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Ano LI, número 49 (2.694) Cidade do Vaticano terça-feira 8 de dezembro de 2020

O Papa na praça de Espanha na festa da Imaculada Conceição Em março de 2021 Oração, penitência Fr a n c i s c o e coração aberto à Graça no Iraque Aceitando o convite da República do Iraque e da Igreja católica local, o Papa Francisco fará uma viagem apostólica ao país médio- oriental de 5 a 8 de março de 2021, visitando Bagdad, a planície de Ur, ligada à memória de Abraão, a cidade de Erbil, assim como Às 7 horas da manhã de 8 de dezem- Mosul e Qaraqosh, na planície de Nínive, bro, dia em que a Igreja celebra a anunciou a 7 de dezembro o diretor da sala Imaculada Conceição da Virgem Ma- de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, ex- ria, no silêncio de uma cidade ainda plicando que o programa da viagem será da- adormecida, o Papa Francisco foi à do a conhecer no momento oportuno, tendo praça de Espanha para prestar a tra- em consideração a evolução da emergência dicional homenagem à Imaculada sanitária mundial. Conceição. Aos pés da imagem ma- riana, dirigiu o olhar para a Mãe de Deus e colocou um ramo de rosas brancas na base da coluna. A sua ora- ção não foi acompanhada pela multi- 20 anos após o “sonho” dão, como em geral acontece nesta ocasião, devido à situação de emer- de João Paulo II gência sanitária, para evitar riscos de contágio. Em oração, o Papa confiou a Nossa Senhora todos aqueles que, Gesto concreto na cidade e no mundo, são afligidos pela doença e pelo desânimo. De- pois, foi à basílica de Santa Maria de proximidade Maior, onde se deteve em prece dian- te do ícone de Maria Salus Populi Romani e celebrou a Missa na capela MASSIMILIANO MENICHETTI da Natividade. Em seguida, regressou Após quinze meses durante os quais suspen- ao Vaticano. deu as peregrinações internacionais devido à pandemia, Francisco recomeça extraordina- riamente a viajar, indo quatro dias ao Ira- que. Esta viagem representa certamente um gesto concreto de proximidade a toda a po- pulação daquele país atormentado. Francis- co tinha manifestado claramente a sua in- tenção de visitar o Iraque a 10 de junho de 2019, durante a audiência aos participantes no Encontro das Obras de Ajuda às Igrejas Orientais (Roaco). «Um pensamento insis- tente acompanha-me, refletindo sobre o Ira- que — dizia, compartilhando a vontade de ir em 2020 — para que possa olhar em frente através da participação pacífica e comparti- lhada na construção do bem comum de to- dos os componentes da sociedade, até reli- giosos, e não volte a cair em tensões que de- rivam dos conflitos nunca resolvidos das po- tências regionais». Uma possibilidade que parecia cada vez mais concreta, quando a 25 de janeiro de 2020, o Papa recebeu no Vati- cano Barham Salih, Presidente da Repúbli- ca do Iraque. O Chefe de Estado também se tinha encontrado com o cardeal secretário de Estado, , e D. Paul Richard Gallagher, secretário para as Relações com os Estados. Os desafios do país tinham sido

CO N T I N UA NA PÁGINA 3

NESTE NÚMERO

O Pontífice convocou A pandemia um desafio à interlocução com o futuro o “Ano de São José” Que parábolas para este tempo? Para celebrar os 150 anos da declaração do Esposo de Maria como Padroeiro da Igreja Católica, o Papa Francisco convocou JOSÉ TOLENTINO DE MEND ONÇA o “Ano de São José” com a Carta apostólica “Patris corde – Com coração de Pai”. Com o decreto Quemadmodum Deus, O volume «O céu sobre a terra» assinado em 8 de dezembro de 1870, o Beato Pio IX quis dar com um texto inédito do Papa Francisco este título a São José. Para celebrar esta data, o Pontífice con- vocou um “Ano” especial dedicado ao Pai putativo de Jesus a partir de hoje até 8 de dezembro de 2021. Transformar o mundo

PÁGINAS 4/5 página 2 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 8 de dezembro de 2020, número 49

Ao Festival da doutrina social da Igreja o Pontífice pediu para não reduzir o anúncio a marketing Uma economia inclusiva capaz de amor

«No mundo com a força e criatividade da vida de Deus da Igreja, inaugurada a 26 de novembro em Verona — em nós: desta forma saberemos fascinar o coração e o e em várias cidades italianas através de ligações via in- olhar das pessoas para o Evangelho de Jesus, ajudare- ternet devido à pandemia — sobre o tema «Memória do mos a fazer fecundar projetos de nova economia inclu- futuro». Nos trabalhos, que foram concluídos no domin- siva e de política capaz de amor»: foi a recomendação go 29, sentiu-se a ausência do padre Adriano Vincenzi, que o Papa Francisco confiou numa mensagem de vídeo animador das edições anteriores, que faleceu no passado aos participantes no décimo Festival da doutrina social dia 13 de fevereiro.

Uma cordial saudação ao Bis- ser capaz de desencadear pro- patologia espiritual. po e a todos vós que partici- cessos cujos frutos serão co- Um pensador russo, pais, em Verona e nas várias lhidos por outros, com a es- Vjačeslav Ivanovič Ivanov, cidades italianas ligadas via perança colocada na força se- afirma que só existe realmente internet, no Festival da Dou- creta do bem que se semeia» aquilo que Deus recorda. É sença do Senhor, no amor pe- mória do futuro significa com- mos fascinar o coração e o trina Social da Igreja que, (n. 196). por isso que a dinâmica dos las pessoas que encontramos, prometer-nos a fazer com que olhar das pessoas para o com a sua metodologia criati- Este ano, o tema que esco- cristãos não é a de reter nos- ou seja, na caridade, e por fim a Igreja, o grande povo de Evangelho de Jesus, ajudare- va, deseja iniciar um confron- lhestes é Memória do futuro. Pa- talgicamente o passado, mas a pela mãe terra, o que indica Deus (cf. Lumen gentium, 6), mos a fazer fecundar projetos to entre sujeitos diferentes na rece um pouco estranho mas de aceder à memória eterna um processo de transfigura- possa constituir na terra o iní- de nova economia inclusiva e sensibilidade e na ação, mas é criativo: “Memória do futu- do Pai; e isto é possível viven- ção do mundo. E a Vida rece- cio e a semente do Reino de de política capaz de amor. convergindo na construção do ro ”. Ele convida-nos àquela do uma vida de caridade. bida como um dom é a pró- Deus. Viver como crentes Gostaria de dirigir uma pa- bem comum. É uma edição atitude criativa que podemos Portanto, não a nostalgia, que pria vida de Cristo, e não po- imersos na sociedade, mani- lavra em especial aos diversos diferente das habituais, por- dizer que é “frequentar o fu- bloqueia a criatividade e nos demos viver como crentes no festando a vida de Deus que atores da vida social reunidos que estamos a lutar com a t u ro” . Para nós, cristãos, o fu- torna pessoas rígidas e ideoló- mundo a não ser manifestan- recebemos como um dom no por ocasião do Festival: ao pandemia ainda presente, um turo tem um nome e este no- gicas, também nas esferas so- do precisamente a sua vida Batismo, para que possamos mundo dos empresários, pro- cenário que traz consigo difi- me é e s p e ra n ç a. A esperança é a cial, política e eclesial; ao em nós. Enxertados na vida agora recordar aquela vida fu- fissionais, representantes do culdades e graves feridas pes- virtude de um coração que contrário, a memória, tão in- do Amor trinitário, tornamo- tura em que estaremos juntos mundo institucional, coopera- soais e sociais E é uma edição não se fecha no escuro, não se trinsecamente ligada ao amor nos capazes de memória, da perante o Pai, o Filho e o Es- ção, economia e cultura: con- ligeiramente diferente tam- detém no passado, não deixa e à experiência, torna-se uma memória de Deus. E só o que pírito Santo. tinuai a comprometer-vos, se- bém porque, pela primeira correr o presente, mas sabe das dimensões mais profun- é amor não cai no esqueci- Esta atitude ajuda-nos a guindo o caminho que o pa- vez, o padre Adriano Vincen- ver o amanhã. Para nós, cris- das da pessoa humana. mento, precisamente porque superar a tentação da utopia, dre Adriano Vincenzi traçou zi não está convosco para tãos, o que significa o ama- Todos nós fomos gerados encontra a sua razão de ser no a reduzir a proclamação do convosco para o conhecimen- apoiar este momento formati- nhã? É a vida redimida, a ale- para a Vida no Batismo. Re- amor do Pai, do Filho e do Evangelho a um simples hori- to e formação na doutrina so- vo agora na sua décima edi- gria do dom do encontro com cebemos o dom da vida que é Espírito Santo. Neste sentido, zonte sociológico ou de nos cial da Igreja. Construtores ção. Queremos recordá-lo no o Amor trinitário. Neste senti- a comunhão com Deus, com toda a nossa vida deve, de al- deixarmos engajar no “m a rk e- de pontes: a vós ali reunidos, traço distintivo do seu servi- do, ser Igreja significa ter um os outros e com a criação. Por guma forma, ser uma liturgia, ting” das várias teorias econó- não encontreis muros mas ço, com palavras que estão olhar e um coração criativos e conseguinte, somos chamados uma anamnese, uma memória micas ou fações políticas. ro s t o s . . . em harmonia com o que es- orientados escatologicamente a realizar a vida em comu- eterna da Páscoa de Cristo. No mundo com a força e E, por favor, não vos es- crevi na última Encíclica Fra - sem ceder à tentação da nos- nhão com Deus, ou seja, na Eis, pois, o significado do criatividade da vida de Deus queçais de rezar por mim. telli tutti: «É grande nobreza talgia, que é uma verdadeira intimidade da oração na pre- Festival deste ano: viver a me- em nós: desta forma sabere- O brigado!

Numa mensagem aos Passionistas o convite à missão entre os pobres e os necessitados Rumo aos “c r u c i f i c a dda o snossa ” época

