Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amapá Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento

FLORICULTURA TROPICAL Técnicas e inovações para negócios sustentáveis na Amazônia

Jorge Federico Orellana Segovia Editor Técnico

Embrapa Brasília, DF 2020 Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:

Embrapa Amapá Embrapa Rodovia Juscelino Kubitscheck, Km 5, Parque Estação Biológica (PqEB) nº 2.600 Caixa Postal 10 Av. W3 Norte (Final) 68903-419 Macapá, AP 70770-901 Brasília, DF Fone: (96) 3203-0200 Fone: (61) 3448-4433 Fax: (96) 4009-9501 Fax (61) 3448-4890 www.embrapa.br www.embrapa.br/livraria www.embrapa.br/fale-conosco/sac/ [email protected]

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Colaboração Coordenação editorial Adilson Lopes Lima Alexandre de Oliveira Barcellos Gilberto Ken-Iti Yokomizo Heloiza Dias da Silva Nilda Maria da Cunha Sette Comitê Local de Publicações Supervisão editorial Presidente Erika do Carmos Lima Ferreira Jamile da Costa Araujo Revisão de texto Secretário-Executivo Francisco C. Martins Daniel Marcos de Freitas Araujo Everaldo Correia da Silva Filho

Membros Normalização bibliográfica Adelina do Socorro Serrão Belém Márcia Maria Pereira de Souza Elisabete da Silva Ramos Gilberto Ken Iti Yokomizo Projeto gráfico Leandro Fernandes Damasceno Carlos Eduardo Felice Barbeiro Jô de Farias Lima Ricardo Adaime Capa Sônia Maria Schaefer Jordão Paula Cristina Rodrigues Franco Wardsson Lustrino Borges Foto da capa Raullyan Borja Lima e Silva

1ª edição Publicação digital (PDF) 2020

Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei n° 9.610). Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Secretaria-Geral da Embrapa

Floricultura tropical : técnicas e inovações para negócios sustentáveis na Amazônia / Jorge Federico Orellana Segovia, editor técnico. – Brasília, DF : Embrapa, 2020. PDF (211 p.).

ISBN 978-85-7035-890-5

1. Flores tropicais. 2. Plantas ornamentais. 3. Adubação. 4. Solos da Amazônia. I. Título. II. Embrapa Amapá.

CDD 633.34

Márcia Maria Pereira de Souza (CRB 1/1441) © Embrapa, 2020 Autores

Antônio Carlos Pereira Góes de Botânica, Macapá, AP Advogado, especialista em Educação Ambiental, analista da Embrapa Amapá, Macapá, AP Jorge Breno Palheta Orellana Engenheiro florestal, mestre em Ciências Florestais, Antonio Claudio Almeida de Carvalho diretor de Programa da Secretaria Executiva do Engenheiro-agrônomo, doutor em Ministério da Cidadania, Brasília, DF Desenvolvimento Socioambiental, pesquisador da Embrapa Amapá, Macapá, AP Jorge Federico Orellana Segovia Engenheiro-agrônomo, doutor em Ciências, Arlena Maria Guimarães Gato Engenheira-agrônoma, doutora em Biotecnologia pesquisador da Embrapa Amapá, Macapá, AP Vegetal, pesquisadora do Centro de Biotecnologia Luis Isamu Barros Kanzaki da Amazônia (CBA), Manaus, AM Biólogo, doutor em Microbiologia, professor da Bruna Bárbara Maciel Amoras Orellana Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF Bióloga, mestre em Ciências Florestais pela Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF Magda Celeste Álvares Gonçalves Bióloga, mestre em Desenvolvimento Regional pela Francisco Nazaré Ribeiro de Almeida Universidade Federal do Amapá (Unifap), Macapá, AP Engenheiro-agrônomo, especialista em Sementes, pesquisador da Embrapa Amapá, Macapá, AP Raullyan Borja Lima e Silva Biólogo, doutor em Ciências, professor da Ivanete Lima e Silva Universidade Federal do Amapá (Unifap), Bióloga do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa), Macapá, AP Macapá, AP

João da Luz Freitas Simone da Silva Engenheiro florestal, doutor em Ciências Agrárias, Bióloga, doutora em Biotecnologia Vegetal, pesquisador do Instituto de Pesquisas Científicas e pesquisadora do Centro de Biotecnologia da Tecnológicas do Estado do Amapá/Divisão Amazônia (CBA), Manaus, AM

Dedicamos esta obra aos agricultores, heróis do trabalho. Àqueles que se despertam com o canto do sabiá, e alegres cumprimentam o dia, entregando-se a labores sem medida. Esses semeadores de enérgica grandeza que sustentam as nações, cujas forças se esgotam ao domesticar a terra, e no fragor de árduo trabalho de cada sulco fazem brotar as flores, criando harmonia e bem estar.

Apresentação

É com enorme satisfação que referenciamos recursos naturais disponíveis e o desenvol- o livro Floricultura Tropical: técnicas e inova- vimento socioeconômico regional. ções para negócios sustentáveis na Amazônia, elaborado por conceituados profissionais de Portanto, inseridos na política ambiental áreas multidisciplinares de renomadas insti- do País, a Amazônia também busca a cons- tuições como a Embrapa Amapá, o Centro trução de um novo paradigma de desen- de Biotecnologia da Amazônia (CBA), o Nú- volvimento socioeconômico articulado a cleo de Altos Estudos Amazônicos e a Uni- estratégias centradas na questão ambien- versidade de Málaga, na Espanha. tal. A biodiversidade tropical e suas poten- cialidades são atributos que trazem novas Nesta obra, foram sistematizados conhe- responsabilidades voltadas à economia cimentos científicos e tecnológicos sobre verde, tendo como prioridades, além do espécies da flora amazônica, como tendên- desenvolvimento socioeconômico, a in- cias em paisagismo na Amazônia, aspectos tegração social de diferentes segmentos climáticos, edáficos, princípios de nutrição da sociedade que até o presente encon- e técnicas de correção de acidez e aduba- tram-se excluídos, bem como a preserva- ção, multiplicação de espécies por meio ção de nossos recursos naturais, de forma do método de cultura de tecidos in vitro, a influenciar os novos ciclos econômicos formação de viveiros e as perspectivas dos sem agravar ainda mais o clima regional e arranjos produtivos locais, formando uma global. visão ampla e atualizada dos aspectos tec- nológicos e econômicos dos sistemas pro- Considera-se, dessa forma, que o ponto dutivos de flores e plantas ornamentais na central que orienta este trabalho é o desen- Amazônia, a qual servirá como referência volvimento de informações tanto técnico- para a elaboração de trabalhos futuros que -científicas quanto socioeconômicas, pri- contribuirão para o desenvolvimento de mordiais no que diz respeito aos sistemas sistemas produtivos locais que promovam produtivos voltados ao comércio de flores a geração de emprego e renda e a inclusão e plantas ornamentais tropicais, esperando social na Amazônia e a preservação de nos- assim encontrar o ambiente propício para a sas florestas. expansão do arranjo produtivo de flores e plantas ornamentais na região amazônica. Todavia, observa-se que o objetivo desta publicação é acentuar a importância de Assim, a intenção deste livro é atuar como alguns fatores de produção essenciais no referência para a diversificação do agrone- agronegócio de flores e plantas ornamen- gócio e o desenvolvimento da floricultura tais voltados principalmente para produ- amazônica. tores, viveiristas, paisagistas, engenheiros- -agrônomos, engenheiros florestais, biólo- gos e agentes governamentais que buscam Gilberto Ken-Iti Yokomizo incrementar a exploração sustentável dos Pesquisador da Embrapa Amapá

Sumário

Capítulo 1 A flora amazônica e as potencialidades de inovação no agronegócio de flores e plantas ornamentais...... 11 Capítulo 2 Caracterização das condições climáticas na Amazônia...... 33 Capítulo 3 Características físico-químicas dos principais solos na Amazônia...... 43 Capítulo 4 Princípios de nutrição e adubação para flores e plantas ornamentais tropicais...... 67 Capítulo 5 Multiplicação por cultura de tecidos de flores e plantas ornamentais...... 113 Capítulo 6 Viveiro para produção de mudas de flores e plantas ornamentais...... 135 Capítulo 7 Evolução em paisagismo e floricultura tropical...... 145 Capítulo 8 Plantas tóxicas utilizadas como ornamentais em jardinagem e paisagismo...... 169 Capítulo 9 Mercado de flores e plantas ornamentais tropicais: estratégias para o desenvolvimento dos arranjos produtivos da floricultura na Amazônia...... 199

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Capítulo 1 Introdução A utilização de arranjos de flores e plantas A flora amazônica e ornamentais na decoração de locais públi- as potencialidades cos ou residenciais é fascinante, pois esses produtos podem modificar todo o ambien- de inovação no te, criando harmonia e múltiplos significa- dos para uma decoração, dando vida e mo- agronegócio de vimento ao conjunto de particularidades de cada meio. Existem muitas opções de flores e de plantas espécies de flores ou plantas ornamentais; ornamentais por exemplo, na decoração com arranjos de flores para mesa de centro a opção de orquídeas ou helicônias e outras espécies Jorge Federico Orellana Segovia vegetais criam um ambiente bonito e re- quintado em razão das diversas cores e to- nalidades dessas espécies.

A Amazônia, com sua extensa floresta, pos- sui um dos maiores estoques de bioprodu- tos do planeta, particularmente de espécies vegetais para as mais diversas aplicações, entre outras, as flores e plantas ornamen- tais. No entanto, grande parte desses esto- ques são ainda desconhecidos, podendo constituir-se potencial para o mercado.

Vale salientar, que a região é formada por diversos ecossistemas, como as florestas de várzea, de igapó e de terra firme, assim como florestas de galeria incrustadas nos campos cerrados ocorrentes nos estados de Roraima, Amapá e Tocantins, apresen- tando uma variabilidade de gens e espé- cies que, para Mc Neely et al (1990), são de ocorrência natural nos complexos eco- lógicos dos quais fazem parte. Isso inclui a diversidade dentro de espécies, entre espé- cies e de ecossistemas. Tal biodiversidade que, conforme Falk (1990), apresenta uma relação ecológica e evolutiva muito mais ampla, constitui extensa gama de possibi- lidades de exploração para o negócio de FLORICULTURA TROPICAL 12 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis plantas ornamentais, as quais serão expos- grande complexidade na composição, na tas a seguir. distribuição e na densidade das espécies. Essa vegetação caracteriza-se pela hetero- geneidade florística com predominância de A flora amazônica espécies agregadas em algumas formações A região amazônica é caracterizada por e aleatórias em outras (Araújo et al., 1986). vegetação exuberante em extratos que Os estudos de Nascimento (2008) sobre as alojam desde árvores centenárias como as estruturas de um trecho de Floresta Om- castanheiras (Bertholletia excelsa Bonpl.) na brófila Densa, em Rondônia, mostram a Floresta de Terra Firme e as sumaumeiras ocorrência de 205 espécies, distribuídas em [Ceiba pentandra (L.) Gaertn.], na várzea; 42 famílias, sendo que, entre as principais assim como diversas espécies de dossel e espécies encontradas na Mata de Terra Fir- sub-bosques, incluindo lianas e igualmente me, destacam-se a Dendropanax cuneatus grande variedade de epífitas, constituindo- (DC.) Decne. & Planch, a Euterpe precatoria -se entre os maiores reservatórios de di- Mart. e a Pera bicolor (Klotzsch) Müll. Arg. versidade genética, das mais diferentes es- pécies que nela habitam encontrados em As pesquisas feitas na Reserva Ducke, no sistemas evoluídos e nos mais diferentes Estado do Amazonas, identificaram um to- graus de complexidade. tal de 2.136 espécies de plantas vasculares (Ribeiro et al., 1999), sendo que as famílias A Floresta de Várzea, cuja vegetação ocorre predominantes do povoamento adulto fo- ao longo dos rios e das planícies inundáveis, ram: Lecythidaceae, Sapotaceae, Euphor- normalmente apresenta menor diversida- biaceae e Caesalpiniaceae. de que a Floresta de Terra Firme, e abriga animais e plantas adaptados às condições Na fase de regeneração natural, as famí- hidrológicas sazonais (Kalliola et al.,1993). lias predominantes foram a Burseraceae, a A menor diversidade ocorre porque poucas Annonaceae, a Rubiaceae e a Violaceae. espécies dispõem de mecanismos morfofi- Levantamentos florísticos da vegetação siológicos que tolerem o ritmo sazonal de do ecossistema de Cerrado na Amazônia inundação (Silva et al., 1992). foram feitos por Sanaiotti (1997). Esses au- O levantamento fitossociológico conduzido tores mostram que, no Amapá, foi regis- por Queiroz (2004) já demonstrava a enor- trado um total de 61 espécies de árvores e me diversidade da Floresta de Várzea (Figu- arbustos grandes, e 69 espécies herbáceas. ra 1), chegando a ocorrer 8.879 indivíduos Os quatro levantamentos incluíram a cole- por hectare, dos quais 4.085 são liliópsidas ta de dados fitossociológicos quantitativos. e 4.794 magnoliópsidas, principalmente A maioria das espécies lenhosas com valo- das famílias , Caesalpiniaceae, res de IVI (importância do valor indexado) Mimosaceae, Myristicaceae, Anacardiaceae mais elevados apresentou ampla distribui- e Lecythidaceae. ção e ocorre no Cerrado do Centro-Oeste. As famílias Leguminosae e Vochysiaceae, A vegetação do ecossistema de Mata de de grande importância na flora arbórea Terra Firme, na Amazônia (Figura 2), é o desse ecossistema, são pouco representa- ecossistema de maior expressividade e de das nas savanas amapaenses. CAPÍTULO 1 A flora amazônica e as potencialidades de inovação 13 no agronegócio de flores e plantas ornamentais Foto: Jorge Segovia

Figura 1. O ecossistema de várzea durante a maré baixa no município de Mazagão, AP.

As savanas do Amapá (Figura 3), como outras savanas amazônicas, são floristicamente diferentes em comparação com a área de Cerrado do Centro-Oeste. Foi observada

a ocorrência de espécies da flora, tais Foto: Jorge Segovia como Tabebuia caraiba, T. serratifolia, sp., Himatanthus articulatus, Anadenanthera peregria, Hymenolobium petraeum, Chrysobalanus icaco, Clusia sp., Duroiaduckei, Ouratea hexasperma, O. castanaefolia, Bowdichia virgilioides, Aegiphila cf. parviflora, Salvertia convallari, Byrsonima crassifolia, B. cocolobifolia, Annona paludosa e Curatella americana. Na natureza, esses conceitos se veem espe- lhados nas afirmações de Nass et al. (2001), Figura 2. Vista aérea do ecossistema de Floresta de os quais avaliaram o número de espécies Terra Firme. FLORICULTURA TROPICAL 14 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis Foto: Jorge Segovia

Figura 3. Vista do ecossistema de Cerrado no Amapá.

diferentes, estimando que, no mundo, ocorrem naturalmente 286 mil plantas flo- ríferas, das quais, cerca de 20 mil têm seu habitat na Amazônia. Entre estas, ocorrem

plantas floríferas e ornamentais, como: pal- Foto: Jorge Segovia meiras, samambaias, orquídeas, bromélias, cactáceas (Epiphyllum phyllanthus, Figura 4), helicônias, ipês, etc. Conforme Rodrigues (1989), essas fa- mílias estão agrupadas, botanicamen- te, em duas classes: a Magnoliopsida e a Liliopsida. Clement (1999) estima que, na época da conquista da Amazônia pelos europeus, 138 espécies de plantas indígenas eram cultivadas ou manejadas, representando 54% do total de espécies americanas ex- ploradas, número que poderia ser maior se tivesse sido levado em conta as espécies medicinais, recreativas ou tecnológicas. Sobre isso, Clement (2001) também men- ciona que a Amazônia é uma das regiões do Figura 4. Epiphyllum phyllanthus crescendo na Flo- planeta que concentra a maior diversidade resta Tropical Amazônica. CAPÍTULO 1 A flora amazônica e as potencialidades de inovação 15 no agronegócio de flores e plantas ornamentais genética, sendo que cada espécie possui As palmeiras são abundantes na Floresta numerosos usos específicos na economia Tropical, apresentando caule cilíndrico e indígena, inclusive as medicinais. não ramificado, do tipo estipe, e são procu- radas para ornamentação pela beleza das Essa biodiversidade regional apresenta folhas pinadas ou palmadas, com pecíolos uma relação ecológica e evolutiva muito longos, inseridas em espiral e formando um ampla, especialmente no que diz respeito aglomerado na forma de coroa. Nessa famí- aos seus ecossistemas, a saber: Floresta de lia, encontram-se espécies muito conhe- Terra Firme, Floresta de Várzea, Florestas de cidas, principalmente o açaizeiro (Euterpe Transição, Campo Cerrado, Campos Inun- oleracea) (Figura 6). dáveis e Manguezais. Outras Arecaceae também apresentam Nos diversos ecossistemas amazônicos, en- potencial ornamental, como bacabeira contram-se, inclusive, espécies da flora nas (Oenocarpus bacaba e O. distichus), pupu- quais estão presentes genes com as mais nheira (Bactris gasipaes), bacabi (Oenocarpus diversas propriedades e, possivelmente, de minor), buritizeiro (Mauritia flexuosa), pa- tauazeiro (Oenocarpus bataua) (Figura 7). enorme valor à saúde da humanidade, aos Ubins, como Geonoma deversa, G. stricta interesses comerciais, florestais e paisagís- (Figuras 8A e 8B) e Hyospathe elegans e ticos. Bactris schultesii (Figuras 9A e 9B); marajás, Como exemplo, têm-se diversas espécies como: Bactris elegans e Bactris gastoniana arbóreas como os ipês, Tabebuia serratifolia (Figuras 10A e 10B), Pyrenogliphis bussuzei- (Figuras 5A e 5B) e a T. caraiba, as quais ro, Manicaria saccifera, paxiubinha (Iriartella setigera), paxiúba (Socratea exorrhiza) e Bac- se encontram dispersas nos mais diver- tris acanthocarpoide (Figuras 11A e 11B) e sos ecossistemas, florescendo por toda a Geonoma sp. (Figura 12). Amazônia durante os longos períodos de estiagem, apresentando potencial florísti- Entre as espécies nativas herbáceas da co, madeireiro e medicinal. Amazônia, destacam-se as espécies da

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 5. Tabebuia serratifolia: no ecossistema de Floresta de Terra Firme (A); durante a floração (B). 16 Foto: Jorge Segovia Foto: Jorge Segovia

Figura 6. Açaí (Euterpe oleracea) crescendo nas várzeas estuarinas do Rio Amazonas, as quais apresentam boa fertilidade e baixa acidez.

Figura 7. Patauazeiro (Oenocarpus bataua), uma palmeira de porte alto de dupla finalidade (óleo comestível e ornamentação).

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 8. Palmeiras de baixo porte denominadas de Ubim: Geonoma deversa (A); e Geonoma stricta (B), ambas crescendo na Floresta Úmida de Terra Firme. CAPÍTULO 1 A flora amazônica e as potencialidades de inovação 17 no agronegócio de flores e plantas ornamentais

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 9. Ubins: Hyospathe elegans (A); e Bactris schultesii (B).

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 10. Marajás: Bactris elegans (A) e Bactris gastoniana (B), crescendo na Floresta Tropical de Terra Firme. FLORICULTURA TROPICAL 18 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 11. Arecáceas na Floresta de Terra Firme: Bactris acanthocarpoides (A) e Socratea exorrhiza (B), com suas raízes-escoras crescendo às margens de igarapés.

família Heliconiaceae, as quais vegetam em solos úmidos e ricos em matéria orgâ- nica da Floresta Amazônica, apresentando pseudocaule fino, folhas coriáceas e in-

florescências longas, as quais apresentam Foto: Jorge Segovia ampla variação de caracteres florais, com brácteas espessas e de cores vivas e bri- lhantes (Figuras 13 a 18). Por apresentarem essa característica, são muito usadas tanto no comércio de flores como de plantas or- namentais na região. No Amapá, têm sido encontradas espécies quanto Heliconia rostrata Ruiz e Pavon, H. densiflora (Verl.), H. orthotricha L. Andersson, H. chartacea L., H. acuminata Rich e H. psittacorum L.

Figura 12. Palmeiras Geonoma sp. de médio porte, caule cespitoso e sem espinhos. CAPÍTULO 1 A flora amazônica e as potencialidades de inovação 19 no agronegócio de flores e plantas ornamentais

No estado do Amazonas, foram registradas 11 espécies de Heliconia, na Reserva Extra- tivista do Baixo Juruá (Resex), com uso potencial como plantas ornamentais, São elas: H. acuminata, H. densiflora, H. hirsuta, H. lasiorachis, H. stricta, H. chartacea,

H. juruana, H. marginata, H. psittacorum, Foto: Jorge Segovia H. spathocircinata e H. tenebrosa (Arruda Figura 14. Heliconia densiflora, nativa do ecossistema et al., 2008). de Floresta Tropical Amazônica. Foto: Jorge Segovia Foto: Jorge Segovia

Figura 13. Heliconia rostrata encontrada nas florestas Figura 15. Heliconia orthotricha crescendo no ecos- de ecossistema de Várzea, na Amazônia. sistema de Floresta de Várzea Amazônica. FLORICULTURA TROPICAL 20 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis Foto: Jorge Segovia Fotos: Jorge Segovia

Figura 16. Heliconia chartacea crescendo no ecossis- Figura 17. Heliconia acuminata crescendo no ecos- tema de Floresta de Terra Firme, na Amazônia. sistema de Floresta de Terra Firme. Foto: Jorge Segovia

Figura 18. Heliconia psittacorum crescendo no ecossistema de Cer- rado, na Amazônia. CAPÍTULO 1 A flora amazônica e as potencialidades de inovação 21 no agronegócio de flores e plantas ornamentais

Na diversidade biológica da Amazônia, en- sas tonalidades de cores, sendo usadas contram-se crescendo nas clareiras das flo- como plantas ornamentais. Como exem- restas e nas margens dos igarapés diversas plo, têm-se: Caladium bicolor (Figura 19A), espécies do gênero Caladium, pertencente Caladium sp. (Figura 19B) e Spathiphyllum à família das Araceae, as quais apresen- cannifolium (Figuras 20A e 20B). tam folhas belíssimas, com as mais diver-

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 19. Aráceas: Colocasia esculenta var. illustris (W. BULL) Schott (A); e Caladium sp. (B) crescendo em clarei- ras no ecossistema de Floresta de Terra Firme.

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 20. Araceae: Caladium sp. (A); e Spathiphyllum cannifolium (Dryand) Schott (B) crescendo em clareiras no ecossistema de Floresta de Terra Firme. 22

Em decorrência de sua beleza e de seu Foto: Jorge Segovia perfume, as flores que compõem a família Orchidaceae também merecem destaque, por apresentarem diferentes formas, cores e tamanhos (Figuras 21 a 26). Elas vegetam nos mais diversos ecossistemas tropicais da Amazônia, ocorrendo espécies terrestres, mas apresentando-se predominantemente epífitas, crescendo sobre as árvores. Essas espécies usam as árvores somente como su- porte para buscar a luz, nutrindo-se apenas de material orgânico acumulado nos ramos e nas fendas, onde fixam seu emaranhado de raízes, além de um efetivo processo fo- Figura 21. Bela orquídea da espécie Cattleya gaskelliana tossintético realizado por sua folhagem. var. alba, crescendo na Selva Tropical (Oiapoque, AP).

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 22. Orquidaceae pioneira Epidendrum nocturnum Jacq. (A) crescendo sobre rochas no ecossistema de Cerrado (A); e orquidácea epífita Catasetum macrocarpum L. C. Rich. (B). CAPÍTULO 1 A flora amazônica e as potencialidades de inovação 23 no agronegócio de flores e plantas ornamentais

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 23. Orquídeas: da espécie Dimerandra emarginata (G. Mey.) Hoehne. (A), com flores lilases; e orquídea do gênero Cattleya (B), apresentando flores com sépalas e pétalas laterais marrom-claras e labelo branco, com detalhes lilases.

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 24. Miniorquídeas: da espécie Stelis sp., com flores branco-esverdeadas (A); e Rodriguezia lanceolata Ruiz & Pav., com flores lilases (B). FLORICULTURA TROPICAL 24 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 25. Miniorquídeas: do gênero Ericina (A) e a espécie Polystachya estrellensis (B).

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 26. Orquídeas são dotadas de flores com sépalas e pétalas esverdeadas: Brassia chloroleuca Barb. Rodr., com sépalas manchadas de lilás e labelo largo e esbranquiçado e pinta lilás (A); orquídea do gênero Epidendrum com labelo albo (branco) e fendilhado (B).

As orquídeas desenvolveram flores com permitindo que o agente polinizador se co- seis sépalas separadas em duas cama- loque na posição correta para que as polí- das, sendo três sépalas e três pétalas, com nias (massa coesa de grãos de pólen) presas formato, coloração e tamanho variados. A pétala inferior das orquídeas é denomi- a ele possam se aderir na posição adequa- nada de labelo e geralmente é expandida, da no estigma da flor. CAPÍTULO 1 A flora amazônica e as potencialidades de inovação 25 no agronegócio de flores e plantas ornamentais

Para isso, como mecanismo de atração dos polinizadores, as orquídeas são dotadas de mimetismo, seja por meio das cores, per- fumes, seja por meio da formação de cera.

Isso conduz os agentes polinizadores a car- Foto: Jorge Segovia regarem o pólen, de forma que somente o agente polinizador correto ajusta-se ao mecanismo da flor. Isso, de forma que todo o pólen que está condensado no polinário seja removido por completo de uma única vez. As orquídeas são visitadas por poliniza- dores diversos, como abelhas, borboletas, mariposas diurnas e noturnas, morcegos, besouros e beija-flores. 1 cm Existem espécies de orquídeas que vivem sobre tronco e sobre ramos de árvores, Figura 27. Fruto e sementes de orquídea do gênero usando-os apenas como suporte, sem pa- Oncidium. rasitismo, alimentando-se dos nutrientes existentes sobre o limo (colônia de algas azuis e/ou verde que formam tapetes sobre medicinais, a exemplo da espécie nativa os ramos dessas árvores). Os pseudobulbos Zingiber zerumbet, testada como antineo- são providos de raízes adventícias, com fo- plásico pelo Instituto Nacional de Pesquisas lhas inteiras, geralmente dísticas ou em es- da Amazônia (Inpa) (Figura 28B). piral, raramente opostas ou verticiladas. A família Bromeliaceae pertence à ordem As flores são trímeras e apresentam riqueza Poales, as quais, em sua maioria, são origi- de formas, cores e aromas, apresentando- nárias das florestas tropicais americanas. -se, frequentemente, hermafroditas, soli- O gênero Ananas encontra-se entre os mais tárias, em racemos ou panículas. Os frutos cultivados na América do Sul, na produ- são cápsulas contendo sementes microscó- ção do abacaxi. O gênero Bromelia é culti- picas (Figura 27). vado em todo o mundo para paisagismo de jardins. Como exemplo disso, têm-se Outra família – que cresce em importância – as espécies Neoregelia eleutheropetala é a Zingiberaceae, com cerca de 50 gêne- com folhas vermelhas com a base expan- ros e mais de 1.000 espécies. Essa família é dida púrpura em volta da inflorescência e encontrada em todos os trópicos, inclusive Tillandsia bulbosa Hook (Figuras 29A e 29B). na Amazônia. Suas espécies se distinguem pela presença de um labellum, formado Em ambientes aquáticos, também são en- pela fusão de dois estames estéreis, e pela contradas plantas flutuantes, como os agua- presença de óleos essenciais em seus te- pés da família Nymphaeaceae, do gênero cidos. Elas são comumente usadas como Nymphaea; a espécie Victoria amazonica plantas ornamentais ou como especiarias, pertence à família Pontederiaceae; além a exemplo de Curcuma zedoaria (Christm.) dos gêneros Ichhornia e Pontederia, muito Roscoe (Figura 28A), ou como plantas usados em paisagismo, onde se combinam FLORICULTURA TROPICAL 26 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 28. Curcuma zedoaria (A); e Zingiber sp. (B) em floração na Floresta de Terra Firme, na Amazônia.

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 29. Neoregelia eleutheropetala, com folhas vermelhas com a base expandida púrpura em volta da inflo- rescência (A); Tillandsia bulbosa Hook., com folhas de coloração verde-escura e a base púrpura (B).

espelhos d’água e vegetação flutuante na- desde o final do período chuvoso (julho) tiva (Figura 30). e durante o período seco (de agosto a As espécies das famílias Amaryllidaceae dezembro), na região amazônica. A pri- Scadoxus multiflorus e Hymenocallis meira crescendo tanto em ecossistemas de littoralis Jacq. desenvolvem e florescem Floresta de Terra Firme quanto no Cerrado CAPÍTULO 1 A flora amazônica e as potencialidades de inovação no agronegócio de flores e plantas ornamentais Foto: Jorge Segovia

Figura 30. Aguapés (gênero Nymphaea), vegetação flutuante crescendo em habitat aquáticos em lagos e rios do Amapá.

(Figura 31A) e a segunda em ecossistema da Amazônia Oriental e Ocidental, e cresce de Floresta de Terra Firme (Figura 31B). em pequenas clareiras, apresentando paní- culas terminais com flores de formato tubu- A espécie da família Acanthaceae Justicia loso, bilabiadas, de coloração vermelha, as secunda Vahl (Figura 32), que apresen- quais são muito atrativas para polinizadores ta as sinonímias de Justicia caripensis como abelhas, borboletas e beija-flores. Essa Kunth, Rhytiglossa moricandiana Nees e espécie se desenvolve em solos ácidos e po- Rhytiglossa secunda (Vahl) Nees, é uma es- bres, ricos em matéria orgânica, sendo seu pécie herbácea, ereta ou decumbente, típica cultivo indicado em grupamentos de jardins de sub-bosque de Floresta Tropical Úmida sombreados ou a pleno sol.

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 31. Espécies da família Amaryllidaceae: Scadoxus multiflorus (A); e Hymenocallis littoralis Jacq. (B), duas espécies da família Amaryllidaceae em floração no Amapá. FLORICULTURA TROPICAL 28 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis Foto: Jorge Segovia Foto: Jorge Segovia

Figura 32. Justicia secunda Vahl, crescendo em Flores- ta de Terra Firme.

Na Amazônia Oriental, no período de es- tiagem, a espécie da família Loranthaceae denominada Psittacanthus robustus (Mart.) Mart. (Figura 33) é vernacularmente conhe- cida como erva-de-passarinho, encontrada nos ecossistemas de Floresta de Terra Fir- me e de Cerrado, do tipo hemiparasita que cresce e se desenvolve sobre diversas espé- Figura 33. Psittacanthus robustus com flores de tona- cies arbóreo-arbustivas. lidade alaranjada. Suas flores, de tonalidade alaranjada, dão impressão de pertencerem às plantas hos- pedeiras (Figura 34). A exploração sustentável e a conservação

dos recursos vegetais renováveis têm como Foto: Jorge Segovia finalidade implantar alternativas de renda que contribuam para a economia local e re- gional, bem como manter as funções ecoló- gicas originais da floresta, evitando perdas futuras da biodiversidade regional. Assim, a seleção de flores e plantas tropicais tem como objetivo melhorar a qualidade e aumentar a produtividade, e a diversidade das espécies disponíveis no mercado, me- lhorando sua adaptabilidade aos mais di- versos ambientes, com técnicas modernas Figura 34. Florada de Psittacanthus robustus, dando a de agronomia. impressão de pertencer às plantas hospedeiras. CAPÍTULO 1 A flora amazônica e as potencialidades de inovação 29 no agronegócio de flores e plantas ornamentais

Assim, mundialmente, cresce a produção preendimentos arquitetônicos e paisagísti- comercial de espécies tropicais como heli- cos (Figura 36). cônias, alpínias, orquídeas, etc., que apresen- tam um mercado em expansão (Hernández, Isso determina o manejo adequado dos re- 2004). Da mesma forma, as exportações bra- cursos florestais renováveis e promove uma sileiras de flores e plantas ornamentais cres- mudança de tendência, limitando-se assim ceram mais de 124% entre 2001 e 2006, em o extrativismo seletivo e predatório. Nesse que países como Holanda, Estados Unidos e ramo, grande número de espécies tropicais Itália são atualmente os maiores importado- tem potencialidade para se tornar um agro- res (Junqueira; Peetz, 2007). negócio rentável, mas seu cultivo comercial precisa superar certos desafios. Além disso, nas capitais dos estados da região amazônica, o comércio de flores e Os recentes empreendimentos na Amazô- plantas ornamentais nativas, embora inci- nia demonstram que a floricultura tropical piente, começa a apresentar certo cresci- contemporânea depende muito mais da mento, com mais de 100 empreendimen- técnica e da visão empresarial do que das tos de floriculturas locais e de viveiristas condições edafoclimáticas existentes, o que (Figura 35), sem falar da demanda de em- vem exigindo mudanças nas estratégias Foto: Jorge Segovia

Figura 35. Plantas à venda em viveiros da região amazônica. FLORICULTURA TROPICAL 30 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis dos agricultores e atenção às mudanças de década de 1990 e inícios deste século, con- tendência no mercado. siderando-se os levantamentos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que Vale considerar que, para os consumidores mostram que, de 2003 a 2005, a superfície de flores tropicais, as belezas de coloridos do desmatamento na região soma mais de e formas encontradas nas diferentes varie- 70.000 km², um território maior que muitas dades tornam possível o milagre da floricul- Unidades da Federação e alguns países. tura nessa região. Contudo, a genética e a seleção das espécies são fundamentais na Esses dados servem de alerta para as ações oferta de novas variedades para o mercado desordenadas de desenvolvimento regio- mundial, com lucros compensadores para nal. Vale lembrar que o desmatamento os agricultores familiares da região amazô- acumulado na Amazônia, calculado pela nica. metodologia do Inpe, em 2005, chegou a 652.908 km², equivalente a 16,32% da área amazônica. Isso ocorreu para dar lugar à expansão da agropecuária, passando pela grilagem de terras públicas e pela explora- ção predatória de madeira e da mineração (Pádua, 2005). A estimativa da taxa de desmatamento na Foto: Jorge Segovia Amazônia do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do Inpe, é de 7.989 km2 de corte raso no período de agosto de 2015 a julho de 2016. A taxa de desmatamento estimada pelo Prodes 2016 indica um au- mento de 29% em relação a 2015, ano em que foram medidos 6.207 km2. No entan- to, a taxa atual representa uma redução de 71% em relação à registrada em 2004, ano em que foi iniciado pelo governo federal o Figura 36. Plantas ornamentais em empreendi- Plano para Prevenção e Controle do Des- mentos arquitetônicos e paisagísticos públicos, em matamento na Amazônia (PPCDAm), atual- Belém, PA. mente coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (INPE, 2017). Entretanto, nessa percepção, deve-se aten- Isso torna imprescindíveis as ações de pes- tar para o avanço da fronteira agropecuária, quisa, desenvolvimento e inovação voltadas a qual tem reproduzido certas característi- à multiplicação e à conservação de um leque cas historicamente degradantes, como a de espécies de flores e plantas ornamentais substituição da diversidade biológica por tropicais, seja por meio do melhoramento monoculturas, principalmente exóticas. genético, da multiplicação de tecidos, seja Esse desmatamento acelerado da Amazô- pelo melhoramento da fertilidade dos solos, nia vem retornando, com força, em finais da pela irrigação, controle de pragas e técnicas CAPÍTULO 1 A flora amazônica e as potencialidades de inovação 31 no agronegócio de flores e plantas ornamentais de conservação pós-colheita de espécies au- CONVENTION ON BIOLOGICAL DIVERSITY. Rio de tóctones, com potencial comercial. Janeiro: United Nations Environment Programme, 1992. 24 p. Assim, torna-se de fundamental importân- FALK, D. A. Integrated strategies for conserving cia a conservação de germoplasma, seja genetic diversity. Annals of the Missouri para trabalhos de taxonomia e evolução, Botanical Garden, v. 77, n. 1, p. 38-47, 1990. DOI: seja para melhoramento genético (Fazuo- 10.2307/2399623. Li et al., 2001). Esses trabalhos são conside- FAZUOLI, L. C.; GUERREIRO FILHO, O.; MEDINA- rados passos fundamentais para promover FILHO, H. P.; SILVAROLLA, M. B. Conservação de o agronegócio de flores e plantas ornamen- germoplasma, de café no campo. In: SIMPÓSIO DE RECURSOS GENÉTICOS PARA A AMÉRICA LATINA tais na Amazônia. E CARIBE, 3., 2001. Londrina. Anais... Paraná: Iapar, 2001. p. 33-37. Considerações finais INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS (Brasil). PRODES estima 7.989 km2 de Finalmente, considera-se prudente com- desmatamento por corte raso na Amazônia em 2016. 2016. Disponível em: . Acesso promover o empreendedorismo do agro- em: 29 nov. 2017. negócio de flores e plantas ornamentais HERNÁNDEZ, M. I. S. Heliconias: belleza y alternativa tropicais, de forma a garantir a conserva- econômica para Tabasco. Revista Diálogos, v. 5, p. ção e a exploração da biodiversidade de 14-18, 2004. maneira socialmente justa, economica- JUNQUEIRA, A. H.; PEETZ, M. da S. Las exportaciones mente viável e ecologicamente adequada. brasileñas de flores y plantas crecen más del 124% entre 2001 y 2006. Revista Horticultura Internacional, v. 56, p. 76-79, 2007. Referências KALLIOLA, R.; PUHAKKA, M.; DANJOY, W. Amazonia ARAÚJO, A. P.; JORDY FILHO, S.; FONSECA, W. N. A peruana: vegetación húmeda tropical en el llano vegetação da Amazônia brasileira. In: SIMPÓSIO DO sudandino. Finlândia: Gummerus Printing, 1993. 265 p. TRÓPICO ÚMIDO, 1., 1986. Belém. Anais... Belém, MCNEELY, J. A.; MILLER, K. R.; REID, W.; MITTERMEIER, PA: EMBRAPA-CPATU, 1986. p. 135-152. (EMBRAPA- R. A.; WERNER, T. B. 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QUEIROZ, J. A. L. de. Estrutura e composição SANAIOTTI, T.; BRIDGEWATER, S.; RATTER, S. A. A florística em floresta de várzea do estuário do floristic study of the savanna vegetation of the rio Amazonas no estado do Amapá. 2004. 101 f. state of Amapá, Brazil, and suggestions for its conservation. Boletim do Museu Paraense Emílio Dissertação (Mestrado em Engenharia Florestal) – Goeldi, v. 13, p. 329, 1997. Universidade Federal do Paraná, Curitiba. SILVA, S. M.; SILVA, F. C.; VIEIRA, A. O. S.; NAKAJIMA, RIBEIRO, J. E. L. S.; Hopkins, M. J. G.; VICENTINI, A. J. N.; PIMENTA, J. A.; COLLI, S. Composição florística Flora da reserva Ducke: guia de identificação das e fitossociológica do componente arbóreo das plantas vasculares de uma floresta de terra-firme na florestas ciliares da bacia do rio Tibagi, Paraná: 2. Amazônia Central. Manaus: Inpa, 1999. 816 p. Várzea do rio Bitumirim, Município de Ipiranga, PR. In: CONGRESSO NACIONAL SOBRE ESSÊNCIAS RODRIGUES, R. M. A flora da Amazônia. Belém, PA: NATIVAS, 2., 1992, São Paulo. Anais... São Paulo: Cejup, 1989. 462 p. Instituto Florestal, 1992. p. 192-198. 33

Capítulo 2 Introdução O crescimento e o desenvolvimento dos Caracterização das vegetais dependem da inter-relação de di- condições climáticas versos fatores de natureza genética ou am- biental, influenciando todos os processos na Amazônia metabólicos. Na diversidade amazônica, há de se con- Jorge Breno Palheta Orellana siderar que espécies diferentes que se de- Bruna Bárbara Maciel Amoras Orellana senvolvem em condições edafoclimáticas Jorge Federico Orellana Segovia idênticas podem exibir uma diversidade de tipos característicos que evidenciam suas diferenças na constituição genética de cada espécie, podendo apresentar essas di- ferenças, mesmo entre variedades da mes- ma espécie, com propriedades que as tor- nam adaptáveis às condições ambientais de cada ecossistema. Por isso, é oportuno ponderar que a potencialidade genética de cada espécie só poderá ser definida avalian- do-se seu crescimento e desenvolvimen- to numa gama de ambientes diferentes. Assim, o clima é um dos recursos naturais mais importantes que intervém no desen- volvimento do solo e dos vegetais, preen- chendo papel decisivo no planejamento da atividade agrícola e florestal.

A erosão do solo pela água e a ação das águas pluviais em processos como hidróli- se, hidratação, acidificação, oxidação e dis- solução contribuem para a desintegração e a ressíntese dos minerais. Por isso, deve- se considerar que as condições climáticas exercem grande influência nos processos intempéricos, determinando as caracterís- ticas físico-químicas do solo e, por sua vez, influenciando, diretamente, no crescimento das plantas. Pelo mesmo motivo, vale ressal- tar que a produtividade das plantas depen- de, em primeiro lugar, das condições favorá- veis de seu meio ambiente. No processo de FLORICULTURA TROPICAL 34 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis fotossíntese, por exemplo, são necessárias Os dados indicam que a vegetação nativa 3.744 calorias para produzir 1 g de glicose. amapaense cresce e se desenvolve em tem- peraturas médias do ar consideradas eleva- Conforme a Classificação de Köppen, nos das, com a menor temperatura média men- estados da Amazônia ocorre, especial- sal de 25,7 ± 5 °C no período chuvoso (de mente, tanto o clima do tipo Amw, o qual janeiro a junho), que ocorre em fevereiro e é caracterizado como tropical sem estação março. Observa-se, ainda, que a precipita- seca definida, quanto o clima Ami, que tem ção pluvial de janeiro a junho é considera- um deficit hídrico no período seco que se da elevada, alcançando o pico máximo em estende por até 4 meses. Estes são os tipos abril (387 mm). de clima quente, úmido e chuvoso predo- minantes na região. Geralmente, esses valores de precipitação A Tabela 1 mostra as médias de 30 anos de são maiores do que os valores da evapo- observação (1961–1990) das normais cli- transpiração de referência nesse período matológicas do Amapá, como temperatura do ano. A maior temperatura média men- média mensal, precipitação pluviométrica, sal, de 27,9 ± 5 °C do período seco (de agos- evapotranspiração de referência e umidade to a dezembro) ocorre em outubro. Neste relativa do ar. período, observa-se um deficit hídrico, ou seja, a evapotranspiração é maior que a precipitação, e induz à deficiência de água, Tabela 1. Normais climatológicas de tempera- Ca (cálcio) e Mg (magnésio) pelas plantas, tura média mensal (T), precipitação pluvial (P), reduzindo, assim, o crescimento, a ativida- evapotranspiração de referência (ETo) e umida- de fotossintética e a produção da maioria de relativa do ar (UR) no Amapá (1961–1990)(1). das espécies tropicais.

T P ETo UR Mês No Tocantins, os dados climatológicos (ºC) (mm) (mm) (%) descritos na Tabela 2 levam a classificá-lo, Janeiro 26,0 290 170 94 conforme a Classificação de Köppen, em Fevereiro 25,7 300 152 95 clima Aw (tropical chuvoso). Verifica-se que Março 25,7 353 169 95 a vegetação nativa do Estado do Tocantins Abril 25,9 387 164 95 cresce e se desenvolve em temperaturas médias do ar consideradas elevadas, com Maio 26,1 257 170 94 temperaturas médias anuais variando, con- Junho 26,2 164 165 93 forme a localidade, entre 25 °C e 26,4 °C, Julho 26,1 121 170 92 e precipitação pluvial entre 1.329 mm e Agosto 26,8 79 173 91 1.754 mm. Já a umidade relativa do ar e a Setembro 27,5 14 170 89 evapotranspiração variam de 67% a 85% e Outubro 27,9 12 177 88 de 1.090 mm a 1.772 mm, respectivamente. Novembro 27,7 51 169 91 Na Tabela 3, são apresentadas médias das Dezembro 27,0 92 174 91 normais climatológicas em Rio Branco, AC, (1) Valores da Estação Meteorológica de Macapá – DFA/MA (La- como temperatura média mensal, precipi- titude de 00° 02´S, longitude de 51° 03´W e altitude de 14 tação pluviométrica, evapotranspiração de m); médias estimadas pelo método de Blaney-Criddle. referência e umidade relativa do ar. CAPÍTULO 2 Caracterização das condições 35 climáticas na Amazônia

Tabela 2. Normais climatológicas de temperatura média mensal (T), precipitação pluvial (P), evaporação (E) e umidade relativa do ar (UR) em diferentes municípios do Tocantins (1961–1990).

T P E UR Estação (ºC) (mm) (mm) (%) Conceição do Araguaia 25,7 1.754 1.090 85 Peixe 25,6 1.722 1.592 73 Porto Nacional 26,1 1.667 1.740 72 Taguatinga 24,5 1.665 1.772 67 Paranã 25,0 1.329 1.366 70 Carolina 26,2 1.718 1.678 72 Imperatriz 26,4 1.463 1.460 74

Fonte: Inmet (1992).

maio a agosto, decorrente das frentes frias Tabela 3. Normais climatológicas de tempera- tura média mensal (T), precipitação pluvial (P), sulinas. O restante do ano apresenta tem- evapotranspiração de referência (ETo) e umida- peraturas elevadas. Observa-se, ainda, que de relativa do ar (UR) em Rio Branco, Acre.(1) a precipitação pluvial anual é considerada elevada (1.949 mm). T P ETo UR Mês (ºC) (mm) (mm) (%) A evapotranspiração também é considera- Janeiro 24,9 289 123 90 da elevada e, apesar de ocorrer uma redu- Fevereiro 24,7 271 102 90 ção de maio a setembro, pode-se observar Março 25,0 285 120 90 uma retração das chuvas no mesmo perío- Abril 24,3 194 104 89 do, o que conduz a um deficit hídrico nes- Maio 23,9 83 100 90 ses meses. Isso determina a adoção de irri- Junho 22,9 41 86 89 gação para suprir as necessidades de água Julho 22,0 11 78 85 nessas épocas. A umidade relativa do ar é Agosto 23,8 48 100 77 considerada elevada ao longo do ano, va- riando de 77% a 91%. Setembro 25,1 83 114 82 Outubro 24,8 194 121 87 A Tabela 4 mostra médias das normais cli- Novembro 25,1 188 120 89 matológicas, como temperatura média Dezembro 25,0 262 125 91 mensal, precipitação pluviométrica, evapo-

Fonte: Rodrigues et al. (2002). transpiração de referência e umidade rela- tiva do ar, do Município de Presidente Fi- gueiredo, no Estado do Amazonas, onde se A vegetação cresce e se desenvolve em encontra o polo produtor de flores e plan- temperaturas médias do ar consideradas tas ornamentais. Os dados evidenciam a elevadas, com a menor temperatura de caracterização um clima quente e chuvoso. FLORICULTURA TROPICAL 36 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Tabela 4. Normais climatológicas de temperatura média mensal (T), precipitação pluvial (P), evaporação (E) e umidade relativa do ar (UR) no município de Presidente Figueiredo, AM.

T P E(1) UR Estação (ºC) (mm) (mm) (%) Presidente Figueiredo, AM 25,5 2.000-2.500 1.968 85

(1) Média estimada pelo método de Blaney-Criddle.

Vale considerar que a temperatura am- Os dados climatológicos apresentados são biente e a água são de importância fun- um indicativo de que a gama de tempera- damental na formação do solo, na ativida- turas médias anuais variando entre 22 oC de microbiológica (bactérias e fungos), na e 27,9 oC permite o crescimento de uma decomposição e mineralização da matéria das maiores biodiversidades do planeta, a orgânica e na germinação, crescimento e desenvolvimento da flora regional. Amazônia. A Tabela 5 mostra médias das normais cli- Conforme Larcher (1986), nos vegetais das matológicas, como temperatura média regiões tropicais, o crescimento só acon- mensal, precipitação pluviométrica, evapo- tece a partir dos 12 oC a 15 oC, sendo que transpiração de referência e umidade relati- a temperatura ótima na qual se verifica o va do ar, em Belém, PA, observando-se que alongamento dos rebentos situa-se entre as médias de temperatura, precipitação, 30 °C e 40 oC. Portanto, na Amazônia, as evapotranspiração e umidade relativa do ar elevadas caracterizam um clima quente condições de temperaturas e de precipi- e chuvoso. tações elevadas conduzem à obtenção de boas taxas de fotossíntese e de respiração, O Pará também apresentou uma elevada favorecendo a germinação das sementes e temperatura, precipitação e umidade re- lativa do ar, que promove o rápido cresci- o desenvolvimento radicular, bem como o mento vegetal, determinando assim que as crescimento e o desenvolvimento das es- plantas recebam boas doses de nutrientes pécies, promovendo a manutenção de ca- para atender a suas necessidades. deias vivas na exuberante Floresta Tropical.

Tabela 5. Normais climatológicas de temperatura média mensal (T), precipitação pluvial (P), evaporação (E) e umidade relativa do ar (UR) no município de Belém, PA.

