FORum FORum

3 Jose Viriato Capela Editorial Henrique Barreto Nunes

TESTEMUNHOS

7 A. Guimaraes Rodrigues Lucio Craveiro da Silva Um homem para todas as epocas

9 Acilio da Silva Estanqueiro Rocha o Professor Lucio Craveiro da Silva

19 Sergio Machado dos Santos In Memoriam Prof. Lucio Craveiro da Silva

25 Licinio Cha inho Pereira Em memoria de Lucio Craveiro da Silva

41 Anibal Alves Lucio Craveiro da Silva (1914-2007) In memoriam

61 Cesar Valenc;a Breve evocac;:ao do Professor Lucio Craveiro da Silva

63 Carolina Leite Ao Professor Lucio, estas palavras breves

71 Jose Manuel Mendes Sageza, quietude

ESTUDOS

77 Jose Viriato Capela o Porto e 0 Norte de nas festas da Feliz Restaurac;:ao de 1808

95 Rui Vieira de Castro Educac;:ao e formac;:ao Romina de Mello Laranjeira de adultos em Portugal

111 Carlos Cruz Corais Valerio Adami: linha, escrita e retrato

125 Norberto Ferreira da Cunha Afonso Costa, republicano-socialista (1885-1910)

193 Manuel Gama Morte e imortalidade: reflex6es

203 Francisco Sande Lemos Antes de Bracara Augusta

24 1 Licinio C. Lima A proposito do conceito de participaryao num ensaio de Lucio Craveiro da Silva

255 Manuela Martins Uma estrategia para 0 patrimonio Luis Fontes bracarense: a criac;:ao de um Parque Cultural Europeu

287 Henrique Barreto Nunes o "Boletim da Biblioteca Publica e do Arquivo Distrital de " DOCUMENTA<;:Ao E VARIA Editorial

309 Henrique Barreto Nunes Sessao de entrega do Premio Victor de Sa de Historia Contemporiinea - 2007

31 3 Jose Viria to Ca pela Sessao de entrega do Premio Victor de Sa de Historia Contemporanea - 2007

323 Jose Antonio Ribeiro de Carvalho «Os Jesuitas nas Vesperas da I Republica: 0 Novo Mensageiro do Cora<;ao de Jesus (1881-1910»>

339 Eurico de Ataide Malafaia Apresenta<;ao de " A Guerra Peninsular"

359 Unidade de Educar;ao de Adultos Relatorio de actividades desenvolvidas pela Unidade de Educa<;ao de Adultos - 2007

NOTiclAS

375 Arquivo Distrital de Braga Noticias do Arquivo Distrital de Braga

383 Bib lioteca Publica de Bra ga Noticias da Biblioteca Publica de Braga

399 Casa Museu de Mon r;ao Noticias da Casa Museu de Mon<;ao

413 Centro de Estudos Lusiadas Noticias do Centro de Estudos Lusiadas

41 9 Museu Nogueira da Silval Noticias do Museu Nogueira da Silval o des aparecimento fisico d( I Galeria da Universidade IGaleria da Universidade de Agosto de 2007, criou , jL 429 Unidade de Educar;ao de Adultos Noticias da Unidade de Educa<;ao deAdultos dificilmente preenchivel.

FORUM: iNDICES DE AUTO RES E TiTULOS E no Conselho Cultural, que: su a criaya o, durante mais dE 443 Biblioteca Publica de Braga Forum: indices de autores e titulos, nao so pel os layos afectivo n.05 1/40 (1987/2006) Henrique Barreto Nunes Para a historia de " Forum" intelligente sentido estrategic Elisio Maia Araujo Introduc;ao de multiplas escolhos, as a( algumas desilusoes das Un

Assim, nao podia a "Forum", numems e tanto acarinhou, de evocar a sua memoria e este numero que, acreditan importancia que atribuia ar FORUM 42 ·43, Jul 2007/Jan 2008, p ag . 203-239

Antes de Bracara Augusta eL

alavras prevlas

Ao longo de mais de tres decadas, primeiro como vogal da Comissao Instaladora da Universidade do Minho depois como Vice-Reitor, Reitor e, finalmente, como Presidente do Conselho Cultural da UM 0 Professor Lucio Craveiro da Silva foi um apoiante inabalavel do Salvamento e Estudo de Bracara Augusta. Nos momentos de maior incerteza nunca duvidou do valor do projecto, garantindo a sua continuidade. Esteve sempre presente nas sucessivas conferencias, normalmente rea lizadas no Museu Nogueira da Silva, em que se divulgavam as descobertas arqueologicas. Lia atentamente todos ao artigos sobre a Arqu eo­ logia de Braga, publicados quer nos Cadernos de Arqueologia, quer na Revista Forum. Orgulhava-se do contributo decisivo da Universidade do Minho para 0 estudo e conservac;:ao dos vestigios de uma das grandes cidades da Hispania e do Imperio. No entanto, para 0 Professor Lucio Craveiro da Silva a dinamica do Conhecimento era mais importante queo Patrimonio Cultural, como entidade estatica. Alias, na sua perspectiva, Conhecimento e Cultura eram indissociaveis .

• Antigo presidente da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho. 204 Francisco Sande Lemos

Reconhecia a necessidade de intervir para salvaguardar as ruinas, mas, para alem das contigencias do Presente, entendia como prioritaria a aquisiyao do dU9ao Conhecimento, a publicayao dos resultados dos trabalhos arqueologicos. Por outro lado, tanto nas reuni6es do Conselho Cultural, como em conversas com os responsaveis do Projecto de Bracara Augusta, suscitava perguntas perti· nentes sobre os estudos em curso, inquirindo por vezes temas para os quais ainda nao dispunhamos de dados suficientes. Reconhecia, com serenidade, Sobre a origem do local onde foi E que a formayao do Saber e um processo longo e demorado que ultrapassa, hipoteses. De acordo com uma d em cada disciplina cientifica, 0 tempo limitado da vida individual. povoado proto-hist6rico, um castrt o oppidum dos Bracari, ou seja u Este artigo, sobre 0 contexto proto-historico do lugar onde mais tarde foi edifi· o texto seja ambiguo, pois tanto cad a a cidade de Bracara Augusta, e dedicado ao interesse permanente do povoado central edificado ja sob c Professor Lucio Craveiro da Silva sobre as origens da cidade na qual viveu e sido a capital dos Bracari. a que dedicou quatro decadas da sua longa vida. Esta teoria , defend ida por dive Coelho da Silva (1986), nao tem \ Efectivamente desde 1976 que j~ escavay6es, sondagens e acomp a minima evidencia devestlgiosd~ De facto, ha, em Portugal, sitios rc lugares escolhidos para sedes cor sobre um povado anterior, tal com( temente anunciadas (Maryo de Etienne, 1975) ou 0 Porto (no Morr sempre descobertas estruturas, OL sendo consensual que as duas cid

Todavia, mesmo confrontados COl um castro pre-romano em Braga 2007). Entendem que a ausencia ( deve ao intensivo programa de ec

e decadas subsequentes que as i contra ria, que defende uma cid: nao so no elevado numero de in sem qualquer registo de muralha como tambem nas caracteristica~ Antes de Bracara Augusta 205

uc;ao

Sobre a origem do local onde foi edificada Bracara Augusta colocam-se varias hip6teses. De acordo com uma delas teria existido, anteriormente, um grande povoado proto-historico, um castro, hipotese inspirada em Plinio que mencionou ooppidum dos Bracari, ou seja um lugar central fortificado e extenso. Embora otexto seja ambiguo, pOis tanto se pode referir a um castro como a um novo povoado central edificado ja sob os auspicios de Augusto, entende-se que teria sido a capital dos Bracari.

Esta teoria, defendida por diversos autores, como por exemplo Armando Coelho da Silva (1986), nao tem sido confirmada por trabalhos arqueologicos. Efectivamente desde 1976 que ja se realizaram em Braga varias dezenas de escavagoes, sondagens e acompanhamentos, sem que tenha sido encontrada aminima evidencia de vestigios do hipotetico oppidum (Martins e Lemos, 1998). De facto, ha, em Portugal, sitios romanos que tiveram ocupag6es precedentes, lugares escolhidos para sedes conventuais ou de civitates. ScaJabbis foi fundada s0bre um povado anterior, tal como Pax Julia , de acordo com descobertas recen­ temente anunciadas (Margo de 2008), assim como Conimbriga (Alarcao e Etienne , 1975) ou 0 Porto (no Morro da Se) (Silva, 2000). Mas nestes locais foram sempre descobertas estruturas, ou alicerces, de constrw;:6es da IIldade do Ferro, sendo consensual que as duas cidades foram fundadas sobre antigos povoados.