Um convite a renovar a missão entre os pobres e do mistério trinitário, que se revela no do Crucificado, dando testemunho as- «roubar a alegria da evangelização» pobres, os fracos, os oprimidos e os os fracos, «os “crucificados” desta nossa épo- amor do Crucificado (cf. Exort. ap. Vi- sim do coração da vossa identidade. (Exort. ap. , 83). descartados pelas inúmeras formas de ca», foi dirigido pelo Papa à congregação da ta consecrata, 17-19.23), que se derrama A este respeito, tenho conhecimen- Espero que os membros do vosso injustiça. O cumprimento desta tarefa Paixão de Jesus Cristo, através de uma mensa- sobre a pessoa escolhida pela Provi- to de que as vossas recentes reflexões Instituto possam sentir-se «marcados exigirá da vossa parte um sincero es- gem — divulgada a 19 de novembro — enviada dência e se infunde numa comunidade capitulares vos levaram ao compromis- a fogo» (ibid., n. 273) pela missão enrai- forço de renovação interior, que deriva ao superior-geral, por ocasião das celebrações concreta, para se implantar na Igreja so de renovação da missão, frisando zada na memoria passionis. O vosso Fun- da relação pessoal com o Crucificado- jubilares do terceiro centenário de fundação. A como resposta às necessidades parti- três percursos: gratidão, profecia e es- dador, São Paulo da Cruz, define a Ressuscitado. Só quem é crucificado seguir, o texto da mensagem. culares da história. A fim que o carisma perança. A gratidão é a experiência de Paixão de Jesus como «a maior e mais por amor, como Jesus na cruz, é capaz perdure no tempo, é preciso que se viver o passado na mesma atitude do maravilhosa obra do amor de Deus» de socorrer os crucificados da história adapte às novas exigências, mantendo Ma g n i f i c a t e caminhar rumo ao futuro (Cartas II, 499). Sentia que este amor o mediante palavras e obras eficazes. vivo o poder criativo das origens. numa atitude eucarística. A vossa gra- abrasava e desejaria incendiar o mun- Não é possível convencer os outros do Esta importante celebração cente- tidão é fruto da memoria passionis. Quem do com a ação missionária, sua e dos amor de Deus somente através de um nária representa uma oportunidade vive imerso na contemplação, dedi- seus companheiros. É muito impor- anúncio verbal e informativo. São ne- providencial para poder caminhar ru- cando-se ao anúncio do amor que se tante recordar que «a missão é uma cessários gestos concretos que permi- mo a novas metas apostólicas, sem ce- entrega por nós na cruz, torna-se um paixão por Jesus, mas ao mesmo tem- tam experimentar este amor no nosso der à tentação de «deixar as coisas co- seu prolongamento na história, e a sua po, uma paixão pelo seu povo. Quan- próprio amor, que se concede parti- mo estão» (Exort. ap. Evangelii gaudium, vida é realizada e feliz. A profecia con- do paramos diante de Jesus crucifica- lhando situações crucificadas, dedi- 25). O contacto com a Palavra de Deus siste em pensar e falar no Espírito. Isto do, reconhecemos todo o seu amor, cando a vida até ao fim, deixando sem- na oração e a leitura dos sinais dos é possível para quem vive a oração co- que nos dignifica e sustenta, mas nesse pre claro que a mediação do Espírito tempos nos acontecimentos diários mo respiro da alma, e pode acolher a mesmo momento, se não formos ce- Santo está entre o anúncio e o seu aco- tornar-vos-ão capazes de sentir o sopro moção do Espírito no íntimo dos cora- gos, começamos a perceber que este lhimento na fé. criativo do Espírito, que paira sobre o ções e em toda a criação. Então, a pala- olhar de Jesus se dilata e dirige, cheio A Mãe do Crucificado-Ressuscita- Ao Reverendo Padre tempo, indicando respostas às expeta- vra anunciada adapta-se sempre às ne- de afeto e ardor, a todo o seu povo. A do, figura da Igreja, Virgem que escu- JOACHIM REGO C.P. tivas da humanidade: a ninguém passa cessidades do presente. Que a memoria nossa identidade não se compreende ta, ora, oferece e gera vida, é memória Sup erior-Geral despercebido que hoje vivemos num passionis vos converta em profetas do sem esta pertença» (Exort. ap. Evangelii permanente de Jesus, especialmente da Congregação da Paixão mundo no qual já nada é como antes. amor do Crucificado num mundo que gaudium, 268). da sua Paixão. Confio-vos a Ela, invo- de Jesus Cristo (Passionistas) A humanidade encontra-se numa espi- perde o sentido do amor. A esperança Embora, como Cabeça, o nosso Sal- cando a intercessão do vosso Funda- As celebrações jubilares do terceiro ral de mudanças, que põem em ques- é ver na semente que morre a espiga vador tenha ressuscitado e já não volte dor, São Paulo da Cruz, e dos Santos e centenário da vossa Congregação ofe- tão não apenas o valor das correntes que produz ora trinta, ora sessenta, ora a morrer, no seu corpo - que mistica- Beatos passionistas, e concedo de co- recem-me a oportunidade para me culturais que até agora a enriquece- cem por cento. Trata-se de sentir que mente é a Igreja, mas que misteriosa- ração a Bênção apostólica a toda a fa- unir espiritualmente à vossa alegria ram, mas até a íntima constituição do nas vossas comunidades religiosas e mente é também cada ser humano a mília passionista e a quantos participa- pelo dom da vocação que recebestes seu ser. A natureza e o cosmo, submeti- paroquiais, cada vez mais reduzidas, quem, de certo modo, se uniu na En- rem nas várias celebrações do vosso so- de viver e anunciar a memória da Pai- dos ao sofrimento e à caducidade das continua a ação geradora do Espírito, carnação (cf. Const. ap. Gaudium et spes, lene jubileu. xão de Cristo, fazendo do mistério manipulações humanas (cf. Rm 8, 20), que garante a misericórdia do Pai, que 22) - ainda sofre e morre. Não vos can- pascal o cerne da vossa vida (cf. Consti- adquirem preocupantes traços dege- nunca nos abandona. A esperança seis de reforçar o vosso compromisso a Roma, São João de Latrão, tuições, 64). O vosso carisma, tal como nerativos. Também a vós é pedido que consiste em alegrar-nos do que temos, favor das carências da humanidade. 15 de outubro de 2020. cada carisma da vida consagrada, é ir- encontreis outros estilos de vida e uma em vez de nos queixarmos do que fal- Esta urgência missionária vise sobretu- radiação do amor salvífico que brota nova linguagem para anunciar o amor ta. De qualquer forma, não vos deixeis do os crucificados do nosso tempo: os

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CATEQUESE —sobre uma dimensão essencial da oração

O mundo precisa de bênção O Pontífice invocou a paz para a Nigéria ensanguentada

Prosseguindo o ciclo de catequeses sobre o tema da oração, o Papa explicou a na fila para entrar na prisão. to no Evangelho, “teve com- sua «dimensão essencial». Na audiência geral —realizada na manhã de Tantas mães que esperam na paixão”, e aquela compaixão quarta-feira, 2 de dezembro, sem a presença de fiéis por causa da pandemia — fila para entrar e ver o seu fi- leva Jesus a ajudá-lo e a mudar o Pontífice ofereceu na Biblioteca particular do Palácio apostólico uma reflexão lho na prisão: não deixam de o seu coração. Mais ainda, sobre a importância de abençoar, pois «de um coração abençoado não pode sair amar o seu filho e sabem que chegou a identificar-se com a maldição». as pessoas que passam no au- cada pessoa em necessidade tocarro pensam “Ah, esta é a (cf. Mt 25, 31-46). No trecho do Estimados irmãos e irmãs, port., Os portais do mistério da se- mãe do prisioneiro”. Contudo, “proto colo”final sobre o qual bom dia! gunda virtude, Ed. Pa u l i n a s , não sentem vergonha, ou me- seremos todos julgados, Ma- Hoje refletimos sobre uma di- Portugal, 2014) continua a es- lhor, sentem vergonha, mas fi- teus 25, Jesus diz: “Tive fome, mensão essencial da oração: a perar o nosso bem. cam ali, pois o filho é mais im- estava nu, estava na prisão, es- bênção. Continuemos as refle- A grande bênção de Deus é portante do que a vergonha. tava no hospital, estava ali...”. xões sobre a oração. Nas nar- Jesus Cristo, é o grande dom Portanto, somos mais impor- A Deus que abençoa, nós rações da criação (cf. Gn 1-2) de Deus, o seu Filho. É uma tantes para Deus do que todos também respondemos aben- Deus abençoa continuamente bênção para toda a humanida- os pecados que podemos co- çoando —Deus ensinou-nos a a vida, sempre. Abençoa os de, é uma bênção que nos sal- meter, porque Ele é pai, Ele é abençoar e nós devemos aben- animais (1, 22), abençoa o ho- vou a todos. Ele é a Palavra mãe, Ele é puro amor, Ele çoar —é a oração de l o u v o r, de mem e a mulher (1, 28), e no eterna com a qual o Pai nos abençoou-nos para sempre. E a d o ra ç ã o , de ação de graças.OCa- boca, até no coração, uma pa- Hoje é o quadragésimo ani- final abençoa o sábado, dia de abençoou, «quando éramos Ele nunca deixará de nos tecismo escreve: «A oração de lavra negativa, uma maldição. versário da morte de quatro descanso e de fruição de toda ainda pecadores» (Rm 5, 8) diz ab ençoar. bênção é a resposta do homem Cada um de nós pode pensar: missionárias norte-americanas a criação (2, 3). É Deus quem São Paulo: Palavra que se fez Uma forte experiência é ler aos dons de Deus: uma vez tenho o hábito de amaldiçoar assassinadas em El Salvador: abençoa. Nas primeiras pági- carne e foi oferecida por nós estes textos bíblicos de bênção que Deus abençoa,o coração desta maneira? E peçamos ao as irmãs de Maryknoll, Ita nas da Bíblia, é uma repetição na cruz. numa prisão, ou numa comu- do homem pode responder, Senhor a graça de mudar este Ford e Maura Clarke, a reli- contínua de bênçãos. Deus São Paulo proclama com nidade de recuperação. Fazer bendizendo Aquele que é a hábito porque temos um cora- giosa Ursulina Dorothy Kazel abençoa, mas também os ho- comoção o desígnio de amor com que as pessoas que per- fonte de toda a bênção» (n. ção abençoado e de um cora- e a voluntária Jean Donovan. mens abençoam, e depressa de Deus e diz assim: «Bendito manecem abençoadas apesar 2626). A