Pedro Passos Coelho p.8 Francisco Pinto Balsemão p.3 “Os últimos anos Com os olhos postos foram um grande na Social-Democracia teste a todo o país” do Século 21

ANOS DE DEMOCRACIA

Edição Comemorativa, 4 de Dezembro de 2014 | Director: Miguel Santos | Periodicidade Semanal | Registo na ERC nº 105690 | Propriedade: PSD Sá Carneiro: exemplo e exigência para hoje e para amanhã Arquivo da social-democracia consagra transparência

No dia em que se assinala o 34º aniversário do falecimento de Francisco de Sá Carneiro, fundador e líder do Partido Popular Democrático / Partido Social Democrata, e Primeiro-Ministro de , o PSD vai inaugurar a 4 de Dezembro o Arquivo Fotográfico Digital, que ficará disponível na Internet a partir desta data.

O Arquivo do PSD tem como missão re- colher, tratar e preservar a documentação relativa à sua memória, organizando os diversos fundos documentais, bem como desenvolver produtos e serviços de infor- mação com o objectivo de satisfazer as necessidades dos investigadores internos e externos. A visão do Arquivo é implementar as melhores práticas de gestão documental integrada, num esforço de melhoria con- tínua, orientadas para os seus militantes e para o público em geral, com objetivos de eficácia e eficiência, com vista à satis- fação de todas as suas expectativas de qualidade. O Arquivo pretende, com a sua acção, contribuir para o desenvolvimento da investigação relativa à história e reali- dade dos arquivos políticos, e ambiciona ser uma referência para organizações da mesma natureza. O Arquivo Fotográfico Digital tem como principal finalidade recolher, salvaguar- dar e disponibilizar toda a informação documental iconográfica que constitui, ou que venha a constituir, património do Partido Social Democrata. Pretende-se dar a conhecer à sociedade portuguesa a memória fotográfica dos quase 40 anos de história.

são da informação à sua responsabilidade. mentação original, em suporte papel, 2014, a recolha, estudo, organização, tra- pela diminuição do manuseio; tamento, preservação, acondicionamento A fotografia, um dos mais procurados e o início da digitalização e difusão, dos documentos de arquivo nos últimos 20 l Cópia dos documentos, garantindo a diferentes processos fotográficos, num anos, deixou definitivamente de ser um sua segurança e conservação, mesmo total de 2000 documentos (400 analó- mero instrumento ilustrativo de pesquisa em cenários de cataclismos naturais gicos e 1600 digitais), no Arquivo do para assumir a condição plena de fonte in- como incêndios e cheias; Partido Social Democrata, na sua sede, dispensável na produção do conhecimento e no respetivo sítio web, de acordo com sobre determinados períodos da história, l Arquivo em formato electrónico com as normas portuguesas e internacionais acontecimentos e grupos sociais. baixos custos de duplicação, manuten- de descrição arquivística emanadas pelo ção e armazenamento. O reconhecimento desta importância é vi- Conselho Internacional de Arquivos. As sível pela utilização dos grandes meios de Este projecto, evolutivo e integrado, con- 2000 fotografias disponibilizadas presen- comunicação, como a televisão, os jornais templa, numa primeira fase, desenvolvida cialmente e on-line no sítio web do Partido e a Internet, de imagens históricas e de ar- entre 1 de Agosto e 4 de Dezembro de Social Democrata encontram-se, neste quivo, justificando a sua ampla divulgação momento, organizadas nos seguintes em catálogos e exposições. Nesse sentido, séries documentais: e como resultado da procura, cada vez l Conselhos Nacionais maior, pelos media e cidadãos comuns, destas coleções, é fundamental, mais l Congressos Nacionais do que nunca, a definição de padrões de qualidade na organização e conservação l Conferências de Imprensa Pelo pioneirismo e dimensão cronológica de fotografias em acervos institucionais e l Relações Institucionais dos objetivos, podemos afirmar que este na produção de instrumentos de pesquisa. projeto terá bastante visibilidade e procura, As vantagens da opção pela transferência l Eventos já que, pela primeira vez, um partido po- de suporte, e digitalização em particular, lítico português disponibilizará aos seus são inúmeras, explicando a sua larga di- l Acções de Formação militantes e a toda a sociedade uma parte fusão e sucesso mundial: substancial da sua memória histórica. l Visitas Oficias l Facilidade de utilização, rapidez na Os documentos de arquivo são testemu- l Campanhas Eleitorais pesquisa, acesso, partilha e difusão nhos claros e evidentes da vida das insti- da informação, independentemente da l Comícios tuições, através dos quais é possível com- hora e local, evitando o conflito entre preender a formação e desenvolvimento clientes internos e externos na consulta À medida que este projeto se desenvolver do seu funcionamento e dinâmicas, pelo da mesma; serão criados novos conjuntos, sendo que, que devem ser classificados, ordenados e por exemplo, já está prevista a criação da conservados com vista ao acesso e difu- l Possibilidade de manter intacta a docu- série “Personalidades”.

2 ANOS DE DEMOCRACIA Com os olhos postos na Social Democracia do Século 21

Francisco Pinto Balsemão

Quando o Presidente do Partido me con- vidou para presidir às comemorações dos 40 anos do PSD, aceitei, com muita honra, por duas razões: l Por entender que era meu dever acei- tar. Sou o militante nº 1, sou infeliz- mente o único fundador vivo dos três que, a 6 de maio de 1974, anunciaram ao país a criação do Partido Popular Democrático. Tinha e tenho, portanto, responsabilidades históricas, e não só, e não as enjeito. l A segunda razão está ligada ao cora- ção. Na política, não pode haver só cabeça. Não podem existir só justifica- ções demasiado racionais. Há também a razão do coração. Eu gosto do nosso partido! Eu gosto do PSD. Eu continuo a achar que o PSD é o mais português de todos os partidos portugueses.

Além disso, claro, continuo a entender que a opção pela Social Democracia é válida, é necessária, em plena 2ª década do século 21. *** As comemorações dos nossos 40 anos tiveram e terão sempre como primeira e grande referência a vida, a obra, as tinha a ver com o que então se chamava encontro de uma solução para a questão palavras e a ação de Francisco Sá Car- “Situação”, nem com o que então se neiro. Isso ficou bem claro na grande de Timor-Leste. As reformas fundamen- chamava Oposição. Recordámos também 40 anos depois, tais que introduzimos nas mais diversas comemoração de 6 de Maio passado, no os tempos difíceis da implantação do Porto, tem sido nítido nas diversas sessões áreas: no poder regional e no poder local, partido, em Portugal e junto das nossas prosseguimos na saúde e na educação, no exercício da realizadas em capitais de distrito e, em comunidades residentes no estrangeiro muitos casos espontaneamente, por todo liberdade de expressão e no ambiente. e já homenageámos e continuamos a o nosso caminho, Sem nunca esquecer a nossa presença o nosso País. E continuará a ser marcante e homenagear os militantes da primeira dominante até 6 de Maio de 2015. A partir constante no mundo sindical e no mundo hora – ainda temos, felizmente, 1400 com confiança estudantil. de 4 de Dezembro, circulará por todo o militantes que este ano cumprem 40 Portugal, uma exposição cujo título será: anos de partido. e com coragem. Tudo isso tem sido, e será, justificada- “Sá Carneiro: Por uma social-democracia mente, lembrado e relembrado. portuguesa”. Para isso, os critérios de convites foram o mais abrangentes possível. Ou seja: *** *** *** convidamos todos os que deram algo do Temos celebrado também o percurso Mas sempre com os olhos postos no pre- Decorridos 40 anos, homenageamos, seu esforço ao PSD, mesmo os que mais do PSD nestes 40 anos. A contribuição sente e no futuro, na social democracia do como é óbvio, o passado. Recordamos que tarde tenham optado pela desfiliação. notável que demos para a consolidação século 21, num país, que está felizmente muitos dos que estiveram na origem do Muitos vieram, e ficámos satisfeitos. Ou- e o funcionamento da democracia. A a sair do estado deplorável em que se nosso Partido já tinham atividade política tros preferiram não vir, e tivemos pena. influência grande que tivemos na adesão encontrava, mas onde ainda há muito corajosa e coerente antes do 25 de Abril Mas nunca faremos a História à maneira de Portugal à União Europeia, na normali- a fazer, em termos de justiça social, de e propuseram uma terceira via, que nada da Enciclopédia Soviética. zação das relações com as ex-colónias, no progresso, de abertura de horizontes para as gerações mais novas, de melhoria de condições para as gerações mais velhas. Os 40 anos do nosso PSD são um bom motivo para festejar. Mas são também uma excelente oportunidade para me- ditar. Para meditarmos na forma de alcançar – pela via social-democrata, os objectivos que Francisco Sá Carneiro definiu quando afirmou: “não queremos apenas uma democracia formal e políti- ca, queremos também uma democracia económica, social e cultural”. 40 anos depois, prosseguimos o nosso caminho, com confiança e com coragem. Hoje, como sempre, norteados pelos valores em que assenta o nosso ideário social democrata: a liberdade, a igualdade e a solidariedade.

3 40 Anos de Democracia, 40 Anos de PSD

O Partido Social Democrata tem vindo a comemorar o seu 40.º aniversário que coincide com o da Revolução de 25 de Abril. O ciclo de conferências “A Social-Democracia para o Século XXI” assinala os contributos variados que o Partido e o legado de Francisco Sá Carneiro deram a Portugal.

21, 22 e 23 de Fevereiro Congresso Nacional do PSD inicia ciclo de comemoração dos 40 anos

No 35º Congresso Nacional, o PSD iniciou as comemorações dos seus 40 anos em ligação com a História da Democracia em Portugal. Desde logo, pelo anúncio feito pelo Presidente do Partido, Pedro Passos Coelho, da escolha do militante nº1, Francisco Pinto Balsemão, para presidir à Comissão Coordenadora das Comemorações e à mensagem por este enviada ao Congresso em que salientou que “vamos celebrar e homenagear o passado mas, também, pensar a social-democracia para o século XXI”. Durante a reunião magna dos social-democratas, foram exibidos dois filmes, nas sessões de abertura e de encer- ramento do Congresso. O primeiro contou a história do combate da Ala Liberal pela democratização do País, e o envolvimento neste combate dos fundadores do Partido. O filme exibido no encerramento salientou o papel de liderança do PSD no esforço que está a ser feito para repor Portugal na senda do progresso, do desenvolvimento sustentável e do bem-estar dos portugueses. O Congresso constituiu ainda ocasião para apresentar uma “timeline” interactiva que conta a história que levou à fundação do Partido e os seus 40 anos de vida inseridos nos 40 anos da democracia portuguesa. Ainda no domínio das novas tecnologias foi desenvolvido um jogo interactivo, quiz, em que se pretendeu, de uma forma moderna e divertida testar os conhecimentos das pessoas interessadas, e foram muitas, sobre factos relevantes da vida do Partido.

