O PEQUENO MUNDO PRÓXIMO-ORIENTAL: AS CARTAS DE AMARNA COMO FONTES DE SISTEMA DIPLOMÁTICO

Priscila Scoville Doutoranda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul Representante do Association for Students of Egyptology [email protected]

Resumo: Em 1887, tabletes de escrita cuneiforme foram encontrados em Tell el-Amarna, no Egito, e deram luz uma rede de contatos existente no Antigo Oriente Próximo. Neste estudo, pretendo apresentar informações presentes nas Cartas de Amarna, sob a forma de uma base de dados, para pensarmos nas conexões existentes entre Grandes Reinos. Busco, assim, apresentar os aspectos das interações dentro de um sistema diplomático, abrangendo tanto a questão dos assuntos e interesses abordados, como, também, os moldes sistemáticos desses contatos. Com isso, será possível visualizar o mundo antigo de forma integrada e os principais anseios de Grandes Reis em relação ao Egito. Esta base de dados, que pretendo criar com essas informações, poderá ser utilizada em diversos tipos de estudos que possuam as Cartas de Amarna como fontes.

Palavras-chave: Antigo Oriente Próximo; Antigo Egito; Diplomacia; Cartas de Amarna.

INTRODUÇÃO.

A Academia apresenta uma tendência crescente em estudar a integração de povos de diferentes grupos históricos, mas a ideia de isolamento de povos ainda é muito presente, em especial, em tempos mais remotos. Guarinello (2014) já apontou essas questões, com destaque para o fato de que temos a inclinação de pensar (e ensinar) a história de reinos da antiguidade como se um começasse quando outro termina. Isso, certamente, não é verdadeiro. Grupos antigos não eram e sequer pretendiam ser isolados,

contudo, essa nossa pré-disposição em os pensarmos separadamente alimenta ainda mais essa noção.

Um bom exemplo para refletirmos sobre esse assunto é o Egito. Tento sua história dinástica durado entre cerca de 2900 e 323 AEC, é natural que diversas mudanças tenham acontecido, ainda mais considerando os momentos de governos estrangeiros (como hicsos, persas, gregos e romanos). Contudo, o imaginário comum sobre o Egito, não somente o isola, como cria a noção de que ele permaneceu estático e homogêneo ao longo desses quase três mil anos de história. É importante, porém, descontruir essa narrativa que se perpetua pelas metodologias de ensino escolar e pelas múltiplas faces dos multimeios (filmes, séries, livros, jogos, etc.). Nesse sentido, este estudo pretende apresentar um viés da integração dos diferentes grupos do Antigo Oriente Próximo durante o século XIV AEC. Acredito ser importante apontar as formas, níveis e complexidade desses contatos, por isso, este trabalho se configura como uma base de dados coletados pela documentação selecionada: as Cartas de Amarna.

Para tanto, preocupo-me em definir a região próximo-oriental, em relação a sua geografia e aos agentes. Em seguida, apresentar as fontes, pensando em sua estrutura e ao sistema que a insere. Somente, então, trago as informações específicas das correspondências, apontando personagens, assuntos, menções, etc. A formatação deste estudo busca, assim, ser uma base introdutória a documentação diplomática, podendo ser utilizada e revisitada em pesquisas futuras.

O ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO.

Quando historiadores e arqueólogos falam em Oriente Próximo, eles referem-se a área entre a margem do mediterrâneo, o golfo pérsico e os mares negro, cáspio e vermelho. Para Van de Mieroop (2007, p. 1), a expressão identificava o que restaria do Império Otomano na margem oriental do Mar Mediterrâneo durante o século XIX. Os limites exatos, porém, variam de acordo com cada autor, alguns consideram o Chipre, Egito e a Transcaucásia, mas de forma geral podemos dizer que o território próximo- oriental compreende a região da Mesopotâmia, Anatólia e Síria. Para este trabalho, consideramos de acordo com o mapa a seguir (fig.1), incluindo o Egito, pela natureza da

documentação e relevância que este teve na Antigo Oriente Próximo no período delimitado deste estudo.

Fig. 1: Mapa do Antigo Oriente Próximo c. 1350 AEC. Fonte: COHEN; WESTBROOK, 2000, p. xii. É notável que a área é bastante extensa e, por isso, existem diversas personagens agindo na região. A documentação de Amarna abrange, em diferentes graus, todos esses territórios: há um total de 246 atores nos 382 tabletes que possuímos (CLINE; CLINE, 2015, p. 26). Lidar com todos esses agentes e documentos neste trabalho é inviável, por isso, limito o número de cartas que utilizo neste estudo a 44. A escolha por essas 44 correspondências não é aleatória, mas respeita uma divisão das próprias fontes, sobre a qual eu falarei mais no tópico seguinte. As cartas selecionadas, então, correspondem às relações do Egito com a Babilônia, com a Assíria, com Mitani, com Hatti com Arzawa e com , sendo sua maioria recebida no Egito e enviada pelos reis da Babilônia e de Mitani. AS CARTAS E O SISTEMA DE AMARNA. Os primeiros tabletes dessa coleção foram encontrados em 1887, provavelmente em expedições clandestinas (MORAN, 1992, p xviii), no “local das cartas do faraó” do

