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Boas Práticas de Inovação e Planeamento em Turismo – O caso da Golegã

ELSA LOURENÇO * [ [email protected] ]

1. Introdução desenvolvimento das economias contemporâneas, e acima de tudo dos meios rurais, proporcionando A programação e a estratégia de planeamento benefícios de longo prazo quando implementados de territorial ao nível turístico nas autarquias são forma sustentada, apresentamos o caso da Golegã. assuntos ainda não estudados com a profundidade De facto, ao congregar uma rede complexa de que merecem, embora o turismo seja uma das atividades económicas envolvidas no fornecimento atividades económicas mais importantes do séc. XXI de alojamento, alimentação e bebidas, transportes, do ponto de vista da competitividade territorial. entretenimento e outros serviços para os turistas, o Assim e considerando a importância do turismo e turismo é um elemento estruturante da economia no sentido de perceber e enquadrar o envolvimento (OMT, 2008), de que a Golegã é, na realidade, um e implicações dos Municípios na política turística exemplo de boas práticas desenvolvidas nos últimos e cultural da atualidade, importa proceder a anos. uma pequena abordagem relativa à evolução do Municipalismo em e aos sucessivos apelos políticos às intervenções na Cultura e no Turismo. O Poder Local apresenta-se como “o principal 2. Enquadramento: Municípios e Turismo ator da mudança social, criando, através de múltiplos programas municipais, traduzidos em investimentos A história da intervenção dos Municípios de infraestruturação económica e sociocultural, Portugueses na área do turismo remonta ao início do importantes condições para a modernização e século anterior, quando foram criados, pela primeira melhoria dos estilos de vida dos grupos sociais vez, organismos locais com intervenção direta na locais e para o próprio desenvolvimento económico. área do turismo, designados por Comissões de Esta intervenção continua a ser entendida como Iniciativa. Depois da implantação do Estado Novo, promotor essencial do desenvolvimento local” houve uma alteração profunda desta situação, com (Reis, 1993: 81). Conscientes de que o turismo a criação das Zonas de Turismo, materializadas se oferece como um importante instrumento de em Comissões Municipais de Turismo e Juntas de

* Doutoranda em Turismo na Universidade de Aveiro, Mestre em Desenvolvimento de Produtos Turístico-Culturais, pelo Instituto Politécnico de Tomar e Chefe da Divisão de Intervenção Social da Câmara Municipal da Golegã. 176 RT&D | N.º 16 | 2011 | LOURENÇO

Turismo que, contudo, perderam uma significativa e Alqueva. Este novo quadro de interlocutores capacidade de influência sobre o turismo ao para o desenvolvimento do turismo regional no nível local, em relação às anteriores Comissões território nacional continental concretiza-se, assim, de Iniciativa. No decorrer dos anos oitenta foram pela criação de onze Entidades Regionais de criadas as Regiões de Turismo que, em boa medida, Turismo, dinamizadoras e interlocutoras das áreas resultaram na “transferência” de responsabilidades regionais e dos pólos de desenvolvimento turístico do nível local para este nível sub-regional. junto do órgão central de turismo, responsáveis Já no presente século, e consciente de que pela valorização turística e pelo aproveitamento o turismo não se desenvolve por si, é atividade sustentado dos recursos turísticos das respetivas transversal e que necessita do envolvimento, da áreas. mobilização e da responsabilização de todos No que concerne ao turismo de iniciativa os agentes públicos e privados, impondo-se a autárquica, a Associação Nacional de Municípios coexistência de organismos que o qualifiquem, Portugueses (ANMP) promoveu em 2004, o incentivem e promovam, e no contexto da Congresso do Funchal, cujo tema principal foi o modernização da Administração Pública, o Governo turismo. Considerou-se, à época, necessário criar as anterior aprovou1 o Programa de Reestruturação da condições para que as Autarquias Locais pudessem Administração Central do Estado (PRACE). dotar-se de mecanismos mais adequados, eficientes Neste sentido, e perante a necessidade de dotar e efetivos, para poderem intervir sobre o fenómeno os organismos públicos na área do turismo das do turismo e potenciar as mais-valias sociais, competências indispensáveis à afirmação de Portugal económicas e ambientais que o setor do turismo enquanto um dos principais destinos turísticos pode oferecer, se devidamente planeado e gerido. europeus, o Estado aprovou as orientações2, Defendeu-se, igualmente, que a estratégia de gerais e especiais, para a reestruturação dos vários intervenção dos Municípios portugueses na área ministérios, nas quais assume a necessidade de criar do turismo deveria pautar-se por um processo um organismo central do turismo, único, responsável de atuação que lhes permitisse dinamizar a base pela prossecução da política de turismo nacional – o económica, social e ambiental local, tornando-se Turismo de Portugal. igualmente fundamental que fossem criadas medidas Uma das vias estratégicas seguidas, então, foi a de política e respetivos instrumentos efetivos, para reorganização das entidades públicas regionais com melhoria da atuação sobre o setor. Neste Congresso responsabilidades na área do turismo, considerando- foi criada a “Resolução sobre Turismo e Poder -se o facto de que um organismo público central e Local”, preconizando a implementação duma nova único do turismo necessita de cooperação e suporte filosofia a ser materializada através do “recentrar” regional para a concretização e implementação da estratégia de intervenção numa política e da política de turismo vigente. Assim, em 2008, domínios de intervenção concisos, bem como na extinguiram-se as Regiões de Turismo. Foram criação de condições técnicas e organizacionais criadas cinco áreas regionais, que refletem as áreas estruturantes. abrangidas pelas unidades territoriais utilizadas para fins estatísticos NUTS II – Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve. Foram ainda criados os pólos de desenvolvimento turístico, 1 Resolução do Conselho de Ministros n.º 124/2005, de 4 de agosto. integrados nas áreas regionais – Douro, Serra da 2 Através da Resolução do Conselho de Ministros n.º 39/2006, Estrela, Leiria-Fátima, Oeste, Litoral Alentejano de 21 de abril. RT&D | N.º 16 | 2011 177

