THAÍS RODRIGUES DE SOUZA

JORNALISMO ESPORTIVO: UMA ANÁLISE DA ATUAÇÃO FEMININA NO GLOBO ESPORTE DF

Monografia apresentada ao Curso de graduação em Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Jornalismo.

Orientador: Prof. Dr. Alberto Marques Silva.

Brasília 2017

A mulher submissa, que era proibida de estudar e trabalhar, é cena perdida de filme em branco e preto, ao mesmo tempo tão próxima às nossas lembranças! É a linha do tempo estranha, mutante, que depende de que ponto o observador está para contar uma história. (SECURATO E DASTRY, 2010) AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço à Deus por todas as oportunidades proporcionadas ao longo dos anos. Aos meus pais que sempre me apoiaram e me incentivaram para que eu sempre fizesse tudo aquilo que me deixasse feliz, aos meus irmãos que tiveram paciência e compreensão quanto aos momentos de ausência. A minha melhor amiga Paula que mesmo distante sempre me apoiou ao longo da faculdade. E também ao meu orientador Alberto por ter me auxiliado na elaboração deste trabalho.

RESUMO

Referência: SOUZA, Thaís Rodrigues de. JORNALISMO ESPORTIVO: UMA ANÁLISE DA ATUAÇÃO FEMININA NO GLOBO ESPORTE DF 2017. TCC (Graduação) - Curso de Jornalismo, Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2017.

Ao longo dos anos as mulheres procuraram se livrar dos rótulos que lhe foram impostos a fim de garantir os seus direitos sociais, políticos, econômicos e profissionais, inclusive na área jornalística onde atualmente são maioria. Porém, essa expressividade não se reflete na editoria esportiva. Este Trabalho de Conclusão de Curso procura analisar a presença das mulheres na editoria esportiva no quesito cobertura, demonstrando os desafios enfrentados pelas pioneiras e também pelas atuais profissionais nos diferentes veículos de comunicação,analisando principalmente a presença das jornalistas no Globo Esporte-DF, principal programa esportivo do estado. Foram utilizadas revisões bibliográficas, análise de conteúdo e análise quantitativa como instrumentos de pesquisa para obtenção dos resultados. Através da pesquisa foi possível identificar que a presença das mulheres ainda é pequena apesar do crescimento nos últimos anos.

Palavras-chave: Mulher; Globo Esporte; Jornalismo Esportivo; Feminismo; Comunicação.

ABSTRACT

Reference: SOUZA, Thaís Rodrigues de. JORNALISMO ESPORTIVO: UMA ANÁLISE DA ATUAÇÃO FEMININA NO GLOBO ESPORTE DF 2017. TCC (Graduação) - Curso de Jornalismo, Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2017.

Over the years, women have sought to get rid of the labels that have been imposed on them in order to guarantee their social, political, economic and professional rights, including in the journalistic area where they currently hold a majority. However, this expressiveness is not reflected in sports publishing. This Course Conclusion Work seeks to analyze the presence of women in sports publishing in the coverage area, demonstrating the challenges faced by the pioneers and also by the current professionals in the different communication vehicles, analyzing mainly the presence of journalists in Globo Esporte-DF, main program the state. Bibliographical reviews, content analysis and quantitative analysis were used as research tools to obtain the results. Through the research it was possible to identify that the presence of women is still small despite the growth in recent years.

Keywords: Women; Globo Esporte; Sports journalism; Feminism; communication.

LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS

Tabela 1- Referente ao panorama geral da análise ...... 41

Gráfico 1- Reportagens produzidas por homens e mulheres ...... 41 Gráfico 2- Reportagens produzidas no Distrito Federal e reportagens veiculadas nacionalmente ...... 43 Gráfico 3- Participação das jornalistas ...... 43

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Cidinha Campos ...... 26 Figura 2- Regiane Ritter ...... 27 Figura 3- Marilene Dabus ...... 28 Figura 4- Isabeli Scalabrini ...... 28 Figura 5- Mylena Ciribelli ...... 29 Figura 6- Glenda Kozlowski ...... 30 Figura 7- Anna Zimmerman e Fátima Bernardes ...... 30 Figura 8- Renata Fan ...... 31 Figura 9- Soninha Francine ...... 32 Figura 10- Kitty Balieiro ...... 32 Figura 11- Fernanda Gentil ...... 33 Figura 12- A repórter e apresentadora Stephanie Alves com roupas casuais...... 39 Figura 13- A jornalista e apresentadora Viviane Costa fazendo uso de roupas discretas...... 39

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...... 9 2 METODOLOGIA ...... 11 2.1 OBJETO DE PESQUISA ...... 11 3 HISTÓRIA DO JORNALISMO ESPORTIVO ...... 13 3.1 Jornalismo esportivo no mundo ...... 13 3.2 Jornalismo esportivo no Brasil ...... 15 3.2.1 Televisão ...... 18 3.2.2 TV aberta ...... 19 3.2.3 TV por assinatura ...... 19 3.2.4 Profissionalização ...... 20 4 A MULHER NA IMPRENSA e no jornalismo esportivo ...... 22 4.1 No radiojornalismo ...... 24 4.2 No telejornalismo ...... 26 4.3 O preconceito com jornalistas esportivas ...... 33 5 GLOBO ESPORTE DF ...... 37 5.1 AS APRESENTADORAS...... 37 5.1.1 Imagem ...... 38 5.1.2 Desempenho ...... 39 5.2 Panorama geral do programa ...... 40 5.3 Reportagens produzidas por homens e mulheres ...... 41 5.4 Reportagens locais X reportagens veiculadas nacionalmente ...... 42 5.5 Participação das jornalistas ...... 43 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 44 7 REFERÊNCIAS ...... 46

9

1 INTRODUÇÃO

O jornalismo esportivo no Brasil cobre principalmente o futebol e os demais esportes recebem uma atenção secundária. Porém, isso não acontece na Capital Federal. O futebol não é a modalidade esportiva mais popular no Distrito Federal, não porque não tenham amantes do esporte, mas devido a não popularidade dos times do estado. Este fato faz com que os veículos de comunicação sejam obrigados a cobrir outras modalidades esportivas praticadas na região. E esse foi um dos motivos pelo qual eu escolhi a profissão de jornalista, tentar somar ao jornalismo esportivo regional. Desde o início da editoria esportiva no Brasil o futebol procurou sua estabilidade na divulgação de notícias relacionadas a sua prática, já que por incrível que pareça o esporte sofreu preconceito antes de se popularizar no país. Com o passar dos anos e com a consolidação do esporte que pôs fama ao país, a editoria foi tomada praticamente pelo futebol. No DF como já foi mencionado os times não possui vínculos com os habitantes da região, o que dificulta bastante para os profissionais que sonham cobrir esta área na capital federal. As maiorias dos profissionais se veem obrigados a fazer carreira em outros estados onde o futebol é mais popular. O Globo Esporte- DF é o principal programa esportivo veiculado no estado, diariamente exibe reportagens que possuem foco no DF, como o quadro Peladeiros e também reportagens de competições de outros estados. O objetivo principal deste trabalho é analisar a presença das mulheres jornalistas na cobertura das reportagens deste programa esportivo e a importância de sua representatividade. A representação feminina tem se manifestado de forma expressiva, inclusive quando se refere ao mercado de trabalho, onde o gênero domina a profissão. No Brasil, as mulheres são maioria nas redações de jornais, ocupando cargos de chefia nos meios de comunicação. Uma pesquisa divulgada pela Federação Nacional dos Jornalistas aponta que elas representam 64% dos profissionais nas redações” (BERGAMO et. al., 2013 apud BRUM, CAPRARO, 2015). No entanto, na editoria esportiva, em contexto mundial, elas ainda são minoria, segundo pesquisa divulgada pela German Sport University Colegne (HORKY, NIELAND, 2011 apud BRUM, CAPRARO, 2015). A pesquisa mostra que somente 8% dos textos da editoria esportiva mundialmente são assinados por mulheres, enquanto que no Brasil apenas 7%. 10

Outro ponto determinante para elaboração deste trabalho envolve o constante preconceito com as jornalistas esportivas, não apenas no Brasil, mas em países como os Estados Unidos onde as profissionais sofrem ameaças através das redes sociais. Just not sports (2016) Os resultados encontrados na pesquisa revelam o preconceito, existente não apenas na editoria esportiva, mas no jornalismo em si. No início do século XX quando primeiras mulheres ingressaram na profissão, sofreram preconceitos devido a área ser ocupada apenas por homens. Durante a pesquisa é apresentado o levantamento histórico acerca da criação da editoria no Brasil e no mundo, relatando curiosidades dos primeiros periódicos e a adaptação do futebol na sociedade brasileira. A inserção da mulher na imprensa correlacionando as questões de gênero, imprensa feminina e o avanço para outras editorias. O período de inserção das mulheres na editoria esportiva nos diferentes veículos, mencionando desde a pioneira a jornalista que é destaque atualmente. E também uma pesquisa exploratória do Globo Esporte DF com objetivo de analisar a presença de jornalistas do sexo feminino na cobertura diária e as pautas as quais são destinadas.

11

2 METODOLOGIA

O trabalho está estruturado em três capítulos que relatam desde o surgimento da editoria de esportes no mundo até a pesquisa exploratória do programa Globo Esporte DF, programa esportivo de maior destaque no Distrito Federal e que é apresentado por duas mulheres que revezam o posto de apresentadora. Foi realizado o levantamento de informações através de pesquisa bibliográfica permitindo a compreensão de diversos assuntos abordados neste trabalho como gênero, mulheres e comunicação, jornalismo esportivo, esporte e representatividade. Souza, Fialho e Otani (2007, p.40), destacam como pesquisa bibliográfica um processo constituído “da obtenção de dado através de fontes secundárias, utiliza como fontes de coleta de dados materiais publicados como: livros, periódicos científicos, revistas, jornais, teses, dissertações, materiais cartográficos e meios audiovisuais, etc.” O principal problema que diferencia está pesquisa está na pesquisa exploratória que procura mostrar a presença das jornalistas no Globo Esporte- DF e como essas jornalistas podem influenciar na formação de futuras profissionais. Este ponto é relatado na análise. Segundo o autor e professor Alexandre Leonarde (2013), o problema de pesquisa trata-se de uma questão não solucionada, que é o alvo de discussão em qualquer domínio do conhecimento, desde de que seja passível de tratamento científico. As metodologias utilizadas neste trabalho foram à pesquisa bibliográfica e a pesquisa exploratória realizada com objetivo de verificar a participação das mulheres jornalistas na editoria esportiva ao longo dos anos e no Globo Esporte DF.

