Revista Montepio Inverno 2017 Trimestral €1 podem abrir-lhe portas Saiba quaissãoasque no mercado detrabalho. passou aserumavantagem Aprender umanova língua LÍNGUAS APRENDER COMO AGERAÇÃO MAISQUALIFICADA DESEMPRE ESTÁ ACOLOCAR OSPRODUTOS, KNOW HOW ETECNOLOGIALUSOS AO SERVIÇO DECIDADÃOS DETODOOMUNDO.

PORTUGAL SEMPORTUGAL LIMITES

vertigem dacidade o conforto docampopela que trocam, todos osanos, de milhares deportugueses Como secontam ashistórias PARA A CIDADE DO CAMPO UM CÓDIGOGENÉTICOCOM MAISDE500ANOS GLOBALIZAÇÃO e mental no topo dasuaforma física passar ospróximosmeses simples eemconta para Um guiacom conselhos EM FORMA PRIMAVERA

23 número série ii

M a p a d a m ú s ic 90 A a g p 06 e o nd r G a tu lo a g c tm u a At o e l ivi sfe s dad ra a es 88 A m da ge As nd soc a iaç 86 D ão esco para nto asso s ciado 84 C s ultura Q uando o talento n os bate à porta

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!0 Tema de fundo O músico Carlos Bica é um dos portugueses que está a transformar a forma como o mundo vê

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fcar em forma b o P a COLABORADORES Participe na próxima edição PÁG. Nesta edição... desta revista 10 Observatório Carlos Caldas Sara Rodrigues Dengaz ^ GEOPOLÍTICA Cientista de Sousa Músico Dez anos depois da crise Docente do subprime, o mundo não Saiu de Portugal Nos dias 17 e 18 mais voltou a ser o mesmo. em 1988 e lidera Doutora em de março deu Como serão os próximos dez hoje um grupo Estudos de dois concertos anos na economia, política, de investigação Literatura inesquecíveis no ambiente e sociedade? PÁG. ligado à oncologia e Cultura Coliseu do Porto 24 na Universidade e professora e no Coliseu dos Reportagem ^ SOCIEDADE de Cambridge, na Universidade Recreios, em “Muda de Vida”, escreveu no Reino Unido. Europeia, Lisboa, apoiados António Variações e A imagem considera que pela Associação cantaram os Humanos. dos portugueses "o contacto com Mutualista Fomos conhecer as histórias na área da novas línguas Montepio. de quem seguiu este ciência, diz, constitui um Dengaz, de conselho e, em certos casos, é muito boa. forte estímulo seu nome Luís mudou radicalmente de vida. PÁG. 36 "São considerados intelectual com Mendes, é um jovens bem repercussão homem de Reportagem ^ CULTURA treinados noutras áreas de família que conta Portugal dedicou aos e com uma aprendizagem e no nas letras da poetas o seu dia nacional, alta qualidade desenvolvimento sua música as homenageando Luís de intelectual", de outras histórias de vida Camões. Será que ainda explica. competências". que o rodeiam. somos um país de poetas?

propriedade p r o d u ç ã o e a r t e f i n a l Montepio Geral – Associação Ana Miranda, Pedro Pinguinha Mutualista, Rua do Ouro, 219-241 e Ricardo Calmão ESTATUTO EDITORIAL 1100-062 Lisboa A Revista Montepio é a publicação Tel. 213 249 540 colaborações Adriano Moreira, António José que faz a ligação entre o Montepio NIPC: 500 766 681 série ii Pereira da Costa, Baptista-Bastos, Geral - Associação Mutualista # d i r e t o r 23 Carla Jesus, Elsa Garcia, Francisco e os seus associados. António Tomás Correia INVERNO 2017 Moita Flores, Helena Viegas, Maria d i r e t o r - a d j u n t o Conheça o seu estatuto editorial em Pereira, Rita Vaz da Silva, Susana Rita Pinho Branco https://www.montepio.org/ coordenação Lima, Susana Torrão (texto), Artur, Direção de Comunicação, Leonardo Finotti, Vasco Célio vantagens-montepio/ Marketing e Canais (fotografia), Natasha Hellegouarch, publicacoes/revista-montepio/ Vera Mota (ilustração)

publicidade Sónia Vigário (919 328 661) Tel. 213 804 010 | Fax 213 804 011 e d i t o r Aceite o desafo, participe Plot - Content Agency i m p r e s s ã o Av. Conselheiro Fernando de Sousa, LiderGraf Sustainable Printing na próxima edição e 19, 6º, 1070-072 Lisboa Rua do Galhano, 15 (E N 13), Árvore envie-nos as suas sugestões Tel. 213 804 010 4480-089 Vila do Conde d i r e t o r d e p r o j e t o e comentários para Mauro Duarte Sousa | Revista trimestral | Depósito Legal nº 5673/84 d i r e t o r e d i t o r i a l [email protected] Nuno Alexandre Silva | Publicação periódica | e d i t o r c h e f e registada sob o nº 120133 ou, se preferir, para Carlos Martinho Revista Montepio, e d i t o r e x e c u t i v o t i r a g e m Certificado PEFC Miguel Ferreira da Silva 474 850 exemplares Este produto tem Direção de Comunicação, d i r e t o r a d e a r t e origem em florestas com gestão florestal Inês Reis O Montepio é alheio ao conteúdo da Marketing e Canais sustentável e fontes d e s i g n controladas Mariana Camacho, Pedro Dias, publicidade externa. A sua exatidão e/ou Rua do Carmo, 42, 9.°, PEFC/13-31-011 www.pefc.org Rita Barata Feyo, Sérgio Veterano, veracidade é da responsabilidade exclusiva Sónia Garcia dos anunciantes e empresas publicitárias. Esta revista foi redigida ao abrigo do novo Acordo Ortográfico Acordo ao abrigo do novo foi redigida revista Esta 1200 - 094 Lisboa

REVISTA MONTEPIO EDITORIAL

Cidadãos do mundo

“Da minha língua vê-se o mar”, escreveu Vergílio Ferreira. Ele que unida. Uma instituição que aos seus associados nasceu no inverno serrano, longe do oceano, mas que viu os pais tudo deve, e a eles tudo dá. emigrarem, no início do século xx, para o Canadá. E escreveu Seja a ajudar a derrubar os muros da dis- sobre essa separação, quiçá a origem de todo o existencialismo que tância ou a promover a língua portuguesa, o consumiu. a Associação Mutualista Montepio acompa- Ser português é isto. É lutar, encontrar sempre uma solução nha os seus associados há mais de 176 anos. para enfrentar as dificuldades. É viajar, descobrir novos horizon- Uma ligação para a vida. tes e contribuir para uma sociedade mais forte nos países de aco- lhimento. É ser cidadão do mundo, sem pôr em causa a ligação cultural à sua casa. É pertencer a uma grande comunidade, a ela dar e dela receber. Ser português A edição 23 da revista Montepio é sobre Portugal e os portu- gueses. Da sua união que, na verdade, é um orgulho. O orgulho de é isto. pertencer a uma comunidade que preza o que é seu. Que respeita É lutar, encontrar sempre os seus símbolos, a sua história. Que inventa o futuro, tantas vezes uma solução para enfrentar as difculdades. É viajar, debaixo de dificuldades quase inultrapassáveis. Uma comunidade descobrir novos horizontes que não esquece a sua língua. e contribuir para uma União. Portugalidade. Proteção mútua. Estes são também valo- sociedade mais forte nos res da sua Associação Mutualista Montepio. Somos uma família países de acolhimento.

REVISTA MONTEPIO GLOCAL A MÚSICA PORTUGUESA É HOJE UMA MISTURA DE VÁRIAS CULTURAS. Parceria musical Inspiração TRADICIONAIS E INTERNACIONAIS. ESTE MAPA PROCURA MOSTRAR Músicos que integram projecto musical AS ORIGENS E INFLUÊNCIAS QUE, AO LONGO DOS ÚLTIMOS 50 ANOS, A MÚSICA PORTUGUESA ABRAÇOU. É ESTA REDE DE INSPIRAÇÃO QUE Músico/Banda cujo trabalho já foi apoiado pela AMM NOS AJUDA A PERCEBER, TAMBÉM, A DELICADA TEXTURA QUE REVESTE OS NOVOS ARTISTAS PORTUGUESES. AS SUAS INSPIRAÇÕES E CAMINHOS

Dead Combo

Carlos Paredes Amália Amália Hoje The Gift

Paulo de Diabo na Cruz Carvalho Sétima Legião Rodrigo Leão GNR Amor Electro Mariza Jorge Fernando Ana Moura

Gisela João

Madredeus Heróis do Mar MAIOR INFLUÊNCIA INTERNACIONAL Carlos do Expensive Soul Ary dos Santos Da Weasel Carmo António Chainho Deolinda António Variações Buraka Som Sérgio Sistema

Fernando Tordo Ricardo Ribeiro Godinho Humanos Sam The Kid

Fábia Rebordão

Orelha Negra Carminho Linda Martini Camané Ornatos Violeta Rui Massena

MAIOR LIGAÇÃO À MÚSICA TRADICIONAL David Fonseca Clã Trovante Júlio Pereira Jorge Palma

Fausto José Mário Branco José Cid Capitão Fausto José Rui Afonso Vitorino Xutos & Ala dos Namorados Veloso Pontapés

Agir

REVISTA MONTEPIO GLOCAL A MÚSICA PORTUGUESA É HOJE UMA MISTURA DE VÁRIAS CULTURAS. Parceria musical Inspiração TRADICIONAIS E INTERNACIONAIS. ESTE MAPA PROCURA MOSTRAR Músicos que integram projecto musical AS ORIGENS E INFLUÊNCIAS QUE, AO LONGO DOS ÚLTIMOS 50 ANOS, A MÚSICA PORTUGUESA ABRAÇOU. É ESTA REDE DE INSPIRAÇÃO QUE Músico/Banda cujo trabalho já foi apoiado pela AMM NOS AJUDA A PERCEBER, TAMBÉM, A DELICADA TEXTURA QUE REVESTE OS NOVOS ARTISTAS PORTUGUESES. AS SUAS INSPIRAÇÕES E CAMINHOS

Dead Combo

Carlos Paredes Amália Amália Hoje The Gift

Paulo de Diabo na Cruz Carvalho Sétima Legião Rodrigo Leão GNR Amor Electro Mariza Jorge Fernando Ana Moura

Gisela João

Madredeus Heróis do Mar MAIOR INFLUÊNCIA INTERNACIONAL Carlos do Expensive Soul Ary dos Santos Da Weasel Carmo António Chainho Deolinda António Variações Buraka Som Sérgio Sistema

Fernando Tordo Ricardo Ribeiro Godinho Humanos Sam The Kid

Fábia Rebordão

Orelha Negra Carminho Linda Martini Camané Ornatos Violeta Rui Massena

MAIOR LIGAÇÃO À MÚSICA TRADICIONAL David Fonseca Clã Trovante Júlio Pereira Jorge Palma

Fausto José Mário Branco José Cid Capitão Fausto José Rui Afonso Vitorino Xutos & Ala dos Namorados Veloso Pontapés

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REVISTA MONTEPIO PUB O MEU MUNDO TENDÊNCIAS NA ECONOMIA, SOCIEDADE, VIDA E CULTURA

página 10 página 18 página 30 página 36 TEMA DE FUNDO INOVAÇÃO REPORTAGEM PERFIL Há cinco milhões de A Associação Mutualista São jovens, empreendedores Depois dos espetáculos em portugueses pelo mundo. Montepio apresenta-lhe e as suas ideias podem Lisboa e no Porto, apoiados Hoje, a geração lusa mais um novo site e app. Conheça valer milhões. Estas são as pela Associação Mutualista, qualificada da história está novas formas de viver empresas que colocam a Dengaz abre o livro e a transformar a imagem de a sua Associação, cada tecnologia e o saber fazer mostra como a vida Portugal além fronteiras vez mais próxima de si português no mercado global imita a sua arte 1 o meu mundo TEMA DE FUNDO

SOCIEDADE POR MARES CADA VEZ 10 MAIS NAVEGADOS HÁ CINCO MILHÕES DE PORTUGUESES E LUSO-DESCENDENTES NA DIÁSPORA E O NÚMERO PROMETE AUMENTAR NAS PRÓXIMAS DÉCADAS. A CADA ANO SAEM DO PAÍS MAIS DE 100 MIL PESSOAS À PROCURA DE NOVAS OPORTUNIDADES. A MAIORIA SÃO JOVENS E, ENTRE ELES, HÁ CADA VEZ MAIS PROFISSIONAIS ALTAMENTE QUALIFICADOS. MAS NEM TUDO SÃO MÁS NOTÍCIAS: ESTES NOVOS EMIGRANTES MOVEM-SE NUM MUNDO CADA VEZ MAIS GLOBAL E ESTÃO A AJUDAR A TRANSFORMAR A IMAGEM DE PORTUGAL NO MUNDO

por helena viegas

REVISTA MONTEPIO 2014 EM NÚMEROS Emigração 134 624 PESSOAS SAÍRAM DO PAÍS

-36 000 SALDO MIGRATÓRIO NEGATIVO Portugal perdeu mais pessoas do que acolheu.

1,9% DO PRODUTO INTERNO BRUTO DO PAÍS 11 As remessas de emigrantes ultrapassaram os 3 mil milhões de euros.

2,3 MILHÕES DE EMIGRANTES PORTUGUESES NO MUNDO Um número que se aproxima dos 5 milhões, quando contabilizados os seus descendentes diretos.

Respondeu ao anúncio por curiosida- de, mas as condições com que se depa- rou na entrevista de emprego que lhe foi feita no Vienna Biocenter, na capi- tal austríaca, revelaram-se demasiado tentadoras. Foi em 2012. Inês Crisós- tomo, bióloga com um doutoramento realizado nos Estados Unidos, tinha 35 anos e estava há seis anos a trabalhar na área da gestão de ciência, no Institu- to de Medicina Molecular e no Institu- to Gulbenkian de Ciência, em Lisboa. Em Viena pediam-lhe que coordenas- se os programas de formação avança- da, nomeadamente o doutoramento, ocupando uma posição semelhante à que tinha em Portugal, mas com con- dições muito superiores. Casada, com dois filhos, partiram os quatro.

REVISTA MONTEPIO 1 o meu mundo TEMA DE FUNDO portugueses no mundo

Nesse ano deixaram Portugal mais 120 mil pessoas, de acordo com o Ins- tituto Nacional de Estatística – um número muito elevado, próximo dos valores registados nos últimos anos do Estado Novo, quando a emigração atingiu o seu máximo, com mais de 180 mil saídas em 1970. Era o regres- so de uma realidade a que Portugal 12 se desabituara nos anos 80 e 90, tan- to mais preocupante quanto se perce- bia que, entre estes novos emigrantes, a maioria era jovem e muitos altamen- te qualificados, como Inês. A “fuga de cérebros” e as questões da “nova - gração” passaram a estar na ordem do dia – e a ligeira descida da emigra- ANÁLISE ção verificada no ano passado ainda não permite certezas. Mas esta é uma O boom dos anos 60 e 70 questão que é preciso contextualizar. Na última década do Estado Novo, a emigração clandestina disparou. “O grosso da nossa emigração con- Os registos de entrada dos portugueses nos países de acolhimento permitiram tinua a ser pouco escolarizada”, alerta a correção das estatísticas oficiais. José Carlos Marques, investigador do CISC.NOVA – Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade 55 218 35 159 94 712 91 488 75 576 38 572 96 227 96 227 43 002 111 995

Nova de Lisboa. “O que aconteceu foi 115 545 158 473 158 473 155 672 155 672 129 732 183 205 que, nos últimos anos, o desemprego atingiu áreas que antes não eram afe- tadas, como a saúde. As classes média e alta começaram a sentir também os efeitos da emigração. Surgiram uma série de estudos só sobre emigração qualificada… E tudo isso contribuiu pa- ra dar mais visibilidade ao fenómeno”, explica. Sendo um facto que “a emigra- ção qualificada tem vindo a aumentar”, isso “não quer dizer que se tenha tor- nado maioritária”, sublinha. 1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 A mobilidade em áreas mais es-

pecializadas, como na ciência, tam- NOTA: As colónias, que pertencendo ao Império nunca foram consideradas destinos de emigração, eram nesta altura os bém não é uma realidade nova. “Sem- principais destinos dos que saíam da metrópole à procura de oportunidades. FONTE: Observatório da Emigração/ “População”, Maria Ioannis Baganha e José Carlos Marques (2001) pre existiu”, explica Inês Crisóstomo. e Estatísticas Históricas Portuguesas, vol. I, Lisboa, Instituto Nacional de Estatística (2001).

REVISTA MONTEPIO P&R José Carlos Marques Investigador do CISC.NOVA — Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa

Portugal tornou-se um país escolarizada. O que aconteceu foi de emigrantes? que, nos últimos anos, o desempre- > PORTUGUESES EXTRAORDINÁRIOS Nunca deixámos de o ser. Nos anos go atingiu áreas que antes não eram Inês Crisóstomo (em cima), bióloga, 90 criou-se a ideia de que Portugal afetadas, como a da saúde. As clas- chefia programas de formação já não era um país de emigrantes, ses média e alta começaram a sen- avançada no Vienna Biocenter. mas isso deveu-se, em parte, à falta tir também os efeitos da emigração, Carlos Bica (ao lado), contrabaixista, de dados estatísticos. Com a entra- Surgiram uma série de estudos 13 encontrou em Berlim a cidade ideal para da na CEE, a abolição do registo de [especializados] em emigração qua- a internacionalização dos seus projetos passaportes, os acordos de Schen- lificada. E tudo isso contribuiu para gen, etc., deixou de ser possível con- dar mais visibilidade ao fenómeno. tabilizar as saídas e passaram-se É previsível que nos próximos “O que se passa é que, depois de 2008, alguns anos até começarem a sur- anos a emigração continue começaram a existir menos incenti- gir os primeiros estudos com da- a descer? vos para os investigadores voltarem dos aferidos a partir das entradas Temos de olhar para os números e se fixarem em Portugal”, acres- nos países de acolhimento. O que os com algum cuidado. Há muitas centa. “Aqui [em Viena] posso dedi- números nos mostram hoje é que a flutuações em períodos de instabili- car mais tempo a pensar e a melho- emigração sempre existiu, tendo-se dade económica. Veja-se, por exem- rar o programa e não tanto em como verificado uma intensificação das plo, o caso de Angola. O país entrou financiá-lo e mantê-lo vivo”, conta. saídas nos anos mais recentes, so- em crise e a emigração portuguesa Se gostaria de voltar? Sim, mas pe- bretudo a partir de 2005. para a ex-colónia estancou. Mas se rante “projeto e condições” motiva- Trata-se sobretudo de uma Angola recuperar, provavelmente dores. Ainda assim, a probabilidade emigração jovem e qualifcada? as pessoas voltam a ir. Com rigor, de isso acontecer é “muito reduzida”. A emigração qualificada aumentou, por enquanto, o que sabemos é que Inês não é a única a dizê-lo. Se- de facto, mas o grosso da nossa as saídas estabilizaram, mantendo- gundo José Carlos Marques, este é emigração continua a ser pouco -se num nível elevado. um traço comum aos novos emigran- tes qualificados. “Revelam o desejo apresenta um saldo migratório nega- não regressam permanentemente. de voltar ao país, mas é necessário tivo – a diferença entre os emigran- As famílias não estão cá e eles têm que Portugal tenha condições para tes e os imigrantes em 2015 saldou- cá a sua casa, mas fazem uma vida os receber. Em muitos casos, tam- -se num decréscimo populacional de mais transnacional”, alerta José Car- bém se verifica um regresso não de- 36 mil pessoas. Mas o aumento da los Marques (ver caixa). finitivo. Muitas das pessoas que saí- nova emigração traz também aspe- A transnacionalidade é uma das ram nos últimos quatro ou cinco anos tos positivos, nomeadamente ao nível tendências que tem vindo a afirmar- já tinham tido experiências emigra- da projeção da imagem de Portugal -se. E viver com “um pé cá e outro tórias anteriores.” no estrangeiro, há muito distanciada lá” não é um exclusivo de estudan- da imagem antiga do emigrante do tes e aposentados. Carlos Bica, um A imagem de Portugal lá fora interior que sai para amealhar e re- dos grandes nomes do jazz, recebeu A baixa natalidade é um dos proble- gressa para gozar a reforma na terra. uma bolsa de estudo para estudar mas que a elevada taxa de emigra- “Mesmo o padrão tradicional já não em Berlim, nos anos 80, e não conse- ção levanta, até porque Portugal já é tradicional. Muitas dessas pessoas guiu virar costas à cidade que viu cair o

REVISTA MONTEPIO 1 o meu mundo TEMA DE FUNDO portugueses no mundo

muro e abrir-se ao mundo. A capital alemã tornou-se “a plataforma ideal” para realizar os seus projetos. Carlos foi ficando, e desde então que adia o regresso a Lisboa. A boa notícia é que agora consegue dividir-se entre > DAR CARTAS NO ESTRANGEIRO as duas cidades sem grande dificul- Carlos Caldas (em cima) chefia dade. “Nos anos 80 eram necessários uma unidade de investigação em vistos de permanência, os voos eram oncologia na Universidade de 14 caros, as línguas poderiam ser uma Cambridge. João Coutinho (ao lado) barreira, etc. Neste momento é relati- é um publicitário premiado vamente fácil manter uma atividade na agência nova-iorquina Grey paralela entre dois países europeus. Apesar da minha vontade em regres- tivo do grupo Grey, em Nova Ior- de de trabalhar num dos mercados sar definitivamente a Portugal, essa que, são disso exemplo. “Revejo-me mais competitivos do mundo”, sinte- ainda não se impôs como necessária”, nessa imagem de trabalhador num tiza. João Coutinho estava na Ogilvy explica. mercado global. Sou emigrante por Brasil quando, em 2013, a agência foi Mudar várias vezes de país, de- curiosidade e não por necessidade”, considerada a melhor do ano no Fes- pois de uma estada relativamente diz. Trabalhou em Madrid e era di- tival Internacional de Publicidade de longa em cada um deles, é também retor criativo executivo da Lowe Lis- Cannes, o mais conceituado do mun- uma tendência da emigração atual. boa quando uma proposta o seduziu do, e os convites daí decorrentes leva- Casos como o do publicitário João a partir para o Brasil. “Queria vol- ram-no a Nova Iorque. “A maior par- Coutinho, atualmente diretor cria- tar a viver fora e ter a oportunida- te dos meus amigos em Nova Iorque

“EMBAIXADORES” INFORMAIS O Conselho da Diáspora reúne 90 portugueses com destaque em diferentes áreas em todo o mundo

associação é em 2012 com o objetivo de projetos daí resultantes. biotecnologia industrial notícia todos “estreitar relações” entre o Um dos mais relevantes é é John G. Melo e pertence A os anos em país e a diáspora, sensibi- o centro de excelência para ao Conselho da Diáspora. dezembro, altura em que lizando personalidades de a investigação na área da Da lista de conselheiros os membros do Conselho comprovado “mérito, talento biotecnologia que irá nascer fazem parte cientistas, da Diáspora se reúnem em e influência” a contribuírem no Porto, fruto de uma par- economistas e profissionais Portugal. Mas a atividade para a elevação da reputa- ceria entre a Universidade das mais variadas áreas, dos 90 conselheiros não ção do país no estrangeiro e Católica e a norte-americana entre os quais o treinador se resume à conferência para o seu desenvolvimento. Amyris Biotechnologies, um José Mourinho, o ator anual, onde nunca falta o Quatro anos depois, Filipe investimento na ordem dos Joaquim de Almeida e Durão Presidente da República, de Botton, presidente da 50 milhões de euros. Barroso, ex-presidente da presidente honorário da direção, orgulha-se da rede O CEO da empresa líder Comissão Europeia e atual associação. O projeto nasceu entretanto criada e dos mundial em aplicações de CEO da Goldman Sachs.

REVISTA MONTEPIO são portugueses. Trabalham nas me- lhores empresas multinacionais, nos ANÁLISE melhores bancos de Wall Street, nos O pós-25 de Abril e o projeto europeu melhores ateliês de arquitetura… E muitos deles já viveram noutros O fluxo de emigração manteve-se em baixa após o 25 de Abril e nas décadas países, tal como nós”, explica. A mo- seguintes. A crise financeira mundial de 2008 não teve um efeito imediato bilidade é um modo de estar. “Penso no fluxo da emigração portuguesa. muitas vezes em voltar, mas não vejo TOTAL isso acontecer nos próximos dez anos. 1975 24 811 Mas nunca se sabe”, explica o publici- tário. 1980 18 071 7 136 25 207 Até lá, o seu nome continua- rá a ser um cartão-de-visita do país, 1985 7 149 7 149 14 944 em qualquer parte do mundo, con- tribuindo não só para a imagem do 1990 - modo de trabalhar dos portugueses, 1995 8 109 13 390 22 579 mas também do próprio país. Uma imagem que, na opinião de Carlos 2000 4 692 16 641 21 333 EMIGRAÇÃO Caldas, médico e cientista à frente PERMANENTE (mais de um ano) de um grupo de investigação da Uni- 2005 6 360 - 15 versidade de Cambridge, no Reino EMIGRAÇÃO TEMPORÁRIA Unido, tem melhorado muito nos últi- 2010 23 760 - (menos de 12 meses) mos anos. “A ideia que os europeus têm NOTA: A fragilidade das estatísticas (não existem quaisquer dados entre 1988 a 1990, por exemplo) deve-se às sucessivas de Portugal é que o país evoluiu muito alterações nas regras de circulação no espaço europeu. Portugal aderiu à CEE em 1986 e integrou o espaço Schengen em 1991. nos últimos vinte anos. Há muito que FONTE: INE/PORDATA deixou de ser aquele país cinzento, um bocado atrasado e que tinha uma guer- ra em África… Olham-no como um país Os anos da crise moderno, tolerante, de pessoas simpáti- cas, onde gostam de ir”, garante. O país assinou o pedido de resgate financeiro com a troika (Comissão Europeia, O contributo dos emigrantes para es- BCE e o FMI) em maio de 2010. A emigração ultrapassou as 100 mil saídas por sa imagem foi desde o início muito po- ano e ainda é cedo para a descida do último ano se afirmar como tendência. sitivo, considera o investigador, autor e coordenador de importantes estudos na 51 958 69 460 53 786 74 322 área do cancro da mama. “Mesmo nos 43 998 56 980 anos 60, em que a maioria dos emigran- tes era muito pobre, com baixa escolari- dade, acho que os portugueses sempre 100 978 121 418 128 108 foram vistos como pessoas trabalhado- ras, com grande facilidade de aprender línguas, de se integrar”, explica. Carlos Caldas saiu do país, em 2011 2012 2013 1988, à procura da excelência do trei- no anglo-saxónico em oncologia, nos 49 572 85 052 Estados Unidos. Tinha a ideia de re- 40 377 60 826 gressar em breve a Portugal, mas em 1994 mudou-se para o Reino Unido e EMIGRAÇÃO acabou por ficar. Por opção, sempre, PERMANENTE 134 624 101 203 (mais de um ano) o que sabe não ser a regra nos dias de hoje. “Portugal teve um extraordiná- EMIGRAÇÃO TEMPORÁRIA rio desenvolvimento na área da ciên- (menos de 12 meses) cia, mas depois, no último governo, 2014 2015 muito do que tinha sido feito foi FONTE: INE/PORDATA

REVISTA MONTEPIO 1 o meu mundo TEMA DE FUNDO ANÁLISE portugueses no mundo Que destinos procuram os portugueses? Em relação a anos anteriores, os portugueses procuraram mais a Bélgica (35%), Espanha (12%) e Moçambique (6%). As saídas para o Brasil desceram 34% em 2014 e o país deixou de estar entre os 10 destinos mais procurados.