3. Intervenção do Poder Local no o Estado no território municipal, passando as Planeamento Turístico autarquias e os respetivos órgãos a constituir-se como um elemento autónomo de poder político A Constituição da República Portuguesa (CRP) de (Oliveira, 1995). 1976 institucionalizou três níveis de poder político, Com a definição da Lei de Atribuições das juridicamente distintos e autónomos: o Estado, as Autarquias e Competências dos seus órgãos (Lei n.º Regiões Autónomas e o Poder Local, instituindo 79/77) e da Lei das Finanças Locais (Lei n.º1/79), assim, as Regiões Autónomas e o Poder Local como os poderes locais viram então consagrada a sua verdadeiros níveis políticos de contrapoder ou de autonomia financeira e a sua capacidade para contenção do poder centralizador do Estado, o que conceberem planos de atividades e orçamentos não se verificava até então. Veio, ainda, abrir caminho próprios. ao desenvolvimento do enquadramento legislativo Contudo, devido à instabilidade dos governos que da autonomia do Poder Local3. Consagrou, ainda, vieram após a instauração do regime democrático, três níveis de Autarquias Locais (os Municípios, as as competências, a delimitação e coordenação e as Regiões Administrativas), conferindo- das atuações entre a Administração Central e as -lhes atribuições, competências, bem como, um outro Autarquias em matéria de investimentos públicos, aspeto inovador e de grande importância no que se prevista no art. 10º da Lei n.º1/79, apenas se refere ao Património e Finanças Locais, definindo materializaram mais tarde pelo Decreto-lei n.º que “as Autarquias Locais têm património e finanças 77/84, de 8 de março4. Segundo Oliveira (1995), próprias” (n.º1, do art. 240º). Assistimos finalmente com esta legislação assiste-se à institucionalização ao enquadramento legislativo e à institucionalização do “presidencialismo”. Institucionalizava-se que do Poder Local. o Presidente da Câmara seria o primeiro eleito No mesmo ano, foi publicada a Lei Eleitoral (Lei da lista mais votada, ao definir-lhe funções e n.º 701-B/76), deixando os Presidentes de Câmara competências próprias e, ainda, ao conferir-lhe de ser magistrados administrativos representando a possibilidade de escolha dos vereadores em regime de permanência, até ao limite de dois e, 3 No n.º 2 do art. 237º, consagrou as Autarquias Locais como parte integrante da organização democrática do Estado, definindo-as dando-lhe também, a capacidade de fixar as suas como “(…) pessoas coletivas territoriais dotadas de órgãos atribuições e competências. Estamos perante um representativos, que visam a prossecução de interesses próprios sistema predominantemente presidencialista5, das populações respetivas”. 4 O art. 8º atribuía aos Municípios a responsabilidade de realização sendo Portugal, possivelmente o único da Europa, em investimentos em diferentes domínios, nomeadamente: onde todos os membros do executivo municipal são equipamento rural e urbano; saneamento básico; energia; transportes e comunicações; saúde; educação e ensino; cultura; eleitos diretamente. tempos livres e recreio. Posteriormente, a publicação da Lei n.º O Presidente assumiu-se, assim, como a figura 100/84, de 29 de março, alargou as atribuições e competências chave do Município, o que “muitas vezes, e na gene- das câmaras municipais em diversos domínios. 5 Sistema predominantemente presidencialista, caracterizado ralidade dos casos, faz com que a câmara municipal pela fraca confluência de elemento do modelo parlamentar no seu conjunto seja identificada à figura, às ações e (responsabilidade mitigada do executivo face à assembleia, sem possibilidade de destituição) a par de elementos típicos do às iniciativas do seu Presidente” (Oliveira, 1995). modelo presidencial (eleição direta de todo o executivo e forte Desde então, e paralelamente, com a importante predomínio do seu presidente na direção política e administrativa participação da Associação Nacional de Municípios do município). 6 De entre estes destacam-se a Lei n.º 159/99, de 14 de setembro Portugueses (ANMP), ocorreu a publicação de um (Lei Quadro para a Transferência de Novas Responsabilidades para conjunto de diplomas estruturantes para o Poder os Municípios), e a Lei n.º 169/99, de 18 de setembro, que define o regime jurídico relativo ao funcionamento e competência dos Local, relevantes contributos jurídicos para reforço órgãos municipais e das Freguesias. da sua autonomia6. 178 RT&D | N.º 16 | 2011 | LOURENÇO

Várias foram as alterações que este novo natural que lhe é circundante, moldando-se deste quadro normativo introduziu em relação ao anterior modo a especificidade cultural e económica de um (Decreto-Lei n.º 100/84), das quais salientamos o determinado local. reforço dos poderes autárquicos na linha de novas Embora genérica, esta premissa assume atribuições e das funções do Presidente da Câmara uma expressão particularmente visível numa vila (reforça uma vez mais o “presidencialismo”, a que como a Golegã. As suas tradições produtivas, Oliveira (1995) já se referia)7. de subsistência como de prosperidade, radicam Em maio de 2003, foram publicadas as Leis no secular aproveitamento das oportunidades n.º 10/2003 e n.º 11/2003, que regulam a criação das oferecidas por uma paisagem onde a lezíria e os rios áreas Metropolitanas e das Comunidades Urbanas, (Tejo e ) se destacam enquanto elementos passando estas a deter alguma intervenção nas áreas de primordial grandeza. A fisiografia modela a do turismo, nomeadamente apoio ao turismo e à paisagem e a geografia humana. cultura, e apoiar à oferta turística no mercado interno. Para a estruturação do aglomerado populacional, Há uma tentativa da consolidação da tendência legis- desempenhou papel importante o surgimento de lativa atrás referida, embora na realidade tal não se vários assentos agrícolas (quintas), que souberam efetive em algumas Comunidades Intermunicipais. valorizar tanto os recursos naturais disponíveis na Concluindo, politicamente, é nas Autarquias Lo- região como a própria localização desta no mapa cais que se estrutura a prática da democracia local. nacional. Economicamente, reverte-se numa importância ainda maior, pois assume a prestação à comunidade de um significativo número de serviços, sendo responsável 7 A Lei n.º 159/99, de 4 de setembro, estabelece um quadro por diversos investimentos públicos, em especial de transferências de atribuições e competências, tal como a delimitação da intervenção das administrações locais e central, em equipamentos coletivos, e intervém em circuitos concretizando os princípios da descentralização administrativa e económicos fundamentais, nomeadamente abaste- da autonomia do Poder Local (art. 1º). No seu artigo 13º, como atribuições dos Municípios, encontram-se entre outras, educação, cimento público. Facilmente constatamos o elevado o património, cultura e ciência, tempos livres e desporto, ação número de competências próprias, os impactes aos social, promoção do desenvolvimento, cooperação externa, níveis social, económico e ambiental das autarquias considerando igualmente, e no âmbito deste artigo ser “da competência dos órgãos municipais, o planeamento, a gestão e a sobre as comunidades locais, bem como a importân- realização de investimentos públicos nos seguintes domínios: (…) cia que têm necessariamente de assumir na prosse- – b) Património Cultural, paisagístico e urbanístico do Município” (n.º 1, do art. 20º). No que concerne ao património, à cultura…, é cução de um desenvolvimento sustentável, do qual o referido na alínea m), do n.º 2, do art. 64º, que as câmaras devem: turismo pode ser um dos motores. O atual panorama “assegurar, em parceria ou não com outras entidades públicas de medida de política do XIX Governo Constitucional ou privadas, nos termos da lei, o levantamento, classificação, administração, manutenção, recuperação e divulgação do no que respeita aos municípios é favorável, apesar da património natural, cultural, paisagístico e urbanístico do crise, à afirmação autárquica em geral e ao fomento Município, incluindo a construção de monumentos de interesse municipal”. Estas responsabilidades e competências reforçadas do turismo, em particular. pela atual lei do património, que no seu n.º 3, do art.3º, refere: “O conhecimento, estudo, protecção valorização e divulgação do património cultural constituem um dever do Estado, das Regiões Autónomas e das Autarquias Locais”, implicam uma visão estratégica de gestão mais adequada. 4. O Caso da Golegã Por seu lado, na Lei n.º 169/99, entretanto alterada e republicada pela Lei 5-A/2002, existe um evidente reforço de novas competências para a Câmara Municipal, um pouco também na Os traços essenciais de uma comunidade sequência da evolução da sensibilidade da consciência coletiva resultam, como é sabido, em primeiro lugar, da para novas áreas da intervenção municipal, em matéria de segurança, no âmbito cultural e associativo, social, na saúde e interação entre o elemento humano e o meio educação e ainda no campo da cooperação externa. RT&D | N.º 16 | 2011 179