T P E(1) UR Estação (ºC) (mm) (mm) (%) Belém, PA 25,9 2.761,6 734,9 86

(1) Média estimada pelo método de Blaney-Criddle. Fonte: Inmet (1992). CAPÍTULO 2 Caracterização das condições 37 climáticas na Amazônia

O ciclo da água reversível, sem ganhos ou perda de calor), promovendo a condensação da água, a qual na Amazônia ocorre em torno de núcleos de condensação A Floresta Tropical constitui um dos bio- microscópicos, seguido pela criação de uma mas mais desenvolvidos e ao mesmo tem- corrente de ar ascendente. É o resfriamento po mais ricos em espécies do planeta, com do ar úmido que se eleva na atmosfera, dan- suas florestas úmidas/perenifólias altamen- do origem à formação de nuvens. te estratificadas, que ocupam as zonas jun- A densa floresta absorve grandes quanti- to ao Equador, com precipitações que ex- dades de água trazidas pelas chuvas abun- cedem os 2.000 mm anuais. Na América do dantes que ocorrem na região. Parte dessa Sul, esse ecossistema encontra-se nas ba- água é absorvida pelas raízes dos vegetais cias do Amazonas e do Orinoco. Ainda que e é componente essencial para o processo ocupem originalmente 17 milhões de km², do equilíbrio térmico, transporte de nu- ou seja, menos de 5% do planeta, e apesar trientes e no processo da fotossíntese da de toda sua importância, as florestas tropi- vegetação. Uma fração dessa água absorvi- cais continuam sendo destruídas de forma da pelas plantas é liberada pelas folhas na alarmante (Odum, 1988; Silva, 2007). forma de vapor, processo este denominado de transpiração. Outra é evaporada e outra Ressalta-se que a Floresta Equatorial cum- é infiltrada no solo. A água proveniente da pre uma função fundamental para o equi- evaporação e da transpiração condensa e líbrio ambiental, principalmente no que diz forma as nuvens na atmosfera, até saturar e respeito às condições climáticas e ao ciclo precipitar na forma de chuva. da água, no qual ocorre uma série de fenô- menos, de caráter periódico, que parte da O degelo dos Andes e as precipitações precipitação, passa pelo armazenamento, elevadas sobre toda a região amazônica infiltração e escoamento superficial, segue sustentam o caudal que abastece a Bacia com a evaporação das superfícies terrestres Amazônica. Assim, surgem na região rios e hídricas, e a transpiração dos seres vivos, de águas negras e ácidas com poucos sedi- culminando com a condensação do vapor mentos, como o Rio Negro, e rios de águas d’água. (Figuras 1A a 1E). barrentas como o Solimões, a partir dos quais se forma o Rio Amazonas. Ao longo A elevação do ar úmido, seja por convecção, desse rio, se estende uma extensa rede por sua própria convergência, por elevação hidrográfica, alguns formados por rios de topográfica ou por levantamento frontal, águas cristalinas, como o Tapajós, e outros promove seu resfriamento, fazendo com por rios de águas barrentas, como o Jari. que a água se condense. Portanto, quando A maior parte desses rios é carregada de o ar úmido sobe para níveis onde a pressão sedimentos areno-argilo-siltosos, os quais atmosférica é progressivamente menor, se avançam até a foz do Amazonas no Ama- expande, consome energia que é absorvi- pá, formando solos de aluvião nas extensas da do calor contido no próprio ar, fazendo planícies (várzeas) que formam essa bacia com que a temperatura diminua. hidrográfica. Esse fenômeno é conhecido por resfria- Portanto, as várzeas são ambientes inun- mento adiabático (processo termodinâmico dados pela água do Rio Amazonas e seus FLORICULTURA TROPICAL 38 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Figura 1. Esquematização do ciclo de água na Floresta Tropical da Amazônia: precipitação pluvial (A); escoa- mento superficial (B), armazenamento (C); evapotranspiração (D); condensação (E). afluentes, a qual é impelida no sentido durante a estação seca na porção leste do contrário ao seu curso pela força das marés território amazônico. Isso significaria que atlânticas. Essa situação promove o trans- a destruição de extensas áreas de floresta bordamento lateral desses cursos d’água afetaria o ciclo da água na região e, sem as e cria uma condição de alagamento e fer- florestas para estocar e proteger os cursos e tilização mineral superior ao ambiente de depósitos de água, longos períodos de seca Floresta de Terra Firme. se tornaram mais frequentes. Vale considerar que a derrubada de exten- sas áreas com cobertura vegetal afeta o ci- A importância da água clo de água na região. Por isso, merece des- taque o alerta sobre a capacidade-limite de nos organismos vegetais desmatamento da Amazônia, emitido pela De acordo com Bettelheim et al. (2012), Ste- Agência Brasileira de Inteligência (2007), wart (1976) e Sutcliffe (1980), os principais onde se observa que os estudos do Insti- usos da água pelos organismos vegetais tuto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) descrevem as suas principais funções: apontam que substituir 40% do total da mata nativa da Amazônia por soja ou pasto • Constitui mais de 90% da massa total dos pode causar aumentos de temperatura de seres vivos e é essencial para sua estrutu- até 4 oC e a redução de até 24% nas chuvas ra e atividade. CAPÍTULO 2 Caracterização das condições 39 climáticas na Amazônia

• Participa, diretamente, de numerosos • Aumenta a cobertura vegetal do solo e processos químicos que ocorrem nos or- consequentemente a infiltração da água ganismos vivos, como a fotossíntese. das chuvas, reduzindo as perdas por es- corrimento superficial. • É uma fonte de prótons (íons H+) para A Tabela 6 apresenta o ponto de fusão, a reduzir o CO2 na fotossíntese e de íons hidroxila (OH-), fornecendo elétrons para ebulição e o calor de vaporização de dife- rentes líquidos. Observa-se que, entre os as reações de luz. diferentes solventes avaliados, a água apre- • É o solvente de muitas substâncias iôni- senta os maiores pontos de fusão e ebuli- cas e compostos covalentes em diver- ção, e o maior calor de vaporização. Tais sos processos químicos no sistema solo/ características tornam o líquido mais apro- planta. priado ao desenvolvimento dos vegetais.

• É veículo de transporte da maioria dos compostos orgânicos, nutrientes, fotos- Tabela 6. Ponto de fusão (Pf), ebulição (Pe) e ca- sintatos e as excreções metabólicas, tan- lor de vaporização (CV) de diferentes solventes. to nos vasos do xilema (seiva bruta), do Calor de Pf Pe floema (seiva elaborada), como através Solvente vaporização (ºC) (ºC) do citoplasma das células. Hidratam to- (cal/g)(1) das as moléculas polares do organismo, Água 0 100 540 assim como as macromoléculas (polissa- Metanol -98 65 263 carídeos, proteínas e ácidos nucleicos). Etanol -117 78 204 • Ajuda a manter a turgidez das células ve- Propanol -127 97 164 getais. Acetona -95 56 125 Hexano 198 69 101 • É responsável pela abertura e o fecha- Benzeno 0,6 80 94 mento dos estômatos. (1) Número de calorias necessárias para converter 1 g de um líquido, no seu ponto de ebulição, a seu estado gasoso, na • Estimula o crescimento inicial, aumentan- mesma temperatura. do a superfície foliar para fotossíntese. Fonte: Sutcliffe (1980).

• Acelera a frutificação e a maturação dos vegetais. Bettelheim et al. (2012) mostram que, quan- • Aumenta o desenvolvimento radicular e do a estrutura cristalina de um composto captação da água do solo, em profundi- sólido é posta em contato com a água, as dade. moléculas de água circundam a superfície sólida, fazendo com que os polos positivos • Promove o equilibro térmico no interior das moléculas de água (cátions) atraiam os dos vegetais. íons negativos (ânions), e os polos negati- vos das moléculas de água (ânions) atraiam • Serve de meio para os gametas que se os íons positivos (cátions) do sólido, até o movimentam para realizar a fecundação. ponto em que a força de atração combina- FLORICULTURA TROPICAL 40 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis da em relação às moléculas de água seja no número e alteração na forma, em decor- maior que a força de atração das ligações rência do aumento do tecido de enchimen- iônicas que mantêm unidos os íons do só- to e dos espaços intercelulares, com conse- lido, deslocando completamente os íons já quente aumento da aeração, como meio de hidratados do cristal. Assim, as moléculas compensar a região submersa (Mazzoni-Vi- de água passam a circundar os íons remo- veiros; Costa, 2003). vidos do sólido, recebendo a denominação de íons hidratados ou solvatados. A molécula de água, que é constituída por dois átomos de hidrogênio e um de oxigê- Nos compostos covalentes, como o ácido nio, apresenta ligações covalentes polares, clorídrico (HCl), o trióxido de enxofre (SO ), 3 com uma extremidade positiva (H+) e a ou- a sacarose (C H O ), o metanol (CH OH), o 12 22 11 3 tra negativa (OH-). Isso produz uma atração etanol (C H O) e o ácido acético (CH COOH) 2 6 3 eletrostática entre as moléculas, conferindo, não reagem com a água, como os compos- assim, grande coesão interna, o que permite tos iônicos, mas se dissolvem porque as formar um corpo de água capaz de promo- moléculas de água circundam a molécula ver o transporte de nutrientes da raiz para covalente e a solvatam, formando pontes de hidrogênio com a água. Nesses casos, a toda a planta, e de fotossintatos (seiva ela- ligação de hidrogênio (H) será possível en- borada) produzidos nas folhas para todos os tre duas moléculas se uma delas contiver órgãos vegetais (Sienko; Plane, 1976). um átomo de O ou N (aceptor da ligação Geralmente, as atrações entre íons e as mo- de H) e a outra, uma ligação O-H ou léculas polares da água (energia de hidrata- N-H (doador da ligação de hidrogênio) ção) são suficientemente fortes para romper (Bettelheim et al., 2012). a estrutura da água. A Tabela 7 mostra que a água é o melhor solvente para as plantas, sendo capaz de dissolver grande número de HCl + H O Cl + H O 2 → 3 substâncias, tanto orgânicas (benzina, ace- + SO + 2 H O → HSO + H O tona e álcool), quanto as inorgânicas (Na , 3 2 4 3 + + ------K , NH4 , NO3 , ClO3 , ClO4 , I , Br , Cl e SO4 ), fa- vorecendo a dissociação de eletrólitos nela dissolvidos (Sienko; Plane, 1976). Essas características químicas da água mos- tram a relevância desse elemento como A água também exerce grande tensão su- solvente nas plantas e como mantenedor perficial e tem grande capacidade de ab- do seu equilíbrio térmico, uma vez que, sorver calor, o que a torna vital para todos com sua entrada pelo sistema radicular da os seres vivos, bem como para todos os pro- planta e sua remoção através dos estôma- cessos essenciais que dependem de suas tos das folhas, carrega o calor excessivo e propriedades. Líquidos aquosos, como a resfria a planta. seiva bruta, com seu conteúdo inorgânico, Em áreas inundadas – onde os caules ficam e a seiva elaborada, com seu conteúdo or- submersos por um período longo – as lenti- gânico, circulam nas células vegetais, trans- celas sofrem hipertrofia na região submer- portando diversas substâncias em seu con- sa e acima dela. Isso pode causar aumento teúdo (Sienko; Plane, 1976; Jorge, 1985). CAPÍTULO 2 Caracterização das condições 41 climáticas na Amazônia

Tabela 7. Solubilidade de diferentes solventes.

Composto solúvel em água Exceção

+ + + Todos os sais de Na , K e NH4 Haletos: sais de I-, Br- e Cl- Haletos de Ag+, Hg2+ e Pb2+ Fluoretos Fluoretos de Ca2+ e Mg2+

- - - Sais NO3, ClO3, ClO4, C2H3O2 Sulfatos Sulfatos de Sr2+, Ba2+, Pb2+ e Ca2+ Álcool etílico Ácidos inorgânicos Composto insolúvel em água Exceção

2 - 3 - 2 - 2 - + Sais de CO3 , PO3 , C2O4 e CrO4 Sais de NH4 e cátions de metais alcalinos + 2+ 2+ Sulfetos Sais de NH4 Ca e Sr e cátions de metais alcalinos Hidróxidos e óxidos metálicos Hidróxido e óxidos de Ca2+, Sr2+, Ba2+ e metais alcalinos Gasolina, metano e oxigênio

Fonte: Sienko e Plane (1976).

2- O carbonato (CO3 ), igualmente aos fosfa- de água, processo este cuja intensidade e 3- 2- tos (PO4 ), cromatos (CrO4 ), sulfetos e hi- eficiência máxima dependem do conteúdo dróxidos e óxidos metálicos se encontram adequado de umidade nas células dos teci- entre os compostos insolúveis em água. A dos foliares (Denisen, 1987). baixa solubilidade em água do carbonato contido no calcário, por exemplo, faz com Existem diferentes limites de água no solo, que esse produto tenha que ser bem dis- para que os vegetais se desenvolvam. De tribuído e incorporado no solo durante as um lado, solos de textura média e os are- operações de aração e gradagem, de forma nosos apresentam percolação intensa de a se obter a neutralização do alumínio (al) e água e a remoção de grandes quantidades do hidrogênio (H) do solo. de nutrientes, prejudicando o desenvol- vimento regular das plantas. Por outro, a Tanto a absorção e a translocação de nu- água em excesso, nos solos de várzea e de trientes, quanto a distribuição dos fo- igapó, limita a quantidade de oxigênio para tossintatos – no interior dos vegetais – as raízes. Entretanto, as espécies vegetais dependem, exclusivamente, da água. de várzea e de igapó possuem mecanismos Da mesma forma, a elongação celular, o de tolerância a esse tipo de estresse. efeito dilatador sobre a parede celular e sobre as membranas celulares dependem A enorme disponibilidade de água no Tró- do incremento do teor de água nas célu- pico Amazônico exerce papel fundamental las, graças à pressão de turgescência que na adaptação, na reprodução, na multi- esse líquido exerce (Larcher, 1986). Além do plicação e na distribuição das diversas es- mais, a fotossíntese não poderia cumprir pécies da flora, com algumas adaptadas a deu papel sem quantidades consideráveis viver em locais extremamente úmidos, ca- FLORICULTURA TROPICAL 42 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis racterístico da vegetação do tipo Floresta www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=clima/ Pluvial Tropical. normaisClimatologicas>. Acesso em: 30 dez. 2007. JORGE, J. A. Física e manejo dos solos tropicais. Todas essas propriedades da água a tor- Campinas: Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, nam fundamental para o crescimento e o 1985. 328 p. desenvolvimento das plantas. Sua falta ou LARCHER, W. Ecofisiologia vegetal. São Paulo: Epu. excesso podem trazer efeitos determinan- 1986. 319 p. tes para o setor de base agrária. MAZZONI-VIVEIROS, S. C.; COSTA, C. G. Periderme. In: APPEZZATO-DA-GLÓRIA, B.; CARMELLO-GUERREIRO, S. Anatomia Vegetal. Viçosa: Ed. da UFV, 2003. Referências p. 237-263. AGÊNCIA BRASILEIRA DE INTELIGÊNCIA. ODUM, E. P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara. Desmatamento aquece Amazônia em até 4 ºC, 1988. 434 p. diz Inpe. 2007. Disponível em: . SIENKO M. J.; PLANE R. A. Química. 7. ed. São Paulo: Acesso em: 30 dez. 2007. Companhia Editora Nacional, 1976. 605 p. BETTELHEIM, F. A.; BROWN, W. H.; CAMPBELL, M. SILVA, J. M. C. Corredor de biodiversidade do K.; FARRELL, S. O. Introdução à química geral, Amapá. Belém: Fundação Lee e Gund, 2007. 54 p. orgânica e bioquímica. 9. ed. São Paulo: Cengage STEWART, K. M. Oxygen deficits, clarity and Learning. 2012. 781 p. eutrophication in sorne Madison Lakes. DENISEN, E. L. Fundamentos de horticultura. 2. ed. International Review of Hydrobiology, n. 61, Mexico: Limusa. 1987. 604 p. p. 563-579, 1976 INMET (Brasil). Normais climatológicas do SUTCLIFFE, J. F. As plantas e a água. São Paulo: EPU, Brasil 1961-1990. 1992. Disponível em:

Capítulo 3 Introdução Conhecer o solo é sempre muito importan- Características te. Neste capítulo, são abordadas as carac- físico-químicas dos terísticas principais dos solos em relação à produção e como é possível melhorar as principais solos na condições para cultivo de flores e plantas ornamentais nas regiões tropicais, desde a Amazônia classificação e a gênese dos solos até sua composição físico-química. Jorge Federico Orellana Segovia Na agricultura, o solo é um conjunto de Jorge Breno Palheta Orellana substâncias orgânicas e inorgânicas que Luis Isamu Barros Kanzaki permite o crescimento e a produção de es- pécies vegetais úteis ao ser humano e/ou à criação de animais. O solo é composto por partes sólidas, líqui- das e gasosas em estado dinâmico, con- tendo organismos vivos (bactérias, fungos, minhocas e diversos insetos), onde ocorre uma série de reações entre a fase sólida, a solução do solo e a planta. Nele, ocorre uma série de fenômenos entre as substâncias químicas existentes, como a quebra e formação de suas ligações, dando origem a novas substâncias e compostos. A camada de solo que pode ser cultivada constitui-se num reservatório composto por uma mistura de materiais sólidos, como a matéria orgânica e as partículas minerais, e uma parte porosa que contém água e ar. A Figura 1 mostra restos vegetais em de- composição sobre um Latossolo de textu- ra média. Nesse caso, a formação do solo é considerada um processo dinâmico, ope- rando, continuamente, sobre as rochas por meio de ações físicas, químicas e biológicas. No desenvolvimento do ecossistema e na formação do solo, além dos agentes intem- péricos – como o calor do sol e a ação físico- -química da água – também é igualmente FLORICULTURA TROPICAL 44 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis importante a atividade dos organismos vi- Matéria orgânica vos nesse solo. A matéria orgânica é composta por todos Os minerais primários se transformam em os resíduos em decomposição (excremen- sesquióxidos e silicatos hidratados, que, re- tos de animais, raízes, troncos, ramos, fo- cristalizados, originam argilas coloidais. lhas, flores e frutos de vegetais caducos e microrganismos do solo), convertendo uma série de combinações orgânicas em + inorgânicas, como amônio (NH4 ), fosfato - 2- (H2PO4 ) e sulfato (SO4 ). Nas florestas tropicais, os compostos poli- fenólicos, formados nas folhas senescentes, Foto: Jorge Segovia uma vez caídos no chão, têm efeito consi- derável sobre a velocidade de decomposi- ção dos resíduos das folhas. Tanto os carboidratos como as proteínas – provenientes de restos vegetais e animais em decomposição – sofrem ataques pelos Figura 1. Restos vegetais em decomposição sobre microrganismos, transformando e libe- um Latossolo. rando parte ao meio ambiente na forma

de CO2, H2O e NO3, enquanto outra parte se decompõe em substâncias de natureza Na sucessão ecológica da formação de so- quinônica, peptídeos, aminoácidos e subs- los amazônicos, participam comunidades tâncias de natureza aromática (polifenóis, relativamente transitórias que se substi- quinonas). Finalmente, esses compostos se tuem umas às outras, formando etapas se- transformam no complexo orgânico deno- rais, participando diversas espécies numa minado de húmus (ácidos húmicos, ácidos série de sucessões denominada “sere”. fúlvicos e humina). Nas principais etapas serais participam a Os ácidos húmicos são constituídos de microflora (algas, fungos, líquens e bac- carbono (C), hidrogênio (H), oxigênio (O), térias) e a macroflora, como as briófitas nitrogênio (N) e pequenas quantidades de (musgos), pteridófitas (samambaias). enxofre (S), fósforo (P), silício (Si), etc. Já os A seguir, vêm as gimnospermas (ex.: gêne- ácidos fúlvicos são substâncias húmicas ros Zamia e Gnetum) e inúmeras espécies que permanecem dispersas após a flocu- de angiospermas agrupadas nas ordens lação dos ácidos húmicos, contendo uma Liliopsida e Magnoliopsida. Na microfauna, porção glucídica e outra proteica. Final- ocorrem os protistas (amebas, mixomice- mente, as huminas consistem de ácidos hú- micos complexados com material argiloso. tos) e os nematoides. Na macrofauna, po- dem-se citar, entre outros, os artrópodes Assim, a matéria orgânica formada no solo (aracnídeos, insetos, crustáceos diplópodes adere-se às partículas minerais, sobretudo e miriápodes). argila, melhorando a troca de cátions do CAPÍTULO 3 Características físico-químicas 45 dos principais solos na Amazônia solo e a formação de agregados estáveis Os filamentos dos fungos – chamados hi- desse solo (Figura 2). fas – e a fina massa, denominada de plas- módio, formada por mixomicetos, formam uma rede de tecidos, bem como corpos de reprodução aparentes, os esporocarpos, vi- sivelmente sobre a liteira (Figuras 3A a 3F), sendo os principais decompositores de lig- nina e de celulose em ambientes naturais (Swift, 1982), promovendo a deterioração de restos vegetais da liteira, como troncos, ramos, folhas e raízes de plantas caducas. As bactérias são microrganismos que tam- bém contribuem na formação do húmus, sendo que, da mesma forma que os fungos, secretam grupos de enzimas fundamentais sobre a matéria morta, levando a cabo rea- ções químicas para a decomposição biótica Figura 2. Complexo húmus: argila e troca iônica. dos mais variados corpos animais ou vege- tais. Parte dos produtos da transformação de moléculas orgânicas – complexas em seus componentes inorgânicos – é absorvida Conforme Stark e Jordan (1978) e Jordan como alimento, parte permanece no meio e (1985), a baixa fertilidade dos solos ama- serve para sustentar cadeias de diversas es- zônicos é compensada por mecanismos pécies que dependem da matéria orgânica. como a degradação da matéria vegetal em senescência, fundamental no armazena- mento de água e nutrientes no solo, bem Rocha-matriz como para manter e aumentar a biomassa nesses ecossistemas. Na Amazônia, as áreas de Pré-Cambriano (> 570 milhões de anos) correspondem Portanto, na consideração desses autores, a cerca de 40% do seu território. Suas se- em solos pobres, a decomposição da litei- quências vulcano-sedimentares (camadas ra assume papel fundamental na ciclagem de lava), intrusões graníticas, derrames de nutrientes, sendo feitos, principalmente, vulcânicos ácidos e intermediários, com- pela ação de bactérias, fungos saprotrófi- plexos alcalinos e coberturas sedimentares cos e pela microfauna do solo. apresentam grande variedade de depósitos Nas elevadas temperaturas (29 ºC ± 5 ºC) minerais, como ferro (Fe), manganês (Mn), da Amazônia, tem-se uma taxa elevada de alumínio (Al), cobre (Cu), zinco (Zn), níquel decomposição da matéria orgânica, tanto (Ni), cromo (Cr), titânio (Ti), P, ouro (Au), pra- por bactérias, fungos e mixomicetos quan- ta (Ag), platina (Pt), paládio (Pd), ródio (Rh), to por diversos artrópodes e insetos que estanho (Sn), tungstênio (W), nióbio (Nb), atuam sobre a vegetação caduca, contri- tântalo (Ta), zircônio (Zr), terras-raras, urâ- buindo para formação de húmus. nio (U) e diamante. FLORICULTURA TROPICAL 46 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

A B Fotos: Jorge Segovia

C D

E F

Figura 3. Decomposição de restos de material vegetal senescente pelos fungos: Phallus indusiatus Vent. (A); Trametes modesta (Kunze ex Fr.) (B); Trametes elegans (Spreng.) (C); Leucocoprinus brunneoluteus Capelari & Gimenes (D); Favolus tenuiculus P. Beauv. (E); e mixomicetos (F).

Deve-se salientar que boa parte dos depó- ção, erosão e concentração – em tempos sitos minerais, embora relacionados a ro- mais recentes, do Terciário (65 milhões até chas pré-cambrianas, foi formada por meio 1 milhão de anos) ao Quaternário (1 milhão de processos de enriquecimento – lateriza- e 600 mil anos e o presente) (Santos, 2002). CAPÍTULO 3 Características físico-químicas 47 dos principais solos na Amazônia

No Mesozoico (230 a 65 milhões de anos), Basalto a Bacia do Amazonas foi marcada por pro- É uma rocha ígnea vulcânica, ger. porfiríti- longada erosão até o início dos tempos ca (cristais agrupados) ou vítrea, composta, cretáceos (136 a 65 milhões de anos), regis- essencialmente, de plagioclásio básico (alu- trando-se nesse período manifestações vul- minossilicato natural de sódio e de cálcio) cânicas básicas, preservadas sob a forma de e augita – aluminossilicato de cálcio, sódio, camadas de lava e diques de diabásio (San- magnésio e ferro –, com ou sem olivina – tos, 2002). silicato de magnésio e ferro. O basalto dá origem a solos argilosos. Portanto, a maioria dos solos amazônicos tem sua origem na desagregação das ro- chas-matrizes superficiais da litosfera, as Granito quais sofrem dissolução, hidrólise, carbona- É uma rocha eruptiva composta, essencial- tação, oxidação e redução, seguida dos pro- mente, de quartzo, feldspato alcalino – sili- cessos de formação de solo, como: calcifica- catos de sódio, potássio e cálcio – e micas ção, podzolização, laterização, salinização e (silicatos cristalinos) de textura granular. alcalinização. O granito dá origem a solos arenoargilosos.

Entre as rochas ígneas que sofrem o intem- Arenito perismo da região de diabásio, estão o ba- salto e o granito, e nas rochas metamórfi- É uma rocha sedimentária de origem de- cas, o arenito. trítica, formada de fragmentos de outras rochas cimentados, naturalmente, por um material silicoso, calcário ou ferruginoso, Diabásio geralmente dando ao conjunto qualidades de dureza e de compactação. O arenito dá É uma rocha magmática intrusiva (mas- origem a solos de textura arenosa, como o sa eruptiva que se introduz em rochas Neossolo Quartzarênico. preexistentes), básica (teor relativamente baixo de sílica: 44% a 52%), microscopi- camente ofítica (bastões retangulares de Solos da Amazônia feldspato preenchidos por minerais de A classificação dos solos do sistema brasi- ferro e manganês), constituída, essencial- leiro contempla os níveis de: mente, por plagioclásios básicos – alumi- nossilicato natural de sódio e cálcio, piro- • Ordem. xênios (metassilicatos ferromagnesianos • Subordem. e cálcicos, mais raramente de alumino- • Grande grupo. sos), magnetita (óxido de ferro fortemen- te magnético) e ilmenita (óxido de ferro e • Subgrupo. titânio). Essa rocha dá origem a solos de A Tabela 1 mostra os principais grandes textura argilosa ou muito argilosa como grupos de solos ocorrentes na Amazônia, são os Latossolos. caracterizados pelo Sistema Brasileiro de FLORICULTURA TROPICAL 48 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Tabela 1. Classificação dos principais solos da Amazônia.

Ordem Subordem Grande Grupo Latossolo Amarelo Latossolos, Argissolos e Neossolos de Latossolo Vermelho Solos zonais regiões tropicais. Neossolo Quartzarênico Órtico Argissolo Gleissolo Háplico Solos intrazonais Solos hidromórficos Plintossolo Espodossolo Solos azonais Litossolos

Fonte: Sistema... (1999).

Classificação de Solos (SBCS) da Embrapa Gleissolo Háplico, estes últimos geralmente (Sistema..., 1999), como são os solos zo- caracterizados por sua boa fertilidade na nais (Latossolos, Argissolos e Neossolos de região. regiões tropicais), intrazonais (solos hidro- A Figura 5 mostra os solos mais represen- mórficos) e azonais. tativos da Amazônia Oriental, no Amapá, Nas Figuras 4 e 5, Mapa de Solos da Ama- no Pará e no Tocantins. Nessa região, obser- zônia Ocidental, IBGE (2005), identifica-se va-se que ocorrem como principais solos: diferentes tipos de solos encontrados na Latossolo Vermelho, Latossolo Amarelo, Ar- Amazônia que utilizam a nomenclatura e gissolo Vermelho Amarelo, Gleissolo Hápli- as especificidades recomendadas pelo Sis- co, Plintossolo Pétrico e o Neossolo Quart- tema Brasileiro de Classificação de Solos zarênico. (SBCS) (Santos et al., 2006). Na elaboração desses mapas, foram usados A Figura 4 mostra os solos mais representa- levantamentos exploratórios de solos pro- tivos da Amazônia Ocidental, em Roraima, duzidos pelo Projeto Radam Brasil ao longo no Acre, em Rondônia e no estado do Ama- das décadas de 1970 e de 1980, comple- zonas, na qual se percebe que, na Amazônia mentados por outros estudos mais deta- Ocidental, ocorrem como principais solos. lhados de solos produzidos principalmente Assim, os Latossolos Amarelo e Vermelho pela Embrapa e pelo Instituto Brasileiro de são solos de maior ocorrência na Amazônia, Geografia e Estatística (IBGE). sendo constituídos de sedimentos argilo- sos, arenosos e siltosos do terciário. Latossolo Amarelo Em proporção inferior aos Latossolos, ocor- Esses solos estão localizados em relevo rem os solos Argissolo Amarelo e Plintos- plano e de pluviosidade elevada, apresen- solo Pétrico derivados dos sedimentos da tando estádio avançado de intemperização Formação Solimões, e, em menor propor- e processo intenso de lixiviação em decor- ção, têm-se os solos Espodossolo, Alissolo e rência dos agentes intempéricos, o que CAPÍTULO 3 Características físico-químicas 49 dos principais solos na Amazônia

Figura 4. Mapa de solos da Amazônia Ocidental. Esc. 1:5.000.000. Fonte: IBGE (2005).

Figura 5. Mapa de solos da Ama- zônia Oriental. Esc. 1:5.000.000. Fonte: IBGE (2005). FLORICULTURA TROPICAL 50 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

resulta na concentração de óxidos e hi- dróxidos de ferro e alumínio (Vieira, 1988). Esses solos formados sobre basalto predo- minam em áreas afetadas pela ação dos

escudos Guiana/Brasil, incluindo o Cerrado, Foto: Jorge Segovia as planícies e o leste da Bacia Amazônica. Os Latossolos Amarelos são solos minerais de profundos a muito profundos (superio- res a 2 m), apresentando sequência de ho- rizontes A, Bw (B latossólico) e C pouco di- ferenciados, com cores variando de brunas a vermelhas, e cores mais escuras no hori- zonte A, mais vivas em B, e mais claras em C (Figuras 6 e 7), e sua textura pode variar de muito arenosa a muito argilosa (Vieira, 1988). São também porosos, permeáveis, bem drenados, ácidos a fortemente ácidos, e a argila predominante é a caulinita (1:1) e minerais de Al, Fe, quartzo e silicatos. Solos com capacidade de troca de cátions (CTC) e com saturação de bases (V%) mui- Figura 7. Latossolo Amarelo sob cobertura de Flores- ta de Terra Firme. to baixas, ou seja, com baixa disponibilida- de de nutrientes. Entretanto, apresentam Como práticas de manejo desse tipo de agregados pequenos e muito estáveis (Viei- solo, recomenda-se correção da acidez e da ra, 1988). fertilidade, conforme análise do solo e as necessidades de cada cultura, subsolagem quando compactados por lavrança exces- siva, seguido do preparo invertido do solo, da adubação verde e de irrigação. Foto: Jorge Segovia Latossolo Vermelho Os Latossolos Vermelhos (Figura 8) estão localizados em relevo ondulado e de plu- viosidade elevada, apresentando estádio avançado de intemperização e processo in- tenso de lixiviação (Vieira, 1988). São solos minerais de profundos a muito profundos (superiores a 2 m), com sequência de hori- zontes A-Bw-C pouco diferenciados. Con- Figura 6. Perfil de Latossolo Amarelo, sob cobertura tudo, o horizonte A é ócrico e o horizonte vegetal de Cerrado. B é argílico, mas de baixa atividade. Podem CAPÍTULO 3 Características físico-químicas 51 dos principais solos na Amazônia

ser arenosos ou argilosos, com agregados Argissolo Amarelo grandes, mas, instáveis em água (Vieira, 1988). São solos minerais bem desenvolvidos, de boa profundidade (2 m), com horizontes Esses solos apresentam-se porosos, per- A-Bt (textural, com acúmulo iluvial de argi- meáveis, bem drenados, ácidos a forte- la no horizonte B); e A-Bt-C (Figura 9), com mente ácidos, e a argila predominante é a transição clara ou abrupta (Vieira, 1988). caulinita (1:1) e minerais de Al, Fe, quartzo Classe textural arenosa ou franco-arenosa, e silicatos (Vieira, 1988). Mostram CTC e sa- com horizonte O e A, mais arenosos, e B turação de bases (V1) muito baixas, sendo e C mais argilosos, com gradiente textu- considerados quimicamente de fertilidade ral B/A superior a 1,5. Apresentam-se bem natural baixa (Vieira, 1988). drenados e ácidos, com coloração varian- do de bruno-amarelada a vermelho-escura Como práticas de manejo desse tipo de (Vieira, 1988). solo, recomenda-se correção da acidez e da fertilidade conforme análise do solo e as Como práticas de manejo dos Argissolos, necessidades de cada cultura, subsolagem recomendam-se calagem e adubação quí- quando compactados por lavrança exces- mica e orgânica conforme análise do solo e as necessidades de cada cultura, subsola- siva, seguido do preparo invertido do solo, gem e preparo invertido a cada 3 anos de adubação verde e irrigação. cultivo, adubação verde e irrigação. Foto: Jorge Segovia Foto: Jorge Segovia

Figura 8. Perfil de Latossolo Vermelho. Figura 9. Perfil de um Argissolo Amarelo. FLORICULTURA TROPICAL 52 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Neossolo Quartzarênico quase sempre se observam afloramentos de rocha, cobertos de campinas ou de floresta São solos minerais, hidromórficos ou não, serrana, como na Serra do Tumucumaque, geralmente profundos e arenosos, desen- AP, na fronteira com a Guiana Francesa. volvidos a partir de sedimentos arenoquart- zosos ou de arenitos. Possuem sequência de horizontes A e C (Figura 10) e a fração de areia é igual ou superior a 70% e a de argila inferior a 15% (Vieira, 1988). Foto: Jorge Segovia Foto: Jorge Segovia

Figura 10. Perfil de um solo Quartzarênico.

Como práticas de manejo dos Neosssolos Quartzarênicos, recomendam-se calagem e adubação química e orgânica, conforme análise do solo e as necessidades de cada cultura e preparo invertido desse solo a cada 3 anos de cultivo, adubação verde e Figura 11. Perfil de um solo Litólico. irrigação.

Como práticas de manejo desse tipo de Solos Litólicos solo, recomenda-se calagem e adubação Os solos Litólicos (Figura 11) são solos jo- química e orgânica, conforme análise do vens, pouco desenvolvidos e rasos. Geral- solo e as necessidades de cada cultura, adu- mente ocorrem em áreas de relevo ondu- bação verde e irrigação. lado e montanhoso, associado a intrusões graníticas. Possuem uma camada de ma- Gleissolo Háplico terial terroso sobre a rocha. Apresentam uma sequência de horizontes A, R ou A, C e São solos formados nas várzeas e planícies R (Vieira, 1988). São encontrados em áreas aluviais por sedimentação de coloides ar- de relevo ondulado ou montanhoso, onde rastados na rede hidrográfica amazônica CAPÍTULO 3 Características físico-químicas 53 dos principais solos na Amazônia

(Figura 12), cuja coloração reflete as condi- realiza conforme a oscilação do lençol freá- ções de restrição de drenagem. tico em decorrência do efeito das marés, conduzindo ao aparecimento de mosquea- dos avermelhados no perfil (Vieira, 1988). Quanto à fertilidade, estes solos podem ser eutróficos se a saturação de bases é maior que 50%, e distróficos se a saturação de ba-

Foto: Jorge Segovia ses é menor que 50% (Vieira, 1988). Como práticas de manejo desse tipo de solo, recomendam-se sistematização da irrigação e drenagem, manejo florestal adequado às culturas, preferência por culturas de ciclo médio e longo tolerantes à deficiência de aeração do solo, adubação química e orgâni- ca conforme análise do solo e as necessida- des de cada cultura, bem como a implemen- tação de sistemas florestais.

Plintossolo Plintossolos (Figura 13) são solos minerais hidromórficos, com horizonte plíntico (plin- tita maior que 15% numa espessura > 15 cm) com espessura superior a 15 cm e geral- mente variegada (cores ou tonalidades variadas) em decorrência dos mosqueados resultantes de oxirredução dos minerais Figura 12. Gleissolo Háplico na várzea do Rio Amazo- de Fe, seja nos 40 cm superficiais, seja em nas, em Macapá, AP. profundidades maiores (Vieira, 1988; Prado, 2001). São solos pouco profundos, com horizon- tes A, medindo cerca de 50 cm de profun- Esses solos apresentam tonalidade cin- didade e textura média (branco-amarelada) zenta, indicativa de que, no período seco, e Bg (restrição de drenagem) com cerca de ocorre redução no perfil com formação de 30 cm a 75 cm de profundidade e de textu- plintitas (Vieira, 1988). São solos constituí- ra siltosa (cinzentas, azuladas ou esverdea- dos por material mineral, apresentando das), mal drenados e com aeração deficien- horizonte plíntico ou litoplíntico ou con- te (Vieira, 1988). crecionário, numa das seguintes condições: iniciando dentro de 40 cm da superfície ou Os compostos férricos existentes se redu- iniciando dentro de 200 cm da superfície. zem a ferrosos (FeO) sob condições anaeró- bias ou estes se oxidam a férricos (Fe2O3) Os Plintossolos são precedidos de horizon- sob melhor aeração. Processo este que se te glei, ou imediatamente abaixo do hori- FLORICULTURA TROPICAL 54 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

cessidades de cada cultura, subsolagem e preparo invertido do solo a cada 3 anos de cultivo, adubação verde e irrigação.

Espodossolo São solos minerais hidromórficos profun- dos (Figura 14), com horizonte A, horizonte E álbico (cor clara e com espessura mínima Foto: Raimundo Cosme de Oliveira Jr. de 1 cm) e horizonte B espódico (acúmulo iluvial de material orgânico e óxido de alu- mínio). O limite superior do horizonte B espódico é encontrado a menos de 2 m de profundida- de e sua base geralmente apresenta-se dura, compacta e pouco permeável (Ortstein).

Figura 13. Perfil de um Plintossolo.

zonte A, ou E, ou de outro horizonte que apresente cores pálidas, variegadas ou com

mosqueados em quantidade abundante. Foto: Raimundo Cosme de Oliveira Jr. Quando precedidos de horizonte ou cama- da de coloração pálida (acinzentadas, páli- das ou amarelado-clara), essas cores deve- rão apresentar matizes e cromas, podendo ocorrer ou não mosqueados de coloração desde avermelhadas até amareladas. Quan- do precedidos de horizontes ou camadas com mosqueados, estes deverão ocorrer em quantidade abundante (> 20% em vo- lume), numa matriz de coloração averme- lhada ou amarelada. Como práticas de manejo de Plintossolo, re- comendam-se sistematização da irrigação e drenagem, calagem e adubação química e orgânica conforme análise do solo e as ne- Figura 14. Perfil de um Espodossolo. CAPÍTULO 3 Características físico-químicas 55 dos principais solos na Amazônia

Cor do solo A cor do solo é o resultado das quantidades de matéria orgânica e dos minerais especí- ficos. Geralmente, a cor não é um indicativo Foto: Jorge Segovia da fertilidade do solo, mas existe uma rela- ção entre a cor do subsolo e sua drenagem. Quanto mais drenado é um solo, sua cor se torna mais avermelhada e, quanto menos drenado, apresenta coloração acinzentada (Tabela 2).

Figura 15. Coleta de solo com auxílio de trado ho- Tabela 2. Cor do solo conforme sua drenagem. landês.

Cor do solo Drenagem Vermelho Excelente Vermelho-Escuro Boa Amarelo-Brilhante Média Amarelo-Pálido Moderada Foto: Jorge Segovia Cinzento Baixa

Estado de fertilidade do solo Para conhecer o estado de fertilidade de um solo a ser cultivado, requer-se uma boa Figura 16. Coleta de solo com auxílio de enxada. amostragem desse solo, conforme instru- ções a seguir: Não se devem coletar amostras que alte- rem os resultados das análises laboratoriais, • Divide-se o campo em áreas uniformes como coleta em formigueiros, em cupinzei- em cor, textura, topografia e cultivo an- ros, em acúmulos de resíduos orgânicos terior. (vegetais ou animais). • As amostras são coletadas com trados Após misturar as subamostras, retira-se (Figuras 15 e 16), enxada ou enxadeco, e uma amostra composta de 1 kg, a qual colocadas num balde. é encaminhada ao laboratório num saco • Coletam-se 20 subamostras para lotes plástico, que deve ser identificando da se- uniformes de até 20 ha, na profundida- guinte maneira: de de 0 cm a 20 cm para culturas anuais. • Nome do proprietário. E mais 20 subamostras de 21 cm a 40 cm para culturas permanentes. • Endereço. FLORICULTURA TROPICAL 56 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

• Ecossistema. Interpertação da análise • Profundidade de coleta. física dos solos Fisicamente, as partículas do solo podem O conhecimento do solo demanda a reali- ser separadas pelo tamanho em em calhaus, zação de uma boa coleta de solo e a análise cascalho, areia grossa, areia fina, silte e argila. de amostras em laboratório credenciado, A Tabela 3 mostra a Escala de Classificação de forma a poder recomendar as quantida- das Partículas de Solo de Attemberg. des de corretivos e de adubos capazes de permitir que se obtenham boas produtivi- dades nos cultivos, assim como boas mar- Tabela 3. Classificação de Attemberg funda- gens de lucros para os agricultores. mentada no tamanho da partícula de solo.

Partícula Tamanho (mm) Análises física e Calhaus > 20 química dos solos Cascalho >2-20 Areia grossa >0,25-2 Deve-se considerar que, muito embora as Areia fina (formato >0,02 – 0,25 plantas ornamentais, flores e hortícolas or- esférico) namentais sejam cultivadas por todo o País, Silte (formato cúbico) > 0,002 - 0,25 nos mais diversos tipos de ecossistemas e Argila (formato climas, elas apresentam diversas exigências 0,001 – 0,002 laminar) em elementos nutricionais. Portanto, essas espécies deverão receber os nutrientes ne- Fonte: Rich e Thomas (1960). cessários por meio de adubações contro- ladas, de forma a propiciar as condições essenciais para se obter o máximo de cres- É de se observar que, quanto mais arenosa for a textura do solo, menor será a retenção cimento e desenvolvimento normal das de água e nutrientes, e menor sua disponi- plantas, assim como boas colheitas. Isso, bilidade para as plantas. E quanto mais argi- de forma a repor os nutrientes retirados do losa for a textura do solo, maior será o teor solo pelo cultivo contínuo, pela lixiviação e de Al, promovendo assim maior fixação do P pela erosão desse solo. e elevação da acidez do solo, o que conduz à menor disponibilidade de nutrientes es- Para tanto, são de fundamental importân- senciais, como N, P, K, Ca, S, magnésio (Mg), cia a coleta, a análise e a interpretação físi- boro (B) e molibdênio (Mo). co-química dos diferentes solos, de forma a visualizar as magnitudes das entradas e A textura do solo indica a distribuição rela- saídas de determinados nutrientes no siste- tiva das suas diferentes frações granulomé- ma e prever tanto o desempenho dos cul- tricas, como areia, silte e argila (Tabela 4). tivos como a necessidade de modificações Geralmente, os solos de textura siltosa físico-químicas que permitam melhorar as ocorrem nas várzeas do Estuário Amazô- condições de fertilidade para as plantas. nico, apresentando uma retenção inter- CAPÍTULO 3 Características físico-químicas 57 dos principais solos na Amazônia

com os vegetais cultivados e o crescimento Tabela 4. Classificação da textura do solo. radicular.

Teor de argila (%) Textura Em solos argilosos e modificados, vão bem ≤ 15 Arenosa os cultivos de diversas espécies de Araceae, 16 - 35 Média Arecaceae, Heliconiaceae, Orchidaceae e 36 -60 Argilosa Zingiberaceae. Esses solos não são indica- > 60 Muito argilosa dos para cultivo de espécies vegetais tube- Teor de silte (%) Classificação rosas. > 60 Siltosa De todas as maneiras, sempre nos cultivos Fonte: Da Costa (1985). de hortaliças tropicais na Amazônia, é mui- to recomendável, tanto para solos areno- sos, textura média, quanto em argilosos, a mediária de água e nutrientes, permitindo adição de matéria orgânica, seja via aduba- excelente crescimento e desenvolvimento ção verde, compostagem, seja de estercos das plantas. Entretanto, esses solos ocor- bem curtidos. Assim, será possível aumen- rem nas margens do Rio Amazonas e seus tar, consideravelmente, a capacidade de afluentes, apresentando o inconveniente troca de nutrientes entre o solo e o sistema de serem alagados e de difícil aeração. Nes- radicular das plantas, além de reter maior se caso, no cultivo de hortaliças, deve-se quantidade de água, reduzindo os efeitos empreender a sistematização de sua dre- de estresses hídricos nos vegetais. nagem. Em terrenos siltosos, vai bem os cultivos de Heliconiaceae, Zingiberaceae e Arecaceae nativas. Interpretação da análise Os solos arenosos esquentam com rapidez química dos solos na região do Trópico Úmido, sendo neces- A Tabela 5 ajuda a interpretar a análise quí- sário melhorar sua coesão com matéria or- mica dos solos, indicando a acidez do solo gânica a fim de reter mais água e elementos (pH), os teores de Al, de K, de Ca e de Mg, isto nutritivos. Caso contrário, serão arrastrados é, (Ca+Mg) expressos em centimol de carga pelo subsolo ou pela erosão laminar, seja por decímetro cúbico de terra (cmol /dm3); com a irrigação, seja com a chuva. Solos c o P, expresso em miligrama por decímetro arenosos são mais adequados ao cultivo de cúbico de terra (mg/dm3); e a matéria or- Bromeliaceae e de Cactaceae. gânica, expressa em gramas por decímetro Os solos argilosos têm como inconvenien- cúbico de terra (g/dm3). Essa tabela tam- tes tendência a encharcar-se e apodrecer as bém mostra os valores CTC, da saturação raízes das plantas, além de serem difíceis de de bases e saturação de Al (m). trabalhar pela massa pesada que formam, sobretudo, no período chuvoso. Esses solos Esses valores ajudam a interpretar as condi- podem ser melhorados, incorporando-se ções químicas do solo, no que diz respeito à matéria orgânica para reduzir sua densi- acidez e à fertilidade, indicando que os teo- dade e aumentar a capacidade de troca res dos resultados das análises de solo são de cátions, a disponibilidade de nutrientes elevados, médios ou baixos. FLORICULTURA TROPICAL 58 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Tabela 5. Interpretação da análise química dos solos(1).

3 pH Al (cmolc/dm ) m (%) < 5 Acidez elevada 0 a 0,3 Baixo 0 a 20 Baixa 5,0 a 5,9 Acidez média 0,4 a 1 Médio 21 a 40 Média 6,0 a 6,9 Acidez fraca > 1 Alto > 40 Alta

3 3 3 K (cmolc/dm ) CTC (cmolc/dm ) MO (g/ dm ) < 0,11 Baixo 0 a 4,5 Baixa 0 a 15 Baixa 0,11 a 0,38 Médio 4,6 a 10 Média 16 a 30 Média >0,38 Alto > 10 Alta > 30 Alta

3 3 Ca + Mg (cmolc/dm ) V(%) P (mg/ dm ) 0 a 2 Baixo 0 a 50 Baixa <10 Baixo 2,1 a 5 Médio 51 a 70 Média 11 a 30 Médio > 5 Alto > 70 Alta > 30 Alto

(1) pH = potencial hidrogeniônico da amostra; Al = Alumínio; K = potássio; Ca + Mg = Cálcio + Magnésio; P = Fósforo; M = saturação por Alumínio; MO = matéria orgânica; CTC = capacidade de troca de cátions; e V = Saturação de Bases. Fonte: Cardoso et al. (2009).

