sibiricus L.: FARMACOBOTÂNICA RPIF E FITOQUÍMICA

Fernando Mateus Scremin1, Paulo Rodrigo Fabro1, Jéssica 1 2012 Zomer Debiasi

04 1 Centro Universitário Barriga Verde – UNIBAVE, Curso de Farmácia, Orleans/SC, Brasil.

RESUMO

Leonurus sibiricus é uma planta herbácea popularmente denominada como Motherwort ou erva de Macaé, e é muito utilizada na medicina chinesa. Há divergências em alguns estudos realizados quanto à morfologia e anatomia de Leonurus sibiricus, além disso, diversos estudos a confundem com outras espécies de Leonurus. Sua constituição fitoquímica é composta principalmente por substâncias que possuem ação antimicrobiana. A planta possui também atividade antiinflamatória e perspectivas no tratamento de neoplasias mamárias. O presente artigo analisa as características e aplicações farmacológicas da Leonurus sibiricus através de uma extensa revisão bibliográfica.

Palavras-chave: Leonurus sibiricus L., farmacobotânica, fitoquímica, fitoterapia.

ABSTRACT

Leonurus sibiricus is an herbal popularly known as Motherwort herb or Macae, and is widely used in Chinese medicine. There are divergences in some studies about morphology and anatomy of Leonurus sibiricus, furthermore, several studies confuse it with other species of Leonurus. Its phytochemical constitution is mainly composed of substances with antimicrobial activity. The plant has also anti- inflammatory activity and perspectives in the treatment of breast neoplasms. This manuscript analyzes the characteristics and pharmacological applications of the Leonurus sibiricus through an extensive literature review.

Key-words: Leonurus sibiricus L., pharmacobotany, phytochemical, phytotherapy.

Endereço para correspondência Fernando Mateus Scremin Rua Pe. João Leonir Dall´Alba, s/n - Bairro Murialdo, Centro Universitário Barriga Verde. CEP 88870-000 - Orleans/SC – Brasil. Fone: (48) 3466 5600. E-mail: [email protected] Scremin, Fabro e Debiasi/Rev. Pesq. Inov. Farm. 4(1), 2012, 31-39.

INTRODUÇAO sempre obteve da natureza o necessário para acalmar suas dores e curar seus males. Dentro

desta perspectiva as plantas sempre foram objeto Leonurus sibiricus L. é uma planta herbácea de estudo na tentativa de descobrir novas fontes perene, originária da Ásia, onde tem sido de princípios ativos (Rocha e Rocha, 2006). Neste largamente utilizada na área medicinal, como por contexto se enquadra a espécie Leonurus sibiricus exemplo, na medicina popular coreana, sendo L., objeto deste estudo, com atividades denominada Motherwort1 (erva de mãe). No empiricamente atribuídas contra edemas e Brasil a espécie adaptou-se muito bem, tanto ao sangramentos (Almeida, 2006), contra males solo quanto ao clima, podendo, praticamente ser gastrointestinais, bronquites e coqueluche (Wadt, considerada uma planta brasileira (Chu et al., 1996), nos casos de sangramento pós-parto, 1926; Wadt et al., 1996; Duarte e Lopes, 2005; menstruação excessiva, bem como contra Shin et al., 2009). abscessos e problemas renais (Almeida, 2006), O uso de plantas com finalidade sendo algumas das atividades citadas terapêutica em preparações caseiras, como chás, comprovadas cientificamente. Assim, a Leonurus cataplasmas, unguentos, vem recebendo sibiricus surge como mais uma perspectiva na crescente atenção de pesquisadores dedicados à área de produtos naturais ativos. identificação botânica, bem como ao potencial Seguindo os desígnios expostos, o terapêutico dos componentes e dos princípios presente estudo, teve por objetivo realizar uma ativos. Entre 65% e 80% da população mundial, revisão da literatura no que diz respeito à especialmente nos países em desenvolvimento, se Leonurus sibiricus L., pertencente à família beneficiam do uso das plantas medicinais na , e vulgarmente denominada rubim ou atenção primária à saúde, o que equivale a 3,5 a erva-macaé (Duarte e Lopes, 2005; Almeida, 4,0 bilhões de pessoas que usam plantas para o 2006). tratamento de doenças (Wong e Townley, 2011).

