SUMÁRIO EXECUTIVO

1. Apresentação

O Ramal do Agreste Pernambucano é um empreendimento de infra-estrutura hídrica, estratégico pela sua inserção na Região do Agreste Pernambucano, composto por um sistema de obras hidráulicas – canais, estações de bombeamento de água, pequenos reservatórios intermediários, uma linha de transmissão e uma subestação para suprimento elétrico do projeto, que capta água no Eixo Leste do Projeto de Integração do rio São Francisco com Bacias do Nordeste Setentrional (PISF), originária da barragem de Itaparica, no Estado de .

O produto final do empreendimento – água bruta – a ser distribuído através do um sistema de adutoras a ser construído, após tratamento, extrapola os municípios de intervenção direta da obra, atingindo municípios das bacias hidrográficas por ele beneficiadas indiretamente – Ipojuca, Moxotó, Ipanema, ; Capibaribe; Sirinhaém; Mundaú; Una; Paraíba; e Traipu.

Os estudos que embasaram a definição do empreendimento compreenderam três etapas de análise: os Estudos de Inserção Regional, que avaliaram a disponibilidade e a demanda hídrica do Agreste Pernambucano, os Estudos de Viabilidade Técnico- Econômica, que avaliaram as alternativas para o anteprojeto de engenharia e definiram a melhor opção de traçado, concepção das obras e seus custos, além da análise da viabilidade econômica e ambiental; e o Projeto Básico do Empreendimento, com o detalhamento do projeto de engenharia, com aprimoramento da alternativa selecionada nos Estudos de Viabilidade.

O presente documento constitui o Estudo de Impacto Ambiental – EIA do Ramal do Agreste Pernambucano, doravante denominado Ramal do Agreste, empreendimento do Governo Federal do Brasil, executado através DO MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL - MI, seu EMPREENDEDOR.

O empreendimento é objeto de licenciamento ambiental estadual através da Companhia Pernambucana de Recursos Hídricos e Meio Ambiente – CPRH, conforme processo CPRH No 11.060/05, inicialmente concebido para todo o Sistema Adutor do Agreste Pernambucano, com Termo de Referência elaborado em janeiro de 2006 e revisado em outubro de 2006, sendo posteriormente desmembrado em dois licenciamentos.

O empreendedor contratou o Consórcio das empresas CONESTOGA-ROVERS E ASSOCIADOS e ENGECORPS CORPO DE ENGENHEIROS CONSULTORES para desenvolver os estudos ambientais e acompanhar o processo de licenciamento do empreendimento até a emissão da Licença Prévia - LP, incluindo a participação em Audiência Pública.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 1 -

2. Caracterização do Empreendimento

O Ramal do Agreste está integralmente localizado no Estado de Pernambuco, na porção setentrional do Estado, atravessando os municípios de Sertânia e , nos domínios das bacias hidrográficas dos rios Moxotó e Ipojuca. Está localizado numa área de contato entre o Semi-Árido e o Agreste Pernambucano.

Constitui-se de um canal com aproximadamente 69 km de extensão, que levará água do Eixo Leste do PISF à bacia do rio Ipojuca, para atender as demandas da região do Agreste de Pernambuco. Seu traçado desenvolve-se a partir do futuro reservatório de Barro Branco (PISF), no município de Sertânia, na altura das coordenadas 9.111.672 de latitude sul e 691.697 de longitude oeste (UTM SAD 69 – fuso 24 S), cruzando os municípios de Sertânia e Arcoverde, atravessando a serra do Pau d´Arco e terminando no vale do rio Ipojuca, no futuro reservatório de Ipojuca, situado entre as coordenadas 9.080.630 de latitude sul e 726.502 de longitude oeste (UTM SAD 69 –fuso 24 S). A sede urbana do município de Sertânia situa-se nas proximidades do traçado do Ramal.

O acesso à região de inserção do empreendimento se dá através da BR-232, que interliga à Parnamirim. Partindo-se da capital pernambucana por esta rodovia, percorre-se 276 km até atingir a localidade de Cruzeiro do Nordeste. A partir daí segue-se pela BR-110 em trecho de 32 km, até atingir a sede municipal de Sertânia, conforme apresentado na Ilustração 1.

As obras do Ramal do Agreste visam a potencialização da oferta hídrica local, assegurando a garantia de abastecimento de água à população beneficiada. Contempla a região do Agreste Pernambucano com a adução de 8 m³/s, de forma a garantir o atendimento da demanda urbana (humana e industrial), rural (humana e dessedentação animal), aqüicultura e irrigação, até o ano de 2025. A distribuição de água ao Agreste Pernambucano será feita por um sistema adutor, que se desenvolverá a partir do reservatório de Ipojuca, previsto para abastecer com água de boa qualidade cerca de 70 municípios da região, sendo que o projeto desse sistema ainda está em fase de estudo de viabilidade e deverá ser licenciado pela CPRH posteriormente.

As instalações atuais dos sistemas de abastecimento de água que atendem às sedes dos municípios que compõem a região do Agreste Pernambucano estão funcionando em condições precárias, tanto no aspecto do suprimento de água bruta em quantidade e qualidade, como nos aspectos de tratamento, reservação e distribuição de água tratada. Cabe salientar que boa parte da água hoje disponível na região apresenta altos teores de salinidade, causando desconforto à população e impedindo sua utilização para alguns usos, entre os quais o abastecimento industrial, o que restringe as possibilidades de desenvolvimento econômico da região.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 2 - EIXO NORTE EIXO NORTE EIXO NORTE EIXO NORTE EIXO NORTE EIXO NORTE EIXO NORTE EIXO NORTE EIXO NORTE FUNCATE-FundaçãodeCiência,AplicaçõeseTecnologiaEspaciais 39º Bahia Bahia Bahia Bahia Bahia Bahia Bahia Bahia

38º EIXO LESTE EIXO LESTE EIXO LESTE EIXO LESTE EIXO LESTE EIXO LESTE EIXO LESTE EIXO LESTE EIXO LESTE RAMAL DO RAMAL DO RAMAL DO RAMAL DO RAMAL DO RAMAL DO RAMAL DO RAMAL DO RAMAL DO AGRESTE AGRESTE AGRESTE AGRESTE AGRESTE AGRESTE AGRESTE AGRESTE AGRESTE 37º Paraíba Paraíba Paraíba Paraíba Paraíba Paraíba Paraíba Paraíba Paraíba Rio GrandedoNorte Rio GrandedoNorte Rio GrandedoNorte Rio GrandedoNorte Rio GrandedoNorte Rio GrandedoNorte Rio GrandedoNorte Rio GrandedoNorte Rio GrandedoNorte Pernambuco Pernambuco Pernambuco Pernambuco Pernambuco Pernambuco Pernambuco Pernambuco Pernambuco

36º Alagoas Alagoas Maceió Alagoas Alagoas Alagoas Alagoas Alagoas Alagoas João Pessoa Recife 35º 10º 9º 8º 7º 00 50 ACESSOS DORAMAL AGRESTE ILUSTRAÇÃO 1-LOCALIZAÇÃO E Ferrovias Rodovias Ramal doAgreste Eixo NorteeLeste(PISF) Hidrografia Sedes Capitais Limite Municipal Limite Estadual Localização regional Escala Gráfica LEGENDA 50 100 150 km

Análises realizadas nos principais corpos d’água localizados na Área de Influência Direta do Ramal do Agreste, nos municípios de Sertânia e Arcoverde, demonstraram que metade dos pontos avaliados apresentaram valores de Cloreto Total (um dos parâmetros de salinidade) superiores à 250 mg/L, valor máximo desejável recomendado pela Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde, com base nas exigências da OMS (Organização Mundial de Saúde), que estabelece os padrões de potabilidade da água para consumo humano. Desta forma, tendo em vista os elevados valores de salinidade, as águas superficiais da AID apresentam grandes limitações ao consumo humano. Quanto aos recursos hídricos subterrâneos, são limitados, com predominância de terrenos de baixa vocação hidrogeológica.

O Agreste de Pernambuco não dispõe de reservatórios com boa capacidade de acumulação, limitação esta que se deve essencialmente à morfologia da região, que não propicia a presença de vales e áreas de bacias contribuintes para grandes aproveitamentos. Desta forma, o nível de aproveitamento do potencial hídrico existente na região do Agreste Pernambucano é bastante incipiente. No Estado de Pernambuco, 80% dos volumes aproveitáveis estão localizados nas bacias do Litoral e pernambucanos, enquanto que no Agreste e Sertão, que correspondem a 90% da área do Estado, estes valores aproximam-se de 20%.

O Quadro 1 apresentado a seguir sintetiza as estimativas de demandas hídricas para os cenários tendencial e alternativo da Região do Agreste Pernambucano considerados no relatório R 03 – Estudos dos Cenários de Demanda Hídrica para a Região Metropolitana do Recife, Agreste e Mata Pernambucana (Vol. I e II) dos “Estudos Hidrológicos Complementares das Regiões do Agreste, Zona da Mata e da Região Metropolitana de Recife”, elaborados para a FUNCATE pela empresa Acquatool Consultoria. Este relatório considerou o horizonte de 2025 como o limite para a extrapolação de dados das regiões consideradas.

Quadro 1 - Demandas hídricas da região do Agreste de Pernambuco (m³/s)

Tipo de 2005 2010 2025 Consumo Tendencial Alternativo Tendencial Alternativo Tendencial Alternativo Urbano 3,61 2,89 4,19 3,35 6,30 5,04 Rural 0,74 0,74 0,78 0,78 0,91 0,91 Animal 0,75 0,83 0,81 0,91 1,01 1,21 Irrigação 2,12 1,82 2,40 2,02 3,25 3,17 Indústria 0,45 0,45 0,51 0,49 0,72 0,68 Aqüicultura 0,15 0,15 0,39 0,39 0,54 0,53 Ecológica 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Total 7,82 6,88 9,08 7,94 12,73 11,54

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 4 -

O estudo hidrológico realizado enfocou os sistemas de abastecimento de água existentes (2002), verificando que os mesmos são capazes de fornecer vazão firme de 1,62 m³/s. Na proposta realizada no relatório citado, a situação seria melhorada com a construção dos açudes Inhumas II (acréscimo de 0,614 m³/s), Mundaú II (acréscimo de 0,388 m³/s), ambos da bacia do rio Mundaú, e Batateira (acréscimo de 2,389 m³/s) da bacia do rio Una. Desta forma, a disponibilidade de oferta hídrica local passaria a 5 m³/s na região. Considerando que o total das demandas hídricas estimadas alcançou 11,54 m³/s no Cenário Alternativo, e que a oferta hídrica local totaliza 5m³/s, para eliminar o déficit existente entre a oferta e a demanda, o Ramal do Agreste deverá contribuir com 6,54 m³/s.

A perda de água total, decorrente das regras operacionais de bombeamento (21 horas diárias), dos procedimentos de gestão do projeto e das perdas físicas, foi estimada em 18,25%. Desta forma, para o bombeamento atender a demanda de 6,54 m³/s, o sistema de obras hidráulicas constituinte do Ramal do Agreste foi dimensionado para conduzir uma vazão de 8 m³/s.

O escoamento das águas no canal se dará por gravidade desde a tomada d’água do reservatório Barro Branco até o reservatório Negros. Neste ponto, a estação de bombeamento EB-1 permitirá o cruzamento do divisor de águas entre as bacias dos rios Moxotó e Ipojuca e o recalque da vazão de projeto, de 8m³/s, para a câmara de carga de montante do túnel Ipojuca I, e deste, para o reservatório de Ipojuca. Ao longo do traçado do Canal, foram projetados seis túneis, os quais foram dimensionados com a finalidade de aduzir 8 m³/s. São eles: Cacimba da Mata, Cachoeira, Bom Nome, Tigre, Ipojuca I e Ipojuca II. Para a garantia do abastecimento de pequenas localidades ao longo do traçado do Ramal, foi prevista a utilização das estruturas das válvulas dispersoras a serem implantadas nas duas barragens (Negros e Ipojuca).

As vazões e níveis d’água de todo o sistema serão monitorados por sensores, que serão instalados em cada saída do sistema adutor, na câmara de carga da estação de bombeamento e nos reservatórios intermediário e de destino. O controle dessas informações e a operação das comportas, válvulas e bombas serão realizados à distância, com opção de acionamento local, pelo sistema Digital de Supervisão e Controle (SDSC), instalado na Central de Comando Operacional (CCO) localizada na estação de bombeamento EBV-1, do Eixo Leste do PISF. As demandas a serem atendidas serão identificadas pelo nível d’água dos reservatórios do sistema. Tal como concebida, a operação do sistema permite o aporte de vazões variadas, desde poucos metros cúbicos por segundo até a vazão máxima prevista.

As metodologias construtivas adotadas para o empreendimento foram objeto de seleção criteriosa, com base na análise de diversas obras semelhantes e de mesmo porte. Considerou-se também o emprego dos mais modernos equipamentos de construção, bem como TBMs – Tunnel Boring Machines para execução de túneis e “Pontes de Concretagem” para execução de revestimento de canais.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 5 -

Para desenvolvimento das obras será necessária a implementação de infra-estrutura de apoio, consistindo basicamente de acessos, instalação de canteiros e acampamentos. Além disso, são previstas estruturas do tipo central de britagem e produção de concreto. Quanto aos materiais de construção, devido à ausência de jazidas expressivas na região, a areia a ser utilizada deverá, em sua grande maioria, ser fabricada nos britadores. As barragens e os canais serão executados com enrocamento com núcleo argiloso pouco espesso; o solo a ser utilizado para execução do núcleo será obtido da cobertura das escavações e de dentro da área dos reservatórios.

Quanto ao descarte de materiais provenientes de escavações para construção dos canais e dos túneis, prevê-se uma quantidade de cerca de 9 milhões de m³, constituídos predominantemente por rocha decorrente das escavações para execução dos túneis. Esse material, destinado a bota-fora, será depositado ao longo do caminhamento dos canais, em ambos os lados, dentro da faixa de domínio das obras. Também será aproveitado, quando possível, para execução de revestimento primário de vias de acesso. Caso necessário, poderá ser assumido o alargamento da crista dos aterros aumentando o corpo desses aterros, que, com certeza, pode acomodar o excesso.

Foram previstos três canteiros de obras: junto ao reservatório Barro Branco; junto à EB-1; e na área do reservatório Negros. A distribuição das obras para cada canteiro ficou definida da seguinte forma: • Canteiro 01: 15,1 km de canais, 1.590 m de aquedutos, 3.167 m de túneis, além de duas estruturas de controle; • Canteiro 02: 25,5 km de canais, 260 m de aquedutos e 920 m de túneis; • Canteiro 03: EB-1, incluindo Câmara de carga de Sifão; 7.165 m de adutoras, 2,158 km de canais e 11.960 m de túneis.

Como suporte aos canteiros de obras está previsto, para o bom gerenciamento das obras, um Escritório Administrativo Central (EAC), sediado na cidade de Arcoverde.

No pico das obras, no 27° mês do cronograma, o total de mão-de-obra envolvida deverá chegar a 4.181 empregados, incluindo mão-de-obra técnica e administrativa, sendo que, 85% corresponde à mão-de-obra técnica e 15% administrativa. Vale destacar que a mão-de-obra local poderá contribuir bastante para a formação dos contingentes necessários às obras, reduzindo, em conseqüência, o número de alojamentos previstos.

As obras do Ramal do Agreste estão previstas para construção num período total de 34 meses. O cronograma detalhado da execução das obras deverá ser definido pelo seu projeto executivo, com base no planejamento global das empreiteiras, considerando as suas particularidades específicas, o entrelaçamento das diversas atividades envolvidas e seus respectivos condicionantes.

O custo total do empreendimento foi previsto em R$ 548 milhões, referente a fevereiro de 2003, sendo R$ 404,5 milhões para obras civis, R$ 135,8 milhões para equipamentos e R$ 7,7 milhões para a linha de transmissão.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 6 -

Entre oito alternativas de traçado estudadas, a que mostrou maior viabilidade ambiental foi a Alternativa 7 - Campos-Mutuca. Após concluídos os estudos de viabilidade, e em presença dos levantamentos de campo, a alternativa escolhida foi ajustada considerando a redução do custo da água no portal do Estado, a redução do investimento, a entrega da água na bacia do rio Ipojuca e a redução do tempo de construção e de custos associados. Esses ajustes permitiram a eliminação de mais de 60 km de canal, a substituição do reservatório Macambira pelo reservatório Ipojuca, a supressão da adutora Macambira – Mutuca e a supressão do reservatório Mutuca. A redução do custo do investimento foi da ordem de 40% do valor estabelecido nos estudos de viabilidade, cujo reflexo na tarifa da água permitiu atingir um valor estimado em R$ 0,123/m³.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 7 -

3. Definição das Áreas de Influência

A definição das áreas de estudo foi feita segundo os procedimentos usuais de observação das características do empreendimento, das principais relações por ele estabelecidas com as diferentes regiões em que está inserido e, por fim, da repercussão destas relações nos vários elementos ambientais. Deste modo, foram consideradas as duas tradicionais unidades espaciais de análise: a Área de Influência Indireta – AII, onde ocorrem os processos físicos, bióticos e antrópicos espacialmente mais abrangentes (ou regionais) com os quais o projeto estabelece interações principalmente através de efeitos secundários (ou indiretos); e a Área de Influência Direta – AID, território em que se dão majoritariamente as transformações ambientais primárias (ou diretas) decorrentes do empreendimento.

A Resolução CONAMA 001/86, em seu artigo 5o, inciso II, determina que se deverá “definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada área de influência do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza”. De fato, o conceito da bacia hidrográfica como unidade de estudos ambientais está sendo aplicado há bastante tempo em diversos países, inclusive no Brasil, não apenas como espaço preferencial de análise, favorecendo a visualização dos processos humanos e naturais, mas como um limite geográfico onde se pode melhor controlá-los e, assim, manter a qualidade ambiental.

O futuro abastecimento de água para a região do Agreste se dará por um conjunto de adutoras que transportarão a água já tratada em uma ETA pelas faixas de domínio das principais estradas do Agreste pernambucano, de modo a atender 66 sedes municipais, além de alguns distritos e de várias localidades da zona rural desses municípios dentro de uma faixa de 5 km de largura em torno das adutoras principais. Apesar de atender apenas municípios do Estado de Pernambuco, essa água, após consumida pela população, acabará sendo destinada para a drenagem natural e atingindo todas as bacias hidrográficas envolvidas, estendendo-se para regiões do Estado de Alagoas. As dez bacias que compõem a Área de Influência Indireta (AII) para os estudos físico-bióticos são apresentadas a seguir, sendo que as cinco últimas ultrapassam o limite estadual: Moxotó; Ipojuca; Goiania; Capibaribe; Sirinhaém; Una; Mundaú; Paraíba; Traipu; e Ipanema.

Na definição da Área de Influência Indireta para efeito de desenvolvimento dos estudos do meio antrópico ou socioeconômico, foi considerado o espaço provável de materialização dos desdobramentos sociais e econômicos indiretos do uso previsto das águas aduzidas pelo Projeto, principalmente sobre os processos demográficos (migrações) e a qualidade de vida em geral. As análises socioeconômicas relativas à AII tiveram seu enfoque e aprofundamento ajustados à natureza e relevância dos processos antrópicos envolvidos. Para facilitar a compilação das informações socioeconômicas secundárias, normalmente agrupadas por município, considerou- se a delimitação da AII para o meio antrópico coincidente com os limites envolventes desses 66 municípios que serão futuramente atendidos, além de mais 6 municípios

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 8 -

que serão indiretamente beneficiados em função da maior disponibilidade da água local para os mesmos.

Considerou-se como limites para a Área de Influência Direta uma faixa de 5 km em torno das obras lineares do Ramal do Agreste (2,5 km para cada lado), constituído pelos trechos de canal, aquedutos, túneis e da linha de transmissão, além de uma faixa de 2,5 km marginal aos futuros reservatórios Negros e Ipojuca. Essa distância foi considerada em função da abrangência do atendimento da população local ao longo do Ramal, considerado no Projeto como uso difuso e da movimentação durante o período de obras.

Para efeito da avaliação de impactos sobre a biota aquática, considerou-se, também, na AID, as bacias hidrográficas dos rios Moxotó e Ipojuca, em função da contribuição direta de água que receberão da bacia do rio São Francisco, via Eixo Leste do PISF.

Um mapa detalhado, em formato A1, contendo as áreas de influência do empreendimento, é apresentado no capítulo 3 (Ilustração 3.1-1).

