ARTIGO ORIGINAL ISSN 0102-2067 Licenciado sob uma Licença Creative Commons

[I] Estudo das interações entre insetos e sibiricus L. () em área de sucessão vegetal, câmpus da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Toledo, Brasil [I] Study on the interactions between insects and Leonurus sibiricus L. (Lamiaceae) in an area of succession, Campus of the Pontificial Catholic University of Parana, Toledo, Brazil [A]

Marciele Solera[a], Maria Cristina Zborowski de Paula[b], Sonia Marisa Hefler[c] [a] Bióloga, graduada pelo curso de Ciências

[R] Biológicas, Pontifícia Universidade Resumo Católica do Paraná (PUCPR), Câmpus Toledo, Toledo, PR - Brasil, e-mail: Leonurus sibiricus L. (Lamiaceae) é uma planta herbácea, conhecida por rubim ou erva-macaé. Neste trabalho, foram ob- [b] Bióloga, Doutora, professora titular [email protected] servados e identificados os insetos visitantes e os eventos de interação em L. sibiricus em três diferentes horários e seis parcelas (2 x 2 m), verificando a influência de fatores ambientais em área experimental no Câmpus da PUCPR/Toledo. do curso de Engenharia Florestal da Registraram-se 549 insetos pertencentes a seis ordens e 10 gêneros. Hymenoptera contribuiu com o maior número de Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Curitiba, PR - Brasil, indivíduos (N = 354) e Hemiptera com a maior diversidade genérica (N = 4). Foram registrados três eventos de interação, [c] Professora Doutora do curso de sendo os de alimentação/polinização os mais frequentes, especialmente em Hymenoptera. A maior média de insetos visi- e-mail: [email protected] tantes (21,4%) ocorreu no segundo horário de observação (13h), em que Hymenoptera teve a maior taxa de visitas, entre 22 °C e 27 °C. Coleoptera teve preferência por períodos de temperaturas mais baixas (18 °C e 21 °C), enquanto Hemiptera Ciências Biológicas e do Programa de Pós-Graduação, Biologia de por temperaturas mais altas (28 °C e 29 °C). Para as demais ordens não houve registro significativo das visitas relacionadas Ambientes Aquáticos Continentais, à temperatura. [P] Universidade Federal do Rio Grande Palavras-chave: Entomologia. Fatores ambientais. Plantas medicinais. (FURG), Rio Grande, RS - Brasil. e-mail: [email protected]

[B] Abstract Leonurus sibiricus L. (Lamiaceae) is an herbaceous plant known as “rubim” or as “Macaé-herb”. This work was carried out to observe and identify visitor insects and their interaction with L. sibiricus L., in different three periods of the day in six (2.0 x 2.0 m) experimental plots, checking the influence of environment factors in an experimental area, located in the PUCPR Campus/ Toledo. We registered 549 insects of 6 orders and 10 genera. Hymenoptera presented the largest number of individuals (N = 354) and Hemiptera, the largest number of genera (N = 4). We recorded three interaction events, being feeding/pollination the most frequent among them, especially within Hymenoptera. The largest average of insects visitors (21.4%) occurred in the second observation period (1 p.m.), where Hymenoptera showed the largest rate of visits, between 22 °C and 27 °C. Coleoptera preferred lower temperature periods (18 °C and 21 °C), while Hemiptera preferred higher temperature periods (28 °C and 29 °C). All other orders, there was no register of significant variation of visits in relation to temperature. [K] Keywords: Entomology. Environmental factors. Medicinal .

Recebido: 02/03/2010 Received: 03/02/2010

Aprovado: 19/05/2011 Approved: 05/19/2011

Estud Biol. 2010/2011 jan/dez;32/33(76-81):25-32 26 Solera M, Paula MCZ, Hefler SM.