palácio real da cidade de Akhetaton, no Egito. As Cartas de Amarna recebem esse nome devido ao nome atual da cidade em que foram encontradas, Tell El-Amarna, e foram organizadas sob a sigla EA (El-Amarna), em ordem cronológica e espacial, pelo assiriólogo J. A. Knudtzon, em 1907. Após a obra de Knudtzon, “Die El-Amarna Talfen”, outras 24 cartas foram encontradas, sendo Rainey o responsável por editá-las e organizá- las de acordo com a sigla em 1970 (MORAN, 1992, pp. xiii – xv). A coleção com a descrição, transcrição e transliteração das cartas por Rainey foi reeditada recentemente, tendo sido lançada em 2015. As Cartas de Amarna são tabletes com escrita em cuneiforme acadiano, com raras exceções1, que se caracterizam por ser a documentação do primeiro sistema diplomático que abrangeu todo o Antigo Oriente Próximo. Existem variadas formas de subdivisão dessas correspondências, de modo não excludente, mas complementar. Jean Nougayrol as divide em cartas de envio (reporta itens enviados) e cartas de injunção (faz pedidos), reconhecendo que a maior parte da documentação, porém, é uma combinação desses dois tipos (MORAN, 1992, p. xxiii). Outra maneira de pensar essas fontes é dividindo-as em dois grupos, de acordo com o sistema no qual se inserem (este critério foi utilizado por Knudtzon). O primeiro grupo corresponde às cartas reais, EA 1-44, e o segundo refere-se aos tabletes administrativos, EA45-382. As cartas reais são documentos trocados entre os territórios independentes, que são Arzawa, Alashiya, Assíria, Babilônia, Egito, Hatti e Mitani. Os dois primeiros, apesar de serem independentes, não estão inclusos entre os Grande Reinos, por não possuírem uma área hegemônica. Os outros cinco reinos se destacam no Antigo Oriente Próximo por serem considerados potências, dominando vastas expansões territoriais e sendo colocados como membros de um “Clube dos Grande Poderes”. As demais regiões, não inclusas entre as citadas, eram subjugadas a um dos cinco Grande Reinos, tendo que responder e pagar tributos. Os tabletes administrativos, então, referem-se às cartas enviadas ao Egito por seus súditos, localizados na região sírio-palestina.

1 A carta EA 15 está escrita em assírio; a EA24 em hurrita e as EA 31-32 em hitita. Há, também, variações nos dialetos do acadiano, sendo, por exemplo, o Hurro-Acadiano o mais comum das regiões norte. Além disso as transformações das línguas faladas não foram acompanhadas pela escrita, por isso encontramos um léxico antigo.

A estrutura das cartas varia de acordo com o grupo ao qual pertencem. Apresento, neste momento, os padrões das correspondências reais, uma vez que me foco nelas. Logo de início percebe-se a importância da oralidade dos acordos, sendo a parte escrita apenas a forma de comunicação e não uma formalidade, como temos nos dias de hoje. Uma típica carta trocada entre os territórios independentes seguiria o molde de a-na (para/diga para) um- (assim disse) e fazendo saudações, ainda que com variações na forma como isso se apresenta.

a-na Ni-im-˹mu˺-re- LUGAL GAL šàr KUR Mi-iṣ-ri-i ŠEŠ-ia ḫa--ni-ia ša a-ra-am-mu-uš ù ša i-ra-ʾa-a-ma-an-ni qí-bí-ma um-ma Tù-uš-rat-ta LUGAL GAL šàr KUR Mi-ta-an-ni ŠEŠ- e-mu-ka ù ša i-ra-ʾa-a-mu-ka-ma (EA21, linhas 1-7. In: RAINEY, 2015, p. 156).

Diga para Nimmure‘a, o grande rei, o rei da terra do Egito, meu irmão, meu genro, quem eu amo e que me ama; assim (disse) , o grande rei, o rei da terra de Mitani, seu irmão, seu sogro e alguém que te ama (EA21, linhas 1- 7. In: SCOVILLE, 2017, p. 180).