Hoje, o ex-líbris da Golegã, o Cavalo, é bem o reflexo da origem da vila, lembrando os longos séculos em que a circulação de pessoas e bens dependia em larga deste, sendo hoje, também bem visíveis no quotidiano da vila. Deste modo, o próprio meio geofísico onde a Golegã se integra representa parte substantiva da originalidade e da identidade cultural da vila e do Concelho. Inserido na margem direita do rio Tejo, está integrado, no âmbito territorial do PROT do Oeste e Vale do Tejo8, NUTS III na Lezíria do Tejo. O território Figura 1 | Auditório do Cine-Teatro , em ruinas (1998). do Oeste e Vale do Tejo faz parte da Região de Lisboa e Vale do Tejo, contudo para efeitos da componente regional do QREN integra as NUTS II Alentejo.

4.1. Contexto Territorial há uma década

Para entendermos as mudanças verificadas a nível local, importa conhecer o contexto territorial existente há cerca de uma década. A sede do Concelho lutava há vários anos pela inexistência de água potável9, o saneamento básico não servia toda a população e a rede viária estava degradada, sendo muitas das estradas de terra batida, incluindo na malha urbana da vila. Dotado de estruturas comunitárias deficientes e erodidas, apresentava igualmente um complexo escolar insuficiente e a necessitar de intervenção urgente. Em termos de património edificado, este carecia de reabilitação, estando algum em ruínas; Figura 2 | Igreja Matriz da Golegã (1998). os dois museus, existentes à época estavam em plena decadência, eram estáticos e necessitavam de urgente intervenção arquitetónica e museográfica. Concelho, eminentemente rural, conforme já abordado, exigia-se-lhe uma valorização dinâmica, uma reutilização dos bens patrimoniais, quer

8 Resolução de Conselho de Ministros n.º 30/2006, de 23 de março. 9 A água era abastecida nas ruas, através de cisternas camarárias e dos bombeiros. Aquando da conclusão da obra, a Autarquia celebrou com a população, distribuindo nessas mesmas cisternas, não água, mas sim água-pé! Foi o ato criativo relevante naquele contexto. Figura 3 | Campo de Ténis (1998). 180 RT&D | N.º 16 | 2011 | LOURENÇO

naturais, culturais, e rurais, enquadrada numa campos de ténis, piscinas municipais, pavilhão verdadeira reorganização do espaço, na perspetiva desportivo, Cine-Teatro Gil Vicente), concorrendo de o tornar, cada vez mais, pertença de toda a para uma maior qualidade daquelas estruturas comunidade. Havia que “redesenhar” um Concelho, e também, para a diversificação da oferta de com o qual a Comunidade se identificasse e no qual animação do espaço rural. Com um investimento os visitantes sentissem, inequivocamente, a tradição comparticipado por fundos comunitários e nacionais, aliada à modernidade. a participação em capital por parte da ANTE, da Foi, então, definida uma estratégia municipal de Câmara Municipal da Golegã e privados representou desenvolvimento e de ordenamento do território, um esforço da chamada sociedade civil. bem como, de valorização das atividades e valências A aposta no Centro Rural, permitiu, assim, territoriais do espaço onde se insere, capaz de exaltar e dignificar a ruralidade através da criação responder às necessidades da comunidade local e, de estruturas ligadas ao Cavalo e ao seu mundo em última análise, as de quem o visita. satélite, motivando que a restauração e a hotelaria, assim como, o comércio tenham crescido, sendo hoje em número significativo. 4.2. Estratégia Foram, igualmente, embora no âmbito de outros projetos, construídos e reabilitados os seguintes 4.2.1. Recuperação do Património e construção de equipamentos: novos equipamentos – construção de um Posto de Turismo; – reabilitação das zonas verdes e criação de A primeira medida do Presidente da Câmara foi novas; o denominado projeto “Centro Rural da Golegã” – reabilitação da zona de entrada (Azinhaga que teve o Cavalo e o mundo rural que o rodeia, – Golegã), junto à Alverca, sendo construído um como motivação de arranque, denominado de Pólo parque de merendas e quiosque de apoio; Dinamizador da Golegã, realizado no âmbito do – construção de piscina coberta, bibliotecas, PPDR. Realizado em parceria com a Associação courts de ténis e remodelação do Pavilhão Nacional de Turismo Equestre (ANTE), foi elaborado Inatel, na Azinhaga; um projeto de desenvolvimento que teve o Cavalo – construção do Complexo Equuspolis, constituído Lusitano como denominador comum. por Jardim da Juventude com 2ha e edifício O Projeto permitiu a criação de um moderno Equuspolis, que alberga o Museu Municipal conjunto de infraestruturas em torno do Arneiro Martins Correia, Equusvirtual, sala temática da Feira: picadeiro coberto “Lusitanus”; clínica sobre o Cavalo e diaporama sobre o Concelho a veterinária; ferrador; edifício sede da ANTE (r/chão) 3D, ateliers, espaço Internet; e quartos (1º andar); casa para tratador de cavalos; – reabilitação da Casa-Estúdio Carlos Relvas; boxes; vários espaços para albergar áreas de – construção de Centro Escolar; atividade ligadas ao mundo equestre (correeiro; – construção do Museu Rural. reabilitação de carros de cavalos, chapelaria, artesanato, remodelação do antigo secretariado da Constata-se a decisão política do Município Associação Feira Nacional do Cavalo, construção do conducente à estruturação territorial da oferta turística Picadeiro Municipal e boxes de apoio, onde também tendo por base o planeamento e ordenamento se encontra o picadeiro Lusitanus; remodelação e turístico dos recursos, das infraestruturas básicas e reabilitação de infraestruturas, onde se incluíram específicas de suporte ao turismo. RT&D | N.º 16 | 2011 181