O mercado mundial de fitoterápicos gira em torno de 22 bilhões de dólares por ano (Yunes et al., 2001). No Brasil, representa apenas 5% de todo o consumo de medicamentos, METODOLOGIA movimentando mais de 400 milhões de dólares anualmente, mas nos últimos anos vem crescendo a uma taxa duas vezes superior em relação aos Para o levantamento de dados da literatura fármacos sintéticos (Tomazzoni et al., 2006; Leite pertinentes à Leonurus sibiricus, foram utilizadas e Branco, 2010). As vendas de fitoterápicos nos as bases de dados Scientific Electronic Library Estados Unidos resultam em aproximadamente 4 Online (SCIELO, 2012), PubMed (2012), bilhões de dólares por ano, porém, neste país os MedlinePlus (2012) e Google acadêmico (2012), fitoterápicos são registrados e comercializados com o objetivo de selecionar artigos de conteúdo como suplementos alimentares, não podendo idôneo. assim garantir-se a qualidade destes (Rates, As datas de publicação dos artigos não 2001). Em países que classificam fitoterápicos foram utilizadas como critério de exclusão para os como medicamentos, lideram o mercado mesmos, já que estaremos tratando não somente internacional, Alemanha com vendas de 2,5 de fatores envolvidos à Leonurus sibiricus perante bilhões de dólares e França com 1,6 bilhões de aspectos científicos, mas também frente a dólares (Bello et al., 2002). aspectos empíricos do conhecimento popular. Ao longo da história da civilização, as plantas não foram somente fonte de alimentação, Aspectos botânicos mas também fonte de cura para o ser humano, utilizando-se das plantas in natura ou atualmente A família Lamiaceae é originária principalmente como fitoterápicos. Desta forma, o ser humano de países do Mediterrâneo e Oriente Próximo e consiste de cerca de 200 gêneros e 3200 espécies (Duarte e Lopes, 2005). Esta família é composta 1 A espécie Leonurus cardíaca também é popularmente por árvores, arbustos e ervas (Mendes, 2007). designada Mothewort, o que demonstra a dificuldade Entre os mais de 200 gêneros pertencentes a esta de diferenciação de espécies por pessoas que fazem família, destaca-se o Leonurus, que inclui diversos uso de plantas medicinais. 32 Scremin, Fabro e Debiasi/Rev. Pesq. Inov. Farm. 4(1), 2012, 31-39. representantes de utilização na terapêutica de estames e o ovário geralmente bicarpelar. É (Duarte e Lopes, 2005). classificada de forma taxonômica ainda, na ordem , ordem composta por 6 famílias, sendo a Classificação botânica família mais importante a Lamiaceae a qual a Leonurus sibiricus L. pertence (UCB, 2007). Leonurus sibiricus L. é uma planta vascular, Possui como sinonímias científicas terrestre pertencente à família Lamiaceae, a Leonurus tataricus, Leonurus multifidus, Pazeria ordem Lamiales e a classe magnoliopsida multifida, Stachys artemisia (UNIMEP, 2012). (Almeida, 2006; Itis, 2012). L. sibiricus encontra-se registrada no Integrated Taxonomic Information Habitat System sob o número de série 32550 com todas as informações pertinentes à sua classificação Leonurus sibiricus L. é uma erva anual ou bianual, taxonômica (Itis, 2012). nativa da China, Sibéria, Coréia, Vietnã, Japão, A família Lamiaceae é também além de outros países do sudeste asiático, onde é denominada Labiatae ou Labiada, em consonância amplamente distribuída (Duarte e Lopes, 2005; à morfologia