OS MARECHAIS DE NAPOLEÃO

Aspirante Arthur Janeiro Campos Nuñez

INTRODUÇÃO Este artigo tem como propósito fazer uma breve ais da Revolução Francesa, ele mudou de forma drás- dissertação sobre a vida e a importância de grandes tica o destino das monarquias e nações europeias. Mas militares que ajudaram a tornar Napoleão Bonapar- nem mesmo o “Pequeno Corso” seria capaz de fazer te um dos nomes mais conhecidos de toda a História. tudo isso sozinho, Napoleão foi auxiliado por vários Para tanto, o artigo abordará a importância dos Ma- gênios em ascensão, principalmente no campo militar. rechais de Napoleão, dando destaque a dois deles, não A Revolução Francesa permitiu que muitos milita- necessariamente os dois melhores ou mais importan- res pudessem demonstrar seu valor por dois motivos: tes, mas que tiveram a oportunidade de demonstrar o o primeiro porque não era mais necessário ser nobre seu valor em momentos-chaves e assim o fizeram. para galgar altas posições no Exército e o segundo por- que não faltavam guerras para a França lutar, devido à A IMPORTÂNCIA DOS MARECHAIS invasão do seu território por outras nações europeias, que tinham medo de a revolução se espalhar para todo Napoleão Bonaparte sem sombra de dúvida foi um o continente. dos maiores líderes políticos e militares de toda a His- Esse cenário possibilitou a ascensão meteórica de tória. Com suas conquistas e com a expansão dos ide- Bonaparte e de seus futuros Comandantes de tropa.

REVISTA DE VILLEGAGNON . 2013 125 Em 1804, quando Napoleão foi coroado, ele promo- veu alguns dos seus generais à mais alta patente do exército: Marechal. Primeiramente, em 1804, Napoleão nomeou 18 Marechais; posteriormente nomeou mais oito, soman- do ao todo 26 nomes. São eles:

Pierre Augereau Jean-Baptiste Bernadotte Francois Lefebvre Jacques MacDonald Auguste Marmont Andre Massena Bon Adrien Moncey Eduoard Mortier Nicholas Oudinot Dominique Perignon Josef Poniatowski Jean-Mathier Serurier Nicholas Soult Louis-Gabriel Suchet Claude Victo Louis Berthier Jean-Baptiste Bessieres Guillaume Brune Louis Alexandre Berthier, Prince de Neufchâtel et de Wagram, Maréchal de (1753-1815) Louis Davout Gouvion St Cyr Emmanuel Grouchy mentos-chaves. Um deles foi Grouchy, que não conse- Jean-Baptiste Jourdan guiu perseguir o exército prussiano de Gebhard von Blucher, permitindo que que as tropas prussianas se Francois Kellerman juntassem aos ingleses em Waterloo. Outro, o grande Jean Lannes Marechal Michel Ney, lançou uma desastrosa carga de cavalaria contra os ingleses na mesma batalha. O interessante nessa lista de nomes é que a grande Um Marechal com história bastante curiosa é Jean- maioria era de origem humilde. Alguns foram promovi- -Baptiste Bernadotte. Bernadotte ganhou destaque por dos de soldados a generais ainda nas Guerras Revolucio- sua atuação na Batalha de Austerlitz, quando foi agra- nárias. Outros lutaram ao lado de Napoleão nas Cam- ciado com o título de “Príncipe de Pontecorvo”. Mas, panhas da Itália e do Egito, tendo demonstrado nessas por fatalidade do destino, veio a ser rei da Suécia (rei ocasiões serem de grande valia para o futuro Imperador, e Carlos XIV da Suécia) e, mais tarde, devido a injun- o acompanharam desde o início de sua brilhante carreira. ções políticas e diplomáticas, lutou contra os seus an- Entretanto, nem todos tiveram pleno êxito em suas tigos irmãos de arma, chegando a derrotar o Marechal carreiras. Alguns desses militares fracassaram em mo- Oudinot, em Gross-Beeren, em agosto de 1813, e o Marechal Ney, no mês seguinte, em Dennewitz.

