O Estigma Da Branquitude Nos Escritos De Lygia Fagundes Telles
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UNESP UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Faculdade de Ciências e Letras Campus de Araraquara - SP VANESSA APARECIDA VENTURA RODRIGUES O estigma da branquitude nos escritos de Lygia Fagundes Telles ARARAQUARA – S.P. 2020 VANESSA APARECIDA VENTURA RODRIGUES OO EESSTTIIIGGMMAA DDAA BBRRAANNQQUUIIITTUUDDEE NNOOSS EESSCCRRIIITTOOSS DDEE LLYYGGIIIAA FFAAGGUUNNDDEESS TTEELLLLEESS Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Estudos Literários da Faculdade de Ciências e Letras – Unesp/Araraquara, para o Exame de Defesa, e como requisito para obtenção do título de Doutora em Estudos Literários. Linha de pesquisa: Teorias e Crítica da Narrativa Orientadora: Guacira Marcondes Machado Leite ARARAQUARA – S.P. 2020 VANESSA APARECIDA VENTURA RODRIGUES OO EESSTTIIIGGMMAA DDAA BBRRAANNQQUUIIITTUUDDEE NNOOSS EESSCCRRIIITTOOSS DDEE LLYYGGIIIAA FFAAGGUUNNDDEESS TTEELLLLEESS Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Faculdade de Ciências e Letras – UNESP/Araraquara, como requisito para obtenção do título de Doutora em Estudos Literários. Linha de pesquisa: Teorias e Crítica da Narrativa Orientadora: Guacira Marcondes Machado Leite Data da defesa: 30/06/2020 MEMBROS COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA: Presidente e Orientador: Profa. Dra. Guacira Marcondes Machado Leite Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Araraquara) Membro Titular: Profa. Dra. Tatiane Pereira de Souza Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Membro Titular: Profa. Dra. Elisângela de Jesus Santos Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET – RJ) Membro Titular: Profa. Dra. Claudia Fernanda de Campos Mauro Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Araraquara) Membro Titular: Prof. Dr. Paulo César Andrade da Silva Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Araraquara) Universidade Estadual Paulista Faculdade de Ciências e Letras UNESP – Campus de Araraquara Dedico este trabalho à memória de minha avó Benedicta Cândida Vicente de Almeida Ventura. AGRADECIMENTOS Às mulheres pilares da minha vida: Aparecida Ventura Rodrigues, minha mãe, e Josiléa Eva da Silva, minha irmã, por existirem e darem contorno a minha existência. Aos meus sobrinhos e peças chave: Cleiton, Mailon, Anderson e Juninho. Próximos ou distantes, por guiar meus pensamentos. Ao pai, Anésio Rodrigues, que apesar da distância, ensinou-me que a caneta pesa menos do que a enxada. À querida orientadora e amiga Guacira Marcondes Machado Leite, sem a qual nada disso seria possível; deu-me a mão lá em 2005 e vem sendo Luz para o meu trilhar acadêmico. Ao professor Doutor Jorge Valentim por abrir os caminhos de uma literatura de escrita negra e africana À amiga Jéssica Fabrícia da Silva por me escolher como parceira de seminário obrigando-me a ler o livro ‘Esse cabelo’ da escritora Djaimilia Pereira de Almeida À minha querida professora do Ensino médio escolar Dona Edna Gonçalves Balbino por ter me apresentado Lygia Fagundes Telles e ser a responsável pela minha paixão literária. Ao amigo, companheiro e irmão Geander Barbosa, cuja presença foi presente dos orixás; que possamos seguir pra sempre inquebrantáveis Ao amigo Rafael Masotti, pelas tão divertidas e complexas reflexões sobre Literatura e Existência pelas ruas da Pauliceia Desvairada. Ao amigo Tailon Rodrigues Almeida pelas longas conversas sobre negritude e, principalmente, por me apresentar Frantz Fanon, leitura que abriu tantos caminhos. Ao amigo Márcio, por me apresentar a obra de Toni Morrison, escritora que, certamente, irá me acompanhar para sempre Aos meus alunos por serem estrelas luzindo em meu caminho dando-me força para seguir lendo, refletindo e ensinando À figura tão singular e especial de meu marido Dennis García García, que ao longo da escrita da tese, fez-me enxergar que o Tempo é o presente mais bonito que podemos dar um ao outro. À minha gatinha Catarina, que neste ano completou 7 anos ao meu lado, acompanhando as angústias e conquistas que todas essas leituras trouxeram E, por fim, a todas as mulheres que um dia lutaram para eu chegasse onde estou e que pudesse fazer da leitura e da escrita caminhos e lutas para dias melhores. Vozes - Mulheres A voz de minha bisavó ecoou criança nos porões do navio. ecoou lamentos de uma infância perdida. A voz de minha avó ecoou obediência aos brancos-donos de tudo. A voz de minha mãe ecoou baixinho revolta no fundo das cozinhas alheias debaixo das trouxas roupagens sujas dos brancos pelo caminho empoeirado rumo à favela A minha voz ainda ecoa versos perplexos com rimas de sangue e fome. A voz de minha filha recolhe todas as nossas vozes recolhe em si as vozes mudas caladas engasgadas nas gargantas. A voz de minha filha recolhe em si a