Geralmente, a acidez média (valores abaixo as plantas apresentem maior crescimento de 5,9) a elevada (valores menores que 5) em altura, maior acúmulo de matéria seca conduz a indisponibilidade de nutrientes e maior incremento relativo de massa, tanto essenciais, como N, P, K, Ca, Mg, S, B e Mo, da parte aérea como das raízes (Alves, 2005). da mesma forma que promovem alta dis- ponibilidade de Al, de Mn e de Fe. O Mn, quando usado em altas concen- trações, induz à alta absorção de Fe pelas As espécies tolerantes à acidez, a grande plantas, que, por sua vez, conduzem à defi- maioria presente na Floresta Amazônica, ciência de Mg, deprimindo sua distribuição possuem dois mecanismos de tolerância. até às folhas e promovendo deficiências na O primeiro é de exclusão, em que as plantas formação de clorofila. exudam mais ácido málico e ácido cítrico no ambiente, neutralizando a ação do Al. O se- A alta disponibilidade de Fe também tem gundo é de desintoxicação, permitindo que contribuído para que em gramíneas, como as plantas acumulem mais ácido cítrico no o arroz, se desenvolvam raízes e folhas seu interior, neutralizando também a ação avermelhadas, impedindo a formação de do Al. clorofila e o enchimento das espigas. Portanto, nessas plantas tolerantes, há au- Para a maioria dos cultivos tradicionais os mento da atividade da enzima sintetase do altos teores de Al são tóxicos, bem como na citrato, a qual catalisa a biossíntese do ácido reação com a água, promovendo a libera- cítrico. Com isso, essas espécies atenuam ção de íons de hidrogênio no ambiente e os efeitos negativos do Al, permitindo que tornando os solos mais ácidos. CAPÍTULO 3 Características físico-químicas 59 dos principais solos na Amazônia

Teores médios a elevados de Al promovem esses solos são considerados de baixa fer- grande fixação do P disponível, tanto no tilidade natural. solo como no interior da planta. Com a fixa- ção do P, em decorrência das elevadas con- A Tabela 16 mostra o resultado da análise fí- centrações de Al no solo, ocorre a formação sico-química de um Argissolo sob ecossiste- de plantas nanicas, com folhas, raízes, cau- ma de Floresta de Terra Firme no Acre, onde les e inflorescências pequenos, retardando pode ser observada a ocorrência de solos va- o crescimento, a floração e a frutificação de riando de textura arenosa a siltosa, apresen- diversas espécies. tando uma acidez elevada e teores elevados de Al. Os teores de K, de P e matéria orgânica As Tabelas 6 a 8 mostram as características são considerados baixos, e os de Ca e Mg são físico-químicas de Latossolos sob cobertu- considerados de médios a elevados. ra de ecossistema de Cerrado do Amapá, de Roraima e do Tocantins. As Tabelas 17 e 18 mostram que as várzeas amapaenses e paraenses apresentam Gleis- Em geral, observa-se que esses Latossolos solo Háplico predominantemente siltosos Amarelos apresentaram acidez de média a localizados apenas numa faixa estreita ao elevada, associada principalmente a teores longo do Rio Amazonas e seus afluentes, médios de Al e a solos de textura entre mé- apresentando fertilidade de média a eleva- dia e argilosa. Apresentam também teores da. Seus teores de Al são baixos, em decor- de K, Ca, Mg, P e de matéria orgânica bai- rência das baixas concentrações de argila. xos, portanto, de baixa fertilidade natural. Entretanto, os teores de silte são elevadís- simos, conduzindo, dado o maior tamanho As Tabelas de 9 a 14 mostram as caracterís- dessa partícula em relação à argila, à maior ticas físico-químicas de Latossolos Amare- disponibilidade de água e nutrientes para los e Latossolos Vermelhos de ecossistema as plantas. Ou seja, esse mineral promove de Floresta de Terra Firme dos estados do maior capacidade de troca de cátions no Amapá, Amazonas, Pará e Acre. Os dados solo. Essa atividade do silte é potencializa- mostram que esses Latossolos apresentam da pelos teores médios na concentração de acidez elevada, acarretando em baixa dis- K, teores elevados de Ca e de Mg e os teores ponibilidade de N, P, K, Ca, Mg, S, B e Mo. de médios a elevados de P. Geralmente, ainda se observam teores mé- dios a elevados de Al, associados a uma A Tabela 19 mostra a análise físico-química textura de média a argilosa dos solos, o que de um Gleissolo sob ecossistema de Várzea, conduz à fixação de P e sua indisponibilida- em Roraima. Os resultados mostram acidez de às culturas. Os teores de K, Ca, Mg, P e de elevada, teor de Al médio e teores de K, Ca, matéria orgânica são baixos, um indicativo Mg, P e de matéria orgânica baixos, indican- de sua baixa fertilidade. do a baixa fertilidade desse ecossistema e sua acidez extrema. A Tabela 15 mostra o resultado da análise físico-química de Latossolo Amarelo sob Cabe salientar que a fertilização natural das ecossistema de Floresta de Terra Firme no várzeas amapaenses e paraenses é uma Pará, onde pode ser observada a ocorrência constante. Esse fato está associado ao fenô- de solos de textura arenosa, apresentando meno da colmatagem, o qual consiste no acidez média e teores baixos de Al. Os teo- depósito de coloides minerais e orgânicos res de K, Ca, Mg e P são baixos. Portanto, nas terras baixas localizadas ao longo do FLORICULTURA TROPICAL 60 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis 31 21 18 35 15 (%) (%) 24,2 Argila Argila 43 68 70 16 31 (%) 75,2 (%) Areia Areia 6,6 (%) Silte 26 11 12 49 54 (%) Silte ) ) 3 3 3,5 3,4 1,2 3,3 3,6 10 MO MO (g/dm (g/dm ) 3 ) 3 4 3 1 7 2 P P 0,6 (mg/dm (mg/dm ) 3 3 ) 3 /dm c 3 4,54 4,25 1,90 8,09 8,25 H+Al /dm c 1,58 (cmol H+Al (cmol ) 3 ) 3 /dm 3 c Al 0,85 0,80 0,40 0,90 0,50 3 /dm c Al (cmol 0,44 ) (cmol 3 2 /dm c ) 3 +Mg 2 0,65 0,20 0,25 1,35 1,05 2 Ca /dm c (cmol +Mg 2 0,31 ) Ca 3 (cmol /dm c K ) 3 0,04 0,08 0,01 0,04 0,05 /dm (cmol c K 0,02 O 2 (cmol 4,8 4,6 5,1 4,5 4,8 pH H O 2 5 pH H Macapá Itaubal do Piririm Ferreira Ferreira Gomes Tartarugalzinho Amapá Local Local Boa Vista Análise físico-química de diferentes áreas com Latossolo Amarelo sob ecossistemas de Cerrado, em Roraima. de Cerrado, sob ecossistemas Amarelo Latossolo com áreas físico-química 7. Análise de diferentes Tabela Análise físico-química de diferentes áreas com Latossolo Amarelo sob ecossistemas de Cerrado, no Amapá. de Cerrado, sob ecossistemas Amarelo Latossolo com áreas físico-química 6. Análise de diferentes Tabela CAPÍTULO 3 Características físico-químicas 61 dos principais solos na Amazônia 47 49 24 11 59 37 28 (%) (%) Argila Argila 2 28 17 66 31 45 61 (%) (%) Areia Areia 25 34 10 87 (%) Silte 10 21 11 (%) Silte ) ) 3 3 1,8 MO 5,5 4,0 1,6 2,5 MO 42,0 25,9 (g/dm (g/dm ) 3 ) 3 P 1,0 2,9 0,9 P (mg/dm 2 6 1 <1 (mg/dm ) 3 3 ) /dm 3 c 7,42 5,52 0,99 3 H+Al /dm c (cmol 4,79 8,91 H+Al 14,03 13,53 ) (cmol 3 ) 3 /dm 3 c Al 0,2 0,0 0,0 3 /dm c Al (cmol 1,80 0,50 0,90 1,65 ) (cmol 3 2 ) 3 /dm c 2 +Mg 2 2,22 2,76 2,03 /dm c Ca +Mg 2 0,40 1,70 0,15 0,50 (cmol Ca (cmol ) 3 ) 3 /dm c K /dm 0,16 0,11 0,18 c K 0,09 0,05 0,03 0,06 (cmol (cmol O O) 2 2 4,1 4,6 4,1 4,6 pH pH H 4,48 4,98 5,08 (H Local Local Oiapoque Aparecida do Aparecida Rio Negro Laranjal do Jari Laranjal Aparecida do Aparecida Rio Negro Dianópolis Porto Grande Porto Mazagão Análise físico-química de diferentes áreas com Latossolo Amarelo sob ecossistemas de Floresta de Terra-Firme, no Amapá. Terra-Firme, de de Floresta sob ecossistemas Amarelo Latossolo com áreas físico-química 9. Análise de diferentes Tabela Análise físico-química de diferentes áreas com Latossolo Amarelo sob ecossistemas de Cerrado, no Tocantins. no de Cerrado, sob ecossistemas Amarelo Latossolo com áreas físico-química 8. Análise de diferentes Tabela FLORICULTURA TROPICAL 62 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis 34 67 46 61 47 41 (%) (%) (%) Argila Argila Argila 8 3 49 39 33 22 (%) (%) (%) Areia Areia Areia 20 37 17 25 15 36 (%) (%) (%) Silte Silte Silte ) 3 ) ) 3 3 2,3 2,5 MO - - - - (g/dm MO MO (g/dm (g/dm ) 3 1 1 P ) ) 3 3 (mg/dm 1 1 P 2 3 P ) (mg/dm (mg/dm 3 3 /dm ) c ) 3 3 4,29 8,91 H+Al 3 3 /dm /dm c c (cmol 10,5 11,7 12,1 10,7 H+Al H+Al ) 3 (cmol (cmol 3 ) /dm ) c 3 3 Al 1,00 1,65 3 3 /dm /dm c c (cmol Al 0,75 1,30 Al 2,90 3,81 ) (cmol (cmol 3 2 ) ) /dm 3 3 c 2 2 +Mg 0,9 0,5 2 /dm /dm Ca c c +Mg +Mg (cmol 2 0,29 0,10 2 0,29 0,97 Ca Ca (cmol ) (cmol 3 ) ) 3 /dm 3 c K 0,04 0,06 /dm /dm c c K K (cmol 0,07 0,04 0,03 0,09 (cmol (cmol O 2 5,0 4,6 pH H O O 2 2 3,7 3,5 pH 4,4 3,4 pH H H Presidente Presidente Figueiredo Presidente Presidente Figueiredo Local Local Local Pedra Branca Pedra Serra do Navio Presidente Presidente Figueiredo Presidente Figueiredo Análise físico-química de diferentes áreas com Latossolo Vermelho sob ecossistemas de Floresta de Terra Firme, no Amapá. Firme, Terra de de Floresta sob ecossistemas Vermelho Latossolo com áreas físico-química 10. Análise de diferentes Tabela no Amazonas. Firme, Terra de de Floresta sob ecossistemas Vermelho Latossolo com áreas físico-química 11. Análise de diferentes Tabela no Amazonas. Firme, Terra de de Floresta sob ecossistemas Amarelo Latossolo com áreas físico-química 12. Análise de diferentes Tabela Fonte: Rodrigues et al. (2001). Rodrigues et al. Fonte: ( 2001). Rodrigues et al. Fonte: CAPÍTULO 3 Características físico-químicas 63 dos principais solos na Amazônia 6 8 36 33 10 (%) (%) (%) Argila Argila Argila 56 54 (%) 81 91 85 (%) Areia (%) Areia Areia 11 13 (%) Silte 9 (%) 3 6 Silte (%) Silte ) 3 - - MO ) 3 ) (g/dm 3 MO 2,03 ) MO 3 1,21 1,23 (g/dm (g/dm 2 1 P ) (mg/dm 3 ) 3 ) 3 P 3 1 1 P 3 (mg/dm /dm c - - (mg/dm H+Al ) 3 ) (cmol 3 3 3 /dm c - ) /dm 3 c - - H+Al H+Al 3 /dm c (cmol (cmol Al 2,63 1,05 ) 3 ) 3 (cmol 3 /dm 3 c /dm c ) 0,5 Al 3 Al 0,3 0 2 (cmol /dm c (cmol +Mg 2 0,32 0,31 ) ) 3 Ca 3 2 2 (cmol /dm /dm c c +Mg 1,1 +Mg 2 0,7 1,4 2 ) 3 Ca Ca (cmol (cmol /dm c K ) 0,13 0,44 ) 3 3 (cmol /dm /dm c c K K 0,03 0,02 0,04 O 2 (cmol (cmol 4,4 3,9 pH H O O 2 2 4,6 pH 5,3 5,8 pH H H Plácido de Castro Plácido Local Local Local Castanhal Plácido de Castro Plácido Castanhal Castanhal Análise físico-química de diferentes áreas com Latossolo Amarelo sob ecossistema de Floresta de Terra Firme, no Pará. Firme, Terra de de Floresta sob ecossistema Amarelo Latossolo com áreas físico-química 13. Análise de diferentes Tabela no Acre. Firme, Terra de de Floresta sob ecossistema Amarelo Latossolo com áreas físico-química 14. Análise de diferentes Tabela no Pará. Firme, Terra de de Floresta sob ecossistema Amarelo Latossolo com áreas físico-química 15. Análise de diferentes Tabela Fonte: Rodrigues et al. (2003). Rodrigues et al. Fonte: FLORICULTURA TROPICAL 64 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis - 8 0,5 4 (%) 0,5 1 (%) (%) 18 Argila Argila Argila - 7 33 59 (%) (%) 19,5 Areia 5,5 Areia (%) 12 Areia - 63 23 85 80 (%) (%) Silte Silte (%) Silte ) 94 85 ) 3 3 2 4,2 2,6 MO MO 1,21 1,23 (g/dm ) (g/dm 3 1,7 4,2 MO ) ) 3 3 (g/dm P 5 1 1 P 57 11 (mg/dm ) (mg/dm 3 P ) ) 3 3 62 35 3 3 (mg/dm /dm /dm c - - c 1,73 3,96 3,46 H+Al H+Al ) 3 (cmol (cmol 3 /dm c ) 2,31 3,3 ) 3 3 H+Al 3 (cmol /dm 3 c /dm c 0,8 1,2 Al Al 0,1 0,3 <0,05 ) 3 (cmol (cmol 3 /dm c ) Al 0,05 3 ) 2 3 <0,05 2 /dm (cmol c /dm +Mg c 2 7,42 2,82 +Mg 2 7,85 ) Ca 3 10,65 11,2 2 Ca (cmol (cmol /dm c ) +Mg 3 9,15 9,8 2 ) 3 Ca /dm (cmol c K /dm c 0,02 0,08 K ) 0,29 0,17 0,11 3 (cmol (cmol /dm c K O 2 0,2 0,12 pH 4,3 4 O H 2 (cmol 5,8 5,5 5,2 pH H O 2 6,1 5,3 pH H Local Local Local Bailique Chaves Plácido de Castro Plácido Plácido de Castro Plácido Anauerapucú Afuá Macapá Análise físico-química de diferentes áreas com Argissolos sob ecossistema de Floresta Terra Firme, no Acre. Firme, Terra de Floresta sob ecossistema Argissolos com áreas físico-química 16. Análise de diferentes Tabela no Amapá. Várzea, de sob ecossistema Gleissolo Háplico com áreas físico-química 17. Análise de diferentes Tabela no Pará. Várzea, de sob ecossistema Gleissolo Háplico com áreas físico-química 18. Análise de diferentes Tabela Fonte: Rodrigues et al. (2003). Rodrigues et al. Fonte: CAPÍTULO 3 Características físico-químicas 65 dos principais solos na Amazônia

Rio Amazonas e seus afluentes, arrastados pelas enchentes promovidas pelas marés, -

(%) aumentando, naturalmente, a fertilidade Argila dessas terras.

- Entretanto, nos solos das várzeas do Ama- (%) Areia pá e do Pará, a drenagem é deficiente, prin- cipalmente no período chuvoso, quando

- apresenta limitações de aeração para cer- (%) Silte tas culturas. No entanto, certas espécies de helicônias (Heliconia rostrata) e arecáceas, ) 3 como açaí (Euterpe oleracea), buriti (Mauritia 9

MO flexuosa), buçu (Manicaria saccifera), entre ou- (g/dm tras, apresentam excelente desempenho de crescimento e produção nesse tipo de solo. ) 3 Portanto, geralmente os solos da Amazônia, P 6,4 em maior proporção sob cobertura de flora

(mg/dm típica de Floresta Úmida e em menor propor- ção sob ecossitema de Cerrado, apresentam- ) 3 se profundos, altamente intemperizados, 3 /dm

c bem drenados, ácidos, de baixa fertilidade 3,2

H+Al natural e com teores médios a elevados de Al,

(cmol cujas concentrações se tornam tóxicas para a

) maioria das espécies vegetais cultivadas. Es- 3 ses fatores tornam-se impeditivos para o de- 3 /dm c 1

Al senvolvimento de cultivos de flores e plantas ornamentais, caso não se tomem as medidas (cmol necessárias para corrigir a acidez e a fertilida- )

3 de do solo por meio de calagem e adubação, 2 um tema abordado no Capítulo 4. /dm c +Mg 0,8 2 Ca (cmol Considerações finais ) 3 O crescimento de empreendedores que in- /dm c K gressam todo ano ao mercado de flores e 0,09 plantas ornamentais e visualizam oportuni- (cmol dades de comercialização neste mercado, O

2 sentem a necessidade de conhecimento 3,8 pH H técnico para o atendimento satisfatório das demandas. Considera-se, assim, que a compreensão da fertilidade de um solo Local Canta através da análise físico-química é de suma Análise físico-química de um Gleissolo sob ecossistema de Várzea, em Roraima Várzea, físico-química 19. Análise de de um Gleissolo sob ecossistema Tabela importância na atividade de floricultura e FLORICULTURA TROPICAL 66 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Tabela 20. Análise química de um Latossolo Amarelo sob ecossistema de Cerrado, no Amapá.

pH K+ Ca2++Mg2+ Al3+ H++Al3+ P MO Local 3 3 3 3 3 3 H2O (cmolc/dm ) (cmolc/dm ) (cmolc/dm ) (cmolc/dm ) (mg/dm ) (g/dm ) Macapá 4,8 0,04 0,65 0,85 4,54 4 3,5 paisagismo em regiões tropicais. Ela tor- PRADO, H. do. Solos do Brasil: gênese, morfologia, na-se uma ferramenta da maior relevância, classificação e levantamento. 2. ed. Piracicaba: Esalq, 2001. 220 p. desde o planejamento da instalação até a manutenção das diversas espécies de flores RICH, C. I.; THOMAS, B. W. The clay fraction of soils. Advances in Agronomy, v. 12, p. 1-39, 1960. DOI: e plantas ornamentais. Torna possível o uso 10.1016/S0065-2113(08)60080-2. de práticas de manejo racional associado ao desenvolvimento de um programa de RODRIGUES, T. E.; OLIVEIRA JUNIOR, R. C. de; SANTOS, P. L. dos; SILVA, P. R. da. Caracterização e calagem e adubação mais eficientes, e o classificação de solos do município de Presidente uso de corretivos e fertilizantes minerais e/ Figueiredo, Estado do Acre. Belém, PA: Embrapa ou orgânicos, que possibilitarão o desen- Amazônia Oriental, 2001. 49 p. (Embrapa Amazônia volvimento de um monitoramento com Oriental. Documentos, 123). avaliação de mudanças dos nutrientes no RODRIGUES, T. E.; GAMA, J. R. N. F.; SILVA, J. M. L. solo, podendo possibilitar o aumento da in- da; VALENTE, M. A.; SANTOS, E. da S.; ROLIM, P. A. M. Caracterização e classificação de solos tensidade de cultivo de forma sustentável, do município de Plácido de Castro, Estado evitar gastos exorbitantes ou desnecessá- do Amazonas. Belém, PA: Embrapa Amazônia rios e ajudar a manter uma boa produtivi- Oriental, 2003. 51 p. (Embrapa Amazônia Oriental. dade do solo ao longo dos anos. Documentos, 160). SANTOS, H. G. dos; JACOMINE, P. K. T.; ANJOS, L. H. C. dos; OLIVEIRA, V. A. de; OLIVEIRA, J. B. de; COELHO, Referências M. R.; LUMBRERAS, J. F.; CUNHA, T. J. F. (Ed.). Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 2. ed. Rio de ALVES, R. M. M. Produção, acúmulo e exsudação de Janeiro: Embrapa Solos, 2006. 306 p. ácidos orgânicos em dois cultivares de arroz (Oriza sativa L.) submetidos a níveis tóxicos de alumínio. SISTEMA Brasileiro de Classificação de Solos. Brasília, 2005. 77 f. Dissertação (Mestrado em Fisiologia DF: Embrapa Produção de Informação; Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 1999. 412 p. Vegetal) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG. STARK, N. M.; JORDAN, C. F. Nutrient retention by the CARDOSO, E. L.; FERNANDES, F. A.; FERNANDES, A. H. root mat of an Amazonian rain forest. Ecology, v. 59, B. M. Análise de solos: finalidade e procedimentos de p. 3, 434-437, 1978. amostragem. Corumbá: Embrapa Pantanal, 2009. 5 p. (Embrapa Pantanal. Comunicado técnico, 79). SWIFT, M. J. Basidiomycetes as components of forest ecosystems. In: FRANKLAND, J. C.; HEDGER, DA COSTA, J. B. Caracterização e constituição do J.; SWIFT, M. J. (Ed.). Decomposer basidiomycetes: solo. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, their biology and ecology. Cambridge: Cambridge 1985. 527 p. University Press, 1982. p. 307-337. JORDAN, C. F. Soils of the Amazon rainforest. In: VIEIRA, L. S. Manual da ciência do solo: com ênfase PRANCE, G. T.; LOVEJOY, T. E. (Ed.). Key environments: aos solos tropicais. 2. ed. São Paulo: Agronômica Amazonia. Oxford: Pergamon Press, 1985. p. 83-94. Ceres, 1988. 464 p. 67

Capítulo 4 Introdução Em grande parte, o suporte da vida no pla- Princípios de nutrição neta Terra é dado no processo fundamental e adubação de da fotossíntese, com a formação das mais diversas substâncias orgânicas que servem flores e plantas de base à sustentação da maior parte das ornamentais tropicais cadeias alimentares. Assim, se presume que o metabolismo das plantas depende do suprimento de subs- Jorge Federico Orellana Segovia tâncias químicas e da transformação de energia radiante em energia química arma- zenada nas ligações de compostos orgâni- cos, utilizada na síntese de diversos com- ponentes necessários aos processos físico- químicos que ocorrem nas células, tecidos e órgãos, fundamentais ao crescimento e ao desenvolvimento de raízes, caules, fo- lhas, flores, frutos e sementes. As plantas absorvem nutrientes por meio de numerosos pelos absorventes existen- tes nas raízes jovens, as quais se renovam continuamente. Esses pelos segregam sol- ventes orgânicos como ácido cítrico e ácido málico, os quais contribuem na solubiliza- ção de compostos pouco solúveis, como fosfatos e carbonatos. Entre os 16 elementos essenciais existen- tes no ambiente para as plantas, existem aqueles que são fornecidos pelo ar (carbo- no, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio) e a água (hidrogênio e oxigênio), enquanto os 13 restantes são aportados pelo solo. Esses elementos nutritivos fornecidos pelo solo classificam-se em macro e em microele- mentos, dependendo da necessidade das plantas em absorver grandes ou pequenas quantidades desses nutrientes. Como elementos relevantes à nutrição vegetal, destacam-se o nitrogênio (N), FLORICULTURA TROPICAL 68 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis o fósforo (P), o potássio (K), o cálcio (Ca), o Fotossíntese magnésio (Mg) e o enxofre (S). Nesse processo de fotossíntese, mostrado Deve-se ter em mente que a presença de na Figura 1, as plantas combinam o gás car- uma quantidade suficiente de elementos bônico (CO2), a água (H2O) e a energia da luz nutritivos no solo não garante por si mesma solar, transformando-se em glicose, promo- uma nutrição adequada das plantas, pois vendo liberação de oxigênio (O). O proces- esses elementos devem encontrar-se em so é representado pela seguinte equação: formas assimiláveis à vegetação, as quais permitam manifestar o máximo desenvol- 6 CO + 6H O + luz → C H O + 6O vimento da vegetação. Entre esses nutrien- 2 2 6 12 6 2 tes, podem-se selecionar as formas mais solúveis de elementos essenciais, como N, Portanto, as plantas necessitam de água e P e K, assim como elementos secundários, de gás carbônico para seu crescimento e como Ca, Mg e S. desenvolvimento, podendo sintetizar diver-

Figura 1. Esquematização do processo de fotossíntese. CAPÍTULO 4 Princípios de nutrição e adubação de 69 flores e plantas ornamentais tropicais sos compostos. Nesse processo, as plantas sultando na liberação de energia para ou- também precisam da ação do N, do ar e dos tros processos metabólicos e na eliminação diferentes minerais contidos no solo, como de dióxido de carbono e água. N, P, K, Ca, Mg, S, boro (B), molibdênio (Mo) Durante a respiração fisiológica das plantas, e zinco (Zn). a reação química entre as substâncias com- No processo fotossintético, a energia solar é bustíveis com oxigênio, como carboidratos, transferida através de várias substâncias pre- lipídios ou proteínas, é controlada ao longo sentes nos cloroplastos que contêm clorofila, de uma cadeia de enzimas que controlam formando uma cadeia de transporte de elé- parte da oxidação total. Aqui, uma peque- trons, os quais vão liberando energia grada- na porção de energia transforma-se em tivamente. Essa energia é aproveitada para calor, mas a maior parte é aproveitada no transportar hidrogênio (H) iônico de fora aumento da capacidade de crescimento e para dentro do cloroplasto, formando-se um no desenvolvimento delas. fluxo de energia mecânica rotatória, a qual gira internamente, promovendo a formação Nutrição de plantas de um composto fosfatado (fosforilação), a partir do composto denominado adenosina A fertilidade de um solo pode ser avaliada difosfato. Finalmente, no metabolismo das pela riqueza de nutrientes que possui e plantas, acumula-se a energia proveniente pela capacidade de produção dos cultivos. da luz solar, formando o composto denomi- Os nutrientes podem ser de dois tipos: os nado adenosina tri-fosfato, o ATP. macronutrientes e os micronutrientes. A diferença principal entre eles está na quan- 12H O + 12NADP + 18ADP + 18P - (luz) → 2 tidade com que são absorvidos pelos vege- 18ATP + 12NADPH + 6O 2 2 tais. Geralmente, considera-se que tanto os macro como os micronutrientes apresen- Posteriormente, a planta consome a ener- tam sua essencialidade para que as princi- gia armazenada para seu crescimento, pais funções celulares ocorram. assim como para sintetizar diversos fotos- sintatos, como os carboidratos (açúcares e amidos), os lipídios (óleos, gorduras e ce- Macronutrientes ras), os aminoácidos, as proteínas, as vita- Macronutrientes são os diversos elementos minas e os hormônios. químicos que um vegetal necessita absor- ver, em grande quantidade, para sobreviver Respiração e desenvolver-se. Entre eles há os não mine- rais como carbono (C), H e O, e os minerais As plantas obtêm energia para seus pro- como N, P, K, Ca, Mg e S (Houaiss; Villar, 2001). cessos metabólicos da respiração, a qual consiste num conjunto de transformações Micronutrientes químicas que ocorrem nos organismos vi- vos, em que o oxigênio é absorvido pelas Micronutrientes são os diversos elementos células e usado na oxidação de moléculas químicos que um ser vivo necessita absor- orgânicas (combustão dos alimentos), re- ver em pequena quantidade para sobrevi- FLORICULTURA TROPICAL 70 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis ver e desenvolver-se, como o B, ferro (Fe), pontes de H, se sustentam sobre uma dupla Mo, cobre (Cu) e Zn (Houaiss; Villar, 2001). hélice formada pelo açúcar desoxirribose e o ácido fosfórico. Funções dos nutrientes O N promove a formação de muitas enzi- nas plantas mas e da molécula de clorofila (Figura 3), essencial no processo da fotossíntese. A seguir, serão mostradas as funções indi- O N também é componente de diversas vi- viduais dos principais nutrientes e os sinto- mas ou efeitos visuais de sua carência, bem taminas como a biotina, tiamina, niacina e como as principais fontes desses nutrientes. a riboflavina (Malavolta, 1980; White et al., 1980; Lopes, 1989).

Nitrogênio As plantas deficientes em N apresentam clorose ou amarelecimento pela deficiência Este elemento é assimilado pelas plan- - na formação de clorofila (Figuras 4 e 5). tas como nitrato (NO3 ), ureia [(NH2)2CO] e + como amônia (NH3 ). Faz parte da compo- Em brássicas, os sintomas de deficiência de sição (90%) de diversos aminoácidos e pro- N caracterizam-se por tonalidades amare- teínas, em especial das bases purínicas e las e púrpura nas folhas velhas e nas nervu- pirimídicas da estrutura do DNA (Figura 2), ras, e pecíolos rosados. estimulando o crescimento de diferentes órgãos (Malavolta, 1980; White et al., 1980; Quando se utiliza matéria orgânica (ester- Lopes, 1989). co, composto ou serragem) que não esteja decomposta, seja na adubação, seja na co- Na formação do DNA, as bases nitrogenadas, bertura morta, e não se faz a devida aplica- tanto purínicas (adenina e guanina) quan- ção de N nas plantas, pode ocorrer clorose to pirimídicas (citosina e timina) unidas por induzida, em decorrência da competição por N entre as bactérias nitrificantes e as plantas, conduzindo a uma clorose carac- terística da deficiência desse elemento nas plantas. A adubação com N pode ser aplicada com os seguintes produtos comerciais: • Sulfato de amônio 21% de N amoniacal. • Ureia 45% de N amídico. • Salitre do chile 16% de N nítrico.

Figura 2. Esquematização das bases nitrogenadas • Nitrato de amônio que formam o DNA. 16% de N nítrico e 17% de N amoniacal. CAPÍTULO 4 Princípios de nutrição e adubação de 71 flores e plantas ornamentais tropicais

• Nitrato de cálcio As bactérias contribuem na captação e na 13% de N nítrico. transformação do N amoniacal em N nítrico (nitrificação). Entre as bactérias fixadoras • Esterco de gado de N, tem-se o Rhizobium, vivendo em sim- 1,7% de N amoniacal. biose com espécies leguminosas, fixando • Cama de aviário o N nos nódulos de suas raízes (Figura 6). 3% de N amoniacal. A simbiose entre essas duas espécies pode ser utilizada para cultivo em aleias, tanto Adubos indicados para uso em fertirriga- em jardins e parques como nos cultivos ção: silviculturais de associação de espécies or- namentais anuais e arbóreas para corte e • Nitrato de cálcio formação de cobertura morta ou adubação 14,5% de N nítrico e 1% de N amoniacal. verde. • Nitromag 13% N nítrico e 13% amoniacal. Fósforo • Nitrato de magnésio As plantas podem absorver o P como íon - 11% de N nítrico. ortofosfato primário (H2PO4 ), e, em menor proporção, como íon ortofosfato secundá- • MAP 2- rio (HPO4 ). Esse elemento atua na fotossín- 11% de N amoniacal. tese e na respiração, processos que geral- • Magnum – P44 mente demandam transferência de energia 18% de N amídico. e, portanto, fundamentais no metabolismo dos açúcares. Também promove a divisão • FertiCare celular como componente do DNA e o cres- 13% de N nítrico. cimento dos diferentes órgãos da planta.

Figura 3. Molécula de clorofila apresentando em sua composição N e Mg. FLORICULTURA TROPICAL 72 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

A B Fotos: Jorge Segovia

C D

Figura 4. Vegetais com clorose foliar, característica de deficiência de N em: Arecaceae (A), Zingiberaceae (B), Heliconiaceae (C) e Orchidaceae (D).

Funciona como catalisador enzimático no ção de flores e frutos e, muitas vezes, apre- interior da planta, na redução do nitrato sentando floração e maturação retardadas, para amônia e na redução de nicotinami- produzindo frutos e sementes pequenas da adenina e fosfato (NADPH) (Malavolta, (Ritas et al., 1985). As folhas apresentam 1980; White et al., 1980; Lopes, 1989). coloração verde-avermelhada, púrpura ou As plantas deficientes de P (Figura 7) apre- bronzeada. sentam crescimento retardado ou reduzi- do, com um sistema radicular raquítico, fo- O P pode ser encontrado, comercialmente, lhas e caules pequenos, limitando a forma- nas seguintes formas: CAPÍTULO 4 Princípios de nutrição e adubação de 73 flores e plantas ornamentais tropicais

A B Fotos: Jorge Segovia

C D

Figura 5. Clorose foliar associada à deficiência de N em: Jasminum spp. (Oleaceae) (A), Agave fourcroydes (Amaryllidaceae) (B), Licuala grandis (Arecaceae) (C) e Hibiscus sinensis (Malvaceae) (D).

• Superfosfato simples

18% de P2O5. • Superfosfato triplo

Foto: Jorge Segovia 45% de P2O5. • Fosfato de Araxá (12% solúvel a.c.)

30% de P2O5. • Yoin

30% de P2O5.

Figura 6. Nódulos formados por Rizhobium em angi- • Hiperfosfato de Gafsa (43% solúvel a.c.)

co (Anadenanthera peregrina). 29% de P2O5. FLORICULTURA TROPICAL 74 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

• Fosfato de Marrocos (11% solúvel a.c.) Em cultivos orgânicos, recomendam-se

32% de P2O5. usar, como fontes de P, Yorin, hiperfosfato de Gafsa, e fosfato natural de Arad. • Fosfato natural de Arad (10,5% solúvel a.c.) Potássio 33% de P2O5. Adubos para uso em fertirrigação: Esse elemento é absorvido do solo, na forma iônica (K+). É essencial na síntese • Map proteica, promove a turgidez das células,

61% de P2O5. ajudando a manter a pressão interna dos tecidos. Indiretamente, ajuda no transporte • Fosfato monopotássico de nutrientes para promover a fotossíntese 51% de P O . 2 5 (Malavolta, 1980; White et al., 1980; Lopes, • Magnum – P44 1989). 44% de P O . 2 5 As plantas deficientes em K (Figuras 8 e 9) • Kemifos PK apresentam manchas cloróticas nas folhas

30% de P2O5. mais velhas, que começam pelo ápice das

A B Fotos: Jorge Segovia

C

Figura 7. Sintomas característicos da deficiência de P: folhas pequenas, verdes com nervuras de coloração arroxeada em brássicas (A) e (B); limbo foliar arroxeado em gramíneas (C). CAPÍTULO 4 Princípios de nutrição e adubação de 75 flores e plantas ornamentais tropicais folhas e se estendem ao longo de todo o • FertiCare bordo foliar, tornando-se necróticas ao in- 44% de K2O. tensificar-se. A deficiência desse nutriente também prejudica a textura, a cor, o con- • Kemifos PK teúdo de açúcar e a consistência dos frutos 20% de K2O. (Ritas et al., 1985). Em cultivos orgânicos de hortaliças, reco- O K pode ser encontrado nos seguintes menda-se como fontes de K, o sulfato de produtos comerciais: potássio e o sulfato de potássio e magné- sio. Este último é recomendado, principal- • Cloreto de potássio mente, em solos corrigidos com calcário 60% de K O. 2 calcítico. • Sulfato de potássio

50% de K2O. Cálcio • Sulfato de potássio e magnésio Este elemento é absorvido pelas plantas na forma de cátion (Ca +) e ajuda a reduzir os • 20% de K O. 2 2 nitratos, a ativar vários sistemas enzimáticos Adubos para utilização em fertirrigação: e a neutralizar os ácidos orgânicos na plan- ta. O Ca forma compostos que são parte da • Sulfato de potássio parede celular, estimulando a formação dos 50% de K O. 2 mais diferentes órgãos, como raízes, cau- • Fosfato monopotássico les, folhas, flores, frutos e sementes, além

33% de K2O. de promover maior resistência mecânica

A B C Fotos: Jorge Segovia

Figura 8. Sintomas visuais da deficiência de K em espécies da família Arecaceae: clorose e necrose das folhas mais velhas em Sabal bermudana (A); clorose e necrose das folhas mais velhas em Rhapis excelsa (B); e clorose e necrose das folhas mais velhas em Chamaerops humilis (C). FLORICULTURA TROPICAL 76 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 9. Sintomas visuais da deficiência de K nas espécies: clorose e necrose das folhas mais velhas em Rave- nala madagascariensis (A); clorose e necrose das folhas mais velhas em Musa acuminata (B); e clorose e necrose das folhas mais velhas em Dracaena sanderiana (C).

da planta (Malavolta, 1980; White et al., • Cal virgem – não usar. 1980; Lopes, 1989). • Superfosfato simples As plantas deficientes em Ca (Figuras 10 25% de OCa. a 12) apresentam como sintomas visuais achatamento, encurvamento e necrose dos • Fosfato natural de Arad tecidos das folhas novas, bem como enru- 37% de OCa. gamento e necrose das paredes dos frutos Adubo para uso em fertirrigação: (podridão apical de frutos de tomate, pi- mentão e melancia) e brotos terminais das • Nitrato de cálcio plantas, em decorrência da baixa transloca- 19% de Ca. ção de Ca na planta (Ritas et al., 1985). Helicônias deficientes em Ca apresentam O Ca pode ser encontrado, comercialmen- achatamento e encurvamento das folhas, te, nas seguintes formas: bem como suscetibilidade ao fendilhamento • Calcário dolomítico foliar, causado por ventos fracos (Figura12). 30% de OCa. Magnésio • Calcário calcítico 45% de OCa. Este elemento é absorvido na forma de cá- tion (Mg2+). É um componente da clorofila • Cal hidratada (Figura 13), estando envolvido, diretamen- 46% de OHCa. te, na captação da luz solar durante a fotos- • Fosfato natural de Gafsa síntese. Também ajuda no metabolismo do 36% de OCa. fosfato, na respiração da planta e na ativa- CAPÍTULO 4 Princípios de nutrição e adubação de 77 flores e plantas ornamentais tropicais

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 10. Sintomas visuais da deficiência de Ca: clorose e necrose da extremidade das folhas mais novas de lança-de-são-jorge (Sansevieria stuckyi God. Leb.) (A); e de bromélia (B).

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 11. Clorose e necrose da extremidade de folhas mais novas em: cebolinha (A); e manchas necrosadas no ápice das folhas novas de bananeira (B) são sintomas visuais da deficiência de Ca.

ção de vários sistemas enzimáticos (Mala- do a partir das margens foliares, enquanto volta, 1980; White et al., 1980; Lopes, 1989). as nervuras permanecem verdes (Ritas et al., 1985). As plantas deficientes em Mg (Figura 13) apresentam amarelecimento foliar entre as O Mg pode ser encontrado, comercialmen- nervuras das folhas mais velhas, começan- te, nas seguintes formas: FLORICULTURA TROPICAL 78 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

• Calcário dolomítico 20% de OMg.

• Cal hidratada

Foto: Jorge Segovia 53% de OHMg.

• Sulfato de potássio e magnésio 18% de OMg.

• Cal virgem – não usar.

• Superfosfato simples 28% de OMg.

Enxofre

Este nutriente é absorvido na forma de 2- ânion (SO4 ). É um componente essencial dos aminoácidos cisteína e metionina, fun- damentais na formação de proteínas. O S é fundamental na formação de clorofila (Malavolta, 1980; White et al., 1980; Lopes, 1989).

As plantas deficientes em S apresentam Figura 12. Tecidos das folhas deficientes de Ca são frágeis e se fendem. amarelecimento esbranquiçado e generali- zado das folhas e redução do crescimento (Ritas et al., 1985).

O S pode ser encontrado, comercialmente, nas seguintes formas: Foto: Jorge Segovia • Sulfato de potássio e magnésio

22% de SO3.

• Superfosfato simples

12% de SO3.

Figura 13. A clorose internerval e as nervuras verdes • Fosfato natural de Gafsa são sintomas visuais da deficiência de Mg em begô-

nias. 36% de SO3. CAPÍTULO 4 Princípios de nutrição e adubação de 79 flores e plantas ornamentais tropicais

Adubo para utilização em fertirrigação: de origem natural e de baixa solubilidade, como, por exemplo, os fosfatos naturais, os • Sulfato de potássio calcários, a cal hidratada e os pós de rocha. 18% de S. Em solos de baixa fertilidade, onde serão cultivadas espécies com demanda de sa- Boro turação de bases elevada, poderão ser uti- O B está envolvido no transporte de car- lizados os termofosfatos, fosfatos de Arad e boidratos, no metabolismo do ácido ribo- Gafsa, sulfato de potássio, sulfato duplo de nucleico, na síntese do ácido indolacético potássio e magnésio de origem natural, sul- (AIA), no metabolismo fenólico e na lignifi- fato de magnésio, micronutrientes e guano cação e estrutura da parede celular, estan- (excrementos de aves marinhas). do diretamente envolvido na durabilidade de flores cortadas (Barbosa et al., 2009). Redistribuição dos nutrientes Segundo Malavolta et al. (1989), os elemen- Molibdênio tos podem mostrar mobilidade muito dife- O Mo é componente da enzima redutase rente no interior da planta. Assim, podem do nitrato e da nitrogenase, fundamental ser classificados como: na fixação do N (Barbosa et al., 2009). • Móveis: N, P, K, Mg, cloro (Cl) e Mo. Plantas deficientes em Mo acumulam ni- • Pouco móveis: S, Cu, Fe, Mn e Zn. trato e podem apresentar deficiência de N (Barbosa et al., 2009). • Imóveis: Ca e B.

Zinco Adubos orgânicos O Zn tem função estrutural e funcional Geralmente, são usados como fontes de nas transformações pelas quais passam as matéria orgânica (estercos e compostos). substâncias que constituem o interior dos Funcionam como condicionadores do solo, organismos vivos, como reações de síntese contribuindo para manter a estrutura, me- (anabolismo) e reações de desassimilação lhorando a capacidade de retenção de água (catabolismo) que liberam energia (Barbo- e de nutrientes e proporcionando um meio sa et al., 2009). adequado para o desenvolvimento e ação O principal sintoma de deficiência é a redu- dos microrganismos e da fauna do solo. ção do crescimento das folhas, com dimi- Os estercos frescos contêm microrganis- nuição da atividade fotossintética (Barbosa mos que precisam de N durante o processo et al., 2009). de curtição. Por isso, não devem ser usados no cultivo, pois induzem à deficiência de N Recomendação de adubos (fome induzida) dos vegetais. Esse proble- para produção orgânica ma pode ser resolvido com o curtimento do esterco, que é a transformação dos ex- Na horticultura e na floricultura orgânica re- crementos animais sob condições naturais. comendam-se apenas os adubos minerais Deve-se deixar os monturos de esterco de- FLORICULTURA TROPICAL 80 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis compor em local coberto com sombrite a a desintegração dos restos vegetais, verifi- 80%. ca-se a formação de substâncias húmicas, o húmus, o qual se constitui em complexos No período chuvoso, deve-se evitar o en- compostos orgânicos (Bunting, 1971). charcamento e a lavagem do esterco, usan- do uma lona plástica. O esterco curtido se A matéria orgânica decomposta é substrato transforma numa massa escura, de odor de uma série de organismos que a decom- agradável. põe, convertendo-a em nutrientes orgâni- cos em formas inorgânicas, como amônio Os restos vegetais (folhas, gravetos, flo- + - - (NH4 ), fosfato (H2PO4 ) e sulfato (SO4 ). Esse res, frutos e raízes) ou estercos de animais, fenômeno é denominado de mineralização quando decompostos, fornecem detritos (matéria orgânica curtida). à superfície, que são desintegrados pela digestão de outros organismos como bac- A Tabela 1 contém os valores médios da térias, protozoários, insetos, vermes e mi- composição do esterco de diferentes ori- nhocas, representando fontes de matéria gens (bovino, suíno e aves), bem como da orgânica que servem para melhoria físico- matéria orgânica, da farinha de ossos e de química dos solos. peixes, do bagaço de cana e da torta de ma- mona. Observa-se que, em termos nutricio- Todos os detritos vegetais são compostos nais, na maioria desses produtos, os apor- de substâncias orgânicas e inorgânicas. tes de N, de P e de K são pequenos, com Entre os elementos inorgânicos, têm-se Ca, exceção da farinha de ossos, que apresenta K, Mg, Fe, P e S. A porção orgânica dos de- teores razoáveis de P. tritos consiste em amidos, açúcares, ácidos orgânicos, resinas, óleos, lignina, vitaminas A adição de substâncias orgânicas aos so- e proteínas, compostos estes que contêm los pobres em matéria orgânica melhora em sua composição C, O, H, P, N e S. Com seu arejamento, regula a velocidade de in-

Tabela 1. Composição média de diferentes fontes de adubo orgânico.

Matéria orgânica N P O K O Adubo 2 5 2 (%) Esterco bovino 57 1,7 0,9 1,4 Esterco de suínos 53 1,9 0,7 0,4 Esterco de aves 50 3 3 2 Composto orgânico 31 1,4 1,4 0,8 Farinha de ossos degelatinados 0,5 a 1 27 a 29 Farinha de ossos autoclavada 2 a 3 20 a 23 Farinha de peixe 4 a 5 9 5 Bagaço de cana 81,7 1,37 1,11 0,70 Torta de mamona 4 a 6 1 a 2 1,2

Fonte: Ribeiro et al. (1999). CAPÍTULO 4 Princípios de nutrição e adubação de 81 flores e plantas ornamentais tropicais filtração, diminui a compactação e melhora compostos devem medir de 1 m de largura, a capacidade de troca de cátions. por 1 m a 5 m de comprimento e 1,25 m de altura. A pilha de composto deve ser cons- Para que ocorra boa mineralização da maté- tituída por quatro camadas de material ve- ria orgânica, é importante que os estercos e getal de 20 cm, intercaladas por camadas compostos orgânicos sejam curtidos. Para de esterco de 5 cm e raspa de liteira da flo- tanto, deve-se colocar os adubos orgânicos num local coberto com palha rala ou som- resta, de forma a acelerar a decomposição brite, de maneira a permitir a entrada de (Figuras 15 e 16). chuva sem lavá-los (Figura 14). No período Inicialmente, o material empilhado em lei- sem chuvas, o esterco em processo de cur- ras – para decomposição – se aquece, al- timento deve ser regado constantemente, cançando altas temperaturas (60 ºC a 70 ºC). tendo-se o cuidado para que ele não fique Por isso, num período de 90 dias, é preciso ensopado. revirar o composto a cada 15 dias. No pro- A aplicação de adubos orgânicos não curti- cesso de mistura, deve-se aproveitar para dos provoca a queima do sistema radicular regar. É possível que seja necessário revirar das plantas e a competição por N, promo- o composto antes de 15 dias, baseando-se vendo clorose. no teste da “barra quente”, que se resume na seguinte operação: a cada 2 ou 3 dias, Fabricação do composto inserir uma barra de ferro bem no meio do orgânico em unidades monte, por 5 minutos, deixando 20 cm para fora. Isso funcionará como um termômetro. de agricultura familiar Ao retirar a barra, deve-se segurá-la na re- Para se fabricar composto orgânico podem- gião que fica no meio da pilha. Se não for se utilizar qualquer material vegetal, desde possível segurar a barra, está na hora de re- que em bom estado sanitário. As pilhas de virar o composto.

Figura 14. Pilha de composto formada por camadas de ma- terial vegetal e de esterco. FLORICULTURA TROPICAL 82 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis Fotos: Jorge Segovia

Figura 15. Cama de aviário sem curtir e materiais vegetais em processo de decomposição.

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 16. Pilha de compostagem em camadas de material vegetal (A) e composto curtido (B).