Todavia , mesmo confrontados com as evidencias, os partidarios da hipotese de um castro pre-romano em Braga nao desarmam (Silva, 2007; Almeida, 2003; 2007). Entendem que a ausencia de sinais de construg6es castrejas em Braga se deve ao intensivo programa de edificagao da nova cidade, na epoca de Augusto e decadas subsequentes que as arrasou sem deixar vestigios. A argumentagao contraria , que defende uma cidade ex-novo (Martins, 2000), fundamenta-se nao so no elevado numero de interveng6es e extensa superficie ja estudada, sem qualquer registo de muralhas ou de estruturas habitacionais pre-romanas, como tambem nas caracteristicas topograficas da colina de Braga (Tranoy, 1981; 206 Francisco Sande Lemos

Lemos, 1999), que em nada correspondem ao tipo de locais escolhidos para Augusti (Rodriguez Colmenero, 1 o assentamento de povoados fortificados da Idade do Ferro. militares. Contudo a posic;:ao geo£ do Noroeste Peninsular e distinta No Porto bastou abrir uma pequena sondagem na Rua de D. Hugo, junto a Se cional das campanhas de 26/25 para se descobrir uma construc;:ao da Idade do Ferro, 0 que foi confirmado pelo zonas de Benavente e Bierzo (F registo de ceramicas punicas noutros pontos do Centro Historico. Por outro Orejas et al., 2000). lado, em Conimbriga os sucessivos, profundos e amplos programas urbanisticos de Augusto e dos Flavios nao obliteraram as ruinas do povoado da Idade da Por outro lado, tal como para a pr Ferro que antecedeu a cidade romana (Alarcao e Etienne, 1975). Tambem em Nunca se registaram vestigios ( Lisboa, apesar das intensas ocupac;:6es romana e islamica, foram detectadas de acampamentos. 0 numero dE estruturas da epoca pre-romana, tanto no cume (na zona do Castelo) (Gaspar militares que integraram as legio, e Gomes, 2003), como nas margem do antigo esteiro do Tejo, na Rua dos reduzido (Zabaleta Estevez, 2001 Correeiros (Bugalhao et al., 1994). se deve eliminar de todo, analise: vestigios de uma possivel estrutu Por muito "intrusiva" que tenha side a edificac;:ao de Bracara Augusta, no pe­ interpretac;:ao de elementos anteri riodo julio-claudia no , bem como as remodelac;:6es efectuadas sob os Flavios e do Alto da Cividade. Previamen i Antoninos, ja teriam side encontrados indicios, mesmo residua is , do oppidum mentos) (Martins, 2005). Estari, dos Bracari referido por Plinio. Na verdade, nada obsta a que tal oppidum se militar? Por ~Utro lade foi detec ' localizasse, outrossim, num dos inumeros grandes povoados castrejos proximos, do Baixo Imperio, um fosso em f, como a Citania de Briteiros, 0 Monte das Eiras, 0 Castro do Monte Redondo local para esclarecer melhor a s (Guizande), ou 0 Monte de Santa Marta da Cortic;:as (Falperra) para somente lidade de ter existido um acamp referir algumas das varias hipoteses possiveis. de seguida.

Na perspectiva do lugar com maior dominic visual, 0 Monte de Santa Marta de Cortic;:as e sem duvida 0 sitio mais logico, mas nao tem evidencias amplas de proto-urbanismo, como a Citania de Briteiros. 1.3

Uma terceira hipotese foi avan( 1 2 Tranoy cuja tese de doutoramer Neste trabalho, uma obra de gi Outra proposta sobre a origem da fundac;:ao de Braga foi formulada por A. Shulten Noroeste da Hispania, Alain Tra (1943), 0 conhecido arqueologo germanico, 0 qual sugeriu que na colina do foi fundada Bracara Augusta, te Alto da Cividade foi estabelecido um acampamento militar no contexto das dos diversos castros que integre: guerras cantabricas, na terceira decada antes de Cristo quando se concretizou interesse comum e trocaram pre a ultima etapa da conquista da Hispania. De facto, esta hoje demonstrado que no posicionamento estrategico tanto Asturica Augusta (Garcia Marcos e Vidal Encinas, 1996) como Lucus bacias do Ave e do Cavado , nL Antes de Bra cara Augusta 207

Augusti (Rodriguez Colmenero, 1995) foram edificadas sobre acampamentos militares. Contudo a posiyao geografica destas duas grandes cidades romanas do Noroeste Peninsular e distinta. Bracara ficava muito longe do teatro opera­ cional das campanhas de 26/25 a.C. as quais tiveram como epicentros as zonas de Benavente e Bierzo (Provincias de Zamora e Leon) (Syme, 1970; Orejas et aI, 2000).

Por outro lado, tal como para a primeira hipotese, faltam dados arqueologicos. Nunca se registaram vestigios de um sistema defensivo proprio desse tipo de acampamentos. 0 numero de moedas (caetrae), associ ad as ao soldo dos militares que integra ram as legioes comandadas pelos generais de Augusto, e reduzido (Zabaleta Estevez, 2000). De qualquer modo e uma hipotese que nao se deve eliminar de todo, analisando sempre com cuidado todos os eventuais vestigios de uma possivel estrutura militar. De facto permanece em suspenso a interpretayao de elementos anteriores aconstruyao da primeira fase dos banhos do Alto da Cividade. Previa mente tera existido um horreum (armazem de ali ­ mentos) (Martins, 2005). Estaria este horreum integrado num acampamento militar? Por outro lade foi detectado na zona do Fujacal, na area intra-muros do Baixo Imperio, um fossa em forma de V que justifica novas intervenyoes no local para esclarecer melhor a sua cronologia e extensao ' . Contudo a possibi­ lidade de ter existido um acampamento militar nao exclui a que apresentamos de seguida.

1.3

Uma terceira hipotese foi avanyada pel a primeira vez pelo investigador Alain Tranoy cuja tese de doutoramento, La Galice Romaine, foi publicada em 1981 . Neste trabalho, uma obra de grande folego sobre a Hist6ria e a Epigrafia do Noroeste da Hispania, Alain Tranoy (1981) sugere que a colina, onde mais tarde foi fundada Bracara Augusta, teria side um lugar onde se reuniam os habitantes dos diversos castros que integravam os Bracari, a fim de discutirem assuntos de interesse comum e trocaram produtos. Esta proposta sustenta-se, por um lado, no posicionamento estrategico do sitio, localizado num ponto central, entre as bacias do Ave e do Cavado, numa encruzilhada de rotas terrestres e fluviais. 208 Francisco Sande Lemos

o unico curso de agua adjacente a colina de Braga e 0 rio Este, afluente principal do Ave. Todavia, embora 0 caudal do Este seja pequeno na zona de Braga, salvo quando a precipitar;:ao e elevada a jusante da cidade, 0 seu trar;:ado divaga para Oeste por um vale aberto e plano que termina proximo da foz do Ave. Controlando este acesso ao corar;:ao do territorio dos Bracari, na zona da confluencia dos dois cursos de agua eleva-se a Cividade de Bagunte (Vila do Conde) e, um pouco mais a montante, sobranceiro ao Este, numa garganta apertada, 0 Castro de Pen ices (Vila Nova de Famalicao). Para Norte de Braga abre-se 0 amplo vale do Cavado cuja foz , controlada pelo Castro de S. Lourenr;:o, se avista do Castro de Santa Marta das Cortir;:as, sobranceiro a . colina onde foi edificada Bracara. Para Sui logo por detras da cumeada, for­ . mad a pelos montes do Sameiro e da Falperra, fica 0 vale intermedio do Ave, onde se destaca a Citania de Briteiros.

No sentido de Sui para Norte ha um corredor natural de circular;:ao que corta ortogonalmente os referidos vales, um longo e complexo eixo tectonico que principia no vale do Douro e termina na Ria de Vigo (mais tarde neste corredor vai instalar-se no sentido Sui a via Bracara - Emerita e para Norte 0 caminho entre Bracara e Lucus por Limia, Tude, Turoquia e Iria Flavia. Fig. 1 - Mapa com a distribuivao dos cc (Reproduzido de "Minho: travos ( Por outro lado, a cartografia dos povoados proto-historicos da zona e eluci­ dativa. Efectivamente a colina de Braga esta rodeada por inumeros grandes e pequenos castros, uns situ ados num circulo mais proximo inferior a cinco quilometros, ou seja menos de uma hora de marcha: Santa Marta das Cortir;:as - Falperra (ja citado), Braga; Senhora da Consolar;:ao - Nogueiro, Braga; Monte Redondo - Guisande, Braga; Castro de S. Mamede - Gondizalves, Braga; e Castro Maximo, Braga. Outros ficavam numa faixa mais afastada, entre cinco a dez quilometros, e sem visibilidade directa, ou intervisibilidade, com 0 local onde seria edificada Bracara: Castro das Eiras (Vila Nova de Famalicao); Citania de Briteiros; Sabroso; Santa Iria, Monte de Calvos; Castro de Lanhoso; S. Joao do Rei (dos restantes os primeiros situados no concelho de Guimaraes e os outros no da Povoa do Lanhoso). Mencionamos apenas os mais proximos e os maiores, ou mais conhecidos, pois ha mais castros que ficam nesse cfrculo de dez quilometros em redor da colina da Cividade (fig. 1 e 2).