oração é alegria e ção abençoado a maldição não A 2 de dezembro de 1980, fo- descobre-se que a bênção pos- seja Deus, Pai de nosso Se- dos seus graves erros, sintam gratidão. Deus não esperou pode sair. Que o Senhor nos ram raptadas, violadas e assas- sui uma força especial, que nhor Jesus Cristo, que do alto que o Pai celeste continua a que nos convertêssemos para ensine a nunca amaldiçoar, sinadas por um grupo de para- acompanha o destinatário ao do céu nos abençoou com to- amá-las e espera que elas final- começar a amar-nos, mas fê-lo mas a abençoar. militares. Estavam a servir em longo da vida e dispõe o cora- da a bênção espiritual em mente se abram ao bem. Se até muito antes, quando ainda es- El Salvador no contexto da ção humano a deixar-se mudar Cristo e nos escolheu nele an- os seus parentes mais próxi- távamos no pecado. No final da catequese, durante as ha- guerra civil. Com empenho por Deus (Conc. Ecum. Vat. tes da criação do mundo, para mos os abandonaram porque Não podemos só abençoar bituais saudações aos grupos que o evangélico e correndo grandes II, Const. Sacrosanctum concilium, sermos santos e irrepreensí- agora são considerados irrecu- este Deus que nos abençoa, seguiam através da mídia, o Papa fez riscos, levavam comida e me- 61). veis, diante dos seus olhos. No peráveis, para Deus conti- devemos abençoar tudo n’Ele, um apelo a favor da Nigéria e recor- dicamentos às pessoas deslo- Portanto, no início do mun- seu amor predestinou-nos pa- nuam a ser sempre filhos. todo o povo, abençoar Deus e dou o quadragésimo aniversário do cadas e ajudavam as famílias do há Deus que “b endiz”, ra sermos adotados como fi- Deus não pode cancelar em abençoar os irmãos, abençoar assassínio de quatro missionárias em mais pobres. Estas mulheres abençoa, bendiz. Ele vê que lhos seus por Jesus Cristo, se- nós a imagem de filho, cada o mundo: esta é a raiz da man- El Salvador. A seguir, também a sau- viveram a sua fé com grande cada obra das suas mãos é boa gundo o beneplácito da sua li- um de nós é filho, é filha. Às sidão cristã, a capacidade de se dação aos fiéis de língua portuguesa. generosidade. São um exem- e bela, e quando chega ao ho- vre vontade, para fazer res- vezes acontecem milagres: ho- sentir abençoado e a capacida- plo para que todos se tornem mem e se cumpre a criação, plandecer a sua maravilhosa mens e mulheres renascem. de de abençoar. Se todos fizés- Gostaria de vos assegurar as fiéis discípulos missionários. Ele reconhece que é «muito graça, que nos foi concedida Porque encontram a bênção semos isto, certamente não ha- minhas orações pela Nigéria, Queridos ouvintes de lín- boa» (Gn 1, 31). Pouco tempo por Ele no Amado» (Ef 1, 3-6). que os unge como filhos. Pois veria guerras. Este mundo pre- infelizmente ensanguentada gua portuguesa, saúdo-vos depois, aquela beleza que Não há pecado que possa can- a graça de Deus muda a vida: cisa de bênção e nós podemos de novo por um massacre ter- cordialmente, desejando-vos Deus imprimiu na sua obra se- celar completamente a ima- aceita-nos como somos, mas dar a bênção e receber a bên- rorista. No sábado passado, aquela misericórdia imensa e rá alterada e o ser humano tor- gem de Cristo presente em ca- nunca nos deixa como somos. ção. O Pai ama-nos. E tudo o no nordeste do país, mais de inesgotável que o Pai nos deu nar-se-á uma criatura degene- da um de nós. Nenhum peca- Pensemos no que Jesus fez que nos resta é a alegria de o uma centena de camponeses com o seu Filho feito Menino. rada, capaz de difundir o mal do pode cancelar aquela ima- com Zaqueu (cf. Lc 19, 1-10), abençoar e a alegria de lhe foram brutalmente assassina- Possam os vossos corações e as e a morte no mundo; mas ja- gem que Deus nos concedeu. por exemplo. Todos viam nele agradecer, e de aprender com dos. Que Deus os receba na vossas famílias alegrar-se com mais nada poderá apagar a A imagem de Cristo. Pode o mal; ao contrário, Jesus vê Ele a não amaldiçoar, mas a sua paz e conforte as suas fa- a presença deste Deus feito primeira marca de Deus, uma desfigurá-la, mas não a pode nele um vislumbre de bem, e abençoar. E aqui apenas uma mílias e converta os corações Homem, a exemplo da Virgem marca de bondade que Deus subtrair à misericórdia de dali, da sua curiosidade em ver palavra para as pessoas que es- daqueles que cometem tais Mãe que O concebeu por obra colocou no mundo, na nature- Deus. Um pecador pode per- Jesus, faz passar a misericórdia tão habituadas a amaldiçoar, horrores, ofendem gravemente do Espírito Santo! A todos, za humana, em todos nós: a manecer nos seus erros por que salva. Assim, mudou pri- as pessoas que têm sempre na o seu nome. bom Advento! capacidade de abençoar e o muito tempo, mas Deus é pa- meiro o coração e depois a vi- facto de sermos abençoados. ciente até ao fim, esperando da de Zaqueu. Nas pessoas Deus não errou com a criação, que no final aquele coração se menosprezadas e rejeitadas, nem com a criação do homem. abra e mude. Deus é como um Jesus via a bênção indelével Aesperança do mundo re s i d e bom pai e como uma boa mãe, do Pai. Zaqueu é um pecador completamente na bênção de também Ele é uma boa mãe: público, ele praticou muitas Gesto concreto de proximidade Deus: Ele continua a amar-nos, nunca deixam de amar o seu ações más, mas Jesus via aque- Ele primeiro, como diz o poe- filho, por mais que ele possa le sinal indelével da bênção do CO N T I N UA Ç Ã O DA PÁGINA 1 primeiro-ministro Mustafa de fraternidade. Todos no ta Péguy (Le porche du mystère de errar, sempre. Faz-me lembrar Pai e por isso teve compaixão. Al-Kazemi, que convidou os Iraque, cristãos e muçulma- la deuxième vertu, 1ª ed. 1911. Ed. as muitas vezes que vi pessoas Aquela frase que se repete tan- enfrentados, tais como o de cristãos, que fugiram do Ira- nos, o estimam pela sua sim- «encorajar a estabilidade e o que devido à violência, a re- plicidade e proximidade, dis- processo de reconstrução — gressar a fim de contribuírem se há um ano o Cardeal Louis salientou uma nota da sala de para a reconstrução. No en- Raphael Sako, Patriarca de Imprensa do Vaticano —en- tanto, os estaleiros da paz, se- Babilónia dos Caldeus, à Intenção do Santo Padre para o mês de dezembro corajando o caminho do diá- gurança e estabilidade ainda agência Sir. As suas palavras logo e da busca de soluções estão abertos. A crise econó- tocam o coração de todos adequadas a favor dos cida- mica, o desemprego, a cor- porque são as de um pastor. A prece muda a realidade dãos e no respeito pela sobe- rupção e a tragédia dos cerca Ele é um homem que pode rania nacional». É central «a de 1,7 milhões de pessoas des- trazer a paz. Muitos milhões «Por uma vida de oração» é a intenção para o realidade. E mudamos os nossos corações». importância de preservar a locadas internamente estão a de muçulmanos seguiram a mês de dezembro contida no vídeo da Rede Com efeito, «os nossos corações mudam quan- presença histórica dos cris- pôr à prova os projetos de de- visita do Pontífice a Abu mundial de oração do Papa. do rezamos». Pode-se «fazer muitas coisas, tãos» e «a necessidade de senvolvimento. A Unicef cal- Dhabi. Será assim também «O coração da missão da Igreja é a oração», mas sem oração não funciona». lhes garantir segurança e um cula que mais de 4 milhões no Iraque». afirma o Pontífice. É «a chave para entrar em Eis o convite a recorrer ao Senhor para que lugar no futuro» do país. de pessoas necessitam de as- A do Iraque, na planície diálogo com o Pai». Veem-se imagens de pes- «a nossa relação pessoal com Jesus Cristo seja No Iraque, de facto, antes sistência humanitária, meta- de Ur dos Caldeus, deveria soas em atitude de oração: mãos postas, rostos alimentada pela Palavra de Deus e por uma vi- de 2003, o ano do conflito de são crianças. Neste con- ter sido a primeira etapa da de mulheres e crianças que, em recolhimento, da de oração». que levou à queda de Sad- texto, onde faltam hospitais e peregrinação jubilar de João elevam a Deus as suas preces. Oração silencio- O vídeo conclui-se com as palavras do Papa dam Hussein, existiam cerca medicamentos, a pandemia Paulo II no ano 2000. A via- sa, do coração. A mesma oração que o Papa fez Francisco: «Em silêncio, todos, cada um reze de 1-1,4 milhões de cristãos. de Covid-19 matou milhares gem do Papa Wojtyła foi pla- diante do Crucifixo milagroso conservado na com o coração», pronunciadas durante o en- O horror da guerra e a ocu- de pessoas neada de 1 a 3 de dezembro igreja romana de São Marcelo “al Corso”e co- contro com a Rede mundial de oração, no 175º pação da Planície de Nínive Na primeira linha, em to- de 1999. Mas não se realizou, locado no adro da praça de São Pedro na sexta- aniversário da sua fundação. pelo autoproclamado Estado das as frentes, a Igreja local porque Saddam Hussein, feira 27 de março, quando rezou pelo fim da Distribuído como habitualmente através do islâmico, entre 2014 e 2017, aguarda agora a chegada do após negociações que dura- pandemia. «Cada vez que lemos um pequeno site www.thepopevideo.org, o vídeo traduzido reduziu-os a cerca de 300-400 Sucessor de Pedro que irá im- ram vários meses, decidiu trecho do Evangelho —continua o Pontífice no em nove línguas foi criado e produzido pela mil. O Presidente Salih fri- plementar o projeto concebi- adiá-la. Vinte anos mais tar- vídeo —ouvimos Jesus a falar-nos. Falamos Rede mundial de oração do Papa em colabora- sou repetidamente o valor do por São João Paulo II. «O de, aquele sonho de João com Jesus. Ouçamos Jesus e respondamos». E ção com a agência La Machi e o Dicastério pa- dos cristãos e o seu papel na Papa Francisco é um homem Paulo II torna-se realidade isto «é oração», porque «rezando mudamos a ra a comunicação. construção, na mesma linha o aberto, um buscador de paz e para o seu segundo sucessor. página 4, terça-feira 8de dezembro de 2020, número 49 L’OSSERVATORE ROMANO número 49, terça-feira 8de dezembro de 2020, página 5

