3

Expediente

• Coordenação de programa: Maurício Costa de Carvalho

• Comissão de programa: Juliano Medeiros, Rogério Ferreira, Silvia Santos

• Coordenação de campanha: André Ferrari, Fernando Silva, Francisvaldo Mendes, Israel Dutra, Juliano Medeiros, Laura Cymbalista, Leandro Martins Costa, Luiz Araújo, Mariana Riscali, Rodolfo Mohr, Ro- gério Ferreira, Sandino Patriota, Silvia Santos

• Arte da capa: Adria Meira

• Diagramação: Tiago Madeira

• Revisão: Raquel Maldonado

SUMÁRIO 5

Sumário

Apresentação: Um programa para além das eleições 7

Diretrizes Gerais para Programa de Governo nas Eleições de 2014 9 Eixo 1 – Política Econômica e Modelo de Desenvolvimento ...... 10 Eixo 2 – Sistema Político e Democracia ...... 12 Eixo 3 – Mais e Melhores Direitos ...... 13

1 Economia 16

2 Trabalho, emprego e renda 22

3 Sistema previdenciário e aposentadorias 24

4 Educação 26

5 Ciência e tecnologia 30

6 Saúde 31

7 Meio Ambiente 34

8 Energia 37

9 Reforma agrária 40

10 Habitação e Reforma Urbana 44

11 Mobilidade e Transportes 47

12 Segurança Pública 50

13 Reforma Política 54

14 Relações exteriores 57

15 Direitos Humanos 59

16 LGBT 62

17 Mulheres 65

18 Comunicação 70

19 Cultura 73

20 Esporte e atividade física 76

Contribuição do movimento negro 80 Educação e mobilização para o combate ao racismo ...... 80 Sobre a violência racista ...... 81 Política Internacional ...... 82 6 SUMÁRIO

Contribuição da juventude 83 Educação ...... 84 Juventude e Trabalho ...... 87 Violência e Desmilitarização da Polícia ...... 87 Direito à Cidade ...... 88 Democratização da Comunicação, da Informação e da Cultura ...... 90 Direitos Democráticos ...... 92 A luta das mulheres ...... 92 Negras e Negros ...... 93 Direitos LGBTs ...... 93 Política de Drogas ...... 94 Memória, Justiça e Verdade ...... 95 Por uma reforma política radical ...... 95

Agradecimentos 97 APRESENTAÇÃO 7

Um programa para além das eleições

Em uma das inúmeras conversas que teve com colaboradores para a elaboração deste pro- grama de governo, fomos lembrados por um importante apoiador, figura proeminente do pensamento crítico brasileiro, de uma impecável fábula do escritor francês Phillippe Sollers:

“Dois e dois são seis, diz o tirano. Dois e dois são cinco, diz o tirano moderado. O cidadão corajoso que, mesmo expondo-se a todos os riscos, lembra que dois e dois são quatro, ouve dos policiais a seguinte advertência: ‘você quer que voltemos aos tempos em que dois e dois eram seis?’”

Não poderia haver retrato melhor das atuais eleições presidenciais. Marcada por diferenças apenas pon- tuais entre os partidos da ordem, a política brasileira está estruturada como um sistema viciado onde os ne- gócios das grandes empresas determinam as ações dos políticos e governantes. Neste sistema não importa quem ganhe, desde que os interesses dos bancos, das empreiteiras, das multinacionais, dos grandes grupos de comunicação e das elites estejam preservados. Financiados por esses grupos de poder, os políticos, por sua vez, contratam a peso de ouro os melhores marqueteiros para tentar mostrar que tudo isso é “natural” e para dizer ao povo que seus interesses são iguais aos interesses desses grupos, isto é, dizer que dois mais dois são cinco. Ou seis. Ou algo entre cinco e seis. É justamente essa velha política que está sendo questionada pelos milhares de protestos que se seguiram às grandes manifestações de junho de 2013. De formas muitas vezes não tradicionais, sem elaborações estraté- gicas, espontâneas, desorganizadas ou voluntaristas, as jornadas de junho tiveram o grande mérito de romper o dique que continha a indignação de milhões de brasileiros que voltaram a fazer das ruas um espaço privi- legiado da política verdadeira, da luta por direitos, da criatividade e do protagonismo popular na construção de um novo futuro. Representaram a denúncia desse sistema falido e a negação das velhas formas sem que as novas ainda tivessem ganhado corpo e substância para tomar seu devido lugar. Contudo, após mais de um ano daquelas grandes manifestações, nenhuma das promessas de mudanças estruturais com as quais os governos de plantão se comprometeram para tentar estancar os protestos foi de fato adiante. A situação da economia, que já apresentava sinais de esgotamento de modelo, se agravou e tem levado os candidatos do sistema a defender nestas eleições – mais ou menos abertamente, de acordo com o interesse de seus financiadores – a cantilena neoliberal de que a principal tarefa de quem presidir o país no ano que vem será a promoção de “ajustes”, o que na prática significa que para defender os interesses do grande capital é preciso, em contrapartida, promover “medidas impopulares” como arrocho salarial, desemprego e cortes de recursos dos serviços públicos. Nosso programa tem o compromisso de ser fiel ao sentimento de mudanças profundas que emergiu das lutas ano passado. Como tem reafirmado Luciana Genro, ser fiel a junho não significa que queremos nos apro- priar ou representar aquelas bandeiras. Mas, sabendo que não precisamos de novos gerentes para o velho projeto, nos dispomos a elaborar e organizar conjuntamente um novo projeto de país livre, soberano, iguali- tário e verdadeiramente justo. Nesse sentido, entendemos que é preciso dar um passo adiante avançando na necessidade de organizar essa plataforma de reivindicações em torno de um debate estratégico, pavimentando os caminhos para esta “utopia concreta”, para então transformar aquelas demandas em realidade. Este é o sentido deste programa. Para confeccioná-lo, tivemos como ponto de partida a atuação permanente e engajada do PSOL nas mais diversas lutas — nos movimentos sociais, nas universidades e escolas, nos sindicatos e no parlamento — onde tivemos contato e incorporamos às nossas elaborações o que de melhor e mais atual se produz pelo movimento vivo da sociedade por mudanças efetivas para o país. Ao mesmo tempo, incorporamos aportes de intelectuais, quadros técnicos e militantes das mais diversas áreas, que encontraram na candidatura de Luciana Genro um megafone para expor formulações que, na maioria das vezes, não encontram eco no deserto de ideias da política brasileira. Mais do que denunciar este programa tem, portanto, o objetivo de ser um anúncio. Na contramão à lógica das promessas demagógicas que são regra nas eleições mas nunca se efetivam porque não são compatíveis com os interesses das classes dominantes e do poder econômico, aqui reunimos demandas reais e apontamos 8 APRESENTAÇÃO os caminhos necessários para que se efetivem. Essas demandas estão organizadas em um sistema de propostas concretas divididas em 20 áreas diferentes, além das contribuições realizadas por movimentos de juventude e de negros e negras que incorporamos de bom grado, tais quais foram redigidas e apresentadas a nós. Por fim, dois destaques são necessários. Em primeiro lugar, é sabido que este programa parte do princípio de que para governar para a maioria é preciso contrariar interesses de uma minoria privilegiada. Não é possí- vel concretizar as propostas que o povo reclama sem contrariar interesses do capital financeiro, dos negócios imobiliários, do agronegócio e dos grandes latifundiários, dos monopólios e oligopólios da comunicação, das oligarquias regionais e dos poucos milionários que sustentam seus lucros exorbitantes a partir da manutenção da desigualdade social e das condições degradantes de acesso aos serviços públicos da maioria da população. Cientes de que esta proposta enfrenta uma oposição minoritária na sociedade, mas extremamente poderosa política e economicamente, propomos uma inversão de prioridades, colocando quem mais precisa como centro das políticas públicas e fazendo com que paguem a conta os que mais se aproveitaram dessa situação. Em segundo lugar, sabemos que as propostas concretas aqui apresentadas são perfeitamente possíveis e encontram amparo em experiências realizadas em muitos países no mundo, mas justamente por enfrentar in- teresses poderosos das elites tiveram que ser alvo de mobilização permanente e de muita luta organizada da população. Esse programa é assim, um guia para a ação de governo e, ao mesmo tempo, um desafio ao povo que lutou e venceu em junho de 2013: continuar nas ruas por mais direitos. Nelas encontrou-se o verdadeiro caminho das mudanças. Independentemente dos resultados dessas eleições, executar um programa que trans- forme o Brasil em uma democracia real dependerá sempre de que os maiores interessados busquem tomar as rédeas do próprio destino.

Maurício Costa de Carvalho Coordenação de programa Luciana Genro Presidenta DIRETRIZES GERAIS 9

Diretrizes Gerais para Programa de Governo nas Eleições de 2014

Apresentação

O Brasil vive um momento singular em sua histó- Frente à pressão das ruas, o governo Dilma e sua ria recente. Passados vinte e cinco anos desde a pro- maioria no Congresso Nacional não realizaram qual- mulgação da Constituição Federal de 1988 e do Fora quer mudança de rota, mantendo intactos o atual Collor vemos uma importante retomada das mobi- modelo de desenvolvimento e a política econômica lizações populares, que coloca em xeque os limites em curso que beneficia o grande capital. O que se do atual modelo político e econômico, um modelo constata claramente é um processo de desindustri- construído para preservar a dominação da maioria alização, maior dependência tecnológica, crescente por uma minoria de privilegiados. Em junho de 2013 vulnerabilidade externa, reprimarização da econo- nosso país viveu um novo despertar das manifesta- mia, maior concentração de capital e crescente do- ções de rua, as maiores desde a chegada do projeto minação financeira. Além disso, continuam as pri- petista ao governo federal. vatizações das estradas, portos e aeroportos; as arti- As manifestações que tiveram como ponto de culações para ampliar o repasse de recursos públicos partida a luta contra o aumento das tarifas expres- para os planos de saúde privados por meio de finan- saram um descontentamento mais amplo do povo ciamento do BNDES, aprofundando o subfinancia- contra as péssimas condições de vida nos grandes mento e o sucateamento do Sistema Único de Saúde centros urbanos brasileiros e insatisfação com a su- (SUS); bloqueio ao aumento do gasto público em po- bordinação do interesse público aos negócios priva- líticas sociais e na valorização do funcionalismo pú- dos. A revolta popular que teve início em junho não blico; e a privatização de 60% do Campo de Libra, do foi apenas contra um sistema de transporte caro, su- pré-sal, a maior reserva de petróleo já descoberta no cateado e ineficiente: foi também contra a exclusão país, bem como a aprovação de um Plano Nacional desta maioria que vive nas cidades sem acesso a ser- de Educação que não assegura os 10% do PIB para viços públicos de qualidade na saúde, educação, se- a educação pública, como reivindicado pelo movi- gurança pública, habitação, cultura e lazer. mento educacional. O fato novo, inaugurado desde então, é que o Em relação à política econômica, as taxas de ju- país ingressou numa nova conjuntura, mais favorá- ros brasileiras voltaram a liderar o ranking das mai- vel às lutas sociais e à defesa de um programa de ores taxas do mundo. Além disso, o governo tem mudanças estruturais, voltado para o combate à de- oferecido vantagens especiais ao grande empresari- sigualdade social, à garantia de direitos, à ampliação ado, através de generosos empréstimos subsidiados da democracia direta e à defesa de um projeto polí- pelo BNDES. Entretanto, o investimento do BNDES tico e econômico que garanta mobilidade urbana, os em áreas de interesses públicos estratégicos é muito direitos dos trabalhadores, serviços públicos de qua- baixo. lidade e preservação do meio ambiente e dos bens Enquanto o governo sonha com o aumento do in- comuns que devem servir ao interesse da maioria do vestimento privado, mais de 4O% do orçamento da povo. união em 2013 (900 bilhões de reais) foram drenados Os ventos da mudança deram maior ânimo para para o pagamento dos serviços da dívida pública, in- a luta de vários setores sociais. Foi o que vimos na cluindo juros e amortizações, mantendo intacta a fa- mobilização dos povos indígenas, nas manifestações ceta financista da política econômica. contra os abusos da Copa do Mundo, nas ocupações Do ponto de vista da democratização da proprie- do movimento sem teto, e na luta de diversas catego- dade da terra houve retrocessos, e a aliança do go- rias profissionais que retomaram a greve como ins- verno com o agronegócio está mais firme do que trumento legítimo e, em alguns casos, independente nunca na tentativa de ampliar a fronteira agrope- das estruturas sindicais. cuária, com amplo financiamento público – fonte da 10 DIRETRIZES GERAIS concentração da propriedade rural e dos conflitos Não aceitaremos nem o continuísmo represen- agrários no país. tado pelo PT e aliados, nem o retrocesso simbolizado A governabilidade do governo Dilma está sus- por PSDB e aliados. Tampouco aceitamos aqueles tentada numa aliança conservadora, que envolve se- como o PSB que estão entre os dois projetos. Nosso tores fisiológicos e da direita tradicional. Neste con- partido luta por uma real alternativa de esquerda texto, a bancada federal do PSOL tem sido a expres- para o Brasil, dizendo em alto e bom tom que não são dos insatisfeitos com o atual modelo. A comba- aceitaremos estes projetos a serviço da burguesia, tividade da bancada esteve expressa em várias lutas seremos a oposição de esquerda nas ruas e na dis- fundamentais, onde nossos parlamentares souberam puta eleitoral. Por isso, apresentamos ao povo brasi- distinguir com clareza o que é inegociável para a de- leiro uma candidata à Presidência da República que fesa dos interesses populares. Nosso partido, nas está à altura desses desafios: a companheira Luci- ruas e no parlamento, tem enfrentado os interesses ana Genro, histórica lutadora das causas populares ruralistas, rentistas, monopolistas e conservadores. em nosso país, ex-Deputada Federal, fundadora de A maior contradição deste novo cenário polí- nosso partido e atual presidente da Fundação Lauro tico, porém, é que o anseio de mudanças da maioria Campos. Estamos seguros de que Luciana será ca- da população, indicado pelas pesquisas de opinião, paz de encarnar o desejo de mudança que tomou as ainda não encontrou uma alternativa no terreno po- ruas no ano passado e traduzir em propostas concre- lítico e eleitoral. A velha opção da direita, represen- tas o Brasil que queremos construir: justo, soberano tada agora por Aécio Neves, assim como a aliança e democrático, enfim, um Brasil socialista. pragmática igualmente conservadora entre o PSB e Tomando por base as resoluções aprovadas nos Marina Silva, não tem capacidade de ocupar o es- quatro Congressos Nacionais do PSOL, bem como paço de mudança. o acúmulo de nossas setoriais e as discussões pro- Diante deste cenário, o PSOL buscará apresentar movidas pela Executiva Nacional nos Seminário de ao povo brasileiro um programa de esquerda que Programa de Governo no primeiro semestre de 2014, enfrente os problemas histórico do país, centrado apresentamos ao povo brasileiro as diretrizes gerais em três eixos: superação da atual política econô- do Programa de Governo do PSOL às eleições deste mica e do modelo de desenvolvimento, que depreda ano. Este documento está construído em três eixos o meio-ambiente e nossas riquezas naturais; trans- principais, a partir dos quais, estruturaremos nossas formação profunda do sistema político, aumentando propostas. Entendemos que este não é um processo a participação popular, a transparência e o controle conclusivo, razão pela qual, seguiremos colhendo público sobre a política; e ampliação radical dos di- contribuições ao longo de todo o processo eleitoral reitos e das liberdades dos trabalhadores e trabalha- através do portal Plataforma 50, criado para ser um doras, bem como dos setores socialmente mais vul- canal interativo de diálogo entre o PSOL e seus sim- neráveis e oprimidos. patizantes.

Eixo 1 – Política Econômica e Modelo de Desenvolvimento

Um governo do PSOL promoverá mudanças es- quanto 99% sofrem as consequências nefastas deste truturais na economia do país. O Brasil e o mundo modelo econômico. vivem uma crise socioambiental que está vinculada ao modo como se organiza a economia capitalista. O Brasil precisa conquistar sua verdadeira sobe- A destruição da natureza e a degradação do meio rania. Hoje a situação é de submissão aos interesses ambiente são diretamente proporcionais à crueldade do capital financeiro e monopolista. Entre abril de do capitalismo em relação aos oprimidos e explora- 2013 e abril de 2014, o governo Dilma aumentou a dos por este sistema. Nossa proposta é ecossocia- taxa básica de juros nove vezes, passando de 7,5% lista, pois não pode haver uma defesa consequente para 11%. Com isso, voltamos a liderar o ranking do meio ambiente sem que se aponte para a supera- das maiores taxas do mundo. Ao mesmo tempo, o ção das leis do capital, que necessita sugar os recur- governo prometeu contingenciar R$ 40 bilhões na sos naturais e explorar o ser humano para garantir execução orçamentária deste ano para garantir um a acumulação em benefício de 1% da população, en- superávit primário de 1,9% do PIB. Com isso, o prin- cipal componente do desequilíbrio financeiro do Es- DIRETRIZES GERAIS 11 tado brasileiro é, de longe, a conta de juros, que tem nal frente ao imperialismo. consumido entre 5% e 7% do PIB. É um recorde. A Além disso, terá lugar central em nosso pro- média mundial de comprometimento das finanças grama o combate à concentração de renda e às de- públicas com juros gira em torno de 1% do PIB, che- sigualdades. No mundo, 85 fortunas acumulam a gando a 2% em casos excepcionais. O Brasil gasta, mesma riqueza que 3,5 bilhões de pessoas. No Brasil na conta de juros, praticamente a mesma quantidade não é diferente. As cinco mil famílias mais ricas con- de recursos investidos no seu sistema de Seguridade centram a maior parte da riqueza produzida e ainda Social! Grande parte da dívida interna brasileira está recebem dinheiro do governo, através dos juros da nas mãos de 20 mil credores, enquanto o sistema de dívida pública. Este processo será estancado com o seguridade atende cerca de 130 milhões de pessoas. enfrentamento do problema da dívida, mas para ser Demonstração clara desta submissão é a recusa revertido, é preciso avançar numa reforma tributária do governo federal em cumprir o acordo, já bastante profunda. insuficiente, feito com governadores para renegociar Várias medidas vão nesta direção. A primeira é os contratos das dívidas estaduais, devido às “tur- mudar a estrutura tributária, de regressiva para pro- bulências do mercado”. Isto acontece porque o mo- gressiva. A modificação substantiva do sistema de delo econômico brasileiro está ancorado na financei- alíquotas é fundamental, de forma que os ricos pa- rização da economia, que se baseia no “Sistema da guem proporcionalmente mais impostos do que a Dívida Pública”, levando a ampliação do endivida- classe média e os pobres. É inadmissível que sobre mento pela obrigação de amortizar o capital e pagar os rendimentos do trabalho da classe média incida os juros. Somente uma auditoria independente pode a mesma alíquota que incide sobre os rendimentos demonstrar o quão lesivo é este processo. Neste sen- do trabalho dos ricos. É necessária a desoneração tido, o exemplo do Equador é eloquente, pois con- tributária que incide diretamente sobre a renda dos quistou uma redução de 75% no montante da dívida pobres e da classe média. A segunda consiste em eli- do país. minar boa parte das medidas de desoneração, seja A Auditoria deve resultar na devida suspensão da folha de pagamento, seja a redução de IPI, prin- do pagamento dos juros e amortizações da dívida cipalmente de setores de bens de consumo duráveis pública, garantindo o direito dos pequenos poupa- e dos setores em que há baixa concorrência. A ter- dores e da aposentadoria dos trabalhadores que par- ceira consiste em fazer com que a tributação sobre os ticipam de fundos de pensão, dado o fato deles invi- rendimentos do capital seja maior que a tributação abilizarem a capacidade do Estado em investir, por sobre os rendimentos do trabalho. A quarta envolve exemplo, nos direitos sociais – saúde, educação, ha- a maior taxação do estoque de riqueza dos ricos. A bitação, mobilidade urbana, saneamento, etc. Estas quinta trata de eliminar subsídios em financiamen- medidas devem resguardar os pequenos e médios tos para projetos de investimento de grandes empre- detentores dos títulos da dívida pública, que não se- sas e grupos econômicos. A sexta é acabar com o fi- rão prejudicados. nanciamento, com recursos públicos para empresas Nossa luta imediata será para que a economia do estrangeiras que operam no país. Por fim, a sétima Brasil não siga amarrada aos interesses do grande medida requer maior tributação do setor primário, capital financeiro. Enquanto Dilma, Aécio e Ma- inclusive, com impostos específicos sobre a exporta- rina disputam o posto de fiadores do ajuste fiscal e ção. do cumprimento das metas de superávit primário, O Imposto sobre as Grandes Fortunas – uma me- nosso programa parte da definição de que os recur- dida que consta na Constituição desde 1988 e até sos hoje destinados ao pagamento da dívida para as hoje não foi regulamentada – deve ser uma fonte cinco mil famílias mais ricas serão destinados aos in- de recursos e de justiça. Vamos inverter a lógica vestimentos públicos, à saúde, educação, transporte do atual sistema tributário, aumentando a tributação e demais gastos sociais. Daremos fim à desregu- sobre a riqueza e a propriedade. Dessa forma po- lamentação da economia e da abertura financeira e deremos baixar os impostos sobre o salário e o con- comercial irresponsável, bem como implantaremos sumo, beneficiando os mais pobres, os trabalhado- um rígido controle de capitais para inibir a especu- res, os pequenos comerciantes, os profissionais libe- lação. Ao mesmo tempo, nosso governo não conce- rais, enfim, os que hoje sustentam o parasitismo de derá autonomia ao Banco Central, transformando-o poucos. num instrumento da retomada da soberania nacio- Medidas como o Bolsa-Família devem ser trans- 12 DIRETRIZES GERAIS formadas em políticas efetivas de transferência de des empreiteiras e multinacionais, que têm capital renda, tratadas como política de Estado e acompa- próprio ou acesso a empréstimos internacionais, ou nhadas por transformações estruturais, pois isoladas empresas que usam os recursos públicos para au- são meramente paliativas e insuficientes para asse- mentar a concentração e os monopólios. A priori- gurar a vida digna que todos merecem. É sabido dade tem que ser estabelecida de acordo com os in- que os aumentos reais do salário mínimo, ainda que teresses da maioria do povo e não de um punhado abaixo do salário mínimo necessário apontado pelo de empresas privadas. Daremos fim e reverteremos DIEESE, foram mais eficientes para a redução da po- as privatizações fortalecendo o Estado e seus instru- breza do que programas de transferência de renda. mentos de planejamento estratégico, qualificando e Garantir emprego de melhor qualidade e salário dig- pagando bem os servidores públicos, para prestar nos é fundamental. Neste sentido, também é impor- serviços de qualidade. Além disso, faremos uma au- tante voltar a vincular o reajuste dos aposentados ao ditoria nas obras públicas para identificar desvios de do salário mínimo, pôr fim ao fator previdenciário e recursos, desperdícios e abusos. anular a reforma da previdência de 2003. Por fim, cabe destacar como elemento de cons- Nosso programa também deve ser taxativo na trução de um novo modelo econômico e de desen- defesa da soberania nacional e, portanto, do controle volvimento, a necessidade de uma profunda revi- público das áreas estratégicas, como a energia, que é são do sistema agrário brasileiro. Além de uma re- um fator crítico da soberania e do desenvolvimento forma agrária, que desmonte o latifúndio e desapro- de qualquer país. Há um potencial conflito de inte- prie propriedades que possam ser utilizadas para resses geopolíticos inerente a uma gigantesca reserva fins produtivos – sobretudo a produção de alimen- petrolífera como a do Brasil. A política energética do tos – será papel do Estado incentivar atividades que PSDB e do PT, embora diferentes, têm sido um de- gerem empregos, desenvolvam de forma sustentável sastre para o Brasil, transitando de um sistema pú- a economia no campo e fortaleçam a soberania naci- blico, planejado e cooperativo, para um sistema pri- onal. Setores unicamente voltados à exportação de vado, mercantil, concorrencial, caro, ineficiente e de- commodities não contarão com incentivo público e vastador do meio-ambiente. serão objeto de rigoroso controle por parte da socie- Outro ponto importante é a defesa de uma mu- dade, com a reversão do processo de monopolização dança na política de financiamento do BNDES. Não no campo. podem mais ser concedidos empréstimos para gran-

Eixo 2 – Sistema Político e Democracia

Compreendemos que as instituições da democra- democratização do poder. cia brasileira não têm respondido aos interesses da Por isso, em nosso governo, iremos refundar as maioria do povo. São instituições capturadas pelo instituições apodrecidas e vazias de representativi- poder econômico, corroídas pela corrupção e pela dade, para que correspondam à vontade popular. impunidade e distanciadas de uma representação le- Criaremos mecanismos de democracia direta, que gítima da população. Os processos eleitorais, instru- permitam ao povo tomar a política e a economia em mento de legitimação dos governantes, constituem- suas próprias mãos, para colocá-las a serviço dos in- se em grandes espetáculos de marketing, de enga- teresses da maioria. Da mesma forma, a revogabili- nação e falsas promessas. O poder econômico é de- dade dos mandatos dos políticos, a exemplo do refe- terminante, o que deixa pequenas brechas por onde rendo revogatório existente na Venezuela, é um ins- eventualmente a genuína vontade popular consegue trumento fundamental na construção de uma viva e se expressar. participativa democracia. As mobilizações de junho de 2013 demonstraram Uma reforma política real precisa interferir na- a crise de representação da política tradicional e suas quilo que tem feito da política um grande negócio: instituições, especialmente para as novas gerações. o financiamento das campanhas por empresas pri- O PSOL quer se apresentar como o partido que na vadas. Trabalharemos para que sejam aprovadas disputa institucional defende a ideia de que o poder leis que coíbam a influência do poder econômico so- vem das ruas e para isso defenderá uma profunda bre os processos eleitorais, tal como sugere a Co- DIRETRIZES GERAIS 13 alizão Democrática por Eleições Limpas e a Plata- de seus privilégios, ampliação dos instrumentos de forma dos Movimentos Sociais pela Reforma Polí- fiscalização e controle, com um combate sistemático tica. Na mesma medida, incentivaremos e garantire- e implacável à corrupção. mos a participação dos setores historicamente alija- Além disso, fundaremos uma nova governabili- dos da vida política, como mulheres, negros e outros dade: acabaremos com o eterno “toma-lá-dá-cá” no setores sociais hoje sub-representados. Congresso Nacional. Nossa relação com os parla- Neste processo, precisaremos promover mudan- mentares se dará com base na vontade popular e as ças legais que permitam maior controle social sobre mudanças virão não por acordos espúrios, mas pela as instituições e os agentes políticos, com o fim da pressão das ruas. Essa é a verdadeira “nova polí- impunidade aos criminosos do colarinho branco (en- tica”. quanto os presídios estão abarrotados de pobres) e

Eixo 3 – Mais e Melhores Direitos

As manifestações de junho de 2013 trouxeram A Reforma Agrária também é de vital importân- à tona um conjunto de problemas sociais que são cia. Para o povo do campo é um modelo que pode o resultado do modelo econômico excludente, con- assegurar o desenvolvimento regional. No caso das centrador e baseado na superexploração do traba- cidades, pode significar a garantia de alimentos mais lho. Não foi por acaso que o estopim das mani- baratos e de melhor qualidade na mesa. Junto com festações de junho foi o aumento das passagens de os movimentos do campo, dentre eles o MST, busca- ônibus. A questão do direito à cidade, em especial remos implementar um programa de reforma agrá- o problema da mobilidade urbana e o descaso dos ria que parta da necessidade de democratização da governos com o transporte coletivo faz do desloca- propriedade da terra, fixando limites, propondo a mento diário uma verdadeira via-crúcis para o povo. reorganização da produção agrícola e priorizando a Mas como foi dito nas manifestações “não era só por produção de alimentos sem venenos. vinte centavos, era por direitos”. As demandas so- No campo dos diretos básicos, em primeiro lu- ciais são múltiplas, como a saúde, educação, fim da gar não aceitaremos retrocessos como a flexibiliza- violência, transparência, participação. . . Por isso as- ção dos direitos trabalhistas, o cerceamento do di- sumimos o compromisso de implantar a Tarifa Zero reito à greve ou demissões arbitrárias, a exemplo nos principais centros urbanos, usando os recursos dos metroviários de São Paulo. O PSOL apoia a hoje destinados ao superávit primário para investir luta dos trabalhadores e buscaremos avanços, como em transporte público, saúde, educação e cultura, in- a jornada de 40 horas semanais e aumento dos sa- clusive melhorando os salários dos servidores públi- lários. Ampliaremos radicalmente os investimentos cos, agentes fundamentais na melhoria dos serviços públicos em saúde e educação. No SUS, efetuare- oferecidos à população. mos uma retomada global de suas funções originais, garantindo atendimento integral a todos de forma Nos últimos meses, graças às ocupações urbanas gratuita e com qualidade. Na educação, assegura- promovidas principalmente pelo MTST, o tema da remos a ampliação gradual dos investimentos públi- moradia popular tem ganhado destaque nacional. cos, coibindo o repasse para as instituições privadas O programa Minha Casa Minha Vida tem sido uma de modo a universalizar o acesso a todos os níveis de mina de ouro para as construtoras e o problema da educação de forma gratuita através de instituições moradia para as famílias pobres está longe de ser re- públicas. solvido. Vamos modificar totalmente este programa, retirando-o do controle das empreiteiras e compar- No campo dos direitos humanos e das liberda- tilhando sua gestão com as entidades de luta pela des civis são vários os temas que buscaremos en- moradia. Além disso, vamos propor uma legislação frentar. O combate à homofobia, por exemplo, tem que estabeleça um rígido controle sobre os reajustes grande importância. Os ataques homofóbicos têm dos aluguéis, combatendo a especulação imobiliária sido cada vez mais frequentes e a luta por direitos, e taxando ainda mais os imóveis vazios. Como pro- como o casamento civil igualitário, ganha força prin- põe o MTST, é preciso congelar os aluguéis enquanto cipalmente junto à juventude. se formula uma nova lei do inquilinato no país. O combate ao racismo também se fortaleceu nos 14 DIRETRIZES GERAIS

últimos anos. O racismo que existe nas relações da a utilização de polícias militares como instrumento sociedade brasileira vai além dos episódios mais gri- de genocídio contra a população pobre e de crimina- tantes que hora ou outra chamam atenção da opi- lização de suas lutas sociais, para manutenção dos nião pública. Ele está presente no cotidiano da po- interesses das elites. Por isso, o PSOL defende a des- pulação. A sociedade brasileira é composta na sua militarização e a unificação das polícias. maioria por negras e negros nos impondo o desafio Devemos lembrar que o Brasil é o quarto país urgente de combater o racismo, erradicar as diferen- do mundo em população carcerária, atrás apenas ças e a apartação existentes que levam um segmento dos EUA, Rússia e China. Levantamento feito pelo tão amplo da sociedade a ser excluído de boa parte Instituto Avante Brasil, com dados do InfoPen, do dos direitos. Ministério da Justiça, apontou um crescimento de A violência contra as mulheres, seus direitos se- 508,8% na população carcerária brasileira no período xuais e reprodutivos, as mortes absurdas fruto da de 1990 a 2012. E quem são estes presos? No ano de criminalização do aborto e a desigualdade de gênero 2012 os pardos e negros eram ampla maioria. Tam- no mercado de trabalho também devem ser temas bém era maioria os que têm o Ensino Fundamental centrais em nosso governo. Por isso, a campanha Incompleto. Os jovens também eram maioria: quase do PSOL será porta-voz da luta contra os retroces- 30% tinha entre 18 e 24 anos e 25,3%, entre 25 e 29 sos conservadores que almejam aprovar o Estatuto anos. Neste contexto, o comércio ilícito de entorpe- do Nascituro e dificultar o atendimento às vítimas centes aparece em segundo lugar de incidência (atrás de violência sexual. Devemos defender a legaliza- dos crimes patrimoniais) atingindo 24,43% da popu- ção do aborto, a exemplo do que foi feito no Uruguai, lação carcerária em geral, e no que diz respeito à po- o que diminuiu radicalmente os casos de morte das pulação carcerária feminina, é a principal causa de mulheres em decorrência do aborto clandestino. encarceramento, atingido 49,65% das presas. Um governo do PSOL teria a coragem que ou- tros não tiveram de avançar na democratização dos Nos presídios, lugar reservado aos indivíduos meios de comunicação. A quebra dos oligopólios considerados “descartáveis” pelo Estado até hoje, midiáticos e sua política de voz única terá atenção reina a barbárie, como vimos de forma mais aguda especial, com ênfase para o fim da propriedade cru- no Maranhão. A sociedade se chocou com a violên- zada dos meios de comunicação. Nosso incentivo cia em Pedrinhas, mas é hora de refletir por que se será para instrumentos de comunicação alternativos, chegou a este extremo. É hora de parar o clamor por como rádios e TVs comunitárias, e aos meios públi- encarceramento e aumentar o clamor por direitos. cos de mídia. Além disso, daremos ênfase para o Neste sentido, apresentamos um conjunto de controle social da mídia, com instrumentos de parti- propostas que começa apontando para o fim da cha- cipação popular. mada guerra às drogas. Esta guerra é hoje o mais Quanto à segurança pública, iremos promover poderoso instrumento de criminalização da pobreza uma mudança radical no atual sistema brasileiro, as- e de instigação ao racismo. A morte de Amarildo, segurando outro papel para a polícia que não a de re- Cláudia e DG, dentre tantos outros, também é resul- pressão aos mais pobres, preparando os trabalhado- tado da guerra às drogas. Ela legitima a violência res da segurança para coibir os crimes promovidos e as violações aos direitos humanos cometidas pelo por quadrilhas especializadas. Além disso, batalhar próprio Estado contra os pobres. Muito embora in- por uma efetiva valorização dos policiais, bombei- suficiente do ponto de vista da desestruturação do ros e demais profissionais, tal como algumas propo- tráfico e de todas as suas consequências, a descri- sições previstas nas Propostas de Emenda Constitu- minalização da maconha é um inegável passo adi- cional 51 e 300. E também garantir o direito à sindi- ante. O Uruguai é o primeiro país da América La- calização e à greve. tina a legalizar o uso, plantio e venda da maconha. A segurança deve ser entendida como um direito O consumo já não era mais crime há muitos anos e a social fundamental. Não é possível pensar em demo- principal preocupação do governo foi impedir o nar- cratizar nossa sociedade sem golpear um dos aspec- cotráfico de seguir dominando o mercado. Este é o tos mais brutais da política do aparelho de Estado: caminho que queremos seguir. DIRETRIZES GERAIS 15

Agradecimentos Este documento não teria sido possível sem as elaborações de Reinaldo Gonçalves, César Benjamin, Maria Lúcia Fatorelli, Chico Alencar e Guilherme Estrella. A eles, os sinceros agradecimentos do Partido Socialismo e Liberdade. 16 ECONOMIA

1 Economia

A política macroeconômica define as princi- tribute principalmente a grande propriedade. pais variáveis de uma economia e é determinante Instituir o imposto sobre as grandes fortunas, para pensar qualquer política de desenvolvimento. com alíquota de 5% ao ano sobre patrimônios Subordiná-las a outros preceitos que não os do mer- a partir de 50 milhões de reais. cado é imperativo para uma política de desenvolvi- d) Mudar profundamente o modelo produtivo mento alternativa, voltada para as necessidades da que atualmente privilegia os bancos, o agrone- classe trabalhadora e do povo e não do grande capi- gócio, as empreiteiras e as grandes empresas tal como tem sido a regra dos últimos anos no Brasil. exportadoras para buscar um modelo social- A atual política econômica demonstra como é pa- mente justo e ecologicamente sustentável em tente que o Brasil não tem mais condições de le- que a prioridade seja a produção de alimen- var adiante nos mesmos moldes o ciclo de cresci- tos saudáveis e de bens e serviços com maior mento prometido pelo lulismo. O aquecimento da incorporação de conhecimento e tecnologias, economia por meio da oligopolização crescente dos sempre que voltados para as necessidades da setores-chaves e da continuação da política de priva- maioria. tizações nas suas mais diversas modalidades mostra suas grandes fragilidades por não ter dado conta de e) Combater a vulnerabilidade externa estrutural combater a total falta de prioridade, planejamento da economia brasileira, enfrentando o capital e investimento em políticas públicas fundamentais financeiro, a lógica determinista do mercado e como as de saúde, educação, transporte e habitação. a aceitação do papel subordinado do Brasil na O que precisamos agora é de um ciclo de políticas divisão internacional do trabalho como produ- de combate à desigualdade. Tal ciclo não será base- tor de matérias-primas e importador de tecno- ado na transferência direta de renda, mas na constru- logia. Utilizar o BNDES e outros bancos públi- ção de sistemas de serviços públicos em educação, cos para apoiar tecnologias alternativas e não saúde e transporte. Esta é uma maneira de fortalecer para financiar oligopólios, empreiteiras e gran- a capacidade de compra dos salários através da limi- des empresas do atual modelo agromineiro ex- tação de gastos das famílias. Ele será baseado tam- portador. bém na limitação da disparidade salarial. A política f) Priorizar obras de infraestrutura que atendam macroeconômica do nosso governo estará a serviço ao interesses públicos e não se justifiquem ape- disso. nas pelos interesses do grande capital. Prioridades: Propostas de ação: a) Mudar a política econômica reduzindo juros, terminando com a política antipovo dos supe- 1. Combater a inflação reduzindo as taxas rávits primários no orçamento da União e al- de juros terando a sobrevalorização cambial e a irres- ponsável liberalização da conta de capitais (au- O chamado “Regime de Metas de Inflação” é um sência de controles soberanos sobre entrada e dos itens do chamado “tripé macroeconômico”. Ele saída de moeda estrangeira do país). é defendido por todos os 3 candidatos dos grandes partidos, como se fosse algo “natural” e “virtuoso” b) Enfrentar o sistema da dívida, fazendo uma para o controle dos preços. Porém, este regime foi auditoria que impulsione o fim da entrega dos instituído em 1999 a mando do FMI, e não tem sido recursos públicos para os rentistas e especula- eficaz no combate à inflação, pois se baseia na teoria dores e liberando o recurso público para inves- neoliberal de que o aumento de preços seria resul- tir nas necessidades da população. tado de uma suposta demanda exagerada por pro- c) Fazer uma revolução tributária, invertendo dutos e serviços, sendo então necessário manter altas a estrutura desigual e regressiva que tributa taxas de juros para reduzir a atividade econômica e, principalmente os assalariados para outra que assim, controlar os preços. ECONOMIA 17

Porém, nos últimos 12 meses terminados em ficativa das chamadas “receitas primárias” (ou seja, agosto de 2014, a maior parte da inflação (de 6,51%, principalmente os tributos arrecadados) sejam desti- conforme o IPCA) decorreu da alta dos preços dos nados para o pagamento da dívida. Além disso, tal alimentos – que subiram 7,53%, principalmente de- “meta” faz com que outras receitas, de centenas de vido a problemas climáticos – e dos preços controla- bilhões de reais por ano (tais como os novos emprés- dos pelo próprio governo, como energia elétrica (que timos, os eventuais lucros do Banco Central, os ren- subiu 13,58%), planos de saúde (9,27%), e educação dimentos da Conta Única do Tesouro, os recebimen- privada (8,87%). tos de juros e amortizações das dívidas dos estados e Ou seja: as taxas de juros nada têm a ver com pro- municípios com a União, etc) também tenham de ser blemas climáticos ou com a decisão do próprio go- destinadas principalmente ao pagamento da dívida, verno em aumentar preços das tarifas públicas. Na pois se fossem destinadas a gastos sociais, a “meta” realidade, a manutenção de altas taxas de juros favo- seria ameaçada. rece somente ao capital financeiro, ou seja, os bancos Desta forma, ao influenciar todo o orçamento pú- e grandes investidores, que ganham com a dívida blico, tal “meta” de superávit primário impõe que o pública às custas do povo. Portanto, é plenamente governo federal destine mais de 40% de seus recur- possível reduzir a taxa de juros sem provocar infla- sos para o pagamento de uma questionável dívida, ção. Aliás, a redução nas taxas propicia o aumento repleta de indícios de ilegalidades, tais como: do investimento, o que aumenta a oferta futura de • Boa parte da dívida atual decorre da obscura produtos e serviços, reduzindo-se assim a inflação. e questionável dívida da ditadura (ou seja, um Para realmente combater a inflação de alimen- governo ilegítimo), com cláusulas ilegais e sem tos é necessário executar uma política séria de segu- documentação; rança alimentar, fortalecendo a agricultura familiar com uma reforma agrária de verdade, infraestrutura • Utilização de juros flutuantes, ilegais segundo para as famílias assentadas, e apoio governamental o Direito Internacional; para a comercialização direta da produção via feiras • A aplicação de juros sobre juros (“anatocismo”, livres e pontos de comercialização alternativos. vedado pela Súmula 121 do STF); No que se refere aos preços administrados pelo • governo (como combustíveis, energia elétrica, trans- O pagamento antecipado de parcelas da dívida porte público, plano de saúde, educação privada, te- externa com ágio de até 70%; lecomunicações), eles tiveram um aumento de nada • A realização, pelo Banco Central, de reuniões menos que 568% de julho de 1994 a fevereiro de 2014, trimestrais com representantes de bancos e ou- enquanto o índice geral de inflação (IPCA) foi de tros rentistas, para estimar variáveis como ju- 351% no período. Portanto, não é verdade que as ros e inflação, que depois são utilizadas pelo tarifas públicas tenham de ser ainda mais aumenta- COPOM para a definição das taxas de juros (ou das, conforme defendem os teóricos neoliberais e os seja, é “colocar a raposa para tomar conta do 3 candidatos dos grandes partidos. Na realidade, de- galinheiro”); veria haver uma forte redução em tais preços, dados • os enormes lucros das empresas privatizadas nas úl- Ausência de contratos e documentos; ausência timas décadas. de conciliação de cifras; • A grande destinação dos recursos orçamentá- 2. Abaixo à política do “superávit primá- rios para o pagamento da dívida viola os direi- rio”: auditoria da dívida já! tos humanos e sociais.

