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A Dança e o Poder ou o Poder da Dança: Diálogos e Confrontos no século XX Maria João Castro Tese de Doutoramento em História da Arte Contemporânea Dezembro, 2013 1 Ao meu Pai, mecenas incondicional da minha vontade de conhecimento. Ao Pedro, pela cumplicidade do caminho deixando-me respirar... 2 AGRADECIMENTOS Inúmeras pessoas contribuíram de forma decisiva para que esta investigação chegasse a bom termo. O grupo inclui professores, colegas, amigos e desconhecidos que se cruzaram ao longo do projecto e que se dispuseram a ajudar na clareza e compreensão das informações. A primeira expressão de agradecimento cabe à Professora Doutora Margarida Acciaiuoli, por ter aceitado orientar esta tese com todo o rigor, determinação e empenho que a caracterizam, bem como pelo contributo que as suas críticas, sempre pertinentes e cordiais, provocaram na elaboração deste trabalho. A José Sasportes, pela forma como se disponibilizou para co-orientar esta investigação, pela vastíssima informação que me confiou, pelo estímulo e confiança, pela ampliação do campo de referências e pela cumplicidade na partilha da paixão pela dança, o que constituiu um inestimável e insubstituível auxílio. A todos os meus professores de dança com os quais aprendi de variadas maneiras como a dança nos modifica, nomeadamente a Liliane Viegas, João Hydalgo e Myriam Szabo, bem como aos meus colegas a amigos que, de variadíssimas formas, contribuíram para o desenvolvimento deste projecto, nomeadamente a Luísa Cardoso, António Laginha e Miguel Leal. À Vera de Vilhena, pela cuidada revisão do texto e por, com as suas sugestões, me ter ajudado a crescer na escrita. À Fundação para a Ciência e Tecnologia, pela bolsa que me atribuiu, permitindo-me a dedicação exclusiva e a liberdade de poder estar continuamente dedicada a este trabalho. Ao Pedro, a junto de quem existe um eterno débito de gratidão: sem a sua crença e sem a sua paciente ajuda na elaboração formal deste trabalho, sem o seu apoio inumerável e inominável, esta investigação nunca teria chegado a bom termo. 3 RESUMO Dentro do quadro da História de Arte Contemporânea, a investigação que agora se apresenta relaciona o papel da arte da dança com o poder, caracterizando os seus diálogos e confrontos ao longo do século XX. Utilizada como veículo de propaganda, a dança tornou-se numa arte politizada e facilmente comprometida com o regime que a enquadrava. O fio condutor do estudo percorre uma viagem balizada entre o momento em que a dança se emancipa do teatro lírico – com o primeiros espectáculos dos Ballets Russes em 1909 – até à comemoração do centenário da Companhia, em 2009, data em que se refletiu extensivamente sobre o universo terpsicoreano contemporâneo. É um século que se configura a partir de uma relação político-artística desenvolvida não só nos regimes autoritários da primeira metade de 1900, mas igualmente presente nos regimes democrático-liberais da última metade do século XX. Posicionando-se a partir de dois vectores distintos – compromisso ou revolta – analisa-se transversalmente o cenário internacional e a produção nacional, cruzando a visão do duplo jogo do poder da dança e da dança do poder e integrando-os nas principais criações produzidas ao longo dos últimos cem anos. PALAVRAS-CHAVE: Arte, História, Bailado, Dança, Coreografia, Bailarinos, Poder, Política, Propaganda, Ideologia, Século XX 4 ABSTRACT Within the History of Contemporary Art framework, the research presented herein relates the role of art with the power of dance, featuring its dialogues and confrontations throughout the twentieth century. Used as a vehicle of propaganda, dance became an art easily politicized and compromised with its framing regime. The common thread of the study covers a journey marked out between the time that dance emancipated opera - with the emergence of Ballets Russes in 1909 - until the celebration of the centenary of the company in 2009, date in which there were reflections on à la longue terpsichorean contemporary universe. It is a whole century that set from a new political and artistic relationship developed not only to the authoritarian regimes of the first half of 1900, but also present in liberal- democratic regimes in the last half of the twentieth century. Positioning itself in two different vectors - appointment or revolt – this study analyses across the international scene and national production, crossing the double vision of the power game of dance and dance of power and integrating them into the main creations produced over the last hundred years. KEY-WORDS: Art, History, Ballet, Dance, Choreographers, Dancers, Power, Politics, Propaganda, Ideology, XX Century 5 Índice Introdução 9 1. Arte, Poder e Dança; manipulação