Manuel Alegre

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Manuel Alegre Manuel Alegre Manuel Alegre nasceu em 1936 e estudou na Faculdade de Direito de Coimbra, onde participou activamente nas lutas académicas. Cumpriu o serviço militar na guerra colonial em Angola. Nessa altura, foi preso pela polícia política (PIDE) por se revoltar contra a guerra. Após o regresso exilou-se no norte de África, em Argel, onde desenvolveu actividades contra o regime de Salazar. Em 1974 regressou definitivamente a Portugal, demonstrando, nos vários cargos governamentais que tem desempenhado ao longo dos anos, uma intervenção fiel aos ideais da Liberdade. A sua poesia foi e é um hino à Liberdade e, talvez seja por isso que é lembrada por muitos resistentes que lutaram contra a ditadura. É considerado o poeta mais cantado pelos músicos portugueses, designadamente Adriano Correia de Oliveira, José Afonso, Luís Cília, Manuel Freire, António Portugal, José Niza, António Bernardino, Alain Oulman, Amália Rodrigues, Janita Salomé e João Braga. E alegre se fez triste Aquela clara madrugada que Viu lágrimas correrem no teu rosto E alegre se fez triste como se chovesse de repente em pleno Agosto Ela só viu meus dedos nos teus dedos Meu nome no teu nome e demorados Viu nossos olhos juntos nos segredos Que em silêncio dissemos separados A clara madrugada em que parti Só ela viu teu rosto olhando a estrada Por onde o automóvel se afastava E viu que a pátria estava toda em ti E ouviu dizer adeus essa palavra Que fez tão triste a clara madrugada Que fez tão triste a clara madrugada Temas: Partida, Dor, Sofrimento Manuel Alegre – intertextualidade com lírica camoniana Nambuangongo Meu Amor Em Nambuangongo a gente pensa que não volta cada carta é um adeus em cada carta se morre Em Nambuangongo tu não viste nada cada carta é um silêncio e uma revolta. não viste nada nesse dia longo longo Em Lisboa na mesma isto é a vida corre. a cabeça cortada E em Nambuangongo a gente pensa que não e a flor bombardeada volta. não tu não viste nada em Nambuangongo É justo que me fales de Hiroxima. Falavas de Hiroxima tu que nunca viste Porém tu nada sabes deste tempo longo longo em cada homem um morto que não morre. tempo exactamente em cima Sim nós sabemos Hiroxima é triste do nosso tempo. Ai tempo onde a palavra vida mas ouve em Nambuangongo existe rima em cada homem um rio que não corre. com a palavra morte em Nambuangongo. Em Nambuangongo o tempo cabe num minuto em Nambuangongo a gente lembra a gente esquece em Nambuangongo olhei a morte e fiquei nu. Tu não sabes mas eu digo-te: dói muito. Manuel Alegre Em Nambuangongo há gente que apodrece. Temas: Guerra, Sofrimento, Morte, As mãos Com mãos se faz a paz se faz a guerra. Com mãos tudo se faz e se desfaz. Com mãos se faz o poema – e são de terra. Com mãos se faz a guerra – e são a paz. Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra. Não são de pedras estas casas mas de mãos. E estão no fruto e na palavra as mãos que são o canto e são as armas. E cravam-se no Tempo como farpas as mãos que vês nas coisas transformadas. Folhas que vão no vento: verdes harpas. De mãos é cada flor cada cidade. Ninguém pode vencer estas espadas: nas tuas mãos começa a liberdade. Temas: Manuel Alegre, O Canto e as Armas , 1967 Paz, Luta, Ação Abaixo el-rei Sebastião É preciso enterrar el-rei Sebastião Vós que trazeis por dentro é preciso dizer a toda a gente de cada gesto que o Desejado já não pode vir. uma cansada humilhação É preciso quebrar na ideia e na canção deixai falar na vossa voz a voz do vento a guitarra fantástica e doente cantai em tom de grito e de protesto que alguém trouxe de Alcácer Quibir. matai dentro de vós el-rei Sebastião. Eu digo que está morto. Quem vai tocar a rebate Deixai em paz el-rei Sebastião os sinos de Portugal? deixai-o no desastre e na loucura. Poeta: é tempo de um punhal Sem precisarmos de sair o porto por dentro da canção. temos aqui à mão Que é preciso bater em quem nos bate a terra da aventura. é preciso enterrar el-rei Sebastião. Manuel Alegre Temas: Coragem, Protesto, Ação Intertextualidade - Frei Luís de Sousa - Almeida Garrett/ Mensagem F. Pessoa. É PRECISO UM PAÍS... Não mais Alcácer Quibir. É preciso voltar a ter uma raiz um chão para lavrar um chão para florir. É preciso um país. Não mais navios a partir para o país da ausência. É preciso voltar ao ponto de partida é preciso ficar e descobrir a pátria onde foi traída não só a independência mas a vida. Manuel Alegre (Águeda, 1936) Temas: Coragem, Protesto, Ação Intertextualidade - Frei Luís de Sousa - Almeida Garrett/ Mensagem F. Pessoa. RECURSO : http://delta4.no.sapo.pt/manuelalegre.html Poemas lidos por Manuel Alegre e acompanhados por Carlos Paredes. Flores para Coimbra Que mil flores desabrochem. Que mil flores (outras nenhumas) onde amores fenecem que mil flores floresçam onde só dores florescem. Que mil flores desabrochem. Que mil espadas (outras nenhumas não) onde mil flores com espadas são cortadas que mil espadas floresçam em cada mão. Que mil espadas floresçam onde só penas são. Antes que amores feneçam que mil flores desabrochem. E outras nenhumas não. Manuel Alegre Regresso E contudo perdendo-te encontraste. E nem deuses nem monstros nem tiranos te puderam deter. A mim os oceanos. E foste. E aproximaste. Antes de ti o mar era mistério. Tu mostraste que o mar era só mar. Maior do que qualquer império foi a aventura de partir e de chegar. Mas já no mar quem fomos é estrangeiro e já em Portugal estrangeiros somos. Se em cada um de nós há ainda um marinheiro vamos achar em Portugal quem nunca fomos. De Calicute até Lisboa sobre o sal e o Tempo. Porque é tempo de voltar e de voltando achar em Portugal esse país que se perdeu de mar em mar. Manuel Alegre (2000).
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