das pétalas ou corolas das espécies Wu et al., 2011). Naturalizada em praticamente que a compõem: trilobuladas, sendo o lábio todo o território brasileiro, mas principalmente no inferior mais alongado, alargado e oblíquo na Sul e Sudeste, onde se adaptou plenamente ao boca, o que permite a perfeita adaptação dos clima e desenvolveu fácil reprodução, podendo bicos de pássaros polinizadores. É possível ser considerada uma planta brasileira (Bonatto et determinar a família por meio dos pelos al., 2009; UNIMEP, 2012). glandulosos que revestem quase toda a planta e Cresce espontaneamente em áreas exalam aroma, possuindo ainda um caule abandonadas, nas proximidades das habitações e quadrangular, com folhas cruzadas opostas não em lavouras (Bonatto et al., 2009; UNIMEP, 2012). estipuladas (FMC, 2012), fatores, estes, Azevedo e Silva (2006) classificam Leonurus importantes no processo de identificação do sibiricus L. como uma planta ruderal, que consiste Leonurus sibiricus. em plantas que crescem em locais perturbados, As plantas pertencentes a esta família como áreas com cascalho, pedregulhos, beiras de produzem terpenóides e substâncias fenólicas estrada, etc. Em regiões agrícolas as plantas com efeitos alelopáticos, com isso algumas das ruderais também ocorrem em pastagens e em plantas desta família são consideradas invasoras meio a áreas de cultivo. Se não manejada de de culturas agrícolas, como cafezais e pomares maneira adequada Leonurus sibiricus transforma- (Almeida et al., 2011). Muitas espécies desta se em planta invasora de culturas, podendo levar família vêm sendo testadas em relação à sua à diminuição da produtividade de algumas atividade antimicrobiana devido a seus culturas agrícolas, ou seja, acaba se tornando uma flavonóides ou óleos essenciais, inclusive a L. “praga” para a atividade econômica rural. Porém, sibiricus. Algumas plantas aromáticas da família se manejada de maneira correta pode aumentar a Lamiaceae, das quais são extraídos óleos produtividade de alguns tipos de culturas. Esses essenciais são Mentha, Lavandula, Ocimum, fenômenos ocorrem devido ao poder alelopático Rosmarinus, Salvia, Satureja, Thymus (Wadt et al., da L. sibiricus, o que explica seu potencial invasivo 1996; Mendes, 2007). e de fácil reprodutibilidade (Wadt, 2008; Bonatto, Leonurus sibiricus L. é uma planta 2009). Magnoliophyta ou Angiospermae (angiospermas) Em estudo para observar a germinação de (Itis, 2012). As angiospermas caracterizam-se pelo sementes de Leonurus sibiricus L. frente a diversas enorme poder de adaptação às diversas condições variações de luminosidade e temperatura, ambientais, sendo características muito Almeida e colaboradores (2011) explicitaram que marcantes das angiospermas a dupla fecundação, a mesma apresenta caráter fotoblástico positivo presença de estames, estigmas, endosperma com melhor germinação (93%) a 20 oC, enquanto triplóide, entre outras características. L. sibiricus que a germinação em ambiente escuro na mesma pertence à classe Magnoliopsida, também temperatura apresentou uma porcentagem de conhecida como dicotiledôneas, à subclasse germinação, de apenas 45,5%. Germinações a Asteridae, que possui como principal temperaturas de 20 a 35 oC foram superiores característica a gamopetalia, o número reduzido àquelas encontradas em 15 oC, isso indica que

