Publicação Enigmas – Lâminas
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Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica 07 de março a 23 de maio de 2015 Rio de Janeiro | RJ Catalogação na Fonte E58 Enigmas : uma exposição de Vera Chaves Barcellos = An exhibition of Vera Chaves Barcellos / Fundação Vera Chaves Barcellos. – Rio de Janeiro : Fundação Vera Chaves Barcellos, 2015. 20 p. : il. Edição Bilíngue ISBN: 978-85-64269-09-5 Evento no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica de 07 de março a 23 de maio de 2015. 1. Mostra Fotográfica. 2. Artes. 4. Fotografia. I. An exhibition of Vera Chaves Barcellos. II. Fundação Vera Chaves Barcellos. CDD 770 Bibliotecária Responsável Ginamara Lima Jacques Pinto CRB 10/1204 * Distribuição gratuita, proibida a venda. A partir de uma série de elementos visuais que nos também à esfera do conhecimento acumulado ao fornecem pistas sobre as questões ontológicas que longo da história –, é a imagem de uma primata, jamais deixaram de despertar a curiosidade do vestindo véu e grinalda, que sintetiza a condição homem, e fazer avançar o conhecimento científico, humana. Somos os mesmos, mas também somos o Vera Chaves Barcellos (VCB) investiga a natureza outro. humana e, por consequência, a origem da vida. A relação com a alteridade segue profundamente Construída como uma espécie de laboratório, esta mal resolvida em nossa espécie, em que pese nosso instalação composta por imagens, fósseis, pedaços de esforço coletivo para superar querelas filosóficas e pele e caixas de sal, lança o público em um universo científicas quanto à essência humana, quanto às tão familiar quanto intrigante, confrontando-o com o faculdades humanistas e quanto a esta centelha desconhecido, mas também com o reconhecível. criativa, por nós tão celebrada, que nos distingue no Fotografias de primatas contemplativos, aparen- cosmos de toda e qualquer forma de vida da qual se temente confortáveis em suas celas num zoológico, tem notícia. produzem um incômodo sentimento de empatia A imagem difusa da galáxia M100, registrada pelo com esta espécie ancestral tão semelhante à nossa a telescópio Hubble, e publicada pela Associated Press, ponto de recuperarmos, ainda que inadvertida- nos dá a dimensão do universo vis-à-vis à escala e à mente, a noção de sermos todos animais - muito estatura humanas. O céu seria o limite? Mas há limites embora sejamos dotados de uma inteligência rara e para a engenhosidade humana, tanto na ciência transcendente. A faculdade de pensar, que, em tese, quanto na ficção? Não seriam a vida e a própria ciência nos permitiria compreender a complexidade do formas de ficção? mundo e das coisas de maneira holística, aparta a Representamos o mundo e, apenas assim, dele humanidade dos demais seres vivos, gerando, entre depreendemos sentido. Somente deste modo fomos cultura e natureza, uma cisão entre cultura e capazes de articular a linguagem, ela própria um natureza absolutamente deletéria à manutenção da instrumento de limitado alcance face à complexidade vida neste planeta; cisão esta que consiste em uma de um universo que opera sobre bases de naturezas das principais questões a se impor à agenda tão diversas quanto complementares. Ora, se a contemporânea na era do antropoceno, quando o linguagem verbal ou escrita – fundada pela razão – se homem impacta o ecossistema de forma tão estrutura por meio de um código encarcerado em sua dramática ao ponto de rivalizar com as sucessivas dinâmica própria, quais as chances de compreender- mudanças de ordem natural e geológica ocorridas mos os fenômenos que escapam a esta lógica, ou que em nosso passado remoto. se dão de maneira intuitiva, sob o signo da diferença, Se a tipologia de peles de vison (caçados, abati- da experiência e da especulação sensível, não raro dos?) dispostas na parede concorre com os resíduos refratárias ao pensamento racional? de sal que formam um alfabeto grego nas caixas Em seu processo de criação intuitivo, VCB parece dispostas pelo chão – aludindo, assim, não só à ignorar a busca pela resposta última, pelo elo perdido, selvageria de nossa relação com o reino animal, mas assim descartando o evolucionismo, o misticismo e quaisquer dogmas para nos demandar, ontologica- original, destinada a repercutir na posteridade, mente, sempre a partir da linguagem, que coisa é essa engendrando os mesmos pensamentos que que chamamos arte? moveram a artista, no passado, a reunir fósseis, peles, imagens e textos.