Introdução

L. sibiricusO objetivo deste estudo foi verificar a população de insetos visitantes e os eventos de interação em A utilização da flora medicinal sempre se cons- , correlacionado com a influência de fato- tituiu em um arsenal terapêutico de enorme im- res ambientais. portância entre toda a humanidade que persiste Material e métodos consolidada até hoje, paralelamente aos avanços tecnológicos da medicina tradicional. Por outro lado, encontram-se as plantas tóxicas que, graças à faltaLeonurus de informações sibiricus podem ser inadequadamente Este estudo foi realizado em área de sucessão utilizadas na medicina popular (1). vegetal, localizada próximo a um remanescen- L. planta herbácea, conhecida te de Floresta Estacional Semidecidual alterado, por rubim ou erva-macaé, pertence à família Lamia- no Campus da Pontifícia Universidade Católica do ceae, ordem , produz terpenoides e substâncias Paraná, município de Toledo, PR (Figura 1). fenólicas com efeitos alelopáticos (2). A erva-macaé tem grande importância econômica e é utilizada na farmacopeia popular em diversos países, com diver- sas indicações. Essa planta é especialmente indicada para a preparação de tinturas, extrato alcoólico ou xa- rope (3), sedativa em L.problemas sibiricus gastrointestinais, e como antirreumática (4). Segundo Almeida et al. (5), as floresPor outro e folhas lado, deL. sibiricus podetêm ser sido considerada utilizadas para resfriados, bronquite e reumatismo.

como tendo importância econômica negativa, quando é vista como planta infestante em áreas agrícolas (3, 4). Como a maioria dos estudos se concentra em espé- cies de importância agronômica ou nativa, como Grut- zmacher et al. (6), Manente-Balestiere e Machado (7), Boiça Jr. et al. (8), outros tipos de estudos, como os de observação de interação entre a fauna entomológica e Figura 1 - Vista parcial da área de estudo, com a indicação flora medicinal/tóxica, ainda são pouco realizados. Po- das unidades amostrais. rém, mais pesquisas realizadas nessa área podem tra- Fonte: GOOGLE EARTH, 2010. zer resultados que possam contribuir com o equilíbrio vital desses organismos e do homem. Segundo Barbola et al. (9), estudos sobre as asso- ciações de insetos e suas plantas hospedeiras são de relevante interesse por caracterizar as comunidades Posteriormente, delimitou-se a área de estudo a par- naturais, levando em conta seus atributos funcionais, tir da demarcação de seis parcelas (2x2 m), de modo que os quais podem influir na dinâmica e na estrutura- fosse possível verificar de forma comparativa a influên- ção destas. Além disso, essas interações indicam que cia de fatores externos, na interação dos insetos com a os insetos podem concorrer para a manutenção das planta estudada (Figuras 1 e 2). As parcelas estavam plantas, atuando na polinização, na dispersão e no dispostas da seguinte forma: 1 - próxima a um remanes- controle biológico de diversas pragas agrícolas. cente de Floresta Estacional Semidecidual, em ambiente As relações ecológicas de espécies vegetais medici- mais sombreado;­ 2 - próxima a uma área mecanizada nais/tóxicas com insetos são fundamentais para apoiar em ambiente aberto e com pouco contato antrópico; o desenvolvimento de programas avançados de contro- 3 - localizada na porção central da área de estudo, em le de pragas, identificação e isolamento de compostos ambiente aberto e mais isolado da ação antrópica; 4, 5 e metabólicos nas plantas, para a repro­dução das espé- 6 - localizadas próximas à rodovia/estrada de acesso ao cies (polinização e dispersão) e, assim, contribuir para o câmpus, com maior influência antrópica e em ambiente

cultivo de espécies vegetais de maior valor nutricional. mais aberto, Estudporém Biol. distanciadas 2010/2011 jan/dez;32/33(76-81):25-32 entre si. Estudo das interações entre insetos e Leonurus sibiricus L. (Lamiaceae) em área de sucessão vegetal, câmpus da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Toledo, Brasil 27

de L. sibiricus Em cada parcela, foram selecionados seis indivíduos 2) estágio de maturação das inflorescências (an- (Figura 2a), sendo quatro em fase de flo- tese, floração); ração e dois em fase de antese. Neste último caso, tam- 3) identificação dos eventos realizados pelos vi- bém foram observados insetos visitantes nas folhas. sitantes: alimentação/polinização; os insetos O tempo de observação em cada inflorescência foi estavam se alimentando e ao mesmo tempo de aproximadamente cinco minutos, sendo esta rea- podendo também estar polinizando (como não lizada em três períodos do dia: foi possível determinar, somente pela observa- ção, qual dos eventos os insetos estavam reali- 1) com início às 8 horas; zando, foram mantidos em uma única classe); 2) às 13 horas; e pouso, quando o inseto pousava e permane- 3) às 17 horas, seguindo a metodologia proposta cia na planta por poucos segundos; por Solera et al. (10). 4) coleta de insetos visitantes nas inflorescências As observações foram feitas em dez dias du- e identificação em campo e no laboratório de rante os meses de outubro e novembro. Zoologia da PUCPR/Câmpus Toledo.