A pandemia - Um desafio à interlocução com o futuro Que parábolas para este tempo? Comunicação apresentada na assembleia da CNBB a 25 de novembro

JOSÉ TOLENTINO DE MEND ONÇA modelado por Deus, indicando que o A praça vazia K a i ró s se desenvolve precisamente e a barca onde estamos todos m tipo de comunicação dentro do k ró n o s , apresentando como de Jesus que faz pensar é desafio para uma hermenêutica pro- Que parábolas e comparações po- aquele patente em frases fética aquilo que parece apenas a in- dem hoje aproximar o Reino de Deus como esta que servem de certa convulsão da história, desafian- da nossa linguagem e da nossa expe- Ufórmulas introdutivas ao seu discur- do-nos a acolher o aqui e o agora, na riência vital? Que parábolas e com- so: «A que é semelhante o Reino de sua indefinição e dureza, como um parações nos estão a abrir à compre- Deus? A que o hei de comparar?» (Lc misterioso radar para sondar o futu- ensão desde momento do mundo 13,18). Talvez ainda não valorizamos ro . que, como insiste o Papa Francisco, devidamente essas frases que pare- não se carateriza apenas por uma en- cem apenas simples estruturas de xurrada de mudanças, mas protago- passagem e, na verdade, são bem É bom niza efetivamente uma mudança de mais. É importante que nos pergun- que nos coloquemos perguntas época? Recordo as suas palavras em temos o que pretende Jesus com esse Florença, em novembro de 2015, diri- recurso de linguagem e o que é que «A que é semelhante o Reino de gidas aos participantes do V C o n g re s - este nos ensina sobre o seu método de Deus? A que o hei de comparar?» (Lc so da Igreja Italiana: «Pode-se dizer interpretação da realidade. Nesse 13,18). Mergulhados nesta situação que hoje não vivemos uma época de sentido, eu diria que há três coisas histórica distópica aberta pela pande- mudança mas uma mudança de épo- que se tornam manifestas. mia, que nos encontrou a todos im- ca. Portanto, as situações que vive- A primeira delas é que nem sempre preparados e destapou uma vulnera- mos hoje apresentam desafios novos é fácil interpretar a realidade. Em bilidade bem maior do que aquela que para nós às vezes são até difíceis demos dizê-lo, é já a Encíclica «Fra t e l - dos emocionalmente. Esta parábola tantas situações esta como que resiste que supúnhamos ser a nossa, tam- de compreender. Este nosso tempo li tutti» sobre a fraternidade a a amiza- da sala dos abraços faz-nos interrogar ao nosso modo habitual de a descre- bém nós nos fazemos perguntas: «A exige que vivamos os problemas co- de social, que vem explicar que «uma que necessidade é esta? Que parábola ver e o mete em crise. Na verdade, a que é que este tempo é semelhante? A mo desafios e não como obstácu- tragédia global como a pandemia da nos está a ser contada por todos os pergunta «A que é semelhante o Rei- que o havemos de comparar?» Aper- los». Covid-19» nos recorda «que ninguém abraços não dados e pelo desejo de no de Deus?» introduz uma espécie cebemo-nos, e de uma forma dramá- Foi o próprio Papa Francisco que se salva sozinho, que só é possível sal- voltar às expressões habituais dos de pausa reflexiva, um distanciamen- tica, que os nossos discursos, as nos- nos ofereceu, num dos momentos var-nos juntos» (F T, 32) e que há uma nossos afetos? Um abraço é uma es- to em relação aos saberes feitos; ins- sas práticas estabelecidas, os nossos mais terríveis do curso desta pande- coisa ainda pior que a pandemia: é o cola de humanidade. O abraço é uma taura um tempo mais lento dedicado espaços, a nossa organização foram, mia, duas imagens simbólicas que vírus do «salve-se quem puder» rapi- longa conversa que acontece sem pa- à escuta. de um momento para outro, também nos ajudam a concretizar aquilo que damente traduzido no lema «todos lavras. Tem uma incrível força ex- A segunda coisa que aprendemos colocados em crise ou declarados ina- o Concílio Vaticano II, na «Gaudium et contra todos» (F T, 36). Na verdade, pressiva. Comunica a disponibilida- com estas interrogações de Jesus é dequados. E transcorridos estes me- Spes» chamava o «dever da Igreja in- como escreveu Albert Camus que para explicar a vida de Deus e ses, dentro de nós sabemos como era vestigar a todo o momento os sinais no seu romance «A Peste», o dos tempos, e interpretá-los à luz do bacilo da peste pode chegar e ir Evangelho» (GS, 4). Naquela oração embora sem que o coração do extraordinária no Sagrado diante da Homem se modifique. A tarefa «É bom ver como a pandemia nos Basílica de São Pedro (27 de março urgente que hoje se coloca à acorda para reconhecermos o valor de 2020), o Santo Padre ofereceu-nos Igreja é trabalhar o coração hu- duas imagens que à primeira vista pa- mano, persuadi-lo da verdade de dimensões da vida e da recem contrapostas, pois de um lado do Evangelho, acreditando que humanidade e, nesse sentido, nos temos o vazio e do outro lado o cheio; dentro deste K ró n o s , com a for- de um lado temos a Praça sem nin- ça generativa do Espírito San- reconduz ao essencial» guém e do outro temos a Barca onde to, pode emergir o K a i ró s . estão todos. A imagem da Praça de São Pedro representava simbolica- de para entrar em relação com os ou- mente a inaudita situação dramática A sala dos abraços e o portal tros, superando o dualismo, fazendo das nossas ruas repentinamente silen- cair armaduras e desculpas. Os abra- ciosas, dos espaços públicos despo- «A que é semelhante o Reino de ços são a arquitetura íntima da vida, o voados, das nossas Igrejas vazias de- Deus? A que o hei de comparar?» (Lc seu desenho invisível; são plenitude vido à emergência sanitária e à neces- 13,18). Se olharmos em nosso redor, consentida ao afeto que reconcilia e sidade de confinamento. O vazio é a mesmo num tempo que parece blin- revitaliza. Num abraço, tudo o que parábola que os nossos olhos veem. dado na sua incerteza, há tantas pará- tem de ser dito soletra-se no silêncio, Mas Francisco escolheu para inter- bolas que nos estão a ser contadas. e ocorre isto que é tão precioso e afi- pretar essa imagem uma imagem Vou referir brevemente três: duas re- nal tão raro: sem defesas, um coração evangélica de sentido inverso. De tiradas do jornal e uma da Palavra de coloca-se à escuta de outro coração. É Eugène Delacroix (1798-1863), «Cristo no lago de Genesaré» facto, no texto de Marcos 4, 35-41 o Deus. A primeira aconteceu numa bom ver como a pandemia nos acor- Papa sublinhou que, «surpreendidos Casa de Repouso para idosos, em da para reconhecermos o valor de di- dos homens em profundidade preci- o passado, mas não sabemos ainda por uma tempestade inesperada e fu- Itália. Sabemos como a pandemia mensões da vida e da humanidade e, samos de parábolas e comparações. E exatamente como será o futuro. ribunda», «demo-nos conta de estar tem forçado a tantos «lutos relacio- nesse sentido, nos reconduz ao essen- precisamos de parábolas ou de com- Contudo, Jesus também aqui é o no mesmo barco, todos frágeis e de- nais»: desde os distanciamentos in- cial. parações que sejam novas, que relan- nosso Mestre, pois Ele nos incita a sorientados mas ao mesmo tempo terpessoais à suspensão das sauda- Ainda uma parábola retirada do cem as tarefas do olhar. As perguntas uma auscultação mais profunda da importantes e necessários: todos cha- ções que trocávamos uns com os ou- jornal é aquela que surge num texto de Jesus, de facto, abrem espaço a um realidade e a nos colocarmos corajo- mados a remar juntos, todos careci- tros (o aperto de mão, o abraço entre da escritora de origem indiana discurso não teórico, mas narrativo, samente perguntas, em vez de nos amigos, o beijo entre os Arundhati Roy: a imagem do portal. existencial e simbólico. Porque a nar- precipitarmos em procurar no nosso parentes), impedindo o Escreve ela: «Historicamente as pan- rativa e a atenção ao símbolo fazem- alforge o que julgamos serem já res- exercício comum da demias obrigaram os seres humanos a nos sintonizar diretamente com o real postas. De facto, um elemento de no- «A novidade destes tempos difíceis é o nossa humanidade e fa- romper com o passado e a imaginar da vida e é aí que Jesus coloca a reve- vidade destes tempos difíceis que vi- zendo crescer o isola- de novo o seu mundo. Esta não é di- lação do Reino de Deus. Sabemos, vemos é o património de perguntas património de perguntas que muitos se mento e a solidão. En- ferente. É um portal, uma porta entre no entanto, como não é fácil entrar que muitos se estão fazendo, e per- estão fazendo, e perguntas... que se tre a população mais um mundo e o seguinte. Podemos em comunicação com esse núcleo vi- guntas que não se debruçam apenas idosa um risco real é o optar por cruzá-lo arrastando atrás tal e, pelo contrário, como é tentador sobre o imediato e a sua obsidiante prendem... com a avaliação crítica daquilo sentimento de abando- de nós as carcaças do nosso prejuízo e sobrevoarmos teoricamente a realida- vertigem, mas que se prendem com o que a sociedade moderna coloca como no e a depressão, pois ódio, da nossa avareza, dos nossos de ou permanecermos indiferentes a sentido da vida, com a avaliação críti- faltam as visitas, a pro- bancos de dados e ideias mortas, dos ela, mesmo aquela que nos está mais ca daquilo que a sociedade moderna prioritário, com a forma como cada um ximidade e os carinhos. nossos rios mortos e dos céus cheios próxima. coloca como prioritário, com a forma tem habitado o real» Ora, esta instituição de fumos. Ou podemos atravessá-lo A terceira coisa a aprender é o fac- como cada um tem habitado o real. É criou a sala dos abra- caminhando ligeiros, com pouca ba- to do discurso de Jesus ter como fina- bom que nos coloquemos perguntas. ços. Em conformidade gagem, prontos para imaginar outro lidade ganhar os corações para o Rei- E também a nível eclesial. Não des- com todos os regula- mundo». no de Deus em vez de se ficar pelos perdicemos a oportunidade que re- mentos de saúde, os meros exercícios da retórica. A retóri- presenta fazermo-nos perguntas. Isso dos de mútuo encorajamento». O va- utentes da casa de repouso poderão ca faz uma camuflagem da realidade o escritor João Guimarães Rosa su- zio, revisto pela comparação que nos abraçar seus filhos, netos e parentes O mensageiro através das palavras, adiando o dese- blinhava: «Vivendo, se aprende; mas é dada pela Palavra de Deus, não é só protegidos por uma cortina especial e o campo novo jo de verdade e autenticidade. Tão o que se aprende, mais, é a fazer ou- vazio, mas possibilidade de ganhar de plástico que lhes permite dialogar diferente da persuasão evangélica tras maiores perguntas». A Igreja tem uma nova consciência de tudo o que sem dificuldade e ter também um Quando penso naquilo que hoje a que procura gerar no sujeito crente a essa responsabilidade: a de promover nos liga como comunidade humana. contacto visual e físico que faz com Palavra de Deus nos está dizendo, plena autoconsciência do presente as «maiores perguntas». Um dos frutos desta pandemia, po- que se sintam amparados e fortaleci- frequentemente me vem ao pensa- página 4, terça-feira 8de dezembro de 2020, número 49 L’OSSERVATORE ROMANO número 49, terça-feira 8de dezembro de 2020, página 5

