplo de força, de lucidez, de cultu­ por desejo. do progenitor de "António Marinhei­ ra, de imaginação; engano, mero enga­ ~ estranho, é esquisito. Porquê? ro". no. Qualquer brochura ligada ã farma­ Ora Rebelo explica-nos porquê. Ceda­ Vejamos.a razão das reservas. copeia ou ã lavoura supera o boletim mos-lhe a palavra: "(... ) A publicação Diz Ionesco: "O teatro popular dos autores, honra ã coerência lhes seja dessa mensagem deve ser acompanhada comprometido, orientado, dirigido, di­ feita. de um breve comentário e a sua leitura tado pelos representantes do Estado, São isto, todavia, bagatelas consue­ de urna discussão crítica, chamando a pelos políticos, não é um teatro popu­ tudinárias, o boletim poderia mesmo atenção para as suas ambiguidades e . lar, mas um teatro concentracionário, mencionar, em epígrafe, o famigerado contradições." impopular. ( ...) Os ideólogos da políti• em casa de ferreiro, espeto de pau, e Isto é, na verdade, delicioso: quan­ ca quiseram apoderar-se do teatro e tudo estaria esclarecido e certo: por­ do Rebelo publica, por obrigação esta­ utilizá-lo em proveito próprio como que mau, ninguém o lê, mesmo no seu tutária, um texto de outrem e lhe apõe um instrumento. Mas a arte não é nem circuito interno, e porque ninguém o reservas públicas, incitando sobre ele deve ser uma questão de Estado. e. um lê, para quê fazê-lo melhor; é urna luta um debate e clamando contra as suas pecado contra o espírito colocar entra­ sublime, por abstenção! - corno diria ambiguidades e contradições, j>oderia ves ã espontaneidade criadora. O Esta­ o Eça. pensar-se que se tratava da letra de um do não é mais que uma superstrutura Já, porém, não é bagatela o que decreto, do arrazoado de um acórdão, artificial da sociedade. O Estado não é Luís Francisco Rebelo nos diz, ao dar da introdução de urna tese, de um dis­ a sociedade, mas os políticos querem cumprimento à disposição estatutária curso ou de um balanço comercial, utilizar e controlar a criação dramática do Centro Português do Instituto In­ não, por certo, de uma mensagem. As para a sua propaganda. O teatro pode, ternacional do Teatro, em que este se reservas ã mensagem são a adição, no com efeito, ser um dos instrumentos obriga a divulgar, no nosso país, a remédio, das tíbias e da caveira. Rebe­ sonhados por qualquer propaganda pa­ mensagem que Eugêne Ionesco escre­ lo publica a mensagem, mas adverte o ra o que se chama 'educação política', veu neste décimo quinto ano 'em que incauto: atenção, perigo de morte! O isto é, manipulações e lavagens de cé­ se comemora o Dia Mundial do Teatro. leitor, desprevenido, atiraria fora a rebro. Porque Luís Francisco Rebelo invoca a mensagem, não fora, na circunstância, "( ... ) Nada impede o cidadão de se cláusula para a divulgação da mensa­ o ridículo imediato do conselho, a gafe comprometer politicamente como en- ~ gem, supomos, e, hélas, se calhar esta- monumental da apóstrofe. Esta, fran- tender. Mas, na sua qualidade de artis- ' 39 ta, que tudo põe em causa, deve ser te, como nos remédios, teatro com veí• cer a Rebelo, que o conteúdo político livre. E isto porque a tarefa urgente culo integrador dos "homens na cida­ dos autores que citou tenha sido enco­ dos artistas e dos autores dramáticos de", teatro-manifestação-política com mendado pela corrússã'o cultural do de todos os países é despolitizar o tea­ teatro-ferramenta dos oligarcas políti• partido, via comissão política. O polí• tro, ou antes, não ligar nenhuma ao cos que o prostituem, confunde, ainda, tico destes autores é o exercício antf. Estado ou aos sabichõ'es que os que­ despolitizar o teatro, "não ligar nenhu­ poda da encomenda, da panelinha, dos rem aliciar." ma ao Estado ou aos sabichões" com a secretariados de informação das dita­ Atentemos agora no que, nestas pa­ barrela, feita com uma qualquer lixí• duras. Precisamente, dr. Rebelo, o que lavras, desagradou a Rebelo. Citemo­ via, que retiraria às peças todo o seu Gil Vicente e Aristófanes, e Sófocles, e ·lo: conteúdo político! Ésquilo disseram nas suas peças foi: "Pois é este teatro que lonesco, em Tão grande incompreensão feita abaixo a prepotência dos ditadores! nome da liberdade, quer impedir, ao com a limalha de conceitos bastante Abaixo os tiranos e a sua corrupção! confundi-lo, ambiguamente, com o simples, faz pensar em que motivos se Abaixo a injustiça! Abaixo as liberda­ teatro de propaganda, ao chamar-lhe apoiaria Rebelo para, de forma tão des medidas, mesmo que amplas! Abai­ 'concentracionário' e acusá-lo de 'ma­ flagrante, inverter, jogar, subverter, os xo os coros aziagos de corvos insensa­ rúpulações e de lavagens de cérebro' e, conceitos de Ionesco. dores dos oligarcas, prostituindo a pa­ sobretudo, quando então já sem ne­ Numa girândola final, este advoga­ lavra que deveria estar ao serviço da nhuma espécie de ambiguidade declara do ilustre, diz ao pobre Ionesco: "Seria isegoria, da isonomia, da filantropia e que 'é tarefa urgente despolitizar o fácil responder que o teatro, nas suas que a colocam, antes, ao serviço da teatro'!" formas superiores, é sempre político tirania! Rebelo considera, portanto, que Io­ ( ...)". E cita Ésquilo, e Sófocles, e O próprio lonesco termina a sua nesco sofre de ambiguidade quando ca­ Aristófanes, e Shakespeare, e Moliere, mensagem, incitando: "Abaixo as or­ taloga o teatro que serve o Estado, de e Lope de Vega, e Gil Vicente - "nun­ dens dadas aos criadores! Abaixo as teatro de propaganda. Pois o que será? ca o teatro político recusou a 'esponta­ instruções recebidas dos governos!" Mas Rebelo vai mais longe: "O tea­ neidade criadora', o 'livre desenvolvi­ Rebelo e os Mutis não gostaram. tro didáctico, o teatro ideológico, o mento da imaginação'! Puseram reservas. Pudera ... • teatro político - não há que ter medo Não nos parece e nem deveria pare- JORGE GUIMARÃES de o designar pelo próprio nome - constitui veículo indispensável para a formação de uma consciência sociocul­ tural alargada às mais amplas camadas populacionais." Os itálicos sã'o nossos. livros Receamos que Rebelo não haja compreendido lonesco: é que precisa­ mente esta explicaçã'o é a ampliação "O POETA daquilo que Ionesco refere como pro­ paganda, manipulação e politização do teatro. EMPRESTA Quando Rebelo afirma que, "entre­ tanto, cabe ao teatro um papel de pri­ meira importância na construção de uma sociedade em que o homem não AVOZ mais seja explorado pelo homem", é ainda, e precisamente quase pelas mes­ mas palavras, o que Ionesco nega ao A QUEM enfatizar a necessidade de despolitizar o teatro. Quando Rebelo insiste no teatro como s14,veículo didáctico, ideológico e político, insiste na antíte• NAOATEM" se de lonesco. Este apela, a nível mun­ dial, para que a arte dramática deixe FOGO PRESO de estar ao serviço do Estado, logo, Miguel Torga, Abril de 1976, Edição do obviamente, ao serviço da propaganda, Autor, 130 pág., 80S OO. Miguel Torga: um homem seco e diflcil do pensamento concentracionário d~ uma clique, de wn "corrúté" central Páginas de circunstância, como lhe Trata-se, com efeito, de algumas to­ qualquer, de uma troupe oligárquica chama o Autor, e da circunstância po­ madas de posição em circunstância, ge­ em fase de expanslio imperialista. lítica, portanto de amarração a um cais ralmente à volta das "eleições" presi­ O equívoco de Rebelo é explícito: onde a pirotecnia prende o seu fogo à denciais que antecederam o 25 de ele confunde Estado com sociedade, mecânica das rodas giratórias, que im­ Abril e, após esta data, de outras as­ liberdade com dirigismo, ou amplas li­ pedem a libertaçã'o de Torga nos céus sunções de cariz político também, es­ berdades, isto é, liberdade quanto bas- da liberdade total e criadora. tas últimas sob o aguilhão da cabala 40 gonçalvista-comu1ústa. voz a quem a não tem e arrisca-se a quer obnubilação ou desvio, o que ul­ Pontuam tais atitudes políticas, ficar sem voz e sem eco." trapassa, infelizmente, aquilo que se declaradamente antifascistas, e nas da­ Homem seco e difícil, ficam a nim­ poderá dizer de grande parte dos inte­ tas próprias, algumas entrevistas, pe­ bar-lhe o retrato estas palavras cruas, lectuais portugueses. quenas conferências, uma carta-artigo desabafo inerente de alguém cujas ati­ enviada a atália Correia pela roda tudes políticas jamais sofreram qual- JORGE GUIMARÃES transmissora de "A Capital" e até um telegrama-mensagem endereçado ao PS aquando do seu Congresso. Enfun, tra­ José Martins Garcia ta-se quase de um curriculum das atitu­ des públicas de Miguel Torga face às pressões governativas da ocasião, à jac­ tância concentracionária, discricioná­ ria, totalitária, que tem sido a grande TODOS tentação que neste século instigou os governantes, fascistas ou comunistas. Face a este curricul um, o menos OS TOTALITARISMOS que se poderia fazer seria tirar o cha­ péu, o mínimo que se poderá dizer será exactamente, como dizem os fran­ EXTERMINAM ceses, "chapeau". Na verdade Miguel Torga tomou, nas alturas próprias, a palavra que achou devida: situando-se A LIBERDADE muito cruamente na ma rgem esquerda do rio português e sempre defendendo "um mundo inequivocamente livre, INDIVIDUAL onde cada qual tenha vergonha da si­ " A infiltração de elementos camuflados que vão sabotando o tuação diminuída do semelhante, e ninguém se sinta privilegiado e se es­ trabalho dos que ainda t rabalham - isso a que se chama "sub­ barre com uma sombra que não seja a ma rinos" - não constitui um fenómeno específico do jornalis­ sua'', ou, entre queixoso e resignado mo." Todo o desassombro de Martins Garcia - a que nos habi­ pela ultrapassagem da circunstância di­ tuou -, nesta pequena entrevista que nos concedeu, por ocasião zendo, "por obrigação e por extenso'', do lançamento do seu último li vro. o que "já o tinha dito antes gratuita e sobriamente'', "que remédio senão em­ José Martins Garcia é escritor e jor­ Todos os totalitarismos, os passados punhar essa esperança", a de quem leu nalista. Nasceu na ilha do Pico, nos como os presentes, os de Leste como nas entrelinhas a mensagem gratuita e Açores, em 1941. Professor da Facul­ os de Oeste, comungam na ânsia de ex­ sóbria, "e transfom1á-la em bandeira dade de Letras da Universidade de Lis­ termínio da liberdade individual, na de advento próximo! E bandeira rubra, boa e director-adjunto do "Jornal No­ supressão da responsabilidade pessoal, se possível, como o sangue