Revista 29-1
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ISSN 1516-9162 REVISTA DA ASSOCIAÇÃO PSICANALÍTICA DE PORTO ALEGRE N° 29 – Dezembro – 2005 Onde fala um analista ISSN 1516-9162 REVISTA DA ASSOCIAÇÃO PSICANALÍTICA DE PORTO ALEGRE EXPEDIENTE Publicação Interna Ano XII - Número 29 - Dezembro de 2005 Título deste número: Onde fala um analista Editor: Otávio Augusto Winck Nunes e Valéria Rilho Comissão Editorial: Inajara Amaral, Lúcia Alves Mees, Marieta Rodrigues, Otávio Augusto Winck Nunes, Siloé Rey e Valéria Machado Rilho Colaboradores deste número: Marta Pedó e Noeli Lisboa Consultoria Lingüística: Dino del Pino Capa: Cristiane Löff Linha Editorial: A Revista da Associação Psicanalítica de Porto Alegre é uma publicação semestral da APPOA que tem por objetivo a inserção, circulação e debate de produções na área da psicanálise. Con- tém estudos teóricos, contribuições clínicas, revisões críticas, crônicas e entrevistas reunidas em edições temáticas e agrupadas em quatro seções distintas: textos, história, entrevista e varia- ções. ASSOCIAÇÃO PSICANALÍTICA DE PORTO ALEGRE Rua Faria Santos, 258 Bairro: Petrópolis 90670-150 – Porto Alegre / RS Fone: (51) 3333.2140 – Fax: (51) 3333.7922 E-mail: [email protected] Home-page: www.appoa.com.br R454 REVISTA DA ASSOCIAÇÃO PSICANALÍTICA DE PORTO ALEGRE / Associação Psicanalítica de Porto Alegre. - n° 29, 2005. - Porto Alegre: APPOA, 1995, ----. Absorveu: Boletim da Associação Psicanalítica de Porto Alegre. Semestral ISSN 1516-9162 1. Psicanálise - Periódicos. | Associação Psicanalítica de Porto Alegre CDU: 159.964.2(05) 616.89.072.87(05) CDU: 616.891.7 Bibliotecária Responsável: Ivone Terezinha Eugênio CRB 10/1108 Onde fala um analista SUMÁRIO EDITORIAL...............................07 Formação Psicanalítica, instituição e possibilidades transferenciais .......... ..73 TEXTOS Psychoanalytical formation institution and O que nos interroga na supervisão? ..10 transferential possibilities What questions us in supervision? Volnei Antônio Dassoler Ieda Prates da Silva Reflexões sobre a prática psicanalítica A análise de controle................................19 em instituições ................................. ..80 The control analysis Remarks on the psychoanalytical practice in Isidoro Vegh institutions Denise Teresinha da Rosa Quintão Sem supervisão nem controle ......... ..26 Without supervision or control Discurso psicanalítico e formação.......89 Ricardo Goldenberg Psychoanalytical discourse and formation Mauro Rabacov e Paulo Becker Pode-se contar uma cura analiticamente .................................. ..32 RECORDAR, REPETIR, Can one tell analytically a cure? ELABORAR Jean-Jacques Rassial A estruturação do ensino no Instituto Psicanalítico de Berlim........................95 Pesquisa em psicanálise ................. ..42 The teaching structuring in the The research in psychoanalysis Psychoanalytical Institute os Berlim Maria Cristina Poli Karen Horney et al. “O que a psicanálise nos ensina, como ENTREVISTA ensiná-lo?” (na Universidade).......... ..48 Quando fala um analista ................. 116 “What does psychoanalysis teach us, how to When an analyst speaks teach it?” (At the university) Alfredo Jerusalisnky Siloé Rey VARIAÇÕES A transmissão e o ensino da teoria O desejo de regulamentar.................126 psicanalítica: efeitos informativos ou The desire of ruling formativos no percurso de formação ..57 Mauro Mendes Dias Transmission and teaching of psychoanalytical theory: information or formation effects in the Freud implica: o analista na mídia ... 132 course of formation? Freud implies: the analyst in the media Carla Regina Cumiotto Clara Maria Von Hohendorff Desejo de analista ........................... ..67 Produções em psicanálise e seus Psychoanalyst desire impasses .......................................... 140 Otávio Augusto Winck Nunes Psychoanalytical production and is impasses Ana Costa EDITORIAL uma época em que assistimos à tendência mundial de profissionalização Ne de burocratização da psicanálise, acreditamos não ser demais lembrar seus fundamentos e, principalmente, o quanto ela consiste numa prática sin- gular. Prática singular que não se confunde com o exercício privado da psicanálise. Pois, longe de ser uma psicoterapia orientada pela teoria psicanalítica, a psicanálise consiste numa prática discursiva sustentada por um psicanalista, esteja ele onde estiver. Prática, essa, comprometida com a verdade que o discurso porta. Não a verdade comprovada da ciência; muito menos aquela enunciada por um lugar de autoridade. Também não se trata de defender a banalização da ver- dade, a partir do quê todas as verdades se equivaleriam. O critério de verda- de, em psicanálise, é muito preciso: o efeito de verdade se produz quando o sujeito arca com as conseqüências da enunciação da qual parte seu enunci- ado, o saber inconsciente. Por essa razão, para quem se pretenda analista, passar pela experiência do inconsciente é fundamental. Única forma de transmissão desse encontro com a verdade, tal como a psicanálise a define. Pelo mesmo motivo, a interpretação constitui a prova da verdade sobre a qual o psicanalista se sustenta na sua prática. Isso, mais do que postular o conceito de ética em psicanálise, faz dela o exercício mesmo de uma ética muito específica. 