Durante as observações, foram levantados os se- Todos os insetos visitantes foram identificados em guintes dados: categoria de ordem. Destes, apenas 30 foram coletados e identificados na categoria gênero. Para fins de análise 1) condições ambientais (temperatura, umidade de dados, foram considerados os insetos na categoria relativa do ar) nos horários de observação, se- ordem, uma vez que nem todos os gêneros de insetos gundo Simepar (11); observados no campo tiveram insetos coletados.

A B

Figura 2 - Leonurus sibiricus L: (A) Detalhe da flor. (B) Detalhe de Bombus nas flores (círculo) Fonte: Dados da pesquisa.

Estud Biol. 2010/2011 jan/dez;32/33(76-81):25-32 28 Solera M, Paula MCZ, Hefler SM.

Resultados Tabela 1 - Classificação dos insetos visitantes florais de L. sibiricus em área experimental no Câmpus da Pon- tifícia Universidade Católica do Paraná, Toledo, PR (conclusão) Foram registrados 549 indivíduos pertencentes a seis ordens entomológicas: Hymenoptera (N = 354), Ordem Família Gênero Coleoptera (N = 119), Hemiptera (N = 52), Lepidoptera Hymenoptera Apidae Apis (N = 12), Diptera (N = 10) e Orthoptera (2) (Gráfico 1). Apidae Bombus Orthoptera Acrididae (Acridinae) Metaleptea cf. 400 Gryllidae (Eneopterinae) Aphonoides cf. 350 Fonte: Dados da pesquisa. 300 250 200 150 N. de Insetos 100 As parcelas com maior número e diversidade de in- 50 setos visitantes foram respectivamente a dois, com 124 0 visitas, representadas pelas seis ordens observadas (Figura 4), e a três, com 101 insetos visitantes. As de- mais parcelas apresentaram menor número de insetos Ordem visitantes e com pouca variação entre si, quando compa- radas com o número de indivíduos visitantes (Gráfico 2). Gráfico 1 - Relação entre o número de insetos observados 120 na área de estudo e a ordem entomológica a m e d que pertencem r 100 o 80 r po s o 60 íd u v 40 di n i

Foram identificados 13 gêneros, com base na análise e 20 d .

dos insetos coletados durante as observações (Tabela 1). N 0 1 2 3 4 5 6 Destes, as ordens que mais contribuíram com números Parcelas observadas de gêneros foram Hemiptera e Coleoptera, com quatro Coleoptera Hemiptera Lepidoptera gêneros cada. A ordem que mostrou a menor diversida- Diptera Hymenoptera Orthoptera

de genérica foi Diptera, com apenas um gênero.

Tabela 1 - Classificação dos insetos visitantes florais de L. Gráfico 2 - Representação do número de insetos observados sibiricus em área experimental no Câmpus da Pon- de acordo com a ordem entomológica a que per- tifícia Universidade Católica do Paraná, Toledo, PR tencem, em cada uma das parcelas estudadas (continua) Fonte: Dados da pesquisa.

Ordem Família Gênero Coleoptera Coccinellidae Adalia Chrysomelidae Cerotoma Chrysomelidae Diabrotica Em todas as parcelas, a ordem Hymenoptera sem- Lagriidae Lagria pre contribuiu com o maior número de indivíduos Diptera Bibionidae Bibio (Gráfico 2). A ordem Hemiptera foi mais observada Hemiptera Pyrrhocoridae Disdercus na parcela três (Figura 1 e 4). Para Coleoptera, houve Anthocoridae Anthocoris o maior registro na parcela cinco. Além disso, os gê- Lygaeidae Lygaeus neros registrados para essa ordem são insetos preda- Pentatomidae (Asopinae) Euschistus cf. dores/pragas. Para as demais ordens não houve dife- rença significativa no número de indivíduos quando

relacionadosEstud à localização Biol. 2010/2011 das jan/dez;32/33(76-81):25-32parcelas (Gráfico 2). Estudo das interações entre insetos e Leonurus sibiricus L. (Lamiaceae) em área de sucessão vegetal, câmpus da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Toledo, Brasil 29