1. REINO UNIDO 30 546

destruído, com a ideia mirabolante 2. FRANÇA 18 000 de que o investimento privado iria 3. SUÍÇA 15 221 substituir tudo”, critica. O que em na- da belisca a imagem exterior desses 4. ALEMANHA 10 121 jovens emigrados à procura de opor- 5. ESPANHA 5 923 tunidades. “A imagem que têm na ciência é muito boa, são considera- 6. ANGOLA 5 098 dos jovens bem treinados e com alta 7. BÉLGICA 4 227 qualidade intelectual”, garante. 16 8. MOÇAMBIQUE 3 971 Portugal em rede 9. LUXEMBURGO 3 832 José Carlos Marques participa atual- mente num projeto, apoiado pela 10. HOLANDA 2 079 Fundação Calouste Gulbenkian e pelo Alto Comissariado para as Mi- FONTE: Observatório da Emigração/Relatório 2015 grações, que tem como objetivo fazer um levantamento das formas de or- ganização portuguesas no exterior, Os números do desemprego das associações recreativas e despor- tivas aos grupos criados nas redes so- A taxa de desemprego foi, e continua a ser, um dos indicadores com maior ciais, com esporádicos eventos físicos. influência no fluxo de emigração. A maioria sai à procura de oportunidades “Estamos a conferir os dados, chegá- e melhores condições de vida. mos a mais de quatro mil associações mas percebemos que algumas já não 4,6% 3,9% existem”, explica. Existe já, porém, 8,5% 7,1% uma primeira conclusão não-oficial. “É surpreendente a diversidade de associações existentes”, afirma, sur- 1985 1990 1995 2000 preso também pela abrangência geo- gráfica da dinâmica associativa dos portugueses, que até em locais onde 15,5% 12,7% 10,8% 7,6% a comunidade é reduzidíssima, como Trindade e Tobago, criaram a sua or- ganização. “Uma das ideias preconce- bidas que temos é que as raízes se per- 2012 2011 2010 2005 dem, mas percebemos que não só as associações existem como há uma re- novação dos seus dirigentes, com um 16,2% 13,9% 12,4% elevado envolvimento de jovens luso- -descendentes”, diz. Irene Fonseca, investigadora na área da matemática aplicada e dire- 2013 2014 2015 FONTE: INE/PORDATA

REVISTA MONTEPIO EM FOCO “A imagem dos portugueses na Suíça sempre foi boa”

ligação forte agência em Genebra, tem Porto. “Sempre falámos que manteve gerido as suas finanças. português em casa”, A às origens Continua a trabalhar justifica, sublinhando não se revela apenas no durante a noite para que a importância das raízes. à-vontade com a língua tudo esteja pronto às Carlos Nogueira venceu materna, sem denunciar cinco da manhã, mesmo na vida na Suíça, onde qualquer sotaque francês. a tempo da distribuição, arriscou tornar-se em- Carlos Nogueira vive e reconhece que nem presário e não se sente há 33 anos em Lausane, tudo foi fácil na vida que emigrante, mas confessa na Suíça, mas gere um escolheu. “Vim assim que ali as pessoas negócio de produtos que acabei o serviço são mais fechadas e nacionais, emprega militar, com 20 anos. “sente-se mais a solidão.” > VER O PAÍS DE LONGE funcionários portu- Na altura não havia Por isso, gosta de ver Irene Fonseca, matemática e residente nos gueses e chegou a vir contratos para quem a casa encher-se de Estados Unidos há 30 anos, nunca deixou a Portugal cinco a seis trabalhava como padeiro. portugueses ao fim de de participar na vida científica portuguesa vezes por ano na altura Passado um ano fui semana e das relações 17 em que o filho estudava obrigado a regressar. Só que mantém com os Arquitetura na Universi- depois consegui”, conta. seus oito funcionários e a tora do Center for Nonlinear Analy- dade do Porto. Tem casa A mulher, Cecília Noguei- comunidade local. Nunca sis da Carnegie Mellon University, na zona de Cantanhede, ra, também ainda não pediu a nacionalidade integra o mais notável desses gru- onde nasceu, e uma tinha seguro de saúde suíça e mantém o foco e pos, o Conselho da Diáspora, criado ideia de reforma que quando engravidou e, por a energia naquilo que faz em 2012 e presidido pelo Presiden- passa por um regresso isso, o bebé veio nascer melhor: trabalhar. Não te da República (ver caixa). A viver em família, apesar a Portugal. Mas tudo isso está sozinho. “Somos há mais de 30 anos nos Estados Uni- de sazonal. “Gostamos são agora pormenores, vistos como bons dos, chegou com a ideia de regressar, de viver assim, com um que vêm apenas a trabalhadores e gente pensou instalar-se em , cidade pé lá e outro cá.” propósito do fascínio do honesta. A imagem dos onde viveu dois anos, mas acabou por O negócio da padaria e filho por Portugal e pela portugueses na Suíça rumar ao “país das oportunidades”. pastelaria Chez Nogueira, escola de Arquitetura do sempre foi boa”, garante. “Se tivesse ficado [em Paris], o meu especializada em percurso não teria sido igual”, garan- produtos portugueses te. Desde logo pela forma como na de fabrico artesanal maioria das universidades europeias – do papo-seco ao pão está organizada a progressão na car- alentejano, passando reira, fazendo-a depender das vagas pelo pastel de nata e o existentes. “Nos Estados Unidos não bolo-rei – faz agora vinte é assim, a progressão tem a ver com o e um anos. E é com esse indivíduo”, explica. “Assim, seis anos plano de reforma em depois de chegar já era professora vista que Carlos Noguei- catedrática”, recorda. ra, Associado Montepio Integrada numa comunidade on- desde que o banco abriu de os portugueses se contam pelos dedos de uma mão, Irene Fonseca mais difícil regressar – e nunca deixou dimensão “da riqueza intelectual por- manteve sempre uma ligação a Por- de participar na vida científica e na tuguesa pelo mundo fora”. Atualmente tugal – bem além das férias de verão política científica do seu país, através envolvida em projetos que colocam em e das muitas visitas ao país com os de participações em comissões de ava- rede cientistas de várias universidades filhos. Recebe alunos de pós-doutora- liação ou outras entidades. No entan- do mundo, olha com muito bons olhos mento na sua universidade – aperce- to, só com a experiência do Conselho essa troca de experiências e conta dar o bendo-se que, nos últimos anos, é-lhes da Diáspora é que se apercebeu da real seu contributo. À ciência e ao país.

REVISTA MONTEPIO 1 o meu mundo INOVAÇÃO

TUTORIAL DIGITAL Como navegar no novo site ADMIRÁVEL da AMM

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Aceda em MUNDO NOVO montepio.org FACILITAR. SIMPLIFICAR. AJUDAR. O NOVO SITE E APP DA ASSOCIAÇÃO 1 2 MUTUALISTA MONTEPIO FORAM 3 4

18 PENSADOS PARA ASSEGURAR QUE OS ASSOCIADOS NÃO PERDEM NENHUMA INFORMAÇÃO ESSENCIAL À SUA QUALIDADE DE VIDA: DESCONTOS, INICIATIVAS, MODALIDADES MUTUALISTAS OU OUTRAS NOVIDADES ASSOCIATIVAS. PARA QUE DESFRUTEM MAIS DA SUA ASSOCIAÇÃO, TODOS OS DIAS

Portugal é um país fantástico. Pequeno, mas rico em biodiversidade. Antigo, cheio de História, mas com cidades viradas para o futuro. É fá- cil apaixonarmo-nos pela serra mas, poucos minutos depois, estarmos deitados no areal de uma praia deserta. Ou trocarmos o belo cenário transmontano pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês, seguindo depois, numa estrada construída pelos romanos, para Braga, acabando o dia na movida do Porto. Uma semana sem destino, com Portugal como pano de fundo, é uma experiência magnífica. E ainda mais para os associados Montepio que podem usufruir de milhares de descontos junto de parceiros de todo o país: da saúde à restauração e hotelaria, passando pelas artes, serviços e lazer. E se, até há pouco tempo, procurar parceiros Montepio era um processo que tomaria alguns minutos, hoje a realidade é diferente: está na ponta dos seus dedos e demora poucos segundos.

REVISTA MONTEPIO 4 6

Vantagens Institucional Área que inclui Agrega todas as 3 informações informações sobre atualizadas sobre todos o dia a dia da sua 2 Ser Associado Área onde pode os benefícios de ser Associação: da O menu conhecer todas as Associado Montepio, informação legal aos tem sete áreas: vantagens e benefícios entre os quais a nossa órgãos associativos, Ser Associado, de ser Associado rede de descontos ou missão, visão, valores, Vantagens, Poupança, Montepio. É também a agenda de iniciativas história e a atividade Proteção, Institucional, aqui que pode ler – ou exclusivas. É nesta de todas as empresas Sustentabilidade reler – a história dos área que encontra tudo do Grupo Montepio. e Ei - O seu dinheiro. 176 anos da Associação. o que se passa nos Cada uma é uma Uma história que nos espaços atmosfera porta de entrada para orgulha e na qual m, no Clube Pelicas, Fundação a informação do seu inserimos agora um em Montepio Runner, Montepio novo site. novo capítulo. mas também as É na área institucional últimas edições das que pode conhecer publicações Montepio. a atividade e os projetos apoiados pela 5 6 7 8 5 Fundação Montepio. Poupança e proteção 19 Onde todos podem 7 conhecer melhor Sustentabilidade as modalidades Pode conhecer as disponibilizadas pela nossas preocupações Associação, suas em relação a características e fichas colaboradores, técnicas, bem como associados o Regulamento de e comunidade. Benefícios. Na área de Reporte e Desempenho fique também a conhecer os principais números da Associação o em relação às iniciativas sociais, incluindo o Relatório de Sustentabilidade.

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O portal Ei O seu dinheiro assume uma relevância especial no novo site. Agora, não tem de sair do site da sua Associação para consultar as informações mais relevantes sobre finanças pessoais, impostos, economia social, reforma, gestão do dia a dia e outras que influenciam o dinheiro que entra e sai da sua carteira. 1 o meu mundo INOVAÇÃO digital

Através de uma simples pesqui- sa, o novo site da Associação Mutua- lista Montepio permite aos seus as- sociados descobrir, rapidamente e à distância de um dedo, os locais mais próximos de si que oferecem descon- tos e benefícios. É possível, também, pesquisar os descontos por área de interesse, possibilitando, em tempo real, a tomada de decisões de compra menos pesadas para a carteira. O novo site veio revolucionar a for- ma como os associados podem usu- fruir do leque de benefícios e descon-

20 tos disponíveis para quem faz parte desta família. É, também, um agrega- dor de conteúdos sobre a Instituição, um facilitador de contacto com o As- sociado e um aliado de quem procura novas soluções de poupança e prote- ção para a sua vida e pretende conhe- cer, com rigor e segurança, toda a in- formação a este respeito. O novo site simplifica a comuni- cação das iniciativas organizadas pe- do local onde se encontra. E esta no- la Associação Mutualista Montepio, va vida digital permitirá ao Associa- assim como lista todos os benefícios 7 553 do um atendimento ainda mais per- e vantagens disponíveis para os as- ASSOCIADOS QUE PARTICIPARAM sonalizado. sociados. Em montepio.org encontra, em atividades de dinamização ainda, o portal Ei, dedicado às finan- associativa durante o ano 2015 Admirável mundo novo ças pessoais e literacia financeira e A app e o novo site trouxeram uma que se posiciona hoje como um por- nova forma de estar e de viver muito tal de resolução das dúvidas dos por- 1 202 intensamente a Associação. O mun- tugueses em relação a temas como DESCONTOS ATIVOS EM 2015 do mudou muito nos últimos anos, a impostos, soluções financeiras, em- forma como as pessoas recebem a in- prego e formação ou economia social. formação é hoje diferente do que era há uma década e a Associação Mu- A nossa Associação mais digital sempre de descontos. Com inúme- tualista Montepio procura, com estas Mas porque o site é apenas uma par- ras possibilidades de personalização, ferramentas, garantir que os seus as- te da transformação digital da As- a app garante que os associados ace- sociados acedem à informação inte- sociação Mutualista Montepio, fale- dem a todas as informações, permi- gral de forma consistente, regular e mos também da app que, através de tindo maior proximidade e participa- com a rapidez desejada, em qualquer um sistema de georreferenciação, é ção ativa no dia a dia. Mas há mais: local onde se encontrem. Para que o a forma mais fácil de aceder à agen- a partir de agora, está também dispo- Associado Montepio desfrute mais da associativa, aos eventos dos espa- nível a consulta da oferta mutualis- da sua Associação nas diferentes pla- ços atmosfera m, às iniciativas pro- ta de poupança e proteção e o acesso taformas à sua disposição – digitais movidas pela Associação, ou outras via georreferenciação aos balcões e ou não – e que o ligam, a cada dia, à nas quais os associados beneficiam gestores mutualistas mais próximos sua Associação.

REVISTA MONTEPIO TUTORIAL Como usar a nova app?

1. A app da 2. Instale 3. Complete Associação a aplicação o perfil com Mutualista está e crie o seu as suas áreas disponível para perfil. Coloque de interesse, telemóveis o número de uma lista que Android e IOS. Associado, NIF, inclui, entre Para a encontrar, nome, telefone, outras, as áreas na Google Play email, data de desporto, ou App Store, de nascimento informática, procure por e género. proteção social, “Associação turismo ou Mutualista saúde.

Montepio”. 21

4. A navegação 5. No ecrã 6. Clique em é simples principal dispõe cada opção e intuitiva: de cinco opções: para saber pressione as destaques, mais. Na área caixas para mais descontos, de descontos, informação. institucional, por exemplo, Ao deslizar agenda e perfil. encontra uma no ecrã para lista de todas a direita, as parcerias pode ver mais ativas por destaques. localidade, Para baixo, abre e pode filtrá- o menu. Para -las por área cima, fecha-o. de interesse.

7. A área 8. Na agenda, 9. Poupe já. institucional a exemplo Divirta-se com reúne informações dos descontos, os espetáculos sobre as soluções a informação e atividades da Associação. pode ser filtrada apoiados pela Através da por áreas para Associação georreferenciação, descobrir quais Mutualista pode encontrar os benefícios Montepio e o gestor existentes. Pode usufrua de todos mutualista mais também fazer a os benefícios de próximo de si. inscrição, através ser Associado. de um formulário, para participar nas atividades propostas.

REVISTA MONTEPIO o meu mundo No “meu tempo” começávamos por aprender CRÓNICA francês (aos dez anos), língua próxima da nos- sa, com tradições de aplicabilidade com alguns séculos e, dadas as características do seu ensi- ANTÓNIO JOSÉ PEREIRA DA COSTA* no, chegávamos ao quinto ano a ler Alphonse Daudet, Jean Giraudoux, Guy de Maupassant, Racine e outros. A selecta literária usada nesse IDIOMAS tempo aí está para o provar. Esta aprendizagem passava a ser acompanhada, a partir do terceiro PARA O FUTURO ano, pela do inglês. Nesse tempo, os filmes e a música, produzidos nos Estados Unidos e Grã- A questão de se saber quais as línguas que os nossos -Bretanha, invadiam maciçamente o nosso uni- adolescentes devem aprender soa um pouco a futurologia. verso cultural de jovens e iam destronando, com Todavia, não custa tentar. relativa facilidade, os filmes e a música de ex- pressão francesa, a língua do estudo. O inglês era então a língua do divertimento e nunca mais deixou de o ser. Acresce que a gramática inglesa (nesse tempo aprendia-se… e sabia-se gramática) é consideravelmente mais fácil do que a france- sa que, todavia, era mais próxima da nossa. Des- 22 se modo, obtínhamos um certo paralelismo na fluência de ambas as línguas que nos permitia terminar o tronco de preparação comum a to- dos os alunos com um domínio de ambas que nos tornava capazes, entre outras coisas, de falar com os turistas e trocar correspondência com os pen-friend. Estes eram jovens de idades pró- ximas das nossas e dessa correspondência sur- gia o conhecimento de outras realidades e, por vezes, até contactos pessoais. Além disso, lia-se, com o professor a corrigir a pronúncia, e tradu- zia-se e retrovertia-se, o que determinava o es- tabelecimento de uma exacta correspondência entre os termos e expressões das línguas estran- geiras e as da nossa. Claro que havia o alemão, mas que era destinado aos que seguiriam estu- dos universitários na área das “germânicas”. Paralelamente, estudávamos português, com profundidade. Aos dez anos já tínhamos de ter um léxico bem dominado que nos permi- tia enfrentar qualquer “ditado” e não dar mais de cinco erros. Sabíamos de cor preposições, interjeições, advérbios, conjunções e as quatro conjugações dos verbos – regulares e irregu- lares – nas suas formas simples e compostas. Aos doze anos, dominávamos as regras da com- posição e derivação das palavras e conhecíamos algumas dezenas de sufixos e prefixos. Depois * António vinham as primeiras incursões no latim, com José Pereira declinações e tudo… da Costa O nosso domínio da língua materna era tal é Associado que, aos quinze anos líamos e éramos interro- Montepio gados, nos exames, sobre o teatro de Gil Vicen-

REVISTA MONTEPIO te ou os versos de Luís de Camões. O escritor ta, expostos nos “pontapés na gramática” e nas Lobo Antunes afirmou, numa crónica, que, nes- más traduções que diariamente encontramos. se tempo, estudávamos Os Lusíadas como quem Não restam dúvidas de que o inglês é, por mo- O nosso “tira espinhas ao peixe”. Era, de facto, assim, mas tivos vários, o esperanto dos próximos anos e o domínio da talvez por isso, ainda hoje, sabemos de cor estro- que há a fazer é dominá-lo bem e utilizá-lo com língua materna fes inteiras e somos capazes de identificar, na precisão e certeza. era tal que, estrutura da obra, o local onde se inserem. Não aos quinze haja dúvidas de que, ao fim de nove anos de estu- Português, inglês... e uma outra língua anos líamos do e antes de fazermos a opção que marcaria as E, cá estamos na futurologia, perdão, na ques- e éramos nossas vidas profissionais, falávamos português tão crucial: como deverá ser a partir de agora? interrogados, correcto. Não vou prender-me com questões de Já é possível alinhar algumas conclusões. Em nos exames, pedagogia, cada vez mais discutíveis. Limito- primeiro lugar temos de dominar bem o portu- sobre o teatro -me a afirmar que a nossa formação basilar per- guês e segunda língua terá de ser o inglês, por de Gil Vicente mitia dominar a nosso língua e mais duas que motivos cada vez menos contestáveis. Em se- ou os versos nos facilitavam a comunicação com uma boa gundo lugar, termos presente que as simplifica- de Luís de percentagem dos povos do mundo. Havia, por ções e os empobrecimentos no ensino pagam-se Camões. consequência, uma certa adequação entre o que caros. Recordo que, nas fases seguintes da vida, se ensinava e o que era utilizado na vida de todos a “selecção natural dos mais aptos” fará essa es- os dias. colha por mais que isso nos doa a todos. Chegados ao tempo do meu filho, para meu Defendo que, tal como no “meu tempo”, se en- 23 espanto, o ensino do português abrandou. Diria contre uma terceira língua que seja aprendida que amoleceu. Achei estranho, nomeadamente no tronco comum da formação dos adolescen- porque um dia, numa reunião de pais (5º e 6º tes. Será complicado encontrar um ou dois idio- anos), perguntei porque é que os alunos não fa- mas, fora do contexto europeu, que se possam ziam composições/redacções sobre um tema ou considerar estrategicamente importantes pa- não recontavam histórias ou situações “por pa- ra a comunicação de Portugal com outras na- lavras suas” ou faziam composições sobre his- ções, a nível comercial e cultural. Contudo, jul- tórias sugeridas por pequenas tiras de banda go que o número de utilizadores desse idioma desenhada muda. Era, em meu entender, uma não poderá ser um elemento muito determinan- actividade que desenvolvia a capacidade de aná- te, uma vez que haverá sempre o recurso ao es- lise e o poder de síntese, além de desenvolver o peranto moderno, a que me referi acima, para vocabulário, que sempre faz falta… Perguntei que a comunicação se estabeleça. Há quem fale porque é que os alunos não traduziam nem re- do mandarim ou do russo, como línguas de po- trovertiam. A primeira actividade não era fun- tências emergentes, mas, de momento, não ve- damental, disseram-me. Julgo que era priori- jo que se justifique a sua aprendizagem nas es- tário “automatizar a emissão da linguagem”. A colas secundárias. Esperemos para ver. Sugeria segunda “foi considerada demasiado violenta”. que fosse construído um mapa do mundo, assi- Fiquei desconfiado dos resultados futuros, mas nalando os países com os quais poderemos co- pedagogia é pedagogia e os novos métodos ti- municar com facilidade e, pela área coberta por nham sido aplicados com muito êxito. Devo es- este critério, avaliaríamos a orientação a dar ao clarecer que considero que o domínio da língua- nosso ensino de línguas num sistema que pode- -alvo é tão essencial como o da nossa própria. mos descrever sumariamente como: português, Daí a importância que dou à tradução e retrover- inglês e outra língua, europeia ou não. são exactas. Em face da reacção dos outros pais Por agora, mantenhamo-nos numa aprendi- desisti, mas fiquei sempre com a ideia de que as zagem de línguas que nos permita uma fácil in- coisas não iriam correr bem. Por minha conta e serção na Europa a que pertencemos desde sem- risco, o meu filho aprendeu primeiro francês e pre e com a qual temos contactos permanentes. depois inglês. A maioria dos outros pais optou Não nos esqueçamos de aprender Português e, pela solução oposta. Não nos demos mal com muito principalmente, nunca esqueçamos que o resultado, o que prova que nestas coisas de o que é necessário é… saber muito e bem. aprender, o que é essencial é... saber.

Fico com ideia de que não houve enrique- 1 O português era ensinado nos dois primeiros anos do “liceu” sob a designação de cimento do saber e os resultados estão à vis- “Língua e História Pátria”.

NOTA: O autor continua a escrever segundo a chamada norma antiga.

REVISTA MONTEPIO 1 o meu mundo OBSERVATÓRIO

EDUCAÇÃO AS MOTIVAÇÕES DOS NOVOS POLIGLOTAS “APRENDE LÍNGUAS E SERÁS ALGUÉM.” ESTE LEMA INCLUSIVO DA COMISSÃO EUROPEIA É, CADA VEZ MAIS, A REALIDADE DE MUITOS PORTUGUESES QUE VEEM NO CONHECIMENTO DE 24 IDIOMAS ESTRANGEIROS UM TRUNFO PARA ALARGAR O SEU MERCADO DE TRABALHO. MAS NUMA ALTURA EM QUE O INGLÊS É QUASE UMA OBRIGAÇÃO PARA OS PORTUGUESES MAIS JOVENS E A GLOBALIZAÇÃO NOS LEVA PARA PARAGENS DISTANTES, QUE OUTRAS LÍNGUAS DEVEMOS APRENDER PARA GANHAR “MÚSCULO” INTELECTUAL NO MERCADO DE TRABALHO?

por carla jesus ilustração vera mota fotografia artur

REVISTA MONTEPIO Quando sentiu que precisava de um Natanael é um homem dos números e estímulo intelectual, Natanael Bap- da gestão. Tem o inglês como segunda tista lembrou-se de um cartaz que língua e, antes do mandarim, apren- tinha visto no Aeroporto de Ames- deu francês, alemão e grego clássico. terdão, na Holanda, no qual se lia Quando, em 2012, pensou aprender que em 2017 o mandarim seria a uma nova língua, ficou indeciso entre língua de negócios mais falada do o mandarim e o japonês. Chegou a con- mundo. Num momento de transi- siderar ambas, mas a prudência falou ção profissional e em plena crise mais alto. “É necessário conciliar a vi- económica, pensou: “Porque não?” da familiar e profissional. São quatro Hoje, Natanael está no quinto ano horas todos os sábados, quatro horas de mandarim e sente que a aprendi- que são retiradas do nosso período de zagem da língua cumpriu o objetivo descanso. A somar a isto estamos a fa- inicial, já que estímulo intelectual lar da necessidade de estudar uma lín- é o que não falta a quem aprende gua que não segue os nossos padrões mandarim. “Pensei que era algo de lógica: é uma língua pictórica, com completamente fora do convencio- desenhos na sua génese mas que são nal. É uma língua que não tem nada desenhos que já nada têm a ver com a a ver com a aprendizagem de uma origem do caractere em si. O manda- língua estrangeira, limitada por um rim trabalha muito a memorização”, 25 número de letras a partir das quais refere Natanael Baptista. se compõem todas as palavras. Não é mais fácil falar do que escre- Cada sílaba tem o seu caractere ver. No entanto, este estudante de man- e achei que seria interessante darim prefere a escrita, já que o facto [aprender], não só pelo aumento de ser tonal – a mesma sílaba pode ter considerável de investimento chinês cinco tons diferentes – pode originar em Portugal mas também porque alguns erros. “A sílaba ‘ma’ pode sig- podia, um dia, aceitar um desafio nificar “mãe” mas também “cavalo”. profissional naquela zona do globo.” Costumo dizer, em tom de brincadeira, que com o tom errado podemos estar a chamar cavalo à nossa mãe.” Por outro lado, a aprendizagem da língua fez au- mentar a sua vontade de ir à China, não só para praticar o mandarim mas para conhecer um país de contrastes. O cur- so completo desta língua tem a duração de sete anos, mas Natanael pensa ficar- -se pelo quinto ano. Falta-lhe o tempo, a energia e a idade para continuar a aprender uma língua que, quanto mais se aprende, mais se tem de estudar. Por ora, não pensa começar a apren- der outra língua. “Só começaria a aprender outra língua estranha, como árabe ou japonês, se a curtíssimo pra- zo conseguisse tirar rendimento disso do ponto de vista profissional”, refere Natanael. Sem ter muitas oportunida- des para praticar o seu mandarim, aca- ba por se divertir a trocar algumas pa- lavras e pequenas frases quando vai a um restaurante chinês, surpreendendo os chineses e os amigos.