ardente e vo'', Martins Garcia é autor de um en­ na destruição dos traços distintivos en­ solidário que lhe corre nas veias". Ban­ saio, quatro obras de ficção, uma peça tre os homens e as nações. Todos se deira rubra com o emblema que cabe de teatro e várias antologias. assemelham naquilo a que costumo na divisa anteriormente transcrita. Falámos com ele por ocasião do chamar o ódio à diferença. É totalitá­ Torga é um homem seco, um ho­ lançamento do seu último livro - ria uma comunidade fechada que se su­ mem difícil. E é na suqualidade de "Cultura, Política e Informação". punha a única sociedade detentora da cidadão que fixa os vários clichés das V.M. - Qual, no seu entender, o "verdade", como é igualmente totalitá­ atitudes políticas assumidas, numa es­ papel possível do escritor ante o perigo rio o imperialismo mascarado de ideais pécie de registo que contornaria a gra­ do totalitarismo? "libertador'es". Paradoxahnente, uma tuitidade pelo carreiro do dever do ho­ J .M.G. - Uma opinião que julgo ter · aldeola retrógrada é tão totalitária e mem público: "Mais do que a doutrina deixado bem claramente exposta em tão anticientífica como o imperialismo que exponha e o brilho literário que todos os meus escritos - mas em to­ que, exterminando as diferenças, supri­ exiba, é o aval do seu nome que está dos, os de antes de Abril de 1974, co­ me fronteiras e cria uma "unidade" ar­ em jogo. E tem de fazer das tripas mo os posterioes a esta data - é a de tificial, sempre em risco de esboroar­ coração . ( ...) Pondo em termos perem­ que a actividade criadora é incompor­ -se. É tão totalitário o gesto de um fei­ ptórios coisas que eram de menor evi­ tável com qualquer forma de totalita­ ticeiro tribal como a transferência for­ dência, coagido a falar do que lhe não rismo. Infelizmente, certas experiên­ çada dos tártaros da Crimeia, ou o vai na índole, anin1ado de uma militân­ cias destinadas a fabricar o homem - ódio de Adolfo Hitler aos indivíduos cia que, no fundo, não lhe apetece em nome de uma casta, de uma raça, de pele mais escura. ( ... ). E remata o incómodo provocado ou de uma classe - levam-me, no sub­ Os totalitarismos são, ao fun e ao pela aspereza do dever: "Ao fazer-se título do livro que acabo de publicar, a cabo, produtos engendrados por uma homem público o poeta empresta a falar de "totalitarismos", no plural. velha doença humana que se chama , 41 "verdade". A "verdade" gera a intole­ José Martins Garcia rância. A "verdade" mascara, no plano quando autografava ideológico, os motivos económicos que um dos exemplares provocam as guerras. Ora, a educação do seu último "Cul· que nos é dada, apelando continua­ tura, Polit ica e In­ mente para a "verdade", mais não faz formação". Perten· ça, este, do capitão que criar combatentes iludidos, cruza­ Tomãs Rosa, minis· dos que a si próprios se mistificam. A tro do Trabalho "Pátria", no sentido nacionalista do termo, não terá sido apregoada como "verdade"? E agora, no pólo oposto, não se apregoa o "materialismo dialéc­ tico" como uma "verdade"? Pergun­ to: que método, que saber, que crítica serão necessários para anular o veneno da "verdade" e impedir a mobilização da "carneirada", que sempre vai docil­ mente atrás das forças manipuladoras? Ora, é esta luta inglória contra a mistificação que constitui, em meu en­ tender, o terreno próprio do escritor e, de um modo mais amplo, de toda a "duram" um pouco mais que na inter­ Y.M. - Tem o escritor alguma mi s­ actividade criadora. venção oral em assembleias e comícios, são especial a desempenhar na actual Um escritor é, fundamentalmente, se nota mais facilmente a existência sociedade portuguesa? um criador de problemas. Lá, onde vi­ desses elementos infiltrados. J.M.G. - Não gosto da palavra gora o formalismo, o escritor pode en­ Mas estou em crer que o fenómeno "missão" quando se quer referir a ati­ contrar motivos para uma gargalhada ... é geral. Não há comissão, "comité" ou tude do escritor perante a sociedade. O ou para uma lágrima. Um escritor é - agrupamento onde não se infiltrem termo está imbuído de "apostolado" ou deverá ser - um homem que está agentes ... sabe-se lá se duplos, se tri­ e, pelas minhas palavras anteriores, contra. Contra o aspeeto convencional plos. Nos tempos da PIDE, quantas de­ qualquer pessoa poderá adivinhar com da existência, contra a mumificação da núncias se deram entre correligioná­ que náusea eu encaro os "apostola­ vida, contra a "verdade", contra a ar­ rios, até dentro da mesma família? ... dos" ... rogância do saber acabado. Onde o sa­ O Estado policial - seja qual for o Perante a actual situação portugue­ ber quer ditar a última palavra, cabe ao sinal com que se nos apresenta - tem sa, o escritor não arregimentado pode escritor contestá-la. Porque nada é per­ necessidade de criar uma grande des­ pouco, provavelmente menos que nun­ feito, porque nada está completo. confiança entre as pessoas. Uma peça ca. A palavra escrita exige um grande Em Portugal, onde o "fascismo" ce­ de Brecht - "Miséria e Terror no Ter­ esforço de leitura, principalmente para deu lugar ao gonçalvismo, confesso na­ ceiro Reich" - é, nesse aspecto, bas­ aqueles que nunca foram leitores assí• da me ter custado manter-me contra. tante elucidativa. São igualmente in1· duos. A televisão é, nesta circunstân• Detesto os herdeiros, principalmente portantes, do mesmo ponto de vista, cia, um poderoso veículo de abastarda­ os apressados. Detesto a propriedade alguns relatos de Soljenitsine, de Gigo­ !Jlento. O receptor da mensagem televi­ abusivamente privada, mesmo que o renko, de Sakharov ... siva não é obrigado a prestar urna aten­ pro prietário se chame Estado. E detes­ Ora, nós sabemos que há, em Portu­ çã'o intensa ao palavreado e à imagem to, muito especialmente, certos escri- gal, forças apostadas na reconstruçã'o que lhe oferecem. A mensagem chega­ ' bas cujas penas estão sempre dispostas de um Estado policial. A infiltração -lhe, por assim dizer, mastigada. Em ao elogio. Não se pode ser escritor e executada pelos tais "submarinos", termos de eficácia, nenhum escritor, ter as mãos levantadas em aplauso. mesmo que se destinasse unicamente â por mais lúcido, por mais crítico, pode criação de um clima de desconfiança, competir com a perversão acarneiran­ já seria uma vitória das forças antide­ te, difundida pela RTP. OS " SUBMARINOS" mocráticas. Consequentemente, o pla­ no totalitário de certos senhores pare­ V M . - Que nússão atribui aos jor­ ce caminhar bem, sem que se note uma O BOICOTE nalistas, ante o perigo totalitarista vei­ intervenção decisiva de quem tinha NAS EDITORAS culado por "submarinos" antidemocra­ obrigação de o fazer . Aqui levanta-se o tas? grave problema da cumplicidade e da Por outro lado, onde estão os edito­ J.M.G. - A infiltração de elementos inerente corrupção. Isso não me espan­ res que favoreçam o livro português? camuflados, que vão sabotando o tra­ ta! Só na barafunda portuguesa é pos­ E que livro português? Salvo as tais balho dos que ainda trabalham - isso a sível, por exemplo, que um partido es­ honrosas excepções o editor português que se chama "submarinos" - não teja no Governo e desenvolva, fora de­ publica os autores que se apoiam numa constitui um fenómeno específico do le, uma actividade destinada a derrubar vasta máquina propagandfstica, como jornalismo. Acontece, simplesmente, esse mesmo Govern o. ~ mais uma das a RTP, a Radiodifusão e os jornais. que, no jornalismo, onde as palavras nossas originalidades! O "castigo" reservado aos editores 42 que não alinhem com o social-fascismo mente, que "O Jornal do Fundão" - pode tornar-se catastrófico do ponto ligado à editora em causa - passou a de vista económico. O boicote às so­ apresentar um nítido pendor social-fas­ bras incómodas começa, assim, no edi­ cista, fenómeno a relacionar com a tal tor, conta com os "submarinos" das ofensiva dos "submarinos" de que fala­ distribuidoras, depois com o silêncio va há pouco. A contaminação atingiu dos meios de comunicação. um grau profundo, aliás concordante Um editor "contestatário" que me com a vida política portuguesa. publicou dois livros, e que é uma pes­ Apresento estes exemplos para mos­ soa experiente na matéria, confessou­ trar como é difícil a vida do escritor -se, um dia, o seu desalento nos seguin­ que não se incline diante do social-fas­ tes termos: " ão se pode remar sem­ cismo. Neste campo, não houve qual­ pre contra a maré!" Outro editor pu­ quer influência do 25 de Novembro. blicou-me um livro em Abril de 1975. Antes parece que o monopólio "cultu­ Nunca foi posto à venda, pois o editor ral" da mediocridade se acentuou! e começou a alegar dificuldades econó• micas. Ora, acontece, pura e simples- F.S. "Rã'-ida a Sombra", Vergflio Ferreira: a liberdade de pensar, de Vergilio Ferreira criar e publicar nário após o advento do 25 de Abril. - Quem morrer agora é contra-revolucio­ A MORTE E FASCISTA ? nário e, se meditar na morte, pelo me­ Não fora a "corajosa" crítica literá­ guntava num matutino (isto passava;se nos fascista. ria de João Gaspar Simões e o último e cm pleno regime gonçalvista) a Vergf­ Daqui o meu bravo a João Gaspar senão o melhor dos romances de Ver­ lio Ferreira, por que razão se conserva­ .Simões, que classificou o livro como gílio Ferreira, "Rápida, a Sombra", só va vivo um autor que se atrevia, depois uma das obras grandes da nossa litera­ mereceria enxovalhos inclassíficáveis, do 25 de Abril, a abordar o tema da tura, que cada vez mais se tornarão ra­ especialmente provindo de colegas das morte. ras neste clima de coisas mentais e não letras que exercem, também, o mister Convém recordar o que deve ficar só ... E os meus parabéns a um escritor, de, nos jornais, "observarem" as obras na História do inclassificável e, se avivo Vergilio Ferreira, que não desistirá de dos seus pares. Quero com isto referir este assunto, é por um impulso de re­ aprofundar os seus temas mais urgen­ que li os mais suezes testemunhos crí• pugnância que a memória jamais olvi­ tes, seja em nome do que for, senão a ticos a um livro de rara qualidade e dará. Portanto, para esse escritor da liberdade de pensar, criar e publicar. desengajamento de ideias. Houve mes­ nossa praça (provavelmente MUTI), o É "vital" ler-se "Rápida, a Som­ mo um escritor da nossa praça que per- problema da morte tornou-se reaccio- bra". e DÓRDIO GUIMARÃES OS ·oEz MAIS