Outra política defendida pelos 3 candidatos dos As atuais dívidas de estados e municípios com a grandes partidos - e que também integra o chamado União também possuem sérios indícios de ilegalida- “tripé” - é a manutenção de altos “superávits primá- des e fazem parte do mesmo sistema, dado que os rios”, ou seja, o corte de gastos sociais para o paga- juros e amortizações pagas pelos entes federados à mento da dívida pública. Esta política também não União são destinados por esta última para o paga- tem nada de “natural” ou “virtuosa”, e também foi mento da também questionável dívida federal. Con- imposta ao país pelo FMI em 1999 e mantida até hoje. siderando que os entes federados já pagaram esta dí- A tal “meta” de superávit faz com que parte signi- vida várias vezes (ao mesmo tempo em que o saldo 18 ECONOMIA das dívidas explodiu), é necessário que o governo fe- mesmo por economistas que estão no governo do PT. deral finalmente pare de atuar como um agiota dos Atualmente, o governo alega que não tem de se estados e municípios e anule esta dívida, permitindo preocupar com isso, pois o Brasil possui cerca de que os entes federados possam utilizar estes recur- US$ 380 bilhões em reservas internacionais e o Banco sos para investimentos em área sociais importantes, Central poderia ofertar dólares na economia para como saúde, educação e transporte público. compensar uma eventual fuga de capitais. Porém, Portanto, é necessário fazer uma ampla e pro- estas reservas não seriam suficientes para defender o funda auditoria sobre todas estas dívidas (federais, Brasil caso fossem adotadas medidas realmente con- estaduais e municipais). A auditoria da dívida está trárias aos interesses do capital. Além do mais, é im- prevista na Constituição de 1988, porém, jamais foi portante ressaltar que tais reservas foram obtidas às realizada. Ela deve resultar na devida suspensão do custas de mais dívida interna, que paga juros altíssi- pagamento dos juros e amortizações da dívida pú- mos. blica, garantindo o direito dos pequenos poupado- Tais reservas começaram a aumentar significati- res e da aposentadoria dos trabalhadores que parti- vamente a partir da segunda metade da década de cipam de fundos de pensão. Estas medidas devem 2000, quando aumentou a entrada de dólares no Bra- resguardar os pequenos e médios detentores dos tí- sil, devido a diversos fatores: (a) novo ciclo de in- tulos da dívida pública, que não serão prejudicados. vestimentos internacionais, após uma leva de cri- Enfrentar o problema da dívida é fundamental ses financeiras; (b) aumento do preço das commo- para o crescimento significativo dos gastos sociais e dities, aumentando as receitas em dólares de expor- para que estados e municípios disponham de recur- tações brasileiras; (c) isenção de Imposto de Renda sos para atender suas crescentes responsabilidades sobre os ganhos dos estrangeiros com os juros da dí- como saúde, educação e transporte público. vida interna, iniciada em 2006; (d) altas taxas de ju- ros brasileiras, em comparação às taxas vigentes nos 3. Controle sobre o fluxo de capitais países do Norte; (d) a recente política dos EUA e União Europeia de injetar trilhões de dólares e eu- O chamado “câmbio flutuante” é o terceiro com- ros na economia para salvar bancos falidos, gerando ponente do “tripé” da atual política econômica e uma “tsunami” (palavra usada pela própria Presi- pode ser traduzido, em bom português, na livre denta Dilma) de dólares para o Brasil, que paga juros entrada e saída de capitais internacionais, o que muito atraentes. também foi imposto pelo FMI nas últimas décadas. Para tentar evitar uma desvalorização ainda Nesta política liberalizante, quando há entrada de maior da moeda norte-americana, o Banco Central dólares no país, o preço do dólar cai (ou seja, o real compra estes dólares que chegam ao Brasil, ofer- se valoriza), e quando há saída de dólares, o preço tando em troca títulos da dívida interna, sem limite do dólar sobe (o real se desvaloriza). algum para esta operação, o que representa um es- Dentro dessa orientação neoliberal, o grande ca- candaloso e ilegítimo mecanismo de enriquecimento pital nacional e internacional pode retaliar imediata- do capital às custas do povo. Devido às altíssimas ta- mente o governo - por meio da fuga de capitais – em xas de juros estabelecidas no país e à liberdade total resposta a qualquer medida que considerem preju- de movimentação de capitais, o dólar fica abundante dicial a seus interesses, tal como a significativa redu- e se desvaloriza (seu preço em reais cai), razão pela ção dos juros, a auditoria da dívida, a tributação das qual a taxa de câmbio média em 2013 foi de apenas grandes fortunas, etc. Assim, o câmbio se torna um R$ 2,16. instrumento de chantagem do capital contra a popu- Desta forma, enquanto os preços dos produtos lação. brasileiros aumentaram em média 110% no período, Diante disso, muitos países (como a Malásia e o preço dos importados caiu, gerando uma invasão China) adotaram mecanismos de controles sobre os de produtos estrangeiros, desindustrializando o país fluxos de capitais, como, por exemplo, o estabeleci- e causando desemprego na industria. É verdade que mento de prazos mínimos de permanência ou condi- temos de descontar destes 110% a inflação ocorrida ções prévias para sua entrada (investimento em de- nos EUA, porém, esta foi de apenas 29,5% no pe- terminados setores, contrapartidas sociais, etc). Inte- ríodo. ressante ressaltar que tais mecanismos são aplicados Logicamente, a saída para este problema é o con- inclusive por países capitalistas e são defendidos até trole sobre o fluxo de capitais e a redução dos juros, ECONOMIA 19 porém, o governo tenta aliviar essa situação desone- • Rever os incentivos concedidos recentemente, rando as empresas de tributos, tais como a contri- como a redução de IPI para veículos individu- buição previdenciária patronal, prejudicando os tra- ais e extinção da contribuição previdenciária balhadores. patronal.

4. Revolução Tributária 5. Lei de Responsabilidade Social Atualmente, o sistema tributário brasileiro é muito injusto, pois penaliza os trabalhadores e con- Alterando drasticamente o modelo de desenvol- sumidores de produtos essenciais à sobrevivência, vimento econômico até então vigente no país e se- enquanto privilegia os detentores de grandes rendas, guindo fielmente os ditames internacionais nos anos o capital financeiro, os latifúndios e fortunas. 90, as elites brasileiras empreendera, através de seus representantes eleitos, uma profunda reforma nas É necessário, por exemplo: estruturas do Estado. Além das privatizações e da • Regulamentar o Imposto sobre Grandes Fortu- política econômica baseada no tripé juros-superávit- nas; câmbio, outras medidas foram tomadas para estran- gular os investimentos públicos em favor do paga- • Acabar com a chamada “dedução de juros so- mento da dívida pública para os agiotas internacio- bre capital próprio”, ou seja, a permissão para nais. que empresas deduzam de seus lucros – redu- Remodelando com esmero o Estado brasileiro, no zindo, portanto, a base de cálculo do IRPJ e que fosse possível, o neoliberalismo alterar profun- CSLL – o montante de juros que teriam pago damente boa parte do corpo normativo brasileiro. caso todo o seu capital tivesse sido tomado em- Dentre as principais medidas aprovadas no começo prestado; da década passada está a Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF. Se por um lado, a LRF impediu a gas- • Acabar com a isenção de Imposto de Renda so- tança irresponsável de políticos oportunistas na es- bre a distribuição de lucros e dividendos; fera municipal e estadual, por outro, serviu para su- focar os investimentos públicos e justificar o ajuste • Revisar a Lei Kandir, que isenta de ICMS pro- fiscal implementado desde os anos 90. dutos primários e semi-elaborados destinados A LRF resultou na manutenção e nos agrava- à exportação; mento dos índices sociais, bem como na perda da • Restabelecer a alíquota de 30% da CSLL do se- capacidade estatal de responder rápido e eficiente- tor financeiro; mente a situações de crises e reivindicações soci- ais. Ela está inserida numa política macro e micro- • Acabar com a isenção de Imposto de Renda so- econômica de disciplina monetária, austeridade fis- bre os ganhos dos estrangeiros com a dívida cal, corte dos gastos públicos, reformas administrati- interna; vas, previdenciárias e fiscais, desoneração do capital, abertura e, consequente, exposição do parque indus- • Corrigir a tabela do IRPF e reformular as faixas trial nacional à concorrência estrangeira e, principal- e alíquotas, de modo a poupar a classe média e mente, superação do modelo de desenvolvimento penalizar os muito ricos; nacional até então adotado, o que significava des- regulamentar os mercados financeiros, flexibilizar o • Acabar com a DRU (Desvinculação das Re- mundo do trabalho e privatizar empresas e serviços ceitas da União), que permite que o governo públicos. possa gastar como quiser 20% das receitas que O PSOL defende que, mais que uma Lei de Res- deveriam ir para despesas legal ou constituci- ponsabilidade Fiscal, o país precisa de uma Lei de onalmente vinculadas, como a saúde e previ- Responsabilidade Social, que obrigue os governos dência; em todas as esferas - municipal, estadual e nacional - • Reformular o Imposto Territorial Rural; a retomar os investimentos públicos em direitos, ser- viços e infraestrutura. Como tem sido proposto por • Desonerar a Cesta Básica, que ainda inclui tri- diversos setores organizados, intelectuais e ativistas butos com o ICMS; políticos, uma Lei de Responsabilidade Social teria 20 ECONOMIA como objetivo o pagamento da dívida social do Es- área de eletroeletrônico, fármacos, química, equipa- tado para com a população, a publicização das ações mentos mecânicos, etc. públicas; o empoderamento social e a construção de Um alerta sobre este problema foi feito pelo um sistema de Governança Social, onde os gover- IPEA, instituição de pesquisa do governo brasileiro. nos deveriam cumprir indicadores sociais mínimos Um estudo preliminar indica que os vultuosos recur- de investimento em serviços e infraestrutura. Com sos do BNDES (aliás, com reforço do Tesouro Naci- isso, A Lei de Responsabilidade Social apresenta ino- onal) estão sendo utilizados para fortalecer ou for- vações como a garantia de recursos orçamentários e mar grandes grupos empresariais privados na área o não contigenciamento de recursos destinados a es- de alimentos e recursos naturais. Ademais, o esforço ses serviços; a fixação de metas macrossociais e a ins- da política industrial nacional, especialmente a par- tituição do Índice Nacional de Responsabilidade So- tir de 2003, não rendeu resultados na direção de su- cial, como forma de orientar os programas e as ações perar saldos comerciais negativos originados a par- governamentais na destinação de recursos orçamen- tir de produtos de média e alta tecnologia; ao con- tários e integrar os instrumentos de planejamento e trário, são precisamente os setores responsáveis pela orçamento. drástica diminuição dos outrora mega-superávits co- merciais. A expansão das empresas brasileiras no 6. Combate à desindustrialização e à repri- mercado mundial, ainda baseia-se nos setores inten- marização da economia sivos em recursos naturais e commodities. Os recur- sos do BNDES também foram utilizados para salvar O modelo econômico aprofundado por Dilma grupos econômicos nacionais de suas aventuras na Roussef produziu o fenômeno que tem sido cha- festa mundial da especulação. Grupos econômicos mado de “desindustrialização”. A chamada desin- como Sadia, Votorantin, Aracruz, entre outros, sofre- dustrialização não é exclusivamente resultado dos ram perdas importantes nos negócios arriscados em erros de política econômica, mas produto do proteci- que se envolveram e, como sempre, levaram a conta onismo dos países centrais, da imensa força da revo- para o Estado pagar. lução científico-técnica que ali se verifica e da eleva- Luciana Genro buscará estimular a industrializa- ção dos preços das matérias primas e produtos agrí- ção do país, retomando a capacidade produtiva de colas. O exemplo mais significativo é o preço da soja parques industriais estratégicos, revendo privatiza- - que tanto enriqueceu quanto fortaleceu o latifúndio ções de setor fundamentais para o desenvolvimento, no país - mas não é, certamente, o único produto. Em investindo em produção de ciência e tecnologia, di- relação a 2005, o aumento dos preços acumulados até minuindo a dependência externa, taxando as expor- abril de 2008 para o conjunto dos produtos básicos tações de commodities, alterando as prioridades de no mercado internacional foi aproximadamente de investimento do BNDES e mudando a política de 65%, indica estudo recente. Na mesma direção, os subsídios e renúncia fiscal hoje em vigor. preços dos metais cresceram 81% e os combustíveis 79%. O período corresponde precisamente ao início 7. Financiamento com juros baixos para as do segundo mandado do presidente Lula, e a ten- pessoas e o setor produtivo dência favorável aos preços destes produtos ainda não sofreu um abalo significativo, mesmo após se- Conforme mostram os dados do Banco Central, tembro de 2008. Os efeitos para o Brasil são mais que atualmente a taxa média dos empréstimos dos ban- evidentes, já que a origem dos sucessivos superávits cos para pessoas físicas é de 43,2% ao ano, e para comerciais revela um segredo que poucos estão dis- pessoas jurídicas, de 23,1% ao ano, taxas estas ainda postos a tratar: entre 1980 e 2007, a participação do superiores à taxa Selic, atualmente em 11% ao ano. setor industrial no valor adicionado total da econo- Isto significa que os bancos se interessam em em- mia brasileira recuou 6,2 pontos percentuais. Esta prestar a pessoas e empresas apenas a juros altíssi- tendência foi acentuada no período recente, pós se- mos, pois possuem rendimentos garantidos empres- tembro de 2008, como indicam outros estudos. No tando ao governo. que se refere ao balanço de pagamentos, há muito Com a revisão da política de endividamento pú- tempo se sabe que a origem do “superávit comer- blico, os bancos se verão na obrigação de emprestar cial” se produz a partir da exportação de produtos ao setor produtivo e às pessoas a juros baixos. En- agrícolas e minerais, amargando imenso déficit na tendemos que é necessário estimular esses setores, ECONOMIA 21 especialmente no que se refere às micro, pequenas e pelas demandas mais emergentes do mercado e da médias empresas, agricultura familiar, ciência e tec- economia. Nem a criação dos Planos de Aceleração nologia, serviços e empreendimentos cooperativos, do Crescimento (PACs), nem o debate em torno do combatendo a tendência de monopolização e oligo- orçamento público – uma queda de braço entre os di- polização presente em nossa economia. versos interesses do capital - serviram para respon- der às necessidade de retomada do planejamento. 8. Revisão das Privatizações No governo do PSOL, com as mudanças que promoveremos, a atividade de planejamento esta- É necessário fazer uma ampla auditoria do pro- tal também deverá ser reformulada. O planeja- cesso de privatizações, que foi feito a partir dos anos mento não pode ser nem concebido nem executado 90 sob a justificativa de que o governo não tinha di- de forma externa e coercitiva aos diversos setores so- nheiro para investir nas estatais, e que por isso elas ciais diretamente atingidos pelas medidas estatais. deveriam ser vendidas para se obter dinheiro para Além disso, com a multiplicação e a complexidade pagar a dívida pública. Outros argumentos larga- dos problemas econômicos, houve uma tendência mente utilizados foram que as empresas públicas de- geral de se pulverizar o planejamento como algo que veriam ser transferidas ao controle privado para que precede, condiciona e orienta a ação pública. Isso houvesse uma melhoria na produtividade, para que aconteceu também no Brasil, sobretudo na década de os preços dos serviços públicos caíssem, e que a qua- 1990. O governo de Luciana Genro terá como metas lidade destes serviços fosse melhorada. no campo do planejamento: i) a inserção internacio- Na prática, as privatizações foram financiadas nal soberana; ii) a macroeconomia para o desenvol- pelo BNDES (banco estatal), a dívida pública explo- vimento e fim das desigualdades; iii) infraestrutura diu, os preços das tarifas também, e a qualidade dos econômica, social e urbana; iv) estrutura tecnopro- serviços (principalmente da telefonia) deixa muito a dutiva avançada e regionalmente articulada; v) sus- desejar. Além do mais, houveram sérias ilegalidades tentabilidade ambiental; vi) proteção social, garantia no processo de privatizações. de direitos e geração de oportunidades; e vii) fortale- Por esta razão, as privatizações devem ser revis- cimento do Estado, das instituições e da democracia. tas, e empresas devem ser reestatizadas. É claro que analistas neoliberais poderiam argumentar que isto 10. Aumentar a renda dos brasileiros e re- seria “quebra de contrato”, porém, nos casos em que verter a bolha de endividamento das famí- as promessas das privatizações não se confirmaram, lias é plenamente justificável e legítimo a retomada de tais empresas pelo Estado. Contrariamente ao discurso oficial, nos últi- mos anos não ocorreu um aumento significativo Além disso, deve ser revista a atual política de na renda dos trabalhadores. Conforme mostra a gestão das empresas estatais, que estão visando lu- PNAD/IBGE, o rendimento médio mensal real dos cro, cobrando caro da população (tarifas bancárias, trabalhadores em 2012, de R$ 1.507, foi apenas juros altos, combustíveis caros), e sacrificando os tra- 11% superior ao valor observado em 1996 , de R$ balhadores. É preciso revogar a Lei 9.530/1997, se- 1.358 (todos estes valores atualizados monetaria- gundo a qual todos os lucros das estatais distribuí- mente para set/2012). Ou seja, em 16 anos, os traba- dos ao governo federal devem ser destinados para o lhadores aumentaram em apenas 11% o seu salário, pagamento da dívida pública. daí os problemas atuais relativos ao superendivida- 9. Retomar a capacidade de planejamento mento das famílias. do Estado É preciso condicionar a redução de tributos so- bre o consumo à redução dos preços e ao aumento O planejamento estatal já teve papel central no significativo dos salários. Para tanto, é preciso fazer desenvolvimento do Brasil. Porém, a onda neolibe- funcionar os instrumentos de defesa da concorrên- ral que varreu o país a partir dos anos 90 acabou com cia, para que segmentos oligopolizados não possam isso. Com as sucessivas crises internacionais, o Es- se apropriar dos ganhos decorrentes da redução dos tado perdeu a capacidade de planejar, respondendo tributos incidentes sobre o consumo de produtos. 22 TRABALHO, EMPREGO E RENDA

2 Trabalho, emprego e renda

O papel de um governo efetivamente de es- para impedir, entre outras coisas, a degradação sala- querda é gerenciar a macroeconomia com o obje- rial das camadas mais pobres da população. tivo de assegurar a melhora da qualidade de vida do povo pobre, dos trabalhadores do campo e da cidade 3. Concursos Públicos e das classes médias. Os grandes partidos defendem Ampliação dos concursos públicos, com vistas a a atual política, que limita o aumento do salário mí- diminuir a dependência de diversos setores do ser- nimo ao aumento do PIB, o que é extremamente pre- viço público dos chamados “cargos de confiança” e judicial, principalmente em uma conjuntura de re- garantir efetiva garantia de funcionamento dos ser- cessão. Desta forma, serão necessárias várias déca- viços públicos a toda população, com profissionais das para que o salário mínimo atual atinja o patamar treinados e bem remunerados. exigido pela Constituição. A eterna justificativa oficial para este aumento 4. Precarização e Terceirizações pífio é que a Previdência Social não teria recursos para aumentar as aposentadorias, porém, a Previ- Combate à precarização do trabalho e desestí- dência está inserida na Seguridade Social (na qual mulo à terceirização no serviço público. Contra a estão também as áreas de saúde e assistência), que aprovação do PL 4330 e garantia da promoção de apresenta superávits gigantescos, de mais de R$ 70 políticas efetivas de formalização do trabalho e ga- bilhões por ano. O problema é que o governo uti- rantia da negociação coletiva para todas as trabalha- liza a maior parte do orçamento federal para pagar a doras e trabalhadores. questionável dívida pública. É necessário alterar esta política, garantindo que 5. Plano de carreira para todas as ativida- o salário mínimo atinja em poucos anos o mínimo des do serviço público exigido pela Constituição, que os servidores públi- Dialogar com as diversas carreiras do serviço pú- cos tenham suas perdas repostas e lhes seja assegu- blico federal que ainda não possuem Plano de Car- rado plano de carreira, assim como que a jornada de gos, Carreiras e Salários, com vistas a estender esse trabalho seja reduzida para assegurar mais empre- direito a todos os trabalhadores e trabalhadoras do gos e melhores condições de vida. serviço público. O PSOL e Luciana Genro têm propostas para me- lhoras a qualidade de vida e a capacidade de con- 6. Combate ao assédio moral sumo das trabalhadoras e trabalhadores brasileiros. Veja: Ampliar a legislação para coibir casos de assédio moral no ambiente de trabalho, garantindo ao traba- 1. Salário Mínimo que garanta a sobrevi- lhador o direito de denúncia e de proteção. vência dos trabalhadores 7. Democratização do sindicalismo O atual salário mínimo (R$ 724) é quatro vezes inferior ao que deveria ser, conforme a Constituição Defendemos a plena liberdade de organização (R$ 2.915,07, conforme o DIEESE), ou seja, o valor sindical, com uma mudança da estrutura sindical. capaz de atender às necessidades vitais básicas dos Fim da intervenção do Estado sobre a organização trabalhadores e às de sua família com moradia, ali- dos trabalhadores/as. Fim da unicidade, da investi- mentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, dura e do imposto sindical. Fim do poder normativo transporte e previdência social. da justiça do trabalho.

2. Salário Máximo 8. Reposição das perdas dos servidores pú- blicos Nenhuma empresa pública ou privada poderá ter salários maiores do que 30 vezes o menor salá- Ao contrário do que é falado pela grande im- rio por ela oferecido. A limitação de salários serve prensa, os gastos com servidores públicos caíram TRABALHO, EMPREGO E RENDA 23 drasticamente nas últimas décadas. Em 1995, pri- do povo. meiro ano do governo FHC, os gastos com servido- res equivaliam a 54,5% da Receita Corrente Líquida 9. Redução da Jornada de Trabalho para 40 do Governo Federal. Quase vinte anos depois, este horas semanais percentual caiu para 31,1% (Fonte: Boletim Estatís- Adoção da Convenção 158 da OIT e o fim da ro- tico de Pessoal do Ministério do Planejamento, junho tatividade no emprego. Redução da jornada de tra- de 2014, pág 38). Nas últimas décadas, os servidores balho para 40 horas semanais sem redução de salá- públicos foram prejudicados por vários anos segui- rio com vistas a ampliar o emprego, limitando ao dos sem reajuste, e com a negativa do governo em mesmo tempo a realização de jornada de trabalho realizar negociações respeitosas com as diversas ca- extraordinária. tegorias. Foram diversos os casos de corte de ponto e outras formas de ameaças feitas pelo governo, tendo 10. Garantia do direito de Organização por sido necessário uma grande greve para que os ser- Local de Trabalho vidores tivessem um reajuste de 5% por ano nes- tes 3 anos, o que não cobre sequer a inflação. En- Garantia da negociação coletiva e do respeito e quanto isso, os rentistas da dívida pública não pre- extensão das conquistas para todos, inclusive tercei- cisam fazer nada para conseguir uma taxa de remu- rizados, prestadores de serviço e outras formas de neração de 11% sobre seus títulos públicos, às custas contratação precárias da força de trabalho. 24 SISTEMA PREVIDENCIÁRIO E APOSENTADORIAS

3 Sistema previdenciário e aposentadorias

Nosso programa sobre a Previdência Social e ais. Luta por uma política justa e permanente de va- aposentadorias baseia-se no acúmulo geral dos mo- lorização das aposentadorias e pensões, não só de vimentos sociais do setor, bem como nas lutas que quem ganha um salário mínimo, mas de quem ga- travamos contra a retirada de direitos. Esta luta tem nha acima deste valor também. um significado político especial para nós: a luta con- Enquanto isso, os recursos públicos são drenados tra a Reforma da Previdência, realizada no primeiro para o setor privado através do superávit primário, mandato de Lula, culminou com a expulsão ou pu- para pagamento de juros e amortizações da dívida, nição de vários setores do PT que vieram a fundar e e através de diversas outras formas, como o SIM- construir o PSOL. Por isso, reafirmamos em nosso PLES, que privilegia, com isenções de tributos, en- programa o compromisso que temos com as gera- tidades filantrópicas, empresas exportadoras rurais ções passadas, atuais e futuras na defesa de um Re- (agronegócio), empresas de tecnologia da informa- gime Previdenciário público e que ofereça aposenta- ção e de comunicação. Se já não bastasse todos es- dorias e pensões dignas e compatíveis com a enorme ses problemas, o Governo Dilma vem modificando contribuição dada pelos trabalhadores ao nosso país. progressivamente a forma de contribuição patronal Como já sabemos, a Previdência Pública faz parte ao Sistema Previdenciário, mudando a cobrança da da Seguridade Social, que é o conjunto de ações des- folha de pagamentos (20% do seu total) para o fatu- tinadas a assegurar os direitos à saúde, à previdên- ramento (de 01 a 02% do faturamento a depender do cia e à assistência social (doença, invalidez, morte, setor). Análises técnicas comprovam que esta ação idade avançada, proteção à maternidade, à gestante, tende a dar mais instabilidade ao regime, já que de- ao trabalhador em situação de desemprego involun- pende dos ciclos da economia brasileira, oscilando tário, salário-família, auxílio-reclusão e pensão por entre baixo crescimento e estagnação nas últimas dé- morte). cadas. A Seguridade Social é fundamental para a popu- Torna-se cada vez mais difícil preencher os cri- lação e seu objetivo central não é o lucro, mas o bem térios para a aposentadoria. E quando se atinge a estar social. Ela é financiada pela sociedade, com re- idade e o tempo de contribuição para aposentadoria, cursos da União, Estados, Distrito Federal, Municí- muitas vezes o trabalhador permanece anos na ativa, pios, contribuições do empregador, dos trabalhado- pois a concessão da aposentadoria significa também res e trabalhadoras, das receitas de concursos de lo- o corte substancial nos salários. teria, dentre outros. Deste modo, os trabalhadores e trabalhadoras, O final do século XX e o início do século XXI têm mesmo aqueles/aquelas que começam a trabalhar sido caracterizados por variados ataques aos siste- na adolescência, só conseguem a aposentadoria mas previdenciários em todo o mundo. No Brasil quando idosos/idosas. E, portanto, gozam pouco não foi diferente. Os governos de FHC (1995-2002) dos benefícios da Previdência Social, não só pela e os governos do PT (2003-) realizaram sucessivos idade avançada, mas pelos valores das mesmas que ataques aos direitos previdenciários dos trabalhado- têm sido reduzidas de forma vergonhosa nos últi- res. Cada vez mais coloca-se a necessidade de inten- mos anos. E a violência dos últimos governos (PSDB sificar a luta dos ativos, aposentados e aposentadas e PT) contra os aposentados/aposentadas não para frente aos ataques brutais e permanentes aos direitos por aí. Quanto mais aumenta a expectativa de vida, sociais, muitos dos quais se julgava consolidados no mais o Governo cria mecanismos para dificultar a Brasil e no mundo. aposentadoria. Além disso, é cada vez menor o valor das aposen- Estima-se que até 2020 o Brasil terá 40 milhões de tadorias e pensões. Além dos reajustes irrisórios, na pessoas acima de 60 anos, passando a ser o 6o país maioria das vezes abaixo da inflação acumulada, os com mais idosos/idosas no mundo. E se depender governos utilizam vários mecanismos para torná-las dos partidos e candidatos do sistema, a grande mai- ainda menores. oria estará em condições de vida precárias, com apo- A luta por salários, aposentadorias e pensões dig- sentadorias cada vez mais insignificantes frente ao nas é uma luta permanente dos movimentos soci- aumento das despesas típicas da idade. SISTEMA PREVIDENCIÁRIO E APOSENTADORIAS 25

Além disso, o país não está preparado para aten- 5. Recompor quadro de pessoal da Previ- der a esta população, que necessita de cuidados es- dência Pública, visando garantir ampliação peciais em todos os setores da vida: saúde, segu- e melhoria do atendimento à população; rança, mobilidade, lazer, etc. É grande o descaso dos governos com as políticas públicas, inclusive, com 6. Combate à corrupção e sonegação na a não valorização dos profissionais da área e com a Previdência Social promovida pelas gran- privatização da saúde e previdência públicas. des empresas; Assim, em diálogo com a luta dos movimentos sociais, o PSOL assume os seguintes compromissos: 7. Reverter, nos setores beneficiados, a Con- 1. Reverter o arrocho das aposentadorias e tribuição Previdenciária Patronal (CPP) so- pensões, reconstituindo o seu poder aquisi- bre o faturamento e retomar a CPP sobre a tivo; folha de pagamento;

2. Adoção da integralidade, da paridade en- 8. Fim do fator previdenciário e de outras tre ativos e aposentados e da solidariedade fórmulas que tenham o mesmo objetivo; entre gerações; 9. Reversão do FUNPRESP e fortalecimento 3. Vinculação do reajuste das aposentado- do Regime Próprio de Previdência do Servi- rias ao reajuste do salário e recuperação das dor Público; perdas; 10. Ampliação do benefício do salário- 4. Fim da cobrança dos inativos; maternidade por dois anos. 26 EDUCAÇÃO

4 Educação

No governo do PSOL, educação será um dos ei- implica em uma atuação efetiva da União em xos do desenvolvimento nacional e para isso será ne- todos os níveis e modalidades, assumindo seu cessário alterar profundamente a lógica e o funciona- papel redistributivo e suplementar, conforme mento das políticas públicas educacionais. estabelece a Constituição Federal. Em médio É fundamental que se constitua efetivamente um prazo os recursos públicos devem ser destina- Sistema Nacional de Educação, que articule todos os dos exclusivamente para a educação pública; entes federados, garantindo recursos e políticas pú- c) Inverter prioridades, rompendo com o modelo blicas que permitam uma ação ampla para enfrentar que privilegia o pagamento de juros e encargos os principais desafios da educação brasileira, contor- da dívida, consumindo mais de 40% do orça- nando a fragmentação e sobreposição de responsa- mento da União, e destinar recursos para edu- bilidades existentes. A maior parte das responsabi- cação e saúde. Garantir que as riquezas gera- lidades educacionais recai hoje sobre os ombros dos das pela exploração do petróleo efetivamente estados e municípios, mas cabe à União exercer pa- sejam destinadas para a educação e saúde e pel redistributivo e supletivo, conforme estabelece a não apenas uma parte dos lucros, como pro- Constituição. posto atualmente; É preciso assumir o papel do Estado na garantia do direito à educação, rompendo com o modelo pri- d) Enfrentar os graves problemas de qualidade da vatista, que transformou a educação nacional, em es- educação nacional, superando o modelo me- pecial o Ensino Superior, num grande mercado e que ritocrático, que tenta alcançar qualidade pela expandiu o acesso através de programas que tercei- competitividade e que reduz a questão da qua- rizaram para o setor privado o atendimento, abrindo lidade ao desempenho em provinhas e pro- mão da qualidade. É preciso reverter o quadro atual vões, sem no entanto atuar sobre as questões no qual a expansão da educação infantil, do ensino estruturais que afetam as redes de ensino. É superior e técnico vem ocorrendo apenas pela tercei- preciso atuar para melhorar a valorização do rização de recursos para instituições privadas, seja magistério, o financiamento da educação, a por meio de programas de bolsas, seja por convênios formação de docentes, as condições de traba- de atendimento. lho, a infraestrutura e o modelo de atendi- O recente Plano Nacional de Educação (PNE) so- mento nas redes de ensino para avançarmos na mente se tornará realidade se houver uma ação polí- qualidade da educação da escola pública. tica que realmente priorize a superação da atual es- trutura educacional brasileira, implementando me- Propostas de ação: didas e tendo uma postura que vai além do que está previsto no próprio PNE. 1. 10% do PIB apenas para a educação pú- blica Prioridades: A União aumentará sua participação financeira a) Promover a construção de um Sistema Nacio- no montante de recursos educacionais destinados à nal de Educação, articulado e solidário, através escola pública, conforme a meta 20 do PNE, e enca- de um amplo processo de mobilização da soci- minhará ao Congresso Nacional proposta de supres- edade civil, em conjunto com os gestores esta- são do parágrafo quinto do artigo quinto, que per- duais, municipais e setor privado. O Sistema mite usar subvenções para instituições privadas no Nacional de Educação deve buscar a articula- alcance dos 10% do PIB, exclusivamente para a edu- ção e integração das políticas públicas educaci- cação pública. onais da União, estados e municípios, levando a um efetivo regime de colaboração entre eles; 2. Estabelecimento do Custo Aluno- Qualidade b) Garantia do direito à educação pública, esta- tal, gratuita e de qualidade para todos, o que Um dos grandes desafios da educação nacional EDUCAÇÃO 27

