O Pequeno Mundo Próximo-Oriental: As Cartas De Amarna Como Fontes De Um Sistema Diplomático

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O Pequeno Mundo Próximo-Oriental: As Cartas De Amarna Como Fontes De Um Sistema Diplomático O PEQUENO MUNDO PRÓXIMO-ORIENTAL: AS CARTAS DE AMARNA COMO FONTES DE UM SISTEMA DIPLOMÁTICO Priscila Scoville Doutoranda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul Representante do Association for Students of Egyptology [email protected] Resumo: Em 1887, tabletes de escrita cuneiforme foram encontrados em Tell el-Amarna, no Egito, e deram luz a uma rede de contatos existente no Antigo Oriente Próximo. Neste estudo, pretendo apresentar informações presentes nas Cartas de Amarna, sob a forma de uma base de dados, para pensarmos nas conexões existentes entre Grandes Reinos. Busco, assim, apresentar os aspectos das interações dentro de um sistema diplomático, abrangendo tanto a questão dos assuntos e interesses abordados, como, também, os moldes sistemáticos desses contatos. Com isso, será possível visualizar o mundo antigo de forma integrada e os principais anseios de Grandes Reis em relação ao Egito. Esta base de dados, que pretendo criar com essas informações, poderá ser utilizada em diversos tipos de estudos que possuam as Cartas de Amarna como fontes. Palavras-chave: Antigo Oriente Próximo; Antigo Egito; Diplomacia; Cartas de Amarna. INTRODUÇÃO. A Academia apresenta uma tendência crescente em estudar a integração de povos de diferentes grupos históricos, mas a ideia de isolamento de povos ainda é muito presente, em especial, em tempos mais remotos. Guarinello (2014) já apontou essas questões, com destaque para o fato de que temos a inclinação de pensar (e ensinar) a história de reinos da antiguidade como se um começasse quando outro termina. Isso, certamente, não é verdadeiro. Grupos antigos não eram e sequer pretendiam ser isolados, contudo, essa nossa pré-disposição em os pensarmos separadamente alimenta ainda mais essa noção. Um bom exemplo para refletirmos sobre esse assunto é o Egito. Tento sua história dinástica durado entre cerca de 2900 e 323 AEC, é natural que diversas mudanças tenham acontecido, ainda mais considerando os momentos de governos estrangeiros (como hicsos, persas, gregos e romanos). Contudo, o imaginário comum sobre o Egito, não somente o isola, como cria a noção de que ele permaneceu estático e homogêneo ao longo desses quase três mil anos de história. É importante, porém, descontruir essa narrativa que se perpetua pelas metodologias de ensino escolar e pelas múltiplas faces dos multimeios (filmes, séries, livros, jogos, etc.). Nesse sentido, este estudo pretende apresentar um viés da integração dos diferentes grupos do Antigo Oriente Próximo durante o século XIV AEC. Acredito ser importante apontar as formas, níveis e complexidade desses contatos, por isso, este trabalho se configura como uma base de dados coletados pela documentação selecionada: as Cartas de Amarna. Para tanto, preocupo-me em definir a região próximo-oriental, em relação a sua geografia e aos agentes. Em seguida, apresentar as fontes, pensando em sua estrutura e ao sistema que a insere. Somente, então, trago as informações específicas das correspondências, apontando personagens, assuntos, menções, etc. A formatação deste estudo busca, assim, ser uma base introdutória a documentação diplomática, podendo ser utilizada e revisitada em pesquisas futuras. O ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO. Quando historiadores e arqueólogos falam em Oriente Próximo, eles referem-se a área entre a margem do mediterrâneo, o golfo pérsico e os mares negro, cáspio e vermelho. Para Van de Mieroop (2007, p. 1), a expressão identificava o que restaria do Império Otomano na margem oriental do Mar Mediterrâneo durante o século XIX. Os limites exatos, porém, variam de acordo com cada autor, alguns consideram o Chipre, Egito e a Transcaucásia, mas de forma geral podemos dizer que o território próximo- oriental compreende a região da Mesopotâmia, Anatólia e Síria. Para este trabalho, consideramos de acordo com o mapa a seguir (fig.1), incluindo o Egito, pela natureza da documentação e relevância que este teve na Antigo Oriente Próximo no período delimitado deste estudo. Fig. 1: Mapa do Antigo Oriente Próximo c. 1350 AEC. Fonte: COHEN; WESTBROOK, 2000, p. xii. É notável que a área é bastante extensa e, por isso, existem diversas personagens agindo na região. A documentação de Amarna abrange, em diferentes graus, todos esses territórios: há um total de 246 atores nos 382 tabletes que possuímos (CLINE; CLINE, 2015, p. 26). Lidar com todos esses agentes e documentos neste trabalho é inviável, por isso, limito o número de cartas que utilizo neste estudo a 44. A escolha por essas 44 correspondências não é aleatória, mas respeita uma divisão das próprias fontes, sobre a qual eu falarei mais no tópico seguinte. As cartas selecionadas, então, correspondem às relações do Egito com a Babilônia, com a Assíria, com Mitani, com Hatti