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ROGÉRIO TUTI |CABINDA SEGUNDA-FEIRA, 13 de Agosto de 2012 | Ano 35 Nº 12661 Director: José Ribeiro ANTÓNIO SOARES|CABINDA D. FILOMENO MAIOMBE EDUARDO PEDRO|CABINDA ALDEIA DO YABI Fiéis estão unidos Exploração A felicidade à volta do bispo de madeira bateu à porta e reforçados na fé está em alta dos moradores D. Filomeno Vieira Dias é um bis- Considerada uma área de negócio em A aldeia do Yabi, nos arredores da ci- po consensual porque defende os crescimento, a exploração de madeira dade de Cabinda, vive grandes mu- princípios da sua Igreja, sem des- na província de Cabinda já teve dias e danças. Nas suas planícies está a nas- vios. E considera todos os fiéis noites de pesadelos. Quem conhece a cer um projecto agrícola que dentro de iguais e irmãos em Cristo.Para to- história afirma que, até há cinco anos, um ano vai produzir em grande escala dos os seres humanos, as portas es- os empresários que investiam na explo- banana, abacaxi e citrinos: a fruta é O bispo de Cabinda abre a porta a todos tão sempre abertas. PAG|4|5 ração de madeira eram considerados Nasce no Yabi agricultura biológica “biológica”, sem químicos. PAG|16|17 “suicidas”. PAG|6|7 JORNAL DE ANGOLA Segunda-feira 13 de Agosto de 2012 2|ESPECIAL CABINDA • REALIDADE CONTRA A FICÇÃO Percurso de Cabinda desde vila do Congo Português O território só ficou enclave quando a Bélgica “roubou” uma frente de mar para a sua colónia ARTUR QUEIROZ ca, deu razão a Portugal. Os ingleses devido à baixa severa dos preços da ça um movimento revolucionário Através do seu antigo colaborador devolveram os territórios ocupados borracha. O Norte de Angola sofre que tem repercussões no Congo Por- Pinheiro da Silva, um “notável” de Cabinda sempre fez parte da em Moçambique. ainda mais, com a entrada em fun- tuguês. Quando as autoridades colo- Cabinda que tinha apoios na região. colónia de Angola e o estatuto de Em Angola, Cabinda já tinha si- cionamento do Caminho-de-Ferro niais ficam com a certeza de que a in- Themudo Barata era um deles. protectorado que hoje justifica do reduzida a um enclave e assim de Matadi e a criação, pelos belgas, dependência do Congo Belga é irre- Em Portugal, Spínola preparava acções políticas baseadas em ficou. Mas sob perigo permanente, de vários postos aduaneiros e fis- versível, temem que a “onda” che- um golpe contra a democracia e os perigosos conceitos regionais e porque os belgas nunca desistiram cais ao longo da fronteira. O co- gue a Angola e particularmente ao “notáveis” de Cabinda, davam o tribais, foi apenas um truque polí- de ocupar todo o território, no que mércio transfronteiriço sofre um Norte, que é o Congo Português. seu contributo, aliando-se aos res- tico que os portugueses usaram eram acompanhados pelos france- golpe profundo. E essa actividade, Holden Roberto dá a conhecer a tos do colonialismo. na sequência da criação do Con- ses. Os que hoje reivindicam a “li- na época, era a mais lucrativa. África, na conferência de Accra, Em Lisboa os spinolistas tentam go Belga e do Congo Francês, à bertação” de Cabinda só querem o Cabinda era uma mera circuns- que lidera a União dos Povos do tomar o poder, no dia 28 de Setem- luz da Conferência de Berlim. enclave. Prescindem de todas as crição e o seu território pertencia Norte de Angola. Lisboa teme ficar bro de 1974, a coberto de uma “ma- Ainda as fronteiras estavam fres- terras anexadas pela Bélgica, para em regime de monopólio, à Com- sem o Congo Português. Nkrumah nifestação silenciosa”. Spínola, en- cas e já os belgas exigiam que à sua que o Congo Belga tivesse uma panhia de Cabinda, propriedade do convence Holden a retirar a expres- tão Presidente de Portugal, tinha de- possessão fosse dada uma saída pa- parte da costa marítima. Pelos vis- Banco Nacional Ultramarino. Esta são “Norte” da sua organização. Fi- cidido, com Nixon e Mobutu, que ra o mar. A monarquia portuguesa tos essa parte do território não pre- parcela do distrito do Congo Portu- ca apenas União dos Povos de An- Angola era para a FNLA. Mas os estava tão débil que não teve forças cisa de ser “libertada”. guês definhava a olhos vistos. Lân- gola, UPA, hoje FNLA. golpistas foram derrotados. Silvino para impedir mais um roubo dos Antes da Conferência de Berlim, dana, apenas um posto administra- Lisboa desmantela o distrito do Silvério Marques e Themudo Bara- seus territórios. E Cabinda, parte sem força militar nem política, a tivo, prosperava devido ao seu es- Congo Português e cria no seu lugar ta são recambiados para Lisboa. integrante da colónia de Angola, fi- coroa portuguesa o melhor que tatuto de porto madeireiro. três distritos: Uige, Zaire e Cabin- Portugal enviou para Angola o almi- cou reduzida a um enclave. Os bel- conseguiu foi convencer os