2.1 OBJETO DE PESQUISA

O Globo Esporte é o programa de esportes semanal da Rede Globo de Televisão, veiculado no canal aberto desde 14 de agosto de 1978. Inicialmente exibido de segunda à sexta-feira às 12h50, desde 1983 também é apresentado aos sábados e possuía duração de 40 minutos. O programa trata, principalmente, de assuntos ligados ao futebol com a mescla de outros esportes como natação, vôlei, surf, lutas marciais mistas entre outros. O primeiro grande evento acompanhado pelo programa foram os Jogos Olímpicos de Moscou em 1983 (GLOBO, 2012). No começo, o Globo Esporte era apresentado pelos jornalistas Fernando Vanucci e Leo Batista. A primeira participação feminina aconteceu em 1980, com a jornalista Isabela 12

Scalabrini, primeira mulher a fazer parte da equipe de esportes da TV Globo. Alguns anos depois, em 1991, foi a vez da jornalista, Mylena Ciribelli, integrar a equipe do programa (BRAVO, 2009). Atualmente o programa possui versões regionais em praticamente todos os estados, exceto no Espírito Santo que recebe a edição nacional através da Rede Gazeta. Algumas emissoras da rede exibem apenas um bloco local de 5 minutos do Globo Esporte, sendo os dois blocos seguintes da edição nacional transmitida via antena parabólica. As afiliadas da Rede Globo em São Paulo transmitem o programa gerado pela TV Globo São Paulo, e em Minas Gerais, há uma fragmentação entre as que exibem o programa gerado pela rede e o que é gerado pela TV Globo Minas. (MEMORIA GLOBO 2017) A edição do Globo Esporte DF, veiculada até o ano de 2012, era a edição nacional do RJ, restando apenas o primeiro bloco para ser apresentado pela equipe local. Mas em 21 de agosto de 2012, o Globo Esporte-DF passou a ser totalmente apresentado pela equipe da Rede Globo em Brasília, sob o comando de Gabriel Ramos e Viviane Costa. Em 2013 Viviane passou a ser a única apresentadora. No Distrito Federal, o programa segue os mesmos padrões dos outros apresentados nas demais regiões. Inicia às 12h50min (hora local), com a média de 25 minutos de duração, e reportagens de dois minutos e meio de duração dividido em três blocos nos quais a maioria das notícias são de outros estados. Estas reportagens são veiculadas em todas as filiais, com foco maior no futebol. (MEMORIA GLOBO 2017)

13

3 HISTÓRIA DO JORNALISMO ESPORTIVO

3.1 JORNALISMO ESPORTIVO NO MUNDO

A história do jornalismo esportivo está correlacionada aos surgimentos dos primeiros jornais da editoria no mundo e que aconteceu de forma tardia somente no final do século XIX. As notícias voltadas ao esporte surgiram nos jornais generalistas e, posteriormente, em publicações especializadas em países do continente europeu como França, Inglaterra e Espanha. O primeiro jornal esportivo que se conhecimento é o Francês Le Sport de 1854 que publicava crônicas sobre haras, caça e turfe, e também de práticas esportivas como natação, boxe, pesca e canoagem. Em 1856 foram criados na Espanha e Inglaterra a revista El Cazador e o Diário Esportivo Sportsman respectivamente. O El Cazador era uma revista quinzenal que tinha sua publicação destinada aos esportes de caça. Já o Sportsman que após alguns anos virou Sporting Life inicialmente era publicado duas vezes por semana, às quartas-feiras e sábados, e se tornou um jornal diário em 1886. Em 1869, na cidade de Cádiz, na Espanha, foi criada a revista El Sport Español, que abordava várias matérias sobre atividades físicas, despertando cada vez mais o interesse da população. Com o passar dos anos o interesse pelas práticas esportivas aumentaram e por isso foi idealizada uma publicação quinzenal em 1886, a La Ilustración Gimnástica, na cidade de Bilbao na Espanha, que obteve uma boa aceitação por parte da população. Uma curiosidade acerca do jornalismo esportivo está na criação do famoso jornal italiano Gazzetta Dello Sport que surgiu três dias antes dos primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna, em Atenas na Grécia. O jornal, segundo Tubino, M., Garrido e Tubino, F. (2007), é o impresso mais antigo do mundo, superando os 100 anos de existência, com um estilo particular com a capa cor-de-rosa, as manchetes em destaque e uma vasta cobertura. Em 1906, surgiu na cidade de Barcelona, Espanha, o El Mundo Deportivo. De acordo com Tubino, M., Garrido e Tubino, F. (2007), esse jornal se destacou por noticiar diferentes modalidades esportivas, como atletismo, automobilismo, ciclismo e a ginástica, além de ser o primeiro a incentivar a necessidade da prática esportiva. Os autores ressaltam também que o El Mundo foi o primeiro impresso que desenvolveu a forma de tabloide, inovando o noticiário. Foi na Espanha também que surgiu a primeira revista voltada para o público e mostrava opções de lazer e práticas esportivas turismo. A revista Sports y Turismo criada em 14

1916 na cidade de Madri, tinha suas publicações esportivas voltadas para os lugares em que as competições eram realizadas. Os autores TUBINO, M.; GARRIDO; TUBINO, F., 2007, p. 719) destacam que, “[...] a revista Sports y Turismo, com periodicidade semanal, explorava bastante as fotografias”. Na década de 1920, países da Europa e, principalmente, da América do Sul, abriram mais espaço para o futebol em seus noticiários. Esse período foi marcado pelo surgimento de equipes especializadas, especialmente para cobertura do futebol, pela valorização das opiniões e o uso das fotografias nos jornais e revistas. Nesta mesma década aconteceu também a primeira transmissão ininterrupta ao vivo no rádio, nos Estados Unidos, na luta de boxe entre Jack Dempsey e Joe Carpentier, pela emissora KDK-A. Tubino, M., Garrido e Tubino, F. (2007, p. 719) afirmam que: “Os historiadores destacam que foi uma jornada, pelo tempo que permaneceu no ar. Por isso, as coberturas de Esporte no rádio passaram a ser conhecidas como Jornadas Esportivas”. Ainda de acordo com os autores, essa transmissão marcou por colocar o rádio como um meio de comunicação de massa. Nos anos 30 foi a vez da televisão ter sua primeira experiência em transmissões, nos Jogos Olímpicos de Berlim, na Alemanha. Em 1936, de uma forma discreta o mais novo veículo de comunicação dava o ponta pé inicial para a valorização do esporte com a mescla de imagens e informações. Os jogos foram televisionados apenas para os telespectadores presentes aos ginásios e estádios do local daqueles Jogos. Na verdade, essa foi uma maneira de apresentar a difusão de imagens para a apreciação pública, ainda não projetada por um veículo (TUBINO, M.; GARRIDO; TUBINO F., 2007, p. 720). As primeiras transmissões ao vivo, de forma não integral, foram realizadas pela TV BBC, de Londres, do Torneio de Tênis de Wimbledon, em 1937, e, em 1940, da partida de beisebol realizada nos EUA. Foi a partir dessas transmissões que diversas coberturas esportivas de televisão foram realizadas, tanto na Europa como nos EUA. Já a primeira transmissão de um evento esportivo realizado pela televisão, foi em 1948, nos Jogos Olímpicos de Londres, pela BBC TV local. Mesmo com o surgimento do rádio e da televisão, uma série de acontecimentos marcava os veículos impressos do mundo. Na década de 1950, a revista Sports Illustrated surgiu como o maior impresso da época. Criado em 1954, a revista alcançou uma média de 3.150.000 exemplares, para mais de 24 milhões de leitores. Foi também o primeiro periódico a lançar uma publicação mensal, voltada para as crianças, chamado de Sports Illustrated for Kids. 15

A partir desse período há muita informação desencontrada sobre a criação de revistas, jornais e programas esportivos em vários países, e os dados ficam mais claros quando envolve a veiculação de notícias esportivas já inseridas a internet.

3.2 JORNALISMO ESPORTIVO NO BRASIL

No início do século XX, a imprensa esportiva ainda não tinha o espaço que possui atualmente. O motivo é que o futebol que nos dias atuais rende diversas pautas não era o esporte mais popular na época. A história do jornalismo esportivo no Brasil está correlacionada com o surgimento e prática do futebol. Charles Miller, um brasileiro que estudava na Inglaterra, foi quem trouxe para o Brasil as primeiras bolas e mais tarde foi o responsável pelo início da popularização do esporte no país. Porém, naquela época o atual “país do futebol” vivia outra situação esportiva, cultural e política. O esporte popular era o remo, praticado na Lagoa Rodrigo de Freitas, no . A cobertura esportiva não existia. Nenhum esporte era noticiado em jornais. O futebol começou a ser praticado por jovens da elite brasileira que costumavam estudar na Europa. Algumas publicações, no entanto, reportaram um jogo parecido no litoral nordestino, provavelmente trazido por marinheiros. Se atualmente é possível ver crianças de qualquer classe social brincando de bola nas ruas, naquela época era incomum tal situação por ser considerada uma prática cara. Todo material esportivo como bolas de couro, calçados, e os uniformes, de linho e algodão, eram importados. As equipes, formadas por jovens ricos possuíam camisas elegantes, meias e sapatos especiais. As primeiras partidas foram realizadas nos clubes tradicionais do Rio e São Paulo. Os primeiros jogadores a ganhar fama no Brasil tinham nomes e sobrenomes diferentes dos tão comuns Silva e Santos que atuam nos times hoje em dia. A maioria esmagadora eram de descendentes de estrangeiros ou imigrantes. Os clubes também tinham nomes com referências estrangeiras, como São Paulo Athletic, Sport Club Corinthians, Juventus e Rio Grande Football Club. Naquela época, ninguém imaginava que futebol seria o esporte mais popular, não só do Brasil, mas do mundo. O preconceito com a modalidade fazia com que pessoas duvidassem que ela cairia no gosto da população. Um exemplo está em um trecho da crônica Traços a esmo publicada pela primeira vez em "o Índio", em Palmeira dos Índios (AL), em 1921, com o pseudônimo de J. Calisto feito pelo escritor alagoano Graciliano Ramos: "Futebol não pega, tenho certeza; estrangeirices não entram facilmente na terra do espinho". 16