é a garantia de uma educação pública de qualidade em todos os estados e municípios, principalmente para todos. Ocorre que os governos sempre toma- pela falta de uma ação efetiva da União. ram como principio utilizar os recursos disponíveis, O governo do PSOL não repassará recursos vo- dentro dos limites mínimos obrigatórios impostos luntários para entes federados que não estejam pa- pela Constituição, sem se preocupar com o padrão gando o piso salarial nacional do magistério e cum- de qualidade necessário e qual a destinação de re- prirá a sua obrigação de auxiliar aqueles que efeti- cursos necessária para alcançá-lo. Ou seja, se faz vamente não possuam condições de fazê-lo. O PSOL o cálculo de cima para baixo: reserva-se o mínimo agirá da mesma maneira em relação à jornada esti- constitucional para a educação e condicionam-se sa- pulada na Lei, que destina no mínimo 1/3 da jor- lários, estruturas, materiais e tudo o mais a esse mí- nada docente para atividades extraclasse. Sabemos nimo disponível. que parte do exercício da função docente se dá em Para que se alcance um padrão aceitável de quali- atividades de planejamento, discussão, formação, dade em todas as redes de ensino públicas é preciso avaliação e preparo de atividades ligadas ao projeto ter um conjunto básico de insumos que devem ser político pedagógico. Assim, o cumprimento da Lei garantidos para todas as escolas, exigindo a garan- nesse quesito não é para nós questão menor. tia de recursos financeiros para isso. Esse padrão de A valorização da profissão, necessária inclusive qualidade associado aos insumos necessários é de- para motivar a juventude em seguir a carreira do- nominado de Custo Aluno-Qualidade (CAQ). Como cente, passa necessariamente pela valorização sa- ponto de partida para atingir um padrão mínimo de larial. Portanto, estabeleceremos como piso naci- qualidade, que deveria ser assegurado a todas as es- onal do magistério o valor estipulado pelo DIE- colas do país inicialmente, deve-se utilizar o Custo ESE (Departamento Intersindical de Estatísticas e Es- Aluno-Qualidade Inicial (CAQi). tudos Socioeconômicos), o que representaria hoje Em nosso governo o CAQi será implementado R$2.979,25 por uma jornada de 20h semanais. em no máximo dois anos, negociando com os entes Pactuaremos regras nacionais para a carreira do- federados para que esta definição se efetive num pe- cente, buscando uma efetiva valorização do magis- ríodo curto de tempo. Para isso, a União aportará tério, com melhoria das condições e elevação dos sa- recursos para complementar o valor do CAQi na- lários, visando o cumprimento da meta 17 do PNE. queles estados e municípios em que a utilização dos recursos obrigatórios não seja suficiente. O CAQi 4. Direito ao acesso e permanência à edu- deve evoluir gradativa e sistematicamente até que cação pública de qualidade em todos os ní- o país alcance o Custo Aluno- Qualidade ideal, que veis supere os padrões mínimos e permita uma educação pública de qualidade em todas as redes de ensino. A ação do governo federal, seja de forma redis- tributiva, supletiva ou direta, será com a elevação da 3. Piso Nacional estipulado pelo DIEESE e cobertura escolar na creche, aumento das matrículas valorização do magistério no ensino profissionalizante (cursos de média dura- ção), garantia da meta do PNE com educação inte- Os profissionais da educação das redes públi- gral e na expansão do ensino superior. cas, via de regra, viram seus salários e as condições Enviaremos ao Congresso Nacional legislação re- de trabalho sucateadas pelos sucessivos governos gulatória do setor privado e buscaremos aumentar que aplicaram o modelo neoliberal, tornando a car- as exigências de qualidade na prestação dos serviços reira docente extremamente desvalorizada em todo por essas instituições. o país. Não extinguiremos os programas universitários Inverter a lógica que procura jogar sobre os om- de bolsas e de crédito estudantil, mas estes passa- bros de professores e alunos a responsabilidade pela rão a ser suplementares. A lógica da ação gover- superação dos problemas estruturais enfrentados namental será expandir a rede pública, seja a fede- pela educação nacional é urgente e um dos primeiros ral, seja ajudando estados e municípios, a melhorar passos é tomar medidas efetivas para a valorização as suas redes, de forma que em médio prazo não das carreiras do magistério. seja mais necessária a política de bolsas ou conve- A aprovação da Lei do Piso Nacional do Magis- niamento com instituições privadas. tério foi importante, mas até aqui ele não se efetivou Simultaneamente à expansão da rede pública, 28 EDUCAÇÃO nosso governo prezará por elevar a qualidade do en- se reduza o analfabetismo funcional entre os jovens. sino. Nas últimas décadas os governos apostaram A melhora na qualidade do ensino público e ações em sistemas de avaliação em massa, supondo que específicas devem se reverter na redução drástica do a qualidade pudesse ser alcançada pela competição, analfabetismo funcional, exigindo do governo fede- e que resumiram a ação governamental à divulga- ral a promoção de ações junto a estados e municípios ção de rankings e a cobrança por resultados, sem que permitam a melhoria nas condições de atendi- atuar efetivamente na garantia de condições e na so- mento, na formação dos profissionais, nas carreiras lução dos problemas que afetam a educação nacio- do magistério e na infraestrutura das escolas. nal. Esse sistema meritocrático pouco contribui para a qualidade da educação e desconsidera completa- 6. Recursos da exploração do petróleo para mente as diferenças regionais e a diversidade nacio- a saúde e a educação nal. Apostaremos na autonomia político-pedagógica Rever imediatamente a legislação dos royalties e no envolvimento da comunidade educacional no garantindo que os valores referentes a contratos an- fazer cotidiano de cada escola. Caberá como uma tigos e vigentes sejam também direcionados à edu- das medidas para impulsionar a melhora na qua- cação e saúde. Apoiaremos uma partilha mais equâ- lidade da educação, a garantia de recursos físicos, nime dos recursos dos royalties e usaremos a parte humanos e financeiros para que os projetos educa- da União para diminuir as desigualdades regionais. cionais sejam concretizados. Mais do que induzir a unificação de um currículo e do cotidiano escolar 7. Educação contra as opressões a partir de provas nacionais, cabe ao Estado outras medidas, como investimento em estrutura física e É fundamental que a educação contribua para o material, formação inicial e continuada, valorização combate a todo tipo de opressão e discriminação, su- profissional, gestão democrática e garantia de boas perando visões conservadoras que levaram à supres- condições de ensino e aprendizagem (como o esta- são de metas relacionadas às questões de direitos belecimento de um número máximo de alunos por humanos e diversidades no PNE recém-aprovado. turma/professor, por exemplo). Uma educação de qualidade na atual sociedade es- tará voltada para a superação das desigualdades, 5. Superação do analfabetismo em 4 anos que combata o racismo, o sexismo, a homofobia, a lesbofobia e demais discriminações. O analfabetismo absoluto de uma parcela muito Assim, em nosso governo, nos comprometemos grande da população brasileira persiste década após a desenvolver, garantir e ampliar a oferta de progra- década, resultado do pouco interesse e investimento mas de formação inicial e continuada de profissio- dos governos. Esse desafio já foi vencido por vários nais do magistério que pautem e combatam todas as países, alguns da América Latina, e existem experi- discriminações. Criaremos e ampliaremos progra- ências concretas que mostram ser possível a supera- mas nacionais que apoiem e incentivem ações nas ção do analfabetismo em um prazo de poucos anos. escolas de educação básica, voltadas à construção de Para isso é preciso investimentos consistentes e uma uma cultura de cidadania e valorização da diversi- prioridade política. dade, reduzindo as manifestações de discriminação O governo federal deverá destinar recursos e pro- de todas as naturezas, tendo como foco a educação mover ações articuladas com estados e municípios, em Direitos Humanos, a equidade e a justiça social voltadas ao cumprimento da meta 9 do PNE, atu- e a valorização das diferentes culturas, entendendo- ando de forma mais sistemática e superando as ações as como um processo de construção histórica e so- pontuais existentes atualmente. cial. O governo federal deverá atuar para instituir Também será necessário envolver a sociedade ci- a Educação em Direitos Humanos em todas as redes vil, através dos movimentos sociais e entidades dos de ensino e implementar ações educacionais, nos ter- mais diversos setores, em um esforço nacional pela mos do Programa Nacional de Direitos Humanos – alfabetização de jovens e adultos, ultrapassando os PNDH-3 e do Plano Nacional de Educação em Direi- limites das redes de ensino nesse desafio. tos Humanos, assegurando-se a implementação das A garantia do acesso ao ensino público, desde a diretrizes curriculares nacionais por meio de ações educação infantil, e o combate sistemático a evasão colaborativas com os Fóruns de Educação, Conse- escolar, também são aspectos importantes para que lhos Escolares, equipes pedagógicas e a sociedade ci- EDUCAÇÃO 29 vil. tem, revertendo o processo que ocorreu nas últimas décadas de oferta de vagas e expansão das institui- 8. Conferências Nacionais de Educação de- ções privadas. Reverter, gradativamente, os recursos liberativas e gestão democrática da educa- que hoje são aplicados nos programas de bolsas em ção instituições privadas, para as instituições públicas. Investir na ampliação do ensino superior público vi- Reformular o papel e a composição do Fórum sando, em longo prazo, a garantia de acesso à uni- Nacional de Educação e do Conselho Nacional de versidade a todos os jovens que saírem do Ensino Educação, estabelecendo mecanismos transparentes Médio. e participativos que permitam maior representativi- dade em suas composições e maior efetividade em 10. Educação Inclusiva como direito sua atuação. As Conferencias Nacionais de Educa- ção e todas as suas etapas estaduais e municipais Para garantia da equidade educacional, deverá devem ganhar caráter deliberativo e serem efetiva- ser considerado o atendimento às necessidades es- mente um espaço para a definição das diretrizes para pecíficas da Educação Especial, assegurando um sis- a política educacional e não eventos meramente con- tema inclusivo em todos os níveis, etapas e modali- sultivos como foram até aqui. As CONAE e o FNE dades de ensino. Além da necessária e urgente uni- devem ter uma atuação efetiva no acompanhamento versalização do atendimento da educação básica, é e avaliação da implantação do novo PNE. necessário garantir as condições políticas, pedagógi- A União deverá tomar medidas que incentivem e cas e financeiras para assegurar o acesso e a perma- induzam estados e municípios a fortalecerem os es- nência com aprendizagem aos estudantes com de- paços de gestão democrática das escolas, em espe- ficiência, transtornos globais do desenvolvimento e cial os conselhos escolares, buscando criar condições altas habilidades/superdotação, tanto na educação reais para que as escolas estabeleçam de forma autô- básica, no ensino superior e nas diferentes modali- noma seus projetos político pedagógicos. Incentivar dades de ensino (eja, educação profissional, educa- que as redes de ensino estabeleçam a eleição como ção do campo, quilombola e indígena). forma de escolha do diretor da escola. Compreendemos que para garantir essas condi- ções precisamos, além de investimento financeiro Garantir a eleição direta para reitores em todas na área, assegurar formação inicial e continuada as universidades públicas, com participação de toda aos profissionais de educação conteúdos referentes à a comunidade acadêmica, bem como a representa- educação inclusiva, garantir repasse de recursos de ção de gestores, profissionais e estudantes nos con- acessibilidade em todas as unidades escolares, bem selhos gestores dessas instituições. Garantir que nas como recursos humanos e materiais que promovam instituições privadas seja obrigatória a constituição a inclusão dos estudantes com necessidades educa- de conselhos gestores com a representação de profis- cionais especiais. sionais e estudantes e com caráter deliberativo. Nesses casos, mais do que em outros, também 9. Expansão das universidades públicas é fundamental a articulação entre diferentes áreas, buscando o fim do vestibular e a universali- como a saúde e a assistência social, criando uma rede zação do acesso ao ensino superior de apoio ao sistema educacional, às famílias e ao es- tudante. A atuação em nosso governo irá nesse sen- A União deverá expandir a oferta de ensino supe- tido, no qual a União envidará esforços em conjunto rior através da criação de novas universidades públi- com estados e municípios para uma política educa- cas e da expansão de vagas e cursos nas que já exis- cional inclusiva. 30 CIÊNCIA E TECNOLOGIA

5 Ciência e tecnologia

Na área de ciência e tecnologia, o maior desafio público da pesquisa pública; no Brasil é a elaboração e a implementação de uma política de longo prazo que permita ao desenvolvi- 3. Estímulo ao desenvolvimento de tec- mento científico e tecnológico alcançar a população nologias que quebrem a dependência ex- e que efetivamente tenha um impacto determinante terna, estimulando a agricultura sustentá- na melhoria das condições de vida da sociedade. vel e proibindo gradualmente o uso de se- Para isso, é necessário contrariar interesses, enfren- mentes transgênicas; tar o monopólio do conhecimento e colocar o desen- volvimento científico e tecnológico a serviço de um projeto de país. 4. Revisão da Lei de Patentes para ampliar o Eleger ciência, tecnologia e inovação como uma controle sobre as riquezas nacionais e da Lei escolha estratégica para o desenvolvimento do país de Inovação Tecnológica para coibir a apro- implica priorizar investimentos nesse setor, para re- priação privada do conhecimento; cuperar seu atraso e avançar aceleradamente na ge- ração e na difusão de conhecimentos e inovações, 5. Investimento de 2% do PIB em Ciência, em especial quanto à sua incorporação na produção. Tecnologia e Inovação; Significa também advogar em prol da importância da ciência e tecnologia como fator de integração das demais políticas de desenvolvimento do Estado. 6. Propor uma nova regulamentação Pelas dimensões do país e pela dificuldade de se que permita amplamente a pesquisa com elaborar e, principalmente, implantar políticas na- células-tronco; cionais que também atendam às necessidades re- gionais, o desenvolvimento científico e tecnológico produzido modifica de forma ainda lenta as desi- 7. Duplicar os investimentos no Programa gualdades sociais experimentadas em certas regiões. “Ciência Sem Fronteiras”, incluindo os es- Dessa forma, os problemas enfrentados pelo Brasil tudantes das áreas de ciências humanas e nos campos da ciência e da tecnologia são comple- humanas aplicadas; xos e de difícil solução a curto prazo. O país tem capacidade material e intelectual ins- 8. Utilização de Software livre em todos talada, capaz de promover avanços significativos os níveis do serviço público federal, ex- nas políticas nacionais de ciência e tecnologia e de tinguindo gradativamente as dependências meio ambiente. Falta um governo capaz de priorizar das licenças das empresas privadas; este setor e superar o modelo de desenvolvimento que privilegia o agronegócio e a especulação finan- ceira. Por isso, são propostas do PSOL: 9. Gestão democrática e controle social dos recursos destinados à pesquisa e inovação; 1. Ampliação do financiamento à pesquisa, especialmente as realizadas em áreas estra- 10. Envio de Lei ao Congresso que re- tégicas para o desenvolvimento nacional e componha os recursos do Fundo Nacional para a redução das desigualdades sociais; de Desenvolvimento Científico e Tecnoló- gico (FNDCT). Garantia de novos recursos 2. Fim da ingerência do capital privado em para cada novo programa ou projeto de pes- pesquisas do setor público, como em uni- quisa, de forma a não prejudicar os já em versidades. Financiamento exclusivamente andamento. 31

6 Saúde

O Brasil tem um sistema de saúde universal elo- Propostas de ação: giado por especialistas. No entanto, a promessa do SUS (Sistema Único de Saúde) nunca se cum- 1. Elevar para 10% da Receita Corrente priu. Um dos principais motivos é a falta de recur- Bruta da União os gastos com saúde pú- sos. O Brasil gasta apenas 4,1% do PIB com o SUS - blica quando a média dos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é Entre 1995 e 2001, uma média de 8,4% das Re- 8,3%. Para agravar o quadro, outros 4,8% do PIB ceitas Correntes Brutas da União foram alocadas na são gastos privados, que incluem desde gastos de saúde; entre 2002 e 2009, este patamar caiu para empresas até o que os brasileiros pobres pagam por 7,1%. Para agravar o quadro, o governo federal im- medicamentos que deveriam ser fornecidos gratui- pediu que a lei 141/2012 elevasse este patamar para tamente. Os propalados aumentos nos gastos com 10% das RCB, bandeira antiga do movimento sanitá- saúde são apenas em termos nominais, pois em ter- rio. Isto permitiria, à época, acrescer R$ 32,5 bilhões mos relativos eles estão estagnados. ao orçamento do Ministério da Saúde. Outro grande entrave ao aumento de recursos Aumentar a proporção dos gastos pú- para a saúde pública são os subsídios e renúncias di- 2. blicos em relação ao privado versas de recursos públicos para o setor privado. De para que três acordo com o IPEA, em 2011, R$ 15,8 bilhões foram quartos dos gastos nacionais em saúde se- destinados a subsídios ao setor privado da saúde, o jam destinados ao SUS ao fim 4 anos que equivaleu a 22,5% do orçamento do Ministério Para tanto, além de elevar a 10% da receita os da Saúde naquele ano. gastos com saúde pública, devemos ter uma série de Nossa orientação para a saúde é, em primeiro lu- medidas vinculadas ao fim dos subsídios diretos e gar, combater o subfinanciamento do setor público, indiretos às empresas de saúde, tais como: iniciando um processo de desprivatização que per- mita ao SUS se realizar como sistema que universa- • Fim imediato da dedução do IRPJ e progres- lize de fato o direito à saúde no país. sivo em 4 anos da dedução do IRPF para gastos com planos e seguros de saúde;

• Prioridades: Fim dos empréstimos a juros diferenciados e renegociação de dívidas com setor privado; a) Aumento e qualificação do financiamento da • Iniciar imediatamente debate com movimento saúde pública; sindical com proposta de transição dos planos de saúde para o SUS. b) Expandir com qualidade a assistência farma- cêutica pública; 3. Reverter a privatização da saúde no Bra- sil c) Qualificar e ampliar a rede de serviços do SUS, garantir dignidade para os trabalhadores de O sistema de atenção à saúde no Brasil é pre- saúde e formação destes de acordo com as ne- dominantemente privado desde suas origens. Hoje, cessidades da população; 70% dos hospitais no Brasil são privados, e, mesmo que alguns destes prestem serviços ao SUS, parte de- d) Combater a concepção de saúde como merca- les só atende quem pode pagar. A maior parte dos doria, regulando e apurando com rigor todas equipamentos de alta e média complexidade (como as denúncias contra os planos de saúde; laboratórios de análises clínicas e hemodiálise) tam- bém pertence a entes privados, o que ajuda a expli- e) Promover a desprivatização da saúde no Bra- car as dificuldades de acesso do povo a estes ser- sil. viços. Para agravar o cenário, desde a década de 32 SAÚDE

1990 os serviços de saúde públicos vêm sendo cedi- cos, a baixa remuneração dos profissionais da saúde, dos a entidades privadas como Organizações Soci- além do aumento do valor dos serviços para os usuá- ais e Fundações, que aplicam a lógica produtivista e rios. Para 77% dos usuários, ocorreram problemas lucrativa, precarizando as condições de trabalho e a em algum dos serviços do plano de saúde, princi- qualidade do serviço, como mostrou estudo do Tri- palmente na demora para agendamento de consul- bunal de Contas de São Paulo em 2011. Para defen- tas médicas e pronto socorros lotados (Pesquisa da der o caráter público do SUS, promoveremos: APM/Datafolha 2013). Para piorar, a Agência Nacional de Saúde Suple- • Auditoria imediata nos contratos de gestão pri- mentar (ANS), órgão que deveria justamente fiscali- vada no SUS realizados por Organizações Soci- zar os planos de saúde, tem sido presidida por em- ais (OSs), Organizações da Sociedade Civil de presários do setor, desde sua criação em 2000. Por Interesse Público (OSCIPs), Fundações de Di- outro lado, de acordo com estudos acadêmicos re- reito Privado e ONGs, e punição imediata das centes, a cada eleição cresce o financiamento de cam- irregularidades; panha por parte das grandes empresas de saúde. Em • Defender e encaminhar ao Congresso revoga- 2010, as operadoras ajudaram na eleição de 38 depu- ção das leis das Organizações Sociais (OSs), Or- tados federais, três senadores, além de quatro gover- ganizações da Sociedade Civil de Interesse Pú- nadores e da própria presidente da República. Da blico (OSCIPs), Fundações Estatais de Direito empresa que doou legalmente R$ 1 milhão para a Privado (FEDPs), bem como extinguir a Em- campanha de , saiu o nome que pre- presa Brasileira de Serviços Hospitalares (EB- sidiu a ANS até 2012. SERH) e devolver os Hospitais Universitários Saúde não é mercadoria. Além de promover uma às universidades federais; ampla investigação de todas as irregularidades nos planos de saúde – como tem feito o deputado Ivan • Garantir aos trabalhadores terceirizados por Valente (PSOL-SP) – é preciso estabelecer uma rigo- esses modelos uma carreira transitória no ser- rosa regulação do setor. viço público que permita a manutenção do atendimento e dos postos de trabalho; 5. Rever a Lei de Patentes para fortalecer a saúde pública e utilizar, sempre que neces- • Reincorporar os serviços (estatizar) progressi- sário, ferramentas de licença compulsória vamente ao longo do mandato e promover am- para produção ou compra de medicamen- plo debate público para construir as bases de tos uma nova política estatal de gestão pública para o SUS, que garanta transparência, con- O governo brasileiro fez uso do expediente de trole social, amplo acesso aos serviços e digni- licenciamento compulsório apenas em 2007, para o dade para quem trabalha na saúde, eliminando Efavirenz (combate a AIDS). Em muitos outros ca- os intermediários privados. sos essa prática também se demonstra necessária. De acordo com o Grupo de Trabalho em Propriedade In- 4. Regulação dos planos de saúde com po- telectual (GTPI), a Linezolida para o tratamento de lítica de controle de tarifas, fim da indica- tuberculose custa R$ 82 a unidade, quando a versão ção de empresários do setor para a ANS e genérica poderia custar R$ 2,50. E o Rituximab para garantia, em 2 anos, do ressarcimento total o tratamento de câncer, custa R$ 1.239 por unidade, aos cofres dos gastos dos beneficiários de enquanto que o genérico custaria apenas 65 centa- planos de saúde que acessaram o SUS, con- vos. forme previsto na lei Lei no 9.656/1998 6. Criação de política industrial específica Os planos de saúde privados no Brasil têm co- para o setor farmacêutico que contemple a metido vários abusos contra os direitos dos usuá- gratuidade (fim do co-pagamento) no Pro- rios, liderando por vários anos consecutivos o ran- grama Farmácia Popular e substituição em king de reclamações nos órgãos de defesa dos con- 4 anos deste programa por uma rede pú- sumidores. Dentre as principais denúncias estão: a blica de farmácias vinculada a rede de pos- não autorização de procedimentos médicos e labo- tos de saúde, para garantir o fornecimento ratoriais, o descredenciamento unilateral de médi- regular de medicamentos SAÚDE 33

Essa política deve ser orientada pelas necessida- 80% das necessidades de saúde das pessoas seriam des do povo e baseada em centros públicos de pes- atendidas sem precisar ser acionado outro nível de quisa e desenvolvimento, para impulsionar a produ- atenção à saúde. ção pública de medicamentos, com vistas à autossu- ficiência. 9. Promover a carreira pública no SUS para todas as profissões, generalizando servido- 7. Humanização no tratamento aos ci- res contratados por concurso público com dadãos com sofrimento mental, inclusive jornada máxima de 30 horas para todas as causado por uso de drogas categorias da saúde O PSOL se soma ao movimento da Reforma Condenamos que programas como o Mais Mé- Psiquiátrica e da luta antimanicomial, que tem so- dicos paguem os trabalhadores com bolsas, sem ga- frido enormes ataques nos últimos anos, como com- rantias de direitos trabalhistas, o que aprofunda a provam a proliferação de comunidades terapêuticas precarização do trabalho em saúde. Trabalharemos apoiadas por governos de todos os partidos da or- pelo fim das terceirizações no SUS. Nesse sentido, dem. nos comprometemos também a garantir o piso sala- Defendemos a ampliação e consolidação da rede rial dos Agentes Comunitários de Saúde com a cor- que substitua os obsoletos manicômios e comunida- reção do valor, que foi vetada por Dilma Rousseff em des terapêuticas, ampliando equipamentos como os junho passado. Centros de Atenção Psicossocial (incluindo os infan- tis e álcool/drogas) e os Centros de Convivência, ar- 10. Por uma formação em saúde baseada ticulando com a rede de atenção primária à saúde. na interdisciplinaridade e orientada pelas Lutaremos pela ampliação da política de redução de necessidades do SUS e da população danos para usuários de drogas e em defesa da legali- zação da maconha, uma vez que o uso problemático A saúde tratada como negócio produz também de drogas deve ser entendido como uma questão de a formação de profissionais a partir das necessida- saúde e não de polícia. des do mercado e não do conjunto da população, 8. Ampliar as equipes de Saúde da Família criando-se uma verdadeira “indústria da doença”, para cobrir 80% da população em 4 anos onde o objetivo passa a ser a obtenção de lucro a partir do adoecimento das pessoas. Embora as ne- São nestas unidades de saúde que deve ser o pri- cessidades para o atendimento ao SUS contradigam meiro e principal lugar de atendimento, prevenção essa lógica, a concepção de saúde que prevalece se- e promoção à saúde. Nelas estariam as equipes de gue sendo a da lógica privada do mercado. Nesse Saúde da Família, que seriam responsáveis por no mesmo sentido, não se vê uma constituição de equi- máximo 2 mil pessoas (hoje a média nacional é de 4 pes multiprofissionais e interdisciplinares, sendo he- mil) e compostas por médico, enfermeiros e técnicos gemônica a produção de profissionais que atuam de enfermagem, profissionais de saúde bucal e agen- primordialmente com práticas fragmentadas e isola- tes de saúde. De acordo com as necessidades locais, das, reflexo da falta de integração na formação. Mu- outros profissionais (nutricionistas, psicólogos, fisio- dar essa lógica é fundamental, combinada à necessá- terapeutas, etc.) poderiam ser incluídos nessas equi- ria democratização do acesso às universidades pú- pes ou estariam presente como apoiadores. Assim, blicas. 34 MEIO AMBIENTE

7 Meio Ambiente

O desenvolvimento desenfreado do capitalismo Prioridades: no Brasil tem promovido uma grande destruição a) Combater o desmatamento decorrente das ati- ambiental. A poluição das águas, ar e solo são prova vidades agropecuárias e extrativistas, regula- disso. Em nosso país mais de 750.000 km2 da floresta mentando as atividades humanas em equilí- Amazônica (uma área equivalente a 3 vezes o tama- brio com os recursos naturais e estimulando nho do Estado de São Paulo) já foi desmatada, sendo a conscientização, preservação e conservação a agropecuária responsável por 70% desse desmata- ambiental. mento, que é seguido pela exploração ilegal da ma- deira e mineração. O meio ambiente é um bem de to- b) Livrar o Brasil de agrotóxicos e transgênicos. dos e por esse motivo seus recursos naturais devem O Brasil é hoje o maior consumidor mundial ser geridos de forma a beneficiar toda a sociedade, de agrotóxicos e um dos maiores produtores garantindo o equilíbrio entre as atividades humanas mundiais de transgênicos, o que tem acarre- e sua preservação. tado em danos ao meio ambiente e à saúde dos brasileiros. Nesse sentido, não é difícil notar que as con- sequências negativas da degradação ambiental são c) Entender a água como um bem essencial à vida concentradas, sistematicamente, sobre as popula- e que, portanto, não deve ser tratada como ções mais pobres e despossuídas de poder de deci- mercadoria. O Estado deve ter o controle so- são nas esferas públicas. As áreas destinadas às po- bre a política de águas visando os interesses da pulações pobres não por coincidência são as mesmas sociedade, não das empresas. consideradas de “risco ambiental”, seja pela ameaça d) Estimular políticas para os Grandes Biomas de deslizamentos, enchentes ou por estarem próxi- (Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga, Cer- mas de fontes de poluição, como aterros sanitários, rado, Pantanal, Pampa e Zona Costeira), res- indústrias, esgotos, etc. A segregação social é tam- peitando suas especificidades. bém ambiental.

Precisamos construir uma nova cultura de de- Propostas de ação: senvolvimento, que preze pela justiça ambiental em oposição à generalização das práticas ambiental- 1. Criar o Ministério da Ecologia e Justiça mente insustentáveis, ao ecologismo de mercado e Socioambiental ao “capitalismo verde” que se expressam através de medidas que consolidam o consumismo, fortalecem O Ministério da Ecologia e da Justiça Socioambi- o capital imobiliário, o transporte privado, o cresci- ental tem por função integrar em uma visão global mento de uma matriz energética indesejável, a de- de desenvolvimento e produção as políticas públi- gradação de espaços verdes, a apropriação privada cas que não podem estar separadas de uma visão de dos espaços públicos e a propagação e reprodução justiça ambiental e social. de conflitos ambientais. Para tanto, a pasta incorporará ao que hoje já é atribuição do Ministério do Meio Ambiente – espe- O Brasil, país rico em recursos ambientais e hu- cialmente as atividades de comando e controle (li- manos pode e deve, a partir de uma concepção ecos- cenciamento e fiscalização) e conservação ambien- socialista, construir políticas de transição para um tal (áreas protegidas) – algumas das funções desen- novo modelo de desenvolvimento, em benefício de volvidas por outros ministérios já existentes, como seu povo e do meio ambiente. Por essa visão integra- o de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Agri- dora, embora tenhamos destaque aqui para pontos- cultura, Transportes e Pesca, fazendo com que as po- chave do nosso programa ambiental, as questões líticas públicas ligadas à infraestrutura, mineração, ecológicas também estão presentes transversalmente indústria, pecuária, energia, pesca, etc. estariam su- em outros eixos de governo como Mobilidade, Re- bordinadas a uma visão estratégica ecológica e soci- forma Agrária e Energia. oambientalista. MEIO AMBIENTE 35

2. Revogação de todos os decretos e atos preender, observar e aproveitar os recursos funda- normativos que estimulam o uso de agro- mentais de uma cidade como a água, o solo, o clima e tóxicos as plantas numa perspectiva realmente sustentável. Propomos, neste governo, a criação de uma escola A contaminação das águas, dos solos e o com- federal de permacultura, tendo na sua grade curri- prometimento da saúde de agricultores e consumi- cular a educação biocêntrica, a agroecologia, a bio- dores são algumas das consequências da utilização construção, a captação e aproveitamento eficiente da de venenos na agricultura. Desde 2008, o Brasil é o água, a utilização de energias renováveis como a so- maior consumidor de agrotóxicos do mundo, o que lar e eólica, a meliponicultura (abelha nativa sem fer- tem causado diversos impactos aos ecossistemas e à rão), agrofloresta, quintais produtivos, horta man- saúde humana, pois estão ligados a diferentes tipos dala e tantas outras ferramentas que reduzem os im- de cânceres e doenças associadas. pactos no meio ambiente e melhoram a saúde das Esse fato está diretamente relacionado com a po- pessoas com atividades na natureza e produção de lítica de incentivos fiscais para os venenos e com alimentação saudável. a liberalidade para os transgênicos. Nesse sen- tido, revogaremos todos os decretos e atos nor- 4. Desmatamento Zero mativos (Convênio 199/97 do CONFAZ e Decretos 5.630/2005 e 7.660/2011) que concedem incentivo, O atual modelo de produção brasileiro, centrado abatimento ou isenção de tributos como o ICMS, o no latifúndio, monocultura e exportação, é o princi- IPI, o PIS/PASEP e o COFINS para os agrotóxicos pal responsável pelo desmatamento das florestas e em nosso país. Da mesma forma, implementaremos do cerrado. Estudos recentes apontam que, com o medidas que desestimulem a utilização de agrotó- uso das áreas já abertas e um melhor manejo de pas- xicos e permitam a utilização de meios sustentáveis tagens, o país poderia dobrar sua produção de ali- para o aumento da produtividade. mentos sem desmatar mais nenhum hectare de flo- resta. Precisamos mudar o modo como funciona um 3. Suspensão da liberação de organismos dos eixos centrais da economia brasileira – a produ- geneticamente modificados e incentivo à ção e exportação de commodities agrícolas ancorada permacultura como ferramenta de sobera- na expansão e conversão sobre áreas florestais. As nia florestas devem ser adequadamente mapeadas e es- tudadas e seus biomas preservados a fim de desen- A utilização de organismos geneticamente modi- volver as atividades humanas em equilíbrio com os ficados é uma ameaça, pois inviabiliza a existência recursos naturais. É necessário desenvolver Planos e reprodução de espécies nativas da flora, compro- de Combate ao Desmatamento na Amazônia e no mete a soberania alimentar e autonomia dos agri- Cerrado em sua totalidade. cultores, além de gerar insegurança à saúde de con- sumidores e agricultores, uma vez que não há se- 5. Viabilização do Plano de Ação Nacional gurança nenhuma de que os alimentos modificados de Combate à Desertificação (PAN-Brasil) ingeridos não causarão malefícios à saúde. Além disso, fortalece a monopolização das técnicas de cul- O processo de desertificação que ocorre no Semi- tivo, já que as sementes transgênicas estão nas mãos Árido é responsável pela redução da biodiversidade, de algumas poucas multinacionais, contra as quais, alterações no clima local e deterioração do solo, nós enfrentaremos. Já existem estudos que relacio- sendo resultado da degradação ambiental devido ao nam alguns transgênicos a diferentes casos de cân- uso inadequado do solo pelo homem e das mudan- ceres. Nesse sentido, propomos a suspensão da li- ças climáticas. Nesse sentido, propomos a viabiliza- beração de organismos geneticamente modificados ção do Plano de Ação Nacional de Combate à Deser- (OGMs) e revisão da Lei de Biossegurança e da com- tificação (PAN-Brasil) a partir de um diálogo com os posição da Comissão Técnica Nacional de Biossegu- movimentos sociais do Semi-Árido, apoiando o pro- rança. jeto de 1 milhão de cisternas de placa e a revisão dos Pro outro lado, a educação ambiental à luz da grandes projetos de irrigação que favorecem o agro- permacultura é um caminho a ser trilhado para o negócio. cuidado com as pessoas e com a natureza, pois esta é a sua proposta ética. A permacultura permite com- 6. Redução da vulnerabilidade às secas 36 MEIO AMBIENTE

As secas são fenômenos naturais e, portanto, não des brasileiras, com o objetivo de auxiliar estados e se pode pensar em combatê-las, mas em conviver municípios a conservar as florestas e matas funda- com elas. Teremos como compromisso fundamental mentais para garantir a produção de água visando o o aumento da garantia associada ao abastecimento, abastecimento da população. uma vez que os racionamentos de água trazem con- sigo sérios impactos para a saúde e para a econo- 9. Conservação ambiental e Programa Ci- mia da sociedade. Para reduzir essa vulnerabilidade ência da Floresta é preciso investir na gestão das águas para o en- frentamento da variabilidade das chuvas, como por A recuperação de áreas degradadas, a recompo- exemplo em sistemas de armazenamento da água sição das matas ciliares para proteção dos rios, o re- das chuvas em todo o país, centrando os esforços go- florestamento mediante espécies nativas se colocam vernamentais na prevenção ao invés de recuperação. como medidas inadiáveis. Também é preciso garan- tir a preservação e conservação de biomas ameaça- 7. Universalização do acesso aos serviços dos pelos interesses do agronegócio e mineradoras, de saneamento criando novas Unidades de Conservação, especial- mente nos locais que foram identificados como pri- Estima-se que nas cem maiores cidades brasilei- oritários para a conservação da biodiversidade, in- ras sejam produzidos cerca de 5,1 bilhões de m3 de cluindo a ampliação em 2,5 milhões de hectares das esgoto, dos quais 3,2 bilhões de m3 não receberam unidades localizadas no Cerrado. tratamento. Isso sem contar os municípios menores, Defendemos a criação do Programa Ciência na que muitas vezes não possuem recursos para a coleta Floresta, visando promover a pesquisa e o uso de e tratamento de esgoto. Nesse cenário, propomos novas tecnologias para o setor madeireiro com o ob- como prioridade a ampliação das políticas públicas jetivo de tornar o país líder na exploração sustentá- voltadas à implantação de sistemas de saneamento vel das florestas tropicais, a realização de um zonea- em todo o território, além de pesquisas voltadas à mento ecológico econômico para a produção madei- solução do problema de falta de saneamento público reira na Amazônia, por meio do qual serão definidas universal no país e na reutilização dos esgotos trata- as áreas de maior importância para a atividade, os dos para diversos usos. investimentos para a exploração responsável e sus- 8. Gestão democrática das águas tentável e a elaboração de plano de capacitação e in- vestimentos consistentes no manejo florestal comu- Água não deve ser tratada como mercadoria, mas nitário. um direito fundamental à vida, portanto, o controle sobre a política de águas deve ser público, da socie- 10. Revisão do Código Florestal Brasileiro dade e do Estado. Defendemos a estatização dos sis- temas de abastecimento de águas de forma a garan- Nossa bancada deu um duro combate contra as tir a qualidade e a quantidade da água distribuída à medidas aprovadas pelo atual governo em conjunto população em contrapartida à atual política que pri- com a bancada ruralista no Código Florestal Brasi- vilegia e incentiva a exploração dos recursos hídricos leiro. As mudanças prevêem uma série de retro- por empresas que visam o lucro acima da qualidade cessos que ameaçam as florestas brasileiras e bene- e garantia de distribuição. ficiam o agronegócio, e não os pequenos produtores, Propomos aumentar o investimento em sistemas como propagandeado pelo governo. Por isso, envi- de distribuição, reduzindo desperdício de água pe- aremos proposta de Lei que revise profundamente o los encanamentos das cidades; fortalecer e imple- atual Código Florestal, reintegrando ao texto, medi- mentar os Comitês de Bacias Hidrográficas em todo das de proteção retiradas pela pressão dos interes- o território nacional; organizar o sistema de outorga ses do mercado. Para isso, convocaremos movimen- a fim de controlar problemas decorrentes do con- tos sociais e organizações da área de meio ambiente sumo individual ou exploração comercial por gran- para proporem as mudanças necessárias, coaduna- des corporações; elaboração do Plano Nacional de das com o modelo de desenvolvimento do governo Proteção das Áreas de Mananciais das grandes cida- do PSOL. 37

8 Energia

Ao longo da última década houve um aumento Prioridades: significativo na produção e no consumo de energia elétrica no Brasil, impulsionado pelos setores des- Reformulação das matrizes energéticas brasileiras, tinados à produção de commodities (indústria do inibindo a produção a partir de fontes fósseis e in- ferro gusa e aço, ferro ligas, de papel e celulose, do centivando a utilização de energias limpas e reno- cimento, indústria química, setor de mineração e pe- váveis, buscando diversificar as matrizes energéticas lotagem e o setor de metais não ferrosos), cujo con- brasileiras. sumo no ano de 2013 foi de 24,32% do total de ener- gia consumida no país, maior do que o consumo re- a) Elaborar um programa de energias renová- sidencial no mesmo ano. veis democraticamente construído e social- mente justo, com a descentralização da produ- ção energética e subsídio à instalação de pai- A resposta ao aumento da demanda energética se néis fotovoltaicos para as famílias pobres e ha- deu via uma combinação do resgate de projetos de bitações populares; grandes barragens hidrelétricas (como Belo Monte) com o uso maciço de energia termelétrica (continui- b) Estatização da geração e distribuição de ener- dade de um programa de incentivo do governo de gia, visando garantir os interesses e as necessi- FHC) através de unidades a carvão, óleo e gás. Além dades da população, em equilíbrio com os re- disso, a frota automobilística cresceu exponencial- cursos naturais e o meio ambiente, em detri- mente nos últimos anos, com preços pouco competi- mento do lucro de grandes empresas; tivos para o etanol, levando a um consumo extrema- mente elevado de derivados de petróleo (gasolina e c) Reduzir o desperdício de energia e aumentar o óleo diesel). Ademais, deve-se frisar a realização de potencial energético das usinas existentes, evi- uma série de leilões de petróleo, gás e carvão, repas- tando a construção desnecessária de novas usi- sando para corporações privadas a possibilidade de nas. exploração dessas reservas fósseis em território bra- sileiro. Propostas de ação:

As hidrelétricas são utilizadas como fonte ener- gética prioritária para suprir o consumo doméstico e 1. Revogar subsídios e apoios às termelé- a atividade produtiva. Os governos insistem em des- tricas considerar as constantes variações pluviométricas e As termelétricas são responsáveis pela emissão as recorrentes secas e seguem concentrando esforços de grandes quantidades de CO2, gás poluidor res- em uma fonte altamente dependente dos níveis das ponsável pela intensificação do efeito estufa. Vi- águas dos rios e que, além disso, produz danos am- sando desestimular essa prática danosa à saúde e ao bientais e humanos, como remoções forçadas de po- meio ambiente, defendemos o fim de quaisquer sub- pulações de seus territórios tradicionais ou da invia- sídios e apoios às termelétricas, que terão um crono- bilização da reprodução do seu modo de vida devido grama para sua desativação. à degradação ambiental que promovem. 2. Diminuir a dependência de energia a Nesse sentido, as políticas voltadas para o setor partir de fontes fósseis energético devem estar atreladas às políticas de con- servação do meio ambiente, justiça ambiental e mu- Defendemos a diminuição drástica da dependên- danças climáticas, o que vem sendo desconsiderado cia de energia a partir de fontes fósseis, tanto em com o processo de privatização e internacionalização usinas quanto nos sistemas de transporte. Isso deve do setor elétrico iniciado no governo de Fernando ser feito de forma progressiva, a partir do estabeleci- Henrique Cardoso e mantido nos governos de Lula mento de metas e prazos para redução das emissões e Dilma. de gases de efeito estufa. 38 ENERGIA

3. Realizar um programa de energias reno- para que cada brasileiro possa gerar energia a partir váveis democraticamente construído e so- do telhado de sua casa. cialmente justo 6. Redução do desperdício de Energia A mudança na produção de energia deve ocorrer de forma democrática, visando garantir os interesses Segundo estudo da Associação Brasileira das e as necessidades da população em equilíbrio com os Empresas de Serviços de Conservação de Energia recursos naturais e o meio ambiente, buscando defi- (Abesco), cerca de 10% dos 430 terawatt-hora (TWh) nir a matriz energética que melhor se adapte a essas consumidos no país a cada ano são desperdiçados. necessidades e características naturais locais e regio- Esse volume é superior ao consumido pelo total da nais, além de oferecer menores impactos ambientais, população do estado do , sendo os sociais e humanos. principais responsáveis por esse desperdício os pro- cessos industriais obsoletos e sistemas de refrigera- 4. Incentivo ao desenvolvimento e utiliza- ção, aquecimento e iluminação inadequados, sem ção de fontes de energia limpas, renová- sistemas de automação que permitam, por exemplo, veis e de baixo impacto ambiental o desligamento automático quando não há pessoas presentes no local. Para que as fontes fósseis sejam substituídas por Para que o Brasil atinja um nível de eficiência completo é necessário estimular o desenvolvimento, energética com patamares comparáveis aos de paí- aprimoramento e utilização de fontes de energia lim- ses avançados nesse tema, como Japão e Alemanha, pas, renováveis e socialmente justas. Dentre as me- é preciso incentivar os grandes empreendimentos in- didas que devem ser tomadas para esse fim, destaca- dustriais e comerciais a modernizarem seus sistemas se a criação de incentivos fiscais às energias reno- de utilização de energia para reduzir os desperdícios váveis, envolvendo tributos federais (II, IPI e PIS- estruturais. COFINS); ampliação da participação de novas ener- gias renováveis na matriz elétrica por meio da reali- 7. Repotenciação de usinas zação de leilões por fonte de energia; e geração anual de 13 GW de eólica, 14 GW de biomassa e 3 GW de O Brasil tem 160 usinas hidrelétricas. Cerca de solar até 2018. 70 delas têm mais de 20 anos de operação, que com o tempo perdem eficiência e necessitam de moder- 5. Solarização de 1 milhão de casas em 4 nização. A pesquisa do Instituto de Eletrotécnica e anos Energia da USP aponta um potencial adicional de 8% na capacidade instalada de geração de energia Os equipamentos do sistema solar fotovoltaico com esta medida, sem a necessidade de construção ainda possuem custo elevado, sendo esse um dos de uma nova usina. Para isso é preciso alterar a le- fatores que contribui negativamente para sua pouca gislação atual que não permite a paralisação de uma utilização residencial. Nesse sentido, defendemos: usina para processos de modernização, criando um criação de incentivos fiscais às energias renováveis, mecanismo de autorização compartilhada por diver- que levaria a uma redução de 20% do preço de equi- sos órgãos, com participação de usuários. pamentos do sistema solar fotovoltaico; articulação junto ao Conselho Nacional de Política Fazendária 8. Controle estatal sobre a geração e distri- (ConFaz) para garantir que a energia injetada na buição de energia rede por mini e microgeneradores de energia tenha o mesmo valor que a consumida da rede; tratamento Entre 1996 e 2006, os reajustes das tarifas de ener- diferenciado ao PIS-COFINS incidente sobre o con- gia elétrica ficaram bem acima da inflação no pe- sumo de energia, que pode ser garantido via decreto, ríodo. As tarifas médias subiram 350%, enquanto a com vistas também a garantir que a energia injetada inflação medida pelo índice IPCA registrou variação na rede por mini e microgeneradores de energia te- de 196%. Em termos reais (descontando-se a infla- nha o mesmo valor que a consumida da rede; e cri- ção) o aumento na conta de luz atingiu 77%, con- ação de linhas de crédito com juros baixos e prazo sequência direta da privatização do setor energético. acima de 10 anos para financiamento da compra do É preciso acabar com o favorecimento de oligopólios sistema fotovoltaico pelos bancos oficiais de crédito, do capital financeiros pelo Estado, impedindo, por ENERGIA 39 exemplo, manobras contábeis em balanços para fal- do Pré-Sal deve ser feita a partir de um amplo debate sificar e criar prejuízos e, com isso, obter autorização que envolva os impactos ambientais, sociais e traba- para aumentos ilegais de tarifas e justificar os baixos lhistas. Ao mesmo tempo, defendemos a exploração investimentos das empresas no setor. Defendemos o 100% estatal e a revogação do leilão do Campo de fim da Indústria do Apagão. Libra, revertendo seus dividendos em serviços pú- blicos como saúde e educação. 9. Amplo debate sobre a exploração do Pré-Sal 10. Criação de um plano de contingencia- A exploração comercial da área do Pré-sal de- mento em caso de acidentes nas operações manda respostas a desafios técnicos e logísticos de de petróleo extrema complexidade, como a profundidade das reservas e a plasticidade do sal, que dificultam a No Brasil não há um plano de contingenciamento perfuração e a extração do combustível. Um vaza- em caso de acidentes nas operações de petróleo, ape- mento em águas profundas resultaria na poluição sar de existir uma proposta desde 2000. Segundo o das marés e profunda alteração dos ecossistemas, TCU, a ANP verifica apenas 4% dos acidentes ocor- com grande impacto na costa. Portanto, a exploração ridos. 40 REFORMA AGRÁRIA

