Arqueólogos Portugueses Lisboa, 2017
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2017 – Estado da Questão Coordenação editorial: José Morais Arnaud, Andrea Martins Design gráfico: Flatland Design Produção: Greca – Artes Gráficas, Lda. Tiragem: 500 exemplares Depósito Legal: 433460/17 ISBN: 978-972-9451-71-3 Associação dos Arqueólogos Portugueses Lisboa, 2017 O conteúdo dos artigos é da inteira responsabilidade dos autores. Sendo assim a As sociação dos Arqueólogos Portugueses declina qualquer responsabilidade por eventuais equívocos ou questões de ordem ética e legal. Desenho de capa: Levantamento topográfico de Vila Nova de São Pedro (J. M. Arnaud e J. L. Gonçalves, 1990). O desenho foi retirado do artigo 48 (p. 591). Patrocinador oficial arqueólogos portugueses Jacinta Bugalhão1 RESUMO Em Portugal, nas últimas décadas, o grupo profissional dos arqueólogos tem vivido um extraordinário aumen- to de dimensão, bem como diversas alterações no que se refere à sua estrutura, constituição e balanço social. Estas mudanças relacionam-se de perto com a evolução sociológica portuguesa e com o caminho do país rumo ao desenvolvimento e à vanguarda civilizacional. Neste artigo será abordada a evolução do grupo de pessoas que em Portugal se dedicam à prática da actividade arqueológica, durante todo o século XX e até à actualidade. Quantos são, quem são, qual a sua formação aca- démica, distribuição etária e de género, origem geográfica e forma de exercício da actividade (do amadorismo à profissionalização) serão alguns dos aspectos abordados. Palavras-chave: Arqueólogos, Arqueologia profissional, História da Arqueologia. ABSTRACT In Portugal, in the last decades, the professional group of archaeologists has experienced an extraordinary in- crease in size, as well as several changes regarding its structure, constitution and social balance. These changes are closely related to the sociological evolution of Portugal and its path towards development and the civiliza- tional vanguard. In this article it will be approached the evolution of the group of people that in Portugal are dedicated to the practice of the archaeological activity, throughout the XX century and up to the present time. How many are, who they are, what their academic background, age and gender distribution, geographical origin and exercise of the activity form (from amateurism to professionalization) will be some of the aspects addressed. Keywords: Archaeologists, Professional archeology, History of Archeology. 1. ARQUEÓLOGO, CONCEITO cos (recolha avulsa de espólio arqueológico) e à pu- blicação de estudos e sobre temática arqueológica e Entre o início do século XX e a actualidade (2017), congénere (Bugalhão, Sousa e Bragança, no prelo). limites cronológicos do presente estudo, o concei- Precocemente o epíteto de arqueólogo, ou a quali- to de arqueólogo revela significativa evolução, quer ficação como tal, aparece no ordenamento jurídico a nível sociológico, quer a nível científico, quer, nas português associado à direção de trabalhos arqueo- décadas mais recentes, a nível profissional. lógicos de campo. O Decreto n.º 21.117 de 18 de Abril Durante grande parte do século XX, ser arqueólogo de 1932, que contém um primeiro esboço de regula- não era exclusivamente uma atribuição profissional, mentação da actividade arqueológica, refere que os mas sim a manifestação do exercício de uma activi- “indivíduos que pretenderem dirigir escavações” em dade paralela ou supletiva, não remunerada e de- sítios arqueológicos devem ser “técnicos competen- senvolvida por gosto e/ou militância cívica. Nesta tes”, numa primeira menção à qualificação técnica e fase, e adoptando a definição produzida em trabalho científica inerente aos arqueólogos. Em 1960, a Por- anterior, considera‑se arqueólogo aquele promove, taria n.º 17.812 de 11 de Julho, revê o anterior diplo- dirige ou participa em escavações arqueológicas, se ma legal e refere‑se ao “professor ou arqueólogo de dedica à procura e recolha de “achados” arqueológi- reconhecida competência que, através de assistência 1. Direção-Geral do Património Cultural; UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa. Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património; [email protected] 19 Arqueologia em Portugal / 2017 – Estado da Questão permanente dirigirá os trabalhos” arqueo lógicos e con sidera aptas a dirigir trabalhos arqueológicos as aos “estudantes” que neles participam, revelando “pessoas academicamente habilitadas em arqueo- a importância da associação desta actividade com logia, com prática profissional comprovada”, espe- o ensino da disciplina científica, nomeadamente o cificando as condições da habilitação académica e a universitário. O Regulamento de Trabalhos Arqueo- duração da experiência curricular. lógicos (RTA) de 1978 (Portaria n.