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A PALAVRA ESTÁ COM ELAS diálogos sobre a inserção da mulher nas artes visuais Lilian Maus (organizadora) Isabel Waquil (entrevistas) Panorama Crítico 1º Edição Porto Alegre | 2014 Organizador: Lilian Maus Autor: Isabel Waquil (entrevistas), Lilian Maus (introdução) A palavra está com elas: diálogos sobre a inserção da mulher nas artes visuais | The Ladies Have the Floor: dialogues on the inclusion of women in visual arts Dados para catalogação P154 A palavra está com elas: diálogos sobre a inserção da mulher nas artes visuais / Lilian Maus, (org.); entrevistas por Isabel Waquil; tradução de Jéssica Preuss; Letícia Arais Lopes, (projeto gráfico) e Fabiana Faleiros, (ilustração) e foto de capa de Fábio Del Re, obra “Cabeças de Boneca”, de Lia Menna Barreto. Porto Alegre: Panorama Crítico, 2014. 214 p. il. ISBN 978-85-63870-13-1 Edição bilíngue português/inglês de entrevistas com: Lia Menna Barreto, Maria Helena Bernardes, Fabiana Faleiros, Bruna Fetter, Francisca Caporali, Cristiana Tejo, Beatriz Lemos, Samantha Moreira, Vera Chaves Barcellos e Glória Ferreira. 1. Arte contemporânea - Brasil. 2. Artes visuais. 3. Estudos de gênero. 4. Arte – Mulher. 5. Coletânea de entrevistas. I. Maus, Lilian. II. Waquil, Isabel. III. Faleiros, Fabiana. IV. Preuss, Jéssica. V. Lopes, Letícia Arais. VI. Del Re, Fábio. CDU: 7.039:396 _____________________________________________________________________ Bibliotecária Denise Selbach Machado – CRB 10/720 1ª Edição Porto Alegre | RS Editora Panorama Crítico 2014 Tiragem: 1000 exemplares Distribuição gratuita. Venda Proibida. Sumário | Summary Introdução | Introduction................................................ 5 1 Lia Menna Barreto........................................... 11 2 Maria Helena Bernardes................................... 25 3 Fabiana Faleiros.............................................. 41 4 Bruna Fetter.................................................... 55 5 Francisca Caporali........................................... 69 6 Cristiana Tejo................................................... 85 7 Beatriz Lemos................................................. 101 8 Vera Chaves Barcellos...................................... 113 9 Samantha Moreira........................................... 127 10 Glória Ferreira................................................. 135 Sobre as entrevistadas | About the interviewees................. 146 English version............................................................ 149 Introdução por Lilian Maus Este livro integra um conjunto de arquivos produzidos pelo projeto Atelier como espaço de conversa. A proposta, contemplada pelo Prêmio Funarte Mulheres nas Artes Visuais 2013, é a de gerar múltiplas interfaces1 para fomentar a discussão sobre o lugar ocupado pela mulher no circuito de artes visuais contemporâneo, em especial, no brasileiro. Com as entrevistas aqui reunidas, elaboradas por Isabel Waquil, pretendemos difundir a fala em primeira pessoa de mulheres que exercem diversas funções no meio artístico do país, gerando fonte primária para novas pesquisas. Compilamos relatos que trazem uma pluralidade de visões sobre o sistema, resgatando experiências pessoais e coletivas que atravessam o cotidiano de artistas, curadores, críticos, gestores, mas, também, mulheres. 8`dgfikeZ`X[\jjX`e`Z`Xk`mX[\Zfii\[X\jZXjj\q[\\dgi\`kX[Xj_`jkfi`f^i}ÔZXj que levantem discussões sobre a inserção da mulher na arte contemporânea, embora seja crescente no país o volume de mapeamentos e de publicações que abarquem relatos de agentes do campo das artes. Nosso principal objetivo é a formação e o compartilha- d\ekf[\ldXihl`mfhl\Xdgc`Ôhl\Xj]XcXj[\[\qdlc_\i\jXklXek\j\d[`]\i\ek\j gifÔjj\jefZ`iZl`kf[\Xik\jm`jlX`jYiXj`c\`if% Buscamos propiciar tanto a troca de conhecimento intergeracional – já que partici- pam do livro mulheres de distintas gerações –, como o debate sobre as implicações do feminismo na arte contemporânea, questionando de que forma essa herança nos estaria afetando hoje. Nesse contexto, será que ainda haveria uma diferença tão marcada entre ser artista e ser artista mulher? A mesma questão é estendida ao campo da curadoria, da história, da crítica de arte e da gestão cultural. Mas como falar, após 65 anos da pu- blicação de O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, na categoria “mulher” sem abarcar 1 Além do livro, integram o projeto a exposição Obscenidades para donas de casa – um diálogo entre as obras das artistas Cláudia Barbisan e Amélia Brandelli, com minha curadoria; o desenvolvimento de uma oficina sobre as estratégias de atuação em curadoria no circuito de arte contemporânea, com Beatriz Lemos; e o evento de lançamento da publicação, com a presença de algumas das entrevistadas para discutir a temática desde