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 9 -

4. Diagnóstico Ambiental

9 Meio Físico

Climatologia

O Nordeste do Brasil caracteriza-se por uma heterogeneidade climática que a situa como a de maior complexidade entre as regiões brasileiras. Essa complexidade decorre fundamentalmente de sua posição geográfica em relação aos diversos sistemas de circulação atmosférica e, em plano secundário, porém de grande importância, do relevo e ainda da latitude e continentalidade entre os principais fatores.

Informações climatológicas obtidas a partir das observações meteorológicas de superfície, empregando equipamentos manuais ou automáticos, mostram que o regime térmico na Região Nordeste se caracteriza por temperaturas médias do ar elevadas, com médias anuais entre 20ºC e 28ºC. Nos meses de inverno, principalmente em junho e julho, os valores mínimos de temperatura do ar situam-se normalmente entre 12ºC e 16ºC no litoral, sendo mais baixos ainda nos planaltos, já tendo ocorrido a temperatura de 1ºC na Chapada da Diamantina, após a passagem de uma frente fria. Assim como na Região Norte, grande parte do Nordeste Brasileiro também possui uma grande homogeneidade sazonal e espacial de temperatura.

A pluviosidade da região é complexa e geradora de preocupação, com seus totais anuais variando de 2.000 mm, em áreas litorâneas na costa leste, até valores inferiores a 500 mm, na área do Raso da Catarina, entre Bahia e Pernambuco, e na depressão de Patos da Paraíba. De modo geral, a precipitação média anual na Região Nordeste é inferior a 1.000 mm. No sertão dessa região, o período chuvoso é normalmente de apenas dois meses ao ano, podendo, em alguns anos, até não existir, ocasionando as denominadas secas regionais.

O clima da região semi-árida nordestina é caracterizado pela insuficiência de precipitações e pelas altas taxas de evaporação e insolação. Em função da grande extensão e da complexidade climática, a ocorrência de anos secos ou úmidos não cobre simultaneamente toda a região. Apesar dessa heterogeneidade espacial, é possível se caracterizarem as áreas menos ou mais susceptíveis à ocorrência de eventos extremos. O extremo leste do Piauí, todo o Estado do Ceará e a metade oeste dos Estados do , Paraíba e Pernambuco se encontram na área de maior freqüência de incidência de secas, onde as precipitações afastam-se da média em percentagens iguais ou superiores a 50%.

O regime de precipitação do Semi-Árido pode ser caracterizado, em anos não- anômalos, por dois períodos bem definidos: um chuvoso no verão e outro seco no inverno, formando uma oscilação unimodal, sendo os meses mais chuvosos os de

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 10 -

novembro, dezembro e janeiro; os mais secos os de junho, julho e agosto, tendo seu período de precipitação iniciado em setembro, atingindo o seu máximo em dezembro e, praticamente, terminando no mês de maio.

Embora o semi-árido brasileiro possa ser delimitado pela isoieta de 800 mm anuais, este valor é pouco relevante. É grande a complexidade quanto à caracterização climática da região, marcada por grandes antecipações ou atrasos do período chuvoso e pela sua concentração em alguns poucos anos. Uma das principais conseqüências é a reduzida disponibilidade de água no solo para as plantas e a fragilidade dos sistemas sociais e econômicos que dependem dessas precipitações.

É importante observar-se na região o fenômeno do “veranico”, período entre 10 e 25 dias ou mais, durante a época em que não há chuvas e com a ocorrência de temperaturas elevadas e, conseqüentemente, de alta evapotranspiração. A insolação é muito forte, da ordem de 2.800 horas por ano em média, e a evaporação atinge, nas regiões mais secas, 2.000 mm.

Dentre as secas mais catastróficas na região, desde o Brasil Colônia, destacaram- se, pela sua abrangência e intensidade, as ocorridas em: 1614, 1723-24, 1790-94, 1816-25, 1877-79, 1900, 1903, 1915, 1919-20, 1931-32, 1942, 1951-53, 1958, 1966, 1970, 1972, 1976, 1979-83, 1992 e 1997-98.

As ilustrações 2 e 3 a seguir apresentam as médias mensais climatológicas de precipitação e evaporação total (1961 a 1990) de Arcoverde-PE, além do déficit hídrico na mesma localidade.

Fonte: INMET (1992)

Ilustração 2 – Precipitação e evapotranspiração médias mensais em Arcoverde –PE de 1961 a 1990

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 11 -

Fonte adaptado INMET 1992

Ilustração 3 – Déficit hídrico médio mensal em Arcoverde PE, de 1961 a 1990

A Ilustração 4 apresenta as médias mensais das temperaturas mínima, média e máxima de Arcoverde-PE, obtidas através das Normais Climatológicas, onde se pode observar que a temperatura mínima média mensal ultrapassa 15oC e que a média máxima mensal supera 30oC em diversos meses do ano.

Fonte: INMET 1992.

Ilustração 4 – Temperaturas mínima, média e máxima em Arcoverde PE, de 1961 a 1990

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 12 -

A Ilustração 5 mostra a pressão atmosférica média mensal no agreste pernambucano, em Arcoverde-PE.

Fonte: INMET 1992. Ilustração 5 – Pressão atmosférica média mensal em Arcoverde PE, de 1961 a 1990

Ruídos

A análise da medição de ruídos de fundo da AID, efetuada durante a campanha de campo em 7 de agosto de 2007, nos períodos diurno e noturno, constatou que os mesmos estão, via de regra, dentro dos padrões permitidos pela Norma NBR10151 para áreas da categoria Sítios e Fazendas, ou seja, de 40 dB(A) para o período diurno (horário compreendido entre 7 h e 22 h, exceto domingo e feriado, quando o período começa às 9 h) e de 35 dB(A) para o período noturno (horário complementar), onde as exceções coincidem com a passagem de carros e caminhões nas estradas próximas.

Geologia e Geotecnia

A partir de dados secundários e verificações de campo, com o desenvolvimento de seções regionais pelas principais estradas na região, foi confeccionada em escala regional (1:100.000) um mapa geológico (Ilustração 4.1-9) da área onde está inserido o Ramal do Agreste, incluindo a demarcação da AID, conforme apresentado no capítulo 4. O Ramal do Agreste encontra-se inserido na Província Borborema, que consiste em uma província tectônica na qual dominam terrenos Arqueanos e Proterozóicos, constituídos por rochas metamórficas de baixo e alto grau e rochas ígneas, ocorrendo também coberturas sedimentares Fanerozóicas e Cenozóicas. Dentro do contexto da Província Borborema, o Ramal do Agreste inclui porções da Subprovíncia Meridional ou Externa e Subprovíncia da Zona Transversal.

Cinco conjuntos de idades e contextos geológicos distintos foram discriminados na AID: Complexo Sertânia; Complexo Pão de Açúcar; Complexo ; Complexo

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 13 -

Lagoa das Contendas; e Granitóides Indiscriminados. As exposições do Complexo Sertânia são comuns nos cortes de estradas e nos trechos dos rios/riachos e ombreiras das barragens.

Sismologia

A ocorrência de sismos no Brasil é relativamente moderada em função de sua localização mais ao interior da Placa Sul-Americana, distante de seus bordes leste e oeste. Entretanto, a sismicidade brasileira não pode ser ignorada, visto que há registros de tremores de magnitude superior a 5.0, embora a maioria destas ocorrências tenha sido em áreas não habitadas, e por esta razão não causaram grande destruição e não foram tão divulgadas. A Região Nordeste vem apresentando vários registros de atividades sísmicas ao longo da história, o que faz dela uma das regiões de maior atividade sísmica no Brasil, provavelmente em decorrência das características geológicas e geotécnicas da região, onde se apresenta uma compartimentação geológico-estrutural cujos domínios individualizam maciços rochosos brasilianos e cinturões deformacionais, delimitados por descontinuidades geológicas transcorrentes regionais, permitindo a liberação sísmica nestas áreas..

A Zona Sismogênica de , abrangida pela AII do Ramal do Agreste está restrita ao Bloco Pernambuco. Trata-se de uma zona geradora de sismos que compreende a região que vai do Lineamento de Pernambuco e falhas transcorrentes até a borda nordeste da Bacia Sedimentar Tucano-Jatobá, onde dominam migmatitos e corpos de granitóides proterozóicos. Este sismo localiza-se no Município de Floresta (PE) e posiciona-se alinhado de acordo com o já citado Lineamento de Pernambuco. Em novembro de 1981, ocorreram três eventos sísmicos subseqüentes nesta zona sismogênica, de magnitude igual a 3,1, um deles afetando uma área de 300km². Em agosto de 2002, ocorreram 1.218 tremores em Caruaru/PE, dos quais 102 foram registrados no dia 19 com a maior magnitude atingindo 3,5 graus na escala Richter. Recentemente, segundo a Prefeitura de Caruaru, houve um abalo sísmico no dia 20/08/2007 que atingiu 4 graus na escala Richter, sendo o maior abalo registrado desde 1970.

Em torno da região do empreendimento, tem-se um possível exemplo de Sismicidade Induzida por Reservatórios no reservatório de Itaparica, no rio São Francisco, onde é feito o monitorado desde fevereiro de 1983 pela estação de Sobradinho e, a partir de dezembro de 1986, também pela Rede Sismográfica de Itaparica. Trata-se de abalos na ordem de 3,1 mb, cuja maioria estaria associada ao já citado Lineamento de Pernambuco, nas proximidades de Floresta, situada a 20 km do reservatório. Entretanto, os sismos ocorridos em Itaparica referem-se a microtremores de magnitudes insignificantes, sugerindo que estejam associados a acomodações das camadas superficiais da Bacia Tucano-Jatobá, devido à sobrecarga do volume d’água.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 14 -

Hidrogeologia

Em função das características geomorfológicas, pedológicas e hidrogeológicas observadas na região do empreendimento, com base nos critérios de estrutura, modo de ocorrência, circulação de água e tipo de porosidade, a AII e a AID do Ramal do Agreste estão totalmente inseridas no Domínio Hidrogeológico Fissural. O meio aqüífero do tipo fissural, comumente designado por “cristalino” ou ainda maciço rochoso, é caracterizado pela inexistência ou presença muito reduzida de espaços intergranulares na rocha. Nesse meio aqüífero, a água subterrânea encontra-se limitada aos espaços fendilhados e/ou fraturados, daí ser toda a circulação da água subterrânea efetuada através das fraturas e/ou fissuras, resultando na denominação de aqüífero fissural ou fraturado, para as litologias que armazenam e possibilitam a extração da água por tal meio.

Nessa área, predomina um clima semi-árido seco, pouco chuvoso, onde o intemperismo dominante é o físico, acarretando em um solo de cobertura muito raso, às vezes totalmente ausente. Em decorrência destas características climáticas, a área de estudo é representada por aqüíferos fissurais livres, constituídos por rochas metamórficas ou ígneas, de baixa permeabilidade. A alimentação desse sistema aqüífero na área de abrangência das bacias é realizada por infiltração direta da chuva precipitada sobre a área de ocorrência, por contribuição das águas acumuladas nas coberturas inconsolidadas, e por infiltração a partir da rede de drenagem superficial. A evapotranspiração constitui o principal exutório natural, principalmente nas áreas onde os níveis d’água são rasos, podendo ainda ser citados os pequenos córregos e as descargas de base após os períodos de chuva. Como exutório artificial são consideradas as retiradas de água por meio dos poços tubulares existentes.

As águas subterrâneas dos poços da região são bastante salinizadas e não apresentam potabilidade, estando, em geral, bem acima do valor permitido de Sólidos Totais Dissolvidos pela Portaria n.º 518/04 do Ministério da Saúde. A tendência geral do seu uso é para fins domésticos e para atender a demanda animal. Ressalta-se que existem poços com água imprestável para atender quaisquer tipos de demanda.

Geomorfologia

A área de estudo pode ser dividida em três grandes unidades de paisagem: Pediplano Central do Planalto da Borborema; Depressão Sertaneja; e Encosta Setentrional do Planalto da Borborema.

A Unidade de Paisagem Pediplano Central do Planalto da Borborema compreende um compartimento com altitudes que variam entre 500m e 600m, apresentando trechos que atingem mais de 800m, representados por blocos serranos residuais. Na AID, essa unidade ocorre em sua maior parte no município de Arcoverde, nas partes mais baixas do pediplano, denotando deficiência de drenagem e sodicidade elevada.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 15 -

Os solos de maior ocorrência neste ambiente são os Planossolos Háplicos eutróficos solódicos e típicos, que possuem seqüência de horizontes A-Bt-C, ou mais tipicamente A-E-Bt-C, caracterizados por mudança textural abrupta. No horizonte B, de densidade do solo relativamente elevada e em geral policrômico, observa-se a ocorrência de cores de redução, evidenciando condição de drenagem imperfeita ou má (Camargo et al., 1987).

A unidade Depressão Sertaneja ocorre em maior proporção em torno do Planalto Sertanejo, com declives em direção aos fundos de vales e litoral. A morfologia apresenta-se por vezes conservada, mas em grande parte submetida a um princípio de dissecação à medida que aumenta a densidade de drenagem. Suas características mais importantes estão relacionadas com a diversificação litológica devido à ocorrência de rochas cristalinas e sedimentares de diversas origens e idades. Nessa área, a Depressão Sertaneja pode ser dividida em três unidades geoambientais: Pediplanos arenosos (solos arenosos, medianamente profundos, com predomínio de Neossolos Regolíticos associados aos Neossolos Quartzarênicos); Pediplanos avermelhados de textura média e argilosa (Luvissolos, Cambissolos e Vertissolos); e Pediplanos com problemas de sais e de drenagem (Planossolos Háplicos eutróficos solódicos e Planossolos Nátricos).

Por fim, a unidade Encosta Setentrional do Planalto da Borborema compreende uma faixa alongada e irregular (direção leste-oeste), que abrange desde as imediações do município de Gravatá até as proximidades da cidade de , tratando- se de uma área intensamente dissecada, contendo formas aguçadas e convexas, com altitude variando de 400m a mais de 1.000m. A drenagem é complexa, apresentando padrão geral similar ao subdentrítico com influências do treliço recurvado com encraves do radial, sendo representada pelos riachos formadores das bacias dos rios Ipojuca, Capibaribe, Ipanema, Moxotó e do riacho do Navio. No extremo sudoeste, emerge um relevo montanhoso com mais de 1.100m de altitude, onde se observa a serra de Triunfo, um maciço de sienito, cujo topo está dissecado em interflúvios tabulares. Destacam-se, ainda, as serras do Ororubá, dos Fogos, das Porteiras e dos Campos. Na área de estudo, esta unidade foi subdividida em três unidades geoambientais: Superfícies Dissecadas (ocorrência generalizada de Argissolos normalmente distróficos); Pediplanos Arenosos (predominância de Neossolos Regolíticos); e Serras e Serrotes (afloramentos de rocha com predominância de Neossolos Litólicos e, em menor proporção, Argissolos e Cambissolos, ambos rasos a pouco profundos).

Pedologia

Os principais solos presentes na área e mapeadas na escala 1:100.000 são Argissolos Vermelho-Amarelos, Luvissolos Crômicos, Neossolos Flúvicos, Neossolos Litólicos, Neossolos Regolíticos, Planossolos Háplicos, Planossolos Nátricos e Tipo de Terreno – Afloramentos de Rochas.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 16 -

A área dos estudos é propensa à erosão em suas diversas formas, especialmente laminar e em sulcos. A ação dos processos erosivos é facilitada pelo relevo, pela vegetação da sem uma cobertura eficiente dos solos e pelas características internas dos solos, especialmente o gradiente textural, a pequena permeabilidade dos horizontes B e a pequena profundidade. As ações antrópicas para retirada de material de empréstimo sem recuperação das áreas impactadas, o pisoteio constante dos animais em áreas frágeis e as chuvas intensas e concentradas contribuem de forma acentuada para a degradação cada vez maior dos solos da região.

A classificação da aptidão agrícola não leva em consideração a irrigação. Por isso, a grande maioria das unidades de mapeamento está incluída na classe 6, em virtude do relevo movimentado, dos solos pouco profundos e rasos, da textura média e, principalmente, das condições climáticas desfavoráveis. A maior parte da região, em condições naturais, só pode ser classificada para pastagens naturais e, mesmo assim, para animais altamente resistentes às condições de seca, como os caprinos criados e adaptados no nordeste brasileiro. Algumas melhorias poderiam ser introduzidas, como o enriquecimento e plantio de espécies nativas e adaptadas às condições especiais do sertão. Guardadas as particularidades da região, os Neossolos Regolíticos, por se situarem em relevo de altitude com temperaturas mais amenas, poderiam ser recomendados para uma agricultura de sucesso com irrigação. Os solos de várzea – Neossolos Flúvicos não solódicos e não sódicos, também poderiam suportar uma agricultura irrigada com sucesso, pois, são utilizados com algumas culturas pelos pequenos agricultores durante os períodos chuvosos. Considerando os resultados do levantamento de solos e a classificação da aptidão agrícola, conclui-se que a área estudada não tem aptidão para culturas de sequeiro, devendo ser manejada com muito cuidado, pois a maioria dos solos é suscetível aos processos erosivos.

Recursos Hídricos

Foram identificados todos os cursos d’água que precisarão ser atravessados pelo futuro Canal do Agreste na AID, com base nas cartas do Brasil (IBGE/SUDENE/DSG) na escala 1:100.000, resultando em 47 pontos de interseção.

Em seu percurso de 69 km de extensão, aproximadamente, o Canal do Agreste atravessa a bacia hidrográfica do rio Ipojuca, que tem sua foz no Oceano Atlântico, e a sub-bacia do rio Moxotó, que desemboca no reservatório de Paulo Afonso, no rio São Francisco. De acordo com a Resolução do CNRH No 32, de 15 de outubro de 2003, que estabeleceu a Divisão Hidrográfica Nacional, a bacia do Ipojuca pertence à Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Oriental e a sub-bacia do Moxotó faz parte da Região Hidrográfica do São Francisco.

Foram identificados 36 pontos de captação de água na bacia do rio Ipojuca. Dentre esses, 9 captações são para abastecimento público, localizando-se nos municípios de , Caruaru, Chã Grande, Escada, Ipojuca, Primavera, Riacho das

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 17 -

Almas e Sairé. A captação de águas para abastecimento humano na Bacia do Rio Moxotó é feita, na maior parte, em açudes construídos na década de 60 pelo extinto DNOS. Os açudes principais, pela sua capacidade de acumulação são: o de Poço da Cruz ou Eng. Franscisco Sabóia; Custódia; Gravatá; Cachoeira I; e Barra. Com exceção dos açudes Poço da Cruz e Gravatá, os outros três citados localizam-se respectivamente próximos às nascentes do rio Moxotó.

Os cinco municípios identificados como os maiores contribuidores de carga orgânica doméstica na bacia do rio Ipojuca são: Caruaru, Gravatá, Belo Jardim, e Escada, e são responsáveis por 79% da carga orgânica lançada nos corpos d’água desta bacia. Destaque especial deve ser dado a Caruaru, que sozinha, representa mais de 40% da carga orgânica doméstica que aflui ao rio Ipojuca. Existem 102 indústrias instaladas na bacia do rio Ipojuca apresentando uma produção diversificada. A maioria das indústrias localizadas na bacia pertence aos setores de produtos alimentares, matéria plástica e mineral não metálica. Já na Bacia do Moxotó, as principais fontes de poluição das águas superficiais nos corpos hídricos são os despejos líquidos industriais provenientes de usinas de cana de açúcar, matadouros, usinas de beneficiamento de leite e outras indústrias, como as têxteis, e os efluentes líquidos da população dotada de água encanada e não tratada.

O Plano Diretor de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Ipojuca teve por objetivo o aproveitamento integrado das águas superficiais e subterrâneas da bacia, dentro de uma visão dinâmica de planejamento de longo prazo, de forma a permitir uma gestão compartilhada dos múltiplos usos da água. Para fins de planejamento hídrico, a área da bacia foi dividida em quatro unidades de análise (UA), levando em conta a rede de drenagem, a divisão político-administrativa e as zonas fisiográficas ou regiões geográficas. As unidades de análise UA1, UA2 e UA3 formam a parte da bacia relacionada à região do Agreste, e correspondem, respectivamente, aos trechos superior, médio e sub-médio da bacia. A resolução n° 02/2002 do Conselho Estadual de Recursos Hídricos de Pernambuco homologa a criação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Ipojuca. O Comitê do rio Ipojuca foi instalado em 30/04/02 abrangendo um total de 24 municípios. Sua sede localiza-se na cidade de Caruaru- PE.