Os dez livros mais vendidos em Portugal, na última semana. Esta rubrica, isenta de qualquer intuit o publicitârio, é elaborada com base em informações prestadas pelas principais livrarias de Lisboa e Porto. (Entre parêntesis, as classificações da semana passada). Título Autor Editor Preço

1 ( 1). Moçambique, Terra Queimada Jorge Jardim Intervenção 200$00 2 (2). Portugal depois de Abril Avelino Rodrigues e outros António dos Reis IOOSOO 3 (5). Constituição Política Imprensa Nacional 20$00 4 (4). 26 Anos na União Soviética Chico da Cuf Afrodite 140$00 S (-).Até na Prisão Fui Roubado Artur Agostinho Área 80$00 6 (6). Portugal: nem Tudo Está Perdido Cap. Hen rique Fernandes Ulmeiro 90$00 7 (-).Cenas Parlamentares Victor Silva Lopes EDP 120$00 8 (-).A Burla do 28 de Setembro António Maria Pereira Bertrand 150$00 9 (-).A Democracia Socialista Vitorino Magalhães Godinho Bertrand JOSOO 1O (8). Do General ao Cabo mais Ocidental Álvaro Guerra Afrodite 120$00 ~ 43 cinema•

sencadearia um novo sentimento amo­ "Relações Escaldantes" roso - o masoquismo - , nunca previ. ria que pudesse inspirar a transposição do seu romance ao cinema e, especial­ NOVA RELIGIAO DE mente, nos termos em que se proces. sou. Além de todo o vigor da sua obra se UM POVO DE EXCESSOS? liquefazer numa melada pretensamente erótico-agressiva, o espírito irreverente "Relações Escaldantes", realização de cou um irreprimível ataque de riso. E, e analítico que trouxe algo de novo ao James Yot!ng. Produção norte-america­ nestes tempos que vão correndo, faz amor desfaz-se numa mixórdia gratuita na de 1975. Interpretado por Talie tanta falta rir ... Brinquemos, pois, com a pornografia, que ela não faz mal a e oportunista. Efectivamente, nem se­ Cochrane, Margie Lane e Billy Busy. quer valeria a pena alinhavar dois pa­ Distribuído em Portugal pela Deva Fil­ ninguém ... desde que não se abuse, cla­ ro. e DóRDIO GUIMARÃES rágrafos dedicados a este filme, não mes. Em exibição no Cinebolso fora constatarmos que esta película de Que géneros de cinema de porno­ mau gosto mereceu do seu distribuidor grafia pode haver? Ora bem, existem "Malícia · a exibição simultânea em três cinemas filmes (meramente) pornográficos, fil­ da capital. · mes de teor pornográfico e filmes de Porque abusar-se em impingir a um tese pornográfica. Como é lícito, ex­ de Vénus" público discutivelmente desprevenido, clui-se o cinema erótico ou de conteú­ POUCO MENOS filmes deste jaez, que pouco menos são do erótico. Temos, definitivamente, de QUE UM MAGAZ INE que um magazine pornográfico, dos separar os termos e conceitos de erotis­ que se podia adquirir avulso em qual­ PORNOGRAFICO mo e pornografia. quer esquina? E porque a boa porno­ Enquanto o erotismo é tudo quanto grafia me pode merecer respeito, insur­ concerne à ciência do amor, à arte de "Malícia de Vénus", realização de jo-me contra a má, que nem sequer amar, à sensualidade e sentimento do · Max Dillmann, segundo o romance de excita uma imaginação incipiente. En­ acto de amar e, porque não, de fazer Masoch. Interpretado por Laura Anto­ quanto a leitura de Masoch contunde amor, a pornografia, por outro lado, é nelli, Rex Ouva! e Renato Kasche. Pro­ algumas fibras do nosso senso, mercê tud9 quanto de mecânico, grosseiro, dução italiana, distribuída em Portugal da qualidade da escrita e da profundi­ indiferenciado e gratuito tem a atitude por Filmes Ocidente. Em exibição nos · dade dos sentimentos, a visão deste de amar e de fazer amor. Todas as cinemas Castil, Estúdio 444 e Lido filme entedia-nos e amolece-nos os sen­ diferenças, portanto, que vão da inteli­ tidos, tornando-nos indiferentes até gência ao instinto, da paixão ao des­ Masoch ao escrever a "Vénus de aos estereotipados encantos de uma prezo, da sabedoria ao animalesco. Kasabaica", embora supondo que de- Laura Antonelli, que, à custa de não se Este "Relações Escaldantes", que nos vem da América 75, é um filme tipicamente pornográfico. Talvez mes­ mo o primeiro que, no género, vemos nas nossas salas de espectáculo depois do 25 de Abril. Grande metragem da­ queles filmes que, outrora, se obti­ nham às escondidas e se projectavam em privado, nas casas, em serões de remanso burguês. Toda uma .clandesti­ nidade de sexo que reunia pessoas nu­ ma semiobscuridade de congeminações políticas e revolucionárias. O certo é que longas filas se fazem na bilheteira do Cinebolso para as cin­ co sessões diárias da película. Das anti­ gas catacumbas salta gente para a luz do dia, para os grandes estádios, san­ tuários, cinemas. Nova religião ou no­ vo prostíbulo de um povo de exces­ sos? Mas não tornemos grave um as­ sunto que, no fundo, é hilariante. Sim, porque a pornografia sempre me arran- Laura Antonelli entre os homens. Uma cena de " Malícia de Vénus" 44 saber despir e mexer, transforma-se cionarista do Estoril: não devemos ter ca, na vida , sem uma ruptura total, num desarticulado manequim de mon­ complexos de inferioridade mais ou sem uma passagem para um campo que tra. menos provincianos. As moscas serão lhe será necessariamente antagónico. t Agora, que três cinemas projectem de nacionalidade diferente mas o poiso por isso que a oposição a esse tipo de estes mal cozinhados quilómetros de é semelhante. fascismo que, tal como o hitlerismo, se celulóide, dando-nos gato por lebre , é No meio da cconfrangedora miséria mascara com uma fraseologia social, é que não, senhores distribuidores! D. G. "revolucionária", surgiu, às tantas, o por essência revolucionária. Como é, "escândalo". Que apenas o foi em con­ hoje, essencialmente democrática. sequência do sectarismo transbordante Ora, um filme que põe em causa no Casino. Porque, no fundo, o "es­ figuras militares democráticas, que PORNOGRAFIA cândalo" identificava-se plenamente contesta um exército ao serviço da de­ com tudo o que se passou nas salas do mocracia, em nome de um pretenso POLÍTICA Casino, estava na sua linha de continui­ revolucionarismo, não é nem um filme dade, limitava-se a ser uma mosca dife­ revolucionário, nem um filme demo­ rente, da mesma espécie embora. O crático. Apesar do seu paleio, poeira NOESTORIL "escândalo" teve um nome: "Ofensiva para os olhos, continua a ser um filme O cinema como forma de interven­ Popular", pretensamente anárquico, social-fascista. ção ... No Pavilhão dos Congressos do pretensamente ante-social-fascista, E aqui põe-se uma outra questão. A Casino Estoril, decorreu uma "Mostra igualmente populista, igualmente (fal­ generalidade dos filmes portugueses Internacional" do dito cinema de in­ sa) intervenção - logo seguido do "Re­ apresentados integrava-se numa linha· tervenção. Filmes franceses (pois cla­ quiem pelos Assassinos". Os dois ftl­ ideológica subversiva, inserida no pro­ ro!), bolivianos, uruguaios, peruanos, mes de António Faria, que levaram os cesso que levou ao 25 de Novembro. E chilenos, porto-riquenhos, brasileiros, simpatizantes do PC a abandonar asa­ esses filmes, de claras conotações parti­ cubanos, argelinos, haitianos, albane­ la, motivaram assobios e alguns protes­ dárias, ao serviço da propaganda de ses, omanitas, palestinianos, sahauris, tos nas galerias, foram, além de maus detemúnadas forças políticas, com ata­ eritreus, vietnameses, angolanos, gui­ (política e cinematograficamen te) - ques cerrados aos partidos democráti­ neenses, tunisinos, senegaleses, nami­ mas nisso igual aos outros-, uma pe­ cos (tratados de fascistas), foram subsi­ bianos, do Níger, dos Camarões, espa­ drazinha a provocar o ondular concên­ diados (excepto, ao que supomos, os nhóis, corsos, irlandeses, soviéticos, trico num charco fétido. dois filmes de António Faria) pelo Ins­ portugueses. Muitos filmes, muitos Apesar da inocuidade das fitas, a tituto Português de Cinema. Isto é, punhos erguidos, muitas lutas, muitos capoeira cacarejou. Aí o seu mérito, pela bolsa dos contribuintes. Em nome combates·. Na presença de um público único. Porque, quanto ao resto: não há da democracia, em nome da cultura seleccionado (a começar pelo preço uma oposição ao fascismo social, no democrática: basta! dos bilhetes e pelo local de exibição), cinema, na arte, na cultura, na politi- AFONSO MANTA todo de "esquerda", como convém. Cá fora, muitos automóveis, variadas mar­ cas que não discriminamos. Enfim, a Teatro esquerda rodoviária presente. Deram-lhe um nome - cinema de No Maria Vitõria intervenção. Antes do mais: cinema, arte de intervenção, o que é isso? Que UMA REVISTA REMOÇADA arte, que cinema, não é - sendo arte, Nos primeiros dias de Novembro artística e pelo cariz ideológico atrás sendo cinema - de intervenção? Ou passado, estreou-se, no Maria Vitória, apontado, logrou alcançar o favor de intervenção é apenas quando o berro e uma revista intitulada "Força, Força, grandes massas populares, do grande o punho erguido (não temos nada con­ Camarada Zé". Não tínhamos chega­ público, em suma, que, durante sete tra o berro e o punho erguido, note.se) do, ainda, ao 25 daquele mês e o origi­ meses, acorreu a ver o que lhe interes­ entram em cena, mais ou menos minu­ nal de Aníbal Nazaré, que morrera sava. A revista tinha cinco ou seis nú­ tos na montagem, na projecção? Que pouco antes, era todo dirigido para a meros de real qualidade, mas, tal como diferenta, entre isto, esta simbologia, e defesa do partido Socialista e da "fren­ acontece com tudo quanto se escreve os abundantes súnbolos fálicos do mau te" que ele constituíra contra o gon­ sobre o imediato, envelheceu rapida­ "pomo"? çalvismo. Era uma opção e não admira­ mente, tanto mais que é certo ocorre­ Chatamente repetidos, todos estes va que assim fosse, na medida em que rem, entre nós, os acontecimentos a filmes tiveram, salvo raras excepções, tudo na vida portuguesa se partidariza­ ritmo vertiginoso. Daí à tentação de algo de comum: o papel químico. Ficá­ ra (se partidarizou) e o próprio teatro restaurar o "Força, Força, Camarada mos a saber que "este" cinema políti• musicado acusava tal estado de espíri• Zé", acrescentando-lhe cinco números co é tão mau cá como na estranja. E a to, com várias revistas "pêcêpê" e de novos e actualizando outros cinco, foi conclusão, esta, que tiramos, fica sen­ extrema-esquerda. um passo. ) do a nota positiva do folclore revolu- O espectáculo, pela sua qualidade Assim, refrescado ou quase inteira- f 45 TEATRO

mente renovado, o original surgiu no­ tores, pela boca da actriz, dão justas de rábulas que lhe cabe defender, um

Uma cena da revista do Maria Vit6ria

46 bailado "JOK" da Moldavia OS AMIGOS SAO PARA AS OCASIOES Já sobem a a lguns milhares, nestes dois últimos anos, os artis­ tas soviéticos que vêm t rabalhar a Po rt ugal, enviados pelo seu governo, em campanha de si mpatia, de estímulo ou amparo ao redor de um partido. Foi agora a vez do grupo Jok, da Moldávia, ter dado o seu óptimo contributo.

Vinda directamente de Moscovo, dezasseis instrumentistas, não era de com a única finalidade de fazer uma grande qualidade, mas deu ao espectá­ "tournée" em Portugal, esteve entre culo o suficiente suporte sonoro. nós a Companhfa Acadérrúca Estatal É curioso destacar um pormenor: de Dança da República Socialista So­ nos quínze números que constituem viética da Moldávia, mais simplesmente esta actuação de Jok alguns são já co­ chamada Jok. nhecidos. O que se explica. O grupo de , Durante duas semanas, de norte a que nos ocupamos vem da Moldávia, sul do País, os soviéticos bailaram para região que, em tempos, pertenceu à o nosso povo, tendo começado no Co­ Roménia. Ora, aqui há meses, esteve liseu dos Recreios em Lisboa, em at­ em Lisboa um grupo folclórico rome­ mosfera de triunfalista punho direito no, cujo programa era, em parte, se­ erguido e cerrado. A assistência, na es­ melhante ao de Jok. Só que o instru­ Jok: os homens possuem sempre, nestas danças, treia, era manifestamente composta mento de sopro típico, com o qual o uma actuac;ão mais virtuosistica e espectacular por amigos, o que não admira, pois "os instrumentista imita os pássaros, era amigos são para as ocasiões". muito mais bem tocado pelos rome­ Concluindo, diremos que Jok A este propósito, vale a pena salien­ nos. Em . compensação, as "Núpcias preencheu duas horas de agradável es­ tar que já sobem a alguns rrúlhares nes­ Moldavianas" trazidas pelo grupo so­ pectáculo visual, numa mensagem de tes dois últimos anos, os artistas sovié­ viético sã'o mais espectacuJares, mais alegria e virtuosismo bailatório que ticos que vêm trabalhar a Portugal, en­ completas no desenvolvimento cénico não é de mais ena)tecer. e viados pelo seu governo. E chegam dos russos. JOÃO NORDESTE sempre, como é fácil comprovar, nos momentos próprios, como auxílio à criação de uma campanha de simpatia, estímulo ou amparo ao redor de um .lV partido. Bom, mas isto talvez não interesse abusa da concessão exclusiva da rede muito, nesta coluna, onde o que deve­ O mesmo selo de televisão. rá dizer-se é se o espectáculo é bom ou Despautérios são, para a telespecta­ mau. E é, na realidade, bom. Os artis­ • dora epistológrafa, os deslocados e re­ tas soviéticos gozam de um grande na origem gra geral pretensiosos "prefácios fala­ grau de profissionalização e têm esco­ dos" impingidos a propósito ou des­ la. Quer dizer, o seu folclore sofre o dos deslizes propósito da projecção dos filmes de tratamento adequado e os intérpretes fundo, seja qual for a sua origem e a possuem a técnica necessária (e boa) época em que foram produzidos; apre­ para interpretarem bem as suas danças. sença frequente, na apresentação dos Depois, há a textura do próprio pro­ "OS DESPAUT~RIOS DA TV'' é a noticiários da hora do almoço, de urfl. grama, onde as peças alegres alteram expressão, ainda assim cortês, que uma locutor de "voz irritantemente metáli­ com as üricas e, nestas, são intercala­ leitora utiliza, em carta que remeteu ca, distorcida, ainda por cima, por evi­ dos quadros humorísticos de dança, ao signatário desta crónica semanal, dente falta de dentes", o que, na sensa- que não têm nada a ver com o folclore, para castigar os deslizes, os voluntários ta opinião da nossa leitora, "toma o mas ajudam a criar um clima de agra­ ou involuntários pecados da RTP - ou espectáculo duplamente desagradável dável distracçã'o. Há também que con­ cometidos em seu nome, ·e pode su­ - dos pontos de vista auditivo e vi­ tar com os trajos, sempre ricos, varia­ por-se que perante a sua passividade; sual" ... Mas se, para algumas das falhas dos e de bom corte. por funcionários ou colaboradores da ou desleixos, a nossa correspondente ) l A orquestra, um pequeno grupo de empresa pública que neste país usa e encontra, generosa, o lerútivo de urna 47 TV

,desculpa, p~ra outros recusa-se a pro­ ra que nos escreveu um SOS desalenta· pre com o mesmo "leão" triturador