11 de Março 16 de Março Conferência de imprensa Presidente do partido de apresentação pública em homenagem à Revolta

O PSD apresentou em conferência de das Caldas imprensa, realizada na sede nacional, a iniciativa “40 anos de democracia, 40 O arranque das comemorações dos 40 anos de PSD”, expondo todo um conjunto anos do 25 de Abril, organizadas pelo de iniciativas previstas até Maio de 2015 PSD, teve lugar no nas Caldas da Rainha, e onde se procurará reforçar os valores aproveitando-se para celebrar a revolta que estiveram na origem da fundação do de 16 de Março de 1974 que, embora não PPD/PSD. tenha tido sucesso, acabaria por antecipar “Há uma preocupação clara por parte da a revolução dos cravos. comissão organizadora em enfatizar, em A cerimónia decorreu no grande auditório reforçar os valores que estão na origem da do CCC e contou com a presença do presi- criação de um partido social-democrata”, dente do PSD e Primeiro-Ministro, Pedro afirmou na ocasião o fundador do partido Passos Coelho. O presidente da Câmara e militante número um do PSD, Francisco Municipal, Tinta Ferreira, começou por Pinto Balsemão. Sublinhando que esses realçar as palavras “inconformismo”, “coragem” e “ambição”, considerando ser valores são aqueles que os sociais-demo- comuns aos militares do 16 de Março, ao 25 de Abril e aos fundadores do PSD-PPD. cratas sempre defenderam - liberdade, igualdade e solidariedade - Francisco Pinto Balsemão notou, contudo, que não podem ser vistos isoladamente: “Não basta a Já Francisco Pinto Balsemão optou por enquadrar a homenagem aos revoltosos das liberdade, sem igualdade não há liberdade e sem solidariedade nem a liberdade nem Caldas da Rainha: “Entendemos que não devemos ignorar a revolta de 16 de Março, a igualdade funcionam”, frisou. porque faz parte integrante da nossa história e do 25 de Abril”, afirmou, elencando de seguida todo o conjunto de realizações económicas, sociais e políticas alcançadas O fundador do PSD anunciou ainda que ao longo de todo o ano e até 6 de maio de em Portugal. A finalizar, o fundador agradeceu aos generais Almeida Bruno e Manuel 2015 terá lugar um ciclo de conferências distritais, evocativas da história local do Monge, e aos coronéis Casanova Ferreira, Virgílio Varela e Armando Ramos, todos PSD e onde se promoverão várias reflexões sobre os desafios da social-democracia eles envolvidos na “revolta das Caldas” a sua presença no evento. O historiador Rui no século XXI. Ramos fez de seguida uma abordagem sobre as conexões entre o 16 de Março e o 25 Na mesma conferência de imprensa, o vice-presidente do PSD Marco António Costa de Abril, os seus mentores e intervenientes. sublinhou ainda que as comemorações são “ inclusivas” e para as quais “todos são A encerrar, Pedro Passos Coelho salientou que a História é o melhor pretexto para convidados sem exceção”. A comissão coordenadora das comemorações, que é pre- olhar o futuro. O Presidente do PSD afirmou ainda que, ao longo destes 40 anos de sidida por Francisco Pinto Balsemão, integra ainda Marco António Costa, José Matos democracia, as opções de cada um de nós que fizeram toda a diferença na construção Rosa, Carlos Coelho, Albino Soares, Luís Marques Mendes, Carlos Pimenta, Cândida da sociedade portuguesa, exortando a que todos se envolvam no processo democrático Oliveira, Alexandre Relvas, António Ramalho e Maria do Céu Ramos. através das suas escolhas e da sua participação.

4 ANOS DE DEMOCRACIA

40 Anos de Democracia, 40 Anos de PSD

25 de Abril Cerimónia na Pontinha e lançamento do “site”

o PSD decidiu prestar a sua homenagem a todos aqueles que participaram na re- volta militar que devolveu a liberdade e a democracia aos portugueses. Depois da vereadora social-democrata da Câmara Municipal de Odivelas, San- dra Pereira, ter dado as boas vindas aos presentes, coube ao ilustre convidado, o coronel José Sanches Osório, que na madrugada do 25 de Abril foi, enquanto major do Exército, um dos seis oficiais or- ganizadores do golpe de Estado que ocu- pou o Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas, na Pontinhao, o 1 de Maio relato das circunstâncias operacionais do golpe e que fez as delícias de todos os presentes. Simbolismo especial Na mesma data foi ainda lançado um “site” através do qual estão a ser dispo- Neste ano de 2014, a tradicional comemoração do 1º de Maio dos Trabalhadores nibilizados ao público todos os conteúdos Social-Democratas (TSD) possuiu, na verdade, um forte simbolismo associado.Para produzidos no âmbito destas comemo- além de se comemorar o trigésimo aniversário dos TSD, festejaram-se igualmente os rações. A página tem o endereço http:// 40 anos do PSD, do 25 de Abril e das livres comemorações do 1.º de Maio. www.psd40anos.pt/ , e os seus conteúdos estão pensados para permitir um fácil Razões mais do que suficientes para uma evocação histórica do movimento sócio- acesso, carácter exclusivo (cronologia, -laboral no seio do PSD, ao longo da sua existência, e que esteve a cargo de Arménio Na noite de 24 para 25 de Abril, o co- vídeos, fotografias, discursos, hinos, Santos. A intervenção de , então cabeça de Lista da Coligação “Aliança mando militar instalado no quartel do vintage e agenda). Os utilizadores podem Portugal” às Eleições Europeias e eurodeputado, versou sobre o tema “Europa, Regimento de Engenharia da Pontinha foi remeter as suas histórias (e estórias) de Diálogo Social e Crescimento”. Foram ainda oradores Lucinda Dâmaso (Presidente uma peça chave para o sucesso da revolu- ligação ao PSD e dos primeiros momentos do Congresso dos TSD e da UGT), Pedro Roque (Secretário-Geral dos TSD) e Pedro ção dos cravos. E foi precisamente aí que da democracia portuguesa. Passos Coelho.

EDITORIAL

Nasci e cresci no seio de uma família anos consecutivos. Agora, não em papel, Futuro e com o futuro da Nação. social-democrata. Desde cedo, habituei- mas em formato eletrónico, presente na Neste ano marcante de 2014, o “Povo -me a ouvir e, mais tarde, a participar em página oficial do PSD e enviado, via mail, Livre”, associando-se à história do PSD todo o tipo de conversas e de discussões para todos os militantes da base de dados e de Portugal, apresenta esta edição familiares sobre política, sobre a política, do Partido. Não é possível haver algum especial, desta feita em papel, à antiga, e acerca da atualidade do país. Foi como pré-adolescente, como eu fôra, a receber e procurando respeitar e reviver a linha se a história se fosse desenrolando diante as notícias do “Povo Livre” via correio tra- gráfica de tempos idos. dos meus olhos e eu nela participasse, dicional, mas existirão muitos mais jovens através de confrontação de pontos de e menos jovens a aceder ao nosso jornal, Pretendemos, assim, que esta edição vista e de opiniões sobre os vários a todo o tempo e em múltiplos lugares. contribua para recordar a nossa história e acontecimentos. Tenho bem presente, constitua um testemunho a guardar para O nosso Partido comemora, neste ano por isso, os momentos e circunstâncias o futuro que sonhamos com esperança e de 2014, os seus 40 anos de existência, marcantes do desenvolvimento da nossa crença. Uma edição para guardar e, quem de contributos sem rendição a favor de democracia, os momentos inesquecíveis sabe, para mais tarde recordar. um Portugal melhor, mais justo e mais de participação político-partidária, as solidário. São 40 anos em que cada um memórias indeléveis de campanhas, co- Os agradecimentos finais e importantes de nós, militantes, simpatizantes e vo- mícios e caravanas automóveis e a trágica ao Presidente do PSD, Pedro Passos Recordo-me muito bem, desde os dias da tantes, da primeira hora ou de uma hora e traumatizante noite de 4 de Dezembro Coelho, ao Vice-Presidente Coordenador minha infância, que havia um único jornal posterior, comemora o seu próprio ani- de 1980 que roubou à sua família e ami- da Comissão Política Nacional, Marco An- que a minha mãe assinava e que semanal- versário, a sua participação e o seu mais gos, ao Partido Social-Democrata e seus tónio Costa, e ao Secretário-Geral, José mente chegava a casa, nesses tempos em ou menos notório empenho na criação, na militantes e simpatizantes e a Portugal Matos Rosa, por terem sido entusiastas que era comum a subscrição em papel. Era construção e na vivência do maior e mais e aos portugueses o visionário e íntegro desta edição em papel e contribuído com mesmo o “Povo Livre”, o jornal oficial do português Partido de Portugal, o Partido patriota, de seu nome Francisco Sá Car- Partido Social-Democrata. Acontecia num Social-Democrata. apoio e, também, com conteúdos próprios neiro, o Homem que a História não apaga. dia da semana em que o carteiro entregava para este número tão especial. Não é determinante a maior ou menor Podia não ter acontecido, mas a minha em casa o “Povo Livre”, dobrado em três, relevância que cada contributo possa Os agradecimento finais e igualmente vida cruzou-se, anos mais tarde, nova- e que permanecia na sala de estar, onde ter tido; não é importante a maior ou importantes aos colaboradores do “Povo cada membro da família sempre aprovei- mente com o PSD. Neste partido, tenho menor constância do empenho de cada Livre” Marco Faria, Luís Rodrigues, Júlio tava para ler as novidades, num tempo em vivido a minha militância de base e os um, ao longo das alegrias e dissabores Pisa, por terem dado o seu contributo que as notícias não viajavam tão depressa, diferentes mandatos partidários e políti- que compõem a vida de cada; é o Partido bem diferente da velocidade instantânea e o melhor do seu saber a esta edição cos com a melhor dedicação, espírito de de todos nós e de cada um, a ideologia, nos tempos que correm. comemorativa. companheirismo e solidariedade, desde o a história e o espírito social-democrata mandato de membro da minha Comissão Quis o destino, sem que tal nunca me que marca para sempre as nossas vidas Saudações social-democratas e fraternas Política de Secção até ao mandato de tivesse ocorrido, que volvidos tantos e o desenvolvimento passado e futuro do Deputado na Assembleia da República, anos, mais de três décadas, eu me viesse de Portugal. O PSD é de todos e precisa em representação do PSD e do distrito encontrar no seio da família do “Povo de todos para reviver as suas memórias, Miguel Santos do Porto. Livre”, dirigindo o nosso jornal há quatro viver o seu presente e sonhar com o seu (Director do Povo Livre)