Nos anos 10, as equipes passaram a competir em torneios organizados e foram realizados os primeiros amistosos entre as cidades. Em São Paulo, a publicação Fanfulla, de origem italiana, é considerada a primeira a noticiar fatos esportivos, especialmente sobre futebol. Em 1914 foi criada a Federação Brasileira de Sports. Depois, em 1916, foi criada a Confederação Brasileira dos Desportes (CBD) antecessora da atual Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Nessa época foram criados também os primeiros clubes de futebol amador no Rio de Janeiro na sua maioria originados de clubes cariocas de remo, como Clube de Regatas do Flamengo, Clube de Regatas Vasco da Gama e Clube de Regatas Botafogo (depois Botafogo de Futebol e Regatas). Em 1919 foi publicado pelo jornal carioca “O Imparcial” uma nota sobre o primeiro título internacional da Seleção Brasileira, nele é possível notar algumas diferenças da escrita atual: Salve Footballers Brasileiros! Depois de Uma Peleja Emocionante, os nosso Patrícios Lograram, Ontem, Para o nosso País, A Supremacia Do Football No Campeonato Sul-Americano. A Nossa Inegável Vitória De Ontem Sobre Os Uruguaios Pelo Score De 1x0 (O Imparcial, 30 de maio de 1919). Algumas palavras de origem inglesas que eram presentes nas crônicas esportivas da época sofreram mudanças ao longo dos anos. ´Stadium´ virou estádio, ´training´ treino e´scratchment´, equipe de jogadores. Outros termos foram sendo substituídos, traduzidos ou receberam uma nova versão, como corner (escanteio ou córner), fault (falta) e penalty (pênalti). No entanto, o futebol só começou a se tornar mais popular nos anos 20. Foi nesta época também que a prática esportiva começou a ganhar um formato de profissão onde os melhores atletas começavam a cobrar salários para defender suas equipes, porém, na maioria das vezes tinham suas propostas negadas já que os clubes tradicionais achavam um absurdo os jogadores receberem dinheiro pela atividade que praticavam. Nos jornais, algumas notas começaram a ter destaque ao lado das de turfe, ainda maioria. O aumento do interesse por parte dos leitores pelo futebol abriu espaço nas páginas dos jornais e a publicação crescente acabou resultando na divulgação do esporte. Porém ainda existia um forte preconceito dentro da própria imprensa. Durante a maior parte do século passado o jornalismo esportivo foi considerado a editoria que possuía a menor importância em um jornal. As editorias de esporte e a presença de cadernos específicos nos grandes jornais só surgiram no final dos anos 60. Uma exceção foi o jornal dos Sports criado nos anos 30 por Mário Filho, irmão do dramaturgo e jornalista 17

Nelson Rodrigues, que era voltado exclusivamente à cobertura esportiva. O jornal, possuía papéis na cor rosa e era uma cópia do italiano La Gazzetta dello Sport, criado em 1927. Sempre houve, uma certa desconfiança em torno dos jornais esportivos, muitas delas por considerarem que este tipo de publicação especializada não vingaria no Brasil. O falecido jornalista e técnico de futebol, João Saldanha, chegou a dizer, no final dos anos 60, que uma revista destinada ao futebol, como a , por exemplo, não passaria dos primeiros números. Porém, a Placar existe até hoje. Os já mencionados irmãos Mário Filho e Nelson Rodrigues possuem um papel importante no crescimento da imprensa esportiva e no crescimento do futebol no Brasil. Colunistas e aficionados pelo esporte, tanto Mário Filho quanto Nelson Rodrigues foram responsáveis pela criação de um estilo de texto apaixonado e criativo na cobertura do futebol. Numa época em que não havia televisão seus textos eram estampados nos jornais e neles continham jogadas espetaculares, gols surpreendentes, descrições que endeusavam os melhores jogadores e relatos de partidas históricas que aumentava as expectativas nos torcedores e também as rivalidades, levavam multidões aos estádios e davam ao futebol uma aura romanceada. Algumas décadas depois com o avanço das tecnologias, esse estilo agregaria também o uso da modalidade com o entretenimento. A parte negativa desse tipo de cobertura da época está justamente nas crônicas, que não tinham nenhum compromisso com a objetividade e veracidade. Os jogos não eram televisionados e a maior parte das jogadas e das descrições dos grandes craques estão registrados em relatos cujo teor não pode ser comprovado. A cobertura resultava na mistura de opinião, sentimento e muita criatividade, tornando difícil a separação do que era a verdade ou mito. A crônica esportiva em geral, comentaristas e repórteres se preocupavam pouco em relatar os fatos. A cobertura apresentava erros de dados, descrições incompletas e pouco compromisso jornalístico. Atletas com desempenho mediano podem ter sido considerados craques de seus times, assim como partidas históricas podem ter sido apenas bem disputadas. O rádio foi o primeiro meio de comunicação de massa que contribuiu na checagem dos registros históricos na editoria esportiva, por demandar um exercício maior de emoção e criatividade nas narrativas para prender a atenção do ouvinte. Esse fato é confirmado ao acompanharmos uma partida pela televisão com um áudio radiofônico de uma narração esportiva, este segundo passa a impressão de que as jogadas são mais perigosas do que a realidade apresentada nos estádios. 18

A seriedade e o compromisso com os fatos do jornalismo esportivo começaram a aparecer a partir do final dos anos 60, quando os jornais criaram editorias específicas para a cobertura esportiva. Os editores passaram a cobrar reportagens mais aprofundadas e menos opinativas e pediam um maior rigor na apuração dos dados. Alguns anos depois, na década de 70, as redações esportivas, que antes eram área de atuação exclusiva masculina, passaram a conviver com as mulheres, que atualmente representa alcançariam uma parcela desta divisão bastante significativa no atual século. As primeiras consequências da especialização e qualificação na cobertura esportiva foram as revelações polêmicas feitas pela imprensa acerca dos clubes, como vendas ilícitas de jogadores, compra de arbitragem e aumento da violência nos estádios. Em 1974, o Jornal do Brasil publicou a seguinte reportagem: "Futebol S.A: A falência de uma Empresa". Em 1976, o Estado de São Paulo escreveu "A estrutura de um futebol em decadência". Já o jornal O Globo publicou uma série de debates com técnicos, jornalistas e dirigentes sobre "A decadência do futebol brasileiro". Entre as manchetes estavam "Torcedores desencantados, abandonam o estádio", "Jogos ruins, vaias, esta é a rotina". A veiculação de notícias sobre a crise do futebol brasileiro colaborou para tirar o entusiasmo daqueles que costumavam acompanhar o esporte. Um outro exemplo que deixou bem claro a necessidade de uma cobertura mais preocupada com os fatos foi o início das transmissões ao vivo dos jogos pela televisão a partir de 1987. A transmissão televisiva mostrava tudo aquilo o que acontecia nos estádios, e isso colaborou no fim da aura romântica que existia nas crônicas esportivas. Em 1997, é produzido o Lance!. Hollanda (2012, p. 182) explica que “em formato tablóide, o Lance era financiado integralmente por investidores profissionais ligados ao mercado financeiro”. Santos (2010, p. 6) afirma que “em agosto de 1997, teve a primeira reunião dos jornalistas envolvidos com o novo projeto. Seriam duas redações, uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro. O Lance! buscava, principalmente, diferenciação. A partir do ano 2000, emplacou no diário esportivo”.

3.2.1 Televisão Em 1955 foi transmitido pela primeira vez na televisão um jogo de futebol. A partida exibida foi o clássico paulista Santos e Palmeiras, naquela época assim como os jogos, quase todos os programas eram feitos ao vivo devido a limitação da tecnologia (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 2010a). 19

3.2.2 TV aberta Em 1958, a TV Tupi transmitiu a Copa do Mundo daquele mesmo ano. Ribeiro (2003, p. 163-164) relata que a TV Tupi, de Assis Chateaubriand comprou da empresa alemã Sveriges os direitos exclusivos para exibir no Brasil os jogos do Mundial de 1958. Ainda no mesmo ano, foi criada a TV Continental que inicialmente possuía toda programação voltada para o jornalismo esportivo. A emissora foi uma das primeiras a utilizar o Auricom, equipamento que tinha capacidade de gravar simultaneamente som e imagem. A TV Continental exibia jogos de futebol aos domingos e eram sucedidos por um programa de mesa-redonda chamado Prova dos 9. A emissora faliu em 1971 (CPDOC, s.d.). Em 1965 foi fundada no Rio de Janeiro por Roberto Marinho, a TV Globo. A emissora que atualmente é a principal do país sempre procurou investir no futebol, sendo inclusive a responsável por transmitir o primeiro jogo a cores na Copa do Mundo de. A partir dos anos 70 até os dias atuais, o futebol ocupa uma grande participação na grade de programação da Rede Globo. (adicionar mais informações da rede Globo) Em 1999 a Manchete deixou de existir. O canal foi vendido para o Amílcare Dallevo, dono da TeleTV, que explorava o serviço 0900 para as redes de televisão de todo o Brasil. A emissora hoje se chama RedeTV! (NATELINHA, 2016b). Em 1992, é formada a Rede OM – Organizações Martinez. Foi inaugurada em Curitiba em março daquele mesmo ano pelos irmãos Flávio e José Carlos Martinez. É a primeira rede nacional criada no Brasil fora do eixo Rio-São Paulo (CPDOC, s.d.).

3.2.3 TV por assinatura No ano de 1995, surge a ESPN Brasil. A versão do canal norte-americano ESPN especializado em esporte. Sua programação tinha produções nacionais e estrangeiras, com tradução para o português. Atualmente o canal continua em atividade na televisão por assinatura (FOLHA DE S. PAULO, 1995b). O início dos anos 2000 foi marcado pela criação dos canais PSN (Panamerican Sports Network). O canal chegou ao Brasil, após um investimento milionário do grupo Hicks Muse Tate & Furst. Porém, duração de apenas dois anos e decretou falência em março de 2002 (UOL ESPORTE VÊ TV, 2015a). Em 2007 foi fundado a Esporte Interativo. Atualmente a empresa mantém sua linguagem diferenciada e foco em distribuir e produzir conteúdo esportivo para suas plataformas com o objetivo de aproximação ao torcedor (ESPORTE INTERATIVO, s.d.). 20

No ano de 2012, chega ao Brasil o canal FOX Sports. A Fox anunciou que finalizou a compra da participação majoritária da Fox Pan American Sports, que pertencia a HM Capital Partners. No seu primeiro ano no Brasil conseguiu os direitos exclusivos de transmissão da competição Copa Santander Libertadores, antes pertencentes ao canal Globosat do Grupo Globo. Atualmente possui diversos programas especializados em futebol, como por exemplo, a Rodada Fox e Expediente Futebol.