Quadro 1 | Estruturação Territorial da Oferta Turística

Património Natural Eventos de Expressão Património Cultural e Paisagístico Turística Património Material Património Imaterial – Reserva Natural do –Feira Nacional do – Artístico – Artesanato e artes e ofícios Paul do Boquilobo - Cavalo - Feira de S. ���������� (Porta de Fernão Lourenço, tradicionais Reserva da Biosfera Martinho (1571) Monumento ao Cavalo Lusitano, Monumento (Cerâmica, Ferrador, Restauro pela UNESCO – ExpoÉgua (1998) à Escola de Toureiro Mestre Patrício Cecílio, Móveis, Embolador, Correeiro, – Rios Tejo e Almonda – Mostra de Monumento ao Azeite, Monumento à Água, Construção de Barcos - – Lagoa da Alverca Gastronomia Monumento ao Toureiro Manuel Barreto, Avieiros). Ribatejana (1999) Barriga de Semente - Cruz da Vida, – Folclore e Tradições – Salão do Vinho, do A Investida, Monumento aos Templários, Populares Vinagre e do Azeite Tributo aos Avieiros, Tributo ao Ferrador (Ranchos Folclóricos e (2007) e o Monumento ao Campino) Etnográfico). – Atrelagem ���������������������� - 12.000 espécies – Festas e Romarias Internacional de fotográficas em vidro + 2.000 positivos papel. (Festa do Bodo, Romaria de Tradição de outono – Rural S. Martinho, S. Pedro, St.º (2008) ������� (Quinta da Broa, Solar dos Serrões, António, S. João e Nossa – Atividades Desportivas Casa da Azinhaga, Quinta de Santa Inês, Senhora da Guia). (PENTATLO, Taça Quinta da Melhorada, Quinta da Cholda, – Gastronomia Ribatejo em Natação) Quinta de Miranda, Quinta do Salvador, (Peixes do rio, sopa de Quinta de Santo António, Quinta Guadalupe, cagarrinhas, toureiro, etc.). Quinta dos Álamos e a Quinta da Labruja). – Avieiros ������ – Arquitetónico ����������������� (Igreja de N.ª Senhora da Conceição - Matriz da Golegã, séc. XV-XVI, Igreja da Misericórdia (séc. XVI), Capela de S. João, Capela de St.º António, Igreja Matriz, Igreja da Misericórdia (séc. XVI), Capela de S. José, Capela Nossa Senhora da Piedade (séc. XVII), Capela S. João da Ventosa (séc. XVI), Capela da Brôa (XIX, Particular), Capela de S. Sebastião (séc. XVI, ruínas, parcialmente reconstruída), Capela Espírito Santo. No lugar de S. Caetano - Quinta da Cardiga e Capela de S. Caetano) �������������������������� Condições necessárias Infraestruturas Básicas Equipamentos Culturais Elementos Inst. e Legislativos Infraestruturas Específicas – Saneamento Básico a 100% – Cine-Teatro Gil Vicente – Ordenamento do Território – Alojamento: – Energia – Casa-Estúdio Carlos Relvas (PDM e PROT-OVT) - Hotel Lusitano (Hotel 4* – Água Potável – Museu Municipal Martins – Rede Institucional Charme da Europa) – Resíduos Correia – Marketing e Promoção - Apartamentos Cavalo Branco – Acessibilidades – Museu Rural - Páteo Agrícola Turística - Parque Municipal de Campismo – Equipamentos de Saúde – Biblioteca Municipal da – Marca “Capital do Cavalo” - Turismo de Habitação (Casa da – CTT Azinhaga TiTi e Casa da Azinhaga) – Bombeiros – Biblioteca Municipal da - Alojamento Local (Pátio das – Educação Golegã Vendas, Quartos do Lagar, Pátio – Futuro Museu da Máquina de dos Singéis e Felícios) Escrever – Restaurantes (Restaurante Capriola, Lusitanus, Central, Barrigas, Pátio do Burgo, Pátio Sevilhano, Casaca) – Posto de Turismo Fonte: Elaboração própria.

Paralelamente foi revisto o apoio dado à dinâ- tamente com outras entidades, reconverteu, criou e mica associativa, tendo sido criadas condições, quer desenvolveu novos certames de expressão turística económicas quer logísticas, para o desenvolvimento e que aportaram ao concelho milhares de visitantes de novas atividades. A Câmara Municipal, conjun- e turistas. 182 RT&D | N.º 16 | 2011 | LOURENÇO