Destaco, neste trecho, três usos: “grande rei”, “irmão”, e o termo “amor”. A primeira expressão refere-se a importância do reino, pertencente ao “Clube dos Grande Poderes”. Por isso, nas cartas de Arzawa (EA31-32) e Alashiya (EA33-40), não faz-se referência ao termo2. O status de poder conferido pelo uso de “grande rei” é reforçado pelo emprego de “meu/seu irmão”. Isso acontece porque existe uma ideia de igualdade entre os reinos, que se consolida pela adoção de um Sistema de Casas. Neste, os Grande Reis são tidos como irmãos, para que garantissem a não-supremacia de um sob o outro, sendo os cinco pertencentes a uma mesma casa e acima deles apenas os deuses. Essa noção de irmandade se concretiza por meio de casamentos diplomáticos, que garantem que os reis sejam pertencentes de uma mesma família. Entre as cartas reais, apenas as de Arzawa não apresentam o uso do termo “irmão”, mas as duas cartas apontam que negociações de casamento estavam acontecendo. Expressar amor, por fim, pode ser entendido de três maneiras diversas, das quais duas servem para exprimir um contexto sócio-político e uma é uma analogia (GESTOSO, 2013, pp. 81-83). Os dois primeiros refletem o grau da relação: amor como lealdade e submissão (para os súditos) e amor fraternal (para os reinos independentes). A terceira

2 A única vez que “grande rei” aparece nessas cartas é na EA31, escrita por Amenhotep III, rei do Egito refere-se exclusivamente a si, com o termo, sendo Tarhundarasu chamado apenas de “rei de Arzawa”.

forma refere-se à reciprocidade nas relações dos Grande Reis, uma vez que manter a paz (prevista na diplomacia) requer que ambos os lados estejam satisfeitos3. Assim, de acordo com Gestoso (2013, pp. 81-83), quando Tushratta, rei de Mitani, afirma que ama Akhenaton dez vezes mais do que amava Amenhotep III4, podemos entender que ele se remete à quantidade de presentes. Isso significa que Tushratta afirma que o número de presentes enviados ao faraó Akhenaton seria dez vezes maior que os enviados ao Amenhotep III. Os preceitos, costumes e regulamentos desse sistema diplomático conseguiram manter certa estabilidade por toda a região próximo-oriental5. A estruturação do Sistema de Amarna era tamanha que conseguia cobrir uma vasta expansão territorial sem a necessidade de muitas interações para que um agente se comunicasse com o outro. Talvez pela eficácia desse método, as noções de distâncias percorridas não fossem bem claras, como pode ser notado na carta EA7 de Burna-Buriash II, da Babilônia: Desde o dia que o emissário de meu irmão ch[egou a mim], meu corpo esteve mal e seu emissário em nenhuma [ocasião em] minha presença comeu comida ou bebeu {álcool}.[Quan]do você perguntar ao seu emissário, ele irá o dizer. Em respeito {de} [minha] re[cuperação], eu não estou [ainda] completamente re[staurado em saúde]. [E] quando meu [c]orpo estava mal e meu irmão [não expressou preocupação] por [mim], eu (próprio) estive cheio de raiva, dizendo “Que eu estou doente, meu irmão não ou[viu]? Por que ele não mostrou preo[cupação] por mim? Seu emissário, por que ele não enviou para v[er a minha situação]?”. O emissário de meu irmão disse isso para mim, di[zen]do: “Este não é um território próximo que seu irmão ouviria e ele mandaria saudações para você. A terra é muito distante. Para seu irmão, quem iria o dizer que ele deveria mandar uma saudação urgente para você? Se seu irmão tivesse ouvido que você está doente, ele não enviaria seu emissário para você?”. Então eu disse para ele, dizendo, “Meu irmão, o grande rei, tem uma terra distante ou próxima?”. Ele disse para mim assim, dizendo “pergunte ao seu emissário. Pois a terra é muito distante e seu irmão não ouviu sobre você, (assim) ele não mandou preocupação sobre seu [bem]-estar”. Agora, uma vez que eu perguntei {para} seu emissário e ele me disse que é uma longa jornada, eu não estava bravo com meu irmão. Eu mantive silêncio. E visto que ele me disse {que} na terra de meu irmão tem tudo e meu irmão não quer nada e na minha terra tudo é encontrado e eu mesmo busco por nada, é uma bela coisa que nós recebemos do passado, das mãos dos antigos reis; nós manda[mos] saudações mútuas. Que essa seja a coisa que prevaleça entre nós. Minhas [sa]udações [eu vou enviar] para você [e você vai enviar as suas saudações para mim]. (EA7, linhas 8-41. In: SCOVILLE, 2015, p. 92)

3 Para mais informações sobre como a reciprocidade se aplica ao Sistema de Amarna ver: Scoville, 2017. 4 Nas cartas EA19-20, EA23-27, EA29. 5 É importante ter em mente, porém, que o foco era manter o poder nas mãos daqueles que o detinham e a paz buscada pela diplomacia era referida aos reinos independentes, por isso disputas continuaram sendo comum nos territórios da sírio-palestina, por exemplo.