REVISTA MONTEPIO 1 o meu mundo OBSERVATÓRIO novos poliglotas

Ainda que o inglês continue a ser a língua dominante, outras línguas co- meçam a ganhar destaque entre os que querem diversificar conhecimentos. “Há línguas que estão a emergir e a so- licitar a nossa atenção, como o manda- rim, o espanhol, o alemão e o francês. Quando enumero estas línguas estou a ecoar a procura que temos, por parte dos estudantes, quando estes querem uma formação específica”, refere Sara Rodrigues de Sousa, professora na Uni- versidade Europeia. Integrada num dos maiores grupos mundiais de ensino superior, o Lau- 26 reate International Universities, a Uni- versidade Europeia promove uma ex- periência de ensino e uma perspetiva Línguas que abrem ^ SARA RODRIGUES DE SOUSA, profissional orientada para a multicul- oportunidades docente na Universidade Europeia, turalidade. “Ao equacionar as formas de A aprender árabe há três anos, Cata- é da opinião de que a aprendizagem articulação da aprendizagem de línguas rina Oliveira não tem dúvidas sobre de línguas constitui um forte com a nossa oferta formativa estamos as vantagens profissionais de ter esta estímulo intelectual a reconhecer a relevância que a profi- língua no currículo. “Abrem-se outras ciência em línguas estrangeiras tem portas quando sabemos árabe”, afirma. no mercado de trabalho. Assumimos a A estudar Ciência Política e Relações necessidade de adaptar essa aprendiza- Internacionais, imagina que ter esta gem aos novos contextos, tanto acadé- língua no currículo poderá vir a ser um Top 10 micos como profissionais”, refere Sara fator decisivo se tentar ir trabalhar pa- dos cursos mais procurados pelos Rodrigues de Sousa, que destaca ain- ra uma embaixada de um país árabe. alunos do Instituto de Línguas da Universidade Nova da a importância de ter conhecimen- A escolha é também pessoal, uma vez tos certificados: “Sabemos que estamos que, sendo muçulmana, aprender ára- 1 INGLÊS num contexto altamente competitivo, be também lhe permite ler o Alcorão. em que pequenos pormenores podem Aos 20 anos, além de falar árabe, 2 ALEMÃO fazer a diferença.” inglês e espanhol, Catarina Oliveira Salientando a importância de “arranha” o ucraniano e é fluente em 3 MANDARIM aprender línguas desde tenra idade, russo, que aprende desde os 11 anos. 4 RUSSO Sara Rodrigues de Sousa refere que os Do russo diz ser mais fácil de aprender motivos para o fazer começam por ser a pronúncia do que a gramática. “Quan- 5 FRANCÊS fisiológicos: “O contacto com novas lín- do estou a falar em russo, mesmo que guas constitui um forte estímulo inte- não saiba as palavras consigo formular 6 ÁRABE lectual com repercussão noutras áreas o pensamento em russo.” 7 JAPONÊS de aprendizagem e no desenvolvimen- to de outras competências. Além dis- Economia promove poliglotas 8 SUECO so, a aprendizagem de uma língua es- Até à viragem do milénio, os estudantes trangeira implica o reconhecimento e de árabe em Portugal eram sobretudo 9 ITALIANO o respeito pelo outro. Há um compro- muçulmanos. “Como o Alcorão foi reve- misso ético quando aprendemos uma lado em árabe, os muçulmanos apren- 10 ESPANHOL língua”, confessa. dem a língua para o poderem ler e usar

REVISTA MONTEPIO P&R Carlos Ceia Diretor do Instituto de Línguas da Universidade Nova (ILNova)

Quem pode frequentar certifcada de uma os cursos do ILNova? língua? Os cursos estão acessíveis O reconhecimento formal a qualquer indivíduo do domínio de uma com mais de 16 anos, língua faz-se pela sua sem necessidade de ser certificação. estudante universitário. A instituição que 27 A maior parte dos certifica também alunos do ILNova é importante, porque nas suas orações. Quando os mercados ^ SHEIKH são profissionais de garante a qualidade árabes se tornaram apetecíveis, empre- ZABIR, diversas proveniências da formação adquirida. sários e académicos começaram a olhar professor na e formações. O aluno do Não faz sentido, nos para o árabe como uma boa ferramen- Mesquita Central ILNova tem um perfil dias de hoje, apresentar ta para irem trabalhar para estes países. de Lisboa, muito diferenciado. competências académicas E começou a existir uma maior procura registou uma Quais as vantagens de sem certificação, face de cursos de árabe em Portugal”, expli- maior procura da aprender línguas num à competitividade dos ca Sheikh Zabir, professor de árabe na língua e cultura ambiente universitário? mercados de trabalho Mesquita Central de Lisboa. árabe para efeitos O rigor da aprendizagem, e à necessidade de Além dos candidatos a empregos profissionais o contacto com falantes seleção dos melhores em países onde o árabe é a língua ofi- nativos – todos os profissionais. cial, os jovens que começaram a es- docentes são falantes É importante que tudar árabe procuravam explicações nativos das suas as crianças comecem fora das universidades. Quando se línguas –, um ambiente a dominar línguas começou a notar uma maior procu- mais exigente, mas mais desde tenra idade? ra, a mesquita de Lisboa estruturou proveitoso, porque todos O inglês deve sempre o curso de árabe em níveis distintos e estão motivados para ser a primeira opção? com uma aprendizagem progressiva. a aprendizagem com Hoje, depois de ter ajudado “A escrita tem uma caligrafia com- sucesso. a colocar o inglês no pletamente diferente, mas há tabe- Os objetivos de quem currículo nacional no las através das quais os alunos conse- aprende línguas são 1º Ciclo do Ensino Básico, guem, em quatro ou cinco semanas, profssionais ou lúdicos? só posso recomendar perceber a equivalência das 29 letras As duas motivações. que se inicie a do alfabeto”, explica o Sheikh Zabir. Mas talvez a maior aprendizagem de línguas A maior dificuldade é a leitura, uma parte seja por razões estrangeiras o mais vez que há sons guturais e nasais mais profissionais ou precocemente possível. graves ou agudos. “É uma questão de académicas. Muitos jardins-de-infância prática, mas esse também é um pro- Num mundo globalizado têm hoje o ensino de blema, porque não há uma grande como é o nosso, inglês, o que faz sentido comunidade árabe e não se consegue qual a importância e se aplaude. Portanto, praticar.” da aprendizagem quando mais cedo, melhor.

REVISTA MONTEPIO 1 o meu mundo específicos de cultura islâmica. Nas au- OBSERVATÓRIO las de árabe falamos da cultura e da re- novos poliglotas ligião, mas como um extra. É algo que não faz parte do currículo.” A cultura é quase sempre indissociá- vel da língua. Foi a cultura japonesa Integrada numa visão da realida- que levou Paulo Seguro a aprender de global atual, a Comunidade Islâmi- japonês durante um ano. “Acho que ca de Lisboa certifica o conhecimento aprender a língua é das coisas mais im- dos seus alunos através de exames que portantes, para que possamos comuni- são realizados no final de cada nível e car sem estarmos dependentes de ter- ecoar na me- nos quais se exige um aproveitamento ceiros.” Decidiu aprender japonês pelo mória desse ano. de, pelo menos, 90 por cento. “Há mui- prazer de aprender, sem objetivos pro- Já tentou voltar ao japo- tos alunos que querem colocar esses co- fissionais em vista. Se viesse a aconte- nês, per si e sem aulas, mas é uma lín- nhecimentos no currículo e somos sen- cer beneficiar do japonês profissional- gua demasiado complexa para ser au- síveis à necessidade de existirem certi- mente, tanto melhor. todidata. “Já não me recordo onde vi ou ficações. Também passamos cartas de ouvi isto, mas guardo uma ideia que me referência aos alunos que vão trabalhar Partilhar a língua ficou: por mais que alguém saiba algo para países árabes”, refere o Sheikh Za- O mais difícil na aprendizagem da sobre alguma coisa, de nada vale se es- bir. Para salvaguardar quem vai traba- língua foi aprender uma construção tiver dependente de outros para parti- 28 lhar para esses países, os cursos de ára- frásica tão distinta da portuguesa e que lhar essa ideia. É importante partilhar be lecionados na mesquita de Lisboa se manifesta em caracteres demasiado essa ideia nas palavras escolhidas por incluem conhecimentos sobre a cultu- específicos. Na memória desse ano fi- si e não nas de um intérprete”, explica. ra árabe, os hábitos e a etiqueta de quem ca-lhe a aprendizagem de uma língua E é a partir deste pressuposto que Pau- vai a uma reunião num país árabe. desde a sua raiz, tal e qual uma crian- lo Seguro considera ser tão importante No entanto, o Sheikh Zabir explica que ça na escola primária. Mas foi a razão aprender línguas. Cada vez mais im- há uma separação clara: “Temos cursos que o levou ao japonês que continua a portante, acrescentamos.

EM ANÁLISE Quando o português é a língua estrangeira

A sala de professores do refere Firmino Pedro, que muito com missionários que O ensino do português departamento de Português coordena este departamento vão para África e querem tem particularidades da Cambridge School está em conjunto com Miguel aprender português. Vêm distintas do ensino das repleta de postais de todo Gonçalves. Atualmente, de vários países, sobretudo outras línguas. A atmosfera o mundo. Todos eles em são os estudantes chineses da Coreia do Sul e de Itália”, é familiar, até porque português. Se é pelo ensino que se destacam. Os mais refere Miguel Gonçalves. muitos dos alunos têm do inglês que a maioria novos chegam com nove A partir do momento em poucos familiares a residir das pessoas reconhecerá anos e têm como principal se entra na sala de aula de em Portugal. “É uma a Cambridge, a realidade é objetivo a integração na português da Cambridge oportunidade para criar que esta escola foi pioneira comunidade portuguesa. School, esta é a única língua laços, mas também para no ensino de português para “São crianças que estudam que se fala, ouve ou escreve. que os alunos pratiquem, estrangeiros em Portugal. em escolas internacionais, Os alunos aprendem não em contexto real, o que “Tivemos níveis de sucesso onde o português não é só a língua mas também aprendem nas aulas. incríveis. Houve um período uma língua fundamental e a cultura portuguesa, em A escola funciona com muito faustoso para o não tem uma grande carga turmas que não ultrapassam o método direto, fala-se departamento de Português horária”, explica. Aos jovens os seis alunos. apenas na língua que se que coincidiu com o período e adultos chineses juntam- Todos os dias há o café das está a aprender. Isso faz da exploração petrolífera -se estrangeiros a trabalhar 11 horas, quando se juntam com que o aluno comece e diamantífera em Angola. em empresas no país ou que alunos de todos os níveis, e a raciocinar na língua que Chegámos a ter 20 casam com portugueses. às quintas-feiras à tarde há está a aprender”, conclui professores de português”, “Também trabalhamos visitas de estudo por Lisboa. Miguel Gonçalves.

REVISTA MONTEPIO Como internacionalizar a nossa língua? Desde dezembro que empresas e instituições podem ajudar a promover a língua portuguesa no estrangeiro. E todos saem a ganhar. Unir a promoção da língua portuguesa à estratégia co- mercial das empresas presentes nos mercados interna- P&R cionais. É este o objetivo do Empresa Promotora da Lín- Rita Pinho Branco gua Portuguesa, um projeto desenvolvido pelo Ministério Diretora de Comunicação, Marketing e Canais dos Negócios Estrangeiros e dinamizado pelo Insti- da Associação Mutualista Montepio tuto Camões. O projeto concilia o envolvimento das instituições que valorizam a língua portuguesa com a afirmação do valor económico da nossa língua. E to- A Associação Mutualista povo – e do património dos ficam a ganhar. “O trabalho conjunto das empre- (AMM) é Empresa artístico e cultural do sas promotoras da língua portuguesa permite aumen- Promotora da Língua nosso país. Também sob tar a rede de docência e as cátedras de língua portu- Portuguesa. O que esta perspetiva, a língua guesa, apoiar projetos de investigação relevantes para justifcou a adesão assume uma relevância a difusão da língua portuguesa e reforçar a atribuição ao projeto? incontornável. de bolsas de estudo”, explica Ana Paula Laborinho, Consideramos de extrema Os associados Montepio 29 presidente do Instituto Camões. importância a defesa, têm usufruído de O projeto, que integra ainda, em algumas situações, o promoção e afirmação descontos para AICEP, prevê que as empresas em processo de inter- da língua portuguesa concertos, exposições nacionalização disponham de acesso prioritário na for- e o trabalho que temos ou peças de teatro onde mação em língua portuguesa dos seus quadros estran- vindo a realizar, de a língua portuguesa geiros. Mas não só. Instituições que não assumem uma apoio a um tão elevado é a peça central. natureza exportadora, como a Associação Mutualista número de projetos Esta estratégia vai Montepio (AMM), são bem-vindas ao projeto. “O tra- criados por portugueses continuar? balho da AMM confere outra visibilidade à língua por- e em português, é Sim, a estratégia vai tuguesa, que ultrapassa a dimensão económica para se prova disso. Aceitámos continuar e é nosso centrar numa economia social que envolve prontamente o convite objetivo intensificá- agentes da sociedade civil e investidores que nos foi dirigido pelo -la a muito curto prazo. sociais, capazes de apoiar a melhoria Ministério dos Negócios Pretendemos estar cada das condições de vida das populações: Estrangeiros. vez mais próximos na educação, cultura ou empreende- O que une esta de quem assegura a dorismo”, conclui a presidente do Ins- estratégia de apoio à criação artística em tituto Camões. Este é o outro lado do cultura? É a própria língua portuguesa e projeto. O da disseminação da língua língua portuguesa? ainda mais próximos portuguesa pelos quatro cantos do A AMM é uma instituição da nossa comunidade mundo. Um cenário apoiado, des- portuguesa, orientada associativa, garantindo de a primeira hora, pela AMM. para os portugueses e dispersão geográfica para o país e tem vindo a assim como respostas assegurar vários apoios a (também na esfera projetos portugueses de artística) ajustadas às Os números do cariz cultural ou artístico. idades e expetativas dos Instituto Camões Na base desta política nossos mais de 630 mil ffPresente em 84 países de apoios está a decisão associados. Assumimos ff20 Centros Culturais Portugueses ativos estratégica de dar o compromisso de ff72 Centros de Língua Portuguesa prioridade a iniciativas garantir iniciativas tão ff42 Cátedras de Língua Portuguesa orientadas para a diversificadas e ricas ff160 000 pessoas abrangidas preservação da nossa quanto os interesses em todo o mundo identidade coletiva – o do nosso principal que nos define enquanto stakeholder: o Associado.

REVISTA MONTEPIO 1 o meu mundo REPORTAGEM

^ PEEKMED ^ HEPTASENSE João Pedro Ribeiro Ricardo Santos e Mauro Peixe 30 EMPREENDEDORISMO NAÇÃO STARTUP

^ UNDANDY ^ START UP PIRATES REVISTA MONTEPIO Gonçalo Simões e Rafic Daud Inês Santos Silva A recuperar dos efeitos da crise Santos, 23 anos, co-fundador da Hep- económica e da austeridade, Portugal tasense. “Estamos a viver uma revolu- mostrou em 2016 os primeiros sinais ção industrial. O mundo vai precisar Ecossistema de alento depois de anos muito difíceis de pessoas empreendedoras que criem empreendedor a nível económico e social. soluções para as necessidades que vão A conquista do Euro 2016 em futebol, surgir, como os carros autónomos ou a escolha de António Guterres para os dispositivos inteligentes, num mun- 3 000 secretário-geral das Nações Unidas, do em que tudo está conectado.” STARTUPS CRIADAS POR ANO a estabilidade política e institucional e o Com Mauro Peixe, colega do Institu- as quais têm um número médio de 2 empregados crescimento do turismo (e das receitas to Superior Técnico, Ricardo criou o pri- que este setor traz) contribuíram meiro software do mundo que reconhe- para a recuperação da autoestima ce gestos e movimentos em qualquer dos portugueses e para a projeção sensor ou dispositivo, seja num smart- 70 000€ internacional do país em novos setores. watch ou câmara. Os dois engenheiros VOLUME MÉDIO DE NEGÓCIOS Num artigo publicado num jornal tiveram o apoio da incubadora Startup sobre o balanço do ano transato –, Lisboa e arrancaram a Heptasense em “O ano dos êxitos improváveis” fevereiro de 2016. “Tínhamos a inten- – o filósofo José Gil afirma: “A valori- ção de sair do país mas agora queremos 86 INCUBADORAS zação da imagem que vem de fora mesmo ter a empresa em Lisboa. É um mudou este ano, em imensos planos.” local fantástico para se estar, não só 31

PORTUGAL INSCREVEU O SEU NOME NA ROTA DOS DESTINOS DE STARTUPS, JUNTAMENTE COM BERLIM, LONDRES OU SILICON VALLEY. A WEB SUMMIT, E TODA A ATENÇÃO MEDIÁTICA QUE DESPERTOU, VIROU OS HOLOFOTES DOS INVESTIDORES E CRIATIVOS PARA O NOSSO PAÍS, BERÇO DE MILHARES DE JOVENS EMPRESAS TECNOLÓGICAS QUE SE CRIAM TODOS OS ANOS. SOMOS UMA TERRA DE FAZEDORES E, SE O MUNDO AINDA NÃO O SABIA, ACABOU DE O DESCOBRIR

por rita vaz da silva fotografia artur

Um desses planos é a consolidação de pela comida e clima mas também por- da Informa D&B, consultora que moni- Portugal como país empreendedor e que há mais apoios às empresas e inves- toriza o tecido empresarial português. criador de empresas de base tecnoló- tidores interessados. Portugal começa a O documento revela que as startups gica e do setor digital, as chamadas ser visto como um bom sítio para inves- são a “força motriz da dinamização da startups. O fenómeno não é novo pa- tir por causa das empresas que nasce- economia”, representando 7,1% do teci- ra quem está na área. Floresce desde ram cá e se internacionalizaram, como do empresarial e 18% do novo emprego 2007, em movimento contracorrente a Farfetch ou a Uniplaces. Já não há criado anualmente. Embora tenham da crise económica, mas só em 2016 ‘vergonha de ser português’ e de criar hoje menor faturação e prefiram equi- ganhou maior visibilidade, tanto em aqui uma empresa.” pas mais reduzidas, as startups têm um Portugal como além-fronteiras, em vir- perfil mais exportador (10,1%, em 2014). tude da projeção dada à Web Summit, Geração mais qualifcada Inês Santos Silva, 27 anos, acompa- que trouxe a Lisboa 50 mil pessoas li- Entre 2007 e 2015 foram criadas em nha desde 2010 o ecossistema do em- gadas ao mercado tecnológico. Quando Portugal cerca de 3 000 startups por preendedorismo. Cofundou a pré-ace- comparado com destinos como Berlim, ano, envolvendo mais de 47 mil pes- leradora Startup Pirates, integrou a Londres ou Silicon Valley, Portugal po- soas. Mais de metade dessas empresas, lista das mais jovens estrelas portugue- de estar apenas a “aquecer”, mas é cada um total superior a 300 mil, que inclui sas nos negócios (“40 abaixo de 40”, da vez mais uma nação de startups. startups e empresas de outra nature- revista Exame) e trabalhou em várias “A crise e a austeridade não têm im- za, sobreviveu aos três primeiros anos startups. “Sempre existiram startups plicação nenhuma para quem traba- de atividade, como consta no relatório em Portugal. O sapo.pt foi, a determi- lha em tecnologia”, garante Ricardo “O Empreendedorismo em Portugal” nado momento, uma startup”, salienta

REVISTA MONTEPIO 1 o meu mundo A geração Milénio (na casa dos 20, Med, empresa de Braga que criou um REPORTAGEM 30 anos) e a geração X (30 a 40 anos) sistema inovador de planeamento pré- nação startup “tiveram a possibilidade de viajar pelo -cirúrgico 3D para ortopedia. “Portu- mundo, de estudar fora e têm hoje um gal sempre foi empreendedor e inova- conjunto de competências e visões que dor, tem gente com muita qualidade e a economista acerca do portal portu- lhes permitem lançar-se nesta área do não deve ser conhecido ‘apenas’ pelos guês que foi criado em 1995 pela Uni- empreendedorismo”. vinhos, praias e cortiça. A Web Sum- versidade de Aveiro. Na mesma al- mit foi excelente para o país porque, tura, Silicon Valley assumia-se como Norte vs. Lisboa por um lado, trabalhou a nossa autoes- a meca da inovação tecnológica e do Desde que se realizou a Web Summit, tima e amor-próprio e, por outro, colo- empreendedorismo. Sobreviveu à sua em novembro de 2016, a imprensa es- cou os holofotes apontados a Portugal, “bolha da Internet”, no início da déca- trangeira não poupa elogios a Lisboa. o que pode ter efeitos positivos na cap- da de 2000 e, anos mais tarde, dava a O jornal londrino Evening Standard, tação de investimento.” conhecer alguns dos gigantes da tecno- por exemplo, é categórico: “Não há na A norte, porém, o presidente da Câ- logia que mudaram a face do mundo: Europa outra cidade tão estimulante mara do Porto, Rui Moreira, lamen- Apple, Google e Facebook são só três em termos criativos como Lisboa.” No tou recentemente a “obsessão” dos de- exemplos. britânico The Guardian, Paddy Cosgra- cisores políticos por Lisboa, quando Em Portugal, “começámos a ouvir ve, fundador e presidente da Web Sum- “o Norte é que anda a carregar o país”. falar das primeiras startups por volta mit, assim como dezenas de participan- Os números, de certa forma, dão ra-

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>>IDEIAS QUE BRILHAM As startups portuguesas são responsáveis por 18% do novo emprego criado anualmente

de 2010 e hoje o país está no mapa do tes do evento, aclamaram a cerveja a zão ao autarca da Invicta. A partir de empreendedorismo como nunca este- 1 euro e o café a 80 cêntimos, o sol e as 2008, o Norte assume-se como a região ve antes”, assegura Inês. O fenómeno temperaturas amenas, as rendas bara- mais empreendedora. Em 2015, 34% português é resultado de várias dinâ- tas, a comida e as belas praias que per- das jovens empresas eram nortenhas, micas. “Nos últimos sete ou oito anos mitem praticar surf todo o ano. de acordo com a Informa D&B. E não houve em Portugal e no mundo uma Os atrativos de Portugal são inegá- é de menosprezar que a única empresa maior globalização de conceitos, de fer- veis e, no que diz respeito a negócios, unicórnio portuguesa, a Farfetch, seja ramentas e formas de trabalhar. De re- os indicadores também são promis- uma scaleup da StartupBraga. “Perce- pente, passou a ser mais barato criar sores. O país ocupa a 25ª posição no bo a abordagem política e económica uma startup porque os servidores pas- ranking do Banco Mundial que mede a apontar para Lisboa. Faz sentido pa- saram a estar na cloud e não em casa. a facilidade de se fazerem negócios, à ra um conjunto de serviços mais liga- O iPhone apareceu em 2007, surgi- frente da Holanda, França ou Suíça. dos ao e-commerce, mas é injusto que se ram plataformas como a App Store e Para o Fórum Económico Mundial, esqueça o resto do país”, observa João tornou-se exequível a qualquer pessoa Lisboa foi a cidade que mais gerou Pedro Ribeiro. “Braga e Porto têm um criar uma aplicação.” tech buzz no último ano, aparecendo ecossistema empreendedor muito de- Para Miguel Fontes, diretor executi- na 5ª posição no ranking de “cidades senvolvido em áreas como a nanotec- vo da Startup Lisboa, o ecossistema por- startup” de 2016. nologia e deveria dividir-se o tempo de tuguês “é o resultado de mais de 20 anos “Não me parece que esta atenção antena entre os diferentes polos”. de políticas públicas que apostaram seja só uma moda. Parece-me que Carlos Oliveira, presidente da In- na qualificação dos portugueses e em veio para ficar”, diz João Pedro Ribei- vestBraga e da Startup Braga, defen- instituições superiores de excelência”. ro, CEO e um dos fundadores da Peek- de que “Braga é um exemplo claro de

REVISTA MONTEPIO potencial para o aparecimento de no- vas empresas globais devido à investi- gação e às estruturas que garantem o apoio necessário à concretização dos projetos”. Destaca o papel da Universi- P&R dade do Minho, do Laboratório Ibérico Miguel Fontes Internacional de Nanotecnologia e do Diretor executivo da Startup Lisboa Hospital de Braga na materialização de inúmeros projetos de investigação com startups. Apesar de só ter sido criada em O que signifca, na prática, Lisboa está a viver um 2014, a incubadora da cidade orgulha- a parceria entre a Associação momento único e entrou no -se de ter várias scaleups nas suas fi- Mutualista Montepio mapa das principais cidades leiras. Uma delas é a iMobileMagic, e a Startup Lisboa? europeias para criar startups. uma empresa que cria aplicações pa- A Startup Lisboa é uma A Web Summit foi decisiva? ra smartphones e tablets e que acabou associação privada, sem É inegável que a Web Summit de ser comprada pela norte-americana fins lucrativos, criada em foi e continuará a ser um Smith Micro por 520 mil euros e 1,5 mi- 2011. Nasceu da vontade dos evento da máxima importância, lhões de euros em ações. munícipes de Lisboa, que através não só para o ecossistema do orçamento participativo empreendedor como para o país. 33 votaram maioritariamente na Mas o mais interessante ideia de criar uma incubadora de é o efeito que perdura no tempo: empresas na capital. Na altura, a possibilidade de posicionar a a autarquia lançou um desafio imagem de Portugal como um às instituições financeiras país que está na linha da frente portuguesas para se tornarem da inovação e da tecnologia. parceiras e o Montepio, através Nós só seremos competitivos da Associação Mutualista, nesta economia global se respondeu positivamente, tivermos bens e serviços com tornando-se, juntamente com alto valor acrescentado. E não a Câmara de Lisboa e o IAPMEI, basta que nós saibamos disso – um dos fundadores históricos – é preciso que os outros o Incubar ou não incubar, e, até hoje, únicos associados saibam. Não é a associação eis a questão da Startup Lisboa. Um dos mais óbvia para uma empresa Gonçalo Simões e Rafic Daud são de compromissos que aportou tecnológica que quer vender Lisboa e conheceram-se na escola pri- muito valor ao projeto foi a em mercados maduros como mária. Há dois anos, nascia a ideia de cedência integral do edifício o norte-americano dizer que customizar sapatos para homem. “Não principal da Startup Lisboa e é uma empresa portuguesa existia no mercado esta oferta e se ha- que é pertença do Montepio. e de Lisboa. Só por esse facto via era a preços elevados e com um Como se tratava de um edifício tem a vida mais dificultada, tempo de espera superior a quatro ou degradado, o Montepio também ou tinha, porque essa perceção seis semanas”, salienta Gonçalo Si- suportou o custo da reabilitação, está a mudar rapidamente. mões. Depois de muitas visitas a forne- por isso teve, desde logo, Desde a Web Summit temos cedores e “de não sei quantas viagens a um papel muito relevante tido imensa procura de startups fábricas de calçado em São João Ma- na origem da associação. internacionais que querem vir deira”, os dois empresários consegui- A Associação Mutualista é para Lisboa, de investidores ram finalmente um “sim”. A Undandy também um membro ativo e para os quais Portugal estava nasce em setembro de 2015, com sede participa nas sessões de júri em fora do radar e que, agora, em Lisboa, fabricando sapatos hand- que escolhemos os projetos a andam à procura de bons made no Norte do país e com comercia- incubar na Startup Lisboa. Tem projetos para apostar. lização exclusivamente online. “Tive- ainda uma série de pacotes de Isto é importante para mos uma batalha com os fornecedores. vantagens comerciais para as uma economia com fraca A indústria tem ainda um modelo startups cá alojadas. capitalização como a nossa.