Durante as observações foram registrados somen- 350 300 os

t Alimentação/

te três tipos de eventos realizados pelos insetos nas vi- e 250 de L. sibiricus s Polinização n 200

sitas às inflorescências e às folhas (no caso de antese) i

e 150 Pouso

: destes três eventos, os de alimentação/ d . 100 polinização foram os mais observados e os insetos que N 50 0 mais realizaram este tipo de evento pertencem à ordem a a a r ra ra r ra r e e e e e e pt Hymenoptera, enquanto que o evento pouso foi observa- opt i ipt nopt e dopt m D hopt e pi e rt ol e H do com maior frequência pela ordem Coleoptera, segui- ym C L O H do da ordem Hemiptera e Hymenoptera L.sem sibiricus diferença foi Ordem significativa entre as duas últimas (Gráfico 3). A presença de insetos visitantes em Gráfico 3 - Representação dos eventos realizados pelas or- mais observada quando se encontrava em fase de in- dens dos insetos e o número de vezes em que tensa floração. foram observados Em todas as parcelas analisadas, a maior média Fonte: Dados da pesquisa. de insetos visitantes (21,4%) foi registrada no se- gundo horário de observação (13h), não diferindo muito (18,5%) do primeiro horário (8h). No segundo 140 período de observação, o maior número de insetos Hymenoptera 120 Coleoptera Hemiptera visitantes foi de Hymenoptera e Coleoptera, enquan- os t 100 Lepidoptera e to o menor número de visitas foi dos representantes s Diptera n 80 i Orthoptera de Hemiptera (Gráfico 4). Para as demais ordens, não e

d 60 .

houve correlação significativa entre o número de in- N setos e o horário de visita. 40 Durante os horários de observação, houve registro 20 0 da temperatura entre 18 °C e 34 °C (11), e da umida- 08h 13h 17h de relativa do ar entre 37% e 88% (11). No primeiro Período de Observação horário de observação, com início às 8h, a média da umidade relativa do ar foi registrada em 81%. Este Gráfico 4 - Representação do número de insetos observa- valor reduziu no segundo horário de observação (a dos em cada ordem, em três diferentes horá- partir das 13h), ficando em média 55,6% e com uma rios do dia pequena elevação, 56,9%, a partir das 17h (Gráfico 5). Fonte: Dados da pesquisa. O maior número de insetos visitantes às plantas amostradas ocorreu entre as máximas de 22 °C e 27 °C. Esta é a faixa de temperatura considerada ideal para vi- sita de insetos, especialmente da ordem Hymenoptera, 100 Tempera- Coleoptera e Hemiptera que tiveram uma maior taxa de 80 tura (ºC) Umidade

visitação entre as faixas de temperatura de 18 °C a 21 °C a

i 60 relativa % d

e 28 °C a 29 °C, respectivamente. Para as demais ordens é Indivíduos observadas (Diptera, Lepidoptera e Orthoptera), não M 40 (n) houve registro significativo das visitas, quando relacio- 20 nadas com a temperatura (Gráfico 6). 0 08h 13h 17h Discussão Horários de observações

L. sibiricus Gráfico 5 - Correlação das médias da temperatura, umida- Verificou-se que a diversidade de insetos visitantes de relativa do ar e o número de insetos visitan- em é alta (6 ordens), quandoPseudolaelia comparada corco- tes florais nos três horários de observação vadensiscom outros estudos, com registro de apenas uma a três Fonte: Dados da pesquisa. ordens como Borba e Braga (12) em

Estud Biol. Porto 2010/2011 e Brade jan/dez;32/33(76-81):25-32 (Orchidaceae); Coelho e Barbosa 30 Solera M, Paula MCZ, Hefler SM. os d

a 1 20 Coleopte ra v alimentação/polinização não foram diferenciados r 1 00 Diptera e s Hemipte ra neste estudo, realizados com maior frequência pela b 80 Hymenopt era

60 ordem Hymenoptera (Apidae).

os o Lepidopte ra t 40 e Orthopte ra

s Além disso, o segundo horário do dia (13h), na faixa

n 20 i

de temperatura entre 22 °C e 27 °C (Figura 8), obser-

e 0 C C C d ºC º º º

. 7 4 9 1 vou-se a maior média de insetos visitantes, corroboran-

2 N 3 2

2

a a a a

do com estudos anteriores (13, 14,18), os quais indicam C C C C º º º 0 8 8 3 2 22 º esse horário como tendo temperaturas mais amenas,