3.2.4 Profissionalização

A profissionalização crescente do futebol e a melhoria das condições dos atletas que atualmente fazem uso de diversos recursos tecnológicos (equipamentos, conhecimento científico, preparação física, fisiológica e psicológica), criação de departamentos estruturados (médico setorizados, nutricionistas, auxiliares técnicos, chefes de delegação e gerentes de futebol) -, além da melhoria da tecnologia de cobertura do esporte (transmissão ao vivo, replays, câmeras de ângulos diferentes, microfones ambientes, satélites, celulares e notebooks) forçou uma maior capacitação dos profissionais da mídia, que passaram a sofrer uma cobrança maior de especialização e conhecimento de todas as áreas do esporte. A evolução das mídias encurtou os espaços geográficos e o tempo. Para manter o seu posto o atual profissional da imprensa esportiva deve estar sempre bem informado não só sobre o que acontece em sua cidade, estado ou país, mas sobre a prática do esporte no mundo, principalmente após a popularização das transmissões de outros campeonatos ou outras competições pelos canais a cabo e sites de internet. Saem na frente às coberturas realizadas através das mídias eletrônicas como redes sociais, sites, rádio e televisão. Esta primeira consegue cobrir os fatos em tempo quase real e atualizar as informações ao longo de todo um dia. Já os veículos impressos passam atualmente por uma fase de adaptação. As editorias esportivas do meio impresso focam atualmente no aprofundamento dos fatos e na análise da notícia, e não mais o factual por si só. A venda de um jogador que possui destaque em seu país, atualmente recebe uma ampla cobertura diferente das realizadas há quarenta ou cinquenta anos atrás. Com os smartphones atualmente os torcedores conseguem saber informações sobre a negociação, a tristeza da torcida pela venda, a descrição da cidade para a qual o jogador vai se mudar, as 21 possíveis contratações para o seu lugar e a mudança tática da equipe sem seu principal o seu jogador. Uma clara utilização das notícias esportivas como entretenimento. Com tantos veículos e opções, a cobrança dos leitores, internautas, ouvintes e telespectadores por uma cobertura vinte quatros horas por dia é ainda maior. Caso contrário perde-se o público. O leitor de hoje cobra fotos de tamanhos iguais para clubes rivais, manchetes de igual destaque e teor informativo. E se as notícias não deixarem seus leitores satisfeitos, o veículo que não correspondeu às expectativas é bombardeado com comentários em suas redes sociais e sites. 22

4 A MULHER NA IMPRENSA E NO JORNALISMO ESPORTIVO

O início da imprensa no Brasil ocorreu tardiamente no começo do século XIX. Naquela época, as mulheres não frequentavam a escola. Somente a partir da metade do século, que algumas famílias que possuíam muitos bens começaram a enviar suas filhas para estudar em colégios de freiras. Por isso, se já eram poucos os homens alfabetizados, as mulheres letradas eram exceções. Seguindo os costumes portugueses, a mulher quase não saía de casa, a não ser para ir à missa. Possuía tarefas domésticas como cozinhar e fazer rendas. Raramente os pais deixavam as filhas estudarem, sob a alegação de que elas poderiam assim manter correspondências amorosas sem o consentimento. (BUITONI, 1990: 36) Depois que foi concedida a permissão para circulação da imprensa, começaram a surgir os primeiros periódicos escritos por mulheres. O primeiro deles foi o Espelho Diamantino, lançado em 1827. O jornal abordava assuntos como política, moda e literatura. Em 1º de fevereiro de 1831, surge em Recife o segundo jornal voltado para as mulheres, O Espelho das Brazileiras. Porém, todo este caminho percorrido foi consequência do esforço das primeiras mulheres engajadas no movimento feminista que, ainda no século XIX, decidiram fazer publicações periódicas, defendendo os direitos femininos. A primeira delas foi Francisca Senhorinha da Motta Diniz, professora mineira que editou o jornal O Sexo Feminino, em 1873. Francisca Diniz lutava pela educação, instrução e emancipação da mulher, no jornal que possuía uma tiragem de 800 exemplares para uma população de 20.071 mulheres, das quais apenas 1.158 sabiam ler. Em 1875, Francisca S. Diniz transferiu-se para o Rio, reimprimiu os dez primeiros números de O Sexo Feminino, e conseguiu manter o jornal por dois anos. Nessa fase, entre os seus assinantes, estavam D. Pedro II e sua filha, a Princesa Isabel. (BUTONI, 1990: 53) Josephina Alvares de Azevedo, irmã do poeta, Álvares de Azevedo, foi outra figura importante na luta pelos direitos femininos. Ela usou o jornal A Família, fundado em 1988 em São Paulo, para brigar pelos direitos das mulheres contra a autoridade masculina e, inclusive, defendia o divórcio. No século XX, as mudanças na sociedade brasileira influenciavam a imprensa. O crescimento das cidades, a industrialização, a abolição da escravatura, a república e a imigração estrangeira, foram algumas das grandes transformações sociais, que indiretamente modificaram o perfil dos periódicos brasileiros. Surgiram nessa época, os primeiros jornais ligados aos sindicatos e a imprensa feminina ganhou ainda mais força. 23

Em junho de 1914, Virgínia de Souza Salles fundou a primeira grande revista feminina no Brasil. A publicação, chamada Revista Feminina durou até 1936 e tinha a colaboração de grandes nomes como Olavo Bilac, Coelho Neto e Júlia Lopes de Almeida. A revista era propriedade da Empresa Feminina Brasileira, que fabricava e comercializava produtos destinados à mulheres, desde cremes de beleza a livros de culinária, romances etc. (BUITONI, 1990: 44) A revista alcançou tiragens recordes, chegando a vender entre 20 e 25 mil exemplares em 1918, quando a maioria das revistas vendia 10 mil. A Revista Feminina funcionava principalmente à base de assinaturas e já usava um método frequente hoje em dia de estimular as leitoras com concursos e promoções. O sucesso da Empresa Feminina, dona da revista, influenciou decisivamente no crescimento da publicação. A Revista Feminina foi inovadora nos assuntos que abordava, mas também na diagramação. Além disso, pode-se dizer que foi a precursora das publicações atuais destinadas ao público feminino. Esse estilo de publicação teve um bom crescimento ao longo do século XX, contribuindo para a formação de uma classe feminina mais ciente de seus direitos. Em 1961, a Editora Abril lançou a revista Cláudia, com objetivo de atender às novas expectativas da mulher da década de 50. Foi na revista Cláudia que se destacou Carmem da Silva, que “de 1963 até sua morte, em 1985, tratou da problemática feminina de modo corajoso e instigante, contribuindo para maior consciência de algumas gerações de mulheres”. (BUITONI, 1990: 49). Ao longo dos anos as mulheres deixaram de frequentar apenas as redações de publicações femininas para penetrar em diversas áreas do jornalismo. Aos poucos, foram chegando às redações dos jornais, rádio e TV e trabalhando nas mais diferentes editorias, como cidade, polícia, geral a até naquelas que, até então, eram consideradas restritas aos homens, principalmente no jornalismo esportivo. Em 1970, o número de mulheres nas redações jornalísticas já era expressivo, conta ROCHA (2004a). Porém, praticamente não se tinha notícias de mulheres em editorias esportivas. Uma vez atuantes no jornalismo, era chegada a hora de participar de outras editorias que não fossem somente as destinadas ao universo tradicionalmente feminino, conforme será apresentado nos próximos capítulos.

24

4.1 NO RADIOJORNALISMO

A desigualdade no jornalismo esportivo também esteve presente no meio radiofônico. Mesmo com representantes do sexo feminino nas emissoras, ainda assim era claramente notável a presença em maioria masculina. Antigamente, as mulheres atuavam no rádio em dois gêneros que por muitos anos obteve muito sucesso: o radioteatro e a radionovela. Poucas eram as locutoras que comandavam programas. A primeira locutora brasileira foi Maria Beatriz Roquette-Pinto, em 1934. Maria Beatriz era filha de Edgar Roquette-Pinto, fundador da então Rádio Escola Municipal do Rio de Janeiro, que anos mais tarde se tornaria Rádio Roquette-Pinto, e fundador também Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 1923. A partir daí muitas locutoras começaram a aparecer, porém, nenhuma delas se arriscava a falar de esportes. Até a década de 1960, ainda não existia nenhuma mulher que abordava esse assunto nos meios de comunicação. Entretanto, as coisas começaram a mudar quando Germana Garilli, mais conhecida pelo apelido de Gegê, passou a escrever colunas esportivas para diferentes veículos. Antes disso, porém, Gegê se dedicava a praticar diversas modalidades esportivas como atletismo, judô e ginástica, participando de competições e comitês. Só parou para iniciar sua carreira como repórter no rádio em um projeto inovador. Coelho (2004) Um fato que é considerado um marco no radiojornalismo segundo Coelho (2004) foi a iniciativa de Roberto Montoro, dono da Rádio Mulher que criou em 1966 uma equipe de jornalistas esportivas formada exclusivamente por mulheres. A proposta considerada inovadora não escapou do preconceito dos jornalistas. Possuía o slogan “A cada mulher a mais no estádio, um palavrão a menos” e atuava dentro e fora das transmissões de jogos de futebol. Faziam parte da equipe Zuleide Ranieri Dias e Claudette Troiano que reversavam a função de narradora; os comentários eram feitos por Jurema Iara e Leilá Silveira, os comentários de arbitragem eram feitos por Lea Campos- considerada a primeira árbitra profissional do futebol brasileiro, na reportagem Germana Garili, Branca Amaral e Claudette Troiano que também contribuía nessa área, e na sede da rádio ficavam as radialistas Liliam Loy, Siomara Nagi e Terezinha Ribeiro. Nos fins de semana, a grade da emissora era basicamente voltada para as transmissões das partidas de futebol. O projeto se manteve por algum tempo, porém o preconceito e os 25 baixos índices de audiência foram determinantes para o fim do programa. Ficou no ar por oito anos e após esse projeto, não apareceu mais nenhuma ideia no rádio brasileiro. Em relação ao preconceito Zileide Ranieri Dias faz um breve relato que aparece na obra de RIBEIRO (2007):

Apesar de alguns companheiros terem incentivado o projeto, a maioria ficava atenta aos possíveis erros cometidos durante as transmissões e criticavam o fato de terem que dividir o mesmo local de trabalho conosco. [...]. Tínhamos uma relação muito boa com os jogadores, e em alguns casos até tínhamos vantagem. Em um jogo, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, em um ato de cavalheirismo disse: “Dou entrevistas sim, mas as mulheres primeiro.” (RIBEIRO, 2007, p. 221).