CRIANÇAS: SEXO A ESCOLHA

Aspiração de sempre de muitos ca­ contrapartida, os embriões femininos pouco tempo em con tacto com o colo sa is. será agora possíve l escolher o sexo produzidos nas mesmas condições re­ uterino: a oportunidade pertence, as­ do noi.so filho ? Explorando os com­ sistem habitualmente: as raparigas nas­ sim, ao mais rápido - o espermatozói• plexos mecanismo da concepção. a cem sem quaJquer deformação . de Y. o caso contrário, os X, mais ciência aperfeiçoou um .. modo de em­ A teratospermia ocupa um lugar lentos, terão a maior viabilidade . Por prego" de resultados promi ssores. muito importante entre os factore~ de esta razão, afirmamos que a ausência " Preferem um rapaz ou uma rapa ri­ determinação do sexo, tanto mais que de orgasmo é favorável à concepção de ga?" Velho problema dos casais que apenas um homem cm cada cinco pos­ raparigas. tem feito a fortuna de muito charla­ sui um esperma normal. Pelo mesmo motivo, uma introdu­ tão. Também os cientistas se vêm de­ Quanto à astenospermia, basta su­ ção profunda quando do acto sexual bruçando. desde sempre, sobre este as­ blinhar que a frequência das relações permite um contacto rápido entre o es­ sunto, numa tentai iva de reunir e in­ sexuais dá origem a alterações quanti­ perma e a região aonde chega o óvulo, terpretar os factores que maior in­ tativas e qualitativas do esperma, favo ­ favorecendo os "sprinters" Y. íluência têm na determinação natural recendo, assin1, o nascimento de rapa­ Por fim, vejamos qual o papel de­ dos sexos. Neste momento, as pesqui­ rigas. sempenhado pela ac idez vaginal. Quan­ sas estão já suficientcmc ntc ava nçadas Outros factores importantes: as cir­ to mais forte ela for, mais rapidamente para que . na sequência da comunica­ cunstâncias que rodeiam as relações se­ morrem os espermalozóides: os X, ção feita por Bernard Séguy, especiaJis­ xuais. mais resistentes, terão maiores oportu­ ta de biologia da reprodução. à Acade­ Em primeiro lugar. a data da ovula­ nidades. Assim, uma alcalinização arti­ mia de ~ledicina francesa, seja possível ôo. Suponhamos que a relação ocor­ i'icial favo rece o nascimento de rapa- reunir os seguintes dados : reu pouco antes da ovulação: os esper­ l.CS . Factores que influem na quantidade matozóides "esperaram" pouco pelo Uma terceira série de factores fina l­ e qualidade dos esperma tozóides. óvu lo; quando este surge, os Y mais mente intervem após a fecundação : Sendo sensivelmente mais numerosa numerosos e mais rápidos, têm maior trata-se dos factores imunológicos ma­ a conccpção de fetos masculinos do hipótese de fecundá-lo do que os X. ternos. A gravidez, com efeito, pode que de femininos, é necessário admitir este caso nascerá um rapaz. Pelo con­ considerar-se como o "enxerto" no or­ que os cspermatozóides Y (rapazes) trário, se a relação sexual teve lugar ganismo da mãe de um corpo estranho são mais numerosos - e, sobretudo, muito tempo antes da ovulação, a que, normalmente, deveria ser rejeita­ mais rápidos - que os cspermatozóides oportunidade pertence aos X, mais re­ do. Se isto não sucede é porque, pare­ X (raparigas). Em contrapartida, são sistentes, os únicos sobreviventes. Nes­ ce, uma espécie de barreira protege o mais frágeis : os embriões que não atin­ te caso, nascerá uma rapariga. feto. Ora, por razões ainda não total­ gem o final da gestação são, na maior Determinando o momento da ovu­ mente conhecidas, o feto masculiJ10 es­ parte dos casos, do sexo masculino. lação, graças à curva das temperaturas. tá menos protegido e é. portanto, mais Por outro lado, parece que todas as o alemão Haitzol conseguiu obter 80 facilmente rejeitável. anomalias do esperma - oligospermia por cento de resultados correctos na (pequena quantidade), astcnospcrmia de terminação voluntária dos sexos. (fadiga do espermatozó idc), teratos­ Bernard Séguy desencadeou artificial­ Assim, mercê de uma pesquisa cons­ permia (deformação do cspermatozói­ mente ovulações, não autorizando iante, de estudos aturados, o mecanis­ dc) - favorecem, de um modo geral, o mais do que uma relação sexual no mo natural da determinação dos sexos nascimento de raparigas. Dois investi­ momento em que aquelas se produ­ comporta cada vez menos mistérios. gadores franceses, Guegucn e Legros, ziam: obteve, assim, 77 rapazes em Os biólogos encaram mesmo a hipótese já quase conseguiram explicar por que 100 casos. de lhe juntarem possibilidades suple­ mecanismo, pelo menos no que diz res­ Se se pretende ter um rapaz, deve-se mentares de escolha, desta feita artifi­ peito à teratospermia, a maior parte fazer amor; mas é melhor fazê-lo bem ciais. Por exemplo, "enxertar" deter­ dos esperma tozóidcs deformados pro­ feito. Se a mulher atinge· o orgasmo, a minadas genes, de fo rma a fazer nas­ duz embriões masculinos, embora a vaso-congestão do terço externo da va­ cer, a pedido, crianças superdotadas. gravidez termine, frequentemente, por µina desaparece rapidamente. Por ou- Ciência ou ficção? Fronteiras futura­ um aborto ou por um nadomorto. Em 1ras palavras, o espcnna pem1anecc mentc muito difíceis de estabelecer. e 49 Economia PORTUGAL ENTRE OS POBRES A IV Conferência da Comissão das Nações Unidas para o os países não desenvolvidos industria]. Comércio e Desenvolvimento, que decorreu na semana passa­ me nte estão empenhados para a co ns- da no Quénia, teve um significado espec ial pa ra Portugal: pela 1rução de uma nova ordem económica primeira vez, abertamente, o nosso país colocou-se entre os 1nternacional. que lutam pelo estabelecimento de uma nova ordem econó· A presença do ministro do Comér­ mica internacional. cio Externo português, dr. Jorge Cam­ pinos, conforiu-lhe, para nós, um signi­ ficado particular - pelo que nela disse, pela análise da situação portuguesa que A IV Conferência da UNCTAO (Co­ para acusar os oprimidos de belicistas. ousou fazer (estamos pouco habitua­ missão das 1 áções L nidas para o Co­ ocultando que a sua opressão é já um :i dos à linguagem da verdade), como mércio e Desenvolvin1ento ), realizada forma de "guerra": ainda pelo apoio dado a um combate cm Nairobi, no Quénia, à qual esteve Acusar hoje os pa ises pobres, con1u de incomensurável alcance. presente o ministro português do Co­ Portugal, de pretenderem uma "guerra Grande parte dos delegados dos paí• mércio Externo e do Turismo, foi do­ económica". significa defender decla­ ses presentes na Conferência expuse­ minada pela discussão das relações eco­ radamente o stalll q110 nas relações ram as preocupações das nações pobres nómicas internacionais. económicas internacionais: isto é. a c-.;­ (somos uma delas) a respeito das rela­ Os países de grau inferior de desen­ ploração e a dependência. ções económicas internacionais que volvimento económico, particularmen­ A conferência da U CTAD é 11111 consideram injustas. te os países do chamado "Grupo facto internacional de relevante signif'i­ O fosso entre os países industrial i­ dos 77", puseram urna vez mais em cado, inserindo-se nos esforços em que zados e o mundo subdesenvolvido tem causa a velha ordem económica inter­ nacional, exigindo a abolição do siste­ ma de troca desigua l, isto é, a abolição das re lações de exploração a nível in­ ternacional. A crise gue temos Portugal, que atravessa urna fase de graves dificuldades econónúcas, está totalmente interessado em que a luta FALAM OS NliMEROS dos países pobres por elações económi• cas internacionais mais justas obtenha O ministro português do Comércio mente de serviços, nomeadamente os resultados positivos. Inevitavelmente, Externo e do Turismo, dr. Jorge Campi­ provenientes do turismo, e pelas transfe· Portugal colocou-se ao lado de quantos nas, no seu discurso proferido em Nairo­ rências, privadas, como as transferências exigem das grandes potências um trata­ bi, expôs aos delegados da UNCT AD o dos emigrantes portugueses. Tal situação, mento de igual para igual, sem hege­ quadro da actual situação económica do em virtude de causas múltiplas, tanto po­ monismos nem dependências. nosso pais. A brutal linguagem dos nú· líticas como económicas, fo i radicalmen· O mirústro Jorge Campinos, ao dar meros, na sua simplicidade fria, merece a te atingida com a revolução do 25 de a adesão do Governo Português a esta leitura atenta: Abril. Em 1974, o aumento das importa· justa causa, deu uma dimensão nova à "Um decréscimo da produção em ções foi de 61 por cento. Em 1975, tive­ 1975, aumento do desemprego, ultrapas· mos uma quebra de 25 por cento nas política estrangeira do nosso país: Por­ sande os 10 por cento da população acti· exportações. Nestes dois últimos anos, o tugal afirma-se disposto a lutar, ombro va, manutenção das pressões inflacionis­ decréscimo do saldo positivo dos invisl· a ombro com outros países, pela solu­ tas dos últimos anos e, por fim, impor­ veis correntes fo i de 36 por cento. ção dos problemas concretos que se tante défice da balança de pagamentos. "Por consequência, o Governo Portu· nos põem. Por uma vez, não nos com­ "Este último aspecto, que se reveste guês fo i obrigado a f inanciar, durante es­ portámos como pedintes às portas das de uma gravidade sem precedentes no te período, um défice global da balança capitais do mundo. Da mendicidade à meu pais, está estreitamente ligado às de pagamentos de cerca de 1 ,5 biliões de luta: retrato de uma nova diplomacia preocupações desta Conferência e mere· dólares, quer pelo recurso às reservas nu m país que se quer novo? ce, por isso, uma referência ma is detalha­ quer por empréstimos obtidos nos mer· l laverá quem não goste. Por exem­ da. cados de capitais ou junto de organiza· "Portugal conhece há muito um dese­ ções financeiras internacionais. plo, as grandes potências. O delegado qu illbrio considerável na sua balança co· "Por outro lado, as medidas de desen· soviético, Nicolai Patolitchev, acusou mercial. Contudo, até 1973, esse défice volvimento económico adaptadas pelo em Nairobi "alguns países" de provo­ era largamente compensado pelo paga- VI Governo provocaram um mais largo carem uma "guerra cconórnica". To­ dos os dominadores têm a tendência so vindo a alarga r-se. O sistema im c.: rna­ histórico, não haver ainda uma cons­ .:ional vigente determina que os países ciência nacional. Je desenvolvimento económico atrasa­ Jo - de maneira geral, todos os produ­ EMBAT E FRONT AL tores de matérias-primas - se encon­ trem cm relações de dependência, pois Com a Confe rência de Bandung, al­ têm, obrigatoriamente, de escoar os go de novo surgiu neste panorama: a seus produtos, a baixo preço, na direc­ compreensão de que a independência ção das grandes metrópoles, e importar efectiva passava pela liquidação da or­ destas, a alto preço, os produtos de dem económica estabelecida, por um tecnologia avançada. Os défices que, novo tipo de relações internacionais deste modo, se criam nas balanças de (aí se impuseram os cinco princípios pagamentos dos países produ tores de / de coexistência pacífica entre estados, matérias-primas, bloqueiam, a par de posteriormente consagrados), pela uni­ outros fac tores, as possibilidades de dade dos pa íses atrasados contra as desenvolvimento das economias nacio­ Jorge Campinos: por uma nova ordem grandes potências. nais e, por extensão, a sua independên­ económica internacional Mas se os anos segui ntes a Bandung cia. foram caracterizados por avanços dos Desde os fins da segunda guerra co­ países subdesenvolvidos nas direcções lonial quando , mercê da descoloni­ acima apontadas (Conferências do Cai­ zação que Lh e foi consequente, os paí• "Nao se trata ro e de Acra), o processo não se desen­ ses do Terceiro ~ l undo ascenderam às volveu de maneira rectilínea, entrando independências políticas - um passo por vezes em "impasses". Sobretudo foi dado para a criação de uma ordem de dar porque, com o aparecimento de uma internacional de tipo novo, uma ve7 nova potência donúnadora à escala in­ que os víncu los directos da dependên­ ternacional, a URSS, que soube explo­ cia política tinham sido destroçados. alguns retoques ra r em seu proveito a oposição dos paí• ses pobres ao dom ínio norte-america­ na velha ordem" no, novas relações de dependência co­ recurso aos mercados externos. Da 1 que meçaram a ser estabelecidas, agora a d iv ida pública externa, no fim do ano "São estes princípios (a independên· com uma metrópole mais a leste - transacto, ro ndasse os 900 milhões de eia nacional, a vantagem reciproca e a Moscovo. dólares, o q ue corresponde a 7 por cento igualdade soberana) que Portugal deseja· A Mongólia, índia, Cuba, Iraque, do produto interno bruto." ria ver presidir no estabelecimento de uma nova ordem internacional. Para nós, para só citarmos estes, passaram a for­ " Com a realizaç.ão do processo desco­ não se trata unicamente de dar alguns necedores das matérias dos sectores lonizador; que foi uma das priori dades retoques na velha ordem, mas sim, pelo primários das suas economias, exporta­ da revolução de 25 de Abril de 1974 contrário, transformá-la inteiramente, das a baixo preço para a Unjão Soviéti­ Portugal deixou de ser um país exporta: criar uma nova ordem económica inter­ ca. Por sua vez, esta ou consumia essas dor para se converter num país importa· nacional. matérias no seu mercado interno, a do r de matérias-primas. Estas importa· " Na nossa opinião, isto deve ser feito, preços compensadores, permitindo as­ ções co mportam os produtos alimenta· preferencialmente, no quadro da Organi­ sim uma certa acumulação, ou expor­ res, de que a nossa economia é altamente zação das Nações Unidas. Portugal enten· tava os artigos importados aos preços deficitãria, bem como matérias-primas de que o reforço das interdependências do mercado internacional, acumulando destinadas a algumas das nossas princi· na comunidade internacional contempo­ na transacção. Os escândalos do açúcar pais ind úst rias de exportação, nomeada· rânea supõe a participação activa de to· mente os têxteis de algodão e de sisai. A dos os países, independenteml! nte das cubano e do petróleo iraquiano aí es­ indústria têxtil representa um quarto do suas d imensões geográficas, do nível do tão a demonstrá-lo. total das nossas exportações. No sector seu desenvolvimento econó mico ou dos Com o dealbar dos anos 70, a oposi­ da alimentação, compramos no exterior seus si stemas sociopoliticos. " (Do discur· ção dos países pobres às grandes po­ perto de 50 por cento do total do País, so do dr. Jorge Campi11os na I V Confe· tências ganhou novo impulso. A pró­ isto é, um quarto das importações. ré11cio da UNCTAD, em Noirobi.J pria ONU, e os seus departamentos es­ " Nestas condições, sofremos de ma· pecíficos, converteu-se em terreno de neira extremamente intensa as flutuações No entanto, os figuri nos de descolo­ batalha entre as nações industrializadas excessivas dos mercados de produtos de nização que, de maneira geral, se im pu­ e as subdesenvolvidas. A re ivindicação base. Portugal estã por isso interessado na estabilização do comércio dos produ· seram, fizeram perdu ra r os laços de de­ do estabelecimento de uma nova or­ tos de base, a nível de preços remunera· pendência e estrangulamento económi­ dem económica internacional foi aí dos para os prod utores e equitativos para cos existentes entre as antigas potên­ posta de maneira frontal. A IV Confe­ os consumido res." cias coloniais e os países recém-nasci­ rência da UNCTAD (uma das comis­ dos - com a agravante de , nalguns de­ sões da ONU) foi também p:il k·ste les, em virtude de todo um processo confronto. e A.M. 51 Franca-Alemanha