33 Scremin, Fabro e Debiasi/Rev. Pesq. Inov. Farm. 4(1), 2012, 31-39. temperaturas mais elevadas aumentam a (2005) em relação a alguns aspectos sobre a velocidade de germinação. Essas faixas de morfoanatomia de Leonurus sibiricus. Procópio e temperatura adequadas à germinação de L. colaboradores (2003) mencionam a presença de sibiricus explicam sua origem de regiões tricomas tectores consistindo de apenas uma temperadas. Em temperaturas extremas, a 5 e célula, enquanto que Duarte e Lopes (2005) 40oC a germinação de L. sibiricus foi inibida. Essa caracterizam a presença de mais de uma célula. inibição da germinação pode ser atribuída à Os tricomas peltados presentes em Leonurus desnaturação térmica das proteínas, acima de sibiricus secretam um óleo-resina que consiste de 40oC, ou ainda, temperaturas extremas podem terpenóides e flavonóides, que se acumula em um induzir as sementes à dormência secundária, o espaço formado pela elevação da camada péctica que impediria a germinação em temperaturas mais externa da parede celular juntamente com a baixas do inverno, ou nas condições de estresse cutícula, conferindo a este tricoma formato hídrico do verão. Pelos resultados obtidos por esférico. Os caracteres morfoanatômicos de Almeida e colaboradores (2011) observa-se que a Leonurus sibiricus, como tricomas tectores e espécie tem condições de germinar em uma glandulares peltados e capitados, estômatos ampla faixa de temperatura, o que constitui anomocíticos em ambas as faces epidérmicas, vantagem no seu estabelecimento em diversas mesófilo dorsiventral, caule quadrangular com regiões. colênquima conspícuo nas costelas e cristais de oxalato de cálcio coincidem com os mais Morfoanatomia diferentes gêneros de Lamiaceae (Duarte e Lopes, 2005). Leonurus sibiricus é uma planta herbácea ereta, de 30-100 cm de altura, cujo caule possui secção Aspectos agronômicos quadrangular e filotaxia oposta cruzada. O sistema de revestimento é representado pela A interação química entre plantas é conhecida epiderme, que é unisseriada e recoberta por como alelopatia e está relacionada com a cutícula estriada. As células epidérmicas são liberação de substâncias para o ambiente. Os poligonais, alongadas tangencialmente. aleloquímicos sintetizados pela rota de Estômatos localizam-se em posição relativamente metabolismo secundário influenciam no elevada às demais células epidérmicas. Apresenta desenvolvimento de culturas agrícolas. Os folhas com acentuado heteromorfismo, sendo aleloquímicos presentes na planta Leonurus lobadas com lobos arredondados em plantas sibiricus são terpenóides e substâncias fenólicas. novas e profundamente lobadas com lobos Isto explica o comportamento invasor e daninho lanceolados e ápice agudo em plantas maiores, em vários tipos de plantações, principalmente em possuindo nervuras proeminentes na face dorsal pomares e cafezais, assim como o extrato aquoso (Procópio et al., 2003; Duarte e Lopes, 2005). das folhas de Leonurus sibiricus inibe a Apresenta flores labiadas e inflorescência axilares germinação de milho e crescimento de plântulas fasciculadas (Almeida, 2006). de tomate. Porém, esta espécie não apresenta A epiderme foliar possui células com apenas efeitos alelopáticos maléficos, apresenta contorno ondulado, revestidas por cutícula liberação de exsudatos radiculares que aumentam delgada e estriada. Em ambas as faces da a germinação de arroz, trigo e mostarda (Almeida, epiderme ocorrem numerosos tricomas tectores e 2006). Flavonóides existentes nas folhas de glandulares. A epiderme é uniestratificada e o Leonurus sibiricus agem atrasando e retardando o mesófilo é dorsiventral, consistindo de crescimento de plântulas de pepino (Bonatto et parênquima paliçádico com cerca de um ou dois al., 2009). O interesse agrícola em torno da planta estratos celulares e parênquima esponjoso Leonurus sibiricus, está relacionado, portanto, multisseriado, correspondendo a 50-60% do com o impacto que esta pode causar no mesófilo. O pecíolo, em secção transversal, possui crescimento de lavouras. formato praticamente plano-convexo, com duas Leonurus sibiricus é obtida através de projeções ou alas laterais expandidas na região extrativismo em áreas ruderais, ou seja, sua distal (Duarte e Lopes, 2005). obtenção é feita através deste recurso natural Há divergências entre as investigações de pré-existente, não em regiões de mata, mas sim Procópio e colaboradores (2003) e Duarte e Lopes em áreas rurais de pastagens, beiras de estrada,