O Plano Diretor de Recursos Hídricos da bacia do rio Moxotó teve por objetivo estabelecer o diagnóstico da situação atual e a avaliação ambiental desta bacia nos estados de Pernambuco e Alagoas. A resolução n° 02/2000 do Conselho Estadual de Recursos Hídricos de Pernambuco homologa a criação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Moxotó, abrangendo 10 municípios, com sede em Sertânia-PE. Este comitê foi apenas instalado, sem ter convocado uma única reunião.

Além da bacia hidrográfica do rio Ipojuca e da sub-bacia do rio Moxotó, que são atravessadas pelo Canal do Agreste, a Área de Influência Indireta do empreendimento é composta por mais seis bacias e duas sub-bacias. São elas: Goiana; Capibaribe; Sirinhaém; Mundaú; Una; Ipanema; Paraíba; e Traipu. Essa definição baseou-se no traçado das adutoras do futuro empreendimento associado

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 18 -

ao Ramal, denominado Sistema Adutor do Agreste pernambucano, e nas sedes municipais que serão beneficiadas pelo mesmo, conforme apresentado na ilustração 6 a seguir.

Fonte: IBGE

Ilustração 6 – Bacias Hidrográficas da AII

Qualidade das Águas

A caracterização da qualidade da água compreendeu a coleta e análise de parâmetros físico-químicos nos principais corpos d’água localizados na área de influência direta do Ramal do Agreste Pernambucano. As amostragens foram desenvolvidas nos dias 16 e 17 de junho de 2007: no açude 1 do riacho Tigre, localizado próximo à localidade Tigre; no açude 2 do riacho Tigre, localizado próximo à localidade Henrique Dias; no açude do riacho Negros, a montante do futuro reservatório do projeto, próxima à localidade Queimada do Milho; e no reservatório do Mulungu, dentro da área do futuro reservatório Ipojuca, próximo à localidade Ipojuca.

Foram coletadas amostras para determinação da Transparência, do pH, da Salinidade, da Condutividade, da Temperatura, do Oxigênio dissolvido e dos Nutrientes (nitrato, nitrito, amônia e fosfato).

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 19 -

Para águas doces, a Resolução CONAMA No 357/05 estabelece que a classificação deve ser realizada de acordo com o uso a que estão destinadas. Para o empreendimento em questão, pode-se dizer que os açudes inserem-se na Classe 2, sendo destinados: ao abastecimento doméstico, após tratamento convencional; à proteção das comunidades aquáticas; à recreação de contato primário; à irrigação de hortaliças e plantas frutíferas; e à criação natural e/ou intensiva de espécies destinadas à alimentação humana. Porém, a de se ressaltar que a salinidade de algumas amostras apresentou-se acima dos limites permitidos para consumo humano pela OMS.

Direitos Minerários

O Estado de Pernambuco, de acordo o Panorama da Economia Mineral do Estado de Pernambuco (CPRM, 2000), se caracteriza por uma produção mineral composta principalmente por minerais não metálicos, tendo a indústria da construção civil o consumidor final da maioria desses minerais. Atualmente, o banco de dados do DNPM, Cadastro Mineiro, registra 1.225 processos minerários no estado, dos quais, 36 encontram-se nos dois municípios abrangidos pelo Ramal do Agreste, sendo 31 em Sertãnia e 5 em Arcoverde. A despeito destes números, ao alcance da Área de Influência Direta (AID) do Ramal do Agreste, encontram-se apenas 8 processos minerários, todos em Sertânia, descritos como sendo áreas de exploração de quatro bens minerais: minério de ferro, calcário, migmatito e, principalmente, , sendo os dois últimos constituintes da classificação de Rochas Ornamentais. Tais processos encontram-se em fase de licenciamento, seja por requerimento de pesquisa, seja por autorização de pesquisa.

9 Meio Biótico

Limnologia

Diversas comunidades habitam os ecossistemas aquáticos e exercem importantes funções no ambiente, seja participando ativamente nos processos de mineralização e reciclagem da matéria orgânica, seja atuando no fluxo de energia através da rede trófica (Transpurger & Drews, 1996). Dentre as principais comunidades bióticas do meio aquático, podemos citar o fitoplâncton, o zooplâncton e o zoobentos.

A comunidade fitoplanctônica apresentou grande heterogeneidade. Foram encontrados em média 31 táxons em cada ponto. O grupo com maior riqueza é o das clorofíceas, seguido das diatomáceas e cianobactérias. Estes três grupos foram os mais abundantes em cada ponto de coleta.

A comunidade zooplanctônica registrada apresentou grande heterogeneidade em função dos diferentes compartimentos amostrados durante a campanha. O levantamento da comunidade apresenta os principais grupos zooplanctônicos, rotíferos e copépodes, além de representantes de outros grupos comumente presentes neste tipo de amostragem, como Ostracoda, Isopoda, Foraminifera e

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 20 -

Hexapoda (Ahlstrom, 1937). Durante o estudo da comunidade zooplanctônica foi encontrado um total de 4.929.000,00 ind/m3 e 14 táxons, pertencentes aos filos Protozoa, Asquelminto e Arthropoda. Os Asquelmintos, representados pela classe Rotifera, contribuíram com 54,1% do zooplâncton. Artrópodes crustáceos, com 44,6%, também foram abundantes. Os artrópodes hexapódes e os protozoários foraminíferos representaram apenas 1,3% do total de indivíduos.

Na área de estudo, os sedimentos amostrados foram compostos principalmente por areias e silte. As diferentes frações granulométricas se apresentaram bastante diferenciadas entre os pontos amostrados, com uma composição predominante variando de areia muito grossa a silte. A seleção de grãos apresentou pouca variação entre os pontos, caracterizando os sedimentos como muito pobremente selecionados. A matéria orgânica total apresentou um teor médio de 3,85%, variando de 1,40% a 5,75%.

Foram encontrados 13 táxons de zoobentos, pertencentes aos filos Annelida, Arthropoda e Mollusca. Mistri et al. (2000) e Abílio (2002) apontam estes três filos como os mais importantes da comunidade macrobentônica, costumando se sobressair nos fundos não consolidados. Os moluscos, representados pela classe Gastropoda, contribuíram com 79% da macrofauna. Artrópodes hexápodes, com 17%, e anelídeos hirudíneos, com 3% foram menos abundantes. Os crustáceos ostrácodes representaram apenas 2% do total de indivíduos. O filo Arthropoda apresentou a maior abundância de táxons em relação aos demais. Os insetos representaram cerca de 17,0% do número de indivíduos, com uma contribuição importante dos dípteros, principalmente Chironominae (4,8%) e Tanypodinae (4,1%). Em geral, os Chironomidae são mencionados como importantes componentes da fauna bentônica aquática (Margraf & Plitt, 1982).

Ictiofauna

O levantamento de dados brutos sobre a fauna de peixes foi realizado através de coletas, nas quais foram empregados vários tipos de arte de pesca, e através de entrevistas com moradores locais. Também foi levantada a bibliografia sobre os peixes da região, complementando assim as informações sobre a comunidade de peixes. Para abordar a composição ictiofaunística dos ecossistemas dessa grande extensão, os zoólogos responsáveis pela elaboração do relatório percorreram as bacias da Área de Influência para conhecerem os ambientes que serão afetados.

O trecho de influência das obras de instalação do Ramal do Agreste compreende duas províncias zoogeográficas clássicas (Bizerril, 1994): Sul da Província dos rios costeiros do Nordeste e sub-bacias da margem esquerda da Província do rio São Francisco. Essas duas províncias, teoricamente, possuem faunas relativamente semelhantes. No entanto, endemismos são observados em ambas e em drenagens isoladas dentro dessas áreas.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 21 -

De forma geral, a composição da ictiofauna observada, com predomínio de representantes da ordem Characiformes, corresponde, em parte, ao esperado para a ictiofauna de água doce neotropical (Lowe McConnell, 1999). Nas drenagens costeiras, a marcante ausência de espécies dulcícolas da ordem Siluriformes é notável. Essa relação não se observa em rios e riachos da porção alta da bacia do rio São Francisco (Casatti & Castro, 1998) e em outras bacias da Província do Leste em sua porção meridional (Costa, 1984; Bizerril, 1994; Mazzoni & Lobon-Cervia, 2000).

Três das espécies amostradas na viagem de campo e com registros constantes em coleções científicas da região são amplamente distribuídas nas regiões biogeográficas incluídas na AID do Ramal do Agreste. Astyanax bimaculatus, A. fasciatus e Hoplias malabaricus têm distribuição em toda a região Neotropical. Muito provavelmente, essas morfo-espécies representam várias linhagens independentes e, de fato, algumas espécies têm sido descritas (e.g. Astyanax altiparanae Garutti & Britski, 2000; Melo, 2005), resolvendo parcialmente esses complexos de espécies.

A maioria dos pontos amostrados é constituída de riachos temporários ou sazonais. Nestes, os ambientes que restam com água são os pontos onde se pode encontrar os representantes das comunidades ictiológicas agrupados. Açudes e poções concentram a ictiofauna em épocas de estiagem. Nos riachos de menor porte, especialmente cabeceiras, é esperada a maior incidência de espécies endêmicas. Essas comunidades ictiológicas podem ser consideradas as mais frágeis nas bacias da área de influência direta.

É difícil precisar em que ponto um rio deixa de ser permanente para tornar-se temporário. Por esse motivo, a diferenciação de rios permanentes e temporários foi feita com base na Carta do Brasil ao Milionésimo. De uma maneira geral, as cabeceiras das bacias da área de influência do projeto do Ramal do Agreste são consideradas ambientes sazonais. A maior parte dos córregos temporários possui algum tipo de represamento, dada a enorme quantidade de açudes na região. O Rio Ipojuca passa a perene a partir de Caruaru, onde suas águas recebem efluentes domésticos urbanos e a qualidade ambiental é baixa. No entanto, pescadores citaram a presença de traíra, Tilápia e “piaba’ (pela descrição, Astyanax), Piau (pela descrição, Steindachnerina notonota), Jundiá (Rhamdia), Muçum, Pititinga (pela descrição, Poecilia), Sarapó (pela descrição, Gymnotus) e “cuduro” (não foi possível identificar o grupo).

Os açudes e reservatórios, junto com os poções naturais, são os únicos ecossistemas aquáticos que permanecem por todo o ciclo sazonal. Os açudes possuem tradicionalmente espécies de peixes alóctones e exóticas, resultado de inúmeras introduções e “peixamentos” com intuito de “melhorar a qualidade dos peixes” comerciais dos açudes do Nordeste.

Durante os levantamentos de campo, não foi possível detectar nenhum grupo tipicamente raro. Boa parte das espécies registradas para a região, sejam aquelas

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 22 -

observadas no campo, sejam as encontradas em coleções científicas e na literatura, carecem de estudos taxonômicos. Sendo assim, para essas espécies, não é possível determinar com precisão o grau de endemismo. Os membros da família Calichthyidae, Aspidoras rochai, A. menezesi e A. depinnai podem ser consideradas endêmicas das bacias do Nordeste Setentrional. No entanto, apenas A. depinnai, até onde se sabe, é restrita à bacia hidrográfica do rio Ipojuca.

Nenhuma das espécies estudadas, sejam as amostradas diretamente no campo, sejam as encontradas em registros de coleções científicas, consta na lista federal de espécies ameaçadas, à exceção do Pirá (Conorhinchus conirostris ), considerado espécie “vulnerável” na sua bacia de origem, a do Rio São Francisco. Nas bacias da área de influência direta, o pirá foi introduzido com objetivo de tornar-se uma espécie comercial (Vieira, 1938 apud Bockmann & Britski, 1999).

O número de represamentos feitos na “Região Nordeste Brasileira” não tem precedente em outra parte do país e afetou de tal monta a fisionomia dos cursos d’água locais que transformou enormes extensões de ambientes lóticos em ambientes predominantemente lênticos. Isto fez com que predominassem ainda mais aquelas espécies que são pré-adaptadas ao regime lêntico, capazes de se reproduzirem várias vezes ao ano em regiões confinadas. Como conseqüência desses empreendimentos, a ictiofauna da região foi intensamente fragmentada em populações isoladas, e as rotas utilizadas pelos poucos peixes realizadores de migração reprodutiva (piracema) que nela existem, tal como o canivete Apareiodon davisi e a curimatã Prochilodus brevis, foram, provavelmente, ainda mais restringidas.

Uma das características que tornam os peixes cultivados, seja para corte ou para aquariofilia, mais atraentes é a sua resistência. Sendo assim, não é de se surpreender que as espécies introduzidas pelo homem freqüentemente sejam mais competitivas que as espécies nativas. Atualmente, as espécies invasoras são uma das maiores ameaças à integridade dos ecossistemas nativos (Vitousek et al., 1997). As principais espécies invasoras identificadas na AID são: guppy (P. reticulata); tilápias (Cichlidae, Tilapinii: Oreochromis sp. e Tilapia sp.); carpas (Cyprinidae: Ctenopharyngodon sp. e Cyprinus sp.); e o ciclídeo Jaguar (Parachromis managuensis). A característica robusta do Jaguar o qualifica como invasor e espécie transformadora do ambiente. Infelizmente, já pode ser pescado em alguns pontos da bacia do rio ipojuca, o que provavelmente significa que existe uma população estabelecida.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 23 -

Flora Terrestre e Áreas Protegidas

A AII do Ramal do Agreste está inserida na região do Bioma Caatinga, que se estende por cerca de 11% do território nacional, ocupando uma área de 935.000 km². Sua vegetação caracteriza-se principalmente pela ocorrência de plantas adaptadas às condições edafoclimáticas características do Semi-Árido - predominância de arbustos e árvores de pequeno porte, cobertura descontínua de copas, caules tortuosos, folhas caducas, espinhos, cactos e bromélias em abundância. As fisionomias de caatinga são muito variáveis, dependendo do regime de chuvas e do tipo de solo, variando de florestas altas e secas, com até 15-20 m de altura, até afloramentos de rochas com arbustos baixos, esparsos e espalhados, e cactos e bromélias nas fendas, apresentando diversas formações intermediárias (Prado, 2003).

As áreas de ocorrência de floresta ombrófila aberta e de floresta estacional semidecidual na AII estão hoje reduzidas a uma vegetação secundária, mesclada ao uso agrário. Nessas áreas, encontram-se os chamados "brejos de altitude", associados ao Planalto da Borborema, com altitudes entre 500 e 1.100 m. São áreas mais elevadas, com temperaturas mais baixas e maior pluviosidade do que em torno, formando "ilhas" de vegetação florestal, diferenciadas da caatinga por receberem os ventos úmidos do oceano, que formam as chuvas orográficas no encontro com cotas mais elevadas do planalto. Enquanto a pluviosidade da região semi-árida está entre 240 e 900 mm/ano, nos brejos de altitude é superior a 1.200 mm/ano. De acordo com o mapa apresentado por Silva Filho et al. (1998), a maior parte dos brejos de altitude identificados no Estado de Pernambuco ocorre na região fisiográfica definida como Agreste, onde se insere a AII.

Foram registradas para a caatinga 58 espécies das quais 42 são endêmicas . Alguns gêneros característicos são Cereus (‘mandacarus’), Pilosocereus (‘facheiros’), Melocactus (‘cabeças-de-frade’) e Tacinga (‘palmas’), sendo este último endêmico.

A ocupação agropecuária predomina em grande parte da AII e também da AID.

Considerando que o Bioma Caatinga já está muito alterado, sofrendo processos de desertificação e, além disso, é o bioma cientificamente menos conhecido do país, o número de espécies ameaçadas talvez seja ainda maior. A inexpressiva extensão de áreas protegidas em Unidades de Conservação é um fato agravante nesse contexto.

No Estado de Pernambuco, de acordo com informações fornecidas pelo órgão ambiental estadual (CPRH), existem apenas 7 Unidades de Conservação (UC) no Bioma Caatinga. Já as seis Terras Indígenas (TI) existentes no Estado estão todas nesse Bioma. Entre as áreas protegidas nesse Bioma existentes na AII, destacam- se, pela dimensão e localização, as UC Parque Nacional do Catimbau e Reserva Biológica da Serra Negra e as TI Xucuru, Kapinawá e Kambiwá, ressaltando-se que as duas últimas são adjacentes ao Parque e à Rebio, respectivamente.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 24 -

Na classificação do Mapa do Bioma Caatinga, as únicas fisionomias que ocorrem na região onde se insere a AID são: Savana-Estépica Arborizada (Ta); Agropecuária (Ag); e Formações Pioneiras com Influência Fluvial e/ou Lacustre (Pa), sendo que nenhuma delas apresenta polígonos "puros", ou seja, há sempre predominância de uma ou outra classe em cada polígono delimitado nesta região. Na maior parte da AID predomina a agropecuária (Ag) e a vegetação natural já está bastante alterada, não tendo sido identificada nenhuma área expressiva de vegetação sem interferência antrópica.

A vegetação natural na AID, com base nos estudos e mapas sobre a região, está bastante alterada pela ação antrópica - fragmentada por diversas rodovias, com extensas áreas abertas e com aspectos indicativos de um intenso e antigo processo de ocupação e uso do solo. Por outro lado, além dos efeitos degradantes da ação antrópica, é possível que uma parte da vegetação tenha naturalmente uma fisionomia mais aberta e rala, em função das restrições climáticas e do substrato (solos rasos e pedregosos, p. ex.). Cerca de 53% da AID corresponde à soma das áreas de maior influência antrópica e de predomínio da agropecuária, bem como da área urbana e das rodovias. Lagos também poderiam ser inseridos nessa conta, tendo em vista que são artificiais, em maioria.

De acordo com dados do IBGE, o município de Sertânia respondeu pela maior quantidade de carvão vegetal extraído de matas nativas do Estado de Pernambuco no período de 1990 a 2005 (15 anos), liderando o conjunto de municípios que mais exploraram este produto no estado, todos das Microrregiões Político-Administrativas Moxotó e Pajeú. Vale ressaltar a existência de uma importante iniciativa para o controle da extração vegetal nessa região, que é o projeto intitulado Manejo Florestal Sustentável da Caatinga em Pequenas e Médias Propriedades Rurais da Microrregião do Moxotó – PE, desenvolvido pela Associação Plantas do Nordeste (APNE) e instituições parceiras junto a produtores de carvão da região.

De modo geral, em qualquer processo de ocupação e uso do solo, a disponibilidade de água, o relevo e os solos são fatores ambientais determinantes da intensidade de intervenção antrópica. Na região da AID, onde esses fatores ambientais são muito restritivos, principalmente a disponibilidade de água, observa-se que as áreas de vegetação mais aberta e degradada estão, geralmente, próximas de cursos d'água e em relevo mais suave e plano, incluindo-se aí as áreas preferenciais para agricultura – as várzeas. No extremo oposto, entre as áreas de vegetação natural identificadas na AID como menos alteradas, as que parecem estar mais conservadas encontram- se somente nas encostas da Serra Capitão Mor. Em uma dessas áreas, observou-se a presença de indivíduos de duas espécies que fazem parte da lista oficial da flora ameaçada de extinção (IBAMA, 1992), confirmadas na recente revisão da lista, São a aroeira (Myracrodruon urundeuva, antes Astronium urundeuva) e a baraúna (Schinopsis brasiliensis), ambas na categoria de vulnerável à extinção. A aroeira e a baraúna foram vistas em torno da área que será afetada pela construção da barragem e reservatório de Negros. A vegetação das encostas próximas, na Serra Capitão Mor, parece estar em bom estado de conservação.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 25 -

Porém, aparentemente, a vegetação natural na AID apresenta, em geral, uma composição florística empobrecida, de áreas significativamente alteradas. Na visita de campo, só foram observadas as espécies arbóreas mais comuns da caatinga, tais como o mulungu (Erythrina mulungu), as caatingueiras (Caesalpinia spp), o juazeiro (Ziziphus joazeiro), a faveleira (Cnidoscolus phyllacanthus), o umbuzeiro (Spondia tuberosa), o marmeleiro (Croton sonderinanus) e a imburana (Commiphora leptophloeos), bem como, entre os cactos, o mandacaru (Cereus jamacaru), a palma (Opuntia dillennii) e o xique-xique (Pilocereus gounellei).

Fauna Terrestre

Nas áreas mais conservadas, a fauna da caatinga possui elementos de porte como espécies topo de teia trófica (Onça - Panthera onca) e grandes predadores de sementes (Arara-vermelha - Ara chloroptera e Arara-azul - Anodorhynchus leari). Em algumas áreas, a biomassa de mamíferos de médio porte, como o veado-catingueiro (Mazama gouazoupira), queixadas (Pecari tajacu) e caititus (Tajacu pecari), são similares a de uma floresta úmida. Os endemismos variam de acordo com o grupo taxonômico em questão, sendo numerosos considerando-se a herpetofauna. Alguns grupos, como os arcossauros e mamíferos possuem representantes com distribuições disjuntas na Caatinga, Chaco e Cerrado, além de espécies vicariantes.