7 EDITORIAL Se assim não fosse, como entender a afirmação lacaniana de que “a impotência em sustentar autenticamente uma práxis reduz-se, como é comum na história dos homens, ao exercício de um poder”1? A validade de tal enunciado, podemos verificá-la não só na psicanálise em intensão, como também na psicanálise em extensão. Lacan, em seu ensino, não se furtou de apontá-la, seja na lida com a transferência, no transcurso de um tratamento, seja nos desdobramentos institucionais da psicanálise. Afinal, conduzir uma cura ou encarregar-se da transmissão psicanalítica tendo o analista como modelo é, antes de mais nada, exercício de poder. Já Freud, por sua vez, não deixara de pronunciar-se a esse respeito ante os rumos que tomava o movimento psicanalítico. Acreditando que uma comunidade de analistas era necessária para manter vivo e transmitir o discurso psicanalítico, temia por sua viabilidade, caso cada Sociedade viesse a editar suas próprias normas. No entanto, o fundador da Sociedade Psicanalítica de Viena não se poupou de criticar veementemente quando, a partir de 1925, seguindo-se o modelo burocratizado inaugurado pelo Instituto de Berlim, foram padronizadas as normas para a formação de analistas a serem reproduzidas pelas demais sociedades filiadas à IPA. Deu-se início, então, a um dos debates mais controvertidos da história da psicanálise, a formação psicanalítica para não-médicos. E mais. Seguramente não foi a modéstia que o levou a nos legar precisamente aqueles casos clínicos que testemunham curas “fracassadas”. Antes, caberia indagar: Qual era o impasse que tais transferências denunciavam? E o que podem nos dizer as recorrentes dissidências, rupturas, fundações e dissoluções institucionais, que fazem a história da psicanálise desde sua invenção até nossos dias? Eis aí o confronto inevitável que a análise coloca a todo aquele que se aventura a alcançar seu desenlace. Ocasião de questionamento radical de sua filiação, pois, ali onde o sujeito esperava contar com a verdade originária, o que encontra é a arbitrariedade do Outro, que o introduziu no discurso por um determinado traço, ao invés de outro. Diante da inevitabilidade de situar uma nova filiação, impõe-se a escolha: ou a tentação do poder, ou a sustentação de uma ética. Assim sendo, não é de surpreender o caráter de insistência que o tema da formação adquire, principalmente no seio das instituições psicanalíticas. 1 Lacan. A direção do tratamento e princípios de seu poder. In: Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 8 1998. p. 592. EDITORIAL Nossa aposta é de que tal retorno não se restrinja à mera repetição sintomática, para fins de puro deleite de analistas que teriam optado pela entrega a uma empresa inatingível a formação analítica. Conta-se que o tema retorne na dupla vertente de denunciar o impossível de tudo dizer, ao mesmo tempo em que nos debruçamos sobre a elaboração desta temática. Se a análise e a formação em psicanálise são intermináveis, é porque o inconsciente também o é. Porém, isso não significa que não possamos distinguir diferentes tempos lógicos em tais percursos, a saber, instante de ver, tempo de compreender e momento de concluir. Na mesma medida em que a origem de um sujeito é brutalmente interrogada no desenlace da análise, também o é a formação de um analista ao se fazer cargo da transmissão da psicanálise. Desde a concepção radical de sujeito do inconsciente, herdada de Freud e Lacan, talvez não seja por demais forçoso supor que, tal qual o indivíduo, o coletivo de uma instituição analítica percorra os três tempos lógicos. Dezesseis anos se passaram desde a fundação da Appoa, em 1989. No curso de nosso primeiro ano de trabalho, a jornada A questão da formação do analista (vide Boletim da Appoa n° ¾), ocorrida em julho de 1990 foi a organizadora de estudos e debates associativos. Este ano, em maio de 2005, por iniciativa do Cartel do Interior da Appoa, estivemos novamente reunidos em torno do mesmo tema, em uma jornada interna, intitulada Transmissão e Formação. Os trabalhos então apresentados encontram-se reproduzidos a seguir, acrescidos de outros que, posteriormente, vieram a eles se juntar. Se estamos no momento de concluir ou no tempo de compreender, só o tempo dirá. Afinal, o tempo não pára. 9 TEXTOS O QUE NOS INTERROGA NA SUPERVISÃO?1 Ieda Prates da Silva2 RESUMO Este trabalho