O composto estará pronto para ser usado, preta, além de consistência leve e solta. quando não apresentar cheiro forte, mas Uma vez pronto, seu volume se reduz a um apenas um cheiro muito suave, não se con- terço em relação ao volume inicial. seguindo identificar os componentes que formaram a pilha, como aparas, serragem, Nas condições climáticas da região ama- folhas e colmos, galhos e outros compo- zônica, esse processo demora, em média, nentes vegetais. Nessa etapa, conforme os 3 meses. Por isso, os agricultores devem componentes usados, o composto pode preparar seus adubos orgânicos 3 meses apresentar coloração marrom-escura ou antes do plantio. CAPÍTULO 4 Princípios de nutrição e adubação de 83 flores e plantas ornamentais tropicais

Usina de compostagem O tratamento e a destinação final dos resí- como alternativa sustentável duos sólidos das indústrias madeireiras sem- pre foi uma preocupação dos principais mu- para reúso de resíduos nicípios e principalmente das organizações sólidos agroindustriais governamentais – e não governamentais – ligadas à área de saneamento ambiental. Nas cidades amazônicas, a descarga do lixo representa sérios problemas à saúde públi- Na maioria dos municípios amapaenses, a ca e ao meio ambiente. Entre tais proble- administração se limita a recolher resíduos mas, podem-se citar os resíduos agroindus- domiciliares e empresariais, sem muita re- triais como são chamados os resíduos das gularidade, depositando-os em locais afas- indústrias de açaí, além das aparas e serra- tados da vista da população, sem maiores gem das indústrias madeireira e moveleira. cuidados sanitários, principalmente em de- corrência das dificuldades financeiras que Nessa linha, deve-se levar em conta que, impedem a aquisição de equipamentos durante séculos, os depósitos em áreas ur- para coleta, necessários e disponíveis no banas tratados sem os devidos cuidados mercado, transporte e destinação final dos sempre estiveram associados à propagação resíduos sólidos. de doenças, seja diretamente por meio de As consequências desses procedimentos humanos e de animais coexistindo nesses são graves, podendo-se citar como exem- locais, seja por meio da contaminação dos plo a contaminação do lençol freático, a mananciais de água, dos solos e dos ali- poluição da atmosfera, com o desprendi- mentos (James, 1997). mento de gases e o mau cheiro, a prolifera- Essa geração crescente e diversificada de ção de insetos e roedores, transmissores de resíduos sólidos nos meios urbanos – e doenças e o problema da presença humana (catadores) nos locais onde os resíduos sóli- sua disposição final – estão entre os mais dos são depositados nos lixões. sérios problemas ambientais enfrentados em muitas cidades amazonenses. A gera- Dentre as oportunidades reais existentes, ção de resíduos é proporcional ao aumento a reciclagem e o reúso desses resíduos in- da população e às demandas do mercado dustriais formados por fibras vegetais na interno e externo, e desproporcional à dis- compostagem começam a ser vistos como ponibilidade de soluções para o gerencia- solução adequada, tanto para a destinação mento dos detritos, resultando em sérias final do lixo recolhido como para a geração defasagens na prestação de serviços, como de emprego e renda em áreas de agricul- a diminuição gradativa da qualidade do tura periurbanas, podendo garantir segu- atendimento e a redução do percentual rança no abastecimento de alimentos na da malha urbana atendida pelo serviço de Amazônia. coleta e o seu abandono em locais inade- Segundo Homma (2000), nas últimas déca- quados. Portanto, o correto manejo dos das, os resíduos sólidos urbanos têm sido es- resíduos sólidos é certamente um dos prin- tudados com a finalidade de se obter técni- cipais desafios dos centros urbanos neste cas mais eficientes e seguras para dispô-los início de milênio. no ambiente ou torná-los novamente úteis. FLORICULTURA TROPICAL 84 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Levantamentos feitos em usinas de triagem sólidos deve ser incentivada, facilitada e e de compostagem de resíduos sólidos expandida no País, para reduzir o consumo apontam que, em média, depois de devi- de matérias-primas, recursos naturais não damente processado, chega-se a uma pro- renováveis, energia elétrica e água. dução de composto orgânico da ordem de 40% da quantidade inicial de lixo chegada Recomenda-se a utilização de matéria-pri- à usina. É certo que a composição do lixo ma para compostagem, de acordo com a varia de município para município, mas, se norma NBR 10.004 – ABNT de 1987 (Associa- uma parte desse lixo for utilizada em pro- ção Brasileira de Normas Técnicas, 1987), os dução de composto orgânico e outra reci- resíduos sólidos classificados como: clada em indústrias de papel, metal, plásti- • Resíduos classe II – Não Inertes: resíduos co ou vidro, o volume final com destino a sólidos ou mistura de resíduos sólidos aterros sanitários será bastante reduzido (D’Almeida, 2000). que não se enquadram na classe I (peri- gosos). De acordo com a NBR 10.004 – ABNT (Asso- ciação Brasileira de Normas Técnicas, 1987), • Resíduos classe III – Inertes: esses resí- resíduos sólidos são definidos como resí- duos podem ter propriedades, como duos nos estados sólidos ou semisólidos combustibilidade, biodegradabilidade e ou que resultam da atividade da comu- solubilidade em água. nidade, de origem industrial, doméstica, Levando-se em consideração que antes de hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e iniciar qualquer projeto que envolva trata- de varrição. A norma também estabelece a mento de resíduos sólidos, é importante metodologia de classificação dos resíduos avaliar, qualitativamente e quantitativa- sólidos quanto aos seus riscos potenciais mente, o perfil dos resíduos sólidos a serem ao meio ambiente e à saúde pública, com usados nesse estudo, permitindo assim es- o objetivo exclusivo de adequar seu manu- seio e seu destino final. truturar melhor todas as etapas de um pro- jeto de usina de compostagem. Serão uti- Segundo Vailati (1998), a coleta, o transpor- lizados resíduos caracterizados por Vilhena te e o destino final dos resíduos sólidos são (1999) como compostáveis (casca, caroços atividades tipicamente municipais, consti- e bagaço de frutas, aparas e serragem de tuindo-se um ramo importante do sanea- madeira). mento ambiental, do qual é tratado de for- ma integrada e fazendo parte de um plano Quanto aos impactos ambientais, econômi- diretor municipal de saneamento e meio cos e sociais associados à falta de tratamen- ambiente. to adequado dos resíduos sólidos urbanos, Pereira Neto (1999) menciona que os im- Desde 1981, o Conselho Nacional do Meio pactos gerados pela falta de manejo do lixo Ambiente (Conama) instituiu a primeira urbano são bastante variados, podendo lei (Lei nº 6.938 de 1981, disposto na Lei ser classificados em sanitários, ambientais, nº 9.605 de 1998 e no Decreto nº 3.179 econômicos e sociais. de 1999) (Brasil, 1981, 1998, 1999), sobre aproveitamento dos resíduos sólidos, onde A coleta de resíduos agroindustriais será se- considera que a reciclagem dos resíduos letiva e tem como aspectos positivos: CAPÍTULO 4 Princípios de nutrição e adubação de 85 flores e plantas ornamentais tropicais

• Estímulo à cidadania, graças à participa- Compostagem ção da população. A compostagem é uma técnica usada no • Articulações com catadores e empresas. reúso dos resíduos agrícolas, a qual já é praticada por agricultores ao longo dos sé- • Redução do volume de lixo a ser dispos- culos. Nesse processo, restos de vegetais, to no ambiente por meio do reúso na estrume e outros tipos de resíduos orgâ- compostagem de fibras vegetais. nicos são empilhados em leiras em local • Agregação de valor nos materiais segre- conveniente e deixados para se decompor gados. até ficarem prontos para serem devolvidos ao solo, sendo utilizados pelos agricultores • Aumento da disponibilidade de matéria para melhorar a fertilidade do solo. Pode orgânica na produção de frutas e hortali- ser definida como um processo biológico ças para os agricultores familiares periur- aeróbico e controlado de tratamento e es- banos. tabilização de resíduos orgânicos para pro- Já no que diz respeito aos aspectos negati- dução de húmus (Pereira Neto, 1996). vos, verifica-se o aumento dos custos com O processo de compostagem é desenvolvi- coleta seletiva (necessidade de caminhões do por uma população diversificada de mi- para coleta e de maquinário e implementos crorganismos e envolve, necessariamente, e insumos para processamento de resíduos duas fases distintas: sólidos). • Fase 1: degradação ativa (necessaria- De acordo com Jardim (1998), os impactos mente termofílica), em que a temperatu- ambientais da compostagem constituem-se ra deve ser controlada a valores termofí- na redução dos resíduos sólidos orgânicos licos, na faixa de 45 ºC a 65 ºC. de origem animal e vegetal que deixam de gerar gases e maus odores, líquidos percola- • Fase 2: maturação ou cura, na qual ocorre dos, atrair animais vetores como moscas, ra- a humificação da matéria orgânica pre- tos e baratas que passam a viver, alimentar- viamente estabilizada na primeira fase. se e proliferar-se nos restos orgânicos e nor- Nesse processo, a temperatura deve per- malmente são vetores de doenças, como: manecer na faixa mesofílica, ou seja, me- tifo, leptospirose, peste bubônica, diarreias nor que 45 ºC (Pereira Neto, 1996). infantis e outras igualmente perigosas. O inoculante microbiano para acelerar o Por meio da compostagem, os resíduos or- processo de decomposição da matéria or- gânicos são decompostos, tornando os nu- gânica pode ser a liteira da mata, soja fer- trientes disponíveis para as plantas. Ainda, mentada, microrganismos capturados da segundo esse autor, a agricultura está dan- natureza por meio de arroz cozido ou ino- do ênfase ao aproveitamento e à preserva- culantes comerciais como o EM (microrga- ção dos recursos naturais provenientes da nismos eficazes). sua atividade, em outras palavras, utilizando melhor os recursos próprios, principalmente A compostagem de baixo custo envolve os resíduos orgânicos provenientes das ati- processos simplificados e é feita em pátios vidades agropecuárias e agroindustriais. onde o material a ser compostado é dispos- FLORICULTURA TROPICAL 86 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis to em montes de forma cônica, denomina- essenciais ao crescimento e ao desenvolvi- dos pilhas de compostagem, ou em montes mento das plantas (N, P, K, Ca, Mg e S). Assim, de forma prismática, com seção reta aproxi- quando o composto orgânico é utilizado madamente triangular, denominados leiras em torno do sistema radicular das plantas, de compostagem. os nutrientes são absorvidos gradualmente, conforme as necessidades das plantas. Da Segundo Kiehl (1985), o termo inglês com- mesma forma, a matéria orgânica do com- post deu origem ao termo em português posto funciona também como uma solução “composto”, para indicar o fertilizante, e aos tampão, ou seja, impede que o solo sofra termos “compostar” e “compostagem”, para mudanças bruscas de acidez ou de alcalini- indicar a ação ou ato de preparar o adubo. dade. De acordo com o autor, para se obter com- postagem deve-se: Além disso, a presença de matéria orgânica no solo aumenta o número de minhocas, • Utilizar matérias-primas que contenham insetos e microrganismos desejáveis, o que um balanço na relação carbono/nitrogê- reduz a incidência de doenças de plantas. nio (C/N) favorável ao metabolismo dos organismos que efetuam sua biodigestão. De acordo com Francisco Neto (1995), o processo de fermentação bacteriana que • Facilitar a digestão dessa matéria-prima, ocorre na compostagem tem como resulta- dispondo-a em local adequado, de acor- do: sua introdução no solo, sem a indesejá- do com o tipo de fermentação desejada vel fixação de N. a destruição de sementes (se aeróbia ou anaeróbia), controlando a de ervas invasoras e patógenos e a degra- umidade, a aeração, a temperatura e de- dação de substâncias inibidoras do cresci- mais fatores, conforme cada caso requer. mento vegetal existente na palha. Para Kiehl (1985), a compostagem tem a Além de aumentar a capacidade de troca função de transformar material orgânico catiônica e a retenção de água no solo, o em substância humificada, estabilizada que promove aumentos da produção de com propriedades e características com- hortaliças e frutas, e favorece a redução dos pletamente diferentes do material que lhe custos de produção agrícola. deu origem. Ademais, de acordo com Silva Sanches (2000), Segundo Primavesi (1992), na agricultura a compostagem tem como função eliminar ecológica, a compostagem tem como ob- metade do problema dos resíduos sólidos ur- jetivo transformar matéria vegetal muito banos, dando um destino útil aos resíduos or- fibrosa, como palhada de cereais, capim, gânicos e evitando seu acúmulo em aterros. sabugo de milho, casca de café e arroz, em insumos para incorporação ou para cober- A relação C/N considerada ideal para iniciar tura de solo (mulche). o processo de compostagem está na faixa de 25/1 a 35/1. Se a relação não for esta, sig- A matéria orgânica compostada se liga às nifica que o tempo de compostagem será partículas (areia, limo e argila), formando maior, sendo que relações acima de 40/1 tor- pequenos grânulos que ajudam na reten- nam o processo lento. Quando a relação for ção e na drenagem da água e melhoram a muito baixa, devem-se introduzir materiais aeração, além de conter nutrientes minerais ricos em carbono, para corrigir essa relação. CAPÍTULO 4 Princípios de nutrição e adubação de 87 flores e plantas ornamentais tropicais

Os resíduos sólidos agroindustriais e capim- Capineira de capim-elefante -elefante (Pennisetum purpureum Schum.) devem ser triturados e misturados, numa Pode-se usar capineira de capim-elefante proporção de 1:1, de forma a melhorar a (Pennisetum purpureum Schum.). Para tan- qualidade do composto orgânico a ser uti- to, a área deve ser preparada no final do lizado na produção de hortaliças e de frutas. período seco (de novembro a dezembro), É que o capim-elefante do tipo C-4 tem alta por meio da limpeza da vegetação, subso- lagem e sulcamento seguido de aração e eficiência na fixação de CO2 (gás carbônico) atmosférico no processo de fotossíntese na de gradagem (grade aradora) do solo. produção de biomassa vegetal, e a deman- O plantio deve ser feito no início do perío- da por nitrogênio é baixa, sendo mais efi- do chuvoso (janeiro), sendo que o material ciente na utilização desse nutriente do que de propagação é o colmo. Para assegurar as plantas C-3 (Taiz; Zeiger, 1998). O capim- maior índice de pega, os colmos do capim -elefante está entre as gramíneas de maior devem ser retirados de plantas-matrizes capacidade de acumulação de matéria seca com rebrote de 90 a 120 dias. (30 t/ha e 42 t/ha de matéria seca), possuin- do também características qualitativas favo- A planta é desfolhada e os colmos são cor- ráveis para uso na produção de energia (4.0 tados em estacas de três a quatro nós. Cada kcal/kg) como altos teores de fibras (10%) e planta inteira pode produzir de sete a dez relação C/N de 40, considerada elevada (Flo- estacas. res, 2009). O plantio será feito com colmos inteiros, Para que a fração orgânica dos resíduos só- em sulcos, plantados longitudinalmente, lidos agroindustriais seja destinada à com- um após outro, distanciados 10 cm entre si, postagem, é importante observar algumas em sulcos no espaçamento de 1,20 m, e à características: profundidade de 10 cm. • Granulometria: o resíduo deve ter gra- A adubação constará de 50 kg/ha de N na nulometria adequada para o processo, forma de nitrato de cálcio, 100 kg/ha de K2O para garantir boa aeração das leiras. na forma de sulfato de potássio, e 100 kg/ha As dimensões de partícula devem atingir de P2O5 na forma de fosfato de Arad. 1,2 cm x 5 cm. O excesso de partículas finas pode acarretar produção de choru- O capim-elefante deve ser cortado ao ní- me e formação de torrões. vel do solo, ou até de 10 cm a 15 cm acima, com terçado, foice ou coletadeira triturado- • pH: normalmente ácido, deve ser corrigi- ra. Com um intervalo de corte de 42 dias, a do com carbonato de cálcio e magnésio produção anual de forragem será de 120 t (calcário), de forma a estar próximo da de forragem verde por hectare. neutralidade. • Relação C/N: os teores de C e N devem Microrganismos eficazes ter a relação da ordem de 30/1. Os microrganismos eficazes (EM) são um • Umidade: deve estar entre 40% e 60%, conjunto de microrganismos que vivem no para possibilitar boa aeração. solo naturalmente. Nele, coexistem mais FLORICULTURA TROPICAL 88 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis de 10 gêneros e 80 espécies de microrga- As substâncias úteis desenvolvidas por es- nismos chamados de eficazes, pois agem ses micróbios incluem aminoácidos, ácidos no solo, fazendo com que sua capacidade nucleicos, substâncias bioativas e açúcares, natural tenha plena ação. O EM comercial é que impulsionam o crescimento da planta. basicamente constituído por quatro grupos de microrganismos: leveduras, actinomice- O EM pode ser produzido da seguinte ma- tos, bactérias produtoras de ácido lático e neira: as fotossintetizantes. • Cozinham-se uns 3 a 4 copos de 300 mL As leveduras produzem substâncias antimi- de arroz sem óleo ou temperos, até que crobianas e outras substâncias necessárias fique bem mole (papa). ao crescimento da planta, a partir de ami- noácidos e açúcares secretados pela bac- • Em seguida, coloca-se o arroz cozido téria fotossintética, pela matéria orgânica numa mata sob liteira (galhos e folhas e pelas raízes das plantas. As substâncias caídas no chão) ou enterrado superficial- bioativas, como hormônios e enzimas, pro- mente a 5 cm de profundidade, deixan- duzidas pelas leveduras, provocam ativida- do-o por 1 ou 2 semanas. de celular e divisão de raízes. • Coleta-se o arroz e retiram-se os bolores/ Os actinomicetos controlam fungos e bac- fungos de coloração preta e cinza, dei- térias patogênicas e conferem às plantas xando somente os coloridos e os de cor maior resistência a estes, por meio do con- clara. tato com patógenos enfraquecidos. • Depois, basta misturar a 5 L de água (sem As bactérias produtoras de ácido lático cloro), mais um pouco de farelo de arroz produzem ácido de açúcares e de outros e 1 L de caldo de cana, e está pronto. carboidratos desenvolvidos pela bactéria fotossintética e pela levedura. A bactéria Pode-se, também, acrescentar um potinho do ácido lático é um forte composto este- de lactobacilos ao EM. Os microrganismos rilizante que elimina microrganismos noci- eficazes assim preparados podem ser con- vos, melhora a decomposição da matéria servados à sombra em local fresco e venti- orgânica e ainda promove a fermentação e lado. a decomposição de materiais como lignina e celulose. Ela também tem a capacidade de eliminar microrganismos que induzem a Adubação verde doenças, como o Fusarium, que se desen- A adubação verde consiste no plantio e na volve em colheitas contínuas. incorporação de massa verde de espécies As bactérias fotossintetizantes ou foto- leguminosas, o que deve ser feito quando trópicas são um grupo de micróbios inde- as espécies estão em plena floração. Para pendentes e autônomos. Essas bactérias sua incorporação ao solo, inicialmente, usa- sintetizam substâncias úteis da secreção de se uma grade de discos e depois o arado raízes, matéria orgânica e/ou gases nocivos para promover o enterrio. Antes do plantio (hidrogênio sulfurado), usando a luz do sol de leguminosas, deve-se corrigir a acidez e o calor do solo como fontes de energia. do solo com calcário dolomítico. CAPÍTULO 4 Princípios de nutrição e adubação de 89 flores e plantas ornamentais tropicais

Pode-se destacar como vantagens desse desses dados, pode-se determinar que tipo de adubação: quantidade deverá ser adicionada para se obter boas produtividades. • Adiciona matéria orgânica e melhora a estrutura do solo. Coleta e preparo das • Fixa do ar de 100 kg/ha a 125 kg/ha de N. amostras de solo • Adiciona N ao solo. Devem ser coletadas 20 subamostras em um balde plástico, com auxílio de uma pá • Tem ação benéfica sobre a vida das bac- reta ou de uma enxada, na profundidade térias nitrificantes no solo. da terra arável, ou seja, em torno de 20 cm, • Protege a superfície do solo. as quais devem ser bem misturadas. Dessa mistura, deve ser tomada uma amostra de • Permite melhor infiltração da água do 1 kg para enviar ao laboratório. Cada amos- solo. tra enviada ao laboratório deve representar uma área uniforme em termos de colora- A Tabela 2 mostra os valores médios de ção, textura, declive e presença de pedras. massa verde produzida por diversas legu- minosas. Acidez do solo Análise do solo O grau de acidez do solo é expresso em termos de pH, uma expressão matemática A análise do solo serve para identificar que representa a concentração de íons hi- quais nutrientes estão faltando, e, por meio drogênio (H+) contido na solução do solo.

Tabela 2. Produção de massa verde de diferentes leguminosas.

Produção de massa verde (t/ha) Adubo verde Brieger Cardoso Malavolta Souza Silva Crotalaria juncea 28,3 28,4 51,2 54,2 34,1 Dolichos lablab 23,8 9,9 - 39,6 - Mucuna-anã - - - 35,6 17,4 Guandu 29,1 15,2 35 33,4 22,8 Mucuna-preta 32,1 15,7 42,8 31,8 26,4 Feijão-de-porco - - 33,1 30,2 23,5 Crotalaria spectabilis - - - 16,3 - Crotalaria paulinia 41,8 - - 37,1 38,4 Crotalaria grantiana - - 22,2 - - Feijão-macáçar - 18,1 - - -

Fonte: Gomes (1970). FLORICULTURA TROPICAL 90 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

O pH é lido numa escala de 1 a 14, usada Os efeitos da calagem são: diminuição da para indicar a intensidade relativa de acidez acidez, aumento da porcentagem da satura- ou alcalinidade. Uma solução com pH igual ção de base, da concentração de Ca e Mg, e a 7 é neutra. Os valores abaixo de 7 indicam a insolubilização de Fe, manganês (Mn) e Al. acidez cada vez maior, e os valores acima de 7 indicam, progressivamente, maior al- Com o processo de aplicação de calcário, o calinidade. fosfato de alumínio reage com o carbonato do calcário, formando carbonato de alumí- nio insolúvel (AlCO ), gás carbônico (CO ) Correção da acidez do solo 3 2 e água (H2O); e o hidrogênio reage com o O termo potencial de hidrogênio (pH) defi- oxigênio do carbonato, formando água ne a acidez ou alcalinidade relativa de uma (H2O) e gás carbônico (CO2). Essas reações solução. A escala de pH cobre uma ampli- liberam para planta, na solução do solo, tude de 0 a 14. Um valor de pH igual a 7,0 nutrientes como íons ortofosfato, Ca e Mg, é neutro. Valores abaixo de 7,0 são ácidos e indispensáveis para o bom crescimento e acima de 7,0 são básicos ou alcalinos. desenvolvimento das plantas. Isso pode ser representado pela seguinte equação: Um ácido é uma substância que libera íons hidrogênio (H+). Quando saturado com H+, AlPO4 + CaMg (CO3) + H2 O → um solo comporta-se como um ácido fraco. HCO 3- + OH- HCO 3- + AlPO + H + + OH- → + 3 3 4 Quanto mais H for retido no complexo de AlCO + HPO 2- + Ca2+ +Mg2+ + H O + CO troca, maior será a acidez do solo. 3 4 2 2 O alumínio do solo age como elemento Recomendação de calagem acidificante, haja vista que na reação com a água forma hidróxido de alumínio, libe- A calagem adequada é uma das práticas rando íons H+ que acidificam o solo. Os íons que mais benefícios traz ao agricultor, pro- básicos, tais como o Ca2+ e o Mg2+, tornam o movendo uma combinação favorável de solo menos ácido. A faixa ótima de pH para vários efeitos, dentre os quais menciona- o desenvolvimento da maioria das flores, mos os seguintes: hortaliças e plantas ornamentais encontra- se entre 5,7 e 6,9. • Eleva o pH do solo. Nos solos hortícolas da Amazônia, onde o • Fornece Ca e Mg como nutrientes. regime pluviométrico é elevado, a maioria • Aumenta a disponibilidade e a eficiência dos solos tornam-se ácidos, em virtude da de fertilizantes, como N, P, K, Ca, Mg, S e perda de bases arrastadas por águas de in- Mo para a planta. filtração (lixiviação) e da erosão, bem como pela aplicação de adubos nitrogenados e • Diminui ou elimina os efeitos tóxicos do potássicos, causando um desequilíbrio dos Al, Mn e Fe. nutrientes, e também pela sua remoção por meio das colheitas, perdendo progressiva- • Aumenta a produtividade das culturas mente nutrientes, como Ca, Mg, K, e toman- como resultado de um ou mais dos efei- do seu lugar íons de H e Al. tos anteriormente citados. CAPÍTULO 4 Princípios de nutrição e adubação de 91 flores e plantas ornamentais tropicais

Para determinar a necessidade de calagem, Saturação por bases atual do solo é necessário realizar a análise do solo a ser Este parâmetro reflete o percentual das car- cultivado. O Laboratório da Embrapa Ama- gas negativas passíveis de troca a pH 7,0 que pá realiza essas análises que permitem a estão ocupados por Ca2+, Mg2+, K+, em com- determinação pelo método da elevação da paração com aqueles ocupados por H+ + saturação por bases. Para tanto, alguns atri- AI3+. É um parâmetro utilizado para diferen- butos são utilizados, os quais serão descritos ciar solos considerados férteis (V% > 50%) a seguir. de solos de baixa fertilidade (V% < 50%).

Soma de bases Refere-se à soma de Ca, Mg, K e, se for o caso, também o sódio (Na), todos na forma A dosagem de calcário a ser aplicada é de- trocável no complexo de troca de cátions terminada pela seguinte equação: do solo. Enquanto os valores absolutos re- sultantes das análises desses componentes refletem os níveis individuais desses parâ- metros, a soma de bases dá uma indicação Em que: dos números de cargas negativas dos coloi- = necessidade de calcário (t/ha) para des que estão ocupados por bases. NC profundidade de 20 cm. A soma de bases (SB) é expressa em centi- CTC = CTC a pH 7,0 = S + H+ + AI³+ (cmol / mol de carga por decímetro cúbico de terra c dm³) (fornecido na análise). (cmolc/dm³). SB = Ca²+ + Mg²+ + K+ (cmol /dm³) (forneci- SB = Ca2 + Mg2+ + K+ + Na+ c do na análise).

Capacidade de troca de V2 = saturação por bases desejada para a cátions a pH 7,0 cultura a ser implantada (%) (Tabela 3).

A capacidade de troca de cátions (CTC), V1 = saturação por bases atual do solo (%) também conhecida como capacidade de (fornecido na análise). troca de cátions potencial do solo, é de- PRNT = poder relativo de neutralização to- nominada como a quantidade de cátions tal (%) (parâmetro relativo à granulometria absorvida a pH 7,0. Sob o ponto de vista e à quantidade de neutralizantes do calcá- prático, é o nível da CTC de um solo que se- rio). ria atingido, caso a calagem fosse feita para elevar o pH a 7,0. Distribuição do calcário A CTC também é expressa em centimol de carga por decímetro cúbico de terra Para que haja uma boa distribuição do (cmol /dm³). calcário no perfil do solo, deve-se aplicar c a metade da quantidade de calcário reco- CTC = SB + H+ + Al3+ mendado a lanço e incorporada com o ara- FLORICULTURA TROPICAL 92 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Tabela 3. Valores de saturação por bases desejada para as diferentes culturas.

Saturação por bases desejadas (V ) Exigente em Cultura 2 (%) calcário Abacaxi 50 Abóbora 70 Dolomítico Abacate 60 Alface 70 Dolomítico Almeirão e acelga 70 Dolomítico Batata e batata-doce 60 Dolomítico Berinjela 70 Ca/Mg = 1 Brócolis 70 Dolomítico Cebola 70 Cenoura 65 Dolomítico Chicória 70 Chuchu 80 Dolomítico Citrus 70 Dolomítico Couve 70 Dolomítico Escarola 70 Feijão de vagem 70 Dolomítico Goiaba 70 Jiló T0 Ca/Mg = 1 Macaxeira 40 Máximo 2t/ha Melancia 70 Dolomítico Melão 80 Dolomítico Milho-verde 60 Pepino 70 Dolomítico Pimenta 70 Ca/Mg = 1 Pimentão 70 Ca/Mg = 1 Quiabo 70 Dolomítico Repolho 70 Dolomítico Tomate 70 Ca/Mg = 1 Herbáceas ornamentais 60 Dolomítico Coqueiro 40-50 Dolomítico Alpínias 50 Dolomítico

Continua... CAPÍTULO 4 Princípios de nutrição e adubação de 93 flores e plantas ornamentais tropicais

Tabela 3. Continuação.

Saturação por bases desejadas (V ) Exigente em Cultura 2 (%) calcário Bastão-do-imperador 50 Dolomítico Helicônias porte alto 50 Dolomítico Sorvetão (xampu) 50 Dolomítico Citrus 70 Dolomítico Maracujazeiro 70 Dolomítico Musáceas 70 Dolomítico Azálea 50 Dolomítico Cravo 70 Dolomítico Gladíolos 70 Dolomítico Roseira 70 Dolomítico Crisântemo 70 Dolomítico Gramado 60 Dolomítico Arbustivas ornamentais 60 Dolomítico Arbóreas ornamentais 50 Dolomítico

Fonte: Lopes e Guilherme (1990). do, e a outra metade distribuída a lanço e desempenho satisfatório usando arado de incorporada com a grade. A aplicação deve disco (4 discos de 0,66 m) e grade nivela- ser realizada com 90 dias de antecedência dora, atingindo até 0,20 m de profundida- ao plantio. de na incorporação. Entretanto, também mostraram que foi inadequada a incorpora-

O calcário calcítico (CaCO3) é mole e reage ção de calcário com grade aradora pesada facilmente com os ácidos fracos do solo. Já (14 discos de 0,86 m) e grade niveladora o calcário dolomítico é ligeiramente mais (60 discos de 0,56 m). duro e não reage tão rapidamente em pre- sença de ácidos. Adubação Prado et al. (2004) mostraram que a melhor incorporação de calcário em profundida- A fertilidade do solo é um requisito básico de foi realizada com a utilização de grade para alta produção e bom lucro. Essa fer- tilidade deve ser reforçada para manter a aradora superpesada (14 discos de 0,86 m), disponibilidade de nutrientes nas plantas e seguida de grade niveladora, proporcio- produzir colheitas abundantes. nando a maior uniformidade e profundi- dade de incorporação, com neutralização Para adubar flores e plantas ornamentais é da acidez do solo até 0,30 m de profundi- necessário recorrer aos fertilizantes quími- dade. Esses mesmos autores encontraram cos e orgânicos, devendo as recomenda- FLORICULTURA TROPICAL 94 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

ções estarem baseadas na análise química em duas vezes, aos 30 e aos 44 dias após a do solo. semeadura1.

As recomendações de adubação foram Como fonte de cálcio e de magnésio so- adaptadas e modificadas, tomando como lúvel, devem ser aplicadas duas cobertu- base a quinta aproximação do uso de cor- ras de 20 g de cal hidratada, aos 37 e aos retivos e fertilizantes da comissão de ferti- 51 dias após a semeadura. lidade do solo (Ribeiro et al., 1999), as reco- mendações de adubação e calagem para o Por sua vez, as pulverizações devem ser estado do Pará (Cravo et al., 2007) e as con- feitas semanalmente, com cal hidratada dições climáticas da região amazônica. na dosagem de 80 g por 20 L de água. Para A Tabela 4 contém os fatores de conversão isso, mistura-se a cal com 3 L de água, num de N, P e K em fertilizantes químicos. balde plástico, esperando-se 1 minuto até a borra assentar no fundo do balde. Em As Tabelas 5 a 19, nas seções a seguir, con- seguida, derrama-se a solução dentro do têm recomendações de nitrogênio (N), pulverizador, tendo-se o cuidado para que fósforo (P2O5) e de potássio (K2O), para di- a borra não entre no pulverizador, vindo a ferentes culturas com potencial florístico e entupir o bico. ornamental. Esses valores devem ser trans- formados em fontes de adubo comercial. Para tanto, as recomendações de adubação Adubação de alpínias devem ser multiplicadas pelos fatores de A Tabela 6 contém a recomendação de adu- conversão apresentados na Tabela 4. Cada produto tem seu fator de correção corres- bação química para alpínias (Figura 18) ba- pondente. seada na análise físico-química do solo. Na adubação de base, devem ser colocadas Adubação de abóboras duas pás de esterco por cova, todo o P (re- ornamentais comendado, 40% de N e 40% de K. A Tabela 5 alerta para recomendação sobre Na cobertura, deve-se aplicar o restante do adubação química para abóbora (Figura 17) N e do K, parcelados em cinco vezes, sendo e melancia, baseada na análise físico-quí- aos 30, 90, 150, 210 e 240 dias após plantio. mica do solo. Como fonte de Ca e de Mg, devem ser apli- Como recomendação de adubação orgâ- cadas três coberturas de 20 g de cal hidra- nica, devem-se adicionar duas pás/cova de tada, aos 60, 120,180 após plantio. esterco de curral ou uma pá/cova de cama de aviário. É importante ter-se em mente Devem-se fazer pulverizações mensais com que o esterco precisa ser curtido. cal hidratada, na dosagem de 80 g/20 L de água. Na adubação de base, deve ser colocado todo o P recomendado; 30% do N e 40% 1 Não se devem aplicar adubações de cobertura com do K. Na adubação de cobertura, deve-se N e K junto com as aplicações de Ca, pois esses dois aplicar o restante do N e do K, parcelados primeiros elementos inibem a sua absorção. CAPÍTULO 4 Princípios de nutrição e adubação de 95 flores e plantas ornamentais tropicais

Tabela 4. Conversão de elementos em fertilizantes comerciais.

Elemento Fator Para obter o equivalente em: Nitrogênio 5,00 Sulfato de amônio (20%) 4,17 Cloreto de amônio (24%) 3,03 Nitrato de amônio (33%) 5,00 Nitrocálcio comum (20%) 3,70 Nitrocálcio concentrado (27%) 6,25 Salitre do chile (16%) 7,14 Salitre do chile duplo potássico (14%) 2,22 Ureia (45%) 9,09 Monoamônio fosfato (11%) 5,55 Diamônio fosfato (18%) 1,22 Amoníaco anidro (82%) 4,54 Amonia líquida (22%) 20,00 Esterco bovino (5%) Potássio 1,67 Cloreto de potássio (60%) 2,00 Sulfato de potássio (50%) 3,85 Sulfato de potássio e de magnésio (26%) 7,14 Salitre duplo potássico (14%) 20,00 Esterco bovino (5%) 10,00 Cinzas (10%) Fósforo 5,55 Superfosfato simples (18%) 3,33 Superfosfato - 30 (30%) 2,22 Superfosfato duplo, triplo (43%) 16,67 Fosfato de Araxá (6%) 9,09 Hiperfosfato (11%) 14,28 Fosforita de Olinda (7%) 4,00 Farinha de ossos (25%) 5,55 Termofosfatos (18%) 6,67 Escória de Thomas (15%) 2,17 Diamônio fosfato (46%) 3,33 Fosfato natural de Gafsa (30%) 3,30 Fosfato natural de Arad (33%) 40,00 Esterco bovino (2,5%) 40,00 Cinzas (2,5%) FLORICULTURA TROPICAL 96 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Tabela 5. Recomendação de adubação para abóbora e melancia.

Textura do solo

Disponibilidade Argilosa Média Arenosa K2O N de P ou K (kg/ha) (kg/ha) P2O5 (kg/ha) Baixa 80 60 50 70 20 Média 60 50 40 50 20 Alta 40 30 30 30 20

Fonte: Adaptado de Cravo et al. (2005) e Ribeiro et al. (1999) Foto: Jorge Segovia Foto: Jorge Segovia

Figura 17. Abóboras ornamentais e comestíveis. Figura 18. Alpinia purpurata – variedade cor-de-rosa.

Tabela 6. Recomendação de adubação para alpínias.

Disponibilidade de P Disponibilidade de K N Época Baixo Médio Alto Baixo Médio Alto (g/touceira)

P2O5 (g/touceira) K2O (g/touceira) 1º ano 45 20 7 250 110 40 180 2º ano 45 20 7 350 150 50 250 3º ano 45 20 7 400 190 60 300

Fonte: Adaptado de Cravo et al. (2005) e Ribeiro et al. (1999) CAPÍTULO 4 Princípios de nutrição e adubação de 97 flores e plantas ornamentais tropicais

Adubação do bastão- -do-imperador A Tabela 7 contém recomendação de aduba-

ção para bastão-do-imperador (Figura 19), Foto: Jorge Segovia baseada na análise físico-química do solo.

Na adubação de base, devem ser colocadas duas pás de esterco por cova; todo o P reco- mendado; 40% de N e 40% de K. Na aduba- ção de cobertura, deve-se aplicar o restante do N e do K, parcelados em cinco vezes, aos 30, 90, 150, 210 e 240 dias após plantio.

Como fonte de Ca e de Mg, devem ser apli- cadas três coberturas de 20 g de cal hidra- tada, aos 60, 120,180 após plantio. Figura 19. Bastão-do-imperador vermelho (Etlingera elatior). Deve-se, também, fazer pulverizações mensais com cal hidratada na proporção de • 100 g de N x 3,7 (nitrato de cálcio con- 80 g por 20 L de água. centrado) = 370 g. • 370 g de nitrato de cálcio por touceira. Exercício de adubação • 40% = 40 x 370 g/100 = 148 g de nitrato • Adubar 1 ha de bastão-do-imperador. de cálcio (aplicar na cova).

• 1 ha = 10.000 m2. • 60% = 60 x 370 g/100 = 222 g/5 parcelas = 44,4 g = 45 g por parcela. • Espaçamento: 2,5 m x 1,25 m = 3,125 m2. • P (fósforo) = 45 g de P2O5 por touceira. • 10.000 m2/3,125 m2 = 3.200 plantas/ha. • 45 g x 3,3 g (fosfato de Arad) = 148,5 g = • N (nitrogênio) = 100 g de N por touceira. 150 g (aplicar na cova).

Tabela 7. Recomendação de adubação referente a bastão-do-imperador.

Disponibilidade de P Disponibilidade de K N Época Baixo Médio Alto Baixo Médio Alto (g/touceira)

P2O5 (g/touceira) K2O (g/touceira) 1º ano 45 20 10 300 150 80 100 2º ano 45 20 10 400 200 100 250 3º ano 45 20 10 450 250 120 300

Fonte: Adaptado de Cravo et al. (2005) e Ribeiro et al. (1999) FLORICULTURA TROPICAL 98 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

• K (potássio) = 300 g de K2O por touceira. • 90 dias: 45 g de nitrato de cálcio + 72 g de sulfato de potássio. • 300 g de K2O x 2,0 (sulfato de potássio) = 600 g de sulfato de potássio. • 120 dias: 20 g de cal hidratada. • 40% = 40 x 600/100 = 240 g de sulfato de • 150 dias: 45 g de nitrato de cálcio + 72 g potássio (aplicar na cova). de sulfato de potássio. • 60% = 60 x 600/100 = 360 g/5 parcelas = • 180 dias: 20 g de cal hidratada. 72 g de sulfato de potássio por parcela. • 210 dias: 45 g de nitrato de cálcio + 72 g Aplicar na cova: de sulfato de potássio. • 1 a 2 pás de esterco curtido ou de com- • 240 dias: 45 g de nitrato de cálcio + 72 g posto orgânico. de sulfato de potássio. • 150 g de fosfato de Arad. Adubação de bananeiras • 148 g de nitrato de cálcio (40%). ornamentais • 240 g de sulfato de potássio (40%). A Tabela 8 contém a recomendação de adu- Aplicar em cobertura: bação química para bananeiras ornamen- tais (Figura 20), baseada na análise físico- • 30 dias: 45 g de nitrato de cálcio + 72 g química do solo. de sulfato de potássio. Na adubação de base, devem-se colocar • 60 dias: 20 g de cal hidratada. duas pás de esterco por cova. A adubação

Tabela 8. Recomendação de adubação para bananeiras ornamentais.

Época Teor de nutriente 2º ano em Plantio 2º mês 6º mês 9º mês 11º mês diante Nitrogênio (kg/ha) - 25 25 25 25 100 Fósforo (kg/ha) Baixo 40 - - - - 40 Médio 30 - - - - 30 Alto 20 - - - - 20 Potássio (kg/ha) Baixo - - 150 150 150 450 Médio - - 100 100 100 100 Alto - - 50 50 50 150

Fonte: Adaptado de Cravo et al. (2005) e Ribeiro et al. (1999) CAPÍTULO 4 Princípios de nutrição e adubação de 99 flores e plantas ornamentais tropicais

de Ca e de Mg constará de três coberturas de 20 g de cal hidratada, aos 90, 210 e 300 dias após plantio.

Foto: Jorge Segovia Adubação para brássicas ornamentais A Tabela 9 contém recomendação de adu- bação química para brássicas ornamen- tais (Figura 21), baseada na análise físico- -química do solo.

Tabela 9. Recomendação de adubação para brócolis, couve e repolho.

Disponibilidade de K trocável Disponibilidade Baixo Médio Alto de P

N - P2O5 - K2 O (g/planta) Baixo 2-30-15 2-30-12 2-30-9 Médio 2-20-15 2-20-12 2-20-9 Alto 2-10-15 2-10-12 2-10-9

Figura 20. Bananeiras ornamentais: Musa acuminata Fonte: Adaptado de Cravo et al. (2005) e Ribeiro et al. (1999) ssp. zebrina (Monyet).

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 21. Brássicas ornamentais: brócolis roxo (Brassica oleraceae L. var. italica) (A); repolho ornamental (Brasica oleraceae L. var. capitata) (B). FLORICULTURA TROPICAL 100 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Aplicar o N, o P e o K uma semana antes sódio, 5 g de ureia, 20 g de bórax e 10 mL do plantio. Na adubação básica, devem-se de espalhante adesivo, dissolvidos em 10 L acrescentar 3 g de bórax por planta. de água.

Em cobertura, devem-se aplicar 12 g de N Adubação de bromélias por planta, aos 15, 30 e 45 dias após trans- plante. A Tabela 10 contém recomendação de adubação química para Ananas comosus L. Quinzenalmente, devem-se fazer pulveri- (Figura 22), baseada na análise físico-quími- zações foliares, com 5 g de molibdato de ca do solo.

Tabela 10. Recomendação de adubação para Ananas comosus e A. lucidus.

Época Disponibilidade de P ou K 2º mês após 6º mês após 9º mês após transplante transplante transplante Nitrogênio (kg/ha) 75 85 90 Fósforo (kg/ha) Baixo 50 - - Médio 40 - - Alto 30 - - Potássio (kg/ha) Baixo 50 60 70 Médio 40 50 60 Alto 30 40 50

Fonte: Adaptado de Cravo et al. (2005) e Ribeiro et al. (1999)

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 22. Bromélias: Ananas lucidus (A); Guzmania lingulata (B). CAPÍTULO 4 Princípios de nutrição e adubação de 101 flores e plantas ornamentais tropicais

A adubação com Ca e Mg constará de duas Pulverizações mensais com cal hidratada coberturas de 20 g de cal hidratada, aos 90 na proporção de 80 g por 20 L de água. e aos 180 dias após o plantio. O substrato para o transplante de bro- Exercício de adubação mélias epífitas em vaso deve constar de • Adubar 1 ha de sorvetão – xampu (Zingi- 250 cm3 de mistura formada de casca de beraceae). arroz carbonizada (100 cm3) e fibra de coco (150 cm3). Devem-se adicionar 2 g de • 1 ha = 10.000 m2. farinha de osso. A quarta parte do vaso, lo- • Espaçamento: 2,0 m x 1 m = 2 m2. calizada no fundo, deve ser preenchida com brita, de forma a se obter uma boa drenagem. • 10.000 m2/ 2 m2 = 5.000 plantas/ha. • Nitrogênio = 150 g N por touceira. Adubação de gengibre ornamental • 150 g N x 2,22 (ureia 45%N) = 330 g. Na Tabela 11, encontra-se a recomendação • 40% = 40 x 330 g/100 = 132 g de ureia de adubação química para as espécies da (aplicar na cova). família Zingiberaceae, conhecida popular- • 60% = 60 g x 330 g/100 = 200 g/5 parce- mente como xampu, sorvetão ou maracá, las = 40 g de ureia por touceira. baseada na análise físico-química do solo. • Fósforo = 45 g de P O por touceira. Na adubação de base, devem se colocar 2 5 duas pás de esterco por cova, todo o P re- • 45 g x 2,22 (superfosfato triplo – 45% comendado; 40% de N e 40% de K. Na adu- P2O5 = 99,9 g) = 100 g de superfosfato bação de cobertura, aplica-se o restante do triplo por cova. N e do K parcelado em cinco vezes aos 30, Aplicar tudo na cova: 90, 150, 210 e 240 dias após plantio. • Potássio = 300 g K O/ha. Como fonte de Ca e de Mg, devem ser apli- 2 cadas três coberturas de 20 g de cal hidra- • 300 g de K2O x 1,67 (cloreto de potássio – tada aos 60, 120 e 180 dias após plantio. 60% K2O) = 500 g.

Tabela 11. Recomendações de adubação para gengibre ornamental (xampu).

Disponibilidade de P Disponibilidade de K N Época Baixo Médio Alto Baixo Médio Alto (g/touceira)

P2O5 (g/touceira) K2O (g/touceira) 1º ano 45 20 7 300 120 40 150 2º ano 45 20 7 400 170 60 250 3º ano 45 20 7 450 190 70 300

Fonte: Adaptado de Cravo et al. (2005) e Ribeiro et al. (1999) FLORICULTURA TROPICAL 102 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

• 40%= 40 g x 500 g/100 = 200 g de cloreto de potássio (aplicar na cova). • 60% = 60 g x 500 g/100 = 300 g/5 parcelas = 60 g cloreto de potássio por touceira. Foto: Jorge Segovia Aplicar na cova: • De 1 a 2 pás de esterco curtido ou de composto orgânico. • 100 g de superfosfato triplo. • 132 g de ureia (40%). • 200 g de cloreto de potássio (40%). Aplicar em cobertura: • 30 dias: 40 g de ureia + 60 g de cloreto de potássio.

• 60 dias: 20 g de cal hidratada. Figura 23. Gladíolos brancos (Gladiolus sp.). • 90 dias: 40 g de ureia + 60 g de cloreto de potássio. cobertura, deve-se aplicar o restante do N e • 120 dias: 20 g de cal hidratada. do K, parcelado em cinco vezes, aos 30, 90, 150, 210 e 240 dias após plantio. • 150 dias: 40 g de ureia + 60 g de cloreto de potássio. Como fonte de Ca e de Mg, devem ser apli- cadas três coberturas de 20 g de cal hidra- • 180 dias: 20 g de cal hidratada. tada, aos 60, 120,180 dias após plantio. Pul- verizações mensais com cal hidratada na • 210 dias: 40 g de ureia + 60 g de cloreto proporção de 80 g por 20 L de água. de potássio. • 240 dias: 40 g de ureia + 60 g de cloreto de potássio Tabela 12. Recomendação de adubação quími- ca para gladíolos.

Adubação de gladíolos Dose total Disponibilidade (kg/ha) A Tabela 12 contém recomendação sobre de P e K P2O5 K2O N adubação química para gladíolos (Figura 23), Baixo 150 220 50 baseada na análise físico-química do solo. Médio 100 150 50 Na adubação de base, devem-se colocar Alto 50 80 50 duas pás de esterco por cova, todo o P re- Fonte: Adaptado de Cravo et al. (2005) e Ribeiro et al. (1999) comendado, 40% de N e 40% de K. Na de CAPÍTULO 4 Princípios de nutrição e adubação de 103 flores e plantas ornamentais tropicais

Adubação para gramados aos 60, 120,180, após plantio, bem como pulverizações mensais com cal hidratada A Tabela 13 contém recomendação de adu- na proporção de 80 g por 20 L de água. bação química para gramados (Figura 24), baseada na análise físico-química do solo. Tabela 13. Recomendação de adubação quími- Na adubação de base, devem-se colocar duas ca para gramados. pás de esterco por metro quadrado, todo o P Dose total recomendado; 40% do N e 40% do P. Disponibilidade (kg/ha) de P e K Na adubação de cobertura, deve-se aplicar P2O5 K2O N o restante do N e do K, parcelado em três Baixo 150 220 50 vezes, aos 90, 150 e 240 dias após plantio. Médio 100 150 50 Alto 50 80 50

Adubação de helicônias Fonte: Adaptado de Cravo et al. (2005) e Ribeiro et al. (1999) As Tabelas 14 e 15 contêm recomendação sobre adubação química para helicônias (Figura 25) de porte baixo e alto, respectiva- mente, com base na análise físico-química do solo.

Na adubação de base, devem ser colocadas Foto: Jorge Segovia duas pás de esterco por cova, todo o P reco- mendado, 40% de N e 40% de K. Na adubação de cobertura, deve ser apli- cado o restante do N e do K, parcelado em cinco vezes, aos 30, 90, 150, 210 e 240 dias após plantio. Como fonte de Ca e de Mg, devem-se apli- car três coberturas de 20 g de cal hidratada, Figura 24. Grama esmeralda (Zoysia japônica).

Tabela 14. Recomendação de adubação para helicônias de porte baixo.

Disponibilidade de P Disponibilidade de K N Época Baixo Médio Alto Baixo Médio Alto (g/touceira)

P2O5 (g/touceira) K2O (g/touceira) 1º ano 40 20 10 200 100 50 150 2º ano 40 20 10 300 150 60 250 3º ano 40 20 10 300 150 60 300

Fonte: Adaptado de Cravo et al. (2005) e Ribeiro et al. (1999) FLORICULTURA TROPICAL 104 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Tabela 15. Recomendação de adubação para helicônias de porte alto.

Disponibilidade de P Disponibilidade de K N Época Baixo Médio Alto Baixo Médio Alto (g/touceira)

P2O5 (g/touceira) K2O (g/touceira) 1º ano 45 20 10 300 150 30 150 2º ano 45 20 10 450 220 100 250 3º ano 45 20 10 450 220 100 300

Fonte: Adaptado de Cravo et al. (2005) e Ribeiro et al. (1999) Foto: Jorge Segovia

Figura 25. Heliconia orthotricha.

Exercício de adubação de • Nitrogênio = 150 g de N por touceira. helicônia de porte baixo • 150 g N x 5 (sulfato de amônio 20% N) = 750 g de sulfato de amônio. • Adubar 0,1 ha de Heliconia psittacorum. • 40% = 40 g x 700 g/100g = 280 g de sul- • 0,1 ha = 1.000 m2 (50 m x 20 m). fato de amônio (na cova).

• Espaçamento: 2,0 m x 1,0 m = 2 m2. • 60% = 60 x 700 g/100 = 420 g de sulfato de amônio/5 parcelas = 84 g de sulfato • 1.000 m2/2 m2 = 500 plantas por 0,1 ha. de amônio por parcela. CAPÍTULO 4 Princípios de nutrição e adubação de 105 flores e plantas ornamentais tropicais

• Fósforo = 40 g de P2O5 por touceira. Adubação de maracujá • 40 g x 5 g de superfosfato simples – A Tabela 16 contém recomendação sobre

18% P2O5) = 200 g (aplicar na cova). adubação química para maracujá (Figu- ra 26), baseada na análise físico-química do • Potássio = 200 g de K O/touceira. 2 solo. • 200 g de K O x 1,67 (cloreto de potássio – 2 Na adubação de base, deve-se colocar uma 60% K O) = 330 g de KCl. 2 pá de esterco por cova e todo o P recomen- • 40% = 40 x 330 g/100 = 132 g cloreto de dado. Na adubação de cobertura, devem-se potássio (na cova). aplicar o N e o K parcelados em três vezes, aos 90, 150 e 210 dias após semeadura. • 60% = 60 g x 330 g/100 = 200 g de clore- to de potássio/5 parcelas = 40 g de clore- Como fonte de Ca e de Mg, devem-se apli- to de potássio por touceira. car três coberturas de 20 g de cal hidratada, aos 60, 120,180 dias após plantio. Aplicar na cova:

• 1 a 2 pás de esterco curtido ou de com- Tabela 16. Recomendação de adubação para posto orgânico. maracujá.

• 200 g de superfosfato simples. Dose total Disponibilidade (kg/ha) • 280 g de ureia (40%). de P e K P2O5 K2O N • 132 g de cloreto de potássio (40%). Baixo 60 90 70 Aplicar em cobertura: Médio 40 60 70 Alto 20 30 70 • 30 dias: 84 g de sulfato de amônio + Fonte: Adaptado de Cravo et al. (2005) e Ribeiro et al. (1999) 40 g de cloreto de potássio. • 60 dias: 20 g de cal hidratada. • 90 dias: 84 g de sulfato de amônio + 40 g de cloreto de potássio. • 120 dias: 20 g de cal hidratada. Foto: Jorge Segovia • 150 dias: 84 g de sulfato de amônio + 40 g de cloreto de potássio. • 180 dias: 20 g de cal hidratada. • 210 dias: 84 g de sulfato de amônio + 40 g de cloreto de potássio. • 240 dias: 84 g de sulfato de amônio + 40 g de cloreto de potássio. Figura 26. Flor de maracujá (Passiflora edulis). FLORICULTURA TROPICAL 106 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Adubação de pimenta e pimentão ornamentais A Tabela 17 contém recomendação sobre adubação química para pimenta e pimen- Foto: Jorge Segovia tão ornamentais (Figura 27). Como recomendação de adubação orgâni- ca, devem-se adicionar 25 t de esterco de curral ou 8 t de cama de aviário. Além disso, deve-se lembrar de que o esterco deve es- tar devidamente curtido.

Na adubação de base, deve-se colocar todo Figura 27. Pimenta ornamental (Capsicum sp.) em o P recomendado, 30% do N e 40% do K. frutificação. Na adubação de cobertura, deve-se aplicar o restante do N e do K, parcelados em duas assentar a borra no fundo desse recipien- vezes, aos 30 e 44 dias após semeadura. te por 1 minuto. Em seguida, despeja-se a solução dentro do pulverizador, tendo-se o Como fonte de Ca, devem ser aplicadas cuidado para que a borra não penetre nes- duas coberturas de 20 g de cal hidratada, te, para se evitar entupimento do bico. aos 37 e aos 51 dias após semeadura2.

Devem-se aplicar pulverizações semanais Adubação de roseiras com cal hidratada na dosagem de 80 g/20 L de água. Para tanto, num balde plástico, A Tabela 18 contém recomendação de adu- deve-se misturar cal a 3 L de água e deixar bação química para roseiras (Figura 28).

Tabela 17. Recomendação de adubação para pimenta e pimentão ornamentais.