fala e o ato. O ontem – o hoje – o agora. Na voz de minha filha se fará ouvir a ressonância O eco da vida-liberdade. (Conceição Evaristo, 2008) RESUMO Este trabalho tem como objetivo investigar a aparição de personagens negras nas obras produzidas por Lygia Fagundes Telles, contos e romances, e demonstrar o quanto a elaboração dessas personagens segue um enraizamento de estereotipação, ao inserir a mulher negra sempre como imagem do subalterno. O intuito é observar e provar que, sejam textos produzidos na década de 1950, 1960 ou 2000, a mulher negra ocupa o mesmo lugar: o da subalternidade, existente desde o surgimento de uma literatura colonial. Muito se tem investigado sobre a obra de Lygia Fagundes Telles: a literatura de escrita feminina, o fantástico, a memória, entre outros temas, e faz-se necessário enfatizar que o fio que tece a sua produção artística é o embate da mulher frente ao mundo patriarcal, o desejo de Liberdade em seu sentido mais amplo. Porém, faz-se necessário pensar nos limites dessa mulher com a qual Lygia está produzindo a sua narrativa, e qual é o seu lugar de fala; assim, esses questionamentos fizeram nascer os anseios deste trabalho: Lygia ou a própria crítica literária ousaram nomear essa mulher em algum momento da trajetória de escrita da autora? Notando, assim, a inexistência desse olhar para a obra da escritora, nosso objetivo maior nesta tese é verificar em que medida as condições sociais, históricas e ideológicas possibilitam a construção histórico-discursiva do corpo feminino, majoritariamente branco em sua obra, delimitando esse corpo a partir da posição social que a autora ocupa, e deixando o corpo negro à margem da escrita literária. Palavras – chave: Invenção, memória, subalternidade, feminino, mulher negra, patriarcado. ABSTRACT This thesis aims to investigate the apparition of black characters in the works produced by Lygia Fagundes Telles, short stories and romances, and demonstrate to what extent the elaboration of these characters follow stereotype roots, portraying frequently the black woman in a subaltern condition. The object is to observe and prove that in texts written in different decades, such as in 1950, 1960 or in 2000, black women occupy the very same place: the one of subalternity, which persists since the emergence of a colonial literature. The work of Lygia Fagundes Telles has been researched in great detail: the feminine writing literature, the fantastic, the memory, among other themes −and it’s necessary to emphasize that what conduces her artistical production is the clash of women against the patriarchal world, the wish of freedom in its widest sense. However, after reflecting about which woman Lygia is producing her narrative with, where she speaks from, these questions brought to existence the desires of this work. Lygia or even her literary criticism dared to nominate this woman in any moment in the journey of her writing? Noticing, thus, the inexistence of this approach to the writer’s work, our main objective in this thesis is to verify how the social, historical and ideological conditions enable the historical-discursive construction of the feminine body, predominantly white in her writings, delimitating this body as of the social position that the author occupies, especially when black bodies are left in the margins of the literary writing. Key Words: Invention, memory, subalternity, feminine, black woman, patriarchy. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..............................................................................................................10 1. A ausência também é ideologia – Fio que tece os corpos nos escritos lygianos.. 15 2. Nos caminhos literários, a Negritude – A escolha de um objeto “afetivo”: Personagens negras na literatura brasileira – O lugar da Subalternidade...............31 3. A subalternidade negra na prosa romanesca de Lygia Fagundes Telles.............48 3.1 – Ciranda de Pedra – A preta Luciana.................................................................48 3.2 – Verão no Aquário – A preta Dionísia................................................................51 3.3 – As meninas – A ‘negrada’ subalterna................................................................54 3.4 – As horas nuas – A preta Dionísia......................................................................57 4. Breves aparições da servidão negra nos contos de Lygia Fagundes Telles.........64 5. Considerações finais................................................................................................103 6. Referências bibliográficas.......................................................................................105 10 INTRODUÇÃO O presente trabalho nasce, num primeiro momento, de uma grande paixão pela obra da escritora brasileira contemporânea Lygia Fagundes Telles,