REVISTA MONTEPIO 1 o meu mundo sentidos, pelo menos com o mesmo REPORTAGEM peso, na PeekMed: “A StartupBraga foi glossário nação startup fundamental para nós. Como parceira da Microsoft deu-nos acesso a ferra- - Startup mentas, parceiros e mentores, que têm É uma empresa recém-criada ou muito tradicional, tornando-se difícil elevada experiência. Tenho a certeza em fase de arranque. Normalmente encontrar alguém com visão que apos- que demoraríamos mais tempo a atin- é do setor digital ou tem uma base tecnológica, mas não obrigatoriamente. te numa empresa jovem”, refere. Para gir os objetivos se não estivéssemos na Algumas organizações consideram os empreendedores que não estejam incubadora”, refere João Pedro Ribeiro. startups todas as empresas com a terminar um mestrado ou inseridos Ricardo Santos da Heptasense, alo- menos de um ano. Outras apenas aquelas com crescimento rápido e num projeto de investigação, as incu- jada à Startup Lisboa, não teve dúvidas projetos inovadores com elevado badoras podem não ser a opção mais antes de criar a sua startup. “A primei- grau de incerteza. A Rede Nacional de natural para abrir um negócio. Além ra coisa que fizemos foi procurar uma Incubadoras, criada em junho de 2016, está a preparar um estudo sobre as disso, é preciso candidatar-se aos pro- incubadora. Abriu-nos as portas a uma startups portuguesas e apenas inclui gramas de apoio e nem todos querem boa rede de networking, quer a nível nesta categorização as empresas esperar meses por financiamento ou nacional como internacional. Pôs-nos alojadas em incubadoras. por uma vaga nas incubadoras. Os cria- em contacto com a Apple, ajudou-nos - Incubadora dores da Undandy decidiram voar sozi- a procurar concursos e fomos selecio- É uma associação, empresa ou nhos, investindo com capitais próprios. nados para a Road to Web Summit.” organismo que apoia as startups nos seus primeiros passos. Agora que entra no seu segundo ano de Na semana do maior encontro de tec- A incubadora providencia acesso 34 vida, a empresa depara-se com desafios nologia os dois sócios conheceram a investidores, clientes e a uma como o recrutamento de novos funcio- mais de cem empresas, muitas de- vasta rede de networking que inclui mentores e potenciais funcionários. nários. “Não tem sido fácil encontrar las potenciais clientes, e reuniram-se Organiza ações de formação e muitas os profissionais certos em áreas como com investidores com os quais estão disponibilizam espaços de coworking. o marketing digital e programação. agora a fechar novos financiamentos. Existem incubadoras afiliadas ao Estado, a empresas, autarquias e A incubadora, como o próprio no- “Como somos apenas dois já não te- universidades. me diz, é um suporte de vida para os mos capacidade de responder a tanta empresários, dando-lhes folga para se procura e vamos aumentar a equipa. - Scaleups São startups que conseguiram um ocuparem do mais importante: criar. Mas até nisso a StartUp Lisboa nos financiamento superior a um milhão de Muitos dos problemas enfrentados pe- ajuda, graças à rede de contactos que euros. Spotify, Blockchain ou Deliveroo los fundadores da Undandy não foram possui.” são algumas das scaleups mais valiosas na Europa.

- Unicórnio Universo Startup É uma startup de crescimento rápido, com um valor superior a mil milhões de dólares. A Farfetch, criada por José Startup Lisboa Startup Braga Neves em 2008, é a única unicórnio portuguesa. É o segundo maior portal do mundo de venda online de moda 3 500 80 de luxo. Em 2016 a empresa teve um Candidaturas Startups alojadas volume de vendas de cerca de 800 500 29 mil dólares. Empreendedores Apoiadas - Pré-aceleração e aceleração e 250 startups nos programas São fases do ciclo de vida das startups. apoiadas de aceleração – A Startup Braga explica no seu site que – 65% fecharam a pré-aceleração serve para identificar tecnologias inovadoras e ideias de + 30 investimento Startups com negócio resultantes de processos de presença investigação. A aceleração é uma fase 250 posterior, concebida para apoiar as internacional Empreendedores startups a construirem, executarem e e cerca de 30% apoiados a validarem o seu modelo de negócio, empreendedores acederem a mercados internacionais e estrangeiros 200 atraírem financiamento. Postos de trabalho + de 1 000 criados - Business Angel Postos de É um investidor individual de alto risco trabalho criados que financia projetos de startups.

REVISTA MONTEPIO

1 o meu mundo PERFIL

DENGAZ ESTE HOMEM TEM UM PLANO A HISTÓRIA DE VIDA DE LUÍS MENDES, OU DENGAZ, É A PROVA DE QUE QUEM CORRE POR GOSTO, ATRÁS 36 DE UM SONHO, CHEGA ONDE QUER. DENGAZ E A SUA AHYA BAND ENCHERAM OS COLISEUS DE LISBOA E DO PORTO EM MARÇO, DOIS CONCERTOS APOIADOS PELA ASSOCIAÇÃO MUTUALISTA MONTEPIO

por miguel ferreira da silva fotografia sony music

Desde que se lembra que ouve música de todos os géneros, apesar de nunca ter escondido uma especial inclinação pelo hip hop e pelas histórias nele contidas. Aos 14 anos começou a rimar por conta própria e a partir daí nunca mais lhe faltaram palavras. Nessa altura fundou, juntamente com três amigos, o projeto Dinastia, gravando temas em cassete e MiniDisc. Era um novo som que despontava diretamente de São Pedro do Estoril, das Marianas e de Alcoitão, e que teve eco no éter da Marginal. Olhando para trás, pouco mudou naquele “cadengue”, palavra que significa “rapaz pequeno” e que depois derivou em Dengaz, nome artístico de Luís Mendes.

REVISTA MONTEPIO Muitos anos passaram desde aqueles dias, mas o prazer que retira da mú- sica “é o mesmo desde sempre. A úni- “...[ser pai] transformou-me e muito. Dou muito mais valor ca diferença é que agora posso pagar às coisas verdadeiramente importantes. A nível musical tornou-me as contas a fazer aquilo que sempre mais verdadeiro e a minha escrita mais autobiográfca”. sonhei”. (Dengaz) Mais tarde levou o hip hop ao reg- gae, com os Innastereo, banda com a qual assumiu o papel de “mestre mo “Dizer que Não”, “Nada Errado”, boração de músicos como Seu Jorge, de cerimónias” e tomou o gosto pe- “Em Casa” ou “Rainha”. A “verdade” António Zambujo, Tatanka, Matay, los palcos, chegando a atuar em fes- contida nas letras é a sua marca de Plutónio, TC e D Noise. “Já quase to- tivais como o Sudoeste. Esse projeto água, é como se apresenta ao mundo. dos eram amigos e os que não eram fica em suspenso, mas a sua música Entretanto, ser pai foi um dos gran- ficaram. Foi muito bom fazer música não podia ser calada e lança-se a so- des momentos da sua vida, um ponto pela música. Aprendi muito com esta lo. Sem nunca desistir, lança em 2010 de viragem. “Transformou-me e mui- experiência”, confessa. Skill Respeito & Humildade. Afinal, to. Dou muito mais valor às coisas ver- Os espetáculos nos coliseus do essa trilogia de valores acompanha- dadeiramente importantes. A nível Porto e em Lisboa, realizados a 17 e va-o desde sempre como um man- musical tornou-me mais verdadeiro e 18 de março, são para Dengaz “um 37 tra: a capacidade de fazer bem, o res- a minha escrita mais autobiográfica.” momento muito importante na car- peito pelo trabalho de quem o ante- A sua história de vida reflete-se na reira”. Afirmando-se “agradecido” cedeu e a humildade para aceitar as música “quase a 100%, principalmen- pelo apoio da Associação Mutualista coisas boas que aí virão. O álbum é te se considerarmos a história dos a estes eventos, para o artista é tam- lançado de forma clássica, em forma- meus amigos como parte da minha”, bém “um reconhecimento que [a sua to CD, para as estantes das lojas, mas confessa. Escreve sobre a mulher, as música] chega a muito mais gente”. em 2012 aplica uma técnica de um filhas, os amigos, o que é ser um ho- Olhando para trás, o plano funcio- dos seus ídolos, Chance The Rapper, mem com responsabilidades ou sobre nou. “Consegui concretizar o meu e cria a mixtape AHYA, que conta os seus heróis, que “são os que vence- maior sonho: ser músico, ser rapper com a participação de NGA (ex-par- ram quando o sol não brilhava”. e viver disso.” ceiro dos Dinastia), Richie Campbell No final de 2016 revisitou em e Agir, entre outros, e coloca-a em acústico o último álbum com Para download gratuito na Internet. Sempre – Unplugged, um disco “sem “Tamojuntos” O sucesso foi imediato e tinha truques, live on tape”, como se pode Para Sempre – Unplugged um gosto especial, uma vez que foi ler nos créditos do CD. Com arranjos Quando começámos éramos loucos um trabalho completamente inde- e produção de TWINS, que assume Os que estavam comigo ainda eram poucos pendente. A sua visibilidade ganha também a direção musical dos con- Os verdadeiros eu sei quem são ainda mais força com milhões de vi- certos nos coliseus, conta com a cola- E para os que são… ‘tamos juntos! sualizações dos vídeos no canal You- Tube. Dengaz está ciente desta di- nâmica e reconhece que “as redes APOIO MONTEPIO sociais tiveram um papel determi- nante” na sua carreira. “Foi através No palco em família delas que a minha música chegou a Em março, Dengaz e vão aos concertos. eu escolhi e que me tanta gente”, conclui. Mesmo assim, apresentou-se nos É normal muita gente escolheu a mim.” afirma que “em Portugal ainda é im- coliseus do Porto e só me conhecer desde Os espetáculos contaram portante conciliar [as redes sociais] Lisboa com a AHYA o "Dizer que Não" (e esses com a direção musical com os meios tradicionais, até por- Band. Esta é uma palavra também poderão de TWINS, produtor que esses meios utilizam também as que, para o artista, ser AHYA Family), mas e teclista nos últimos redes sociais”. significa “família”: tenho muita gente que dois discos de Dengaz, Em 2015 edita Para Sempre, o ál- “AHYA Family são todos me acompanha desde e tiveram o apoio bum que fica na memória coletiva e os que gostam da música os primeiros dias. da Associação que consagra Dengaz, com temas co- que faço, se identificam Foi a família que Mutualista Montepio.

REVISTA MONTEPIO 1 o meu mundo CRÓNICA

ADRIANO MOREIRA a miséria espiritual e a miséria material. Mas o gravíssimo é que, na desordem global em que o mundo se encontra, as categorias distinguem- A ERRADICAÇÃO -se mas somam-se, de tal modo que a miséria é o resultado que alastra, bem diferente da pobreza DA MISÉRIA a que São Francisco se referia quando falava na Senhora Pobreza, ferverosamente recomendan- Foi em 1996 que a Organização das Nações Unidas para do que não buscassem os bens materiais sem pen- Alimentação e Agricultura (FAO) advertiu que a estimativa de sar na exigência de não esquecer os valores que pessoas que sofriam de subalimentação apontava para os 825 politicamente inspiram o Estado Social em crise. milhões. Aconteceu que, depois de um curto período de melhoria, Por isso, o cardeal africano Robert Sarah, devo- o número não deixou de aumentar, de tal modo que, na última to de Francisco, proclamou recentemente que informação colhida, em 2009, a FAO avaliava em 1,02 mil milhões “a humanidade nunca foi tão rica, mas atin- as pessoas que eram vítimas da fome, destacando uma centena ge cumes de miséria moral e espiritual espan- de milhões de vítimas recenseadas num só ano, na sequência da tosos, por causa da pobreza das nossas relações 38 explosão dos preços agrícolas internacionais que se verificou entre interpessoais e da globalização da indiferença”. 2007-2008 (Stéphane Parmentier, L’État du Monde, 2011). Naturalmente, a desordem mundial, o predomí- nio do credo do mercado sem atender ao credo A variação da origem das vítimas de fome evi- dos valores, a importância económica dos “com- dencia sobretudo que estas pessoas são rurais, plexos militares-industriais” que enriquecem os 20 a 30%, tudo conduzindo à conclusão de que mais poderosos países industriais fornecedores de são poucos os sinais de melhoria desta situa- armamentos para combates imorais e alimentam ção. É disso consequência a insegurança cau- a privatização dos contingentes que combatem, sada pelo descontrolo das migrações que se contribuem poderosamente para que as formas de agrava escandalosamente, clamando por “re- miséria moral, miséria espiritual e miséria mate- forçar as medidas e programas de proteção so- rial sejam interdependentes. Assim, a miséria au- cial”, de modo a que a erradicação da fome menta e incentiva o esmagador alargamento a que não seja mais do que “um voto piedoso”. Es- Charles Derber chamou “a maioria deserdada”. ta situação, da qual referimos apenas algu- E, por vezes, parece impossível concluir qual das mas indicações alarmantes, chamou a atenção parcelas das três principais formas de miséria é a da Mensagem da Quaresma de 2014 do Papa mais dolorosa. Francisco, que distinguiu a miséria moral, Por isso, a reforma do Estado aparece reclamada por tão diferentes formações civis que perderam a esperança na ação das ini- dentificáveis estruturas que assumem o real poder de decidir, como é evidente com muitas das vastas burocracias em que aparentes gover- nantes delegam as competências de que per- dem a orientação e fiscalização. Aumentam, assim, as urgentes reações que esperam das organizações supranacionais que despertem para uma intervenção reformadora ativa, com destaque para a ONU, na qual as vítimas de duas guerras mundiais colocaram as esperan- ças, que perderam. Talvez não deva ser omitida a Declaração Universal dos Deveres Humanos pro- posta, mas esquecida, pelo Inter Action Council, já em 1 de setembro de 1997.

REVISTA MONTEPIO A MINHA CIDADE CAMINHOS A PERCORRER EM MOBILIDADE, URBANISMO, SOLIDARIEDADE

página 40 página 46 MIGRAÇÕES CULTURA Sobretudo por motivos Chaves, Guimarães, Santo profissionais, muitos são os Tirso e Ponta Delgada. portugueses que trocam a Quatro cidades que estão terra natal pela metrópole. a mudar o paradigma e são Conheça três histórias de vida a prova viva de que investir que encontraram nas cidades na cultura é uma aposta novos rumos para o futuro ganha em vários setores 2 a minha cidade REPORTAGEM

MIGRAÇÕES CRÓNICAS DA CIDADE GRANDE TODOS OS ANOS, MILHARES DE PESSOAS TROCAM O INTERIOR DO PAÍS PELOS GRANDES CENTROS URBANOS. FOMOS CONHECER HISTÓRIAS DE QUEM TROCOU O CONFORTO DOS FAMILIARES PARA SER MAIS UM ENTRE A MULTIDÃO

por susana torrão 40 fotografia artur

Sandra saiu de Mirandela, Trás-os-Montes, para estudar no Porto, mas aos poucos a vida profissional trouxe-a para o Sul e hoje vive no Seixal. Gostava de regressar ao Norte, mas não à cidade que a viu nascer. Alexandre saiu de Linhaceira, perto de Tomar, para estudar em Lisboa. Hoje vive na Mouraria mas sonha um dia regressar à aldeia. Paulo esperou até aos 36 anos para rumar de Bragança a Lisboa, onde tem mais tempo para investir na música, o hobby que arrisca transformar-se em atividade principal. O seu futuro é incerto: tanto pode ser em Lisboa como Nova Iorque ou Bragança.

REVISTA MONTEPIO Sandra, Paulo e Alexandre têm em co- mum o facto de terem abandonado as regiões de origem para viver num gran- de centro urbano. Histórias que se repe- tem todos os anos e que deixam o inte- rior do país cada vez mais despovoado. Os números revelados pelos últimos Censos são claros: dos 10,6 milhões de habitantes contabilizados em 2010, mais de 80% concentrava-se em três regiões: Norte (34,9%), Lisboa (26,7%) e Centro (22%). Na primeira década des- te século a desertificação do interior au- mentou, com 50% da população a con- centrar-se em 33 dos 308 municípios portugueses – a maioria situados no litoral. Os três municípios que perde- ram mais população entre o ano 2000 e 2010 ficam todos encostados à frontei- ra: Alcoutim (-22,6%), Mourão (-17,6%) e Montalegre (-17,4%). Este não é, porém, um fenómeno novo. De acordo com da- dos publicados no livro A Demografia e o País, Previsões Cristalinas sem Bola de 41 Cristal, de Eduardo Anselmo Castro, José Manuel Martins e Carlos Jorge Silva, investigadores do Departamen- to de Ciências Sociais, Políticas e do Território da Universidade de Aveiro, a população portuguesa multiplicou- -se por um fator de 2,5 nos últimos 150 anos, mas o interior do território tem perdido peso demográfico e está em de- tamento de Geografia e Planeamen- Paulo Vicente clínio desde 1950 (ver quadro, pág. 42). to Regional da Faculdade de Ciências MÚSICO E DJ Hoje, tal como na altura, são as ofer- Sociais e Humanas da Universidade Trocou Bragança por Lisboa tas de trabalho e o ensino superior que Nova de Lisboa e uma das autoras do aos 36 anos e sente-se levam à procura dos centros urbanos estudo. A investigadora sublinha ainda 100% integrado no litoral. Dados revelados pelo estu- a importância que a construção e a mo- do Causas Prováveis das Migrações In- bilidade residencial assumiu nos anos ternas em Portugal na Década de 90, 90 em Portugal. fenómeno migratório estar associado, realizado por duas investigadoras da “Ao analisar os dados dos Censos em grande parte, à entrada na idade Faculdade de Ciências Sociais e Hu- 2011, e se compararmos com os dados ativa: 43% dos migrantes tinha entre 25 manas da Universidade Nova de Lis- de 2005, vemos que 23,7% das famílias e 39 anos. boa, apontam a mudança de habitação portuguesas mudou de residência e, do como principal causa da migração in- total de famílias, 8,5% mudou de mu- As vantagens da cidade ter-municipal, estando o desemprego nicípio”, afirma Maria Cristina Sousa Paulo Vicente, 47 anos, não tem dú- mais ligado à emigração. “A análise Gomes, do Departamento de Ciências vidas: à exceção do alto custo de vida, que fiz nessa altura foi algo surpreen- Sociais, Jurídicas e Políticas da Univer- a vinda para Lisboa só lhe trouxe van- dente, uma vez que estávamos à espe- sidade de Aveiro e uma das autoras do tagens. O engenheiro florestal, natural ra que fossem as questões do emprego artigo Movimentos Migratório Internos de Bragança, aproveitou uma oportu- e do desemprego a estar na origem da em Portugal (1995-2011) publicado em nidade de emprego na confederação migração, e isso não se verificou”, afir- Janeiro na revista Sociologia, Problemas de agricultores onde já trabalhava para ma Maria Dulce Pimentel, do Depar- e Práticas. O artigo destaca o facto de o concretizar um projeto antigo. “Sempre

REVISTA MONTEPIO 2 a minha cidade REPORTAGEM crónicas da cidade grande

tive interesse na componente cultural, que é mais dinâmica nas grandes cida- des. A vinda para Lisboa era o cami- nho natural”, afirma. Ao contrário da maioria, que sai da cidade de origem no início da idade adulta, Paulo saiu de Bragança quando já tinha 36 anos. “Fui para Lisboa nu- ma idade em que se procura um am- biente mais calmo. Mas foi nesta idade que tive a maturidade de vir para uma grande cidade e aproveitar ao máximo. E Lisboa dá-me um ambiente cosmo- polita e de criatividade muito grande”, assegura. Depois de uma experiência de vários anos como DJ, Paulo dedica- -se hoje à música ambiental eletróni- ca. Além de uma editora, de que é co- 42 -proprietário, faz parte do movimento Desterrónix e sente-se perfeitamente integrado na vida da capital. “As úni- cas dificuldades que senti foram do foro económico, já que Lisboa é uma ci- Custo de vida incomparável Sandra Coelhoso dade muito mais cara do que Bragança. “Sempre tive como objetivo ir estudar Professora De resto, só ganhei”, diz. para o Porto”. Natural de Mirandela, Nasceu em Mirandela, Quanto ao futuro, não faz projetos: Sandra Coelhoso nunca escondeu o estudou no Porto e “Hoje estou em Lisboa, amanhã posso desejo de fazer a faculdade na Invicta. atualmente vive no Seixal estar em Nova Iorque, depois em Tó- Aos 18 anos, a licenciatura em História quio e daqui a uma semana em Bra- concretizou-lhe o desejo, colocando- gança. Não há um sonho de voltar, -lhe alguns desafios. “Senti diferenças, poderá acontecer ou não. A vida o dirá”. nunca tinha vivido fora de Mirandela.

ANÁLISE Uma tendência com mais de um século

EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO PORTUGUESA

ANO INTERIOR LITORAL ILHAS (em milhares) TOTAL(em milhões)

1864 1,7 (42%) 2 (50%) 359 (9%) 4,1 1911 2,2 (38%) 3,2 (55%) 412 (7%) 5,9 1950 2,8 (34%) 4,9 (59%) 584 (7%) 8,4 1981 2,2 (23%) 6,9 (72%) 496 (5%) 9,6 2011 1,9 (18%) 8,1 (77%) 515 (5%) 10,5

FONTE: “A DEMOGRAFIA E O PAÍS, PREVISÕES CRISTALINAS SEM BOLA DE CRISTAL”

REVISTA MONTEPIO Foi uma grande mudança de hábitos em tudo: aos shoppings, aos transportes e a toda a agitação de uma grande cida- de”, recorda a professora, hoje com 33 anos. Outra das diferenças que sentiu prendeu-se com a vivência social. “Ape- sar de eu costumar dizer que o Porto é uma aldeia grande, em Mirandela, um P&R meio muito mais pequeno, as pessoas acabam por ser muito mais dadas e há Dulce Pimentel e Maria Cristina Sousa Gomes, uma maior convivência. Concluída a autoras do estudo Causas Prováveis das Migrações Internas licenciatura, Sandra ainda trabalhou em Portugal na Década de 90 três anos no Porto. Durante esse tem- po perdeu o médico de família em Mi- randela e viu-se confrontada com a difi- A partir de 2011 houve alterações DP – Não se verifica tanto uma culdade de encontrar outro. “No Porto, signifcativas no movimento dinâmica norte-sul ou litoral interior. toda a questão da saúde era mais com- migratório? É claro que as perdas são mais fortes plicada”, assume. As colocações como DP – Temos consciência da no interior, mas todo o Norte também docente no ensino público levaram-na importância que as migrações sofreu perdas significativas. depois para o Montijo e Setúbal. Hoje internas têm na dinâmica À exceção de um ou dois municípios, vive no Seixal e dá aulas num colégio populacional, mas não existem todo o Alentejo tem valores negativos. privado. muitos instrumentos para seguir O Alentejo e a região norte – incluindo No Seixal, Sandra sentiu ainda mais em continuidade esses fenómenos. a região metropolitana do Porto –, a mudança. “Ao vir para a margem Sul Os dados que usamos vêm de duas são as áreas que apresentam menor 43 acabei por notar que as pessoas são perguntas que são colocadas nos capacidade de atração e maior perda mais fechadas, têm uma vida que se re- recenseamentos: onde residiam os de população. A rede viária sume ao circuito casa-trabalho-casa”, inquiridos no final de 2005 e de 2009. e o papel representado pelas cidades conta. No que toca ao custo de vida, no Os anos que refere correspondem de média dimensão podem ter ditado Seixal é mais alto do que no Porto e Mi- ao que chamamos “período de algumas alterações que verificamos, randela. “Na habitação, o Seixal é muito crise”, já depois dos Censos 2011. mas ainda são dados por confirmar. mais caro do que Mirandela. Mesmo o Mas nós trabalhámos a taxa de É possível saber que gerações Porto acaba por ser mais em conta. Tal- crescimento migratório a partir de migram mais? vez por estar perto de Lisboa, o Seixal dados fornecidos pelo INE e fizemos MCG – Os dados dos Censos tem os preços mais inflacionados”, diz. os mapas para o Continente, Açores e mostram que este é um fenómeno Sandra não se importaria de viver Madeira, que dão uma ideia das taxas transversal, embora haja uma grande em Lisboa, mas o que a faria feliz era de crescimento dos municípios. concentração na idade ativa. Depois o regresso à cidade Invicta. “Neste mo- E o que mostra o mapa migratório voltamos a ter uma nova mobilidade mento é praticamente impossível, por- de 2015? em idades mais avançadas, apesar de que a oferta de colégios privados é mui- DP – Um país com taxas de não se comprovar se poderá ser um to menor e também não há colocações crescimento negativas – dois terços retorno ao local de origem. no ensino público”, explica. do território apresenta valores DP – Os dados também mostram a As idas a Mirandela resumem-se negativos. influência do nível de escolaridade. às férias. Não se imagina a regressar, Há municípios a fcar vazios? Por regra, os migrantes têm um nível consciente de que cidades como o Porto MCG – É uma leitura correta. de escolaridade superior aos não ou os arredores de Lisboa lhe garantem Um saldo negativo traduz uma migrantes. No caso, um português acesso a uma série de serviços a que se situação de repulsão de população superior à média da população habituou. “Aqui temos acesso a deter- e esvaziamento. Ao olhar para os da região. A migração é seletiva: minados serviços, à cultura... Em Mi- mapas podemos ver que há uma normalmente são aqueles que estão randela, se quiser ir ao shopping tenho estruturação dos fluxos em redor dos mais apetrechados – quer ao nível das de ir a outra cidade, se quiser ir ao cine- principais eixos viários. Os territórios suas competências académicas como ma ou ao teatro tenho de ir a Vila Real, mais exógenos perdem população profissionais – que empreendem uma que fica a 50 quilómetros, ou a Bragan- mas há alguns fatores que pareciam migração, seja ela de centenas ou de ça”, refere. sobressair neste último ano de 2015. milhares de quilómetros.