De fato, as distâncias são grandes. Da atual Tell el-Amarna, no Egito, até Al- Hillah, no Iraque, locais aproximados de onde seriam Akhetaton e Babilônia, respectivamente; são 1407 km em linha reta e seria ainda mais se fossemos seguir as rotas usadas pelos mensageiros. Essa quilometragem se mantém parecida para os outros Grande Reinos, saindo de Amarna: 1417 km, em linha reta, Boğazkale (antiga Hattusa, capital hitita); e 1336 km, em linha reta, para Tell Halaf (região próxima de onde estima- se ter sido Washukanni, capital de Mitani). O Egito, porém, é o mais distante desses reinos, sendo a região Mesopotâmica muito mais dinâmica nas formas de interação. Ainda assim, apesar da grande expansão territorial que o sistema deveria abranger, notamos uma eficiência na diplomacia devido ao seu alto grau de complexidade. Como o proposto no estudo de Cline e Cline (2015), as Cartas de Amarna configuram uma “Rede de Pequeno Mundo”. Ser um “pequeno mundo”, não é algo físico, como notamos pela expansão do Antigo Oriente Próximo. O termo vem da social network analysis (SNA) e significa que a teia de relações sociais era intrincada suficientemente para que apenas poucos saltos6 fossem necessários para que qualquer agente se comunicasse com outro por meio de conhecidos. O cálculo é feito a partir de três medidas de centralidade principais: grau (número de conexões que cada nódulo tem), intermediação (importância relativa de indivíduos na estrutura em relação aos menores caminhos que levam de um nódulo a outro) e autovetor (nível de proximidade com nódulos influentes). Essas medidas são convertidas em números que representam diferentes elementos das relações. Segundo Cline e Cline (2015, p. 34), três aspectos precisam estar presentes para que uma rede de contatos configure um “pequeno mundo”: uma distância média baixa entre os agentes, aplicação da lei do poder de distribuição e um coeficiente de agrupamento alto. Para ser considerado um pequeno mundo, a distância média deve se enquadrar na ideia de “seis graus de separação”, ou seja, o número médio de saltos não deve ser maior do que seis. No Sistema de Amarna, essa média é 3,2 e a maior distância geodésica é oito (CLINE, CLINE, 2015, p. 35). Não somente a média de saltos é quase metade do padrão estabelecido para um “pequeno mundo”, como a quantidade máxima de interações não

6 Termo da Social Network Analysis que, nesse estudo pode ser pensado como “interação” ou “contato” entre indivíduos.

passa muito do limite estabelecido pelos “seis graus de separação”. É interessante notar que esse número ainda pode diminuir. A figura 2 apresenta um gráfico de todas as interações do sistema amarniano. Percebe-se, porém, que o maior nódulo não é nomeado, mas refere-se apenas como “Rei do Egito”. Não é possível, para nós, atribuirmos com certeza a quem as cartas que se endereçavam ao “rei do Egito” pertenciam, podendo ter sido para Amenhotep III, Akhenaton ou, ainda um terceiro rei. Caso não haja um terceiro rei e esse nódulo fosse conferido a Amenhotep III ou Akhenaton (ou para o caso de haver um terceiro, se as interações relevantes fossem atribuídas a um dos outros dois), teríamos um agente central a menos, o que significa que o número máximo dessas interações cairia para sete.

Fig. 2: Rede de contatos nas Cartas de Amarna Fonte: CLINE; CLINE, 2015, p. 27.

O segundo aspecto que caracteriza um “pequeno mundo” é a distribuição do poder: poucos agentes têm muitos contatos e muitos têm poucos. Isso é certamente verdadeiro no caso de Amarna, como podemos perceber pela própria divisão do sistema entre Grande Reinos e subordinados. Os primeiros são um número reduzido, mas que dominam e administram muitos outros ao seu redor.

Por fim, o coeficiente de agrupamento corresponde ao número de tríades da rede, calculando quantos trios existem em que todos os três indivíduos se conhecem mutuamente. Não é um número exato para definir quantas tríades seriam necessárias para definir um “pequeno mundo”, visto que isso depende do número de indivíduos. Este 2 cálculo é feito a partir da fórmula C = , sendo N a quantidade de nódulos do sistema N (CLINE; CLINE, 2015, p. 36). No caso de Amarna, são 246 indivíduos, então C=0,00813. Qualquer número menor do que isso não pode ser considerado um “pequeno mundo”. Uma vez definido o limite, um novo cálculo é feito (normalmente os próprios programas de SNA o fazem automaticamente) para definir a quantidade de tríades no sistema. Segundo Cline e Cline (2015, p. 37), no caso de Amarna o coeficiente de agrupamento é 0,391, muito mais alto do que a medida estabelecida. Não resta dúvidas, então, que o Sistema de Amarna configura uma Rede de Pequeno Mundo. As conexões entre diferentes territórios em uma vasta área funcionavam muito bem, tendo muitos agentes envolvido e muito interligados. A comunicação por todo o Antigo Oriente Próximo era fácil, apesar das longas distâncias a serem percorridas. Dois estranhos poderiam entrar em contato envolvendo apenas poucos indivíduos nessa equação. Por isso, as Cartas de Amarna são fundamentais para entendermos os moldes das interações próximo-orientais durante o século XIV AEC. Elas nos revelam não apenas acordos e tratados estabelecidos, mas toda uma estrutura de comunicação muito complexa e eficiente. OS DADOS. A SNA rastreia, então, os documentos e as interações, considerando os participantes, a nacionalidade, os indivíduos mencionados e a relação entre eles, montando tabelas com essas informações. Cada linha corresponde a uma interação e cada coluna evidencia as características do contato. Como mencionado anteriormente, temos 246 atores agindo nesse sistema, que formam 464 linhas de interações, ou seja, existem 464 relacionamentos entre diferentes indivíduos (CLINE; CLINE, 2015, pp. 23- 26). Com base nessas informações, a SNA elabora esquemas visuais destacando indivíduos em nódulos e os contatos por linhas que os ligam. Quanto maior o nódulo, maior a quantidade de relações. Assim, é possível visualizar as informações por meio de gráficos de rede e questionar nossa fonte.