notá- Os colonos do Congo Português da, dada a sua situação de enclave, rante Rosa Coutinho, como alto-co- gas ficaram com as terras da embo- veis de Cabinda a assinarem o Tra- lançam-se na cultura intensiva do ainda que fosse um território mais missário e com plenos poderes. cadura do rio Zaire até ao mar. tado de Simulambuco que colocou café. Na época havia esta crença: o pequeno do que muitos concelhos Estes são os factos históricos. O o território sob protectorado de Uíge será o que for o café e o Con- ou municípios. Ainda hoje é assim. Desmantelamento dos golpistas grupo que quer “libertar” o enclave Portugal. Os nobres da região de- go Português será o que for o Uí- de Cabinda nada diz sobre o territó- clararam solenemente que queriam ge”. O café triunfou. Um saco de Aliança com os colonialistas A primeira coisa que fez, foi des- rio ocupado pela Bélgica para cons- continuar a ser portugueses e pe- mabuba chegou a valer mil angola- mantelar as estruturas dos golpistas truir o porto de Matadi. Mas vale a diam a sua protecção. Os portugue- res. O povoado com meia dúzia de A declaração dos notáveis de Ca- que queriam uma independência pena enquadrar historicamente o ses exibiram essa declaração e con- palhotas chega rapidamente a vila e binda pedindo a protecção dos por- unilateral, igual à da Rodésia de Ian momento em que aquela parte do seguiram aliviar a pressão de bel- logo a seguir cidade, à custa do di- tugueses foi mais tarde repetida, Smith. Isso significava o alastrar Congo Português foi amputada de gas e franceses para a anexação do nheiro do café. O governo transfere em Setembro de 1974, quando a do “aparheid” para Angola. Pren- tal forma que se formou um enclave. território de Cabinda. a capital do Congo Português de “sociedade civil” do enclave pediu deu e mandou para Lisboa todos os Portugal já tinha perdido os Maquela do Zombo para o Uíge. ao governador do distrito, briga- colonos que conspiravam em imensos territórios do Mapa Cor- Fim do protectorado deiro Themudo Barata, que manti- Luanda. de-Rosa para a sua velha aliada, a Elevação a cidade vesse o território sob a bandeira Quando a FLEC ocupou com Inglaterra. Rodésia do Norte (Zâm- Em 1887, o agora enclave de Ca- portuguesa. Barata, um ultra do re- mercenários franceses o posto de bia) Rodésia do Sul (Zimbabwe) binda e todos os territórios entre os Nos anos 30 e 40 Cabinda conti- gime, visceralmente contra o Mo- Massabi, o almirante acabou com a Lesotho, Botswana e Malawi fo- rios Zaire, Loge e Cuango, passaram nua a ser uma circunscrição do dis- vimento dos Capitães que libertou aventura, numa operação relâmpa- ram pura e simplesmente anexados a fazer parte do distrito do Congo trito do Congo Português, com o Portugal do fascismo e do colonia- go de fuzileiros. Nesse dia a FLEC pelo governo de Londres, através Português, cuja capital era Maquela mesmo estatuto do Golungo Alto, lismo, foi eleito em Lândana, num desapareceu. E só reaparece quan- de um humilhante Ultimato, que o do Zombo. Nesta época o Uíge era Ambriz ou Ambrizete (Nzeto). A comício público, presidente de do é necessário dar cobertura a ac- poeta Guerra Junqueiro, num poe- ainda um povoado com “meia dúzia população do enclave precisava de honra da FLEC. Foi neste momen- ções militares ou de subversão con- ma heróico, considerou o fim da de palhotas”, como refere José Ro- ir ao Uíge resolver problemas, que to que surgiu a FLEC sedeada no tra Angola. Um exemplo: na céle- pátria lusa. A monarquia portugue- que Martins, autor de um opúsculo apenas podiam ser resolvidos na ca- então Zaire a desautorizar as deci- bre batalha das planícies do Ntó, sa estava no seu estertor final, mer- que foi apresentando na primeira pital do distrito. sões de Lândana. poucos dias antes da Independência cê da propagação triunfante do Exposição Colonial Portuguesa. Em 1956, o Uíge atinge o máxi- No terreno passou a existir a Nacional, o exército zairense trazia ideal republicano. Em 1920, o governo de Lisboa ex- mo do desenvolvimento. O gover- FLEC de Ranque Fraque e a de Nzi- elementos da FLEC que uma vez Os ingleses ocuparam igualmente tingue oficialmente o “protegido” nador do distrito do Congo Portu- ta Tiago. Nada que pudesse ser le- vencida a batalha, se apresentavam todos os territórios da colónia de distrito de Cabinda. As pressões ti- guês, Jaime Pereira de Sampaio vado a sério. Tiago era instrumenta- em Cabinda como “libertadores”. Moçambique a sul da baía de Mapu- nham acabado e já não fazia sentido. Forjaz de Serpa Pimentel, no dia 28 lizado pelos franceses e Franque Sempre que potências ocidentais to e as ilhas da Inhaca e dos Elefan- Nessa época a capital do Congo Por- de Maio, resolve elevar Cabinda à por Mobutu, legítimo herdeiro das apoiantes abertamente ou na som- tes.