REVISTA MONTEPIO 2 a minha cidade Alexandre não tem dúvidas: é na REPORTAGEM Linhaceira que gostaria de passar a re- crónicas da cidade grande forma. Isto se não conseguir mudar-se mais cedo. Nos tempos em que vivia na Linha- ceira, a aldeia tinha cafés e algumas lojas. Hoje a realidade da aldeia, com 1 200 habitantes mudou – há menos cafés e comércio e a maioria dos habi- tantes trabalha nas cidades mais pró- ximas. Ainda assim, a Linhaceira con- tinua a ser aliciante para Alexandre. “O ritmo de vida é diferente, há menos exigência. Tem a vantagem de se po- der sair de casa para ir dar um passeio no meio do pinhal, ou dar uma volta de bicicleta… Não há tanta gente, não há tanta pressão. Gostava de arranjar um cantinho por lá para ter uma vida mais simples”, diz. A viver na Mouraria há mais de uma década, reconhece que Lisboa lhe proporciona maior oferta cultural, mas o ritmo de vida acaba por 44 pesar negativamente na balança. Alexandre chegou a Lisboa depois de concluir o ensino secundário em Alexandre Cotovio Lisboeta mas não muito Tomar. O mais velho de quatro irmãos, Trabalhador Alexandre Cotovio, 41 anos, a traba- em miúdo não tinha noção do que que- numa empresa de estudos lhar numa empresa de estudos de mer- ria fazer. “Era relativamente bom alu- de mercado cado, vive na Mouraria mas não escon- no, mas na verdade não pensei muito Apesar de se sentir de a vontade de regressar a Linhaceira, se alguma vez teria de sair dali”, conta. bem em Lisboa vai regressar a aldeia do concelho de Tomar de on- Depois, matriculou-se em Economia à aldeia da Linhaceira, de é natural. Por agora, este é um so- no ISEG. Durante o primeiro ano fez Tomar nho adiado, devido aos projetos que todos os dias o trajeto Linhaceira-Lis- prendem a namorada a Lisboa, mas boa-Linhaceira, o que não facilitou a adaptação. Nos cinco anos seguintes fi- cou numa residência universitária. ANÁLISE Alexandre recorda a estranheza com que viveu os primeiros tempos. Municípios com mais população “Era um rapaz pacato. Tinha de vir e Segundo os Censos 2011, mais de 80% da população residente concentra-se em vim. Era tudo muito diferente”, diz. 3 regiões do país: Norte (34,9%), Lisboa (26,7%) e Centro (22,0%). Acabou por não concluir o cur- 1 LISBOA 547 733 so mas, como rapidamente encon- trou trabalho na empresa em que se 2 SINTRA 377 835 mantém até hoje, foi ficando. “Aca- 3 VILA NOVA DE GAIA 302 295 bei por me adaptar e hoje considero- 4 PORTO 237 591 -me lisboeta”, diz. A vinda da namo- 5 CASCAIS 206 479 rada para Lisboa ajudou a criar raízes. 6 LOURES 205 054 Do bairro onde vive destaca a proxi- 7 BRAGA 181 494 midade entre vizinhos. “É como uma 8 MATOSINHOS 175 478 aldeia dentro da cidade, com tudo o 9 AMADORA 175 136 que isso tem de bom e de mau. Mas é 10 ALMADA 174 030 algo que aceitamos”, conclui.

REVISTA MONTEPIO 2 a minha cidade CRÓNICA

FRANCISCO MOITA FLORES Anos depois, abandonada a investiga- ção criminal, dedicado à investigação científi- ca, estava no outro lado do mundo, em Xangai, num congresso. Saí por uns instantes à pro- A Minha cura de cigarros e qual não foi o meu espan- to quando escuto uma cantiga que conhecia, embora cantada em mandarim. Era o hino do PÁTRIA Benfica! Fiquei atordoado. Embora seja spor- tinguista, soube a mel perceber que, por via Há muitos anos, a investigação de um homicídio do futebol, o nosso país era cantado nessa tão levou-me ao Canadá. Foram vários meses de trabalho longínqua e estranha língua. Não resisti. Com- com a polícia de investigação canadiana, a RCPM, prei o CD e ofereci-o ao meu querido amigo, adaptando-me aos seus horários e hábitos gastronómicos. o actor Henrique Viana, benfiquista dos qua- Tão longe dos nossos, como o Diabo está da Cruz. tro costados e que, infelizmente, já nos deixou. Invariavelmente, salsichas e hambúrgueres, servidos em Joanesburgo. Chego ao aeroporto e dirijo-me sandes gigantes. Entre outras saudades, havia a um táxi. Ia fazer uma palestra a convite de uma que roía no estômago. Um petisco português. uma universidade daquela cidade. Num inglês “aflamengado” digo para onde quero ir e do vo- Num domingo morno, a passear por uma aveni- lante responde uma voz: É português, não é? da de Toronto, leio ao longe um letreiro que afir- O meu taxista era dos arredores de Coimbra. 45 mava peremptoriamente: “Restaurante Portu- Passados meses, estava em Nova Iorque. guês.” O coração deu um salto. E se, por milagre, Com alguns amigos, fomos almoçar a New houvesse um bacalhau com grão? Ou um cozido Jersey. Ao sairmos da viatura, apercebo-me de à portuguesa? Não foi preciso entrar. Quando nos um casal de polícias, em patrulha apeada, que aproximámos, um grande papel colado no vidro se dirigia a nós. A senhora, ainda jovem, sor- anunciava: “Prato do Dia: Bacalhau com Grão”! ria para mim. Estendeu-me a mão e pergun- Não vale a pena descrever a emoção em torno tou afável, num português escorreito: “O que do acepipe e da maior emoção que foi o encontro faz por aqui, professor?” Era uma antiga aluna. com a comunidade portuguesa. Emigrara à procura de um outro destino e ali es- tava, ao serviço da polícia e em estreita ligação com a comunidade portuguesa que ali reside. Podia continuar a contar histórias semelhan- tes a estas. Quando se chega aos sessenta anos e nos tornámos andarilhos pelo mundo, estudan- do ou trabalhando, este encontro com a diáspora torna-se uma rotina alegre. Não existirá um úni- co fuso horário onde não se fale português e onde Portugal não seja referência. Pelos mais diferen- tes motivos. Muitas vezes, pelo sofrimento. Outras tantas vezes, pelo reconhecimento da capacidade que temos de nos entregar ao trabalho e à vida. Não espanta, pois, que Fernando Pessoa se tenha identificado como uma Pátria sem fronteira, que ela própria é infinito e universalidade, o útero fe- cundo de identidade a Portugal e aos portugueses. Uma imensa Pátria que é a Língua Portuguesa.

NOTA: O autor continua a escrever segundo a chamada norma antiga.

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SOCIEDADE DESCENTRALIZAR A CULTURA A CULTURA TEM INVADIDO O INTERIOR, DANDO RESPOSTA ÀS NECESSIDADES CULTURAIS DO PÚBLICO E DINAMIZANDO A ECONOMIA LOCAL. EM QUATRO CIDADES, QUATRO PROJETOS CULTURAIS DÃO PROVAS DE QUE É POSSÍVEL MUDAR O PARADIGMA CULTURAL DO PAÍS

por elsa garcia fotografia leonardo finotti, vasco célio

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Museus, centros culturais e funda- Nadir Afonso nasceu em Chaves. público da sua infância e pulava os ções estão a tornar as cidades do Deste modo, não é de estranhar que bancos exatamente da mesma forma interior do país mais interessantes, a cidade transmontana tenha sido a como fazia enquanto pequeno”, conta apelando à formação de novos eleita para acolher a sua vasta obra. Laura Afonso, viúva de Nadir Afon- públicos culturais e estimulando a Tudo começou com a ideia de Nadir so e presidente da fundação com o economia local, através do aumento Afonso em reunir a sua obra num nome do pintor flaviense. de dormidas e das refeições nos espaço que fosse acessível ao público Nadir Afonso, um dos grandes ar- restaurantes. Chaves, Guimarães, e, paralelamente, constituísse uma tistas portugueses do século xx, estu- Santo Tirso e Ponta Delgada são mais-valia para Chaves. “Apesar de dou arquitetura antes de se decidir pe- algumas das cidades que concorrem ser uma pessoa cosmopolita, gostava la pintura, tendo chegado a trabalhar com Lisboa e Porto na projeção de ir a Chaves. Sentia-se bem, gosta- nos gabinetes de Le Corbusier e Oscar cultural. Conheça a ligação de va de percorrer as ruas e as margens Niemeyer. A escolha de Siza Vieira cada uma delas às diferentes artes. do rio. Até aos 87 anos ia ao jardim para realizar o projeto partiu de uma

REVISTA MONTEPIO > O MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA NADIR AFONSO concentra cerca de 12 000 estudos do pintor flaviense, material fértil para a criação de um centro de estudo 47

A exposição inaugural – “Chaves continua. Para Laura, a localização para Uma Obra”, uma retrospetiva do museu é uma boa notícia, uma vez da obra de Nadir Afonso desde a sua que perante um cenário de desertifi- juventude até 1976 – teve a curado- cação das cidades do interior torna- ria de Bernardo Pinto de Almeida. -se necessário criar polos de atração. A fundação prevê uma exposição “Há 40 anos era muito difícil chegar permanente, constituída pela obra ao interior”, confessa. Hoje, porém, de Nadir Afonso, assim como expo- existe uma boa rede viária e os 500 sições temporárias, existindo ainda a quilómetros de autoestrada entre ambição de formar um centro de es- Lisboa e Chaves já não amedrontam. tudos para a sua obra. A Câmara de E o turismo cultural tem um papel Chaves estabeleceu entretanto uma muito importante no desenvolvimen- parceria com o Museu de Serralves to das cidades, envolvendo a restau- no sentido de realizarem uma expo- ração e a hotelaria. “É mais um café sição conjunta todos os anos. que se toma e não podemos deixar conversa entre a Câmara Municipal e o Inaugurado há menos de um ano, morrer as nossas cidades”, conclui. artista, ao que o arquiteto acedeu pron- o Museu de Arte Contemporânea Na- Com uma população de 15 mil tamente, privilegiando a localização à dir Afonso já atrai a Chaves visitantes habitantes, são poucos os flavien- beira-rio. O Museu de Arte Contem- que, de outra forma, teriam ficado pe- ses que já visitaram a fundação, porânea que tem o seu nome foi cons- los museus e centro de arte contempo- uma vez que 90% dos visitantes che- truído junto ao Tâmega, como era de- rânea do Porto ou Lisboa. A fundação gam de fora. “Já recebemos o dire- sejo do artista. “É o melhor edifício do já é uma referência no panorama da tor do Chicago Art Center e o em- Siza em Portugal”, comentou o arqui- arte. “Quando se fala de Chaves, o no- baixador de França”, conta Laura, teto Souto Moura acerca do museu, me da fundação é abordado. Já não é acrescentando que, em 2016, o mu- um projeto que demorou 11 anos a ser apenas a cidade romana”, conta Laura seu recebeu 8 500 visitantes, na sua concluído. O edifício é composto por Afonso. “Nadir assistiu apenas ao iní- maioria portugueses e estudantes quatro salas de exposição, um auditó- cio da obra e penso que, se fosse vivo, universitários. A ambição de Lau- rio, livraria e cafetaria. iria ficar muito contente e orgulhoso”, ra Afonso é tornar o museu um

REVISTA MONTEPIO 2 a minha cidade REPORTAGEM descentralizar a cultura

espaço de referência do estudo da ar- te. Para tal conta com um acervo de 12 mil estudos do artista flaviense. “O Nadir sempre teve uma visão da arte diferente da que é normalmente 48 transmitida. Para ele, o que conta na > O CENTRO pintura é o modo como as formas se CULTURAL VILA relacionam entre si, não importando FLOR foi inaugurado se a obra é contemporânea, clássica, em setembro de impressionista ou surrealista. Sem- 2005 e está equipado pre teve um pensamento filosófico e com dois auditórios, sempre tentou compreender os me- um café-concerto, canismos da criação artística. É na jardins e salas de morfometria, matemática intuitiva, exposições que reside toda a essência”, conclui.

Guimarães, polo cultural Alguns quilómetros para sul, Gui- GUIA PARA UMA ROTA CULTURAL marães fervilha com uma intensa atividade cultural, tornando-se um A não perder, até ao fim do ano exemplo nacional da descentraliza- > Centro Cultural > Museu Internacional ção cultural. Vila Flor, Guimarães de Escultura Contemporânea Festival Manta, música (a confirmar) de Santo Tirso (MIECST) Na cidade minhota, salta à vista a Festival Gil Vicente, teatro (junho) 15 escultores (até final de maio) fusão da arquitetura contemporânea Guimarães Jazz (novembro) Robert Schad, escultura (junho a agosto) do Centro Cultural Vila Flor com o Jorge Molder, fotografia (setembro) recentemente recuperado Palácio > Centro Internacional das Ângela Ferreira e José Pereira (final do Vila Flor, edificado no século xviii. Artes José de Guimarães (CIAJG)* ano) Com dois auditórios, o centro cultu- Exposição Permanente e outras obras – Cosmic, Sonic, Animistic (Christine Henry, > Museu de Arte Contemporânea ral oferece uma programação regular António Bolota, José de Guimarães, Vasco Nadir Afonso, Chaves e eclética, com música, teatro, dança, Araújo, Rui Toscano, Stefano Serafin, Nadir Afonso – Chaves para uma Obra novo circo e cinema. “A Câmara Mu- Franklin Vilas Boas, Rosa Ramalho, Ernesto (permanente) nicipal quis tornar Guimarães uma de Sousa, Tomás Cunha Ferreira, Musa cidade cultural. Queria que isso con- Paradisíaca, Jaroslaw Flicinski) Rui Moreira – Os Pirómanos tribuísse como fator de desenvolvi- Edgar Martins - Destinerrância mento social. Além da música, que *até 4 de junho

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atrai público em massa, o grande in- rães. “Não é por acaso que Guimarães vestimento da nossa programação foi Capital Europeia da Cultura. Exis- é na dança contemporânea. O festi- tiam já provas dadas de que a cidade val GUIdance, que vai na sétima edi- tinha uma grande dinâmica em ter- ção, é um dos nossos eventos ânco- mos culturais”, justifica o responsável. ra”, conta Frederico Queiroz, diretor da cooperativa A Oficina, entidade A meca da escultura que gere o projeto em parceria com o A pouco mais de 20 quilómetros de Centro Internacional das Artes José Guimarães encontra-se uma cidade de Guimarães (CIAJG), o Centro de onde confluem várias artes, da es- Criação de Candoso, dedicado a resi- cultura ao património e arquitetura. dências artísticas, o Espaço Oficina, Ao longo das suas ruas descobrem- onde funciona a companhia Teatro -se várias esculturas pertencentes Oficina, a Casa da Memória e o Palá- ao Museu Internacional de Escul- cio Vila Flor, que acolhe exposições tura Contemporânea de Santo Tirso temporárias. (MIECST). O serviço educativo faz a ligação A ideia para um museu dedicado > O CENTRO INTERNACIONAL entre os espaços e com os programa- à escultura começou a ser moldada DAS ARTES JOSÉ DE GUIMARÃES dores, sendo fundamental para a for- quando Joaquim Couto, presidente acolhe uma área de exposições, mação de públicos. “Pensamos a pro- da Câmara Municipal de Santo Tir- gabinetes de apoio à indústria criativa gramação de uma forma articulada so, convidou o artista Alberto Carnei- e ateliês de apoio à criatividade entre os vários espaços”, conta Frede- ro a instalar uma escultura na Praça rico Queiroz. O centro encontra-se in- Camilo Castelo Branco. “Água sobre os espaços da mesma praça. “A par- serido na Plataforma das Artes e da a Terra” foi inaugurada em 1990 e, tir daí, Alberto Carneiro sugeriu à Câ- Criatividade, um projeto de transfor- pouco tempo depois, “O Barco, a Lua mara a realização de um conjunto de mação do antigo mercado de Guima- e a Montanha” surgiu para equilibrar dez simpósios, de forma a constituir

REVISTA MONTEPIO 2 > EM SANTO TIRSO, a minha cidade o Museu Internacional REPORTAGEM de Escultura Contemporânea descentralizar a cultura coabita com o Museu Abade Pedrosa

uma coleção de escultura pública com 50 peças de vários escultores implantadas no perímetro da cida- de”, refere Álvaro Moreira, diretor do museu. A ideia foi acolhida e, concluída a 10ª edição, entendeu- -se necessária a criação de um espa- ço dedicado à arte contemporânea e à escultura. O local escolhido foi o Museu Municipal Abade Pedrosa, equipamento que carecia de remode- lação. “Convidámos o arquiteto Souto Moura para a intervenção no antigo museu e Siza Vieira para a criação do novo espaço”, conta Álvaro Pedrosa. Com programas e conteúdos distin- tos, os dois museus acabam por for- > O TEATRO mar um só, partilhando a receção, MICAELENSE, 50 loja, biblioteca, cafetaria e auditório. em Ponta Delgada, A programação divide-se numa é a sala de exposição semipermanente, no Mu- espetáculos seu Municipal, alusiva à história da de referência cidade, ficando as exposições tempo- dos Açores rárias, dedicadas à arte contemporâ- nea, destinadas ao novo museu. “Tra- ta-se de um museu singular no país e PARCERIA o único com esta dimensão e partici- A grande montra dos Açores pação de escultores de renome inter- nacional”, observa Álvaro Pedrosa. onstruído em congressos, com uma Alexandre Pascoal. O fluxo de turismo no Porto também 1951 como programação eclética “Ode Marítima”, um se faz sentir em Santo Tirso. “Para a Créplica do das várias artes. Com monólogo de Diogo semana já temos marcadas 400 pes- antigo Monumental, 172 eventos e 30 500 Infante dedicado a soas para várias visitas programa- em Lisboa, o Teatro espetadores em 2016, Fernando Pessoa, foi das”, acrescenta. Micaelense é a sala o Teatro Micaelense um dos espetáculos O espaço tem um protocolo com o de espetáculos de é apoiado pela apoiados pela Museu de Serralves, possui um ser- referência dos Açores. Associação Mutualista Associação. viço educativo e oficinas e ateliês de- “É muitas vezes Montepio. “Este apoio Em contrapartida, os dicados ao público mais jovem, o que pequena para a viabiliza diversos associados Montepio permite a ligação do espaço aos cida- procura”, conta espetáculos, do teatro têm desconto de 20% dãos. O próximo passo é a criação de Alexandre Pascoal, à dança. Apesar de ser na aquisição de bilhetes residências artísticas. “Ontem esteve diretor do teatro de um chavão, existem para espetáculos e cá o José Pedro Croft, para instalar- Ponta Delgada. custos de insularidade e na participação em mos a sua peça, e voltei a sentir que Projetado por Raul a atividade artística nos workshops e ateliês os artistas gostam deste museu, cujas Rodrigues de Lima e Açores tem sempre um promovidos pelo Teatro esculturas se encontram em excelen- reabilitado por Manuel custo acrescido. Micaelense, assim te estado de conservação. Os artistas Salgado, em 2004, O apoio possibilita como nos materiais são os embaixadores do projeto do o espaço alberga um o acesso a uma série de merchandising e museu”, conclui Álvaro Moreira. centro cultural e de de propostas”, conta aluguer dos espaços.

REVISTA MONTEPIO A MINHA ECONOMIA PRODUTOS FINANCEIROS, SUGESTÕES E EMPREENDEDORISMO

página 52 página 56 página 62 página 64 FINANÇAS TECNOLOGIA IMPOSTOS DESCODIFICADOR PESSOAIS Estão sempre disponíveis Até ao final de maio está É uma das fontes de energia Casa de pais, escola de filhos. e ajudam-no a poupar. aberta a época de entrega mais polémicas, mas não A relação que temos com São 12 apps que lhe permitem do IRS. Conheça as existe em Portugal. Traçamos o dinheiro influencia não só controlar o orçamento e novidades e saiba de onde um RX à energia nuclear e o dia a dia como o futuro encontrar descontos, produtos podem vir as maiores fatias damos-lhe conta de todos dos mais jovens. Saiba como e serviços low cost do reembolso os números e estatísticas 3 a minha economia FINANÇAS PESSOAIS

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LITERACIA FINANCEIRA

Maria e Francisco Coroado Santos tinham 10 anos quando começaram O DINHEIRO É TABU? a receber mesada. Mês após mês recebiam o mesmo O DINHEIRO NEM SEMPRE É UM ASSUNTO valor, que tinham de gerir para PARTILHADO COM OS MAIS JOVENS. EM MUITAS pagar as despesas de alimentação FAMÍLIAS ESTE É AINDA UM TEMA TABU, e fazer face a outros gastos pessoais. ABORDAGEM QUE, SEGUNDO OS ESPECIALISTAS, Mas havia um pequeno senão: NÃO É A CORRETA. QUANTO MAIS CEDO AS um terço da quantia que recebiam CRIANÇAS PERCEBEREM O VALOR DO DINHEIRO não era para gastar, mas para encaminhar para o chamado E AS SUAS LIMITAÇÕES, MELHORES GESTORES “envelope da poupança”. DAS SUAS FINANÇAS SERÃO NO FUTURO Uma forma de incutir nos jovens por maria pereira a responsabilidade de poupar fotografia artur e de dar valor ao seu dinheiro.

REVISTA MONTEPIO Na casa de Sofia Coroado Santos, com grande expetativa, alegria e de mãe de Maria e Francisco e Associa- grande responsabilidade.” Eram os da Montepio, o dinheiro nunca foi um próprios que levavam num envelope o 10º tema tabu, mas tal não acontece com seu dinheiro e o entregavam ao gestor LUGAR foi a posição alcançada por todas as famílias. Quanto mais cedo de conta para depositar. Portugal num inquérito a 30 países da OCDE sobre literacia financeira os mais jovens forem envolvidos nos Anos mais tarde, quando saiu de temas dos mais crescidos, melhor sabe- casa para frequentar um curso uni- rão lidar com o dinheiro e estabelecer versitário noutra cidade, Francisco prioridades. A semanada ou a mesa- ficou, pela primeira vez, com a res- Semanada e mealheiro ajudam da é a forma ideal para que as crianças ponsabilidade de gerir na íntegra o Mas, por mais valores de poupança comecem, desde cedo, a gerir e a tomar seu orçamento. E, tal como aconte- que sejam transmitidos à criança, es- decisões financeiras, naquele que é o cia quando era mais pequeno, a preo- ta apenas poderá poupar se, de facto, primeiro teste para a forma como se cupação da poupança foi prioritária. tiver o seu dinheiro para gerir. “A sema- relacionarão com o dinheiro no futu- “No final do primeiro mês perguntou- nada ou a mesada são o melhor instru- ro. E no caso de Sofia Coroado Santos, -me se podia ter uma conta, só para mento para ensinar os seus filhos a hoje com dois filhos adultos, o resulta- depositar as suas poupanças. Está no fazer e gerir um orçamento e a apren- do não poderia ser mais satisfatório. 3º ano e sempre colocou o que lhe so- der o resultado das suas escolhas “A parte da mesada colocada men- bra naquela conta”, revela a professora. financeiras”, defende a ASFAC – salmente no ‘envelope da poupança’ Para Sofia, “no momento em que, por – Associação de Instituições de Cré- era para ser depositada posteriormen- sua iniciativa, me pediu para abrir a dito Especializado. Numa newsletter, te na sua conta bancária. Adoravam tal conta para guardar as suas pou- Susana Albuquerque, secretária-ge- aquele momento”, explica a professo- panças, senti que todas as conversas e ral da instituição, defende que “a par- ra do ensino secundário, mãe de Fran- a gestão da mesada tinham surtido tir da altura em que começam a esco- cisco e Maria, hoje com 20 e 18 anos. algum efeito”. la primária, 5 ou 6 anos, será benéfico “A minha filha mais nova ia sempre dar aos mais jovens uma semanada”. ver quanto dinheiro já tinha juntado De pequenino… O valor pode ser de um euro por se- e gostava de ver sempre os juros que Mas convencer uma criança a poupar, mana, dividido em dez moedas de dez 53 recebia. Era um momento encarado em vez de comprar um doce ou aque- cêntimos, que a criança pode desti- le brinquedo especial, nem sempre é nar a vários objetivos: poupar, gastar fácil. Os caprichos e as vontades de- ou doar. Desta forma, diz a ASFAC, EM FOCO batem-se com os limites impostos pe- os mais pequenos começarão a ter Quando dar semanada? los pais. É por isso que os mais jovens desde cedo o poder de decisão sobre devem aprender, desde tenra idade, o seu dinheiro. e o momento para de onde vem o dinheiro e como é que Após este primeiro teste, no qual acordo passar a dar se ganha. Questões como o orçamento as crianças aprendem a gerir as suas Dcom os uma mesada. familiar devem ser tratadas normal- semanadas, por volta dos 10 anos os especialistas, Os valores mente no seio da família e as crian- pais podem estipular um valor para os pais devem dependerão ças devem ser incluídas nestes temas, dar uma mesada. Os especialistas re- começar a dar sempre dos percebendo o que é prioridade e o que comendam que os pais calculem o va- semanada aos encargos que não é. lor necessário para cobrir um conjun- filhos quando tiver em mente Num país onde a literacia financei- to de despesas (compra de refeições, estes entram na e que devem ra é ainda muito baixa, é fundamental lanches, material escolar, etc.), dan- escola primária, ser abrangidos começar a trabalhar neste tema desde do uma ligeira folga face a este valor. por volta dos 6 pela mesada. cedo. Ensinar a poupar e a gerir o orça- O objetivo? Que as crianças dispo- anos. É a idade O dinheiro mento são aspetos fundamentais para nham de margem para deixar parte em que já têm não deve ser que os mais jovens consigam criar há- da mesada de lado para poupar. E é responsabilidade inferior ao que bitos de poupança. Além dos valores aqui que entra o mealheiro. para reconhecer necessita, mas transmitidos pelos pais, é também im- O mealheiro é fundamental pa- e gerir a sua também não portante dar o exemplo. As crianças ra que possam guardar as suas eco- pequena deve exceder em tendem a espelhar as suas atitudes. nomias. Além disso, o prazer de ver poupança. Mais grande medida Por isso, uma família mais poupada o “porquinho” a encher poderá ser tarde, entre os a estimativa tenderá a passar esses valores de pou- um incentivo para a criança con- 10 e os 12 anos, é de gastos. pança aos seus descendentes. tinuar a engordar a sua poupança.