34 Scremin, Fabro e Debiasi/Rev. Pesq. Inov. Farm. 4(1), 2012, 31-39. locais de cascalho, etc. (Homma, 1982; Azevedo e diarréias, além de serem eficientes contra Silva, 2006). resfriados, bronquites e reumatismo. As folhas são amplamente utilizadas também na China para Medicina popular o pós-parto e hemorragias, o suco das mesmas é bom para a hemoptise, e a infusão para O ser humano desde os primórdios sempre problemas menstruais. Sob a forma de tintura obteve da natureza o necessário para acalmar alcoólica ou xarope é indicada na asma, além suas dores e curar suas enfermidades. O uso dos disso, atribuem-lhe propriedades tônicas, vegetais como medicamento é, provavelmente, antiespasmódicas e béquicas. quase tão antigo quanto à existência do ser humano na Terra. Toda planta que é administrada Fitoquímica de alguma forma e, por qualquer via ao homem ou animal exercendo sobre eles uma ação Leonurus sibiricus produz terpenóides e farmacológica é denominada de planta medicinal substâncias fenólicas que possuem efeito (Rocha e Rocha, 2006). alelopático (Bonatto, 2009). Realizando As plantas medicinais sempre foram experimentos de isolamento de constituintes em objeto de estudo na tentativa de descobrir novas partes aéreas de Leonurus sibiricus, Satoh e fontes de obtenção de princípios ativos. Muitas colaboradores (2003) obtiveram 2 novas furano- plantas possuem atividades tóxicas e o seu uso diterpeno lactonas, juntamente com outras 4 irracional pode causar sérios problemas. novas diterpeno lactonas já conhecidas Rocha e Rocha (2006) relatam que com os (leonotinina, leonotina, dubiina, nepetaefurano). avanços científicos, esta prática milenar perdeu Nos primeiros estudos fitoquímicos sobre espaço para os medicamentos sintéticos, L. sibiricus foi isolado o alcalóide estaquidrina, entretanto, o alto custo destes fármacos e os posteriormente diterpenos e furano lactonas, efeitos colaterais apresentados contribuíram para além disso, compostos fenólicos, como o ácido o ressurgimento da terapia através das plantas, a cafeico, foram encontrados nas folhas, raízes e chamada fitoterapia. sementes de Leonurus sibiricus (Almeida et al., Segundo Duarte e Lopes (2005) Leonurus 2005). Almeida e colaboradores (2005) sibiricus L. é amplamente utilizada por diferentes identificaram a presença de 13 compostos em populações na medicina tradicional como erva estudo realizado com o óleo essencial de Leonurus estomáquica, diurética, hipotensora e reguladora sibiricus. Observou-se a predominância dos da circulação, mas também muito utilizada em sesquiterpenos trans-cariofileno, alfa-humuleno e diversas outras áreas, inclusive como inseticidas germacreno-D, que representam 70% da de extratos obtidos das folhas. No Brasil, a constituição do óleo. Mas, além destes, foi espécie é tão bem adaptada ao clima e solo que observada a presença de tricicleno, alfa-copaeno, pode ser considerada como uma planta beta-bouboreno, gama-cadineno, e outros 6 tipicamente brasileira, sendo utilizada em diversas constituintes não caracterizados devidamente. regiões do país para tratamento de males Em estudo realizado por Moon e gastrintestinais, em tratamentos de bronquites, colaboradores (2010) reportou-se o isolamento de coqueluche e em algumas regiões, nos ataques de seis novas estruturas das partes aéreas de febre palustre, contudo, no sul do Brasil é mais Leonurus sibiricus. Essas estruturas são conhecida pela sua ação antiinflamatória (Wadt et diterpenóides tipo bis-espirolabdano al., 2008). (preleosibirona A, 13-epi-preleosibirona A, Almeida (2006) esclarece que as isopreleosibirona A, leosibirona A, leosibirona B, e propriedades medicinais de L. sibiricus estão 15-epi-leosibirona B) (Figura 1) (Moon et al., 2010; presentes em diferentes órgãos, tais como folhas, Wu et al., 2011). que combatem reumatismo crônico e possuem Na constituição química de L. sibiricus são atividade antibacteriana, evitando dermatites e encontrados alcalóides como leorunina (Figura 2), outros problemas dermatológicos. Na medicina leonuridina, estaquidrina, o polissacarídeo chinesa, as sementes são consideradas estaquiose, glicosídeos apolares, iridóides, ácido afrodisíacas e a planta seca é prescrita como ursólico, saponinas triterpenicas, três diterpenos tonificante e usada em disfunções menstruais. As (leosibirina, isoleosibirina, leoribicina) e flavonóides folhas e flores são capazes de combater vômitos e glicosídeos p-coumaril como a apigenina e a luteolina (UNIMEP, 2012). Oliveira(2010) descreve 35 Scremin, Fabro e Debiasi/Rev. Pesq. Inov. Farm. 4(1), 2012, 31-39.