e convicção 18 1.1. Arte e poder: o uso político das artes 18 1.2. A arte como instrumento de propaganda 23 1.3. Apropriação da dança para fins políticos 30 2. Ballets Russes: eixo e modelo 36 2.1. O grande desfile artístico 36 2.2. Derivações plásticas diaghilevianas 49 2.3. Da glória russa ao modelo mundialmente reproduzido 57 2.4. Ecos em Portugal 61 2.5. Do exotismo ao totalitarismo 71 3. A dança nacionalista e a sedução das massas 76 3.1. O bailado vermelho da U.R.S.S. 76 3.2. A Itália fascista da Opera Nazionale Balilla 104 3.3. A dança alemã sob a suástica 111 3.4. A Espanha franquista dos Coros Y Danzas de la Sección Femenina 127 3.5. O pavilhão francês das Danças Populares da Europa 131 4. Contradanças: a dança como “revolta” 135 4.1. A dança contestatária de Kurt Jooss e de Jean Weidt 135 4.2. Dançando à esquerda nos E.U.A.: o New Dance Group 141 4.3. A contraposição aos totalitarismos de Martha Graham 151 5. A dança como veículo de propaganda salazarista 155 5.1. Os night-clubs, o teatro de revista e o culto do corpo 155 5.2. Nacionalismo, arte popular e folclore 168 5.2.1. O caso de Julie Sazonova 182 5.3. O Verde Gaio como metáfora do Estado Novo 188 5.4. As artes plásticas do Verde Gaio 207 5.5. Requiem para os Bailados Portugueses 211 6 6. Tensões e intenções; o poder da dança na segunda metade do século 223 6.1. O final da Segunda Guerra e a reconfiguração das artes 223 6.2. O pas-de-deux da política cultural externa da Guerra Fria 228 6.3. O caso particular da China e da Coreia do Norte 245 6.4. A reacção do butoh japonês 253 6.5. Um “corpo” nacional: o Ballet de Cuba 257 7. Traços de uma dança portuguesa no final do Novecentos 265 7.1. O papel do Ballet Gulbenkian 267 7.2. A Companhia Nacional de Bailado 273 7.3. Artistas independentes e mecenas 277 7.4. O Verde Gaio pós-propaganda 282 8. Mo(vi)mentos 286 8.1. A dança e as artes plásticas: o caso da pintura 286 8.2. Reavaliações: o exemplo de Bill T. Jones 291 8.3. Comemorações: o centenário dos Ballets Russes 294 8.4. O duplo jogo da dança e do poder ou do poder da dança 298 Considerações Finais 305 Anexo 1 - Quadro Cronológico 317 Anexo 2 – Documentação do Verde Gaio 336 António Ferro projecta o Verde Gaio 337 Correspondência: Oliveira Salazar/Marcello Mathias 338 Actuações do Verde Gaio 1940-1975 340 Extinção do Verde Gaio 342 Ressurgimento do Verde Gaio nos anos 90 343 Índice Onomástico 365 7 Nada está livre de interpretação política, e se a política é sobre o discurso social e a nossa capacidade de o mudar, então, tudo o que crio é político. Bill T. Jones, 2003 8 Introdução 1. O estudo que agora se apresenta partiu da ideia de investigar a possível relação entre a arte e o poder durante o século XX. Porém, a vastidão presente nesta temática e as inúmeras perguntas que imediatamente se levantaram forçaram a centrar a questão num único aspecto, isto é, obrigaram a que nos detivéssemos apenas na forma de expressão que a arte de Terpsícore condensa. O título do volume coloca o acento na dicotomia dança/política, sugerindo que é a partir de um duplo jogo que ambas se poderão definir. A dança e o Poder ou o Poder da Dança: diálogos e confrontos no século XX remete-nos para uma espiral de dois anéis onde se enquadram os elementos da cultura e da política com as produções específicas da arte e da dança, e, de igual modo, se caracteriza a intervenção da dança a partir das suas próprias produções coreográficas. O poder da dança, enquanto arte cénica influenciadora de plateias, tornou-a num instrumento ideológico privilegiado e constituiu, também, uma forma de rebelião por parte de alguns artistas em relação aos regimes que os tutelavam. Esta posição dual fez com que a arte – neste caso, a dança – fosse utilizada como arma e é na evolução desta relação que se constrói a perspectiva interpretativa e reflexiva deste estudo. Esta investigação insere-se no domínio da História da Arte Contemporânea mas a sua razão fundamenta-se numa História que se desenvolve em paralelo com outros domínios do saber. Percorrendo a mesma época em espaços diferentes, cruzou-se a pesquisa com outras disciplinas (dos Estudos Artísticos à Ciência Política, passando pela Literatura, a História das Mentalidades e a Cultura Visual) que se articulam entre si sob um desígnio artístico, numa acção interdisciplinar e multidisciplinar, tentando-se – não só abrir novas pistas de leitura – como conciliar uma abordagem globalizante que tenha em conta as especificidades da dança. Se existe uma característica intrínseca ao período estudado, é o da sua fragmentação, feita de avanços e recuos, de uma transversalidade de propostas, permitindo encontrar linhas de continuidade que as atravessam, fornecendo uma estrutura e uma moldura próprias para a sua compreensão.