Anos após o projeto da Rádio Mulher, a Rádio Globo do Rio de Janeiro foi a que mais se aproximou da iniciativa de Roberto Montoro, ao criar projetos como o quadro “Grama na Calcinha”, para o programa “Esporte@Globo”, em 2010. O programa tinha a apresentação do locutor Edson Mauro, através do site e do aplicativo da emissora durante o horário ocupado pelo noticiário “A Voz do Brasil”, transmitido de segunda a sexta-feira, das 19h às 20h em AM e em FM. Segundo o locutor, apesar da transmissão ser apenas pela internet, o programa tinha uma audiência surpreendente, e contou com a participação das estagiárias da Rádio Globo na época. Cada uma delas, quando chamadas para comentar as notícias do seu time, tinha um bordão que possibilitava que o público as identificasse e criasse então uma espécie de vínculo com as meninas. Atualmente, o programa “Esporte@Globo” existe em outro formato, mas o original deixou a marca da inovação e da criatividade por conta, principalmente, da chance oferecida às mulheres para que elas pudessem falar abertamente sobre esportes, especificamente o futebol. Ao longo dos anos foram surgindo repórteres de campo dentro do radiojornalismo esportivo. Porém, não há relatos de outras narradoras de futebol no rádio nos últimos anos. O contato mais próximo com a narração feminina foi um concurso realizado pela Rádio Globo do Rio de Janeiro, em 2014. O “Garota da Voz” teve o objetivo de encontrar uma voz feminina para narrar um jogo durante a Copa do Mundo, realizada no Brasil no mesmo ano. A vencedora, Renata Silveira, teve a oportunidade de narrar uma partida do torneio. Renata, então, entrou para a história do radiojornalismo esportivo ao ser a primeira mulher no Brasil a fazer a narração de um jogo de Copa do Mundo. A partida escolhida foi Uruguai X Costa Rica e a transmissão foi feita ao vivo pela internet. (RÁDIO GLOBO 2015)

26

4.2 NO TELEJORNALISMO

A crescente participação feminina no esporte, é um dos fatores que contribuíram na inserção das mulheres no universo esportivo televisivo. A princípio começaram concedendo entrevistas, após fazendo reportagens, e atualmente ocupam o lugar nas emissoras como correspondentes internacionais, âncoras de programas esportivos e em alguns casos, comentaristas de futebol. (RIGHI 2006) Uma curiosidade envolvendo a mulher no telejornalismo esportivo está correlacionada a Cidinha Campos jornalista, radialista e política brasileira que ajudou na ascensão da mulher nos espaços esportivos mesmo sem nunca ter atuado na área. Como atriz, Cidinha em 1969 entrevistou Pelé poucos minutos antes do Rei converter o seu milésimo gol. Esse fato ajudou as mulheres a ganharem espaço também na TV. “Cidinha fez carreira na TV Record (atual Rede Record), apresentando o programa infantil Pullman Jr, fez parte do programa Hebe Camargo, entrevistando convidados, além de representar em programas de sucesso no mesmo canal, como Família Trapo, no final dos anos 60. Cidinha foi precursora em coberturas internacionais para a Rede Globo de Televisão, fazendo reportagens para o programa Fantástico, também foi apresentadora do primeiro programa em cores da TV Tupi. Passou pela emissora Rede Bandeirante, CNT, entre outros canais de comunicação”. (MOTA, 2009, p. 3).

Figura 1- Cidinha Campos

Fonte: (REPRODUÇÃO YOUTUBE)

Uma das pioneiras no telejornalismo esportivo é Regiani Ritter. A jornalista estreou no radiojornalismo esportivo, mas fez seu nome no jornalismo televisivo, e também como 27 atriz de cinema e de telenovelas e em 1990, ficou conhecida como a primeira mulher a realizar uma cobertura de Copa do Mundo na Itália.

“Regiani Ritter é um dos nomes mais respeitados do jornalismo brasileiro. A paulista de Ibitinga que é atriz de formação, já trabalhou em cinema e em novelas de TV, mas foi no rádio e posteriormente na TV que ela marcou seu nome na história do jornalismo esportivo. Ritter foi a primeira mulher repórter e comentarista de futebol no Brasil, ainda no início dos anos 1980”. (MENDROT, 2012, p. 2)

Segundo Calazans (2011), Regiani Ritter foi pioneira ao estrear como repórter esportiva do rádio brasileiro e marcou a história como primeira narradora na cobertura da Copa do Mundo de 1994. Enfrentou dificuldades assim que começou a atuar no jornalismo esportivo, naquele período a editoria era totalmente dominada pelos homens. A jornalista afirma que sofreu mais preconceitos por parte de colegas de profissão do que dos torcedores.

Tomava chuva, choque de microfone, sol de 35º graus, levava pedrada que não era pra mim, pedrada que era pra mim, cheguei a escutar a torcida me xingando em coro, bati de frente com segurança que não me deixou entrar no vestiário do Guarani em Campinas, levei cantada de jogador e treinador que era obrigada a recusar, mesmo tendo vontade de conversar mais demoradamente com um ou outro. Em resumo, não folguei sábado, domingo ou feriado durante 15 anos. Mas valeu a pena, como valeu!. (CALAZANS, 2011, p. 2)

Figura 2- Regiane Ritter

Fonte: (TERCEIROTEMPO.COM) Marilene Dabus, outra jornalista que possui papel importante no jornalismo esportivo foi quem desbravou o futebol, esporte mais popular entre os homens, e consequentemente o mais difícil de atuar pelas mulheres. Sua forma de entrevistar os jogadores, ainda no gramado, recebeu críticas negativas pela sociedade carioca no final dos anos 60. Teve uma longa 28 carreira no jornalismo esportivo e em 2009 foi homenageada pelo Clube de Regatas Flamengo que nomeou o Centro de imprensa do seu estádio com seu nome. (MOTA, 2009)

Figura 3- Marilene Dabus

Fonte: (GLOBOESPORTE.COM) Na Rede Globo, a primeira mulher a fazer parte da equipe do Globo Esporte foi Isabela Scalabrini. Durante a década de 1980 cobriu diversas modalidades esportivas, exceto futebol, que possuía cobertura exclusiva dos homens. Foi também a primeira apresentadora do programa, aparecendo somente aos sábados (BAGGIO apud GASTALDELLO, PENTEADO e SILVA, 2014, p.52). No entanto, o site Memória Globo indica que Monika Leitão foi uma das primeiras mulheres a participar da cobertura esportiva da TV Globo, no Globo Esporte, na década de 1980 (MEMÓRIA GLOBO, 2007). Realizou cobertura dos Jogos Olímpicos de Moscou e o Pré-olímpico de Basquete em Porto Rico, ambos em 1980. Já em 1996 assumiu a função de produtora do programa Esporte Espetacular, participando de importantes coberturas esportivas. Figura 4- Isabeli Scalabrini

Fonte: (TERCEIROTEMPO.COM) 29

Em 1991, Mylena Ciribelli foi à primeira mulher a apresentar o programa esportivo Esporte Espetacular. Depois passou para o Globo Esporte, neste último revezando com os apresentadores Fernando Vanucci e Leo Batista (MEMÓRIA GLOBO; RODRIGUES, 2014, p.22). No começo de sua carreira, apresentou os boletins olímpicos dos jogos de Seul, em 1988, e da Fórmula 1, além do programa Manchete Esportiva, na extinta Rede Manchete. Após 18 anos na Rede Globo, Ciribelli saiu da emissora carioca em 2009 e foi para a Rede Record, no comando do programa Esporte Fantástico. Figura 5- Mylena Ciribelli

Fonte: (R7.com)

Segundo Gastaldello, Penteado e Silva (2014, p.52), somente em 1998, vinte anos após a estreia do programa Globo Esporte, o programa teve a primeira mulher a comandar a atração esportiva diariamente, a jornalista e ex-atleta, tetracampeã mundial de Bodyboarding, Glenda Kozlowski. Foi contratada pela Globo em 1996, depois de suas passagens pelo canal de TV paga Sportv, para apresentar o Esporte Espetacular.

30

Figura 6- Glenda Kozlowski

Fonte: (PUREPEOPLE) Em coberturas de Copas do Mundo pela emissora carioca, a primeira mulher foi a jornalista Anna Zimmerman, em 1998, na França. Mas quem se destacou nas duas Copas seguintes foi Fátima Bernardes, que embora não fosse jornalista da editoria de esportes, saiu da bancada do Jornal Nacional para acompanhar a Seleção Brasileira em 2002, no Japão e na Coréia do Sul, e 2006, na Alemanha. A jornalista ganhou dos próprios jogadores o título de musa da Copa do Mundo de 2002. Figura 7- Anna Zimmerman e Fátima Bernardes

Fonte: (BLOGGER) A primeira mulher a comandar um programa esportivo no estilo “mesa redonda” na televisão foi a ex-modelo e jornalista Renata Fan em 2007, quando começou a apresentar o Jogo Aberto, na Band (ALEXANDRINO, 2011, p.40). 31

Antes de se formar em jornalismo e se dedicar ao esporte, Renata foi locutora da Rádio Transamérica de Santo Ângelo, cidade do Rio Grande do Sul. Segundo Baggio (2012, p.34-35), a jornalista começou a trabalhar na televisão ao lado de Milton Neves em dois programas esportivos: o Terceiro Tempo, que era exibido nas noites de domingo, e Debate Bola, atração que apareceu depois, no horário de meio-dia, ambos na Rede Record de Televisão, em 2003. Por um ano apresentou a atração esportiva Golaço, na Rede Mulher, entre 2005 e 2006. Figura 8- Renata Fan

Fonte: (TV FOCO) Soninha Francine foi a primeira mulher comentarista esportiva da ESPN Brasil entre 1999 e 2004, antes de se dedicar à política (Coelho, 2003, p.35). Formada em Cinema pela Universidade de São Paulo (USP), também atuou como colunista no caderno Esportes da Folha de S. Paulo e trabalhou como comentarista de futebol no Sistema Globo/CBN de rádio. Foi premiada nos anos de 2005 e 2007 como “melhor comentarista esportiva” do prêmio Comunique-se. Isso mostra que a profissional entende mais de esporte, futebol principalmente, do que boa parte dos homens que trabalham na área, mesmo não sendo expert no assunto.