1 Faixas de TºC proporcionando o pico de atividade das abelhas. Isso confirma informações de Santana et al. (19), que reforçam a importância de conhecer o horário de Gráfico 6 - Representação do número de insetos visitantes visitação do inseto a uma flor para determinar a sua em diferentes faixas de temperatura importância na polinização, pois, para ser um polini- zador efetivo, é necessário que este visite as flores, Palicourea macrobotrys normalmente quando há disponibilidade de pólen, e Senna sylvestris no horário de receptividade de seus estigmas. (13) em Ruiz e Pavon (Rubia- Do mesmo modo, para Antonini et al. (16), os fa- ceae) e Carvalho e Oliveira (14) em tores abióticos influenciam nas taxas de visitas, pois (Vell.) H.S. Irwin e Barneby (Fabaceae, Caesalpinioide- a combinação de altos valores de luminosidade e ae). Além disso, foram registrados representantesSenecio das temperatura as favorece. O contrário ocorre em re- brasiliensisprincipais ordens entomológicas. Entretanto, este estu- lação à umidade relativa do ar. Isso foi comprovado do mostrou-se semelhante com o realizado em nesteL. sibiricusestudo, em que altos valores de umidade dimi- (10) nesta mesma área de estudo, quando nuem a taxa de visitação e a diversidade de insetos foram registradas cinco ordens entomológicas. em (Gráfico 5). L. sibiricus Segundo Buzzi (15), os principais insetos polini- Verificou-se que, em temperaturas baixas e em altas Bombuszadores são Hymenoptera do grupo Apoidea. Nestes, taxas de umidade, a visitação de insetos à os Bombini, representados no Brasil por espéciesApis) de, diminui (Gráfico 5). A diminuição no número de visitas , popularmente conhecidas como mamanga- foi verificada por Taura e Laroca (18) emVassobia estudos brevisobre- bas, assim como representantes da tribo Apini ( floraa Biologia da Polinização: interações entre as abelhas conhecidas como abelhas europeias são importantes (Hymenoptera Apoidea) e as flores de Bombusna polinização (15). IssoApis, foi comprovado no presen- (Sendtn.) Hunz. (Solanaceae), em que nas primei- te estudo. Essa ordem, representada pelos gêneros ras horas do período da manhã constata-se a frequên- (Figura 2B) e contribuiu com o maior cia reduzida de visitas de abelhas nessas flores. Isso se resnúmero de Cassia de indivíduos spectabilis visitantes, concordando com deve, possivelmente, à temperatura mais baixa e umi- estudos realizados na entomofauna visitante em flo- dade mais elevada no início da manhã. Stachytarpheta (L.) glabra D.C. (Fabaceae) (7) e na As abelhas sociais (Apidae) apresentam atividade diversidade e comportamentoSenecio brasiliensis dos insetos visitantes de forrageamento em temperaturas e luminosidade florais de Cham. (Verbenace- que podem ser consideradas limitantes para os de- ae) (16) e em L. (10), confirman- mais grupos (16), o que foi confirmado neste estudo, do a importância desse grupo para polinizaçãoL. sibi de- em que Hymenoptera teve uma faixa de temperatura ricusmuitas espécies vegetais. intermediária das demais ordens, entre 22 °C e 27 °C, O maior número de insetos visitantes em enquanto que Coleoptera foi mais observado em fai- foi registrado quando as inflorescências en- xa de temperatura mais baixa entre 18 °C a 21 °C. Por contravam-se em plena fase de floração, sendo mais outro lado, Hemiptera prefere temperaturas mais al- vistosas e coloridas, atraindo mais a atenção dos tas, entre 28 °C e 29 °C, enquanto que representantes insetos para alimentação/polinização. Além disso, de Diptera, Lepidoptera e Orthoptera não demons- Boff e Araujo (17) relatam que os visitantes florais traram preferência significativa entre as diferentes exploram recursos ofertados pelas flores (néctar, pó- faixas de temperatura analisada (Gráfico 6). len, resina, odores e/ou óleo), podendo contribuir ou Graças a isto, no presente estudo, a maior frequência

não para sua polinização. Por esse motivo, os eventos de insetos visitantesEstud Biol. (20,7%) 2010/2011 especialmente jan/dez;32/33(76-81):25-32 das ordens Estudo das interações entre insetos e Leonurus sibiricus L. (Lamiaceae) em área de sucessão vegetal, câmpus da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Toledo, Brasil 31