4.2.2. Preservação do Ambiente pela aceleração da globalização quer pelos novos paradigmas de competição, atores sociais, políticos, A tomada de consciência do valor do meio económicos e académicos, tendem cada vez mais, ambiente e da importância do turismo para a sua a assumir e a interpretar sob uma perspetiva manutenção e melhoramento, estimularam as multidisciplinar, as questões relacionadas com a autoridades locais e a própria população, ajudando gestão do território e consequente sustentabilidade a justificar e a financiar a conservação de áreas e competitividade. naturais e do próprio património, contribuindo para Sabemos, no entanto, que esta gestão e pro- melhorar a qualidade da água, da poluição sonora, moção dependem, na sua maioria, do Presidente dos problemas do lixo, uma vez que os turistas da Câmara, quer pelas competências que são con- desejam visitar lugares atrativos, limpos e não feridas por lei, quer pelo seu gosto (bom ou não) e, contaminados. A Golegã viu, assim, o seu trabalho essencialmente, pelo seu estilo de liderança. No caso “premiado” granjeando, entretanto, vários títulos específico da Golegã, o marketing territorial definido e louvores, tais como: o Concelho Verde “Melhor pelo Presidente assumiu o papel de promoção do Desempenho Ambiental”, pela Fórum Ambiente desenvolvimento sustentável do território, tentando (2001); Concelho, entre os primeiros dez de Portugal, cumulativamente, melhorar o ambiente, a qualidade com “Melhor Qualidade de Vida”, pelo Instituto de de vida, definindo uma gestão coerente dos recursos Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (2004); o materiais e imateriais. Localmente e aliado a todos “Óscar do Imobiliário da Região do Ribatejo”, pela estes objetivos verifica-se, sem dúvida, o desejo de Nersant/O Mirante (2004) e o Galardão Eco XXI10, mais notoriedade territorial autárquica, exercício Associação Bandeira Azul da Europa (2006, 2008, de poder a que obriga a própria competitividade 2009). Atesta-se, assim, o preconizado por Figueira regional. (2007: 18): “A criação da imagem e substância No Município da Golegã, a mudança do elenco do destino turístico implica tarefas em cadeia cujo autárquico, em 1998, permitiu introduzir uma sucesso depende, muito significativamente, do estratégia de marketing territorial, inexistente até grau de consciencialização pública. Esta reflecte-se, então, associada à sua festa mais significativa com naturalmente, nos padrões de qualidade de vivência destaque para o lugar especial do Cavalo e da sua local, na arrumação urbana e rural, no aspecto e ligação à ancestralidade deste território e à sua cuidado com o ambiente natural e artificial e estética lenda de São Martinho. O turismo, ao apropriar deles, decorrente, na visão que transparece ao turista esta herança cultural, revigorou-a e deu-lhe sentido sobre o significado e como se desenvolveram as de modernidade, havendo, no caso da Golegã, a práticas sociais locais”. procura de posicionamento estratégico importante no contexto da competitividade entre destinos associados ao Cavalo. 4.2.3. Exaltação da Identidade Cultural Esta Feira, uma das mais antigas do país, conta com mais de 430 anos de história, continuando a) Marketing Territorial a ser o palco de todo o tipo de encontros, numa A gestão e a promoção do território constituem festividade onde a água-pé faz esbater os limites e desde sempre um dos principais focos da organização social e política, essencialmente pela 10 O Concelho obteve na última candidatura 2,4 pontos em sua influência no modo de vida e pelo seu impacte 3 pontos possíveis. No que concerne ao Turismo Sustentável, são avaliados vários itens, tais como: inquérito de satisfação no desenvolvimento económico. Neste contexto, dos visitantes, projetos de recuperação do património para fins e face aos crescentes desafios impostos, quer turísticos, entre outros. RT&D | N.º 16 | 2011 183

exceder as regras de outros dias. Essa celebração, permitindo a todos o acesso a um desporto por vezes simultaneamente nobre e popular, apadrinhada por considerado de elite. S. Martinho e perfumada pela castanha da época é A expressão mais eloquente da importância também um centro de comércio especializado, onde da Golegã está, de facto, na história do Cavalo tradicionalmente o gado cavalar sempre teve um Lusitano e do Touro, na sua grande tradição da destaque muito particular, co-habitando de forma criação cavalar e nos seus férteis campos, bem natural com a história da vila. Contudo, longe de como na representatividade que a Escola de Toureio se limitar ao grande evento anual, a importância do Mestre Patrício Cecílio11 assumiu ao formar toureiros gado equino há muito que se enraizou na tradição que vieram a ser referências a nível nacional e da vila, assumindo-se como um fator permanente internacional, figuras célebres, algumas delas de desenvolvimento do Concelho e do próprio nascidas nesta vila ou ali fazendo vida e que merecem setor a nível nacional. O propósito político dos destaque, tais como: Manuel dos Santos, António dos governantes locais ao elevarem a vila a “Capital do Santos e Ricardo Chibanga, entre outros. Cavalo”, conceito que surge com a nova liderança A nível comercial, o “renascer” do Cavalo, sendo autárquica em 1998, é o ponto de partida para uma agora um elemento sempre presente e imagem nova estratégia municipal. Na realidade, a Golegã, de marca do Concelho, a par com a reconversão desde sempre, conhecida pela sua Feira Nacional arquitetónica, permitiu a revitalização do comércio do Cavalo – Feira de S. Martinho, viu ao longo dos já existente e o aparecimento de novas iniciativas últimos anos, o seu nome verdadeiramente projetado empresariais e comerciais. Nos últimos anos, o tecido além-fronteiras e implementado a nível nacional. empresarial tem crescido, bem patente nas ruas da Resultado dum esforço permanente da Presidência, vila, onde o ícone “Cavalinho em Ferro”12 sustenta este produto, imagem de marca do Concelho, um pergaminho com o nome do estabelecimento. estava subvalorizado e como acontecimento anual, Em termos de museografia é uma componente desvanecia-se ao longo do ano, tendo sido necessário relevante da estética urbana. torná-lo uma vantagem competitiva, promovendo- A maioria do novo comércio está instalada em o junto do mercado alvo, bem como junto da edifícios novos ou requalificados, sendo esta também população. uma das grandes mudanças verificada na malha A exaltação da identidade goleganense e urbana. Constata-se, igualmente, que a construção, azinhaguense foi feita entre outras estratégias nos últimos anos, de novos edifícios cresceu, os pontuais inseridas na visão política global, pela valores imobiliários aumentaram consideravelmente, criação de referências plásticas e uso de monumentos havendo situações em que decuplicaram e parcelas que contam a sua história, numa perspetiva de ínfimas de horta que hoje se encontrarem dentro dos definição de uma paisagem cultural específica e espaços urbanizáveis definidos, em PDM, poderão pragmaticamente orientada. revelar-se muito rentáveis. Tem-se verificado, É de ressalvar o facto de aos alunos do 1.º Ciclo também, uma procura crescente da aquisição de do Ensino Básico, ser proporcionada a Equitação, imóveis degradados para reabilitação, seguindo a enquanto Atividade de Enriquecimento Curricular, arquitetura existente, imposição também do PDM, em algumas das fachadas, o que dá uma nova imagem ao Concelho, possibilitando-lhe que impere 11 Entretanto extinta. 12 Regulamentado pela Autarquia, e que isenta de taxa de a sua rusticidade. A compra de segunda habitação, publicidade. Alguns dos estabelecimentos ostentam já nomes para uso, principalmente, aquando da Feira Nacional ligados à temática do Cavalo, como por exemplo, o Lusitanus (Restaurante), o Estribo (Churrasqueira), Lusitano (Hotel), Capriola do Cavalo, tornou-se recorrente, contribuindo (Restaurante). certamente para um caso atípico a nível nacional. 184 RT&D | N.º 16 | 2011 | LOURENÇO