Por acaso fiz um programa de futebol na MTV em 1998, em uma emergência, precisei substituir um apresentador. Muitos jornalistas esportivos repararam e acharam curioso me ver falando sobre futebol, embora ali fosse uma brincadeira. Comecei a ser convidada para fazer participações em inúmeros programas, até que fui convidada pela ESPN para ser parte de seu time de comentaristas em 1999. Depois passei a escrever também uma coluna semanal para a Folha de S. Paulo e comentar futebol na Rádio Globo e CBN (FRANCINE, 2015) 32

Figura 9- Soninha Francine

Fonte: (BEM PARANA) Já em um cargo de chefia no período entre 2000 e 2010,o canal ESPN Brasil, teve como chefe de redação a jornalista Kitty Balieiro, que também exerceu a função de editora executiva. Antes, Kitty Balieiro fora pioneira na Rede Globo em São Paulo cobrindo futebol, diferente de Isabela Scalabrini, que era do Rio de Janeiro e cobria esportes amadores, pauta comum entre mulheres no jornalismo esportivo. Figura 10- Kitty Balieiro

Fonte: (PORTAL DOS JORNALISTAS) Atualmente a jornalista Fernanda Gentil, substituta de Glenda Kozlowski é quem comanda o Esporte Espetacular ao lado do também jornalista Felipe Andreoli. A 33 apresentadora se destaca por seu carisma e credibilidade que conquistou após ser repórter do Globo Esporte. Figura 11- Fernanda Gentil

Fonte: (UAI.COM) As jornalistas citadas acima são alguns exemplos de profissionais que demonstram no dia-a-dia o conhecimento em esportes, mesmo com a desconfiança dos homens, elas conseguiam expressar opiniões e comentários pertinentes sobre vários esportes, principalmente futebol. E a tendência para o futuro é de que as mulheres ocuparão mais espaço nas redações e editorias de esportes, com o desafio de diminuir ainda mais o preconceito dos colegas de profissão e de realizar a cobertura de outras modalidades esportivas.

4.3 O PRECONCEITO COM JORNALISTAS ESPORTIVAS

Se hoje é comum vermos mulheres jornalistas à beira do gramado, há 20 ou 30 anos atrás tal presença era vista com certo preconceito. O jornalismo esportivo assim como outras editorias sempre foi visto como meio unicamente masculino, e mesmo após anos há quem veja com outros olhos as mulheres que possuem interesse pela área. Os próprios colegas relatam que o dia-a-dia nas redações era complicado. As primeiras jornalistas a ingressarem na editoria esportiva relatam que nas redações onde trabalhavam havia apenas banheiros masculinos e que evitavam fazer a decupagem de suas matérias quando as redações estavam cheias a fim de evitar as piadas e comentários machistas. (RIGHI 2006) 34

Sobre o machismo enfrentado pelas mulheres no jornalismo, Ramos (2010, p.25) relembra a sua trajetória profissional assim que se formou na Faculdade Cásper Líbero, na década de 1950. Quando foi entrevistada para falar sobre feminismo e as dificuldades na profissão, Ramos respondia que nunca havia sido alvo de críticas machistas. No entanto, com o passar dos anos percebeu que sofria preconceito, mas pelo fato de querer ser jornalista. Segundo ela, a discriminação era de forma protecionista. Em 1954 foi convidada para trabalhar na Gazeta, para dirigir a Página Feminina. Neste período sua mãe lhe disse que ela faria coisa “apropriada para mulheres”. Antes, porém, ouviu de parentes e amigos que ser jornalista não era “profissão para mocinha”.

A coisa começava em casa, com minha mãe dizendo às amigas e parentes que aquilo que sua filha fazia não era “profissão para uma mocinha”. (Eu tinha vinte anos) fazia-me rir, mas a conversa a meu respeito era só: “Coitadinha, trabalha muito, vai a lugares esquisitos, não tem hora para chegar em casa, o jornal é lá no fim do mundo, numa rua escura. Um buraco! Tem vezes que mandam ela fazer a reportagem no meio dos grevistas, com bombas de gás e tudo. Isso é lá profissão para uma moça?” (RAMOS, 2010, p.25-26).

A discriminação, segundo Ramos (2010), estendia-se para fora do ambiente de trabalho. Quando a jornalista tomava cerveja no final da tarde com um colega de trabalho, ouviu que se ela fosse irmã dele, ele a tiraria do balcão no tapa. E a reação da repórter foi apenas rir da frase dita pelo colega de profissão. No radiojornalismo esportivo não foi diferente. Germana Garili, considerada uma das pioneiras do jornalismo esportivo, conta que em sua trajetória como repórter de campo, cobrindo futebol, sempre foi tratada com respeito pelos colegas de trabalho, dirigentes de clubes e jogadores. Entretanto, houve uma exceção que pode ser considerada como um exemplo de machismo. A jornalista ficou encarregada de entrevistar o ex- goleiro e técnico Emerson Leão e quando se aproximou dele para perguntar se poderia pegar sua palavra, recebeu a seguinte resposta: "Lugar de mulher não é no campo!". A repórter estava ao vivo pela Rádio Mulher e pediu desculpas aos ouvintes, justificando que Leão não quis conceder entrevista para a rádio. Após este episódio a jornalista jurou que nunca mais iria entrevistá-lo, promessa que ela cumpriu em sua carreira como repórter esportiva. Depois desse incidente, Germana Garili fez amizade com vários jogadores de futebol consagrados, como os tricampeões mundiais pela Seleção Brasileira Jairzinho e Rivelino. Entre as décadas de 1980 e 1990 as poucas mulheres jornalistas que cobriam futebol, enfrentavam resistências dos jogadores e dirigentes para entrarem nos vestiários. Esteves 35

2015 não se intimidava em entrar nesses locais e se deparar com atletas nus na hora da entrevista com eles. Nem com as cantadas que recebia no Maracanã durante as partidas de futebol.

Às vezes tinha que assistir no gramado e não tinha lugar para a imprensa. É claro que tinha que ouvir todo tipo de impropério e a torcida chamava de gostosa, tacava laranja, era complicado. Mas eu fazia a cega e surda e deixava passar. Dentro de vestiário no começo foi ok, era uma época muito boa em que as pessoas tinham muito respeito, então peguei uma fase boa. Eu tinha que entrar no vestiário para fazer matéria, mas eles esperavam para colocar um short, uma toalha. Depois não, veio uma época ruim, anos 90, estou falando de e Romário, que se expuseram de maneira bem constrangedora. Constrangedora para eles, pois pra mim não era. Eles ficavam lá nus e eu continuava a entrevista no mesmo jeito (ESTEVES, 2015).

Nos anos 2000 episódios de preconceito continuaram a acontecer, mas desta vez na internet. É inegável que o surgimento das redes sociais contribuiu no jornalismo. Seja na apuração, entrevistas e divulgações de notícias em tempo real. Porém, a mesma tecnologia que facilitou a interação de diferentes pessoas contribuiu também para o preconceito através do anonimato. Em 2016 nos Estados Unidos as jornalistas Sarah Spain, da ESPN e Julie Dicaro, da Sports Illustrades, recebiam diariamente mensagens contendo ameaças e xingamentos através do Twitter. Como forma de alerta contra o cyberbulling o site Not Just Sports realizou uma campanha no dia 23 de março deste mesmo ano para demonstrar a força que as palavras têm ao chegar até elas. Enquanto as profissionais permaneciam sentadas, homens escolhidos de forma aleatória liam de frente para elas mensagens como “espero que seu namorado bata em você” ou “você tinha que ser atingida na cabeça por um disco de hóquei e ser morta”. Not Just Sports (2016) É visível o desconforto nos olhos dos homens que foram chamados para ser a voz de tantos outros que, covardemente, acham que a internet é um muro de onde se pode destilar toda sua raiva, sem consequências. Nas mensagens apareciam também palavras de baixo calão ou sinais preconceito devido à contratação de mulheres para altos postos em empresas. A campanha repercutiu mundialmente em diversos sites de jornalismo esportivo e nas redes sociais através da hashtag #MoreThanMean. O vídeo termina mostrando como as palavras jogadas na internet são tão doloridas quanto se tivessem sido ditas olhando nos olhos. No Brasil, no início do ano aconteceu um episódio similar ao dos Estados Unidos. A jornalista esportiva Marluci Martins do jornal Extra publicou uma matéria sobre a 36 desligamento do médico ortopedista Guilherme Runco, após um episódio extracampo envolvendo o departamento médico que o havia excluído da equipe que realizou o procedimento cirúrgico no jogador Diego, do time de futebol Flamengo. O título da matéria "'Cirurgia de Diego abre crise no departamento médico do Flamengo "causou repercussão no Twitter, contendo inclusive críticas de Marcio Mac Culloch, diretor de comunicação do clube carioca ao jornalismo esportivo: "Incrível como a palavra 'crise' é usada de forma banal no jornalismo esportivo. Tudo pelos cliques." Já os torcedores comentaram sua publicação com ofensas e palavrões. O jornal Extra disponibilizou um espaço para que a jornalista publicasse sua opinião sobre o ocorrido. Com a matéria "Um clique contra o preconceito", Marluci detalhou como fez a apuração da reportagem e lamentou que situações como essa ainda estejam presentes na sociedade. O episódio mais recente de comentários machistas aconteceu neste ano no dia 18 de julho. Após o jogo entre Internacional e Luverdense pela série B do Campeonato Brasileiro a repórter Kelly Costa da rede RBS questionou o técnico Guto Ferreira sobre as oportunidades perdidas por sua equipe durante a partida. Ao responder à pergunta o técnico da equipe colorada apelou para o gênero e respondeu: " Não vou te responder com uma pergunta porque você é mulher e talvez não tenha jogado (futebol). Mas todo jogador que joga tem dificuldades de ter uma tensão a mais o lance final." Após a infeliz declaração, o técnico se desculpou pessoalmente com a jornalista e também ao vivo no programa esportivo Globo Esporte, porém, suas retratações não diminuíram a repercussão do comentário nas redes sociais. A repórter publicou no dia seguinte após o jogo em seu perfil no Facebook uma carta relatando o caso ocorrido e pediu o fim de qualquer tipo de preconceito.

37

5 GLOBO ESPORTE DF

Este capítulo apresenta uma pesquisa exploratória do programa Globo Esporte DF. Esta pesquisa se utilizou de alguns métodos específicos para seu desenvolvimento, organizados de maneira que esta pudesse cumprir seu objetivo, que consiste em analisar o programa esportivo no Distrito Federal e a participação feminina em seu âmbito.