com Arzawa e com Alashiya, sendo sua maioria recebida no Egito e enviada pelos reis da Babilônia e de Mitani. AS CARTAS E O SISTEMA DE AMARNA. Os primeiros tabletes dessa coleção foram encontrados em 1887, provavelmente em expedições clandestinas (MORAN, 1992, p xviii), no “local das cartas do faraó” do palácio real da cidade de Akhetaton, no Egito. As Cartas de Amarna recebem esse nome devido ao nome atual da cidade em que foram encontradas, Tell El-Amarna, e foram organizadas sob a sigla EA (El-Amarna), em ordem cronológica e espacial, pelo assiriólogo J. A. Knudtzon, em 1907. Após a obra de Knudtzon, “Die El-Amarna Talfen”, outras 24 cartas foram encontradas, sendo Rainey o responsável por editá-las e organizá- las de acordo com a sigla em 1970 (MORAN, 1992, pp. xiii – xv). A coleção com a descrição, transcrição e transliteração das cartas por Rainey foi reeditada recentemente, tendo sido lançada em 2015. As Cartas de Amarna são tabletes com escrita em cuneiforme acadiano, com raras exceções1, que se caracterizam por ser a documentação do primeiro sistema diplomático que abrangeu todo o Antigo Oriente Próximo. Existem variadas formas de subdivisão dessas correspondências, de modo não excludente, mas complementar. Jean Nougayrol as divide em cartas de envio (reporta itens enviados) e cartas de injunção (faz pedidos), reconhecendo que a maior parte da documentação, porém, é uma combinação desses dois tipos (MORAN, 1992, p. xxiii). Outra maneira de pensar essas fontes é dividindo-as em dois grupos, de acordo com o sistema no qual se inserem (este critério foi utilizado por Knudtzon). O primeiro grupo corresponde às cartas reais, EA 1-44, e o segundo refere-se aos tabletes administrativos, EA45-382. As cartas reais são documentos trocados entre os territórios independentes, que são Arzawa, Alashiya, Assíria, Babilônia, Egito, Hatti e Mitani. Os dois primeiros, apesar de serem independentes, não estão inclusos entre os Grande Reinos, por não possuírem uma área hegemônica. Os outros cinco reinos se destacam no Antigo Oriente Próximo por serem considerados potências, dominando vastas expansões territoriais e sendo colocados como membros de um “Clube dos Grande Poderes”. As demais regiões, não inclusas entre as citadas, eram subjugadas a um dos cinco Grande Reinos, tendo que responder e pagar tributos. Os tabletes administrativos, então, referem-se às cartas enviadas ao Egito por seus súditos, localizados na região sírio-palestina. 1 A carta EA 15 está escrita em assírio; a EA24 em hurrita e as EA 31-32 em hitita. Há, também, variações nos dialetos do acadiano, sendo, por exemplo, o Hurro-Acadiano o mais comum das regiões norte. Além disso as transformações das línguas faladas não foram acompanhadas pela escrita, por isso encontramos um léxico antigo. A estrutura das cartas varia de acordo com o grupo ao qual pertencem. Apresento, neste momento, os padrões das correspondências reais, uma vez que me foco nelas. Logo de início percebe-se a importância da oralidade dos acordos, sendo a parte escrita apenas a forma de comunicação e não uma formalidade, como temos nos dias de hoje. Uma típica carta trocada entre os territórios independentes seguiria o molde de a-na (para/diga para) um-ma (assim disse) e fazendo saudações, ainda que com variações na forma como isso se apresenta. a-na Ni-im-˹mu˺-re-ia LUGAL GAL šàr KUR Mi-iṣ-ri-i ŠEŠ-ia ḫa-ta-ni-ia ša a-ra-am-mu-uš ù ša i-ra-ʾa-a-ma-an-ni qí-bí-ma um-ma Tù-uš-rat-ta LUGAL GAL šàr KUR Mi-ta-an-ni ŠEŠ-ka e-mu-ka ù ša i-ra-ʾa-a-mu-ka-ma (EA21, linhas 1-7. In: RAINEY, 2015, p. 156). Diga para Nimmure‘a, o grande rei, o rei da terra do Egito, meu irmão, meu genro, quem eu amo e que me ama; assim (disse) Tushratta, o grande rei, o rei da terra de Mitani, seu irmão, seu sogro e alguém que te ama (EA21, linhas 1- 7. In: SCOVILLE, 2017, p. 180). Destaco, neste trecho, três usos: “grande rei”, “irmão”, e o termo “amor”. A primeira expressão refere-se a importância do reino, pertencente ao “Clube dos Grande Poderes”. Por isso, nas cartas de Arzawa (EA31-32) e Alashiya (EA33-40), não faz-se referência ao termo2. O status de poder conferido pelo uso de “grande rei” é reforçado pelo emprego de “meu/seu irmão”. Isso acontece porque existe uma ideia de igualdade entre os reinos, que se consolida pela adoção de um Sistema de Casas. Neste, os Grande Reis são tidos como irmãos, para que garantissem a não-supremacia de um sob o outro, sendo os cinco pertencentes a uma mesma casa e acima deles apenas os deuses. Essa noção de irmandade se concretiza por meio de casamentos diplomáticos, que garantem que os reis sejam pertencentes de uma mesma família. Entre as cartas reais, apenas as de Arzawa não apresentam o uso do termo “irmão”, mas as duas cartas apontam que negociações de casamento estavam acontecendo. Expressar amor, por fim, pode ser entendido de três maneiras diversas, das quais duas servem para exprimir um contexto sócio-político e uma é uma analogia (GESTOSO, 2013, pp.
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