ACUSAÇOES .INJUSTAS AO GAULLISMO

SAINT· ROBERT \dois anos. dava-se grande im­ De Gaulle durante sete anos. Portan· lítica da Europa. arriscan1, caso não a portância, em Paris e em Bona. Lo, o menos que se poderá dizer l1 façam recuar. pelo menos de a conge­ B :is relações pessoais entre o pre­ que a observação é indiscreta. lar por momentos. sidente Giscard d'Estaing e o chance- Mas a argumentação, sobretudo, ler Sclunidt. Pensava-se que elas per­ era contestável: classificado de "con· rRIBUl-SE estes aparentes em­ mitiriam, como no tempo em que serva dor", o gaull ismo era responsa­ haraços aos problemas eleito- De Gaulle e Adenauer tinham rela­ bilizado pela importância do comu­ A 1ais da social-democracia ale­ ções semelhantes, compor sempre, ao nismo em França. Ora, aqueles mes­ mã . \las não arriscarão eles a agravá- mais alto nível, tudo aquilo que, em mos que, em França ou no exterior, -los? "A prática do bilhar, no grande profundidade, continua a fazer com contestam a po lítica do general tabuleiro mundial, levou o chanceler que as políticas da França e da Ale­ De Gaulle, constatam a amplitude Helmut Schmidt a assumir os riscos manha divirjam fortemente cm mui­ das reformas conduzidas por ele da roleta russa no plano diplomáti­ tos pontos, tanto interiores como ex­ entre as quais a descolonização e as co", é o que se dizia, no dia seguinte ternos. alterações levadas a cabo nas institui­ às estrondosas declarações de 15 de Ora foi precisamente ao mais alto ções, a fim de que n França pudesse Abril, nos meios da oposição demo­ nível que, nas imediações fatídicas ser flnalmente governada. Toda a crata-cristã. De qualquer maneira, se .do 8 de Maio, as coisas começaram a gente sabe também que o eleitorado essa oposição ganJia o primeiro plano desandar. Subitamente o chanceler comunista nunca recuou tanto, cm nas próximas eleições alemãs, será a Schmidt, ainda ontem o mais pró-A• França. como no tempo em qUl' -;ua política europeia muito diferente tlântico e anticomunista dos chefes De Gaulle estava no Poder. da actual, cxcepto a ser mais anti-so­ de governo europeus, pôs-se a fazer \'iética na sua expressão? declarações sobre a possibilidade, que Por último, e o que é mais catas­ O "impasse" cm que se encontra a já não lhe parecia antinatural, de os trófico do ponto de vista europeu, o união europeia é, pois, cada vez mais comunistas participarem em governos chanceler Schmidt ataca as reticên­ evidente. Os parceiros da Comunida­ ocidentais. Consternação imediata cias dos franceses face à Europa su­ de Econónúca continuam a não se cm Paris, onde o Governo fundame J;l ­ pranacional e declara que o processo poder entender sobre a composição ta toda a sua estratégia sobre a de­ "dos abandonos da soberania do~ da Assembleia de Estrasburgo que núncia permanente do "Programa pa(scs europeus será prosseguido". queriam agora ver eleger por sufrágio Comum" da esquerda e os perigos Tudo se passa, portanto, como se o u1úversal directo, mas que nem a In­ respectivos. chanceler da Alemanha quisesse dar glaterra nem a França nem a Di na­ razão aos meios gaullistas, que, cm marca desejam verdadeiramente. Isso Mas o chanceler Sclunidt não fi­ Paris, vêem naquilo que se convencio­ vai dar lugar a novas e intermináveis cou por aí. Desenvolveu ainda uma nou chamar a "Europa supranacio­ discussões teóricas. Aqueles que, co­ espécie de paralelismo entre franquis­ nal" a simples camuflagem de uma mo a Alemanha, desejarão forçar a mo, salazarismo ... e gaullismo - pare­ nova "Europa alemã", baseada na ac­ decisão, arriscarão, pelo contrário . .1 cendo ignorar que os "gaullistas" tual supremacia económica e finan­ adiá-la por mais tempo. A atmosfer:i continuam em grande plano no Poder ceira da República de Bona. Imagi­ não é boa na Europa: ela reflccte a~ cm França, e que o próprio Giscard na-se, portanto, que tais declarações. incertezas e a perturbação actual do d'Estaing foi ministro do general longe de fazerem avançar a união po- \1undo. e PS·R.

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dam o assunto. Até há poucos dias, Espionagem muito do que se dizia sobre este caso, que está a apaixonar a opinião pública alemã, não passava de conjecturas. Ao MAIS UM "CASO SERIO" mesmo tempo, as suspeitas alargam-se . . e abrangem todos os que, no passado ou no presente, trabalharam com Hel­ NA ALEMANHA FEDERAL ga Berger. Mais um caso de espionagem na Alemanha Federal. Como Estão neste caso um diplomata francês que com ela esteve em Varsó· habitualmente, a favor da República Democrática Alemã e, pos­ via e Segismund von Braun (irmão do sivelmente, com implicações na política interna de Bona. Desta cientista Werner von Braun), que em vez, porém, o caso pode ter repercussões noutros pa ises euro­ Varsóvia sucedeu no cargo ao dr. He­ peus. nrich Box. A CDU mantém que Box está ino­ Os funcionários cio ~ 1 inistério cio' cente. Este último apresentou queixa Negócios Estrangeiros de Bona não es­ contra desconhecidos por difamação e conderam o seu espanto quando a Po­ muitos observadores crêem neste mo­ lícia lá entrou há dias, cm "visita de mento que ele não colaborou conscien- investigações". E o seu espanto não 1emen1e com os serviços de Erich Miel­ deixou de aumentar quando souberam ke, (ministro da Segurança do Estado que l lclga Berger, a secretária do direc­ da RDA), para os quais llelga Berger tor-gcral do Departamento Comercial, trabalhava. fora presa, enquanto o seu "correio", Considerando-se insultado pelas sus­ um funcionário de 40 anos chamado peitas do Governo, Box devolveu todas Klaus \Vohler, conseguia pôr-se em fu. as condecorações que possuía. ga. Funcionária do ~linistério dos Ne­ LUTAS E CONJECTURAS gócios Estrangeiros de Bona, colocada na de legação comercial que este abriu Um dia antes de rebentar o escânda· cm Varsóvia antes do estabelecime nto lo, numa festa organizada em Franco­ de relações diplomáticas com a Poló• forte para comemorar a independência nia, llelga Berger foi aí, em 1964, su­ da América - estando presente Roc­ bordinada do dr. llenrich Box, alto di­ kfeller - , foi muito notado o fac to de rigente do Partido Cristão-Democrata l lelmut Schmidt e o presidente do Par­ (director do Departamento de Rela­ Habs-Dietrich Gensher: um problema suple· tido Cristão-Democrata, , ções Internacionais da CDU) , de quem mentar terem passado a maior parte do tempo, ficou , ao que parece, amiga pessoal. ínt imo) deixar de recordar o caso Gui­ retirados, conversando a meia voz. Uma vez presa, comprovou-se que, lkaumc, que provocou a queda de Wil­ Tanto a CDU, através de Box, como nas horas que o seu trabalho no Minis­ ly Brandt. a coligação governamental SPD-FDP, tério lhe deixava livres, ajudava o por causa do Ministério dos Negócios dr. Box - que, por isso, foi interroga­ NO MIN ISTÉRIO Estrangeiros, não têm grande interesse do durante 24 horas. Enquanto decor­ DE GENSCHER cm que o caso seja muito explorado ao ria o interrogatório, 1l elmu t Koh.l, pre· nível da opinião pública. O "Die sidentc da CDU, fo i à televisão comu­ O escândalo parece atingir, em pri­ Welt", num grande artigo de primeira nicar que Box estava suspenso de to­ meiro lugar, o Ministério dos Negócios página dedicado ao assunto, começava dos os altos cargos que desempenhava Estrangeiros, dado que, como secretá· por dizer: "O procurador-geral da Re­ enquanto durassem as investigações. ria do seu Departamento Comercial, pública disse não poder fazer mais de­ o dia seguinte, a CDU começava a l lelga Berger tinha um campo de infor­ clarações." atribuir ao Partido Social-Democrata mações muito mais vasto do que como O caso pode vir a ter outro desen­ (SPD) intenções de "criar um caso de colaboradora nas horas vagas de um volvimento a nível internacional, dada espionagem CDU'' que Lhe permitisse político da oposição. a actividàde desenvolvida por Box na refrear os ímpetos com que os cris· No caso, aliás, parece es tarem tam­ União Europeia das Democracias Cris­ tãos-democratas se dispõem a ganhar bém implicados mais dois funcionários tãs. Mas não é o último, com certeza, as eleições de Outubro. ~ claro que o do mesmo Ministério, embora as decla­ que sucede num país onde o ministro porta-voz do SPD negou qualquer in­ rações oficiais se tenham até agora dis­ dos egócios Estrangeiros, por exem­ tuito desse género, não podendo (no tinguido pela cautela com que abor- plo, originário da Saxónia (hoje RDA), 53 internacional