Fig. 2 - Mapa com 0 relevo da colina de I Antes de Bracara Augusta 209

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Fig. 1 - Mapa com a distribui<;:ao dos ca stros em redor de Braga com banhos de sauna. (Reprod uzido de "Minho: tra<;:os de identidade", UM, 2009)

Fig. 2 - Mapa com 0 releva da colina de Braga e linhas de agua. (Arquivo UAUM) 210 Francisco Sande Lemos

A proposta de Alain Tranoy permaneceu adormecida. Todavia a reinterpre· Penedos e as fontes foram lugares sa! tac;;ao de determinados monumentos e 0 achado de outros, permite avangar idolo convergem os dois elementos: a al um pouco mais nessa possibilidade. Oiga-5e, em abono da verdade, que a elemento telurico; a agua como sinal d primeiro estudioso a retomar a hipotese de um lugar nao habitacional, embora ridade. As divindades representadas S2 sem citar Alain Tranoy, cuja obra e no entanto bem conhecida, foi Antonio A. R. Colmenero (2002 e 2006): do ladol Rodriguez Colmenero (2006). Para este investigador 0 lugar onde foi fundada cornucopia (abundancia) na mao, repre, Braga tera side uma locus sagrado, na Illdade Ferro, a semelhanc;;a de Lucus Tongusnabiagoi, insculpido do numa e, (bosque sagrado) Augusti. Teriamos assim como regra a fundac;;ao das capitais da Callaecia em lugares sagrados pre. romanos.

Tambem num recente e excelente artigo Rui Morais (2005) estuda 0 contexto da fundac;;ao da capital da Callaecia meridional.

Em nosso entender a interpretac;;ao arqueologica da colina onde foi fundada Bracara Augusta e muito mais complexa. Ha, de facto, toda uma serie de indi­ cadores arqueologicos favoraveis a uma hipotese que inclui diversos vectores, para alem da componente sagrada, aspecto pelo qual principiamos 0 nosso comentario.

2 A Colina Sagrada Fig . 3 - A Fonte do idoio - Braga

21 Tradicionalmente era considera( A Fonte Id 10 Ha , no entanto, novas propostas para 0 si publicados, os atributos de Nabia tel Segundo A . R. Colmenero (2006) registam-se, em Braga, dois lugares de relacionada com confrarias de guem culto de tradic;;ao indigena: a Fonte do idolo e os banhos descobertos durante (Garcia Moreno, 2005); como uma E as obras da nova Gare de Caminho de Ferro de Braga (Lemos et al., 2002). cooperac;;ao, estabelecendo vinculos Quanto a Fonte do idolo a hipotese de se tratar de um lugar venerado antes 2005), autor que tambem equaciona da fundac;;ao da cidade e muito verosimel. Foi formulada no estudo pioneiro de colina, au vale, entre montanhas. Ne : 2 Leite de Vasconcelos (1905), tendo sido retomada por sucessivos autores . orografica de Braga, um vale encos\; Antes de Bracara Augusta 211

Penedos e as fontes foram lugares sagrados na Proto-Hist6ria. Na Fonte do idoloconvergem os dois elementos: a agua e a pedra. 0 granito como poderoso elemento telurico; a agua como sinal da abundancia, fonte de vida e prospe­ ridade . As divindades representadas sao, de acordo com as ultimas leituras de A. R. Colmenero (2002 e 2006): do lado esquerdo, uma figura togada, com uma cornucopia (abundancia) na mao, representando Nabia Fortuna ; do lado direito Tongusnabiagoi, insculpido do numa efigie encaixada numa edicula (fig. 3).

Fig. 3 - A Fonte do idolo - Braga

Tradicionalmente Nabia era considerada uma divindade das aguas (Silva, 1986). Hi!,noentanto, novas propostas para 0 significado de Nabia. Em textos, ultimamente publicados , os atributos de Nabia tem sido interpretada de diversas formas: relacionada com confrarias de guerreiros, como garante da unidade fraterna (Garcia Moreno, 2005); como uma entidade aglutinante e que cria lagos de cooperagao, estabelecendo vinculos de coesao ou de tutela (Lujan Martinez, 2005) , autor que tambem equaciona a possibilidade de ser uma divindade de colina , ou vale, entre montanhas. Nesta ultima hip6tese, atendendo a posigao orogrMica de Braga, um vale encostado a cumeadas, 0 significado de Nabia, 212 Francisco Sande Lemos

poderia ser quase perfeito. No entanto, a questao e muito mais complicada, De acordo com Manuela Martins te pois existe tambem a possibilidade de Nabia ser um teonimo de funciona­ getismo na urbe de Augusto (Martir lidade polivalente (Olivares Pedreno, 2006), cujo significado variava, podendo nossa anterior proposta como san! assinalar tanto a agua , como a terra eo ceu. Alias esta hipotese ja tinha side hipotese de 11m acto de evergetism anteriormente suscitada (Le Roux e Tranoy, 1974). No mais recente texto sobre a Fonte do Idolo e desenvolvida a proposta mais complexa de J. C. Olivares Talvez seja algo mais elaborado. CE nao esta bem determinada, pois A Pedreno (Elena Garrido et ai , 2008). Todavia neste ultimo trabalho nao e sufi­ varios locais da Meseta (Tranoy, 1 cientemente destacado um aspecto essencial: "Segun nuestra teoria, en esos templo no local preciso de um sar altares donde se relaciona a la diosa lusitano-galaica con comunidades indi­ lar;:os duradouros com a comunida genas se habria resaltado su caracter tutelar y politico, ... " (Olivares Pedreno, lado afirmava a sua "romanidade", ir 1998/99). A amplitude de funr;:6es revela uma entidade tutelar com diversos bem como ao seus deus tutelar, nc poderes. Independentemente dos seus atributos Nabia foi uma das divindades si mesmo, um pacto, de nivel sup~ que protegiam a colina de Braga, em contexte pre-romano. imperial: Bracara Augusta. 0 texto togada, numa tabula em bronze fixc= E Tongus? Segundo Alain Tranoy (1981) seria uma divindade tutelar da cidade observaveis . De certo modo 0 Santu ; de origem de Celicus Fonto, ou seja um teonimo lusitano. Tambem poderia ser simbolico e arquitectonico, 0 compl um deus local como pretende A. Rodriguez Colmenero (2002 e 2006). Segundo que, de um modo geral, as tabulae este autor Tongaenaibiagoi, registado na inscrir;:ao, seria, 0 paredro de Nabia, em varias zonas da Peninsula Ibe representando a "Veiga bracarense". Pacto dos Zoelae constitui um parc= Em nosso entender a hipotese de Alain Tranoy (excluindo a possibilidade da Por ultimo sera interessante referir figura togada representar Celicus Fronto) , e ainda a mais convincente pois a local onde foi descoberta uma necrc' uniao inscrita na pedra dos dois teonimos, um galaico e abrangente, Nabia, 2000) e um possivel habitat anexo outro exteriore topico, alcanr;:a um complexo patamar simbolico como um pacto so possivel grar;:as a superior tutela do poder romano.

o dedicante Celicus Franto, embora registado na epigrafe, nao tera side figu­ rado 0 que e plausivel. A integrar;:ao do santuario numa moldura classica, foi anhos castrejO garantida nao so mediante a representar;:ao das divindades e das epigrafes em si mesmo, como tambem por elementos arquitectonicos que as enquadravam, Um momenta decisivo para um nov; tal como num templo (Elena Garrido et al., 2008). Atraves deste triplo processo Augusta foi a descoberta em 200: - representar;:ao em estilo classico de divindades pre-romanas; gravar;:ao dos nhamento da construr;:ao da nova ( seus nomes em latim; enquadramento arquitectonico - foi perpetuado 0 acto castreja de banhos. Estes banhos I solene da inserr;:ao de um locus sagrado indigena tutelado por Nabia, na ordem duas ribeiras principais: uma prov romana, processo assegurado por um benfeitor (Celicus Franto), nos primordios outra com origem na Rotunda de ~ do sec. I d.C., senao mesmo antes, na propria fase inicial de Bracara Augusta. sobre 0 qual esta hoje a Rua do Ca Antes de Bracara Augusta 213

De acordo com Manuela Martins tera sido um dos primeiros registos de ever­ getismo na urbe de Augusto (Martins, 2000; Elena Garrido et al., 2008). Se a nossa anterior proposta como santuario privado era pobre (Lemos, 2002), a hipotese de um acto de evergetismo e redutora.

Talvez seja algo mais elaborado. Celicus Franto era um emigrante cuja origem nao esta bem determinada, pois Arcobriga e um toponimo identificado com s varios locais da Meseta (Tranoy, 1981). 0 dedicante, ao mandar edificar um templo no local preciso de um santuario indigena estabelecia, por um lado, layos duradouros com a comunidade (os Bracari) que 0 acolhera. Por outro lado afirmava a sua "romanidade", integrando-se a si e aos seus descendentes, bem como ao seus deus tutelar, no projecto de uma urbe cujo nome era, por si mesmo, um pacto, de nivel superior, entre 0 universe indfgena e 0 poder imperial: Bracara Augusta. 0 texto do pacto estava exposto ao lade da figura togada, numa tabula em bronze fixada a rocha por meio de dois orificios ainda observaveis. De certo modo 0 Santuario do Idolo assinala, num elaborado registo simbolico e arquitectonico, 0 complexo sistema de alianC;;as politicas e sociais que, de um modo geral, as tabulae e tesserae de hospitalidade, descobertas em varias zonas da Peninsula Iberica tambem testemunham, e das quais 0 Pacto dos Zoelae constitui um paradigma.