5 40 Anos de Democracia, 40 Anos de PSD

4 de Junho – A Democracia e as Novas Representações em debate

No debate da social-democracia para o século XXI, não podia deixar de ter lugar a reflexão sobre o sistema político sagrado no pós-25 de Abril já que foi o momento histórico em que Portugal viu nascer partidos políticos – como o Partido Social Democrata –, um sistema eleitoral e uma cultura de participação cívica e democrática. E repensar “A Democracia e as Novas Representações”, um debate que o PSD sem- pre incentivou com legitimidade foi o mote para mais uma conferência do ciclo “A social-democracia para o século XXI”. A sessão, realizada em Coimbra, contou com a participação de Fernando Negrão, jurista, antigo ministro da Segurança Social e deputado social-democrata; António Costa Pinto, politólogo. A sessão foi conduzida por Francisco Pinto Balsemão, presidente da Comissão Coordenadora das Comemo- rações do 40º aniversário do PSD. 6 de Maio Quarenta anos volvidos desde o 25 de Abril, são muitas as mudanças a que a sociedade e os portugueses assistiram tal como as consequências daí decorrentes. A hegemonia da tecnologia e das comunicações à distância, a globalização, a participação no acto Família Social-Democrata eleitoral através do voto electrónico, o inevitável debate sobre o número de deputados eleitos, a necessidade de reaproximação entre representantes e representados, entre outros, foram alguns dos temas aqui abordados. reunida para celebrar 40 anos

17 Julho 2014 - VIANA DO CASTELO O PSD comemorou o seu 40.º aniversário também com a responsabilidade de che- a 6 de Maio na Alfândega do Porto, reu- fiar o Governo. Conseguirmos comemorar nindo mais de 900 militantes com os anti- os nossos 40 anos orgulha-nos de toda A integração Europeia- gos líderes do partido. A cerimónia contou a nossa história”, disse Passos Coelho, com a presença dos antigos presidentes que não esqueceu a “enorme perda de do PSD, com excepção do Presidente da todos”, aquando da morte de Francisco Sá -Novos Desafios República, Cavaco Silva, e do presidente Carneiro, um dos fundadores do partido. da Comissão Europeia, Durão Barroso, Francisco Sá Carneiro que foi, de resto, que se juntou à celebração através de um objeto de uma das maiores ovações da vídeo. Tal como o ex-presidente da Comis- noite, estando sempre presente nos são Europeia, também o eurodeputado discursos mas também durante uma Paulo Rangel participou num filme. evocação de todos os presidentes do PSD. Os discursos da noite ficaram a cargo Na Alfândega do Porto foram ainda ho- do presidente social-democrata, Pedro menageados os militantes com 40 anos Passos Coelho, e do militante número 1, de filiação no partido, numa sessão em Francisco Pinto Balsemão, que realçou o que foram encenados diversos momentos papel que os militantes do PSD tiveram alusivos às transformações ocorridas em na expansão do partido. O presidente do Portugal depois do 25 de Abril. Foram PSD, Pedro Passos Coelho, afirmou que visualizados dois filmes: um sobre a luta era “uma emoção muito grande” falar aos da Ala Liberal e outro sobre a vida e a militantes “como presidente do partido, acção política de Sá Carneiro.

Debate de grande qualidade entre Car- democrática alargada”. Amaral. Desde então, o País viveu 40 anos dade política e governativa. Um objectivo los Coelho, Vítor Martins e Luís Amado de paz, de estabilidade política e de esta- que exige um diálogo mais aprofundado De seguida, Carlos Coelho apresentou evidenciou os principais desafios e exi- bilidade estratégica que o transformaram entre os partidos do arco da governação. os restantes intervenientes neste painel. gências que se colocam ao processo de completamente”. Neste período, afirmou, Vítor Martins, um homem crucial na pri- Já o ex-Secretário de Estado da Inte- construção europeia. Houve muita con- “o País convergiu com a média da União meira presidência portuguesa da União gração começou por considerar que a vergência de pontos de vista e a certeza Europeia. Mas a partir da entrada na união Europeia como Secretário de Estado da actual crise que vivemos “ensombra um comum de que o ano de 2015 será decisivo monetária, o País entrou num processo de Integração Europeia. E Luís Amado, Mi- pouco daquilo que a integração europeia para a coesão na Europa. divergência em relação à União Europeia. nistro dos Negócios Estrangeiros, peça representou para o nosso país”. E que Dados muito alarmantes que se acentu- Em jeito de introdução, o deputado euro- fundamental na terceira vez que Portugal foi muito, na sua opinião! ”A Europa aram com o período de ajustamento dos peu do PSD, Carlos Coelho, abriu a sessão teve que exercer a presidência do Conse- teve um papel decisivo no percurso de últimos 3-4 anos”. referindo o legado do PSD no processo lho da União Europeia. Isto é, dois dos Portugal nos último 40 anos. Cito o Pro- de integração e a forma como Francisco principais protagonistas da afirmação de Para Luís Amado, a explicação para este fessor Ernâni Lopes, grande obreiro da Sá Carneiro posicionou o partido ainda Portugal na Europa. facto reside na integração numa união integração de Portugal, social-democrata antes do 25 de Abril: “Não existia ainda monetária de moeda forte, como é o euro, convicto, e que, na adesão dizia que Desafios do presente o PSD e já afirmava que Portugal preci- dada a projecção dominante que tem a a integração europeia representava sava de se reencontrar com a Europa. E Na qualidade de convidado e distinto mi- ortodoxia do marco alemão na sua génese. para Portugal um duplo D: o binómio disse, ainda, mais tarde, que para o PSD a litante do Partido Socialista, Luís Amado democracia-desenvolvimento” “Acredito mesmo que se trata de um Europa não era uma questão económica”: começou por agradecer o convite. período decisivo também para a própria Vítor Martins sublinhou ainda que, do [“queremos entrar na Europa democrática Abordando o primeiro tema da noite, o consolidação do regime democrático”, ponto de vista de Portugal, a integração não apenas por motivações económicas orador considerou que o País se encontra realçou. europeia tem hoje dois desafios funda- mas sobretudo pelo projecto subjacen- num período absolutamente crítico da mentais: pode ser o factor que faça Portu- te”]. Referia-se o fundador do PPD/PSD Prosseguindo, Luís Amado defendeu a integração europeia. “Desde o regime gal e a economia portuguesa retomar os à filiação democrática mas também à cir- necessidade de garantir, no quadro dos saído do 25 de Abril, e depois da curta caminhos de crescimento económico e da cunstância de o Portugal orgulhosamente partidos que têm ao longo dos últimos 40 deriva revolucionária que se seguiu, a criação de emprego; e como pode ajudar só, o Portugal que estava alheado da vida anos sustentado um horizonte estratégico visão de Sá Carneiro não foi diferente da Portugal a projectar-se mais no mundo europeia, ter de se reconciliar com o resto estável para o País, a consequente estabili- de Mário Soares e mesmo da de Freitas do de hoje, nomeadamente a nível global. do continente e fazer parte dessa família

6 ANOS DE DEMOCRACIA

40 Anos de Democracia, 40 Anos de PSD

28 Julho 2014 - PORTALEGRE O futuro do Estado Social em análise

Realizada em Portalegre, a sessão foi paradigma da acção social. O presiden- liderada por Luís Filipe Pereira e teve a te da UMP introduziu o tema da rede participação de Manuel Lemos e Fernan- de cuidados continuados, destacando do Ribeiro Mendes. também a qualidade do sistema do sis- tema de saúde público que, reforçou o «Quero um país em que os idosos te- convidado, é reconhecida por sistemas nham presente e os jovens tenham fu- de certificação internacionais. turo». A frase de Francisco Sá Carneiro foi um dos motes para a discussão sobre Para Luís Filipe Pereira, a qualidade “Os novos Desafios do Estado Social”, dos cuidados de saúde deverá ser, de tema da conferência que a distrital facto, o foco da discussão mais do que social-democrata de Portalegre recebeu o debate ideológico sobre «se é público a 25 de Julho, no Centro de Artes e do ou privado». Espetáculo da cidade. Também o impacto das tecnologias é A afirmação do fundador do Partido motivo de referência. Fernando Ribeiro Social Democrata tem quase quatro Mendes refere que o «choque tecnoló- décadas mas mantém a actualidade e gico» mudou os padrões de vida e de reflecte o compromisso constante do prestação de cuidados e influenciou a PSD para com o respeito pela dignidade actual realidade. As famílias passaram das pessoas. a ter menos filhos mas com mais opor- Um compromisso que teve diversas tunidades. manifestações em 40 anos de Demo- Ao mesmo tempo, cresceu a esperança cracia, concluíram os convidados da média de vida com os consequentes sessão inserida comemorações do 40.º O PSD teve um «papel crucial na área o líder da sessão descreveu Portugal desafios para os cuidados de saúde e a aniversário do PSD: Luís Filipe Pereira, social», destacou Luís Filipe Pereira. como um país envelhecido e lançou qualidade de vida. ministro da Saúde dos governos de Du- Exemplo disso são o apoio aos ido- dois reptos aos convidados – como rão Barroso e Santana Lopes; Manuel sos, com a preocupação constante pensar a protecção social no contexto O representante da INATEL, também es- Lemos, presidente da União das Miseri- pela sustentabilidade dos sistema de da integração europeia e como lidar pecialista em políticas sociais, salientou córdias Portuguesas (UMP); e Fernando pensões; e a «defesa intransigente do com os problemas do desemprego e o contributo do PSD no passado para a Ribeiro Mendes, presidente do Conselho Sistema Nacional de Saúde». Fazendo do envelhecimento da população. Para primeira legislação que regulamentou de Administração da Fundação INATEL. uma leitura clara da actual realidade, Manuel Lemos, é necessário alterar o estas matérias.