Hymenoptera e Coleoptera, foi registrada no segun- alimentação/polinização, confirmando a importância do horário de observação (13h), com temperaturas desse grupo para polinização de muitas espéciesL. sibiricus vege-, mais altas, não diferindo muito (18,2%) do primeiro tais. Verificou-se, ainda, que o horário das 13h é o mais horário (8h), com temperaturas mais amenas (Gráfico indicado para observações de insetos em 5). Confirmando estudos anteriores que registram graças à maior média de insetos visitantes registrada. a preferência de visitas de muitos insetos às Bombusflores a Pelos resultados obtidos neste estudo, possivel- atratuspartir dos primeiros horários do dia, comoCuphea (12), que mente fatores ambientais, como temperaturaL. sibiricus e umi- revelam a intensa atividade de indivíduos de dade relativa do ar, tenham influência no número e (Hymenoptera) visitando flores de sp. na diversidade de insetos visitantes em . (Lythraceae) em busca de néctar, observada ao longo Porém a diminuição do número e da diversidade de de todo o período da manhã. Do mesmo modo Lenzi insetos ao longo do período de observação pode es- et al. (20) observaram que as abelhas iniciam a busca tar também associada ao ciclo de vida dos insetos e por néctar e pólen em flores de aroeira-vermelhaSenecio brasilien já no- da planta. Esta última, sucessivamente, teve o proces- sisinício do dia. Isso também foi confirmado em estudos so de maturação das inflorescências e, com isto, di- realizados por Solera et al. (10) em minuiu a disponibilidade de néctar. Para tanto, serão (Asteraceae), quando o maior número de visitas de necessários estudos relacionados à biologia floral e Hymenoptera ocorreu a partir das 8 horas da manhã. ao ciclo de vida dos insetos para que estas hipóteses Com isto, verifica-se também que a espécie botâni- sejam corroboradas ou não. ca visitada pelos insetos pode ter grande influência na Agradecimentos diversidade da fauna entomológica e nos horários de visitação. Essa influência pode estar relacionada com a presença de néctar, aromas ou outros princípios ati- vos que possam servir de atrativos para polinizadores. A Luciane K. da Silva, Marcisnei Luis Zimermman Para Ricklefs (21), outro fator limitante e que in- e Marizete G. da Silva pela ajuda nas observações e fluência na diversidade de insetos que visitam as plan- coletas de dados em campo para SIMEPAR. tas é a estrutura das flores. Porém um fator que pode ter Referências influenciado a diversidade de insetos na área de estudo é pela fase de sucessão bastante alterada. Assim, pro- vavelmente, muitas espécies pioneiras ainda não apre- sentam atrativos para determinados grupos de insetos. 1. Lorenzi H, Matos FJA. Plantas medicinais no Brasil: O maior número de insetos visitantes ocorreu na nativas e exóticas cultivadas. São Paulo: Nova Odessa; parcela dois, localizada próxima a uma área mecani- Instituto Plantarum; 2002. zada e aberta. E graças a isto, houve um maior regis- 2. Larcher W. Ecofisiologia vegetal. São Carlos: Rima; 2000. tro de insetos, pois a maior parte destes são insetos/ praga. A parcela seis, localizada próximo à rodovia/ 3. Kissmann GK, Groth D. Plantas infestantes e nocivas. estrada de acesso ao Câmpus, com maior influência 2a ed. São Paulo: BASF; 1999. antrópica e em ambiente mais aberto, teve o menor 4. Gemtchújnicov ID. Manual de taxonomia vegetal: plan- número de insetos visitantes. Isso pode demonstrar tas de interesse econômico. São Paulo: Agronômica que a ação do homem ao meio tem grande influência Cerer; 1976. nas condições para atração de insetos nas plantas, Leonurus si- 5. Almeida LFR, Delachiave MEA, Marques MOM. pois essa área se encontra bastante alterada. biricus Composição do óleo essencial de rubim ( Considerações finais L. – Lamiaceae). Rev Bras Plantas Med. 2005; 8(1):35-8.