Figura 1. Estruturas quimícas de seis diterpenóides labdano: 1 (preleosibirona A); 2 (13-epi-preleosibirona A); 3 (isopreleosibirona A); 4 (leosibirona A); 5 (leosibirona B) e 6 (15-epi-leosibirona B) (Wu et al., 2011).

a presença majoritária de rutina e seus derivados 8), provavelmente por inibir a liberação de NF-kB nos extratos polares de Leonurus sibiricus, além (do inglês, nuclear factor kappa B). O NF-kB é um de flavonas metoxiladas, as quais são fator de transcrição que foi primeiramente consideradas marcadores taxonômicos. observado em Linfócitos-T, mas sabe-se hoje que está presente em todas as células dos mamíferos. O papel mais importante desse fator está ligado à capacidade imunológica, na qual regula a expressão de genes inflamatórios e na defesa contra parasitas (Franco, 2010). A atividade antiedematogênica sistêmica foi observada no teste de edema em pata de rato Figura 2. Estrutura química do alcalóide Leorunina induzida por carragenina 1%. A atividade (1)(Lin et al., 2007). antiinflamatória foi observada após 4 horas da administração do medicamento por via oral. No Atividade biológica teste de tratamento tópico, Leonurus sibiricus inibiu o edema induzido por óleo de cróton, sendo Leonurus sibiricus (Motherwort) é popularmente e o efeito máximo (semelhante ao da amplamente utilizada como antiinflamatória, mas dexametasona) observado entre 0,2 mg e sua atividade sobre a liberação de citocinas dos 2mg/Kg. Leonurus sibiricus possui iridóides e ácido mastócitos não está bem elucidada. Shin e ursólico que agem inibindo as ciclooxigenases colaboradores (2009) investigaram o efeito (Almeida, 2006; UNIMEP, 2012). antiinflamatório de Leonurus sibiricus sobre a A família Lamiaceae é muitas vezes liberação de citocinas inflamatórias de mastócitos reconhecida como uma família de plantas com e observaram a inibição da secreção do fator de importante papel na medicina. Todas as plantas necrose tumoral (TNF-alfa) e interleucina (IL-6; IL- desta família possuem compostos com atividade 36 Scremin, Fabro e Debiasi/Rev. Pesq. Inov. Farm. 4(1), 2012, 31-39. antimicrobiana (Pin e Abdullah, 2011). Wadt e usuários como narcótico e ligeiramente colaboradores (2008) utilizaram extrato semelhante ao efeito da Cannabis sativa hidroalcoólico desta planta para realizar estudo (Mustata, 2009; Wu et al., 2011). da atividade antimicrobiana de Leonurus sibiricus, Nagasawa e colaboradores (1990) em culturas de Staphylococcus aureus, Escherichia observaram os efeitos de Motherwort sobre o coli, Pseudomonas aeruginosas, Candida albicans crescimento de pré-neoplasias e neoplasias e Aspergillus niger. Apenas três, das bactérias mamárias em camundongos. O tratamento inibiu anteriormente designadas foram inibidas na fortemente o crescimento de cânceres mamários concentração de extrato hidroalcoólico de 0,1 que se originaram de nódulos alveolares mg/mL a 0,5 mg/mL de Leonurus sibiricus. As hiperplásicos, sendo que a adenomiose uterina bactérias inibidas foram Staphylococcus aureus, também foi inibida. Pseudomonas aeruginosas e Candida albicans. Pin e Abdullah (2011) observaram o impacto direto da água e do álcool como extratores de Leonurus DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES sibiricus para uso como antimicrobiano em quatro diferentes concentrações, sendo os testes FINAIS realizados em Bacillus cereus, Staphylococcus aureus, Escherichia coli, Salmonella typhimurium, Leonurus sibiricus é uma planta pertencente à a levedura Saccharomyces cerevisiae e Aspergillus família Lamiaceae, sendo originária da Ásia e niger. O extrato de Leonurus sibiricus em água amplamente difundida em território brasileiro. No inibiu uma maior quantidade de bactérias com Brasil é considerada erva daninha por invadir menores concentrações; Staphylococcus aureus terrenos, plantações e pastagens, por seu efeito em concentração de 100 mg/mL; Aspergillus niger alelopático. Este efeito alelopático é ocasionado e Saccharomyces cerevisiae (levedura) em todas por terpenóides e substâncias fenólicas originadas as quatro concentrações (10, 25, 50 e 100mg/mL) no metabolismo secundário desta planta. Esta e Escherichia coli. O extrato em etanol inibiu causa prejuízos pelo efeito alelopático somente as bactérias Staphylococcus aureus em principalmente em pomares, cafezais, plantações concentração de 50 a 100 mg e Escherichia coli de tomate e milho. em concentração de 100 mg. As substâncias trans- Segundo as condições de habitat, cariofileno, alfa-humuleno e germacreno-D apresentou enorme facilidade na incorporação ao presentes no óleo essencial de Leonurus sibiricus clima subtropical e apresenta melhores apresentam esqueleto carbônico com ampla germinações em temperaturas mais quentes (não atividade antibacteriana, antifúngica e inibidora excedendo aos 40oC) e se adéqua aos mais enzimática (Almeida, 2006). variados tipos de terrenos (cascalho, beiras de Ahmed e colaboradores (2005) estrada, pastagens, etc.). demonstraram que, em testes de sono induzido Considerando, portanto, a área agrícola e com extrato metanólico de Leonurus sibiricus, pecuária, a Leonurus sibiricus resulta em um houve diminuição significativa do tempo de início entrave para essa área, contribuindo para a de sono e potencialização do tempo de sono com diminuição de produção agrícola; porém deve ser pentobarbital em doses de 200 a 400 mg/kg. Oga considerado seu uso na área medicinal e e colaboradores (1986) observaram que o extrato plantações desta espécie com o intuito exclusivo bruto das partes aéreas do material florido de produção de matéria prima para produção de prolonga a indução do sono induzido por fitoterápicos ou droga vegetal. pentobarbital, na dose de 400 mg/Kg, enquanto o Observaram-se divergências entre as tempo de início do sono foi reduzido. Além disso, análises das características morfológicas de o extrato exibiu baixa toxicidade, não causando Leonurus sibiricus, além disso, são poucos os efeitos letais, nem sinais agudos de intoxicação estudos existentes relatando as características mesmo com a dose de 3g/Kg. Esses estudos morfológicas e anatômicas desta planta. Alguns demonstram a potencial atividade de Leonurus autores não reconhecem a diferenciação entre as sibiricus no sistema nervoso central. As folhas de espécies de Leonurus, e acabam por classificá-las Leonurus sibiricus colhidas juntamente com as como única espécie, principalmente entre L. flores são secas e fumadas como substituto da sibiricus e L. cardiaca. Esta visão extremamente maconha. Os efeitos são classificados pelos ampla, sem o mínimo de especificidade, acaba