Por ultimo sera interessante referir que a Fonte do Idolo fica proximo de um local onde foi descoberta uma necropole da Idade do Bronze Final (Bettencourt, 2000) e um possivel habitat anexo (Lemos, 2002).

anhos castrejOS

Um momenta decisivo para um nova leitura da colina onde foi edificada Bracara

Augusta foi a descoberta em 2002 (Lemos et al., 2002), durante 0 acompa­ nhamento da construc;;ao da nova Gare Ferroviaria de Braga, de uma estrutura castreja de banhos. Estes banhos foram edificados no ponto onde convergiam duas ribeiras principais: uma proveniente do lugar onde hoje fica a Catedral;

outra com origem na Rotunda de Maximinos, correndo 0 seu leito no talvegue sobre 0 qual esta hoje a Rua do Caires. Contudo a ribeira de maior caudal nas­ 214 Francisco Sande Lemos

cia no subsolo da zona da Catedral, provavelmente alimentada por um extenso

aquifer~ instalado entre as fracturas do granito sobre 0 qual foi levantado 0 templo (fig. 4). Ambas estavam inseridas na bacia hidrografica do Cavado.

Fig. 5 - Desenho do torreao da muralha inutilizar a conduta de a9'Ua limp

Fig . 4 - Trayado da muralha do Baixo Imperioque esta subjacente ao edificio da Catedral de Braga

Na Pre-Historia Recente esteve instal ada junto a ribeira oriunda da zona da Se, em local exacto ainda por determinar, uma comunidade do calcolitico. De facto, foram recolhidos materiais daquele periodo, durante a escava<;3o dos referidos banhos, num sector aberto na estrutura petrea envolvente. Nessa sondagem foram detectados sedimentos de um paleo-canal tendo sido reco­ Ihldos diversos materiais, designadamente um machado de pedra pol ida, laminas de silex e numerosos pequenos artefactos de quartzo hialino (Lemos et al. , 2002). Tanto quanto se deduz dos paleo-canais registados 0 ribeiro ainda corria a ceu aberto na Idade do Ferro. Mais tarde no periodo romano, no Alto Imperio, a agua da nascente da Se foi canalizada, conforme se verificou nos trabalhos arqueologicos previos a amplia<;ao do Museu da Catedral na Rua de D. Diogo de Sousa (Lemos e Leite, 2006) (fig. 5) . Talvez alimentasse um fonta­ 3 nario publico localizado mais a Sui, junto da saida de Bracara para a Lucus . A muralha do Baixo Imperio integrou a conduta (fig. 6), pelo que se deve admitir Fig. 6 - Pormenor da conduta de agua IiI An tes de Bra cara Augusta 215

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Fig. 5 - Oesenho do torreao da muralha do Baixa Imperio, estrutura que se soprep6s, sem inutilizar a conduta de agua limpa . (Arquivo UAUM)

Fig . 6 - Pormenor da conduta de agua limpa, a Su i do Torreao. (Arquivo UAUM) 216 Francisco Sande Lemos

que 0 manancial continuava activo no seculo IV. Ja na Idade Moderna a agua se conservam vestigios. Persistem

foi desviada para Norte, talvez quando se construiu a Igreja da Misericordia, 0 entrada de agua, se atraves do si~ que e compreensivel no contexto do desenvolvimento nesse sentido da cidade uma abertura perceptivel, sensivelr da Baixa Idade Media e Idade Moderna. Oeste, afigurando-se esta ultima hil fazia-se atraves de uma pequena c o monumento castrejo da ECFB e uma estrutura que segue os pad roes do seu cilindricos, toscamente talhados. DE tipo. Implantada com uma orientayao sensivelmente Este/Oeste e ocupando que liga aquela abertura a boca de uma area de aproximadamente 72 metros quadrados e com uma altura maxima um espesso sedimento aluvionar. N conservada de 1,20 m, os banhos localizavam-se na margem direita da linha de da parede Oeste, destaca-se um 1 agua proveniente da zona da Catedral, mas nao muito longe de uma outra que forma semi-conica, cuja parte SUpE tinha origem na actual Rotunda de Maximinos. Parcialmente mutilado, talvez raios incisos com origem num peq em finais do sec. XIX , aquando das obras de construyao da ECFB, altura em de gomos com algum rigor simetr

que tera sido amputado 0 forno e grande parte da camara de sauna, 0 monu­ phalus (fig. 7). mento conserva os elementos necessarios para se deduzir a sua estrutura

original: 0 arranque dos muros laterais norte da camara; a antecamara, de planta sub-rectangular, em bom estado, com 1,70 m de comprimento interno por 2 m (Iargura maxima) e 1,55 m (Iargura minima); eo patio. A "Pedra Formosa" (0,31m de espessura; 0,83m de altura e 1,74m de comprimento), com a tipica cavidade semicircular na parte inferior (0,43 por 0,38 m) , separava a sauna da antecamara. 0 pavimento original da antecamara e constituido por pedras de

4 media dimensao regulares ; os bancos laterais sao dois grandes monolitos lavrados de formato subrectangular. Entre a antecamara e 0 patio ha uma entrada definida por duas ombreiras, sobre as quais assentava um lintel (deslocado do seu lugar original). Neste elemento foi recortado, no centro superior, uma pequena abertura em forma de U recto, onde assentava uma viga em que suportava a cobertura do edificado, talvez em madeira. 0 atrio (4,72 m de comprimento e 2,80 m de largura) e pavimentado com grandes lajes de granito irregulares, desdobrando-se, de forma pouco pronunciada, em dois niveis, cuja diferenya de cota oscila entre 15 e 20 cm. 0 nivel mais elevado, ocupa 0 quadrante Sudoeste e parece marcar a entrada e saida para e da antecamara; o nivel inferior, seria continuamente invadido por regolfos de agua. Duas das lajes do pavimento, uma situada a Norte, a outra no enfiamento da entrada para a antecamara, foram talhadas em forma de pia, sendo que a primeira e mais Fig. 7 - Banhos castrejos descobertol ampla e profunda (18 cm) e teria ali sido colocada com 0 proposito de receber Ferro de Braga. No canto supe as aguas que abasteciam 0 edificio, talvez atraves de uma caleira da qual nao (Arquivo UAUM) Antes de Braca ra Augusta 217

se canservam vestigios. Persistem, pois, duvidas quanto ao local preciso da entrada de agua, se atraves do sistema em conduta acima descrito, se por uma abertura perceptivel, sensivelmente a meio do embasamento da parede Oeste, afigurando-se esta ultima hip6tese como a mais plausivel. A drenagem fazia-se atraves de uma pequena abertura a Sui, limitada por dois elementos cilindricos, toscamente talhados. De facto, numa faixa com cerca de 40 a 50 cm que liga aquela abertura a boca de saida, nao se observam lajes, mas apenas um espesso sedimento aluvionar. No cunha I Noroeste do patio, na face interna da parede Oeste, destaca-se um mon61ito de pouca espessura, talhado em forma semi-c6nica, cuja parte superior ligeiramente ovalada apresenta alguns raias incisos com origem num pequeno orificio central, desenhando metades de gamos com algum rigor simetrico, de tal modo que se assemelha a um phafus (fig. 7).

Fig. 7 - Banhos castrejos descobertos durante a obra da nova Estac,;3o de Caminhos de Ferro de Braga. No canto superior direito da imagem 0 mon61ito em forma de phalus. (Arquivo UAUM) 218 Francisco Sande Lemos

A qualidade do aparelho das paredes, quer da sauna , quer da antecamara e do atrio e fraca. Foi utilizada pedra toscamente afei90ada, sobreposta de forma irregular, tendo side colocada terra para fechar os intersticios resultantes.

Os limites do monumento parecem estar perfeitamente definidos, embora a presen9a a Sui de uma grande mancha negra constituida por cinzas e carvoes e com um numero consideravel de elementos graniticos calcinados, suscite varias hipoteses: uma zona de depositos de limpeza do forno asemelhan9a dos monumentos da Citania de Sanfins (Silva, 1986) e de Santa Maria de Galegos (Silva, 1986); uma estrutura complementar de aquecimento do balneario; espa90 de rituais autoctones, que podiam incluir crema90es de materia vegetal ou

mesmo de animais, assim sacrificados 5 .

Com base nos materiais ceramicos recolhidos, a epoca da constru9ao dos banhos da EFC de Braga foi atribuida a uma fase pre-romana . Efectivamente o nivel de abandono, numa primeira analise, apenas forneceu materiais cera­ micos de produ9ao indigena, dataveis da Idade do Ferro recente. Convem sublinhar que foram isoladas duas UE relacionadas com 0 abandono: uma primeira, mais espessa, formada por um sedimento muito fino; e sob esta, uma Fig. 8 ­ Banhos castrejos da ECFB : c, segunda camada que se sobrepoe directamente ao lageado do patio. Pelo que utilizada no patio dos banh os, ( se deduz desta sucessao e em particular do tipo de sedimento da UE superior, os banhos nao foram arrasados mas recobertos com terra que se infiltrou de forma progressiva entre os intersticios do telhado. Admite-se que a zona passasse a ter um usa agricola, 0 que parece comprovada pelos vestigios detectados aquando do acompanhamento da Variante a EN14, no local designado como Mosteiro da Visita9ao (Lemos, 2002a).