A introdução do gado como elemento profundamente modificador do ambiente natural alterou significativamente os habitats florestais existentes. A utilização intensiva dos recursos de fauna e flora culminou com o quadro atual de simplificação estrutural dos habitats pela perda de espécies e mesmo a desertificação de numerosas regiões da Caatinga. Em torno da cidade de Sertânia, a criação extensiva de caprinos ajuda a dizimar as poucas espécies vegetais sobreviventes tornando difícil a possibilidade de existência de espécies da fauna dependentes de ambientes não-antropizados. Somente os afloramentos rochosos íngremes conseguem manter parte da cobertura vegetal original e consequentemente com parcos representantes da fauna.

Dentro da bacia do Moxotó, uma área de destaque para a fauna na região é o Parque Nacional do Catimbau. Segundo SNE, 2002, o Parque com altitudes variando entre 350 e 1100 m s.m., apresenta 21 espécies de mamíferos, 128 espécies de aves, 19 espécies de répteis e 3 espécies de anfíbios. Destaca-se a ocorrência de espécies ameaçadas de extinção, como o pintassilgo-do-nordeste (Carduelis yarrelli), e outras consideradas vulneráveis ou raras, como Synallaxis hellmayri e Picumnus fulvescens. São citadas ainda as ocorrências de mamíferos de maior porte e topo de teia trófica como a onça-de-bode (Puma concolor). Os autores citam a possibilidade de ocorrência do bico-virado (Megaxenops parnaguae) e do chorrozinho (Sakesphorus cristatus) na região.

A parte mediana da AID atravessa o vale dos riachos Negros e Tigre, em cujas nascentes estão os contrafortes das serras divisórias com o Estado da Paraíba

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 26 -

(Serra do Capitão Mor) e com as melhores áreas de Caatinga observadas. Nesses locais, foram registrados endemismos de habitat, como o tem-farinha-aí (Myrmorchilus stigilatus) e o chorrozinho (Sakesphorus cristatus). Principalmente nos contrafortes das serras, o porte da vegetação arbórea da mata alcança seu ápice. O sub-bosque ainda é raleado para a utilização de caprinos e em todas as áreas amostradas havia indícios de extensa utilização antrópica.

No terço final da AID, após o futuro túnel que atravessa para a bacia do Ipojuca, foram observadas áreas de caatinga alterada, mas ainda com porte arbóreo na margem direita do referido rio, contrastando com a margem esquerda completamente desmatada para uso agropastoril. Na parte arbórea, foram observadas espécies típicas das locais, como os lagartos Tropidurus hispidus e Cnemidophorus ocelifer, além de aves características, destacando-se a choca (Thamnophillus punctatus), a gatinha (Polioptila plumbea) e a gralha-piom- piom. Nessa região, foram observadas espécies cinegéticas de porte, como a ema (Rhea americana), nas proximidades de fazendas de criação da mesma espécie.

9 Meio Socioeconômico

Demografia

A Área de Influência Indireta do empreendimento é composta, além dos municípios de Sertânia e Arcoverde, na RD do Moxotó, onde se localizarão as obras do Ramal do Agreste, pelos territórios de 70 municípios distribuídos pelas regiões de desenvolvimento do Agreste Central, do Agreste Meridional e do Agreste Setentrional. Esses municípios representam uma grande parcela da região do Agreste Pernambucano, incluindo algumas de suas maiores cidades, como Caruaru, que ultrapassava 210.000 habitantes em 2000, e , que já contava com mais de 100.000 moradores naquele ano.

Algumas destas regiões conservam ainda elevados contingentes rurais, principalmente no Agreste Meridional, com taxa média de urbanização na faixa de 52,1% em 2000, e no Agreste Setentrional, com taxa média de urbanização também reduzida (52,3%). Já nas RD do Agreste Central e do Moxotó, observa-se uma média de, respectivamente, 69,9% e 77,6% de seus habitantes vivendo no meio urbano. Ressalta também, na observação da dinâmica demográfica da AII, a reduzida taxa de crescimento da população da região em estudo no período intercensitário 1991-2000, com uma tendência à estagnação dos contingentes populacionais em diversos destes municípios, e mesmo uma diminuição no número de habitantes em alguns, em função, principalmente, da falta de alternativas de geração de renda, do elevado grau de concentração das terras, além da própria queda nos índices de fecundidade observada desde a década de 1980.

Abrangendo uma grande região, com quase 27.000 km2, os municípios em estudo possuem grandes variações em suas dimensões, resultando em densidades demográficas bastante diferenciadas, que vão desde os 630 hab/km2 verificados em

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 27 -

Toritama (Agreste Setentrional), com apenas 35 km2, ou seja, praticamente a sede municipal, até 13 hab/km2 observados em Sertânia (Moxotó), o de maior área e escassa ocupação, em que a caprinocultura ocupa lugar de destaque na economia local. Existe uma forte tendência ao desmembramento dos municípios, com a emancipação dos seus distritos mais consolidados, com o reconhecimento oficial pelo IBGE a cada quatro anos. Não se verifica, por outro lado, variações expressivas no tamanho das famílias residentes nestes municípios, com média de 4 moradores/ domicílio.

A ilustração 7, a seguir, apresenta a pirâmide etária da AII. As pirâmides populacionais dos conjuntos de municípios em estudo mostram base larga e se afunilando nas faixas subseqüentes, como costuma acontecer nas regiões com grande taxa de natalidade e elevado número de óbitos em todas as faixas etárias.

AII 80 e mais

70 a 79

60 a 69

50 a 59

40 a 49 30 a 39 20 a 29 Faixas Etárias (anos) 10 a 19 0 a 9 1210864 202 4681012 (Em %) Hom e ns Mulheres

Ilustração 7 - AII: Pirâmide etária – 2000.

Um outro aspecto a ser considerado, no que se refere às características da população, diz respeito à escolaridade dos chefes de famílias, fator diretamente ligado às oportunidades de trabalho e às possibilidades de se auferir renda. Cerca de 40% das pessoas responsáveis pelos domicílios particulares permanentes na AII eram indivíduos sem instrução ou com menos de um ano de estudos. Somando-se àqueles que freqüentaram a escola somente de um a três anos, o total chegava a atingir naquele ano a 65% desses chefes de família. Como corolário desta situação de pouca escolaridade, os seus rendimentos se situam em patamares extremamente reduzidos, onde praticamente 50% dos responsáveis pelos domicílios particulares permanentes na AII percebiam apenas até 1 salário-mínimo em 2000, elevando-se para quase 70% ao se considerar aqueles que recebiam até 2 salários-mínimos. Cabe notar, ainda, que a maioria absoluta das pessoas responsáveis pelos domicílios é do sexo masculino, principalmente no meio rural, em que a proporção é bastante superior às mulheres.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 28 -

A População Economicamente Ativa - PEA da região em estudo, isto é, a parcela dos indivíduos maiores de dez anos exercendo ocupação ou procurando trabalho quando da realização do Censo Demográfico, representava em 2000 pouco mais de 50% no conjunto da AII, com índices bem semelhantes em cada um dos grupos de municípios representados nas Regiões de Desenvolvimento, considerando-se tanto as zonas urbanas como as rurais, onde a taxa de desemprego é da ordem de 11%, sendo de 6%, em média, na área rural, e de 15% no meio urbano.

Nas projeções realizadas nos “Estudos Hidrológicos Complementares das Regiões do Agreste, Zona da Mata e da Região Metropolitana do Recife”, elaborados pela Acquatool Consultoria para a FUNCATE em março/2002, verifica-se, para o conjunto do Agreste Pernambucano, uma estimativa de crescimento da população urbana em cerca de 90% no período de 25 anos, enquanto a população rural observará um incremento de apenas 28%, retratando o intenso processo de urbanização que já se verifica há algumas décadas. Com isso, prevê-se para o conjunto da região um aumento na ordem de 63% no número de seus habitantes, no período compreendido entre os anos de 2000 e 2025.

Educação

A grande maioria das comunidades situadas na AII possui ensino até a quarta série, em escola localizada na própria comunidade. Em muitos casos as turmas são multiseriadas, principalmente no meio rural, mas, de acordo com as informações obtidas em pesquisa nos municípios, poucas crianças em idade escolar não freqüentam a escola. Um dos fatores responsáveis por tal fenômeno, além do trabalho realizado pelas Secretarias estadual e municipais, é a presença maciça do programa Bolsa-Escola, que representa importante fonte de renda monetária das famílias.

Os principais programas educacionais desenvolvidos pelos governos estadual e municipais são: Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA); Se Liga e Acelera Pernambuco; Alfabetização Cidadã; Programa de Centros Tecnológicos de Educação Profissional; Pedagogia da Informática Educacional; e Pedagogia de Projetos.

Saneamento

De modo geral, são bastante precárias as condições de saneamento dos municípios que compõem a AII do empreendimento. Ao se examinar o abastecimento de água desta grande região, observa-se que menos de 58% das moradias e 55% da população contavam com água encanada proveniente de rede geral em 2000. No entanto, na medida em que até 42% dos moradores desta grande região reside no meio rural, o que mais chama a atenção é o fato de que cerca de 30% dos domicílios, com 31% dos habitantes da AII, obtém a água de “outra forma”, o que inclui, além do abastecimento por carros-pipa, a coleta direta em açudes e barreiros, com graves riscos para a saúde desta parcela expressiva da população.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 29 -

Ainda mais precária é a situação do esgotamento sanitário na região, em que somente 40% dos domicílios, com 38% dos moradores, estão ligados a redes de coleta, mesmo quando utilizando a rede de galerias de águas pluviais. Agravando este quadro, deve-se observar que mesmo as águas servidas recolhidas por rede são em geral despejadas in natura nos corpos d’água, sem qualquer tipo de tratamento. As fossas são também utilizadas em larga escala, principalmente no meio rural, devendo-se destacar que, em quase 90% dos casos, trata-se de fossas rudimentares, e não fossas sépticas. Importa ressaltar, ainda, que cerca de 20% dos domicílios – onde moram mais de 24% dos habitantes da região – não dispõe de banheiro ou sanitário.

Por fim, cabe fazer referência a um dos maiores problemas enfrentados pelas municipalidades, qual seja o da destinação final do lixo. O aumento no grau de urbanização dos municípios acarreta uma maior produção de dejetos nas cidades, necessitando de soluções adequadas para que sejam evitados problemas de saúde pública. São poucos os aterros sanitários construídos segundo as modernas regras de engenharia sanitária, com as administrações públicas lançando mão, na maior parte dos municípios, de simples áreas de despejo, ou “lixões”, sem os cuidados necessários para a neutralização dos efeitos deletérios à saúde pública provocados por esta situação. Juntando-se a isso a eventual localização destas áreas de despejo em locais inapropriados para esta atividade, como proximidades de reservatórios ou cursos d’água, além de estradas, tem-se como resultado a poluição de mananciais tanto pelo chorume produzido como pelos próprios dejetos em decomposição, assim como paisagens desoladoras, em que grandes quantidades de sacos plásticos são espalhados pelo vento, cobrindo extensas áreas próximas às cidades. Na AII como um todo, pouco mais da metade do lixo produzido nos municípios é coletado, com o restante tendo como principal destino final o simples descarte em terrenos baldios ou logradouros, além de uma parcela importante que é queimado – prática utilizada principalmente no meio rural.

Os municípios de Sertânia e Arcoverde, constituintes da AID, têm situação bastante diferenciada em relação ao saneamento básico. Em Arcoverde, 83% dos domicílios, correspondendo a 82% da população do município, dispunham de água abastecida através de rede em 2000. Na área urbana, aproximadamente 90% de seus moradores tinham acesso a este bem. Já em Sertânia, apenas 47% dos domicílios (45% dos moradores) contavam com água abastecida pela rede geral em 2000. Quase a mesma proporção (39% dos domicílios, com 40% dos moradores) se utilizavam de “outras formas”, que podem incluir desde o abastecimento por carro- pipa até a coleta direta em açudes e barreiros, e os restantes 14% dos domicílios e 15% dos moradores captavam a água de poços ou nascentes. Com relação ao esgotamento sanitário, em 2000 cerca de 77% dos domicílios de Arcoverde, com 76% dos moradores, estavam ligados à rede de esgoto geral ou de recolhimento de águas pluviais. Enquanto que, em Sertânia, apenas 36% dos domicílios e 35% do total da população tinha acesso a rede coletora de águas pluviais. Importa ressaltar que 35% dos domicílios e dos moradores deste município não contavam com

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 30 -

banheiro ou sanitário, o que configura uma situação da maior gravidade. A coleta de lixo em Arcoverde atendia em 2000 a 77% dos domicílios, enquanto que, em Sertânia, contemplava apenas 47% dos domicílios.

Saúde

Todos os municípios de interesse do projeto estão situados na macrorregião Caruaru, sendo este o município de referência para serviços de saúde de alta complexidade. Quanto à rede assistencial, apesar do Estado de Pernambuco possuir uma das maiores redes públicas do país, tem uma distribuição heterogênea de seus serviços, estando mais concentrados na Região Metropolitana do Recife. A rede básica é ainda ineficiente, os hospitais municipais e regionais são pouco resolutivos e agregam pouca tecnologia. Existe uma superposição de oferta de alguns serviços e deficiência quantitativa e qualitativa de profissionais em algumas regiões do estado. A rede ambulatorial é composta por unidades de saúde, na sua maioria com baixo poder resolutivo, concentrando o atendimento de média complexidade nas sedes das Regionais de Saúde. Das dez Regionais de Saúde, apenas três oferecem serviços de Alta Complexidade (Recife, Caruaru e ).

A rede hospitalar nos municípios que integram a AII contava em julho/2003 com 80 unidades vinculadas ao SUS, das quais 60 públicas e 20 privadas. Estas unidades hospitalares somavam, em seu conjunto, cerca de 3.500 leitos, o que significa uma relação de mais de 1,75 leitos/1.000 habitantes. Como o Ministério da Saúde considera que um leito para cada 1.000 habitantes é suficiente para dar conta das necessidades de internação de uma população, conclui-se que a oferta quantitativa de leitos não chega a ser um problema para a região, mas sim a distribuição geográfica desta capacidade, os equipamentos disponíveis nos hospitais e a qualidade do atendimento oferecido. Deve-se levar em consideração, ainda, que havia naquele ano somente três leitos de UTI em toda a AII, localizados em Garanhuns. O atendimento ambulatorial oferecido pela rede conveniada ao SUS nos municípios da AII é prestado basicamente em unidades públicas municipais. Trata- se de uma rede bastante diversificada, da qual fazem parte diversos tipos de unidades, inclusive contando com cerca de 60 Unidades de Vigilância Sanitária.

Os índices de mortalidade infantil em toda a AII ainda são bastante elevados, devendo-se registrar, contudo, que se observa uma constante tendência de queda, derivada das diversas políticas e campanhas levadas a efeito nos últimos anos, concentrando-se ações em medidas preventivas, como o Programa de Saúde da Família, o incentivo ao aleitamento materno e o combate à desidratação através da reidratação oral, incentivada pela promoção do soro caseiro. Mesmo assim, no conjunto da região estudada a mortalidade infantil ultrapassou naquele ano 24 óbitos por 1.000 crianças nascidas vivas, retratando uma realidade que ainda apresenta baixos padrões de qualidade de vida das famílias, que não têm satisfeitas as suas necessidades básicas de alimentação, saneamento e atenção à saúde. Nos municípios de Arcoverde e Sertânia (RD Moxotó), este índice é superior (36,2/1.000

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 31 -

Nascidos Vivos), um quadro extremamente dramático, justamente nos municípios que compõem a AID do empreendimento.

As internações por gravidez, parto e puerpério constituem a maior parte da demanda hospitalar, em virtude do elevado número de nascimentos ocorridos, além de intercorrências pré e após parto. Esta incidência varia entre 24,6% das internações de moradores do Agreste Setentrional até 40,3% no Agreste Meridional, totalizando 32,3% no conjunto da AII. Após as internações decorrentes de gravidez, as doenças do aparelho respiratório predominam em todas as regiões de desenvolvimento pesquisadas, chegando a representar 10,4% do total de internações de residentes na AII, com exceção do Agreste Meridional onde prevalecem as doenças infecto- parasitárias.

Segundo a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco, o estado viveu uma grande epidemia de dengue nos anos 2002/2003. Em 2005, contudo, foram poucos os casos ocorridos nos municípios que constituem a AII, sendo que no Agreste Central apresentou-se a maior concentração. Apesar de em Caruaru terem sido realizadas 100 notificações, o que correspondia naquele ano a 3,6 casos/10.000 habitantes, em Orobó a situação se apresentou com maior gravidade, com 27 notificações, o que representou 11,7 casos/10.000 hab.

Foram notificados 613 casos de hepatites (de todos os tipos A,B,C,D,E) em 2005 na AII. As hepatites A e E são as mais importantes para este estudo, pois sua via de transmissão é fecal-oral, e portanto, muito associada ao consumo de água contaminada com coliformes fecais. Os dados apresentados, porém, não separam os tipos de hepatite notificada. A RD Agreste Central foi a que apresentou o quadro mais crítico, com um índice de 3,9/10.000 hab, e o município de Poção, nesta RD, com 23 casos/10.000 hab, mostrou-se o mais afetado por hepatite neste ano.

A esquistossomose mansônica, endemia de destaque no quadro de morbidade nacional, apresentou, nos municípios da AII, 962 casos confirmados em 2005 e a RD com maior prevalência da doença foi o Agreste Setentrional, com um índice de 8,5 casos/10.000 hab. Embora o município de , nesta RD, tenha chegado a apresentar 72,7 casos/10.000 hab, em Correntes, no Agreste Meridional, o quadro se apresentou mais grave, com 86,5 casos/10.000 hab.

É marcante a presença da hanseníase em praticamente todos os municípios da AII, que em 2005 tinha 2.772 pacientes, o que significava uma relação de 12,7 casos/10.000 hab. A RD Agreste Central é a mais atingida por esta doença, que naquele ano apresentou um índice de 15,4 casos/10.000 hab, com taxas bastante elevadas em diversos de seus municípios, como Gravatá (48,4 casos/10.000 hab), Belo Jardim (36,1/10.000 hab) e Cupira (30,5/10.000 hab).

As doenças sexualmente transmissíveis (DST) poderão sofrer impacto em seus indicadores, face ao razoável contingente de mão de obra masculina que deve se dirigir para a região em função do empreendimento. A sífilis congênita apresentou 95

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 32 -

casos na AII em 2005, enquanto foram registrados 130 casos de AIDS na região. As notificações de AIDS em Arcoverde, à margem da BR-232 e importante entreposto comercial, alcançaram 1,8 casos/10.000 hab, enquanto em São Caitano, no entroncamento da BR-232 com a BR-104, e Caruaru, a maior cidade da AII e uma das mais importantes do estado, com um grande movimento de pessoas oriundas dos mais diversos lugares, apresentaram as maiores taxas de incidência da doença entre suas populações com, respectivamente, 1,7 casos/10.000 hab e 1,6 casos/10.000 hab.

Qualidade de Vida

No período de 1991 a 2000, houve melhorias no IDH – muitas vezes consideráveis, com incrementos acima dos 20% - em todos os municípios da AII. A dimensão que mais contribuiu para esta elevação, em praticamente todos os casos, foi a Educação, que inclui, entre outros indicadores, a taxa de alfabetização e a taxa de freqüência à escola. A dimensão de Longevidade, que incorpora a esperança de vida ao nascer, também obteve aumentos expressivos em muitos casos, certamente em virtude das melhorias ocorridas no setor de Saúde, em que a introdução do Programa de Saúde da Família teve papel fundamental.

No cômputo geral, a dimensão em que geralmente ocorreram menores incrementos relativos foi a Renda, mesmo com a extensão dos direitos de aposentadoria aos trabalhadores rurais, havendo mesmo municípios que acusaram um piora em seus indicadores, que incluem a renda per capita entre os principais aspectos pesquisados.

De qualquer forma, é ainda reduzido o IDH nesta vasta região, apesar da totalidade dos municípios estar situada na faixa cujos valores são considerados “médios”, isto é, com IDH acima de 0,500. Apenas dois municípios se destacam por já terem transposto o índice de 0,700, considerado como IDH “alto”: Caruaru (IDHM 0,713); e Arcoverde (IDH 0,708).