Textura do solo

Disponibilidade Argilosa Média Arenosa K2O N de P e de K (kg/ha) (kg/ha) P2O5 (kg/ha) Baixa 300 250 200 240 150 Média 240 200 150 180 150 Boa 100 100 100 80 150

Fonte: Adaptado de Cravo et al. (2005) e Ribeiro et al. (1999)

2 Não se devem aplicar adubações de cobertura com N e K junto com aplicações de cal, pois esses dois primeiros elementos inibem a absorção de Ca. CAPÍTULO 4 Princípios de nutrição e adubação de 107 flores e plantas ornamentais tropicais

Tabela 18. Recomendação de adubação quími- Adubação de tomate ca para roseiras. ornamental

Dose total A Tabela 19 contém recomendação de Disponibilidade (kg/ha) adubação química para tomate de vaso de P e K (Figura 29), baseada na análise físico-quími- P2O5 K2O N ca do solo. Baixo 300 240 80 Médio 200 160 80 Como recomendação de adubação orgâni- Alto 100 80 80 ca, devem-se adicionar 25 t de esterco de curral ou 8 t de cama de aviário por hectare, Fonte: Adaptado de Cravo et al. (2005) e Ribeiro et al. (1999) lembrando que o esterco precisa estar devi- damente curtido. Na adubação de base, deve-se colocar todo o P recomendado; 30% do N e 40% do K. Na adubação de cobertura, aplica-se o restan- te do N e do K, parcelados em duas vezes, Foto: Jorge Segovia aos 30 e 44 dias após semeadura. Como fonte de Ca, devem ser aplicadas duas coberturas de 20 g de cal hidratada, aos 37 e 51 dias após semeadura3. As aplicações de pulverização devem ser feitas com cal hidratada, na dosagem de 80 g por 20 L de água. Para tanto, a cal deve ser misturada a 3 L de água, num bal- de plástico, deixando-se assentar a borra no fundo desse recipiente por 1 minuto. Em seguida, despeja-se a solução dentro do pulverizador, tendo-se o cuidado para que a borra não penetre neste, evitando-se Figura 28. Roseira (Rosa grandiflora Hort.). o entupimento do bico. Na adubação de base, deve-se colocar uma pá de esterco por cova, todo o P recomen- Preparo de fórmulas dado, 40% de N e 40% de K. químicas à base de NPK Na de cobertura, deve-se aplicar o restante Para preparar misturas de NPK, em diversas do N e do K, parcelados em cinco vezes, aos concentrações, deve-se adotar a seguinte 30, 90, 150, 210 e 240 dias após plantio. fórmula: Como fonte de Ca, devem ser aplicadas três 3 Não se devem aplicar adubações de cobertura com coberturas de 20 g de cal hidratada aos 60, N e K junto com as aplicações de cal, pois esses dois 120,180 após plantio. primeiros elementos inibem a absorção de Ca. FLORICULTURA TROPICAL 108 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Tabela 19. Recomendação de adubação para tomate de vaso.

Textura do solo

Disponibilidade Argilosa Média Arenosa K2O N de P e de K (kg/ha) (kg/ha) P2O5 (kg/ha) Baixa 600 500 400 200 120 Média 500 400 300 150 100 Boa 400 300 200 100 80

Fonte: Adaptado de Cravo et al. (2005) e Ribeiro et al. (1999)

QFM = A x B/C Exemplo 2 Em que: Preparar 100 kg de NPK 10-10-10, usando como fonte de N, sulfato de amônio (21% N), QFM = quantidade de fertilizante a ser usa- como fonte de P, superfosfato triplo (45% do na mistura (kg). P2O5) e de K, cloreto de potássio (60% K2O): A = quantidade da mistura a ser preparada QFM (sulfato de amônio) = 100 x 10/21 = (kg). 47,6 = 48 kg.

B = quantidade do elemento na mistura (%). QFM (superfosfato triplo) = 100 x 10/45 = 22,2 = 22 kg. C = quantidade do elemento no adubo (%). QFM (cloreto de potássio ) = 100 x 10/60 = 16,6 = 17 kg . Exemplo 1 = 87 kg de mistura. Preparar 100 kg de NPK 4-14-8, usando-se Enchimento = 13 kg de areia . como fonte de N, ureia (45% N), de P, super- fosfato simples (18% P2O5), e de K, cloreto Total = 100 kg de NPK 10-10-10. de potássio (60% K2O): QFM (ureia) = 100 x 4/45 = 8,88 = 9 kg. Conservação da fertilidade do solo QFM (superfosfato simples) = 100 x 14/18 = 77,7 = 78 kg. Para conservar o solo e manter sua produti- vidade, deve-se por em prática alguns pon- QFM (cloreto de potássio ) = 100 x 8/60 = tos importantes: 13,3 = 13 kg. • Respeitar a aptidão agrícola do terreno, Total = 100 kg de NPK 4-14-8 = 100 kg de ou seja, adequar a cultura ao conjunto mistura. das características do solo. CAPÍTULO 4 Princípios de nutrição e adubação de 109 flores e plantas ornamentais tropicais

• Evitar queimadas (Figura 30) no preparo • Adotar rotação de culturas, buscando o de área, pois destroem o solo e prejudi- equilíbrio nutricional (Figura 31). cam sua fertilidade. • Tomar medidas que permitam o preparo • Fazer análise físico-química do solo, para adequado do solo e que evitem a com- determinar a necessidade de correção da pactação deste, com o preparo do ter- acidez e da adição necessária de nutrientes. reno com a terra nem muito seca e nem

A B Foto: Jorge Segovia

Figura 30. Devem-se evitar queimadas, pois elas causam: emissão de CO2 (A); e degradam o solo e reduzem a fertilidade (B). Foto: Jorge Segovia

Figura 31. Rotação de culturas com milho quebra o ciclo das pragas e aproveita melhor os nutrientes do solo. FLORICULTURA TROPICAL 110 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

molhada em demasia, evitando-se dei- Fatores de conversão xar o solo descoberto, já que o impacto das gotas da chuva sobre este causam de nutrientes desestruturação e compactação. Com base na análise de um solo do município • Evitar ao máximo usar máquinas pesadas. de Macapá (Tabela 20), a seguir discriminado, 3 3 as unidades de K (cmolc/dm ) e de P (mg/dm ) • Evitar o plantio de culturas anuais em serão transformadas em quilograma/hectare terrenos muito inclinados. (kg/ha), para que os resultados das análises de solos se tornem mais compreensíveis. • Não desmatar o alto dos morros nem as margens de rios, lagos e fontes de água. 3 Inicialmente, o 0,04 cmolc/dm de potássio (K+) serão transformados em kg/ha. Para tan- • Fazer plantio em curvas de nível (Figu- to, inicialmente divide-se este valor por 2,55, ra 32). obtendo-se a transformação em g/dm3.

A Exemplo de transformação do potássio

3

Foto: Jorge Segovia 0,04 cmolc/dm de K/2,5577 = 0,015639 g/dm3 de K A seguir, multiplica-se este valor por 1.000, de forma a transformar esse valor em mg/dm3: 0,015639 g/dm3 × 1.000 = 15,639 mg/dm3 de K Em seguida, multiplica-se por 2 (2 milhões de dm3/ha), para transformar em kg/ha de K: B 15,639 mg/dm3 de K × 2 = 31,278 kg/ha de K Logo, multiplica-se este valor por 1,20461, para transformar o valor obtido em kg/ha

de K2O: 31,3278 kg/ha de K × 1,20461 =

37,6779 kg/ha de K2O Como o cloreto de potássio (KCl) apresen-

ta 60% de K2O, para transformar em kg/ha, basta resolver a seguinte regra de três:

100 kg de KCl contêm 60 kg de K2O

Figura 32. Cultivo direcionado em curvas de nível X kg de KCl contém 37,6779 kg de K2O (A); preparo do solo com enxada rotativa em curvas de nível para reduzir a erosão do solo (B). X = 37,6779 × 100/60 = 62,796 kg/ha de KCl CAPÍTULO 4 Princípios de nutrição e adubação de 111 flores e plantas ornamentais tropicais

Exemplo de transformação outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 1 set. 1981. do fósforo BRASIL. Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998. 4 mg/dm3 de P × 2 (2.000.000 de dm3/ha) = Dispõe sobre as sanções penais e administrativas 8 kg/ha de P derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Diário Oficial Logo, multiplica-se esse valor por 2,2914, [da] República Federativa do Brasil, 13 fev.1998. para transformar o valor obtido em kg/ha CRAVO, M. da S.; VIÉGAS, I. de J. M.; BRASIL, E. C. de P2O5 Recomendações de adubação e calagem para o Estado do Pará. Belém, PA: Embrapa Amazônia 8 kg/ha de P × 2,2914 = 18,3312 kg/ha Oriental, 2007. 262 p. de P O 2 5 D’ALMEIDA, M. L.; VILHENA, A. Lixo municipal: Como o superfosfato simples apresenta manual de gerenciamento Integrado. 2. ed. São Paulo: IPT/Cempre, 2000. 370 p. 18% de P2O5, para transformar em kg/ha de superfosfato simples, basta resolver a se- FLORES, R. A. Produção de capim elefante guinte regra de três: (Pennisetum purpureum Schum.) para fins energéticos no Cerrado: resposta a adubação 100 kg de superfosfato simples contêm nitrogenada e idade de corte. 2009. 66 f. Dissertação 18 kg de P O (Mestrado) – Universidade Federal Rural do Rio de 2 5 Janeiro, Seropédica. X kg de superfosfato simples contém FRANCISCO NETO, J. Manual de horticultura

18,3312 kg de P2O5 ecológica: guia de autossuficiência em pequenos espaços. São Paulo: Nobel, 1995. X = 18,3312 × 100/18 = 101,84 kg/ha de GOMES, P. Adubos e adubações. São Paulo: Nobel. superfosfato simples 1970. 62 p. HOMMA, A. K.O. Criando um preço positivo para Referências o lixo urbano: a reciclagem e a coleta informal. In: SIMPÓSIO SOBRE A RECICLAGEM DE LIXO URBANO ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. PARA FINS INDUSTRIAIS E AGRÍCOLAS, 1998. Anais... NBR 10.004: resíduos sólidos – classificação. Rio de Belém, PA: Embrapa Amazônia Ocidental, 2000. p. Janeiro, 1987. 137-145. BARBOSA, J. G.; BARBOSA, M. S.; MUNIZ, M. A.; JARDIM, W. de F. Gerenciamento de resíduos GROSSI, J. A. S. Nutrição mineral e adubação de químicos em laboratórios de ensino e pesquisa. plantas ornamentais. Informe Agropecuário, v. 30, Química Nova, v. 21, n. 5, p. 671-673, 1998. DOI: n. 24, p. 16-21, mar./abr. 2009. 10.1590/S0100-40421998000500024. BUNTING, B. T. Geografia do solo. Rio de Janeiro: KIEHL, E. J. Fertilizantes orgânicos. São Paulo: Zahar, 1971. 259 p. Ceres, 1985. 492 p. BRASIL. Decreto n° 3.179 de 21 de setembro de LOPES, A. S. Manual de fertilidade do solo. São 1999. Dispõe sobre a especificação das sanções Paulo: Anda/Potafos, 1989. 154 p. aplicáveis às condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Diário Oficial LOPES, A. S.; SILVA, M. de C.; GUILHERME, L. R. G. [da] República Federativa do Brasil, 22 set. 1999. Acidez do solo e calagem. 3. ed. rev. São Paulo: Anda, 1990. 22p. (Anda. Boletim técnico, 1). BRASIL. Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus MALAVOLTA, E. Elementos de nutrição mineral de fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá plantas. São Paulo: Agronômica Ceres, 1980. 251 p. FLORICULTURA TROPICAL 112 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

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Capítulo 5 Introdução A inovação tecnológica na Amazônia vem Multiplicação por fortalecendo o crescimento da floricultura e da produção de plantas ornamentais tro- cultura de tecidos de picais, criando boas perspectivas para esse flores e de plantas segmento do agronegócio na região. Tais oportunidades ensejam a melhoria da qua- ornamentais lidade de vida das populações amazônicas, que têm nas plantas tropicais a matéria-pri- ma para gerar emprego e renda. E, nesse Arlena Maria Guimarães Gato contexto, há necessidade de investimen- Simone da Silva tos em tecnologias que possibilitem inserir Magda Celeste Álvares Gonçalves essa população no mercado de produção de plantas ornamentais tropicais. Sobre isso, a ciência contemporânea vem aprimorando a arquitetura e a floração des- sas espécies vegetais de forma a conquistar novos mercados. Tais conquistas podem ser ensejadas por meio da coleta e introdução de genes de novas espécies da flora brasi- leira, assim como por sua multiplicação por meio de processos biotecnológicos e com a adoção de sistemas de produção susten- táveis. É nesse contexto que o Brasil se destaca porque possui uma diversidade incompa- rável de espécies nativas de flores e plan- tas ornamentais tropicais, como orquídeas, cactos, bromélias, alpínias e helicônias Contudo, a maioria dessas espécies é pro- pagada vegetativamente, resultando, fre- quentemente, na ocorrência de patógenos, como: vírus (Figura 1), fungos, nematoides e bactérias. Esse fato causa perdas conside- ráveis quanto à quantidade e à qualidade dos materiais produzidos, ocasionando contaminação de novas áreas de plantio. Por sua vez, as bromeliáceas, como os aba- caxis ornamentais, nativos da flora brasi- leira, vêm sendo bastante utilizados, não FLORICULTURA TROPICAL 114 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

somente no Brasil, mas também na Europa do material propagativo em termos de ta- e nos Estados Unidos. As variedades mais manho e vigor (Garita; Gómez, 2000). comercializadas têm sido Ananas comosus O uso de mudas convencionais, de baixa var. erectifolius, A. comosus var. bracteatus qualidade, pode acarretar problemas para e A. comosus var. ananassoides, sendo que, o cultivo, em consequência do baixo vigor atualmente, a Ananas comosus var. erectifo- ocasionado principalmente pela contami- lius corresponde a 70% do total exportado nação por pragas e doenças. Entre outros (Carvalho et al., 2009). fatores, o sucesso da cultura do abacaxi or- Normalmente, os plantios de abacaxis namental depende da qualidade da muda ornamentais têm sido feitos com mudas utilizada, uma vez que a melhor sanidade propagadas vegetativamente, retiradas de do material propagativo constitui-se num diferentes partes da planta, como coroa, fi- dos pré-requisitos básicos para que se pos- sam obter exemplares ornamentais com lhote e rebentão (Borges et al., 2003), por folhagem bem estruturada e vistosa, bem método semelhante ao do plantio do aba- como frutos de excelente qualidade deco- caxi comestível. Essa forma de propagação rativa. apresenta várias desvantagens, tais como lentidão, favorecimento à disseminação de Atualmente, as orquídeas estão entre as pragas e doenças e significativas diferenças plantas ornamentais mais apreciadas e de

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 1. Bromélia da espécie Neuregelia eleutheropetala, com lesão virótica na folha transmitida por cochonilhas Dysmicoccus brevipes (A); e necrose foliar causada pelo fungo Fusarium moniliforme var. subglutinans (B). CAPÍTULO 5 Multiplicação por cultura de tecidos 115 de flores e de plantas ornamentais maior valor comercial. No Brasil, já foram de suficiente e em menor período de tem- identificadas mais de 3.500 espécies de po, independentemente da época do ano orquidáceas. Contudo, muitas dessas es- (Correia et al., 1999), incluindo-se plantas pécies encontram-se relacionadas na Lista com alta uniformidade em peso e tama- de Espécies da Flora Brasileira sob forte risco nho (Garita; Goméz, 2000). Atualmente, de extinção, em decorrência da destruição observa-se que o desafio assumido pelos de seu habitat e de coletas predatórias (Co- laboratórios de biotecnologia de excelên- lombo et al., 2004). cia na Amazônia, como os da Empresa Bra- Por sua vez, as helicônias apresentam brác- sileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) teas de colorido brilhante e muito atraente. e do Centro de Biotecnologia da Amazônia Por isso, são consideradas bastante deco- (CBA), vai desde a criação da maior variabi- rativas e passam a ser muito utilizadas, es- lidade de porte e de tons até aqueles que pecialmente em projetos de jardinagem e apresentam maior durabilidade no período como flores de corte. Suas hastes possuem pós-colheita e resistência ao ataque de pra- boa resistência ao transporte e longa dura- gas de qualquer natureza. Isso vem ao en- bilidade no período pós-colheita, caracte- contro das apuradas exigências da crescen- rísticas que têm contribuído para aumentar te demanda de consumidores de espécies sua comercialização nos mercados nacional vegetais ornamentais, para as mais diversas e internacional. finalidades. No Brasil, um dos problemas para se cultivar Contudo, antes de uma espécie ser intro- espécies tropicais no Brasil, principalmente duzida no mercado, é submetida a um con- nas regiões Norte e Nordeste, é a dificulda- de de se obter mudas em escala comercial junto de testes de qualidade, de aceitação, e a demanda por novas espécies com colo- de resistência, de adaptação às condições ridos mais exuberantes, sendo muitas vezes ambientais e, principalmente, de capacida- necessário importar materiais com essas de de produção em escala para atender à características. Apesar disso, vale notar que demanda e às exigências dos mercados. Tal o material importado, quando não subme- controle é importante para garantir a livre tido à quarentena, pode contribuir para a concorrência, atribuindo-se o fator qualida- introdução de novos patógenos, os quais de na lei da oferta e da procura. podem infectar espécies nativas de interes- se comercial ainda não exploradas. Então, para o sucesso da produção em es- cala das mais diversas espécies ornamen- Contrapondo-se a essas dificuldades, a par- tais da flora brasileira, os estudos envolvem: tir do estabelecimento in vitro, as técnicas de micropropagação por meio da regene- • Sua coleta e conservação, bem como a ração de plantas com bom estado fitossa- adequação genética para as mais diver- nitário mantêm a fidelidade genética para sas finalidades. produção de clones e atende às exigências do mercado. Além disso, permitem obter • Sua multiplicação por meio de processos maior taxa de multiplicação, excelente qua- de clonagem, passando pela utilização lidade fitossanitária, estabilidade genética de hormônios de crescimento e desen- das mudas obtidas e material em quantida- volvimento. FLORICULTURA TROPICAL 116 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

• Aclimatação e produção em ambientes tropicais, como orquídeas, bromélias, he- modificados. licônias, alpínias e musáceas, em tubos de ensaio contendo meio de cultura adequado. • Controle integrado de pragas. A partir desses segmentos, que podem ser • Nutrição adequada para as diferentes gemas, fragmentos de folhas ou raízes, ápi- culturas. ces caulinares entre outros, podem-se obter de centenas a milhares de plantas idênticas, E é por meio da cultura in vitro de plantas em outras palavras, clones. Posteriormente, que se torna possível avaliar o desempenho essas plantas são retiradas dos tubos de en- das culturas sob determinadas condições saio, aclimatadas e levadas a campo, onde ambientais, principalmente das funções se desenvolvem normalmente. e do funcionamento normal das plantas, Outra grande vantagem dessa técnica de como os processos físico-químicos que cultivo assimbiótico, em meio estéril, é a ocorrem nas células, nos tecidos, nos órgãos formação de indivíduos geneticamente e especialmente do conjunto de estruturas idênticos a partir de células, órgãos ou pe- com funções semelhantes ou complemen- quenos fragmentos de uma planta-matriz, tares, que proporcionam a produção dessas isenta de patógenos e com a conservação espécies vegetais em sua totalidade. de germoplasma com qualidade genetica- Assim, é possível trabalhar com quantida- mente superior e livre de pragas (Torres, des significativas de plantas, em espaço li- 1990; Silva, 2005). mitado, e em tempo relativamente menor, Sobre a produção de mudas de helicônias, quando comparado às condições de cul- Santos et al. (2006) apresentam a micropro- tivo convencional. Isso está associado ao pagação como uma alternativa viável em fato de que nas plantas trabalhadas e gene- larga escala e com significativa pureza gené- ticamente padronizadas pode-se eliminar tica e qualidade fitossanitária, utilizando-se a interferência da variabilidade genética de várias técnicas, como multiplicação de nos resultados. Portanto, evidencia-se que gemas axilares de rizomas, regeneração de a cultura de tecidos vegetais consiste na in- plantas por meio do desenvolvimento de ór- dução e na proliferação de células a partir gãos de forma direta e indução de calos em de um fragmento da planta na presença de explantes retirados da base das plântulas. nutrientes e de substâncias reguladoras do crescimento e do desenvolvimento vege- A cultura in vitro de embriões também tal. Nesse processo, cada célula em cultura pode constituir uma interessante aplicação retém informações genéticas e são capazes da cultura de tecidos no cultivo de helicô- de produzir determinados componentes nias. Haja vista que existem mecanismos químicos e assim mostrar uma capacidade que impedem cruzamentos entre espécies de se diferenciar em qualquer outro tipo desse gênero, o que constitui uma barreira de célula especializada (Rao; Ravishankar, para trabalhos de melhoramento. Na cul- 2002; Arikat et al., 2004). tura in vitro, é possível resgatar embriões oriundos de cruzamentos híbridos, os quais Dessa forma, por meio da cultura de tecidos não sobreviveriam na planta-mãe, poden- in vitro, podem-se multiplicar segmentos do ainda reduzir o ciclo fenológico da plan- de espécies de flores e plantas ornamentais ta (Torres, 1990). CAPÍTULO 5 Multiplicação por cultura de tecidos 117 de flores e de plantas ornamentais

Entretanto, apesar das vantagens possibi- Contaminação litadas com as técnicas de cultivo in vitro, esta também apresenta alguns problemas A contaminação por microrganismos é um no processo de produção, caso não se le- dos mais sérios problemas da cultura de te- vem em consideração determinados fato- cidos e, normalmente, ocorre nos 5 primei- res discriminados a seguir. ros dias após a inoculação dos explantes, (Sousa et al., 2007). Oxidação Geralmente, a presença de microrganismos tem sido um dos mais sérios obstáculos A oxidação representa um obstáculo obje- para desenvolver protocolos de cultura de to de pesquisas científicas, especialmente tecidos vegetais. durante a fase de estabelecimento da cul- tura in vitro de explantes. Considerando que o laboratório de cultura de tecidos vive em razão da inexistência de agen- Ela ocorre em função da liberação de com- tes contaminantes, devem ser evidenciados postos fenólicos in vitro, precursores da todos os esforços para minimizar os riscos de síntese de lignina, pelo tecido injuriado. contaminação nos ambientes do laboratório, Esse acúmulo de polifenóis e produtos de sendo necessário seguir rigoroso protocolo oxidação modificam a composição do meio de esterilização ou de desinfestação. de cultivo e a absorção de metabólitos (An- drade et al., 2000). Os compostos fenólicos são oxidados pelas enzimas polifenases, Desinfestação produzindo substâncias tóxicas e inibindo O processo de desinfestação consiste na o crescimento dos explantes, podendo cau- eliminação dos microrganismos superfi- sar sua morte, além de escurecer o meio de ciais do explante, a fim de se evitar conta- cultura (Sato et al., 2001). minações extremamente prejudiciais na Conforme Teixeira (2005), isso pode ser mi- introdução, incubação e na manipulação in nimizado por meio de determinados proce- vitro do material (Souza; Junghans, 2006). dimentos, como: Segundo Grattaplaglia e Machado (1998), • Redução dos danos mecânicos e quími- a obtenção de tecidos descontaminados é cos ao explante. uma das etapas mais difíceis da micropro- pagação, podendo-se tornar um fator limi- • Remoção de substâncias fenólicas. tante à micropropagação de espécies tropi- cais, como as helicônias. • Cultivo em meio líquido. • Utilização de materiais juvenis. Organização e instalação Alloufa et al. (2002), trabalhando com cultu- de um laboratório de ra in vitro de bananeira, observaram que o cultura de tecidos vegetais ácido ascórbico foi o mais efetivo ao reduzir os níveis de oxidação do que o ácido cítrico O laboratório de cultura de tecidos vegetais e o carvão ativado. deve ter suas dependências bem distribuí- FLORICULTURA TROPICAL 118 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis das e funcionais, de maneira que facilite o • Sala de lavagem e esterilização – Essa deslocamento de pessoal e material, de dependência é destinada a limpar o ma- modo unidirecional. terial laboratorial por ação de líquidos, especialmente a água, com mistura ou As áreas de lavagem e esterilização, de pre- não de produto detergente, bem como paração de meio de cultura e de almoxari- a eliminar microrganismos patogênicos. fado devem ser compartimentalizadas. Por Dada sua função específica, deve ser sua vez, as áreas para inoculações e trans- equipada com autoclave (Figura 3), des- ferências devem ser, preferencialmente, tilador, bidestilador, deionizador e estufa separadas das demais e com a menor cir- de secagem de material. culação de pessoas possível, evitando-se a contaminação por agentes externos (Tom- bolato; Costa, 1998). Nesse contexto, as instalações básicas de um laboratório de cultura de tecido vegetal de- vem contemplar a seguinte infraestrutura: • Sala de expurgo – Nesse recinto, podem- se fazer dois tipos de limpeza (Figura 2): a pré-limpeza, na qual são eliminadas a sujidade e as impurezas visíveis a olho nu dos exemplares vegetais a serem tra- Foto: Magda Celeste Álvares Gonçalves balhados; e a limpeza final, na qual são retiradas da vidraria as substâncias inde- sejáveis provenientes das salas de pre- Figura 3. Sala de esterilização. paro de meio de cultura, crescimento e climatização. • Sala de preparo de meio de cultura – Na sala de preparo e estoque dos meios de cultura (Figura 4), deve ser controlada a qualidade destes, de forma a certificar-se de que foram perfeitamente esteriliza- dos em conformidade com as exigências legais. Após 7 dias, deve-se realizar nessa etapa a checagem individual do material que será manipulado dentro da sala de transferência, verificando-se a incidência visual de fungos e bactérias. Essa sala é equipada com agitador magnético, ba-

Foto: Magda Celeste Álvares Gonçalves lança analítica, balança eletrônica, con- gelador, fogão, forno de micro-ondas, geladeira e peagâmetro. • Sala de cultura – Essa dependência é Figura 2. Sala de expurgo. denominada também de sala de trans- CAPÍTULO 5 Multiplicação por cultura de tecidos 119 de flores e de plantas ornamentais

• Sala de crescimento – Nessa sala, podem ser mantidos milhares de explantes por meio de um conjunto de equipamen- tos empregados para permitir o cresci- mento inicial dos meristemas colocados em meio de cultura, no interior de um recinto fechado sob condições ideais controladas de temperatura, fotoperío- do (alternância de períodos de maior e

Foto: Magda Celeste Álvares Gonçalves menor luminosidade), intensidade lumi- nosa e umidade, de forma a potenciali- Figura 4. Sala de preparo e estoque dos meios de zar a propagação da carga genética da cultura. espécie escolhida. Esse ambiente deter- mina o uso de filtros de ar, central de ar ferência ou de subcultivo, onde as plan- condicionado, lâmpadas fluorescentes tas desenvolvidas em meio de cultura luz do dia, prateleiras e timer (Figura 6). são subdivididas em pequenos peda- Também são utilizados biorreatores, pe- ços e transferidas para novos meios de quenas caixas de acrílico supridas com cultura, processo este denominado de nutrientes, vitaminas e hormônios para clonagem. Portanto, esse é um procedi- conseguir um crescimento dos explantes mento de micromultiplicação vegetativa em tempo relativamente menor. ou assexuada em grande escala, no qual se estimulam a brotação lateral e o cres- • Estufa de climatização – Nesse comparti- cimento de ramos e raízes, acelerando mento (Figuras 7A e 7B) podem ser man- assim o processo de propagação. Esse tidos milhares de plântulas por meio de ambiente é equipado com central de ar um conjunto de equipamentos capazes condicionado e câmara de fluxo laminar de criar condições favoráveis de tempe- (Figuras 5A e 5B). ratura, luz e umidade necessárias ao de-

A B Fotos: Magda Celeste Álvares Gonçalves

Figura 5. Sala de cultura (A); e câmara de fluxo laminar (B). FLORICULTURA TROPICAL 120 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

estoque. Tais cuidados são necessários para se garantir um local próprio em condições de armazenamento e controle do crescimento das espécies, asseguran-

Foto: Magda Celeste Álvares Gonçalves do-lhes desenvolvimento e preservação Figura 6. Explantes mantidos em sala de crescimento adequados. sob condições de luz, de temperatura e de umidade controlada. • Sala de pesquisador – Ambiente provido de central de ar condicionado, armário, escrivaninha, computador e internet, de senvolvimento de cada espécie vegetal, forma a favorecer a elaboração de proje- independentes da atmosfera exterior. tos, a análise de dados e o tratamento de Esse recinto dispõe de ambiente monito- dados de pesquisa para publicação. Esse rado com controladores de temperatura, espaço é fundamental para se garantir de luz e de umidade, acoplados à câmara a produção de documentos e relatórios de nebulização, à câmara úmida, à irriga- de pesquisa para divulgação em nível ção por microaspersão, determinando o local, nacional e internacional. Além dos padrão da qualidade das plantas, como o enraizamento vigoroso, o número, o por- recursos mencionados, há necessidade te e as dimensões das flores. de acervos pertinentes necessários para a fundamentação teórica da produção • Almoxarifado – É a sala destinada ao de- científica. pósito dos materiais necessários ao aten- dimento das diferentes instalações bási- • Vidraria e reagentes – Os recursos de cas de um laboratório de cultura de teci- vidraria e reagentes são fundamentais dos. Esse compartimento deve ser provi- para que se tenham os recursos míni- do de prateleiras, armários, escrivaninha mos, dando, assim, suporte para os estu- dentre outros recursos para controle de dos, produção e pesquisas necessárias.

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 7. Estufas de climatização: estufa coberta com filme de polietileno transparente aditivado, contra radia- ção ultravioleta e fechada, lateralmente, com tela branca de náilon (A); estufa com irrigação por nebulização para controle da temperatura (B). CAPÍTULO 5 Multiplicação por cultura de tecidos 121 de flores e de plantas ornamentais

• Vidraria – Baquetas de vidro, balões volu- poderão ser utilizados, sempre para ga- métricos, béqueres, erlenmeyers, frascos rantir a qualidade, entre eles o algodão, diversos, funis, provetas, pipetas, placas esfagno, faixas de polipropileno, fibra de de petri e tubos de ensaio. O cumpri- coco curtida, filme plástico transparente, mento das boas normas de esterilização fita adesiva, fita-crepe, papel-filtro, papel e higiene desses instrumentos possibili- Kraft, pulverizador manual e vermiculita. tará o êxito do trabalho e da produção com segurança, bem como a qualidade da produção. Fases da micropropagação • Reagentes – Ácido clorídrico ou sulfúrico, O desenvolvimento de etapas sucessivas é álcool comercial 96° ou 98°, ágar, gelrite necessário para se obter mudas provenien- ou phytagel, hidróxido de sódio ou de tes de cultura de tecidos. Em razão de cada potássio, hipoclorito de sódio (água sani- espécie, essas etapas podem ser: tária comercial) ou hipoclorito de cálcio (HTH usado em piscinas), hormônios e • Manutenção de plantas-matrizes. reguladores de crescimento (AIA, ANA, • Coleta do material vegetal. AIB, 2,4-D, 6-BAP, KIN, GA3 e Zeatina), sais que contêm macronutrientes nitrogênio • Esterilização de explantes. (N), fósforo (P), potássio (K), enxofre (S), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e ferro (Fe); • Inoculação. N e S e micronutrientes manganês (Mn), zinco (Zn), boro (B), cobre (Cu), cloro (Cl), • Germinação. molibdênio (Mo), cobalto (Co) e iodo (I); • Regeneração da plântula (ou parte dela). sacarose, glicose ou açúcar-cristal de ori- gem comercial, vitaminas (tiamina, piri- • Multiplicação. doxina, ácido nicotínico, mio-inositol, gli- cina) e soluções tampão para aferimento • Alongamento. de peagâmetro. • Enraizamento. • Armazenamento de água – A água utili- • Aclimatização. zada na preparação dos meios de cultura deve ser destilada e deionizada, e arma- zenada em recipientes de vidro ou de Explantes plástico de boa qualidade. Os explantes são secções de folhas, flo- • Instrumental – Agulhas, bandejas, bistu- res (pétalas, anteras), sementes (embriões ris (cabos e lâminas), carrinho para trans- imaturos), raízes, rizomas e mesmo dos porte de material, cestos de arame para meristemas apicais ou laterais das plantas, autoclavagem, de vidraria e tubos de en- constituindo-se nos principais pontos de saio, estiletes, lamparinas, pinças, picetas coleta de material vegetal para se iniciar o e tesouras. processo de multiplicação in vitro que dará • Outros materiais – Além dos materiais origem a novas plântulas. A redução do ta- anteriormente mencionados, outros manho dos explantes é muito próxima do FLORICULTURA TROPICAL 122 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis ponto de crescimento primário denomina- Macronutrientes do de meristema. Os macronutrientes empregados nos Outro domínio da técnica está no repique, meios de cultura são os mesmos nutrientes o qual consiste no corte e no transplante estabelecidos para a nutrição mineral bási- dos novos ramos da espécie demandada, ca das plantas. São eles: São eles: N, P, K, S, dando origem a milhares de plantas ge- Ca, Mg e Fe. O N e o S podem ser utilizados neticamente iguais. Entretanto, deve-se também em forma orgânica. considerar que algumas espécies com base genética estável podem ser multiplicadas O N é um dos nutrientes mais estudados indefinidamente, enquanto outras apre- na constituição dos meios de cultura, pois sentam limite, em decorrência de proble- pode ser adicionado, também, na forma mas de mutação. de amônio (cátion) ou de nitrito, nitrato (ânion), ou ainda na forma orgânica (ami- Esterilização do explante noácidos). O mais usual é a esterilização nos padrões a Micronutrientes seguir: lavagem em detergente comercial, seguida por álcool 70%, imersão em solu- Os micronutrientes considerados essen- ção de hipoclorito de sódio ou de cálcio (1% ciais são: Mn, Zn, B, Cu, Cl, Mo, Co e I. a 2%), finalizando com lavagens sucessivas em água destilada esterilizada (duas ou três vezes). Os tempos de lavagem em cada so- Fontes de carbono lução vão variar de acordo com o explante Sacarose, glicose ou frutose são adicio- a ser utilizado (Tombolato; Costa, 1998). nadas aos meios de cultura em função da deficiência de energia luminosa e da baixa concentração de CO presentes nas condi- Meios nutritivos 2 ções em que são desenvolvidas as técnicas Os meios nutritivos são formados de múl- in vitro. tiplos componentes, sendo bastante va- riáveis em função da espécie vegetal e da origem do explante. A seguir, encontram- Vitaminas e aminoácidos se descritos os principais componentes de São considerados essenciais: tiamina – vita- uso mais frequente nos meios de cultura mina B , ácido nicotínico (niacina), piridoxi- (Torres; Caldas, 1990). 1 na (vitamina B6), glicina e mio-inositol. Outras vitaminas também podem ser em- Água pregadas em razão da técnica e da espé- A água pode ser destilada, bidestilada ou cie, como é o caso do ácido fólico, da ri- deionizada. Deve-se evitar o uso de água boflavina, da biotina e do ácido ascórbico. de torneira porque pode comprometer o O emprego das vitaminas asseguram o desenvolvimento da cultura (Tombolato; bom crescimento das espécies vegetais e a Costa, 1998). qualidade da produção. CAPÍTULO 5 Multiplicação por cultura de tecidos 123 de flores e de plantas ornamentais

Reguladores de • Amido: é pouco utilizado, pois é atacado crescimento pela amilase. • Gelatina: se for de origem animal, pode Os principais reguladores de crescimento provocar toxicidade aos tecidos vegetais. usados em cultura de tecidos vegetais são as auxinas e as citocininas. Em micropro- • “Gel”: polissacarídeo produzido por bac- pagação de plantas, as substâncias de uso térias, empregado na construção, de mais comum são: 1 g/L a 2 g/L.

• Auxinas: ácido 3-indolacético (AIA), áci- • Vermiculita, ponte de papel-filtro: efi- do alfa-naftaleno-acético (ANA), ácido ciente para a fase de enraizamento. indol-3-butírico (AIB), ácido 2,4-dicloro- fenoxiacético (2,4-D) e ácido naftoxiacé- tico (NOA). pH • Citocininas: 6-benzilamino-purina (BA), A acidez ou alcalinidade do meio de cultura 6 cinetina (KIN) e N (4-hidroxi-3-metil-but-2 é medida por seu potencial hidrogeniônico enil amino-purina). (pH), em aparelho específico denominado peagâmetro. Para a maioria das plantas, o • Giberelina: ácido giberélico (GA3). nível ideal situa-se em torno de 5,5 a 6,0. • Inibidor: ácido abscísico (ABA). Normalmente, o ajuste do pH é feito com a adição de gotas de solução 0,1N de hidró- Extratos orgânicos e outros xido de potássio (KOH) ou ácido clorídrico (HCl), antes da esterilização em autoclave. Esporadicamente, alguns extratos naturais de composição não muito definida podem ser usados, como: água de coco, extrato de Esterilização malte, sulfato de adenina, suco de tomate. A esterilização dos meios de cultura é fei- ta por 15 a 20 minutos, a 120 °C (1 atm de Ágar e outros pressão). O meio de cultura pode ser líquido ou se- Sabe-se que certos componentes são sen- missólido. Quando usado em fase líquida, síveis à temperatura elevada: glutamina, geralmente deve-se agitá-lo constante- ácido giberélico, tiamina, ácido abscísico mente, ou seja, os frascos devem ser colo- e antibióticos em geral. Em alguns casos, cados sobre mesa agitadora. Contudo, o principalmente na pesquisa, pode ser em- mais comum é o emprego de meio semis- pregado o filtro Milipore, para esterilizar sólido, pela adição de substâncias geleifi- determinadas soluções, evitando-se assim cantes, que podem ser: a degradação das substâncias em altas • Ágar: polissacarídeo de algas marinhas temperaturas. Essa técnica é aplicada em empregado na concentração de 4 g/L a casos de adição de antibióticos ou de extra- 10 g/L. tos orgânicos ao meio de cultura. FLORICULTURA TROPICAL 124 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Aclimatização cassez de informações pode levar à baixa qualidade e/ou à ausência de padroniza- A aclimatização de plantas oriundas de cul- ção dos produtos obtidos, prejudicando a tura de tecidos consiste em retirá-las das sua comercialização no mercado interno e, condições in vitro e transplantá-las para re- principalmente, no mercado externo (Ro- cipientes com substrato adequado, em casa cha, 2007). de vegetação, com a finalidade de prepará- -las para a mudança de ambiente que de- verão enfrentar quando forem transferidas Metodologia de para o local definitivo. Durante a aclimata- micropropagação ção, algumas das mudanças fisiológicas so- fridas pelas plantas são as suscetibilidades de helicônias ao estresse hídrico. A metodologia de micropropagação foi Esse fato ocorre em decorrência: adaptada da descrita por Murashigue e Skoog (1962). • Do aumento na taxa de transpiração as- sociado à diminuição da umidade rela- tiva do ar e do aumento da intensidade Material vegetal luminosa. Como explantes, devem-se utilizar em- briões ou ápices florais e caulinares. • Da passagem para um estado autotrófi- co realizando fotossíntese. Esterilização • Do sistema radicular que se adapta para incrementar rapidamente a absorção de • Deixar as sementes num béquer com sais, sendo que a planta fica vulnerável água destilada por 12 horas. à ação dos agentes patogênicos, pois é transferida de um ambiente asséptico • Colocar as sementes num béquer com para o natural (Gratapaaglia; Machado, água destilada e três gotas de detergen- 1988). te, levando-as ao agitador magnético, por 15 minutos. Para a aclimatização, deve-se garantir o su- primento de água e de nutrientes, além das • Em câmara de fluxo laminar, colocar trocas gasosas entre as raízes e o ar atmos- as sementes num béquer com solução férico (Silveira et al., 2002). de hipoclorito de sódio a 50%, durante 20 minutos. A escolha de substratos e de recipientes, as- sim como do manejo correto da irrigação, é • Após os 20 minutos, lavar as sementes um dos principais problemas técnicos que três vezes, sucessivamente, com água muitos produtores têm enfrentado durante destilada e esterilizada. a aclimatização de plantas micropropaga- das. Além do mais, nessa etapa, as pesqui- Inoculação sas da micropropagação ainda são escassas e as informações técnicas sobre cultivo são • Com o auxílio de uma pinça, retirar uma raras ou muitas vezes inexistentes. Essa es- semente do béquer. CAPÍTULO 5 Multiplicação por cultura de tecidos 125 de flores e de plantas ornamentais

• Utilizar pinça (ou alicate) para pressionar • Com um bisturi, separar os brotos da plân- a semente até que os embriões saiam to- tula que devem ser introduzidos num novo talmente, colocando-os sobre a cerâmica meio de cultura (MS + 3,0 mg/L de BA). (Figura 8). • Em seguida, fechar os frascos, que são ar- mazenados em sala de crescimento, em temperatura de 25 °C a 27 °C e 16 horas- -luz de fotoperíodo (lâmpada fluorescen- te luz do dia), por 30 dias. Foto: Arlena Foto: Gato Aclimatização • Nessa fase, lavar as plantas em água cor- rente, retirando-se bem todo o meio de cultura aderido nas raízes e folhas velhas (aplicar jato leve, para não feri-las). • Em seguida, acondicionar as plantas em Figura 8. Retirada do embrião de sementes de substrato para enraizarem, deixando-se helicônia. aproximadamente 3 cm de distância en- tre elas. • Na sequência, armazenar as plantas em • Em seguida, passar o embrião em álcool casa de vegetação com sistema de nebu- 70% por mais ou menos 30 segundos. lização, por 30 dias. • Na sequência, introduzir um embrião em • Após esse período, transferir as plantas cada tubo de ensaio contendo meio de para saquinhos de polietileno contendo cultura (MS0). terra e húmus na proporção de 2:1. • Colocar o embrião sempre na posição • Por último, armazenar as plantas em casa vertical. de vegetação com sistema de irrigação • Fechar o tubo de ensaio e passar filme por aspersão. plástico ao redor da tampa. • Armazenar os tubos em câmaras BOD ou Inoculação de ápice em sala de crescimento escura, em tem- floral de helicônia peratura de 25 °C a 27 °C, por 30 dias. • Colocar uma flor (Figura 9) sobre a cerâ- mica. Multiplicação de plântulas de helicônias provenientes • Com o auxílio da pinça, segurar a extre- midade inferior da flor e retirar as brác- de embriões teas até chegar aos primórdios florais. • Com uma pinça, retirar a plântula do tubo Com um bisturi, fazer cortes suaves e iso- de ensaio, colocando-a sobre a cerâmica. lar os primórdios florais. FLORICULTURA TROPICAL 126 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis Foto: Arlena Foto: Gato Arlena Foto: Gato

Figura 9. Flores de helicônia.

• Após isolar os primórdios, passá-los em álcool 70% por aproximadamente 30 se- gundos (Figura 10). Figura 11. Primórdio floral introduzido em meio de • Em seguida, com uma pinça, inocular cultura. o primórdio floral no frasco, contendo meio de cultura (Figura 11). Multiplicação de plântulas Fechar o frasco de helicônias provenientes • Armazenar os frascos em BOD ou em sala de ápices florais de crescimento escura, por 30 dias. • Com uma pinça, retirar a plântula do tubo de ensaio, colocando-a sobre a ce- râmica. • Com um bisturi, separar os brotos da plântula que devem ser introduzidos em

Foto: Arlena Foto: Gato novo meio de cultura (MS + 3,0 mg/L de BA). • Finalmente, fechar os frascos e armazená- -los em sala de crescimento, em tempe- ratura entre 25 °C e 27 °C e 16 horas-luz de fotoperíodo (lâmpada fluorescente luz do dia), por 30 dias.

Aclimatização • Nessa etapa, lavar as plantas em água Figura 10. Preparo para assepsia do primórdio floral. corrente, retirando-se bem todo o meio CAPÍTULO 5 Multiplicação por cultura de tecidos 127 de flores e de plantas ornamentais

de cultura aderido nas raízes e nas folhas • Enxaguá-las três vezes, sucessivamente, velhas (aplicar jato leve, para não feri-las). com água destilada e esterilizada. • Em seguida, introduzir as plantas em substrato, deixando-se aproximadamen- Inoculação te 3 cm de distância entre elas. • Com uma pinça, retirar um ápice caulinar • Na sequência, armazenar as plantas em do béquer, colocando-o sobre a cerâmi- casa de vegetação com sistema de nebu- ca e, com um bisturi, reduzir as camadas lização, por 30 dias. desse ápice caulinar até atingir cerca de 3 cm. • Após esse período, transferir as plantas para saquinhos de polietileno contendo • Em seguida, passar o ápice em álcool terra e húmus na proporção de 2:1. 70%, por aproximadamente 30 segun- • Por último, armazenar as plantas em casa dos. de vegetação, em sistema de irrigação • Na sequência, introduzir o ápice em meio por aspersão. de cultura (MS0).

• Finalmente, fechar o frasco passando-se Metodologia de filme plástico ao redor da tampa. micropropagação • Armazenar os frascos em câmaras BOD de alpínias ou em sala de crescimento escura, em Para propagar alpínias, adaptou-se a meto- temperatura de 25 °C a 27 °C, por 30 dias. dologia de micropropagação descrita por Murashigue e Skoog (1962). Multiplicação de plântulas de alpínias Material vegetal • Com o auxílio de uma pinça, retirar a • Como explantes, utilizar ápices caulina- plântula do tubo de ensaio, colocando-a res. sobre a cerâmica.

• Com a pinça e o bisturi, fazer a limpeza Esterilização para retirar as partes oxidadas e folhas • Colocar os ápices caulinares (medindo murchas. cerca de 5 cm, cada) num béquer com água destilada contendo três gotas de • Em seguida, introduzi-las em novo meio detergente, e levá-los ao agitador mag- de cultura (MS + 2,0 mg/L de BA). nético, por 15 minutos. • Por último, fechar os frascos e armazená- • Em câmara de fluxo laminar, colocar os -los em sala de crescimento, em tempe- ápices caulinares num béquer com so- ratura de 25 °C a 27 °C e 16 horas-luz de lução de hipoclorito de sódio a 50%, du- fotoperíodo (lâmpada fluorescente luz rante 20 minutos. do dia) por 30 dias. FLORICULTURA TROPICAL 128 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Aclimatização de espécies nativas em áreas de preserva- ção ambiental. A cultura assimbiótica resul- • Lavar as plantas em água corrente, re- ta em maiores percentuais de germinação, tirando todo o meio de cultura aderido em comparação com a germinação em nas raízes e folhas velhas (utilizar jato leve para não feri-las). condições naturais, a qual é dependente da infecção por fungos micorrízicos simbion- • Plantar as plantas em substrato, deixan- tes (Martini et al., 2001). do aproximadamente 3 cm de distância entre elas. Adaptou-se a metodologia de micropro- pagação descrita por, Murashigue e Skoog • Armazenar as plantas em casa de vege- (1962), Colombo et al. (2004), Unemoto et tação com sistema de nebulização, por al. (2007) e Martini et al. (2010). 30 dias.

• Após este período, transferi-las para sa- Material vegetal quinhos contendo terra e húmus na pro- porção de 2:1. • Como explantes, utilizar cápsulas de or- quídeas. • Armazenar as plantas em casa de vegeta- ção em sistema de irrigação por aspersão. Como promover a esterilização Metodologia de Para promover a esterilização, devem-se micropropagação observar as seguintes instruções: de orquídeas • Lavar as cápsulas fechadas em água cor- rente e detergente neutro. Técnicas como a cultura de tecidos têm au- xiliado na preservação das orquídeas, ten- • Repetir a lavagem em solução de hi- do como uma de suas principais vantagens poclorito de sódio (comercial) (80% de o manuseio de grande número de indiví- água destilada esterilizada + 20% de duos em espaço reduzido e sob condições solução de hipoclorito de sódio), acres- assépticas (Unemoto et al., 2007). cido de três gotas de detergente de ori- A micropropagação ou propagação in vitro gem comercial sob agitação em agitador tem sido utilizada no Brasil há pouco mais magnético, por 30 minutos. de 30 anos, para aumentar principalmente a produção de mudas, reduzindo seu custo • Em câmara de fluxo laminar, lavar as e contribuindo para salvar muitas espécies cápsulas em água destilada esterilizada, de orquídeas da extinção. A cultura assim- três vezes, sucessivamente. biótica ou semeadura in vitro de orquídeas constitui técnica relevante do ponto de vis- • Lavar as cápsulas em álcool 70%, por ta comercial e também ecológico. 10 minutos. As plantas produzidas são altamente inte- • Enxaguá-las, três vezes, em água destila- ressantes para programas de reintrodução da esterilizada. CAPÍTULO 5 Multiplicação por cultura de tecidos 129 de flores e de plantas ornamentais

Inoculação • Lavar as plantas em água corrente, reti- rando bem todo o meio de cultura ade- • Para se proceder à inoculação, deve-se rido nas raízes e folhas velhas (direcionar atentar para as seguintes etapas: jato leve para não feri-las). • Com uma pinça, retirar uma cápsula e, • Plantar as orquídeas em uma mistura de com o bisturi, fazer um corte até que ela pequenos fragmentos de carvão (comer- se abra. cial) e fibra de coco (de textura média). • Distribuir um pouco das sementes em • Armazenar as plantas em casa de vege- cada frasco contendo meio de cultura tação com sistema de nebulização, por (MS0) (Murashige; Skoog, 1962), modifi- 30 dias. cado com metade dos macronutrientes e acrescido de 1,0 g/L de carvão ativado, • Após este período, transferi-las para 30,0 g/L de sacarose e 7,0 g/L de ágar. vasos contendo, no fundo dos vasos, pequenos pedaços de isopor e acima • Fechar o frasco e passar filme plástico ao destes, uma mistura de fibra de coco (de redor da tampa. textura média, fragmentos de carvão e terra, na proporção de 2:1:1). • Fechar os frascos e armazená-los em sala de crescimento escura, em temperatura • Armazenar as plantas em casa de vegeta- de 25 °C a 27 °C, por 30 dias. ção em sistema de irrigação por aspersão.

Multiplicação Metodologia de Quando da inoculação, devem-se obedecer micropropagação de as seguintes instruções: Ananas erectifolius, • Em câmara de fluxo laminar, com uma Ananas lucidus e pinça, separar o material germinado de cada frasco em cinco partes iguais. Ananas comosus • Em seguida, introduzir cada parte em Adaptou-se a metodologia de micropro- novo meio de cultura, para multiplicação pagação descrita por Murashigue e Skoog (MS + 1 mg/L de BA). (1962), Correia et al. (1999), Garita et al. (2000), Teixeira et al. (2001), Borges et al. • Fechar os frascos e armazená-los em sala (2003), Carvalho et al. (2009). de crescimento, em temperatura de 25 °C a 27 °C e 16 horas-luz de fotoperíodo Material vegetal (lâmpada fluorescente luz do dia) por 30 dias. • Como explantes, utilizar gemas axilares.