15 Setembro 2014 - LISBOA PSD debate comunicação social

Em mais uma conferência do ciclo “A So- ferência do Estado, liberalização da que mais contribuiu para a actual crise A fusão das duas entidades foi também cial-Democracia para o Século XXI”, em actividade, defesa da sua independência, e transformações verificadas no sector. defendida por Pedro Norton, que con- debate esteve o futuro da comunicação assegurar o pluralismo e promover a sus- Isto porque as redes sociais assumiram- sidera a estrutura da ERC totalmente social. A sessão foi liderada por Pedro tentabilidade dos órgãos de comunicação -se como as principais difusores das anacrónica. Sobre a concentração dos Lomba, secretário de Estado Adjunto do social (OCS). notícias. Uma característica que não meios de comunicação social, Pedro ministro Adjunto e do Desenvolvimento pode ser dissociada do aparecimento de Norton revelou não ser favorável a condi- Pedro Norton começou por abordar Regional, e contou com a participação fenómenos políticos populistas, realçou cionamentos artificiais da propriedade. o ambiente de crise financeira e a re- dos oradores Pedro Norton, CEO do José Manuel Fernandes. O mesmo ora- tracção do mercado publicitário vivida Por fim, todos consideraram imperativo grupo Impresa, e de José Manuel Fer- dor defendeu ainda uma possível fusão pelo sector, factores que têm motivado o reforço de figuras legais que assegu- nandes, publisher do Observador. entre a actual ERC e a ANACOM, for- profundas alterações. Para o CEO da rem a total transparência da actividade mando um agente regulador único para Depois das boas-vindas e agradecimen- Impresa, a espiral de desinvestimento dos OCS, como a divulgação dos res- o sector. “O PSD deve ser intransigente tos aos presentes por parte de Miguel verificada só pode ser cobatida através pectivos proprietários e, até, das contas quanto a boas leis de media, que regulem Pinto Luz, Presidente da Comissão Po- da estabilidade accionista dos principais das empresas que integram os grupos bem o sector. Deveria ser uma bandeira lítica Distrital de Lisboa, Pedro Lomba grupo de comunicação social. detentores dos vários títulos. deste partido”, reforçou. iniciou a sessão traçando o enquadra- A constante mutação tecnológica é outro mento histórico da comunicação social dos factores que está a revolucionar o nos últimos 40 anos e do papel funda- mercado dos media, com a introdução mental do PSD nas várias estapas do de lógicas completamente destintas nas processo, nomeadamente na conquista opções dos consumidores, cada vez mais da liberdade de imprensa e na defesa da ligados ao fenómeno das redes sociais. comunicação social regional. “Neste novo contexto digital, o público Uma luta assumida desde a primeira assumiu que tudo é de borla e assiste-se hora pelos fundadores do PSD, ainda ao florescimento da pirataria”, afirmou. antes do 25 de Abril. Pedro Lomba Para José Manuel Fernandes, estas ques- recordou a coragem de Francisco Pinto tões deverão ser resolvidas sem qualquer Balsemão ao propor à Assembleia Na- interferência do Estado. “A maior ajuda cional uma nova lei de imprensa ainda será não atrapalhar”, considera o publi- durante a ditadura do . E sher do jornal digital Observador sobre a persistência de Francisco Sá Carneiro a eventual tentação do poder político em combater a estatização dos meios em tentar regular o sector, defendendo de comunicação social em pleno PREC. antes uma maior autoregulação. Para Sobre a existência de uma visão social- além dos constrangimentos financei- -democrata para o sector no presente, ros, o orador apontou a pulverização Pedro Lomba apontou cinco vectores da informação como um dos factores fundamentais: rejeição firme da inter-

7 “Os últimos anos foram um grande teste a todo o país”

Entrevista do Presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, ao “Povo Livre e à PSD@TV”

O Presidente e Primeiro-Ministro concedeu uma entrevista exclusiva ao “Povo Livre” e à PSD@TV. Um testemunho directo de Pedro Passos Coelho, sobre alguns momentos pessoais e políticos que se cruzam com a história do Partido. E também um olhar sobre o futuro.

Qual o significado histórico de come- ficativa está nas mãos de muito poucos. morar a fundação do PSD associada ao Precisamos de avançar mais e mais fundo nascimento da Democracia em Portugal? para ter, como Sá Carneiro desejava, uma democracia económica e social. E, se tiver- É uma coincidência muito feliz, porque mos estas, tenho a certeza de que teremos significa que nascemos com a Democracia. também uma democracia cultural. Houve partidos que nasceram uns tempos antes. É o caso do Partido Socialista, que Os momentos de crise económica têm nasceu cerca de um ano antes. O Partido constituído os principais testes à Social- Comunista nasceu muito antes disso e tem -Democracia? uma natureza muito diversa. O PSD foi um partido que nasceu com a liberdade, Eu creio que estes últimos anos foram com a Revolução de 25 de Abril, pelo que um grande teste a todo o país. Não temos a felicidade de poder comemorar foi à social-democracia ou ao PSD em exactamente a mesma idade. particular. Nestes anos, os portugueses passaram por dificuldades muito sérias, Significa, portanto, que, sendo um dos que estão relacionadas com a situação grandes partidos de Portugal, com respon- extremamente grave que enfrentaram no sabilidades de governo ao longo destes 40 seu conjunto quando, em 2011, o anterior anos, é legítimo dizer-se que a história da governo teve de solicitar a intervenção democracia em muitos aspectos se con- externa sustentada pelo Fundo Monetário funde com a história do PSD e vice-versa. Internacional e pelos nossos parceiros É uma feliz coincidência. europeus, através da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu. Fê-lo, eviden- A história da Social-Democracia antes temente, numa situação já “limite”; numa do 25 de Abril e o papel de alguns dos situação em que a nossa autonomia estava fundadores do PSD nesse período pode ser mais bem integrada na História con- temporânea de Portugal?

Eu diria que, efectivamente, faz parte O PSD teve, da História portuguesa. E, de certa maneira, podemos dizer que apesar de de certo modo, o PSD ter nascido apenas em Maio de 1974, depois da Revolução, na verdade uma espécie os seus fundadores tiveram uma inter- venção política relevante antes de 1974. de nascimento E talvez se possa dizer mesmo que uma ideológico antes parte do pensamento que está vertido nas linhas fundamentais do PSD – ou do do seu nascimento PPD, como ele nasceu – são linhas muito marcadas pelo pensamento político dos institucional em 1974 seus fundadores, e em particular, do seu fundador “Número 1”, o Dr. Francisco Sá Carneiro.

O PSD teve, de certo modo, uma espécie de nascimento ideológico antes do seu nascimento institucional em 1974. Pode- Quais são as dimensões que considera e as políticas que são realizadas, não em causa, em que os nossos recursos não mos dizer que a acção anterior ao 25 de mais actuais no pensamento político de tendo de viver num modelo totalitário; eram suficientes para honrar as nossas Abril, protagonizada por Sá Carneiro, Francisco Sá Carneiro? mas em que também possam participar responsabilidades, quer as externas, quer da mesma maneira democrática em termos as internas: o pagamento de salários, as Francisco Balsemão, e outros militantes Há muitas dimensões importantes, mas de bem-estar, na geração de riqueza, na pensões... Era a solidez do Estado Social que fundaram o PSD, teve um rasto de creio que há uma frase, repetida por ele vá- distribuição dessa riqueza, no acesso à que estava em causa no curto e no médio pensamento político e de acção política rias vezes, que mantém a actualidade e eu mobilidade social que lhes permita vencer prazos, se não tivéssemos conseguido que marcaram o nascimento institucional espero que a mantenha por muitos anos, as dificuldades de partida, por terem nas- obter o apoio externo que permitisse fazer do PSD e materializou a expectativa que porque é a máxima que mais nos guia. Ele cido com menos rendimento, com menos as reformas que fizemos e ter corrigido tinha sido gerada em torno da participação dizia que uma verdadeira democracia não acesso à cultura, à educação. Portanto, os desequilíbrios profundos de natureza política desses fundadores no nascimento se limita ao plano político, a democracia uma fruição democrática plena está além económica e financeira que acumulámos do PSD. tem de ser política, económica, social e da democracia política. E nós, quarenta durante vários anos. Portanto, estes anos cultural. Precisamos de cultivar uma so- O PSD quando nasce em 1974, nasce ar- anos depois do 25 de Abril, continuamos foram um teste à nossa democracia, à ciedade que ofereça reais oportunidades rastado por essa acção política, por esse a ter esse desafio. Basta verificar que nossa resiliência como povo e foram a todos. É o sentido mais pleno de levar a pensamento político difundido por alguns Portugal continua a ser um dos países em tempos muito desafiadores para todo o democracia a todos. Não se trata apenas dos seus fundadores através da acção que que a distribuição do rendimento é mais país e todos os portugueses. Claro que, de uma democracia política, onde os ci- desenvolveram antes de 1974. assimétrica e em que uma riqueza signi- para um partido como o PSD, que está dadãos escolhem livremente os governos

8 ANOS DE DEMOCRACIA

África e até com a Ásia. O que significa, portanto, que temos novamente a possibi- lidade de nos recentrarmos neste mundo global em que vivemos. Precisamos de resolver problemas estruturais grandes, como estamos a fazer, e eu espero que os próximos quarenta anos possam mostrar que Portugal pode ser um dos melhores países do mundo para viver. Um país mais justo, com uma democracia económica, social e cultural muito mais plena do que temos hoje.