REVISTA MONTEPIO 3 a minha economia FINANÇAS PESSOAIS o dinheiro é tabu?

> UM TERÇO DA SEMANADA PARA POUPANÇA Em casa da Associada Sofia Coroado os filhos aprenderam a poupar desde tenra idade

Caso os mais jovens desejem com- prar, por exemplo, uma bicicleta ou uma consola, pode incentivá-los a pou- par com esse objetivo dizendo que se conseguirem amealhar metade do valor necessário, financiam o resto. Um exemplo para mostrar que o esfor- ço é recompensado.

Dê o exemplo Mais do que as crianças, devem ser os pais os primeiros a poupar e a es- tabelecer objetivos financeiros cla- ros. “Ter o hábito de colocar alguns 54 euros de parte é importantíssimo. Hoje em dia as contas-poupança po- dem ser abertas com poucas dezenas de euros, pelo que estão acessíveis a to- dos os consumidores”, explica Sérgio Pereira, diretor-geral e fundador do ComparaJá.pt. Para o mesmo especia- lista, apesar das baixas rendibilidades ANÁLISE dos depósitos, devido ao ambiente de ta- xas de juro zero, estes devem ser consi- Literacia financeira dos portugueses derados produtos “para iniciar a cons- acima da média trução de um pé-de-meia” e “amealhar todos os meses, nem que sejam apenas Ainda que os níveis sobre este assunto. comportamentos face dez euros, que poderão fazer a diferen- de literacia financeira Num universo de à gestão do dinheiro que ça caso surja alguma emergência”. a nível mundial 29 países, a pontuação se tem e o que se pede “E para quem não é tão rigoroso continuem a ser média foi de apenas emprestado, Portugal na gestão dos seus gastos, existem ca- relativamente baixos, 13,2, de um total possível ficou na 10ª posição, da vez mais aplicações para smart- na generalidade dos de 21, o que "revela com 14 pontos. França, phones que são de grande utilidade ao países desenvolvidos a existência de um seguida pela Noruega facilitar o controlo diário do dinheiro Portugal não ficou mal espaço significativo e Finlândia, lideram que se gasta”, conclui Sérgio Pereira. na fotografia do último para melhoria" da o ranking. Para saber No caso das crianças, a mesada ou a estudo divulgado literacia financeira. mais sobre literacia semanada podem ser um bom tes- pela Organização Quando se avaliou, financeira consulte a te para o futuro. Só assim terão opor- para Cooperação de forma combinada, página do Ei no novo site tunidade de ensaiar o seu papel e Desenvolvimento os conhecimentos, da Associação Mutualista como gestores das suas finanças. Económico (OCDE) as atitudes e os em montepio.org/ei

REVISTA MONTEPIO Cinco dicas que vão ajudar a ensiná-los a poupar Se acha que está na altura ideal para os seus filhos aprenderem o valor do dinheiro mas não sabe por onde começar, aqui estão cinco passos que vão permitir-lhe esquematizar o discurso. No final, as palavras "orçamento", "poupança" ou "gestão" vão passar a fazer parte do seu vocabulário.

INCENTIVE A GERIR ENSINE-LHES O CRIE HÁBITOS UM ORÇAMENTO VALOR DO DINHEIRO DE POUPANÇA Para que aprendam a Saber quanto custa o Certamente, na altura fazer a gestão do seu dinheiro é fundamental. em que era criança, já dinheiro, as crianças Quanto mais cedo os tinha o seu mealheiro, 1 precisam de um 2 seus filhos aprenderem 3 onde juntava o dinheiro pequeno orçamento para gerir. a dar valor às suas poupanças, melhor. que tios e avós lhe ofereciam nos É aí que entra a semanada ou mesada. Mostrar a diferença entre o que é aniversários ou nas festas. Embora Por mais pequeno que seja o valor caro e barato, ou o que é necessário possa parecer antiquado, é uma das do “salário”, as crianças aprenderão ou supérfluo, são alguns passos formas mais eficazes de incentivar a dar valor ao dinheiro e tenderão para ensinar o valor do dinheiro aos hábitos de poupança. Nos casos em a ganhar consciência dos custos seus filhos. Também as semanadas que dê uma semanada ou mesada e possibilidades que têm com o seu ou mesadas são um modo de lhes aos seus filhos para gastos como o orçamento, bem como o valor que têm transmitir responsabilidade. Ao terem lanche da escola, deve contemplar de economizar caso queiram guardar nas mãos o seu dinheiro para gastar, um montante um pouco mais elevado uma parte do seu dinheiro para os mais novos podem escolher entre do que calcula que ele/a vá precisar. 55 comprar um brinquedo ou um jogo poupar, investir ou planear gastos Assim, as crianças poderão utilizar para o computador. maiores a longo prazo. a quantia remanescente para iniciarem um pé-de-meia.

FAZ COMO EU FAÇO VALORIZE BONS Nunca se esqueça que MÉTODOS DE GESTÃO você é o maior exemplo Premiar os bons para os seus filhos. hábitos de gestão Faça o que fizer, e as escolhas 4 vão ser os pais a servir 5 acertadas dos seus de inspiração aos mais novos. filhos no que diz respeito à poupança Por isso, adote bons métodos de gestão é fundamental. Se o seu filho está e poupança que possam ser seguidos a conseguir garantir uma boa gestão pelos seus filhos. Se chegar ao fim da sua semanada, poupando até do mês sem dinheiro, ou não tiver uma parte desse dinheiro para comprar base de poupança, não poderá exigir o que planeou sem lhe pedir ajuda, às crianças que orientem os seus pode recompensá-lo com um ligeiro gastos com o dinheiro que lhes dá aumento da semanada. para um determinado período. Eduque-se e eduque com vista a obter bons resultados para a sua carteira (e para a deles).

REVISTA MONTEPIO 3 a minha economia XXXPOUPANÇA TECNOLOGIA APPS QUE NOS AJUDAM A POUPAR DINHEIRO

NÃO PRECISA DA AJUDA DE UM GADGET OU QUALQUER OUTRA FERRAMENTA DIGITAL PARA COMEÇAR – OU CONTINUAR – A POUPAR. MAS NÃO HÁ DÚVIDA QUE A INVASÃO DIGITAL DA ÚLTIMA DÉCADA – BLOGUES, SITES E APPS – VEIO FACILITAR E TORNAR MAIS EFICIENTE A PROCURA PELO MELHOR PREÇO

56 OU DESCONTO. COM UM BÓNUS: PODE, AGORA, FAZÊ-LO EM QUALQUER LUGAR, A QUALQUER HORA. BASTA UM TABLET OU SMARTPHONE

por carlos martinho ilustração vera mota

Dez anos depois do lançamento do derosas armas de informação a que iPhone, os smartphones tornaram-se podemos recorrer para melhorarmos indispensáveis na gestão do nosso dia não só a cultura geral como a litera- a dia. Monitorizam o que se passa no cia financeira. As apps podem, inclu- mundo, através da ligação às redes sive, ajudar-nos a poupar dinheiro no sociais e meios de comunicação final do mês. É o caso das 12 apps que social, avisam-nos dos compromis- lhe trazemos nestas páginas. Escolha sos, dão-nos indicações de trânsito e os seus objetivos – gerir o orçamento, entretêm-nos nos tempos mortos. procurar uma poupança imediata As aplicações móveis – apps – não ou comparar preços – e comece só facilitam o dia a dia como são po- imediatamente a poupar.

P

REVISTA MONTEPIO € O Meu Orçamento Google Play Permite-lhe definir objetivos para o seu dinheiro, qualquer que seja o critério e O QUE PROCURA? período temporal. Pode criar um limite mensal para as suas compras e gastos, € por área temática – alimentação, roupa ou cultura, por exemplo –, mas também colocar aqui todas as suas transações financeiras para perceber em que áreas ou períodos do mês teve € mais gastos. Ao fim de alguns dias € 1 e semanas, a app dá-lhe os dados € GERIR O necessários para tomar uma decisão: ORÇAMENTO cortar numa despesa desnecessária. MENSAL Boonzi App Store, Google Play Sabe quanto gastou, em 2016, em Yuppee transportes? E em restaurantes? App Store, Google Play O projeto português Boonzi permite A Yupee é uma aplicação que o ajuda perceber as suas despesas a longo a organizar as finanças pessoais. Gerir de forma meticulosa prazo, de forma imediata e intuitiva. Além de dar a possibilidade de o seu orçamento é a melhor Mais do que uma app, o Boonzi é consultar os seus extratos, permite a forma de começar a poupar. um software de gestão de finanças elaboração de relatórios sobre as suas Ao identifcar para pessoais que conta com a ajuda do finanças. Uma das novidades 57 onde vai o seu dinheiro smartphone ou tablet para garantir é a ferramenta Sonhos, que define – todos os dias, semanas uma gestão do seu dia a dia ao metas e planeamento financeiro a e meses – pode cortar em pormenor. Tem de comprar o software curto e médio prazo para alcançar, gastos que, bem vistas para poder utilizar a app e, a partir daí, lá está, os seus “sonhos” pessoais, as coisas, são desnecessários. pode importar automaticamente e de dizendo-lhe quanto é necessário Criar um orçamento forma não invasiva os seus extratos economizar mensalmente para e executá-lo de forma rigorosa bancários, tendo acesso aos seus realizar um determinado objetivo. pode não ter uma poupança hábitos de consumo, assim como aos imediata signifcativa da sua família. mas irá permitir-lhe um saldo eFatura bem mais agradável App Store, Google Play no fnal do ano. Moneywiz Os consumidores são obrigados a App Store, Google Play exigir sempre a fatura com número Disponível apenas em inglês, de contribuinte, mas também têm simplifica a vida financeira dos de consultar e validar, no Portal das utilizadores criando um único local Finanças, todas as faturas que foram para aceder a todas as suas contas, acumulando ao longo do ano. Uma H orçamentos e faturas. Permite-lhe vez que é um processo demorado e obter uma visão completa das suas monótono, muitos preferem acumular finanças, estabelecendo caminhos várias faturas nesta segunda fase. Mas para reduzir as despesas. Além de se se esquecerem de o fazer, perdem avisar sobre todas as contas para o direito ao reembolso. Com esta app, pagar, o Monewiz ajuda a construir os consumidores podem aproveitar cenários de gestão financeira, qualquer momento, em qualquer local, contribuindo para um futuro com para validar as suas faturas, evitando menos sobressaltos. esquecimentos desnecessários.

REVISTA MONTEPIO 3 € a minha economia POUPANÇA apps que ajudam a poupar

Freebee App Store, Google Play Esta app, que na verdade é um programa de fidelização, abrange O QUE PROCURA? dezenas de lojas de norte a sul de Portugal e oferece vários descontos aos utilizadores, normalmente entre 10 a 20% em refeições. E os próprios comerciantes ficam a ganhar: além de atraírem novos consumidores, os aderentes beneficiam de ferramentas que lhes permitem acompanhar 2 de perto o desempenho dos seus POUPAR DE negócios. FORMA IMEDIATA Apps Gone Free App Store A Apps Gone Free é uma aplicação que pode fazê-lo poupar muito dinheiro... em apps. Este agregador disponibiliza, diariamente, apps que 58 estão temporariamente gratuitas, A literacia fnanceira é meio possibilitando o seu download sem caminho andado para poupar. gastar um cêntimo. A maioria destas Porém, existem momentos apps só é gratuita durante específcos em que um produto 24 horas, pelo que, se gostar de ou serviço pode ser adquirido uma aplicação referenciada, faça com desconto, e aí o ato o seu download imediato, antes que de poupar torna-se mais o fabricante decida fazer regressar palpável e tangível. o preço antigo da app. E a verdade é que existem cada vez mais apps que proporcionam descontos WhatsApp diretos aos utilizadores – AppStore, Google Play, – seja uma marca, serviço Windows App Store ou agregadores que juntam Uma das apps mais apreciadas vários descontos num do globo é também uma das que único local. maior poupança garante aos seus utilizadores. O Whatsapp revolucionou a forma como as pessoas passaram a comunicar – e de forma gratuita ou tendencialmente gratuita, uma vez que a aplicação gasta dados – e levou inclusive à redefinição da oferta das operadoras de telecomunicações, o que permitiu aos consumidores pouparem, também, indiretamente.

REVISTA MONTEPIO O QUE PROCURA?

3 COMPARAR PREÇOS

Mais Gasolina Price Guru Google Play App Store Um dos projetos mais conhecidos Os consumidores passaram a ter de de comparação de preços fazer mais contas para perceberem Todos querem poupar, em Portugal, o Mais Gasolina se as promoções valem realmente mas atingir o objetivo permite descobrir os postos de a pena. Até porque nem sempre as é um caminho sinuoso combustível mais baratos de embalagens com maior quantidade e cada vez mais complexo Portugal e ordená-los por distância oferecem o melhor preço por dada a multiplicidade ou preço, por distrito, concelho, unidade de medida. A app Price de marcas, serviços e nome do posto ou localidade. Guru permite comparar preços de empresas concorrentes. A app publica ainda as estatísticas produtos com diferentes tamanhos 59 As apps vieram simplifcar com o preço médio dos e quantidades, e perceber qual a a sua procura pelo melhor combustíveis e promove alertas melhor relação entre quantidade preço, o mais barato. de subida e descida dos preços. e preço. A aplicação calcula E se há poucos anos a maioria E o próprio leitor pode contribuir ainda a percentagem e o valor destas aplicações estavam com o projeto, caso se dê ao economizado em cada compra. centradas no mercado trabalho de fornecer regularmente anglo-saxónico, hoje já os preços que encontra nos postos existem ferramentas onde vai abastecer o carro. Kuantokusta específcas para o mercado App Store português e a pensar nos seus Se está à procura de um produto, consumidores – nós. VivaGas numa loja ou em casa, mas não GooglePlay, AppStore sabe se consegue encontrar Parecida com o Mais Gasolina, um melhor preço noutro mas com uma versão para IOS, estabelecimento comercial, esta app permite-lhe saber qual o a app do Kuantocusta é perfeita.

posto de abastecimento mais perto Através do código de barras € da sua localização, assim como os do produto, a app dá-lhe uma lista respetivos preços e marca, tendo de todas as lojas que vendem esse em conta a informação publicada na artigo e qual o melhor preço. Pode Direção-Geral de Energia e Geologia optar, inclusive, por receber um (DGEG). Permite-lhe, ainda, filtrar a alerta de mudança de preço, que pesquisa por serviços adicionais: o avisa das promoções. Permite assistência automóvel, loja de ainda uma pesquisa pelo conveniência, cafetaria, restaurante nome do produto, se preferir ou multibanco. E perceber quais esta opção, evitando longas os descontos que o posto aceita. pesquisa online.

REVISTA MONTEPIO 3 a minha economia CROWDFUNDING

NEGÓCIOS A PLATAFORMA SEMPRE NA BOA

TEM MENOS DE UM ANO MAS JÁ AJUDOU A DAR VIDA A VÁRIOS PROJETOS. A BOABOA É A PRIMEIRA PLATAFORMA DE FINANCIAMENTO COLABORATIVO LOCAL DA EUROPA E PROMETE DAR QUE FALAR NA CAPITAL PORTUGUESA. MAS SÓ PARA QUEM TIVER BOAS IDEIAS

por maria pereira

60 > IDEIAS QUE SE DESTACAM A plataforma de crowdfunding Boaboa já apoiou sete projetos, entre os quais o mural "Brilho do Sol", a Orquestra Geração e o Técnico Solar Boat, projeto de 33 estudantes do Instituto Superior Técnico

Sobre a Alma e o Pó Dela, o Triciclo de taforma de crowdfunding, a Boaboa”, Santo António ou o restauro do mural explica Paulo Carvalho, do gabinete “Brilho do Sol”. Dizem-lhe alguma de Inovação da Câmara Municipal coisa? O primeiro é um livro de uma de Lisboa. A iniciativa resulta da par- nova autora, o segundo um meio ceria entre a Startup Lisboa, a PPL, de transporte que facilita a venda de a primeira plataforma de crowdfunding memorabília do padroeiro de Lisboa do país, Fundação Calouste Gul- e o último é um mural na capital. benkian, Câmara Municipal de Lis- Mas o que têm estes projetos Criada em maio de 2016, a Boaboa boa e Associação Mutualista Montepio. em comum? Todos eles foram nasceu para ajudar empreendedo- Através desta plataforma de crowd- financiados através da Boaboa, res com projetos na capital portugue- funding os empreendedores, além de a primeira plataforma da Europa sa. “Ao ambiente empreendedor de ganharem acesso a formas comple- de financiamento colaborativo de Lisboa faltava uma alternativa ao fi- mentares de levantamento de capital, cariz territorial. Uma iniciativa que nanciamento de projetos, além das podem ainda testar os seus projetos pretende ajudar a tirar da gaveta formas convencionais já existentes. e potencial aceitação junto do públi- ideias empreendedoras em Lisboa. Essa alternativa corporizou uma pla- co. Mas quem pode, afinal, recorrer a

REVISTA MONTEPIO res da PPL. “O que pretendemos é que a comunidade de empreendedores e inovadores de Lisboa alimente esta plataforma com cada vez mais projetos e campanhas e que essas campanhas beneficiem do crescente envolvimen- to do ecossistema empreendedor de Lisboa”, remata Paulo Carvalho. E a Boaboa chega a Lisboa numa esta solução? Projetos com impacto, altura determinante. Com a cidade visibilidade e benefícios para a cidade no radar dos investidores, Paulo Car- de Lisboa. Assim, ganha o município valho adianta que, “se por um lado mas também os promotores da ideia. em Lisboa o cluster turístico apresen- Paulo Carvalho explica que “a mais- ta vitalidade, e este é o momento pro- -valia é visível pelo conjunto de parcei- pício para os empreendedores inicia- ros fundadores que aportam um con- rem negócios, por outro foi o facto de junto de competências às campanhas, haver empreendedores que antecipa- assim como o facto de a Boaboa procu- ram o sucesso de Lisboa que propor- rar ser um local onde se concentram cionou que o crescimento exponencial ideias e projetos de Lisboa e para Lisboa do turismo pudesse ser absorvido”. e onde todas as pessoas que se interes- Já Pedro Domingos explica que “a ideia sam pela cidade os podem submeter é também aproveitar a marca Lisboa, ou apoiar”. que tem cada vez mais força dentro “A nossa intenção é construir uma e fora do país”. comunidade mais ‘local’”, acrescen- ta Pedro Domingos, um dos fundado- Sete projetos fnanciados Oito meses depois do seu lançamento, 61 a Boaboa conta já com sete projetos PROJETOS financiados e 13 466 euros levantados, em iniciativas o mais variadas possí- Três casos de sucesso vel. O livro Sobre a Alma e o Pó Dela foi

> MUVI, O FESTIVAL > O SANTO ANTÓNIO > VESTIDOS a primeira iniciativa que conseguiu QUE NASCEU DE TRICICLO COM COR DE ÁFRICA financiamento na plataforma. A apos- DO CROWDFUNDING Nascido na capital Com o objetivo de, através ta numa nova autora, Soraia Ribeiro, É um dos eventos culturais portuguesa há oito séculos, da confeção de vestidos valeu mais de 700 euros a este projeto. de Lisboa. Nascido do este santo "casamenteiro" e outras peças de roupa, financiamento colaborativo, é o tema central do ajudar crianças em O festival Muvi, o triciclo de Santo o Muvi Lisboa continua a ir projeto My Santo António, situação de carência em António ou o apoio à Orquestra Gera- buscar verbas a este tipo de lançado por Clara, Olivier países desfavorecidos, ção são outros exemplos de sucesso. financiamento. A Boaboa foi e Bernardo. Determinados o Little Dresses For Africa Com um mecanismo de doação e re- a plataforma a que recorreu a “levar o Santo António Portugal (LDFA) recorreu compensa, o objetivo é tornar a Boa- para a terceira edição, pelas ruas, praças, jardins à Boaboa para obter realizada no final de 2016. e feiras de Lisboa”, os financiamento. boa cada vez mais conhecida, colocan- O objetivo da campanha promotores deste negócio Esta campanha obteve do-a no radar dos empreendedores na era angariar 1 500 euros, lançaram, no ano passado, 2 434 euros, 122% do capital portuguesa.“O grande desafio montante que foi superado. uma campanha para valor que pretendia captar. para 2017 é fazer com que a Boaboa “O nosso objetivo é propiciar angariar capital para Na apresentação, os tenha cada vez mais visibilidade e no- e alcançar a sinergia comprar o triciclo de Santo promotores explicam que perfeita para a exibição da António, “um veículo “a delegação LDFA Portugal toriedade. Isto é, dar a conhecer aos melhor produção mundial que permita a venda de nasceu em janeiro de 2016 empreendedores e a qualquer pessoa de cinema sobre música, artigos alusivos ao santo e em apenas três meses de Lisboa, ou que tenha interesse por garantindo o máximo de e à sua ligação ao folclore elaborou e enviou mais Lisboa, esta forma alternativa de apre- envolvimento por parte lisboeta". de 500 peças para vários sentarem, testarem e financiarem os do público e da própria O objetivo era chegar países, incluindo Quénia, indústria da música e do aos 4 450 euros, Mauritânia, Guiné-Bissau seus projetos, produtos ou serviços”, cinema”, pode ler-se na mas o projeto angariou e Moçambique”. Este projeto conclui Paulo Carvalho. Só assim se apresentação do projeto. 4 945 euros. contou com 88 apoiantes. poderá dar vida às boas ideias.

REVISTA MONTEPIO 3 a minha economia FINANÇAS PESSOAIS

Juntar papéis, ordenar faturas, separar declarações por membro do agregado familiar, fazer contas, reconfirmar despesas. É o roteiro de muitos portugueses nesta altura do ano, com a entrega do IRS referente a 2016. Este ano, o prazo limite para validar faturas no e-fatura foi 15 de fevereiro. Resta agora fazer a entrega. E em 2017 há novidades. Ao contrário do que acontecia nos anos anteriores, em que primeiro eram os pensionistas e os trabalhadores dependentes a entregar o IRS e só depois os trabalhadores independentes ou contribuintes com outros rendimentos, agora só há um prazo para enviar a declaração ao Fisco.