Na UE directamente relacionada com a ultima fase de usa dos banhos, 0 sedi­ mento silto-arenoso acumulado na zona pela qual a agua era drenada para fora do patio (fig. 8), so foi recolhido material ceramico da II Idade do Ferro.

Por outro lado, a rudimentar tecnica construtiva (fig. 9) e a quase total ausencia de motivos decorativos na Pedra Formosa sao aspectos que podem ser consi­ derados como sinais de antiguidade, embora insuficientes para afirmar que se evoluiu de modelos muito singelos para outros mais elaborados como os banhos do Monte das Eiras (Silva e Machado, 2007) e 0 que integrava a Pedra

Formosa mae, na Citania de Briteiros (Lemos et aI. , 2008). Fig . 9 - Reconstitui <;: 30 3D dos banilos Antes de Bracara Augusta 219

Fig. 8 - Banhos castrejos da ECFB: canal por onde era drenada para 0 exterior a agua utilizada no patio dos banhos, obervando-se a UE relacionada. (Arquivo UAUM)

Fig . 9 - Reconstituic;:ao 3D dos banhos castrejos da ECFB . (Arquivo UAUM) 220 Francisco Sande Lemos

Quando ficou estabelecido que 0 monumento seria conservado in situ, ao abrigo No entanto, sem mais sondagens na da Convenc;:ao de Malta, optou-se por preservar, para futuras escavac;:6es (quando foram construidos nessa fase, emb( as tecnicas de trabalho estiverem mais avanc;:adas) toda a estrutura petrea que datada do sec. Va. C. (Villa Valdes, o envolve. Tambem se conservam, para 0 futuro, tantos os sedimentos que se estar relacionada com uma estrutur encontram selados pordeba ixo das lages do patio, como os estratos da area exte­ nhecido e anterior aos banhos. Os rior, a Sui, que estao actualmente sob um passadic;:o poronde circulam os utentes a entrada para 0 patio poderiam pI da ECFBraga. Dispomos, pois actualmente, de ma is dados sobre 0 abandono e como 0 menhir falico integrado nL uso estrutura do que acerca da fundac;:ao e eventuais remodelac;:6es e restauros. teriam side ed ificados naquele por continuidade a uma sacralidade ant Porem, num ponto onde a courac;:a petrea envolvente dos muros dos banhos ou do Bronze Final. A relevancia rill estava mais danificada, foi realizada uma pequena sondag em cirurgica a fim Caminho de Ferro de Braga ja foi de se tentar obter informac;:ao sobre a cronologia de fundac;:ao dos banhos. Almadan em 2002 (Lemos et al. , 2( Registou-se uma estratigrafia algo complexa em parte alterada por um paleo­ culto das aguas, bem como a cerim canal intrusivo da Idade Moderna. Em associac;:ao com as pedras irregulares e a iniciac;:ao se encontram relacion da courac;:a apenas se detectou ceramica indigena . Na base, sob 0 alicerce, e crista (baptismo), bem como nou foi descoberta uma fossa de deposic;:ao (definida , no topo, por um anellitico e

no fundo por um "Ieito" de pequenas pedras) con tendo um vasa da forma 10 de De qualquer modo 0 estudo compl Ana Bettencourt (2000) e forma 2 da fase II de Manuela Martins (1990), bem motivos ja referidos, ou seja por< como um fragmento de um vasa bordo esvasado, labia arredondado, de pasta a decadas quando as tecnicas ( arenosa/micacea, grosseira, de acabamento alisado e cozedura redutora. A Conservam-se intocados sedimer base e de fundo plano simples. Trata-se da forma 3 B da fase II de M. Martins quer sob a camara de acesso a s, (1990). 0 vasa data da Idade do Ferro Inicial (fig . 10). por debaixo da estrutura petrea er

Ja foi sugerida (Morais, 2005) uma r que fica a cerca de mil quinhentos distancia excessiva , sem paralelo n( -se, normalmente, intramuros, con Citania de Briteiros (banhos Nord! primeira e segunda linhas de mur sope dos castros, como em Quint e Machado, 2007), ou em Santa o Castro Maximo, tal como outro ~ seus pr6prios banhos, ainda por c

Cada um dos monumentos descr comentario mais desenvolvido ~ Fig . 10 - Banhos castrejos da ECFB: desenho do vasa encontrado na base da estrutura. (Arquivo MODS) bibliografia incluindo trabalhos reo Antes de Bracara Augusta 221

10 Noentanto, sem mais sondagens nao nos parece legitimo afimarque as banhos 10 foramconstruidos nessa fase , embora uma das saunas das Asturias tenha sida e datada do sec. Va. C. (Villa Valdes, 2007). De facto, ha a possibilidade da fossa e estar relacionada com uma estrutura de caracter simb6lico, de modelo desco­ 1­ nhecido e anterior aos banhos. Os tres elementos em granito, que assinalam s a entrada para a patio poderiam pertencer a essa estrutura mais antiga bem como 0 menhir falico integrado num dos muros. Se assim Fosse as banhos teriam sido edificados naquele ponto especifico, na II Idade do Ferro, dando continuidade a uma sacralidade anterior talvez estabelecida na Iidade do Ferro au do Bronze Final. A relevancia ritual dos banhos pre-romanos da Estayao de Caminho de Ferro de Braga ja foi sublinhada em artigo publicado na revista Almadan em 2002 (Lemos et al., 2002). Estariam directamente associados ao culto das aguas, bem como a cerim6nias de iniciayao. Recordamos que a agua e a iniciayao se encontram relacionadas nas mitologias oriental, greco-romana e crista (baptismo), bem como noutros universos culturais.

De qualquer modo 0 estudo completo desta estrutura esta par efectuar, pelos motivos ja referidos, ou seja porque entendemos que deve ser feito daqui a decadas quando as tecnicas de Arqueologia estiveram mais refinadas. Conservam-se intocados sedimentos quer na zona exterior Sui dos banhos, quer sob a camara de acesso a sauna e sob 0 lageado do pateo, bem como por debaixo da estrutura petrea envolvente.

Ja foi sugerida (Morais, 2005) uma relayao entre estes banhos e 0 Castro Maximo que fica a cerca de mil quinhentos metros para Nordeste. Parece-nos ser uma distc'mcia excessiva , sem paralelo noutros casos. As estruturas de banhos situam­ -se, normalmente, intramuros, como na Citania de Sanfins (Silva, 1986) au na Citiinia de Briteiros (banhos Nordeste e Sudoeste, ambos localizados entre a primeira e segunda linhas de muralhas) (Lemos et aI., 2008). E, tambem, no sope dos castros, como em Quintaes (Dinis, 2002), no Monte das Eiras (Silva e Machado, 2007), ou em Santa Maria de Oleiros (Silva e Machado, 2007). oCastro Maximo, tal como outros grandes povoados tinha provavelmente os seus proprios banhos, ainda por descobrir.

Cad a um dos monumentos descritos nos paragrafos anteriores merecia um comentario mais desenvolvido. Sobre a Fonte do idolo ja existe numerosa bibliografia incluindo trabalhos recentes para os quais remetemos (Lemos, 2002 222 Francisco Sande Lemos

e 2005; Elena Garrido et al., 2008). Infelizmente 0 acompanhamento arqueolo­ largura maxima lateral 40 ,5 em; lar~ gico realizado durante as obras da nova estrutura de protecc;ao do Santuario, e pouco provavel que se inserissE revelou que os sedimentos foram revolvidos em profundidade pela DGEMN na pose majestatica, na linha dos gL decada de 30 do seculo XIX, 0 que limita em muito a sua leitura arqueologica. trabalho em granito fino (fig . 11). I Quanto aos banhos castrejos esta em preparac;ao 0 estudo monografico, mas pedestal num templo. Apesar de E as principais conclus6es possiveis ja foram referidas. nos modelos ibericos, sendo espe( a personagem esta adossada ao " assento, representando as extremi Trata-se de uma pec;a de valor extrc influencia mediterranica e evidentE 3 que constituem os suportes diantl A estatua sedente e a cabec;a de guerreiro

Neste breve texto, interessa sublinhar que ha outros elementos para se consi­ derar que a Colina de Braga foi, na Proto-Historia, um lugar eomunitario, com multiplas valencias. Em 1977, em obras feitas no lado sui da Rodovia, ou Avenida da Imaculada Conceic;ao, junto as antigas oficinas da Livraria Cruz foram recolhidas , por um privado, duas pec;as de grande valor que, todavia, so foram conhecidas e publicadas quase uma decada depois: uma cabec;a de 6 guerreiro e uma estatua sedente masculina . Quanto a estatua sedente, proto­ -historica, e, sem duvida, uma das melhores pec;as do Noroeste da Peninsula, existindo apenas mais cinco. As estatuas deste tipo , masculinas, de que se conhece no Minho outro exemplar, podem representar deuses protectores da comunidade. Uma das estatuas foi descoberta no Castro de Lanhoso; a outra em Bracara Augusta. Qutros paralelos sao duas pec;as recolhidas em Xinzo de Limia (Ferro Couselo, 1972; Calo Lourido, 1994) e outra em Perafita (Luis, 1997), ou seja tambem na area dos grandes castros. Ha , ainda, duas estatuas femininas descobertas uma na Citania de Briteiros e a outra em Felgueiras (Cardozo, 1985).