Se a diplomacia amarniana previa uma igualdade entre os Grande Reis, presumidamente, o tamanho dos destes deveriam ser equivalentes. Contudo, existem muitas variantes que devem ser levadas em consideração. Em primeiro lugar, o fato de serem cartas encontradas no Egito influencia na quantidade de referência que os reis deste local possuem, o que torna seus nódulos maiores. Em segundo lugar, se o gráfico fosse gerado a partir de outra medida de centralidade7 os nódulos iriam apresentar variações. Por isso, devemos guiar nossos olhos para o tipo de pergunta que fazemos à fonte, entendendo as questões envolvidas nessa estrutura. Um gráfico de rede de todas as cartas, como o da figura 2, nos traz um parâmetro completo e geral das relações do Egito seus vizinhos, mas não é necessário para pensarmos somente nas relações com os Grande Reis. Assim, podemos guiar as informações para gráficos mais restritos, como o da figura 3.

Fig. 3. Rede de contados presentes nas cartas reais EA1-44 Fonte: CLINE; CLINE, 2015, p. 23.

Nele vemos quatro nomes em destaque: Akhenaton, Amenhotep III, Tushratta e Burna-Buriash II. É natural que os dois reis egípcios apareçam com destaque, visto a natureza da documentação. Nódulos grandes também são esperados para Tushratta e

7 Nos gráficos apresentados neste trabalho utilizou-se o grau de centralidade para estabelecer o tamanho dos nódulos

Burna-Buriash II, uma vez que a maior parte dessas cartas reais são provenientes de Mitani (EA17-30) e da Babilônia (EA1-14). Burna-Buriash II, porém, não é o governante da Babilônia durante todo o período coberto pelas cartas, só aparecendo a partir da EA6. É interessante pensarmos, então, que este rei é o que mantém o maior número de nódulos em comum com outro rei (no caso, Akhenaton), com um total de total de onze. Tushratta, de Mitani, chega a oito conhecidos em comum com o mesmo rei, mas isso pode ser relacionado ao número de cartas relacionadas aos reis: são oito de Burna-Buriash II (uma enviada para Amenhotep III e seis relacionadas ao Akhenaton)8 e, pelo menos treze9, de Tushratta (oito enviadas para Amenhotep III, uma para , e quatro para Akhenaton). Informações aparentemente simples, então, podem nos ajudar a entender a organização e o graus das relações na Era de Amarna. Por isso, a partir deste ponto, apresento um catalogo dessas cartas, apontando as regiões e os agentes envolvidos e os assuntos abordados, para termos um parâmetro geral dos contatos reais. Babilônia (EA1-14). EA1: De Amenhotep III para Kadashman-Enlil. Justifica-se sobre reclamações feitas anteriormente em relação a uma irmã de Kadashman-Enlil (não nomeada), enviada para casar no Egito, e sobre a quantidade de presentes. Pede por uma noiva. EA2: De Kadashman-Enlil para Amenhotep III. Afirma que enviará uma de suas filhas para casar-se com o faraó ou um descendente real, questiona porquê do Egito não enviar uma de suas princesas para casar no exterior. Lista alguns presentes. EA3: De Kadashman-Enlil para Amenhotep III. Afirma que sua filha já está em idade para casar. O rei reclama que após 6 anos tendo seu mensageiro detido no Egito, quando o recebe a quantidade de presentes é insatisfatória. Convida o faraó para o visitar pela ocasião da construção de um palácio. Envia 25 homens e 25 mulheres de presente ao Egito e lista alguns presentes (o tablete está fragmentado na parte da lista). EA4: O início está fragmentado, não há nomes identificáveis. Provavelmente, de Kadashman-Enlil para Amenhotep III. Menciona uma carta anterior na qual o rei egípcio afirma que não é uma tradição egípcia enviar princesas para casamento diplomático E