Constatamos que, de facto, a Golegã está hoje Também os valores gastos com o associativismo mais harmoniosa, limpa e agradável, embelezada têm sofrido algumas oscilações, verificando-se, por talhas de barro com malvas de vários tons, por no entanto, que nos últimos dois anos os valores “Cavalinhos em Ferro” e até pela arborização das cresceram substancialmente, situando-se o aumento ruas. Elemento primordial do marketing territorial, a de 2008 para 2009 na ordem dos 53% e de 2009 sinalização, também não foi esquecida, não só a nível para 2010 na ordem dos 35,5%. de sinalização de trânsito, como a nível da sinalização Atesta-se, igualmente, uma primeira preocupação turística. O património está devidamente identificado com a recuperação do património e criação de novos e orientado, bem como a restauração, o alojamento, espaços, propiciando melhor qualidade de vida aos as rotas e saída de cavaleiros, etc. De facto, a criação Munícipes e numa segunda fase, uma preocupação de todas as infraestruturas ligadas ao Cavalo fomen- com o turismo, com quem visita o Concelho. tam o passeio, em circuitos próprios, com as ciclovias, pelas ruas de cavaleiros e amazonas, conferindo à Golegã, um espírito e um “modo” que a demarcam. Sem dúvida, como atesta Figueira (2007: 18), “em 13 O Projeto PEGASO, no âmbito do Interreg IIIB, e que terminou turismo e cultura, o detalhe, a singularidade, a dife- em 2007, foi um projeto europeu que tentou criar uma identidade própria, tendo o cavalo como charneira do processo de renciação, são valores extremamente importantes”. desenvolvimento sócio-cultural e económico, realizando diversas atividades com o objetivo de melhorar os níveis formativos, da b) Cooperação internacional gestão nas empresas dedicadas ao mundo do cavalo, em geral, e às que se dedicam ao turismo equestre em particular. Tinha No que concerne à cooperação internacional como parceiros o Instituto de Promoción y Desarrollo de la Ciudad foram criadas sinergias com diversos países ligados – Ayuntamiento de Jerez de la Frontera (Espanha), a Câmara 13 Municipal da Golegã (Portugal), o Serviço Nacional Coudélico ao Cavalo, quer através do Projeto PEGASO , (Portugal), o Ayuntamiento de Santander, a Mancomunidad quer através do EURO EQUUS – Rede Europeia de de Municípios del Bajo Guadalquivi, o Business Link Cheshire Cidades Ligadas ao Cavalo, criada em 200514. Neste & Warrington (Inglaterra) e o Regional Mid-West Authority (Irlanda). momento, a Golegã está geminada com: Cidade 14 Com países como Espanha – Jerez de La Frontera, Repúbica Velha – Cabo Verde15 e Águas de Lindoia – Brasil16. Checa – Pardubice e Bélgica – Waregem, tem, como fim a construção “de una identidad cultural, social, y económica europea, através de la cooperación entre diferentes territorios europeos vinculados con el sector ecuestre, promoviendo y facilitando desde las instituciones y administraciones públicas, en sus diferentes niveles, desde la local a la europea, las adaptaciones e iniciativas 5. Investimento realizado que sean necesarias para incrementar la competitividad de la industria ecuestre y, en cualquier caso, mantener y elevar el nivel de bienestar económico y social de las ciudades miembros” (art. No âmbito deste estudo verificou-se que tem 2º dos Estatutos Euro Equus). sido efetuado um investimento considerável, pela 15 Cidade Velha – Objetivos – “promoção do desenvolvimento de Autarquia, quer no turismo quer na cultura. No programas de intercâmbio cultural, turístico, social, informativo, desportivo e empresarial, para a difusão recíproca da cultura dos Plano Plurianual de Investimentos e nas Atividades dois povos e cooperação em programas de desenvolvimento de mais Relevantes, embora se constate que os valores ambos os municípios” (Protocolo de Geminação, junho 2010). Contactos motivados pela parceria CMG/CESPOGA. do turismo estão em crescendo comparando com 16 Águas de Lindoia – Objetivos – “A busca de fortalecimento os da cultura, podemos afirmar que a maioria dos dos laços de amizade entre os povos; a realização de acordos valores gastos em cultura foram-no em obras de bilaterais visando a troca de conhecimentos sobre as raízes étnicas, folclóricas, turísticas e outros programas que interessem às duas beneficiação e conservação de espaços culturais, cidades; a troca de informação e difusão em ambas as comunidades reabilitação da Casa-Estúdio Carlos Relvas, Museu de suas obras culturais, turísticas, desportivas, políticas e sociais; fomentar o intercâmbio estudantil, entre as escolas municipais; Rural, Biblioteca Municipal da Golegã e construção criação de programas e projetos de cooperação técnica” (Protocolo do Equuspolis. de Geminação, Lei n.º 2728 de 17 de agosto 2009). RT&D | N.º 16 | 2011 185