Devemos pois usar os próximos quarenta anos para poder beneficiar de um pro- gresso ainda mais acentuado, desde que possamos aprender com os nossos erros. O país passou por situações com as quais precisa de aprender muito – e eu creio que tem aprendido – para progredir ainda mais do que progrediu nestes primeiros quarenta anos democráticos.

Para finalizar, em cada uma das seguin- tes palavras, pedimos-lhe uma pequena frase, um comentário rápido. Começamos com Portugal.

É o meu país!

África.

África foi todo o sonho da minha infân- cia e onde tive uma infância muito feliz. habituado, ao longo destes quarenta anos em 1976, em que se elegeu o Parlamento, E para os próximos 40 anos, o que espera Quando lembro África, recordo-me de de democracia, a colocar o país à frente o Presidente da República, as Autarquias do Partido? E do País? uma grande felicidade e tenho uma es- de tudo, este foi também um teste muito Locais. Foram eleições democráticas muito perança muito grande que seja não um É muito difícil fazer antevisões a essa dis- importante. Até porque muitas vezes os importantes. Depois a primeira maioria continente esquecido mas um continente tância. Mas olhando hoje para trás, creio partidos tendem a ter preocupações de absoluta conquistada pelo Dr. Francisco Sá que também possa progredir nos próxi- que estes quarenta anos correram muito outra natureza, preocupações mais ime- Carneiro, em conjunto com o CDS e com mos quarenta anos. diatas, preocupações com a reacção das os Reformadores (primeiro) e com Partido depressa. Quando olho para eles, eu que pessoas às medidas mais impopulares, Popular Monárquico, mais tarde. Foi a apesar de necessárias. Isso nota-se quando primeira vez, depois do 25 de Abril, que preparam eleições próximas, e nós tivemos uma solução de governo dispôs de maioria eleições autárquicas e europeias. O PSD absoluta no Parlamento. Isso não propiciou Eu gosto perdeu ambas as eleições. Sem deixar de um governo tão estável como teríamos de- ser um grande partido, a verdade é que sejado, durou dois anos, mas só aconteceu de acreditar também pagou um preço eleitoral por devido a um acidente muito trágico em que ter tido a responsabilidade de realizar o o Primeiro-Ministro perdeu a vida. que a liberdade que era necessário para que o programa de assistência económica e financeira Estamos todos convencidos de que se isso nasce connosco, por pudesse ser fechado com sucesso. Sim, não tivesse acontecido talvez a História é verdade que estes anos foram também teria sido escrita de outra maneira. Depois mais limitações que um teste à nossa determinação e à nossa veio a primeira grande Revisão Constitu- natureza. Mas como sei que o PSD nasceu cional, feita em 82, que permitiu extinguir tenhamos assim e não deixou de ser assim, acho que o Conselho da Revolução e normalizar a superámos bem esse teste. situação democrática no país. A seguir a de enfrentar isso, o segundo resgate que solicitámos ao Quer contar-nos alguma história mar- exterior - o primeiro tinha sido em 1978, cante destes quarenta anos? Há algum mas com uma relevância menor. Mas momento que queira destacar? após 1982, no período entre 1983 e 1985, vivemos um momento também difícil, em Do ponto de vista pessoal, o momento que tivemos de solicitar o apoio externo mais marcante terá sido o meu regresso a através do Fundo Monetário Internacional. Amigos. Portugal, em Setembro de 1974, vindo de Depois a primeira eleição, que permitiu os vivi muito de perto, encontro uma di- . Foi a mudança mais impressiva que um único partido tivesse uma maioria ferença muito grande entre o país que me São sempre poucos, mas fazem muita do ponto de vista pessoal. Todas as outras absoluta sozinho. lembro de ter conhecido há quarenta anos falta. mudanças ocorreram quando eu tinha uma e aquele que temos hoje. Portugal é hoje idade mais avançada e este foi, digamos, o E os dez anos que se seguiram a essa um país muito mais desenvolvido, com um Liberdade. primeiro grande choque e grande mudança escolha. Foram oito anos de maioria ab- PIB “per capita” muito maior. Podemos que teve lugar na minha vida. Mas tive, ao soluta completados pelos dois anos de dizer que somos um dos países do mundo Não sei se a liberdade nasce com os ho- longo destes quarenta anos muitos episó- maioria relativa e que de certa maneira com melhor Serviço Nacional de Saúde e mens. Há quem diga que sim. Eu gosto de dios que estão relacionados com a minha marcaram o período de maior desenvol- isso é importante para o nível de progresso acreditar nisso, que a liberdade nasce con- participação política, e com a história vimento que o país conheceu, coincidindo que podemos registar numa sociedade. nosco, por mais limitações que tenhamos política do PSD e da JSD, onde comecei com a nossa adesão à então Comunidade Temos hoje um país com um acesso à esco- de enfrentar. E vive muito na nossa alma, a militar desde bastante cedo. Eu julgo Económica Europeia. larização e ao ensino superior que está ao na nossa cabeça também. Não vive apenas que os principais momentos em Portugal nível da média dos países ricos. Portanto, nas circunstâncias que defrontamos e que foram aqueles que simbolicamente estão Eu creio que estes foram os factos mais o país evoluiu consideravelmente. É um às vezes lhe impõem restrições muito gran- associados à institucionalização de uma marcantes. Mais recentemente, temos de país enraizadamente mais democrático des. A liberdade pode ser sempre maior democracia ocidental com uma economia reconhecer o que aconteceu entre Abril e e plural, mais desenvolvido. Mas ainda quando a queremos ampliar e nunca pode social de mercado. Maio de 2011, em que tivemos de pedir temos muitos problemas para resolver, transformar-se num estorvo para outro ser uma ajuda externa de enorme dimen- como se viu quando tivemos de recorrer humano. Tem, portanto, de ser também Depois do 25 de Abril, esses momentos são, dada a extrema dificuldade que o à ajuda externa, há três anos atrás. Temos um espaço de responsabilidade. foram o 25 de Novembro, que nos permitiu país viveu. Isso aconteceu bem perto de uma inserção no mundo com uma impor- Francisco Sá Carneiro. ultrapassar o “Verão Quente de 75” e a comemorarmos os nossos 40 anos. Con- tância redobrada, pois apesar de sermos tentativa totalitária que se esboçou a se- seguimos comemorá-los, felizmente, no um país periférico na União Europeia É uma referência política muito importante guir à Revolução, firmando-se um modelo mesmo ano em que saímos do processo estamos no centro de continentes, o que em Portugal e, ao longo da minha existên- europeu e não se outra índole. A seguir a externo, assinalando o fim do memorando faz de nós uma porta de ligação muito im- cia, tem sido a principal referência política isso, as primeiras eleições democráticas, de entendimento com a “troika”. portante da Europa com a América, com dentro do país.

9 O PSD é um referencial da democracia

Marco António Costa, Vice-Presidente e Coordenador da Comissão Política Nacional

Quando a 25 de Abril de 1974 o Movi- Não deixo de registar o simbolismo de militantes uma reflexão sobre o que mento das Forças Armadas pôs fim a um no mês em que o partido celebrou 40 até aqui foi conseguido, projectando regime autoritário de quase 50 anos, foi anos, o país pôde também assinalar o simultaneamente o nosso compromisso permitido aos portugueses sonharem fim do programa de assistência econó- politico e ideológico para o futuro. com um país mais próspero e mais justo, mica e financeira que durante três anos alicerçado em valores como a liberdade condicionou de forma decisiva o nosso Paralelamente, o Partido tem feito um e a democracia. dia-a-dia. esforço de modernização dos seus canais de comunicação, afirmando-se como um Imbuídos nesse espirito e nesse sonho O Governo conseguiu ultrapassar este partido de vanguarda na adesão às novas Francisco Sá Carneiro, Francisco Pinto enorme obstáculo, conservando o es- tecnologias proporcionadas pela WEB Balsemão e Magalhães Mota fundam a sencial das nossas conquistas sociais e 2.0. Estamos neste aspecto na dianteira 6 de Maio de 1974 o PPD. reforçando a sustentabilidade do Estado porque entendemos ser crucial que se Social estabeleça uma relação comunicacional Desde o início vinculado aos valores da com as estruturas e os militantes, por- Social-Democracia: a liberdade, a igual- Por outro lado, temos a frente interna, que são sempre os militantes os melho- dade, a justiça social e a solidariedade, onde o partido continua apostado em res portadores das nossas mensagens e este era um projecto político moder- promover o debate e a reflexão ao mes- dos nossos propósitos. nizador da sociedade, baseando o seu mo tempo que melhora a cada dia os ideário numa Democracia parlamentar, seus mecanismos de comunicação com 40 anos depois, o PSD afirma-se como alicerçada numa verdadeira economia os seus militantes e simpatizantes. um referencial da nossa vida demo- social de mercado. crática, renovado nos seus desígnios, Para assinalar os 40 anos, o PSD está a apostado em lutar como no primeiro Desde então e graças ao empenho dos levar a cabo um ambicioso programa de dia pelo sonho de uma sociedade mais seus dirigentes, mas sobretudo dos seus comemorações, que alia a presença da Por um lado, a frente externa, onde o justa e solidária. militantes e simpatizantes, PPD/PSD foi- sua memória histórica a uma busca de Partido no Governo soube, através de -se afirmando como um partido central visão prospectiva com as Jornadas “A 40 anos depois, o PSD continua como uma atitude de grande responsabilida- na vida política nacional. Social Democracia para o seculo XXI”, desde o início a apontar o caminho do de, recuperar a confiança e a credibili- que permitiram ao partido e aos seus futuro e a colocar Portugal acima de dade internacional. A grande ligação às realidades locais tudo. permitiu uma grande presença territorial e a afirmação de um partido com forte implantação no poder local e nas autono- mias regionais desde os seus primórdios. exposição sobre Mas também no Governo o PSD tem mostrado a sua capacidade de pôr o melhor de si ao serviço dos portugueses. Francisco Sá Carneiro Sendo chamado a governar muitas vezes em circunstâncias muito difíceis, sempre soubemos dar a melhor resposta ficando ligados aos mais difíceis e desafiantes percorrerá todo o País períodos da nossa história democrática.