Aspectos Econômicos

A AII abarca municípios com os mais diversos portes e atividades desenvolvidas. Dentre eles, alguns se destacam, tornando-se pólos indutores de desenvolvimento e de atração de novos empreendimentos, tanto pelo dinamismo de sua economia, como Caruaru, como por sua localização estratégica, levando ao crescimento dos setores de comércio e serviços, como Arcoverde. De forma geral, contudo, trata-se de pequenos municípios com a economia fortemente dependente dos repasses governamentais, vivendo um processo de urbanização acelerado, o que se traduz em incremento das atividades do setor terciário em detrimento das atividades tradicionais da agropecuária.

Considerando-se todos os setores de atividades, o setor de Comércio agrega mais da metade dos estabelecimentos em atuação nos municípios da AII, seguido pelo de

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 33 -

Serviços, sendo que estes dois, em conjunto, somam mais de 80% do total, e, de um modo geral, este quadro se repete em todas as regiões de desenvolvimento consideradas. Tanto em Arcoverde como em Sertânia, municípios constituintes da AID, os estabelecimentos comerciais chegam a somar praticamente 59% do total de estabelecimentos de todos os setores.

É ainda importante ressaltar que tem havido uma evolução no nível do emprego formal nos municípios estudados, considerando-se apenas aqueles com mais de 30.000 habitantes.

Os estabelecimentos rurais com menos de 10 ha, apesar de comporem cerca de 74% do total da AII, somam menos de 15% das áreas dos estabelecimentos. Por outro lado, aqueles com mais de 1.000 ha, que correspondem a cerca de 0,1% das propriedades, detêm aproximadamente 11% das áreas.

No que se refere à agricultura, as principais lavouras temporárias da região, em área colhida, são aquelas ligadas à subsistência das famílias, principalmente o feijão e o milho que estão presentes em praticamente todos os municípios da AII. Secundariamente, a mandioca é produzida principalmente no Agreste Meridional.

Dentre as lavouras permanentes, a banana aparece com a maior área colhida, especialmente nos municípios do Agreste Central, enquanto o café e a castanha-de- caju são produzidos em diversos locais do Agreste Meridional.

Tanto em Arcoverde como em Sertânia, municípios a serem atravessados pelo Ramal do Agreste, o feijão e, principalmente, o milho, são as culturas que ocupam a maior parte das terras dedicadas às lavouras temporárias, praticamente não havendo cultivo de lavouras permanentes.

A pecuária mantém importância em diversos municípios da região, principalmente a criação de bovinos, tanto de corte como de leite, e a caprinocultura. Em Sertânia, a criação de caprinos cumpre papel de grande relevância na economia local, destacando-se como o maior produtor de Pernambuco, com mais de 1/3 do rebanho estadual. Constitui, junto com o vizinho município de Monteiro (PB) e outros do Cariri paraibano, um dos principais pólos de caprinocultura do Nordeste. Ressalta-se, também, que o rebanho de Arcoverde consegue a segunda maior produtividade leite/animal/ano de todos os municípios da AII, além de aparecer como grande produtor de mel de abelha.

Ainda com respeito ao setor primário da economia, cabe fazer referência à produção extrativa vegetal, que tem nas produções de lenha e de carvão, disseminadas em todo o território da AII, o maior valor adicionado, mas, ao mesmo tempo, constituindo-se em atividades causadoras de destruição dos resquícios de mata nativa da região.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 34 -

As empresas do setor secundário estão, em sua maior parte, concentradas em poucos municípios. Somente em Caruaru estão instaladas mais de 30% das indústrias da região. Ao se adicionar aquelas localizadas nos municípios de Belo Jardim, Bezerros, Gravatá, Pesqueira, Garanhuns, e , tem-se que apenas oito municípios concentram cerca de 75% das indústrias existentes na AII. Os segmentos destas indústrias são diversificados, destacando-se os produtos alimentícios e as confecções.

Infra-Estrutura

O Agreste Pernambucano, situado entre o litoral do estado e o Sertão, apresenta uma extensa malha rodoviária, composta tanto de rodovias federais como estradas estaduais e vias municipais. Dentre as principais vias implantadas na Área de Influência Indireta – que, na verdade, funcionarão como guias para os dutos do Sistema Adutor do Agreste Pernambucano – devem ser destacadas as seguintes rodovias federais: BR-232; BR-104; BR-423; BR-424; e BR-110. A frota de veículos automotores registrados na AII somava em 2006 cerca de 270 mil unidades dos diversos tipos.

Como estrutura aeroviária, destaca-se a presença na AII dos aeroportos de Caruaru, com pista asfaltada 1.700m, e os de Arcoverde e Garanhuns, ambos com pista de 1.200m, além dos pequenos aeródromos de Pesqueira e de Belo Jardim, com pista ao redor de 1.000m de extensão.

Cabe referir, ainda, em relação à infra-estrutura de transportes, a existência de linha férrea, atualmente desativada, que fazia a ligação entre Recife e . No seu percurso, ela atravessa as cidades de Arcoverde e Sertânia, na AID, além da localidade de Henrique Dias, onde há uma estação, e o local onde será construída barragem no riacho Negos.

Todos os municípios da AII contam com energia elétrica, distribuída pela CELPE. O consumo anual total, que ultrapassa 1.200 Gwh, é advindo em sua maior parte do consumo residencial (42,2%), seguido pelo consumo industrial (13,4%) e, quase na mesma medida, pelo consumo comercial (13,0%).

Algumas linhas de alta tensão, pertencentes à CHESF, atravessam a AII, nas proximidades de Tacaimbó. É também neste município que está instalada a única Subestação da CHESF na AII.

Segurança

Visando modernizar o combate à violência em Pernambuco, diversos especialistas decidiram integrar as polícias militar e civil, dando origem a Secretaria de Defesa Social (SDS), criada através da Lei nº 11.629, de 28 de janeiro de 1999. A integração das polícias Civil e Militar, além da Polícia Científica e do Corpo de

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 35 -

Bombeiros Militar prevê o vínculo de todas a um único centro de decisões, passando a atuar de maneira mais integrada e harmônica.

Entre 1999 e 2002, o Governo do Estado investiu R$ 5.402.459,96 em segurança na Região do Agreste Central. Deste montante, 54.2% foi utilizado no reaparelhamento das Unidades de Segurança através da aquisição de 81 viaturas. Os municípios de Caruaru e Belo Jardim foram os que receberam o maior número de veículos, além de recursos aplicados nos Núcleos de Segurança que também contemplou o município de Bezerros. O presídio de Caruaru foi contemplado com 23% da verba de segurança e o restante foi destinado às cadeias de , Altinho, Bezerros, Bonito, Gravatá, Jataúba, e São Bento do Una.

Entre 1999 e 2002, o Governo do Estado investiu R$ 6.394.460.00 em segurança na Região do Agreste Setentrional. Deste montante, 34.7% foi utilizado ao reaparelhamento das Unidades de Segurança através da aquisição de 44 viaturas. Um novo presídio foi construído em e a cadeia de foi reformada.

Turismo e Lazer

O turismo é uma das atividades econômicas que predominam na Região do Agreste Central. Dos 394.678 habitantes que formam a sua população economicamente ativa, cerca de 17% está ocupada no setor de comércio e serviços. É esta região que abriga o Pólo de Confecções de Pernambuco (vestuário e têxteis) - principalmente no eixo de Caruaru – que produz 73% do vestuário do Estado, gerando 77 mil empregos diretos e indiretos e 12 mil empresas formais e informais. Ao turismo e ao setor têxtil e de confecções, soma-se a indústria extrativista, logística e de floricultura, contribuindo com 6,8% de participação da RD Agreste Central no PIB estadual.

A Região Agreste Central tem o turismo impulsionado principalmente pela Festa dos Reis, Semana Santa e festas juninas, mas também conta com o Circuito do Frio - programa idealizado pelo Governo do Estado para incrementar o inverno das cidades serranas com atrações culturais, artísticas e esportivas - que acontece entre os meses de julho e agosto. As cidades que participam deste circuito são: Pesqueira, Gravatá, Garanhuns (Agreste Meridional), (Agreste Setentrional) e Triunfo. Os moradores locais e turistas enfrentam uma temperatura média de 15 graus e se divertem com shows de música regional.

Aspectos Culturais

No aspecto cultural, percebe-se diversas afinidades entre os municípios da AII. Exemplos disso são o gosto da população pelas Feiras, como a famosa feira de Caruaru, e eventos ligados à cultura do sertão e plantios, como a Festa do Morango, em Garanhuns, feiras de produtos de artesanato e barracas de alimentação e os festejos de motivação religiosa, como as festas de padroeiro e de outros santos, o Natal, o Dia de Reis, a Páscoa e as festas juninas.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 36 -

As comemorações de São João propiciaram a afirmação de um ciclo festivo que passou a ter calendário com os principais santos homenageados no mês de junho: Santo Antônio no dia 13, São João no dia 24 e São Pedro e São Paulo no dia 29. O dia 23 de junho, véspera do nascimento de São João e quando são iniciados os festejos, é esperado com especial ansiedade. As festas juninas trazem uma série de tradições sertanejas que envolvem música, danças, comida e vestuário próprios.

A Quaresma e a Semana Santa também são motivos de realização de atividades no sertão como a Paixão de Cristo, Missa de Ramos. Em sentido religioso, é o período que vai da quarta-feira de Cinzas até o domingo de Páscoa.

As manifestações tradicionais mais freqüentes em vários desses municípios são encontradas nos grupos folclóricos como os repentistas, bacamarteiros, pastoris, trio de forró, reisado, bandas de pífanos, coco, brincantes de perna de pau e outros grupos de tradição local, bastante expressivos na Região do Moxotó, em Arcoverde e Sertânia. Em Arcoverde, na véspera do São João, apresenta-se o Cordel do Fogo Encantado, formado por filhos da cidade, que sobem ao palco à meia-noite, logo após a apresentação do Samba de Coco Raízes de Arcoverde.

De modo geral, e em especial nos municípios de pequeno porte, as atividades sociais e de lazer mais comuns são a ida a feiras livres, mercados do produtor, cultos religiosos e visitas a parentes. Os hábitos alimentares e de criação pastoril refletem-se nesses eventos, como em Sertânia que vem realizando anualmente o Festival Nacional do Bode, evento que reúne técnica, cultura e lazer.

O Estado de Pernambuco, como toda a região Nordeste, apresenta uma grande variedade de produtos artesanais. Além do tipo figurativo, composto por peças que são verdadeiras obras de arte, há uma enorme quantidade de produtos utilitários, indispensáveis no dia-a-dia da população. Pelos principais ramos, o artesanato pernambucano está dividido em cestaria e trançados, bordados e rendas, cerâmica, couro, tecelagem, madeira, metal e tapeçaria. O artesanato em couro, com artigos como bolsas, cintos, chapéus, sapatos e outros, do tipo popular, é dirigido à população de baixa renda. Além desses produtos, também são confeccionados arreios para cavalo, bainhas para faca, moringas, cartucheiras, gibões e selas para montaria em animais. Os maiores centros produtores de artigos artesanais em couro do Estado são os municípios de Toritama (incluído na AII) e Timbaúba, produtores, sobretudo, de calçados, bolsas e cintos. As principais matérias-primas utilizadas são o couro de bovinos ou caprinos e borracha (reaproveitamento de pneus).

Em Caroalina, localidade de Sertânia, a planta caroá tem dois usos: produção de papel e de fibras para cestaria, trabalhos realizados por artesãs reunidas na Associação das Mulheres Produtoras de Caroalina. Além de artesanato, as mulheres de Caroalina fazem xaropes, pomadas e sabonetes medicinais, a partir de ervas cultivadas em canteiro montado pela APNE – Associação Plantas do Nordeste,

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 37 -

entidade que ainda realizou uma articulação com a Prefeitura de Sertânia visando a alfabetização das artesãs.

Organização Social

A Sociedade Civil da área de estudo apresenta um padrão de organização social bastante diversificado e tendendo a atender ao conjunto de problemas característicos da região, os quais têm como principais eixos aglutinadores a insegurança quanto à disponibilidade de recursos hídricos, a luta pela posse da terra e a implementação de projetos complementares às carências existentes. A presença em quase todos os municípios de conselhos paritários, atendendo à legislação vigente das áreas de Saúde, Educação, Social, Ambiental, entre outras, ganha relevância quando associada a gestões municipais de cunho popular e democrático. No entanto, no semi-árido como um todo, e em especial na AII, a população ainda conta fundamentalmente com o apoio das grandes redes regionais vinculadas ao CIMI, CPT e MST.

Como organizações institucionalmente consolidadas, estão inseridos os Sindicatos de Trabalhadores Rurais e os núcleos de apoio à ação comunitária ligados à Igreja Católica, segundo o formato usual das Pastorais.

As Associações de Gênese Clientelística, na maioria dos casos, se referem a associações constituídas tendo em vista exclusivamente o acesso aos fundos de financiamento públicos. São entidades que predominam nas áreas rurais, cuja finalidade original foi dar acesso a créditos de programas tais como o PAPP, o PRONAF e o FNE, recursos freqüentemente mediados pelas instâncias governamentais. Essas associações tendem a se desmobilizar ao término dos financiamentos e freqüentemente estabelecem com os políticos locais vínculos de estreita dependência. Observa-se que a predominância deste tipo de associativismo situa-se, principalmente, nas áreas de maior carência de recursos hídricos.

Há ainda a presença de vários grupos de cunho educativo e ambiental que desenvolvem trabalhos específicos voltados para a cultura local, geração de renda e organização de cooperativas.

Patrimônio Histórico e Cultural

Na AII, o povoamento luso-brasileiro iniciou-se em meados do século XVII e foi-se estendendo paulatinamente. Geralmente, os núcleos de povoamento não eram mais que toscos arraiais. A maior parte dos núcleos nasceu em terras de fazendas, estas estabelecidas entre a segunda metade do século XVIII e o início do XIX. Sabe-se que sesmarias foram distribuídas na região que viria a ser comarca de Cimbres desde o século XVII. No vale do Rio Moxotó, – anteriormente território dos índios Cariri e, no início do período colonial, parcialmente doadas à Congregação de São Felipe Nery, do Oratório da Madre de Deus de Recife (Governo de Pernambuco, 1982: 22) - em meados do século XVIII, iniciou-se a ocupação da terra por

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 38 -

agricultores e criadores de gado que, do litoral, alcançaram a região da Serra de Jabitacá pelo Caminho do Capiberibe ou pelo Caminho do Ipojuca. A partir da década de 1770 e até o início do século XIX, estabeleceram-se outras fazendas de agricultores e criadores de gado nos atuais territórios de Arcoverde – onde a proximidade da Serra da Aldeia Velha permite supor a existência de aldeia indígena contemporaneamente ao estabelecimento dos colonizadores brancos – e de Sertânia.

Entre 1885 e 1896, a empresa Great Western construiu a Estrada de Ferro Central de Pernambuco, que proporcionou ligação direta entre Recife e Jaboatão, intensificando-se, então, a influência cultural da Zona da Mata sobre o Agreste. Posteriormente, a linha estendeu-se até Albuquerque-Né, localidade da região em estudo. Em 1950, essa linha foi incorporada pela União, na Rede Ferroviária do Nordeste, como Linha Centro. Desde 2005, a partir de Jaboatão, a linha está abandonada.

Nesse cenário, alguns núcleos urbanos passaram a dispor também de energia elétrica, agências bancárias e repartições públicas federais. No início do século XX, as ações do IFOCS/DNOCS contra as secas, e do DNER, permitiram a construção de malha de rodovias, tipo de via que contou com a preferência regional.

A RD Agreste Setentrional comporta municípios de pequeno porte, sem pólo cultural definido. Destacam-se as festividades: a culinária comum a todo o Agreste Pernambucano, com o feijão verde, a galinha de capoeira e de cabidela, o cozido e o assado de cabrito; o patrimônio edificado, constituído principalmente por casarios antigos e igrejas, em zona urbana; e as tradições locais de artesanato, trabalhos manuais e manufatureiras.

Na RD Agreste Central destaca-se o pólo cultural representado por Caruaru, que influencia toda a região, dada a riqueza e a diversidade do seu Patrimônio Cultural, que inclui os espaços culturais Elba Ramalho e Tancredo Neves - neste último, encontra-se o Pátio de Eventos Luiz Gonzaga -; o Parque de Eventos, a Sala José Condé; a Casa-Museu Mestre Vitalino e o Memorial Mestre Galdino, exemplares significativos do patrimônio edificado local, consagrados às obras e à memória destes importantes artesãos do barro nordestinos, aos quais acrescentam-se os museus do Barro, do Forró Luís Gonzaga e da Fábrica de Caroá. Alto do Moura, um povoado a sete quilômetros da sede de Caruaru, é considerado o maior centro de artes figurativas das Américas. Importante mercado para o artesanato de todo o Agreste Central são as feiras de Caruaru, destacando-se a Feira de Sulanca. As feiras são, também, locais onde se dão apresentações de artistas populares e se vende literatura de cordel, “folhetos impressos, compostos em todo o Nordeste” (CASCUDO, 2002:332).

O pólo cultural da RD Agreste Meridional é o município de Garanhuns, que possui importantes espaços culturais, como o Centro Cultural Alfredo Leite Cavalcanti, localizado em um edifício que é verdadeiro exemplar da arquitetura inglesa do

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 39 -

século XIX, com características semelhantes às das edificações ferroviárias. O Centro abriga espaço para teatro, sala de História da imprensa, museu, sala da memória, casa do artesão e galeria de artes. Também em Garanhuns encontra-se o Espaço Cultural Luís Jardim, que possui um mural acerca da História municipal e local para apresentações. Destaca-se, ainda, a Casa de Farinha do Castainho, onde se encontram expostos os objetos utilizados para o fabrico artesanal de farinha: a caixa de madeira, chamada de "cevador", a prensa, o rodeto, o forno circular de alvenaria e o rodo, usado para mexer a farinha. As feiras de Garanhuns são importantes para a exposição e comercialização do artesanato regional.

Na RD Moxotó, os municípios que pertencem à AII, Arcoverde e Sertânia, também constituem a AID. O espaço cultural mais importante de Sertânia é o Armazém do Artesanato, onde, além da exposição e venda do artesanato local, é oferecida a culinária típica regional: xerém com galinha, bode guisado, bolo de milho e mungunzá. Os produtos mais conhecidos e importantes do artesanato de Sertânia são os oratórios talhados na madeira e as esculturas alongadas de madeira. São, ainda, realizados trabalhos manuais com bordados e renda. Arcoverde dispõe dos seguintes espaços culturais: a feira que, da periferia chega ao bairro Tamboré, onde a produção artesanal local é exposta e comercializada; o Museu do Índio do Nordeste; o Alto do Cruzeiro, onde se reúnem grupos de coco de roda; e a sala Rio Branco de cinema.

Patrimônio Arqueológico e Pré-Histórico

Os sítios arqueológicos registrados na AII do empreendimento, de acordo com as fontes consultadas, somam 162, distribuídos por apenas 23 (35%) dos 66 municípios das regiões de desenvolvimento aqui consideradas. Quando se analisam os dados sobre exposição dos sítios arqueológicos (a céu aberto ou em abrigos sob rocha), chama atenção a alta proporção de sítios em abrigos sob rocha, em detrimento dos registrados a céu aberto, quando o normal seria o inverso, uma vez que o espaço aberto é muito mais amplo que o abrigado. Isto deve-se ao fato de as pesquisas arqueológicas na área de estudo terem privilegiado os abrigos sob rocha, em função do interesse científico despertado principalmente (embora não apenas) pelas pinturas rupestres neles existentes. Destaca-se, assim, o alto índice de sítios de arte rupestre (principalmente pinturas) registrado na AII (43,7%). Embora a maioria dos grafismos rupestres tenham sido registrados em abrigos sob rocha, também ocorrem em matacões aflorados na superfície do solo ou no leito de rios.

Sobre os sítios pré-cerâmicos, existem algumas datações que comprovam a ocupação da área de estudo por sociedades de caçadores-coletores, pelo menos há cerca de 6.400 anos a.C.. Esta datação foi obtida num dos abrigos sob rocha do conjunto denominado “Pedra do Caboclo”, no município de Bom Jardim, na RD Agreste Setentrional.

A ocupação do Agreste Pernambucano por sociedades horticultoras produtoras de cerâmica também é bem antiga, havendo datações que comprovam que estas lá se

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 40 -

encontravam já há cerca de 2.900 anos a.C.. Essa datação foi obtida no sítio Alcobaça, município de Buíque, na RD Agreste Meridional.