A pandemia - Um desafio à interlocução com o futuro

O volume «O céu sobre a terra» com um texto inédito do Papa Francisco

Giuseppe Bartolomeo Chiari (1654-1727), «Alegoria da esperança» Transformar o mundo

FRANCISCO teriosa que, de modo imprevisível, impele os jor- teólogo norte—americano Reinhold Niebuhr es- mento o capítulo 32 do Livro do Pro- ros ao seu redor, alterando a paisagem e o territó- creveu: «A justiça que não for mais do que justiça feta Jeremias. A sua situação não po- inda podemos acreditar na possibilidade de um rio contíguos. Podemos encontrar a origem da degenera rapidamente em algo menos do que dia ser mais complexa, se não mesmo mundo novo, mais justo e fraternal? Podemos dinâmica cristã transformadora exemplificada justiça».5 E Martinho Lutero anotou: «A verda- desesperada. Jeremias está preso no realmente esperar numa transformação das so- na experiência do apóstolo dos gentios, Paulo de deira justiça sente piedade; a falsa justiça, indig- palácio real de Judá, acusado de ha- ciedades em que vivemos, onde não predominem Tarso, que o Senhor fulgurou no caminho de Da- nação».6 ver profetizado contra o rei Zede- a lei do mais forte nem a arrogância do deus di- masco com o seu olhar poderoso e misericordio- É diferente também o modo como o cristão quias, anunciando-lhe a derrota con- nheiro, mas sim o respeito pela pessoa e uma ló- so. «Naquele momento, Saulo compreendeu que trabalha ao lado dos últimos, que hoje em dia tra Nabucodonosor, a destruição de gica de gratuidade? Imagino a expressão no ros- a sua salvação não dependia das boas obras leva- têm o semblante dos idosos sozinhos, dos traba- Jerusalém e o exílio do povo em Ba- to de muitas pessoas, diante destas palavras, des- das a cabo segundo a lei, mas do facto de que Je- lhadores precários ou ilegais, dos refugiados, das bilónia. Ora, precisamente neste con- tas perguntas “ingénuas”. Uma leve dobra dos sus tinha morrido também por ele —o persegui- pessoas com deficiência. Este compromisso não é texto histórico extremo chega a Jere- lábios, curvada num sorrisinho de ceticismo ou, dor —e ressuscitado».3 Paulo nada fez para en- o preenchimento de um vazio que talvez procu- mias um mensageiro com uma sur- na melhor das hipóteses, de comiseração que nos contrar Jesus, a iniciativa não foi sua. Nada para remos evitar com um ativismo “entusiasta”, que a preendente proposta em contraciclo. leva a viver na sociedade do desencantamento. merecer aquele repentino olhar de amor que longo prazo não é credível, nem sequer sustentá- Visita-o o seu primo Hanameel que Portanto, devemos reconhecer que o mundo é Deus dirigiu inesperadamente a um seu “inimigo vel no tempo. lhe diz: «Compra a propriedade que imutável, com as suas injustiças que “clamam a p olítico”. Nem sequer «as boas obras levadas a Um abismo separa os profissionais do entu- tenho em Anatote, no território de Deus por vingança”? E a nós, homens de Igreja, cabo segundo a lei» —diz o Papa Bento —lhe po- siasmo do compromisso que nasce da experiên- Benjamim, porque é teu o direito de só nos resta a tarefa de pregar a resignação passi- deriam valer a salvação. Uma gratuidade absolu- cia de um presente recebido. Quando nos aproxi- posse e de resgate» (v. 8). E por ser Ava, ou de enunciar com a devida repetitividade ta, à qual o antigo perseguidor uma iniciativa tão nova e desbloquea- princípios tanto verdadeiros quanto abstratos? não opõe resistência, aliás, aco- dora, Jeremias compreendeu que essa Nenhuma mente honesta pode negar a força lhe-o livremente até sentir esse palavra provinha do Senhor. Na sua transformadora do cristianismo no devir da his- acontecimento como o sinal pre- oração, o profeta não deixa, porém, tória. Cada vez que a vida cristã se propagou na dominante da sua vida. A carida- de manifestar o seu espanto: «As sociedade de modo autêntico e livre, deixou sem- de da qual Paulo se torna teste- rampas de cerco são erguidas pelos pre um vestígio de nova humanidade no mundo. munha apaixonada, e que conhe- inimigos para tomarem a cidade, e Desde os primeiros séculos. A maior novidade no cemos bem através das suas car- pela guerra, pela fome e pela peste, plano social foi a consideração do valor de cada tas, é simplesmente o misterioso ela será entregue nas mãos dos babi- pessoa, sensibilidade que levava a não descartar reflexo daquela misericórdia ex- lónios que a atacam... Ainda assim, ó os indivíduos imperfeitos como inúteis, a tratar perimentada na sua vida. Soberano Senhor, tu me mandaste os escravos com respeito a ponto de sentir, ao Frequentemente, as palavras comprar a propriedade e convocar longo do tempo, como intolerável a própria insti- cristãs no nosso tempo evapo- testemunhas do negócio, embora a tuição da escravatura, o sentimento de repug- ram-se, perdem o seu significado. cidade esteja entregue nas mãos dos nância pela crueldade dos jogos dos gladiadores Amor, caridade... vocábulos que babilónios!» (vv. 24-25). E o Senhor eo“espetáculo de sangue”, a resiliência exercida hoje evocam um sentimentalismo lhe responde com uma promessa: pelo monaquismo beneditino na época dos bár- vago ou uma filantropia melancó- «Eu os reunirei de todas as terras pa- baros, perante o abandono dos campos e a perda lica. Para compreender o seu sen- ra onde os dispersei... Eu os trarei de de memória da cultura greco-latina, a beleza só- tido cristão, temos que pensar na experiência vi- mamos com sinceridade das pessoas vulneráveis, volta a este lugar e permitirei que vi- bria das igrejas românicas e o orante “assalto ao vida por Paulo, na transformação que ocorre nele com o desejo de as ajudar, somos remetidos às vam em segurança... Farei com eles céu”das catedrais góticas, a severa rejeição da por iniciativa divina; não altera os traços fortes nossas próprias vulnerabilidades. Todos as te- uma aliança permanente» (v. 37.40). usura e o preceito moral da “justa clemência”p e- da sua personalidade, não o leva a tornar-se um mos. E todos nós precisamos de cuidados, todos Que tempo é este que estamos a vi- lo operário, inserido no catecismo. Um mundo sonhador frágil e irrealista, mas um homem com temos necessidade de ser salvos. Por este motivo, ver? A que o havemos de comparar? novo que, pouco a pouco, nascia e adquiria for- um grande coração, porque é cativado por um a caridade sincera conduz sempre à oração, à Podemos, efetivamente, olhar apenas ma dentro de um mundo velho em decomposi- Amor maior. O seu hino à caridade, na primeira mendicância da Presença de Deus, a única que para o assédio devastador desta crise ção. carta aos Coríntios, permanece o “manifesto” pode curar as feridas interiores, tanto nossas co- que começa por ser sanitária, mas que mais sugestivo da revolução que Cristo traz ao mo dos outros. depressa contaminou tantos outros mundo. Existe outro traço distintivo na ação do cristão âmbitos, tornando-se uma crise po- Realmente, um dos erros mais antigos e sem- a favor do último. É uma ponta de júbilo que per- O LIVRO liédrica: económica, social, política, N pre persistentes na história da Igreja é o pelagia- manece sempre, talvez por vezes invisível, até pe- eclesial, civilizacional. Ou podemos nismo, em última análise um cristianismo des- rante as experiências mais negativas e dolorosas. perceber, numa leitura crente e espe- O tema do amor cristão provido da Graça, a fé reduzida ao moralismo, a É a companhia de uma Presença que, em última rançada da história como o faz Deus uma força de vontade titânica e malograda. Jus- análise, não depende de circunstâncias externas, incansavelmente, que esta hora, com Está nas livrarias desde 24 de novembro o livro Il cielo sulla tamente Agostinho —muito consciente da ferida mas é precisamente oferecida; uma familiaridade todos os seus constrangimentos é afi- terra. Amare e servire per trasformare il mondo [“O céu sobre a ter- estrutural que cada alma traz dentro de si —opôs- com Jesus, na qual progredimos dia após dia na nal um k a i ró s , uma oportunidade para ra. Amar e servir para transformar o mundo”] (Libreria edi- se com todas as forças ao erro de Pelágio. Com oração e na leitura do Evangelho. Raiz de uma relançar a nossa aliança com a vida. trice vaticana, Cidade do Vaticano, 288 páginas), com um efeito, o cristianismo não transformou o mundo esperança de mudança, que Charles Péguy via Este não é o momento para fazer cair texto inédito de Francisco, que publicamos na íntegra nesta antigo com táticas mundanas nem com o volun- como a virtude menina, que caminha quase es- os braços em desânimo, mas é um página. O volume, que faz parte da coletânea Scambio dei doni tarismo ético, mas unicamente com o poder do condida entre as saias das duas irmãs mais velhas tempo para apostas de confiança. (“Troca de dons”)—caraterizada por um cunho especifica- Espírito de Jesus Ressuscitado. (a fé e a caridade), mas na realidade é ela, esta es- Não é só um compasso de espera que mente ecuménico –volta a propor o tema do amor cristão e Todo o rio de obras de caridade, pequenas ou perança menina, que segura a mão e ampara. nos deixa como que suspensos numa dos valores a ele ligados, através de uma coleção de frases grandes, uma corrente de solidariedade que há «Para não amar o próximo, menina, dolorosa indefinição: é também um do Papa Bergoglio. dois mil anos atravessa a história, tem esta única seria preciso tapar os olhos e os ouvidos. desafio à interlocução com o futuro e nascente. A caridade brota de uma emoção, de Aos inúmeros clamores de desolação [...]. a dar passos concretos na sua direção. um enlevo, de uma Graça. Mas é a esperança, diz Deus, Não é só um tempo para fechar a se- Como acontecia, qual é o segredo desta formi- Historicamente, a caridade dos cristãos torna- que me surpreende. mente no celeiro enquanto se aguar- dável transformação? E que ensinamento pode- se desde o princípio atenção às necessidades das A mim mesmo. dam as condições que consideramos mos nós, cristãos do século XXI, tirar dela hoje? pessoas mais frágeis, as viúvas, os pobres, os es- Isto é espantoso! propícias: este é um tempo bom para Um pensador francês dos anos trinta, Emma- cravos, os doentes, os marginalizados... Compai- Que essas pobres crianças vejam os semeadores saírem para o campo, nuel Mounier, disse que a importante influência xão, padecer com quem sofre, partilha. Torna-se como tudo acontece para os pescadores se aventurarem no do cristianismo na civilização europeia era mais também denúncia das injustiças e compromisso e acreditem que amanhã será melhor. lago. Não é só uma estação para gerir um “efeito colateral”do testemunho dos primei- de as combater na medida do possível. Pois cui- Que elas vejam o que se passa hoje aflições crescentes: é também a oca- ros cristãos do que um plano preordenado; mais dar de uma pessoa significa abraçar toda a sua e acreditem que amanhã de manhã sião em que Deus nos ordena que ar- a consequência gratuita de uma fé vivida com condição, ajudá-la a libertar-se do que mais a será melhor. risquemos como Igreja e que compre- simplicidade, do que o resultado de um progra- oprime e nega os seus direitos. A primazia da Isto é espantoso! mos um campo novo. ma político-cultural elaborado teoricamente: Graça não leva à passividade; pelo contrário, E é realmente a maior maravilha «A que é semelhante o Reino de «Entre o início e os efeitos existe sempre uma es- centuplica a energia e aumenta a sensibilidade da nossa graça. Deus? A que o hei de comparar?» (Lc pécie de percurso oblíquo, parece que o cristia- diante das injustiças. Eu mesmo fico deslumbrado! 13, 18), perguntava-se Jesus. Hoje ca- nismo produz sempre efeitos sobre a realidade «Não deves acreditar que roubar significa É preciso que a minha graça be-nos a nós fazer esta pergunta. Mas temporal, como que por excesso, às vezes quase apenas furtar os bens do seu próximo; se vires o tenha efetivamente para isso precisamos realizar uma por distração».1 É quando se enraiza no Evange- teu próximo que sofrer de fome, de sede, de ne- uma força inacreditável. auscultação espiritual e autêntica da lho que o cristianismo oferece o melhor de si à ci- cessidade, que não tem casa, roupas, sapatos, e E que jorre de uma fonte, vida; precisamos de não nos fechar- vilização: «Com efeito, o cristianismo oferece não o ajudares, rouba-lo tal como alguém que como um rio inesgotável. mos num discurso abstrato ou num mais à ação externa dos homens quando cresce rouba o dinheiro de uma bolsa ou de uma gaveta. Desde a primeira vez que fluiu sistema fechado, mas de nos abrirmos em intensidade espiritual, do que quando se per- Tens o dever de o ajudar na necessidade. Pois os e que jorra eternamente».7 à leituras das histórias e dos exem- de na tática e na gestão».2 Naturalmente, do teus bens não são teus; és apenas o administrador plos que estão hoje diante dos nossos ponto de vista histórico esta observação é válida deles, e tens a tarefa de os distribuir aos necessita- 1Feu la Chrétienté, 1950, 252. olhos; e precisamos, por fim, de uma também no negativo; infelizmente, já o vimos dos».4 2Ibid., 253. hermenêutica profética da história muitas vezes: o cristianismo perde o melhor de si Um olhar novo nasce da experiência direta da 3 Bento XVI,An g e l u s , 25 de janeiro de 2009. que revele que Jesus Cristo é o seu quando acaba por se corromper, identificando-se gratuidade do amor de Deus. Por exemplo, não 4 Martinho Lutero, B re v i á r i o , 1996, 65-66. c e n t ro . com lógicas e estruturas mundanas. atenua, aliás aguça o sentido dramático do nosso 5Moral Man and Immoral Society, 1968, 181. Deixemos a superfície para ir mais a fundo; limite, do nosso ser pecadores. Mas precisamente 6 Martinho Lutero, B re v i á r i o , 109. Cardeal arquivista e bibliotecário como se descêssemos ao cerne de uma pequena por isso, faz-nos sentir mais forte a necessidade 7 Charles Péguy, Le porche du mystère de la deuxième da Santa Igreja Romana fonte para descobrir a origem daquela força mis- de uma justiça acompanhada da misericórdia. O vertu, 1978, 14. página 6L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 8de dezembro de 2020, número 49

Mensagem no Dia internacional das pessoas com deficiência A fragilidade pertence a todos