Foi assim em 1979 nas maiorias abso- As comemorações dos 40 anos do PSD e lutas da AD que contribuíram para a da democracia vão passar a integrar uma normalização democrática do país e exposição sobre Francisco Sá Carneiro proporcionaram um período de estabi- que se encontrará disponível na sede lidade e crescimento. Essa estabilidade nacional do Partido desde o dia 4 de permitiu que o país iniciasse o processo Dezembro. de integração na então Comunidade Eco- nómica Europeia. O núcleo principal corresponde a conjun- tos de fotografias organizadas em três Foi assim também, em 1985, quando períodos históricos correspondentes à no governo se iniciou uma década de sua acção política no combate à ditadura, reformas e de progresso, num período fundação e liderança do PSD e, por fim, de modernização ímpar. o ciclo da governação. Mais, recentemente, fomos novamente chamados a governar em circunstâncias A exposição conta ainda com diversos muito difíceis. Em 2011, o PS tinha atira- artigos de carácter histórico que retratam do o país para uma crise sem precedentes momentos concretos do percurso de na nossa história recente, obrigando-nos Francisco Sá Carneiro, sendo de desta- a recorrer à ajuda externa para honrar os car um filme inédito com imagens do nossos compromissos. fundador do Partido na festa do Pontal, no dia 29 Agosto de 1976. O PSD foi chamado pelos portugueses a governar num momento muito difícil Esta homenagem do PSD e dos seus e, uma vez mais, soube estar à altura militantes a Francisco Sá Carneiro es- do desafio. tará depois patente no XXIII Congresso Nacional da JSD, que se realiza nos dias Tendo responsabilidades governativas, a 12, 13 e 14, em Braga. Após este evento actividade do Partido desdobra-se, hoje, dos jovens social-democratas, a expo- em duas frentes. sição irá percorrer as estruturas locais permitir que o maior número possível de momentos políticos de uma das maiores do PSD pelo País inteiro, no sentido de Portugueses possa recordar os principais figuras do século XX português.

10 ANOS DE DEMOCRACIA O PSD e a Social-Democracia

José Matos Rosa, Secretário-Geral

A publicação deste número especial do Europa como opção estratégica de fundo, existentes no PSD desde a sua fundação. “Povo Livre” no ano em que comemoramos a modernização das infra-estruturas, a O Arquivo da Social-Democracia 40 anos de democracia em Portugal adesão à moeda única e o recente resgate será depois reforçado com o material pretende constituir-se como uma sincera da soberania perdida. homenagem aos homens e mulheres audiovisual e sonoro que possuímos e Social-Democratas que ao longo das suas Sim, foram desafios exigentes, mas cujo rigoroso tratamento já iniciámos. conseguimos superá-los e devemos por vidas deram o melhor de si na luta pela É um exercício inovador que reflecte isso ter orgulho naquilo que somos e liberdade. o compromisso que temos com a naquilo que fomos capazes de construir transparência na vida política e com Estou a pensar nos fundadores do PSD com os Portugueses. que iniciaram a construção do Partido a construção da memória colectiva. muito antes do 25 de Abril. Políticos Nós, Social-Democratas, contribuímos de Disponibilizamos os nossos conteúdos de coragem e de visão que criaram as forma decisiva para a conquista desses históricos e esperamos recolher novos bases do pensamento livre da Social- grandes objectivos colectivos. contributos para que este acervo se constitua como uma referência em Democracia em Portugal durante o Nós, Social-Democratas, soubemos Portugal. Estado Novo e que deram depois origem sempre colocar Portugal acima de tudo. à fundação formal do PSD. *** *** A história do PSD “não começou” no dia 6 Esta edição especial do “Povo Livre” As comemorações dos 40 anos do PSD de Maio de 1974, mas sim na luta política pretende prestar homenagem à luta que e da democracia têm decorrido ao longo iniciada a partir de 1969 por Social- os Social-Democratas desenvolveram ao deste ano e continuarão até ao próximo Democratas como Francisco Sá Carneiro, longo destes 40 anos e em especial ao seu mês de Maio. Francisco Pinto Balsemão, Joaquim fundador Francisco Sá Carneiro. Magalhães Mota, José Pedro Pinto Leite As comemorações têm sido momentos de A exposição inaugurada neste dia 4 de e João Bosco Mota Amaral. reencontro entre pessoas e também de Dezembro de 2014 pelo militante n.1 reencontro com a nossa história. Estou também a pensar nos deputados e fundador do PSD, Francisco Pinto constituintes do PSD que depois do 25 Nós, Social- Estamos todos a contribuir para a Balsemão, e pelo presidente do nosso de Abril lutaram por uma Constituição memória colectiva do PSD e de Portugal partido, Pedro Passos Coelho, pretende que consagrasse um regime parlamentar Democratas, através desta e de outras iniciativas reconstituir as principais fases da vida do tipo ocidental e nos militantes que por que consolidam os grandes momentos política de Francisco Sá Carneiro e esse País fora consolidaram o Partido no soubemos sempre da nossa história contemporânea projectar-se assim como um exemplo terreno. e que terão no Arquivo da Social- inspirador para as novas gerações. Democracia um pioneiro espaço de Penso em todos que ao longo destes 40 colocar Portugal Os conteúdos agora reunidos irão ser desenvolvimento. anos de regime democrático souberam expostos nas estruturas locais do estar à altura dos desafios que se acima de tudo. Nesta primeira fase, será inaugurado o PSD para que todos os militantes, os colocaram a Portugal e aos Portugueses. arquivo fotográfico digital. Trata-se do mais novos e os mais antigos, possam Foram muitos e exigentes esses desafios. primeiro arquivo partidário que será reencontrar aquele que foi, é e será A desmilitarização do regime, a libertação colocado ao dispor do público em geral sempre uma das principais figuras do da economia, o processo de adesão à e que contará com todas as imagens século XX português.

Homenagem a Luís Rodrigues, redactor do “Povo Livre” entre 2003 e 2014 UMA VIDA DEDICADA AO JORNALISMO E DE MUITAS “ESTÓRIAS”

O avô materno contou-lhe o episódio do casa e a BBC, a estação de rádio que toda Exerceu também as funções de director de Massacre de Katyn, na Rússia. A ordem a família sintonizava. Estudou no Liceu marketing dos Laboratórios Delta, e foi de Estaline traduziu-se no genocídio que Pedro Nunes, em Lisboa, e interrompeu assessor de Imprensa dos Presidentes da mancha ainda hoje as páginas da História o 2.º ano do curso de Medicina da Facul- Câmara Municipal de Lisboa, Nuno Abe- do século XX: foram executados mais dade de Medicina de Lisboa, para prestar casis e Carmona Rodrigues. Foi redactor de 20 mil polacos (militares, civis, inte- Serviço Militar em Angola; recebeu mais do “Povo Livre”, jornal oficial do PSD, lectuais e religiosos). Luís Rodrigues era tarde formação em Marketing e Gestão entre 2003 e 2014. criança quando o avô materno lhe narrou para Executivos de Marketing, na Univer- o acontecimento (o avô Luís Correia Matias sidade de Witswaterand, na África do Sul. Luís Rodrigues é um bom contador de era uma pessoa prestigiada no Barreiro, Em , começou a longa ligação ao estórias. Sofreu na pele a guerra civil ango- fundador do Futebol Clube Barreirense). jornalismo. Foi redactor principal, chefe de lana, numa fuga vertiginosa com as tropas A outra referência foi o avô paterno, redacção e adjunto do jornal “A Província de Jonas Savimbi e da UNITA pelo inte- Manuel Tavares Rodrigues, industrial de Angola”; enviado especial de guerra rior daquele vasto país. Caminhou 1500 corticeiro e empresário hoteleiro, um repu- ao Congo, Biafra, Katanga e Vietname; quilómetros e, no fim, o corpo carregava blicano indefectível e um dos fundadores director do “Jornal do Congo”, no Uíge; as marcas da dolorosa marcha: perdeu 30 da I República no Barreiro (deslocou-se correspondente da BBC (World Service) quilos. Salvou-se da fome e da doença. a Vale do Zebro, na madrugada de 5 de e BBC/TV, em Angola e na Zâmbia, entre Desde a assinatura do Pacto Ribbentrop- Outubro de 1910, para insurreccionar o 1972 e 1975; correspondente de guerra -Mólotov que já não havia ilusões sobre o que era, então, o corpo dos marinheiros no interior de Angola (com a UNITA); comunismo na família de Luís Rodrigues. da Armada). colaborou com a “Newsweek” e o “Star”, Não foi também preciso esperar pela as- Teve uma educação política à maneira de Joanesburgo. Regressou a Lisboa de- censão de Nikita Khrushchev, para abrir Luís Manuel de Vasconcelos Matias Ro- inglesa, cresceu no ideal de democracia pois do 25 de Abril de 1974, e foi como os olhos do pequeno Luís, sobre os perigos drigues nasceu no Barreiro a 14 de Ou- representativa e rodeado de livros. A “freelancer” da “Associated Press”, em do comunismo. tubro de 1935. Aí viveu até aos 18 anos. Inglaterra era o modelo “ensinado” em Lisboa, que retomou o ofício de jornalista.

11 Sá Carneiro: exemplo e exigência para hoje e para amanhã

Pedro Roseta, in Francisco Sá Carneiro - Um olhar próximo, Publicações Europa-América, 2000.