dentro de uma instalação, criada especialmente para a ocasião por Olga Robayo, artista/gestora do espaço independente El Parche Artist Residency, e com a apresentação de uma performance da artista Fabiana Faleiros. Os eventos ocorrem em Porto Alegre, no Atelier Subterrânea (www.subterranea.art.br). Introdução | 5 a complexidade dos conceitos de gênero? <jj\[\jXÔfZfd\fl[\j[\fgi`d\`ifdfd\ekf[Xj\c\f[Xj\eki\m`jkX[Xj#gfi entendermos que a experiência feminina abrange um campo maior do que aquele cir- cunscrito ao sexo biológico da mulher – sobre o qual estava alicerçado o próprio edital que viabilizou o projeto. Virginia Woolf, ao indagar-se “o que é uma mulher?” segue a i\Õ\ofi\jgfe[\e[f1È<lc_\jXjj\^lif#\lefj\`%EfXZi\[`kfhl\mfZjjX`YXd% Não acredito que alguém possa saber até que ela tenha se expressado em todas as artes \gifÔjj\jXY\ikXj~_XY`c`[X[\_ldXeX%É2 Ao retomar a mesma pergunta, por sua vez, a teórica Toril Moi, em Sex, Gender and the body 3#Xi^ld\ekXhl\gXiXkXc[\Ôe`f[f termo “mulher” é importante ter em mente que os critérios do discurso são relativos, ou seja, dependem de quem está falando, para quem, sobre o que falam e em que situa- f%8XlkfiX#ldgXjjf~]i\ek\#cXeX$efjXg\i^lekX1È8dlc_\ij\dgi\]XcXZfdf mulher?”4 . J\^l`e[fkX`ji\Õ\o\j#gifZliXdfj`ejk`^Xif[\YXk\jfYi\XjYXj\j`[\ek`k}i`Xj[\ gênero, calcadas, muitas vezes, em operações binárias – gênero/sexo, homem/mulher, sujeito/outro – que vêm sendo alvo de crítica pelos discursos pós-feministas. Nesse con- texto, vale frisar a abordagem de Judith Butler, no ensaio Performative Acts and Gender Constitution, no qual a autora conceitua “gênero” como uma identidade construída na repetição estilizada de atos em “performatividade”. Para a teórica, a linguagem é tomada ZfdfZXdgf[\Xf#fe[\Xj[\Ôe`\jjfZ`iZlejkXeZ`X`j#ef_Xm\e[fdX`jXe\Z\j- j`[X[\[fY`ed`fgXiXZcXjj`ÔZXf[\^e\if%<jj\g\ejXd\ekfgf[\j\im`jkfkXdYd Zfdfldi\j^Xk\[XZc\Yi\]iXj\1ÈEfj\eXjZ\dlc_\i#kfieX$j\ldXÉ#[\9\Xlmf`i% Ainda na linha da teoria queer, destacamos o trabalho da artista Beatriz Preciado, com seu Manifesto Contra-sexual, no qual são descritas práticas biopolíticas contra o re- ^`d\_\k\ifjj\olXc#XgXik`i[\[\ZcXiX\jhl\m`jXd~XelcXf[fc`d`k\\eki\^e\- ros, tanto no discurso como no corpo, através da tecnologia. Assim, a artista propõe um corpo cibernético, em que a ideia de prótese retira a sexualidade das amarras vinculadas ~je\Z\jj`[X[\jfi^e`ZXj[\gif[lfj\olXc% Nesse sentido, após a emergência de termos como “transgênero”, a própria categoria “mulher” pode nos soar limitada; por outro lado, as estatísticas seguem apontando que _}ldX[`]\i\eXj`^e`ÔZXk`mX\eki\_fd\ej\dlc_\i\jefhl\[`qi\jg\`kf~jgfj`\j que ocupam no sistema de artes. Embora essa discrepância tenha se tornado menos 2 WOOLF, Virginia. Profissões para mulheres e outros artigos feministas. Porto Alegre: L&PM, 2012, p. 14. 3 Cf. MOI, Toril. Sex, Gender, and the body. New York: Oxford University Press, 2005, p. X. Nas palavras da autora: “‘It depends.’ The criteria that make us count a person as a woman depend on who is speaking, to whom they are speaking, what they are talking about, in what situation they find themselves.” Ibidem 4 Ibidem. “Do women always speak as women?” 6 | A palavra está com elas acentuada a partir de meados do século XX, será que expor artistas, independentemente do gênero, ainda é diferente de expor obras de artistas mulheres? No artigo A difícil arte de expor mulheres artistas 5 , a socióloga Ana Paula Cavalcanti Simioni desenvolve a questão, tendo como estudo de caso a exposição Elles (2009), realizada no Centre Georges Pompidou, que reuniu o impactante número de 200 artistas mulheres e mais de 500 obras. A mostra itinerou para o Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, em 2013, fomentando no país novos debates sobre a situação da mulher no circuito de artes visuais e fazendo-nos questionar o lugar da “arte feminina” e das abordagens sexistas relacionadas ao tema. Embora fundada em uma noção de cunho biológico, a proposta da exposição dá espaço a obras bastante heterogêneas entre si, que ultrapassam estereótipos, num contexto em que ainda se está a escrever a história da arte pelas mulheres. Vale lembrar que, se retrocedermos ao contexto da Academia Impe- i`Xc[\9\cXj8ik\j[fI`f[\AXe\`if#\dÔej[fjZlcfO@O#\cXjX`e[X]Xq`XdgXik\[Xj \ogfj`\j`[\ek`ÔZX[XjZfdfÈXdX[fiXjÉ6 , apesar da participação ativa e do reconhe- cimento que Anita Malfatti e Tarsila do Amaral teriam a seguir no modernismo brasileiro. 8`e[X _fa\# Zfdf efj [\ÕX^iX f kiXYXc_f [f Zfc\k`mf >l\ii`ccX >`icj# _} Zfe[lkXj misóginas na política de constituição de acervo dos museus. No famoso cartaz em que utilizam a imagem de A Grande Odalisca, de Ingres, com a cabeça de um gorila, lemos a j\^l`ek\]iXj\1È8jdlc_\i\jgi\Z`jXd\jkXielXjgXiX\ekiXiefD\kifgfc`kXeDlj\ld6 Menos de 5% dos artistas nas seções de arte moderna