A estatua de Braga, recolhida num contexto secunda rio, numa insula romana da periferia do sector Sui da cidade, e assaz interessante. A personagem masculina (0 falus e evidente) est a sentada numa cadeira cujos apoios dian­ teiros representam cascos de eavalo. A mao direita, encosta ao peito num gesto eertamente ritual. A esquerda segura um vaso. Pela dimensao (altura 77 cm; Fig . 11 - Estatua sedE Antes de Bracara Augusta 223

largura maxima lateral 40,5 cm; largura maxima frontal: 43,5 cm; base: 50 cm) epouco provavel que se inserisse num contexto domestico. Impressiona a pose majestatica, na linha dos guerreiros galaicos, a solidez e 0 apurado trabalho em granito fino (fig. 11). Provavelmente estava colocada sobre um pedestal num templo. Apesar de esculpida em granito, esta estatua filia-se nos modelos ibericos, sendo especialmente elucidativo nBO s6 0 modo como a personagem esta adossada ao "trono", como tambem os pes dianteiros do assento, representando as extremidades de um animal, neste caso 0 cavalo. Trata-se de uma peya de valor extraordinario tanto artistico como simb6lico. A influencia mediterranica e evidente. A representayBo de patas de um animal, que constituem os suportes dianteiros do trono, tem paralelo na garras da

Fig . 11 -Estatua sedente de Braga. (Arquivo MDDS) 224 Francisco Sande Lemos

cadeira da Dama de Baza (Granada), embora nao deixe de ser interessante a do Outeiro Lesenho, hip6tese com c; preferencia, no caso da estatua de Braga por um animal associado a guerra e que se levanta e a seguinte: excluinl a caya (0 cavalo), em detrimento de outro de simbologia mais fantastica. Tanto admitlndo que integrasse uma esta

o vasa da mao esquerda como a mao direita pousada sobre 0 peito, deveriam ou ainda nao foram descobertos, preconizar um ritual, provavelmente efectuado pelos representantes das familias contexto da colina de Braga? Efec mais ilustres dos castros bracarenses. 0 ritual e, sem duvida, um arquetipo de de guerreiros foram descobertas el raiz mediterranica e com longa durayao. Numa das estatuas femininas do San­ com as muralhas. Todavia se co tuario de Cerro de los Santos (Montealegre del Castillo, Provincia de Albacete) seriam talvez her6is mitol6gicos p!

observam-se os mesmos gestos, a "benyao" com a mao direita sobre 0 peito local, mesmo neutro e de paz, Integ e um vasa erguido pela mao oposta. de linhagens destacadas.

Num comentario sobre as estatuas sedentes do Noroeste da Peninsula Iberica Adolfo Ruibal Gonzalez (2005), embora salientando a influencia mediterranica,

sugere que 0 facto de serem, na sua maioria de sexo masculino, indica que as sociedades da II Idade do Ferro do Noroeste, teriam um "ethos" androgenico, que as diferenciava do universo do sui da Peninsula Iberica, onde as estatuas

sedentes sao femininas. Julgamos que 0 numero de peyas descoberto ate esta data nao permite asseryoes tao definitivas. Por ora conhecem-se no NO apenas duas estatuas femininas , mas podem descobrir-se outras e 0 sexo das de Xinzo de Lima apenas se po de deduzir pel a aparencia, nao se verificando a representayaO do pha/os como no exemplar de Braga. Na representayao de feminina de Briteiros destaca-se um torques, 0 qual e, por vezes, associado, sem reservas, aos guerreiros e considerado uma j6ia masculina, alias sem fundamento arqueol6gico.

Para alem destas considerayoes que apenas podem ser esclarecidas quando se

multiplicarem os achados, talvez 0 mais importante seJa destacar 0 sincretismo dos Bracari, que congregavam diversas influencias, mantendo, no entanto, uma coerencia social e simb61ica bem marcada na arquitectura dos seus povoados (Citania de Briteiros, Monte Redondo, Monte das Eiras).

Quanto acabeya de guerreiro insere-se, cabalmente, no modelo dos chamados guerreiros lusitanos, ou galaicos, cujo estudo teve recentes desenvolvimentos (Schattner, 2004). A de Bracara evidencia um capacete de modelo simples,

ajustado. Segundo as autoras (Bettencourt e Carvalho, 1993/94), que divulgaram Fig . 12 - Cabeya de gUE a peya pela primeira vez, possui semelhanyas com os conhecidos guerreiros (Arquivo MDD~ Antes de Bracara Augusta 225

a do Outeiro Lesenho. hip6tese com a qual estamos de acordo (fig. 12). A questao e que se levanta e a seguinte: excluindo a bizarra hip6tese das "cabec;:as-trofeus", o admitindo que integrasse uma estatua. cujos restantes elementos se perderam n ou ainda nao foram descobertos, qual e 0 sentido da presenc;:a da pec;:a no s contexto da colina de Braga? Efectivamente a quase totalidade das estatuas e deguerreiros foram descobertas em relac;:ao directa com castros e em especial 1­ com as muralhas. Todavia se considerarmos que os guerreiros dos castros seriam talvez her6is mitol6gicos protectores, nao seria surpreendente que um o local, mesmo neutro e de paz, integrasse, no seu ponto cimeiro, representac;:oes de linhagens destacadas.

3 '.

Fig . 12 - Cabe<;a de guerreiro castre)o descoberta em Braga. (Arquivo MODS) 226 Francisco Sande Lemos

4 Sobre a hipotese de Braga ter sic Mercado e lugal de coOperay30 multiplas valencias, ha ainda mais colecyao de moldes em ceramica ~ recolhidos 24 desses elementos, ( Ainda que a componente simbolica e religiosa da colina, onde mais tarde se Portugal e na Galiza (Martins , 198 edificou Bracara Augusta, fosse muito relevante, nao tera sido menor a sua vasos rituais de bronze utilizados importancia como mercado, a varias escalas. No contexto do Ente Douro e Minho, situa-se, tal como referimos, no ponto de cruzamento de varios corre­ dores de circulayao de pessoas e bens. A ligayao a zona costeira era facil. A navegayao fluvial, atraves de pirogas proto-historicas do tipo que foi des co­ berto no rio Lima (Rodrigo et al., 2005; Alves et al., 2005), permitia a subida dos rios Ave e Cavado. Os pontos limites de navegabilidade, com este tipo de embarcayoes terao sido: no Cavado, Areias de Vilar; no Ave a zona da Ponte '. ' ,,>,! 1~ ' " da Lagoncinha. Quanto ao rio Este, a observayao das imagens aereas do leito (:. .

actual e inconciusiva, mas talvez fosse possivel alcanyar 0 Castro de Pen ices, ." L.~. .. ainda que em botes mais pequenos que os recolhidos no fundo do leito do rio ..~~.: . . t ;• Lima. Qualquer um destes locais ficava a menos de tres horas de caminho, .' ,­ ~~ . . via terrestre, ate a colina de Braga.

Que tipo de bens eram trocados , em feiras que seriam periodicas, e uma questao em aberto. Num quadro ilustrativo do comercio entre 0 Mediterraneo e 0 Noroeste Peninsular 0 investigador Gonzalez Ruibal (2006/7) sugere que os povoados do litoral seriam uma especie de plataforma entre os bens trans­ '" portadas por via maritima (vinho; unguentos; vidros; ceramica fina; contas; cristais; moedas; joias e adornos de bronze) e os produzidos pelos castros interiores (curtumes; estanho; ouro). Do gratico tambem constam escravos, Fig. 13 - Oesen ho de um molde de situla esta ultima hipotese algo arriscada mas que nao deve ser excluida de todo. Se 0 vinho chegava aos grandes povoados do interior, como a Citania de Briteiros, nao ha evidencias materia is , embora pudesse ser transportado em odres. Tambem nao se registou ceramica punica nem em S. Juliao (Vila Verde) festivos e funerarios. A cronologia ( (Martins , 1988a) nem em Briteiros, embora os materia is deste ultimo povoado a segunda metade do primeiro mi ainda nao estejam classificados, inciuindo os das escavayoes de Francisco Tambem e ampla a sua area de di! Martins Sarmento e Mario Cardozo, cuja reorganizayao esta em curso. Em Briteiros 0 numero de contas em vidro e limitado, embora a quantidade de de Portugal, encontrando-se quen moedas ibericas pareya ser signiticativa se for verdade que a colecyao de de Briteiros), como em pequenos I numismas des sa origem se perdeu, conforme afirma Mario Cardozo (1996). -Posse, 2000). Alias 0 padrao mOl Provavelmente haveria um outro produto muito procurado: os tecidos, para os mudou ao longo dos seculos, tal quais nao temos qualquer evidencia por raz6es obvias. que os moldes de situla de Brag Antes de Bracara Augusta 227

