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APRESENTAÇÃO

LILIA M. SCHWARCZ e MARIANA MENDES

Em 1999, quando criamos o primeiro Caderno de Leituras dedicado aos livros do catálogo Companhia das Letrinhas, nos surpreendemos com a rapi- dez com que ele foi acolhido pelos educadores do país. O material reunia artigos sobre diversos temas relacionados ao aproveitamento da produção literária no processo educativo, tendo como ponto de partida o vasto catálo- go de literatura infantojuvenil da editora. Na ocasião, recebemos pedidos de todo o Brasil para que fossem enviados exemplares em quantidade para se- cretarias de educação, salas de leituras, órgãos governamentais, em geral, além da ótima acolhida por parte da rede privada de ensino. Ficamos felizes ao notar que a publicação, apesar de não ser essa a sua intenção, havia ga- nhado ares de livro de formação. Em 2002, passamos a publicar toda a obra do Erico Verissimo e, como reconhecimento à importância do autor para a nossa literatura, dedicamos um Caderno de Leituras exclusivamente à sua obra. Assim surgiu o primeiro Caderno de Leituras destinado a um autor em especial. Vieram na sequência Caderno de Leituras , (dois volumes, um mais dedicado a temas sociais, outro mais à literatura, propriamente dita), e Carlos Drummond de Andrade. Os Cadernos de Leituras de Jorge Amado, Vinicius de Moraes e Carlos Drummond de An- drade deram suporte para um trabalho especial, voltado para a formação de professores em todo o Brasil, em parceria com diferentes Secretarias Esta- duais. A importância desses projetos inaugurou um novo departamento, de- pois incorporado ao departamento de educação, que chamamos de Núcleo de incentivo à leitura. Na busca constante pela transformação e confiantes de que mudanças são proveitosas e fundamentais para repensarmos nossas práticas, quisemos ofe-

APRESENTAÇÃO • 9 recer, dentro do formato já consagrado do Caderno de Leituras, uma nova edição. Assim surgiu o Caderno de Leituras Clássicos Brasileiros.

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O que é um clássico? A pergunta nos faz lembrar Italo Calvino, um dos mais importantes escritores italianos do século xx, autor de catorze máximas, enxutas mas ao mesmo tempo fundamentais, que ajudam a pensar sobre o tema: o que faz de um clássico um clássico. Por sinal, para quem não conhece, vale o passeio por essa obra fundamental, nesses tempos em que tudo parece mudar tão rápido: Por que ler os clássicos (, 2002). Tomamos de empréstimo duas de suas formulações:

2. Dizem-se clássicos aqueles livros que constituem uma riqueza para quem os tenha lido e amado; mas constituem uma riqueza não menor para quem se reserva a sorte de lê-los pela primeira vez nas melhores condições para apreciá-los. [...] 9. Os clássicos são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir di- zer, quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos.

Partindo da ideia de que um autor clássico é aquele que precisamos ler para constituir nossa formação como seres humanos, selecionamos esses “nossos clássicos”. Afinal, clássicos são os livros que nos põem em contato com modelos, valores, conceitos que plantam uma semente que será revisita- da sempre que estivermos refletindo e assim reelaborando a compreensão de nossas vidas e experiências no mundo. Foi privilegiando essas noções que fizemos um recorte cronológico de doze autores brasileiros que possuem edições em nosso catálogo e são funda- mentais para leitores jovens, adultos, mas, principalmente, apresentam-se como obras importantes de referência no nosso processo educativo. Os capí- tulos dedicados a padre Antônio Vieira, Gregório de Matos, Tomás Antônio Gonzaga, , , José de Alencar, Qor- po-Santo, , , , e Lima Barreto foram escritos com o objetivo de examinar, com a atenção e a minúcia necessárias, obras importantes desses escritores, a fim de que eles, e seus livros, passem de clássicos distantes para companhias próximas — quase amigos íntimos — presentes em sua sala de aula.

10 • APRESENTAÇÃO PADRE ANTÔNIO VIEIRA: ENGENHO E ENGAJAMENTO • 11