Aclimatização Esterilização Para promover a aclimatização, devem-se • Coletar a planta inteira no campo e reti- observar as seguintes instruções: rar as folhas (deixando o caule exposto), FLORICULTURA TROPICAL 130 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

lavar (remover) a terra das raízes e cortar seu excesso.

• Em seguida, com auxílio de uma escovi-

nha, lavar a planta com detergente neu- Arlena Foto: Gato tro, em água corrente, para remover a terra completamente.

• Cortar a parte basal do caule (mais ou menos 1/3).

• Com o auxílio de um bisturi, fazer um corte (em formato triangular) ao redor Figura 12. Redução da gema do abacaxi. de cada gema (introduzindo até 2/3 da lâmina do bisturi). • Após reduzi-las com uma pinça, intro- duzir as gemas nos frascos contendo • Num béquer com 1.000 mL de água des- meio de cultura (MS + 0,5 mg/L de BA + tilada e duas gotas de detergente neutro 0,125 mg/L de ANA) (Teixeira et al., 2001), sob agitação, colocar as gemas em agita- posicionando a ponta da gema para cima dor magnético, por 10 minutos. (Figura 13). • Lavar as gemas em água destilada auto- clavada.

• Em câmara de fluxo laminar, lavar as ge- mas em álcool a 70%, por 15 minutos. Foto: Arlena Foto: Gato • Na sequência, lavar as gemas três vezes em água destilada autoclavada.

• Em seguida, lavá-las em solução de água sanitária comercial a 50%, por 20 minutos.

• Finalmente, inocular em meio de cultura MS0.

Inoculação Como proceder à inoculação propriamente Figura 13. Introdução das gemas em meio de cultura. dita: • Fechar o frasco e passar o filme plástico • Colocar uma gema sobre a cerâmica e, ao redor da tampa (Figura 14). com o auxílio de um bisturi e de uma pinça, reduzi-la mais um pouco, limpan- • Armazenar os frascos em sala de cresci- do ao redor (Figura 12). mento escura, por 40 dias. CAPÍTULO 5 Multiplicação por cultura de tecidos 131 de flores e de plantas ornamentais Fotos: Magda Celeste Álvares Gonçalves

Figura 14. Fechamento dos frascos de vidro com Figura 16. Introdução de tecidos meristemáticos de meio de cultura. banana em novo meio de cultura.

Multiplicação de plântulas • Meio de cultura (2 L para 50 frascos): de Musa spp. provenientes 40 mL de macronutrientes + 20 mL de de gemas axilares micronutrientes (solução estoque) (Mu- rashige; Skoog, 1962). Suplementar com Como multiplicar plântulas de Musa spp. 4 mL de vitamina Morel, 60 g de sacarose, provenientes de gemas axilares: 45 mL de BAP 4,5 g, 4 g de PVP, 14 g de ágar. • Em câmara de fluxo laminar, com a aju- • Na sequência, fechar os frascos, que de- da de uma pinça e de um bisturi, separar, vem ser armazenados em sala de cresci- cuidadosamente, as brotações com cer- mento até a formação de novos explan- ca de 5 cm (Figura 15). tes (Figura 17), com temperatura nas sa- las de incubação na faixa dos 25 °C ± 2 °C, • Em seguida, promover a formação de ex- com fotoperíodo de 12 horas. plantes, introduzindo tecidos meristemá- ticos em novo meio de cultura (Figura 16) para multiplicação. Aclimatização A aclimatização deve ser feita da seguinte maneira: • Lavar as plantas em água corrente, re- tirando-se bem todo o meio de cultura Foto: Arlena Foto: Gato aderido nas raízes e folhas velhas (usar jato leve para não feri-las). • Plantar as bananeiras em substrato. • Armazenar as plantas em casa de vege- tação com sistema de nebulização (regu- Figura 15. Separação das brotações com o auxílio de lada para nebulização de 10 segundos a uma pinça e de um bisturi. cada 5 minutos), por 20 dias. FLORICULTURA TROPICAL 132 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

aos mercados nacional e internacional de flores e plantas ornamentais tropicais.

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135

Capítulo 6 Introdução Na Amazônia, a falta de mudas seleciona- Viveiro para das – à disposição dos produtores – tem sido um dos maiores entraves no desen- produção de mudas volvimento da produção de flores e plantas de flores e plantas ornamentais. A abertura de mercados globalizados abre ornamentais a possibilidade de novos negócios, entre eles o mercado de flores tropicais e de plan- Antônio Carlos Pereira Góes tas ornamentais. No entanto, só é possível Jorge Federico Orellana Segovia alcançar tais mercados com produtos de alta qualidade. Um dos pontos que merecem destaque na solução dos problemas está relacionado à adequada infraestrutura para produção de mudas de qualidade. Assim, a Embrapa Amapá apresenta o módulo de viveiro ara- mado com sombrite e sistema de irrigação por nebulização elevada, o qual proporcio- na visualização dessa tecnologia, proporcio- nando baixo custo e elevada durabilidade.

Viveiro Viveiro é o local onde as mudas são produ- zidas, dispostas de forma regular, abrigadas em ambiente favorável, observados os cri- térios técnicos de instalação, visando obter material botânico de qualidade para ser plantado em local definitivo.

Viveiro aramado e cobertura de sombrite Esse tipo de viveiro usa o sombrite sobre uma estrutura de madeira aramada, o que resulta numa estrutura mais leve e durável e em maior relação custo-benefício (Figura 1). Uma vez comparado aos demais tipos, o viveiro aramado coberto com sombrite FLORICULTURA TROPICAL 136 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

apresenta algumas vantagens, descritas a por sua utilização em longo prazo (durabili- seguir. dade) e pela facilidade de instalação.

Estrutura Os pilares em madeira-de-lei ou de concre- to oferecem a sustentação necessária, são de fácil aquisição no mercado, além de boa durabilidade.

Aramado A sustentação do sombrite é feita sobre uma armação de arame liso galvanizado apoiado sobre os esteios e tensionados li- nha a linha, até os esticadores que ficam dispostos em todas as laterais do viveiro, a cada 4 m. Foto: Antônio Carlos Pereira Góes Foto: O arame é configurado longitudinalmen- Figura 1. Viveiro de mudas com esteios de madeira, te, perpendicular e transversal (Figura 3), com cobertura de sombrite preto. apoiando o sombrite e o sistema de irriga- ção. Cobertura Além da durabilidade e da praticidade da A cobertura com sombrite de polietileno instalação, esse modo de sustentação ga- (Figura 2) regula a intensidade de luz ho- rante menor custo em relação à madeira. mogeneamente através de toda a área do viveiro; seu custo de instalação pode ser ini- cialmente um pouco maior, mas compensa Foto: Jorge Segovia Foto: Antônio Carlos Pereira Góes Foto:

Figura 2. Viveiro de mudas com pilares de concreto, Figura 3. Armação de arame liso galvanizado estica- com cobertura de sombrite preto. da sobre mourões. CAPÍTULO 6 Viveiro para produção de mudas 137 de flores e plantas ornamentais

Construção do viveiro Água Para construir o viveiro de mudas, é de fun- A água é o recurso mais importante a ser damental importância escolher o local ade- observado no funcionamento do viveiro, quado. Dependendo de certos fatores, essa em todas as etapas de produção (Trujillo escolha pode dar a exata medida do êxito Navarrete,198-) Assim, quanto mais próxi- do empreendimento. A Figura 4 mostra a mo o viveiro estiver da fonte de água, me- planta-baixa de um viveiro de mudas. nores serão os custos de implantação, de

Figura 4. Planta-baixa de um viveiro de mudas. FLORICULTURA TROPICAL 138 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis manutenção e de funcionamento. A fonte de água deve ser, preferencialmente, de poço artesiano. Entretanto, pode ser cap- tada água de rios, lagos e poços amazonas, desde que devidamente filtrada.

Declividade do terreno Foto: Antônio Carlos Pereira Góes Foto: A inclinação ideal do terreno é de 1% a 2% (cai 1 m a 2 m em 100 m de lançante), de- vendo-se evitar declives superiores a 4% (4 m em 100 m de lançante), uma vez que, Figura 5. Viveiro com quebra-ventos de Ixora durante uma chuva, a velocidade da enxur- coccinea L. rada aumentaria, causando erosão, além de dificultar o acesso e o trânsito de máquinas e veículos. minor), as tabocas amazônicas (Guadua weberbaueri e Bambusa spp.); espécies or- namentais como a Ixória (Ixora coccinea L.), Solos ou manter uma faixa de vegetação nativa tangencial ao vento. Deve-se dar preferência a solos de textura leve a média, com boa drenagem, evitando- Quando as espécies quebra-ventos utiliza- se o acúmulo de água, o que pode acarretar das são de porte alto, a proteção vegetal o excesso de umidade e o aparecimento de deve ficar no mínimo a 10 m de distância, pragas no viveiro. Em caso de solos argilo- de forma a evitar sombreamento excessivo. sos, devem-se construir canais de dreno, de forma a escoar o excesso de água no perío- Dimensionamento do chuvoso, cujo acumulo acarretaria o sur- gimento de determinadas doenças. do viveiro O tamanho do viveiro a ser construído vai Proteção do vento depender: A ação direta dos ventos sobre as plantas • Da quantidade de mudas a produzir. pode acarretar torção e inclinação, trazen- • Do tamanho dos recipientes. do prejuízos no desenvolvimento das mu- das (Trujillo Navarrete,198-). O modelo em • Da forma de distribuição das mudas no estudo já oferece essa barreira de vegeta- espaço interno. ção nativa na lateral direita (Figura 5). Con- • Do tempo que as mudas permanecerão tudo, caso haja impossibilidade de se fazer nele. sua instalação, deve-se plantar uma cortina quebra-ventos com espécies de crescimen- O projeto apresentado neste trabalho deta- to rápido, como bambu (Bambusa vulgaris, lha a instalação de um módulo com capa- Dendrocalamus giganteus, Dendrocalamus cidade aproximada de 30 mil mudas, que CAPÍTULO 6 Viveiro para produção de mudas 139 de flores e plantas ornamentais poderá ser ampliado com outros módulos, Projeção lateral de acordo com a necessidade de produção. A Figura 6 mostra um viveiro com estica- Os esteios são dispostos a uma distância re- dores com detalhes do assentamento do gular de 4,0 m x 4,0 m, exceto nas duas faces sombrite, com tensionador em madeira que podem servir para ampliação, em que a em todas as laterais do viveiro, para permi- distância cai para 2,0 m na linha (Figura 4); tir mais segurança e apoio no esticamento medem 0,10 m x 0,10 m de espessura, com da cobertura. De qualquer forma, o arame 2,0 m de pé-direito e comprimento total de é que dá maior sustentação ao sombrite, e 2,50 m. o uso da madeira foi bastante reduzido em comparação com os viveiros tradicionais. Esse viveiro é dividido em quatro submó- Aproveitando-se do esticamento do arame, dulos, com áreas de circulação pavimenta- projeta-se uma aba de 2,2 m de compri- das com brita, para facilitar o acesso de má- mento (Figura 6), servindo de quebra-ven- quinas, de veículos e de pessoas, e permitir tos e uniformizando a luminosidade. melhor drenagem das águas; as áreas são limitadas com meio-fio, que pode ser de qualquer material disponível no local (ma- deira, tijolos, blocos de cimento, etc.). Es- ses submódulos devem ser nivelados com areia, que, além de oferecer melhor con- dição para sustentação dos sacos e outros recipientes, serve para controlar as plantas invasoras. Foto: Antônio Carlos Pereira Góes Foto: A cobertura é feita com sombrite a 50% de interceptação da luz solar, que atende à maioria das espécies cultivadas na região, entre as quais podem-se citar:

• Açaí.

• Castanha-da-amazônia.

• Cupuaçu. Figura 6. Projeção da aba nas extremidades do vivei- • Bacaba. ro com esticadores. • Graviola. Sistema de irrigação • Mangaba, etc. A irrigação de um viveiro pode ser feita de O pedilúvio (1,0 m x 1,0 m) deve ser assen- diversas formas, desde a irrigação por sul- tado na entrada principal do viveiro, de cos, passando-se pelo uso de mangueiras, modo a permitir o controle fitossanitário na regadores, aspersores, nebulizadores, por circulação de máquinas e de pessoas. gotejamento, etc. Todos esses sistemas FLORICULTURA TROPICAL 140 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

apresentam vantagens e desvantagens. Relação dos materiais, Contudo, quando a irrigação é detalhada- mente monitorada, quantificada e unifor- equipamentos e serviços mizada, as vantagens são muitas. Isso é o Os materiais usados na construção do vivei- que propõe o sistema de irrigação elevado ro desse projeto são listados na Tabela 1. por nebulização. A potência e o tipo de bomba dependem A começar pela forma prática e rápida da da distância da fonte de água até o viveiro e instalação, pelos custos dos materiais e pela da vazão do nebulizador a ser adotado. economia de água e de energia elétrica. Por ser um sistema elevado, a distribuição da De acordo com a distância da fonte de água será mais uniforme, fazendo com que água, serão necessários tubos e conexões as mudas recebam a mesma quantidade, para alimentar a linha principal; e acessó- evitando-se desperdício. rios, como: O sistema de irrigação elevado por nebu- • Martelo. lização é composto de uma linha de ali- mentação principal de 50 mm de diâmetro, • Serrote. da qual derivam 18 linhas secundárias de • Prumo. 20 mm, sendo 9 de um lado e 9 do outro (Figura 7). Em cada linha secundária, há • Esquadro. um registro e seis nebulizadores distantes 1,80 m entre si. Nesse projeto, os nebuliza- • Cavador. dores adotados são do modelo cônico, mas • Carro de mão. existem, no mercado, outros tipos e mode- los que podem ser utilizados, e até outros • Linha de náilon, etc. materiais para as linhas de distribuição. O importante é que esse sistema seja eleva- Além disso, a atividade é disciplinada por do, para garantir todas as qualidades bus- lei, e os produtores deverão procurar a Su- cadas na distribuição da água no viveiro. perintendência do Ministério da Agricultu- ra, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para efetuarem a competente regularização.

Legalização do viveiro A garantia de produção de mudas sadias e vigorosas depende em grande parte da obtenção de sementes e propágulos pro- venientes de matrizes saudáveis, robustas

Foto: Antônio Carlos Pereira Góes Foto: e de comprovada eficiência produtiva, ado- tando-se técnicas adequadas de semeio, plantio e condução das mudas. Com o advento da Lei nº 10.711, de 5 de Figura 7. Linhas secundárias de irrigação por aspersão. agosto de 2003 (Brasil, 2003), muita coi- CAPÍTULO 6 Viveiro para produção de mudas 141 de flores e plantas ornamentais

Tabela 1. Materiais, equipamentos e mão de obra necessários para a montagem da estrutura e do sistema de irrigação do viveiro de mudas

Discriminação Unid. Quant. Esteio de 0,10 m x 0,10 m x 3,0 m Unid. 65 Ripa plainada de 4 m Dz. 8 Frechal de 4 m Unid. 70 Areia m³ 30 Seixo m³ 6 Arame liso ovalado de aço zincado/galvanizado 2,40 mm x 3,00 mm, Rolo 1 rolo com de 1.000 m Arame galvanizado 0,56 mm, rolo com 125 m Rolo 3 Catraca para arame liso Unid. 16 Grampo 1 x 9 para arame kg 2 Grampo 1/8” para cabo de aço Unid. 60 Sombrite com 3 m de largura, com 50% de luminosidade m 300 Tinta PVA branca Latão 18 L 2 Prego 3 x 9 kg 3 Prego 1 ½” kg 3 Prego 2 ½” kg 3 Bomba d’água centrífuga (5 CV) Unid. 1 Nebulizador Unid. 108 Adesivo plástico tubo com 75 g Tubo 5 Fita veda-rosca, rolo de 25 m Rolo 4 Tubo PVC marrom soldável 50 mm x 6 m Unid. 6 Tubo PVC marrom soldável 20 mm x 6 m Unid. 36 Curva PVC marrom soldável 50 mm Unid. 2 Cruzeta PVC marrom soldável 50 mm Unid. 8 Tê PVC marrom soldável 50 mm Unid. 1 Tê PVC marrom soldável 20 mm Unid. 108 Registro PVC marrom roscável 50 mm Unid. 1 Registro PVC marrom soldável 20 mm Unid. 18 Adaptador PVC marrom SR 50 mm x 1 ½” Unid. 2 Adaptador PVC marrom SR 20 mm Unid. 108 Bolsa redução PVC marrom soldável 50 mm x 20 mm Unid. 18 Luva PVC roscável ½” Unid. 108 Cap PVC marrom soldável 20 mm Unid. 18 Mão de obra h/dia 120 FLORICULTURA TROPICAL 142 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis sa mudou em relação ao regulamento da • Termo de compromisso firmado pelo inspeção e fiscalização da produção e do responsável técnico. comércio de sementes e mudas. Assim, a seguir são apresentados os passos neces- A inscrição no Renasem tem validade de 3 sários para se efetuar os registros exigidos anos, podendo ser renovada por iguais pe- pela legislação federal. ríodos, desde que solicitadas e atendidas as exigências legais. Registro de produtor Dispensa de inscrição de mudas no registro Para produção, beneficiamento, reembala- São dispensados de se inscrever no registro gem, armazenamento, análise, comércio, do Mapa: importação ou exportação de mudas, fica a pessoa física ou jurídica obrigada a se ins- • A pessoa física ou jurídica que importar crever no Registro Nacional de Sementes e semente ou muda para uso próprio em Mudas (Renasem), apresentando os seguin- sua propriedade ou em propriedade de tes documentos: terceiro cuja posse detenha. • Requerimento por meio de formulário • Agricultores familiares, assentados da próprio, assinado pelo interessado ou re- reforma agrária e indígenas que multipli- presentante legal, constando as ativida- quem sementes ou mudas para distribui- des para as quais requer a inscrição. ção, troca ou comercialização entre si. • Comprovante do pagamento da taxa • Organizações constituídas exclusiva- correspondente. mente por agricultores familiares, assen- tados ou indígenas que multipliquem • Relação das espécies a serem exploradas. sementes ou mudas de cultivar local, tra- • Cópia do contrato social registrado na dicional ou crioula, para distribuição aos Junta Comercial ou equivalente, quando seus associados. pessoa jurídica, constando dentre as ati- vidades da empresa aquelas que reque- rem inscrição. Inscrição do viveiro É obrigatório o registro no Mapa de todo vi- • Cópia do CNPJ ou CPF, quando pessoa veiro de mudas destinado à exploração co- física. mercial ou industrial, inclusive aquele des- • Cópia da inscrição estadual ou equiva- tinado a florestamento ou reflorestamento. lente, quando for o caso. A formação do viveiro e das mudas, assim • Declaração do interessado de que está como o controle de pragas e doenças, deve adimplente com o Mapa. obedecer às normas e padrões técnicos vi- gentes. • Relação de instalações e equipamentos para produção, da qual conste a capaci- Caso alguém queira se inscrever no viveiro, dade operacional, própria ou de terceiros. deve apresentar a seguinte documentação: CAPÍTULO 6 Viveiro para produção de mudas 143 de flores e plantas ornamentais

• Comprovante da origem do material de • Análise de sementes e mudas. propagação. • Comercialização de sementes e mudas. • Em se tratando de cultivar protegida, autorização do respectivo detentor dos • Fiscalização da produção, do beneficia- direitos de propriedade intelectual da re- mento, da amostragem, da análise, da ferida cultivar. certificação, da reembalagem, do arma- zenamento, do transporte e da comer- • Contrato com o certificador, quando for cialização de sementes e mudas. o caso. • Utilização de sementes e mudas. • Mapas de produção e de comercializa- ção de mudas. • Compete ao Mapa a promoção, a coor- denação, a normatização, a supervisão, • Além disso, deve manter à disposição do a auditoria e a fiscalização das ações do órgão fiscalizador: SNSM. - O projeto técnico de produção. - Os laudos de vistoria do viveiro. Cabe aos estados elaborar normas e proce- - O termo de conformidade e certifica- dimentos complementares relativos à pro- do de mudas, conforme o caso. dução de sementes e mudas, bem como - Contrato de prestação de serviços, exercer a fiscalização do comércio estadual. quando estes forem executados por Privativamente, compete ao Mapa a fiscali- terceiros. zação do comércio interestadual e interna- - Demais documentos referentes à pro- cional de sementes e mudas. dução de mudas. A produção de sementes e mudas será de A seguir, são relatadas algumas considera- responsabilidade da pessoa inscrita no ções sobre o Sistema Nacional de Sementes Renasem, competindo-lhe zelar pelo con- e Mudas (SNSM) e da produção de mudas trole de identidade e de qualidade, cujos certificadas. padrões serão estabelecidos pelo Mapa, vá- O objetivo do SNSM é garantir a identidade lidos em todo o País. e a qualidade do material de multiplicação As mudas produzidas sob o processo de e de reprodução vegetal produzido, comer- certificação serão identificadas de acordo cializado e utilizado em todo o território nacional, compreendendo as seguintes ati- com a denominação das seguintes cate- vidades: gorias, acrescidas do nome comum da es- pécie: planta básica, planta-matriz e muda • Registro Nacional de Sementes e Mudas certificada. (Renasem). A produção de muda certificada fica condi- • Registro Nacional de Cultivares (RNC). cionada à prévia inscrição do jardim clonal de planta-matriz e de planta básica, e da • Produção de sementes e mudas. borbulheira, no órgão de fiscalização, obser- • Certificação de sementes e mudas. vados as normas e os padrões pertinentes. FLORICULTURA TROPICAL 144 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

A produção de muda não certificada, com em viveiro coberto com sombrite localiza- origem genética comprovada, deverá ser do no Campo Experimental da Fazendinha oriunda de planta básica, planta matriz, da Embrapa Amapá. jardim clonal, borbulheira ou muda certifi- cada. Se não houver a comprovada origem genética, a muda deverá ser produzida a Referências partir de materiais previamente avaliados BRASIL. Lei nº 10.711 de 5 de agosto de 2003. Dispõe e atender a regras específicas estabelecidas sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas e dá em normas complementares. outras providências. Diário Oficial da União, 6 ago. 2003. TRUJILLO NAVARRETE, E. Manejo de semillas, As Figuras 8 e 9 mostram mudas certifica- viveros y plantación inicial. [S.I.]: Centro de das de musáceas e de arecáceas produzidas Estudios de Trabajo, [198-]. 151 p. Foto: Antônio Carlos Pereira Góes Foto:

Figura 8. Mudas de musáceas crescendo em viveiro coberto com sombrite. Foto: Antônio Carlos Pereira Góes Foto:

Figura 9. Mudas de arecáceas crescendo em viveiro coberto com sombrite. 145

Capítulo 7 Introdução Desde meados do século passado, com o Evolução em surgimento dos modernos condomínios paisagismo e verticais, surgiram grandes jardins suspen- sos sobre concreto, e, assim, a verticaliza- floricultura tropical ção dos espaços passou a ser um fenômeno dos grandes centros urbanos, que se trans- formou na galinha dos ovos de ouro para Magda Celeste Álvares Gonçalves o mercado imobiliário. Pelo visto, esse mo- Jorge Federico Orellana Segovia dismo veio para ficar, para satisfazer a uma clientela com laços mais familiares, para quem as residências passam a ter ambiente propício à criação de espaços verdes. Contudo, considera-se que essa transfor- mação urbana nem sempre é acompa- nhada de projetos paisagísticos com áreas verdes, formando praças e/ou jardins, onde possam ser admiradas paisagens compos- tas pelas mais variadas formas, tamanhos e matizes (Figura 1), deixando de trazer os benefícios das árvores e arbustos, como sombra, infiltração da água no solo e a libe- ração de oxigênio no ambiente. A Amazônia é caracterizada por vigorosa e abundante vegetação rica em formatos e nuances das cores tropicais que inspiram arquitetos e paisagistas na criação de pra- ças, parques e jardins (Figura 2). Nesse contexto, insere-se a discussão sobre o potencial econômico que a diversidade vegetal apresenta no paisagismo regional, gerando, inclusive, oportunidades de me- lhorias da qualidade de vida da população local. É nessa perspectiva que nesses cin- turões verdes surgem alternativas de gera- ção de emprego e renda, a partir do cultivo de plantas e flores tropicais que possibili- tem a inserção de atividades referentes ao paisagismo como alternativas para o agro- negócio na Amazônia. FLORICULTURA TROPICAL 146 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis Foto: Jorge Segovia

Figura 1. Conjunto de jardim formado por espécies arbustivas, herbáceas, circundadas por gramados.

Atualmente em diversos lugares, encon- tram-se projetos paisagísticos com aspecto tropical, onde espécies da flora local são destacadas, como palmeiras como açaí

Foto: Jorge Segovia (Euterpe oleracea Mart.), oitizeiro [Licania tomentosa (Benth.) Fritsch], sumaúma (Ceiba pentandra L. Gaertn), alpínias, he- licônias, orquídeas, bromélias e bambus (Guadua weberbaueri Pilg. Paca. Hidakkuy) (Figura 3), assim como diversas espécies exóticas de múltiplo uso para a população local, como as espécies vernaculamente denominadas de coqueiros (Cocos nucifera Figura 2. Espécies arbóreas herbáceas e gramados L.), mangueiras (Mangifera indica L.), jam- se harmonizam com espelhos d’água, embelezando beiros (Syzygium jambos L.), palmeiras praças de cidades amazônicas como Manaus, AM. [Cyrtostachys renda Palm. e Dypsis lutescens CAPÍTULO 7 Evolução em paisagismo 147 e floricultura tropical Foto: Jorge Segovia

Figura 3. Taquaras (Guadua weberbaueri) crescendo na borda de espelhos d’água em praças de Belém, PA.

(H. Wendl.) Beetje & J. Dransf.], pata-de- presentes nas praças, jardins e residências -vaca (Bahuinia forficata Link), entre outras. na região amazônica. É nesse contexto que Bärtels (2007) descreve as espécies tropi- Os contrastes obtidos com gramados bem cais com potencialidades comerciais. cuidados, combinando as mais diversas espécies da família Gramineae, como gra- Com base na descrição desse autor, bus- ma-esmeralda (Wild Zoysia japonica Steud.), ca-se criar ambientes diferenciados para grama-bermudas (Cynodun dactylun L. os mais diversos gostos, com ampla varie- Pers.), grama-batatais (Paspalum notatum dade de matizes e formas de flores e folha- Flügge), grama-são-carlos (Axonopus affi- gem coloridas, cuja elegância contrasta, na nis Chase) e grama-coreana (Zoysia tenui- maioria das vezes, com a paisagem natural folia Trin.), as quais se desenvolvem bem às margens de rios e lagos, de praias ou de em clima tropical e, combinadas às espé- fontes artificiais (espelhos d’água). cies arbóreas, embelezam praças e jardins (Figura 4). Tais contrastes evidenciam a Portanto, na apreciação de paisagem, seja exuberância das plantas e flores tropicais ela voltada ao litoral atlântico ou às mar- FLORICULTURA TROPICAL 148 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

A B Foto: Jorge Segovia Foto: Magda Celeste Álvares Gonçalves

Figura 4. Tipos de gramados: arecas (Dypsis lutescens) (A) e lacas (Cyrtostachys Lakka), uma combinação perfeita de espaço e luz para jardins e praças (B).

gens de rios e lagos amazônicos, seja nos e pequenas empresas que cultivam, mes- maiores centros urbanos da região, a ten- mo que em pequena escala, para fins co- dência que permeia a moda da arquitetu- merciais. É nessa direção que Duval (2012) ra e da decoração atual seria o resgate da aponta para a criação de programa espe- essência da natureza, combinando diver- cífico que contemple a floricultura como sas espécies vegetais, compondo estratos um dos segmentos do agronegócio com emergentes de dossel e de sub-bosques. maiores potencialidades de crescimento e desenvolvimento econômico do mercado Assim, a Amazônia compõe um universo interno, bem como para exportação. Assim, de possibilidades e de inspirações esplên- didas, mesclando culturas, cores e formas modeladas pela riqueza de sua diversidade biológica. Em jardinagem e em paisagismo, harmo- nizam-se os limites das áreas com uma or- Foto: Jorge Segovia namentação de contornos contínuos, em linhas retas ou sinuosas, que enquadram e arrematam cenários perfeitos de praças e jardins tropicais (Figuras 5 e 6). Nesse contexto, há necessidade de se esta- Figura 5. Linhas sinuosas arrematando cenários belecer um programa de floricultura e jar- que combinam cravo-de-defunto (Tagetes patula), dinagem, para atender às potencialidades Cycadaceae (Cycas revoluta) e grama-esmeralda (Wild de geração de emprego e renda de famílias Zoysia japonica Steud.) em Macapá, AP. CAPÍTULO 7 Evolução em paisagismo 149 e floricultura tropical

Contudo, deve-se ter o cuidado com arran- jos de formas carregadas com ambientes excessivamente selvagens (Figura 7), mas sim contemporaneizados com a criação

Foto: Jorge Segovia de ambientes limpos, usando-se, para isso, espécies arbóreas ou herbáceas, nativas ou exóticas, de forma pontuada, evidenciando sua beleza e exuberância (Figura 8). As palmeiras amazônicas agrupadas na fa- mília Arecaceae, ordem , apresen- Figura 6. As palmeiras como os dendezeiros (Elaeis tam espécies que também vêm sendo muito guineensis Jacq.) servem de suporte às samambaias usadas em jardinocultura e em paisagismo, e melhoram a percepção de paisagens em centros como o açaizeiro (Figura 9). Essa demons- urbanos, como em Belém, PA. tração implica dizer que o arranjo produtivo local (APL) de plantas e flores tropicais seja o início de uma política de investimento em entende-se que os resultados podem ser o capacitação de produtores para essa ativida- maior indicador dessa economia em poten- de econômica na Amazônia. cial, não apenas no Amapá, mas em toda a Amazônia. Na formação de ambientes com jardins tro- picais, o trabalho sinérgico de arquitetos, agrônomos, engenheiros florestais, biólo- Foto: Jorge Segovia

Figura 7. Formas carrega- das com ambientes exces- sivamente selvagens. FLORICULTURA TROPICAL 150 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis Foto: Jorge Segovia

Figura 8. Arecáceas contrastam na paisagem com grama-amendoim (Arachis repens Handro), grama-esmeralda e cravos-de-defunto em Macapá, AP.

gos e paisagistas deve incrementar os mais ção de encontrar-se em agradáveis áreas diversos materiais, explorando ao máximo rurais (Figuras 10 a 13). os elementos naturais, como cerâmicas, ro- Tal atividade requer conhecimentos holísti- chas graníticas, espelhos d’água e espécies cos e transdisciplinares sobre os ambientes vegetais nativas. a serem trabalhados. Desde o controle de Nesses ambientes, podem-se combinar pragas às características físico-químicas do palmeiras (açaizeiros, bacabeiras) e aráceas solo e das necessidades nutricionais e fisio- de folhas grandes e coloridas (tajás), helicô- lógicas das espécies a serem cultivadas em nias, passando pelas árvores ornamentais ambientes modificados para tal propósito, (ipês), sem prescindir das orquídeas e bro- o que será abordado em capítulos posterio- res. Caso contrário, coloca-se em risco qual- mélias, tanto epífitas quanto terrestres, e quer empreendimento paisagístico. das plantas aquáticas flutuantes (aguapés), recriando ambientes úmidos da Floresta Assim, na Amazônia, igualmente a outros Tropical em jardins e praças de áreas urba- ambientes tropicais do planeta, apresenta- nas e periurbanas, de forma a dar a sensa- se grande interesse pela beleza e encantos CAPÍTULO 7 Evolução em paisagismo 151 e floricultura tropical Foto: Jorge Segovia Foto: Jorge Segovia

Figura 11. Conjunto de palmeiras-imperiais (Roystonea regia) e gramado na entrada do mercado da Praça da Bandeira, em Rio Branco, AC.

Figura 9. Touceiras de açaí (Euterpe oleracea) con- sorciadas com grama – Praça Batista Campos, em

Belém, PA. Foto: Jorge Segovia Foto: Jorge Segovia

Figura 10. Conjunto de palmeiras e helicônias Figura 12. Aguapés (Nymphaea amazonum) e cercas (Heliconia psittacorum) ornamentando fontes colori- de ixora-vermelha (Ixora coccinea L.) contrastando das em Manaus, AM. com a arquitetura campestre em Barcarena, PA. FLORICULTURA TROPICAL 152 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis que a natureza proporciona com suas flores universo forma uma combinação de matizes e plantas ornamentais, desempenhando na beleza das praças e jardins, como mostra a um papel importante no planejamento, Figura 18, que mostra a espécie palmeira- no desenvolvimento e na organização da -de-leque (Licuala grandis), a alamandra- paisagem, possibilitando maior aprovei- -roxa (Allamanda blanchetti A. DC.), com tamento e fruição de grandes espaços de suas flores amarelo-ouro crescendo sobre uso coletivo, seja nas zonas rurais, seja nas solo gramado e as helicônias (Heliconia cidades ou nos lares que abrigam os mais flamingo) no fundo. diversos tipos de atividades humanas (Figu- ras 14 a 16), fazendo sombra e produzindo Atualmente, a produção de flores e plantas frutos e servindo de suporte a vegetais epí- ornamentais tem crescente importância, fitos e a espécies da fauna como pássaros constituindo-se num dos baluartes dos ne- (Figura 17) e insetos polinizadores. Todo esse gócios de base agrária, combinando a bele- za da natureza com a beleza estética, realça- da em jardins domésticos ou públicos, em praças, parques e avenidas, transformando- se em espaços mais aprazíveis para visitação. No entanto, o cultivo e a produção exitosa de plantas ornamentais requerem tratamen-

Foto: Jorge Segovia to e atenção especiais sob condições artifi- ciais de modificação ambiental. Foto: Jorge Segovia

Figura 14. Oitizeiros (Licania tomentosa) contrastan- Figura 13. Decoração com bromeliáceas realça o do cores, luz e sombra nas praças com arquitetura do panorama de praças e jardins em Mosqueiro, PA. século 19, em Manaus, AM. CAPÍTULO 7 Evolução em paisagismo 153 e floricultura tropical Foto: Jorge Segovia Foto: Jorge Segovia

Figura 15. Marcantes tonalidades, luz e sombras de árvores e arbustos diversos na Beira Rio, em Macapá, AP. Figura 18. Combinação de matizes com palmeiras (Licuala grandis), a Apocynaceae de flores amarelas (Allamanda blanchetti) e grama das praças da região amazônica, Manaus, AM.

Foto: Jorge Segovia Uma parede despojada de qualquer orna- mentação, seja no interior, seja no exterior de um prédio residencial, comercial ou pú- blico, constitui-se num desafio para criar ou suavizar um efeito esquecido no planeja- mento arquitetônico original. Nesse caso, uma cerca viva, um arbusto ou um conjun- Figura 16. Mangueiras (Mangifera indica) proporcio- to de plantas de vaso poderiam ser a solu- nando sombra e uma temperatura mais agradável à ção para tal problema. população numa praça de Belém, PA. A manutenção e a conservação de calçadas, passarelas e outras edificações, com grama- dos, arboretos, quintais com fruteiras e ou- tras plantas ornamentais, é de grande im- portância no planejamento tanto de jardins domésticos como no de praças, visando à

Foto: Jorge Segovia comodidade das famílias urbanas e rurais. Na natureza, o desenvolvimento das plantas constitui-se num processo complexo que proporciona a formação de tecidos e a es- pecialização dos diferentes órgãos da planta até a produção. Em ambientes modificados, pode-se conduzir o crescimento das plantas, Figura 17. Faveira (Parkia spp.) servindo de suporte caso haja intervenção antrópica nas diferen- para ninhos de japiim ou xexéu (Cacicus cela). tes fases do crescimento vegetal. FLORICULTURA TROPICAL 154 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Nesse processo, a fotossíntese é fundamen- tal, já que por meio dela é que as plantas ela- boram as substâncias “alimentícias” de que necessitam para as mais diversas etapas de

seu crescimento, como a emissão de raízes, Foto: Jorge Segovia de caules, de folhas, de flores, de frutos e de sementes. Por isso, os profissionais envol- vidos em paisagismo devem estar atentos que, para o desenvolvimento de espécies arbóreas ornamentais, a energia solar é fator essencial na elaboração dos mais diversos compostos (açúcares, óleos, gorduras, ce- ras, proteínas e vitaminas) que servem para manter o crescimento dessas espécies. Por- tanto, a resposta das plantas à luz depende- rá da quantidade, da qualidade e da duração do período de luz ou fotoperíodo. Boa parte das espécies tropicais se desen- volve sob luz direta, apresentando diferen- tes mecanismos de adaptação para aprovei- tar a luz solar, como diferentes comprimen- tos de caule e diferentes cores e formatos das folhas, pecíolos e bainhas foliares. Esse é o caso da Caryota urens (Figura 19), da Ra- venala madagascariensis (Strelitziaceae), da Figura 19. Ornamentação de praças com palmeira- Cycadaceae Cycas revoluta (Figura 20) e da -rabo-de-peixe (Caryota urens) crescendo a pleno sol Alpinia purpurata (Figura 21). (Belém, PA). Certas espécies, como as plantas de sub- -bosque, desenvolvem-se à sombra, enrai- zando no solo ou nas árvores (epífitas) e, com sua estrutura foliar mais ampla, a qual tem a finalidade de maior captação de luz

solar, apresentam fototropismo positivo. Foto: Jorge Segovia Quando cultivadas em ambientes modifi- cados, a exemplo de ambientes interiores iluminados por janelas de vidro, deve-se atentar para o fato de que essas espécies crescem em direção à luz, e as folhas ten- dem a se posicionar para o lado onde há maior exposição de luz solar, ficando des- Figura 20. A Strelitziaceae (Ravenala madagasca- folhado o lado que recebe menos luz, o que riensis) e a Cycadaceae (Cycas revoluta), crescendo a termina prejudicando a arquitetura e a es- pleno sol, embelezam jardins tropicais. CAPÍTULO 7 Evolução em paisagismo 155 e floricultura tropical Foto: Jorge Segovia

Figura 21. Alpinia purpurata crescendo a pleno sol e ornamentando praças (Boa Vista, RR). tética da planta, bem como a visão panorâ- mica do local (Figuras 22 e 23). Foto: Jorge Segovia Esse problema pode ser equacionado com luz artificial (com comprimento de ondas entre 450 nm, que corresponde à faixa de luz azul, e 700 nm, que corresponde à faixa de luz vermelha, visto que nessas faixas de onda luminosa é que se verifica a melhor resposta ao processo de fotossíntese clara nas plantas) do lado oposto da fonte de luz natural, de forma a proporcionar a energia necessária para desencadear o processo fo- tossintético e o direcionamento fototrópico da folhagem, melhorando assim a arquite- Figura 22. Monstera sp. apresentando crescimento tura das plantas e o visual paisagístico. foliar voltado para o lado de maior exposição solar. FLORICULTURA TROPICAL 156 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

alpínias e samambaias), podendo-se consor- ciá-las nos mais variados ambientes públicos, como praças e balneários (Figura 29). Foto: Jorge Segovia Foto: Jorge Segovia

Figura 23. Cordyline terminalis e Chlorophytum Figura 24. Antúrios (Anthurium sp.), bromélias comosum (Liliaceae) apresentando o crescimento (Guzmania sanguinea) e palmeira-ráfia (Raphis do caule e das folhas voltado apenas para o lado excelsa) crescendo sob luz difusa em ambiente de iluminado do recinto. interior.

No caso da produção de espécies de sub- -bosque, adaptadas à luz difusa, e da for- mação de mudas de espécies em geral, devem-se modificar os ambientes, utilizan-

do-se de telados cobertos com sombrite de Foto: Jorge Segovia polietileno negro ou de aluminado.

As espécies de sub-bosque podem ser cul- tivadas em interiores de residências e em estabelecimentos comerciais com pouca luminosidade (Figuras 24 a 28).

Deve-se levar em conta que as espécies tro- picais estão expostas a um fotoperíodo de 12 horas de luz solar ao dia. Seja de forma direta, como nas espécies emergentes e de Figura 25. Quiosques decorados com orquídeas dossel (ipês), seja indireta, com luz difusa, crescendo sob ambiente coberto e presença de luz como as espécies de sub-bosque (helicônias, difusa. CAPÍTULO 7 Evolução em paisagismo 157 e floricultura tropical Foto: Jorge Segovia

Figura 26. Decoração de interiores com vasos de cerâmica marajoara cultivados com Anthurium andraeanum e com Murraya sp. ao fundo crescendo sob ambiente coberto e na presença de luz difusa. Foto: Jorge Segovia Foto: Jorge Segovia

Figura 27. Jardins de interiores com comigo-ninguém- -pode (Dieffenbachia amoena), cróton (Codiaeum variegatum), palmeiras e hera-roxa (Hemigraphis alternata) crescendo sob ambiente coberto, com pre- Figura 28. Palmeira-sagu (Cycas circinalis) crescendo sença de luz difusa, e cobertura de solo com seixo e em vaso sob luz difusa de ambiente e coberto com bolinhas de argila. sombrite. FLORICULTURA TROPICAL 158 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis Foto: Jorge Segovia Foto: Jorge Segovia

Figura 31. Palmeiras, helicônias e gramado crescen- do sob estresse hídrico e nutricional, cultivadas em praças sem sistema de irrigação e sem adubação adequada.

Figura 29. Samambaias e alpínias sob luz difusa, uma associação de espaço e da luz no balneário Los Chorros, em El Salvador. A quantidade e a qualidade da água, dis- poníveis às plantas, que, por meio de chu- va ou pelo mal uso de sistema de irrigação A importância da água e dos nutrientes es- artificial, constituem-se em fatores limitan- senciais na vida das plantas pode ser obser- tes, determinam o crescimento das plantas. vada em períodos de deficit hídricos, sobre- Isso considerando tanto o transporte de tudo em jardins e praças onde os paisagis- nutrientes (seiva bruta) e de substâncias tas, geralmente, não consideram os efeitos nutritivas (seiva elaborada) quanto o pro- desse estresse sobre as plantas (Figuras 30 cesso de fotossíntese feitos com quantida- e 31). des consideradas de água. Portanto, essa substância é fundamental na elaboração de substâncias “alimentícias” e no processo de desenvolvimento das espécies vegetais. Nos períodos de deficit hídrico, ocorre imensa perda de água através da transpira-

Foto: Jorge Segovia ção das plantas. Esse fenômeno determina a oferta de quantidades máximas de água para serem consumidas por essas plantas. Durante o período de crescimento, a defi- ciência de água das plantas pode acarretar múltiplos efeitos negativos sobre determi- nadas espécies, mas principalmente redu- Figura 30. Helicônias sob estresse hídrico e nutri- ção do crescimento e, consequentemente, cional, cultivadas em canteiro de via pública, sem da produção. As plantas ornamentais po- sistema de irrigação e sem adubação adequada. dem desenvolver tecidos grossos e fibro- CAPÍTULO 7 Evolução em paisagismo 159 e floricultura tropical sos, folhagem e flores pequenas, havendo, Outro grande desafio para a arquitetura re- muitas vezes, paralisação do crescimento e gional reside na tendência do metabolismo um período de latência, o qual pode, às ve- das economias urbanas ao longo do perío- zes, intensificar a mortalidade dos vegetais. do de consumo crescente de material rela- cionado, a fortalecer as infraestruturas exi- Algumas espécies vegetais arbóreas e ar- gidas para melhorar as condições de vida bustivas, como é o caso dos ipês (Tabebuia da população urbana. serratifolia e T. caraiba), apresentam me- canismos de proteção contra o deficit Assim, considera-se que o potencial de re- hídrico, perdendo sua folhagem para ciclagem usado atualmente na Amazônia reduzir o estresse. Outras, como a sucuúba é escasso, sugerindo que o mercado de re- (Himatanthus articulatus), apresentam se- ciclagem pode alcançar, no paisagismo, na rosidade sobre a folhagem que aumenta a floricultura e na jardinagem, importância refração da luz solar, reduzindo, assim, sua considerável nos próximos anos (Niza; Fer- transpiração e, consequentemente, o consu- rão, 2006). mo de água no período de estiagem. Na Figura 32, observam-se os fluxos dos ci- Deve-se levar em consideração que certos clos de reciclagem de diversos materiais. fatores ambientais como vento, baixa umi- Estes ciclos de reciclagem são perfeitamente adaptáveis em paisagismo e em jardinocultu- dade relativa do ar, longos fotoperíodos em ra, onde empresas contemporâneas compro- determinada época do ano e aumento da metidas com a sustentabilidade planetária temperatura promovem a intensidade da promovem o aproveitamento, tanto do lixo transpiração nos vegetais. doméstico como do industrial, dando-lhes Contudo, a oferta excessiva de água – du- uma destinação para os mais diversos usos. rante a estação chuvosa ou por irrigação – Como se pode observar à esquerda da figu- exerce um efeito adverso pela restrição da ra, na entrada direta de materiais, pode-se aeração do sistema radicular, o que deter- reciclar tanto materiais domésticos, como mina redução do crescimento das raízes e importados e ainda reaproveitar materiais área de absorção de nutrientes menor, li- reciclados e reusados. mitando o crescimento das plantas, o que resulta em plantas pouco desenvolvidas, As setas maiores, em negro, indicam o fluxo anãs e pouco vigorosas. da reciclagem destes materiais, partindo de elementos (componentes) que podem ser Portanto, projetos paisagísticos que visem recicláveis, passando desta forma a aumen- à implantação de áreas com jardins devem tar a taxa de utilização de produtos reusa- priorizar a implantação de sistemas de irri- dos no processamento de materiais de uso gação que permitam compensar o deficit de doméstico, reduzindo consequentemente água dos períodos secos prolongados e dos o acumulo de lixo descartável no ambiente. veranicos, com quantidades suficientes de Desta forma, se obtém a geração de novos água que permitam não somente a sobre- produtos de uso domésticos e/ou compo- vivência das radículas superficiais, mas tam- nentes de exportação. Neste processo, pode bém das raízes mais profundas, permitindo ocorrer a emissão de materiais usados, ou a exploração de um volume de solo maior. seja, o material excedente que não é utili- FLORICULTURA TROPICAL 160 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Figura 32. Ciclos de matéria nos processos produtivos sustentáveis. EDM = entrada direta de materiais; TUP- Ru = taxa de utilização de produtos reusados; PMUD = processamento de materiais de uso doméstico; DM = descarte de materiais usados; TUM = tempo de utilização do material; TRP = taxa de reciclagem de produtos. Fonte: Adaptado de Hashimoto e MoriguchI (2004). zado no processo, os quais são descartados tos de uso domésticos e/ou componentes para o meio ambiente (ar, água e/ou terra). de exportação. Desta forma, observa-se uma tendência de aumento no tempo de utiliza- As setas menores, em negro, indicam fluxos ção de material. que os novos produtos de uso domésticos e/ou componentes de exportação, ao final A nova tendência durante o Processamento do tempo de utilização do material, podem de Materiais de Uso Doméstico (PMUD) é o também ser reciclados e gerar novos produ- aumento das Taxas de Utilização de Produ- CAPÍTULO 7 Evolução em paisagismo 161 e floricultura tropical tos Reusados (TUPRu). Isso em virtude dos do-se um meio de vida para uma camada danos ecológicos causados pela Emissão pobre da população. Essa mudança de ten- de Materiais Usados (EUM) no ambiente, os dência é um reflexo de cunho econômico, quais vêm se tornando uma problemática que casualmente contribui na questão da mundial. sustentabilidade ambiental na jardino- cultura, mas que em grande escala irá de- A Entrada Direta de Materiais (EDM) no pro- mandar conhecimento técnico para virar cesso pode ser tanto de recursos domésti- empreendimentos de real impacto na re- cos como de importados. Entretanto, hoje dução do acúmulo de detritos domésticos entram nesse formato final materiais reusa- e industriais poluentes, e na promoção da dos ou reciclados. Assim, parte do problema sustentabilidade nas cidades. vem sendo contornado, seja pelo aumento do Tempo de Utilização do Material (TUM), Como exemplo, pode-se citar o reúso de seja pelo aumento da Taxa de Reciclagem pneus em projetos paisagísticos, substi- de Produtos (TRP). tuindo um conjunto de vasos de plantas ornamentais, dando a sensação de um es- Portanto, a tônica mundial, inclusive no Brasil, paço maior e mais alto, que contrasta com vem com foco em estados como Minas Ge- cores vibrantes na decoração com plantas rais, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande arbustivas; contrapondo com o piso, com do Sul no aumento da quantidade de produ- cobertura de herbáceas (Figuras 34 e 35). tos reusados. Como exemplo, tem-se o reúso das garrafas pet na fabricação de aquecedo- res solares, bem como os reciclados de plás- ticos na fabricação de vasos e bandejas de cultivo ou de material de irrigação.