O interessante a ressaltar é que, devido a condições climáticas propícias, é comum a preservação de restos humanos enterrados nos sítios arqueológicos do Agreste, tendo sido registrados 12 cemitérios pré-coloniais, no Agreste Setentrional, Central e Meridional. Os enterramentos registrados até o momento se encontram associados às ocupações ceramistas.

A ocupação da área de estudo perdurou até o domínio do interior pernambucano pelo conquistador europeu, que rapidamente levou ao declínio demográfico e à descaracterização cultural as sociedades indígenas que lá se encontravam.

Um vestígio arqueológico especialmente abundante na área de estudo são os grafismos rupestres, representados majoritariamente por pinturas da denominada tradição Agreste e, com menos freqüência, por gravuras.

No que concerne aos sítios arqueológicos históricos registrados na área de estudo, o material diagnóstico que permitiu inferências cronológicas foi a louça.

Os sítios arqueológicos históricos estudados até o momento na área de estudo são relativamente recentes, com ocupação situada predominantemente entre o final do período colonial e o início do período republicano. O período cronológico mais representado é, sem dúvida, o período imperial.

Populações Indígenas

A mobilização política dos grupos indígenas no Nordeste para afirmação de sua identidade até o início da década de 90 apoiou-se fundamentalmente no processo de reconquista territorial. E é a partir de fatos de natureza política, como demandas quanto à terra e assistência formuladas ao órgão indigenista, que os atuais povos indígenas no Nordeste são colocados como objeto de atenção para os antropólogos. Na atualidade, as reivindicações são bem mais amplas; além do território, é preciso garantir uma escola diferenciada, projetos de desenvolvimento que considere as peculiaridades étnicas, um sistema de saúde voltado para as práticas já exercidas pelo próprio grupo etc.

Na AII, encontram-se duas áreas indígenas. A Terra Indígena Xukuru, com cerca de 50 “aldeias” ou núcleos, possui população estimada em 8.500 índios (sendo a maior população indígena no Nordeste). Localiza-se no município de Pesqueira. Dentro desta a área indígena situa-se o reservatório e a barragem de Pão de Açúcar, no rio Ipojuca, à jusante da área prevista para a adução do sistema adutor do agreste pernambucano. A água é utilizada pelos índios para a produção agrícola irrigada. A outra área indígena é a dos Kapinawá, que fica a 18 km da entrada do Parque Nacional do Catirmbau, em Buíque, onde os índios vivem em sistema de aldeamento na localidade denominada Mina Grande, com a exploração de

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 41 -

agricultura de subsistência e artesanato de palha. A população é de cerca de 1.000 indivíduos, habitando uma área de 12.403ha.

Remanescentes de Quilombos

Desde o final dos anos setenta que a academia e as instituições estão produzindo informações sobre essas comunidades étnicas. No entanto, esses dados não se encontram sistematizados e nem os recentes censos do IBGE podem delimitar esse grupo social em suas pesquisas, uma vez que o termo preto/negro utilizado nos campos dos questionários do IBGE não distingue a comunidade quilombola tal como definida nos documentos oficiais. Para efeitos desse relatório, utiliza-se as definições expressas na Instrução Normativa Nº. 20 de setembro de 2005 do INCRA, que regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação, desintrusão, titulação e registro das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos de que tratam o Art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal de 1988 e o Decreto nº 4.887, de 20 de novembro de 2003.

Em termos de conceituação, foram consideradas comunidades de quilombos ou quilombolas os “grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-definição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida”. Nesse sentido, as terras ocupadas por remanescentes das comunidades de quilombos, são “toda a terra utilizada para a garantia de sua reprodução física, social, econômica e cultural; bem como as áreas detentoras de recursos ambientais necessários à preservação dos seus costumes, tradições, cultura e lazer, englobando os espaços de moradia e, inclusive, os espaços destinados aos cultos religiosos e os sítios que contenham reminiscências históricas dos antigos quilombos”, tal como referido nos artigos 3 e 4 da referida Instrução Normativa.

Apesar dos preceitos legais apresentados já na Carta Magna, durante a década de noventa o processo formal ainda se encontrava indefinido, promovendo-se uma série de iniciativas isoladas de regularização dos territórios quilombolas, ora conduzidas pela Fundação Cultural Palmares, ora pelo IBAMA, ora pelo INCRA ou ainda pelos Institutos de Terra dos Estados. Através das informações disponíveis dos referidos dados encontram-se distribuídas, ao longo de 12 municípios presentes na AII, 27 comunidades quilombolas, com cerca de 3.600 famílias cadastradas pelo INCRA.

Caracterização Fundiária da AID

Para diagnosticar a estrutura fundiária encontrada ao longo do percurso projetado do Canal do Agreste foi utilizada como base restituição aerofotogramétrica elaborada na escala 1:2.000 com a locação do traçado do canal e cobertura de 250m para cada lado do seu eixo.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 42 -

Foi percorrido todo o traçado do canal, iniciando-se no município de Sertânia, na localidade conhecida como Barro Branco, e terminando no município de Arcoverde, na localidade de Poços de Baixo; objetivando identificar e caracterizar os imóveis atingidos diretamente pelo traçado do canal. Para tanto foram percorridos 74.500m, sob a forma de semi-cadastro. Vale destacar algumas ocorrências que interferiram no desenvolvimento dos serviços ao longo do percurso: muitos detentores não residem nos seus respectivos imóveis; foram observados longos trechos sem moradia ou qualquer atividade desenvolvida; a base cartográfica utilizada não permitia a delimitação do perímetro do imóvel, restringindo-se apenas aos limites da área restituída, com largura média de 500m, dificultando, assim, a coleta de informações para composição desse diagnóstico.

Foram identificados aproximadamente 95 imóveis, sendo que a grande maioria localizada no município de Sertânia (75% do total), e o restante no município de Arcoverde. Dos imóveis identificados, segundo informações coletadas no campo, 94% pertencem a pessoas físicas, considerando-se inclusive espólios. Somente seis imóveis não estão nessa situação: três de propriedade da Empresa Supranor Industria e Comércio Ltda., sediada em Recife; um imóvel rural ocupado pelo Instituto Pernambucano de Agricultura – IPA, empresa de pesquisa agropecuária vinculada ao Governo do Estado de Pernambuco; uma área ocupada por assentados, representados pela Associação dos Agricultores dos Poços e Região; e uma área conhecida pelos vizinhos como “Terra Devoluta”, sem nenhuma exploração.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 43 -

5. Legislação Incidente e Aplicável

A gestão ambiental pública, no Brasil, é exercida pelos organismos integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), isto é, os órgãos e entidades da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental (Lei nº 6.938, 31 de agosto de 1981, artigo 6º).

Na Resolução CONAMA nº 237/97, Anexo I, é consignada a obrigatoriedade do licenciamento ambiental do empreendimento. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes é crime, punido com pena de detenção ou multa, ou ambas cumulativamente (Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1988, artigo 60). De modo geral, interessam à questão do licenciamento ambiental do empreendimento, na esfera federal, a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que instituiu a Política Nacional de Meio Ambiente - PNMA, o Decreto nº 99.274, de 06 de junho de 1990, que a regulamentou, e as Resoluções nºs 001/86 e 237/97, ambas do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA.

O exame do artigo 10 e §§ da Lei nº 6.938, de 31/08/81, bem como dos artigos 4º, 5º e 6º da Resolução CONAMA nº 237/97, indica, claramente, a competência estadual para o procedimento, no caso, a do Estado de Pernambuco, uma vez que o empreendimento localiza-se em mais de um município (Arcoverde e Sertânia) daquele estado da federação, impondo-se a competência deste último e excluindo- se assim a hipótese de competência municipal e que os impactos diretos do empreendimento cingem-se ao Estado de Pernambuco, afastando-se assim a competência federal, quanto a este critério, não se configurando, ademais, qualquer das outras hipóteses de competência federal elencadas nos incisos do artigo 4º da Resolução CONAMA nº 237/97.

Assim sendo, interessa também ao licenciamento ambiental do empreendimento a Lei Estadual de Pernambuco nº 12.916, de 08 de novembro de 2005. Conseqüentemente, exigem, também, o licenciamento ambiental do empreendimento os itens 11.4 e 11.5 do Anexo I da Lei Estadual de Pernambuco nº 12.916, de 08 de novembro de 2005. O processamento do licenciamento ambiental do empreendimento deve ficar a cargo da Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – CPRH (Lei Estadual de Pernambuco nº 12.916, de 08 de novembro de 2005 , artigo 4º).

Quanto à compensação ambiental, tanto o artigo 27 da Lei Estadual de Pernambuco nº 12.916, de 08 de novembro de 2005, quanto o artigo 36 e §§ da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2.000, dispõem que: “Nos casos de licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo impacto ambiental, assim considerado pelo órgão

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 44 -

ambiental competente, com fundamento em Estudo de Impacto Ambiental e respectivo relatório - EIA/RIMA, o empreendedor é obrigado a apoiar a implantação e manutenção de unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral, de acordo com o disposto neste artigo e no regulamento desta Lei”. O montante de recursos que devem ser destinados à compensação ambiental pelo empreendedor será fixado, gradualmente, a partir de meio por cento dos custos totais previstos para a implantação do empreendimento, considerando-se a amplitude dos impactos gerados, isto é, o grau de impacto ambiental causado pelo empreendimento (Decreto nº. 4.340, de 22 de agosto de 2.002, artigo 31, § único). Não devem ser computados nos custos totais do empreendimento as despesas em que incorre o empreendedor para mitigar-lhe os impactos ambientais, que não sejam obrigatórias. Já as despesas destinadas à mitigação de impactos ambientais que são obrigatórias serão computadas nos custos totais do empreendimento, conforme o artigo 3º, §1º e §2º da Resolução CONAMA nº. 371, de 5 de abril de 2006.

No que respeita aos bens arqueológicos e pré-históricos, no licenciamento ambiental do empreendimento, dever-se-á observar o que determina a Portaria IPHAN nº 230, de 17 de dezembro de 2002.

A gestão nacional dos recursos hídricos é levada a efeito pela Agência Nacional de Águas - ANA, a quem compete ”implementar, em sua esfera de atribuições, a Política Nacional de Recursos Hídricos, integrando o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, artigo 3º), em articulação com órgãos e entidades públicas e privadas integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos” (Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, artigo 4º), quais sejam: os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal; os Comitês de Bacia Hidrográfica; os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, municipais e do Distrito Federal, cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos; e as Agências de Água.

No Estado de Pernambuco, a gestão dos recursos hídricos compete aos órgãos que compõem o Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de Pernambuco - SIGRH/PE, quais sejam: Conselho Estadual de Recursos Hídricos - CRH; comitês de Bacia Hidrográfica - COBH; órgão gestor de recursos hídricos do Estado; órgãos executores do SIGRH/PE; organizações civis de recursos hídricos; e agências de Bacia.

Dentre os instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, de que trata o artigo 5º da 9.433, de 8 de janeiro de 1997, interessam mais de perto a este estudo a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos e os Comitês de Bacia Hidrográfica.

O empreendedor, tanto no âmbito federal, quanto no estadual, deverá obter outorgas para a derivação e captação de águas e para, ao menos, alterar o regime e a quantidade da água existente nos corpos d’água em que pretende intervir. Segundo

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 45 -

o que dispõe o artigo 4º, IV, da Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, cabe à ANA a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos em corpos d´água de domínio federal.

No Estado de Pernambuco, a concessão de outorga de direitos de uso de recursos hídricos compete ao órgão gestor do Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de Pernambuco - SIGRH/PE, segundo o que dispõem os artigos 16 a 21 da Lei Estadual de Pernambuco nº 12.984, de 30 de dezembro de 2005.

Os Comitês de Bacias Hidrográficas pernambucanos, cujos poderes são deliberativos e consultivos, são compostos por: representantes dos Poderes Executivos da União, do Estado e dos Municípios, inseridos na área da bacia hidrográfica (40%); representantes de entidades civis (20%); e usuários de recursos hídricos (40%).

O comitê de bacia pernambucano de interesse particular para o empreendimento é o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Moxotó, criado pela Resolução CPRH nº 02/2000.

O empreendimento, que será implantado em área do Bioma Caatinga, poderá interferir com áreas de preservação permanente, definidas segundo o Código Florestal, Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1.965. O seu artigo 2º, considerados os esclarecimentos e definições constantes das Resoluções CONAMA nº 302/02 e 303/02, estabelece que são de preservação permanente, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas: ao longo dos rios ou de outro qualquer curso de água, em faixa marginal cuja largura mínima varia de 30 a 500 m; ao redor de lagoas, lagos ou reservatórios de água, naturais ou artificiais; nas nascentes, num raio mínimo de 50 m de largura; no topo de morros, montes, montanhas e serras; nas encostas com declividade superior a 45º; nas restingas; nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 m em projeções horizontais; e em altitudes superiores a 1800 m.

Segundo o artigo 3º do Código Florestal, consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando assim declaradas por ato do Poder Público, as florestas e demais formas de vegetação natural destinadas a: atenuar a erosão das terras; fixar as dunas; formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias; auxiliar a defesa do território nacional a critério das autoridades militares; proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico; asilar exemplares da fauna ou flora ameaçados de extinção; manter o ambiente necessário à vida das populações silvícolas; e assegurar condições de bem-estar público.

Dispõe o Código Florestal (artigo 4º) que a “supressão de vegetação em área de preservação permanente somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública ou de interesse social, ..., quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto” e que “o órgão ambiental competente indicará, ..., as

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 46 -

medidas mitigadoras e compensatórias que deverão ser adotadas pelo empreendedor” (artigo 4º, § 4º).

É importante consignar que dita supressão, se autorizada, deve ser feita de modo a, nos termos da autorização concedida, evitar que sejam modificados, danificados ou destruídos ninho, abrigo ou criadouro naturais, sob pena de serem cometidos crime e infração administrativa ambientais, agravadas se praticadas contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que somente no local da infração (Artigo 29, § 1º, II, c/c artigo 29, § 4º, I, da Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; artigo 11, I e II e artigo 11, § 1º, II, do Decreto nº 3.179, de 21 de setembro de 1999).

O empreendimento gerará resíduos sólidos provenientes da execução de obras civis. Em virtude do que dispõe o artigo 4º, § 1º da Resolução CONAMA nº 307/2002, não é permitido dispor resíduos de construção civil em aterros de resíduos domiciliares, em áreas de "bota fora", em encostas, corpos d’água, lotes vagos e em áreas protegidas por Lei. Esses resíduos devem ser dispostos dos modos determinados pelo artigo 10 da Resolução CONAMA nº 307/2002, feita a sua classificação, conforme as classes de resíduos estabelecidas pelo artigo 3º da mesma Resolução.

As obras civis implicarão a movimentação, por via terrestre, de produtos perigosos, inclusive explosivos. A Lei 10.233, de 5 de junho de 2001, art.22, VII, determina que cabe à Agência Nacional de Transportes Terrestres - ANTT, estabelecer padrões e normas complementares relativos ao transporte terrestre de cargas especiais e perigosas em rodovias e ferrovias. Estes padrões e normas complementares foram estabelecidos pela Resolução ANTT nº 420/04. Acerca da matéria, continua em vigor o Decreto nº 96.044, de 18 de maio de 1988, sendo necessário, para o transporte terrestre de produtos perigosos, estabelecer um plano junto às autoridades viárias e ambientais que determinarão as condições de tráfego, rodovias, horários e paradas permitidos, bem como, condições de armazenamento e isolamento da carga perigosa.

O Conselho Nacional de Meio Ambiente, através da Resolução nº 001/90, previu que a emissão de ruídos, em decorrência de quaisquer atividades industriais, comerciais, sociais ou recreativas obedecerá, no interesse da saúde e do sossego público, aos padrões, critérios e diretrizes estabelecidos nas NBR-10.151 e 10.152, no que foi acompanhada pela Lei do Estado de Pernambuco nº 2.789, de 28 de abril de 2005, que disciplina a produção de ruído naquele estado da federação, em seu artigo 2º. De acordo com o artigo 15 daquele diploma legal, o ruído produzido por quaisquer atividades, em áreas diversificadas, não deve exceder a 75dBA, 65dBA e 60dBA, respectivamente, nos períodos matutino, vespertino e noturno.

Importa fundamentalmente para o empreendimento o ruído produzido por explosivos e por veículos automotores. Segundo o artigo 7º Lei do Estado de Pernambuco nº 2.789, de 28 de abril de 2005, excetuam-se às restrições por ela estabelecidas, o ruído produzido por explosivos utilizados no arrebentamento de pedreiras, rochas ou

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 47 -

nas demolições, desde que detonados no período diurno e previamente licenciados pelos órgãos competentes das municipalidades. No que diz respeito ao ruído produzido por veículos automotores, devem ser observados os limites fixados pelo artigo 20 da Resolução CONAMA nº 8/93.

Quanto ao Patrimônio Cultural, o artigo 216 da Constituição Federal dispõe que constitui-se pelos bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. Além disto, o parágrafo primeiro do mesmo artigo estabelece que o Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação, sendo o licenciamento ambiental uma destas últimas formas de acautelamento e preservação. Atendendo a estes comandos constitucionais, a Resolução CONAMA nº 001/86, em seu artigo 6º, c, determinou que, na realização de estudos de impacto ambiental, sejam desenvolvidas atividades técnicas acerca dos sítios e monumentos arqueológicos, históricos e culturais da comunidade.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 48 -

6. Planos e Programas Co-localizados

O Governo do Estado de Pernambuco apresenta uma gestão com caráter regionalizado, voltado para a interiorização das ações públicas. Para isso vem desenvolvendo metodologia que orienta uma administração voltada para captação da realidade encontrada nas 12 Regiões de Desenvolvimento (RD) em que foi organizado o Estado, no sentido de fomentar suas medidas iniciais dentro de um quadro de demandas apresentadas pelo corpo organizado da sociedade civil de Pernambuco. Essas Regiões de Desenvolvimento são: Araripe; São Francisco; Sertão Central; Itaparica; Pajeú; Moxotó; Agreste Central; Agreste Meridional; Agreste Setentrional; Mata Sul; Mata Sul Norte; e Metropolitana.

No sentido de formar estruturas capazes de definir um processo de planejamento descentralizado, foram criados espaços institucionais voltados à mobilização da sociedade para que possa influir nas políticas públicas, estabelecendo um diálogo qualificado e permanente com o Governo, destacando-se entre eles o Conselho Estadual de Desenvolvimento Econômico social – CEDES e os Comitês Municipais e Regionais que estão sendo instalados em cada uma das doze Regiões de Desenvolvimento do Estado.

Para a execução de um processo de planejamento e gestão democrático e regionalizado, o principal instrumento é o Projeto Todos por Pernambuco – Gestão Democrática e Regionalizada. Com ele a SEAR está coordenando os Seminários Regionais de Desenvolvimento, com o intuito de serem apresentados projetos incorporando as contribuições recebidas através de material específico distribuído anteriormente – o Caderno de Propostas, que contém um conjunto de perguntas divididas em quatro blocos: identificação, avaliação dos serviços prestados pelo Estado, opinião para alternativas e apresentação de ações prioritárias. Além da realização dos Seminários, este Programa também se dirige a um processo de avaliação contínua dessas ações articuladas entre o Governo e as Regiões, de modo a garantir a efetividade das propostas.

Outra ação gestora desenvolvida pela SEAR é o Programa Chapéu de Palha, desenvolvido junto ao PROMATA e PRORURAL, voltado para o auxílio de famílias produtores de cana-de-açúcar na Zona da Mata e mais 4 municípios do Agreste (Bonito, , e São Vicente). Esse programa é uma assistência para o período da entressafra da cana e se caracteriza por uma ajuda de custo complementar ao programa federal Bolsa-Família.

Foi elaborado também o Plano de Ações dos Povos Indígenas - 2007, constituído a partir da construção de documentos setoriais envolvendo cerca de 10 secretarias de Estado para atender às reivindicações da população indígena do Estado, bem como o perfil socioeconômico de cada povo, reunindo ações ligadas à cada secretaria estadual.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 49 -

O Governo do Estado vem também implantando, através da Secretaria das Cidades, um Programa denominado Academia das Cidades, ainda sob influência do governo anterior, contudo, com caráter mais interiorizado. Trata-se de um programa integrado de ações nas áreas de cultura e lazer voltado para todas as faixas etárias, em áreas públicas, compreendendo assistência médica, atividades físicas e culturais. Está em projeto a sua implantação em 40 municípios no interior, incluindo, no Agreste, os municípios de Surubim e Toritama.