8 A carta EA12 é escrita por uma princesa não nomeada e a EA13 é um inventário de itens sendo enviados, sem a presença de nenhum nome. A EA14, foi escrita por Akhenaton. 9 A carta EA18 está muito fragmentada para ser lida, mas as análises químicas da argila revelam que é originada, provavelmente, de Mitani.

questiona o porquê. Afirma que poderia ser qualquer mulher, pois se o faraó falasse que era uma princesa, ninguém o contradiria. Pede-se por ouro e animais. EA5: De Amenhotep III para Kadashman-Enlil. Lista presentes para o novo palácio sendo construído por Kadashman-Enlil. Apresenta o nome do emissário, Šutti. EA6: De Burna-Buriash II para Amenhotep III. Estabelece que quer manter boas relações com Egito, como eram feitas com Kadashman-Enlil, seu pai. EA7: De Burna-Buriash II para Akhenaton. Comenta sobre uma doença que o acometeu e como o emissário egípcio agiu prontamente para explicar o porquê de o faraó não ter enviado desejos de melhora. Menciona que seu emissário ficou detido no Egito por dois anos e que existem complicações climáticas nas viagens. Reclama que o selo no ouro enviado de presente era de um funcionário do rei. Apresenta o nome de um emissário, Ṣalmu, que teria sido assaltado duas vezes, uma vez por Biryawaza e Pamaḫu10. Burna- Buriash II pede para que Ṣalmu seja ouvido, e os culpados sejam punidos. EA8: De Burna-Buriash II para Akhenaton. Afirma-se que comerciantes que foram com Aḫu-ṭābu foram detidos em Ḫinnatōna (no Canaã), e que Shum-Hadda, filho de Ba’lumme, e Sutatna, filho de Saratu, enviaram homens para atacar e levar a prata. Pede para que seja recompensado pelo roubo e que o faraó interrogue e puna os culpados. EA9: De Burna-Buriash II para Akhenaton. Reclama da quantidade de presentes recebidos. Argumenta que nos tempos de seu pai11, Kurigalzu, os reis de Canaã queriam apoio babilônico para revoltar-se contra o Egito, mas Kurigalzu negou, por isso, o farão não deveria conversar com os assírios, ditos vassalos babilônicos12. EA10: De Burna-Buriash II para Akhenaton. Reclama da qualidade e quantidade dos presentes. Lista alguns itens enviados ao Egito. EA11: De Burna-Buriash II para Akhenaton. Menciona que quando Amenhotep III morreu, ele mandou Ḫu’a (mensageiro) e Miḫuni (tradutor) para enviar outra noiva ao Egito. Menciona uma carta que recebeu de Akhenaton, quando ele enviou notícias por Miḫuni e Ḫarnashi (mensageiro). Miḫuni e Ḫarnashi viram a noiva babilônica e a preparado para a viagem. Burna-Buriash II pede para que o faraó envie Ḫaya (alto oficial

10 A carta diz que o “governador de Kiṣri” o assaltou. Provavelmente este governador chamava-se Pamaḫu, (nome que aparece na carta) mas há uma fragmentação entre o nome e a informação “governador de Kiṣri”. 11 O pai de Burna-Buriash II é Kadashman-Enlil. Nesse trecho ele refere-se, na verdade, ao seu avô. 12 Referência a EA15-16, enviadas pela Assíria para estabelecer relações com o Egito.

egípcio) para buscar sua filha. Ele cita, ainda, os nomes de Ṣalmu13, Kurigalzu14 e Mayatu15 e pede por mais ouro, prata e pedras preciosas. EA12: Escrita por uma princesa, não nomeada, para um rei, não nomeado. Segundo Rainey (2015, p. 1340), trata-se de uma princesa babilônica para o rei do Egito. A carta declara saudações e menciona um servo do rei, chamado Kidin-Adad. EA13: Não há nomes referenciados. Segundo Rainey (2015, p. 1341), foi enviada de Burna-Buriash II para uma princesa egípcia. A carta apenas lista itens. EA14: De Akhenaton para Burna-Buriash II. A carta apenas lista presentes enviados. Assíria (EA15-16): EA15: De Ashur-uballit para um rei egípcio não nomeado, provavelmente, este era Akhenaton. O primeiro contato com o Egito, tentando estabelecer uma relação e afirma que até então seus antepassados não escreveram. Aponta que enviou um mensageiro para conhecer o Egito e o faraó e pede para que ele não seja detido. Menciona alguns itens enviados como presente. EA16: De Ashur-uballit para Akhenaton. O rei reclama do tratamento e dos presentes recebidos e pede por ouro. Fala que no governo de seu pai, Ashur-nadin-aḫḫe, o Egito enviou muito ouro, assim como o Egito enviou muito outro para o rei de Ḫanigalbat16. Menciona o nome de Sutû, guia que teria falecido. Mitani (EA17-30): EA17: De Tushratta para Amenhotep III. Menciona Kelu-Ḫeba, sua irmã, casada com o faraó. Afirma que assumiu o trono jovem, após o assassinato de seu irmão Artashumara, a mando de Pirḫi. Conta sobre uma vitória comandada por ele sobre os hititas e envia espólios. Envia Kelia, ministro-chefe, e Tunip-iwri, para manter o contato com o Egito. EA18: Muito fragmentada para ser analisada. EA19: De Tushratta para Amenhotep III. Concorda em enviar uma de suas filhas para casar-se no Egito. Menciona os mensageiros Mane (egípcio) e Kelia (mitânio). Afirma ter recebido ouro e pede por mais, para a construção de um mausoléu e pelo dote da noiva. Lista presentes e pede para que a comunicação entre eles seja ágil.