A Golegã desenvolve neste momento, vários – Foram eleitos pilares estratégicos para o cresci- projetos, como a Reabilitação e Ampliação do Parque mento e desenvolvimento: Municipal de Campismo, Ordenamento das Margens “(…) a dignificação do seu património natural, a do Rio Almonda e um de interesse regional e nacio- requalificação do seu património construído e a reinterpretação nal, dado que será sede do futuro Centro de Alto Ren- da tradição cultural, num respeito por uma herança viva, num culto dimento Desportivo – Desportos Equestres (Hypoos pela independência de hábitos e modismos passageiros e num Golegã). Pretende-se que estes projetos contribuam contrariar permanente de práticas aberrantes e desenquadradas, para a valorização das valências do território rural, que em nome de um falso progresso, poderiam violar a urbe e o mundo que a rodeia, marcadamente rurais. A esta base bem como para o cumprimento dos objetivos do piramidal (“filosofia subjacente”), em cujo vértice se colocou, PROT OVT para o turismo e o lazer na Região. deliberadamente, o Cavalo, quer como “cluster”, quer como O Concelho está dotado de sete equipamentos “pivot” das mais diversas manifestações e actividades, aditou-se- de alojamento de diferentes características, públicos e lhe uma programação com o objectivo de promover a simbiose privados, sendo de evidenciar que o número de dormi- entre os usos e os costumes, que concorreram ao longo dos das em todos os equipamentos hoteleiros tem vindo a tempos para definirem uma identidade muito específica e por isso diferenciadora, com a qualidade de vida própria dos finais do aumentar, o que denota uma maior procura turística. século XX e inícios do século XXI, a qual foi conseguida através da dotação do Concelho de infraestruturas e equipamentos sociais, culturais, lúdicos e desportivos, tendo estes últimos suplantado mesmo a média da União Europeia.” (Presidente da Câmara 6. Resultados obtidos: avaliação de boas Municipal da Golegã, 2010) práticas – Recursos (potencialidades) turísticos existentes Consideramos pertinente a abordagem sintética no Concelho: a alguns dos resultados obtidos quer através das “Essa ruralidade não deve ser vista como algo retrógrado, entrevistas, quer dos inquéritos, dos quais fazemos bem pelo contrário, é um dos elementos fundamentais da nossa uma elencagem sucinta. É de destacar a avaliação singular paisagem e um autêntico cartaz turístico. Basta olhar média de “satisfaz muito”, em termos de recursos para as casas com as fachadas alinhadas com as ruas (numa turísticos; a Golegã tem verificado ao longo dos atitude muito ribatejana de guardar para a esfera privada aquilo que realmente se é) e para as quintas opulentas onde, além dos últimos anos um aumento dos seus visitantes/ edifícios, podemos admirar os campos cultivados, os Cavalos turistas, sendo as palavras que melhor a definem: à solta, a magia do trabalho do campo.” (Fabiana Freire, Cavalos, Tradição, Beleza e Cultura. O alto nível Psicóloga, 2010) de enraizamento social que tradicionalmente a “A Golegã tem a sorte de ser um Concelho que tem enormes figura do Cavalo tem na comunidade local e que vultos a nível nacional. José Saramago, Carlos Relvas, Martins se mantém até aos nossos dias, e o facto de ser o Correia, Carlos Cacho, muitos outros… eu não digo que não se tenha feito nada no sentido de associar o nome da Golegã a recurso mais simbólico e rentável da atual conjuntura estes grandes nomes, mas se calhar não se fez tudo. E, há muita sociocultural e económica deste território, é, sem coisa que se pode fazer, para potencializar estes nomes que dúvida, de realçar. Como recurso polarizador é, por são património e que a Golegã tem o direito de associar ao seu inerência, um recurso-âncora que suscita outro tipo nome, que muitas vezes não está.” (António Matias, Assessor de agregações ao produto “Golegã”. Cultural, 2010) Das diversas entrevistas realizadas, cujos ob- “Nota-se perfeitamente que algumas coisas mudaram ultimamente na Golegã. Nós temos mais turismo, as pessoas jetivos, entre outros, eram obter a perceção da procuram mais, já vêm mesmo à procura da Golegã, do Cavalo, importância dos recursos existentes e qual o impacte e eu no sítio onde estou, muita gente me pede informações, do turismo na base económica local, destacamos funciono quase como um Posto de Turismo.” (Cesaltina Pereira, algumas afirmações: Artesã do Concelho, 2010) 186 RT&D | N.º 16 | 2011 | LOURENÇO

Como resultado do estudo realizado, considerá- 7. Conclusões mos pertinentes algumas recomendações técnicas: A identificação, a valorização dos recursos turísticos e a sua promoção adequada nos mercados Eixo 1 – Maximizar os recursos endógenos em sede geradores de fluxos turísticos, são os principais de planeamento estratégico sustentáculos de uma estratégia de afirmação – Rota do Cavalo e do Ribatejo; da atratividade turística da Golegã, uma vez que • Desenvolver de forma organizada e contextualizada, é detentora de diversos recursos portadores de entre os diversos agentes locais; • Criar uma estrutura de gestão e coordenação; um potencial expressivo de atração que importa – Feira Nacional do Cavalo é um evento de projeção nacional tornar mais visitáveis e fruíveis, de acordo com e internacional, merecedor de melhor atenção por parte das as exigências, cada vez mais prementes dos entidades competentes; consumidores turísticos, bem como tornar conhecidos – Reserva do Paul - implementação dos projetos definidos – permitir a visitação; e apetecidos junto dos potenciais turistas. De – Avieiros do Tejo constituem-se como um dos patrimónios que facto, a sua riqueza patrimonial, bem como um urge salvaguardar e divulgar; mundo rural extraordinário que possui, ao serem – Casa-Estúdio Carlos Relvas; • Estratégia de marketing mais incisiva e que permita convenientemente explorados, poderão constituir o seu conhecimento na vertente quer histórica quer uma forte potencialidade e consolidar, cada vez científica; mais, a marca “Capital do Cavalo”. • Protocolo com o IPT – CEFGA e IPT - Dep. Gestão A Golegã tem caminhado desde há uns anos Turística Cultural (ETNOFOTO); – Berço de individualidades conhecidas quer do mundo para uma “vila museu”, vila vivida em dois tempos literário, da ciência e da arte, como José Saramago, Joaquim não contraditórios: o tempo da evocação histórica Martins Correia, Manuel dos Santos, Carlos Relvas, José e o tempo real da modernidade. A museografia Relvas, entre outros, deve ser uma medida a potenciar. da paisagem17 foi instrumento desse caminho estratégico delineado através de rotundas temáticas Eixo 2 – Promover o Alojamento e a Animação e de diversos monumentos que contam a história – Apoio ao desenvolvimento de atividades de animação dum povo18. turística e à melhoria da coordenação do calendário de O “presidencialismo” foi, neste contexto de eventos, de forma a reter mais tempo os turistas; afirmação, um modelo que se tentou retratar. – Alojamento tem aqui um papel preponderante, podendo e devendo apostar em animação que permita ao visitante De facto, à pessoa do Presidente se deve a liderança pernoitar mais tempo e consequentemente visitar o e sensibilidade para a recuperação do património, a Concelho durante mais dias; construção de novos equipamentos e infraestruturas, – A população local deveria ser sensibilizada para a legalização dos quartos. o mediatismo e desenvolvimento da FNC e criação dos restantes certames, o embelezamento das ruas, a museografia da paisagem, enquanto evocação da Eixo 3 – Sensibilizar os Atores Locais