126 REVISTA DE VILLEGAGNON . 2013 Da lista de Marechais, os dois cujas trajetórias me- 1815. Entretanto, Berthier recusou-se a voltar a pe- recem maior destaque são Louis Berthier e Louis Da- gar em armas pelo Imperador. Foi encontrado morto vout. semanas depois, tendo se atirado da janela do prédio onde estava exilado. Sua morte gera muita discussão LOUIS ALEXANDER BERTHIER até hoje: alguns dizem que ele foi assassinado; outros dizem que pelo estresse de anos de combate teria fi- É duvidoso que sem Berthier a excelência do siste- cado louco e, ao ver a imagem de tropas prussianas ma de Comando do Exército napoleônico teria sido invadindo a França, cometeu o suicídio. tão grande. O brilho deste General consistia em con- verter as complexas ordens do Imperador para ordens LOUIS-NICOLAS D’AVOUT (mais conhecido como simples aos demais Generais em campanha. Atuando como uma espécie de Chefe de Estado-Maior, Berthier Louis Davout ou Davoust, como seu nome foi fundamental para Napoleão em várias ocasiões. Tal aparece escrito no Arco do Triunfo) era sua importância que mais tarde, exilado em Santa Conhecido como disciplinador, severo e rígido com Helena, Napoleão teria dito que, se contasse com Ber- sua tropa, Davout ganhou o apelido de “Marechal de thier, não teria perdido em Waterloo. Ferro”. Mas essas não eram suas únicas qualidades. Nascido em 20 de Fevereiro de 1753, em Versalhes, Talvez tenha sido o único militar a serviço de Bona- Berthier era filho de um Tenente-Coronel do Corpo de Engenheiros cartógrafos do Exército francês. Berthier começou sua carreira militar em 1766, tendo seu pai, que também servia no Corpo de Engenheiros, como mestre. Em 1780, foi para a América com o Conde de Rochambeau (General francês que lutou na guerra de independência americana). Voltando dos Estados Uni- dos, alcançou o posto de Coronel e, neste posto, foi empregado em diversos cargos na área de pessoal e em uma missão militar na Prússia. A reviravolta de sua carreira foi quando se des- tacou na importante Batalha de Rivoli, ocasião em que aliviou a pressão sobre Joubert, quando este foi atacado pelo experiente general austríaco Jozsef Al- vinczi. Este fato chamou a atenção do então General Bonaparte, que se encontrava em campanha na Itália. Berthier acompanharia o futuro Imperador durante a campanha de 1796, ficando no Comando das tropas estacionadas na Itália depois do tratado de Campo Formio. Além disso, também acompanhou Napoleão na Campanha do Egito e ajudou-o no golpe de 18 Bru- mário. Destacou-se, também, na Batalha de Marengo, onde era Chefe nominal do Exército de Reserva, mas na prática continuou a ser Chefe de Gabinete de Napo- leão. Nesta ocasião, ficou evidente o brilhantismo des- se bravo militar – sua rápida compreensão do terreno e dinamismo foram fundamentais para evitar o revés no campo de batalha. Após a queda de Bonaparte, Berthier apoiou a res- tauração Bourbon, mas foi perdoado por Napoleão quando este voltou para o governo dos 100 dias, em Louis-Nicolas D’avout