13 Comerciante da carta EA7. 14 Seu avô. 15 Uma mulher egípcia, não identificada, mas provavelmente se trata de Meriaten, filha de Akhenaton. 16 Nome associado a Mitani.

EA20: De Tushratta para Amenhotep III. Afirma que Mane foi buscar a noiva e, para prepara-la para a viagem, haverá um atraso de seis meses, quando ele enviará Mane e Kelia. Essa mensagem foi enviada por Haramashi (mensageiro egípcio). Tushratta reclama da quantidade de ouro enviado e lista alguns presentes. EA21: De Tushratta para Amenhotep III. Envia a princesa. Diz ter tratado bem Mane e Hane (interprete egípcio), fazendo elogios a eles. Lista alguns presentes. EA22: De Tushratta para Amenhotep III. Lista presentes enviados. Menciona Kelu-Ḫeba. EA23: De Tushratta para Amenhotep III. Menciona Kelu-Ḫeba. Envia a estátua da deusa Shaushka para visitar o Egito. EA24: De Tushratta para Amenhotep III. Carta extensa, escrita em hurrita. Menciona Shuttarna (pai de Tushratta), Kelu-Ḫeba, Ashshutemi, Mane, Kelia, Parattuiranna, Ar- Teshob e Asali (escriba mitânio). Fala sobre os arranjos do casamento de Kelu-Ḫeba e do de Tadu-Ḫeba, sua filha que está a caminho do Egito. Reafirma a amizade entre os reinos. EA25: De Tushratta para Amenhotep III. Lista presentes enviados. EA26: De Tushratta para Tiye. Menciona Amenhotep III, Tadu-Ḫeba, Mane, Kelia, Akhenaton e Yuni (esposa de Tushratta). Alega que Tiye conhecia os acordos estabelecidos entre Tushratta e Amenhotep III (seu marido), e pede para que ela interfira nos modos que seu filho, Akhenaton, está lidando com as relações. Lista presentes a ela. EA27: De Tushratta para Akhenaton. Menciona Amenhotep III, Tadu-Ḫeba, Mane, Hamashi, Tiye, Pirissi (mensageiro mitânio) e Tulubri (mensageiro mitânio). Afirma que os acordos estabelecidos com Amenhotep III não estão sendo cumpridos por Akhenaton. Lista presentes. Mensagem em hierático ao fim, apontando que o faraó não estava na cidade quando os mensageiros chegaram com a carta. EA28: De Tushratta para Akhenaton. Menciona Tiye, Tadu-Ḫeba, Mane, Pirissi e Tulubri. Reclama do tempo de detenção dos emissários mitânios no Egito. Pede para que o faraó os libere prontamente e ouça as palavras de sua mãe, Tiye, sobre as relações com Mitani. EA29: De Tushratta para Akhenaton. Carta extensa. Menciona Tiye, Tadu-Ḫeba, Amenhotep III, Tothmés IV, Artatama (avô de Tushratta), Shutarna, Hamashi, Kelia, Niuy (mensageiro egípcio), Mane, Pirissi, Tulubri, Masibadli (mensageiro mitânio, tio de Kelia), Arteshuba e Asali. Recorda como foram estabelecidas as relações do Egito com Mitani e reclama das posturas de Akhenaton. Lista presentes enviados.