Todos os contribuintes têm de entre- gar o seu IRS entre 1 de abril e 31 de maio, quer o façam em papel ou atra- IMPOSTOS vés da Internet. Este será um ano de 62 adaptação, uma vez que grande par- te da informação já é automaticamen- te preenchida pelo Fisco, com base na NOVO FÔLEGO PARA informação recebida ao longo do ano. Mas, atenção: apesar de ter vali- dado todas as faturas no e-fatura convém mantê-las arquivadas O SEU ORÇAMENTO caso o Fisco exija verifi- car estes recibos ou exis- A ENTREGA DO IRS É FEITA, ta alguma divergência ESTE ANO, NUM SÓ PRAZO PARA na sua fatura fiscal. TODOS OS TRABALHADORES. Quanto à entrega FIQUE A CONHECER O VALOR DAS propriamente di- DEDUÇÕES QUE VÃO PERMITIR-LHE ta, e se escolher BAIXAR A FATURA DO IRS a entrega eletró- nica, saiba que, por maria pereira além de maior comodidade

REVISTA MONTEPIO e facilidade de preenchimento – a decla- ter nos impostos, com deduções até ração já vem pré-preenchida –, estará 502 euros. Para tal, foi fundamental entre os primeiros a receber, caso haja 15% garantir que todos os recibos eletrónicos direito a reembolso. OS CONTRIBUINTES podem do ano foram emitidos pelo senhorio, deduzir até 15% dos valores gastos algo que pode confirmar no Portal das em despesas de saúde, com um Para uma “conta” mais leve Finanças. Para quem tem emprésti- montante máximo de 1 000 euros Para o reembolso são determinantes mo da casa, só quem fez o crédito até todos os valores de dedução que conse- ao final de 2011 é que pode beneficiar guir acumular. Faturas de saúde, edu- de uma dedução de 15% dos juros, com cação, casa ou o investimento em pro- 30% um teto de 296 euros. Mas com a Euri- NA EDUCAÇÃO, o montante dutos de poupança para a reforma são bor em valores negativos, esta dedução máximo de dedução é de 800 euros, alguns dos encargos que vão servir pa- sendo que cada contribuinte pode é cada vez mais reduzida: o grosso das ra abater nos impostos. Mas há mais. deduzir até 30% destas despesas prestações já abate ao capital em dívida. Desde logo as despesas gerais familia- Despesas com lares ou investimen- res. Nesta categoria inscrevem-se as des- tos em fundos de pensões e PPR tam- pesas de supermercado, compra de rou- 400€ bém dão desconto na fatura fiscal. pa e calçado ou qualquer outro gasto que O INVESTIMENTO em fundos de Nas despesas com lares, cada agrega- não esteja incluído noutras deduções. pensões ou planos poupança-reforma do pode amortizar até 25% dos gastos, E bastam 750 euros destas despesas pa- tem benefício fiscal. É possível com um limite de 403,75 euros. Já nos ra conseguir um abatimento máximo deduzir até 20% ou um máximo de produtos para a reforma, e se no último de 250 euros em sede de IRS. Custos 400 euros na fatura dos impostos ano fez alguma aplicação, pode deduzir com reparações automóveis, cabeleirei- até 400 euros desse investimento, isto ros, restauração e hotelaria podem aba- para pessoas com menos de 35 anos. ter até 15% do IVA no IRS, desde que es- 200€ Para idades entre os 35 e os 50 anos também dão ta dedução não ultrapasse os 250 euros. AS DESPESAS GERAIS pode deduzir até 350 euros e, para dedução na fatura fiscal. Basta um No ano em que o Fisco deixa cair o gasto anual de 750 euros em faturas quem tenha mais de 50 anos, a dedu- quociente familiar e regressa ao quo- ção máxima será de 300 euros. A per- de supermercado ou outras compras 63 ciente conjugal, esta eliminação é com- para reduzir 250 euros no IRS centagem máxima de dedução é de pensada pelo aumento da dedução por 20% do valor investido. dependente e por ascendente. No caso Fundamental é não falhar os pra- dos filhos, será possível obter uma de- A educação é outra das principais de- zos de entrega da sua declaração de IRS dução à colecta de 550 euros, enquan- duções, ainda que o governo se tenha e guardar os recibos referentes a estes to nos ascendentes este valor é de comprometido a resolver eventuais dis- gastos. Assim, garante que entregará as 525 euros. torções no sistema atual, nomeadamen- informações corretas ao Fisco, evitan- A saúde continua a ser te nas despesas com refeições escolares. do divergências nas declarações, bem a área que dá mais be- No IRS entregue no ano passado foram como maximizará as deduções à coleta nefícios. O Fisco deli- excluídos os serviços de cantina que se- disponíveis. E se ainda não começou a mita um máximo de jam declarados fora das mensalidades pensar no IRS de 2017, o melhor é or- 15% aos valores a de- dos colégios, abrindo uma discrimina- ganizar desde já um dossier e separar duzir em despesas ção entre quem contrata estes serviços as faturas deste ano, para poupar dores de saúde, ou 1 000 na escola e as situações em que as refei- de cabeça na entrega do próximo ano. euros por benefi- ções sejam disponibilizadas por entida- ciário. Incluem- des externas à escola. Este ano voltou a -se aqui os encar- não ser possível declarar estes custos, Apoie a gos com produtos situação que só deverá ser corrigida no Fundação e serviços de saú- próximo ano. Sobraram despesas co- Montepio de isentos de IVA mo mensalidades, livros, ATL e expli- ou à taxa de 6%. cações, propinas ou transportes escola- Ao preencher a sua declaração de IRS destine 0,5% do Produtos de saú- res, encargos que as famílias vão poder imposto liquidado à Fundação de com taxas de deduzir até 30% destes montantes, com Montepio. Inscreva o NIPC 23% também podem um tecto máximo de 800 euros. 503 802 808 no espaço ser abatidos, desde que Rendas e juros pagos no crédito à reservado à “Consignação haja receita médica. habitação também vão permitir aba- Fiscal” e ajude-nos a ajudar.

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38% 6 88 ESLOVÉNIA PLANEADOS EM 2015 EM CONSTRUÇÃO REATORES REATORES 441 NUCLEARES 23 800 23 CAZAQUISTÃO 13 325 CANADÁ 5 654 AUSTRÁLIA 4 116 NIGÉRIA 3 055 RÚSSIA FONTE: WORLD NUCLEAR ASSOCIATION 1 5 3 2 4 52,7% HUNGRIA 43 JAPÃO 31 INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY ENERGY ATOMIC FONTE: INTERNATIONAL CHINA 55,9% 10 546 10 OUTROS PAÍSES 496 60 TOTAL ESLOVÁQUIA EXTRAÇÃO DE URÂNIO EXTRAÇÃO EM 2015 (TONELADAS) 35 RÚSSIA 56,5% 58 UCRÂNIA

FRANÇA

76,3% FRANÇA 99 EUA

64

és

TW/h) de energia TOP 5 2 441,3 TW/H fornecidaEletricidade através nuclear em 2015 11,2% da do total mundialenergia 097,7 (24 ENERGIA NUCLEAR da eletricidade % do total fornecida atrav nuclear de energia

NÃO EXISTE, EM PORTUGAL, UM REATOR UM REATOR EXISTE, EM PORTUGAL, NÃO DE ENERGIA COMERCIALIZAÇÃO NUCLEAR PARA MUITOS SÃO NO ENTANTO, ELÉTRICA. OS PAÍSES NO MUNDO, INCLUINDO ESPANHA, ESPANHA, INCLUINDO NO MUNDO, OS PAÍSES FONTE DE ENERGIA. QUE DEPENDEM DESTA A TECNOLOGIA, OS NÚMEROSCONHEÇA QUE O NUCLEAR E OS RISCOS VANTAGENS APRESENTA I I F E S C C O O R D D D A . COMO FUNCIONA para pressão É bombeada água a alta nuclear. do núcleo reator dentro água é aquecida pela energiaEsta pela fissão e conduzida paralibertada A partir de vapor. de geração um sistema é transferida térmica daqui a energia de secundário através um sistema para um provocando de calor, permutadores um conjuntovapor que faz girar de fluxo eletricidade. gerando de turbinas, FISSÃO NUCLEAR FISSÃO na divisão de um núcleoConsiste em dois átomos instável de um átomo originada pelo bombardeamento menores, pela libertada A energia de neutrões. calor que aquece o líquidofissão gera pressurizado

MUNDO MUNDO FÍSSIL NUCLEAR tilizado como U-235 PWR . na natureza combustível nuclear. nuclear. combustível 0,72% Representa 300°C TEMPERATURA PELO GERADA NÚCLEO D E UM NUCLEAR REATOR ISÓTOPO DE encontrado do urânio DE ÁGUA REATOR PRESSURIZADA É o tipo de reator mais comum no mundo (64% em dos reatores funcionamento, incluindo os dois U URÂNIO . de Almaraz)

% % % 11 53 36 FENOSA ENDESA IBERDROLA ALMARAZ GAS NATURAL NATURAL GAS PROPRIEDADE h GW/ 705,12 16 BRUTA PRODUÇÃO UNIDADES DUAS DAS DE ALMARAZ EM 2015 VANDELLOS ASCO TRILLO COFRENTES 2020 a licença de funcionamentoAno em que termina de Almaraz. da central 2

GARONA . MADRID ALMARAZ 45 a 55 MILHÕES DE TONELADAS CO DE EMISSÃO que Espanha a atmosfera para em 2016, com a energia evitou, nuclear DE ENERGIA ATÓMICA INTERNACIONAL AGÊNCIA DA FONTE: FORO NUCLEAR COM DADOS ESPAÑA E REDE ELECTRICA

outras 65 h A construção do ATI (Armazém Temporário Individualizado) anexo à central de Almaraz à central anexo Individualizado) (Armazém Temporário A construção do ATI No mesmo ano, No fontes renováveis. renováveis. fontes 54,8 TW/ DE DISTRIBUIÇÃO CAPACIDADE DOS SETE REATORES NUCLEARES ESPANHÓIS EM 2015 . a EDP distribuiu em Portugal de 42,2 TW/h, um total de unidades hídricas, proveniente CCGT e de térmicas, do ATI. O ATI poderá prolongar o período de funcionamento da central de Almaraz. da central o período de funcionamento prolongar poderá O ATI do ATI. ALMARAZ DE MAIS PRÓXIMOS OS DOIS REATORES CENTRAL DE ALMARAZ OS DA SÃO PORTUGAL 2 KM DO RIO TEJO 140 KM DE VILA VELHA DE RÓDÃO 360 KM DE LISBOA 1983 do reator em funcionamento Ano de entrada em funcionamento II entrou I. Almaraz Almaraz em 1984. 2023 O LIMITE DE ARMAZENAMENTO RESÍDUOS ANO EM QUE A PISCINA DE ALMARAZ I ATINGIRÁ NUCLEARES. português formalizou uma queixa do Ambiente 2018. O Ministério para prevista de ativação data tem na construção transfronteiriço ambiental um estudo de impacto existido por não ter na Comissão Europeia

656,5 2050 1 911 1 021 4 447 3 492 2 080 4 249 5 964 4 985 4 898 Custo ($USD/kW)

62 38 275 551 135 154 1 131 1 093 1 434 MW/h (média) 494,2

2030 ELECTRICITY) comparar o custo de várias fontes de várias o custo comparar 2020 403,8 1 INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY ENERGY ATOMIC INTERNATIONAL CICLO COMBINADO A GÁS NATURAL A GÁS CICLO COMBINADO 382,9 LCOE SETOR NUCLEAR FONTE: (LEVELIZED COST OF medida utilizada para de energia. de geração CAPACIDADE GERADORA CAPACIDADE da evolução Estimativa (média GW/h) PREÇO 1. DE 2015, AGÊNCIA EDIÇÃO ELECTRICITY", FONTE: in “PROJECTED COSTS OF GENERATING PARA DE ENERGIA NUCLEAR E ORGANIZAÇÃO DE ENERGIA, AGÊNCIA INTERNACIONAL ECONÓMICO E DESENVOLVIMENTO A COOPERAÇÃO 2015 CCGT Energia Termoelétrica Nuclear Solar Eólica terrestre Eólica marítima Hídrica (>10MW/h) Geotermal Biomassa e biogás PUB A MINHA VIDA IDEIAS E DESCOBERTAS EM LAZER, FAMÍLIA, SAÚDE, CULTURA

página 68 página 74 página 78 página 82 SAÚDE EDUCAÇÃO PASSEIOS TESTEMUNHO E BEM-ESTAR Quando o saber não ocupa COM HISTÓRIA Gostava de conseguir Os dias são maiores e lugar, enchem-se as salas O Zoo de Lagos é um acordar mais cedo e de mais luminosos. Aproveite de aula das universidades espaço dedicado à explorar os limites do para retemperar energias sénior. Conheça os projetos conservação da vida planeta. Celina da Piedade, ao ritmo da primavera e e as histórias de quem vive selvagem. Visite-o e acordeonista, cantora conheça os melhores locais para aprender descubra um mundo e compositora responde para ficar em forma diferente ao nosso questionário 4 a minha vida TEMPOS LIVRES

SAÚDE E BEM-ESTAR NINGUÉM O PÁRA AGORA! “DON’T STOP ME NOW”, MÚSICA ELETRIZANTE DOS INESQUECÍVEIS QUEEN, FOI ELEITA NUM ESTUDO BRITÂNICO A MÚSICA MAIS FELIZ DA HISTÓRIA. APROVEITE OS DIAS MAIORES, O BOM TEMPO E A ENERGIA QUE A PRIMAVERA TRAZ PARA ENTRAR NO RITMO DA ESTAÇÃO.

Se é daquelas pessoas que teve a Aventure-se num passeio. Onde? sensação de que o inverno nunca Até onde os seus pés o levarem. mais acabava, este artigo é para Comece por incorporar as cami- si. Estamos solidários com a sua nhadas nos seus hábitos diários. necessidade de se rodear de mantas, Opte, sempre que possível, por fazer 68 chás, fontes de calor em geral. compras a pé. Utilize mais frequen- Durante o inverno, o corpo adotava temente os transportes públicos e facilmente uma posição fetal e sair comece a subir escadas. O essen- dos lençóis de manhã chegou a ter cial é que a nova estação traga tam- contornos dolorosos. Sem esquecer bém uma nova atitude. O outro la- que o consumo de doces e refeições do da moeda chama-se alimentação, mais pesadas, sobretudo nas que deve começar a conjugar com o semanas entre o Natal e o Ano Novo, exercício. Mas atenção: “Sentir-se na deixaram as suas sequelas. Mas tudo sua melhor forma física poderá de- isso é passado. Saia do “casulo” e morar. Não há milagres a curto pra- comece por sair de casa mais cedo. zo”, alerta Rui Miguel Pereira, per- As manhãs podem ainda estar um sonal trainer (PT) e proprietário do pouco frescas mas o sol está mais ginásio VivaFit em Alcoitão. Para quente e vai começar a recarregar este especialista, são as alterações baterias – e a libertar endorfinas – pequenas e sistemáticas de hábi- – rapidamente. tos e comportamentos que ajudarão a concretizar os objetivos definidos. Não adianta seguir um plano de trei- no intensivo e uma alimentação res- tritiva durante um mês se depois vol- ta a um estilo de vida sem exercício físico e com uma dieta desregulada. “A perda de peso e a manutenção do

REVISTA MONTEPIO ^^SEGUIR UM PLANO Treinar entre duas a quatro vezes por semana durante 30 minutos é suficiente para obter resultados

peso perdido implicam uma altera- ção profunda de hábitos alimenta- EVENTO res e estilos de vida”, sublinha Rui Miguel Pereira. Inscrições na Corrida Pelicas A força do grupo 69 Se precisa do incentivo de um gru- Com a assinatura a uma causa maior. os Benjamins B, po, fique a saber que só ficará sozi- "Crianças saudáveis Na última edição dos 10 aos 11 anos nho se quiser. Para quem gosta de para um futuro a Corrida Pelicas (600 metros) e os pedalar existem várias empresas risonho", o Clube angariou um total Infantis, dos 12 e grupos espontâneos que organizam Pelicas e a Associação de 6 000 euros aos 13 anos (1 000 passeios, na sua maioria a custo zero. Mutualista Montepio para a associação metros). Além das É o caso do Clube Natura e dos seus vão realizar, no dia Crescerser. Este ano, provas de atletismo passeios noturnos pela cidade de Lis- 7 de maio, no Estádio o valor das inscrições os participantes vão boa. O convite é feito online, através 1º de Maio, a terceira vai reverter para a poder contar com das redes sociais, e para participar Corrida Pelicas. Associação Sanfilippo várias atividades basta aparecer no ponto de encontro à Como nas duas Portugal. As provas como ginástica, hora marcada. Nos jardins do Palácio edições anteriores, de corrida demonstrações de de Cristal, no Porto, a Porto Lazer or- são esperadas compreendem judo, râguebi e jogos ganiza todos os sábados, entre as nove centenas de crianças quatro escalões tradicionais. Para os e o meio-dia, aulas gratuitas de pilates, e respetivas famílias etários. A saber, os mais novos também ioga e tai chi junto à Concha Atlânti- que aproveitarão Bambis, com idades não faltarão os ca. Se o tempo estiver mais cinzento o este dia de compreendidas habituais insufláveis, encontro é no ginásio do pavilhão Ro- convívio, diversão entre os 5 e os teatrinhos, pinturas sa Mota. Para quem mora na Invicta, e celebração dos 6 anos (200 metros), faciais e outras esteja atento a mais atividades a cus- valores do desporto os Benjamins, entre brincadeiras. to zero que deverão ocorrer no Parque para responder os 7 e os 9 anos Inscreva-se em da Cidade aos domingos de manhã afirmativamente (300 metros), corridapelicas.pt

REVISTA MONTEPIO 4 a minha vida TEMPO LIVRE ninguém o pára agora

a partir de maio. Se preferir uma ati- vidade mais original, poderá sem- pre optar por um dos pacotes de au- las de dança, adrenalina ou aventura do site Odisseias. Como é Associado/a Montepio tem direito a 10% de des- conto em todas as compras efetuadas online, exceto nas promoções. Mas se a ideia for investir em ativi- dade física a longo prazo, o melhor se- rá consultar um especialista. O serviço tados. “Aponte para conseguir treinar de excelência é o treino personalizado. entre duas e quatro vezes por semana, DICAS Neste caso, um profissional (PT) esta- 30 minutos efetivos de treino por sessão Uma alimentação rá totalmente dedicado a um indivíduo serão suficientes para ter resultados.” equilibrada durante uma sessão de 30 a 45 minutos, com um plano de treino especificamen- Alimentação equilibrada > Não siga as “dietas da moda” te concebido para ele. Esta é, no entan- É crucial que defina um plano que > Não procure o milagre que to, uma opção com custos mais eleva- consiga manter a longo prazo. Não nunca existiu dos que nem sempre são suportáveis. só no que diz respeito à atividade fí- Se for esse o caso, Rui Miguel Pereira sica, mas também à alimentação. Rui > Procure um nutricionista e não se prenda a planos recomenda: “Procure fazer aulas de Miguel Pereira dá algumas orienta- alimentares padronizados grupo. Sentir-se-á mais acompanhado ções neste sentido, salientando como e será mais fácil manter os níveis moti- é importante estar informado, saber >  Não se limite a contar calorias, vacionais a longo prazo.” É importante escolher e não ser radical (ver caixa cada alimento que ingere variar os exercícios e a intensidade, pois “Alimentação Equilibrada”). Em ali- é muito mais do que apenas 70 o corpo adapta-se muito rapidamente mentacaosaudavel.dgs.pt também é o seu valor energético aos estímulos a que é sujeito e, ao fim possível encontrar receitas e recomen- > Não radicalize a sua dieta, de algum tempo, deixará de ver resul- dações de médicos e nutricionistas do a solução está no equilíbrio > Não se culpabilize por uma escolha menos boa. Fazemos mais de 100 refeições por mês, uma não fará a diferença. Agora mantenha-se no caminho certo

> Hidrate-se ao longo do dia. Beba água e chá

> Escolha alimentos completos em detrimento de produtos altamente processados, normalmente muito ricos em açúcares, sal e gorduras menos saudáveis

> Aprenda mais sobre “A perda de peso os alimentos, leia os rótulos, e a manutenção do peso tire dúvidas com quem sabe perdido implicam uma e faça as suas próprias escolhas. alteração profunda de hábitos Assim sentirá que controla a sua alimentares e estilos de vida” própria alimentação e o sucesso Rui Miguel Pereira, Personal Trainer será garantido e mais duradouro

REVISTA MONTEPIO ^^ECOPISTA DO DÃO foi inaugurada em 2011 e acompanha as margens do Dão e do Paiva, ao longo da extinta linha ferroviária do Dão

ESCAPADA A maior ecopista de Portugal Partida: Santa Comba Dão na serra, repleta de sobreiros, Programa Nacional para a Promoção Destino: Viseu castanheiros, carvalhos, e salpicada, da Alimentação Saudável, da Direção- Distância: 49 km aqui e ali, por aldeias e vinhas. Ao longe, a vista sobre a serra -Geral de Saúde (DGS). As ferramen- A paisagem é deslumbrante do Caramulo, a norte, e sobre tas estão à disposição de todos os que e o percurso fácil, quer o faça a serra da Estrela, a sul. quiserem e conseguirem utilizá-las. a pé ou de bicicleta. A antiga linha Os Montebelo Hotels, parceiros Sim, porque fazer uma dieta de res- ferroviária do Dão – desativada em da Associação Mutualista Montepio, trição calórica para perder peso não é 1988 – é, desde 2011, a Ecopista do oferecem descontos aos associados o mais difícil. O verdadeiro desafio é Dão: uma ciclovia que serpenteia de 20% sobre a tarifa de balcão em manter. É conseguir não voltar a ga- ao longo do rio Dão e do seu afluente, alojamento ou 10% sobre a tarifa por o Paiva, para depois se embrenhar noite disponível no site do hotel. nhar tudo o que se perdeu – ou mais ainda. Neste ponto, entra também em Saiba mais em montebelohotels.pt ou confira os descontos emmontepio.org

PUB 4 a minha vida ^^MATA TEMPO LIVRE DO BUÇACO ninguém o pára agora Aproveite para descobrir os trilhos da mata, percursos pedestres que vão colocá-lo em contacto direto com a natureza e o património da região

linha de conta o bem-estar e a autoes- desafie um amigo para treinar para objetivos, gostos pessoais, condição físi- tima. Ao sentir-se feliz e realizado, se- a próxima Corrida Montepio. Come- ca no momento e eventuais limitações rá certamente mais fácil manter-se no ce devagar e vá aumentando progres- que possa ter”, aconselha Rui Miguel caminho certo. Assim, aproveite a pri- sivamente o ritmo e a intensidade do Pereira. Só assim conseguirá manter mavera para cuidar de si. treino. Verá que ao fim de pouco tem- um plano a longo prazo. po já se sentirá um verdadeiro atleta! Objetivo: definido. Estratégia: de- Tratamentos de corpo e mente “As modalidades que cada um pratica finida. Motivação: encontrada. Com- Já correu, suou e penou atrás do corpo devem ser escolhidas em função dos panhia: em aquisição. 3, 2, 1… Partida! que sempre quis. Agora relaxe e apro- veite o melhor que a vida tem para ofe- recer. Delicie-se com um tratamento DESCONTOS PARA ASSOCIADOS numa Clínica Persona, visite o Luso e explore as propriedades curativas Qualidade de vida da sua água termal, sob a orientação A Clínica do Tempo, Eternus®, um tratamento historial clínico. Este de uma equipa médica especializada parceiro da Associação de tonificação serviço realiza um da Malo Clinic, e aproveite para fazer Mutualista Montepio, muscular Biotime® e o check-up ortomolecular 72 uma caminhada até à Cruz Alta atra- é um projeto do programa Detox®, que que inclui um vessando a romântica e belíssima Mata nutricionista Humberto inclui consultas de mineralograma, do Buçaco. Em montepio.org encontra Barbosa, hoje em reeducação alimentar, perfil vitamínico e estes e outros parceiros que certamen- parceria com o filho comportamental, pesquisa de metais te o desafiarão a ficar em forma e a le- Tomás Barbosa, que fitness funcional, tóxicos. O exame fica var um estilo de vida mais saudável. tem como objetivo avaliação e controlo completo com uma Há também muitos programas proporcionar serviços de stress e hidroterapia videomicroscopia que poderá fazer sem necessitar de de saúde e bem-estar do cólon. Além ótica de medição marcação antecipada ou sequer de com vista a atrasar o destes tratamentos e dos radicais livres, efetuar qualquer tipo de pagamento. relógio biológico e a programas a Clínica do um perfil alérgico- Em 2017, a entrada nos museus será aumentar a longevidade. Tempo tem ainda um -alimentar adequado gratuita aos domingos e feriados de A Clínica do Tempo Centro de Investigação a cada indivíduo e manhã. Sugestão: convide a família a disponibiliza vários Nutrigenética. A idade uma avaliação da idade fazer um tour pelos grandes museus tratamentos faciais e biológica do nosso biológica em função da cidade de Lisboa, deslocando-se corporais não evasivos, corpo é um reflexo do do estado do organismo sempre a pé. Para comer, escolha um dos quais se destacam nosso estilo de vida, e do equilíbrio relvado à beira-rio e delicie-se com um o Liposhaper® e o da nossa genética e do metabólico do corpo. saudável piquenique. De 20 de março a 21 de junho, dei- xe-se contagiar pela primavera. Use e Descontos de 20% nas consultas e nos tratamentos de corpo, abuse de atividades ao ar livre, de pre- 15% nos tratamentos de rosto e 10% em produtos e suplementos. ferência em boa companhia. Se pre- Estes descontos são aplicáveis nas sucursais Clínica do Tempo ferir uma abordagem mais intensiva, da Parede (Av. Marginal) e de Lisboa (Ed. Monumental).

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74 Todos os dias, Maria Margarida EDUCAÇÃO Mendes apanha o metro na Maia, onde vive, para chegar ao Porto mes- mo a tempo do início das aulas na universidade, no espaço atmosfera m, REGRESSAR À ESCOLA um projeto da Associação Mutualis- ta Montepio aberto aos associados e à sociedade civil. O carro fica em casa. A vida da professora do ensino EM ADULTO básico reformada, de 71 anos, está organizada de modo a cumprir as ro- HÁ MAIS DE 45 MIL ALUNOS INSCRITOS EM tinas de estudante. Este ano inscre- UNIVERSIDADES SENIORES PORTUGUESAS. veu-se nas aulas de História de Arte, PROJETOS COMO O DA RUTIS, QUE TEM UMA Fotografia, Informática, Espanhol, UNIVERSIDADE NO ESPAÇO ATMOSFERA M Psicologia, Cidadania, História do PORTO, CONTINUAM A CRESCER. SÃO QUASE Porto, Cavaquinho e Ioga. Com SEMPRE AS MULHERES A DAR O PRIMEIRO PASSO o horário cheio, ainda lhe sobra tempo para participar nas visitas de estudo DA INSCRIÇÃO. ELES CHEGAM DEPOIS, e combinar programas com POR ARRASTO, MAS O ENTUSIASMO É IGUAL “o grupinho” de amigas que entretanto ali formou – o último foi uma ida por helena viegas fotografia artur ao espetáculo do Cirque du Soleil.