Sobre a hipotese de Braga ter sido, na II Idade do Ferro, um espar;:o com multiplas valencias, ha ainda mais um indicador arqueologico interessante: a colecr;:ao de mol des em ceramica para fabricar situlas. Em escavar;:oes foram recolhidos 24 desses elementos, ou seja uma quantidade sem paralelo em e Portugal e na Galiza (Martins, 1988; Morais, 2004), (fig. 13). As situlas eram a vasos rituais de bronze utilizados em cerimonias religiosas, ou banquetes e

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Fig . 13 - Oesenho de urn rnolde de situla de Braga. (Arquivo MODS)

festivos e funerarios. A cronolog ia dessas per;:as e dilatada, pois surgem desde a segunda metade do primeiro milenio ate a epoca romana (Morais, 2004). Tambem e ampla a sua area de distribuir;:ao, desde as Asturias ate ao Centro de Portugal , encontrando-se quer em castros de grande dimensao (Citania de Briteiros), como em pequenos povoados do tipo de Castrellin (Fernandez­ -Posse, 2000). Alias 0 padrao morfologico e decorativo destes vasos pouco mudou ao longo dos seculos, talvez devido ao seu caracter ritual. Mesmo que os moldes de situla de Braga tenham sido encontrados num contexto 228 Francisco Sande Lemos

post-fundacional (Morais, 2004), a quantidade e local da recolha (plataforma Alias e indispensavel diferenciar er superior da colina), evocam uma tradi<;:ao de metalurgia mais antiga, em locais que estamos a analisar, culos par; nao habitacionais, onde se produzia para um mercado regional, pelo menos meados do I a.C. , e uma fase paste o territorio dos Bracari. como noutros sitios, nas Citanias d (Lemos e Gon<;:alo no prelo) e qu A ocorrencia de numerario e muito escassa. Em Braga apenas foram encon­ caracterizada pela ocorrencia de CE tradas quatro moedas ibericas e uma republicana. Segundo Rui Morais (2005): correlativamente, de tradi<;:ao indig€ "As moedas ibericas estao dispersas na cidade, tendo side recolhidas na Colina fundacional de Bracara Augusta, n do Alto da Cividade (As da ceca de Castulo de 105-82 a. C.) e nas escava<;:oes nova urbe. Nalguns aspectos filia­ realizadas nas Termas (Asda ceca de Bilbilis, s. II a. C.), no Cardoso da Saudade exemplo, ou determinadas epigrafe (A s da ceca de Kaiskata) e nas Cavalari<;:as (As iberico). A moeda republicana, que importa nao confundir. recolhida na Colina do Alto da Cividade, correspondente a um denario de prata, cunhado no N de Italia no ana de 82-81 a. C (Zabaleta Estevez, 2000,396)". Ou seja, apesar da importancia do mercado que supomos ter funcionado na Colina de Braga, 0 sistema de trocas ainda obedecia a para metros tradicionais, sem referentes monetarios. De qualquer modo, apesar da dispersao as referencias topogrMicas das moedas confinam-se ao topo da Colina. Co sidera90es finalS

Por outro lade e importante assinalar que em diversos pontos da cidade, em

escava<;:oes, tem side detectadas covas abertas no saibro, de morfologia e Com base em todos estes dados E dimensao variaveis, com materiais indigenas da II Idade do Ferro, como por edificada Bracara Augusta foi, inicia exemplo na chamada zona das Carvalheiras, na encosta Noroeste. 0 estudo Um local neutro e com poderoso si exaustivo destas fossas e seu material ainda nao foi realizado, sendo impor­ que integravam aquele "povo" se tante verificar se correspondem a fossas dedriticas e a sua cronologia exacta. comuns, discutir assuntos de inte l Caso sejam pre-romanas poderiam integrar constru<;:oes precarias, possiveis acertar liga<;:oes matrimoniais, ne~ estruturas temporarias de abrigo, nos momentos em que se realizavam as artefactos em bronze; bens exotic( cerimonias rituais inter-comunitarias ou mercados. Outra hipotese em aberto: ter side edificado um templo, cujl

o de assinalarem locais de banquetes rituais . descobertos, mais tarde, ou mais I

Ha outras covas do mesmo genero, embora mais tardias, pois alem da olaria A Fonte do idolo, os banhos proto-~ castreja tambem ocorrem ceramicas italicas, pelo que Rui Morais (2005) as nados bem outras estruturas que ur relaciona com 0 contexto fundacional de Bracara Augusta. Alias, de passagem, o ordenamento de um complexo IL registamos que nesta mesma fase (finais do sec. I a.C./primordios do sec. I d.C.) qui<;:a, outros "povos" da Callaecia se regista 0 abandono de pequenos povoados como os castros de Sabroso e Lago, principiando assim 0 reordenamento territorial imposto pelo novo poder Por outro lade a existencia de um romano. no contexte da II Idade do Ferro, a~ Antes de Bracara Augusta 229

ma Alias e indispensavel diferenciar entre 0 horizonte a que corresponde 0 tempo ais que estamos a analisar, cujos parametros se situam entre 0 seculo II a.C. e lOS meados do I a.C., e uma fase posterior bem individualizada, tanto em Bracara, como noutros sitios, nas Citanias de S. Juliao (Martins, 1988a) ou de Briteiros (Lemos e Gon<;:alo no prelo) e que corresponde a epoca de Augusto, fase caracterizada pela ocorrencia de ceramicas importadas (produ<;:6es italicas) e, 5): correlativamente, de tradi<;:ao indigena. Este horizonte corresponde ao contexto na fundacional de Bracara Augusta, no momento em que se estava a edificar a ,es nova urbe. Nalguns aspectos filia-se no primeiro (ceramicas indigenas, por de exemplo, ou determinadas epigrafes votivas), mas sao dois momentos distintos la, que importa nao confundir. ta, )u na

~m as onslderayoes finalS m

e Com base em todos estes dados entendemos que 0 sitio onde mais tarde foi or edificada Bracara Augusta foi, inicialmente, um espa<;:o comunitario dos Bracari. 10 Um local neutro e com poderoso significado simb6lico, onde as comunidades que integravam aquele "povo" se reuniam para celebrar 0 culto de deuses comuns, discutir assuntos de interesse mutuo, estabelecer acordos de paz, acertar liga<;:6es matrimoniais, negociar mercadorias (olaria; vasos e outros artefactos em bronze; bens ex6ticos). No ponto mais alto dessa colina podera ter side edificado um templo, cujos alicerces, estamos convencidos, serao descobertos, mais tarde, ou mais cedo.

A Fonte do jdolo, os banhos proto-hist6ricos da ECF, os achados supramencio­ nados bem outras estruturas que um dia hao de ser desvendadas, completavam a ordenamento de um complexo lugar, uma plataforma que unia os Bracari e, qui<;:a, outros "povos" da Cal/aecia meridional.

Por outro lado a existencia de um lugar polissemico como a colina de Braga, no contexto da II Idade do Ferro, assim como outros locais que tem side classi­ 230 Francisco Sande Lemos

ficados como santw3rios, mas que provavelmente, possuiam um significado endemico como se pretende (Queil mais amplo, como lugares neutros e de paz, talvez permita esclarecer um confronto e rivalidades (Lemos e ~ paradigma que persiste, apesar das acutilantes duvidas levantadas (Martins, Noroeste tem sido um tema em v 1996). De um modo geral os estudiosos da chamada Cultura Castreja consi­ crescente onda de conflitos que at deram como um dado adquirido que os castros se agrupavam em unidades a Europa. Diversos textos (Gonzali etnicas que os romanos designaram por populi. Para diversos autores os contribuido nao s6 para esclarece ~ populi do Noroeste teriam origem em movimentos ou "vag as" de povos celtas, incidencias socia is.

enquanto outros preferem falar de migra~6es de indo-europeus (Silva, 1986). No contexto da incursao de Deci. Finalmente ha quem considere que estas entidades sao 0 resultado de uma como 0 nucleo central de resiste etnogenese regional, que se desenvolveu ao longo do I Milenio (Martins, 1990; lideran~a, capacidade de articula~ 1 Pefia Santos e Vazquez Varela, 1996). De facto as evidencias concretas de fortificados). 0 combate com as leg movimentos populacionais sao escassas e pouco se sabe sobre os eventuais Existiam, provavelmente, oulros cc grupos etnicos do Noroeste Peninsular, apesar de haver quem use a palavra inter-comunita rios. tribos, 0 que nao tem qualquer sentido. Lugares neutros como a Colina dE Nao se conhece, por exemplo, 0 significado exacto da palavra Bracari. Alguns "stress" de conflitualidade entre (Lujan Martinez, 2006) admitem que teria origem celtica. Todavia , mesmo o~ populi que tinham fronteiras com c supondo que Bracarus e Bracari, sejam palavras de radical celtico, dai nao se pode deduzir que os Bracari seriam um povo, uma entidade etnica, com uma hip6tese de um espa~o neutro, previl matriz cultural e genetica homogenea. Quando muito e possivel admitir que mais poderosas dos diversos castl um determinado grupo de ca stella, ou seja castros que formavam entidades Bracari Seria 0 caso dos Camali territoriais bem defenidas, se identificavam numa organiza~ao de nivel superior, Deve-se mesmo suscitar uma hil mais tarde designada pelos romanos como populus, um termo muito vago. forma<;ao das supostas entidades Que tipo de vinculos ligavam entre si os castella que formavam um populus, nos textos latinos sao designados e algo que se desconhece. As hip6teses sao varias: la~os de vizinhan~a ; como povoados sera porventura sofisticadas rela~6es de parentesco; pactos de casamento entre linhagens de coopera<;ao e paz. dos santu ; dominantes; ascendentes comuns, concretos ou simb6licos; mecanismos trofes. da organiza<;ao territorial ( de poder padronizados. Por outro lado, um castellum poderia equivaler a um de conflito e modelos de guerra. E unico castro, ou a varios, dependentes de um povoado mais importante. Por de Portugal, tem sido desenvolvi( exemplo, os habitantes da Citania de Briteiros, Castro de Sabroso e Castro de (Lemos e Cruz 2006; Lemos et al. Santa Iria talvez formassem um unico castellum (Lemos et al., 2007). Contudo tram em prepara~ao 1. mesmo esta ultima designa~ao, embora adoptada pelos aut6ctones no seculo I d.C. na epigrafia funeraria, e romana, desconhecendocse 0 modo como as Por outro lado, na escolha do locu: comunidades proto-hist6ricas se identificavam a si pr6prias. da colina ter sido um espa~o cor ter sido decisiva, pois ju ntava-se Por outro lade 0 facto dos povoados, mesmo 0 mais pequenos, serem defendido geo-estrategico do sitio. Num pc por fortifica~6es, mais ou menos complexas, nao implica um estado de guerra Antes de Bracara Augusta 231