Vale ressaltar que, no Rio Grande do Sul, já se Foto: Jorge Segovia fazem licitações governamentais para aqui- sição de produtos reciclados, fato que vem mostrando grande crescimento no incenti- vo ao desenvolvimento sustentável no País. Isso poderia ser uma tônica nas atividades hortícolas na Amazônia, onde se poderiam criar mecanismos para aumentar as taxas de reúso e reciclagem de produtos, na busca da sustentabilidade nos ciclos de produção desse setor, sejam plásticos, madeiras, me- tais e papel, produtos estes que farão parte de peças artísticas que apelam aos sentidos (cor) ou despertam sensações de forma. Em paisagismo, vêm-se promovendo o reú- so e a reciclagem de materiais descartados, Figura 33. Jardim com reúso de restos de toras de como restos de madeira serrada (Figura 33), madeira, pedras e seixos criando um espaço de equi- plásticos, seixos e outros materiais, tornan- líbrio estético. FLORICULTURA TROPICAL 162 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Portanto, é de fundamental importância da riqueza da diversidade amazônica, na re- poder contar com o apoio de políticas pú- dução das desigualdades sociais, na geração blicas que tornem os arranjos produtivos de emprego e renda, seja na promoção de locais sustentáveis, seja no aproveitamento custos competitivos para conquistar merca- do, sem esquecer as questões ambientais. Nesse contexto, os arranjos de produção de ornamentos florais a partir do reúso de pneus ensejariam o indicativo de uma fon- te de renda e diminuiriam a poluição am- biental, abrindo espaço para a criatividade de produtores quanto ao tipo de ornamen- tos, como resultados da criatividade, e em- belezariam os bairros e a cidade, podendo culminar como um concurso de paisagis- mos dos bairros, praças, alamedas, ruas e avenidas a cada ano. Outra tendência interessante é o sistema de captação de água da chuva em empre-

Foto: Jorge Segovia sas que procuram maior harmonia com a natureza e a certificação ambiental de seus Figura 34. Exemplo de jardim com reúso de pneus empreendimentos. Precisamente, os siste- criando um território vegetal em cores e formas que mas de captura da água da chuva que cai combinam com bom gosto e criatividade em Ma- capá, AP. sobre os telhados de viveiros cobertos com telhas transparentes e/ou de telhados de galpões (Figura 36). Esse mecanismo permite o armazenamen- to e o reaproveitamento da água da chuva na irrigação de viveiros e jardins residen- ciais ou públicos, bem como na limpeza em geral, reduzindo de forma considerável a utilização de água potável, que proporcio- na o crescimento e o desenvolvimento não apenas dos vegetais, mas de todos os seres vivos. Nesse contexto, os empreendimentos, como aponta Fujiwara (2012), ligados à flo- Foto: Jorge Segovia ricultura e jardinagem, devem alicerçar-se numa maior predisposição na busca por Figura 35. Reúso de pneus contrastando cores vi- brantes de espécies arbustivas em contraponto com práticas sustentáveis, compartilhando com a irreverência do tapete verde de amendoim-brabo, a sociedade a aspiração por um desenvolvi- em Macapá, AP. mento limpo. CAPÍTULO 7 Evolução em paisagismo 163 e floricultura tropical

(2008), saindo dos padrões de cultivos con- vencionais da agricultura da Revolução Verde na década de 1970 e passando a pro- cessar cultivos orgânicos, com embalagens

Foto: Jorge Segovia recicláveis e de transporte de material com veículos que usam biocombustíveis, o que pode culminar com incentivos ao agrone- gócio de flores e plantas ornamentais tro- picais em nível regional, nacional e interna- cional, com incrementos consideráveis na aquisição de matéria-prima regional. Deve-se atentar para o fato de que a qua- lidade do ambiente de trabalho é conside- rada fator determinante para a saúde física e mental da sociedade como um todo. As tarefas cotidianas serão mais ou menos es- tressantes, dependendo do ambiente de trabalho disponível. Por isso, considera-se que o meio ambiente saudável certamente contribuirá para amenizar o estresse men- tal no trabalho. Com uma amostragem representativa da população holandesa (N = 250.782), Maas Figura 36. Empreendimentos com sistemas de et al. (2006) esclarecem a existência de uma captação de água da chuva, armazenamento e rea- proveitamento desta em sistemas de irrigação, em relação significativa entre a quantidade de Mosqueiro, PA. áreas verdes no ambiente onde os indiví- duos viviam e o estado de saúde percebido, O ponto em destaque é: as empresas certi- em todos os graus de urbanização (áreas ficando e estabelecendo garantias de que rurais e urbanas). Os grupos socioeconô- seus produtos são provenientes de um pro- micos que apresentaram relação mais forte cesso socioeconômico e ambientalmente foram os idosos, jovens e os indivíduos com correto terão maiores chances de compe- o ensino médio completo residentes nas titividade nos mercados nacionais e inter- áreas urbanas. nacionais. Esse aspecto certamente coloca as empresas em condições de concorrên- Marx (1987) evidencia as interferências que cia favoráveis em relação àquelas que não as áreas verdes ajardinadas podem causar atentam para as questões de preservação às pessoas que delas desfrutam, benéficas ambiental. na medida em que auxiliam na redução do estresse e na melhora da qualidade de vida. Sob esse aspecto, a mudança de tendên- Contudo, considera que deveria se procu- cia tem como foco a sustentabilidade des- rar entender sempre as transformações e as ses empreendimentos em jardinagem e variações da natureza que despertam nos- paisagismo, como aponta Lorenzi e Souza sas emoções. FLORICULTURA TROPICAL 164 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Assim, entre os desafios que se enfrentam já são realidade em outras regiões do País, para a melhoria das condições de vida em proporcionando à população melhor quali- várias regiões do mundo, um diz respeito dade de vida. à mudança de atitude dos seres humanos para com o meio ambiente e sua maneira Assim, a Constituição Federal de 1988 veio de utilizar os recursos naturais disponíveis. contribuir para que a educação ambiental brasileira se tornasse uma exigência cons- No que diz respeito ao crescimento urbano titucional a ser garantida pelos governos da Amazônia, as políticas públicas munici- federal, estaduais e municipais (Brasil, 1988, pais e estaduais de desenvolvimento pode- art. 225, § VI). Por isso, as escolas, as univer- riam buscar, de forma participativa, a sele- sidades e os centros de pesquisa podem ser ção de áreas para implantação de espaços considerados locais apropriados para for- verdes em locais de fácil acesso e de boa talecer o planejamento de projetos paisa- visibilidade, como praças bem arboriza- gísticos, com a geração de conhecimentos das, jardins e corredores verdes no sistema científicos voltados ao desenvolvimento e viário (Figura 37), da mesma forma como à proteção do meio ambiente, construin- Foto: Jorge Segovia

Figura 37. Avenida 23 de Maio, em São Paulo, SP: um projeto paisagístico associando gramados e espécies arbóreas em canteiros divisórios do sistema viário. CAPÍTULO 7 Evolução em paisagismo 165 e floricultura tropical do propostas de criação de espaços verdes com estruturas sociais, culturais e de lazer, como campos esportivos, teatros ao ar li- vre, playgrounds, piscinas e praças.

Com isso, os projetos educativos poderão Foto: Jorge Segovia buscar a melhoria das condições da convi- vência social, na tentativa de reduzir o es- tresse urbano, bem como a transferência de informações voltadas para maior com- preensão e sensibilização da sociedade so- bre as consequências ambientais de suas ações no meio em que vive. Tais conheci- mentos são indispensáveis na elaboração de projetos sustentáveis que visem preser- var o local de vivência, podendo contribuir para a criação de ambientes que proporcio- nem melhor qualidade de vida, com locais Figura 39. Praça da República, em Belém do Pará, PA: mais aprazíveis e saudáveis, que reduzam um espaço verde público associando gramados com espécies arbóreas de mangueira (Mangifera indica). o estresse da rotina diária, aumentem a satisfação, o desempenho nas atividades cotidianas das famílias, de estudantes e trabalhadores. Enfim, de todos aqueles que vivenciam o ambiente das cidades, seja nas residências, nas escolas, nas universidades,

seja nos mais diferentes ambientes de tra- Foto: Jorge Segovia balho.

Assim, é preciso considerar que nas áreas urbanas deve-se planejar a organização e o equilíbrio entre a vegetação e as cons- truções de áreas residenciais ou públicas (Figura 38), das praças (Figura 39), das vias públicas e dos espaços em geral, que for- marão o cinturão verde.

Contudo, no planejamento municipal, as prefeituras e a secretarias de Meio Ambien- te, em sintonia com as organizações sociais, devem considerar os estudos da sustenta- bilidade no desenvolvimento urbano, le- Figura 38. Teatro das Bacabeiras em Macapá, AP: vando em conta o planejamento da arbori- um projeto paisagístico associando gramados com zação e jardinagem. palmeiras bacaba (Oenocarpus bacaba). FLORICULTURA TROPICAL 166 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Não obstante, é preciso harmonizar a se- leção das espécies arbóreas a serem plan- tadas com a infraestrutura dos municípios, como as redes de esgoto, água, energia

elétrica, telefonia, e todas as demais insta- Foto: Jorge Segovia lações nas vias públicas. Nesse tipo de empreendimento, deve-se dar atenção aos riscos do pouco desenvol- vimento radicular das árvores, ocasionando o tombamento destas durante ventanias e chuvas torrenciais, causando, muitas vezes, perdas consideráveis e prejuízos na rede elétrica e telefônica, assim como nos bens móveis e imóveis das proximidades. Evento que pode estar associado à impermeabiliza- ção do solo ao redor das árvores plantadas. Pode ocorrer também o comprometimento da estrutura de muros e paredes propor- cionado pelo crescimento lateral das raízes dessas árvores. Esses problemas podem ser controlados adotando-se áreas permeáveis (Figura 40), seja na forma de canteiro, faixa, seja na forma de pisos drenantes que per- Figura 40. Áreas permeáveis na forma de canteiro ao mitam a infiltração de água e a aeração do redor das árvores mantendo a cobertura do solo com solo, ou cortando-se as raízes laterais que amendoim-forrageiro (Arachis pintoi). avançam sobre essas estruturas.

Portanto, as dimensões para as áreas per- afetar as estruturas de muros e construções meabilizadas em calçadas, passeios ou can- em geral. Nesses casos, é indicada a cons- teiros centrais devem medir, no mínimo, trução de muros e paredes associados com 2 m² para arbustos de copa pequena (raio jardineiras (Figura 41), de forma a melhorar da copa medindo cerca de 1 m) e 3 m² para a decoração e a qualidade ambiental de árvores de copa grande (raio medindo cer- centros urbanos, sem gastos exorbitantes, ca de 8 m). usando-se espécies herbáceas com baixo custo de implantação. As calçadas devem medir no mínimo 2,4 m de largura, onde não é obrigatório o recuo Vale lembrar que o espaço livre mínimo das edificações. Em calçadas com largu- para o trânsito de pedestres em locais pú- ra inferior a 1,5 m, não é recomendável o blicos deve ser de 1,20 m, conforme a NBR plantio de árvores, pois suas copas impe- 9050/94 de “Acessibilidade a edificações, dem o trânsito normal de pedestres, sem mobiliário, espaços e equipamentos urba- contar que o sistema radicular dessas ár- nos” (Associação Brasileira de Normas Téc- vores, por sua proximidade, terminaria por nicas, 1994). CAPÍTULO 7 Evolução em paisagismo 167 e floricultura tropical Foto: Jorge Segovia

Figura 41. Muros associados com jardineiras cultivadas com espécies tropicais.

Considerações finais Referências Enfim, acredita-se que haja um novo em- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050: acessibilidade a edifcações, mobiliário, espaços e penho global para se resolver em grande equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 1994. medida os impactos negativos causados ao meio ambiente, associados à má qualidade BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado de vida nos centros urbanos. Da mesma for- Federal, 1988. ma, renasce a esperança na educação e nas políticas de desenvolvimento sustentável voltadas à implantação de estratégias na construção de formas de vida mais harmo- niosas, construídas de forma participativa pelas sociedades, como um todo.

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Capítulo 8 Breve histórico do uso e das pesquisas com Plantas tóxicas espécies vegetais utilizadas como plantas ornamentais Uso de plantas para amenizar dores, tratar em jardinagem e moléstias e repelir insetos paisagismo Os inúmeros acidentes e mortes por inges- tão se perderam no tempo (Berg, 1982). Raullyan Borja Lima Silva Desde a pré-história, o ser humano procu- rou aproveitar os princípios ativos existen- João da Luz Freitas tes nos vegetais, embora de modo total- Ivanete Lima e Silva mente empírico ou intuitivo, baseado em descobertas ao acaso (Berg, 1993). Antigos textos caldeus, babilônicos e egípcios já tra- ziam referências a certas espécies vegetais usadas em rituais religiosos (Berg, 1982).

No caso específico do Brasil, desde os tem- pos coloniais, a rica flora brasileira tem sido objeto de estudo. Piso (1648) fez uma das primeiras edições dedicada à flora brasilei- ra, com riquezas de detalhes e ilustrações. Tratados importantes, como Pio Corrêa (1926), Cruz (1965) e Caminhoá (1884), eram de cunho geral, sobre plantas de in- teresse econômico ou ornamental, entre as quais várias de origem amazônica.

Matta (1913), com a Flora Médica Brasilien- se, já ressaltava a importância de serem estudadas, metódica e cientificamente, as plantas da Amazônia, num trabalho con- junto de botânicos, químicos, biólogos, farmacólogos e clínicos. Le Cointe (1947) é autor da obra Amazônia brasileira III: árvo- res e plantas úteis (indígenas e aclimatadas), que até hoje constitui importante fonte de referências para pesquisadores de diversas áreas de Biologia e de Química. FLORICULTURA TROPICAL 170 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Em 1980, o padre José Maria de Albuquer- Função histórica que publicou o livro Plantas tóxicas, no jar- dim e no campo, no qual ressalta que, na das áreas verdes Amazônia, ocorre extraordinário número Desde a mais remota lembrança do passa- de plantas tóxicas e suspeitas de toxidez, do, as plantas estão presentes na história nativas e exóticas, tanto nos campos como dos seres humanos. Elas são os elementos nos jardins de residências, além de praças naturais mais evidentes do planeta. O sim- públicas. bolismo arbóreo já fez parte de todas as religiões, estando o ciclo de vida, morte e Berg (1982) conduziu trabalho sobre siste- regeneração de uma árvore, bem como mática de plantas medicinais da Amazônia, seus órgãos e estruturas, simbólica e signi- que muito tem contribuído para identificar ficativamente relacionados com aspectos corretamente esses vegetais empregados da vida e da morte (Monico, 2001). na medicina natural e no sistema alimentar Na Antiguidade, os espaços arborizados do amazônida. (praças e jardins) se destinavam, essencial- Oreste e Panizza (1981), no livro Plantas mente, ao uso e ao prazer dos imperadores tóxicas, fazem uma abordagem geral das e sacerdotes. Já na Grécia, tais espaços fo- ram ampliados, não apenas para passeios, principais plantas com essa potencialidade, mas também para encontros e discussão identificando espécies, bem como desco- filosófica. Por sua vez, em Roma, os espaços brindo modos de evitar acidentes e suge- verdes eram destinados ao prazer dos mais rindo medidas de primeiros socorros. afortunados. Na Idade Média, as áreas ver- Lima et al. (1995), no trabalho intitulado Le- des são formadas no interior das quadras e depois, em decorrência do crescimento vantamento de plantas tóxicas em duas co- das cidades, desaparecem com as edifica- munidades caboclas do estuário amazônico, ções. No Renascimento, transformam-se por meio de informações obtidas dos mo- em gigantescas cenografias, evoluindo no radores locais, identificaram espécies con- Romantismo, como parques urbanos e lu- sideradas venenosas, realizando sua classi- gares de repouso e distração dos citadinos ficação botânica, principais efeitos tóxicos (Silva, 1997). causados, bem como as partes vegetais responsáveis pela intoxicação. Com o surgimento das indústrias e com o crescimento das cidades, os espaços verdes Oliveira et al. (2003) publicaram o livro Plan- deixaram de ter função apenas de lazer e tas Tóxicas: conhecimento e prevenção de passaram a ser uma necessidade urbanísti- acidentes, no qual fazem um relato sobre os ca, de higiene, de recreação e de preserva- principais princípios ativos existentes nos ção do meio ambiente urbano. A Carta de vegetais, bem como as principais plantas Atenas, citada por Le Corbusier, exigiu que com propriedades venenosas encontradas [...] todo bairro residencial deve contar com a no Brasil, com seus respectivos princípios superfície verde necessária para a ordenação ativos, partes tóxicas e sintomatologias de dos jogos e desportos dos meninos, dos ado- lescentes e dos adultos”, [...] e que as “novas intoxicação. superfícies verdes devem destinar-se a fins cla- CAPÍTULO 8 Plantas tóxicas utilizadas como plantas 171 ornamentais em jardinagem e paisagismo

ramente definidos: devem conter parques in- 1,4 milhão de espécies, sendo 250 mil de fantis, escolas, centros juvenis ou construções plantas. Esses números poderão aumentar, de uso comunitário, vinculados intimamente à sensivelmente, ao serem incluídas espécies vivenda (Silva, 1997, p. 273). ainda não descritas, embora muitas delas já tenham sido coletadas e apresentam valor Diante disso, o Direito Urbanístico passou socioeconômico potencial. a se preocupar com os espaços verdes nas cidades, procurando preservar as áreas Segundo estimativas de Prance (1977), Giu- existentes em detrimento das eventuais lietti e Forero (1990) e Mcneely et al. (1990), construções. Atualmente, por meio do zo- o Brasil possui uma expressiva biodiversi- neamento, tenta-se impedir ou reduzir as dade, com estimativas de 55 mil espécies áreas edificantes, disciplinando os espaços de plantas superiores que representam e preservando o meio ambiente. É nos pla- 22% do total planetário. nos diretores das cidades que se procura disciplinar os espaços para cada tipo de O Brasil possui grande biodiversidade, e, ocupação, regulando o uso e o parcela- em termos de Amazônia, o número de es- mento do solo. Procura-se também ampliar pécies consideradas somente são estimati- esses espaços, criando-se jardins, praças e vas, em razão da magnitude da biodiversi- cinturões verdes, com o intuito de minimi- dade regional, o que indica a conveniência zar ou de separar as zonas industriais das de estimularem-se estudos complementa- zonas residenciais (Sirvinskas, 1998). res para validar as informações existentes, pois estima-se que, somente em termos da No dizer de José Afonso da Silva, é impor- flora, devam existir entre 35 mil e 50 mil es- tante ressalta que “nem toda área urbana pécies de plantas vasculares, sendo muitas arborizada entra no conceito de área ver- tanto de interesse econômico quanto me- de”. Assim, o verde, a vegetação, destinada, dicinais, oleaginosas, alimentícias, pestici- em regra, à recreação e ao lazer, constitui das naturais, fertilizantes e tóxicas (Gentry, o aspecto básico do conceito, o que sig- 1982; Salati, 1983). nifica que, onde isso não ocorrer, teremos arborização, mas não área verde, como é Os expressivos níveis de biodiversidade o caso de uma avenida ou de uma alame- apresentados pela Amazônia podem ofere- da arborizada, porque, aqui, a vegetação é cer grande número de oportunidades e de acessória, ainda que seja muito importante, alternativas socioeconômicas para uso sus- visto que também cumpre aquela finalida- tentável de sua diversidade. Por sua vez, se de de equilíbrio ambiental, além de servir encontra um processo de deterioração dos de ornamentação da paisagem urbana e de ecossistemas amazônicos, com consequen- sombreamento à via pública (Silva, 1997). te perda dos recursos da biodiversidade e graves problemas de aculturação, fazendo desaparecer ou suprimir etnias nativas, com Plantas tóxicas irremediável perda de seus conhecimentos tradicionais sobre o manejo de plantas, seu Em termos globais, Wilson (1988, 1997) es- aproveitamento e utilização. tima que existam entre 5 e 30 milhões de espécies de organismos vivos, embora o É de conhecimento geral que, no reino ve- número atual de espécies descritas seja de getal, as plantas desempenham as mais FLORICULTURA TROPICAL 172 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis diferentes funções, com graus variados de mental. Isso se refere tanto ao vegetal in- utilização. teiro como as partes dele, ou ainda, apenas a substância ativa extraída por processos As plantas são seres vivos complexos e, como químicos e ministrada pura ou em combi- tais, apresentam metabolismo extraordi- nações (Hoehne, 1978). nário, capaz de produzir grande variedade de substâncias químicas. Algumas dessas Segundo Fernandes (1995), aplica-se o ter- substâncias – como as proteínas, os lipídios, mo “veneno” para substâncias que por suas os carboidratos e os ácidos nucleicos – são propriedades naturais, físicas, químicas ou comuns a todos os seres vivos e usadas no físico-químicas alteram o conjunto orgâ- crescimento, na reprodução e na manuten- nico em decorrência da sua incompatibili- ção dos vegetais (Oliveira et al., 2003). dade vital, conduzindo o organismo vivo a reações biológicas diversas. Existem as chamadas plantas medicinais que têm em sua composição elementos que Para indicar o grau de nocividade de uma propiciam a cura e que são usadas em forma substância por meio de sua ação fisiológica, de remédio (caseiro ou não) (Guarim Neto, devem-se relacionar o estado, as condições 1996). e a pré-disposição do indivíduo, que po- dem aumentar ou atenuar os efeitos tóxi- No entanto, um número elevado de com- cos da substância e a combinação química postos químicos produzidos pelos vegetais entre elas, determinando efeitos diretos e serve a outros propósitos. Os pigmentos imediatos, afetando a vitalidade do orga- (flavonoides, antocianinas e betalaínas) e nismo (Zanini, 1989). os óleos essenciais (monoterpenos, ses- quiterpenos e fenilpropanoides) atraem Com base nesse aspecto, a intoxicação ve- polinizadores, enquanto algumas outras getal pode ser: fulminante – quando cau- substâncias, como os taninos, lactonas ses- sa a morte do indivíduo; aguda – quando quiterpênicas, alcaloides e iridoides, além o organismo apresenta defesa e crônica de apresentarem sabores desagradáveis, – quando o indivíduo apresenta equilíbrio podem ser tóxicas e irritantes para outros funcional orgânico que inibe a atividade tó- organismos. Essas substâncias funcionam xica (Lima et al., 1995). como dissuasórios alimentares e protegem as plantas contra predadores e patógenos As plantas tóxicas, muitas das quais são (Oliveira et al., 2003). ornamentais, podem ser encontradas em jardins, quintais, parques, vasos, praças, ter- Têm-se então algumas espécies que não renos baldios. Algumas dessas plantas são produzem propriedades benéficas, e sim bastante conhecidas e bonitas, mas quan- prejudiciais à saúde humana (Albuquerque, do colocadas na boca ou manipuladas, 1980). São as chamadas plantas tóxicas ou podem causar graves intoxicações, princi- plantas venenosas. palmente em crianças menores de 5 anos (Albuquerque, 1980). Plantas venenosas ou plantas tóxicas são aquelas que, após contato ou ingestão por Tais plantas têm sido responsáveis por animais ou por humanos, podem acarretar grande número de casos de intoxicação em danos que se refletem na saúde ou na vita- humanos e em animais domésticos em di- lidade, levando a degenerescência física ou versas regiões do Brasil. Em muitos casos, CAPÍTULO 8 Plantas tóxicas utilizadas como plantas 173 ornamentais em jardinagem e paisagismo pouco se conhece sobre a estrutura morfo- tigadas em determinada fase do seu cres- lógica da espécie, assim como o princípio cimento; outras são tóxicas em qualquer ativo causador da intoxicação. Para o pro- fase. Assim, tanto a espécie da planta como fissional farmacêutico, essas informações sua fase de desenvolvimento e a estação do são de suma importância para auxiliar na ano podem ser importantes na determina- diferenciação entre espécies que também ção do risco (Oreste; Panizza, 1981). são citadas como plantas medicinais, aro- máticas, entre outras. As substâncias tóxicas existentes nas plan- tas são de natureza química de vários tipos, Atualmente, existem grupos mais ou me- como: alcaloides, glicosídeos, resinas, fe- nos definidos de acordo com sua utilida- nóis, álcoois, cristais de oxalato e fitotoxinas de (ornamentais, comestíveis, forrageiras, (Oreste; Panizza, 1981), mas nem sempre a medicinais, tóxicas, etc.). Os grupos das substância responsável pela intoxicação é plantas medicinais e tóxicas ocasionalmen- conhecida (Albuquerque, 1980). te são tomados indistintamente, já que se tem o pressuposto de conterem princípios O látex de certas plantas e os ráfides (cris- ativos, que, dependendo da dose, podem tais aciculares de oxalato de cálcio) agem ser benéficos ou tóxicos para o organismo provocando irritação na mucosa e na pele, (Barcellos, 2004). o mesmo acontecendo com os pelos urti- cantes. Há, ainda, plantas responsáveis por Na realidade, isso é correto, só que o uso acidentes alérgicos, que provocam asma inadequado das plantas tem causado e se- brônquica, rinite, urticária e dermatite (Al- gue causando sérios problemas de intoxi- buquerque, 1980). cação ou de envenenamento; muitas vezes, esse envenenamento pode ser mortal ao se O princípio tóxico pode ocorrer em todas as ingerir parte ou partes de plantas altamen- partes da planta, ou concentra-se num ou te tóxicas, mesmo em doses baixas (Barcel- noutro órgão, principalmente na semente. los, 2004). A intoxicação aguda por plantas costuma manifestar-se por distúrbios digestivos, A cada ano, grande número de crianças como náusea, vômito, cólica abdominal e ingere plantas potencialmente venenosas. diarreia; distúrbios cardiovasculares, como Apesar de a maioria não apresentar sinto- taquicardia (alterações do ritmo cardíaco), mas que exigem internações, algumas são pulso irregular, além de hipotensão (que- gravemente e até mortalmente envenena- da de pressão arterial), seguida de colapso das, geralmente, por quantidades muito cardiovascular; distúrbios neuropsíquicos, pequenas da parte lesiva (folha, fruto, flor, como movimentos incoordenados, pertur- raiz ou caule) (Oreste; Panizza, 1981). Na re- bações visuais, hiperexcitabilidade, estado gião Norte, 57% dos casos de acidentes por de agitação, confusão mental e alucinação plantas tóxicas ocorrem na faixa etária de 1 (Albuquerque, 1980). a 4 anos (Fundação Oswaldo Cruz, 2000). A importância do grupo das plantas tóxi- Algumas plantas só intoxicam se forem cas não está presente só nos riscos que elas mastigadas ou ingeridas. Outras causam representam, mas também nos benefícios alergias, inflamações ou lesões de pele. Al- que podem proporcionar, quando se lhe é gumas são perigosas, se ingeridas ou mas- dado um uso adequado. Muitos dos com- FLORICULTURA TROPICAL 174 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis ponentes químicos, empregados na farma- No Amapá, muitas são as plantas utilizadas cologia, são elaborados por essas plantas pela população e pelo poder público para e uma grande quantidade dos vegetais ou ornamentação de jardins, praças e quintais suas partes estão representadas em infu- para criar um clima mais ameno e de bem- sões, unguentos e macerados empregados -estar de domicílios e logradouros públicos. na medicina tradicional (Barcellos, 2004). No entanto, um número muito grande de espécies utilizadas nessas ornamentações Grandes têm sido os benefícios da medi- tem potencial de toxidade, o que é um cina alopática, das substâncias obtidas de perigo real, diante da possibilidade de aci- algumas plantas (papoula – Papaver som- dentes com animais, e principalmente com niferum L.), cujo uso tem sido como anes- crianças por ingestão ou por contato dér- tésico e analgésico; a digitalina (Digitalis mico. purpurea L.), que se emprega em afecções cardiovasculares, ou como regulador car- Assim, a demanda e a urgência justificam díaco; os alcaloides da beladona (Atropa estudos que reúnam, de maneira criteriosa, belladonna L.), que atuam nos problemas o máximo possível de informações sobre oculares, e como antiespasmódicos, sedati- flora tóxica, utilizada em processos de jardi- vos e anti-hipertensivo; e o azeite extraído nagem e de paisagismo em locais públicos das sementes de mamona (Ricinus commu- em Macapá, AP. Por isso, foram feitos levan- nis L.), amplamente empregado como pur- tamento e identificação das plantas com gante (Barcellos, 2004). potencialidade tóxica usadas em processos de jardinagem e de paisagismo, em praças O estudo das plantas tóxicas permite o au- de Macapá, conduzindo sua classificação e mento do conhecimento científico sobre identificação botânicas, visando auxiliar e essas espécies, e consequentemente a va- fundamentar estudos mais aplicados à to- lidação de seu uso e emprego para tanto xicologia vegetal e gerar informações que evita problemas de acidentes por ingestão possam auxiliar os órgãos governamentais ou contato dérmico, bem como na utiliza- em campanhas de conscientização quanto ção em controles biológicos de pragas na ao uso e perigos dessas plantas, para be- agricultura e na fabricação de inseticidas e nefício e conhecimento da população em repelentes. geral.

Além dos inquestionáveis malefícios e be- Com isso, seria facilitado o reconhecimento nefícios sociais das plantas tóxicas, outros das principais plantas tóxicas, os distúrbios de caráter econômico devem ser conside- que determinam e as medidas de primeiros rados. Por exemplo, em países desenvol- socorros nos casos de intoxicação, que será vidos, como os Estados Unidos, 25% dos de grande utilidade para médicos, outros medicamentos comercializados e produ- profissionais de saúde (enfermeiras, farma- tos no combate a insetos e fungos contêm cêuticos, entre outros) e mesmo por leigos substâncias ou princípios ativos de origem e seus filhos, para evitar acidentes, muitos vegetal, articulando um mercado de US$ 8 desses graves e levando à morte, uma vez bilhões de dólares por ano (Farnsworth et que essas praças são caracterizadas por al., 1985). abrigarem plantas com potencial de toxici- CAPÍTULO 8 Plantas tóxicas utilizadas como plantas 175 ornamentais em jardinagem e paisagismo dade em seus arranjos de jardinagem e de tudos e Pesquisas do Estado do Amapá paisagismo em Macapá, AP. (Iepa). • Coleta de dados na literatura especiali- Localização da zada sobre as propriedades toxicológi- área de estudo cas das espécies vegetais existentes nas praças. No município de Macapá, AP, foram selecio- nadas seis praças públicas muito visitadas O trabalho de campo para coleta dos dados por populares, por sua fácil acessibilidade, foi conduzido de julho de 2005 a julho de por serem tradicionais e por possuírem um 2006. Para a coleta do material botânico, processo de jardinagem e paisagismo im- para fins de classificação botânica e inte- plantado, que são (Figuras 1 e 2): gração posterior ao herbário do Iepa (Ha- mab), utilizou-se a metodologia convencio- • Praça Nossa Senhora de Fátima. nal e herborizadas segundo as técnicas ha- bituais recomendadas por Fidalgo e Bononi • Praça Floriano Peixoto. (1989), Martin (1995) e Ming (1996) ou seja, • Praça da Bandeira. as amostras coletadas foram processadas em campo e cada uma recebeu um núme- • Praça Veiga Cabral. ro de coleta, marcado em etiqueta previa- • Praça Barão do Rio Branco. mente preparada, que foi amarrada a esta, contendo seu nome vernacular. • Praça Zagury. Os dados de campo referentes a cada uma Segundo o IBGE (2000), o município de Ma- das amostras foram anotados em caderne- capá possui 283.308 habitantes, sendo que, ta de campo, no momento da coleta ou da desse total, 270.628 habitantes moram na prensagem. Assim, foram coletadas cinco zona urbana e têm acesso a esses logradou- amostras de cada espécie. ros. As coletas foram feitas ao mesmo tempo em que as espécies foram fotografadas para se Pesquisa de campo poder dar maior suporte na identificação de cada espécie. Alguns espécimes tiveram de • Nesse trabalho, foram feitas: ser coletados mais de uma vez, para checa- • Coleta das plantas utilizadas nas praças, gem no processo de identificação. Os nomes no processo de jardinagem e de paisa- científicos das espécies foram corroborados gismo, com a devida classificação botâ- utilizando-se a Base de Dados Trópicos do nica e selecionando-se, em especial, as Missouri Botanical Garden. de propriedades tóxicas. A identificação e a classificação do material • Identificação do material botânico cole- botânico foram executadas por técnicos e tado no Laboratório de Morfologia Vege- especialistas da Divisão de Botânica do Ins- tal e Herbário Amapaense da Divisão de tituto de Pesquisas Científicas e Tecnológi- Botânica do Centro de Pesquisas Zoobo- cas do Estado do Amapá (Iepa), mediante a tânicas e Geológicas do Instituto de Es- descrição das principais características ve- FLORICULTURA TROPICAL 176 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Figura 1. Localização das praças pesquisadas no município de Macapá, AP. CAPÍTULO 8 Plantas tóxicas utilizadas como plantas 177 ornamentais em jardinagem e paisagismo

Figura 2. Localização das praças pesquisadas no município de Macapá, AP. Fonte: Google Earth (2012). getativas e, quando possível, florais de cada tóxicas incluídas em 13 famílias e em 23 amostra, uso de chaves para gêneros e es- gêneros. A Tabela 1 mostra as espécies ca- pécies, além da comparação com exsicatas talogadas e as respectivas praças onde elas do Herbário Amapaense (Hamab). foram encontradas. É de fundamental importância a identifica- ção científica das espécies, pois os nomes Número total de comuns das plantas não são confiáveis, porque variam muito e um mesmo nome, espécies coletadas às vezes, é usado para diferentes espécies. por praça estudada Por isso, é essencial a correta identificação dada pelo nome científico, que é sempre Do total das 28 espécies identificadas, a grafado em latim e codificado em itálico, Praça da Bandeira, com 20 espécies, foi a em todo o mundo. que apresentou o maior número, sendo se- guida pela Praça Veiga Cabral, com 7 espé- cies, sendo as Praças Barão do Rio Branco e Espécies tóxicas Nossa Senhora de Fátima, com 5 espécies catalogadas nas praças catalogadas, que apresentaram o menor públicas de Macapá número (Tabela 2). No trabalho de campo, foram catalogadas, Em todas as praças pesquisadas, uma ca- coletadas e devidamente identificadas 28 racterística observada nas pesquisas é que espécies de plantas utilizadas em jardina- sempre existe uma ou poucas espécies gem e em paisagismo, com propriedades dominando o ambiente, tendo elas pouca FLORICULTURA TROPICAL 178 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis ● ● ● Continua... Zagury ● ● ● ● Veiga Veiga Cabral ● ● ● ● Nossa Nossa Fátima Senhora de Senhora Praça ● ● ● Peixoto Floriano Floriano ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● Bandeira ● Barão Barão do Rio Branco dracena- Dracena, -vermelha Cróton, folha-imperial Vinca, boa-noite Vinca, Brasileira, tajá- Brasileira, -brasileirinho Flamboyant- -mirim Cosmo-amarelo, Cosmo-amarelo, picão Primavera, buganvile, três-marias Tajá, taioba Tajá, Alamanda- -amarela, dedal-de-dama Tajá Agave Nome vernacular Agave Agave Família Asparagaceae Euphorbiaceae Apocynaceae Araceae Fabaceae Asteraceae Nyctaginaceae Araceae Apocynaceae Araceae Asparagaceae Asparagaceae Asparagaceae (L.) terminalis Cordyline Kunth variegatum Codiaeum A. Juss. (L.) Rumph. ex (L.) roseus Catharanthus G. Don Caladium lindenii Caladium Madison (André) Caesalpinia pulcherrima Caesalpinia (L.) Sw. (Cav.) (Cav.) Bidens sulphurea Sch. Bip. spectabilisBougainvillea Willd. macrorrhizos Alocasia (L.) G. Don L. Allamanda cathartica Alocasia sp.Alocasia Nome científico Nome Perrine sisalana Perrine Agave Engelm. ex Agave angustifolia Haw.Agave L. americana Agave Espécies tóxicas catalogadas, coletadas e identificadas nas praças públicas de nas praças Macapá, AP. e identificadas coletadas catalogadas, 1. Espécies tóxicas Tabela CAPÍTULO 8 Plantas tóxicas utilizadas como plantas 179 ornamentais em jardinagem e paisagismo ● ● ● Zagury ● ● Veiga Veiga Cabral ● Nossa Nossa Fátima Senhora de Senhora Praça ● ● ● Peixoto Floriano Floriano ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● Bandeira ● ● ● ● Barão Barão do Rio Branco

Iuca-elefante, Iuca-elefante, iuca-mansa Turnera Espada-de-são- -jorge Tajá Flor-de-coral, russélia Pião-roxo Ixora-rei Ixora-coral Ixora-vermelha Papoula, hibisco Papoula, Aveloz, árvore- Aveloz, -de-são-sebastião, coroa-de-cristo Ficus Nome vernacular Duranta, violeteira Duranta, Dracena, coqueiro- Dracena, -de-vênus, pau-d’água Comigo-ninguém- -pode Família Asparagaceae Passifloraceae Asparagaceae Araceae Plantaginaceae Euphorbiaceae Rubiaceae Rubiaceae Rubiaceae Malvaceae Euphorbiaceae Moraceae Verbenaceae Asparagaceae Araceae Yucca elephantipes Yucca Regel Trel. ex Turnera ulmifolia L. Turnera Sansevieria trifasciata Prain Philodendron imbe Philodendron Schott Endl. ex equisetiformis Russelia & Cham. Schltdl. Jatropha gossypiifolia L. Jatropha Ixora macrothyrsa macrothyrsa Ixora & Binn. Teijsm. L. coccinea Ixora Ixora chinensis Lam. Ixora Nome científico Nome L. Hibiscus rosa-sinensis L. tirucalli Euphorbia benjamina L. Ficus L. repens Duranta (L.) fragrans Dracaena Ker Gawl. Dieffenbachia picta Schott Tabela 1. Continuação. Tabela FLORICULTURA TROPICAL 180 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

diversidade, com exceção da Praça da Ban- Tabela 2. Total de espécies catalogadas nas pra- ças estudadas. deira.

Nº de Frequência As espécies Allamanda cathartica L., Praça espécies relativa (%) Caesalpinia pulcherrima (L.) Sw. e Hibiscus Bandeira 20 71,4 rosa-sinensis L. (Figuras 3A e 3B) foram as que Veiga Cabral 7 25,0 mais se destacaram, aparecendo em quatro Floriano Peixoto 6 21,4 praças das seis estudadas, vindo em segui- Zagury 6 21,4 da de Agave americana L., Caladium lindenii Barão do Rio 5 17,9 Hort. (Figuras 4A e 4B), de chanana (Turnera Branco ulmifolia L.) e de Hibiscus rosa-sinensis L. Nossa Senhora 5 17,9 de Fátima (Figuras 5A e 5B), as quais foram cataloga- das em três praças cada.

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 3. Allamanda cathartica L. (A); Caesalpinia pulcherrima (L.) Sw. (B).

A B Foto: Jorge Segovia Foto: Raullyan Borja Lima Silva

Figura 4. Agave americana L.(A); Caladium lindenii Hort. ex Engl. (B) CAPÍTULO 8 Plantas tóxicas utilizadas como plantas 181 ornamentais em jardinagem e paisagismo

A B Fotos: Raullyan Borja Lima Silva

Figura 5. Chanana (Turnera ulmifolia L.) (A); Hibiscus rosa-sinensis L. (B).

Famílias botânicas partes das plantas, em células especiais de- nominadas idioblastos, conhecidas como mais frequentes nas células injetoras, por causa da forma como praças estudadas esses cristais são liberados (Oliveira et al., 2003). Os cristais de oxalato de cálcio são Das 13 famílias identificadas, as mais fre- perfurantes e, quando em contato com as quentes foram: Asparagaceae (7 espécies – mucosas, destroem as células, causando 25%), Araceae (5 espécies – 17,86%), Euphor- dor e edemas (Costa, 1978). biaceae e Rubiaceae (3 espécies – 10,71%) e Apocynaceae (2 espécies – 7,14%). As outras 8 famílias tiveram frequência de citação de uso igual a uma espécie (3,57%) (Figura 6). A família Araceae – a mais frequente – é constituída por plantas herbáceas e suba- quáticas. Apresenta limbo foliar expandido, inflorescência do tipo espádice, com uma espata geralmente vistosa, e encontrada no continente americano. Segundo Oliveira et al. (2003), as plantas dessa família são causadoras comuns de intoxicações em crianças, pois muitas são usadas para fins ornamentais e por isso des- pertam o interesse delas, atraídas por suas folhas e inflorescências grandes e vistosas. Essas plantas são tóxicas, principalmente por causa da presença de cristais de oxalato de cálcio na forma de agulhas, denomina- Figura 6. Famílias mais frequentes por número de das ráfides, que se encontram em todas as espécies catalogadas. FLORICULTURA TROPICAL 182 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

O mecanismo de reação alérgica é possi- Gêneros botânicos velmente mediado pela presença de subs- tâncias irritantes, que atuariam juntamente mais frequentes nas com os cristais de oxalato de cálcio (Oliveira praças estudadas et al., 2003). Dos 23 gêneros identificados, os mais fre- As espécies da família Araceae, coletadas quentes foram: Agave e Ixora (três espécies – nas praças, foram: tajá (Alocasia sp.); tajá, 10,71%) e Alocasia (duas espécies – 7,14%). taioba [Alocasia macrorrhizos (L.) G. Don]; Os outros 20 gêneros tiveram frequência de brasileira, tajá-brasileiro [Caladium lindenii citação de uso igual a uma espécie (3,57%) (André) Madison]; comigo-ninguém-pode, (Tabela 3). aninga-do-pará (Dieffenbachia picta Schott)

e tajá (Philodendron imbe Schott) (Figuras B 7A e 7B; e Figuras 8A e 8B).

A Foto: Jorge Segovia Foto: Raullyan Borja Lima Silva

Figura 7. Alocasia sp. (A); Alocasia macrorrhizos (L.) G. Don (direita).

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 8. Dieffenbachia picta Schott (A); e Philodendron imbe Schott ex Endl (B). CAPÍTULO 8 Plantas tóxicas utilizadas como plantas 183 ornamentais em jardinagem e paisagismo

cies, em todo o corpo do vegetal e das 28 Tabela 3. Gêneros mais frequentes por número de espécies catalogadas nas praças estudadas. espécies catalogadas. As partes mais fre- quentes nas espécies com princípios ativos Frequência Frequência venenosos foram: as folhas, as flores, todas Gênero absoluta relativa as partes do corpo vegetal, as sementes e (nº) (%) os frutos (Tabela 4). Agave 3 10,71 Ixora 3 10,71 Tabela 4. Partes das plantas com propriedades Alocasia 2 7,14 tóxicas. Allamanda 1 3,57 Frequência Bidens 1 3,57 Frequência Parte tóxica absoluta relativa (%) Bougainvillea 1 3,57 (nº) Caesalpinia 1 3,57 Folhas 19 37,25 Caladium 1 3,57 Flores 9 17,65 Catharanthus 1 3,57 Todas as partes 5 9,80 Codiaeum 1 3,57 Sementes 4 7,84 Cordyline 1 3,57 Frutos 4 7,84 Dieffenbachia 1 3,57 Látex 3 5,88 Dracaena 1 3,57 Bulbos 2 3,92 Duranta 1 3,57 Galhos 2 3,92 Euphorbia 1 3,57 Caule 1 1,96 Ficus 1 3,57 Pelos 1 1,96 Hibiscus 1 3,57 Espinhos 1 1,96 Jatropha 1 3,57 Total 51 100 Philodendron 1 3,57 Russelia 1 3,57 Sansevieria 1 3,57 Características gerais Turnera 1 3,57 e toxicidade das Yucca 1 3,57 espécies vegetais tóxicas catalogadas nas Partes tóxicas das praças de Macapá plantas catalogadas nas Nome científico: Agave americana L. praças de Macapá Nome vernacular: agave As partes das plantas com propriedades Família: Asparagaceae venenosas são as mais diversas, podendo o principio ativo estar presente numa parte Descrição botânica: planta semilenhosa específica, bem como, em algumas espé- rizomatosa, de caule curto, originária da FLORICULTURA TROPICAL 184 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

América Tropical, de folhas grandes, fibro- mundial. É cultivada em regiões semiáridas sas e verde-azuladas; com espinhos recur- de países subdesenvolvidos e em desenvol- vados nas margens; com a idade, a planta vimento. No Nordeste brasileiro, a Paraíba floresce emitindo uma grande inflorescên- e a Bahia destacam-se na produção dessa cia ereta de vários metros, chamada comu- espécie. Na Bahia, a região de Conceição do mente de “mastro”. Ocorrem também as Coité (Santa Luz, Queimadas, Retirolândia e variedades hortícolas Marginata, de folhas Valente) é tida como principal produtora de com margens amarelas e “médio-picta”, de sisal do estado. As folhas, com ápice pontia- folhas com uma faixa central amarela. Mul- gudo, crescem em torno de um bulbo cen- tiplica-se pelos bulbilhos que se formam tral, são rígidas, lisas, verde-lustrosas, com após o florescimento no mastro e pelas 10 cm de largura e 1,5 cm de comprimento, inúmeras mudas que se formam na base da aproximadamente (Figura 10) (Secretaria de planta (Figura 9) (Lorenzi; Souza, 2001). Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária-BA) Parte tóxica: sumo das folhas. Parte tóxica: bulbo e sumo das folhas. Sintomatologia: o sumo das folhas, em Sintomatologia: distúrbios gastrintestinais contato com a pele, produz dermatites, in- e alteração do sistema nervoso central, po- fecções e coceiras. Seus espinhos e pontas dendo causar a morte. Seus espinhos po- aguçadas podem causar ferimentos graves. dem causar ferimentos graves. Foto: Jorge Segovia Foto: Jorge Segovia

Figura 9. Agave americana L. Figura 10. Agave sisalana Perrine ex Engelm.

Nome científico: Agave sisalana Perrine ex Nome científico: Allamanda cathartica L. Engelm. Nome vernacular: dedal-de-dama, alaman- Nome vernacular: agave, sisal da-amarela Família: Asparagaceae Família: Apocynaceae Descrição botânica: planta originária da re- Descrição botânica: trepadeira, lactescente, gião de Yukatan, no México, produz uma semilenhosa, do litoral Norte, Nordeste e fibra dura muito requisitada no comércio Leste do Brasil, muito vigoroso e bastante CAPÍTULO 8 Plantas tóxicas utilizadas como plantas 185 ornamentais em jardinagem e paisagismo

variável; Angiospermae, de folhas brilhan- Parte tóxica: todas as partes da planta. tes e espessas; inflorescências com flores amarelas em forma de funil, formadas du- Sintomatologia: a ingestão e o contato rante quase o ano todo, principalmente com essa planta podem causar sensação no verão (Lorenzi; Sousa, 2001). Seu porte de queimação, edema (inchaço) de lábios, pode chegar até 3 m (Figura 11) (Winters, boca e língua; náuseas, vômitos, diarreia, 2000). salivação abundante, dificuldade de engo- lir e asfixia. Em contato com os olhos, pode Parte tóxica: sementes, folhas, flores e látex provocar irritação e lesão da córnea. (glicosídeo, látex resinoso) (Winters, 2000). Sintomatologia em caso de intoxicação: febre, edema dos lábios, náuseas, diarreia e sede. Dermatite de contato. A ingestão da planta determina distúrbios gastrin- testinais intensos, caracterizados por náu- seas, vômitos, cólicas abdominais e diarreia (Winters, 2000). Foto: Raullyan Borja Lima e Silva

Figura 12. Alocasia sp.

Foto: Raullyan Borja Lima Silva Nome científico: Alocasia macrorrhizos (L) G. Don Nome vernacular: tajá, taioba

Figura 11. Allamanda cathartica L. Família: Araceae Descrição botânica: planta herbácea rizo- Nome científico: Alocasia sp. matosa, perene, ereta, robusta, de caule Nome vernacular: tajá espesso, de folhagem ornamental, origi- nária da Malásia e do antigo Ceilão (atual Família: Araceae Irã), medindo de 1,0 m a 2,0 m de altura. Folhas grandes, carnosas, cerosas e de ner- Descrição botânica: planta herbácea rizo- vuras marcantes. Inflorescência eventual matosa, perene, com folhagem decorativa, em nosso país, sem importância decorativa crescendo de 0,8 m a 1,5 m de altura. Fo- (Figura 13) (Lorenzi; Souza, 2001). lhas de pecíolo longo, com manchas claras e escuras, nervuras principal e secundária Parte tóxica: todas as partes da planta, que cinza-prateada, com margens um pouco contêm cristais de oxalato de cálcio (Win- ondulada (Figura 12) (Lorenzi; Souza, 2001). ters, 2000). FLORICULTURA TROPICAL 186 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Sintomatologia: a ingestão e o contato dire- Sintomatologia: predominam sintomas gas- to com essa planta podem causar sensação trintestinais: náuseas, cólicas abdominais e de queimação, edema (inchaço) de lábios, diarreia. Distúrbios hidroeletrolíticos. Rara- boca e língua, náuseas, vômitos, diarreia, mente torpor e discreta confusão mental. salivação abundante, dificuldade de engo- lir e asfixia; o contato com os olhos pode provocar irritação e lesão da córnea. O suco é irritante da pele e das mucosas, produzin- do alergias e queimaduras na pele (Oliveira et al., 2003). Foto: Raullyan Borja Lima e Silva Foto: Jorge Segovia

Figura 13. Alocasia macrorrhizos (L) G. Don.

Nome científico: Bidens sulphurea (Cav.) Figura 14. Bidens sulphurea (Cav.) Sch. Bip. Sch. Bip. Nome vernacular: cosmo-amarelo e picão Nome científico: Bougainvillea spectabilis Willd. Família: Asteraceae Nome vernacular: buganvile, primavera, Descrição botânica: planta herbácea anual, três-marias ereta, muito ramificada, originária do Méxi- co e intensamente disseminada e naturali- Família: Nyctaginaceae zada no território brasileiro, de 0,8 m a 1,0 m de altura. Folhas compostas, membraná- Descrição botânica: arbusto lenhoso, espi- ceas e pilosas. Flores reunidas em capítulos nhento e escandente, nativo do Leste e do grandes, simples ou dobradas, muito visto- Nordeste do Brasil, de folhas levemente pu- sas, geralmente de cor alaranjada, surgindo bescentes. Essa espécie foi intensamente ocasionalmente a variedade de flores ama- melhorada, existindo atualmente em nosso relas (Figura 14) (Lorenzi; Souza, 2001). país vasta gama de cultivares com formas bem diferentes da espécie típica. Suas flo- Parte tóxica: folhas e flores. res são envolvidas por três brácteas visto- CAPÍTULO 8 Plantas tóxicas utilizadas como plantas 187 ornamentais em jardinagem e paisagismo

sas, simples ou dobradas, de cores vinho, la- nais sobre brotações novas, vermelhas com ranja, ferrugem, branco e rósea (Figura 15) estames longos, formados principalmente (Lorenzi; Souza, 2001). no verão e são vistosas e intensamente vi- sitadas por borboletas (Figura 16) (Lorenzi; Parte tóxica: folhas e galhos. Souza, 2001). Sintomatologia: dermatites provocadas por Parte tóxica: folhas, caules, flores, vagens e irritação mecânica de suas partes. sementes. Sintomatologia: predominam sintomas gastrintestinais: náuseas, cólicas abdomi- nais e diarreia. Raramente torpor e discreta confusão mental. Foto: Jorge Segovia Foto: Jorge Segovia

Figura 16. Caesalpinia pulcherrima (L.) Sw.