Em maio de 2007, foi editado o Plano Estadual de Segurança Pública – PESP-PE, resultante das reuniões do Fórum Estadual de Segurança Pública, ocorridas entre março e abril deste ano, constituindo-se na primeira atividade de formulação estratégica do Pacto pela Vida. A partir da elaboração de Diagnóstico detalhado das condições de segurança em Pernambuco, este documento traz em suas conclusões a afirmação de que a redução da violência em Pernambuco só será alcançada através de um grande movimento aglutinador que envolva um conjunto de organizações do Estado e da sociedade, em torno de projetos estruturadores e permanentes de prevenção e controle da criminalidade violenta. Foram assim definidas como Linhas de Ação para uma ação firme, mas democrática, na gestão da Segurança Pública do Estado de Pernambuco: Repressão Qualificada da Violência; Aperfeiçoamento Institucional; Informação e Gestão do Conhecimento; Formação e Capacitação; Prevenção Social do Crime e da Violência; e Gestão Democrática.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 50 -

7. Avaliação de Impactos Ambientais e Proposição de Medidas

O primeiro passo para a análise de impactos é a identificação das ações impactantes ou atividades que possam causar impacto sobre os recursos naturais e socioeconômicos. Para tanto, desenvolveu-se um processo que permite identificar, para cada grupo de atividades, qual seria aquela potencialmente capaz de causar impacto sobre os diferentes recursos, avaliando a fundo aspectos como duração, freqüência, magnitude, forma, reversibilidade e características espaciais.

O segundo passo, em consonância com o primeiro, é o desenvolvimento de uma metodologia que identifique os componentes ambientais que possam ser afetados pelo empreendimento. A relação entre o empreendimento e os componentes ambientais é de causa e efeito, mas nem sempre esta relação é fácil de ser detectada. Procurou-se, então, enfocar as diferentes fases da obra e examinar a natureza dos componentes ambientais que possam sofrer impactos.

A partir desse conjunto de informações, procurou-se identificar medidas mitigadoras adequadas, visando evitar, minimizar ou eliminar qualquer potencial impacto adverso, que deverão ser de responsabilidade de execução por parte do empreendedor.

Com base nos possíveis impactos identificados, foi realizada uma análise intensiva e, em conjunto, elaborou-se uma Matriz-Síntese, com a correlação entre as atividades previstas e as características ambientais das Áreas de Estudo.

Para a Avaliação dos Impactos Ambientais foram adotados, como critérios: a Natureza (positiva ou negativa); a Forma (direta ou indireta); a Duração (temporária ou permanente); a Temporalidade (curto ou longo prazo); a Reversibilidade (reversível ou irreversível); a Abrangência (local ou regional); a Magnitude (alta, média, baixa ou irrelevante); e a Probabilidade (alta, média ou baixa).

Uma vez descritos os impactos ambientais identificados e procedida sua caracterização, através de seus atributos, é elaborada a Matriz de Avaliação dos Impactos Ambientais para determinação da Relevância de cada impacto ambiental. Para um conjunto de atributos que caracterizam cada impacto, é adotado o procedimento de determinar valores 1 ou 2, segundo seus aspectos mais relevantes, conforme quadro a seguir.

Atributo Valor atribuído igual a 2 Valor atribuído igual a 1 Forma direta indireta Duração permanente temporária Temporalidade curto prazo longo prazo Reversibilidade irreversível reversível Abrangência regional local

O valor final de cada um dos impactos é calculado pela soma das características das variáveis, podendo assumir valores inteiros de 5 a 10.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 51 -

Para determinação dos valores de Probabilidade, segundo a possibilidade de ocorrência de um dado impacto, são atribuídos valores de 1 (baixa) a 3 (alta). Já para a Magnitude, de 1 (irrelevante) a 4 (alta).

Para Natureza do impacto, admite-se o valor 1 para impactos positivos ou benéficos e valor igual a -1 para impactos negativos ou adversos. Adota-se, desta maneira, um mesmo valor absoluto para a Natureza, de modo que este atributo não cause alteração no valor final da Relevância.

Definidos os valores para os diversos impactos identificados, a Relevância de um determinado impacto ambiental é obtida pelo produto do valor final da caracterização dos atributos, da Magnitude do impacto e da sua Probabilidade, além de sua Natureza. Após a realização desse produto, a Relevância poderá variar de -120 a -5 e de 5 a 120, conforme seu sentido.

A Matriz Ambiental, dentro dessa ótica, deve ser entendida como uma ferramenta para auxiliar a tomada de decisão quanto à viabilidade ambiental do empreendimento. Ela possibilita o suporte para a identificação dos impactos, que deverão ser objeto de maior atenção quando da formulação de medidas ambientais (Mitigadoras e Potencializadoras).

Ainda segundo essa ótica, os impactos de pequena Relevância não devem ser visualizados como desprezíveis, e sim analisados pela equipe técnica do mesmo modo que os demais, de modo a verificar a viabilidade ambiental do empreendimento em questão.

Entretanto, as medidas ambientais deverão ter como enfoque principal os impactos de maior Relevância, pois ações sobre esses impactos produzirão um maior efeito do que em impactos de menor Relevância. Admitindo-se os valores extremos, obtidos durante esta análise, foram determinadas faixas, segundo as quais a Relevância foi classificada, conforme descrito no quadro a seguir.

Faixa Classificação 5 a < 20 Muito Pequena – MP 20 a < 40 Pequena – P 40 a < 60 Média – M 60 a < 90 Grande – G 90 a 120 Muito Grande – MG

Foram identificados 34 impactos ambientais, conforme apresentado na matriz a seguir, organizados por meio (físico, biótico e socioeconômico) e segundo a fase do empreendimento (planejamento, obras e operação). Apresenta-se ainda um gráfico que demonstra a relação de relevância entre os impactos avaliados.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 52 -

Etapas Critérios / Classificação

IMPACTOS (Classificação)

e Forma Forma Duração Duração Natureza Operação Operação Magnitude Relevância Relevância Construção Construção Abrangência Abrangência Probabilidade Probabilidade Planejamento Planejamento Reversibilidad Temporalidade Temporalidade Socioeconômicos 1 Introdução de tensões e riscos sociais X X n d t c i l b m P 2 Ruptura de relações sócio-comunitárias X n d p c i l b m P 3 Risco de acidentes com a população X n d t c r l i b MP 4 Aumento e/ou aparecimento de doenças X X n i t c r l m m P 5 Aumento da demanda por infra-estrutura de saúde X X n i t c i l b m P 6 Perda de empregos e renda X n d p c i l i b MP 7 Geração de empregos e renda durante a implantação X p d t c i l m a G 8 Dinamização da economia regional X X p i p l i r a a MG 9 Pressão sobre a infra-estrutura urbana X X n i t c i l b a M 10 Redução da exposição da população a situações emergenciais de seca X p d p l i r a a MG 11 Diminuição do êxodo rural e da emigração da região X p i p l i r a m G 12 Redução da exposição da população a doenças e óbitos X p i p l i r m m M 13 Redução da pressão sobre infra-estrutura de saúde X p i p l i r m a G 14 Risco de proliferação de vetores X n i p l r r m m M 15 Interferências em Sítios Arqueológicos X n d p c i l a m G Físicos 16 Aumento da Emissão de Ruídos X X n d p c r l b a G 17 Aumento das emissões de poeira X n d t c r l b m P 18 Interferências com áreas de processos minerários X X X n d p l i l i a P 19 Aumento da oferta e da garantia hídrica X p d p c i r a a MG

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 53 -

Etapas Critérios / Classificação

IMPACTOS (Classificação)

e Forma Forma Duração Duração Natureza Operação Operação Magnitude Relevância Relevância Construção Construção Abrangência Abrangência Probabilidade Probabilidade Planejamento Planejamento Reversibilidad Temporalidade Temporalidade 20 Aumento da oferta de água para abastecimento urbano X p d p l i r a a MG 21 Abastecimento de água das populações rurais X p d p l i r m a G 22 Instabilização de encostas marginais do rio Ipojuca X n i p l r l b m P 23 Início ou Aceleração de Processos erosivos e carreamento de sedimentos X n i p l r l b m P 24 Ocorrência de Cheias Induzidas por Ruptura das Barragens X n d t l i l b b MP 25 Modificação do regime fluvial nos rios Ipojuca e Moxotó X X n d p l i r b a M 26 Alteração da rede natural de drenagem X X n i p l i l b a M 27 Risco de eutrofização dos novos reservatórios X X n i t c r l m m P 28 Melhoria da qualidade da água nas bacias receptoras / rio Ipojuca X p d p c r r a a MG 29 Aumento da recarga fluvial dos aqüíferos X X p d p l r r m m G Bióticos 30 Perda e fragmentação de áreas de vegetação nativa e de habitats de fauna terrestre X X n d p c i l b a M 31 Favorecimento das condições ambientais para o desenvolvimento da biota X p d t l i r b a M Modificação da composição das Comunidades Biológicas Aquáticas Nativas das bacias 32 X X n i p l i r a a MG receptoras Depleção da biodiversidade das Comunidades Biológicas Aquáticas Nativas nas bacias 33 X X n i p l i r a a MG receptoras Comprometimento do conhecimento da história biogeográfica dos grupos Biológicos Aquáticos 34 X n i p l i r b a M Nativos

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 54 -

Etapas Critérios / Valores

IMPACTOS (Pontuação)

e Forma Forma Duração Duração Natureza Operação Operação Magnitude Relevância Relevância Construção Construção Abrangência Abrangência Probabilidade Probabilidade Planejamento Planejamento Reversibilidad Temporalidade Temporalidade Socioeconômicos 1 Introdução de tensões e riscos sociais X X -1 2 1 2 2 1 2 2 -36 2 Ruptura de relações sócio-comunitárias X -1 2 2 2 2 1 2 2 -36 3 Risco de acidentes com a população X -1 2 1 2 1 1 1 1 -7 4 Aumento e/ou aparecimento de doenças X X -1 1 1 2 1 1 3 2 -36 5 Aumento da demanda por infra-estrutura de saúde X X -1 1 1 2 2 1 2 2 -28 6 Perda de empregos e renda X -1 2 2 2 2 1 1 1 -9 7 Geração de empregos e renda durante a implantação X +1 2 1 2 2 1 3 3 +72 8 Dinamização da economia regional X X +1 1 2 1 2 2 4 3 +96 9 Pressão sobre a infra-estrutura urbana X X -1 1 1 2 2 1 2 3 -42 10 Redução da exposição da população a situações emergenciais de seca X +1 2 2 1 2 2 4 3 +108 11 Diminuição do êxodo rural e da emigração da região X +1 1 2 1 2 2 4 2 +64 12 Redução da exposição da população a doenças e óbitos X +1 1 2 1 2 2 3 2 +48 13 Redução da pressão sobre infra-estrutura de saúde X +1 1 2 1 2 2 3 3 +72 14 Risco de proliferação de vetores X -1 1 2 1 1 2 3 2 -42 15 Interferências em Sítios Arqueológicos X -1 2 2 2 2 1 4 2 -72 Físicos 16 Aumento da Emissão de Ruídos X X -1 2 2 2 1 1 2 4 -64 17 Aumento das emissões de poeira X -1 2 1 2 1 1 2 2 -28 18 Interferências com áreas de processos minerários X X X -1 2 2 1 2 1 1 3 -24

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 55 -

Etapas Critérios / Valores

IMPACTOS (Pontuação)

e Forma Forma Duração Duração Natureza Operação Operação Magnitude Relevância Relevância Construção Construção Abrangência Abrangência Probabilidade Probabilidade Planejamento Planejamento Reversibilidad Temporalidade Temporalidade 19 Aumento da oferta e da garantia hídrica X +1 2 2 2 2 2 4 3 +120 20 Aumento da oferta de água para abastecimento urbano X +1 2 2 1 2 2 4 3 +108 21 Abastecimento de água das populações rurais X +1 2 2 1 2 2 3 3 +81 22 Instabilização de encostas marginais do rio Ipojuca X -1 1 2 1 1 1 2 2 -24 23 Início ou Aceleração de Processos erosivos e carreamento de sedimentos X -1 1 2 1 1 1 2 2 -24 24 Ocorrência de Cheias Induzidas por Ruptura das Barragens X -1 2 1 1 2 1 2 1 -14 25 Modificação do regime fluvial nos rios Ipojuca e Moxotó X X -1 2 2 1 2 2 2 3 -54 26 Alteração da rede natural de drenagem X X -1 1 2 1 2 1 2 3 -42 27 Risco de eutrofização dos novos reservatórios X X -1 1 1 2 1 1 3 2 -36 28 Melhoria da qualidade da água nas bacias receptoras / rio Ipojuca X +1 2 2 1 1 2 4 3 +96 29 Aumento da recarga fluvial dos aqüíferos X X +1 2 2 2 2 2 3 2 +60 Bióticos 30 Perda e fragmentação de áreas de vegetação nativa e de habitats de fauna terrestre X X -1 2 2 2 2 1 2 3 -54 31 Favorecimento das condições ambientais para o desenvolvimento da biota X +1 2 1 1 2 2 2 3 +48 Modificação da composição das Comunidades Biológicas Aquáticas Nativas das bacias 32 X X -1 1 2 1 2 2 4 3 -96 receptoras Depleção da biodiversidade das Comunidades Biológicas Aquáticas Nativas nas bacias 33 X X -1 1 2 1 2 2 4 3 -96 receptoras Comprometimento do conhecimento da história biogeográfica dos grupos Biológicos Aquáticos 34 X -1 1 2 1 2 2 2 3 -48 Nativos

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 56 -

Imp 01 Imp 02 Imp 03 Imp 04 Imp 05 Imp 06 Imp 07 Imp 08 Imp 09 Imp 10 Imp 11 Imp 12 Imp 13 Imp 14 Imp 15 Imp 16 Imp 17 Imp 18 Imp 19 Imp 20 Imp 21 Imp 22 Imp 23 Imp 24 Imp 25 Imp 26 Imp 27 Imp 28 Imp 29 Imp 30 Imp 31 Imp 32 Imp 33 Imp 34 120

100

80

60

40

20

0

-20

-40

-60

-80

-100

-120

Gráfico de Relevância dos Impactos Avaliados

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 57 -

Para cada impacto avaliado, foram propostas medidas mitigadoras, conforme apresentado a seguir:

a) Impacto 1 – Introdução de Tensões e Riscos Sociais • Ampla discussão e divulgação local dos critérios de aquisição de terras e relocação das famílias rurais afetadas; • Negociação participativa e descentralizada das medidas mitigadoras e compensatórias dirigidas às famílias rurais atingidas; • Recomendação às empreiteiras para maximização da contratação de mão-de- obra local durante a construção; • Ações de divulgação visando informar a população sobre as oportunidades de emprego efetivamente existentes durante a construção, de modo a minimizar as afluências excessivas de trabalhadores às regiões onde estarão concentrados os canteiros de obras e alojamentos; • Divulgação junto aos empregados não-locais das empreiteiras de normas de conduta social apropriadas no relacionamento com as populações residentes; • Fornecimento de informações iniciais e rotineiras às comunidades rurais sobre alterações previstas no tráfego de veículos – principalmente os pesados – nas estradas vicinais; • Implantação de elementos de sinalização e redutores de velocidade junto aos adensamentos populacionais rurais cruzados por estradas de serviço; • Divulgação junto aos motoristas de veículos envolvidos nas obras (de empreiteiras e sub-empreiteiras) de normas para prevenção de acidentes nas estradas rurais; • Articulação com as prefeituras visando orientar eventuais medidas necessárias na área de segurança pública (instalação de postos policiais avançados junto aos canteiros de obras, implementação de novas rotas de patrulhamento etc.).

b) Impacto 2 – Ruptura de Relações Sócio-Comunitárias • Ampla divulgação local dos critérios de aquisição de terras e relocação de famílias rurais afetadas; • Recomendação às empreiteiras para maximização da contratação local de mão-de-obra durante a construção; • Realização dos Programas de Indenizações de Terras e Benfeitorias e de Reassentamento de Populações, negociando as desapropriações e os reassentamentos dentro de uma filosofia participativa e descentralizada.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 58 -

c) Impacto 3 – Riscos de Acidentes com a População • Divulgação de normas junto aos motoristas dos veículos de serviço voltadas para a prevenção de acidentes nas estradas vicinais; • Divulgação junto às comunidades rurais de alterações no tráfego de estradas vicinais; • Adoção de medidas redutoras de velocidade e sinalização; • Planejamento do transporte pesado em horários não prejudiciais à população.

d) Impacto 4 – Aumento e/ou Aparecimento de Doenças • Realização de campanhas de esclarecimento junto aos trabalhadores e moradores das cidades; • Acompanhamento da saúde dos trabalhadores nos canteiros de obras; • Articulação com as Secretarias de Saúde do Estado, dos municípios e com a FUNASA, no sentido de serem aprimorados a notificação e o monitoramento de agravos.

e) Impacto 5 – Aumento da Demanda por Infra-Estrutura de Saúde • Articulação com as Secretarias de Saúde do Estado, dos municípios e com a FUNASA, no sentido de serem aprimorados a notificação e o monitoramento de agravos. • Verificação dos aumentos de demanda, além da capacidade dos serviços de saúde locais, tendo em vista a programação de medidas mitigadoras.

f) Impacto 6 – Perda de Empregos e Renda • Implementação de ações de recomposição da base econômica de subsistência das famílias afetadas por desapropriação e/ou relocação; • Incentivo à contratação de mão-de-obra local, para que com o término das obras os contingentes de trabalhadores dispensados possam ser mais facilmente absorvidos nos tecidos sociais locais.

g) Impacto 7 – Geração de Empregos e Renda durante a Implantação • Recomendação às empreiteiras para maximização da contratação local de mão-de-obra durante a construção; • Ações de comunicação social visando difundir informações sobre aspectos que contribuam para ampliar a apropriação de benefícios advindos do Projeto na região.

h) Impacto 8 – Dinamização da Economia Regional • Recomendação às empreiteiras para maximização da contratação local de mão-de-obra durante a construção;

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 59 -

i) Impacto 9 – Pressão sobre a Infra-Estrutura Urbana • Recomendação às empreiteiras para maximização da contratação local de mão-de-obra durante a construção; • Recomendação às empreiteiras para adoção de ações de divulgação, visando informar amplamente a população sobre as reais oportunidades de emprego existentes durante a construção.

j) Impacto 10 – Redução da Exposição da População a Situações Emergenciais de Seca • Realização do Programa de Educação Ambiental; • Realização do Programa de Implantação de Infra-Estrutura de Abastecimento de Água para Uso Difuso.

k) Impacto 11 – Diminuição do Êxodo Rural e da Emigração da Região • Realização do Programa de Comunicação Social; • Realização do Programa de Implantação de Infra-Estrutura de Abastecimento de Água para Uso Difuso.

l) Impacto 12 – Redução da Exposição da População a Doenças e Óbitos • Realização do Programa de Implantação de Infra-Estrutura de Abastecimento de Água para Uso Difuso; • Realização do Programa de Educação Ambiental; • Realização do Programa de Monitoramento de Vetores e Hospedeiros de Doenças; • Realização do Programa de Controle de Saúde Pública.

m) Impacto 13 – Redução da Pressão sobre Infra-Estrutura de Saúde Não há medidas recomendadas para a otimização deste impacto.

n) Impacto 14 – Risco de Proliferação de Vetores • Execução do Programa de Educação Ambiental; • Monitoramento da qualidade da água dos reservatórios e do Canal; • Tratamento sanitário de áreas críticas; • Controle de macrófitas aquáticas no Canal e reservatórios; • Controle de saúde de funcionários de empreiteiras; • Execução de um Programa de Inventário da Entomofauna Regional e de Monitoramento de Vetores.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 60 -

o) Impacto 15 – Interferências em Sítios Arqueológicos • Realização de prospecções arqueológicas intensivas; • Implantação de um Programa de Salvamento Arqueológico; • Implantação de Programa de Educação Patrimonial.

p) Impacto 16 – Aumento da Emissão de Ruídos • Construção de proteção acústica nas áreas de maior ruído de obra. • Monitoramento dos ruídos durante a etapa e construção. • Construção de proteção acústica para minimizar ruídos da EB-1 na etapa de operação.

q) Impacto 17 – Aumento das Emissões de Poeira • Realização do Programa Ambiental de Construção. • Proceder à aspersão de água sobre o solo, principalmente nas estradas de terra próximas a povoados. • Planejamento das operações de transporte de materiais e equipamentos, evitando horários noturnos. • Fazer revestimento das vias de acesso onde ocorrer maior fluxo de veículos. • Recuperação das áreas utilizadas como canteiros de obras, com revegetação e conservação da vegetação plantada. • Recuperação e reintegração paisagística das áreas atingidas, incluindo revegetação, principalmente ao longo dos canais e reservatórios.