endemico como se pretende (Queiroga, 1992), somente assinala situac;:oes de confronto e rivalidades (Lemos e Cruz, 2006). A guerra na Proto-Hist6ria do Noroeste tem side um tema em voga , ultimamente, coincidindo alias com a crescente onda de conflitos que abalam zonas especificas do globo, incluindo a Europa . Diversos textos (Gonzalez Garcia, 2006 e 2008; Sastre, 2008) tem contribuido nao s6 para esclarecer a complexidade da tematica como as suas incidencias socia is.

No contexto da incursao de Decimus lunus Brutus os Bracari destacam-se como 0 nucleo central de resistencia ao avanc;:o romano, 0 que pressupoe lideranc;:a , capacidade de articulac;:ao de recursos e pontos de apoio (povoados fortificados). 0 combate com as legioes corresponde a um nivel belico superior. Existiam, provavelmente, outros conflitos menores, mais ou menos frequentes, inter-comunita rios.

Lugares neutros como a Colina de Braga, teriam, pois, a func;:ao de atenuar 0 "stress" de conflitualidade entre os diferentes ca stella e mesmo entre diversos populi que tinham fronteiras com os Bracari. Por outr~ lado, deve colocar-se a hip6tesede um espac;:o neutro, previligiado como aquele, sertutelado pelas familias mais poderosas dos diversos castros que se reconheciam como integrando os Bracari. Seria 0 caso dos Camali e outras familias cujo nome ignoramos.

Oeve-se mesmo suscitar uma hip6tese mais arrojada: para compreender a formaQao das supostas entidades etnicas da Idade do Ferro do Noroeste, que nos textos latinos sao designados como populi, mais que a analise dos castros como povoados sera porventura decisivo 0 estudo aprofundado dos lugares de cooperaQao e paz, dos santuarios de congregaQao, de montanha e lim i­ trofes, da organizaQao territorial (ao nivel da macro-escala), dos mecanismos de conflito e modelos de guerra. Esta linha de investigac;:ao, aplicada ao Norte de Portugal , tem sido desenvolvida em recentes trabalhos que apresentamos (Lemos e Cruz 2006; Lemos et al., 2007; Lemos et al., 2008) ou que se encon­ 7 tram em preparac;:a0 ,

Poroutro lado, na escolha do locus para fundar Bracara Augusta a circunstancia da colina ter sido um espac;:o com as caracteristicas que enunciamos pod era ter sido decisiva, po is juntava-se ao valor comunitario e sagrado, 0 interesse geo-estrategico do sitio. Num patamar superior ao das divindades indigenas 232 Francisco Sande Lemos

vai erguer-se 0 culto ao Imperador, no Forum da nova cidade. Imperador como Alfbldy considerou-a como um te ~ garante nao s6 da continuidade da re ligiao e cultura indigenas mas tambem dedicado a Augusto. Nao deixa d de um novo tempo, de paz e prosperidade. Em trabalho recente, Rui Morais onde nascia a ribeira que abastec i

(2008) propos um rosto feminino como imagem tutelar da cidade, que seria 0 neste ponto, de elevado simboli~ da deusa Fortuna. 0 que de certo modo se conjuga com a monumentalizaC;;ao Augusta, 0 monumento a August da Fonte do idolo, santuario dominado por uma deusa, representada com uma deste templo os banhos sao abar cornuc6pia. Por outras palavras a "imagem" romana da cidade, legitima-se no anterior culto adivindade tutelar feminina da "Colina Sagrada". Pelo contra rio a Seja como for, em nosso entende divindade masculina, representada na estatua sedente, embora nao tenha side tuto a um lugar anteriormente oc destruida, foi removida do que supomos ter sido 0 local onde estaria um templo, ultima instancia marca 0 projecto sendo guardada numa insula periferica. Tera havido a exclusao da divindade lugar cuja func;;ao anterior tinha s masculina, por ser conflituante com 0 culto imperial, centrado no Forum? o estudo mais exaustivo do con i Por outro lado a ocupac;;ao pre-romana do colina, podera explicar a conhe­ (2005) e das primeiras iniciativas cida inscric;;ao conservada na Se de Braga: CONDITIVM SVB [divo ex iussu] tira esclarecer, no futuro, muita~ IMP(eratoris) CAESARIS [Augusti divi f(ilii)] / PATRIS PATRI[ae pontif(icis) pre-romana da colina e area adj i max(imi)] , (fig. 14). Esta epigrafe talvez nao se relacione com a necessidade vastas areas por escavar, as quai ~ de anular a profanac;; ao do solo da urbe conforme sugeriram Santiago Mon­ foi a descoberta dos banhos cas tero e Sabino Perea (1996). Segundo estes auto res, trata-se de um bidental, favoravel para as pr6ximas deca l assinalando a refundaC;;ao da cidade devido a queda de um raio (fulmen rega­ le) . Conforme refere Rui Morais (2005), numa visita a cidade de Braga Geza

Notas

1 Dados ineditos (Relatorios dos Traba da UAUM e do IGESPAR)

2 Sobre a evolur,;ao das interpretat;:6e; Lemos 2005; Elena Garrido et al. , 200

3 De acordo com os dados mais recent , Rua Frei Caetano Brandao.

, Provavelmente este nivel suportava I

5 Foram re colhidos para futuras analls.

Ii Actualmente fazem parte das colecl exposir,;ao permanente, on de se poder

, Produzidos no contexte de uma refle Fig. 14 - Inscrir,;ao do Imperador Au gusto (Cated ral de Braga, lado Norte). (Arquivo MODS) Fonte, Joana Valdez e Carla Braz Mar Antes de Bracara Augusta 233

Alfoldy considerou-a como um testemunho da construyao de um monumento dedicado a Augusto. Nao deixa de ser curioso que a inscriyao esteja no local onde nascia a ribeira que abastecia os banhos castrejos. Nao tera sido erguido neste ponto, de elevado simbolismo, e no contexto fundacional de Bracara Augusta , 0 monumento a Augusto que G. AlfOdy sugeriu? Com a edificayao deste templo os banhos sao abandonados.

Seja como for, em nosso entender, a epigrafe "purifica", confere um novo esta­ tuto a um lugar anteriormente ocupado, mesmo sem ter sido um castro. Em ultima insUincia marca 0 projecto de estabelecer um aglomerado urbano num lugar cuja funyao anterior tinha sido outra.

o estudo mais exaustivo do contexto fundacional, ja iniciado por Rui Morais (2005) e das primeiras iniciativas de urbanizayao de Bracara Augusta permi­ tira esclarecer, no futuro, muitas duvidas que persistem sobre a ocupayao pre-romana da colina e area adjacente. Felizmente conservam-se em Braga vastas areas por escavar, as quais podem revelar surpresas inesperadas como foi a descoberta dos banhos castrejos no inicio do seculo XXI, um prenuncio favoravel para as pr6ximas decadas.

r otas

, Dados ineditos (Relatorios dos Trabalhos Arqueologicos na Quinta do Fujacal), (Arquivos da UAUM e do IGESPAR).

2 Sobre a evoluyao das interpretayoes arqueologicas e epigraficas de Fonte do idolo ver: Lemos 2005; Elena Garrido et al., 2008.

J De acordo com os dados mais recentes a Porta Norte de Bracara Augusta ficava na actual Rua Frei Caetano Brandao.

, Provavelmente este nivel suportava tabuas de madeira.

5 Foram recolhidos para futuras analises os sedimentos. fi Actualmente fazem parte das colecyoes do Museu de D. Diogo de Sousa, integrando a exposiyao permanente, onde se podem observar.

I Produzidos no contexto de uma reflexao conjunta em que colaboram Gonyalo Cruz, Joao Fonte , Joana Valdez e Carla Braz Martins. 234 Francisco Sande Lemos

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