A inclusão deve ser «a “ro c h a ”sobre a sência do homem» (Discurso no cha» sobre a qual construir os qual construir os programas e as ini- Congresso «Catequese e pessoas com programas e iniciativas das ins- ciativas» das instituições civis e ecle- deficiência», 21 de outubro de tituições civis, para que nin- siais, sobretudo neste tempo de pande- 2017). guém, especialmente quem en- mia que «evidenciou ulteriormente a Assim de modo especial frenta maior dificuldade, fique desigualdade» da sociedade, afirmou neste Dia, em defesa nomeada- excluído. A força de uma cor- o Papa Francisco na seguinte mensa- mente dos homens e mulheres rente depende do cuidado dis- gem difundida por ocasião do Dia in- com deficiência, é importante pensado aos elos mais frágeis. ternacional das pessoas com deficiên- promover uma cultura da vida Quanto às instituições ecle- cia, que se celebrou a 3 de dezembro. que afirme sem cessar a digni- siais, reafirmo a exigência de dade de toda a pessoa, inde- preparar instrumentos idóneos e Queridos irmãos e irmãs! pendentemente da sua idade e acessíveis para a transmissão da Neste ano, valho-me da opor- condição social. fé. Espero também que os mes- tunidade que me dá a celebra- mos sejam disponibilizados, ção do Dia Internacional das da forma mais gratuita possí- Pessoas com Deficiência para 2. A «rocha» da inclusão vel, àqueles que precisam de- moção da sua participação ativa. rios. «Muitas pessoas com de- avançada nomeadamente em expressar a minha proximida- les, inclusivamente através das Antes de mais nada, reafir- ficiência sentem que vivem sem campo teológico e catequético. de a quantos atravessam situa- A pandemia atual eviden- novas tecnologias que se reve- mo veementemente o direito pertença nem participação. Espero que, nas comunidades ções particularmente difíceis ciou ainda mais as disparida- laram tão importantes para to- de as pessoas com deficiência Ainda há tanto que as impede paroquiais, cada vez mais pes- nesta crise pandémica. Esta- des e desigualdades que carate- dos neste período de pande- receberem os Sacramentos como to- de beneficiar da plena cidada- soas com deficiência possam mos todos no mesmo barco, no rizam o nosso tempo, com par- mia. Do mesmo modo encora- dos os outros membros da nia. O objetivo não é apenas tornar-se catequistas, para meio de um mar agitado que ticular detrimento dos mais jo, para sacerdotes, seminaris- Igreja. Todas as celebrações li- cuidar delas, mas acompanhá- transmitir a fé de maneira efi- nos pode atemorizar; mas, nes- frágeis. «O vírus, sem excluir tas, religiosos, catequistas e túrgicas da paróquia deveriam las e “ungi-las”de dignidade caz, inclusive com o seu pró- te barco, há alguns, como as ninguém, encontrou grandes agentes pastorais, uma formação estar acessíveis, para que cada para uma participação ativa na prio testemunho (cf. Discurso no pessoas com deficiências gra- desigualdades e discrimina- o rd i n á r i a sobre a relação com a um, juntamente com os irmãos comunidade civil e eclesial. Congresso «Catequese e pessoas com ves, que têm de lutar mais. ções no seu caminho devasta- deficiência e o uso de instru- e irmãs, possa aprofundar, ce- Trata-se de um caminho exi- deficiência», 21 de outubro de O tema deste ano é «Recons- dor. E aumentou-as!» (Cateque- mentos pastorais inclusivos. As lebrar e viver a sua fé. Deve ser gente e também cansativo, que 2017). truir melhor: rumo a um mundo pós- se na Audiência geral de 19 de comunidades paroquiais em- reservada uma atenção espe- contribuirá cada vez mais para «Pior do que esta crise, só o Covid-19, inclusivo da deficiência, agosto de 2020). penhem-se por fazer crescer, cial às pessoas com deficiência a formação de consciências ca- drama de a desperdiçar» (Ho- acessível e sustentável». Chamou- Por isso, uma primeira «ro- nos fiéis, o estilo acolhedor das que ainda não receberam os pazes de reconhecer cada um milia na Solenidade de Pentecostes, me a atenção a expressão «re- cha» sobre a qual construir a pessoas com deficiência. A Sacramentos da iniciação cris- como pessoa única e irrepetí- 31 de maio de 2020). Assim en- construir melhor», que me nossa casa é a inclusão. Embora criação de uma paróquia ple- tã: poderiam ser acolhidas e in- vel» (, 98). Efetiva- corajo todas pessoas que dia a lembra a parábola evangélica às vezes se abuse deste termo, a namente acessível requer não seridas no percurso catequéti- mente a participação ativa na dia, e muitas vezes no silêncio, da casa construída sobre a ro- parábola evangélica do Bom só a eliminação das barreiras co de preparação para estes Sa- catequese das pessoas com de- se gastam em favor das situa- cha ou sobre a areia (cf. Mt 7, Samaritano (cf. Lc 10, 25-37) arquitetónicas, mas sobretudo cramentos. A graça, de que es- ficiência constitui uma grande ções de fragilidade e deficiên- 24-27; Lc 6, 46-49). Por isso, permanece sempre atual. Com atitudes e ações de solidarieda- tes são portadores, não pode riqueza para a vida de toda a cia. Possa a vontade comum de aproveito o ensejo para parti- efeito, no caminho da vida, de- de e serviço, por parte dos pa- ser impedida a ninguém. paróquia, porque, enxertadas «reconstruir melhor» desenca- lhar algumas reflexões, preci- paramo-nos frequentemente roquianos, para com as pessoas «Em virtude do Batismo re- em Cristo no Batismo, parti- dear s i n e rg i a s entre as organiza- samente a partir da referida pa- com a pessoa ferida, que às ve- com deficiência e suas famílias. cebido, cada membro do povo lham com Ele, na sua condição ções tanto civis como eclesiais ráb ola. zes apresenta precisamente os O objetivo é chegarmos a su- de Deus tornou-se discípulo particular, o ministério sacer- para edificar, contra todas as traços da deficiência e da fragi- perar a subdivisão «eles», para missionário. Cada um dos ba- dotal, profético e real, evange- intempéries, uma «casa» sóli- lidade. «A inclusão ou exclu- existir apenas o «nós». tizados, independentemente lizando a t ra v é s ,com ena I g re j a . da, capaz de acolher também 1. A ameaça são da pessoa que sofre na mar- da própria função na Igreja e Portanto, também a presen- as pessoas com deficiência, da cultura do descarte gem da estrada define todos os do grau de instrução da sua fé, ça entre os catequistas de pes- porque construída sobre a ro- projetos económicos, políticos, 3. A «rocha» é um sujeito ativo de evangeli- soas com deficiência, de acor- cha da inclusão e da participação Começo pela «chuva», os sociais e religiosos. Dia a dia da participação ativa zação» (Evangelii gaudium, 120). do com as suas próprias capa- ativa. «rios» e os «ventos» que amea- enfrentamos a opção de ser Por isso, também as pessoas cidades, representa um recurso çam a casa e se podem identifi- bons samaritanos ou viandan- Para «reconstruir melhor» a com deficiência, tanto na so- para a comunidade. Neste sen- Roma, São João de Latrão, car com a cultura do descarte, tes indiferentes que passam ao nossa sociedade, é preciso que ciedade como na Igreja, pe- tido, deve-se favorecer a sua 3 de dezembro de 2020. generalizada no nosso tempo largo» (Fratelli tutti, 69). a inclusão dos sujeitos mais dem para se tornar sujeitos ativos formação, para que possam ad- (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, A inclusão deveria ser a «ro- frágeis englobe também a pro- da pastoral, e não só destinatá- quirir uma preparação mais FRANCISCO 53). Para ela, certas «partes da humanidade parecem sacrifi- cáveis em benefício de uma se- leção que favorece a um setor humano digno de viver sem li- mites. No fundo, as pessoas já Conversão pastoral e inclusão ecológica não são mais vistas como um valor primário a respeitar e tu- O cardeal Cláudio Hummes falou sobre a Universidade católica e a Conferência eclesial da Amazónia telar, especialmente se são po- bres ou deficientes» (Carta MARCELO FIGUEROA presidente da Rede Eclesial Pan-Amazónica (Re- Quais são, na sua opinião, o espaço e a transcendência eclesio- enc. Fratelli tutti, 18). pam), manifestou o seu pensamento sobre o Síno- lógica e sociológica da Ceama? É um novo modelo de conferên- Esta cultura afeta sobretudo Numa entrevista concedida a «L’Osservatore Ro- do para a Amazónia que teve lugar há um ano, a cia mais próximo ao pensamento de Francisco? as categorias mais frágeis, entre mano», o cardeal Cláudio Hummes, presidente da nova Conferência eclesial, a Universidade católica A conferência eclesial da Amazónia é algo novo, as quais se contam as pessoas nova Conferência Eclesial da Amazónia (Ceama), da região e a encíclica Fratelli tutti. Apresentamos a que interpela toda a Igreja. Obviamente inclui bis- com deficiência. Nos últimos arcebispo emérito de São Paulo, prefeito emérito da seguir as suas interessantes opiniões e reflexões. pos, mas também outras pessoas, como sacerdotes, cinquenta anos, foram dados Congregação para o clero e até há poucas semanas religiosos, religiosas, leigos, leigas e, com particular passos importantes, tanto a ní- Um ano após o Sínodo para a Amazónia, o que significa para ênfase, representantes indígenas. Tem caráter de vel das instituições civis como Vossa Eminência este evento e quais são as suas projeções para conferência, por desejo explícito do Papa Francis- das realidades eclesiais. Cres- o futuro? co, e por isso não é apenas um secretariado, nem ceu a consciência da dignidade Penso, antes de mais nada, que o Sínodo ofere- uma comissão de outro organismo. Possui uma ca- de cada pessoa, o que levou a ceu a toda a Igreja um conhecimento mais real e raterística mais sinodal do que as outras conferên- opções corajosas em prol da in- acolhedor dos povos originários, da sua cultura, cias da Igreja. Ainda é jovem, modesta, mas muito clusão de quantos vivem uma identidade, história e visão do mundo, bem como animada. limitação física ou/e psíquica. da sua importância insubstituível para toda a famí- Contudo, a nível cultural, per- lia humana e, de forma especial, para a Igreja. Em Que lugar ocupará a Universidade católica da Amazónia no manecem ainda demasiadas segundo lugar, o Sínodo mostrou que é possível contexto das duas perguntas anteriores? expressões que efetivamente construir novos caminhos para a Igreja através da A criação de uma Universidade católica amazó- contradizem esta orientação. conversão pastoral e da inclusão ecológica (cuidar nica foi desejada pelo Sínodo. Todos sabemos que Existem atitudes de rejeição da casa comum) e mediante um processo que con- a educação e a escolarização são fundamentais para que, por causa também de uma siste em abater muros e construir pontes e, através o desenvolvimento integral da família humana. No mentalidade narcisista e utili- destas pontes, chegar às periferias do mundo para entanto, o projeto para a Amazónia é que deve ser tarista, conduzem à marginali- ouvir, ouvir e voltar a ouvir, desaprender, aprender uma instituição educacional inculturada que acolha zação, sem considerar que, ine- e depois reaprender, num processo, para construir o e desenvolva a cultura e o conhecimento ancestral, vitavelmente, a fragilidade é de to- futuro com as populações locais, inculturando e en- construindo os seus procedimentos e projetos edu- dos. Na realidade, há pessoas carnando o Evangelho nas culturas, num diálogo cacionais com a própria população do território. até com deficiências graves que inter-religioso e intercultural, com paixão e audá- encontraram, embora com di- cia. Podemos chamar a tudo isto «construção de Tendo em consideração o que já dissemos até aqui, qual é na ficuldade, a estrada de uma vi- uma Igreja mais sinodal e misericordiosa, com uma sua opinião o fio condutor mais importante entre «Laudato da boa e significativa, tal como clara opção preferencial pelos pobres». Em terceiro si’», «» e «Fratelli tutti»? existem muitas outras «nor- lugar, o Sínodo reafirmou o que o Papa Francisco É a fidelidade na inclusão de todos os seres hu- malmente dotadas» que toda- propõe na Laudato si’ e na Evangelii gaudium sobre o manos envolvidos, e também do território, a “casa via vivem insatisfeitas senão cuidado da casa comum, especialmente da Amazó- comum”. É não aceitar que alguém fique para trás mesmo desesperadas. «A vul- nia, neste tempo de grave e urgente crise climática e ou deixe de ser reconhecido como igual. Somos to- nerabilidade faz parte da es- ecológica. dos irmãos. Tudo está interligado! número 49, terça-feira 8 de dezembro de 2020 L’OSSERVATORE ROMANO página 7