º 269/78 de 12 de Actualmente, pode aceder à condição de sócio efec- Maio) afirma claramente que a direcção e orientação tivo da Associação dos Arqueólogos Portugueses dos trabalhos é responsabilidade do arqueólogo, que quem “possuir formação superior em Arqueologia, é o requerente do pedido de autorização e ao qual ou História, ou outra formação, desde que possua, tem de ser reconhecida idoneidade. Curiosamente, em qualquer das circunstâncias, curriculum vitae esta portaria não define qualquer requisito habili- de reconhecido mérito científico na área das ciên- tacional ou curricular. Contudo, o requerimento cias arqueológicas, históricas ou afins” (AAP, 2012). anexo presume que o arqueólogo é autor de biblio- Relativamente à Associação Profissional de Arque- grafia e solicita a indicação das suas qualificações, ólogos, podem ser associados efectivos “os titulares currículo (“participação em trabalhos realizados, de licenciatura, ou grau académico equivalente, que em Portugal ou no estrangeiro”) e referências sobre confira formação específica na área da Arqueologia”, a sua aptidão para a direcção de escavações. Duas com elementos de formação curricular comple- décadas depois, são regulamentadas as carreias es- mentares (APA, 2009). O seu Código Deontológico pecíficas da área funcional de arqueologia na admi- (APA, 2009) define o conteúdo funcional associado nistração pública (Decreto Regulamentar n.º 28/97 à profissão de arqueólogo: “identificar e investigar o de 21 de Julho)2. Dois anos após, é publicado novo património arqueológico e colaborar na sua salva- RTA (Decreto‑Lei n.º 270/99 de 15 de Julho), que guarda e gestão”. define como competentes para dirigiram trabalhos arqueológicos os “licenciados cujo curriculum vitae 2. METODOLOGIA esteja dentro dos critérios de acesso à carreira de ar- queólogo na função pública”, ou seja, os “indivídu- Tomando por base a diacronia referencial supra re- os habilitados com licenciatura ou grau académico ferida, propõe‑se aqui a caracterização sociológica de nível superior que confira formação específica na e profissional do grupo de pessoas consideradas ar- área da arqueologia” (História variante de Arqueo- queólogos (por si mesmas e/ou pelo todo social), logia, Pré‑História ou Arqueologia) e ainda “prática em Portugal, entre o início do século XX e a actuali- profissional” anterior ou “formação complemen- dade (dados recolhidos em Junho de 2017). tar adequada”. Finalmente, o RTA actualmente em O universo em análise foi obtido com base na re- vigor (Decreto‑Lei 164/2014 de 4 de Novembro) colha crítica e trabalhada dos dados constantes no Endovélico, Sistema de Informação e Gestão Arque- ológica e no Portal do Arqueólogo3, nas suas versões 2. Em anexo a este Decreto Regulamentar são publicados os conteúdos funcionais da carreira de Arqueólogo, de alguma intranet, completados com informações recolhidas forma extrapoláveis para a profissão: “executar ou coorde- bibliograficamente e em conteúdos disponíveis nar a execução de todo o tipo de trabalhos específicos (…) da arqueologia, no campo, em meio urbano, em gabinetes ou laboratórios, elaborar estudos, conceber e desenvol- 3. Os dados de base utilizados referem‑se à informação de ver projectos, emitir pareceres e participar em reuniões, base do projeto de doutoramento (em fase de conclusão) de- comissões e grupos de trabalho (…), realizar as seguintes senvolvido pela signatária desde 2012, na Faculdade de Le- actividades: prospecções, escavações, peritagens e infor- tras da Universidade de Lisboa (com a UNIARQ e a DGPC mações, estudos diversos (bibliográficos, sobre materiais, como entidades de acolhimento), sob orientação de Carlos sobre estações, de impacte arqueológico, de planeamentos, Fabião, subordinado ao tema “A Arqueologia em Portugal, etc.), exposições, conferências, condução de visitas, elabo- entre o final do século XX e o início do século XXI”. Os ração de publicações, ensino, participação em comissões valores quantitativos apresentados resultam, em parte sig- técnicas de gestão e controlo dos planos de ordenamento nificativa, da análise, interpretação e tipificação de dados do território, emissão de pareceres sobre normas de protec- bru tos extraídos do Endovélico e do Portal do Arqueólo go, ção de gestão do património arqueológico ou sobre projec- não se tratando por isso de dados absolutos e inequívocos, tos de conservação, restauro e musealização de imóveis e refletindo essencialmente tendências. Relativamente à me- sítios arqueológicos”. todologia e metadados, ver Bugalhão, 2011. 20 4 online . Para o período entre 1900 e 1969, utilizou- logos em actividade revela uma primeira fase, até -se a base de dados constituída em trabalho anterior 1969, com tendência de crescimento ligeiro. Entre (Bugalhão,