rada a maior base do mundo. Às portas vai muitas vezes à Alemanha de Leste tros se seguirão. Naturalmente. t im ca poderia, conjuntamente com a Sí• embaixador, nas colinas, que os atira .. . da Europa. Perguntam os estra11geiros: visitar a fami1ia . Muita gente atravessa russo ou um polaco são referenciad1 · ~ ~ia, assegurar um "sistema de contro­ O único diplomata a aventurar-se. para quê? a fronteira entre as duas Alemanhas e. por causa do sotaque. Mas um alcm:i•> por estes dias, terá sido George Gorsc. lo". Por outro lado, o ~lediterrâneo con­ na RFA , é muito difícil distinguir en­ (mesmo de Leste) está em Bonn cnm Em Paris, entretanto, colocam-se al­ enviado a Beirute por Giscard d'Es- tinua a ser uma área da instabilidade tre um refugiado e um "enviado". 1' guns problemas. Sem dúvida que a pre­ t'ompatriotas como peixe na água e 1aing. À sua chegada em 8 de Abril, o que as forças do Pacto de Varsóvia têm este o problema de base - e é por iss11 sença no LCbano de meia centena de funcionário do protocolo que o espera­ sabido utilizar em seu proveito. Há, que aos casos Guilleaumc e Berger ou- 1 .:-.. oficiais franceses daria uma certa tran­ va no aeroporto acolheu-o da forma pois, uma desconfiança generalizada mais encorajante: "Obrigado por que­ quilidade aos libaneses, a quem inquie­ ta uma ordem exclusivamente síria. face à política de desanuviamento pro­ rer arriscar a vida por nós." George pagandeada pelos soviéticos. Li bano Gorse encontrou-se com os chefes de ~ l as que fazer, se a Síria se instalasse definitivamente no p:1 í~? Ou em caso ~las o mesmo não parece suceder todas as facções. Até com Arafat. da ataque israelita " e com o ministro dos egócios Estran­ O chefe da Organização de Liberta­ geiros português que se referiu, desta MISSAO ÍMPOSSIVEL ção da Palestina (OLP) perde a cabeça. M.R. vez cm Estocolmo, ao "êxito que cons­ O Líbano é um quebra-cabecas Esta guerra civil está a desviar-se do tituiu a Conferência de Segurança Eu­ Dean Brown, enviado especial do combate contra Israel. Em vez de con­ para todas as diplomacias. ropeia", precisamente numa altura em Dep~is presidente Ford, teve que adiar para centrar as suas fo rças contra o Estado dos fracassos americanos e sovié­ que os resultados desta são julgados melhor oportunidade o plano que tra­ hebreu, tem de ocupar-se em reabaste­ Nato Melo Antunes: ainda fala na "détente" mais que duvidosos e em que· se subli­ ticos, a França tenta agora a sua zia. Em termos ge rais, este previa um cer as regiões que controla, com trigo roso e convincente para aqueles que nha o facto de a União Soviética não sorte no conflito. consórcio internacional, que não se li­ comprado a preços altíssimos à Fran­ apontam a URSS e a sua estratégia co­ 1er ainda dado cumprimento a grande mitaria a participar na reconstrução do ça? MELO ANTUNES mo perigosos factores de uma guerra parte das cláusulas do Acto Final de O L1bano faz o desespero das gran­ país, mas, com o apoio de uma força Das conversações com uns e outros, mundial não muito longínqua. l lelsínquia. des potências. E nem · o último cessar­ militar, ajudaria também o novo presi­ George Gorse ficou com a impressão O ministro Melo Antunes, ao con­ As declarações de Melo Antunes le­ -fogo conseguido em Beirute foi sufi­ dente a consolidar a sua autoridade. de que os problemas de fundo não são FALOU POR SI trário de outros dos seus colegas pre­ vantam uma curiosa observação quan­ ciemente animador: na noite seguinte, Este projecto, violentamente combati­ irresolúveis. Os outros problemas - o As declarações do representante sentes na reunião, elogiou o desanuvia­ do confrontadas com uma constatação nos arredores da cidade, bombardea­ do pela Síria e Palestina, teve os cris­ regresso à calma, à segurança - pare­ português proferidas antes e de­ mento e minimizou as núvcns que transmitida pelo secretário-geral da mentos e contrabombardeamentos fi­ tãos como únicos, mas manifestamente cem, contudo, bem mais difíceis. Re­ pois da reunião do Conselho dMi­ adensam o horizonte da tão falada ATO, Joseph Luns, segundo a qual zeram cerca de 300 vítimas. insuficientes defensores. Por isso não gressou, por fim, suficiemente pertur­ nisterial da NA TO, efectuada na "détente". "todos os ministros reunidos nesta sala A loucura assassina, apenas inter­ foi avante. bado para ouvir Giscard d'Estaing pe­ semana passada em Oslo, des­ As preocupações europeias e ameri­ pertencem a governos constituídos se­ rompida por cessar-fogos provisórios, a O falhanço foi de molde a desani­ dir-lhe que não renunciasse. toam deveras com o espírito do canas no que diz respeito aos pontos gundo os princípios da democracia, no inexplicável obstinação do presidente mar a URSS a tomar qualquer espécie Em Beirute, Gorse sugeriu a organi­ comunicado final emitido ao fim frágeis da defesa ocidental face à amea­ respeito pela opinião dos seus concida­ Frangié e as inimizades pessoais que de iniciativa semelhante. A sua única zação ("por exemplo, em Paris") de ça soviética tiveram a sua tradução cm dãos". complicam as soluções políticas acaba­ preocupação é, agora, evitar toda a es­ uma conferência "tipo Vietname". Ad­ de dois dias de sessões. tennos da Aliança Atlântica. O orte Esta afirmação parece ter sido posta ram por desencorajar as últimas mani­ pécie de golpes. Desde modo, o repre­ mitiu, ainda, a eventual participação da Europa encontra-se sob uma tensão em causa pelo próprio representante festações de boa vontade. sentante soviético já não sai nunca da da França num dispositivo de seguran­ Constituiu preocupação dominante crescente. A base de Murmansk, em português através das posições por si Um alto funcionário francês, teste­ sua embaixada. t verdade que, no ex­ ça. do Conselho o crescimento notável do território russo, tem vindo a ser ape­ assumidas, quando confrontadas com a munha do desenvolvimento do confli­ terior, não faz "bom tempo" ... Cho­ "Porque não a França, com efei- poderio militar russo, "excedendo os trechada metodicamente com o que lk dos partidos mais votados nas últimas to, comentava, desanimado: " A única ve m obuses, e, por ironia do destino. é 10? ", perguntou há dias um deputado níveis aparentemente justificáveis para mais eficiente existe em matéria de ar dciçõcs. Assim o julgan1, pelo menos, coisa que pode esperar-se é um mila­ um canhão colocado pelas tropas de libanês. E explicou, em nome do seu fins de defesa". A intervenção soviét i­ mamento ofensivo. É já hoje considc- alguns observadores atentos.. J. M. gre." esquerda, na residência de Verão do grupo (32 parlamentares), que a Fran- ca eem Angola é um argumento pode-

REFREAR_O PC: preocupação da CGT (Con­ no princípio de Fevereiro, sem a pre­ Com efeito , as trªs companhias ameri­ RODAPÉ federaçao Geral do Trabalho francesa). sença dos americanos , para reflectir canas interessadas, acabam de levar S!mpatizantes e militantes da CGT pro­ sobre os meios de melhor coord enar as ao conh ~cimento da URSS que bancos da poe~-se reagir, dentro de certas fede­ respectivas políticas de armamento, Europa ocidental (especialmente da raçoes, contra a influência crescente -- decidi ram v oltar a encontrar- se em Alemanha Federal, da Grã-Bretanha e da do Partido Comunista nos conflitos so­ Junho . Objectivo: aquilo a que, nos França) forneceriam os fundos necessá­ ciais. Segundo afinnam, esta influência meios. militar es, se chama a "inter­ rios a este empreendimento. Objectivo: ~peracionalidade " d e annamentos: isto o fornecimento aos EUA de um bilião e "NÃO AO PC", diz Abelin aos i talia­ limita a unidade de acção com a CFDT (?entral sindical socialista). Alguns e~ a possibilidade de adaptar materi­ meio de metros cúbicos de gás natural n~s. Pierre Abe!in, e x-ministro fran­ ais de origens difer entes. e de 500 milhões à França. ces da Cooperaçao e secretário- geral militan~es e~caram mesmo a hipótese de do Centro Democrático , apr ov eitou a colocaçao do problema a n:!vel das ins­ s ua última v iagem a Itália para aler­ tâncias confederais. GÃS SOVIlTICO para os EUA. Recusado tar - em nome de Giscard d ' Estaing - pelo Congresso americano há dois MOTINS NA UNIÃO SOVUTICA. Fontes li­ Ald? r.1 ~ro e os seus amigos democratas FRANÇA-RFA: política comi.un de anna­ anos, volto~ à or dem do dia o projecto gadas à NATO informê:lm que, antes do - cn.staos, contra qualquer espécie de mentos. Os países europeu s , lidera­ da construçao, na Sib é ria, de um ga­ caso "Storojevoi", se registaram dois aliança go ~ ernamental entre aqueles d os pela França e pela RFA, que, pe­ ª?duto para transporte de gás sovié­ outros motins em unidade s da r.iarinha e os comunistas . la primeira vez, se reuniram em Roma, tico at~ à costa ocidental dos EUA . soviética. 4 55 nacional

Comércio recobraria todo o seu esplen. Terreiro do Paco dor e dimensão, mostraria todo o seu potencial de beleza e harmonia. Contra um fundo branco. todos 1h camb iantes de luz e sombra aparece. OUTRA COR riam nítidos. as linhas dominantes do conjunt o seriam perfeitamente demar­ cadas, a praça em si reencontraria as PARA A "SALA DE VISITAS" suas verdadeiras dimensões. A par dos tímidos ensaios de cor fe itos sob as arcadas, o que, presente­ Entre o verde, o rosa, o ver­ brio. Assim, não é de estranhar que a mente ressalta, de fac to, é a força da melhão e o amarelo dividem-se as i111:1gem que normalmente se fixa da ala recém-rebocada, que no tom cinza opiniões sobre a cor que deverão Praça do Comércio seja mais a de um do cimento nos pode dar uma ideia do vir a ter os edifícios da Praça do somatório de pormenores de cantaria que poderia vir a ser o conjunto depois de reconstituída a sua pureza original. Comércio. Mas poucos pensaram sobressaindo de um fundo uni forme, e M.R.F. noutra possibilidade: o branco. não uma visão de conjunto de toda a praça. O que confere monumentalidade :1 As preferências dos puristas da re­ Praça do Comércio não são as canta­ constituição original oscilam entre o Coelhos rias, comuns aos edifícios de todas a~ vermelhão e o ocre tradicionais das ca­ épocas; nem a estátua de D. José, que. sas apalaçadas ela zona ribeirinha ele apesar de bela, não constitui, por si só. an tan ho. Os mais conservado res prefe­ peça que "aguente" um tão vasto espa· ririam ver reconstituído no tom origi­ VÊM Aí ço. O que a praça tem de ímpar s.'io a nal, o verde escuro que, corroído por harmonia e o ritmo da sua traça, é o fluorescências, ainda se vê nas facha­ OS CHINESES ser uma expressão pura do gén io dos das. Por sua vez, uma terceira corrente, engenheiros militares da época pomba· Vamos comer coe lhos chineses: que poderíamos cataloga r ele "oficio­ lina, o símbolo da Lisboa reconstruíd a uma remessa de 73 toneladas, sa'', veria com bons olhos a uniformi· depois do terramoto de 1755. que já vem a caminho. Apesar de zação da praça sob o "rosa edifício Sob esta perspcctiva. todos os por­ público", que reveste quase tudo quan­ importados "via Espanha", che· menores se devem apagar a favor do to. é património do Estado. Contudo, gam a Portugal mais baratos: qua­ realce do conjunto. enhum elemento para além da polémica, há, quanto a se por metade do preço da pro­ deverá sobressair cm detrimento do ~ nós, um aspecto que deveria mais bem dução nacional. restantes. Resumindo: os panos de pa­ analisado: a conveniência ou não de rede dos edifícios deveriam ser pinta­ uma cor forte para os edifícios que en­ Em consequência da falta de carne dos de branco. Só assim a Praça do quadram a praça. no mercado. algumas firmas portugue­ As arcadas e cantarias dos edi fícios, sas ped iram autorização às entidades com o seu ritmo perfeito e uma escala ..:o mpetentes para importar carcaças de extremamente bem conseguida, intei­ coelho conge lado. ramente concordante com as dimen­ O inédito deste negócio não está no sões da praça, são, logicamente, os tipo de produto, mas na procedência pontos a destacar no conjunto. De fac­ do mesmo: de facto, é a primeira vez to, olhando-se para a Praça do Comér­ que vêm coelhos da Chin a, num total cio que conhecemos nos últimos anos, de 73 toneladas. E como Portugal não os únicos elementos que imediatamen­ mantém relações dipl omáticas com es­ te saltam à vista são as cantarias, o ar­ te país, a importação faz-se em sistema co que demarca o início da Rua Au­ triangular. isto é, utilizando um tercei· gusta e a estátua equestre de D. José ro (neste caso a Espanha) como inter· (magnificamente co locada, numa posi­ mediári o. ção ligeiramente avançada em relação Para breve também se espera outro ao centro da praça). o entanto. do carregamento semelhante, proveniente equadramento da praça em si nada da Inglaterra. Em ambos os casos. as transparece. ~ aracterísticas das carcaças são as mes· Também se perdem completamente mas: sem cabeça, com peso entre os os efeitos de luz e sombra duran te as 800 g e t kg, embaladas em sacos dl' diferentes horas do dia e nas diferente!> polietileno e metidos cm caixas de car· épocas do ano, dilu fdos no verde som- Terreiro do Paço: q ue cor? tão de 20 unidades. 56 isto tudo, uma questão a levantar. O coeU10 português é vendido a mais Informação de 100$00 o quilo. A dona de casajá o considera um artigo de luxo e são poucas as que llle têm acesso. o en­ tanto, os coelllos agora importados CONFERÊNCIAS POLÍTICAS chegam a 51S11 o quilo, e, mesmo püstos à venda com uma margem de lucro bastante grande, sairão mais ba­ NAO ENCHEM BARRIGA ratos do que os portugueses. O objectivo do seminário que terminou ontem, em Lisboa, era Mais uma situação anómala a que o debater problemas de informação. Afinal, não foram muitos os jornal is· consumidor português não pode ficar tas que lá se deslocaram com esse propósito. Significativamente, havia alheio. Porque entre o fomentar a pro­ mais gente a almoçar do que a ouvir os conferencistas estrange iros... dução nacional e pagar menos pelo produto estrangeiro vai uma diferença considerável. E é nesta diferença que Promovido pelo Ministério da Comunica­ Bernard Le Roy (chefe de produção do se situam os problemas cada vez mais ção Social. decorreu em Lisboa um seminá­ "Nouvel Observateur"), Jacques Sauvageot rio sobre Informação, onde importantes no­ (director administrativo de "Le Monde"), agudos do público que está farto, passe mes do jornal ismo europeu e outras persona­ Theo Bogaerts (secretário-geral da Federa· a imagem, de comer "gato por lebre". lidades que, não sendo jornalistas, exercem ção Internacional dos Jornalistas). Jean Le· em empresas do ramo a sua profissão, dis­ roy (redactor-chefe do "Nord-!:clair" e pro­ f"9••·------·F.F. correram sobre matérias de especialidade. fessor Ada"CHARGE" Escola Superior DEde Jornalismo CID de