5.1 AS APRESENTADORAS

Os programas televisivos atuais ganham destaque pelo novo formato e por quem os apresenta. Durante a observação do programa Globo Esporte- DF, foi possível verificar, o domínio dos temas relacionados ao mundo esportivo que ambas apresentadoras possuem. Segundo os autores Barbeiro e Rangel (2006), os jornalistas que trabalham na área de esportes possuem as mesmas regras éticas que qualquer outro profissional da comunicação. O profissional atuante nesta área deve ter como características fundamentais o conhecimento das regras do esporte e estar sempre se atualizando com o que acontece no mundo esportivo. A apresentadora titular, Viviane Costa já trabalhou como produtora de política, foi repórter do Globo News, atuou na reportagem da capital federal e já fez parte do rodízio de apresentadores do DFTV 1ª e 2ª edições. No comando do programa desde 2012 a jornalista mesmo não possuindo formação na área se mostrou comprometida e não deixou a desejar quanto a apresentação. Já Stephanie Alves apresentadora recorrente, começou sua carreira na Rede Globo como estagiária, fez rádio, produção e hoje se dedica à cobertura esportiva. No Globo Esporte a jornalista exerce mais a função de repórter. Como apresentadora só é escalada em casos como faltas, e como ocorreu no período de análise, quando cobriu as férias da apresentadora principal. Para Barbeiro e Rangel (2006) o diferencial dos programas televisivos é a maneira que ele é apresentado, sendo o âncora o principal apresentador de um programa de notícias. Ele é o ponto de referência de um telejornal, participante ativo de todas as etapas de uma atração, pois convoca repórteres, correspondentes, especialistas e outros tipos de entrevistados. Programas mais dinâmicos estão cada vez mais comuns. Ensaios, combinações entre o apresentador e entrevistado do que será dito durante uma atração não prejudica o compromisso ético do jornalista, mesmo passando ao telespectador uma sensação de que tudo está sendo de improviso. 38

5.1.1 Imagem

Em todas as edições analisadas as apresentadoras aparecem com roupas discretas, mas que ao mesmo tempo são despojadas. Já as repórteres na maioria das vezes aparecem uniformizadas, e em alguns casos também utilizam roupas discretas. Essa preocupação acontece para que a aparência não chame mais atenção que notícia. Barbeiro (2005) afirma que a forma que a imagem da mulher é construída pela mídia influenciará na representação sobre o gênero feminino perante a sociedade. Muitas jornalistas que estão frente às câmeras ganham destaque pelo seu conhecimento, sua aparência física, beleza e seu carisma, principalmente no jornalismo esportivo. Pelo fato de possuírem tais atributos, estereótipos negativos são relacionados a elas. Preconceitos pelo fato de ser mulher, entender de esporte e ser bonita fazem com que os seus conhecimentos e opiniões passem despercebidos, e a aparência vire uma armadilha para as mesmas. O corpo funciona como veículo de comunicação, a forma que as apresentadoras se vestem, as cores das roupas, os penteados, suas maquiagens e os acessórios utilizados refletem na representação que adquirimos sobre elas. De acordo com o autor Bonásio (2002), um apresentador deve cuidar a aparência de suas roupas, pois existem alguns estilos, cores e tecidos que não ficam bem na tela. Em entrevista concedida a Revista Pepper em 2014, Stephanie Alves relata sobre a questão da imagem no telejornalismo: Retruco que como qualquer outro jornalista a preocupação maior é com a reputação. Mas na televisão é diferente porque o jornalista dá a cara e nada na estética pode chamar mais atenção do que a notícia em si. Não precisa ser necessariamente bonita ou fotogênica, mas é importante estar alinhada porque a aparência não pode criar rejeição no telespectador. E te falo que beleza pode até abrir portas, mas não segura o emprego de ninguém.

39

Figura 12- A repórter e apresentadora Stephanie Alves com roupas casuais.

Fonte: (GLOBOPLAY 2017)

Figura 13- A jornalista e apresentadora Viviane Costa fazendo uso de roupas discretas.

Fonte: (GLOBOPLAY 2017)

5.1.2 Desempenho

As apresentadoras possuem desenvoltura e bom humor ao longo de todo o programa. Características importantes para quem está no comando de um programa televisivo no qual o entretenimento e a informação estão ligados. As âncoras da atração demonstram intimidade com as câmeras, e agem à vontade durante toda a sua participação, representando naturalidade a quem recebe a mensagem. Conforme Bonásio (2002), em seu manual sobre telejornalismo, a televisão exige uma ligação de intimidade com o telespectador, sendo essencial o apresentador desenvolver diante das câmeras um estilo à vontade e confortável para refletir naturalidade. O apresentador ajuda criar interesse no programa, ao movimentar-se bem para a câmera e ao passar uma ligação “olho no olho” para o seu público. Já para os autores Barbeiro e Rangel (2006), Bravo (2009) Ramos (2003) e Bonásio (2002), Em programas esportivos as mulheres se destacam cada vez mais e dão uma nova 40 imagem à atração com desenvoltura e um pouco mais de emoção. É a partir dos meios de comunicação que as formas simbólicas são apresentadas aos indivíduos. Viviane, a apresentadora titular é centrada, executa seu texto em um ritmo moderado e raramente erra. Se saí muito bem quando ocorrem imprevistos, como na edição do dia 4 de outubro quando ocorreu um erro técnico na exibição da reportagem de Tino Marcos sobre a preparação da seleção Brasileira para o jogo do dia seguinte contra a Bolívia, ao invés foi exibida a reportagem de Eric Faria sobre o jogo da seleção Argentina contra o Peru. A apresentadora rapidamente se desculpou e chamou a próxima reportagem. Stephanie é a mais descontraída. Porém, também é a mais propensa a erros. Nos programas exibidos nos dias 21 e 23 de outubro, a mesma ao ler o teleprompter se atrapalhou e errou o texto. Já no dia 14 de outubro ao se sentar desequilibrou da poltrona e quase caiu. As apresentadoras fazem o uso de jargões futebolísticos como craque, voleio, drible, cartola, bico e “ deu o sangue” para contextualizar as reportagens. Passando a impressão de improviso. A linguagem utilizada no programa é informal, com foco no público em geral. Ao chamarem as reportagens utilizam frases como “ o Flamengo venceu ontem graças à uma lambança do adversário”; “Mais um confronto. São Paulo enfrenta o Fluminense para fugir da zona de rebaixamento”; “Esse é mais um jogo para o artilheiro ajudar o seu time a se manter na frente”. Frases que são frequentemente utilizadas em programas esportivos para envolver o público.

A opinião dos telespectadores, muitas vezes, se caracteriza pela forma em que os meios as reproduzem. A interação do âncora com o telespectador e com os repórteres é fundamental. A linguagem usada por ele junto com a forma como olham para a câmera tem transformado o universo do jornalismo, pois tornam íntimos seus telespectadores. RAMOS (2003)

Nas situações em que o assunto é sério ambas possuem desenvoltura ao mudar sua expressão de acordo com o teor da matéria. Como aconteceu nas edições dos dias 5 e 6 de outubro, onde Viviane noticiou com tranquilidade e seriedade as notícias sobre a prisão do ex- Presidente do COB- Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman detido por suspeita de compra de votos para que o Rio fosse escolhido como sede da Olimpíada de 2016.

5.2 PANORAMA GERAL DO PROGRAMA

Atualmente o Globo Esporte DF é apresentado por Viviane Costa e excepcionalmente por Stephanie Alves. Os repórteres esportivos do programa são André Barroso, Klaus 41

Barbosa e Daniela Ramalho. As apresentadoras também realizam reportagens em situações pontuais. (GLOBO 2016) Na tabela abaixo estão todos os dados avaliados. São eles total de programas, apresentação, nota coberta e reportagem. Tabela 1- Referente ao panorama geral da análise

Fonte: Produzida por esta pesquisadora, novembro de 2017.

Como mostra a Tabela 1, de todos os 26 programas analisados, todos foram apresentados por uma mulher. A jornalista Viviane Costa apresentou seis deles e a Stephanie Alves os outros vinte. Viviane fez apenas seis notas cobertas, entre os assuntos estavam a prisão do ex-Presidente do COB- Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman e a Copa Brasília de . A partir do dia 7 de outubro a apresentadora principal entrou de férias retornando apenas no dia 30 de outubro. Já Stephanie fez 35 notas, entre os temas abordados estavam as atualizações dos resultados dos jogos do Campeonato Brasileiro e Eliminatórias da Copa do Mundo 2018, jogos da NBA e competições de vôlei.

5.3 REPORTAGENS PRODUZIDAS POR HOMENS E MULHERES Gráfico 1- Reportagens produzidas por homens e mulheres

Fonte: Produzida por esta pesquisadora, novembro de 2017.

42

Outro dado importante é referente a produção de reportagens, como aparece no gráfico 1. Foram veiculadas 115 reportagens, 23 por mulheres e 92 por homens. Entre as reportagens produzidas por mulheres, 15 são de modalidades consideradas olímpicas como o Mundial de ginástica artística realizada em Montreal e a competição de natação, Raia Rápida no Rio de Janeiro. O Globo Esporte possui uma média de aproximadamente 5 reportagens por programa, cada reportagem tem em média a duração de dois minutos e meio.

5.4 REPORTAGENS LOCAIS X REPORTAGENS VEICULADAS NACIONALMENTE

De todas reportagens exibidas apenas 12 são locais. São elas:

● GE NA REDE reportagem com a repercussão dos jogos nas redes sociais- Repórter Stephanie Alves, exibida em 02/10; ● Atleta Brasiliense Paralímpico de tiro com arco. Cobertura do dia-a-dia e treinamento- Repórter Stephanie Alves, exibida em 05/10; ● Weverson, jogador da seleção sub 17 morador de Samambaia- Repórter André Barroso, exibido em 06/10; ● Jogos escolares realizados em Curitiba com representantes Brasilienses- Repórter Klaus Barbosa, exibida em 07/10; ● Preparação do Brasília Vôlei- Repórter André Barroso, exibido em 11/10; ● Brasília Vôlei confronto em São Paulo- Repórter - Klaus Barbosa, exibido em ● Rivalidade entre torcedores- Repórter Stephanie Alves, exibido em 17/10; ● Sorteio da primeira fase do Campeonato Candango 2018- Repórter André Barroso; exibido em 18/10; ● Geração de tenistas Brasilienses- Repórter André Barroso, exibido em 21/10; ● Copa Brasília de Futsal resultado dos jogos- Repórter Klaus Barbosa, exibido em 25/10; ● Dimba ex- jogador agora diretor executivo do Ceilândia- Repórter André Barroso, exibido em 27/10; ● Brasília vôlei enfrenta Bauru em Taguatinga- Repórter Klaus Barbosa, exibido em 28/10. Isto acontece devido às reportagens chamadas "nacionais" que são feitas por repórteres de outros estados, como Carol Barcelos, Cristiane Dias, Guilherme Pereira, Marcos 43

Uchoa, Mauro Naves e Tino Marcos. E são veiculadas por todas as filiais por se tratarem de temas que interessam o público em geral, como mostra o gráfico abaixo. Gráfico 2- Reportagens produzidas no Distrito Federal e reportagens veiculadas nacionalmente

Fonte: Produzida por esta pesquisadora, novembro de 2017.

5.5 PARTICIPAÇÃO DAS JORNALISTAS

Um dado revelador está relacionado as coberturas realizadas pelas jornalistas. A maioria das notícias veiculadas foram através de notas cobertas feitas pelas apresentadoras. Demonstrando que a representação feminina no programa esportivo é feita pelas âncoras. As apresentadoras realizaram 41 notas cobertas, contra 10 reportagens realizadas por repórteres mulheres de outros estados e 3 reportagens locais realizadas pela também apresentadora Stephanie Alves. Gráfico 3- Participação das jornalistas

Fonte: Produzida por esta pesquisadora, novembro de 2017.