r) Impacto 18 – Interferências com áreas de processos minerários • Avaliação do potencial mineral a ser afetado e da reserva de valor comercial existente nas áreas que sofrem interferência direta com o empreendimento; • Solicitar ao DNPM, após a Licença Prévia do IBAMA, restrições a novos pedidos de pesquisa ou de licenciamento (bloqueio) para que não haja interferências futuras com o empreendimento; • Acordo com o titular da área onde pode surgir restrições ou impedimentos ao desenvolvimento das atividades de pesquisa e/ou exploração mineral, visando compensar os investimentos realizados.

s) Impacto 19 – Aumento da oferta e da garantia hídrica Implantação de um modelo de gestão e operação do sistema, que envolva os órgãos do Estado de Pernambuco responsáveis pela gestão dos recursos hídricos, saneamento e meio ambiente, em conjunto com os outros estados beneficiados pelo PISF, superando limites políticos e fisiográficos.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 61 -

t) Impacto 20 – Aumento da oferta de água para abastecimento urbano • Realização do Programa de Educação Ambiental; • Articulação para a implantação em médio prazo do sistema adutor para abastecimento das áreas urbanas e rurais do Agreste Pernambucano.

u) Impacto 21 – Abastecimento de água das populações rurais • Realização do Programa de Educação Ambiental; • Articulação para a implantação em médio prazo do sistema adutor para abastecimento das áreas urbanas e rurais do Agreste Pernambucano; • Articulação com projetos de reservação hídrica através da captação da água de chuva em cisternas, para abastecimento à população dispersa na zona rural e situada em locais distantes das fontes hídricas garantidas.

v) Impacto 22 – Instabilização de encostas marginais do rio Ipojuca • Adoção de recomendações do Programa de Implantação de Faixa de Proteção dos Reservatórios. • Criação de uma barreira de vegetação marginal à lâmina d’água, favorecida pelas condições climáticas mais favoráveis em comparação com as do sertão nordestino. • Replantio de mudas que não tenham vingado. • Monitoramento da ocorrência de processos erosivos e adoção de medidas necessárias para a proteção do reservatório; • Construção de gabiões pra proteger áreas diretamente atingidas pelos processos erosivos. Na ausência de gabiões, poder-se-á colocar um enrocamento nos locais mais atingidos, evitando o impacto de ondas e os desmoronamentos; • Monitoramento permanente das áreas em torno dessas encostas.

w) Impacto 23 – Início ou Aceleração de Processos Erosivos e Carreamento de Sedimentos • caracterizar no campo as áreas críticas já erodidas e aquelas passíveis de serem impacatas negativamente junto aos canais, às encostas marginais, leitos naturais e acessos à obra; • monitorar a ocorrência de processos erosivos e de carreamento de sedimentos; • utilizar os processos de recuperação de áreas degradadas recomendados no programa específico; • proteger as áreas críticas durante a construção, através da redução da velocidade da água e redirecionamento do escoamento superficial;

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 62 -

• com base nas definições do Projeto Básico de Engenharia do Canal, realizar levantamento das estruturas que podem gerar impactos ambientais significativos, relacionados à estabilidade de talude e geração de processos erosivos; • em áreas com potenciais focos de instabilidade, adotar medidas de controle específicas para evitar a instalação de processos erosivos; • evitar atoleiros e proteger locais de travessia de corpos hídricos para prevenção de possíveis danos ocasionados nas épocas de chuva; • manter os acessos às obras e revestir estradas vicinais com materiais inertes e recomendados para a região; • manter em permanente atividade os Programas de Monitoramento e Controle referentes à AID.

x) Impacto 24 – Ocorrência de Cheias Induzidas por Ruptura das Barragens Os reservatórios formados por essas barragens são relativamente pequenos e seus volumes são controlados pelo sistema automático de operação, de modo que as cheias eventuais não gerarão grandes enchentes no curso a jusante, tendo efeito apenas local.

y) Impacto 25 – Modificação do regime fluvial nos rios Ipojuca e Moxotó • Monitoramento diário dos níveis e das vazões em diversos pontos selecionados do Ramal, em especial nos reservatórios e a jusante das válvulas dispersoras; • Realização do Programa de Educação Ambiental.

z) Impacto 26 – Alteração da rede natural de drenagem • Desenvolver um Programa de Educação Ambiental. • Desenvolver o plantio de espécies nativas que possuem capacidade de sustentação das margens; • Manutenção adequada e sistemática de todas as estruturas de drenagem (bueiros, sifões etc.) previstas ao longo do traçado das estruturas do Projeto do Ramal do Agreste.

aa) Impacto 27 – Risco de eutrofização dos novos reservatórios • Realização do Programa de Monitoramento da Qualidade da Água e Limnologia; • Realizar o Programa de Limpeza e Desmatamento dos Reservatórios; • Promover a revegetação das margens dos reservatórios; • Remover a fitomassa na área do reservatório.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 63 -

bb) Impacto 28 – Melhoria da qualidade da água nas bacias receptoras / rio Ipojuca • monitoramento das bacias hidrográficas receptoras, em diferentes épocas do ano; • monitoramento da “mistura” dos componentes limnológicos e das águas entre as bacias do São Francisco e do Agreste Pernambucano; • controle de contaminação das águas por agroquímicos, assoreamento e disposição de dejetos e lixo; • monitoramento das taxas de nutrientes afluentes aos reservatórios; e • monitoramento da proliferação de macrófitas.

cc) Impacto 29 – Aumento da recarga fluvial dos aqüíferos • Definir as áreas potenciais, em escala apropriada, para estabelecer medidas de controle da qualidade dos aqüíferos; • Elaborar e implantar um modelo matemático de simulação para prever o comportamento do sistema aqüífero; • Monitorar as condições hidrogeológicas locais antes e durante o enchimento dos reservatórios.

dd) Impacto 30 – Perda e fragmentação de áreas de vegetação nativa e de habitats de fauna terrestre • Inventário florístico / fitossociológico e de fitomassa; • Aproveitamento da vegetação na área diretamente afetada;: • Reposição florestal e recuperação de áreas degradadas;: • Apoio a iniciativas de manejo florestal e agropecuário sustentado;: • Apoio à gestão de Áreas Protegidas e a iniciativas de formação de RPPN:; • Mobilização e capacitação institucional e social:;

ee) Impacto 31 – Favorecimento das condições ambientais para o desenvolvimento da biota • Investimento em tratamento de efluentes domésticos e industriais nas áreas beneficiadas pelo projeto; • Monitoramento da Qualidade de Água e Limnologia; • Monitoramento da Ictiofauna

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 64 -

ff) Impacto 32 – Modificação da composição das Comunidades Biológicas Aquáticas Nativas das bacias receptoras

gg) Impacto 33 – Depleção da biodiversidade das Comunidades Biológicas Aquáticas Nativas nas bacias receptoras

hh) Impacto 34 – Comprometimento do conhecimento da história biogeográfica dos grupos Biológicos Aquáticos Nativos Para esses três últimos impactos, são propostas as mesmas medidas: • Instalação de equipamentos de filtragem, afastamento e inviabilização da vida dos organismos da biota aquática das bacias doadoras nas captações de águas do Projeto de Integração das Bacias Hidrográficas do Rio São Francisco com as Bacias do Nordeste Setentrional e em cada captação nos açudes intermediários; • Vinculação desses mecanismos de retenção da biota das bacias doadoras à operação das elevatórias e outros equipamentos de bombeamento de águas; • Monitoramento da Qualidade de Água e Limnologia nos canais artificiais, açudes intermediários e na bacia receptora; • Monitoramento da Ictiofauna nos canais artificiais, açudes intermediários e na bacia receptora; • Manutenção de um registro rigoroso dos eventos de inoculação de espécies alóctones detectadas nas estruturas do Canal do Agreste, Projeto de Integração do Rio São Francisco e nas bacias receptoras.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 65 -

8. Programas Ambientais

As recomendações de medidas mitigadoras ou compensatórias apresentadas na Avaliação de Impactos Ambientais foram organizadas em Programas Ambientais que são agora propostos segundo a seguinte estrutura: • Programas Ambientais de Apoio às Obras; • Programas Ambientais Compensatórios; e • Programas de Controle e Monitoramento.

Para o acompanhamento da implantação dos programas propostos, foi definida uma estrutura de Gestão, Supervisão e Auditoria Ambiental. Esse Sistema de Gestão permeia todas as fases de execução do Projeto. Através dos Programas de Comunicação Social e de Educação Ambiental, sob a responsabilidade direta do Sistema de Gestão Ambiental, será estabelecido um fluxo de informações sobre o empreendimento, associado aos procedimentos de construção e de implantação dos Programas Compensatórios e de Controle e Monitoramento, cuja estrutura organizacional proposta, associada à implantação dos Programas, é apresentada a seguir.

Os programas ambientais propostos necessitam ser implementados de uma forma integrada, na medida em que os diversos fatores ambientais e o universo social a que se dirigem apresentam forte inter-relação. A promoção da integração dos diferentes agentes responsáveis pela implantação dos programas é fundamental para assegurar a harmonia entre as diversas ações que estarão sendo desenvolvidas.

Na etapa de construção, as atividades associadas às obras devem ser acompanhadas por procedimentos ambientais que permitam verificar, regularmente, a execução de ações incorretas (não-conformidades), tanto no aspecto ambiental, quanto no aspecto social.

A criação de uma estrutura gerencial destina-se a garantir que as medidas de reabilitação e proteção ambiental sejam bem aplicadas e que seja bem conduzido o acompanhamento dos programas ambientais não vinculados diretamente às obras, integrando os diferentes agentes internos e externos, empresas contratadas, consultoras e instituições públicas e privadas, de forma a garantir ao empreendedor a segurança necessária para a não transgressão às normas e à legislação ambiental pertinentes.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 66 -

Plano de Gestão, Supervisão e Auditoria Ambiental

Programa de Comunicação Programa de Social Educação Ambiental

Programas de Apoio Programas Programas de às Obras Compensatórios Controle e Monitoramento

Plano Ambiental da Programa de Compensação Programa de Monitoramento Construção Ambiental de Vetores e Hospedeiros de Doenças Programa de Treinamento e Programa de Conservação e Capacitação de Técnicos e Uso do Entorno e das Águas Programa de Controle de Trabalhadores das Obras em dos Reservatórios Saúde Pública Questões Ambientais Programa de Monitoramento Programa de Identificação e da Ictiofauna Salvamento de Bens Arqueológicos e de Programa de Monitoramento Educação Patrimonial da Qualidade da água e da Limnologia Programa de Indenização de Terras e Benfeitorias Programa de Conservação da Fauna e da Flora Programa de Reassentamento de Famílias

Programa de Recuperação de Áreas Degradadas

Programa de Limpeza e Desmatamento dos Reservatórios

Sistema de Gestão, Supervisão e Auditoria Ambiental

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 67 -

9. Prognóstico Ambiental Abrangendo uma superfície de 27 mil km2 pertencente a 72 municípios do Estado de Pernambuco, a região do Agreste Pernambucano a ser beneficiada pelo empreendimento, compreende uma população residente de cerca de 2 milhões de habitantes (IBGE, 2000). A base de sustentação econômica e social da região é essencialmente agropecuária, predominando atividades industriais incipientes e de caráter tradicional, além de um setor terciário (comércio e serviços) limitado pelo escasso dinamismo da agricultura e da indústria. Exceções a esta regra geral são pólos interioranos como Caruaru e Garanhuns, nos quais uma economia diversificada impulsiona processos locais de modernização e melhoria das condições de vida.

O panorama demográfico e macro-econômico prospectivo, mantendo-se as tendências de crescimento populacional da última década são: • população crescente a uma taxa média anual de 1,04%, atingindo cerca de 3 milhões de habitantes em 2037, horizonte final das projeções econômico- demográficas do empreendimento; • na RD Agreste Central, que inclui Caruaru, mantendo-se a mesma taxa de crescimento anual da última década (1,11%), a população tende a atingir cerca de 1,4 milhões de habitantes nesse horizonte de tempo, com um índice de urbanização de 70%; • na RD Agreste Setentrional, que tem como característica a presença de municípios de médio porte e desenvolvimento industrial mais latente em função do pólo de confecção de jeans, mantendo-se a mesma taxa de crescimento anual da última década (1,46%), a população tende a atingir cerca de 700 mil habitantes em 2037, com um índice de urbanização médio de 52%; • nas demais Regiões de Desenvolvimento (Agreste Meridional e Moxotó), onde predomina a influência da dinâmica agropecuária (com exceção de Garanhuns e Arcoverde), a tendência é de virtual estagnação demográfica, o que significará uma constante emigração de contingentes quase equivalentes ao total do crescimento vegetativo da população.

Num panorama de urbanização crescente, prevê-se que acontecerá, na ausência do empreendimento, um contexto de contínua degradação das condições de suprimento hídrico domiciliar, principalmente em função do comprometimento dos atuais mananciais de água potável da região. Com a degradação do suprimento hídrico, as freqüentes situações emergenciais de secas aumentarão sua gravidade atual.

Passando do plano regional para uma visão mais focada nas áreas vizinhas ao Projeto, pode-se antever que o êxodo rural continuará intenso e as pequenas e médias cidades continuarão a sofrer intensa pressão demográfica. As condições de vida das populações rurais tenderão a apresentar progressos lentos e o patrimônio

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 68 -

arqueológico continuará sob risco, em função dos usos antrópicos do solo, porém em patamar estabilizado, face à escassa expansão prevista destes usos.

Do ponto de vista ambiental, ambas as áreas (regional e local) apresentam problemas típicos de zonas de uso das terras para fins agropecuários e extrativismo. Sua cobertura vegetal de Caatinga já está bastante comprometida, com sérias conseqüências sobre a fauna original, a qual vem sendo caçada não só para a alimentação da população residente no semi-árido, como vendida, principalmente a relativa à avifauna. Destaca-se, por outro lado, que a Caatinga na região vem sendo degradada de forma tão intensiva, devido a sua utilização como lenha e carvão, além do uso para cercas de proteção das lavouras, que se nota uma aceleração dos processos erosivos.

As tendências do desenvolvimento econômico da região, conforme citado anteriormente, e da forma como isso vem ocorrendo, tendem a ampliar paulatinamente essa problemática ambiental. A pecuária extensiva, que hoje constitui uma das alternativas de sobrevivência, implica a abertura constante de novos pastos, da mesma forma que a coleta de espécies da Caatinga para lenha e carvão, pois ambas desmatam os poucos remanescentes originais e, assim, provocam a destruição da fauna nela residente.

Com a implantação do empreendimento, são esperadas inicialmente mudanças temporárias e predominantemente localizadas nas imediações das obras. Do ponto de vista socioeconômico, as transformações imediatas e locais com algum significado são, em geral, negativas. Dentre estas, podem ser destacadas: • a criação de um ambiente de tensões sociais, em função da soma de um passado de desconfianças em relação às intervenções governamentais com estas mudanças forçadas no cotidiano de populações rurais e outras perturbações localizadas causadas pelo projeto (atração de trabalhadores não absorvidos nas obras, aumento dos riscos de acidentes nas estradas rurais, pressões sobre a infra-estrutura urbana etc.); e • a ampliação de riscos socioculturais, tais como os de comprometimento do patrimônio arqueológico e cultural.

A atenuação e/ou compensação destes impactos é amplamente contemplada em diferentes programas ambientais, cuja implementação tende a mitigar, em expressiva medida, as adversidades associadas a estes efeitos. Por outro lado, a operação do projeto repercutirá desde seu início em uma mudança local positiva, face à manutenção de vazões mínimas nos rios receptores durante todo o ano e ao atendimento das demandas locais de uso difuso (abastecimento domiciliar, dessedentação de rebanhos etc.), o que compensará bastante as perturbações iniciais do ambiente socioeconômico. Este efeito de desenvolvimento local será ainda maior na hipótese de implantação bem-sucedida de uma política de priorização de contratação da mão-de-obra local para as obras.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 69 -

Já no plano regional (AII), uma diferente e mais significativa gama de transformações antrópicas positivas tende a ser desencadeada com a operação do projeto, principalmente pela ampliação da oferta de água para consumo domiciliar, da melhoria de sua qualidade e pela diminuição das restrições hídricas ao desenvolvimento econômico. Na presença do empreendimento, serão criadas condições de oferta hídrica que favorecerão (juntamente com outros fatores não- hídricos) o desenvolvimento de atividades econômicas urbanas (indústria, comércio e serviços), o que certamente promoverá uma dinamização da economia, dando suporte à absorção equilibrada, nas cidades dos contingentes migratórios afluentes.

Em síntese, observa-se que o empreendimento terá repercussões econômico- demográficas que, embora envolvam contingentes populacionais expressivos e signifiquem o alívio parcial de importantes restrições, não alterarão em substância o quadro geral de tendência à urbanização. Aliás, dificilmente se poderia esperar este tipo de efeito de qualquer projeto desta natureza – por mais abrangente que ele seja -, já que a urbanização é um processo com causas que ultrapassam a problemática das secas, representando uma tendência nacional e internacional associada a profundas transformações nos padrões tecnológicos e culturais, articuladas com mudanças econômicas estruturais (nas quais a agropecuária perde progressivamente terreno para a indústria e o setor de comércio e serviços). Desta forma, pode-se até mesmo dizer que a contribuição do Projeto para o desenvolvimento econômico urbano representará um aperfeiçoamento das condições de mercado de trabalho em que se dará o inevitável aumento da concentração populacional nas cidades da região beneficiada.

Não é, contudo, na esfera do mercado de trabalho que a contribuição do Projeto mostrar-se-á mais significativa para as condições de vida da população urbana de sua região de influência, mas no campo da infra-estrutura de saneamento básico, onde representará a possibilidade de atendimento a 100% dos domicílios, até o ano 2037, com água de boa qualidade, nas cidades com populações acima de 50 mil habitantes. Com o aperfeiçoamento do suprimento hídrico, prevê-se ainda uma redução significativa no contingente populacional que estaria, no cenário tendencial, exposto às situações emergenciais das secas. A incidência de doenças de associação hídrica deverá ser menor também do que na situação “sem projeto”. Assim, embora seja também previsto um aumento localizado dos riscos de incidência de doenças de veiculação hídrica (como a dengue, a esquistossomose etc.) ao longo dos cursos d’água que terão seu regime hidrológico alterado (cujo monitoramento e controle é objeto de programa ambiental específico), pode-se dizer que o empreendimento contribuirá de forma significativa também para a melhoria das condições sanitárias e para amenizar os problemas sociais agudos causados pelas condições ambientais da região.

O desenvolvimento do Programa de Educação Ambiental que envolve uma conscientização sobre práticas de manejo dos solos pelos produtores rurais que irão utilizar as águas, irá favorecer substancialmente a preservação não só dos solos como de todos os outros elementos ambientais inter-relacionados.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 70 -

10. Conclusões

O empreendimento Ramal do Agreste Pernambucano, extensão do Eixo leste do Projeto de Integração do rio São Francisco com Bacias do Nordeste Setentrional (PISF), viabiliza a garantia hídrica com água de boa qualidade para toda a região do Agreste de Pernambuco, permitindo, assim, a regularização do abastecimento de 72 municípios a partir da implantação de um Sistema de Adutoras e de uma Estação de Tratamento de Água (ETA) próxima à barragem do futuro reservatório Ipojuca, em Arcoverde.

A avaliação de impactos ambientais apresentada no capítulo 7 deste EIA evidenciou 22 impactos negativos, sendo 3 de muito pequena relevância (MP), 9 de pequena relevância (P), 6 de média relevância (M), 2 de grande relevância (G) e 2 de muito grande relevância (MG), propondo ainda a implementação de medidas preventivas e mitigadoras, de modo a minimizar seus efeitos.

Apontou ainda 12 impactos positivos, sendo 2 de média relevância, 5 de grande relevância e 5 de muito grande relevância, com a proposta de implementação de medidas potencializadoras de seus efeitos.

Os impactos negativos de maior relevância recaem sobre o meio biótico, sendo passíveis de mitigação e controle. Esses impactos serão em parte compensados pelo investimento em preservação de áreas protegidas.

Já os impactos positivos de maior relevância recaem sobre a questão do aumento da oferta de água e da garantia hídrica, bem como sobre a dinamização da economia regional.

O Projeto do Ramal do Agreste pode ser considerado, portanto, como um empreendimento ambientalmente viável, ao trazer, potencialmente, com sua inserção, benefícios econômicos, sociais e ecológicos que superarão os impactos ambientais que possam advir de sua implantação e operação.

EIA DO RAMAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sumário Executivo – página - 71 -