9 Reforma agrária

O ano de 2014 ficará marcado na história dos lu- em mãos de um reduzido número de grandes empresas tadores por um Brasil mais justo, democrático e igua- agrícolas. Não é assim. Não há como eliminar o domí- litário pela morte de uma grande referência: Plínio nio hegemônico dessas duas facções sobre a vida rural sem de Arruda Sampaio. Durante sua trajetória, Plínio alterar substancialmente o atual perfil de distribuição da foi um gigante na defesa de uma verdadeira demo- propriedade da terra. Está na base do sistema de domi- cracia social, no combate à exploração capitalista e nação cuja cúpula são as grandes agroindústrias. É essa na luta pela Reforma Agrária, sua grande bandeira extraordinária concentração da propriedade da terra que de luta em vida. Presidente de honra da Associa- gera uma população destituída de qualquer possibilidade ção Brasileira de Reforma Agrária (ABRA), fundada de sobrevivência sem depender dos favores dos que têm em 1967, Plínio foi o relator do projeto de Reforma muita terra. Dessa dependência da população rural dos Agrária do governo João Goulart e, por anos, atuou poucos que podem fornecer trabalho ou terra para cultivo desenvolvendo trabalhos para a causa na Organiza- surgiram historicamente, e se mantêm até hoje, relações ção para Agricultura e Alimentação das Nações Uni- econômicas, sociais e políticas perversas, que abrangem das (FAO/ONU). Posteriormente, com a chegada de não somente as relações econômicas, sociais e políticas per- Lula ao poder, Plínio foi responsável por elaborar o versas, que abrangem não somente a relação entre a grande Plano Nacional de Reforma Agrária, que nunca foi empresa agrícola e o habitante rural sem terra, mas englo- tirado do papel pelo governo. Já no PSOL, Plínio foi bam as relações entre todos segmentos de classe do meio candidato a governador do estado de São Paulo e à rural. Essas relações geraram uma inércia que bloqueia Presidente da República, mantendo a coerência com todo e qualquer esforço de melhorar o padrão de vida dessa os ideais socialistas e libertários e com a luta pela Re- população e de aproveitar todas as possibilidades de cria- forma Agrária. ção de riqueza que o desenvolvimento das forças produti- Embora Plínio tenha partido, suas ideias e seu vas no campo já permite. Para desbloquear essa situação exemplo permanecem em cada passo dos brasileiros indesejável, é preciso vencer a dominação da grande em- em direção a um país onde vigore a verdadeira jus- presa agrícola sobre a população do campo; para vencer tiça. Por isso, em nosso Programa para a Reforma esta dominação, é preciso quebrar sua espinha dorsal: a Agrária resgatamos as atuais e urgentes contribui- concentração da propriedade da terra. Se a maior parte ções que Plínio desenvolveu ao lado dos movimen- da população rural tiver acesso à terra, as relações sociais tos sociais ao longo de sua efervescente vida política. perversas não terão como se sustentar e o caminho estará Como abertura deste ponto colocamos também um aberto, após um período de adaptação, para um grande de- excerto de uma importante contribuição do nosso senvolvimento da produção. Daí a necessidade de uma querido Plínio de Arruda Sampaio, que esteja sem- reforma agrária, ou seja, de uma intervenção direta e pla- pre presente! nejada do Estado, com o apoio decidido da massa rural, para, em um curto período, desapropriar uma quantidade “Se há uma “questão agrária”, só há um meio de suficientemente grande de terras, de modo a quebrar o po- resolvê-la: alterando essa estrutura mediante uma reforma der econômico, social e político dos segmentos das classes agrária. Isto consiste fundamentalmente na destruição dominantes que hegemonizam atualmente o meio rural.” do poder das forças que hoje dominam o mundo rural e impõem uma dinâmica agrícola perversa; e em sua subs- tituição por outras forças aptas a imprimir uma dinâ- Prioridades: mica econômica e ambientalmente mais equilibrada e so- a) Impedir a concentração da propriedade pri- cialmente mais justa. Substituir os poderes existentes no vada da terra, das florestas e da água, e fa- campo por novos poderes constitui a essência mesma dos zer uma ampla distribuição das maiores fazen- processos de reforma agrária. Dado que atualmente o po- das, instituindo um limite de tamanho máximo der maior no campo está em mãos das agroindústrias que da propriedade de bens da natureza e restrin- controlam a provisão de insumos e o escoamento da pro- gindo a propriedades de empresas transnacio- dução, poder-se-ia questionar a necessidade de uma re- nais; forma agrária, já que esta consiste essencialmente na dis- tribuição entre a população rural de terras concentradas b) Implementar um programa agrícola e hídrico REFORMA AGRÁRIA 41

que priorize a soberania alimentar de nosso • garantir a adequação da legislação sanitária da país, com estímulo à produção de alimentos sa- produção agroindustrial às condições da agri- dios, à diversificação da agricultura, à Reforma cultura camponesa e das pequenas agroindús- Agrária com ampla democratização da propri- trias, ampliando as possibilidades de produção edade da terra, à distribuição de renda e à fixa- de alimentos; ção das pessoas no meio rural brasileiro; • implementar políticas públicas para a agricul- c) Assegurar que a agricultura brasileira seja con- tura direcionadas e adequadas às realidades trolada pelos brasileiros e tenha como base a regionais; produção de alimentos sadios e a organização • de agroindústrias na forma de cooperativas em Aumentar os recursos do Pronaf e os créditos todos os municípios do país; iniciais de instalação; • d) Incentivar a produção diversificada, na forma Destinar recursos para os estados e municípios de policultura, priorizando a produção campo- colocarem equipes de Saúde da Família nos nesa. projetos de assentamentos; • Rediscutir o PNAE (Programa Nacional de Ali- Propostas de ação: mentação Escolar);

• Definir critério para produção de oleaginosa 1. Reorientação das políticas públicas com para a produção de Biodiesel nos assentamen- prioridade à agricultura familiar tos de utilização máxima 25% de cada parcela, Nos últimos anos, o governo tem dado priori- proibindo o arrendamento para Usinas; dade total ao agronegócio de larga escala. Nossa • Aumentar os valores para o PNHR (Programa prioridade será a agricultura familiar com vistas a Nacional de Habitação Rural) para que as ca- assegurar a soberania alimentar, a justa e equitativa sas sejam construídas com, no mínimo, 60m2, distribuição das terras produtivas e a geração de em- incluindo kits de fossa biodigestoras (desen- pregos no campo. Além disso, há inúmeros estudos volvidas pela Embrapa - São Carlos), coletores que mostram que a agricultura familiar tem tido de- solares (desenvolvidos pela Unicamp) e cister- sempenho mais produtivo do que as grandes pro- nas de placas desenvolvidas pela Articulação priedades vinculadas ao agronegócio, tanto no que do Sem Árido (ASA); se refere à eficiência produtiva e ao aproveitamento da terra, quanto ao retorno econômico do país com • Definir um Plano Nacional de Assistência Téc- taxa superior de geração de emprego, distribuição nica Rural; de renda e aproveitamento de recursos e financia- • Apoiar prefeituras e estados na reconstrução mentos públicos. das Escolas do Campo; Visando estimular a agricultura familiar e a de- mocratização do acesso e produtividade na terra, va- • Ampliar os recursos para o Pronera e rediscutir mos ter como eixos gerais: o manual com vistas à sua desburocratização;

• prioridade para a produção de alimentos para • Aumentar os valores do custo por famílias o mercado interno; para os pagamentos de TDA’s;

• estabelecer preços rentáveis aos pequenos agri- • Destinar todas as terras arrecadadas por ór- cultores, garantindo a compra pela Conab; gãos públicos para a Reforma Agrária;

• implantar uma nova política de crédito rural, • Revogação da Medida Provisória 2.183-56 em especial, para investimento nos pequenos e (Agosto 2001) que proíbe terras ocupadas de médios estabelecimentos agrícolas; serem desapropriadas.

• defender que a política de pesquisa da Em- brapa seja definida a partir das necessidades 2. Estruturação de um sistema nacional dos camponeses e da produção de alimentos; para a Justiça Agrária 42 REFORMA AGRÁRIA

Na atrasada estrutura fundiária brasileira ainda 5. Proibir a aquisição de terras brasileiras predomina, por um lado, os grandes latifúndios im- por empresas transnacionais e “seus laran- produtivos ou com produção que não atende às de- jas” mandas internas da população e, por outro, um cenário de conflito e violência no campo onde há As empresas transnacionais, em conjunto com uma grande quantidade de trabalhadores campone- falsas entidades ambientalistas, vêm se apropriando ses sem terra. Esse conflito é agravado pela imensa das terras brasileiras para transformá-las em simples quantidade de grilagem, de ocupação de terras indí- mercadorias como, por exemplo, por meio da uti- genas e quilombolas, de desrespeito ao meio ambi- lização de créditos de carbono negociáveis nas bol- ente e aos ribeirinhos. Tudo amparado em uma jus- sas, que isenta empresas poluidoras do Norte e gera tiça de classe onde prevalece as frias estatísticas de oportunidades de lucro para empresas do Sul, man- mortes de camponeses e ativistas de direitos huma- tendo as agressões feitas ao meio ambiente pelo ca- nos no campo. Reestruturar o judiciário no campo pital. para constituir uma Justiça do Campo nos moldes da 6. Desapropriar as terras de empresas es- Justiça do Trabalho é um grande desafio. Para isso trangeiras, bancos, indústria e comércio, propomos medidas como a criação de varas e pro- empresas construtoras e igrejas que não te- motorias agrárias – à semelhança do que já acontece nham na agricultura sua atividade fim em alguns estados – em todo o país como transição para um sistema organizado com tribunais específi- A produção de alimentos saudáveis e o respeito cos. Ao mesmo tempo, é preciso promover de ime- ao meio ambiente são nossas prioridades. Nesse sen- diato a estatização dos cartórios de terras, focos da tido, é preciso impedir a privatização dos recursos legalização da grilagem de terras. naturais por grandes empresas, como Nestlé, Coca- Cola, Suez, e geração de energia para agronegócio e 3. Adotar técnicas de produção que bus- o hidronegócio, que destrói e polui o meio ambiente, quem o aumento da produtividade do tra- privilegia os grandes consumidores eletrointensivos balho e da terra, respeitando o meio ambi- e entrega o controle da energia às grandes corpora- ente e a agroecologia ções multinacionais. Defendemos a desapropriação das terras de empresas estrangeiras, bancos, indús- Para desestimular o avanço do desmatamento é tria e comércio, empresas construtoras e igrejas que necessário aumentar a produtividade do trabalho e não tenham na agricultura sua atividade fim, além da terra, porém respeitando o meio ambiente. Nesse da destinação dessas terras para a meta de assenta- sentido, a agroecologia se faz necessária para redu- mento de 1 milhão de famílias. zir os impactos no meio ambiente e melhorar a saúde das pessoas com atividades na natureza e produção 7. Desapropriar as terras públicas e priva- de alimentação saudável, combatendo o uso de agro- das que não cumpram sua função social tóxicos, que contaminam os alimentos e a natureza. A função social da terra, garantida na Constitui- 4. Preservar, difundir e multiplicar as se- ção Federal, estipula que ela não deve ser tratada mentes nativas e melhoradas como uma mercadoria qualquer,. Ela deve servir à sociedade e manter-se produtiva. Por esse motivo, defendemos a desapropriação das terras públicas e Defendemos a proibição da atuação de empre- privadas que não cumpram sua função social deter- sas estrangeiras no controle da produção de alimen- minada pela produtividade, de acordo com o poten- tos e no comércio de sementes, uma vez que co- cial de cada região, bem como o respeito ao meio- loca em risco a autonomia da produção de alimen- ambiente e às leis trabalhistas, aprovando a lei que tos. Visamos preservar, difundir e multiplicar as se- determina a expropriação de toda fazenda com tra- mentes nativas e melhoradas de acordo com nosso balho escravo. clima e biomas, para que todos os agricultores te- nham acesso a elas, estimulando a produção, a distri- 8. Regularizar todas as terras quilombolas buição e o controle das sementes, bem como a diver- do país sidade genética vegetal e animal por parte dos pró- prios agricultores e agricultoras. A expansão do agronegócio e as disputas terri- REFORMA AGRÁRIA 43 toriais colocam em risco o acesso à terra e o reco- cação de todas as terras indígenas, em especial nas nhecimento de direitos quilombolas. Para garantir a áreas dos guaranis, no Mato Grosso do Sul, se faz manutenção de territórios ocupados por essa popu- necessária para garantir a manutenção de seus espa- lação, defendemos a regularização de todas as terras ços de reprodução cultural, social e econômica. quilombolas do país. 10. Assegurar a educação no campo 9. Demarcar imediatamente todas as áreas indígenas e promover a retirada de todos Defendemos a implementação de um amplo pro- os fazendeiros invasores grama de escolarização no meio rural, adequado à realidade de cada região, que busque elevar o nível Desde a colonização do Brasil, os povos indíge- de consciência social dos camponeses, universalizar nas vêm sofrendo com a perda de seu território. Nas o acesso dos jovens a todos os níveis de escolarização últimas décadas, o agronegócio e a extração de ma- e, em especial, aos ensinos médio e superior, além de deira tem sido as principais ameaças para a manu- desenvolver uma campanha massiva de alfabetiza- tenção desses povos e de suas culturas. A demar- ção de todos os adultos. 44 HABITAÇÃO E REFORMA URBANA

10 Habitação e Reforma Urbana

O modelo brasileiro de desenvolvimento favore- propriedade. Instrumentos como o IPTU progres- ceu a especulação imobiliária nas grandes cidades, sivo no tempo, o parcelamento compulsório de imó- expulsando com isso a população mais pobre para veis que não cumprem sua função social e as Zo- zonas distantes e aumentando ao mesmo tempo os nas Especiais de Interesse Social que garantem mo- custos de infraestrutura e de transportes. O combate radia digna no planejamento urbano são formas de à segregação urbana em nossas metrópoles passa ampliar o direito à cidade e combater a segregação pelo fim da aceitação de que imóveis são ativos de urbana. Embora esses dispositivos estejam previs- investimento. Imóveis são bens sociais e devem tos desde 2001 no Estatuto das Cidades, raramente cumprir a função social da propriedade. O programa são implantados. Custa caro à sociedade que finan- habitacional que defendemos é um eixo norteador cia o Estado manter a infraestrutura urbana em áreas de um grande Plano Nacional de Desenvolvimento que só atendem à especulação. A implantação destes Urbano que esteja articulado à necessidade impera- e de muitos dos instrumentos assegurados no Esta- tiva do direito à cidade para quem nela habita, ou tuto das Cidades não se efetiva por conta da inca- seja, que as cidades sejam planejadas e construídas pacidade da União de intervir nas questões urbanas de acordo com os interesses e as necessidades da fundamentais. maioria de sua população. Elaboraremos, em conjunto com os movimentos sociais e a sociedade civil, um Plano Nacional de Prioridades: Desenvolvimento Urbano que enfrente o desafio de pensar o planejamento urbano em longo prazo a par- a) Criar um sistema nacional de desenvolvimento tir das diferentes demandas das diversas cidades do urbano estruturado que garanta a plena hierarquia país, desde as pequenas às grandes metrópoles. Para de competências dos entes federativos e a execução tanto é fundamental reestruturar o pacto federativo de instrumentos de democratização do direito à ci- assegurando clara hierarquização das competências dade, desde os pequenos núcleos às grandes me- dos entes e controle social para garantir a plena exe- trópoles; b) Zerar o déficit habitacional nas cidades cução dos dispositivos de democratização das cida- médias e grandes; c) Retomar a capacidade do Es- des. Tudo isso requer que o governo federal seja o tado em planejar, intervir e gerenciar a produção do principal responsável por assegurar a implantação espaço urbano com atuação direta do governo fe- deste plano nos estados e municípios. deral; d) Assegurar a participação popular no pla- nejamento e execução do desenvolvimento urbano, 2. Planejamento e Orçamentos Participa- a partir da obrigatoriedade de mecanismos de con- tivos obrigatórios em todos os municípios trole social, especialmente sobre o orçamento; e) Ur- do país banizar e regularizar favelas em todo o país. Um problema central do panorama urbano bra- sileiro é a completa ausência de mecanismos efeti- Propostas de ação: vos de participação popular e democracia direta no planejamento das cidades. Nesse cenário, os negó- 1. Estabelecer um Plano Nacional de De- cios de todo o tipo – e especialmente os financeiros e senvolvimento Urbano que rediscuta a ad- imobiliários nas grandes metrópoles – são os princi- ministração do território urbano e torne re- pais planejadores das cidades. Ou seja, o desenvolvi- alidade a utilização dos instrumentos pre- mento urbano atende prioritariamente aos interesses sentes no Estatuto das Cidades do grande capital em prejuízo das demandas mais sentidas pelo povo. A realização de uma efetiva e necessária Reforma Reverter tal quadro é um imperativo para ter ci- Urbana passa em primeiro lugar por garantir a efe- dades justas e viáveis nos aspectos social, econômico tividade de medidas de democratização do acesso à e ambiental. Em nosso governo o planejamento e o terra urbanizada, combatendo a especulação imobi- orçamento urbanos de todas as cidades do país, a liária e exigindo o cumprimento da função social da partir de regulamentação própria que preveja a di- HABITAÇÃO E REFORMA URBANA 45 versidade de realidades, deverão contar obrigatoria- ção do país para a Copa do Mundo, os despejos for- mente com plena e ativa participação popular, sendo çados são a regra na execução do planejamento ur- condição para que os estados e municípios recebam bano brasileiro, controlado pela avidez do mercado transferências de recursos e investimentos do go- imobiliário em consórcio com os políticos que se ele- verno federal. gem em função do financiamento de empreiteiras e construtoras. Combater os despejos forçados é uma 3. Nova Lei do Inquilinato necessidade que demanda a criação de uma Secre- taria específica no Ministério das Cidades. Ela deve Nos últimos anos as ocupações de terras e pré- ser a mediadora dessas situações. dios urbanos se multiplicaram em função da alta as- tronômica dos preços dos aluguéis que chegaram a 6. Ampla reformulação do Programa Mi- ser reajustados muitas vezes acima das taxas de in- nha Casa Minha Vida (MCMV) flação. Esses reajustes abusivos criam sérios proble- mas na infraestrutura urbana, alargando o déficit ha- Gestado como política industrial para ampliar bitacional com a expansão de habitações precárias e os negócios imobiliários vinculados às grandes em- em áreas de risco e aumentando a pressão por equi- presas da construção civil e ao capital financeiro, o pamentos e serviços públicos nas áreas periféricas. MCMV precisa de mudanças profundas para produ- Combater a especulação imobiliária é o principal ob- zir, de fato, moradia digna para aqueles que mais jetivo da elaboração de uma nova lei do inquilinato precisam. Medidas emergenciais: que estabeleça limites aos reajustes dos aluguéis, ga- • fortalecimento da gestão direta dos projetos rantindo que esses não estejam acima da inflação. e obras pelos futuros moradores, destinando 4. Implantação de política federal de desa- 100% dos novos projetos à modalidade MCMV propriação de terrenos ociosos e destinação Entidades; de terrenos da União (SPU) para habitação • focar o programa nas famílias com renda me- popular nor que três salários mínimos, que represen- tam 70% do déficit habitacional brasileiro; A lei de desapropriações no país premia o espe- culador. Uma área ociosa, que não cumpre função • associar o programa a uma política nacio- social, pode ser desapropriada pelo Estado, mas os nal de desapropriações, possibilitando assim governos são obrigados a pagar em valor de mer- uma melhor localização urbana dos empreen- cado e à vista e, por conta disso, há proprietários dimentos populares; que festejam a desapropriação e fazem até conluios para que elas ocorram. Quem especula com a terra • reduzir a margem abusiva de lucro das cons- – urbana ou rural – precisa ser punido e não premi- trutoras no programa, com o aumento das ado pela lei. Como proposta mínima para uma polí- exigências de qualidade e tamanho mínimo tica federal de desapropriação, se a terra está sendo das moradias construídas, garantindo que ne- usada para especulação, deve ser objeto de desa- nhuma habitação tenha tamanho inferior a 2 propriação compulsória, pelo valor venal e com pa- 55m ; gamento em títulos da dívida pública. Ao mesmo • aumentar os recursos destinados ao programa. tempo é fundamental garantir que haja um banco público de terras para não deixar que os terrenos ur- banos sejam monopólio do mercado imobiliário. Os 7. Limitação para a aquisição de imóveis terrenos da União não utilizados devem ser alvo de políticas de desapropriação que tenham como prio- A dinâmica da concentração de poder e de ri- ridade a resolução do déficit habitacional. queza no Brasil está associada à concentração pro- porcional de propriedades e de imóveis que, em 5. Política de combate a despejos forçados, grande parte dos casos, sequer cumprem sua função criando Secretaria específica no Ministério social, servindo apenas especulação. Em nossa pro- das Cidades posta, para combater o déficit habitacional e contri- buir efetivamente para a desconcentração de riqueza Como se viu durante todo o período de prepara- e renda ninguém poderá ter mais do que 5 imóveis 46 HABITAÇÃO E REFORMA URBANA em uma cidade, a não ser em casos excepcionais. das. Ao contrário, deveriam significar instrumentos Com isto, visamos também quebrar o ciclo de espe- de combate à favelização e à periferização a partir de culação que faz os preços dos imóveis explodirem. programas que forneçam subsídios para que quem tenha menos recursos possa morar dignamente em 8. Lei da Casa Vazia áreas providas de infraestrutura urbana.

A quantidade de domicílios vazios nas grandes 10. Urbanização e regularização de favelas cidades é imensa e capaz de resolver grande parte do déficit habitacional que as metrópoles acumula- ram ao longo de anos. Boa parte desses domicílios O processo de expansão das periferias urbanas e está localizado em áreas centrais das cidades, abas- de favelização é uma regra geral nas grandes cida- tecidas amplamente por sistemas de transportes pú- des brasileiras. Essas habitações são as que os ne- blicos e por infraestrutura urbana. Portanto, asso- gócios imobiliários deixam disponíveis para quem ciada a outras políticas habitacionais, a Lei da Casa tem pouca renda, em geral em áreas onde o mercado Vazia estabelece que imóveis desocupados por mais formal não pode ou não quer investir. Entretanto, de dois anos, que estejam comprovadamente a ser- na imensa maioria das vezes as favelas, vilas e ou- viço da especulação, com dívidas com o poder pú- tras denominações de habitações chamadas “irregu- blico e em áreas onde há grande déficit habitacional, lares”, sofrem um processo pesado de segregação ur- devem ser desapropriados a fim de transformá-los bana por parte do poder público que as condiciona a em habitação popular. uma situação de “não-cidade”. Integrar as favelas à cidade com investimentos de vulto em urbanização 9. Política federal de Aluguel Social em e iniciativas concretas para a regularização fundiá- áreas centrais ria, administrativa e patrimonial dessas habitações é uma prioridade e a melhor alternativa para respon- As políticas de aluguel social no Brasil servem, der ao passivo socioambiental das cidades, preser- na melhor das hipóteses, como atenuantes para fa- vando empregos, laços territoriais e acesso a equipa- mílias que sofrem com desastres ou remoções força- mentos públicos. 47

11 Mobilidade e Transportes

A questão dos transportes foi a principal catalisa- Propostas de ação: dora das jornadas de junho, que levaram milhares de brasileiros às ruas, rompendo o dique da indignação 1. Estabelecer o transporte público como popular. O PSOL sabe que não é por acaso. A luta direito social nos termos do artigo sexto da contra o aumento das tarifas sempre foi uma priori- Constituição Federal dade nossa porque o transporte público e de quali- dade é uma necessidade estruturante de justiça so- A PEC 74 do Senado, que já tem todos pareceres cial e direito à cidade, devendo ser entendido como favoráveis, versa sobre o tema e só precisa ser posta um direito universal e um dever do Estado assegu- em votação. Como já foi aprovada a PEC 90 da Câ- rado na Constituição. mara, com o mesmo objetivo, aprovada a PEC 74 está Por isso, garantir políticas efetivas de mobili- completada a inscrição na Constituição. Garantir o dade que desonerem os trabalhadores e a juven- transporte público como direito social constitucio- tude ao máximo – com a perspectiva da tarifa zero nal significa avançar para a obrigatoriedade de seu – ao mesmo tempo em que incluam outros modais oferecimento pelo Estado bem como a qualidade e a – como a bicicleta, transporte sobre trilhos, sobre a gratuidade. água e o transporte por veículos elétricos (trólebus e bondes) – em uma visão integrada de desenvolvi- 2. Destinação de ao menos 2,1% do PIB mento das cidades é uma prioridade do nosso pro- para mobilidade urbana grama. Ao mesmo tempo é necessário reorientar tanto a rede urbana quanto a rede de transporte de Destinaremos, conforme proposto pelo IPEA, cargas para alternativas mais racionais ambiental e pelo menos 2,1% do PIB para mobilidade urbana economicamente. dando prioridade absoluta ao transporte público. A política de amplos subsídios estatais às grandes montadoras e ao transporte individual motorizado Prioridades: como prática dos governos Lula e Dilma, além de a) Garantir transporte público como direito social reforçar a desigualdade social diminuindo a capaci- constitucional; dade de arrecadação do Estado, reforça a lógica de mobilidade crítica e segregação nas grandes metró- b) Reduzir e até zerar as tarifas e, ao mesmo poles com os problemas crônicos de trânsito e as de- tempo, expandir a oferta e avançar na quali- ficiências profundas no transporte público. dade do serviço; O dado mais alarmante dessa política falida é a crescente quantidade das mortes em acidentes de c) Aumentar a destinação de verbas públicas à trânsito: em 2012 foram 46 mil mortes desse tipo, nú- mobilidade urbana; mero que se aproxima cada vez mais das mortes por homicídio. O fortalecimento do transporte público – d) Integrar transportes urbanos em um Plano In- garantido como direito e financiado pelo Estado – ar- tegrado de Mobilidade, abarcando diversos ticulado com outros modais não motorizados, como modais (bicicleta, carro, transporte coletivo e a bicicleta, é fundamental para garantir a todos o di- deslocamento a pé) dentro das estruturas de reito a cidades mais humanas, ambientalmente jus- planejamento urbano; tas e economicamente viáveis.

e) Para transporte de cargas, substituir progres- 3. Estabelecimento de um Código Nacional sivamente o modal rodoviário pelos aquaviá- de Desempenho dos Transportes Coletivos rio e ferroviário, com frete mais barato e menor Urbanos e Metropolitanos consumo de energia; Como desdobramento das diretrizes da LEI No f) Garantir condições dignas de salário e trabalho 12.587, DE 3 DE JANEIRO DE 2012, denominada Lei aos profissionais de transportes. da Mobilidade, propõe-se a edição de um Código 48 MOBILIDADE E TRANSPORTES

Nacional do Desempenho dos Transportes Coletivos Estimulando a inovação, fomento e incentivo à Urbanos e Metropolitanos que torne efetivas as dire- fabricação nacional e uso de ônibus movidos a ener- trizes gerais contidas na citada lei. Diferentemente gia elétrica segundo os padrões recentes que pres- de Planos de Mobilidade ali previstos, o Código pro- cindem do uso de alavancas captadoras de energia posto tem força de operacionalizar de imediato as e usam sistema de recarregamento de baterias por características do desempenho dos transportes cole- modos de indução eletromagnética nos pontos de tivos urbanos e metropolitanos. Um país não pode parada. O mercado brasileiro de ônibus urbanos é prescindir de tais especificações, tal como existe na de cerca de 100.000 veículos. Os municípios e esta- aviação civil e no trânsito, por exemplo. dos que usarem esse tipo de veículos nos corredores Esse Código determinará, por exemplo, que: e nas linhas comuns, terão um adicional do Fundo de Financiamento das Tarifas. Paralelamente, con- • será de cinco o número máximo de passageiros dicionado à gratuidade das tarifas, haverá incenti- por metro quadrado em qualquer horário; vos e financiamento por parte do governo federal a • o tempo máximo de espera nos pontos de pa- pequenos e médios municípios a comprarem frotas rada será de 4 minutos; próprias de ônibus. • será obrigatório o uso de ar condicionado nos 6. Estabelecimento de padrões de eficiência veículos; para a produção de carros brasileiros • será proibido o uso de veículos encarroçados Os fabricantes de veículos automotores deverão sobre chassis de caminhões; alcançar metas mínimas de eficiência energética vei- • será obrigatório o uso de câmbio automático; cular, que serão progressivamente introduzidas de 2018 a 2021, até atingir a meta de 1,22 Mj/Km (me- • os polos geradores de passageiros, sejam de gajoules por quilômetro). Se tal eficiência for alcan- origem residencial, comercial ou de serviços, çada, além dos benefícios ambientais, a população deverão prover obrigatoriamente serviços de brasileira economizaria R$ 287 bilhões em combustí- transportes tipo “shuttle”, entre o polo gerador vel. e terminais de transportes coletivos; 7. Integração prioritária e obrigatória da • será obrigatório (conforme decreto 5.296 DE 2 bicicleta aos planos de mobilidade com es- DE DEZEMBRO DE 2004) a todos os ônibus a tímulo ao uso de modais não motorizados garantia de plena acessibilidade para deficien- como parte da mudança do padrão de des- tes; locamentos urbanos • será proibido o acúmulo de tarefas dos profis- sionais dos transportes coletivos. É necessário incentivar a busca por alternativas de transportes menos impactantes na rede viária, de- sestimular o uso excessivo do automóvel e ainda re- 4. Criação do Fundo Nacional de Financi- organizar a utilização do espaço urbano de forma a amento das Tarifas de Transportes Coleti- garantir que deslocamentos, quando necessários, se- vos Urbanos e Metropolitanos jam realizados da forma mais racional possível. A Com recursos provenientes de uma reforma tri- integração entre diferentes modais de transporte – butária, com ênfase nos impostos diretos e sobre com prioridade aos coletivos e aos não motorizados grandes fortunas, além da transformação do Vale- – deve ter tratamento preferencial, em detrimento de Transportes em Taxa Transportes proporcional ao intervenções específicas de expansão da infraestru- número de trabalhadores das empresas. Tal fundo tura existente. ajudará no subsídio das tarifas, em complemento aos A bicicleta, absolutamente viável para pequenas subsídios de origem municipal e estadual. Só acessa- e médias distâncias, quando integrada a outros mo- rão o Fundo os municípios e estados que observarem dais de transporte permite atingir vários destinos, o Código de Desempenho. além de ser um vetor de melhoria ambiental e de saúde. O trajeto por bicicleta multiplica por 15 a 5. Criação do Programa Ônibus Sustentá- zona de influência de uma parada de transporte pú- vel blico. Em estudo da Comissão Europeia, constatou- MOBILIDADE E TRANSPORTES 49 se que o ciclista pode ganhar um quarto de hora em transporte de carga. O custo do frete ferroviário é, relação ao ônibus, no seu deslocamento para alcan- segundo o DNIT, 50% menor do que o rodoviário, çar uma estação de integração. Para nós, aliada à ex- que continua sendo usado pela pressão histórica das pansão e prioridade ao transporte público coletivo, grandes empresas automobilísticas. Em nenhum ou- o compromisso com a mobilidade ciclística será cen- tro país com dimensões continentais como o Brasil tral. Para tanto, incorporaremos propostas dos mo- (como EUA e Rússia) existe a utilização desse pa- vimentos ciclísticos para o desenvolvimento de um drão. programa nacional de mobilidade ciclística que en- volva, como sugerido pela União de Ciclistas do Bra- 9. Integração do Planejamento e Logística sil: de Transportes nacional às realidades de es- • Criar um sistema de pesquisa, monitoramento tados, regiões metropolitanas e municípios e avaliação das políticas públicas, da infraes- trutura cicloviária e da participação da bici- cleta nos deslocamentos, assim como incluir a Por meio de investimentos em capacitação téc- bicicleta no censo e nas pesquisas domiciliares nica, humana e financeira de setores do governo, do IBGE, de modo a subsidiar a elaboração de como a Empresa de Planejamento e Logística (EPL), planejamento para o setor; deve-se prover estados e municípios de apoios dire- tos ao aperfeiçoamento e criação de planos de mo- • Criar rubrica específica no Orçamento Geral da bilidade onde estes não existam e integrá-los a um União, por meio do Plano Plurianual, para cus- plano comum nacional com otimização dos investi- teio e investimentos em mobilidade ciclística, mentos e resultados. bem como linhas de financiamento aos municí- pios brasileiros para infraestrutura cicloviária, 10. Estabelecimento e criação, através de le- em montante crescente a cada ano; gislação pertinente, de ferramentas de de- • Estabelecer metas claras de aumento da par- mocracia direta no planejamento, progra- ticipação da bicicleta na mobilidade urbana e mação e controle das linhas de transportes rural, envolvendo todos os setores da adminis- coletivos urbanos e metropolitanos tração pública federal, bem como aplicar a bi- cicleta nas políticas públicas sociais tais como A mobilidade urbana é um dos serviços públi- de trabalho, geração de renda, erradicação da cos que mais se presta e exige a democracia direta pobreza, defesa civil, educação, saúde e mora- no estabelecimento de suas políticas, planejamento, dia; programação e controle. A população usuária detém um conhecimento só permitido pela vivência propi- • Instalar bicicletários adequados em todos os ciada pelo uso diário dos transportes coletivos. prédios públicos federais, de todas as cidades brasileiras, quando houver espaço disponível, Cabe ressaltar que das reivindicações das Jorna- suprimindo, se necessário, vagas de estaciona- das de junho de 2013, a questão da mobilidade e das mento de automóveis; tarifas dos transportes coletivos foi a que menos foi contemplada, na prática, por medidas inovadoras e 8. Transferência modal do transporte de concretas. O máximo que aconteceu foi a aprovação cargas: de rodoviário para aquaviário e fer- do REITUP, que desonera as empresas de impostos, roviário contribuições e taxas, supondo que tais renúncias fis- cais chegarão ao bolso do usuário pela redução das Os modais ferroviário e aquaviário são mais efi- tarifas. Assim mesmo, poderão reduzir as tarifas em cientes economicamente e menos poluentes para o baixos percentuais. 50 SEGURANÇA PÚBLICA

12 Segurança Pública

Vivemos no Brasil uma dramática situação de vi- planejamento e inteligência; olência e criminalidade generalizadas. As grandes b) Reformar o modelo policial integrando as po- cidades em especial vivem sob a escalada do número lícias em um sistema único e desmilitarizado de homicídios e roubos, e as respostas-padrão dadas que construa um novo pacto federativo e va- pelos governos – aumento da repressão, violência do lorize o trabalhador e o plano de carreira dos Estado e encarceramento – se demonstraram um fra- servidores da segurança pública, permitindo a casso de grandes proporções. Essa escalada da vio- esses todos os direitos civis de organização e lência é complementada pela organização cada vez sindicalização; maior e mais eficiente das organizações criminosas, como as milícias e os traficantes de armas e drogas c) Revisar as políticas criminais e penitenciárias que seguem tendo domínio de importantes partes do baseadas na falida lógica do encarceramento território, da produção à circulação de suas merca- em massa e na morosidade da resolução dos dorias. A postura do governo federal nas últimas dé- crimes; cadas tem sido a de total refém dessa situação de in- segurança, não tendo tomado nenhuma medida que d) Revisar a política de drogas, descriminali- combatesse isso de maneira expressiva. zando e regulamentando o uso da maconha e Entendemos que é preciso enfrentar a situação da pondo fim à política de guerra às drogas que, insegurança de frente, acompanhando os inúmeros na prática, se transformou em uma verdadeira exemplos que demonstram a necessidade de enten- guerra aos pobres. der a segurança pública em sua múltipla dimensão. Isso significa que se deve combater as causas e não 1. Plano Nacional de Redução de Homicí- apenas os efeitos da criminalidade. Não é nenhuma dios novidade que países onde os índices de distribuição o de renda e os serviços públicos de educação, cultura, O Brasil está em 12 lugar no ranking de homicí- saúde, lazer, esportes e atividade física, habitação e dios, com 29 mortes a cada 100 mil habitantes. Os jo- urbanidade são melhores, têm também indicadores vens são as maiores vítimas dos homicídios no país, de segurança muito melhores. grande parte por auto de resistência, elevando esse Ao mesmo tempo, não se trata de transferir para índice a 53,4 mortos a cada 100 mil habitantes, na as outras áreas o que é tarefa dos organismos de se- faixa etária entre 15 e 24 anos. A vitimização negra gurança pública: é preciso que o sistema seja refor- também tem aumentado vertiginosamente: cerca de mulado para ser eficiente, combatendo a estrutura 100% entre 2002 e 2012, enquanto a branca vem di- corrupta que se perpetua nas polícias, enfrentando minuindo, dado que revela a importância da elabo- a impunidade das ações do Estado, garantindo me- ração de políticas públicas de combate ao racismo canismos mais inteligentes e efetivos de combate ao social e institucional, assim como foco por parte da financiamento e comando das organizações crimino- política de segurança. sas e tendo a clara necessidade de transformar a se- A partir da elaboração de uma agenda prioritária gurança em compromisso civil, revertendo a política em segurança pública, realizada por importantes en- de encarceramento e a doutrina militar que são he- tidades e especialistas na área, nossas propostas para ranças do regime ditatorial do Brasil. a redução de homicídios são:

• Criar e implantar o Plano Nacional de Redução Prioridades: de Homicídios; a) Reduzir drasticamente a situação que coloca o • Priorizar a investigação policial nos crimes de Brasil como um dos primeiros países nos ran- homicídio (garantindo a investigação em casos kings de homicídios no mundo, levando em de autos de resistência e resistências seguidas consideração a necessária combinação de po- de morte); líticas públicas de prevenção nas mais diversas áreas sociais e políticas de ação baseadas em • Investir na perícia criminal; SEGURANÇA PÚBLICA 51