EA30: De Tushratta para os reis de Canaã, não nomeados. Pede passagem segura de Akiya, seu emissário, para o Egito. Arzawa (EA31-32): EA31: De Amenhotep III para Tarḫundarasu. Envia Irshappa (mensageiro egípcio) para ver a noiva que será enviada ao Egito. Pede para que seu mensageiro não seja detido e pede por pessoas das terras de Gashga17 . Lista presentes. EA32: Não há nomes. Segundo Rainey (2015, p. 1375), é de Tarḫundarasu para Amenhotep III. Fala de uma mensagem de Kalbaya sobre casamento. Alashiya (EA33-40): EA33: Do rei da Alashiya para o rei do Egito, não nomeados. O rei egípcio, provavelmente é Akhenaton. Comenta que um novo faraó assumiu o trono, pela morte do pai. Afirma querer manter as relações e sobre o envio de cobre. EA34: Do rei da Alashiya para o rei do Egito, não nomeados. O rei egípcio, provavelmente é Akhenaton. Comenta sobre o envio de emissários e materiais. EA35: Do rei da Alashiya para o rei do Egito, não nomeados. O rei egípcio, provavelmente é Akhenaton. Comenta sobre o envio de itens ao Egito e sobre relações com Hatti e Shanhar. Pede para que os bens de um homem de Alashiya, que morreu no Egito, sejam enviados para a sua família em Alashiya. EA36: Do rei da Alashiya para o rei do Egito, não nomeados. O rei egípcio, provavelmente é Akhenaton. Comenta sobre o envio de itens ao Egito e da retenção de seu emissário por dois anos. Tablete bastante fragmentado. EA37: Do rei da Alashiya para o rei do Egito, não nomeados. O rei egípcio, provavelmente é Akhenaton. Lista presentes e pede para que seus mensageiros não fiquem retidos. EA38: Do rei da Alashiya para o rei do Egito, não nomeados. O rei egípcio, provavelmente é Akhenaton. Se defende de acusações feitas em alguma carta recebida. Afirma que pessoas de Lycia estão tomando cidades pequenas do território da Alashiya. EA39: Do rei da Alashiya para o rei do Egito, não nomeados. O rei egípcio, provavelmente é Akhenaton. Afirma ter enviado comerciantes.

17 A região fica nos montes Pônticos. Pessoas de Gashga teriam invadido o território hitita e, possivelmente, destruído Hattusa.

EA40: Do comissário da Alashiya para o comissário do Egito. Menciona Shumitti. Comenta sobre itens e homens enviados. Hatti (EA41-44): EA41: De para Ḫuriya18. Reclama que o faraó não envia presentes a Hatti desde que assumiu o trono após a morte de seu pai. Pede para que as relações voltem a ser boas. Lista presentes enviados. EA42: De Suppiluliuma I para Ḫuriya. Reclama que o nome do faraó aparece se sobressaindo ao rei hitita no tablete recebido por ele. Menciona Ruminta (escriba). EA43: Cerca das três primeiras linhas estão perdidas, não há nomes. Segundo Rainey (2015, p. 1388) é de Suppiluliuma I para o rei do Egito. A carta está muito fragmentada para ser analisada. Há uma lista de itens. EA44: De Zidan, filho do rei, para o rei do Egito. Envia 16 homens ao Egito e pede ouro. Zidan é, provavelmente, irmão de Suppiluliuma e o rei egípcio, Amenhotep III (RAINEY, 2015, pp. 1388-1389).

Não pretendo trazer respostas ou fazer análises neste estudo, apenas apresentar a fonte e convidar os leitores a explorá-la. As Cartas de Amarna apresentam um complexo sistema de relações interterritoriais no Antiguidade. Graças a esse conjunto de documentação, podemos notar os moldes diplomáticos e níveis diversos de interação. A Social Network Analisys, usada como metodologia, nos ajuda a visualizar as informações e entendermos melhor o emaranhado dessa Rede de Pequeno Mundo, que não era nada simples e funcionava muito bem. Cada contato tem seu valor e pode ser entendido dentro do sistema como um todo, por isso, a base de dados que apresento poderá ser utilizada para guiar as pesquisas, buscando temas, nomes e discussões recorrentes nesse universo.

REFERÊNCIAS CLINE, Diane H.; CLINE, Eric H. Text messages, tablets, and social networks: the “small world” of the . In: MYNÁROVÁ, Jana; ONDERKA, Pavel; PAVÚK, Paul (eds). There and Back Again – The Crossroads II: Proceedings of an International Conference Held in Prague, September 15-18, 2014. Prague: Charles University in Prague, 2015, pp. 17-44.

18 Esse faraó pode ser Akhenaton, Tutankhamun,ou Smenkhkare.

COHEN, Raymond & WESTBROOK, Raymond (org). Amarna Diplomacy: the beginnings of international relations. Baltimore: The John Hopkins University Press, 2000. GESTOSO, Graciela. The Term “Love” in the Amarna Letters. In: The Bulletin of Australian Centre for Egyptology, v. 14, 2003, pp. 81 – 83. GUARINELLO, Norberto Luiz. História Antiga. São Paulo: Editora Contexto, 2014. MORAN, William. The Amarna Letters. Baltimore: The John Hopkins University Press, 1992. RAINEY, Anson F. The el-Amarna Correspondence. Leiden: Brill, 2 vol., 2015. SCOVILLE, Priscila. Queremos nos amar como irmãos: uma análise historiográfica das cartas de Amarna e das relações entre Egito e Mitani entre c. 1390 – 1336 AEC. (Dissertação de Mestrado). Curitiba: UFPR, 2017. Disponível em: https://goo.gl/kzNh36. Acesso em 23/06/2018. VAN DE MIERROP, Marc. A History of the Ancient Near East ca. 3000-323 BC. Oxford: Blackwell, 2007.