– Sensibilização dos atores locais, elucidação de que todos têm 17 Em abril de 2010, a ex-Ministra da Educação, Dr.ª Isabel Alçada, a ganhar com a divulgação dos recursos concelhios, criando por ocasião da inauguração do Centro Escolar de Azinhaga, plataformas de divulgação em cada um dos espaços. proferia as seguintes palavras: “Vê-se na Golegã e na Azinhaga como os edifícios estão restaurados, a vivência dos espaços exteriores, que são um exemplo para o nosso País (…) e é muito Eixo 4 – Qualificar os Recursos Humanos bonito ver com se alia a tradição, ao assumir a nossa história, as raízes do país e da nossa comunidade, à modernidade (…)”. – Formação na área do turismo, aliada à formação oferecida 18 Assumidamente que a “paisagem da ruralidade” (incluindo pelo CESPOGA, e à futura formação a disponibilizar pela pessoas/organizações/território), foi a visão que, provinda da fonte Escola Portuguesa de Equitação, na área temática do “presidencialista” – Dr. José Veiga Maltez – se constitui, hoje, cavalo. como matéria histórica efetiva. RT&D | N.º 16 | 2011 187

memória coletiva e convite ao turista para entrar e Figueira, L. M., 2007, Património, Identidade e Turismo Cultural: descobrir, enfim, o novo Concelho. Abordagem ao Caso da Golegã, Revista Superavit 01 – Revista de Gestão & Ideias, Instituto Politécnico de Tomar, De acordo com o Dr. Luís Patrão, Presidente do Tomar. Turismo de Portugal I.P., a “estratégia [da Golegã] Lei n.º 79/77, de 25 de outubro de 1977, Diário da República, parece-me bem desenhada e destinada ao merecido N.º 247, Série I, Assembleia da República. Lei n.º 1/79, de 02 de janeiro de 1979, Diário da República, N.º 1, sucesso, baseia-se no que considero fundamental Série I, Assembleia da República. em termos de desenvolvimento turístico: partir da Lei n.º 159/99, de 14 de setembro 1999, Diário da República, base instalada, do que existe e está disponível, N.º 215, Série I-A, Assembleia da República. Lei n.º 169/99, de 18 de setembro de 1999, Diário da República, para o valorizar e promover, criando eventos que N.º 219, Série I-A, Assembleia da República. representem uma oportunidade para concretizar Lei n.º 10/2003, de 13 de maio de 2003, Diário da República, essa proposta de visita e de conhecimento e para N.º 110, Série I, Assembleia da República. criar, no visitante, essa experiência emocional que Lei n.º 11/2003, de 13 de maio de 2003, Diário da República, N.º 110, Série I, Assembleia da República. torna inesquecíveis muitas das viagens que fazemos Lei n.º 2728, de 17 de agosto 2009, Protocolo de Geminação, durante a vida” (maio de 2010). Prefeitura Municipal da Estância de Águas de Lindóia. Como se observa, no caso da Golegã, as boas Lourenço, E., 2011, Autarquias e Turismo - Estratégias e programação para a geração de dinâmicas de desenvolvimento práticas, a inovação e o planeamento turísticos, local: o caso da Golegã, Dissertação de Mestrado, Instituto congregam-se no sentido de proporcionar experiên- Politécnico de Tomar, Tomar. cias marcantes. Oliveira, C., 1995, A República e os municípios, in Oliveira, C. (Dir.), História dos municípios e do poder local, Círculo de Leitores, Lisboa. Oliveira, P. M., 2005, A feira da Golegã. Das origens à actualidade. Bibliografia Subsídios para a sua história, Câmara Municipal e Associação Feira Nacional do Cavalo, Golegã. ANMP, 2004, XIV Congresso da Associação Nacional de Municípios Oliveira, P. M., 2006, A Golegã nos últimos 250 anos. Subsídios Portugueses, Funchal, 3 de abril de 2004, Tema sectorial para a sua história, Câmara Municipal, Golegã. - turismo e poder local, [www.anmp.pt/anmp/age/cong/14/ Reis, A. M., 1991, Origem dos Municípios Portugueses, Livros rel05.pdf], (Site acedido em 15 de agosto de 2010). Horizonte, Lisboa. ANMP, 2009, XVIII Congresso da Associação Nacional de Reis, M., 1993, Pós-latifundismo e Desenvolvimento Local, Municípios Portugueses, Viseu, 4 e 5 de dezembro 2009. Sociologia – Problemas e Práticas, N.º 13, pp.75-92. Bilhim, J., 2004, A Governação nas Autarquias Locais, Sociedade Resolução do Conselho de Ministros n.º 124/2005, de 4 de agosto Portuguesa de Inovação, S.A., Porto. Câmara Municipal da Golegã, 2010, Protocolo de Geminação de 2005, Diário da República, N.º 149, Série I – B, Presidência entre Golegã e Cidade Velha. do Conselho de Ministros. CCDRLVT, 2009, PROT OVT – Plano Regional Ordenamento do Resolução de Conselho de Ministros n.º 30/2006, de 23 de março Território do Oeste e Vale do Tejo, Comissão de Coordenação de 2006, Diário da República, N.º 59, Série I, Presidência do e Desenvolvimento Regional Lisboa e Vale do Tejo, Lisboa, Conselho de Ministros. [http://www.ccdr-lvt.pt/1267/prot.htm], (Site acedido em 15 Resolução do Conselho de Ministros n.º 39/2006, de 21 de abril de agosto de 2010). de 2006, Diário da República, N.º 79, Série I, Presidência do CCDRLVT, Potencialidades e Oportunidades da “Fileira Cavalo” no Conselho de Ministros. Vale do Tejo – Síntese e Orientações de Actuação, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional Lisboa e Vale do Tejo, Lisboa. Endereços eletrónicos Decreto-Lei n.º 701-B/76, de 29 de setembro de 1976, Ministério da Administração Interna. Câmara Municipal de Golegã, www.cm-golega.pt. Decreto-Lei n.º 77/84, de 8 de março de 1984, Diário da República, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional Lisboa e N.º 57, Série I, Presidência do Conselho de Ministros e Ministério da Administração Interna. Vale do Tejo, www.ccdr-lvt.pt. Decreto-Lei n.º 100/84, de 29 de março de 1984, Diário da Instituto do Emprego e Formação Profissional, www.iefp.pt. República, N.º 75, Série I, Presidência do Conselho de Instituto Nacional da Propriedade Industrial, www.inpi.pt. Ministros e Ministério da Administração Interna. Instituto Nacional de Estatística, www.ine.pt. Estatutos Euro Equus, 2004, Estatutos de la red europea de ciuda- Turismo de Portugal, www.turismodeportugal.pt. des del caballo Euro Equus, Câmara Municipal da Golegã. World Tourism Organization, www.unwto.org/en.