• Fortalecer e ampliar a política nacional de con- • Estimular a atuação das corregedorias e ouvi- trole de armas e munições; dorias, garantindo os devidos recursos e o fi- nanciamento permanente adequado; • Financiar programas de prevenção com foco na juventude, principalmente, na juventude • Estabelecer política de incentivo pela redução negra; de letalidade policial com estabelecimento de metas/bônus para redução; • Trabalhar um plano de estímulo em conjunto a outras áreas fundamentais no combate às cau- • Desenvolver e disseminar protoco- sas da criminalidade, como educação, saúde, los/procedimentos de uso da força em todos habitação, esportes e atividade física, cultura e os níveis; assistência social. • Fortalecer o controle externo da polícia pelo Ministério Público. 2. Desmilitarização da Polícia

Lutaremos pela aprovação da PEC 51/2013, que 4. Revisão da Política Criminal e Peniten- altera a estrutura institucional da segurança pú- ciária e combate à lógica do encarceramento blica, para desmilitarizar as PMs. Elas deixariam de em massa existir como tais, porque perderiam o caráter mili- O Brasil tem a 3a maior população carcerária do tar dado pelo vínculo orgânico com o Exército (en- mundo (CNJ/2014). As altas taxas de criminalidade quanto força reserva) e pelo espelhamento organi- brasileiras confirmam que essa política de encarce- zacional. A PEC também prevê o ordenamento da ramento em massa não contribui para a redução da instituição policial em carreira única, a realização do criminalidade. Apesar do aumento da população ciclo completo do trabalho policial (preventivo, os- carcerária, há também um crescimento das taxas de tensivo, investigativo) e expansão das responsabili- homicídio no Brasil (Mapa da Violência/2014). De dades da União, que assume a atribuição de super- acordo com estes dados, apresentados e sistematiza- visionar e regulamentar a formação policial, respei- dos pela Rede Justiça Criminal, “prender mais gera tando diferenças institucionais, regionais e de espe- um sistema mais violento e violador de direitos, au- cialidades, mas garantindo uma base comum e afi- mentando ainda mais os custos para um Estado que nada com as finalidades afirmadas na Constituição. sequer provê serviços básicos, como saúde e educa- A PEC propõe também avanços no controle externo ção.” e na participação da sociedade, além de garantir o respeito aos direitos trabalhistas dos profissionais da Na contramão da descabida política de redução segurança. da maioridade penal que não diminuiu a violência em nenhum dos países onde foi adotada, é urgente 3. Combate à letalidade policial um novo modelo penal, que priorize penas alterna- tivas e a progressão de regime. A privação da liber- Além de um processo de reforma do modelo po- dade só deve ser aplicada contra quem oferece pe- licial atual, é necessário apresentar propostas no sen- rigo real à sociedade. Por isso, a primeira iniciativa tido de reduzir imediatamente a letalidade policial. será buscar um efetivo engajamento do governo fe- Segundo o 5o Relatório Nacional sobre os Direitos deral para garantir que a Lei de execução penal seja Humanos no Brasil do Núcleo de Estudos da Vio- cumprida. Por outro lado é necessário incentivar a lência da USP, entre 1993 e 2011 ao menos 22,5 mil agilização dos demais procedimentos judiciais a fim pessoas foram mortas em confronto somente com as de reduzir o número de detidos à espera de julga- polícias paulista e carioca. Para isso, incorporamos mento, acabar com as revistas vexatórias e promo- outras propostas apresentadas pela Agenda Priori- ver programas de educação, treinamento profissio- tária de Segurança Pública: nal e trabalho para reinserção. Defendemos um efe- tivo Sistema Nacional de Alternativas Penais com a • Extinguir a categoria “resistência seguida de aplicação de penas alternativas para delitos de me- morte” e substituí-la por homicídio/morte de- nor potencial ofensivo e formas diferentes de reso- corrente de intervenção policial; lução de conflitos, sempre com o objetivo de reparar 52 SEGURANÇA PÚBLICA os danos causados pelas condutas criminais, de res- demais. ponsabilizar seus perpetradores. Tudo isso visando um gradual esvaziamento das prisões. 6. Investimento em inteligência: aperfei- çoar a difusão e gestão de dados 5. Descriminalização e Regulamentação do uso da Maconha Um estudo recente organizado pelo o Ministé- rio da Justiça aponta que no Brasil apenas 8% dos Um conjunto de estudos internacionais já com- casos de homicídios são efetivamente esclarecidos. provam que as políticas de criminalização e a Quem mais sofre com essa incapacidade do Estado “guerra às drogas” em todo o mundo apenas refor- na elucidação dos crimes é exatamente a população çaram o poder das redes das organizações crimino- mais pobre que não tem acesso a recursos suficien- sas, visto que estas se valem dos lucros extraordiná- tes para enfrentar a ineficiência do judiciário. Tal rios que obtêm para montar esquemas de corrupção dado somente reforça a imensa impunidade, especi- de agentes públicos e atuar livremente em diversos almente se forem crimes cometidos pelas polícias ou territórios. As drogas que hoje são ilegais estão na pelo Estado. Investir em inteligência, prevenção e prática “liberadas”, visto que elas são vendidas coti- aperfeiçoamento da difusão e gestão de dados é um dianamente em todas as cidades e têm sua comerci- dos meios de democratizar a justiça no país, evitar e alização regulada pelo Estado de maneira informal, solucionar a situação generalizada da criminalidade através da corrupção das polícias e outros agentes do que impera no Brasil. sistema. Por outro lado, a repressão policial só atinge os jovens que trabalham na ponta desse lucrativo co- 7. Sistema Único de Segurança Pública mércio, isto é, no varejo de drogas, tendo como víti- mas, em sua maioria negros, pobres e favelados. Daí Uma das grandes tarefas nacionais é desenvolver decorre que a guerra às drogas se transformou numa um Sistema Único da Segurança Pública que consiga guerra aos pobres e não terminou com o narcotrá- construir uma arranjo institucional que repactue as fico, tornando-se um dos grandes alimentadores do competências e responsabilidades de cada ente fe- sistema carcerário brasileiro, mas sem combater, de derativo para que haja a possibilidade de planejar e fato, os grandes traficantes que seguem com seus ne- executar ações comuns e dinamizar as políticas pú- gócios inabalados. blicas, além de garantir maior controle social, trans- parência e comprometimento das autoridades com Legalizar a maconha e acabar com a guerra às suas ações. drogas, então, não é somente uma questão de liber- dades individuais. É, também, uma questão de se- 8. Combate à prática de tortura nas delega- gurança pública e de direitos humanos: a guerra às cias e penitenciárias brasileiras drogas está dizimando a juventude mais pobre das periferias, que morre vítima das lutas de facções, da O fim do regime militar no Brasil não levou con- repressão ao tráfico, da violência policial e das milí- sigo uma das práticas mais perversas da ditadura: a cias, ou é encarcerada pelo comércio ilegal de drogas tortura. É lugar comum nas delegacias e penitenciá- ou, em muitos casos, pelo uso delas — já que, depen- rias do país o flagrante desrespeito aos mais básicos dendo da cor e da classe social, a mesma quantidade direitos humanos e o descumprimento das leis na- de substância pode ser considerada para uso ou para cionais e estaduais contra a tortura, bem como do tráfico — e é enviada a presídios superlotados que Protocolo Facultativo à Convenção contra Tortura e são verdadeiros infernos e escolas do crime. Outros Tratamentos ou Penais Cruéis, Desumanos Por isso, defendermos a aprovação do projeto de ou Degradantes da Organização das Nações Unidas lei 7270/2014 do deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), (ONU) de 2007. Apesar de haver instrumentos legais que regulamenta a produção, comercialização e con- que tornam possível a investigação ou a penalização sumo da maconha e propõe uma série de mudan- da prática da tortura, ela ainda é aprovada e/ou tole- ças na política de drogas do Brasil. A legalização da rada por agentes públicos que se escoram em delega- maconha, além de garantir as liberdades individu- cias e penitenciárias que mantêm pessoas sob o total ais dos usuários, será uma ferramenta fundamental controle sem qualquer acompanhamento e fiscaliza- para reduzir a violência, deixar de encher nossas pri- ção públicos. Lá a tortura é executada apenas como sões e acabar com uma guerra que já matou gente forma de investigação e castigo, mas também como SEGURANÇA PÚBLICA 53 forma de controle e intimidação. É preciso garan- expressão e sindicalização tir o devido marco legal para a instalação de meca- nismos externos e independentes de monitoramento Os profissionais de segurança pública são tam- dos espaços de privação de liberdade, assegurando bém vítimas desse sistema militarizado de polícia a transparência das ações e diminuindo as oportuni- nos mais diversos aspectos. O primeiro deles é ter dades de ocorrência das práticas de tortura. que se submeter a uma lógica corporativa militar re- acionária que transforma o servidor da segurança 9. Ampliação do controle de fronteiras em inimigo da sociedade, especialmente da socie- Parte da insegurança nacional está relacionada à dade que se mobiliza em torno de seus direitos. Em total incapacidade do Estado em controlar as fron- segundo lugar, apesar da submissão à ideologia da teiras de um país com dimensões continentais como corporação e dos imensos riscos aos quais são sub- o Brasil. O tráfico de drogas e armas, bem como metidos em situações de violência e enfrentamento à de automóveis, equipamentos eletrônicos, mas tam- criminalidade, os profissionais de baixa patente são bém a mineração clandestina e os contrabandos dos tratados com profundo desrespeito, com péssimas mais diversos tipos são exemplos do quanto a ausên- condições de trabalho e salário e sem ter direito à cia de controle fronteiriço tem impacto na segurança sindicalização e livre expressão, que é permitida a interna do país. Ao lado de uma reestruturação do todos os civis. Parte das transformações que defen- sistema de segurança, com o estabelecimento de um demos envolve a extinção da justiça militar e o livre novo pacto federativo, vamos ampliar substancial- direito civil de associação, organização e expressão mente os investimentos em políticas de inteligência dos policiais, o direito de greve e também a sua de- e tecnologia para o controle das fronteiras nacionais. vida valorização como profissionais que devem ser parte do cumprimento de tarefas importantes para a 10. Valorização dos trabalhadores da segu- sociedade civil – especialmente a mais pobre e seus rança pública e direito à organização, livre movimentos organizados – e não estar contra ela. 54 REFORMA POLÍTICA

13 Reforma Política

Os milhões de brasileiros que saem às ruas cons- cas. Somando-se ao financiamento público de cam- tantemente desde junho de 2013 por mais direitos panhas que detalhamos mais à frente, propomos: reconheceram na prática que somente mecanismos • mais diretos de organização e pressão podem fazer Organização de comitês ou conselhos de con- com que qualquer mudança real aconteça no país. trole social voltados para acompanhar a reali- As velhas instituições do Estado brasileiro estão ab- zação das despesas de órgãos públicos especí- solutamente desacreditadas, encasteladas em posi- ficos; ções que reproduzem um sistema político viciado e • Articular a aprovação de projetos de leis de- longe das demandas populares. É urgente uma pro- finidores de uma radical profissionalização funda democratização do acesso ao poder que faça da Administração Pública com a redução ex- do povo o real condutor das políticas do país. trema dos espaços ocupados por agentes não- Por isso, mais do que uma mera reforma eleitoral, detentores de cargos efetivos; que redividirá as fatias do bolo do mercado eleitoral de acordo com o interesse das elites, nossa proposta • Articular a aprovação de emenda constitucio- de Reforma Política é de mecanismos diretos e par- nal definidora de profundas restrições na dis- ticipativos de alargamento da democracia para uma cricionariedade da execução orçamentária por verdadeira refundação democrática das instituições parte do Poder Executivo (“orçamento imposi- nacionais. Sabemos que, para isso, as vozes de junho tivo”); devem estar sempre presentes empurrando a mobi- • Organizar a efetiva aplicação da Lei n. 12.846, lização permanente do povo em defesa de seus di- de 2013, voltada para a responsabilização obje- reitos. Aqui, apresentamos algumas de nossas ban- tiva, administrativa e civil, de pessoas jurídicas deiras para essa luta. pela prática de atos contra a administração pú- blica; Prioridades: • Alterar a Lei de Licitações e Contratos Admi- a) Combater a corrupção fortalecendo a Demo- nistrativos, com o objetivo de construir meca- cracia Direta e a Democracia Participativa com nismos de prevenção e combate aos atos de a instituição de plebiscitos, referendos, conse- corrupção nessa seara. Fim do Regime Dife- lhos deliberativos e mecanismos de iniciativa renciado de Contratações; popular; • Fim do Foro Privilegiado e da imunidade par- b) Coibir a influência do poder econômico nas lamentar, a não ser em casos de opinião ou esferas de poder e especialmente no processo ameaça à integridade física do acusado; eleitoral, assegurando espaços democráticos • Abertura dos sigilos bancários de todos os po- para a pluralidade de opiniões. líticos (eleitos ou nomeados); Propostas de ação: • Rigorosa fiscalização dos recursos públicos repassados às entidades não-governamentais, 1. Combate implacável à corrupção independentemente de sua personalidade jurí- dica. Um dos problemas mais sentidos pela população é a nítida transformação do Estado brasileiro em um 2. Assembleia Nacional Constituinte: Po- balcão de negócios infestado por práticas corruptas pular, soberana e com deputados consti- dos mais diversos tipos. Contudo, para além das tuintes eleitos exclusivamente para tal fim. críticas moralistas a esse tipo nefasto de ação gene- ralizada no país, é preciso tomar medidas concretas que combatam e desmontem a corrupção que já é es- O momento político de completa falta de credibi- trutural nas relações comerciais, econômicas e políti- lidade e representatividade real das instituições do REFORMA POLÍTICA 55

Estado brasileiro exige uma refundação democrá- impedir que as diferentes posições políticas tenham tica. A verdadeira mudança que indiscutivelmente espaços iguais de exposição e debate de propostas. o povo exige não poderá ser resolvida por represen- Ao mesmo tempo, no sistema atual, a avidez dos tantes eleitos por um sistema político viciado, cor- partidos da ordem por acúmulo de tempo na TV e no rompido pelo poder econômico e oposto às necessi- rádio conduz diretamente à pressão por alianças sem dades reais que levaram milhões às ruas em junho princípios e negociatas que distorcem ainda mais o já de 2013. pobre debate eleitoral. Por isso propomos a instalação de uma inédita Assembleia Constituinte soberana e exclusiva, isto 5. Instituir a revogabilidade de mandatos é, onde os representantes eleitos estarão mandata- por parte dos eleitores dos exclusivamente para exercer o poder soberano A representação não pode ser um cheque em de definir politicamente as mudanças que o Estado branco que permite ao representante após eleito necessita. Por meio dessa Assembleia, o povo sobe- atuar da forma que lhe convier e até, como é fre- ranamente poderá decidir os novos rumos do país. quente no sistema político brasileiro, de contrariar 3. Financiamento das campanhas eleito- completamente as ideias que o elegeram. Defende- rais exclusivamente público e limitado mos o direito da população de revogar mandatos de autoridades públicas por meio de referendos e con- No Brasil as eleições se tornaram um imenso sultas públicas. Tal instrumento diminui o poder do mercado, com campanhas milionárias, onde candi- representante e aumenta o poder direto e a capaci- datos sem apoio dos grandes grupos econômicos dade de fiscalização do representado. têm poucas condições de disputa. Quase sempre isso resulta na eleição daqueles que tiveram mais di- 6. Votação proporcional em lista partidá- nheiro para fazer campanha e não necessariamente ria pré-ordenada e flexível, fortalecendo os os melhores candidatos. partidos e seus candidatos Ainda que não seja a única solução para que as Os partidos, em sua maioria, tornaram-se legen- eleições sejam justas e democráticas, o fim do finan- das esvaziadas de conteúdo ideológico e programá- ciamento privado de campanha diminui a influência tico, reduzindo-se a meros instrumentos de negócios das grandes empresas nas eleições e as torna mais eleitorais. O PSOL defende o fortalecimento de par- justas e equilibradas, contrapondo a corrupção da- tidos ideológicos, assegurando a mais ampla parti- queles que, financiados por recursos privados, terão cipação de seus militantes, filiados e aderentes. Por que “pagar a conta” quando chegam ao poder. Ao isso defenderemos o voto proporcional em lista par- mesmo tempo, o financiamento público exclusivo fa- tidária pré-ordenada. O voto proporcional é - ao con- vorece a participação política e a representação de trário do voto distrital, que estimula o caciquismo, o segmentos sociais que dificilmente são protagonis- localismo e a exclusão da pluralidade e das mino- tas das eleições como mulheres, negros e negras e rias – uma defesa da democracia participativa em jovens. um país de dimensões continentais e marcado por Defendemos que os recursos destinados aos par- tantas desigualdades sociais e regionais como é o tidos políticos para constituição do fundo de financi- nosso. É necessário, entretanto, corrigir distorções amento de campanhas sejam exclusivamente públi- para garantir a proporcionalidade do voto. Um par- cos, proibindo as doações de pessoas físicas e jurídi- tido que receba um percentual dos votos deverá ocu- cas e sujeitando doadores e receptores à punição. Da par o mesmo percentual das cadeiras, preservando, mesma forma serão proibidos recursos advindos de com a máxima fidelidade, a composição política do filiados e do fundo partidário. eleitorado, terminando com as coligações proporci- 4. Garantir a divisão equitativa do tempo onais. O mecanismo adequado ao voto proporci- destinado à propaganda eleitoral gratuita, onal é a lista partidária pré-ordenada e flexível na tanto nos processos eleitorais quanto nas qual é o partido quem escolhe a nominata de candi- propagandas institucionais dos partidos datos. No atual modelo eleitoral a orientação ideo- políticos lógica das candidaturas e dos partidos fica diluída pelo personalismo e com a lista pré-ordenada o foco Uma das formas de rebaixar o debate político é passa ser no programa partidário. Ao mesmo tempo 56 REFORMA POLÍTICA defendemos ainda que a lista seja flexível. A ordem mais que um jogo de cartas marcadas. Por isso, de- dos candidatos, na relação apresentada pelos parti- fendemos que é preciso garantir institucionalmente dos, poderia ser alterada de acordo com a vontade mecanismos mais diretos de democracia que, se por do eleitor. si mesmos não resolvem absolutamente os proble- mas de representatividade e garantem uma demo- 7. Fim dos mecanismos que restringem a cracia real, representarão conquistas efetivas na li- livre organização partidária mitação das ações e do poder da velha política.

Frequentemente surgem no Congresso propostas 9. Facilitar a apresentação de projetos de dos mais diversos tipos para enfraquecer as repre- leis de iniciativa popular sentações dos partidos ideológicos que não são fi- nanciadas pelo poder econômico. Porém, já exis- Hoje, na prática, embora regulamentados os pro- tem hoje medidas que restringem a livre organiza- jetos de iniciativa popular são quase impossíveis de ção partidária – que não é o mesmo que o direito de serem submetidos à votação e aprovação. O projeto criar partidos. Essas medidas utilizam a quantidade de iniciativa popular sobre o Fundo Nacional de Ha- de votos nacionais, de parlamentares, etc., para ex- bitação Popular, por exemplo, levou 13 anos para ser cluir ou limitar determinados partidos aos direitos aprovado. Por isso defendemos a simplificação do ao tempo de TV, à participação nos debates eleito- processo, com utilização de urnas eletrônicas e pre- rais, à estrutura de liderança na Câmara dos Depu- cedência na tramitação da votação no Legislativo, tados, participação no fundo partidário, etc. Embora implicando no trancamento da pauta e votação em tal expediente seja utilizado com a justificativa de caráter de urgência. conter os partidos de aluguel, na prática representa uma definição previa e arbitraria de um recorte que 10. Proibição da veiculação de pesquisas é ao mesmo tempo uma exclusão de possibilidades eleitorais por todos os meios de comuni- e oportunidades de partidos iniciantes ou com me- cação durante o período eleitoral, inclusive nor expressão eleitoral de acessar em nível de igual- na Internet, e tipificação como grave crime dade o conjunto da população e, por outro lado, uma eleitoral para o descumprimento desse dis- contenção de partidos marcadamente ideológicos de positivo esquerda que não aceitam o vale-tudo eleitoral e a adaptação à lógica viciada de submissão ao poder A divulgação de pesquisas eleitorais tem repre- econômico das máquinas eleitorais. sentado um instrumento de manipulação de opi- 8. Introduzir o referendo e o plebiscito niões e distorção do debate eleitoral. Não raro apa- como forma de participação e controle dos recem também denúncias dos mais diversos tipos eleitores sobre o processo político, com sobre práticas viciadas de consultas, manipulação regulamentação do preceito constitucional dos resultados e entrevistas incompletas. Ao mesmo que os institui tempo, resultados de pesquisas de boca de urna têm se demonstrado absolutamente equivocados, distan- É patente a falência do modelo de democracia re- tes da realidade dos votos quando os resultados das presentativa com o qual convivemos hoje no Brasil. urnas são apurados. Por fim, a sugestão das pesqui- Sem que haja uma combinação entre a representa- sas eleitorais inverte a lógica do bom debate político: ção e a participação popular permanente através de ao invés de permitir ao eleitor a escolha das melho- manifestações frequentes, plebiscitos, referendos e a res propostas, faz com que os partidos moldem suas presença em conselhos, a democracia tende a ser não propostas ao sabor do suposto ânimo do eleitorado. 57

14 Relações exteriores

A ideia de que o Brasil mudou seu lugar no dependência quase completa é simplesmente refor- mundo tornou-se corrente, mas é só parcialmente çar a apologia de setores da classe dominante sobre verdadeira. Essa suposição é uma ideologia que, as possibilidades do Brasil no mundo. como tal, possui certa correspondência com a reali- Entendemos que a política externa do governo dade objetiva. De fato existem condições para que brasileiro deve estar em consonância com um novo ela se estabeleça entre nós: em última instância e por modelo de desenvolvimento interno. A mudança ra- mais contraditório que pareça, a suposta “nova po- dical de prioridades deve se refletir na diplomacia sição” do Brasil no mundo é produto do aprofunda- brasileira. A participação do Brasil no sistema inter- mento da dependência e do subdesenvolvimento, a nacional deve ocorrer de forma soberana e solidária. característica principal de nossa formação social. A independência nacional significa a conquista da A sensação de maior relevância no cenário inter- liberdade política, econômica e social por parte do nacional – estimulada, sobretudo, nos dois governos povo brasileiro. Além disso, o PSOL defende que o de Lula – é consequência necessária da última onda Brasil pode exercer uma política externa construída expansiva da economia mundial que consagrou o lu- não apenas pelo governo, nos gabinetes dos Minis- gar de países como o Brasil no sistema capitalista. térios e do Planalto, mas também diretamente pelo Mas é preciso deixar claro: a despeito das aparên- povo, titular do poder político. Por isso, as propos- cias, o lugar reservado para o Brasil é aquele que tra- tas do PSOL tem como eixos norteadores: dicionalmente nos reservam os mais poderosos da • A defesa da autodeterminação dos povos e o humanidade: a periferia do sistema. rompimento de relações diplomáticas com paí- A economia mundial cresceu de maneira vertigi- ses que violem as leis internacionais e o direito nosa até setembro de 2008, momento em que o sis- à independência e à liberdade; tema bancário faliu e importantes multinacionais do setor produtivo foram à bancarrota nos Estados Uni- • A busca de uma integração regional que dimi- dos e também na Europa. Antes desta data, a ex- nui a dependência dos países capitalistas cen- pansão da acumulação mundial favoreceu enorme- trais, com bases solidárias e cooperativas; mente a acumulação de capital das economias pe- riféricas, especialmente em alguns países que pos- • O combate ao Imperialismo em todas as suas suem abundantes recursos naturais e que haviam lo- manifestações; grado certa especialização na produção de alimen- • A ampliação da participação da sociedade civil tos - o Brasil entre eles. Porém, com a retomada do nas definições das políticas de relações exteri- crescimento das economias centrais, vemos o prota- ores. gonismo da diplomacia brasileira diminuir vertigi- nosamente. Essa é uma das marcas do governo de Entendemos que o imperialismo (principalmente Dilma Roussef. norte-americano) e as elites nacionais associadas, via Além disso, há que se notar que o ativismo di- capital financeiro, aos interesses do capitalismo cen- plomático do governo brasileiro na África, o pro- tral, são os grandes inimigos da independência na- tagonismo no Haiti (Caribe) e Honduras (América cional e da integração entre os povos. Considerar Central), como também o interesse pela integração parceiro estratégico um país que historicamente vi- econômica latino-americana (América do Sul) estão ola nossa independência nacional, intervindo direta em consonância com as iniciativas de empresas bra- ou indiretamente em nosso país e agora, que com- sileiras que exploram as oportunidades abertas pela provadamente espiona para favorecer suas empre- expansão conjuntural da economia mundial e o re- sas, é violar a Constituição. As parcerias estratégi- forço da posição do Brasil na clássica divisão inter- cas devem ser construídas a partir do princípio da nacional de trabalho. Porém, as forças que geraram o democracia, da paz, da não-intervenção e da auto- alinhamento automático da diplomacia brasileira às determinação dos povos. Este é o compromisso de diretrizes de Washington anos atrás não foram supri- Luciana Genro e do PSOL. Veja abaixo nossas pro- midas. Por isso, observar neste movimento uma in- postas para a Política Externa: 58 RELAÇÕES EXTERIORES

1. Fortalecimento da integração regio- dos acordos de cooperação militar com es- nal latino-americana nos níveis econômico, ses países, como é o caso do Estado de Is- político, social e cultural, buscando su- rael; perar os limites dos organismos multila- terais atualmente existentes, com vistas a 6. Concessão de asilo aos perseguidos po- colocá-los a serviço da integração dos po- líticos de qualquer nacionalidade, com des- vos e da luta pela independência das na- taque para a concessão imediata de asilo ções sul-americanas, enfrentando conjunta- para Edward Snowden; mente males comuns, como o flagelo da dí- vida externa e interna. 7. Criação do Conselho Nacional de Polí- tica Externa, de caráter consultivo e não re- 2. Defesa incondicional da autodetermina- munerado, com participação de setores da ção dos povos, com apoio à formação de es- sociedade nas decisões do Ministério das tados nacionais autônomos, à secessão e à Relações Exteriores; integração de territórios, desde que produto da vontade livre e soberana dos povos; so- lidariedade aos povos em luta contra o im- 8. Suspensão e revisão da Iniciativa para a perialismo. Integração da Infraestrutura Regional Sul- Americana (IIRSA) junto aos países signa- tários do acordo, com o objetivo de avaliar 3. Busca da solução pacífica dos conflitos, os impactos de sua implantação no meio- respeitando o princípio da não-intervenção, ambiente e as violações aos direitos consa- com fim da participação brasileira em qual- grados na Convenção 169 da OIT; quer operação militar intervencionista e o fim de exercícios militares conjuntos com países que não respeitem este principio; 9. Combate ao terrorismo, seja ele promo- vido por Estados e outros entes governa- mentais, seja ele praticado por organizações 4. Retirada das tropas brasileiras no Haiti políticas, paramilitares ou religiosas. Rejei- e substituição por um Corpo Permanente de ção, em nível internacional, da política de Paz e Solidariedade composto por médicos, “guerra ao terror” como justificativa para professores, engenheiros e outros profissio- combater as lutas dos povos do mundo. nais; 10. Democratização dos organismos in- 5. Rompimento de relações diplomáticas ternacionais e combate às medidas promo- com todos os Estados que promovam a vi- vidas unilateralmente, como no caso do olência e agridam o direito à autodetermi- embargo econômico imposto pelos EUA a nação dos povos, com imediata revogação Cuba. 59

15 Direitos Humanos

Acreditamos que as políticas de direitos huma- Neste último ano, na esteira da realização da nos são determinantes para que o Brasil seja um Copa do Mundo de Futebol no Brasil, assistimos a país efetivamente democrático. Infelizmente o ce- uma onda de intensificação de repressão a manifes- nário atual demonstra que ainda estamos distantes tações e manifestantes e criminalização dos movi- de cumprir com essa missão. A gritante desigual- mentos sociais e de sindicatos que historicamente dade social, com concentração de poder e renda na foram fundamentais na luta e conquista de direitos mão das elites econômicas, aliada a uma estrutura sociais. Em todo o Brasil foram abertos inquéritos de Estado antidemocrática e impermeável às deman- completamente irregulares, realizadas prisões desca- das populares mais sentidas, desdobra-se concreta- bidas e arbitrárias e assistimos nas TVs e redes soci- mente no desrespeito generalizado aos direitos mais ais a atuações condenáveis da polícia. A tentativa fundamentais da população, especialmente do povo de intimidar manifestantes e coibir legítimas reivin- pobre. O PSOL tem tido uma atuação de defesa in- dicações encontrou apoio em grande parte de uma transigente dos direitos humanos nas ruas e no par- mídia corporativa comprometida em não permitir lamento onde, infelizmente, propostas progressistas que estes movimentos alcançassem a dimensão po- como muitas que estavam contidas no PNDH 3 (Pro- lítica necessária para seguir com a organização e as grama Nacional de Direitos Humanos 3) do governo conquistas sociais que os protestos de junho de 2013 Lula, foram escamoteadas em função dos interesses pautaram na agenda do país. Este mesmo discurso, das bancadas mais reacionárias e conservadoras. que já foi utilizado em outros momentos da histó- Neste documento, apresentamos propostas espe- ria para violar direitos e suprimir a participação do cíficas de Luciana Genro para construir um Brasil povo na vida política do país, serviu para que neste onde todos os direitos sejam respeitados, qualquer ano víssemos dezenas de projetos de leis propostos que seja sua condição. Pela amplitude da pauta de no sentido de impedir o pleno exercício da liberdade direitos, vários temas que compõem a defesa dos de expressão e manifestação e redução da já precária direitos humanos (como direitos dos negros e ne- democracia nacional. gras, defesa dos direitos da mulher, direitos da ju- Contrariando esta tese, nossa orientação de go- ventude, direitos da comunidade LGBT, mudança verno será propor legislação que amplie os direitos, da lógica das políticas de segurança pública, den- proibindo todo tipo de cerceamento das liberdades tre outros) estão contemplados em outros tópicos do políticas. Ao mesmo tempo, entendemos como fun- programa de governo de Luciana Genro, alguns dos damental proibir as medidas repressivas do Estado quais com documentos específicos produzidos pelos contra as diversas formas de manifestação cidadã, setores mais próximos a essas lutas. assegurando pleno direito de protesto, greve e ocu- pação por parte dos movimentos sociais.

Prioridades: 2. Em defesa dos Direitos Indígenas a) Assegurar papel fundamental das políticas pú- Associaremos à necessária e imediata demarca- blicas de direitos humanos na condução de to- ção de todas as terras indígenas do país – com prio- das as ações do Estado; ridade ao combate à PEC 215 e outras medidas que b) Fortalecer as organizações de direitos huma- dificultam a demarcação de terras indígenas – como nos dos governos em todas as esferas, pro- garantia dos diversos povos ao direito fundamen- pondo que tenham papel coordenador e inte- tal de autonomia territorial, à implantação de polí- grador das demais políticas públicas. ticas de proteção e promoção dos direitos indígenas, em substituição às políticas assimilacionistas e assis- tencialistas. Para tanto é fundamental o aprofunda- Propostas de ação: mento das ações afirmativas voltadas às comunida- des indígenas em todas as esferas do poder público e 1. Assegurar o livre direito à expressão e à o fortalecimento das organizações de defesa dos di- manifestação reitos indígenas. Ao mesmo deve-se garantir que ne- 60 DIREITOS HUMANOS nhuma intervenção seja feita em território indígena reabilitação e problemas auditivos), distribui- sem que o povo autorize ou qualquer mudança le- ção de órteses, próteses e aparelhos auxiliares gislativa que trate de suas questões sem que eles se- • Ampliação dos locais para exames de mamo- jam devidamente ouvidos, conforme a Convenção grafia, papanicolau, entre outros, para mulhe- 169 da OIT. res com deficiência

3. Fortalecimento da Secretaria Nacional • Realização estudos em todas as grandes e mé- de Direitos Humanos dias cidades para entender a real necessidade da pessoa com deficiência e mobilidade redu- O flagrante e corriqueiro desrespeito aos direi- zida. tos humanos no Brasil está diretamente relacionado à incapacidade de atuação dos órgãos governamen- • Garantia de médicos para atendimento do- tais vinculado à sua defesa. A Secretaria Nacional de miciliar caso das pessoas que não podem Direitos Humanos é constantemente desrespeitada e locomover-se desautorizada, inclusive, por outros órgãos governa- mentais que gozam de mais autoridade e maiores re- • Ônibus circulares para levar ao posto de saúde cursos, sendo, portanto, vistos como mais importan- facilitando o acesso tes. Assim, direitos são negociados, projetos são en- • Comissão de fiscalização do transporte, ma- gavetados e o conhecido fisiologismo se sobrepõe a nuseio e funcionamento dos elevadores, trei- políticas públicas verdadeiramente necessárias à po- namento dos funcionários responsáveis e ade- pulação. Nossa proposta é transformar a luta pelos quação de pessoal fisicamente para os trans- Direitos Humanos em toda sua amplitude como eixo portes adaptados norteador do governo, dando aos órgãos governa- mentais, como a Secretaria Nacional, o status de co- • Regularização e legalização, de direito e de ordenação geral e mediação fundamental do desen- fato, do trabalho dos camelôs com deficiência volvimento das demais políticas. • Garantia que em todo projeto ou programa ha- 4. Plano Nacional de Acessibilidade em bitacional da cidade de São Paulo seja respei- defesa dos direitos das pessoas com defici- tado a legislação de reservas de cotas e de aces- ência sibilidade

É preciso que os direitos das pessoas com defici- 5. Garantia dos direitos dos imigrantes ência sejam parte da elaboração de todos os setores, ministérios e secretarias do governo federal. Com No Brasil os estrangeiros ainda não são vistos isso queremos elaborar um plano nacional de acessi- como cidadãos que devem gozar de todos os direi- bilidade que tenha como desdobramentos mais con- tos humanos e sociais garantidos pelas leis brasi- cretos a ampliação dos investimentos e a integração leiras. A organização legal da imigração é arcaica desse tema ao planejamento de todos os entes fede- e não atende à multiplicidade de culturas e às ne- rativos nacionais que devem englobar de início as se- cessidades que os estrangeiros residentes em nosso guintes questões-chave: país têm. O desdobramento disso é a ocorrência fre- quente de situações de exclusão, exploração e pre- • Criação de equipes multidisciplinares nas es- conceito. É preciso reformular a Lei dos Estrangei- colas para atendimento adequado das pessoas ros, através do projeto de lei 1813/91, que regula a com deficiência situação jurídica do estrangeiro no Brasil, para asse- gurar, em primeiro lugar, que todas as pessoas sejam • Garantia real acessibilidade em prédios e espa- reconhecidas como iguais perante a lei e a partir daí ços públicos ampliar direitos como: participação na escolha de • Criação da profissão do cuidador, para a pes- seus representantes políticos; educação baseada na soa com deficiência e para o idoso interculturalidade e no combate ao desconhecimento e à xenofobia; saúde que reconheça as especificida- • Ampliação do número de núcleos para atendi- des dos imigrantes, como no caso da garantia de ca- mento de reabilitação (núcleos integrados de sas de parto humanizado para mulheres imigrantes DIREITOS HUMANOS 61 no sistema de saúde que não concordam com o parto blicas voltadas à proteção de crianças e adolescentes via cesariana comum no Brasil; direito à conta e ser- e à prevenção da exploração sexual, do abuso sexual viços bancários e comerciais; etc. infantil e da violência de gênero, tanto por meio de programas específicos, como mediante a manuten- 6. Erradicação do Trabalho Escravo ção e ampliação dos programas de inclusão social que comprovadamente têm sido fundamentais para Fortalecer os mecanismos para fiscalizar e coibir reduzir a prática da exploração sexual de adolescen- o trabalho forçado, com confisco de terras e imóveis, tes em situação de vulnerabilidade nas regiões mais conforme prevê a PEC 438. Reconhecer a definição pobres do país. de “trabalho análogo ao de escravo” presente no ar- tigo 149 do Código Penal, bem como desestimular 9. Direitos dos Idosos os empreendimentos de empresas que tenham utili- zado – direta ou indiretamente – o trabalho escravo, Generalizar a concessão de passe livre e prece- além de apoiar a “lista suja” do Ministério do Traba- dência de acesso aos idosos em todos os sistemas de lho e Emprego. transporte público urbanos. Criar, fortalecer e des- centralizar programas de assistência aos idosos, de 7. Garantia do Estado Laico forma a contribuir para sua integração com a família A defesa do Estado laico supõe a imparcialidade e com a sociedade, além de incentivar o seu aten- religiosa do Estado, que não deve ter religião oficial dimento no seu próprio ambiente, especialmente no e nem tratar de modo diferenciado ou privilegiado atendimento de saúde público ou privado. É pre- uma religião em detrimento das outras. A educa- ciso, assim como previsto em nosso programa so- ção pública deve ser laica e as políticas públicas não bre a questão da previdência, ampliar os direitos dos podem se submeter a nenhum dogma religioso, de- aposentados, também colocando fim ao fator previ- vendo garantir os direitos de todos por igual, tanto denciário. dos que professam uma fé, seja qual for, como da- queles que não têm religião. Colocaremos fim às 10. Memória e Verdade isenções fiscais de que atualmente desfrutam as igre- Defendemos, conforme projeto de lei formulado jas, já que as crenças devem ser respeitadas e ter pelo juristas Fábio Konder Comparato e apresentado sua liberdade religiosa garantida pelo Estado, po- por Luciana Genro no Congresso Nacional, a revisão rém, sem privilégios econômicos e com a devida fis- da Lei de Anistia, a partir dos trabalhos da Comis- calização e tributação a que qualquer outra entidade são Nacional da Verdade, e a punição aos torturado- da sociedade civil deve se adequar. res da Ditadura Militar, considerando a tortura como 8. Direitos das Crianças e Adolescentes crime imprescritível de lesa-humanidade. O atual formato da Lei de Anistia está colocado frontalmente Incentivar a reorganização das instituições pri- contra os princípios internacionais de direitos huma- vativas de liberdade para menores infratores até 18 nos, especialmente, contra a Corte Interamericana de anos, com prioridade na implementação das demais Direitos Humanos que não admite, em diversas ju- medidas sócio-educativas previstas no ECA e com- risprudências consolidadas, a autoanistia de tortu- bater frontalmente a ideia de redução da maioridade radores e assassinos que se autoperdoam, baseados penal legal ou indireta, com a transformação de fun- em leis de anistia que foram revogadas em diversos dações e organizações teoricamente socioeducativas países que subscrevem acordos e tratados internaci- em centros de encarceramento de jovens. Por ou- onais, como a Convenção Americana de Direitos Hu- tro lado, é preciso dar prioridade nas políticas pú- manos. 62 LGBT

16 LGBT

Junho de 2013 não surpreendeu lésbicas, gays, e não aumente o estado penal, que vitima principal- bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros mente os mais pobres, os negros e os moradores das (LGBT). No começo do ano passado, elas já haviam periferias. Por isso, somos a favor de uma forma de tomado as ruas para protestar contra o fato do fun- criminalização que diferencie a homofobia “dura”, damentalista Marco Feliciano ocupar a presidência que se traduz em crimes violentos (homicídio, le- da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Na sões, etc.) motivados por qualquer tipo de precon- verdade, todos os anos milhões de LGBTs brasileiras ceito e que devem ter suas penas agravadas, dos cri- ocupam o espaço público com paradas do orgulho mes de injúria e outros, que produzem dano moral LGBT para celebrar o levante de Stonewall e reivin- e devem ter penas socioeducativas, sem privação da dicar direitos negados no resto do ano. E o PSOL tem liberdade. Consideramos que isso deve vir acompa- participado da construção de todos esses momentos. nhado de uma legislação integral que acabe com to- Com Luciana presidenta, os direitos humanos das das as formas de discriminação, de políticas públicas LGBTs serão eixo estruturador das políticas públi- nas áreas de educação, saúde, cultura e promoção cas e não moeda de troca com conservadores. Nosso da igualdade social que incluam a diversidade, além compromisso com a defesa dos direitos da popula- de campanhas massivas de conscientização que vi- ção LGBT é inegociável. sem acabar com o preconceito e deem um basta às alianças políticas dos governos com o fundamenta- Prioridades: lismo. A homofobia deve ser combatida sistemica- mente, dando ênfase às ações capazes de produzir a) Combate a todas as formas de preconceito por mudanças culturais e reduzir o poder dos principais orientação sexual e/ou identidade ou expres- impulsionadores do ódio e do preconceito. são de gênero.