37 Scremin, Fabro e Debiasi/Rev. Pesq. Inov. Farm. 4(1), 2012, 31-39. colocando em questão as informações presentes sibiricus) na germinação e crescimento inicial de em alguns artigos, por isso, a necessidade do agrião, feijão e milho. ANAIS DO IX CONGRESSO senso crítico e de argumentação perante aquilo DE ECOLOGIA DO BRASIL. São Lourenço; 2009. que se lê. A confusão entre espécies é admissível Chu, FT; Chen, SM; Chen, KK. A Preliminary Study perante a medicina popular, onde se trata de um of Leonurus Sibiricus (I-Mu-Tsao). Exp Biol Med. conhecimento mais rústico passado de geração a 1926; 24(1):4-5. geração, porém trabalhos publicados devem prestar informações que correspondam Duarte, MR; Lopes, JF. Morfoanatomia foliar e unicamente com a realidade daquela espécie. caulinar de Leonurus sibiricus L., Lamiaceae. Acta Leonurus sibiricus, ou popularmente Farm Bonaer. 2005; 24(1):68-74. denominada pela medicina tradicional chinesa, Google acadêmico. 2012. Disponível em: < Motherwort, possui dentre suas ações mais http://scholar.google.com.br/>. Acesso em: 07 importantes e comprovadas por estudos in vivo/in maio 2012. vitro, antiinflamatória e antibacteriana. Embora existam estudos que comprovem a possível ação FMC. Fmcdireto. 2012. Disponível em: antiinflamatória e antimicrobiana, estes ainda são científicas. Essas características, antiinflamatória e Acesso em: 07 maio 2012. antimicrobiana, merecem a atenção de Franco, DG. Fator de transcrição nuclear kappa B pesquisadores visto que existem muitas no sistema nervoso central: do fisiológico ao complicações relacionadas a antiinflamatórios patológico. Rev Biol. 2010; 4:35-9. sintéticos, além disso, a ocorrência de cepas de bactérias resistentes aos antibióticos atuais Homma, AKO. Uma tentativa de interpretação representam problema de saúde pública, por isso teórica do extrativismo amazônico. Acta Amaz. a melhor compreensão destas duas atividades de 1982; 12(2):251-5. Leonurus sibiricus podem levar, potencialmente, ITIS. Integrated Taxonomic Information System. ao descobrimento de uma nova forma de Taxonomic serial n. 32550. Washington, DC; 2010. tratamento. Disponível em: . Acesso em: 07 maio 2012. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Leite, T. C. C.; Branco, A. Análise das bulas de medicamentos à base de Ginkgo biloba L. Rev Almeida, LFR. Composição química e atividade Cienc Farm Básica Apl. 2010; 31(1):83-87. alelopática de extratos foliares de Leonurus MedlinePlus. National Library EUA; National sibiricus L. (Lamiaceae) [Tese]. Botucatu: UNESP – Institutes of Health. 2012. Disponível em: < Universidade estadual paulista; 2006. . Acesso Almeida, LFR; Poletto, RS; Pinho, SZ; Delachiave, em: 07 maio 2012. MEA. Metodologia para germinação de sementes Mendes, MDS. Caracterização química e de Leonurus sibiricus L. Rev Bras Plantas Med. molecular de espécies da família Lamiaceae e 2011; 13(2):190-6. Apiaceae da flora aromática de Portugal [Tese]. Azevedo, SKS; Silva, IM. Plantas medicinais e de Lisboa: Universidade de Lisboa; 2007. uso religioso comercializadas em mercados e Moon, HT; Jin, Q; Shin, JE; Choi, EJ; Han, H; Kim et feiras livres no Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Acta Bot al. Bis-spirolabdane-type diterpenoids from Bras. 2006; 20(1):185-4. Leonurus sibiricus. J Nat Prod. 2010; 73:123-6. Bello, C. M.; Montanha, J. A.; SchenkeL, E. P. Mustata, C; Torrens, M; Pardo, R; Pérez, C; The Análise das bulas de medicamentos fitoterápicos psychonaut web mapping group; Farré, M. Spice comercializados em Porto Alegre, RS, Brasil. Rev drugs: los cannabinoides como nuevas drogas de Bras Farmacogn. 2002; 12(2):75-83. diseno. Adicciones. 2009; 21(3): 181-6. Bonatto, IC; Warchowicz, CM; Parolin, LC. Ação Nagasawa, H; Onoyama, T; Suzuki, M; Hibino, A; alelopática de extratos de Rubim (Leunurus Segawa, T; Inatomi, H. Effects of motherwort 38 Scremin, Fabro e Debiasi/Rev. Pesq. Inov. Farm. 4(1), 2012, 31-39.