Nome científico: Catharanthus roseus (L.) G. Don Figura 15. Bougainvillea spectabilis Willd. Nome vernacular: vinca, boa-noite Família: Apocynaceae Nome científico: Caesalpinia pulcherrima (L.) Sw. Descrição botânica: arbusto semi-herbá- ceo, ereto, perene, lactescente, cosmo- Nome vernacular: flamboyant-mirim polita nos trópicos, chegando a medir de Família: Fabaceae 30 cm a 50 cm de altura, muito florífero, com folhas elípticas ornamentais marcadas Descrição botânica: arbusto lenhoso, ere- por nervuras evidentes. Flores róseas for- to, provido de espinhos, originário das An- madas durante o ano todo. Ocorrem tam- tilhas, de florescimento exuberante, com bém formas de cor vermelha e vinho, bem 3 m a 4 m de altura, com folhas compostas como as variedades hortícolas (Figura 17) pinadas. Apresenta inflorescências termi- (Lorenzi; Souza, 2001). FLORICULTURA TROPICAL 188 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Parte tóxica: todas as partes da planta con- Sintomatologia: a seiva leitosa causa lesão têm alcaloides indólicos (Winters, 2000). na pele e nas mucosas, edema (inchaço) de lábios, boca e língua, dor em queimação Sintomatologia: a ingestão ou o contato e coceira; o contato com os olhos provoca com o látex pode causar dor em queimação irritação, lacrimejamento, edema das pál- na boca, além de salivação, náuseas, vômi- pebras e dificuldades de visão; a ingestão tos intensos, cólicas abdominais, diarreia, pode causar náuseas, vômitos e diarreia. tonturas e distúrbios cardíacos, que podem Quando ingeridas, as sementes possuem levar à morte (Winters, 2000). alcaloide, crotina e a capacidade de levar à morte (Winters, 2000). Foto: Jorge Segovia Foto: Raullyan Borja Lima e Silva

Figura 17. Boa-noite [Catharanthus roseus (L.) G. Don.].

Nome científico: Codiaeum variegatum (L.) Rumph. ex A. Juss. Nome vernacular: cróton, folha-imperial Família: Euphorbiaceae Figura 18. Codiaeum variegatum (L.) Descrição botânica: grande grupo de ar- bustos e semifolhosos trazidos da Índia, da Malásia e das Ilhas do Pacífico, medindo de Nome científico: Cordyline terminalis (L.) 2 cm a 3 cm de altura, de folhas lactescen- Kunth tes, pequenas ou grandes, espessas, coriá- Nome vernacular: dracena, dracena-verme- ceas e inteiras, com recortes ou torcidas, lha muito vistosas pelo variado colorido e for- matos; inflorescências alongadas e não vis- Família: Asparagaceae tosas (Figura18) (Lorenzi; Souza, 2001). Descrição botânica: arbusto semilenhoso, Parte tóxica: látex e sementes. ereto, proveniente da Índia, da Malásia e da CAPÍTULO 8 Plantas tóxicas utilizadas como plantas 189 ornamentais em jardinagem e paisagismo

Polinésia, medindo de 1,0 m a 2,5 m de al- Nome científico: Dieffenbachia picta Schott tura, com folhas coriáceas e espessas. Exis- tem inúmeras variedades cujas folhas apre- Nome vernacular: comigo-niguém-pode sentam variação muito grande de cores e Família: Araceae formas, conhecidas por nomes hortícolas, com manchas ou listras vermelhas, verdes, Descrição botânica: planta herbácea pere- acobreadas, róseas ou esbranquiçadas em ne da Colômbia e da Costa Rica, chegando combinação com o verde; inflorescências a medir de 0,20 m a 2,0 m de altura, com longas, terminais, com flores não vistosas caule espesso suculento e folhagem orna- e pouco significativas (Figura 19) (Lorenzi; mental e coriácea, caule tortuoso, folhas Souza, 2001). oblongo-elípticas ou oblongo-lanceoladas, verdes, com máculas brancacentas irregu- Parte tóxica: Folhas. lares. Flores dispostas em espádice, com as Sintomatologia: pode provocar anemia he- flores masculinas ocupando a porção supe- molítica. rior da inflorescência. Os frutos são bagas vermelho-alaranjadas (Figura 20) (Oliveira et al., 2003). Parte tóxica: todas as partes da planta. Sintomatologia: irritação e edema (inchaço) na língua, nos lábios e na gengiva, vômitos e irritação nos olhos. Irritante mecânico por ingestão e contato (ráfides). Dor em quei- mação, eritema e edema de lábios, língua,

Foto: Raullyan Borja Lima e Silva palato e faringe, além de causar disfagia, as- fixia, cólicas abdominais, náuseas, vômitos e diarreia. Contato ocular: irritação intensa com congestão, edema, fotofobia, além de lacrimejamento (Oliveira et al., 2003). Foto: Raullyan Borja Lima e Silva

Figura 19. Cordyline terminalis (L.) Kunth Figura 20. Dieffenbachia picta Schott. FLORICULTURA TROPICAL 190 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Nome científico: Dracena fragrans (L.) Ker Nome científico: Duranta repens L. Gawl. Nome vernacular: duranta, violeteira Nome vernacular: dracena Família: Verbenaceae Família: Asparagaceae Descrição botânica: arbusto lenhoso, obtido Descrição botânica: arbusto grande, rara- por trabalhos de seleção hortícolas sobre a mente ramificado e originário da África, espécie típica, chegando a medir de 1,0 m medindo de 3 m a 6 m de altura, de tronco a 1,5 m de altura, de ramagem densa e or- colunar, com roseta de folhas ornamentais namental. As folhas são amarelo-douradas, coriáceas terminais, espigadas, dotado de principalmente as jovens. As inflorescências inúmeras flores pequenas e perfumadas são longas e pendentes, com flores peque- (Figura 21) (Lorenzi; Souza, 2001). nas, azul-arroxeadas ou brancas, formadas no verão. Os frutos são arredondados e ama- Parte tóxica: folhas e frutos. relo-ouro (Figura 22) (Lorenzi; Souza, 2001). Sintomatologia: pode provocar anemia he- Parte tóxica: folhas e frutos. molítica. Sintomatologia: quando ingeridas, irritam as mucosas, provocando relaxamento intes- tinal. Aumentam as secreções mucosas dos brônquios, causam também febre, sono, di- latação da pupila, taquicardia e edema (in- chaço) da boca e dos olhos (Winters, 2000). Foto: Jorge Segovia Foto: Jorge Segovia

Figura 21. Dracena fragrans (L.) Ker Gawl. Figura 22. Duranta repens L. CAPÍTULO 8 Plantas tóxicas utilizadas como plantas 191 ornamentais em jardinagem e paisagismo

Nome científico: Euphorbia tirucalli L. a pele, provoca lesões que vão desde leve coceira, passando pela formação de placas Nome vernacular: aveloz, árvore-de-são-se- avermelhadas até formar flictenas (bolhas bastião d’água na pele). Além disso, os ésteres de Família: Euphobiaceae forbol, contidos na planta, são substâncias que podem promover tumoração (Oliveira Descrição botânica: arbusto grande, semi- et al., 2003). lenhoso, medindo de 3 m a 5 m de altura, lactescente, com inúmeros ramos verdes, suculentos, cilíndricos, praticamente sem folhas. As flores são pequenas, raras e che- gam a passar despercebidas. O aveloz é uma planta com aspecto de cacto, muito comum nas regiões de beira-mar e muito Foto: Jorge Segovia utilizada em paisagismo, como cerca-viva (Figura 23) (Lorenzi; Souza, 2001; Ambiente Brasil, 2006). Parte tóxica: látex. Sintomatologia: lesões de mucosa, dor ab- dominal, salivação, náuseas e vômitos, ir- ritação de pelo e mucosas, com hiperamia ou vesículas e flictenas (bolhas); pústulas, prurido e dor em queimação. Ingestão: lesão irritativa, sialorreia, disfagia, edema de lábios e de língua, dor em quei- mação, náuseas e vômitos.

Contato ocular: conjuntivite (processos Figura 23. Euphorbia tirucalli L. inflamatórios), lesões de córnea; a seiva leitosa causa lesão na pele e nas mucosas, Nome científico: Ficus benjamina L. edema (inchaço) de lábios, boca e língua, dor em queimação e coceira; o contato Nome vernacular: ficus com os olhos provoca irritação, lacrimeja- mento, edema das pálpebras e dificuldade Família: Moraceae de visão; a ingestão pode causar náuseas, Descrição botânica: árvore de até 10 m de vômitos e diarreia. O látex pode ser extraí- altura, com folhas simples, glabadas, elíp- do de qualquer parte da planta. Se ingeri- ticas e verde-brilhantes. Apresenta cresci- do, pode causar distúrbios gastrintestinais, mento rápido, com excelente adaptação às com vômitos e diarreia. A ingestão provo- condições climáticas do Brasil (Figura 24) ca irritação de mucosas e queimações na (Silva, 1997). boca, na língua, no esôfago e consequen- temente dor ao deglutir. Em contato com Parte tóxica: Látex. FLORICULTURA TROPICAL 192 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Sintomatologia: a aplicação do látex traz variedades e formas cultivadas no País. As graves consequências à pele, caracteriza- flores, solitárias e de inúmeras cores, são for- das por ulceração intensa. Se ingerido, pro- madas num período muito amplo, abrangen- voca ulcerações na boca. É também laxan- do todas as estações do ano. Planta tropical te. (Winters, 2000). (Figura 25) (Lorenzi; Souza, 2001). Parte tóxica: flores. Sintomatologia: possui efeito abortivo.

Nome científico: Ixora chinensis Lam. Foto: Jorge Segovia Nome vernacular: ixora-vermelha Família: Rubiaceae Descrição botânica: arbusto de textura le- nhosa, ereto, muito ramificado, de rama- gem densa, reclinada, originário da China Figura 24. Ficus benjamina L. e da Malásia, de 1 m a 2 m de altura, com florescimento vistoso; folhas simples, co- riáceas e curtas; inflorescências umbela- Nome científico: Hibiscus rosa-sinensis L. das terminais, com flores numerosas, ver- melhas, vermelho-alaranjadas, róseas ou Nome vernacular: hibiscos, papoula amarelas, muito visitadas por beija-flores. Família: Malvaceae Formam-se durante quase o ano todo, prin- cipalmente no verão (Figura 26) (Lorenzi; Descrição botânica: arbusto de textura le- Souza, 2001). nhosa, fibroso, chegando a medir de 3 m a 5 m de altura. Existe grande número de Parte tóxica: flores e folhas. Sintomatologia: se ingerido, provoca ulce- rações e coceira na boca. Foto: Jorge Segovia Foto: Raullyan Borja Lima e Silva

Figura 25. Hibiscus rosa-sinensis L. Figura 26. Ixora chinensis Lam. CAPÍTULO 8 Plantas tóxicas utilizadas como plantas 193 ornamentais em jardinagem e paisagismo

Nome científico: Ixora coccinea L. Nome científico: Jatropha gossypiifolia L. Nome vernacular: ixora-coral Nome vernacular: pinhão-roxo Família: Rubiaceae Família: Euphorbiaceae Descrição botânica: arbusto de textura le- Descrição botânica: arbusto que chega a nhosa, ereto, pouco ramificado, originário medir 1,5 m de altura, de caule esverdeado das Índias Orientais e da Malásia, medindo ou arroxeado nas partes novas, pilosas nas de 1,5 m a 2,5 m de altura, com ramagem ramificações e pecíolos; folhas alternas, pal- densa e florescimento vistoso; folhas coriá- madas, ou lobadas e glabras, com margens ceas e verde-claras; inflorescências termi- ciliadas ou glandulíferas, medindo de 5 cm nais longas, eretas, grandes, com numero- a 17 cm de comprimento; flores roxas em sas flores vermelho-alaranjadas na varieda- cimeiras paniculadas; fruto do tipo cápsula de mais antiga. Atualmente, são cultivadas, esverdeada, ovoide e subgloboso, trunca- também, variedades de flores alaranjado- do nas extremidades, com três lóculos con- claras, cor-de-rosa e amarelas. Formam-se tendo três sementes oleaginosas escuras e durante o verão, são duráveis e muito visi- rajadas (Figura 28) (Veiga,2006). tadas por beija-flores e borboletas (Figura 27) (Lorenzi; Souza, 2001). Parte tóxica: folha, pelos, sementes, frutos e espinhos. Parte tóxica: flores e folhas. Sintomatologia: se ingerido, provoca ulce- rações e coceira na boca. Foto: Raullyan Borja Lima e Silva Foto: Jorge Segovia

Figura 27. Ixora coccinea L. Figura 28. Jatropha gossypiifolia L. FLORICULTURA TROPICAL 194 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

Sintomatologia: dor abdominal, náuseas, vômitos acentuados, diarreia, distúrbios respiratórios e neurológicos, e morte. Ingestão: ação irritativa do trato gastrintes- tinal, dor abdominal, náuseas, vômitos, có- Foto: Jorge Segovia licas intensas, diarreia às vezes melena (san- guinolenta); hipotensão, dispneia, arritmia e parada cardíaca; evolução para desidrata- ção grave, choque, distúrbios hidroeletrolí- ticos, torpor, hiporreflexia e/ou coma. Tam- bém pode causar insuficiência renal. Figura 29. Philodendron imbe Schott ex Endl. Contato: látex, pelos e espinhos que irritam a pele e mucosas; irritação das mucosas do Nome científico: Russelia equisetiformis estômago e do intestino, causando náu- Schltdl. & Cham. seas, queimaduras internas, vômitos, mele- na (diarreia sanguínea), cambaleios, escure- Nome vernacular: russélia, flor-de-coral cimento da visão, midríase, edema e coma. Família: Plantaginaceae Descrição botânica: arbusto perene, de tex- Nome científico: Philodendron imbe Schott tura herbácea, entouceirado, originário do ex Endl. México, com ramagem numerosa e pen- dente, medindo de 0,8 m a 1,0 m de compri- Nome vernacular: tajá mento, de folhagem e florescimento deco- rativos. Emite folhas pequenas e escamas. Família: Araceae Apresenta inflorescência axilar e terminal, Descrição botânica: planta herbácea escan- com flores esparsas, tubulares e vermelhas (Figura 30) (Lorenzi; Souza, 2001). dente, perene, vigorosa, nativa da restinga litorânea do Leste e do Nordeste do Brasil, com folhagem densa e decorativa. Apre- senta folhas em forma de coração, alonga- das, glabras, brilhantes, coriáceas e muito duráveis. Geralmente, as flores são raras, sem valor ornamental (Figura 29) (Lorenzi; Foto: Jorge Segovia Souza, 2001). Parte tóxica: folhas e talos. Sintomatologia: causa queimaduras e ede- ma nos lábios, na língua e na garganta, difi- culdade de engolir, náuseas, vômitos e diar- reia. Em contato com a pele, causa reação alérgica. Figura 30. Russelia equisetiformis Schltdl. & Cham. CAPÍTULO 8 Plantas tóxicas utilizadas como plantas 195 ornamentais em jardinagem e paisagismo

Parte tóxica: folhas e flores.

Sintomatologia: quadro semelhante à into- xicação por digitálicos.

Ingestão: dor em queimação, sialorreia, náuseas, vômitos, cólicas abdominais e diarreia; manifestações neurológicas com Foto: Raullyan Borja Lima Silva cefaleia, tonturas, confusão mental e dis- túrbios visuais; distúrbios cardiovasculares: arritmias, bradicardia e hipotensão.

Contato ocular: fotofobia, congestão con- juntival e lacrimejamento (Lorenzi; Souza, 2001).

Nome científico: Sansevieria trifasciata Prain

Nome vernacular: espada-de-são-jorge

Família: Asparagaceae Figura 31. Sansevieria trifasciata Prain.

Descrição botânica: herbácea rizomatosa, perene, acaule, originária da África, me- Nome científico: Turnera ulmifolia L. dindo de 70 cm a 90 cm de altura, com Nome vernacular: flor-de-cemitério, turnera folhas espessas. São cultivadas diversas variedades de folhas com margens creme- Família: Passifloraceae -amareladas, curtas, com manchas verde- Descrição botânica: herbácea, perene, ere- -claras transversais; inflorescências longas, ta, nativa das restingas da América Tropical espigadas, com flores pequenas, brancas, (incluindo-se o Nordeste do Brasil), che- de importância ornamental secundária gando a medir de 30 cm a 50 cm de altu- (Figura 31) (Lorenzi; Souza, 2001). ra, ramificada e de florescimento vistoso. Folhas pubescentes, ovalado-alongadas e Parte tóxica: folhas. serrilhadas, branco-amareladas ou amare- las, formadas no decorrer do ano todo, que Sintomatologia: a ingestão da planta deter- se abrem no período da manhã (Figura 32) mina distúrbios gastrintestinais intensos, (Lorenzi; Souza, 2001). caracterizados por náuseas, vômitos, cóli- cas abdominais e diarreia, além de irritação Parte tóxica: folhas e flores. na boca, obstrução da garganta e da glote Sintomatologia: podem causar diarreia e (Winters, 2000). vômitos. FLORICULTURA TROPICAL 196 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis Foto: Jorge Segovia Foto: Raullyan Borja Lima Silva

Figura 32. Chanana (Turnera ulmifolia L.).

Nome científico: Yucca elephantipes Regel ex Trel. Nome vernacular: iuca-elefante, iuca-man- Figura 33. Yucca elephantipes Regel ex Trel. sa e chanana Família: Asparagaceae Descrição botânica: arbusto semilenho- Considerações finais so, ereto, de tronco bastante dilatado na base, originário do México e da Guatemala, Nas praças estudadas, existe um número medindo de 4 m a 6 m de altura, pouco ra- considerado alto de plantas com potencia- mificado, com roseta de folhas alongadas, lidade tóxica, o que pode representar pos- sem espinhos na ponta. Apresenta flores sibilidade real de acidentes com humanos brancas, em inflorescências densas, altas, e animais, em particular, com crianças, e formadas no verão. As flores cerosas, muito essas plantas com potencial tóxico podem duráveis, são usadas em arranjos decorati- ocasionar intoxicações, culminando, inclu- vos e em buquês (Figura 33) (Lorenzi; Sou- sive, em consequências sérias, pondo em za, 2001). risco a vida dos pacientes. Parte tóxica: folhas. Medidas preventivas devem ser tomadas para minimizar, cada vez mais, a frequência Sintomatologia: a ingestão da planta deter- e a severidade das intoxicações. Por isso, é mina distúrbios gastrintestinais intensos, importante que se conduzam estudos em caracterizados por náuseas, vômitos, cóli- outras praças e logradouros públicos, a fim cas abdominais e diarreia. de identificar essas plantas e, se possível, CAPÍTULO 8 Plantas tóxicas utilizadas como plantas 197 ornamentais em jardinagem e paisagismo fazer sua substituição, pois nossa flora, ex- sistemático. Belém, PA: Museu Paraense Emílio tremamente rica, oferece muitas opções de Goeldi, 1993. 207 p. aproveitamento dessas espécies. Portanto, CAMINHOÁ, J. M. Elementos de botânica geral e deve ser feito um levantamento do poten- médica. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1884. cial de uso da flora nativa, selecionando-se COSTA, A. F. Farmacognosia. 2. ed. Lisboa: Fundação as espécies com potencial de uso em jardi- Calouste Gulbenkian, 1978. nagem em paisagismo e sem toxicidade. CRUZ, G. L. da. Livro verde das plantas medicinais Outra medida de suma importância seria a industriais do Brasil. Belo Horizonte: Velloso, 1965. 866 p. elaboração de uma cartilha educativa dire- cionada à população em geral e às escolas FARNAWORTH, N. R.; AKERELE, O.; BRINGEL, A. S.; de ensino fundamental e médio, informan- SOEJARTO, D. D.; GUI, Z. Medicinal in therapy. Bulletin World Health Organ, v. 63, n. 6, p. 965-981, do sobre os riscos que determinadas espé- 1985. cies vegetais podem oferecer, com base nas orientações segundo Oliveira et al. (2003), FERNANDES, A. Noções de toxicologia e plantas tóxicas. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, para evitar acidentes com plantas veneno- 1995. 80 p. sas, que são: FIDALGO, O.; BONONI, V. L. R. Técnicas de coleta, • Alertar a população sobre os riscos do preservação e herborização de material botânico. uso indiscriminado de plantas em prepa- São Paulo: Instituto de Botânica, 1989. 62 p. rações de chás. FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Estatística anual de casos de intoxicação e envenenamento. Rio de • Instruir os adultos a educarem as crian- Janeiro: Fiocruz/CICT, 2000. p. 19-32. ças, de modo que elas não usem plantas GENTRY, A. H. Neotropical floristic diversity: em suas brincadeiras. phytogeographical connections between central and south america, pleistocene limatic fluctuations, • Fornecer aos profissionais de saúde or an accident of the andean orogeny? Annals of meios práticos e rápidos de identificar the Missouri Botanical Garden, v. 69, n. 3, p. 557- plantas tóxicas e sintomas causados por 593, 1982. elas, para que se possam tratar os dife- GIULIETTI, A.; FORERO, E. “Workshop” Diversidade rentes casos apropriadamente. taxonômica e padrões de distribuição das angiospermas brasileiras: introdução. Acta Botânica Referências Brasílica, v. 4, n. 1, p. 3-10, 1990. GOOGLE EARTH. 2012. Disponível em: . Acesso em: no campo. Belém, PA: Fcap, 1980. 120 p. 20 nov. 2014. BARCELLOS, D. C. Plantas ornamentais tóxicas: GUARIM NETO, G. Etnobotânica Mato-Grossense: o remédios e venenos: da toxidez a letabilidade. homem e o uso dos recursos vegetais do Cerrado, Disponível em: . Acesso em: 16 mar. 2004. E ETNOECOLOGIA, 1., 1996, Feira de Santana. BERG, M. E. van den. Plantas medicinais na [Anais...] Feira de Santana: Ed. da Universidade Amazônia: contribuição ao conhecimento Estadual de Feira de Santana, 1996. p. 46. sistemático. Belém, PA: CNPq, 1982. 223 p. HOEHNE, F. C. Plantas e substâncias vegetais BERG, M. E. van den. Plantas medicinais na tóxicas e medicinais. 2. ed. São Paulo: Novos Amazônia: contribuição ao seu conhecimento Horizontes, 1978. 355 p. FLORICULTURA TROPICAL 198 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

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Capítulo 9 Introdução Na avaliação do desempenho da economia Mercado de flores e brasileira, o Tribunal de Contas da União (TCU, 2010), fundamentado em dados do plantas ornamentais Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea), amos- tropicais tra que, no último século, o Brasil apresen- tou uma tendência de crescimento do Pro- Estratégias para o duto Interno Bruto (PIB), indicando, assim, evolução no bem-estar da população, sen- desenvolvimento de do que, a partir da implementação do Pla- no Real, foram criadas as bases para o País arranjos produtivos da retomar o crescimento sustentável. floricultura na Amazônia Conforme o Tribunal de Contas da União (2010), um dos principais fatores de expli- Jorge Federico Orellana Segovia cação desse crescimento está relacionado à Magda Celeste Álvares Gonçalves capacidade de investir na economia, em que Antonio Claudio Almeida de Carvalho a participação da formação bruta de capital fixo (investimento) no Produto Nacional Bru- Francisco Nazaré Ribeiro de Almeida to (PNB) do Brasil, em 2009, foi de 17%. Os dados do IBGE (2011) também mostram que o PIB brasileiro cresceu 7,5% em 2010, atingindo R$ 3,675 trilhões, ou US$ 2,089 tri- lhões pelo câmbio médio no ano. Também denotam que o PIB per capita subiu para R$ 19.016, ou aproximadamente US$ 10.814, apresentando alta de 6,5%, em volume, em relação a 2009, que foi de R$ 16.634. Apesar da atual crise política e econômica brasileira e mundial, a situação nacional re- flete tendências na agricultura que prevale- cem, positivamente, há vários anos, com o Brasil emergindo como um poder econômi- co agrário, figurando entre as dez maiores economias do mundo, com possibilidades de crescimento. Nesse contexto, no período 2008–2011, a floricultura comercial brasileira cresceu, em média, de 8% a 10% ao ano, nas quantida- des ofertadas no mercado, e entre 12% e 15% ao ano, em valor de vendas. Em 2012, FLORICULTURA TROPICAL 200 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis o mercado brasileiro cresceu entre 7% e 8% em todo o Brasil seja, pelo menos, equiva- em quantidade, e entre 12% e 15% em va- lente ao dobro do atual, desde que supe- lor comercializado (Flores..., 2015). radas as restrições geradas por aspectos econômicos e culturais de amplas parcelas Além disso, de acordo com o Sebrae (Flo- da população, além da minimização de en- res..., 2015), o mercado brasileiro de flores traves logísticos importantes ao longo da e plantas ornamentais movimentou, em cadeia produtiva (Região..., 2010). 2013, um valor bruto de R$ 5,22 bilhões, com uma taxa de crescimento de 8,3% so- No entanto, observa-se que ocorrem dife- bre o faturamento do ano anterior. Já em renças nos valores de consumo em diferen- 2014, a estimativa do faturamento setorial tes países, sendo que os maiores valores foi de R$ 5,64 bilhões, repetindo a perfor- per capita anuais aparecem para as popula- mance de crescimento de 8%. ções da Suíça, da Holanda, da Noruega, da Áustria e da Bélgica (Tabela 1). Consolidou-se assim, no mercado, relativa estabilização dos índices de crescimento econômico, acompanhada de aumento dos índices inflacionários e de endividamento Tabela 1. Consumo per capita anual de flores de dos consumidores, ao mesmo tempo que corte, em euros, em 2008. se desaceleram os fenômenos de abertura Consumo per de novos mercados e canais de comerciali- País capita/ano (€) zação, como os super e hipermercados, que já respondem por cerca de 10% de toda a Suíça 94 comercialização varejista de flores e plantas Holanda 60 ornamentais no Brasil. Noruega 58 Áustria 44 Com certa retração na economia brasileira em 2015, merece destaque o fato de que, Bélgica 44 mesmo com a crise econômica e financeira Inglaterra 40 mundial, o mercado brasileiro de floricultu- Alemanha 38 ra mantém-se estável até 2014, sendo que Suécia 34 97,5% do valor da comercialização setorial Itália 33 são exclusivamente voltados para o merca- França 33 do interno. Nesses períodos conturbados da Irlanda 31 economia mundial, o mercado interno de flores e plantas ornamentais apresentou ta- Estados Unidos 26 xas de crescimento variando entre 9% e 10% Espanha 19 ao ano, em que o valor bruto da produção México 10 (VBP) atingiu R$ 1,49 bilhão em 2013, e cerca Polônia 7 de R$ 1,61 bilhão em 2014 (Flores..., 2015). Rússia 3 Em 2008, o consumo per capita brasileiro Brasil 1,61 de flores e plantas ornamentais alcançou a China < 0,25 cifra de cerca de R$ 17,50 ao ano. Tendo-se Fonte: Região... (2010). a expectativa de que o potencial de vendas CAPÍTULO 9 Mercado de flores e plantas ornamentais tropicais: estratégias para o 201 desenvolvimento de arranjos produtivos da floricultura na Amazônia

Em 1989 surgiu o Veiling Holambra, que, Para Schoenmaker, o mercado de flores é além da intermediação de produtos, imple- uma importante componente na economia mentou o sistema de vendas por meio de brasileira, sendo responsável por 215.818 leilão reverso, conhecido como Klok. O Vei- empregos diretos, dos quais 78.485 (36,37%) ling Holambra é o maior centro de comer- são relativos à produção, 8.410 (3,9%) rela- cialização de flores e de plantas ornamen- cionados à distribuição, 120.574 (55,87%) tais do Brasil, sendo responsável por 45% no varejo, 8.349 (3,8%) em funções de apoio do mercado nacional. Também concentra (Agronovas, 2016). a produção de cerca de 400 fornecedores da macrorregião de Holambra, SP, e outras Já para o Brasil, o consumo global de flores regiões produtoras. A força do Veiling de- e plantas ornamentais é um dos menores, ve-se à bem-sucedida parceria com forne- alcançando a cifra de €1,61 (R$ 3,80 per ca- cedores e clientes, que resulta em produtos pita ao ano). Tais indicadores evidenciam e serviços reconhecidos em todo território que o nível de consumo brasileiro é ainda nacional, Estados Unidos e Europa. bastante baixo quando comparados com padrões mundiais. No entanto, conforme a Apesar da atual crise econômica, o comér- empresa Hórtica Consultoria e Treinamen- cio de flores vem apresentado um cresci- to, o potencial de vendas em todo o Brasil mento superior ao esperado. Segundo o Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor, pode alcançar pelo menos o dobro do con- 2015), o faturamento foi de R$ 6 bilhões, sumo atual (Junqueira; Peetz, 2010). contra R$ 5,7 bilhões de 2014. No Brasil, o mercado de flores e plantas Conforme o G1 Campinas (2016), a Coope- ornamentais vem crescendo anualmente rativa Veiling Holambra é responsável por a taxas da ordem de 9,0% a 10,0% ao ano 45% da venda de flores e plantas no País, em valor, movimentando em 2008 cerca de prevendo um crescimento de 4% em rela- R$ 3,31 bilhões. Além do que, cresce entre ção a 2015 no faturamento em feriado de 8,0% e 12,0% nas quantidades movimenta- Finados. Este crescimento está ligado di- das, incorporando não apenas novos pro- retamente ao valor agregado a produtos dutos e produtores, mas também novas como orquídeas, antúrios e algumas plan- regiões de cultivo, como a Amazônia (Jun- tas ornamentais. A cooperativa ainda es- queira; Peetz, 2010). pera crescimento de 2% no “volume” total de produtos no comparativo com o mesmo Essa região tropical apresenta potencialida- período do ano anterior. Nesse mercado, os des para cultivo de espécies tropicais, como crisântemos, lírios e kalanchoes lideram o palmeiras, abacaxis ornamentais, bromé- ranking dos produtos mais procurados para lias, helicônias, alpínias e orquídeas, todas homenagear os entes queridos. Mas antú- com maior valor agregado. Também vêm rios, lírios da paz e plantas verdes começam sendo desenvolvidos produtos como plan- a ganhar destaque, segundo a cooperativa tas de vaso (Figura 1), flores de corte (Figu- de Holambra. Os estudos revelam que 17% ra 2), plantas para embelezamento paisa- das floriculturas e empresas de distribuição gístico de parques (Figuras 3 e 4) e jardins varejista de flores apostam em aumento de (Figura 5), plantas de interiores (Figura 6) 10% no faturamento. e minifrutos ornamentais. 202 Foto: Jorge Segovia Foto: Jorge Segovia

Figura 1. Produção de plantas de vaso da espécie Figura 2. Produção de flores ornamentais nos APLs Catharanthus roseus de flores no Pará.

A B Fotos: Jorge Segovia

Figura 3. Ornamentação de praças: ipê ou pau-d’arco-roxo (Tabebuia avellanedae Lor. Ex Griseb.) (A); e ipê- -amarelo (Tabebuia serratifolia) brindam floradas de belíssimas tonalidades (B). CAPÍTULO 9 Mercado de flores e plantas ornamentais tropicais: estratégias para o 203 desenvolvimento de arranjos produtivos da floricultura na Amazônia Foto: Jorge Segovia Foto: Jorge Segovia

Figura 4. Crista-de-galo-plumosa (Celosia argentea L.) Figura 5. Cercas vivas em jardins com a Ixora coccinea para ornamentação de praças e jardins. L., em Macapá, AP.

A comercialização na floricultura brasileira No Brasil, os principais centros atacadistas

Foto: Jorge Segovia de concentração da oferta e de comerciali- zação de flores e plantas ornamentais estão localizados no estado de São Paulo, sendo constituídos pelo Mercado Permanente de Flores e Plantas Ornamentais da Ceasa de Campinas, SP (Figuras 7 e 8), pelo mercado de flores e plantas da Companhia de En- trepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), no Entreposto Terminal de São Paulo, SP, o maior grau de especialização no segmento de flores e folhagens envasadas (Região..., 2010). No Brasil, os principais arranjos da comer- cialização no mercado atacadista podem ser caracterizados por algumas formas (Re- gião..., 2010) a serem descritas a seguir.

Leilão O grupo Veiling comercializa a produção de 400 fornecedores, que representa 45% Figura 6. Plantas de interiores, como Guzmania do mercado de flores e plantas ornamen- lingulata (L.) Mez., à frente, Asparagus densiflorus na tais de todo o País. Os números do evento lateral esquerda e Dracaena sp. Lam., ao fundo. impressionam: em um único dia, chegam a FLORICULTURA TROPICAL 204 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis Foto: Jorge Segovia

Figura 7. Mercado Permanente de Flores e Plantas Ornamentais da Ceasa de Campinas, SP.

ser vendidos cerca de um milhão de unida- des, entre flores e plantas ornamentais. Só de rosas vermelhas, o volume pode chegar a 40 mil unidades diárias. No Brasil, embora

Foto: Jorge Segovia o consumo próprio de flores e plantas or- namentais não seja um hábito e nem todo mundo tem flor em casa, já existem ações de marketing para criar esse hábito, para que as pessoas tenham flores em casa sem- pre. E o mercado é promissor. Antigamente, a gente só via flor em grandes decorações. Agora você encontra em eventos como batizados, chá de bebê, aniversário. E acre- dita-se que grande parte disso aconteceu depois da inserção do produto nos super- mercados. Isso mostrou para o consumidor que flor é um produto acessível. Há todos Figura 8. Mercado Permanente de Flores e Plantas os preços e para todos os gostos (G1 São Ornamentais da Ceasa de Campinas, SP. Paulo, 2014). CAPÍTULO 9 Mercado de flores e plantas ornamentais tropicais: estratégias para o 205 desenvolvimento de arranjos produtivos da floricultura na Amazônia

Na contramão da crise econômica que afe- Centrais de Abastecimento S.A. ta o Brasil, o mercado de flores estima um (Ceasas) crescimento de até 9% para 2017 e fatu- ramento de R$ 7,2 bilhões. Em Holambra, As Ceasas funcionam como entrepostos cidade que responde por quase a metade comerciais, fornecendo parâmetros diários (45%) da comercialização nacional, o cres- sobre preços, quantidades e procedência de uma gama de produtos vegetais oriun- cimento previsto pelas duas cooperativas dos da floricultura nacional. Em termos de – Veiling e Cooperflora – deve ser ainda volumes e valores de mercadoria nacional, maior, em torno de 11% (Mercado..., 2017). a mais expressiva Ceasa é a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de Contratos de intermediação São Paulo (Ceagesp), operando desde 1969. (formais e informais) No entanto, a região Norte ainda detém Aproximadamente 44% dos produtos co- modesta participação no mercado brasilei- mercializados pela Cooperativa Veiling ro de flores e folhagens de corte, compor- Holambra, de Holambra, SP, passam pela tando-se como forte importadora dessas intermediação, com vendas operacionaliza- mercadorias, especialmente do estado de das por meio da Central de Vendas Interme- São Paulo. Segundo o diagnóstico (Região..., diação. É um sistema em que produtores e 2010) feito sobre a cadeia produtiva da flo- distribuidores fecham contratos de curto, ricultura da Amazônia, elaborado no âmbi- to do Projeto Estruturante da Floricultura médio ou de longo prazos, formais ou in- do Sebrae, para 2007, a produção de flores formais, determinando-se os preços, as tropicais de corte no mercado da Amazônia características dos produtos e os prazos de atingiu o total de 1.460.847 hastes, com a entrega. Esse sistema permite ao produtor maior participação relativa na obtenção programar melhor sua produção, enquanto desse resultado o Pará (38,11%), seguido o atacadista pode, antecipadamente, fixar pelo estado do Amazonas (24,12%), Tocan- seus preços no varejo, principalmente em tins (22,68%), Rondônia (12,48%) e Amapá períodos que antecedem as principais da- (1,01%). tas de venda do setor. Comércio da floricultura Comercialização virtual amapaense Atividade comercial praticada via internet a No Amapá, o comércio de flores e plantas um banco de dados informatizado sobre os ornamentais é dinamizado pela atuação es- produtos disponíveis. O sistema é alimen- pecializada de pequeno número de empre- tado por produtores que disponibilizam sas de médio e de pequeno porte, formal- informações sobre quantidade, qualidade, mente estabelecidas e organizadas, em sua preço e prazo de entrega. Atualmente, esse maioria, pela Associação dos Produtores e sistema é operado na Cooperativa Veiling Distribuidores de Flores, Viveiristas e Paisa- Holambra e na Floranet/Cooperflora. gistas do Amapá (Equaflora). FLORICULTURA TROPICAL 206 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

De acordo com essa entidade, no Amapá, existem diversas atividades na cadeia pro- dutiva desse segmento agrícola, encadea- dos na comercialização de flores e plantas

ornamentais, como: Foto: Jorge Segovia

• Floriculturas (6).

• Empresas distribuidoras de plantas (9).

• Empresas distribuidoras de insumos (6).

• Empresas produtoras de mudas (4).

• Empresas produtoras de gramas (2).

• Empresas de paisagismo (5).

• Empresas de decoração (8).

• Decoradores informais (22).

• Produtores de mudas informais (4).

Nos últimos 5 anos, no comércio de flores e plantas ornamentais, vem se destacando o varejo supermercadista, formado por al- Figura 9. Áreas com viveiro de plantas ornamentais gumas redes de supermercados do estado, fazendo parte dos arranjos produtivos locais em os quais oferecem flores e plantas orna- Macapá, AP. mentais em suas lojas. Nos últimos anos, o crescimento anual brasileiro de vendas por meio desse canal tem se situado na faixa Entretanto, a comercialização eficiente do entre 10% e 20%, em que os preços pratica- mercado de flores e plantas ornamentais dos nos supermercados são considerados demanda uma logística adequada, incluin- do técnicas e operações de transporte, altamente competitivos. estocagem, comunicação com os clientes Mesmo na ausência de registros sobre a e compradores, além da transferência de produção e o valor bruto da produção es- posse das mercadorias, a qual, apesar de tadual e as margens de comercialização ainda incipiente no estado, começa a dar desses produtos, conforme informações da sinais de crescimento para atender à de- Equaflora, no Amapá, seus associados mo- manda local. vimentam, aproximadamente, R$ 9,6 mi- Geralmente, a exposição de flores e plan- lhões por ano. Além disso, esse segmento tas ornamentais em locais estratégicos das produtivo gera 150 empregos diretos, ex- lojas favorece as compras por impulso, ca- plorando uma área de 5 ha com áreas culti- racterística importante no consumo dessas vadas, estufas e viveiros (Figura 9). mercadorias (Figuras 10 a 12). CAPÍTULO 9 Mercado de flores e plantas ornamentais tropicais: estratégias para o 207 desenvolvimento de arranjos produtivos da floricultura na Amazônia Fotos: Jorge Segovia

Figura 10. Arranjos florais montados na Associação Florat Carpam em Manaus, AM. Fotos: Jorge Segovia

Figura 11. Arranjos florais montados pela associação de produtores em Palmas, TO.

Nessas redes de supermercados e lojas es- Estratégias no pecializadas, os produtos podem ser expos- tos com diferentes valores agregados como desenvolvimento dos embalagens decorativas, cachepots e ou- arranjos produtivos tros acessórios, servindo como impulsiona- dores de vendas em datas comemorativas, de flores e plantas apresentando um leque de produtos de- ornamentais na Amazônia corativos inseridos nos mais diversos am- bientes, inclusive em banheiros públicos e Na região amazônica, a produção e a co- privados (Figura 13). mercialização de flores e plantas ornamen- FLORICULTURA TROPICAL 208 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis

orquídeas, bromélias, palmeiras, entre ou- tras, as quais apresentam um mercado em expansão e com inúmeras oportunidades para os sistemas produtivos amazônicos.

Foto: Jorge Segovia Essa comercialização vem crescendo de for- ma gradativa, o que poderia ser melhorado por meio da transferência de tecnologias. Com a publicação de Técnicas e Inovações na Floricultura Tropical: uma alternativa de negócios sustentáveis na Amazônia, pre- tende-se corrigir parte dessa deficiência, difundindo os mais recentes conhecimen- Figura 12. Arranjos florais montados pela associação de produtores em Belém, PA. tos sobre essa gama de espécies da flora re- gional que já vem mostrando seu potencial econômico. Destaque-se que, nesse con- texto, só na última década, na Amazônia foram produzidos trabalhos que apontam mecanismos para elevar o padrão de vida de seus habitantes por meio do cultivo de

Foto: Jorge Segovia flores e plantas ornamentais. No período de 2007 a 2015, as empresas de pesquisa e inovação tecnológica – como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuá- ria (Embrapa), o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Se- brae) e os órgãos de extensão rural e as Figura 13. Arranjos florais utilizados em toaletes de shopping center. secretarias de Ciência e Tecnologia nos di- versos estados da Amazônia – vêm atuan- do em parcerias que produzem avanços tais tende a se consolidar como segmento tecnológicos responsáveis pela diversifica- econômico de exploração sustentável de ção e melhora na qualidade da produção produtos agrícolas e florestais não madei- de flores ornamentais no Brasil, assim como reiros, inclusive com uma demanda interna- no fortalecimento dos Arranjos Produtivos cional ainda não atendida, com alternativas de flores e plantas ornamentais tropicais, e mais consistentes ecologicamente, no que na estimulação do consumo das belezas e tange à comercialização de espécies ainda encantos naturais da flora tropical. pouco exploradas da Floresta Amazônica. Assim, essas instituições em parceria com os No comércio regional e global de flores e representantes dos agentes produtivos vêm plantas ornamentais, principalmente de implantando projetos envolvendo a pros- espécies vegetais nativas da Amazônia, pecção, a multiplicação, o cultivo e a comer- têm-se espécies como helicônias, alpínias, cialização em sistemas produtivos de flores e CAPÍTULO 9 Mercado de flores e plantas ornamentais tropicais: estratégias para o 209 desenvolvimento de arranjos produtivos da floricultura na Amazônia plantas ornamentais tropicais, contribuindo do interno quanto a destinada ao merca- assim para implantação de projetos de me- do externo. lhoramento genético, correção e adubação Cabe considerar que, na cadeia de supri- de solos, cultivo in vitro e outras ferramentas mento de flores e folhagens de corte, pre- modernas de produção, relevando a explo- dominam certos pontos de estrangula- ração sustentável voltada ao mercado de mento, especialmente no que se refere ao flores e plantas ornamentais e à conservação transporte e acondicionamento das merca- de espécies autóctones da flora. dorias, além de depósitos inadequados. Para alavancagem desse segmento, há ne- Finalmente, ressalta-se a falta de mão de cessidade de se desenvolver estratégias sis- obra regional especializada e de conheci- tematizadas a partir do potencial existente mentos sobre as necessidades e exigências nos arranjos produtivos locais, buscando a no preparo, acondicionamento e no manu- geração de trabalho/ocupação, aumentos seio adequado desses produtos. de renda e melhor qualidade e continuida- de dos empreendimentos rurais ligados à Contudo, a comercialização eficiente exige agricultura familiar. logística adequada, incluindo técnicas e operações de transporte, estocagem, co- Na Amazônia, os principais desafios relacio- municação com os clientes e compradores, nados à competitividade e à melhoria dos além da transferência de posse das merca- sistemas produtivos são: dorias.

• A qualidade de produtos e o valor agre- Também existe deficiência de mão de obra gado. especializada e de conhecimentos sobre as necessidades e exigências no preparo, no • A carência de qualificação técnica, ge- acondicionamento e no manuseio adequado rencial e organizacional. desses produtos, de natureza tão delicada. • A inadequação e insuficiência na assis- Deve-se ter, também, em consideração que tência técnica. a modernização agrícola pode conduzir à geração de produtos de amplo consumo, • A indisponibilidade de máquinas e im- permitindo abrangente distribuição do au- plementos. mento da renda, podendo provocar, ainda, • As dificuldades na certificação de produ- aumento na demanda de bens e serviços de outros setores da economia, além de pro- tos. mover queda do preço real numa gama de • As carências de uma logística para o produtos como são as flores e as plantas or- desenvolvimento e armazenamento de namentais, a partir da modernização agríco- produtos de extrema fragilidade. la, gerando aumento de salário real e resul- tando em maior competitividade desse e de • A falta de design de produtos. outros segmentos produtivos no mercado. • A carência de informações que contri- Em toda a região, determinadas ações pre- buam com o desenvolvimento da flori- cisam ser analisadas e implementadas com cultura, tanto daquela voltada ao merca- o propósito de ampliar o mercado e pro- FLORICULTURA TROPICAL 210 Técnicas e inovações para negócios sustentáveis mover a melhoria da qualidade e do valor • Promoção da gestão de empreendimen- agregado de produtos, como: tos coletivos.

• Melhoramento genético de flores e plan- • Montagem de design de produtos fina- tas ornamentais da Amazônia. lísticos e embalagens nos processos de produção e manufatura. • Estruturação do sistema de produção de sementes e mudas. • Informatização dos empreendimentos coletivos que trabalham a produção e a • Estruturação da governança do Arranjo manufatura de flores e plantas ornamen- Produtivo Local (APL) em assuntos estra- tais, com estruturação do portal digital tégicos. da cadeia produtiva. • Estruturação da plataforma de elabora- • Promoção da participação do APL em ção e acompanhamento técnico de pro- eventos nacionais e internacionais. jetos para financiamento da produção. Contudo, como estratégias a serem imple- • Dimensionamento das lacunas de infor- mentadas no desenvolvimento sustentável mações econômicas do sistema, como: dos arranjos produtivos de flores e plantas oferta potencial por localidade, valor da ornamentais na Amazônia, deve-se firmar a produção e suas possibilidades de agre- sinergia da governança por meio da parce- gação de valor em nível local e regional, ria interinstitucional com foco nas deman- etc. das apresentadas, consolidando os polos estaduais de produção e comercialização, e • Ampliação da capacitação gerencial, or- ampliando o comércio de produtos da flo- ganizacional e técnica de extensionistas ricultura. e produtores de flores e plantas orna- mentais. As estratégias a serem analisadas e imple- mentadas no desenvolvimento socioeco- • Promoção da certificação pelo Ministério nômico e ambiental dos Arranjos Produ- da Agricultura, Pecuária e Abastecimen- tivos de Flores e Plantas Ornamentais na to (Mapa) da produção de flores e plan- Amazônia, para promover a geração de tas ornamentais tropicais. significativo número de empregos rurais e • Promoção da certificação de produção urbanos, além de contribuir com a sobre- orgânica e de comércio justo. vivência de inúmeros empreendimentos agrícolas, no novo cenário dos empresários • Estruturação das rodadas de negócios in- da floricultura amazônica, podem ser resu- ternos e externos. midas da seguinte forma: • Ampliação da capacidade de produção, • Consolidação dos polos estaduais de armazenamento e distribuição de flores produção e comercialização de flores e de corte e de plantas de vaso. plantas ornamentais. • Estruturação das redes associativas dos • Maior diversificação do consumo, com grupos informais que trabalham no APL. introdução de novas espécies e cultiva- CAPÍTULO 9 Mercado de flores e plantas ornamentais tropicais: estratégias para o 211 desenvolvimento de arranjos produtivos da floricultura na Amazônia

res mais adaptadas aos gostos e às cultu- FLORES e plantas ornamentais do Brasil. Brasília, ras regionais. DF: Sebrae, 2015. v. 1, 44 p. (Sebrae. Série estudos mercadológicos). • Maior potencialização dos custos logís- G1 CAMPINAS. Veiling Holambra prevê alta de ticos de transporte e movimentação de 4% no faturamento de flores neste finados. 2016. mercadorias, condicionando maior di- Disponível em: . Acesso em: 1 ago. 2017. • Ampliação do comércio dos produtos da G1 SÃO PAULO. Leilão de flores em Holambra floricultura amazônica, tanto no âmbito vende até 40 mil rosas vermelhas por dia: do mercado interno quanto para o exte- produção da cooperativa Veiling corresponde rior. a 45% do mercado nacional e os Leilões diários comercializam até um milhão de unidades de flores • Implantação de inovações técnicas, ge- de plantas. Disponível em: . Acesso em: 1 ago. 2014. • Criação da plataforma de projetos para IBGE. Em 2010, PIB varia 7,5% e fica em R$ elaboração e acompanhamento de pro- 3,675 trilhões. 2011. Disponível em: . Acesso em: 18 jun. • Acesso ao capital pela pressão sobre os 2011. agentes financeiros. INSTITUTO BRASILEIRO DE FLORICULTURA. Mercado Portanto, o fortalecimento do comércio dos interno. 2015. Disponível em: . Acesso em: 15 mar. 2017. no âmbito do mercado interno quanto para o comércio exterior, constitui-se numa ação JUNQUEIRA, A. H.; PEETZ, M. da S. A floricultura absolutamente vital para garantir a geração brasileira no contexto da crise econômica e financeira mundial. 2010. Disponível em: . Acesso em: 18 jun. 2011. de caráter familiar. MERCADO de flores em Holambra prevê crescimento de 11% em 2017. 2017. Disponível em: . Referências Acesso em: 30 ago. 2017. AGRONOVAS. Faturamento do mercado de flores. REGIÃO Norte do Brasil. Macapá: Sebrae Amapá, 2016. Disponível em: . Acesso em: 18 instrucionais para o setor de floricultura e plantas maio 2017. ornamentais). ECOFLORA BRASIL. Veiling Holambra comemora TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. Desempenho da 25 anos do sistema de leilões. Holambra, 2016. economia brasileira: desafios para o crescimento Disponível em: . Acesso em: 15 mar. 2017. Ficha%201.3_cor.pdf>. Acesso em: 12 mar. 2011. Impressão e acabamento Embrapa

O papel utilizado nesta publicação foi produzido conforme a certificação do Bureau Veritas Quality International (BVQI) de Manejo Florestal.

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