À medida que o tempo passa, reforçam- Num dos mais lúcidos textos até hoje -se a recordação e a estatura histórica e escritos sobre Sá Carneiro, Miguel Veiga política de Francisco Sá Carneiro. A sua sublinhou que ele se dava às causas da personalidade, o seu pensamento, a sua política e “às coisas da vida democrá- acção são crescentemente valorizadas tica com o gosto, com o prazer, com o pela passagem dos anos. Tenho-me inter- gozo salutar e saudável da entrega livre rogado sobre as razões por isto acontece. e disponível’ [...] Ele sabia que a ironia é uma forma de impedir que o espírito Vemos em primeiro lugar a sua persona- liberal de respeito pelo indivíduo e pelo lidade fascinante e multifacetada, pela de pensamento se corrompa por um certo ra- qualidades, que muito raramente apare- cionalismo tecnocrático, por aqueles que cem associadas – foi diferente. Juntava não sabem rir, pelos que pensam através aspectos aparentemente contraditórios, do não-pensamento dos lugares-comuns.” mesmo inconciliáveis, para além de uma força interior muito grande, que superava Pelos portugueses e por causa do seu a própria fragilidade física. A permanên- projecto político, Sá Carneiro deixou a sua cia dos valores, a solidez das convicções, profissão, suportou campanhas absurdas a profundidade das análises, com a agili- de calúnias e processos de intenção, ar- dade, a antecipação e imprevisibilidade riscou a saúde, mesmo a vida. nas tomadas de posição conjunturais. Começou por se empenhar na tentativa de A capacidade de delinear um projecto transformação pacífica de uma ditadura consistente para Portugal, no qual to- arcaica e imobilista numa democracia. talmente se empenhou, com momentos Sá Carneiro foi um homem integral que conhecesse os defeitos. Sendo muito Bateu-se pelos Direitos Humanos e pela de dúvidas ou mesmo de afastamento soube viver o humanismo personalista e exigente consigo próprio, também o era liberdade na ala liberal, na Sedes, na co- e com a atenção permanente a outros que pôs em prática os princípios em que com os que com ele trabalhavam. Se operativa Confronto, no apoio a presos interesses que o enriqueciam: das artes acreditou. alguém que tivesse aceitado uma tarefa o viesse questionar sobre o modo de a políticos, em livros, conferencias e artigos plásticas à literatura, do convívio com A sua personalidade foi o resultado de levar a cabo, era certo que ouviria a res- de opinião. Não aceitava quer as guerras amigos à música, do desporto à evolu- uma síntese que devemos lembrar: a edu- posta: “Se fosse para eu lhe dizer como coloniais quer a pobreza ou as grandes ção das ciências e das tecnologias e ao cação familiar; o personalismo cristão da deve fazer, não lhe tinha confiado esse dificuldades em que vivia a maioria dos profundo conhecimento do património sua formação posterior; o apego aos va- trabalho.” portugueses. histórico e cultural dos portugueses. A lores da liberdade e do Estado de Direito inteligência com que entendia as coisas Democrático, que adquiriu desde muito Não esquecia os confrontos, mas abriu Nunca tolerou que fosse recusada aos e as explicava através de deduções claras cedo inspirado nas tradições liberais do sempre portas ao regresso de dissidentes portugueses a capacidade de conciliar a com surpreendentes dotes de intuição. A Porto, sua cidade natal, e na sua profissão que de novo se quiserem associar ao seu liberdade com a ordem pública, o progres- coerência dos princípios e dos objectivos de advogado, bem como da solidarie- projecto. Rejeitou sempre as tentativas de so com a segurança, o desenvolvimento com a mudança dos instrumentos e das dade, vinda da preocupação social que mitificação de que foi objecto. Teve vir- com a justiça, a educação e a criatividade tácticas imposta pelas circunstâncias. A resultou da sua atenção ao real concreto, tudes e defeitos como qualquer homem. inovadora com a permanência dos valores conciliação na prática da ética das con- da indignação face às condições de vida nacionais. vicções com a ética da responsabilidades, insuportáveis e injustas da maioria dos Sempre rejeitou todas as formas de como já sublinhou Francisco Balsemão. portugueses nos anos 60 e 70. Foram totalitarismo transpersonalista que ao A coragem, a frontalidade, o gosto do decisivas a vivência da doutrina social da longo do século XX puseram gravemente risco e a capacidade de antecipação que Igreja Católica e a acção que realizou du- em causa o primado da Pessoa Humana. o distinguiam não eram finalidades em rante muitos anos como vice-presidente Adaptou o modelo social-democrata à si mesmas. Serviam para promover os da direcção da Obra Diocesana de Pro- realidade portuguesa, “da qual parte e valores e o projecto em que acreditava moção Social do Porto, por solicitação do que tem em conta”, e o reformismo como e para o qual solicitava a adesão dos bispo D. António Ferreira Gomes. método para que a necessária intervenção Portugueses. O conhecimento e a compreensão da rea- do Estado tenha por objectivo “fazer com que as pessoas participem todas elas nos A sua coerência estava no que era essen- lidade portuguesa, das muitas carências e bens da comunidade: bens de cultura e cial e não implicava a rigidez de atitudes desigualdades que afectavam as pessoas, bens económicos”. ou de posições. deram forte contributo à sua concepção da democracia social e à adopção defini- A partir da queda da ditadura, depois de Nunca afirmava uma coisa para depois tiva daquele que considerou, para si, além ter aclamado com a esperança o Movi- fazer o contrário. Mais: como muitos que do primado da Pessoa e da liberdade, um mento de 25 de Abril de 1974, e fundado o conheceram, posso dar testemunho dos valores essenciais: a solidariedade. o PPD, depois PSD, lutou contra as aven- de que afirmava em público o mesmo Não foi nem quis ser um super-homem. turas dirigistas e colectivista daqueles que dizia em privados aos seus amigos e Para Sá Carneiro, o único objectivo per- Era um homem extraordinariamente lúci- que pretendiam impor ao povo, através colaboradores. Era essa coerência que o manente das sociedades humanas em de do, empenhado, combativo e persistente de medidas bruscas não sufragadas, impedia de cair na facilidade corrente de ser o livre desenvolvimento da persona- no essencial, que, sob a capa de algum modelos totalitários que não respeitavam se dizer só o que os eleitores gostam de lidade de cada um. Para tanto, a comuni- distanciamento, escondia uma grande as reais aspirações dos portugueses e ouvir e que parece “dar votos”. dade deve oferecer a todos uma efectiva sensibilidade e uma enorme bondade. igualdade de oportunidades: “Exigimos ameaçavam a democracia nascente. O seu apego à verdade levava-o a recusar Para lá da riqueza da sua personalidade, que tudo se subordine à plena realização Queria o poder unicamente como ins- e a alertar constantemente os seus compa- outra razão da persistências da sua me- do Homem, com integral respeito da sua trumento para realizar uma missão: a nheiros contra um dos maiores males da mória está na capacidade de doacção e personalidades. Não há eficácia, não há promoção do bem comum. Considerava a vida política: a demagogia mais ou menos dedicação às pessoas. Deu-se pela con- ideologia, não há revolução que justifique ambição individual em política uma mera populista que leva a prometer tudo a todos cretização do bem comum, muitas vezes atentado à personalidade humana.” paixão infantil. e que acaba por ser uma das causas prin- no meio de intenso sofrimento físico cipais do descrédito dos políticos. Acreditava nas pessoas, embora lhes causado por doenças e acidentes vários. Tendo vencido em coligação as eleições le-