* *** Ao contrário, frustrando as expectativas de quem Thinking... busca respostas ou mesmo conhecimento sedimenta- As experience, it's on the fence between feeling and do, estanque, esta obra está, permanentemente, a knowing. promover novos agenciamentos, estimulando o As philosophical category, it's ontological and público a posicionar-se ética, física e afetivamente no epistemological. torvelinho de experiências passadas e presentes, As goal-oriented thing, it's practical and theoretical. recombinando ideias e, possivelmente, estruturando As time, it's a flash and slow sedimentation. futuras redes de conhecimento a partir de uma matriz As a concern, it happens between Object and Subject. em perpétua mutação (desde que sempre acionada 2-for-1. pelo pensamento). *** O ato de pensar, aqui, funciona como ação, como Pensar... confronto entre o sujeito e o objeto, entre a experiên- Como experiência, está na divisa entre sentir e saber. cia concreta e a imaterialidade da razão. Já o Como categoria filosófica, é ontológico e pensamento articulado no pretérito – aquele que epistemológico. fora constituído a partir de experiências anteriores –, Como algo orientado a um propósito, é prático e é serve tão somente ao propósito de catalizar novas teórico. ideias e informações, as quais sempre emergem Como tempo, é lampejo e lenta sedimentação. quando estamos diante de renovado contexto ou Como preocupação, acontece entre o Objeto e o circunstância. Sujeito. Enigmas demanda crítica e torna o ato de pensar 2 para 1. um instrumento para a formulação de novos cenários Thinking About It. DEMEUSE, Sarah, MOSCOSO, semânticos e afetivos. Ao desafiar nossas percepções Manuela. Ed. Rivet. Archive News, 2014. da história, da ciência e mesmo da arte, a obra nos leva a superar antigos dogmas, transformando nosso *** pensamento à medida que nos deslocamos no Em Enigmas, VCB distribui pela galeria diversos tempo e no espaço. elementos visuais, vestígios do mundo – muitos deles, em sua origem, tão somente objetos, não Bernardo José de Souza propriamente arte, ainda... –, os quais, em seu Curador conjunto, ao coabitarem o mesmo tempo e espaço, * Esta instalação foi exibida pela primeira vez em 1996. ativam-se mutuamente mediante a agência do E, nesta nova montagem (2015), a artista decidiu pensamento humano. Não se trata aqui de apresentar incorporar um novo elemento à obra: fósseis de uma obra de arte acabada, encerrada em seu sentido animais aquáticos. From a series of visual elements that provide us with female primate wearing a bridal headpiece that clues to ontological questions which have never ceased summarizes human condition. We are the same, but we to arouse human curiosity and impel scientific are also the other. knowledge, Vera Chaves Barcellos investigates human The relationship with otherness remains deeply nature and, therefore, the origins of life. Built as a sort of unresolved within our species, despite our collective laboratory, this installation composed of images, fossils, efforts to overcome scientific and philosophic quarrels pieces of skin and salt boxes draws the audience into a about human essence, human faculties, and also about universe both familiar and intriguing, confronting us this much vaunted creative spark, which distinguishes with the unknown, but also with the recognizable. us, within the Cosmos, from all known life forms. Photographs of contemplative primates, apparently The blurred image of the M100 Galaxy, captured by at ease inside their cages at the Zoo, create an uncom- the Hubble Telescope, and published by Associated fortable feeling of empathy with this ancient species, Press, allow us to see, vis-à-vis, not only the extent of the whose similarity to ours makes us regain, albeit Universe, but also the scale and status of mankind. Is the inadvertently, the notion of ourselves as animals – sky the limit? Are there limits to human ingenuity, in gifted, nonetheless, with rare and transcendent science as well as in fiction? Can it be that science itself, intelligence. However, the faculty of thought which, and life, are types of fiction? theoretically, allows us to understand the complexity of We represent the world and, only in this way, we can the world and things in a holistic manner, separates surmise its meaning. Only in this way we have been humankind from the rest of the living beings, creating a capable of articulating language, itself an instrument of gap between culture and nature that is entirely harmful limited scope in the face of a complex Universe which to the maintenance of life; this separation is one of the works based on principles as diverse as they are main issues to be included in the contemporary agenda complementary. Now, if language – be it oral or written in this Anthropocenic era, when mankind impacts the – founded on reason – builds itself by means of a code ecosystem in such a dramatic way, to the point of imprisoned in its own dynamics, what are the odds that rivaling the continuous climatic and geological changes we will be capable of understanding the phenomena of our distant past. which elude that order, or occur intuitively, under the If the typology of the mink furs (hunted, slaugh- sign