REVISTA MONTEPIO ^^MARLENE PIRES, diretora da Rutis Porto, orgulha-se da diversidade etária dos alunos que frequentam as aulas no espaço atmosfera m. Embora a maioria dos alunos ronde os 60 a 70 anos, outros há que já ultrapassaram a fasquia dos 90 e, nem por isso, faltam a uma aula

“Aprender algo novo, seja o que de Universidades da Terceira Idade for, é algo que deve ser mantido toda (Rutis), que gere o espaço diretamen- a vida”, concorda Joana de São João te. Mas não é um caso raro no pano- Rodrigues, psicóloga clínica. Não só rama nacional. De norte a sul do país, porque o estímulo mental é tão im- muitas outras universidades seniores portante como o exercício físico, mas têm sido criadas, pela mão das jun- também porque “à medida que vamos tas de freguesia, câmaras municipais, envelhecendo, perdemos algumas ca- universidades, associações ou empre- 75 Viúva há 13 anos e ainda sem netos, pacidades, incluindo de memória e de sas. “Neste momento já existe uma “é sobretudo o convívio” que a move. concentração. Por outro lado, apren- cobertura nacional bastante razoá- Mas Maria Margarida sempre gos- der é uma atividade que “estimula de- vel”, garante Luís Jacob, presidente tou de aprender e não é propriamen- terminadas partes do cérebro, mais da Rutis. A rede integra 298 univer- te novata nestas andanças. Ao curso adormecidas”, alerta a especialista. sidades seniores, com 5 500 profes- do Magistério Primário somou, mais E contribui para o bem-estar geral sores e 45 mil alunos inscritos, e o tarde, uma licenciatura em Línguas do indivíduo. “Uma pessoa mais ati- país tem exemplos de excelência na Românicas. E já depois da reforma va intelectualmente vai conseguindo cobertura geográfica que merecem frequentou várias universidades se- gerir melhor as dificuldades que lhe destaque: “Em Santarém, todos os 22 niores. Até que, em 2014, decidiu ex- vão surgindo, encontrando mais fa- concelhos têm a sua universidade”, perimentar a Rutis Porto, onde se cilmente soluções através de outras avança o responsável. mantém e pagando, na qualidade de capacidades que entretanto pode de- Associada Montepio, 15 euros men- senvolver. Deste modo vai sentindo-se Aprender, praticar, evoluir sais. “Aprende-se sempre, até mor- capaz e essa auto-perceção influen- A residir em Mem Martins, António rer...”, gosta de repetir, dando como cia o bem-estar e a autoestima, dimi- Pereira da Costa, 69 anos, está refor- exemplo de utilidade prática a infor- nuindo a possibilidade de surgirem mado há quatro e não demorou mui- mática. “Agora resolvo questões do sintomas depressivos e o isolamento to a inscrever-se na Actis – Universi- condomínio, da ADSE... tudo por social”, explica. dade Senior de Sintra. Militar com a email”, explica. Foi um desafio, como A Rutis Porto, a “segunda casa” patente de coronel, antigo diretor da aquele a que se propôs, em setembro, de Maria Margarida, nasceu de uma biblioteca do Exército, continuou a quando decidiu aventurar-se a tocar parceria entre a Associação Mutua- dedicar-se à investigação, à história cavaquinho (ver caixa). lista Montepio e a Associação Rede militar, tendo vários livros editados

REVISTA MONTEPIO 4 a minha vida REPORTAGEM regressar à escola

mais para conviver, para se diver- A Rutis tir”, explica. Em qualquer dos casos, existem vantagens óbvias ao nível da em números manutenção das capacidades intelec- A Associação Rede de Universidades tuais e da rapidez do raciocínio cere- da Terceira Idade (Rutis) foi criada bral. “É o uso que faz o órgão. Apren- em 2005 der faz-nos progredir”, reconhece. A Actis comemorou este ano o 298 25º aniversário, com dois polos a UNIVERSIDADES SENIORES funcionar em Algueirão e na Porte- la de Sintra e mais de 600 estudantes agrupados por 127 turmas. “O aluno 5 500 mais velho tem 92 anos. Temos al- PROFESSORES gumas pessoas com 55 anos mas o grosso dos alunos está entre os 60 e os 70 anos”, explica o atual presiden- 45 000 te da direção da associação, Fernan- ALUNOS do Figueira. Pessoas com diferentes níveis de ensino – a Alfabetização é uma das disciplinas ministradas – e nessa área. Mas todos os anos, em se- interesses variados, que vão das artes tembro, volta a olhar para a lista das e manualidades à História, passando 90 disciplinas disponibilizadas pe- pela ginástica e pelo tai chi, mas com Aprender é o verdadeiro elixir la Actis para fazer as suas escolhas. algo em comum. “A questão da socia- Direta e indiretamente, o regres- Já fez Alemão, Inglês Avançado, bilização é um traço transversal”, ga- so aos bancos da escola acaba por Encadernação, Matemática e atual- rante o responsável. Procuram com permitir retardar os efeitos do enve- 76 mente dedica-se a três cadeiras: quem conversar, manter-se ocupa- lhecimento. “O ato de explorar, pro- História Mítica Universal, Literatu- das, ter um horário. curar, desenvolver e aprender ativa ra e Teatro. Também já foi à Irlanda com um grupo de colegas, faz parte do grupo de teatro e até já levou a pal- TESTEMUNHO co encenações de autores como Jaime Salazar Sampaio e Sttau Monteiro, em Professores que também são alunos diferentes escolas e auditórios. “Tem Fernando Tavares a oportunidade de inicial esbateu- sido a experiência mais marcante. chegou à Rutis Porto frequentar outras aulas, -se rapidamente. Quando era capitão encenei um gru- por convite e entrou e Fernando inscreveu- O entusiasmo dos po de teatro dos Pupilos do Exército, como professor, a fazer -se em História do Porto estudantes, que mas não tinha experiência como ator. jus ao hobby da música e Inglês Avançado. Uma pediram à diretora Estou ali para aprender, para prati- a que se dedicou depois experiência positiva, um espaço para poder car, evoluir”, explica. da reforma, quando que veio a somar- ensaiar uma vez por É na exigência que reconhece o decidiu retomar os -se à surpreendente semana além das aulas, desafio, e por isso até gostava que estudos realizados no estreia como professor. contagiou o professor e a houvesse níveis mais avançados pa- conservatório e começar “Começámos do zero, regularidade da prática ra algumas disciplinas. Mas, para a aprender cavaquinho. com oito alunos, pessoas deu os seus frutos. António Pereira da Costa, todas as Mas não demorou sem formação musical e “Na festa de Natal, após motivações são válidas para voltar muito a tornar-se aluno que nem sequer sabiam pouquíssimas aulas, aos bancos de escola. “Há pessoas também. como funcionava o fizemos já uma pequena que se dedicam mais, outras menos, Aos professores, que cavaquinho”, começa apresentação”, recorda há quem ali esteja para aprender ou são voluntários, é dada por explicar. O receio com entusiasmo.

REVISTA MONTEPIO ^^ANTÓNIO PEREIRA DA COSTA, antigo diretor da biblioteca do Exército, continua a cultivar o interesse pelo saber 77

os nossos circuitos de recompensa e da Rutis, apesar de reterem o esta- cita a partir da experiência e de estudos estimula a produção de dopamina, tuto de “membros observadores”. feitos com base na realidade portu- o neurotransmissor responsável pe- Na realidade, e apesar de se chama- guesa encontram também correspon- las sensações de prazer que, quando rem universidades, a maioria dos pro- dência. Entre os 110 alunos, “a maio- se encontra em falta, pode contribuir jetos pensados para seniores não se ria possuiu o 12º ano ou bacharelato para problemas de saúde”, explica a destina apenas a pessoas com forma- e está na casa dos 60 anos”, conta psicóloga Joana de São João Rodri- ção superior e oferecem quase sem- Marlene Pires, diretora da Rutis Porto. gues. E há outra boa notícia: esses pre um leque variado de opções cur- Mas a diversidade é grande e a aluna benefícios conseguem-se seja com riculares pensado de acordo com os mais velha tem 93 anos, explica a res- aulas de cozinha, manualidades ou interesses da população a quem se ponsável com orgulho. Esta univer- a discutir temas históricos e políti- dirige e acessível a todos. “São pes- sidade vive do dinamismo, de que é cos. “Qualquer tipo de aprendizagem, soas que têm em comum a coragem exemplo a grande adesão que inicia- desde que realizada com genuíno in- de decidir voltar a aprender. O gros- tivas extra, como as visitas de estudo, teresse, será uma ótima forma de so dos alunos rondará os 60, 70 anos, têm. E há outro dado curioso, revela praticar um envelhecimento ativo”, mas temos alunos de todas as idades. Marlene Pires. Há mais mulheres do garante a especialista. A aluna mais velha que alguma vez que homens a inscreverem-se. “São Em Portugal existe em várias uni- conheci tinha 104 anos...”, explica normalmente elas quem toma a inicia- versidades a oferta de estudos pós- Luís Jacob, presidente da Rutis. tiva e eles vêm por arrasto”, brinca, por -graduados em regime livre, e al- No espaço atmosfera m, no Por- sua vez, Luís Jacob. No fim, o resulta- guns destes projetos até fazem parte to, os dados gerais que Luís Jacob do é o mesmo: “O entusiasmo é igual.”

REVISTA MONTEPIO 4 a minha vida PASSEIOS COM HISTÓRIA

Paulo Figueiras abriu as portas do Zoo 78 ZOO DE LAGOS de Lagos há 17 anos. Naquela que era a propriedade da família ergueu um santuário para animais em vias de ex- tinção, alguns vítimas do tráfico ile- A ARCA DOS SONHOS gal, outros abandonados e até animais do circo. O caminho foi difícil, mas É A CONCRETIZAÇÃO DO SONHO DE UM HOMEM QUE a sua perseverança deu frutos e, DECIDIU DEDICAR A SUA VIDA AOS ANIMAIS. PAULO hoje, o Zoo de Lagos recebe, anualmen- FIGUEIRAS É O MENTOR DO ZOO DE LAGOS, UM PARQUE te, cerca de 70 mil visitantes, empre- DIFERENTE QUE TODOS OS ANOS PARTILHA A VISÃO ga 15 pessoas e é referência em proje- tos de conservação e investigação de DE UM MUNDO MELHOR COM 70 MIL PESSOAS. várias espécies em vias de extinção. VISITE E FAÇA PARTE DA MUDANÇA Para tal muito contribui a parceria com a rede EAZA (European As- por miguel ferreira da silva fotografia zoo de lagos sociation of Zoos and Aquariums), organização internacional cuja mis- Muitas são as pessoas que têm de Paulo Figueiras oferece soluções são é promover a cooperação de zoo- uma opinião negativa dos jardins que replicam o habitat natural das lógicos e aquários em todo o mundo. zoológicos. É a ideia do cativeiro, várias espécies. Por isso, a perceção A EAZA estipula qual a unidade da que prende o ser selvagem, que é que temos é que os animais estão rede que funcionará como local de opressora. Mas basta uma visita ao soltos, num espaço arborizado, custódia de uma determinada espé- Zoo de Lagos para desmistificar esta com muita água e que convida a cie, unidade essa que será responsável conceção. Ao invés de jaulas, o projeto um dia em família bem passado. pelos programas de reprodução em

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Nova temporada Flory e Luna, as hipopótamo-pigmeu, serão duas grandes estrelas desta sea- son. Com a chegada de um macho pro- mete-se muito drama nos próximos capítulos, uma vez que esta espécie é solitária. Quem será a escolhida? Neste verão, os fãs de pinguins vão ficar felizes com a nova piscina, ^^ESTRELAS DA COMPANHIA mesmo ao lado do tanque destas aves. O Zoo de Lagos alberga mais de 150 Mas há muito mais para ver. Aqui en- espécies de animais e 200 botânicas contramos mais de 150 espécies de animais e 200 botânicas, com espe- toda a Europa. Depois, através de um cial destaque para o lince-ibérico, o software que monitoriza todos os ani- lémure-de-cauda-anelada, os walla- mais e controla a tabela genética, tra- bies, suricatas, ocelotes, raposa-voa- ça-se o projeto de reprodução em ca- dora, crocodilo-anão, entre outros. tiveiro dessa espécie, com o objetivo Os associados Montepio usufruem final de libertar animais na nature- de 15% de desconto nas entradas. za. Um exemplo de como funciona a Por isso, aproveite e venha conhecer rede: o Zoo de Lagos é responsável um zoo diferente. pela conservação do calau-de-face-pra- teada em todos os zoológicos da rede. Segundo Paulo Figueiras, “é como fazer parte de uma grande família”. Visita especial Montepio Um dos programas com maior sucesso ^ 3 DE JUNHO - 15H é o saguim-cabeça-de-algodão colom- Gratuito < 3 anos (inclusive) biano, um dos primatas mais raros do 6€ dos 4 aos 11 anos (inclusive), mundo. A fêmea está agora grávida e o 8€ dos > 11 anos | 7€ > 65 anos coordenador da espécie irá decidir pa- (Desconto 50% sobre o preço de ra que zoológico serão enviadas as crias, bilheteira) de modo a expandir a população nou- Inscrições: [email protected] tras unidades. O Zoo de Lagos tem ain- INFORMAÇÕES da parcerias com o Ministério da Edu- montepio.org/vantagens-montepio/ cação, no sentido de promover junto dos agenda/ jovens a necessidade de conservação de SAIBA MAIS espécies selvagens e dos seus habitats. zoolagos.com 4 a minha vida CRÓNICA

BAPTISTA-BASTOS quase religioso, que atribuía ao seu trabalho. Não é preciso acrescentar que ele nascera para aquela profissão, a que designava por «ofício.» UM HOMEM SÓ Quando a mulher morreu, de enfarte, ele, nos primeiros dias, sentiu-se um pouco livre, Agora, só agora é que começou a sentir-se um pouco só. Os filhos tantos e tantos anos de casado, com chatices estavam longe, raramente o visitavam, e o trabalho de revisor pelo meio, os filhos fora, eram quatro, dois deles de provas de livro era pungentemente doloroso: o texto era mau no estrangeiro, em Inglaterra e na Bulgária, mas e a história perdia-se na inexistência. De vez em quando olha passado o tempo do espanto e da surpresa regres- o retrato da mulher, pousado mesmo ao cimo da secretária. sara à sua vida melancólica e vazia. A mulher morreu há meio ano, já se não davam muito bem, com Continuava a fazer revisões de livros, e o que indiferença, digamos, mas o hábito faz o monge, e ambos tinham recebia, com a reforma, dava-lhe muito bem envelhecido quase sem darem por isso. Cinquenta anos de vida em para viver. Porém, começou a sentir a solidão. comum, o que quer que isto signifique para si e para os outros. Comia numa casa de pasto, só uma refeição por dia, à noite um copo de leite, televisão e leitura de Tinham-se conhecido num baile de bairro, alguns jornais, o Correio da Manhã, sobretudo, que com música de cordas e um violinista cego, lhe fornecia o bem e o mal que passava no país e todos a tocar velhos temas. Há que tempos! no mundo. Às sextas-feiras, durante anos, ia almoçar com Os jornais tinham-se alterado muito e qua- os amigos, para restaurantes da outra banda, se todos eram compostos de pequenas notícias, e, ocasionalmente, bebiam todos um pouco em destinadas a quem não desejava saber bem o que excesso. Conhecera uma rapariga de bom porte se passava à sua volta. O mundo alterava-se a e boa pinta, e mantivera, durante anos, uma re- passo acelerado, as televisões informavam o que lação extremosa. A mulher nunca desconfiara, interessava a quem mandava, e deixara de ha- a não ser quando uma evidência a colocou ver nomes como os de Artur Portela ou Urbano frente ao caso. Ele almoçara e bebera em dema- Carrasco ou João Coito, os quais, independente- 80 sia, e tivera um achaque que o levou ao hospital. mente das suas opções ideológicas, tinham do jor- Avisada do assunto, a mulher, sem saber, rigorosa- nalismo uma noção de “dizer as coisas.” Dizer as mente, o que se passara, tomou como certa a notí- coisas, ah!. Isso era mais complicado. A censu- cia dos amigos dele: congestão estomacal, causada ra vigiava, e o país não admitia outras noções se- por excesso de comida e de bebida. Mas as coisas não aquelas ordenadas e sossegadas. Não havia nunca ficaram para ela, a Aurora, tradutora de crimes, nem burlas, nem zaragatas, nem atoar- livros para crianças, muito claras e a sombra das das. As noções de felicidade e de liberdade eram suspeitas nunca mais a abandonou. outras ou não eram. As coisas passaram em silêncio, mas as esqui- Esteve a almoçar com o Zé Gadanho, o último vas da Aurora alertaram-no para o silêncio e para que resta da geração a que pertence. O Gadanho o resguardo. Ela sabia que o marido, nos encon- era um falador incansável, e vinha sempre aos tros semanais com os amigos, chegava-lhe nos co- almoços com novas histórias e outras opiniões. pos, tinto, sobretudo, e um ou dois bagaços para Falava quase sempre do Benfica e do Bloco de digerir. Ele chamava-se Rodolfo e era muito Esquerda com o alvoroço jovem de quem não estimado na profissão pelo cuidado extremo, desejava mais nada do mundo. Rodolfo não o se- guia nas conversas. Gastara-se com a liberdade do 25 de Abril e, lenta mas persistentemente, os anos também o iam devastando. Ergue-se da cadeira, mas já não pensa na mu- lher morta. Sente-lhe a falta.

NOTA: O autor escreve segundo a chamada norma antiga.

REVISTA MONTEPIO PUB 4 a minha vida TESTEMUNHO ©CAT RAIN ©CAT

perguntas a... CELINA DA PIEDADE Acordeonista, cantora e compositora, começou a estudar música aos 5 anos. Esta entrevista foi realizada seguindo Já colaborou com músicos como Rodrigo Leão, Mayra Andrade, Gaiteiros as premissas do famoso Questionário de Lisboa e António Chainho, entre outros. O último disco, Sol, o terceiro, conta de Proust, que pretende refletir a com o apoio da Associação Mutualista Montepio e combina originais com personalidade do entrevistado. O nome e popularidade deste questionário estão temas tradicionais, incluindo músicas de João Gil, Gilberto Gil e do argentino relacionados com as respostas dadas Atahualpa Yupanqui. Celina da Piedade é pós-graduada em Estudos da Música 82 pelo escritor francês Marcel Proust. Popular e presidente honorária da associação PédeXumbo.

Qual a fgura histórica com Sem eles nada disso teria sido facto de todos nos darmos muito bem. que mais se identifca? possível. Se pudesse mudar algo em si, O bardo. Formei-me em História Se morresse e ressuscitasse como o que seria? e tenho mais estima por tipos e uma pessoa ou animal, quem Adorava ser daquelas pessoas que épocas históricas do que por figuras escolheria ser? madrugam com gosto, que às 9 da reconhecidas. Nunca pensei em ser outra coisa que manhã já foram e voltaram do ginásio Qual o seu maior medo? não eu… Mas se pudesse experimentar e já têm metade do dia organizado. É dizer que tenho medo! E é preciso seria uma águia ou um golfinho, para Quem é o seu autor favorito? muita coragem para assumir a nossa explorar outros limites deste planeta. É difícil escolher só um. Nomeando fragilidade e ansiedades. Quem são os seus heróis alguns, sem dúvida a Agustina Bessa- Qual a sua ideia de felicidade na vida real? -Luís, Anxos Sumai, José Eduardo perfeita? Os lutadores que vou conhecendo. Agualusa, José Luís Peixoto, Ondjaki, A melhor companhia. Já dizia Goethe: Os que contra todas as probabilidades Virginia Woolf e a Zadie Smith. "Para mim, o maior dos suplícios seria ainda assim sorriem e continuam Qual a fgura do mundo da música estar sozinho no Paraíso." a lutar. que mais admira? Qual o seu maior feito? O que aprecia mais nos seus O meu pai. Não era músico mas tudo O conservatório, a universidade e os amigos e família? nele vibrava como cordas simpáticas. meus discos a solo. Mas os créditos Sem dúvida a paciência que têm para Era o meu fã número um e o principal devo-os aos meus pais, aos meus me aturar! O que amo profundamente incentivador. Por causa dele dei o meu professores, às pessoas com quem na minha "família moderna", e à qual primeiro concerto aos 6 anos e a partir tenho trabalhado e ao meu marido. me sinto orgulhosa de pertencer, é o daí fui crescendo como artista.

REVISTA MONTEPIO O MEU MONTEPIO NOTÍCIAS INSTITUCIONAIS, INICIATIVAS, PROJETOS E COMUNICADOS

página 84 página 86 página 88 TALENTOS DESCONTOS AGENDA MONTEPIO Invista em si e na sua família Não perca todas as atividades António Oliveira e Maria e beneficie de descontos e iniciativas que preparámos, Venes, associados Montepio, junto de uma extensa este trimestre, para dão a conhecer o seu trabalho rede de parceiros os associados Montepio na música e na literatura 5 o meu montepio CULTURA

ARTES QUANDO O TALENTO NOS BATE À PORTA OS MAIS DE 630 MIL ASSOCIADOS DA ASSOCIAÇÃO MUTUALISTA MONTEPIO GARANTEM UMA HETEROGENEIDADE DE FACETAS, EXPERIÊNCIAS E TALENTOS. PARA ANTÓNIO OLIVEIRA E MARIA VENES, ASSOCIADOS MONTEPIO, DAR CONCERTOS OU ESCREVER LIVROS É MAIS QUE UM HOBBY: É PARTILHAR COM OS OUTROS

86 UM EXERCÍCIO DE PRAZER

Foi algures “entre os 15 e os 16 anos”. ser pianista com Helena Sá e Costa, Não é fácil ser músico em Portu- António Oliveira não sabe ao certo Pedro Burmester, Mikail Pethukov, gal. Quando a especialidade é a músi- quando decidiu dedicar-se à músi- Carla Guidici e Emanuel Ax. ca clássica, as oportunidades rareiam. ca, mas no 12º ano a decisão estava Hoje, António Oliveira é professor “O mercado português é muito peque- tomada. “Já tinha concluído o cur- de piano no Conservatório de Música no. Apenas em Lisboa e Porto há insti- so complementar de música e estava do Porto, mas é no palco, em recitais tuições dedicadas à música [clássica]”, a ter aulas particulares para as pro- a solo ou acompanhado, que se sen- confirma. António sonha dedicar-se vas de acesso à Escola Superior de te como peixe na água. “Sem o palco em exclusivo aos concertos mas, para Música e Artes do Espectáculo do não me sentiria realizado”, comenta. tomar uma decisão dessa magnitude, Porto”, explica. Terminado o curso, “A docência e a atividade performa- tem de garantir, de antemão, uma es- continuou a estudar. Primeiro com tiva são fundamentais na minha vida tabilidade económica que só se conse- Laszlo Simon, em Berlim, depois e alimentam-se mutuamente, mas o gue com uma agenda bem preenchida. com Luiz de Moura Castro, no Con- meu centro é o palco: defino-me co- E isso “não é fácil no atual contexto na- necticut, Estados Unidos. Mais tarde, mo um pianista que dá aulas, e não cional”. Entretanto, vai continuar a dar de regresso ao seu Porto, aprendeu a o contrário.” concertos e a editar discos. Dentro de

REVISTA MONTEPIO jjANTÓNIO OLIVEIRA, ra a sua segunda casa. “Não sei se sou Associado Montepio, é escritora, toda esta aventura é curio- professor de piano no sa. Fazer algo fora da nossa área aju- Conservatório do Porto, da-nos a ser mais criativos e energéti- mas é no palco que cos na nossa profissão. Dou por mim se sente em casa a contar partes do livro para fazer ana- logias com situações de trabalho do dia a dia”, confessa. 10 anos, António gostaria de acumular Editar um livro permitiu-lhe tam- Os resultados novos registos discográficos que retra- bém surpreender os amigos e famí- tem o seu percurso durante este tempo. lia. “Gosto de diversificar e arriscar. do Prémio Escolar “Espero que daqui a 10 anos continue a Foi algo que fiz por mim, queria fazer Montepio 2016 fazer música com o mesmo prazer com algo fora da caixa”, admite. que faço hoje. E continue a ter a oportu- Dedicar-se em exclusivo à escrita Das cinco escolas premiadas, três localizam-se nas regiões nidade de a partilhar com as pessoas”, não está nos seus planos futuros, ain- autónomas dos Açores (duas) garante. da que, se tal se verificasse, seria uma e Madeira (uma) Associado Montepio desde a ado- situação “absolutamente fantástica”. lescência, o pianista não perdeu tem- No seu horizonte está, ainda assim, Três escolas das regiões autónomas po e já incutiu os valores do mutua- continuar a publicar livros – “mais dos Açores e Madeira e outras duas lismo às duas filhas, também elas um ou dois” nos próximos 10 anos do continente – Bragança e Montijo– associadas. Afinal, ele próprio revê- – e, quem sabe, um filme inspirado – receberam o Prémio Escolar Mon- -se no apoio da Associação Mutualista em Desejo Incontrolável. “São sonhos a tepio 2016, um galardão promovi- Montepio às artes. “É um apoio ines- longo prazo”, continua. O sucessor de do pela Fundação Montepio e que timável”, admite. “As artes, em parti- Desejo Incontrolável já está a ganhar reconhece, desde 2009 e todos os cular as performativas, são quase sem- forma. “Ainda está numa fase muito anos, o bom desempenho dos esta- pre economicamente deficitárias, pelo embrionária, mas já dá para tirar o belecimentos de Ensino Público do que o apoio do Montepio é fundamen- fôlego. É uma história cheia de golpes nosso País. tal para viabilizar e concretizar alguns e reviravoltas, numa geração jovem e Assim, e às escolas básicas inte- projetos”, conclui. multicultural”, assegura. gradas Mouzinho da Silveira (Corvo) e Biscoitos (ilha Terceira), ambas nos Da engenharia agropecuária Açores, e à Escola Básica 1, 2, 3, Pré- para a literatura LIVRO -Escolar do Curral das Freiras (Ma- Sendo a cultura o motor da evolução Primeiro romance deira), juntaram-se a Escola Básica da sociedade, é fundamental que a de Izeda, em Bragança, e a Escola 87 Associação Mutualista Montepio con- jjDESEJO Básica D. Pedro Varela, no Montijo. tinue a defender o que é português, se- INCONTROLÁVEL As cinco escolas vão receber cada ja no apoio a músicos ou outros artis- AUTOR uma 6 000 euros, um valor estabe- tas, para que possam divulgar a sua Maria Venes lecido, em exclusivo, para três fina- arte. As palavras são de Maria Venes, EDITORA lidades: aquisição de equipamento, Associada Montepio “desde o primeiro Chiado Editora realização de visitas de estudo e for- salário” e autora de Desejo Incontrolável, PREÇO mação de docentes. livro publicado em junho de 2016. 10€ O Prémio Escolar Montepio Maria estava junto à estátua de visa contribuir para o aumento da Fernando Pessoa no Chiado, em Lis- qualidade do ensino e para a me- boa, quando recebeu o telefonema lhoria das condições de aprendiza- da editora a dar conta do interesse Maria é uma estudante de Erasmus gem, promoção das boas práticas em Amesterdão. Num ambiente de na publicação do seu primeiro livro. e respetiva melhoria de resulta- liberdade, apaixona-se por quem “Foi um caso que deu mais significado menos esperava. Desejo Incontrolável dos. Nos últimos oito anos permitiu ao momento”, confessa. Responsável é o primeiro romance de Maria Venes, a renovação de equipamento, ado- pela segurança e sabor de alguns dos natural de Beja e Associada Montepio. ção de novas metodologias de apren- alimentos que chegam todos os dias dizagem, aproximação da sociedade às nossas mesas, uma profissão que Saiba mais sobre o livro em: envolvente à escola, prevenção do “adora”, Maria Venes faz da literatu- chiadoeditora.com abandono e insucesso escolar.

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