b) Garantia de igualdade jurídica para a popula- 2. Criação de um observatório para moni- ção LGBT em todos os âmbitos. toramento da violência homofóbica

c) Elaboração participativa através do diálogo As crescentes denúncias de violências físicas e permanente com os movimentos sociais e a psíquicas contra a população LGBT mostram um comunidade, sem dirigismos partidários, de cenário de assassinatos diários e agressões homo- políticas públicas visando combater o precon- fóbicas generalizadas e impunes, com número des- ceito, garantir a igualdade e promover a inclu- proporcional de vítimas travestis e transexuais. O são social da população LGBT, entendendo que Grupo Gay da Bahia tem realizado, ao longo dos essas políticas devam estar presentes em todas anos, um trabalho importantíssimo de identificação as áreas de governo. e mapeamento dos crimes de ódio, mas essa tarefa é responsabilidade do Estado e deve fazer parte das Propostas de ação: políticas de segurança pública. O Disque 100 do go- verno federal não recebe bem as denúncias de viola- 1. Criminalização da discriminação contra ção a direitos humanos nem garante sua resolução. LGBT e implantação de políticas concre- Tal cenário exige políticas concretas para mapear e tas de combate sistêmico à homofobia e à tomar providências no sentido de coibir e garantir transfobia apuração e punição para os casos de homofobia. No mesmo sentido, a criação deste observatório permi- Com relação à criminalização da homofobia, da tirá a formulação de políticas públicas mais eficien- gayfobia, da lesbofobia, da bifobia e da transfobia, o tes para prevenção e treinamento de servidores pú- PSOL é a favor da equiparação dessas formas de dis- blicos para lidar com esses casos. criminação ao racismo. Contudo, o PSOL defende uma política integral de combate a todas as formas 3. Constitucionalização da proteção às de preconceito que não se limite à legislação penal LGBTs e a todas as formas de família LGBT 63

Defendemos todas as formas de família que exis- e outro “social”, que tem pouco valor jurídico. tem em nossa sociedade, por isso somos a favor do O governo da Luciana trabalhará para aprovar o acesso igualitário à adoção e à reprodução humana projeto de lei 5002/2013 (lei “João Nery”), do depu- assistida, sem qualquer forma de discriminação aos tado Jean Wyllys (PSOL-RJ), que garante o direito à casais do mesmo sexo ou às pessoas solteiras, seja mudança de nome e de sexo na documentação pes- qual for a sua orientação sexual e/ou identidade de soal mediante um trâmite simples no cartório, sem a gênero. Da mesma forma, o reconhecimento des- necessidade de laudo médico (quer dizer, sem pato- sas famílias permite que não sejam marginalizadas logizar as identidades trans) e sem intervenção judi- de programas sociais do governo federal. Como cial. presidenta, Luciana apresentará uma proposta de emenda à Constituição, a fim de incluir a proteção 6. Garantia do direito de travestis e transe- contra discriminação por orientação sexual e identi- xuais à saúde integral dade de gênero e proteger todas as formas de famí- O Estado brasileiro ainda vê travestis e transe- lia. xuais como doentes e não respeita o direito funda- 4. Alteração o Código Civil para assegurar mental ao atendimento integral a sua saúde. Eles a conquista do casamento civil igualitário ainda precisam arriscar a saúde e a vida para ade- quar seus corpos a sua identidade de gênero com O casamento civil igualitário foi regulamentado não-profissionais. Atualmente, a hormonioterapia e em maio de 2013 pelo Conselho Nacional da Jus- outros procedimentos são oferecidos precariamente tiça (CNJ) após uma representação do PSOL, redi- e pouquíssimas operações trangenitalizadoras são gida pelo advogado e ativista gay Paulo Iotti e assi- realizadas. São apenas quatro hospitais públicos, o nada pelo partido junto com a ARPEN-RJ, por inici- que aumenta muito as filas de espera. ativa do mandato do deputado Jean Wyllys (PSOL- O PSOL defende a despatologização da traves- RJ), que dois anos antes tinha lançado uma campa- tilidade e da transexualidade e reconhece o direito nha nacional em favor desse direito. Desde a de- da população trans à autodefinição da identidade cisão do CNJ, provocada pelo PSOL, os casais do de gênero, o que será garantido pela Lei João Nery. mesmo sexo já podem se casar em qualquer cartório Além disso, investiremos mais recursos na formação do Brasil, mas esse direito precisa ser garantido para de profissionais da saúde para assegurar os trata- sempre por lei, pois o Congresso não pode se omitir mentos e procedimentos reivindicados por travestis numa questão fundamental de direitos humanos. O e transexuais. projeto de lei 5120/2013, também do deputado Jean Wyllys, propõe alterar o Código Civil para que o ca- 7. Revisão de políticas públicas de combate samento civil entre pessoas do mesmo sexo seja lega- ao HIV e DSTs com conscientização e aten- lizado. A Luciana e o PSOL também defendem essa dimento das LGBTs proposta. No mundo todo, os casos de HIV/Aids diminuí- 5. Garantia do direito à autodefinição da ram. No Brasil, no entanto, houve aumento de 11% identidade de gênero entre 2005 e 2013. A falta de políticas públicas de prevenção e apoio aos grupos mais vulneráveis é de- O PSOL também defende uma lei de identidade cisiva para esse resultado. Apesar disso, o governo de gênero que garanta às pessoas trans – travestis, Dilma, pressionado por fundamentalistas, suspen- transexuais e transgênero – o direito ao nome pró- deu a veiculação na televisão de campanha publici- prio e à livre determinação sobre seus corpos. tária de prevenção a DST/Aids voltada para jovens A política do “nome social”, defendida timida- gays. mente por alguns órgãos governamentais durante o A população LGBT é uma das principais vítimas governo do PT, embora constitua um avanço, é ao do HIV/Aids e de DSTs. O medo gerado pela discri- mesmo tempo prova de uma grande hipocrisia: o minação faz com que muitos jovens não procurem os Estado reconhece que a identidade social dessas pes- serviços públicos de saúde. Faltam iniciativas para soas não é a que consta nos seus documentos, porém, prevenir, sobra preconceito para condenar. Comba- em vez de garantir o direito a mudar os documentos, ter a homofobia é parte indispensável da luta con- promove uma identidade dupla, com um nome legal tra a contaminação por HIV. No mesmo sentido, a 64 LGBT generalização do discurso preconceituoso de que as para o atendimento à população LGBT DSTs são doenças de homens gays submetem, espe- cialmente as mulheres, a uma maior vulnerabilidade O preconceito se institucionaliza a partir da au- que deve ser combatida com disponibilização de ma- sência de iniciativas por parte do governo fede- teriais de prevenção e políticas específicas de consci- ral para preparar profissionais e servidores públi- entização. cos para atender e lidar com a diversidade da po- pulação LGBT. O respeito à livre orientação sexual 8. Implementação do kit “Escola sem Ho- e em especial à identidade de gênero deve ser uma mofobia” e revisão dos materiais já existen- exigência que começa no serviço oferecido pelo Es- tes tado. Quando se trata de profissionais que têm con- tato com LGBTs em situação de maior vulnerabili- O cancelamento do programa “Escola sem Ho- dade, como assistentes sociais, funcionários de ca- mofobia” durante o governo Dilma foi um retrocesso sas de acolhimento e trabalhadores do judiciário, um imperdoável. No governo da Luciana, a luta con- treinamento especializado é ainda mais urgente e ne- tra o assédio moral e a homo/lesbo/bi/transfobia cessário. (da mesma forma que a luta contra o racismo, o ma- chismo e outras formas de opressão) fará parte dos 10. Fortalecimento da participação direta conteúdos do Plano Nacional de Educação e será en- das LGBTs tendida como conteúdo transversal em todos os ní- veis de ensino, com materiais didáticos adequados Nos últimos anos, o governo federal realizou à idade e maturidade dos alunos e alunas. Vamos conferências nacionais LGBT, mas as propostas de educar as próximas gerações sem preconceitos, para seus participantes não foram incorporadas pelo Es- construir a sociedade do futuro: sem racismo, sem tado. Como presidenta, Luciana realizará as confe- machismo e sem discriminação contra as LGBTs. rências de forma mais periódica e democrática e com mais estrutura, bem como abraçará de fato as pro- 9. Qualificação dos servidores públicos postas apresentadas pela população LGBT. 65

17 Mulheres

No Brasil, com uma população de 195,2 milhões Segurança Pública com Cidadania – o cenário é crí- de habitantes, cerca de 100,5 milhões de habitantes tico. Dos R$ 695 milhões previstos, só foram empe- – ou 51,5% - são mulheres de acordo com a PNAD nhados efetivamente R$ 123 milhões (o que repre- 2011, representando 5,8 milhões a mais que os ho- senta 17,7%) e pagos R$ 28,5 milhões, apenas 4,1%. A mens. Entretanto, embora as mulheres sejam maio- deficiência de investimentos é reflexo direto da falta ria numérica em um país que teve a conquista sim- de prioridade que o governo federal delega aos di- bólica de eleger uma mulher presidenta do país, já é reitos das mulheres. Com os recorrentes cortes orça- possível fazer um balanço de que no governo Dilma mentários não há programa de enfrentamento à vio- o aprofundamento dos diretos das mulheres deixou lência que se sustente no país. muito a desejar. Além disto, os programas de enfrentamento à Diferentemente do atual, no governo de Luciana violência contra a mulher seguem intimamente li- Genro - que sempre se comprometeu e fortaleceu a gados às secretarias de segurança pública, determi- luta das mulheres - o compromisso em defesa dos nando novos problemas de concepção nessa política. direitos das mulheres será inegociável. Em seu pro- A falta de treinamento adequado aos policiais mili- grama de governo, a candidata do PSOL amplificará tares e o machismo da corporação são fatores rele- as demandas das ruas levantadas historicamente pe- vantes no momento em que as vítimas de violência las mulheres que, com especial protagonismo nos encontram-se mais fragilizadas e precisando de su- protestos de junho de 2013, levantaram as principais porte para romper com o ciclo de violência e denun- bandeiras de transformação social do país. ciar o agressor. Por outro lado, as políticas de com- bate à violência que priorizam o encarceramento, sem o acompanhamento do agressor e sem medidas Prioridades: preventivas, deixam claro o descompromisso do po- a) Combate a todas as formas de machismo e se- der público em romper radicalmente com a violência xismo, endêmica contra as mulheres. Por isso, nos compro- metemos a dotar as condições orçamentárias neces- b) Compromisso em defesa e ampliação dos di- sárias para: reitos das mulheres, • Promover a prevenção da violência contra a c) Construção participativa de políticas públicas mulher por meio de campanhas socioeduca- visando combater o machismo por meio do tivas nos meios de comunicação de massa, diálogo permanente com os movimentos soci- nas escolas e nos serviços públicos em geral ais e entidades buscando elaboração. (saúde, segurança etc.);

• Promover a assistência integral às mulheres Propostas de ação: que sofrem de violência doméstica e sexual, ampliando e estruturando serviços especializa- 1. Combate à violência contra a mulher dos: Centros de Referência, Casa Abrigo, Uni- dades referência em Saúde, Contracepção de A violência permanece uma das mais graves vi- emergência e a profilaxia de infecção pelo HIV; olações dos direitos das mulheres e um dos maiores desafios no que se refere à construção de políticas • Formar e capacitar os servidores públicos, em públicas. Os índices ainda são altos em todo o país. particular na área de saúde e segurança, para Contudo, em relação ao quadro de execução orça- o atendimento adequado das mulheres vítimas mentária de 2013, de acordo com o CFEMEA, para de violência; combate à violência contra a mulher – que abrange, de forma mais ampla, os programas e ações do Pro- • Expandir Delegacias da Mulher com funcio- moção da Autonomia e Enfrentamento à Violência, namento 24 horas e atendimento psicossocial, Promoção dos Direitos de Crianças e Adolescentes e cujos funcionários tenham treinamento ade- 66 MULHERES

quado para lidar com casos de violência ma- o atendimento por meio de instituições con- chista. veniadas. Visando a qualidade e a melhoria das condições de trabalho dos profissionais da 2. Aumento da oferta de vagas na educação educação infantil. infantil

O Brasil precisa de mais creches (como são mais 3. Pela vida das mulheres, legalizar o conhecidas as escolas infantis). Segundo a PNAD de aborto 2011, 37,4% dos lares brasileiros são chefiados por O direito das mulheres a não morrerem em abor- mulheres e dentre elas há muitas que criam seus fi- tos clandestinos é um direito democrático básico. O lhos sozinhas. A realidade de grande parte das mu- aborto é uma realidade no Brasil e no mundo e mi- lheres trabalhadoras é ter que deixar seus filhos com lhares de abortos são praticados a cada ano de forma vizinhos ou crianças um pouco maiores. Mesmo em clandestina. Enquanto as mulheres que têm dinheiro lares com pai e mãe, muitas vezes ambos precisam podem praticá-lo em clínicas privadas com absoluta trabalhar fora de casa. Essas crianças ficam sem as- segurança, as mulheres pobres recorrem a métodos sistência qualificada e expostas a riscos. Além disso, precários que colocam em risco sua saúde e sua vida. toda criança tem direito à educação escolar desde a Nos países em que o aborto foi legalizado, a quanti- primeira infância. Portanto, a exigência de creches e dade de abortos diminuiu e o número de mulheres pré-escolas gratuitas vem preencher uma lacuna fre- que morrem por complicações na prática do aborto quente nas residências brasileiras, especialmente as foi reduzido a zero. mais carentes. Não se trata de conceber o aborto como método Defender a educação infantil como obrigatória contraceptivo, mas de entender que as mulheres de- dos zero aos seis anos é defender as crianças e vem ter o direito de escolha com relação à continui- seu direito a uma oportunidade de desenvolvimento dade ou interrupção da gravidez, seja quando ela é pleno, visto que é nesta fase da vida que se formam produto da violência sexual, quando pode colocar as bases para o aprendizado futuro. É por isso, in- em perigo sua saúde ou sua vida, ou quando se trata clusive, que a concepção de creches como um local de uma gravidez indesejada por qualquer outro mo- de assistência social foi substituída pela concepção tivo. Por isso, junto com a legalização do aborto, o de educação infantil, um local de aprendizado e de- Estado deve garantir, através de políticas públicas, a senvolvimento das crianças. educação sexual integral (sobretudo das meninas e Nos comprometemos em nosso plano de governo adolescentes, que muitas vezes engravidam ou con- a atender toda a demanda por creches manifesta nos traem DSTs por falta de conhecimento sobre o sexo municípios em quatro anos, contados a partir do iní- seguro) e garantir a todas o acesso gratuito aos méto- cio do governo. Para isso, o financiamento precisa e dos contraceptivos. Defendemos a educação sexual deve ser aumentado. Atualmente o orçamento pre- para prevenir, contraceptivo para não engravidar e visto pelo FUNDEB é insuficiente para atender a de- aborto legal e seguro, garantido pelo SUS, para evi- manda com qualidade. Nos comprometemos com: tar a morte de mulheres em decorrência de abortos • A consolidação de políticas, diretrizes e ações clandestinos. Defendemos: destinadas à ampliação do acesso à educação • infantil, visando a garantia do direito à educa- A possibilidade de interrupção voluntária da a ção de qualidade às crianças de 0 a 6 anos de gravidez até a 12 semana de gestação, como idade, atendendo toda a demanda manifestada sua escolha exclusiva, enquanto para casos a pelos municípios em quatro anos; como estupros até a 14 semana de gestação;

• Aumentar o financiamento para atender a • Obrigação dos governos federal, estadual e demanda, proporcionando uma educação de municipal, por meio do Sistema Único de qualidade, de acordo com o Custo Aluno- Saúde ou ainda com as unidades conveniadas, Qualidade (CAQ), indicado pelo Conselho Na- de realizar o procedimento de aborto gratuito, cional de Educação; legal e seguro obedecendo os termos da lei;

• Ampliação da oferta de educação infantil pelo • Amplo programa de conscientização sobre poder público, extinguindo progressivamente a maternidade e paternidade, sobre planeja- MULHERES 67

mento familiar e sobre os métodos contracep- “mãe” e garantia de um maior envolvimento do ho- tivos. mem com a criação dos filhos, permitindo à mulher maior autonomia e liberdade na tomada de decisões. Propomos licença-maternidade de um ano para as 4. Em defesa do parto humanizado e contra mães e de um mês para os pais, visando progressi- a violência obstétrica vamente tempos de licença iguais. O PSOL defende o projeto de lei 7633/2014 do 7. Por uma reforma política que fortaleça a deputado Jean Wyllys, que garante à gestante o di- participação das mulheres reito ao parto humanizado, conforme sua vontade, à mínima interferência médica, acompanhamento, A construção social dos papeis de gênero é algo correta informação sobre procedimentos e direitos, e tão naturalizado que passa despercebido no nosso ao abortamento seguro nas formas da lei. Também cotidiano. Nunca é demais lembrar que mulheres e estabelece como direitos do neonato o nascimento homens têm internalizado durante muitos anos que digno e seguro, o contato com a mãe logo no pri- determinadas atitudes e comportamentos são pró- meiro momento de vida quando não houver impe- prios de cada gênero (feminino e masculino) – por dimento médico, entre outros. exemplo: ocupar espaços públicos para homens e privados para mulheres. 5. Pela equidade salarial Como consequência, hoje as mulheres ocupam Implantaremos políticas de equidade de gênero 9% dos mandatos na Câmara de Deputados e 12% o para a igualdade plena de homens e mulheres e polí- no Senado, colocando Brasil em 106 lugar no item ticas afirmativas que façam um contrapeso a séculos de “igualdade de gênero na política”. Neste sentido, de opressão da mulher. Neste sentido, é fundamen- defendemos uma reforma política, que promova a tal o desenvolvimento de ações para incluir ou igua- participação da mulher, envolvendo mecanismos de- lar as mulheres no mercado de trabalho por meio da mocráticos, tais como: promoção da sua autonomia econômica. Defende- • Defesa do sistema de votação proporcional em mos o PL 7016/10, de autoria da Luciana Genro, que lista partidária pré-ordenada, com paridade de prevê punição e mecanismos de fiscalização contra a gênero; desigualdade salarial entre homens e mulheres. Ao mesmo tempo, encaminharemos a redução da jor- • Democratização radical dos espaços de defini- nada de trabalho e a socialização dos trabalhos do- ção de políticas públicas de forma que estimule mésticos com a implantação de espaços públicos de a participação das mulheres; reprodução da vida comunitários, como lavanderias, cozinhas, refeitórios e creches. • Garantia da realização de Conferências de Polí- ticas Públicas para Mulheres com ampla divul- 6. Aumento do tempo de licença- gação, não só entre o movimento de mulheres, maternidade e paternidade mas na sociedade como um todo, chamando todas as cidadãs a participarem deste processo; O tema da licença-maternidade/paternidade deve ser discutido na perspectiva da responsabi- • Criar Secretarias de Políticas Públicas para lização igualitária de homens e mulheres no cui- Mulheres nos locais onde esta não existe, além dado das crianças. A maternidade deve ser uma de garantir recursos financeiros e humanos e escolha (de casais heterossexuais ou homoafetivos) autonomia para seu funcionamento; e não imposição. A ampliação da licença- materni- dade/paternidade é importante pelo vínculo emoci- • Prezar pela laicidade do Estado. onal construído entre os pais e a criança, o que com- provadamente contribui para maior estimulo nas co- 8. Por uma educação não-sexista nexões do cérebro do bebê, desenvolvimento físico, emocional e intelectual a curto e longo prazos. A A educação é um espaço privilegiado para o en- ampliação da licença-paternidade, em especial, além frentamento às opressões. É na escola onde o ma- de fortalecer o vínculo do pai com o bebê, é central chismo se reproduz diariamente. Nossa escolha é para a desmistificação dos papeis sociais de “pai” e construir relações igualitárias na escola, por meio 68 MULHERES da efetivação de ações e programas de educação pecial dos servidores da saúde para a saúde in- não-sexistas e que combata todas as discriminações, tegral das mulheres negras, com atenção espe- como o racismo, sexismo, homofobia, lesbofobia e cial nos casos de hipertensão, diabetes e ane- transfobia. Por isso é fundamental a inserção nos mia falciforme. currículos escolares de conteúdos que promovam uma educação inclusiva, não discriminatória, que 10. Combate à lesbofobia e à transfobia aborde de forma progressista questões de gênero, et- nia, orientação sexual e identidade de gênero. Merece atenção especial a condição de opressão a que estão submetidas hoje as mulheres não hete- 9. Mulheres negras rossexuais (lésbicas e bissexuais) no Brasil. O cará- Para as mulheres negras o direito à vida própria ter “invisível” da mulher lésbica se reflete na forma (autonomia) até o direito à própria vida (no enfrenta- como ela é discriminada: geralmente (mas não ex- mento à violência) são batalhas constantes. Isso, ape- clusivamente), os atos discriminatórios contra elas sar do espaço conquistado por meio das lutas histó- ocorrem em ambientes privados. Isso torna mais ricas das mulheres em geral, e das negras em parti- difícil, mas não impossível, o combate à lesbofobia. cular. Lutas que conseguiram se traduzir em políti- Para isso, é preciso recolocar no espaço público a im- cas públicas de enfrentamento à violência, de acesso portância do respeito à mulher lésbica e bissexual. a trabalho e renda, à educação e saúde e de empode- O Estado é o responsável por isso e deve contribuir ramento político. para que as lésbicas, assim como todas as mulheres, O racismo, aliado ao sexismo, constitui a base saiam da situação de invisibilidade e sejam reconhe- real da subjugação das mulheres negras no Brasil. As cidas como sujeitos políticos ativos na sociedade. estatísticas apontam o que é ser mulher e negra num A população trans também sofre com a invisibi- país em que a estrutura socioeconômica e político- lidade e o preconceito. Dados da ANTRA – Associa- cultural foi construída e embasada em práticas racis- ção Nacional de Travestis e Transexuais – dão conta tas e sexistas. As mulheres negras e jovens são a mai- que 90% dessa população está se prostituindo, esse oria das vítimas de violência doméstica, além de es- é um número estarrecedor e que não deveria ser tra- tarem mais constantemente expostas à violência se- tado como uma questão menor ou algo secundário. xual e policial. De acordo com o Instituto de Pes- É preciso urgentemente de políticas públicas naci- quisa Econômica Aplicada (IPEA), mais de 60% das onais que visem incluir a população de travestis e mulheres assassinadas no Brasil entre 2001 e 2011 transexuais dentro do mercado de trabalho. eram negras. A mulher negra aparece nos dados es- Além dos casos de violência psicológica e física, tatísticos associada a baixos índices de escolaridade, que chegam a matar, também há infinitos relatos de a trabalho degradante e rendimentos inferiores, es- travestis e transexuais que foram agredidas por re- tando posicionada na parcela mais pauperizada da presentantes do Estado, como policiais e demais fun- sociedade brasileira, constituindo um dos segmen- cionários públicos. O preconceito não está somente tos mais vulneráveis, fazendo com que a pobreza na sociedade, ele se reflete no poder público, por brasileira tenha um rosto feminino e negro. Para mu- meio da violência institucional. Para acabar com dar este cenário, propomos: isso, defendemos:

• Incentivo a medidas que possam transformar • Formação e educação permanente dos servido- esta realidade, garantindo a estas mulheres o res da saúde para a saúde integral das mulhe- acesso à cidadania, além de incentivo em con- res lésbicas, bissexuais e transexuais, principal- selhos de participação popular; mente sobre prevenção de DSTs, AIDS, câncer de colo de útero e de mama; • Criação de políticas públicas e de ações afirma- tivas se coloca como uma das estratégias para • Campanha de combate ao HIV entre mulheres a superação destas desigualdades e disparida- lésbicas, bissexuais e transexuais; des existentes entre o homem e a mulher, entre • Estímulo à produção e difusão de conheci- os negros e brancos, entre as mulheres brancas mento e sensibilização dos profissionais da e as mulheres negras; saúde para a atenção às mulheres lésbicas, bis- • Formação, educação permanente e atenção es- sexuais e transexuais sobre direitos humanos; MULHERES 69

• Instalação de ouvidorias, como canal de comu- • Pela despatologização e reconhecimento das nicação entre mulheres lésbicas, bissexuais e identidades sexuais; transexuais e as instituições públicas; • Atendimento humanizado no acompanha- • Garantia de representatividade das mulheres mento à população trans no processo de re- lésbicas, bissexuais e transexuais em conselhos adequação dos corpos, em centros ambulato- de participação popular; riais com atendimento psicoassistencial e hor- • Casas de acolhimento e preparação para o tra- monal, bem como a qualificação dos profissio- balho para LGBTs em situação de risco; nais do setor de saúde para atendimento a tra- vestis e transexuais; • Pelo reconhecimento de identidade de gênero das mulheres trans a partir da defesa da apro- • Ampliação do atendimento das delegacias da vação da Lei João Nery; mulher para as mulheres trans. 70 COMUNICAÇÃO

18 Comunicação

A “era da informação”, cantada e decantada rantia de universalização e metas de quali- como nova etapa do desenvolvimento das forças dade. produtivas mundiais, no Brasil chegou para poucos. O imenso abismo que segue separando ricos e po- Propostas de ação: bres em nosso país é sustentando por um sistema de comunicações quase que exclusivamente privado e 1. Cancelar licenças de rádio e TV de sena- agravado pela ação de grupos empresariais que con- dores e deputados formam verdadeiros monopólios e oligopólios con- troladores de Tvs, rádios, mídia impressa e Internet. Conforme a Arguição por Descumprimento de Esse sistema tem uma íntima ligação ao sistema po- Preceito Fundamental (ADPF) protocolada pelo lítico, sustentando-se a partir de relações perversas PSOL no Supremo Tribunal Federal, nosso programa de um círculo viciado entre os interesses dos grupos é contra a outorga e renovação de concessões, per- empresariais que controlam as comunicações e seus missões e autorizações de radiodifusão a empresas apadrinhados políticos. Por isso, conforme demons- que possuam políticos titulares de mandato eletivo traram as manifestações de junho do ano passado, como sócios ou associados. O controle de emissoras é fundamental que se estabeleça um sistema efetiva- de rádio e TV por políticos é inconstitucional e viola mente público, que tenha como princípio a liberdade direitos fundamentais como o acesso à informação, a de expressão real e a defesa dos direitos humanos e liberdade de expressão, o pluralismo político e a re- estabeleça um equilíbrio entre o estatal e o privado alização de eleições livres, além do princípio da iso- na produção da comunicação do país. nomia, da isenção e independência do membros do Poder Legislativo. Prioridades: 2. Reservar espaços iguais para os sistemas a) O direito à comunicação é um direito humano público, privado e estatal no rádio e na TV fundamental e sua democratização, com a con- e criar um sistema público gerido por um solidação de um sistema verdadeiramente pú- Conselho Nacional de Comunicação com blico, deve ser, portanto, um dever do Estado. participação da sociedade civil e indepen- b) O sistema público deve ter autonomia em re- dência de governos lação aos governos, com garantia de financia- O sistema de comunicações no Brasil foi histo- mento. ricamente forjado com a predominância do sistema c) Os meios de comunicação que dependem de privado, descumprindo o artigo 223 da Constituição concessão pública devem ser distribuídos com Federal. Por isso, como primeiro passo buscaremos equilíbrio de espaço e de alcance entre os siste- implantar uma quantidade equilibrada de canais en- mas público, privado e estatal. tre os sistemas privado, público e estatal. O Conselho Nacional de Comunicação ainda terá d) Garantir pluralidade nos conteúdos, formatos, o papel de definir a Política Nacional de Comuni- abordagens e gêneros da produção das emisso- cações, envolvendo a gestão do sistema público, e ras de rádio e TV que reflita a diversidade cul- elaborar políticas para emissoras privadas com fins tural (especialmente étnico-racial, de gênero e lucrativos, devendo estabelecer, entre outras ques- regional) presente na sociedade brasileira, con- tões, critérios para outorga, utilização das verbas do forme previsto no artigo 221 da Constituição. Fundo de Comunicação Pública e orientações gerais Além de garantir a pluralidade de ideias na para garantir pluralidade e diversidade na progra- produção de conteúdo, também é essencial as- mação das emissoras. Será formado por represen- segurar a distribuição dos mesmos pelo terri- tantes da sociedade civil (com eleição direta pelos tório nacional. pares), das emissoras públicas (com indicação de en- e) Assegurar a Internet como serviço fundamen- tidade representativa ou eleição pelos pares) e do tal, a ser prestado em regime público com ga- Governo Federal (por meio de indicação de repre- COMUNICAÇÃO 71 sentantes de órgãos responsáveis por Comunicações, difusão praticamente não é alvo de políticas públi- Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia e Casa Ci- cas. Definir a Internet como serviço fundamental vil). exigirá dos governos em todos os âmbitos providen- ciar políticas de universalização do acesso para fazer 3. Criar o Fundo de Comunicação Pública chegar esse serviço especialmente nas regiões onde o como principal ferramenta de um sistema mercado não chega. Junto à política de expansão, é de financiamento público independente dos necessário promover uma política de inclusão e edu- governos para comunicação pública e co- cação digital, que forme usuários capazes de enten- munitária der como a rede funciona e como usar criptografia.

Para garantir um sistema verdadeiramente pú- 6. Elaboração de regulamentação do Marco blico de comunicação com produção independente e Civil da Internet de maneira a garantir a de qualidade, que faça frente às emissoras comerci- neutralidade da rede e proteger a privaci- ais, é necessário autonomia no financiamento. Assim dade dos usuários de Internet ele se manterá autônomo, tanto da ingerência estatal quanto do mercado. Para tanto, o Fundo de Comu- Para que a Internet possa ser usada de forma a nicação Pública – tal como proposto na campanha aumentar a pluralidade na comunicação e não como Para Expressar a Liberdade - será composto priori- mecanismo de controle social, é necessário que seus tariamente por: receitas previamente vinculadas dos usuários sejam protegidos contra políticas de vigi- orçamentos públicos em âmbito federal e estadual; lância, como as denunciadas pelo ex-agente da NSA, recursos da taxação da publicidade veiculada nos ca- Edward Snowden. Os provedores de Internet não nais comerciais e pelo pagamento de uso do espectro devem guardar registros de acesso em massa (sem por parte dessas emissoras, garantindo que a expan- ordem judicial) e tal prática deve ser criminalizada. são do sistema privado esteja sempre vinculada ao Além disso, a rede deve ser neutra, isso é, não deve público; impostos progressivos embutidos no preço ser permitido que os provedores priorizem o tráfego de venda dos aparelhos de rádio e televisão, com de determinados pacotes em detrimento de outros. isenção para aparelhos de TV com menos de 20”, e taxação progressiva especialmente para equipamen- 7. Regular a propriedade cruzada e vertical tos superiores à 29”; doações de pessoas físicas e ju- dos meios para impedir o monopólio das rídicas. comunicações

4. Fortalecer as emissoras comunitárias Democracia pressupõe a existência de plurali- dade. A existência de pluralidade pressupõe o livre É preciso interromper o processo de criminaliza- fluxo de informações. E o livre fluxo de informações ção dos radialistas comunitários em curso. As emis- pressupõe a multiplicidade de fontes, algo que só é soras comunitárias são um importante ator na demo- possível com uma regulamentação capaz de coibir cratização da comunicação. Para tanto, ao contrá- a concentração de propriedade que, infelizmente, é rio das restrições, haverá o fortalecimento das rádios bastante comum na comunicação social. Por isso, comunitárias, sem restrição de potência (tal como como já ocorre na Europa e nos EUA, propomos a acontece com as emissoras comerciais), aumento de regulação econômica do setor de comunicação so- canais comunitários por município, garantia de fi- cial eletrônica. Entre as propostas, está a limitação nanciamento e autonomia e a inclusão das TVs co- de controle por um mesmo grupo empresarial de di- munitárias no processo de regulamentação pública. ferentes veículos, tais como canais de TV, de rádios e mídia impressa de grande circulação (propriedade 5. Definir a internet como serviço fun- cruzada). A regulação da propriedade cruzada deve damental, colocando a prestação do ser- ser combinada com o limite à concentração à pro- viço em regime público para universalizar priedade vertical, impedindo que um único grupo o acesso e estabelecer metas de qualidade econômico controle várias etapas da cadeia produ- tiva de comunicação como produção, programação, Embora a Internet seja uma ferramenta cada vez empacotamento e distribuição, por exemplo. mais presente e necessária para o desenvolvimento profissional, pessoal e econômico dos brasileiros, sua 8. Garantia de cotas de produções nacional, 72 COMUNICAÇÃO regional e independente na TV e no rádio o pluralismo de ideias. O direito de resposta deve ser um direito não apenas individual, mas também A pluralidade de ideias só se produz a partir da difuso e coletivo, de maneira a abarcar a representa- diversidade na autoria. Por isso, é essencial definir ção da diversidade cultural, social e política da socie- regras para a inserção mínima de conteúdos nacio- dade e as políticas públicas de Estado que garantam nal, regional e independente. Essa política também a participação e representação dos diversos grupos. visa reduzir as desigualdades econômicas regionais e desconcentrar a produção do eixo Rio/São Paulo, 10. Direito de antena de forma a estimular a igualdade de oportunidades em todo o país. Tal como praticado em países como Portugal, Alemanha, França e Espanha, o direito de antena é 9. Regulamentação do direito de resposta, um instrumento de democratização do acesso aos incluindo direitos difusos e coletivos meios de comunicação, a partir da garantia à livre manifestação nos espaços de comunicação de massa O direito de resposta é um importante instru- a movimentos sociais, organizações sindicais, profis- mento de liberdade de expressão e de garantia de sionais e representativas de atividades econômicas, direitos fundamentais. Além disso, é essencial para de acordo com sua relevância e representatividade e a garantia do acesso à informação e para estimular seguindo critérios objetivos previamente definidos. 73

19 Cultura

A última década foi a primeira vez na história do Estado, é um ataque à potência criativa e à capa- brasileira em que um ciclo de crescimento econô- cidade de produção de uma Cultura independente mico não foi acompanhado de um ciclo de explosão e transformadora. Propomos que os artistas inici- criativa da Cultura nacional. Uma das razões para antes possam desenvolver sua produção em auto- tanto é a financeirização da Cultura, que transfor- nomia diante do mercado a partir de um programa mou departamentos de marketing de grandes em- estruturado de bolsas concedidas pelo governo fede- presas em órgãos decisórios das políticas públicas de ral. Cultura, assim como a ausência de investimentos em formação. 3. Construção de bibliotecas públicas fe- derais Prioridades: O Brasil tem índices tragicamente insuficientes a) Assegurar a construção de uma rede pública na relação entre o número de bibliotecas e a quanti- de Cultura que conte com o planejamento, in- dade de habitantes, estando atrás de países com me- centivo e investimento do governo federal em nores índices econômicos e produtivos. Ao mesmo todas as esferas públicas e que estejam articu- tempo, as bibliotecas do país são marcadas pela ina- ladas nos três âmbitos federativos; dequação do acervo que não atende à demanda, por dificuldades de acesso e utilização e pela extrema- b) Garantir um financiamento público adequado mente precária capacitação profissional. Quando para a ampliação e qualificação das produções tratamos desses dados observando as disparidades culturais, bem como a sua distribuição regional regionais, os números são ainda mais alarmantes, equitativa, combatendo a financeirização atual com claro prejuízo para as populações do Norte, da Cultura; Nordeste e Centro-Oeste. Tratar dessas disparida- c) Promover a pluralidade, a multiculturalidade des – tanto da relação biblioteca-habitante quanto e o potencial transformador e independente da da relação biblioteca-região – deve ser uma priori- arte. dade para que o escasso acesso ao hábito da lei- tura no Brasil seja combatido. Além da obrigatori- Propostas de ação: edade da construção desses equipamentos nos mu- nicípios, como trataremos em outra proposta, orien- taremos em todas as cidades com população acima 1. Criação de Escolas Federais de Artes de 150.000 habitantes a construção de equipamentos A falta de importância dada à Cultura no Bra- no modelo das bibliotecas-parque, com incentivos sil pode ser verificada pela inexistência de um sis- do governo federal, e equipamentos públicos mul- tema federal de escolas de arte. Propomos a rever- tifuncionais em áreas de risco e com acesso imediato são deste quadro com a criação de Escolas Federais e fácil à informação. de Arte que atendam à diversidade regional e terri- 4. Ampliar para 2% do PIB as verbas da torial do país e contem com cursos de longa duração Cultura e promover amplas políticas de fi- de literatura, música, teatro, cinema, vídeo, dança e nanciamento com equidade da distribuição artes visuais nas periferias das grandes cidades bra- regional de verbas sileiras.