(Leonurus sibiricus L) on preneoplastic and Tomazzoni, M.; Negrelle, R. R. B.; Centa, M. L. neoplastic mammary gland growth in multiparous Fitoterapia popular: a busca instrumental GR/A mice. Anticancer Res. 1990; 10(04): 1019-23. enquanto prática terapêutica. Texto contexto- enferm. 2006; 15(1):115-21. Oliveira, LFS. Prospecção de novos produtos naturais e sintéticos bioativos com atividade UCB, Universidade Castelo Branco (Brasil). antimicrobiana frente a helicobacter pylori Sistemática de angiospermas. Rio de Janeiro, [Monografia]. São Paulo: Universidade 2007. Disponível em: Bandeirante de São Paulo; 2010. . Acesso Pin, CH; Abdullah, A. Penentuan Aktiviti em: 08 maio 2012. antimicrob herba kacangma Leonurus sibiricus. Sains Malays. 2011; 4 (8): 879-85. UNIMEP. Universidade Metodista de Piracicaba. [Internet]. Disponível em: Procópio, SO; Ferreira, EA; Silva, EAM; Silva, AA; . Acesso em: 08 Weed Widely Largely Occurring in Brazil. V – maio 2012. Leonurus sibiricus, Leonotis nepetaefolia, Plantago tomentosa and Sida glaziovii. Planta Daninha. UNIMEP. [Internet]. Disponível em: 2003; 21(3):403-411. . Acesso em: 08 PubMed. EUA National Library of Medicine maio 2012. National Institutes of Health. 2012. Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/>. Wadt, NSY; Ohara, MT; Sakuda-kaneko, TM; Acesso em: 07 maio 2012. Bacchi, EM. Atividade antimicrobiana de Leonurus sibiricus L. Rev Bras Farmacogn. 1996; 5(2):167- Rates, S. M. K. Promoção do uso racional de 74. fitoterápicos: uma abordagem no ensino de farmacognosia. Rev Bras Farmacogn. 2001; Wadt, NSY. A imigração japonesa e a sua 11(2):57-69. contribuição à saúde. Saúde Coletiva. 2008; 5 (23):134. Rocha, GM; Rocha, MEN. Uso popular de plantas medicinais. Saúde e Ambiente em Revista 2006; Wong A, Townley SA. Herbal medicines and 1(2):76-85. anaesthesia. Contin Educ Anaesth Crit Care Pain. 2011; 11(1):14-7. Satoh, M; Satoh, Y; Isobe, K; Fujimoto, Y. Studies on the constituints of Leonurus sibiricus L. Chem Wu, H; Fronczek, FR; Burantd CL, Jawiony, JK. Pharm Bull. 2003; 51(3):341-42. Labdane Diterpenoids from Leonurus sibiricus. J Nat Prod. 2011; 74 (5)831-36. SciELO. Scientific Electronic Library Online. 2012. Disponível em: Yunes, R. A.; Pedrosa, R. C.; Filho, V. C. Fármacos e . Acesso fitoterápicos: a necessidade do desenvolvimento em: 07 maio 2012. da indústria de fitoterápicos e fitofármacos no Brasil. Quim Nova. 2001 24(1):147-52. Shin, HY; Kim, SH; Kang, SM; Chang, IJ; Kim, SY; Jeon, H; Leem et al. Anti-inflammatory activity of Motherwort (Leonurus sibiricus L.). Immunopharmacol Immunotoxicol. 2009; 31 (2): 209-13.

39