12 ANOS DE DEMOCRACIA

gislativas de 1979, os impedimentos cons- titucionais impediram o seu Governo de levar a cabo boa parte do seu programa, por via dos vetos repetidos do Conselho de Revolução. Não foi possível clarificar o sistema económico pela afirmação do sector privado como vector de desen- volvimento. Mas relançou-se o investi- mento, restaurou-se a confiança, foram reconhecidas instituições particulares de ensino e solidariedade social; acelerou- -se o processo de adesão à Comunidade Europeia, reforçando ao mesmo tempo os laços históricos atlânticos e africanos de Portugal. Como primeiro-ministro, foi, de acordo com o testemunho do vice-primeiro-mi- nistro , “serenos, firme e competente ao leme do Estado, dominava todos os problemas que lhe eram postos com rapidez e argúcia pe- netrante, não adiava uma única decisão por mais difícil ou embaraçosa que se apresentasse ser, não receava assumir a responsabilidade total das decisões direito das populações e não uma benesse as ameaças ao clima aos oceanos, até aos tomadas, erguia-se sempre no plano do poder político nacional; acabar, já desequilíbrios no desenvolvimento que mais elevado dos superiores interesses nos anos 90, com o predomínio absurdo Sá Carneiro foi põem em risco a paz; o encolhimento do nacionais, quer na política externa, quer do Estado-proprietário na comunicação campo da política, certas consequências nos meandros da política interna, onde social; consagrar o referendo para que um homem integral da globalização e a emergência de novos nunca mostrou, como primeiro-ministro, os eleitores pudessem decidir grandes poderes de facto não eleitos, por vezes a mais leve ponta de espírito partidário”. questões, sem prejuízo da democracia que soube viver sem rosto, quase sempre sem controlo, representativa, que garante a liberdade que limitam a eficácia das acções correc- Penso que outra razão importante do e o governo responsável. o humanismo toras possíveis; os riscos de derrapagens prestígio crescente de Sá Carneiro foi a nas aplicações dos necessários avanços Hoje mesmo os que resistiram anos a fio constatação de que, contra os impasses científicos e tecnológicos, que podem às reformas que preconizava aceitam-nas personalista do país adiado, o seu projecto corpori- por em causa a dignidade e os direitos da pacificamente. zava e até antecipava as aspirações dos e que pôs em prática Pessoa Humana; a obsessão pelo sucesso portugueses. Acreditava numa sociedade Por outro lado, as pessoas começam de individual e pelo enriquecimento rápido portuguesa “moderna, livre, europeia, novo a valorizar os que, como Sá Carnei- os princípios com prejuízo dos valores fundamentais, capaz de se transformar por si própria, ro, rejeitam certas práticas dominantes: do civismo e do empenhamento social e através de reformas sucessivas que não a obsessão pelas vitórias eleitorais a em que acreditou. cultural; a impossibilidade da passagem se limitem aos aspectos políticos, mas qualquer preço e que se esgotam em si a uma sociedade de desenvolvimento abranjam também o plano económico e próprias; o exercício do poder pelo po- avançado que tudo isto resulta. Ora a capacidade de inovação, a cria- zelar por eles, procedendo às adaptações tividade das pessoas, bem como o seu que as novas realidades internacionais, empenhamento em tarefas de índole económicas e sociais e a própria evolu- social, são condições sine qua non para ção das ciências e das técnicas exigem, a constituição de um capital social sem encontrando e aplicando soluções para o qual o desenvolvimento harmonioso e os novos problemas. avançado é impossível. Se o indispensável esforço não for reali- Penso que a melhor recordação de Fran- zado, tudo pode ser perdido, como tantas cisco Sá Carneiro, aquela que lhas lhe vezes sucedeu ao longo da História. agradaria, seria, muito mais do que este Sem pretender ser exaustivo, aí estão meu texto, a proposta de um projecto problemas que exigem soluções: os es- coerente apontando soluções para os trangulamentos nos sectores da saúde, problemas do presente e antecipando os justiça e administração pública; o enve- do futuro. lhecimento da população, persistindo Finalmente, é nossa obrigação lembrar uma natalidade baixíssima; a necessidade sempre que “mais importantes do que a crescente de acolher e integrar imigrantes doutrinação, é levar as pessoas a pensa- para superar a crise demográfica, sem o rem, a criticarem, a discernirem. Nem se que não haverá crescimento nem garantia estranha que pensemos o Partido também de segurança social; a concentração ex- como difusor de ideias, como estimulante social”, preservando ao mesmo tempo der, transformando a política na mera cessiva da população e riqueza em duas da acção e da críticas pessoais. Se não os valores humanistas e universalistas ocupação da lugares e num espectáculo grandes áreas metropolitanas nas quais formos também isso, renunciaremos à de raiz cristã da nosso povo. permanente em que o que interessa são é quase impossível viver com qualidade; dimensão cultural e ética da política, as questões instrumentais; as pequenas a correspondente desertificação de boa Por tudo isto e apesar da morte prema- transformá-la-emos, e a toda a nossa lutas, as pequenas frases, a criação de parte do território; a persistência de fenó- tura, Sá Carneiro venceu. Os portugueses acção, em mero jogo de vulgaridade imagens virtuais de pessoas sem cor- menos de exclusão social e de pobreza, realizaram o essencial do seu projecto. que só os medíocres e os oportunistas respondência na realidade; o abuso do abrangendo pelo menos um quinto dos Agindo e mantendo o PSD no Governo aceitarão”. durante dezasseis anos, dez com maioria efeito de anúncio mediático não seguido portugueses; a carência de profissionais absoluta ou relativa e seis em coligação, de qualquer realização, a sobrevalori- qualificados em várias áreas perante o Cumpre-nos dar “contributo para que foi possível: consagrar em 1982 a demo- zação das questões menores ou mesmo excesso de diplomados noutras e o défice cada um cresça o máximo possível, para cracia plena, livre de tutelas militares; anedóticas, a redução da política à gestão de formação contínua ao longo da vida; a que todos sejam despertos para a acção aderir em 1986 à Comunidade Europeia; inconsequente e seguidista das sonda- urgência de compatibilizar crescimento e e para a luta democrática. Só assim per- abrir em 1989 a economia à iniciativa gens semanais. flexibilidade com segurança no emprego maneceremos vivos e activos crescendo e manutenção dos direitos fundamentais; sem nos impormos, sendo aceites por criadora das pessoas e pôr fim ao mo- Sem prejuízo do caminho já percorrido a derrapagem sem controlo da despesa mérito da acção e não por conquista ou delo burocrático de domínio do sector que permitiu reforçar a liberdade e afas- pública e a crescente parte do PIB ab- exibição. Só assim corresponderemos à público; concretizar progressivamente tar os portugueses do subdesenvolvi- sorvida pela carga fiscal, que esmaga grandeza e dificuldade que os tempos quer o acesso generalizado das crianças à mento, urge sublinhas que estamos, de os trabalhadores por conta de outrem novos de nós exigem”. educação quer os direitos sociais, sem os algum modo, a meio do vau e que, como e a classe média em geral, também pro- quais a cidadania plena e a própria digni- Sá Carneiro várias vezes sublinhou, o duto de uma fiscalidade iníqua; a ainda dade da Pessoa Humana são palavras vãs; bem-estar de boa parte da população pequena contribuição de Portugal para a NOTA: Os textos citados cujo autor não consolidar a autonomia dos Açores e da não são irreversíveis. A cada geração cabe Madeira, que Sá Carneiro considerava um solução dos problemas do Mundo, desde é referido são de Francisco Sá Carneiro.

13 O pensamento de Francisco Sá Carneiro no combate à ditadura

Entrevistas e artigos de opinião ante- ciparam criação do PSD

A fundação do PSD no dia 6 de Maio de 1974 representa uma etapa histórica na construção da Social-Democracia em Portugal. A sua base foi sendo cimen- tada a partir de 1969 com a intervenção política activa de várias personalidades que aceitaram integrar as listas de candi- datos a deputados e assim iniciar a luta pela democratização política, económica, social e cultural. Francisco Sá Carneiro explicou em 1973 através do Jornal do Fundão que aceitou assumir este desafio por entender que existiam condições “para que, sem vio- lência nem desordens, o regime evoluísse para um liberalismo político”. O próprio significado do “ser liberal” foi O que significa explicado por Francisco Sá Carneiro ao ser liberal Comércio do Funchal, em 1971: “[É acre- ditar que] jamais os direitos da pessoa 20-06-1971Comércio do Funchal humana podem ser subordinados aos da sociedade, que constitui para o homem Ser liberal significa hoje, para mim, um meio de realização pessoal”. crer que jamais os direitos da pessoa humana podem ser subordinados aos da A constituição da Ala Liberal com Fran- sociedade, que constitui para o homem cisco Pinto Balsemão, Joaquim Magalhães um meio de realização pessoal. É o Mota, José Pedro Pinto Leite e João Bosco oposto da concepção transpersonalista Amaral, entre outros, permitiu iniciar a ou totalitária. Nesse sentido sou liberal. luta pela democratização política da so- Não admira, pois, que dentro da A. N. ciedade segundo o modelo ocidental, pela haja mais pessoas que perfilhem esses resolução da guerra colonial em respeito pontos de vista, não apenas no plano dos pela autodeterminação dos povos e por princípios até hoje infrutíferos, mas so- um projecto de revisão constitucional bretudo na tentativa de os pôr em prática, que consagrasse liberdades, direitos e ou seja no campo político. Mas não existe garantias individuais e o fim da censura. partido, nem sequer grupo formado e Francisco Sá Carneiro destacou-se pela disciplinado. Cada um vota como entende coragem física e política com que lutou e por vezes opostamente. como se tem por estas causas, nomeadamente pela visto, embora haja iniciativas comuns e liberdade. É esse o mote da entrevista princípios básicos aceites por vários. que concede à Flama em 1971: “Qual- quer espécie de progresso depende do reconhecimento efectivo dos direitos e liberdades da pessoa: sem ele não vale a pena julgar que andamos para a frente”. A renúncia ao cargo de deputado em 1973 resultou da impossibilidade da sua consagração constitucional, conforme explicou na sua habitual coluna Visto no : “A participação é impossível sem o pluralismo, ou melhor sem o seu reconhecimento e consagração nas insti- tuições e nas leis, já que ele é consubstan- cial aos homens”. As razões da candidatura de 1969 Estava assim clarificado o caminho para a construção de uma proposta política con- 21-10-1973 Jornal do Fundão creta na área da Social-Democracia, tendo a antecipação da criação do PSD ficado - Quais as razões que o levaram a candidatar-se a deputado, em 1969? clara numa entrevista concedida em 1971 - “Essencialmente, foi a consciência de que tinha o dever de, por esse meio, procurar contribuir para a alteração de um estado a Jaime Gama, então jornalista do Repú- de coisas com que não concordava, que se me afigurava nocivo e inaceitável. Entendia, e entendo, que a situação política que blica: “Se amanhã me pudesse enquadrar ao tempo vigorava, e que hoje se mantém fundamentalmente inalterada, não assegura um convívio humano justo, nem pos- em qualquer partido, estou convencido sibilita às pessoas a sua realização. Era o regime que a si próprio se definia como antiliberal, antidemocrático e autoritário. de que, dentro dos quadros da Europa Eu entendia que devíamos trabalhar para que, sem violência nem desordens, o regime evoluísse para um liberalismo político, Ocidental, comummente aceites, iria mais para a democracia institucionalizada, para a repartição da riqueza e para a participação de todos os portugueses nos bens para um partido social-democrata”. económicos e culturais, mercê, nestes aspectos, de um intervencionismo económico gerador de justiça social. Por isso e para isso me convidaram. Pelas mesmas razões aceitei.

14 ANOS DE DEMOCRACIA

Os motivos da renúncia ao cargo DE deputado

03-02-1973 Expresso

A participação é impossível sem o pluralismo, ou melhor sem o seu reconhecimento e consagração nas instituições e nas leis, já que ele é consubstancial aos homens; não há sociedades naturalmente monolíticas. A diversidade de opiniões é inerentes à sociedade dos homens. O monolitismo ideológico, as verdades indiscutíveis, os princípios absolutos são sempre artificiais e por isso impostos pelo autoritarismo que os gera e aplica.

A defesa das liberdades individuais

7-6-1971 Flama

Qualquer espécie de progresso depende do reconhecimento efectivo dos direitos e liberdades da pessoa: sem ele não vale a pena julgar que andamos para a frente. Resulta daqui que o primeiro assunto da convocação extraordinária sobreleva e condiciona os dois outros (...) Em suma, a próxima sessão extraordinária será para o regime e para as perspectivas de progresso do País uma verdadeira “hora de verdade”.

A antecipação da criação do PSD

15-12-1971 República

Os conceitos de catolicismo progressista e de democracia cristã são bastante equívocos para mim - e não aceito enquadrar-me em qualquer deles. Entendo que os partidos políticos - que considero absolutamente indispensáveis a uma vida política sã e normal - não carecem de ser confessionais, nem devem sê-lo. Daí que não me mostre nada favorável, nem inclinado, a filiar-me numa democracia cristã. É evidente que a palavra pode não implicar nenhum conceito confessional e nesse sentido apresentar-se apenas como um partido que adopte os valores cristãos. Simplesmente, em política, parece-me que os valores não têm que ter nenhum sentido confes- sional e, portanto, se amanhã me pudesse enquadrar em qualquer partido, estou convencido de que, dentro dos quadros da Europa Ocidental, comummente aceites, iria mais para um partido social-democrata.

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