2. Criação de um sistema de bolsas para Defendemos a vinculação de orçamento para a artistas iniciantes Cultura com a meta da destinação de 2% do PIB para garantir de fato à área independência e consistência A produção artística brasileira encontra-se entre no planejamento e intervenção estatais. Além disso, a penúria dos profissionais ou sua sujeição às nor- promoveremos a reformulação do Programa de Fo- mas e necessidades do mercado. Tal situação, que mento e Incentivo à Cultura (PROCULTURA) com acontece por falta de incentivo e acompanhamento ampliação dos editais públicos de seleção de proje- 74 CULTURA tos culturais e incentivo à ação política cultural inde- Tidos como elementos secundários nos planeja- pendente. O aumento do financiamento da Cultura mentos de obras dos municípios, os equipamentos deve estar sempre vinculado ao atendimento de cri- culturais devem ser entendidos como meios de de- térios transparentes de distribuição regional de ver- senvolvimento humano e, inclusive, econômico de bas para que as regiões historicamente menos favo- cada município, devendo ser tratados como instru- recidas pelas políticas culturais estejam à altura de mentos norteadores dentro das estratégias de políti- ter produções com o mesmo nível de investimento cas públicas municipais e estaduais. Para tanto, além das regiões que historicamente recebem mais recur- de promover uma rede nacional de equipamentos sos. culturais integrada, que leve em conta os instrumen- tos públicos federais, estaduais ou municipais e tam- 5. Assegurar a incorporação dos preceitos bém os controlados pela iniciativa privada, devemos da Convenção sobre a Proteção e a Promo- condicionar a criação de novos municípios à exis- ção da Diversidade das Expressões Cultu- tência de equipamentos culturais básicos tais como: rais da UNESCO biblioteca, espaço de memória e centro cultural de uso múltiplo. Paralelamente deve-se estabelecer um Conforme o documento da Convenção sobre a prazo para adequação dos municípios já existentes Proteção e a Promoção da Diversidade de Expres- dentro de uma relação razoável entre cada equipa- sões Culturais da UNESCO, “a diversidade cultural mento e o número de habitantes. se manifesta não apenas nas variadas formas pelas quais se expressa, se enriquece e se transmite o pa- 8. Direito à cidade é direito à Cultura trimônio cultural da humanidade mediante a vari- edade das expressões culturais, mas também atra- É preciso que os programas habitacionais e de in- vés dos diversos modos de criação, produção, difu- tervenções urbanas entendam que o déficit habitaci- são, distribuição e fruição das expressões culturais, onal é também e fundamentalmente um déficit de ci- quaisquer que sejam os meios e tecnologias empre- dade. Isso significa que a produção da cidade é tam- gados.” No Brasil é ainda mais gritante a necessi- bém uma produção da sociedade, devendo contem- dade de incorporar esse e outros princípios que reco- plar toda a diversidade e possibilidades de desen- nhecem a pluralidade e o multiculturalismo no pla- volvimento cultural. Assim, nada mais fundamental nejamento e gestão de políticas públicas. do que assegurar, na implantação de conjuntos ha- bitacionais, planos de moradia e intervenções urba- 6. Atualização permanente dos Parâmetros nas, a obrigatoriedade de construção de equipamen- Curriculares Nacionais (PCNs) do ensino tos culturais básicos (biblioteca, telecentro e centro de arte-educação e da música cultural de uso múltiplo). Isso é especialmente im- portante quando se refere às periferias das grandes A formação em arte-educação, bem como a for- cidades. mação do profissional da Cultura, dos ensinos bá- sicos ao superior, requer uma constante atualização 9. Elaborar, aprovar e executar os planos de e qualificação, de acordo com as transformações nas Cultura e planos setoriais de Cultura nos diferentes linguagens artísticas, na educação, na pro- três âmbitos federativos, a partir das pro- dução e gestão de políticas culturais, na área de edu- postas aprovadas em suas respectivas con- cação patrimonial e no incentivo ao livro e à leitura. ferências Nesse contexto, deve-se sempre observar a garantia ao acesso e acessibilidade à produção cultural, com Democratizar a Cultura passa também por de- capacitação profissional, recursos próprios e aquisi- mocratizar as decisões a respeito de como ela será ção de livros e equipamentos destinados ao atendi- planejada e gerida. As conferências de Cultura são mento de pessoas com deficiência. um importante espaço de discussão e elaboração, mas também precisam ser espaços com poder de de- 7. Rede integrada de equipamentos cultu- liberação e ação, comprometendo o poder público rais e obrigatoriedade de bibliotecas, espa- com os desejos e as necessidades públicas, em todos ços de memória e centros culturais em cada os âmbitos e passando por todos os entes federati- município vos. CULTURA 75

10. Mapa da Cultura culturais. É necessário implantar um sistema de in- formações que seja um mapeamento dessas ações Há uma diversidade de iniciativas culturais que mas, por outro lado, conte com informações e in- não passam pelas políticas públicas, mas nem por dicadores culturais em cada uma das linguagens isso devem estar isoladas, fora do mapa das ações artístico-culturais. 76 ESPORTE E ATIVIDADE FÍSICA

20 Esporte e atividade física

A derrota histórica da seleção brasileira de fute- dia, superação de limites, organização coletiva, dis- bol na final da Copa do Mundo deste ano foi reve- ciplina e respeito com o próximo. ladora não só dos grandes problemas que nosso fu- tebol enfrenta. Ela explicitou o quanto as estruturas Prioridades: do esporte nacional estão corroídas pela total falta de capacidade de planejamento, intervenção e atua- a) Democratizar o acesso ao Esporte e à Ativi- ção do poder público e da sociedade. As verdadei- dade Física; ras ditaduras instaladas na CBF e no COB – só para citar os exemplos mais chamativos – contaram com b) Construir o Sistema Público Nacional do Es- a conivência e parceria do poder público, como te- porte e da Atividade Física que seja defini- mos visto na vergonhosa ação do Ministério dos Es- dor da plena hierarquia das competências dos portes nos últimos governos. Incrivelmente, apesar entes federativos, bem como da relação de de todo apelo social e do momento político propício atribuições entre educação, saúde e esporte. para mudanças por conta da ação de movimentos Tendo como objetivo prioritário a universali- inéditos e extremamente progressivos como o Bom zação das práticas esportivas como direito hu- Senso FC, os candidatos do sistema sequer têm pro- mano fundamental à toda população, esse Sis- postas de revisão do atual estado de coisas. tema Público tem também a função de regular e normatizar as organizações esportivas, sejam De nossa parte, procuramos apresentar aqui uma elas estatais, públicas, comunitárias, de inte- síntese inicial a partir das pautas de reivindicações resse público ou privadas, estando elas vincu- desses movimentos, de contribuições de especialis- ladas ou não aos esportes de alto rendimento; tas da área e também utilizando uma preciosa pro- posta elaborada por atletas como contribuição ao c) Construir um país saudável, que invista no es- plano de governo de Lula em 2002, mas abandonada porte como fator de prevenção de doenças, so- pelo presidente, que preferiu estar ao lado das má- cialização e educação, tripé que reduz a violên- fias encasteladas na direção da CBF e do COB e de cia e estimula a cidadania; seus negócios associados aos megaeventos. Partimos da premissa de que o esporte é um im- d) Estruturar uma legislação que moralize o es- portante fator de desenvolvimento humano, deter- porte de alto rendimento e lhe dê os instru- minante para políticas de educação e também de mentos para caminhar em consonância com os saúde. Apesar disso, e de que comprovadamente interesses prioritários do país. A transparên- a inatividade física representa um grande prejuízo cia, a democratização dos regimes internos de para os cofres públicos, atualmente o acesso ao es- organizações esportivas e o fim da impunidade porte e à atividade física acontece de forma fragmen- no esporte brasileiro certamente trarão grande tada, sem apoio em um sistema organizado nacio- avanço no nível de consciência popular sobre nalmente, sem objetivos claros e sem capacidade de as mudanças de que o Brasil necessita. avaliação de resultados. A prática esportiva acaba sendo sempre secundarizada, como uma atividade Propostas de ação: sem importância e dispensável. Uma população que pratica esportes é uma po- 1. Sistema Nacional Público do Esporte e pulação mais saudável, mais integrada, mais prepa- Atividade Física rada para enfrentar os problemas cotidianos. A ativi- dade física representa, para os indivíduos em forma- A partir da adoção do Diagnóstico do Esporte ção, uma verdadeira escola prática na composição da como política permanente, organizaremos um Sis- personalidade em que são aprendidos valores sobre tema Nacional Público do Esporte e Atividade Fí- cooperação, competição, desenvolvimento de capa- sica que defina objetivamente as atribuições, direitos cidades cognitivas de elaborar táticas e estratégias, e deveres de entes federativos e organizações soci- a relação do homem com a natureza de forma sa- ais, estabelecendo conceitos, definindo prioridades ESPORTE E ATIVIDADE FÍSICA 77 na aplicação dos recursos disponíveis e integrando o Entendemos que a consolidação de um Sistema esporte com outras políticas públicas. Nacional Público do Esporte e da Atividade Física O Estado deverá partir da definição de que o es- passa também pela consolidação de um Estatuto do porte e a atividade física são políticas vinculadas à Esporte e da Atividade Física que, a partir das ne- educação e à saúde públicas, priorizando a univer- cessidades e prioridades discutidas e decididas pela salização do acesso à prática esportiva para todos os sociedade, haja uma regulamentação das obrigações brasileiros. Para tanto, é fundamental assegurar es- democráticas, das normas de transparência e desem- paços de participação das comunidades e de suas di- penho das entidades esportivas. É fundamental uma versas associações esportivas por meio do desenvol- verdadeira reforma política que estabeleça partici- vimento de comitês esportivos comunitários com as- pação ampla da comunidade esportiva no planeja- sistência técnica e financeira do poder público. Para- mento, na gestão e na eleição dos dirigentes; limite lelamente, deverá estruturar também políticas para seus mandatos e proíba as reeleições infinitas; esta- o esporte de alto nível com avaliação permanente e beleça um sistema de referendos e mandatos revo- regulamentação das entidades esportivas dos setores gáveis; preserve os direitos trabalhistas dos atletas; público e privado, de acordo com legislação própria. defina punições claras e severas para quem desres- Espera-se com isso expandir e fortalecer o es- peitar as regras; respeite os torcedores; etc. Nesse porte nacional em todas as suas dimensões: de pla- sentido, compreendemos que as autonomias assegu- nejamento e gestão, técnica, científica, acadêmica; de radas pela Constituição às entidades não impedem ampliação e melhora da infraestrutura; de moderni- a imposição neste estatuto de regras rígidas que coí- zação do equipamento existente; de uso de inovação bam abusos e punam violações. tecnológica e medicina aplicada aos esportes; e da criação de uma nova cultura de organização e gestão 3. Plano Nacional de Democratização do dos recursos vinculados ao fomento das atividades acesso ao Esporte e à Atividade Física esportivas. Garantir a democratização e a universalização do 2. Reforma Política e Estatuto do Esporte e acesso ao esporte e à atividade física terá como ponto da Atividade Física central a mobilização social para a participação e a utilização plena de todos os instrumentos políticos O gargalo do desenvolvimento da prática espor- e equipamentos disponíveis. Para tanto, o ponto de tiva no Brasil – em especial a de alto rendimento – partida é a construção de um plano nacional que ga- é sem dúvida a estrutura de poder arcaica, antide- ranta ampla participação, discussão, definição da so- mocrática e corrupta que se cristalizou nas entidades ciedade civil desde a elaboração das ações voltadas esportivas. Concomitantemente, sob um aparato le- às metas, como também em sua fase de execução e gal débil que naturaliza as fraudes e descumprimen- avaliação. tos de obrigações fiscais e trabalhistas, os clubes, as O acesso democrático ao esporte deverá respei- federações, as confederações e organizações de di- tar o modelo do Sistema Público Nacional do Es- reito privado adotam uma prática extremamente le- porte e da Atividade Física para todo o País, conside- siva ao desenvolvimento de uma verdadeira política rando as especificidades e as diversidades regionais. pública de esportes. O ponto fundamental é que os programas deverão Recentemente, a ação de movimentos proponen- valorizar o profissional de educação física e esporte tes da democratização dos esportes conseguiu a como figura central e obrigatória. aprovação da lei 12.868/2013 que estabelece regras Em todas as escolas haverá esporte e atividade de gestão para as entidades que recebem recursos física para crianças e para os pais e professores (nos públicos ou gozam de isenção fiscal. Embora essa fins de semana e horários ociosos dos dias úteis) de lei seja uma importante conquista há ainda muito a forma organizada e permanente. Como eventos esti- ser feito nesse sentido. Por exemplo, um dos pon- muladores e referenciais, teremos os jogos colegiais tos fundamentais dessas regras ainda não foi regula- nos seus mais diferentes níveis e o esporte comunitá- mentado, justamente aquele que obriga essas orga- rio. Por outro lado, é tarefa deste plano criar as con- nizações a assegurar a participação dos atletas nas dições para o acesso permanente dos idosos à prática eleições dos dirigentes das entidades que adminis- esportiva, assim como dos portadores de deficiência tram o esporte. física, com a utilização de todos os espaços públicos 78 ESPORTE E ATIVIDADE FÍSICA possíveis e também com a obrigação de cessão de es- gundo plano das políticas públicas, tendo que estar paços ociosos particulares. submetida a elaborações isoladas das outras áreas, com baixo financiamento e pequena capacidade de 4. Lei de Responsabilidade Social do Es- executar mudanças efetivas. Ao contrário, acredita- porte mos que essa área deve estimular uma visão mais in- tegrada, que envolva ao menos a articulação de pro- Diversos estudos recentes têm comprovado que gramas e projetos voltados a atribuições que hoje são os investimentos no esporte social têm capacidade dos ministérios do Planejamento, Educação, Saúde de geração de emprego, formação educacional e pre- e Cidades. Por isso, também entendemos que a lo- venção de doenças muitas vezes maior do que no es- cução “Atividade Física” deve ser adicionada à do porte de alto rendimento. Ainda assim, as políticas Ministério dos Esportes. públicas esportivas giram em torno deste último, em função das pressões do enorme mercado e dos vulto- 7. Centros Esportivos de Excelência nas sos negócios que aí se estabelecem. Disso decorrem Universidades Públicas e fomento ao de- também práticas viciadas de gestão e concessões pú- senvolvimento da ciência esportiva em es- blicas, incentivos e renúncia fiscal, impunidade e au- pectro nacional sência de fiscalização. A proposta de Lei de Responsabilidade Social do Uma visão integradora dos esportes pressupõe Esporte visa à construção de instrumentos de fiscali- que sejam pensadas cientificamente e de maneira ar- zação e garantia de compensações do esporte de alto ticulada as diversas áreas do conhecimento como rendimento ao esporte social, prioridade do nosso Nutrição, Fisioterapia, Fisiologia, Educação Física, governo. Desse modo, pretendemos fazer com que Ciências Sociais, História, Geografia, etc. Nesse sen- empresas públicas e privadas e universidades, esti- tido é preciso construir em cada região do país cen- muladas pelas potencialidades resultantes de um ar- tros esportivos de excelência que se proponham a cabouço político e fiscal favoráveis, participem dire- pensar a democratização do acesso ao esporte e à ati- tamente do desenvolvimento do esporte como ativi- vidades físicas ao mesmo tempo em que sejam es- dade econômica pública e meio de formação de base paços onde será possível trabalhar com os futuros de atletas como cidadãos. atletas das seleções brasileiras nas diversas moda- lidades, permitindo que o alto rendimento também 5. Fundo Nacional para o Desenvolvi- tenha como contrapartida o desenvolvimento da ci- mento do Esporte, a Atividade Física e a ência esportiva do Brasil. Educação Física Pensar uma distribuição regional desta política de maneira que não reforce as desigualdades em O financiamento esportivo deve ter em vista o nosso país deve ser um princípio, garantindo que atendimento do artigo 217 da Constituição Federal desde a formação inicial de professores nas Univer- que diz que o esporte é dever do Estado e direito de sidades Públicas até a qualificação dos profissionais cada um. Por isso defendemos, em primeiro lugar, a partir de cursos de pós-graduação strictu e latu uma criteriosa redistribuição do orçamento federal senso seja pensada nacionalmente. Com isso visa- entre os ministérios que possibilite ter especial aten- mos o combate à atual concentração dos cursos de ção ao investimento preferencial no esporte educaci- pós graduação em educação física do país nos esta- onal. Ao mesmo tempo, a política esportiva deve es- dos do sul e do sudeste enquanto há apenas três pro- tabelecer um Fundo Nacional constituído pelas con- gramas no nordeste e nenhum na região norte. tribuições realizadas pelas empresas e organizações públicas ou privadas. Este fundo será utilizado para 8. Fomento ao esporte comunitário a partir o financiamento de planos, projetos e programas de do estímulo à criação de secretarias estadu- desenvolvimento e fomento à atividade física e ao ais e municipais exclusivas para o trato do esporte, o atendimento integral e a segurança social esporte e compostas por técnicos concursa- dos atletas. dos

6. Articulação Interministerial do Esporte Os municípios brasileiros raramente dão a aten- ção devida à institucionalização do planejamento es- Nos dias de hoje a área esportiva é relegada ao se- portivo. Por isso, via governo federal, é preciso um ESPORTE E ATIVIDADE FÍSICA 79 estímulo concreto para a criação de secretarias esta- 10. Caravanas “esporte bairro adentro” duais e municipais de esportes e atividade física. O Ministério terá o dever de garantir reserva orçamen- Resgataremos o projeto “Caravanas do Esporte” tária para o repasse de recursos diretos aos entes fe- com o intuito de massificar a prática esportiva, a derativos que possuírem tais secretarias, de maneira educação física e recreação nas regiões mais caren- a viabilizar o desenvolvimento de projetos na área tes do país, onde não chegam ações sociais e não há do esporte e garantir seu acompanhamento e inte- sequer equipamentos públicos nos bairros e favelas. gração ao Sistema Público Nacional. As caravanas acontecerão o ano todo e em três fa- ses. Em um primeiro momento as caravanas se insta- 9. Fomento ao esporte feminino lam estimulando atividades esportivas e outras das mais diversas como dança, ginástica, skate, natação, Historicamente, há uma grande disparidade en- atividades lúdicas para crianças, preparação física na tre o incentivo ao esporte feminino e masculino. Ca- gravidez, capoeira, etc. De preferência contarão com beria ao Ministério do Esporte e Atividade Física fi- atletas de renome nacional e regional para ajudar na nanciar a criação e manutenção de ligas de esporte convocação. Em um segundo momento vamos ela- e de bolsas específicas para atletas do sexo feminino borar um plano de ação para a generalização da prá- como política permanente de fomento, assim como a tica esportiva e das atividades físicas na região. Em criação de um programa específico para a manuten- um terceiro momento haverá a implantação de ações ção de seleções femininas em modalidades coletivas concretas de financiamento e execução de programas e individuais. permanentes por parte dos entes federativos. 80 CARTA-COMPROMISSO DE LUCIANA GENRO COM O MOVIMENTO NEGRO

Contribuição: Carta-compromisso de Luci- ana Genro com o Movimento Negro

É inegável a dívida histórica deste país com a po- mas ou políticas compensatórias que alcançaremos pulação negra que foi açoitada por mais de três sé- mudanças estruturais capazes de eliminar as desi- culos e no pós-abolição foi excluída do projeto de na- gualdades. Mas é preciso dar respostas possíveis e ção, produzindo um verdadeiro abismo econômico, concretas aos problemas do agora. E para isso pro- social e cultural entre negros e não negros. pomos: As marcas deste abismo se traduzem em nosso 1 – A população Negra, maioria do povo bra- cotidiano por meio da prática do racismo que estru- sileiro, é também quantidade muito significativa tura as relações de poder no Brasil. Os Amarildos, dos responsáveis pela produção e pelo consumo em Cláudias, Douglas, Terezinhas são exemplos desse nossa sociedade. A riqueza e a sustentação da na- cotidiano violento que marca a vida da população ção brasileira passam por suas mãos. Não é justo negra, onde o Estado Democrático de Direito ainda que essa população continue vivendo a margem das é direito a ser conquistado. oportunidades e exposta a violências tão profundas. O modelo de expansão do capitalismo por meio É papel do Estado promover um permanente incen- dos grandes centros tem produzido um verdadeiro tivo à cultura da diversidade, do respeito e de valo- processo de limpeza étnica e social que se consolida rização aos direitos humanos. É necessário agir. cada vez mais como uma bomba-relógio, pois é tam- 2 – O Estado é, na relação com a população, o bém incapaz de responder de fato aos anseios de par- primeiro promotor do racismo. Seja através dos ser- cela significativa da população. Com a maioria po- viços de saúde pública, precários como são; através pulação vivendo cada vez mais distante dos centros dos serviços educacionais, degradados e segregató- urbanos, com baixa infraestrutura, com transporte rios como estão e são; ou através da segurança pú- público precário, com poucos equipamentos públi- blica e sua força repressiva, seletiva, violenta e letal, cos, combinado com a queda na capacidade de con- como sabemos. O enfrentamento ao racismo estrutu- sumo, há diretamente como consequência o aguça- ral e institucional é o primeiro passo para a constru- mento da violência. ção de um imaginário e uma cultura de respeito às Enquanto o modelo de desenvolvimento das ci- diferenças, valorização da diversidade cultural, reli- dades e do país estiver a serviço dos interesses das giosa, política e aos valores dos direitos humanos. grandes corporações em detrimento de um desen- volvimento sustentável e cidadão, que regule os ter- Educação e mobilização para o combate ao ritórios, que taxe as grandes fortunas e garanta, de fato, uma distribuição de renda eficiente, a popu- racismo lação permanecerá vulnerável e sujeita a viver de • Ação emergencial de práticas de Educação Po- forma precária. pular para o combate ao racismo e o fomento O atual modelo de segurança pública intensi- da diversidade e dos direitos humanos em fica o processo de criminalização da pobreza, produ- todo país através do fortalecimento de orga- zindo um discurso do medo, além de tentar esconder nizações negras que desenvolvem projetos no as contradições e os problemas sociais latentes. O campo educacional. Também é fundamental combate à violência está longe de ser um problema fomentar a ampliação e massificação de inici- de polícia. É sim um problema estruturante da soci- ativas governamentais tais como os programas edade brasileira. Por isso, precisamos de mudanças Justiça Comunitária e Casa de Direitos (Plano e ações imediatas. de Enfrentamento à Violência nas Periferias Urba- Acreditamos que a superação do racismo, bem nas), Pontos de Cultura, Casas de Cultura, en- como das maiores mazelas que atinge o povo bra- tre outros. sileiro, depende também do rompimento com os in- teresses do grande capital privado e de sua lógica de • Criação do Fundo para Reparação Histórica e operação do Estado. Não será por pequenas refor- Humanitária para os Descendentes de Escra- CARTA-COMPROMISSO DE LUCIANA GENRO COM O MOVIMENTO NEGRO 81

vizados e Indígenas (Previsto pela Declaração daí, construir espaços de elaboração de ações de Durban – África – 2001) interministeriais de enfrentamento ao genocí- dio; Estipular data para apresentação de metas • Campanha Nacional de Mobilização pela e resultados das ações. Isso deve ser tratado Prática da Lei 10639 nas escolas públicas do com prioridade de governo. país; Criação de instrumentos de acompanha- mento e cobrança da execução da Lei ante as administrações Públicas; Ampliação para Sobre a violência racista 10% do PIB para Educação – Ação em conjunto • Regulamentação do artigo 5o. da Constitui- com movimento negro; ção brasileira que define o racismo como crime • Criação da Comissão Nacional da Verdade, inafiançável e imprescritível; Tornar Racismo Memória e Justiça para os Crimes da Escra- como Crime de Lesa Humanidade; vidão e Crimes de hoje por parte do Estado • Desmilitarização das polícias e imediato de- – Que reúna pesquisadores, historiadores, an- bate público sobre um novo modelo de segu- tropólogos, economistas, religiosos, artistas e rança pública – comunitária, humanizada e an- movimento negro para recontar a história e re- tirracista; construir a memória nacional a partir da escra- vidão negro-indígena; • Não aprovação de leis “anti-terror” que cri- minalizem movimentos sociais e determinados • Transformação do Plano Juventude Viva em perfis de grupos; PROGRAMA, para que avance para além de um apanhado de políticas pré-existentes, com • Pela revogação imediata da Portaria Norma- destinação de recursos equivalentes à gravi- tiva 3461/13, publicada pelo Ministério da De- dade do problema que se dispõe a enfrentar e fesa, que disciplina a atuação das Forças Arma- garantia de autonomia de ação; das em ações de segurança pública e que insti- tui o Manual de Garantia da Lei e da Ordem • Titulação de todos os territórios quilombo- (GLO), que atribui poder de polícia às três For- las e indígenas e emergencial retomada da ças Armadas, mediante ordem da presidente reforma agrária – Casos emblemáticos: Qui- da República; lombo do Rio dos Macacos Salvador/BA e Povo Guarani Kaiowas – MS; • Aprovação do PL 4471 que prevê o fim dos “autos de resistência” em todo país; • Promoção de espaços de diálogo, audiências e consultas públicas permanentes, abertas e li- • Fim da revista vexatória; vres, por parte do governo no que diz respeito à temática do combate ao racismo; • Federalização dos crimes cometidos por poli- ciais civis e militares – Caso emblemáticos dos • Mudança na Lei de Cotas Federal: que o per- crimes de maio de 2006 em São Paulo; centual de negras/os por estado incida sobre 100% das vagas; • Formulação de um projeto que prevê a res- ponsabilização penal de racismo e assassinatos • Politica de Permanência estudantil para alunos promovidos por policiais; cotistas e cotas na pós-graduação; • Política de apoio psicossocial para familiares • Pronunciamento em rede nacional - sobre o de vítimas do Estado; problema do racismo enquanto estruturante das desigualdades e herança cultural a ser • Indenização para familiares de vítimas do Es- combatida; Divulgação da agenda de ações an- tado; tirracistas; • Imediato mutirão do Judiciário para revisão de • Força tarefa de todos os ministérios no sentido penas dos presos; de, de maneira articulada, assumir o genocí- dio da juventude negra como uma realidade • Chega de prisões! Pelo fim da política do en- e a co-responsabilidade do Estado. A partir carceramento em massa; 82 CARTA-COMPROMISSO DE LUCIANA GENRO COM O MOVIMENTO NEGRO

• Pelo direito democrático às manifestações li- Política Internacional vres e autônomas, sem necessidade de tutela, • acordo ou aviso prévio a instituições repressi- É obrigação do Estado Brasileiro acolher e in- vas do Estado. Pelo direito à LIVRE manifesta- tegrar o povo Haitiano, bem como todo o povo ção, sempre garantido o pressuposto da digni- das Américas e da África, que vierem ao país dade humana; na condição de refugiados; • Pela retirada das Tropas Brasileiras do Haiti, por uma saída política, soberana da crise do povo Haitiano e a garantia de ajuda humani- tária. CONTRIBUIÇÃO DA JUVENTUDE 83

Contribuição da Juventude

Após a atividade “Bate Papo das Juventudes com Luciana Genro” os movimentos organizaram a construção de uma síntese das reivindicações da Juventude. O texto abaixo representa essa contribuição, que foi incorporada como tal ao programa de governo, pela Coordenação de Campanha.

O que eu consigo ver é só um terço do problema É o Sistema que tem que mudar Não se pode parar de lutar Senão não muda A Juventude tem que estar a fim Tem que se unir O abuso do trabalho infantil, a ignorância Só faz destruir a esperança Na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério Deixa ele viver! É o que liga! (Charlie Brown Jr.)

Apresentação Estas mobilizações têm em comum a indignação com a ausência de uma perspectiva de futuro para Em diferentes momentos da história, o Brasil sempre os jovens. Os diplomas escolares não dão mais a cer- pôde contar com a mobilização da juventude para al- teza de emprego. A desigualdade social é gritante. cançar vitórias. A força e a coragem dos jovens brasi- Segundo a OIT (Organização Internacional do Tra- leiros foram e são fundamentais para concretizar as balho), cerca de 1% da população acumula tanta ri- mudanças no país. queza quanto os 3,5 bilhões de pessoas mais pobres Segundo a ONU, existem atualmente 1,8 bilhão do planeta. E em um mundo com tamanha injustiça, de pessoas no mundo com idade entre 10 e 24 anos, a juventude está tomando as rédeas para a constru- constituindo a maior população de jovens da histó- ção de mudanças que apontam para um novo futuro. ria. No Brasil, segundo o Censo 2010 do IBGE, temos Segundo pesquisa da Secretaria Nacional de Ju- 51,3 milhões de jovens, o que corresponde a 26,1% ventude, quando questionados sobre se é possível do total da população brasileira. Destes, mais de mudar o mundo, nove em cada dez jovens brasi- 80% vive nas zonas urbanas. leiros responderam que sim. Dentre estes dez, sete As contradições que afetam a vida da juventude acreditam que podem mudar muito. O caminho tem servido como substância para o questionamento eleito pela maioria (45%) da juventude para mudar das velhas estruturas políticas e econômicas. No ano as coisas no Brasil é “a participação e mobilização de 2011, foram muitos os exemplos de mobilizações nas ruas e ações diretas”. Em seguida, a opção é pela juvenis. No Chile, os jovens conhecidos como “pin- “atuação em associações ou coletivos que se organi- guins” foram às ruas para protestar contra a mercan- zam por alguma causa (44%)”. A pesquisa mostrou tilização da educação universitária. Na Europa e nos ainda que a maioria valoriza a política, 83% acha que Estados Unidos, os jovens “indignados” reagiram à ela é muito ou mais ou menos importante, contra crise do sistema capitalista que retira direitos da ju- apenas 16% que acha que ela não é importante. ventude e eleva as taxas de desemprego. No mundo A coleta de dados dessa pesquisa foi feita de abril árabe, a juventude foi parte dos milhões que derru- a maio de 2013, antes das Jornadas de Junho, mas baram as ditaduras nesta região. E em junho de 2013, aqui as grandes mobilizações servem como a prova chegou a vez do Brasil. Com o protagonismo dos jo- concreta de que a juventude tomou para si a tarefa de vens, o país vivenciou um dos maiores levantes de lutar pelos seus direitos. Isso pode ser visto nos 55% sua história recente. A pressão popular emparedou de jovens que revelam terem tirado título de eleitor governos e derrubou o aumento das tarifas do trans- antes da idade obrigatória (18 anos). Ocupar a polí- porte coletivo. Com as Jornadas de Junho, o Brasil tica é uma escolha daqueles que já não se sentem re- entrava para a rota dos jovens indignados mundiais. presentados neste âmbito. A pesquisa ainda revela 84 CONTRIBUIÇÃO DA JUVENTUDE que seis em cada sete jovens declararam que partici- um grande desafio. pam, já participaram ou gostariam de participar de Se na geração de nossos pais apenas 25% tinham coletivos e movimentos sociais. alcançado o Ensino Médio, este número atualmente A juventude brasileira não é homogênea, e, sim, cresceu para 59% . Discute-se muito que o Ensino diversa e com grande desigualdade, seja na esfera Médio deve ser reformado, isso porque não é se- social, econômica ou cultural. Seria melhor usarmos gredo para ninguém que ele não cumpre as duas o termo ’juventudes’, já que a vida juvenil é com- principais funções que se propõe: não prepara para posta por uma pluralidade de elementos que se des- a continuação dos estudos do ensino superior (no dobram em múltiplas trajetórias, estéticas e sonhos. caso do Ensino Médio regular) e nem para o mercado Nesse mesmo sentido, os jovens enquanto “sujeitos de trabalho (no caso no Ensino Técnico profissiona- de direitos”, demandam políticas públicas específi- lizante). cas. Além disso, têm como sua maior preocupação a Porém, reformas como o Politécnico no Rio violência (43%) e o emprego (34%). A preocupação Grande do Sul tem contribuído para um maior su- com saúde e educação afetam 26% e 23%, respecti- cateamento da educação, fazendo subir artificial- vamente. mente as notas do ensino no Estado por meio de Quando questionados sobre o que o Governo de- uma mudança no sistema de atribuição de concei- veria fazer para melhorar a situação da educação, tos. Além disso, tem sido implantado de cima para da saúde e enfrentar a violência, as respostas foram: baixo, sem consulta a alunos e professores. Em “investir nos professores” (55%), “contratação de no- molde semelhante, tem sido implantado o ETIM nas vos profissionais” para a saúde (60%) e “combate à ETECs, que agora integra o médio ao técnico, di- corrupção e à má conduta de policiais” (51%). minuindo a carga de matérias essenciais para a for- Nesse novo momento que se abriu na política na- mação acadêmica como História, Geografia e Portu- cional, não podemos repetir as fórmulas e os velhos guês, e substituindo-as por matérias do Técnico, o bordões. A juventude pede novas respostas e ou- que resolve parcialmente um dos problemas, o da sadia nas ações. Os jovens vêm construindo novas profissionalização, mas agrava outros: dificulta o e criativas formas de atuar, de participar do debate acesso ao ensino Superior e debilita a formação hu- político e de interferir diretamente no rumo do país. mana e crítica. Disposição não falta e o recado é claro: acordamos Muitos governos vão ainda mais longe: abrem para lutar por mais direitos. a escola para a iniciativa privada e a transformam Dessa forma, a plataforma apresentada abaixo é em vitrine para a venda de cursos pagos de grupos uma expressão das bandeiras das Jornadas de Junho como o SENAC, Fundação Roberto Marinho, Oi, etc. de 2013. A força das ruas renovou e ampliou diver- Achamos que a educação brasileira precisa de muito sas bandeiras. Sistematizamos nossas reivindicações mais, e isso tem de ser construído por meio de um em 7 grandes pontos. processo que escute educador, demais funcionários da rede de ensino, aluno e comunidade. E estes pos- sam opinar e formular um novo Sistema Educacio- Educação nal. A escola pública deve ser mais antenada, demo- Segundo dados da pesquisa da Secretaria Nacional crática, inclusiva e aberta para a comunidade, conec- de Juventude, a desigualdade social existente na so- tada com as novas ferramentas tecnológicas e capaz ciedade se reflete também no nível de formação e de preparar o jovem para uma inserção ativa e crítica acesso ao ensino formal no Brasil. Entre classes de na realidade social do país e do mundo. baixa renda, cerca de 43% foram apenas até o ensino Em 2003, apenas 6% dos jovens de 15 a 24 anos ti- fundamental, 54% até o médio e 4% até o superior. nham Ensino Superior, número que hoje está na casa Nas classes de renda média, os números já se dife- dos 10%. Mesmo que as taxas de ingresso ao Ensino renciam, são 23%, 64% e 13%, respectivamente. En- Superior tenham aumentado nos últimos 10 anos, ele quanto, na classe alta, os números são 10% até o en- ainda é restrito e desigual. O vestibular funciona sino fundamental, 53% até o ensino médio e 37% até como um funil, através do qual se revelam as dife- o ensino superior. Segundo a PNAD (Pesquisa Na- renças entre o ensino público regular e o ensino pri- cional por Amostra de Domicílios) de 2012, o Bra- vado, de alto custo e padrão. A falta de investimento sil tem 13,2 milhões de analfabetos com 15 anos ou adequado em educação coloca as escolas públicas mais. A erradicação do analfabetismo continua a ser em situações precárias e dificultam o acesso do jo- CONTRIBUIÇÃO DA JUVENTUDE 85 vem de baixa renda à universidade pública. Assim, Ao mesmo tempo, o texto do PNE avança em di- por vezes ele ingressa em uma universidade privada versos pontos, como as metas de universalização da de qualidade inferior e tem de começar a trabalhar educação básica, implementação da gestão democrá- para pagar mensalidades caríssimas. tica nas escolas, erradicação do analfabetismo infan- Essa realidade precisa mudar. Defendemos a am- til, estabelecimento de um padrão mínimo de quali- pliação do investimento em educação pública para dade (com o Custo Aluno-Qualidade), entre outros. 10% do PIB, imediatamente. E precisamos avançar Nosso compromisso é com o fortalecimento da na discussão da universalização do ensino superior educação pública. Em um governo do PSOL, lutare- público. Devemos garantir, assim como em vários mos para conquistar a universalização da educação outros países, o livre acesso a uma universidade, em todos os níveis, com qualidade, laicidade e com sem o vestibular. garantia de retorno para a sociedade. O atual contexto da educação brasileira revela Para garantir uma formação emancipatória, pre- o fortalecimento da educação privada, em especial, cisamos de uma revolução pedagógica em todos os com a expansão desenfreada de vagas no ensino su- níveis de ensino, com ampliação das políticas de as- perior privado, representando mais de 70% do to- sistência estudantil e de democracia e participação. tal das matrículas. A partir dos incentivos dos últi- mos governos, com recursos públicos e isenções fis- Financiamento e Metas da Educação cais, aprofundou-se um processo de financeirização • Garantia de 10% do PIB para educação pública; da educação superior com formação de megaempre- sas do ramo. Enquanto isso, o ensino público em • Erradicação do analfabetismo e do analfabe- seus diversos níveis sofre com a falta de investimen- tismo funcional; tos, estrutura, corpo técnico e docente. Ganha cen- tralidade, assim, o debate sobre o financiamento pú- • Por uma política de expansão de vagas no en- blico da educação. Em 2013, o Brasil investiu cerca sino superior público, com garantia de inves- de 6,4% de seu PIB na área. Não é de hoje que os timentos suficientes para termos qualidade no movimentos de educação exigem o investimento de ensino e estrutura adequada nas IFEs, a fim de 10% das riquezas produzidas no país em educação se atingir a universalidade no acesso e o fim do pública, como forma de garantir qualidade, estru- vestibular. tura, expansão, permanência e acesso. Nos últimos anos, a principal arena de disputa Ensino Fundamental e médio foi o debate em torno do novo Plano Nacional de • Por uma reforma no ensino médio, fruto de Educação (PNE), documento que rege a educação amplo debate democrático; brasileira em um período de 10 anos. Após anos de tramitação no Congresso, em que os movimen- • Por uma educação laica; tos de educação fizeram dura luta em diversos pon- tos, em especial na parte do financiamento, o texto • Gestão democrática das escolas: eleições di- aprovado é altamente contraditório, abrindo brechas retas com voto paritário para diretor, funcio- para o maior fortalecimento da educação privada, namento democrático dos conselhos escolares principalmente no ensino superior. Da parte do go- com direito a voz dos estudantes; livre orga- verno federal, revela-se um apoio acrítico a progra- nização nos grêmios estudantis, sem interven- mas como o Prouni e Pronatec. Estes programas são ções do corpo de direção e coordenação; contraditórios em sua essência, uma vez que, se têm • Formação continuada dos professores e funci- o mérito de integrar milhares de jovens ao ensino onários de rede educacional; superior e ao técnico, têm igualmente a função de garantir altas taxas de lucro aos tubarões do ensino • Infraestrutura: cadeiras, mesas e lousa são ob- privado, às custas do dinheiro público. Eles devem jetos básicos que ainda não existem em muitas ser vistos apenas como emergenciais, não podendo escolas! Por mais bibliotecas, refeitórios, labo- ser considerados políticas de Estado, cabendo ao go- ratórios equipados; verno ter como meta que esses estudantes estejam no ensino público, tornando possível a universalização • Incentivo à produção cultural e à prática espor- do acesso. tiva com infraestrutura adequada; 86 CONTRIBUIÇÃO DA JUVENTUDE

• Reformulação da grade curricular buscando a • Pela regulamentação da Assistência Estudantil interdisciplinaridade; nas instituições privadas! Que as universida- des privadas tenham bibliotecas, restaurantes • Levar o debate da orientação sexual e da iden- universitários, moradia e bolsas. tidade de gênero, fortalecendo assim uma edu- cação humanista e não sexista/lgbtfóbica; Universidades públicas • Em defesa da autonomia pedagógica; • Financiamento destinado para a conclusão das obras inacabadas do REUNI; Ensino Técnico • Valorização de docentes e trabalhadores técni- • Melhor infraestrutura com laboratórios e ma- cos administrativos; quinários de ponta, e frequente manutenção;

• Professores valorizados com plano de carreira • Contratação de mais docentes com dedicação em dia, o que deve acontecer em todos os ní- exclusiva; veis do ensino; • Em defesa dos Hospitais Universitários 100% • Assistência estudantil para permanência dos públicos! Contra a EBSERH; estudantes nas escolas; Assistência estudantil • Bandejão estruturado para todas as escolas em tempo integral, a preços acessíveis e comida de • Fortalecimento da Assistência Estudantil com qualidade; a valorização do PNAES! Queremos R$2,5 bi- lhões com uma política de reajuste anual. • Ensino Técnico sensível às especificidades de cada região. • Ampliação das políticas de permanência em todos os campi, incluindo construção de mo- Democracia nas universidades radias, transporte gratuito, circular interno e ônibus intercampi, restaurantes universitários, • Eleições diretas e paritárias para reitores; creches e bolsas de estudos; • Fim das listas tríplices! Em defesa da autono- • Pela criação de Pró-reitorias de Acesso e Per- mia universitária; manência, com dotação orçamentária própria, • Paridade nos conselhos departamentais e ge- vinculada ao orçamento das universidades, ge- rais; rida por um conselho paritário como forma de garantir uma política institucional de perma- • Liberdade de organização e manifestação polí- nência estudantil democrática e isonômica en- tica. tre os diversos campi;

Universidades particulares • Que os critérios de concessão de bolsas sejam socioeconômicos, não meritocráticos; • Gestões democráticas que garantam a partici- pação estudantil; • Gestão democrática das moradias através de Conselhos Paritários; • Pela liberdade de organização do movimento estudantil; • Gratuidade de todo o material didático neces- sário. Disponibilização dos textos exigidos nas • Congelamento das mensalidades, contra o au- Bibliotecas e pela internet; mento; • • Regulamentação do Ensino Superior Privado; Direito à licença-maternidade e paternidade para as alunas e alunos com bolsas; extensão • Contra a mercantilização do ensino! Fim da fi- dos horários e prazos para entregas de traba- nanceirização das Universidades; lhos e provas; CONTRIBUIÇÃO DA JUVENTUDE 87