L. sibiricus 6. Grutzmacher AD, Nakano O, Martins JFS, Loeck Spodoptera frugifera Verificou-se que a diversidade de insetos visitantes AE, Grutzmacher DD. Consumo foliar de cultiva- em é alta (seis ordens), quando comparada res de arroz irrigado por (J.E. a outros estudos, com registro de apenas uma a três Smith) (Lepidoptera: Noctuidae). An Soc Entomol. ordens entomológicas. O maior número de visitas 1999;28(3):519-25. Estudfoi da Biol. ordem 2010/2011 Hymenoptera jan/dez;32/33(76-81):25-32 (Apoidea), com o evento 32 Solera M, Paula MCZ, Hefler SM.

7. Manente-Balestieri LDCF, Machado LLV. Ecologia, 15. Buzzi JZ. Entomologia didática. 4a ed. Curitiba: Ed. comportamento e bionomia. An Soc Entomol Brasil. UFPR, 2002. 1999;28(3):429-37. Trigona spinipes 16. Antonini Y, Souza HG, Jacobi CM, Mury YFB. Diversidade Stachytarpheta glabra 8. Boiça AL Jr., Santos TM, Passilongo J. e comportamento dos insetos visitantes florais de (Fabr.) (Hymenoptera: Apidae) em espécies de mara- Cham. (Verbenaceae), em uma cujazeiro: flutuação populacional, horário de visitação área de Campo Ferruginoso. Neotrop Entomol. 2005; e danos às flores. Neotrop Entomol. 2004;33(2):135-9. 34(4):555-64.

9. Barbola IF, Engels M, Tardivo RC, Milléo J, Nascimento 17. Boff SV, Araujo AC. Flores visitadas por Hymenoptera Parodia ottonis ila-velhensis Sin- EA. Diversidade e estrutura da interação inseto-planta (Apidae) em remanescentes de cerrado, Campo ningia canescens Petunia rupestris em var. V (Cactaceae), Grande, MS. In: Anais 56 Congresso Nacional de (Gesneriaceae) e Botânica, 2005; Curitiba, Brasil. Curitiba: Congresso (Solanaceae), em fragmentos de vegetação natural dos Nacional de Botânica; 2005. Campos Gerais do Paraná, Brasil. In: Anais XX Congres- 18. Taura HM, Laroca S. Biologia da polinização: intera- so Brasileiro de Entomologia, Gramado; 2004. p. 1. Vassobia breviflora ções entre as abelhas (Hym., Apoidea) e as flores de entre insetos e Senecio brasiliensis 10. Solera M, Hefler SM, Paula MCZ. Estudo das interações (Solanaceae). Acta Biol Paran. Less. (Asteraceae) 2004;33(1-4):143-62. no Campus da Pontifícia Universidade Católica do 19. Santana MS, Carvalho CF, Souza B, Morgado LN. Paraná, Toledo, Brasil. Estud Biol. 2007;29(66):81-7. Phaseolus vulgaris Abelhas (Hymenoptera: Apoidea) visitantes de flores

11. Instituto Tecnológico Simepar. SIMEPAR. [acesso em 9 do feijoeiro L., em Lavras e Ijaci – set. 2006]. Disponível em: http://www.simepar.br. MG. Ciênc. Agrotec. 2002;26(6):1119-27. Pseudolaelia corcovadensis 12. Borba LE, Braga SIP. Biologia reprodutiva de 20. Lenzi M, Orth AI, Laroca S. Associação das abelhas Schinus terebinthifolius (Orchidaceae): melitofilia e silvestres (Hym., Apoidea) visitantes das flores de autocompatibilidade em uma Laeliinae basal. Revista (Anacardiaceae), na Ilha Brasil Bot. 2003;26(4):541-9. de Santa Catarina (Sul do Brasil). Acta Biol Paran. Palicourea macrobotrys 2003;32(1):107-27. 13. Coelho CP, Barbosa AAA. Biologia reprodutiva de Palicourea Ruiz & Pavon (Rubiaceae): um 21. Ricklefs RE. A economia da natureza: um livro-texto possível caso de homostilia no gênero Aulb. em ecologia básica. 3a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Revista Brasil Bot. 2003;26(3):403-13. Koogan; 1996. Senna sylvestris 14. Carvalho DA, Oliveira PE. Biologia reprodutiva e poli- nização de (Vell.) H.S.Irwin & Barneby (Leguminosae, Caesalpinioideae). Revista Brasil Bot. 2003;26(3):319-28.

Estud Biol. 2010/2011 jan/dez;32/33(76-81):25-32