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Lille), Jonathan Fenby (director da agência clamar aos quatro ventos contra a mentira jornalista um homem de partido (no sentido "Reuter"I, prof. Van Spingel (da Universo· noticiosa. ele uma tomada de posição perante cada dade de Gand, conselheiro técnico de diver· Encaradas as coisas a partir deste ângulo, facto chegado às bancas de redacçãol. é tam. sos jornais belgas) foram alguns dos nomes as noções de "objectividade" e "veracidade.. bém um cidadão responsável sofrendo as que, durante dez dias, discutiram com jorna· são questiúnculas bizantinas. Mas para se contingências dessa luta de classes. Ouem listas portugueses múltiplos aspectos da acti· "provar" que hoje em dia a censura interna anda à chuva molha-se, diz a sabedoria p0 • vidade informativa. se estabeleceu nos jornais, o bizantinismo é pular. Aceitem-se, pois, as consequências... O nome dos conferencistas basta para a melhor arma demagogicamente possível. E compreendermos a importância que as jor· foi inevitavelmente a arma utilizada pelos UM PROJECTO CONDENADO nadas organizadas pelo ministério poderiam contestatários revelados nos debates. ter tido para o jornalismo português. Não o Fugiu-se. por isso, de outras questões. O projecto de Almeida Santos para a entendeu assim a maioria dos poucos profis­ essas essenciais, apesar de Maria Antónia Pa­ reestruturação da Imprensa foi, como se es­ sionais que obtiveram as respectivas creden­ lia (do Conselho da Imprensa), rebatendo as perava, um tema em foco nos debates. Um ciais: a assistência reduzida sugeria um des­ afirmações de existência de censura. ter indi· dos actuais d iri gentes do Sindicato dos Jor­ prezo pelos problemas da sua actividade pro· cado um rumo a nosso ver correcto. Ao nalistas, Mário Contumélias, pedira a sua fissional ou a conclusão de que muito pouco serviço de quê, de quem, de que valores se discussão na sessão de abertura. E as pergun­ teremos a aprender com a experiência es­ colocou ontem e hoje a Informação? Ela tas postas aos conferencistas tinham, quase trangeira. O proselitista "Diário", que con· está a favor ou contra a democracia, a favor todas, uma referência imp(ícita ou explicita testou a utilidade destas sessões, pode, na ou contra a independência, a favor ou con· ao controverso projecto. dúvida criada pela ai terna tiva, vangloriar-se ira uma democratização cultu ra l? Tudo o No entanto, alegando um conhecimento dos seus conselhos terem sido seguidos. resto são tretas para brilharetes oratórios a onsu ficiente dos problemas da 1nform ação cobrir ma l disfarçadas intenções. portuguesa que lhes permitisse um juízo mi­ ALGUMAS QUESTÕES nimamente seguro, os conferencistas, convi­ BIZANTINAS OS PALADINOS dados pelo Ministério da Comunicação So­ DA "LUTA DE CLASSES" cial, escusaram-se quanto puderam a pro­ Objectividade, neutral idade, veracidade nunciar-se. Mas, apesar disso, uma palavra da informação foram J)alavras constante· Um facto se evidenciou nalgumas inter­ aqui, outra ali, mostraram o que verdadeira­ mente ouvidas no decurso do seminário. Pa­ venções: certos palradores da "luta de clas­ mente pensavam do projecto que o actual lavras que sempre provocaram controvérsia. ses" são exímios na manipulação do concei­ ministro da Comunicação reformulou a par­ Pretexto para o embrulhar de muitas coisas, to. Tão depressa se arrimam a ele para defe· tir de um documento deixado na gaveta por tema de meditações várias de alguns partici­ sa das suas posições, como depressa o man­ Correia Jesulno. pantes que não perderam a oportunidade dam às urtigas se se torna conveniente es­ Bernard Le Roy foi o conferencista que para um pouco de "filosofia". quecê-lo. O oportunismo fi listeu revela-se não recusou emitir opinião sobre o projecto Mas, sendo a informação um facto social, nisto. E vejamos porquê. de Almeida Santos, sublinhando as conse­ facilmente se pôs em causa o conceito de Determinados "marxistas" um tanto quências: o quase inevitável despedimento "objectividade". Desde a selecção da notícia apressados, esquecendo o vanguardismo de de três quartos dos trabalhadores ocupados à forma da sua apresentação - foi dito -. há meses, reclamam contra a censura hoje na Informação; a concentração das redac­ tudo pecorre na base de critérios subjecti· institu ida nas redacções, gritam contra os ções como a experiência europeia parece vos, com a inevitabilidade das opções pollti· "saneamentos". choram com a desprotecção indicar; a obrigatoriedade de renovação de case i_deológicas de quem trabalha os dados. do jornal is ta perante as flutuações do poder. equipamentos, exigindo um investimento conteúdo da informação. Face ao coro destes deserdados da fortu· q ue se afirma não possu ir. Caso contrário, a O redactor da notícia mais simples (ain­ na (pois a sorte lhes foi madrasta no 25 de fusão dos jornais prevista por Alme ida San· da) não é um computador, mas um homem Novembro). a memória de muito boa gente tos limitar-se-á ao somar dos problemas já inserido numa sociedade, numa cultura, em pode avivar-se e perguntar: mas não foram existentes, mantendo-se tal-qualmente a si· preocupações determinadas. Contudo, seria eles mesmos que apodaram de reaccionários tuação. abusivo concluir-se que a falsidade seja a os que se opuseram às estatizações, dos ór· Na base da inviabil idade do projecto do essência da informação, espécie de mentira gãos de Informação particularmente? Não actual ministro, está um erro primário: o impressa. A função informativa. obedecendo foram eles mesmos agentes de saneamentos: projecto não responde, de um ponto de vista a cânones estabelecidos (até na lei), traduz­ na rádio, na televisão, na Imprensa? Esque­ político e técnico, aos problemas vividos ·se na transmissão de uma "certa" verdade, cemos já o "caso Veloso" na RTP, as purgas pela Informação portuguesa. Os jornais não isto é, uma verdade relativa imposta pelas no "Diário de Notícias", os conflitos no dispõem de potencial económico para a sua contradições sociais. "Seculo"? No passado, não foram eles mes· transformação; o capital fixo das empresas é Este racioclnio, que ouvimos exposto no mos que negaram por sistema o direito de insuficiente, enquanto o capital variável é seminário, poderia, de resto, ser ilustrado resposta nos jornais que controlavam (práti· excedentário e a estruturação inadequada; com exemplos relativamente recentes: du· ca que se mantém nos órgãos em que impe­ não existem escolas de jornalismo, não está rante o "período gonçalvista" apareceu ins­ ram)? delinido um estatuto da profissão; o signifi· crita nas paredes de Lisboa uma legenda: Dizendo-se embora "marxistas", "marxi­ cado da larga estatização dos meios de Co· "Os jornais mentem:" De facto, para os zantes", "marxólogos" ou "marxianos", municação Social não tem sido conveniente· adversários do "gonçalvismo" (a larga maio· tanto faz, esquecem a tese marxista segundo mente perspectivado; não se procuraram so· ria da população portuguesa), a mentora da a qual cada forma de governo, as ideias luções técnicas válidas para os problemas informação então existente era uma verdade dominantes em cada momento, toda a su­ criados pelas carências de matéria-prima no incontestável. Dobrado o 25 de Novembro, perstrutura social em que a 1nformação se mercado nacional (falta de papel, por exern· os que anteriormente impunham nos meios integra são cristalizações da luta de classes pio); tudo isto são questões que deverão ser de Informação a sua verdade passaram a que apregoam. E esquecem que, sendo o encaradas num projecto minimamente sério 58 de reestruturação da Imprensa pOrtuguesa. E pendentes nos Sindicatos dos Quími• agrupa 280 mil operários, se pensar­

1s resp0stas que para elas forem achadas -:os, CTT, Construção Civil, Chapelei­ mos que a função pública mobiliza teverão ter em conta os valores estabeleci ros. Mantém em fogo lento a questão 200 mil, poderemos fazer uma ideia da 1os pelos dois sufrágios realizados em Portu· dos enfermeiros, ajudantes de farmá­ amplitude da movimentação que se gal dep0is do 25 de Abril : o respeito pelas cia, madeireiros e função pública, prepara. Resta saber para quando: em liberdades democráticas e o dese10 de manu­ entre outros, enquanto acelera a dos Julho ou Setembro? r o período tenção da independência. Sindicatos do Ramo Automóvel (park l! leitoral ou na formação do Governo? O PRIMADO DA BARRIGA ~ome rcial) , Professores e Têxteis. Se pensarmos que só este Sindicato J . A. O absentismo dos jornalistas aos traba· lhos do seminário sobre informação foi, re­ petimos. chocante. Muitas das sessões estive­ ram quase às moscass. A "luta de classes" poderá ter sido um pretexto para estas au­ Viaje com o seu carro sências. Todavia, à hora do almoço volante, i. gratuitamente servido no "hall" do Hotel de comboio Tivoli, o número de jornalistas presentes multiplicava-se. Política é política. barriga é barriga. ~bOah A.M. ,.idLis~ ~Maà~ Greves LisboaMadrid Lisbo~ Madrid LisbqaMadricl ~ LisboaMadrid Lisboat-' QUEM ESTÁ Madrid LisboaMadr; POR DETRÁS? ÂdLiSb' Aparentemente com finalida­ des diferentes, assiste-se neste .d:f3tJ~ momento a uma agitação sindical que, em qualquer momento, pode transformar-se num verda­ Lisbc deiro surto grevista. /~Mad" ~r1dLi' Tudo se conjuga, aliás, para que esta agitação venha a ter o seu ponto .ãboaMadrid LisboaM quente em fins de Julho ou durante o A'9adrid LisbqaMadrid l mês de Setemoro. E atrás dela está, , 4sboaMadr1d L1sbo~M sem dúvida, a linha PCP. Se é verdade que a greve dos 'drid Lisboa Madrid l hoteleiros, orienta da por uma comis­ são de luta tomada por elementos do ~aMam - partido de Cunhal e da UDP, parece dLis , ter como objectivo imediato uma "1a ri" declarada sabotagem económica, não é menos verdade que a dos empregados do comércio visava antes o reforço da influência da linha daquele partido no ( AutoExpresso} respectivo sindicato. 1 ão é menos verdade também que, conforme os casos, aquele partido está a fomentar a agitação ou a retardar ,.,.. Caminhos de Ferro processos cm curso para que tudo _,,I" Portugueses \'Cn.ha a coincidir no mesmo período. Retarda a discuss.1o dos problemas 59 os surdos