INFORMAÇÕES Audiências dotal em 25 de março de 1962 e foi ordenado Bispo a 3 de dezembro de 2000. O Papa Francisco recebeu em audiências No dia 28 de novembro clero da mesma Sede, até esta data (1996-2000); conselheiro provincial da Pro- D. Louis Nzala Kianza, Bispo p a r t i c u l a re s : De D. Patrick Kieran Lynch, Pároco de “San Francisco Javier de víncia Brasil Centro dos Verbitas (1996- Emérito da Diocese de Popokabaka, S S.CC., ao cargo de Auxiliar da Ar- Las Colinas”, simultaneamente eleito 2001); formador e professor de Teologia no na República Democrática do Con- No dia 26 de novembro quidiocese Metropolitana de Sou- Bispo Titular de Ploaghe. jardim Míriam (2001-2005); e vice-pároco go. O Senhor Cardeal Edoardo Meni- thwark (Inglaterra). D. Manuel González Villaseñor nasceu a de Nossa Senhora Aparecida na Diocese de O saudoso Prelado nasceu em Kiamfu chelli, Arcebispo Emérito de Anco- 16 de dezembro de 1963, em Guadalajara Santo Amaro (2006-2012). Na Diocese de Kia Nzadi, Diocese de Kenge (República na-Osimo (Itália); o Rev.mo Mons. No dia 29 de novembro (México), e recebeu a Ordenação sacerdotal Humaitá foi vigário-geral, administrador da Democrática do Congo), a 6 de fevereiro de Bruno Marie Duffé, Secretário do De D. Robert Ovide Bourgon, ao em 19 de maio de 1991. catedral (2013-2015) e administrador da 1946. Foi ordenado Sacerdote no dia 25 de Dicastério para o Serviço do Desen- governo pastoral da Diocese de — Eduardo Muñoz Ochoa, do cle- missão costeira Beiradão (2016-2020). Até agosto de 1972 e recebeu a Ordenação episco- volvimento Humano Integral; e o Hearst-Moosonee (Canadá). ro da mesma Sede, até agora Forma- agora foi professor de Teologia no seminário pal em 14 de julho de 1996. R e v.do Pe. Tomaž Mavrič, Superior- dor do Seminário Maior, simultanea- maior João XXIII, em Porto Velho. Geral da Congregação da Missão mente eleito Bispo Titular de Sata- No dia 28 de novembro (Lazaristas). Nomeações fis. D. Bonifácio Piccinini, salesiano, D. Eduardo Muñoz Ochoa nasceu no dia Prelados falecidos Arcebispo Emérito de Cuiabá, no No dia 27 de novembro O Santo Padre nomeou: 13 de outubro de 1968, em Guadalajara Brasil. Os Senhores Cardeais Luis Anto- (México), e foi ordenado Presbítero a 22 de Adormeceram no Senhor: O venerando Prelado nasceu no dia 13 de nio G. Tagle, Prefeito da Congrega- A 25 de novembro maio de 1997. maio de 1929, em Luiz Alves, Diocese de ção para a Evangelização dos Povos; Bispo da Diocese de Witbank No dia 24 de novembro Blumenau (Brasil). A 31 de janeiro de 1948 , Arcebispo Eméri- (África do Sul), D. Xolelo Thad- A 28 de novembro D. Damián Iguacén Borau, Bispo emitiu a primeira profissão religiosa na Socie- to de Génova (Itália); e Peter Kodwo daeus Kumalo, até à presente data Bispo Auxiliar da Arquidiocese Emérito da Diocese de San Cristobál dade Salesiana de São João Bosco e foi or- Appiah Turkson, Prefeito do Dicas- Bispo de Eshowe. Metropolitana de Toronto (Canadá), de La Laguna, Tenerife, na Espa- denado Sacerdote em 11 de fevereiro de 1960. tério para o Serviço do Desenvolvi- Bispo da Diocese de Rustenburg o Rev.mo Mons. Ivan Philip Camille- nha. Recebeu a Ordenação episcopal no dia 31 de mento Humano Integral. (África do Sul), o Rev.mo Mons. Ro- ri, até hoje Vigário-Geral e Modera- O venerando Prelado nasceu no dia 12 de agosto de 1975 e renunciou ao governo pasto- Sua Ex.cia o Senhor Majid Al- bert Mogapi Mphiwe, do clero de dor da Cúria na mesma Sede, simul- fevereiro de 1916, no município de Fuencalde- ral da sua Arquidiocese a 9 de junho de Suwaidi, Embaixador dos Emirados Pretória, até agora Vigário-Geral da taneamente eleito Bispo Titular de ras, Diocese de Jaca (Espanha). Recebeu a 2004. Árabes Unidos na Espanha. mesma Sede. Teglata in Numidia. Ordenação presbiteral em 7 de junho de 1941 D. Robert Mogapi Mphiwe nasceu em D. Ivan Philip Camilleri nasceu a 18 de e foi ordenado Bispo a 11 de outubro de No dia 29 de novembro No dia 28 de novembro Pretória, na África do Sul, a 14 de março de abril de 1969, em Malta, e foi ordenado Sa- 1970. D. José Rafael Barquero Arce, Bis- Os Senhores Cardeais Marc Ouel- 1972, e foi ordenado Sacerdote no dia 1 de cerdote no dia 12 de maio de 2007. po Emérito da Diocese de Alajuela, let, Prefeito da Congregação para os novembro de 1997. Bispo Auxiliar da Diocese de Dae- No dia 25 de novembro na Costa Rica. Bispos; e Sua Beatitude Béchara Primeiro Bispo da nova Eparquia jeon, na Coreia, o Rev.do Pe. Stepha- D. Uriah Ashley, Bispo Titular de O ilustre Prelado nasceu a 27 de outubro Boutros Rai, Patriarca de Antioquia de Olsztyn-Gdańsk de rito bizanti- nus Han Jung Hyun, do clero de Agbia, ex-Auxiliar de Panamá. de 1931, em San Rafael de Heredia, Diocese dos Maronitas (Líbano); e o Rev.do no-ucraniano (Polónia), o Rev.do Pe . Daejeon, até à presente data Pároco O ilustre Prelado nasceu na localidade de de Alajuela (Costa Rica). Recebeu a Orde- Pe. Frédéric Fornos, S.J., Diretor In- Arkadiusz Trochanowski, do clero da da Paróquia da Sagrada Família, si- Almirante, Prelazia de Bocas del Toro (Pa- nação sacerdotal em 22 de dezembro de 1956 ternacional da Rede Mundial de Eparquia de Wrocław-Gdańsk. Até à multaneamente eleito Bispo Titular namá), no dia 1 de fevereiro de 1944. Foi or- e foi ordenado Bispo no dia 1 de maio de Oração do Papa. tomada de posse do Bispo, a Epar- de Mozotcori. denado Presbítero em 15 de agosto de 1979 e 1979. quia de Olsztyn-Gdańsk será gover- D. Stephanus Han Jung Hyun nasceu no recebeu a Ordenação episcopal das mãos de No dia 1 de dezembro nada pelo Metropolita, D. Eugeniusz dia 7 de setembro de 1971, em Hong Sung, João Paulo II a 6 de janeiro de 1994. E re ç õ e s M i ro sł aw Popowicz, como Adminis- Diocese de Daejeon (Coreia), e recebeu a Or- D. Henri Teissier, Arcebispo Emé- trador Apostólico. denação sacerdotal em 21 de fevereiro de No dia 26 de novembro rito de Argel (Argélia). Sua Santidade erigiu: D. Arkadiusz Trochanowski nasceu no dia 2000. D. Benjamín Jiménez Hernández, O venerando Prelado nasceu em Lyon 6 de janeiro de 1973 na localidade de Szpro- Vigário Apostólico de El Beni Bispo Emérito da Diocese de Culia- (França), a 21 de julho de 1929. Foi ordena- A 25 de novembro tawa, Eparquia de Wrocław-Gdańsk (Poló- (Bolívia), D. Aurelio Pesoa Ribera, cán, no México, de Covid-19. do Presbítero no dia 24 de março de 1955 e A Eparquia de Olsztyn-Gdańsk de nia), numa família de antiga tradição greco- O.F.M., Bispo Titular de Leges, até O saudoso Prelado nasceu a 31 de março recebeu a Ordenação episcopal em 2 de feve- rito bizantino-ucraniano (Polónia), católica ucraniana, e recebeu a Ordenação agora Auxiliar da Arquidiocese de La de 1938, em Pénjamo, Diocese de Irapuato reiro de 1973. com território desmembrado da Ar- sacerdotal em 29 de julho de 2000. Paz e Secretário-Geral da Conferên- (México). Foi ordenado Sacerdote no dia 28 quieparquia de Przemyśl-Warszawa e cia Episcopal Boliviana. de julho de 1963 e recebeu a Ordenação epis- da Eparquia de Wrocław-Gdańsk, A 26 de novembro Administrador Apostólico “Sede copal em 29 de junho de 1989. Início de Missão modificando ao mesmo tempo o no- Bispo Auxiliar da Diocese de plena” da Diocese de Broome (Aus- D. Alfonso Milián Sorribas, Bispo de Núncios Apostólicos me da Eparquia de Wrocław-Gdańsk Warszawa-Praga, na Polónia, o trália), o Rev.mo Mons. Paul Boyers, Emérito da Diocese de Barbastro- em Wrocław-Koszalin e tornando a R e v.do Cón. Jacek Grzybowski, do até esta data Vigário-Geral da mesma Monzón, na Espanha, de Covid-19. De D. Luís Miguel Muñoz Cárda- nova Eparquia sufragânea da men- clero da mesma Sede, até agora Dire- Sede. O ilustre Prelado nasceu no dia 5 de ja- ba, no Sudão (20 de outubro). cionada Arquieparquia. tor do Gabinete Diocesano para a neiro de 1939, em La Cuba, Diocese de Te- De D. Ante Jozić, na Bielorrússia Pastoral Universitária, simultanea- A 29 de novembro ruel (Espanha). Recebeu a Ordenação sacer- (3 de novembro). mente eleito Bispo Titular de Nova. Administrador Apostólico da Dio- Renúncias D. Jacek Grzybowski nasceu no dia 11 de cese de Hearst-Moosonee (Canadá), agosto de 1973, em Wołomin, Diocese de D. Terrence Thomas Prendergast, O Sumo Pontífice aceitou a renúncia: Warszawa-Praga (Polónia), e foi ordenado S.J. Sacerdote em 30 de maio de 1998. Bispo da Diocese de Homa Bay Congregação para as causas dos santos No dia 25 de novembro (Quénia), o Rev.do Pe. Michael Otie- De D. Kevin Patrick Dowling, A 27 de novembro no Odiwa, do clero da mesma Sede, C.S S.R., ao governo pastoral da Dio- Arcebispo de Halifax-Yarmouth até agora Sacerdote «Fidei Donum» Promulgação de decretos cese de Rustenburg (África do Sul). (Canadá), D. Brian Joseph Dunn, na Arquidiocese Metropolitana de até hoje Arcebispo Coadjutor da Adelaide (Austrália). A 23 de novembro, o Santo Pa- em Granada (Espanha) a 10 de No dia 27 de novembro mesma Sede. D. Michael Otieno Odiwa nasceu a 11 de dre Francisco recebeu em au- julho de 1923; De D. Anthony Mancini, ao go- Bispos Auxiliares de Guadalajara novembro de 1962, em Sori Karungu, Dioce- diência D. , — às virtudes heroicas do servo verno pastoral da Arquidiocese de (México), os Rev.dos Pa d re s : se de Homa Bay, no Quénia, e foi ordenado prefeito da Congregação para as de Deus Alfonso Ugolini, sacer- Halifax-Yarmouth (Canadá). — Manuel González Villaseñor, do Presbítero no dia 3 de julho de 1993. causas dos santos. Durante a au- dote diocesano; nascido a 22 de diência, o Sumo Pontífice autori- agosto de 1908 em Thionville A 1 de dezembro zou a mesma Congregação a (França) e falecido em Sassuolo Bispo da Diocese de Buffalo (Es- promulgar os seguintes Decretos (Itália) a 25 de outubro de tados Unidos da América), D. Mi- re l a t i v o s : 1999; chael William Fisher, até hoje Bispo — ao milagre, atribuído à in- — às virtudes heroicas da serva Titular de Truentum e Auxiliar da tercessão do venerável servo de de Deus Maria Francisca Ticchi Online também a trigésima quinta Arquidiocese de Washington. Deus Mario Ciceri, sacerdote (no século: Clementina Adelaide diocesano; nascido a 8 de setem- Cesira), monja professa das Cla- reunião do Conselho de cardeais A 2 de dezembro bro de 1900 em Veduggio (Itália) rissas Capuchinhas; nascida a 23 Bispo da Diocese de Ji-Paraná, no e falecido em Brentana di Sul- de abril de 1887 em Belforte «Devido à situação sanitária», mais uma vez «realizou-se online» na Brasil, o Rev.do Pe. Norbert Hans biate (Itália) a 4 de abril de all'Isauro (Itália) e falecida em terça-feira, 1 de dezembro, às 16 horas, o encontro previsto do Papa Christoph Foerster, S.V.D., até à pre- 1945; Mercatello sul Metauro (Itália) a Francisco com o Conselho de cardeais. sente data Conselheiro Provincial da — ao martírio dos servos de 20 de junho de 1922; Foi o comunicado feito pela Sala de imprensa da Santa Sé, ex- Província Brasil Centro, com Sede Deus João Elias Medina, sacer- — às virtudes heroicas da serva plicando que esta trigésima quinta reunião, tal como a anterior em em São Paulo. dote diocesano, e 126 compa- de Deus Maria Carola Cecchin outubro passado, também teve lugar por ligação vídeo. D. Norbert Hans Christoph Foerster, nheiros, sacerdotes, religiosos e (no século: Fiorina), religiosa Intervieram das respetivas sedes os cardeais Óscar Andrés Rodrí- S.V.D., nasceu a 9 de julho de 1960, em Bonn leigos; mortos, por ódio à fé, na professa da congregação das Ir- guez Maradiaga, salesiano; ; Sean Patrick O'Malley, (Alemanha). Fez os estudos de Filosofia e Espanha, entre 1936 e 1939; mãs de São José Bento Cottolen- capuchinho; ; e Fridolin Ambongo Besungu, capu- Teologia em Münster, na Alemanha. Obteve o — às virtudes heroicas do servo go; nascida a 3 de abril de 1877 chinho; e do Vaticano conectaram-se os cardeais Pietro Parolin e bacharelato em Teologia no Centro de ensino de Deus Fortunato Maria Farina, em Cittadella (Itália) e falecida , e o bispo Marco Mellino, secretário do Conse- superior de Juiz de Fora, no Estado de Mi- arcebispo titular de Hadrianopo- no navio a vapor quando regres- lho. O Papa participou da Casa Santa Marta. nas Gerais; a licenciatura em Ciências da re- litana in Honoriade, ex-bispo de sava do Quénia para a Itália a 13 Após uma breve saudação do Santo Padre, foi apresentado o no- ligião na pontifícia Universidade católica de Troia e Foggia; nascido a 8 de de novembro de 1925; e vo membro do Conselho, cardeal Ambongo Besungu, arcebispo me- São Paulo; e o doutorado em São Bernardo março de 1881 em Baronissi (Itá- — às virtudes heroicas da serva tropolitano de Kinshasa, e foram oferecidas algumas contribuições na Universidade metodista de São Paulo. Foi lia) e falecido em Foggia (Itália) de Deus Maria Francisca Gian- sobre a vida da Igreja nos diversos continentes, particularmente na ordenado Sacerdote da Sociedade do Verbo a 20 de fevereiro de 1954; netto (no século: Carmela), reli- atual situação sanitária. Divino em 10 de dezembro de 1989 e, em se- — às virtudes heroicas do servo giosa professa da congregação O secretário do Conselho resumiu os passos dados na elaboração guida, desempenhou as seguintes funções: vi- de Deus André Manjón y Man- das Filhas de Maria Imaculada; do texto da nova Constituição apostólica, enquanto estão a ser es- ce-pároco de São Francisco de Assis em Valo jón, sacerdote, fundador das Es- nascida a 30 de abril de 1902 em tudadas observações, emendas e propostas recebidas pelos dicasté- Velho, Diocese de Campo Limpo (1990- colas da Ave-Maria; nascido a 30 Camaro Superiore (Itália) e ali rios interpelados nos últimos meses. 1995); animador vocacional e formador no de novembro de 1846 em Sargen- falecida a 16 de fevereiro de A próxima reunião foi agendada para fevereiro de 2021. seminário diocesano da Diocese de Registro tes de Lora (Espanha) e falecido 1930. página 8L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 8de dezembro de 2020, número 49