Acessibilidade branca têm 30% mais chances de ter emprego formal do que jovens negros. E os homens jovens possuem • Adaptação dos ambientes (rampas, barras de 25% mais chances de ter uma ocupação formal do apoio, corrimãos, pisos, sinalização tátil e ele- que as mulheres jovens. vadores) com planejamento adequado; Na juventude, são poucas as vezes em que o tra- • Disponibilização de livros em Braille nas bibli- balho é exercido nas condições protegidas pela Lei otecas; de Aprendizagem. Muitas vezes, o que há é um tipo de exploração do trabalho infantil e adolescente. De • Aquisição de computadores com interface de acordo com dados do Ministério do Trabalho, 45 mil acessibilidade, impressora braille, lupa eletrô- pessoas foram resgatadas de condições degradantes nica e outros materiais didáticos e pedagógi- de trabalho desde 1995. A OIT estima que em 2012, cos; cerca de 20,9 milhões de pessoas foram vítimas de trabalho forçado no mundo, número que inclui as • Intérpretes habilitados com as libras. vítimas de tráfico de seres humanos para exploração laboral e sexual. No Brasil, segundo a Divisão de Fis- Cotas JÁ! calização para Erradicação do Trabalho Escravo (De- • Consolidação da reserva de vagas para negros trae), órgão do Ministério do Trabalho e Emprego e estudantes oriundos de escola pública; (MTE), 2.750 trabalhadores foram encontrados em condições análogas à escravidão no ano de 2012. • Que haja desvinculação das cotas raciais e so- Por isso propomos: ciais; • Políticas que estimulem o ingresso dos jovens • Expansão de vagas em cursos noturnos, com no mercado de trabalho, assegurando proteção garantia de financiamento e aumento de políti- da legislação trabalhista e previdenciária; cas de permanência estudantil. • Fiscalização do cumprimento da Lei de Apren- dizagem, contra os empregos precários e ex- Juventude e Trabalho ploratórios; O emprego é uma das principais preocupações da • Por uma maior fiscalização do cumprimento juventude brasileira. A pressão para a entrada no da Lei do Estágio para jovens estudantes; mercado de trabalho é muito grande sobre os jovens. Seja para complementar a renda da família, garantir • Criação de empregos com igualdade de opor- sua autonomia financeira ou financiar seu estudos. tunidades entre homens e mulheres; A ampla maioria dos jovens tem sua primeira inser- • Pela remuneração dos jovens que trabalhem ção no mundo do trabalho mesmo antes de comple- nos megaeventos, contra o trabalho voluntário. tar 18 anos de idade (65%). No campo, 47% dos jo- vens entram no mercado de trabalho antes dos 15 Violência e Desmilitarização da Polícia anos. No mundo, metade da força de trabalho jovem Como revelamos acima, quando os jovens são ques- está desempregada ou subempregada, de acordo tionados sobre o que mais lhes preocupam, a mai- com dados da ONU. O fato é que a entrada dos jo- oria (43%) mencionou a violência. Tal dado é re- vens no mercado de trabalho é fortemente marcada velador de uma realidade cruel em nosso país. A pelas desigualdades sociais. O trabalho é mais des- violência hoje é, infelizmente, a marca de uma ge- gastante entre os jovens das famílias mais pobres. ração. Ela atinge todos os brasileiros e brasileiras, São eles os mais afetados pelo desemprego e pelas de todas as idades e classes sociais, em todo o ter- piores condições de trabalho. ritório do país. Porém, a vítima mais recorrente da Alguns dados da OIT são reveladores dessa rea- violência, segundo os números oficiais, tem perfil lidade: nas classes com renda alta, 65% dos jovens muito bem definido: jovem, negro e pobre. É ab- estão ou já estiveram em empregos formais e 16% solutamente impossível pensar qualquer política de apenas em informais. Nas classes de renda baixa, segurança para o Brasil sem tratar dessa parcela da 22% ocupa ou ocupou postos formais e 32% são em- população que sofre com o racismo cotidiano e insti- pregados informais. Sem contar que os jovens de cor tucional por parte da polícia. 88 CONTRIBUIÇÃO DA JUVENTUDE

De 1980 para 2011, o índice de morte de jovens • Desmilitarização da polícia: alterar a natureza negros cresceu na ordem de 207,9% no Brasil. Dados da atividade policial; extinguir a justiça mili- do Ministério da Saúde mostram que mais da me- tar para as polícias militares; revisar regimen- tade (53,3%) dos 49.932 mortos por homicídios em tos, códigos disciplinares e normas que regu- 2012 eram jovens. Desses, 76,6% negros (pretos e lamentem as polícias (civil, militar, federal), pardos) e 91,3% do sexo masculino. O programa Ju- adequando-os efetivamente à Constituição Fe- ventude Viva do Governo Federal revelou que, em deral de 1988; unificação das polícias estaduais 2012, 142 municípios brasileiros, distribuídos em 26 em único caráter de polícia civil, conforme pre- estados e no Distrito Federal, incluindo todas as ca- visto na PEC 51/2013; pitais, concentravam 70% dos homicídios contra jo- vens negros. • O direito à organização política dos trabalha- É possível afirmar que os homicídios são hoje a dores da Segurança Pública; principal causa de morte de jovens de 15 a 29 anos • Por um ciclo completo do trabalho policial no Brasil e atingem especialmente os jovens negros (preventivo, ostensivo, investigativo) pautado do sexo masculino, moradores das periferias e áreas pelos direitos humanos; metropolitanas dos grandes centros urbanos. Para esses, a polícia é sinônimo de medo e insegurança. • Pela presença do Estado nas periferias através Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, no se- da garantia dos direitos. Contra a militarização gundo semestre de 2013, apontou que 70% das pes- das cidades; soas não confiam no trabalho da polícia. Tal dado se soma ao de uma pesquisa recente da Anistia In- • Contra a privatização das prisões. ternacional: cerca de 80% dos brasileiros temem ser torturados pela polícia caso sejam presos. A brutal Direito à Cidade repressão às manifestações desde junho do ano pas- sado e as mortes de Amarildo, DG, Claúdia, entre Um dos mais graves problemas sociais do Brasil é a outros, trouxeram à tona o debate sobre a reforma falta de moradia. O Brasil está entre os países com do modelo policial vigente e a necessária desmilita- maior déficit habitacional do mundo, ao lado da Ín- rização da polícia. dia e África do Sul. O último estudo feito pela Fun- A solução para a violência no Brasil não é pren- dação João Pinheiro mostra que o déficit habitacio- der mais, não é endurecer o sistema penal. O Brasil nal quantitativo no Brasil é de 6.940.691 famílias, o já prende muito, somos o terceiro país no ranking que representa cerca de 22 milhões de pessoas. Os mundial que mais encarcera, ficamos atrás apenas sem-teto são, portanto, mais de 10% da população da China e dos Estado Unidos. Hoje temos um to- do país. O problema também se completa com o tal de 712 mil presos, são 358 presos para cada 100 chamado déficit habitacional qualitativo, que se re- mil habitantes. Dados do IPEA revelam que, em fere à inadequação das condições básicas para uma 2008, os indivíduos entre 18 a 29 anos constituíam vida digna. Este número é maior que o anterior: são 59,6% do total de presos do país. Os casos como o de 15.597.624 famílias nesta situação, isto é, cerca de 48 Pedrinhas, no Maranhão, e do Presídio Central de milhões de pessoas. Porto Alegre demonstram que a política de encarce- Mas ao contrário do que parece, não faltam casas ramento no país é insustentável. no Brasil. Existem 6.052.000 imóveis vazios no país, Em todas as situações acima descritas os jovens 85% deles teriam condições de serem ocupados por negros são os mais penalizados. É latente a neces- moradores. Ou seja, há tanta casa sem gente quanto sidade de combater com veemência o genocídio da gente sem casa. juventude negra e pobre no Brasil. Ainda, muitas vezes a juventude da periferia é Por isso propomos: obrigada pela especulação imobiliária a ocupar re- giões da cidade com grande vulnerabilidade ambi- • Fim dos Autos de Resistência e extinção ental, como encostas de morros, margens de rios e da categoria “resistência seguida de morte”, áreas de manaciais, colocando em risco suas pró- substituindo-a por homicídio/morte decor- prias vidas e também o meio ambiente. Nesse sen- rente de intervenção policial; tido, é de extrema importância que essas áreas de • Contra a Redução da Maioridade Penal; maior vulnerabilidade ambiental tenham um plano CONTRIBUIÇÃO DA JUVENTUDE 89 de manejo adequado e que também leve em consi- que precisamos de uma meia passagem de verdade, deração as necessidades da população que habitam que permita ao jovem estudante utilizar em todos essas regiões, sendo elaborado de forma participa- os dias da semana, inclusive feriados. Hoje em al- tiva e visando o equilíbrio entre a ocupação humana gumas cidades só é permitido usá-lo de segunda a e a preservação do meio ambiente. sexta. Não é porque não tem aula que deixamos de Existe grande deficiência do poder público em ser alunos. Os estudantes devem poder usufruir do garantir condições mínimas de infraestrutura, como meio-passe também para atividades culturais e de coleta de lixo, coleta e tratamento correto de esgoto lazer. A segunda é que os jovens estudantes de cur- e a água tratada, o que contribui para a degradação sinhos pré-universitários ou pré-vestibulares devem do meio ambiente – contaminando o solo, as águas e também ter acesso ao beneficio, afinal, também são o ar – e acarretando em graves problemas de saúde estudantes. devido à falta de saneamento básico. No Brasil, por Outro grave problema do sistema de transporte exemplo, apenas 61,76% dos brasileiros são atendi- público do país é a ausência de transporte coletivo dos por rede coletora de esgoto (que não necessari- 24 horas. Tal fato compromete não só a mobilidade amente é tratado) e 45% possuem acesso à água de e a segurança dos jovens que circulam pela cidade, forma satisfatória, segundo a Agência Nacional de mas também as mais diferentes categorias que tra- Águas. É preciso ampliar o acesso ao saneamento balham no turno da madrugada. básico para melhorar a qualidade de vida dos bra- Por fim, também precisamos ampliar propostas sileiros e impedir a contaminação do meio ambiente que incentivem o uso da bicicleta, que além de ser devido ao descarte incorreto. um meio de transporte excelente para pequenas e É nessa cidade desigual e opressora que vive a médias distâncias, não polui, não emite gases, é maioria da juventude brasileira. Para eles, a cidade é econômica. Para incentivar o uso, as ciclovias são como um grande palco de possibilidades, de encon- fundamentais. Nossa vereadora do Juntos em Porto tros, desencontros e descobertas. Grafitar muros, an- Alegre, Fernanda Melchionna, elaborou projeto que dar de skate, praticar esportes, se encontrar em pra- obriga as empresas de transporte coletivo de Porto ças e bares são formas de conquistar o espaços e de Alegre a disponibilizarem bike racks (suporte insta- ir definindo suas múltiplas identidades. lado na parte dianteira dos coletivos) nos ônibus, fa- As cidades devem possibilitar aos jovens o acesso cilitando a locomoção para pessoas que percorrem à educação, ao trabalho, ao transporte público, à cul- grandes distâncias e uma segurança em caso de im- tura e ao lazer de forma descentralizada, criando no- previstos. Ela também é autora de outro projeto que vas rotas e possibilidades que façam o espaço urbano autoriza a colocação de bicicletários nos estabeleci- realmente democrático, saudável e diverso. Mas o mentos comerciais. Iniciativas como essas são im- fato é que no sistema capitalista isso vai acontecendo portantes para incentivar o uso de bicicletas. de maneira bastante desigual. Uma boa parte da ju- Por isso propomos: ventude vive em espaços públicos precários e vio- • Tarifa zero no transporte público; lentos. E a distância por vezes torna outros espaços inacessíveis. • Garantia de meia passagem estudantil todos os As tantas mobilizações pelo país em junho de dias da semana, inclusive feriados. E garantia 2013 evidenciaram o problema do transporte nas de meia passagem para os estudantes de cursi- principais cidades, em geral muito caro, de péssima nho pré- universitários; qualidade e superlotado. É sabido que o transporte • Transporte Público 24 horas; coletivo é um filão bastante lucrativo para o empre- • Investimento massivo na construção de malha sariado. Em muitas cidades, existem verdadeiras ferroviária, recuperação de trechos abandona- máfias dos transportes. São cartéis que controlam dos de trens e incentivo à criação e expansão os preços e nivelam por baixo o oferecimento do ser- de trechos de metrôs nas grandes e médias ci- viço. dades; Em várias cidades do Brasil, após muita luta dos jovens, existe o meio-passe estudantil, que na prá- • Desenvolver e manter uma boa infraestrutura tica é o desconto de 50% no preço da tarifa para os para locomoção de pedestres e pessoas com de- estudantes. Mas há duas limitações desse projeto ficiências, com calçadas e travessias adequa- que precisam ser modificadas. A primeira delas é das; 90 CONTRIBUIÇÃO DA JUVENTUDE

• Por um plano de mobilidade urbana que leve A juventude é, sem dúvida, quem mais utiliza em consideração a bicicleta enquanto um meio as novas formas de comunicação no mundo. Dessa de transporte através, por exemplo, da criação forma, um dos grandes desafios políticos para a soci- de ciclovias seguras, com funcionamento diá- edade brasileira é o de democratizar o acesso a esses rio e que alcancem todas as zonas das cidades, instrumentos, tornando-os acessíveis a toda a popu- além da integração da bicicleta com outros mo- lação. Afinal, o direito à informação e à comunicação dais de transporte público; está garantido na Constituição Federal. Mas não é apenas o acesso às informações produ- • Pela Reforma Urbana! Desapropriação dos zidas pelos mais diferentes meios e suportes de co- imóveis ociosos e dos ocupados nos centros ur- municação que precisa ser democratizado, é preciso banos por movimentos de luta por moradia, também criar políticas que incentivem a criação de como MTST e a Frente de Resistência Urbana. novos meios e instrumentos de comunicação capa- Não às remoções e demais violações dos Direi- zes de garantir a expressão da pluralidade de vozes. tos Humanos; Todos os coletivos e indivíduos podem fazer sua • Contra a privatização dos espaços públicos e o parte na democratização das informações. Ferra- cercamento de praças e parques; mentas como blogs, vídeos e as redes sociais são muito importantes na produção de ideias e opiniões • Incentivar e assegurar a participação popular livres, pois fortalecem a produção independente e as no debate sobre planejamento urbano; diversidades regionais. A liberdade de informação e comunicação passa pela livre produção de ideias. • Elaboração participativa de planos de manejo Algumas das pautas que a juventude junto a ou- que visem o uso sustentável dos recursos na- tros movimentos vem construindo vão da digitaliza- turais e atender às necessidades da população; ção dos ambientes educacionais, o incentivo às no- • Ampliação ao acesso a saneamento básico com vas ferramentas de comunicação comunitária de Rá- destinação adequada de resíduos sólidos; dio e TV,mídias livres, cultura digital, até o incentivo ao desenvolvimento e utilização de softwares livres. • Ampliação nos sistemas de captação e distri- A defesa da liberdade da Internet, da privacidade buição de água tratada. às informações do cidadão e da máxima transparên- cia dos governos devem ser bandeiras permanentes Democratização da Comunicação, da In- dos jovens. Na era da informação digital e do mundo conectado em rede, essas postulações nunca foram formação e da Cultura tão importantes. Essa é a chave entre as lutas da ju- Segundo a pesquisa da Secretaria Nacional de Ju- ventude indignada no mundo e no Brasil com ati- ventude, 83% dos jovens usam a televisão aberta vistas como Edward Snowden, Chelsea Manning e como meio de informação, 56% a Internet, 23% os Julian Assange. jornais impressos, 21% as rádios comerciais e 17% a No sentido de promover liberdade e privacidade TV paga. Computador e Internet são usados por 75% na Internet, a aprovação do Marco Civil trouxe avan- dos jovens e 89% têm celular. Enquanto a TV aberta é ços. A defesa do princípio da neutralidade na rede o principal canal de informação dos jovens de baixa é fundamental. Porém, algumas ressalvas são im- renda (91%), a Internet é o meio de informação mais portantes. A versão do projeto sancionado pela pre- acessado entre os mais ricos (73%). sidenta Dilma foi uma mediação com as empresas Mesmo dentro das diferenças sociais de acesso à de telecomunicação e abre brechas para violações do Internet, há um crescimento expressivo do seu uso. princípio da neutralidade por parte das empresas. A cada dia estamos mais conectados, seja pelas re- No artigo 15, o projeto aprovado regulamenta que as des socias, pelos smartphones etc. Baixamos músi- empresas podem ter a guarda dos registros de acesso cas, filmes, séries e criamos nossas próprias formas a aplicações da Internet por 6 meses, constituindo de nos expressar e de compartilhar conteúdos e co- uma séria violação de privacidade. Tal fato foi cri- nhecimentos. Tudo é muito mais dinâmico. Com ticado por vários ativistas que participaram do pro- uma câmera digital, celular ou tablet na mão, os jo- cesso de criação do Marco Civil. Houve uma cam- vens vão reinventando as formas de se comunicar e panha pelo veto do artigo que não foi atendida pela muitas ideias novas surgem. presidenta Dilma. CONTRIBUIÇÃO DA JUVENTUDE 91

Além disso sempre foi comum o choque entra a Por isso propomos: realidade e a versão midiática dos fatos, em espe- cial quando se trata da cobertura de manifestações. • Fim do monopólio e do oligopólio nos meios Nas Jornadas de Junho de 2013 ouviu-se novamente de comunicação; o grito “A verdade é dura, a Rede Globo apoiou a di- • Por um novo marco regulatório para as comu- tadura!”. Com esse grito os manifestantes queriam nicações no país; anular a suposta neutralidade de informações apre- sentada pela Globo. As grandes emissoras, em sua • Regulamentação da publicidade estatal; maioria, sempre foram um editorial a serviço dos in- • Criação e garantia de instrumentos de partici- teresses da classe dominante e dos governos deste pação popular e controle social da mídia, in- país. A grande mídia faz de tudo para favorecer a clusive, da produção de conteúdo; hegemonia dos donos do poder, reproduzindo este- reótipos e preconceitos. • Asilo para Snowden no Brasil. Asilar Snow- Por outro lado, na periferia, os chamados grupos den no Brasil é dar uma demonstração de força culturais funcionam como antídotos à dita “discri- da cidadania e dos povos unidos pelos Direitos minação por CEP”. Frequentemente estigmatizados, Humanos; a cultura periférica raramente é divulgadas através • Incentivo à lan-houses públicas nas cidades; dos grandes veículos de comunicação. A existên- cia de coletivos e grupos culturais amplia os espa- • Garantia da neutralidade na rede, direito à pri- ços de experimentação, de criação estética, e vão vacidade, contra a guarda de registros por em- construindo laços de pertencimento que (re)afirmam presas e governos; identidades. O Funk e o Hip-Hop, por exemplo, sur- • gem como movimentos de resistência, de comunica- Universalizar a Internet no Brasil. Disponi- ção e de identidade. Fala-se da sua realidade para bilizar conexões velozes em todos os lugares, ela mesma. E constituíram-se como movimentos cul- a qualquer momento, por preços razoáveis ao turais importantes no processo de conscientização consumidor e wi-fi livre e gratuito nos espaços e mobilização desses jovens por direitos, seja ele o públicos das cidades, nas escolas e nas univer- simples direito de existir. sidades; Edi Rock, rapper e compositor brasileiro, chama • Ensino de computação/criptografia nas esco- a atenção que para lutar contra o genocídio da pe- las visando a segurança digital, inclusão digi- riferia deve-se prestar mais atenção aos coletivos de tal com software livre; cultura que ali se constituem. Neles se traduzem a realidade vivida por estes jovens. São eles os pro- • Uso exclusivo de software livre nos órgãos go- tagonistas da vida real contando a sua própria re- vernamentais; alidade. As músicas, por exemplo, são o meio de • Apoio à comunicação comunitária e popular, comunicação encontrado por jovens para expressar com garantia de recursos via publicidade go- de alguma forma aquilo que pensam, sentem e co- vernamental. Contra a criminalização das rá- nhecem. É por isso que é tão importante estimular a dios comunitárias e os veículos de mídia inde- produção cultural que empodera seu povo. As polí- pendentes e populares; ticas públicas da cultura devem estar voltadas para a criação de mecanismos que garantam a produção • Garantia da implementação do Marco Civil da independente (regional e nacional), para a garantia Internet; da veiculação nas tevês, rádios, Internet e cinemas, • Apoio à campanha Para Expressar a Liberdade além de incentivos governamentais a sua produção. e à aprovação do Projeto de Lei da Mídia De- A lei que reconhece o funk como cultura, apro- mocrática, uma nova lei geral das comunica- vada em 2009 no estado do Rio de Janeiro, foi um ções; avanço. Mas, logo depois, a prefeitura do Rio deu poderes à PM para proibir os bailes funk na cidade. • Pela criação de espaços de cultura e lazer No início, a desculpa é que os bailes eram locais de aos jovens, como bibliotecas, praças, pistas de ação de traficantes, mas mesmo em comunidades skate e ginásios esportivos, sobretudo para a hoje “pacificadas”, os bailes continuam proibidos. juventude das periferias; 92 CONTRIBUIÇÃO DA JUVENTUDE

• Fomento a Planos Nacionais de incentivo à lei- do Nascituro”, que torna a gravidez, até em casos de tura; estupros, obrigatória. E dá ao estuprador o status de pai. • Fomento a estúdios públicos de gravação; rá- Nas universidades a precariedade das políticas dios e TVs comunitárias: criação de estúdios de permanência estudantil atinge as mulheres de públicos municipais, Rádios, WebRadios, TVs maneira muito especial, já que somos nós que sofre- e WebTVs, espaços para produções autônomas mos com a dupla ou tripla jornada de trabalho, que para os movimentos de periferia poderem ca- inclui o estudo, o cuidado com a casa e, em muitos nalizar o seu trabalho de forma independente; casos, o emprego. O alto índice de evasão dos cur- • Presença dos movimentos culturais de perife- sos pelas mulheres se dá principalmente pelo fato de ria na programação dos centros culturais e ca- não contarem com uma estrutura que dê conta des- sas populares de cultura; sas demandas, o que faz com que, além de dificultar uma formação de qualidade, provoque um distanci- • Pela destinação de 2% do PIB para a Cultura. amento dos espaços de articulação política. A luta Em 2013 foram gastos 0,05% do PIB apenas; por mais bolsas de estudos, maior número de vagas • Meia-entrada é um direito da juventude! Pelo nas moradias e nas creches, dentre outras reivindi- fim da restrição de 40% da bilheteria para a cações do movimento estudantil por permanência, meia entrada, aprovada pelo Estatuto da Ju- também devem levar em conta o recorte de gênero ventude. na perspectiva de superação dessa discriminação. Além disso, muitas jovens mulheres, ao se tor- Direitos Democráticos narem mães, têm dificuldades de manter os seus es- tudos por falta de políticas que garantam sua per- A luta das mulheres manência nas escolas e universidades. Para as mães A luta das mulheres se potencializou no cenário polí- jovens e trabalhadoras também há a dificuldade de tico brasileiro, mesmo antes de junho de 2013. A na- garantir vaga para seus filhos em creches públicas. cionalização das Marchas das Vadias - desde 2011 - Por isso propomos: colocou as pautas do feminismo de volta às manche- • Salário igual para trabalho igual; tes. As jornadas de junho, enfim, fortaleceram ainda mais a luta das vadias. Nas grandes manifestações • Por restaurantes, lavanderias públicas e cre- do ano passado, as mulheres, sobretudo as jovens, ches em período integral nos locais de traba- foram protagonistas e parte expressiva das mobili- lho, moradia e estudo; zações. Hoje podemos fazer um balanço mais completo • Por mais creches públicas; do que significou o governo Dilma para as mulhe- • Licença-maternidade de seis meses para as res: a conquista simbólica de uma mulher ser a pri- mães, e de um mês para os pais; meira presidenta do país deixou muito a desejar para o aprofundamento dos diretos das mulheres. • Pela humanização do parto; A questão da violência contra a mulher é emble- • Acesso universal a um programa de saúde pú- mática neste sentido. No Brasil, nos primeiros 4 me- blica para todas as fases da vida da mulher; ses de 2014, foram quase 1,7 mil denúncias de abuso sexual contra crianças e adolescentes pelo Disque • Distribuição de contraceptivos gratuitos; 100. Sendo que cerca de 70% dos estupros aconte- cem em ambientes domésticos. Este é um problema • Legalização do aborto realizado pelo Estado no sério, em que a maioria das vítimas são do gênero sistema público de saúde; feminino, mas que deve ser tratado como um pro- • Acesso universal à educação em todos os seus blema global. A campanha “não mereço ser estu- níveis, de qualidade e não sexista; prada” tomou as redes para conscientizar a socie- dade, com grande adesão da juventude. É necessário • Por Casas-Abrigo, Delegacias da Mulher, e o fortalecimento de mecanismos, como a Lei Maria Hospitais/ambulatórios para mulheres víti- da Penha, que combatem à violência doméstica. Pre- mas de violência sexual com funcionamento 24 cisamos também rechaçar projetos como o “Estatuto horas; CONTRIBUIÇÃO DA JUVENTUDE 93

• Fim da revista vexatória às mulheres parentes na arte, na cultura, na mídia, na política... na socie- de detentos. dade. Apesar da discriminação, da exclusão – indi- ferença – existem expressões fortes da cultura afro, que resistem e persistem no seio das manifestações Negras e Negros sociais do Brasil. O debate sobre a temática racial Segundo dados do IBGE de 2012, a população negra no Brasil deve ser realizado amplamente e apesar do abarca 50,7% da sociedade. Na pesquisa do Perfil da abismo existente entre negros e brancos temos con- Juventude Brasileira, realizada pela Secretaria Naci- quistas, principalmente no campo das políticas de onal de Juventude, 60% dos entrevistados se decla- identidade e de reconhecimento. O estabelecimento raram de cor preta ou parda. Tais dados revelam um do 20 de novembro como Dia Nacional da Consci- aumento dos negros que assumem sua negritude. ência Negra e o reconhecimento de Zumbi dos Pal- Revelam também que a autoafirmação de identidade mares como herói nacional são um exemplo. Há cresce proporcionalmente. A juventude negra tem se também a Lei no 10.639/2003, que inclui, no currí- levantado contra o racismo apropriando-se da cul- culo escolar, o ensino da história afro-brasileira, bem tura, ocupando espaços públicos como o das univer- como a valorização da estética e da cultura negra. sidades, e assumindo cada vez mais a identidade na- Ampliou-se o diálogo com o Estado na luta por direi- tural de seus cabelos e corpos. Mostrando que ado- tos, incluindo na agenda nacional o reconhecimento tar a identidade negra não se trata apenas de um ato e o combate às profundas desigualdades sociais en- estético, mas também político. tre negros e brancos, com a adoção das políticas de A afirmação da identidade negra é uma luta de ações afirmativas. extrema importância. A estética branca (seja no pa- Mas os desafios ainda são grandes. drão de beleza, no cabelo liso ou mesmo no tipo de Por isso propomos: arte mais ligada aos europeus) se impõe, desde à época das colônias, sobre a estética e a cultura ne- • Defesa das ações afirmativas: cotas na Gradua- gra. Por isso é tão importante os movimentos de cul- ção, Pós- Graduação e nos Concursos Públicos; tura da periferia. Fortalecer o rap, o funk, as rodas • Pelo fim das desigualdades econômicas e soci- de samba, as religiões de matizes africanas é reacen- ais entre negros e brancos; der a chama da cultura que veio da África. O cabelo black power, a não aceitação dos padrões europeus • Pelo respeito e incentivo à cultura negra no de beleza, tudo isso faz parte de um processo de re- Brasil afirmação da cultura do povo negro. É preciso fazer mais pela cultura: é preciso mostrar a história que Direitos LGBTs tentaram apagar. O batuque, os gostos, a roupa e o cabelo dos negros são parte da cultura e da identi- Apesar de alguns avanços nos últimos anos, a luta dade brasileira. da comunidade LGBT por direitos permanece neces- Um país cuja população negra é maioria tem a sária. No ano que marca os 40 anos da Revolta de necessidade de políticas públicas que combatam o Stonewall, momento histórico do movimento LGBT, racismo. Mais de 70% da população em situação de ainda vivemos em um mundo em que milhares de extrema pobreza são de negros e negras. Para com- jovens são mortos em crimes de ódio por sua orien- bater o preconceito e a discriminação na perspectiva tação sexual ou identidade de gênero. A luta contra de reduzir a vulnerabilidade desse sujeito, precisa- a LGBTfobia deve ser diária. mos de investimentos e da articulação de políticas A homofobia, a transfobia ou lesbofobia se ma- sociais nos campos da educação, do trabalho, da cul- nifestam de diversas formas. Se às vezes permane- tura, do esporte, da saúde e do acesso à justiça. Por cem apenas na violência verbal e simbólica – como isso, defendemos as ações afirmativas como medidas através de piadas e do bulling – nos casos mais ex- imediatas de ampliação do acesso aos direitos. tremos se manifestam em agressões físicas que le- Desde o início de nossa história os negros são tra- vam muitas vezes à morte. No Brasil, um LGBT é tados com inferioridade, sem direitos e relegados a assassinado a cada 26 horas. O Grupo Gay Bahia uma vida indigna e desumana. Ainda hoje, os po- contabiliza um aumento de 27% nos homicídios vos negros têm dificuldade em mostrar o seu va- homo/lesbo/transfóbicos no Brasil em relação ao lor, de serem sujeitos históricos de suas realidades ano passado: 266 pessoas mortas por amarem pes- 94 CONTRIBUIÇÃO DA JUVENTUDE soas do mesmo sexo ou não se identificarem com o Despindo-se de tabus, é preciso discutir o tema com gênero que lhes é imposto. profundidade. Em nosso país o avanço da plena cidadania LGBT O primeiro ponto é o tráfico de drogas. Segundo é impedido pelo governo do PT que, em nome de a ONU, temos a terceira maior população carcerária uma pretensa “governabilidade”, alia-se ao funda- do mundo. No caso do Brasil, mais da metade da po- mentalismo religioso e aos setores mais conservado- pulação carcerária é devido ao tráfico de drogas. Em res da nossa sociedade. Em 2011, o governo Dilma 40% dessas prisões houve apreensão de quantidades vetou o Kit Escola Sem Homofobia, destinado a ensi- pequenas, sem envolvimento com organizações cri- nar as crianças o respeito pela diversidade, alegando minosas. Quase 80% eram jovens e mais de 50% do que seu governo não fazia “propaganda de opção se- total eram negros. Os jovens e negros têm sido os xual”. Queremos que o Kit Escola Sem Homofobia principais alvos desta guerra. seja aprovado e adaptado para combater a transfo- Dados do DEPEN revelam que, entre 2005 e bia também. Precisamos avançar mais na conquista 2012, a população prisional cresceu 52%, enquanto dos nossos direitos! os presos por tráfico cresceram 194% no mesmo pe- Foi com muita mobilização, nas ruas e nas redes, ríodo. Isso é insustentável! O projeto de Jean Wyllys que o projeto de Lei da “cura gay” foi arquivado, e não pretende “liberar” o comércio da maconha, mas é com essa força que todo o conjunto do movimento regulá-lo. É incontestável que a legislação existente LGBT no país deve firmar suas posições em defesa é ineficaz. Precisamos retirar o controle das mãos do do Estado laico, articulando suas ações com os po- tráfico e repassar para as mãos do Estado. deres públicos no sentido de combater a violência O segundo tema é o da saúde pública. Drogas lí- homo/lesbo/transfóbica e todas as formas de discri- citas ou ilícitas causam danos à saúde, por isso, é pre- minação legal que a legitimam. ciso perguntar-se: como reduzir esses danos? A po- Por isso propomos: lítica de proibição tem sido ineficaz para diminuir o consumo. E, neste caso, o problema tem sido tratado • Defesa do Projeto de Lei João Nery de identi- na esfera da segurança pública e não como um pro- dades de gênero e nome social; blema de saúde. O comércio ilegal de droga emprega • Defesa da aprovação pelo Congresso Nacional mão-de-obra barata disponível nas favelas, vende do casamento civil igualitário; substâncias misturadas, que prejudicam ainda mais a saúde e são a porta de entrada para drogas mais • Defesa da Educação para a Diversidade. Proje- baratas e letais, como o crack. Tudo para financiar o tos pedagógicos nas escolas que ensinem sobre tráfico de armas e a corrupção. a diversidade sexual, afim de estimular a tole- O fato é que a política de drogas no país está com- rância e acabar com o preconceito; pletamente falida. Seja porque a guerra às drogas • Defesa da aprovação do Kit Escola Sem Homo- serve mais como justificativa para a violência do Es- fobia com adaptação para o combate à transfo- tado nas periferias, ou porque o tema não tem sido bia; efetivamente tratado como um problema de saúde pública. Sendo assim, os jovens seguem morrendo • Pela criminalização da homofobia, da lesbofo- muito pelas mãos da polícia e do tráfico, e também bia e da transfobia. acometidos muitas vezes pelo vício. No primeiro caso, o Estado é diretamente responsável e no se- Política de Drogas gundo, é omisso. A política proibicionista hoje vigente no Brasil cobra Por isso propomos: um alto preço em vidas humanas e recursos públi- cos desperdiçados. Nos últimos anos, as Marchas da • Legalização da Maconha; Maconha pelo Brasil ganharam força e voz. Através delas, milhares levantaram a bandeira da legaliza- • Regular a pesquisa, uso medicinal da Canna- ção do uso e da produção de maconha. Após a deci- bis; são do governo uruguaio, o debate estampou capas de jornais e revistas, ganhou as redes sociais e che- • Implementar uma política de prevenção do gou ao Congresso Nacional, com o PL de autoria do uso problemático e de redução de danos via deputado Jean Wyllys, do PSOL do Rio de Janeiro. Sistema Único de Saúde. CONTRIBUIÇÃO DA JUVENTUDE 95

Memória, Justiça e Verdade • A revisão da Lei de Anistia, exigindo o julga- mento e possível punição para os torturadores; Neste ano, completam-se 50 anos do Golpe Militar. Ainda temos muito o que avançar para consolidar • Nenhuma homenagem aos torturadores: subs- nossa democracia. A ditadura militar produziu se- tituição de toda referência aos ditadores e seus quelas que até hoje são sentidas no dia a dia pelo aliados nos logradouros e instituições públicas; povo brasileiro, sobretudo pelos pobres, negros e moradores de periferias urbanas, em quem recai a re- • Fortalecimento da Comissão da Verdade e sua pressão cotidiana de uma das polícias mais violentas atualização em “Comissão da Verdade, Justiça do mundo. Estudos da psicanalista Maria Rita Kehl e Memória”: ampliação da verba destinada e apontam que a polícia militar brasileira é a única da acesso irrestrito aos documentos. América Latina que comete mais homicídios e cri- mes de tortura na atualidade do que durante o pe- Por uma reforma política radical ríodo da ditadura militar. Ivo Herzog, filho do jorna- lista Vladimir Herzog, comparou o caso do pedreiro As antigas formas de participação política não nos Amarildo ao assassinato de seu pai nas dependên- contemplam mais. Queremos interferir diretamente cias do DOI-Codi em São Paulo durante a ditadura em como se organizar nossa escola e nossa universi- militar. dade, em como são tomadas as decisões em nossas Se há um traço que distingue a ditadura brasi- cidades, queremos tomar as principais decisões polí- leira das demais ocorridas na América Latina, não é ticas em nosso país. Não nos basta votar de dois em a “brandura” afirmada pela Folha de São Paulo, mas dois anos, precisamos participar e intervir, discutir e sim a ausência de uma justiça de transição e a total decidir. impunidade dos responsáveis pelos crimes bárbaros As mobilizações de junho de 2013 mostraram que aqui cometidos. O Brasil é o único país da região o atual sistema político não representa nosso povo e onde os torturadores nunca foram julgados. Nosso é incapaz de traduzir nossos anseios. É necessário Exército jamais reconheceu os crimes cometidos no avançar na radicalização da democracia. Para isso, regime militar e dirigentes das Forças Armadas che- é necessária a realização de uma Assembleia Cons- gam ao cúmulo de taxar de “ressentidos” aqueles tituinte Exclusiva e Soberana responsável por uma que lutam pela memória e reparação dos crimes da profunda reforma política, que retire os privilégios Ditadura! dos poderosos em favor do povo, com mais meca- A instalação da Comissão Nacional da Verdade nismos de representação e participação popular. Os em maio de 2012 foi um passo importante para que jovens podem mudar o futuro do país e o caminho o povo brasileiro tenha acesso a informações que os eleito por eles é “a participação e mobilização nas militares golpistas e seus aliados políticos gostariam ruas e ações diretas”, como diz a pesquisa divulgada de manter escondidas. Entretanto, os trabalhos da acima. Seguiremos firmes nas ruas emparedando Comissão sofrem uma séria limitação: a recusa do governos, lutando por nossos direitos e alcançando Governo Dilma em propor revisão à Lei da Anistia vitórias. E a reforma política deve ser parte funda- (Lei no 6.683/1979), a qual impede a punição dos mental desse processo, onde se busca revolucionar o torturadores e assassinos da Ditadura. Pressionado modo que se faz política no país. pelas forças militares, o Governo quer apenas uma Por isso propomos: “justiça parcial”, que na prática significa manter a • injustiça e a impunidade. Financiamento das campanhas eleitorais ex- clusivamente público, pela igualdade entre to- É fundamental que seja intensificada a pressão dos na realização de campanhas; popular pela revisão da Lei da Anistia, de modo a permitir que os criminosos da Ditadura sejam res- • Proibição de cabos eleitorais pagos, sendo tal ponsabilizados por seus atos. Devemos seguir o prática crime eleitoral. Que a política seja feita exemplo dos nossos vizinhos argentinos, chilenos e por ideias e não por dinheiro; uruguaios, que colocaram na cadeia os seus ditado- res. Precisamos enterrar práticas do passado que de- • Instituição da revogabilidade de mandatos por finitivamente não devem se repetir no presente! parte dos eleitores. Quem não cumpre o que Por isso propomos: promete deve perder o mandato; 96 CONTRIBUIÇÃO DA JUVENTUDE

• Facilitação para apresentação de projetos de opinar; leis de iniciativa popular. Que os jovens pos- sam legislar; • Garantia de candidaturas avulsas, sem neces- • Radicalização da democracia por meio de re- sidade de filiação partidária. Que a juventude ferendos e plebiscitos,. Que os jovens possam escolha seus representantes. AGRADECIMENTOS 97

Agradecimentos

Andreia Bianchi, Áquilas Mendes, Atletas pelo Brasil, Bom Senso FC, Bruna Ballarotti, Bruno Mandelli, Bruno Zaidan, CONATRAE, CSP-Conlutas, Camila Souza Menezes, Camila Souza Ramos, Carla Ferreira, Coalizão Democrática por Eleições Limpas, Coletivo Curupira, Deusdedith Pereira, Eduardo Amaral, Felipe Corneau, Felipe Monte, Felipe Oliva, Fórum Nacional de Democratização da Comunicação, Gabriel França, Gabriel Lin- denbach, Giulia Tadini, Greenpeace, IPEA, Instituto Sou da Paz, Intersindical, Intervozes, Ivone Pitta, José Afonso da Silva, José Ibiapino, João Alfredo, Juca Kfouri, Juninho, Kauê Batista Scarim, Laura Cymbalista, Le- onel Camasão, Linnesh Ramos, Lucio Gregori, Luiz Araújo, Lujan Miranda, Maia Fortes, Mandato Deputado Estadual Marcelo Freixo (PSOL/RJ), Mandato Deputado Federal Chico Alencar (PSOL/RJ), Mandato Depu- tado Federal Ivan Valente (PSOL/SP), Mandato Deputado Federal Jean Wyllys (PSOL/RJ), Mandato Vereador Toninho Vespoli (PSOL/SP), Maria Lucia Fatorelli, Mathias Luce, Movimento Terra Livre, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Nathalie Drumond, Nilson de Souza, Nós da Sul, Partido da Cultura, Pastoral da Terra, Pedro Ekman, Plataforma dos Movimentos So- ciais pela Reforma Política, Plínio de Arruda Sampaio, Rede Justiça Criminal, Repórter Brasil, Rodrigo Ávila, Samara Castro, Setorial Ecossocialista do PSOL, Setorial LGBT do PSOL, Setorial de Comunicação do PSOL, Setorial de Direitos Humanos do PSOL, Setorial de Mobilidade do PSOL, Setorial de Mulheres do PSOL, Seto- rial de Saúde do PSOL, Silvie Klein, Tiago Madeira, UNESCO, União dos Ciclistas do Brasil, Vladimir Safatle, Zelito Silva