esquerda, que faJasse mell1or ou pior, j:í nos era indiferente. Agora. cstáva­ .mos surpresos por se partidarizar, por se limitar às amarras de um partido nas suas próprias paJavras, "não por­ que o marcasse, mas porque o marcas­ se, mas porque U1e cortava as asas para voos mais altos" (e nós calculamos a que oportunistas voos ele se referia ... ). Então ele desculpou-se, depois de llle gritarmos - obrigados pela surdez e pela música ambiente - a nossa dúvi­ da que não queria dizer partido na acepção usual, mas que achava bem que as pessoas se ligassem, se agrupas­ sem sob um objectivo comum, isso era outra coisa. Aliás, que fazia ele ali, enquanto os outros, os burgueses, dançavam ao som das reaecionárias músicas americanas? D Ele afundava a cabeça no "Atlas" e 1 S - INTERVENCAO tentava ver a real iníluência geográfica - do Terceiro ~lundo no engano conti­ nental que, na verdade, é· a Europa de SURDA Oeste. E concluía triunfante: "Só por escassas miU1as marítimas é Neste período intereleitoral, uma no seu simples explicar, "não passa de que os nossos pescadores não são me­ das grandes vítimas desta avalanche uma questão posicional"! E ria, â mesa diterrânicos. E a influência dos mou ros política é, inegavelmente, o "surdo po- das "boftes", bebendo o copo final de não se fez pelo grande mar quase inte­ 1ítico". Começam os desaires com as cada dia do desenrolar político, em rior, rodeado de Áfricas e Ásias, borde­ coisas que tem que "ouvir" nos sorri­ que os da "panelinha" falavam dos no­ jando a Itália de Berlinguer e a França sos ternos dos candidatos, que, na tele­ vos "tachos", e em que ele botava fala ma rehaisiana? " visão, prometiam as soluções que a sua sobre o problema económico que já o Aí vinlos que, realmente, o nosso surdez política passava em claro. assaltava, pois se considerava escravo surdo era um caso perdido. Um inter­ De resto, o nosso surdo é um ho­ de uma burguesia que o explorava ven­ vencionista com água pela barba, mas mem que cedo ostentou a sua "op­ dendo uísques e gins tónicos a 100 e que, em vez da dita, o que metia era ção". Passeando-se sempre com um 50 e mais escudos "mas, que diabo, álcool. Insistimos: pasquim de "esquerda" debaixo do para falar um homem precisa de ter a Mas que partido, que grupo enfim o braço, o mais "independente possí• garganta húmida ... " apagava, o levava a conjecturar sobre o vel", arejando um "não ter nada a per­ Num dia em que, assoberbado pela futuro de um mar longínquo, se ele, der", e arriscando, por entre adema­ ideologia que não o deixava sequer tra­ que bem o conhecíamos, nem sequer nes, um demagógico "os surdos ao po­ balhar, depois dos tempos cansativos no Estoril molliara os pés, nem tão­ der" ... da campanha eleitoral, em que idola­ ·pouco o "croll" articulara nas piscinas Mas, demagogias à parte - que nele trara inevitavelmente a "maioria de es­ municipais? tinham eco -, digamos em abono da querda", fomos encontrá-lo no "sto­ O nosso surdo, como de costume, verdade que, para quem não tinha na­ nes" do costume, agarrado à geografia. fez que não ouviu. da a perder, é um facto que a evolução O livro era o "Atlas", de João Soa­ E, tentando disfarçar a inquietação do nosso homem redunda uma eyidên­ res, que logo petulantemente descul­ que, apesar da média lu z da sala, llie cia de "ganho" social: pou chamando-lhe "reaccionário, mas invadia o rosto, chamou o rapaz do De colóquio em colóquio, sócio re­ útil à causa do partido." bar, mostrou-lhe nervosamente o co po cente do Grémio Literário, habitué já Aqui, admirámo-nos: vazio e gritou: do Tavares, o nosso surdo rapidamente Que ele optasse pelo que quisesse. "Rapaz, outro Gis-tónico!" • se passou de independente de direita que reformasse o que bem ou mal en­ para independente de esquerda, o que, tendesse, que fosse mais ou menos à OTO RINO Hã 50 anos 1 l

A CRISE ECONOMICA Uma posição de Artilharia fiel à "revolução", no alto do Parque Eduardo V II, junto à Penitenciária de PROVOCOU O28 DE MAIO Lisboa O 28 de Maio foi hâ 50 anos. A crise económica, que os verno aos eternos maioritários das elei­ sucessivos governos da República não conseguiram suster, es­ ções parlamentares: ao tempo os "de­ teve na origem pirecta do movimento de que nasceu o Estado mocráticos", como eram conhecidos Novo. Uma lição para os governantes de hoje. os adeptos do Partido Republicano Português. Compreendendo que não podia es­ Há 50 anos, um golpe mfütar desti­ do 28 de Maio" (como lhe chamava magar os adversários todos de uma só tuiu a República Democrática, implan­ Salazar) seria derrubada por outro gol­ vez, Sidónio tratou de isolá-los, um tada em Portugal em 5 de Outubro de pe militar, conduzido por oficiais de­ por um, e, desse modo, progressiva­ 1910. O general Gomes da Costa, figu­ mocratas. mente esmagá-los. Primeiramente fo­ ra ligada ao Partido Radical, tomou ram os democráticos a sofrer a perse­ pregão em Braga contra a "ditadura do A EXPER I ÊNCIA SIDON ISTA guição dos beleguins da "situação" Partido Democrático", vencedor quase (nome por que o consulado sidonista perpétuo das eleições, e, à frente das O consulado de Sidónio Pais, de era conhecido). Depois os "evolucio­ suas tropas, marchou sobre Lisboa. 1917 a 1918, foi a primeira tentativa nistas" (partido liderado por António Não houve resistência. de um Governo autoritário cm Portu­ José de Almeida) e, logo de seguida, os Outro dos cabecilhas do golpe, gal. Sidónio, apoiado em Tamagnini ''unionistas" (chefiados por Brito Ca­ l\lendes Cabeçadas, viu os revoltosos Barbosa e Machado Santos, estribou-se macho, que hesitantemente tinham passarem por Sacavém. Juntar-se-lhes­ no Exército para pôr em prática uma apoiado o golpe de Estado de Sidónio, -ia no dia seguinte, na capital, a fim de política de demagogia social (a "sopa ele também "unionista"). Por fim, a participar no primeiro Governo da no­ dos pobres", a Caixa de Depósitos, ini­ repressão abateu-se, a partir de Maio va situação. Para pouco depois ser afas­ cialmente com a característica de casa de 1918, sobre o movimento sindical. tado. de penhores) e de repressão. Os sindicalistas revolucionários, que Entretanto, os partidários da Inter­ Aproveitando-se do furor que dos tinham negociado tréguas com Sidónio nacional Sindical Vermelha, o Partido arraiais sindicalistas se levantavà contra Pais - uma delegação chefiada por "'" Comunista, alguns. ramos sindicais de o líder democrático, Afonso Costa, Alexandre Vieira fora à Rotunda pro­ orientação socialista proclamaram uma cognominado pela União Operária Na­ por a sua neutralidade, sob condições greve geral política, que quase nenhu­ cional com o significativo epíteto de - , viram-se surpreendidos pela política mas repercussões teve. Ninquém acre­ "caça-sindicalistas", para favorecer um económica dos situacionistas. ditava que os novos governantes· ficas­ incipiente capital financeiro, já então O movimento grevista explodiu a sem para durar. existente: os Burna, e a família Espíri• partir dessa altura, vindo a desembocar Mas até 1933 estabeleceu-se um re­ to Santo, que começava a impor-se en­ numa malograda greve geral em No­ gime chamado de "ditadura militar" tre os senhores da banca, por exemplo. vembro de 1918, onde a palavra de or­ transformando-se num Estado Novo' Sidónio chegou ao poder por um dem dos soviétes, a acreditar em Con­ corporativo, moldado sobre o figurin~ golpe de Estado. Na Rot.unda, onde siglieri Pedroso ("Sidónio Pais e o seu inussoliniano, com alguns enxertos de começavam quase todas as "bernar­ Consulado"), apareceu pela primeira cepa sidonista e integralista. Só 48 das" da 1 República. Foi recebido co­ vez no nosso país. anos mais tarde a "gloriosa revolução mo um libertador que retirava o Go- Todavia, ao mesmo tempo que os 61 adversários eram desbaratados, a base mo, reimplantando as 1ibcrdades de­ 900 por cento, o preço do leite aumen­ de apoio da oposição engrossava. Por mocráticas. tou 9 vezes, o pão 1O, o petróleo J 875 outro lado, se o triunfo de Sidónio as­ Foi no sidonismo que, anos mais por cento ... Os salários, cm consequên­ sentara nas promessas de pôr cobro :'1 tarde, um professor de , Antó• cia de greves, algumas delas violentas, participação portuguesa na grande car­ nio de Oliveira Salazar, rccollieu uma registaram grandes subidas, mas não nificina mundial de 1914-1918, não sú experiência à qual juntou ensinamen­ :rcompanliaram o ritmo dos preços. Xo a retirada do contingente português da tos obtidos na Espanha de Primo de referido período, o salário de um car­ Flandres se não verificara como a não Rivera, na Itália de Benito ~ lu ssoUini e pinteiro subiu 8 vezes, o de um meta­ renovação do contiJ1gente destacado na Alemanha de Adolfo Hitler. De to­ lúrgico 6 vezes, o de um pedreiro ape­ para as trincheiras conduzia a outros dos eles coll1eu o funcionamento de nas 700 por cento, o de um tipógrafo problemas: os crescentes motins no um Estado de tipo novo, aprendeu de­ 602 por cento, o de um traballiador corpo ex pedicioIHírio, nomeadamente. les a maneira de llies sobreviver. rural 620 por cento. O sidonismo foi consequência do as circunstâncias de um agrava­ descalabro económico a que a adminis­ UMA DEMOCRACIA DIFl°CIL mento das condições de vida das clas­ tração democrática não soubera furtar ses traballiadoras, não havia campo de o País. Sofrendo com a crise dos anos manobra para políticas reformistas. da guerra, a quebra do mercado inter­ O restabelecimento da democracia Por isso, a participação dos socialistas nacional, a falta de transportes e as cm 1918 veio encontrar um país exau­ no governo não teve sucesso e redun­ despesas nacionais com o esforço de rido, na bancarrota. A Co nferência de dou no seu desprestigio. O Partido So­ guerra, a economia afundara-se. A agi­ Paris , na qual as potências be ligerantes cialista recebeu a pasta do Traballio no tação social, as acirradas "tricas" parla­ triurúadoras impuseram aos vencidos a prinieiro Governo saído da "arrancada mentares, a dança dos governos cria­ obrigação do pagamento de indemniza­ d<' \lonsanto": foi uma passagem efr­ vam junto das classes dominantes o de­ ções, não teve cm conta as reclamações mera que serviu apenas para perder os sejo de sossego, de "ordem" nas mas. do Governo português, parceiro menor últimos apoios que ainda contava entre Sidónio Pais foi a espada conveniente na mesa das negociações. A dívida ex­ as classes trabalhadoras. num país onde o Exército, devido à terna contraída junto da Grã-Bretanha, /\ agitação social seria di sto uma ex istência de uma situação de guerra, para custear as despesas de guerra, dei­ consequência inevitáve l. De 191 8 ao ass umira uma importância decisiva. xara o País sob a dominaçã'o inglesa. A primeiro semestre de 1925, o número Pela estmtura que deu ao Estado, inílação galopante não podia ser susti­ de greves subiu quase ao mesmo ritmo Sidónio Pais pode ser apontado como da. da inflação económica. um prccurssor do fascismo: um sistema Os preços das mercadorias subiam O desejo de estabilização voltou a bicamarário, onde se notava um em­ cm flecha, sobretudo os dos artigos de fazer-se sentir de maneira cada vez brião de Câmara Corporativa; reforço primeira necessidade. Entre 1914 e mais intensa entre as classes médias e das funções repressivas do aparell10 es­ J 922, o preço do arroz aumentou 1 l os gra ndes possidentes. tatal e criação de novas polícias; tent<1· vezes , o da batata 16 vezes, a carne de A crise económica, explicando a tiva de instituição de partido único - vaca subiu 1175 por cento, o carvão terrível crise política dos oito últimos o partido situacionista; atribuição de um papel carismático ao chefe, como condutor de massas; o Estado ao servi­ ço directo da banca (embora existisse já um esboço de aliança entre a banca 21 de Outubro e a indústria, o capital predominante de 1929, na Câ• era ainda mercantil). mara Municipal Mas Sidónio não tinha uma doutri­ de Lisboa, quan­ na, apesar de alguns conceitos recollii­ do de uma mani­ dos da cepa do integralismo lusitano. festação a Sala­ Quando Sidónio foi abatido a tiro, o z ar, promovida pelos municípios regime não estava consolidado. O seu do Pais. O futu­ sucessor, Tamagnini Barbosa, nã'o con­ ro ditador agra­ seguiu manter a unidade dos situacio­ dece com o dis­ nistas e deixou os monárquicos procla­ curso "Política marem a "Monarquia do Norte" e re­ de verdade, poll· belarem-se em Monsanto. tica de sacrifício, Para se opor aos monárquicos, teve política nacio­ de estender as mãos aos republicanos. nal" A "arrancada de Monsanto", verdadei­ ro Jevantan1ento popular antimonár­ quico, varreu a tentativa restauracio­ nista e liquidou os restos d

Capitão Fernandes PORTUGAL nem tudo está perdido

do Movimento dos Capitães ao 25 de Novembro

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