44

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O jornalismo esportivo é a editoria que mais cresceu nos últimos anos. Desde seu início até os dias atuais, a área passou por diversas transformações. A partir do primeiro capítulo notou-se todos os desafios que a editoria teve até se firmar e ganhar espaços nas mais diferentes mídias. A pesquisa bibliográfica proporcionou a compreensão das informações acerca do caminho trilhado pelas jornalistas Os resultados encontrados em toda a pesquisa revelam o preconceito, dificuldade e a superação das mulheres ao longos dos anos. Através da pesquisa exploratória onde foram analisadas 26 edições do programa Globo Esporte observou-se que a presença das apresentadoras não está relacionada apenas a beleza mas sim a competência de ambas. A equipe local é pequena e isto faz com que a cobertura seja limitada. Porém, isto acontece devido ao pouco espaço destinado as matérias do Distrito Federal e uma preocupação maior em veicular o conteúdo esportivo produzidos em outros estados. O objetivo geral da pesquisa foi alcançado uma vez que ambas pesquisas demonstrou a importância da presença das mulheres no jornalismo esportivo ao longo dos anos e atualmente através do programa Globo Esporte- DF. Nos programas analisados notou-se que a participação das mulheres na reportagem local e através das reportagens nacionais é inferior a participação dos homens, porém sua presença ainda que mínima possui uma enorme importância, pois são essas mulheres que servem de modelo para as futuras profissionais e sem elas não haveria representatividade feminina na editoria. Na pesquisa foi possível identificar também que a maioria das pautas destinadas as mulheres envolve modalidades olímpicas como ginástica artística, natação e vôlei. Pautas que sempre foram destinadas as mulheres porque os homens não gostavam de realizar cobertura de temas que não estavam relacionadas ao futebol. No Globo Esporte DF a maioria das reportagens locais são feitas por repórteres do sexo masculino. Porém, a maioria das matérias não envolvem o futebol devido a não popularidade dos times do estado. A maior dificuldade encontrada durante a pesquisa foi a execução da análise do programa. O estudo ficaria completo com mais detalhes no que diz respeito aos bastidores, porém a rede Globo é uma empresa de difícil acesso e todas tentativas de contato desta pesquisadora não foram respondidas. 45

Esta pesquisa me proporcionou uma maior compreensão da editoria esportiva, área que pretendo trabalhar profissionalmente. Além de contribuir para o jornalismo em si, essa monografia serve de base aos futuros pesquisadores, já que os estudos contendo o tema de jornalismo esportivo relacionado a cobertura feita pelas jornalistas mulheres são limitados.

46

7 REFERÊNCIAS

ALEXANDRINO, Viviane Aparecida. A mulher no jornalismo esportivo: Análise da participação feminina no telejornalismo brasileiro. 2011. 68 f. TCC (Graduação) - Curso de Jornalismo, Faculdade Cristo Rei, Cornélio Procópio, 2011. Disponível em: . Acesso em: 02 maio 2017.

ALMEIDA, Lara Monique Oliveira. Eugênia Brandão: A primeira repórter do Brasil. 2007. 15 f. TCC (Graduação) - Curso de Jornalismo, Faculdades Integradas Tereza D'Ávila, Rio Grande do Sul, 2007. Disponível em: . Acesso em: 11 abr. 2017.

BAGGIO, Luana Maia. Representação da mulher no telejornalismo esportivo: A atuação da jornalista Renata Fan no programa Jogo Aberto da TV Bandeirantes. 2012. 68 f. TCC (Graduação) - Curso de Jornalismo, Centro Universitário Franciscano, Santa Maria, 2012. Disponível em: . Acesso em: 30 abr. 2017.

BARBEIRO, Heródoto; RANGEL, Patrícia. Manual do Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, 2015. BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. 4. ed. Paris: Copyright, 1970. 309 p. Disponível em: . Acesso em: 29 maio 2017.

BODENMÜLLER, Luiza. As mulheres no jornalismo: Uma ideia em construção. 2014. Disponível em: . Acesso em: 11 abr. 2017.

BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil S.a., 1989.

BRASILIENSE, Carmen Nilce da Silva. Mulher na cobertura de esportes: Um estudo sobre a razão da supremacia dos homens da Editoria de Esportes e o aumento da participação de mulheres na cobertura esportiva. 2008. 31 f. TCC (Graduação) - Curso de Jornalismo, Centro Universitário de Brasília - Uniceub, Brasília, 2008. Disponível em: . Acesso em: 07 Mar. 2016.

BRAVO, Debora Vasconsellos Tavares. Elas assumiram o comando: as mulheres jornalistas no mundo do telejornalismo esportivo. 2009. Monografia (Graduação em Comunicação Social – Jornalismo) — Universidade Federal de Viçosa. Disponível em: . Acesso em: 01 mai. 2017.

BRETONES, Marcos Jardim de Amorim. Redação Sportv: UMA EXPERIÊNCIA DE JORNALISMO ESPORTIVO CRÍTICO. 2010. 56 f. Monografia (Especialização) - Curso de Jornalismo, Centro Universitário de Brasília - Uniceub, Brasília, 2010. Disponível em: . Acesso em: 24 abr. 2016. 47

BUITONI, Dulcília H. Schroeder. Mulher de papel. São Paulo, Loyola, 1990. p.38-40. In: Santana, C (*); Didone, I M (*), Coords. Meu Nome e Mulher, São Paulo: Loyola, 1990.

CALAZANS, Caio. Uma ideia sobre “Papo de Redação: Regiani Ritter solta o verbo para o Caixa Preta (Exclusivo) – Parte 1. setembro 5, 2011. Disponível em: . Acesso em: 05 out 2017.

COELHO, Paulo Vinicius. Jornalismo esportivo. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2004. (Coleção Comunicação).

MENDROT, Carla. Regiani Ritter: Pioneirismo dentro e fora dos gramados. Jornalistas & Cia. 18.01.2012. Disponível em: Acesso em: 12 out 2017.

Programa Globo esporte DF edição do dia 02/10/17.Disponível em:

Programa Globo Esporte DF edição do dia 03/10/17.Disponível em:. Acesso em: 01 de nov. 2017

Programa Globo Esporte DF edição do dia 04/10/17.Disponível em:< https://globoplay.globo.com/v/6194059/programa/>. Acesso em: 01 de nov. 2017

Programa Globo Esporte DF edição do dia 05/10/17. Disponível em: . Acesso em: 01 de nov. 2017

Programa Globo Esporte DF edição do dia 06/10/17. Disponível em: . Acesso em: 01 de nov. 2017

Programa Globo Esporte DF edição do dia 07/10/17. Disponível em: . Acesso em: 01 de nov. 2017

Programa Globo Esporte DF edição do dia 09/10/17. Disponível em:. Acesso em: 01 de nov. 2017

Programa Globo Esporte DF edição do dia 10/10/17. Disponível em:. Acesso em: 01 de nov. 2017

Programa Globo Esporte DF edição do dia 11/10/17. Disponível em: . Acesso em: 01 de nov. 2017

Programa Globo Esporte DF edição do dia 12/10/17. Disponível em:. Acesso em: 01 de nov. 2017

Programa Globo Esporte DF edição do dia 13/10/17. Disponível em:. Acesso em: 02 de nov. 2017

Programa Globo Esporte DF edição do dia 14/10/17. Disponível em:. Acesso em: 02 de nov. 2017

48

Programa Globo Esporte DF edição do dia 16/10/17. Disponível em:. Acesso em: 02 de nov. 2017

Programa Globo Esporte DF edição do dia 17/10/17. Disponível em:. Acesso em: 02 de nov. 2017

Programa Globo Esporte DF edição do dia 18/10/17. Disponível em:. Acesso em: 02 de nov. 2017

Programa Globo Esporte DF edição do dia 19/10/17. Disponível em:. Acesso em: 02 de nov. 2017 Programa Globo Esporte DF edição do dia 21/10/17. Disponível em:. Acesso em: 02 de nov. 2017

Programa Globo Esporte DF edição do dia 23/10/17. Disponível em:. Acesso em: 02 de nov. 2017

Programa Globo Esporte DF edição do dia 24/10/17. Disponível em:. Acesso em: 02 de nov. 2017

Programa Globo Esporte DF edição do dia 25/10/17. Disponível em: . Acesso em: 02 de nov. 2017

Programa Globo Esporte DF edição do dia 27/10/17.Disponível em:. Acesso em: 02 de nov. 2017

Programa Globo Esporte DF edição do dia 28/10/17.Disponível em:. Acesso em: 02 de nov. 2017

Programa Globo Esporte DF edição do dia 30/10/17. Disponível em:. Acesso em: 02 de nov. 2017

Programa Globo Esporte DF edição do dia 31/10/17. Disponível em:. Acesso em: 02 de nov. 2017

GLOBO, Rede. Globo Esporte: Viviane Costa é a nova apresentadora da atração em Brasília. 2011. Disponível em: . Acesso em: 11 maio 2017.

RAMOS, Regina Helena de Paiva. Mulheres Jornalistas: A GRANDE INVASÃO. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo: Faculdade Cásper Líbero, 2010. RANGEL, Patrícia; GUERRA, Márcio. O Rádio e as Copas do Mundo. Minas Gerais: Juizforana Gráfica e Editora, 2012.

RIGHI, Anelise Farencena. As Donas da Bola – Inserção e Atuação das Mulheres no Jornalismo Esportivo Televisivo. Santa Maria/RS: Comunicação Social/Centro Universitário Franciscano, 2006. 84p.

49

SANTOS, Vanessa de Araújo. As bolas da vez: a invasão das mulheres no jornalismo esportivo televisivo. 2012. 40 f. TCC (Graduação) - Curso de Jornalismo, Centro Universitário de Brasília, Brasília, 2012. Disponível em: . Acesso em: 27 abr. 2017.

TONETTO, Maria Cristina. AS DONAS DA BOLA: INSERÇÃO E ATUAÇÃO DAS MULHERES NO JORNALISMO ESPORTIVO TELEVISIVO. 2006. 84 f. TCC (Graduação) - Curso de Comunicação Social, Jornalismo, Centro Universitário Franciscano, Santa Maria, 2006. Disponível em: . Acesso em: 22 mar. 2017.

TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo. Florianópolis: Insular, Ed. 2, 2005: Porque as notícias são como são.

TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo. Florianópolis: Insular, Ed.2, 2008: A tribo jornalística – uma comunidade interpretativa transnacional.