ANGELUS — NA SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO Dizer não ao pecado e sim à Graça

«Confiemo-nos» a Maria, «e digamos de tarmos um dia totalmente livres do não, este é o sentido mundano. Mas uma vez para sempre “não”ao pecado e “sim” pecado. E esta é a graça, é gratuita, é aproveitar o hoje para dizer “não”ao à Graça» para «deixar finalmente de nos fe- um dom de Deus. mal e “sim”a Deus; abrir-se à sua charmos em nós mesmos, caindo na hipocri- E o que para Maria estava no iní- Graça; deixar finalmente de se fechar sia», convidou o Papa no Angelus da soleni- cio, para nós estará no fim, depois de em si mesmo, deixando-se levar pela dade da Imaculada Conceição, recitado a 8 termos passado pelo “banho”purifi- hipocrisia. Enfrentar a própria reali- de dezembro, na praça de São Pedro. cador da graça de Deus. O que nos dade tal como somos; reconhecer que abre a porta do paraíso é a graça de não amamos a Deus e não amamos o Amados irmãos e irmãs, bom dia! Deus, recebida por nós com fidelida- nosso próximo como devíamos, e A festa litúrgica de hoje celebra uma de. Todos os santos e santas percorre- confessá-lo. É assim que se começa das maravilhas da história da salva- ram este caminho. Contudo até os um caminho de conversão pedindo ção: a Imaculada Conceição da Vir- mais inocentes foram marcados pelo primeiro a Deus perdão no Sacra- gem Maria. Ela também foi salva por pecado original e lutaram com todas mento da Reconciliação, e depois re- Cristo, mas de uma forma extraordi- as forças contra as suas consequên- parar o mal feito aos outros. Mas nária, porque Deus quis que desde o cias. Passaram pela «porta estreita» sempre abertos à graça. O Senhor ba- momento da conceção a mãe do seu que conduz à vida (cf. Lc 13, 24). E te à nossa porta, bate ao nosso cora- Filho não fosse tocada pela miséria sabeis qual foi o primeiro do qual te- ção para entrar em amizade, em co- do pecado. E assim Maria, durante mos a certeza que entrou no paraíso, munhão connosco, para nos dar a toda a sua vida terrena, foi livre de sabeis? Um “patife”: um dos dois que salvação. qualquer mancha de pecado, foi a foram crucificados com Jesus. Vol- E para nós este é o caminho para «cheia de graça» (Lc 1, 28), como o tou-se para ele e disse: «Jesus, lem- nos tornarmos “santos e imacula- anjo a chamou, e gozou de uma ação bra-te de mim quando entrares no dos”. A beleza não contaminada da singular do Espírito Santo, para que teu reino». E Ele respondeu: «Hoje nossa Mãe é inimitável, mas ao mes- pudesse manter sempre a sua relação mesmo estarás comigo no paraíso» mo tempo atrai-nos. Confiemo-nos a perfeita com o seu Filho Jesus; de (Lc 23, 42-43). Irmãos e irmãs, a graça ela, e digamos de uma vez para sem- facto, foi a discípula de Jesus: a Mãe de Deus é oferecida a todos; e muitos pre “não”ao pecado e “sim”à Gra- e a discípula. Mas o pecado não esta- que nesta terra são os últimos, no céu ça. Italiana renovam a adesão à Associa- terá lugar esta tarde na Praça de Es- va nela. serão os primeiros (cf. Mc 10:31). ção. Envio-lhes as minhas saudações panha, a fim de evitar o risco de uma No magnífico hino que abre a Car- Mas cuidado. Não vale a pena ser No final da prece mariana, o Santo Padre e o meu desejo de bom caminho. Re- aglomeração, tal como disposto pelas ta aos Efésios (cf. 1, 3-6.11-12), São esperto: adiar constantemente um saudou os fiéis presentes e recordou que «para zo “para que Cristo seja formado em autoridades civis, às quais devemos Paulo faz-nos compreender que todo exame sério da própria vida, aprovei- evitar o risco de uma aglomeração», foi de vós”— como escreve São Paulo —e obedecer. Mas isto não nos impede o ser humano é criado por Deus para tando-se da paciência do Senhor — manhã cedo à praça de Espanha para home- para que sejais artesãos de fraternida- de oferecer à nossa Mãe as flores que aquela plenitude de santidade, para Ele é paciente, Ele espera por nós, nagear a Imaculada. de. mais lhe agradam: a oração, a peni- aquela beleza com que Nossa Senho- Ele está sempre presente para nos Saúdo os representantes do Muni- tência, o coração aberto à Graça. ra foi revestida desde o início. A meta conceder a graça. Podemos enganar Amados irmãos e irmãs! cípio de Rocca di Papa, que hoje — Contudo, esta manhã, cedo, fui pri- para a qual somos chamados é tam- os homens, mas não a Deus, Ele co- Saúdo-vos a todos, fiéis de Roma e de acordo com a tradição —acende- vadamente à Praça de Espanha, e de- bém para nós um dom de Deus, que nhece o nosso coração melhor do que peregrinos de vários países. E saúdo rão a estrela de Natal na “Fo r t a l e z a ” pois a Santa Maria Maior, onde cele- —diz o Apóstolo —nos «escolheu an- nós próprios. Aproveitemos o mo- o grupo da Imaculada, hoje, na festa da cidade. Que a luz de Cristo ilumi- brei a Missa. tes da criação do mundo para sermos mento presente! Este é o sentido cris- da Imaculada: muito bem, estão sem- ne sempre a vossa comunidade. Desejo-vos a todos boa festa. E santos e imaculados» (v. 4); predesti- tão de aproveitar o dia: não para des- pre aqui! Como sabeis, a homenagem tradi- por favor não vos esqueçais de rezar nou-nos (cf. v. 5), em Cristo, para es- frutar da vida no momento fugaz, Hoje, os sócios da Ação Católica cional à Imaculada Conceição não por mim. Bom almoço e até à vista!

Durante a alocução mariana de 6 de dezembro o Papa recordou que o presépio e a árvore são sinais de esperança Nenhuma pandemia pode apagar a luz do Natal

Inspirado pelo pinheiro levantado na praça de São Pedro e pelo presépio em cons- areia movediça: a areia movedi- na,, o Santo Padre saudou os fiéis pre- trução, no final do Angelus de 6 de dezembro o Papa Francisco ressaltou a impor- ça de uma existência medíocre. sentes na praça, proferindo ainda as tância destes dois símbolos «de esperança, neste tempo difícil», exortando «a não A mediocridade consiste nisto. seguintes expressões. se limitar ao sinal, mas a ir ao significado, isto é, a Jesus», pois —assegurou — O que se pode fazer em tais ca- «não há pandemia, não há crise que possa apagar» a luz do Natal. Antes da re- sos, quando gostaríamos de ir Amados irmãos e irmãs! citação da prece mariana, da janela do estúdio particular do Palácio apostólico em frente mas sentimos que Saúdo de coração todos vós do Vaticano, o Pontífice comentou o Evangelho dominical, meditando sobre o te- não conseguimos? Antes de aqui presentes —sois corajosos, ma da conversão. mais nada, recordemos que a com este mau tempo —ro m a - conversão é uma graça: ninguém nos e peregrinos, e quantos es- Estimados irmãos e irmãs, no Jordão, na água, mas era se pode converter com as pró- tão sintonizados através dos bom dia! inútil, era apenas um sinal e era prias forças. É uma graça que o meios de comunicação social. inútil, quando não havia a dis- Senhor nos dá, e portanto de- Como vedes, na praça foi le- O Evangelho deste domingo ponibilidade de se arrepender e vemos pedi-la com força a vantada a árvore de Natal e o (Mc 1, 1-8) apresenta a figura e a mudar a vida. Deus, pedir a Deus que nos presépio está em construção. obra de João Batista. Ele indi- A conversão supõe a dor pe- converta, que realmente possa- Durante estes dias, preparam- cou aos seus contemporâneos los pecados cometidos, o dese- mos converter-nos, na medida se também em muitas casas es- um itinerário de fé semelhante jo de se livrar deles, o propósito em que nos abrirmos à beleza, à tes dois sinais de Natal, para a ao que o Advento nos propõe, a de os excluir para sempre da bondade, à ternura de Deus. alegria das crianças... e inclusi- nós que nos preparamos para própria vida. Para excluir o pe- Pensai na ternura de Deus. ve dos adultos! São sinais de es- receber o Senhor no Natal. Es- cado, é necessário rejeitar tam- busca de Deus e do seu reino. Desa- a malícia, os ambientes noci- Deus não é um Pai malvado, perança, especialmente neste te itinerário de fé é um itinerá- bém tudo o que está ligado a pego das coisas mundanas e vos, os maus exemplos. Às ve- um mau pai, não! É terno, ama- tempo difícil. Não nos limite- rio de c o n v e rs ã o . O que significa ele, as situações relacionadas busca de Deus e do seu reino. O zes o impulso que sentimos ru- nos muito, como o bom Pastor, mos ao sinal, mas vamos ao sig- a palavra “conversão”? Na Bí- com o pecado, ou seja, é preciso abandono das comodidades e mo ao Senhor é demasiado fra- que procura a última do seu re- nificado, isto é, a Jesus, ao amor blia, em primeiro lugar signifi- recusar a mentalidade munda- da mentalidade mundana não é co e até parece que Deus se ca- banho. É amor, e a conversão de Deus que Ele nos revelou, ca mudar de rumo e de orienta- na, o apreço excessivo pelas co- um fim em si mesmo, não é uma la; parecem-nos distantes e ir- consiste nisto: uma graça de vamos à bondade infinita que ção; e portanto mudar também modidades, o apreço excessivo ascese somente para fazer peni- reais as suas promessas de con- Deus. Tu começas a andar, por- Ele fez resplandecer no mundo. o modo de pensar. Na vida mo- pelo prazer, pelo bem-estar, pe- tência: o cristão não é um “fa- solação, como a imagem do que é Ele que te impele a cami- Não há pandemia, não há crise ral e espiritual, converter-se sig- las riquezas. quir”. É algo mais. O desapego pastor atento e solícito, que res- nhar, e verás como Ele há de vir. que possa apagar esta luz! Dei- nifica passar do mal para o O exemplo deste desapego não é um fim em si mesmo, mas soa hoje na leitura de Isaías (cf. Reza, caminha e darás sempre xemo-la entrar no nosso cora- bem, do pecado para o amor de vem-nos mais uma vez do visa a consecução de algo Is 40, 1.11). E por isso temos a um passo em frente. ção, e estendamos a mão aos Deus. Era isto que ensinava Evangelho de hoje, na figura de maior, ou seja, o reino de Deus, tentação de dizer que é impos- Maria Santíssima, que de- mais necessitados. Assim Deus João Batista, que no deserto da João Batista: um homem auste- a comunhão com Deus, a ami- sível converter-se verdadeira- pois de amanhã celebraremos nascerá de novo em nós e no Judeia «pregava um batismo ro, que renuncia ao supérfluo e zade com Deus. Mas isto não é mente. Quantas vezes sentimos como a Imaculada, nos ajude a meio de nós. de conversão para a remissão procura o essencial. Eis o pri- fácil, pois há muitos vínculos este desânimo! “Não, não con- desapegar-nos cada vez mais Desejo bom domingo a to- dos pecados» (v. 4). Receber o meiro aspeto da conversão: de- que nos mantêm próximos do sigo. Começo um pouco e de- do pecado e das mundanida- dos. Por favor, não vos esque- batismo era sinal externo e visí- sapego do pecado e da mundanidade. pecado, não é fácil... A tenta- pois volto atrás”. E isto é nega- des, para nos abrirmos a Deus, çais de rezar por mim. Bom al- vel da conversão de quantos Começar um caminho de desa- ção derruba sempre, derruba, e tivo. Mas é possível, é possível. à sua palavra, ao seu amor que moço e até à vista! ouviam a sua pregação e deci- pego destas realidades. assim também os vínculos que Quando tiveres este pensamen- regenera e salva! [Respondendo às aclama- diam fazer penitência. Aquele O outro aspeto da conversão nos mantêm próximos do peca- to de desânimo, não fiques ali, ções da praça] Os da Imacula- batismo ocorria com a imersão é o fim do caminho, ou seja, a do: a inconstância, o desânimo, porque é areia movediça, é No final da recitação da prece maria- da são simpáticos!