REVISTA DE VILLEGAGNON . 2013 127 parte que tivesse a mesma inteligência tática para o custo, mostrando que a estratégia de Davout poderia campo de batalha. Juntamente com Massena e Lannes, ter sido uma melhor opção. é considerado como um dos melhores Comandantes de Davout foi novamente ignorado ao propor uma tropa de Napoleão. rota de retirada diferente de Moscou. Mesmo assim, Davout passou seus primeiros anos da carreira mi- foi-lhe dado o Comando da retaguarda do Grande Ar- litar estacionado na fronteira francesa com os estados meé depois do combate em Maloyaroslavets. Perderia alemães. Participou das ações em Mannheim, e o comando da retaguarda francesa depois de um de- Haslach, onde foi capturado por prussianos. Foi liber- sarranjo político e por irritar Bonaparte em algumas tado após uma troca de prisioneiros de guerra, acordo ocasiões. O Comando da retaguarda seria entregue ao que a Prússia iria se arrepender mais tarde, visto que Marechal Michel Ney, que conduziu a retirada com Davout iria, mais de uma vez, mostrar suas habilida- muita bravura e coragem, mas sem o mesmo brilhan- des militares no campo de batalha contra os próprios tismo tático. prussianos. Apesar do mal-estar entre Davout e o Imperador Através de seu colega , Davout tor- depois da desastrosa retirada da Rússia, este confiou nou-se conhecido de Bonaparte e o acompanhou na ao severo Marechal a defesa da cidade de Hambur- campanha do Egito, quando começaria uma grande go, que, além de ser um porto de vital importância, admiração do futuro Imperador para com o jovem mi- situava-se em uma posição estratégica dos estados ale- litar que participou com brilhantismo na Batalha das mães. Davout montou um modelo de defesa tão rígido Pirâmides. e eficiente que a cidade aguentou os assédios inimigos De volta à Europa, foi promovido a General de por mais de um ano. Davout só se retirou da cidade Divisão e comissionado como Comandante da Arma em 1814, quando o governo de Luís XVIII condenou de Cavalaria do Exército. Posteriormente, foi o mais a invasão. jovem militar promovido a Marechal, em 1804. E não Após o retorno de Bonaparte para o governo dos tardaria muito para Davout provar que sua nomeação 100 dias, Davout foi nomeado Ministro da Guerra, não foi precipitada. Em Austerlitz ele foi um dos pon- mas deixado em por motivos duvidosos. O resul- tos-chave da estratégia de Bonaparte e chegou a tempo tado das batalhas de Quatre Bras e Waterloo poderia de deter o ataque combinado de russos e austríacos no ter sido bem diferente caso ele estivesse presente no flanco francês, permitindo que o Imperador varresse o staff de Napoleão. centro inimigo com o brilhantismo habitual. Sem sombra de dúvida, Davout era um gênio no Mas foi em 1806, na Batalha de Auerstadt, que campo de batalha, militar brilhante e de grande visão, ele realmente mostrou seu real valor. Suas tropas de mas que poderia ser considerado “míope” nos cam- 26.000 homens lutaram contra um exército prus- pos político e diplomático. Davout não tinha paciência siano de 50.000 homens bem armados. Na ocasião, para conchavos políticos ou para pessoas que antes de as tropas francesas conseguiram deter o avanço do pensar em combater os inimigos da França pensavam inimigo e infligir uma grave derrota ao orgulho- no benefício próprio. Considerado como frio e dis- so exército da Prússia. Entretanto, no mesmo dia tante por sempre exigir o máximo de seus homens e, de seu brilhante êxito, Napoleão conseguiria mais nos tempos de paz, preferir ficar em casa ao invés de uma brilhante vitória na Batalha de Jena, diminuin- cultivar uma alta posição social, Davout não angariou do a notoriedade do feito espetacular do Marechal a simpatia tanto de seus subordinados como de seus de Ferro. pares. Mas, justamente por não ter se envolvido tan- Durante a Campanha da Rússia, Davout mostrou to com a Política, conseguiu uma posição confortável seu brilho habitual ao tomar parte em vários emba- depois da deposição de Bonaparte, como prefeito da tes, sendo responsável por parte da conquista de Smo- pequena cidade Savigny-sur-Orge. Davout faleceu em lensk. Na dura campanha russa, ficou conhecido tam- 1 de junho de 1823, aos 53 anos, em Paris. bém o episódio no qual Davout irritou o Imperador, ao insistir em um ataque flanqueado aos russos, em CONCLUSÃO vez de atacá-los de forma frontal em uma posição en- trincheirada, o que realmente acabou acontecendo em Indiscutivelmente Napoleão Bonaparte foi um dos Borodino, batalha que Napoleão venceria com um alto maiores militares da história, mas muitos de seus feitos

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não teriam sido concretizados sem a coragem, deter- que comandavam a tropa de perto, assegurando que as minação, lealdade e habilidade de alguns dos nomes ordens do “Pequeno Corso” seriam compridas à risca. citados neste trabalho. Murat, Ney, Davout, Berthier, Suas atitudes são mais um exemplo de como a lideran- Massena e Lannes provavelmente foram os homens de ça, a hierarquia e disciplina, preceitos fundamentais maior importância para o Exército francês da época. das Forças Armadas, são instrumentos certos para ob- Alguns eram conselheiros, administradores ou líderes, ter-se a vitória nos mais variados campos de batalha!

BIBLIOGRAFIA CHAVES, Hugo Jorge de Brito. Os Marechais de Napoleão. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1996. FORREST, Alan. ’s Men: The soldiers of the Revolution and Empire. Hambledon, 2002. and Napoleonic Officers. Disponível em: . Acesso em: 29 set 2013 ROBERTS, Andrew. A batalha de Waterloo: a última jogada de Napoleão; tradução de Laura Alves e Aurélio Barroso Rebello. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.

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