Bernardo Vieira de Melo

32º Mandatário do 32º (trigésimo segundo) governante da Capitania do Rio Grande do Norte 1695 (Único mandato) 1701

Precedido por Sucedido por Agostinho César de Andrade Antônio de Carvalho e Almeida

Nasceu na freguesia de Muribeca-PE, na segunda metade do século XVII, filho do homônimo Capitão de Ordenanças Bernardo Vieira de Melo e d. Maria Camelo de Melo. Militar, consta que de sua folha de serviços prestados à Capitania de resultaram galardões e recompensas, inclusive o foro de Cavaleiro Fidalgo da Casa Real e o posto de Capitão-mor da Vila de Igaraçu (1691). Rico proprietário do Engenho “Pindobas”, na freguesia de Ipojuca-PE, pertencia à nobreza rural pernambucana, e foi importante chefe militar na expedição que destruiu o Quilombo dos (fev., 1694, na Serra da Barriga, no atual município de União dos Palmares-AL). Em ato de 8 de janeiro de 1695 foi nomeado Capitão-mor da Capitania do Rio Grande mas não se sabe, conforme dito anteriormente (V. verbete AGOSTINHO CÉSAR DE ANDRADE) a data de sua posse, que terá ocorrido, provavelmente, em princípios daquele mesmo ano, segundo informa CÂMARA CASCUDO (1984, p. 443), enquanto TAVARES DE LIRA informa que documentos irrecusáveis provam que em 4 de julho de 1695 já governava Bernardo Vieira de Melo (1982, p. 104). O certo é que permaneceria no cargo por largo período: O Senado da Câmara solicitou, em de 2 de fevereiro de 1697, sua recondução, sendo atendido em Carta Régia de 18 de novembro do mesmo ano. Governou até 14 de agosto de 1701 (CÂMARA CASCUDO, op. cit., p. 443). A decisão da Metrópole fundamentara-se no fato de que, em sua primeira administração, nela se houve com mui zelo e boa disposição. Em sua administração fundou o Arraial de Nossa Senhora dos Prazeres, em Açu (abr., 24, 1696), designando para o seu comando Teodoro da Rocha, e estimulou a fixação de colonos no âmbito da Capitania, inclusive compelindo os proprietários de vastas sesmarias, mesmo residindo longe da jurisdição – em Pernambuco, às margens do São Francisco e, até na Bahia –, a ocuparem suas concessões, sob pena de delas serem destituídos. Pacifista, defendeu o direito dos nativos, protegendo-os das ciladas do Mestre-de- campo do Terço dos Paulistas, Manuel Álvares de Morais Navarro, que tramava opor os janduís aos paiacus, todos aldeados, a fim de obter presas de guerra. Este – Morais Navarro –, foi preso e processado. Na vigência da gestão de Bernardo Vieira os indígenas tiveram acrescida em suas respectivas missões uma légua em quadra, através de alvará, em forma de lei, de 23 de setembro de 1700. Também foi sua a iniciativa de a guarnição da Fortaleza dos Reis Magos passar a ser constituída apenas por gente da terra, considerando que os pernambucanos costumavam desertar. Apelou ao Rei que, em Carta Régia de 15 de janeiro de 1696, o atendeu prontamente. Concluído o mandato (ago., 1701), tornou a , ali assumindo o comando do Terço de Infantaria de Linha. Anos mais tarde (1709), foi promovido a Sargento-mor do Terço dos Palmares. Em 10 de outubro de 1710 (há autores que mencionam 10 de novembro) terá feito “o primeiro pronunciamento republicano na América” no Senado da Câmara de Olinda, ato do qual resultou sua prisão e deportação para , junto com o seu filho André Vieira, sendo recolhido ao presídio de Limoeiro, em Lisboa, onde viria a falecer a 10 de janeiro de 1714. Foi sepultado no Mosteiro do Carmo, naquela capital.

Informações históricas sobre o período: (1) À singular capacidade de intermediar partes contrárias, somava Bernardo Vieira intenso desejo de pôr fim àquele conflito – a tantos anos se arrastando. Conquistou a confiança dos índios, sem perder a autoridade sobre os seus comandados. Foi ele, enfim, quem concluiu aquela guerra esdrúxula e funesta para ambas as partes. No Dicionário biográfico de pernambucanos célebres, citado por TAVARES DE LIRA (op. cit., p. 104), há o registro: Diz Pereira da Costa que lhe coube a fortuna de reduzir todo o gentio a uma universal paz. (2) Quando a paz estava sendo efetivada, e disto Bernardo Vieira informava o Governador-Geral, Dom João de Lencastre (1646- 1707), deste recebeu correspondência datada de 26 de novembro de 1695, louvando tudo que o leal e valoroso vassalo fizera em serviço de Sua Majestade, diz TAUNAY, em seguida transcrevendo, a propósito da cessação das hostilidades, este trecho: A inconstância dos bárbaros sempre faz escrúpulos à firmeza de sua paz, e muito mais à vontade que mostram de aceitar a luz evangélica. Em uma e outra coisa ponha V. M. particular estudo, porque tanto deseja Sua Majestade conservar a paz com essas nações como introduzir a fé na sua gentilidade e ter segura essa Capitania. O Padre visitador da Companhia me deu conta do bom modo com que V.M. trabalha por acudir a tudo ao que não duvidarei nunca (1995, pp. 182-183). (3) “Mascate” era alusão depreciativa com que brasileiros de Olinda se referiam a portugueses comerciantes radicados em Recife, obstinadamente aferrados ao espírito de corpo, explorando a boa-fé dos menos esclarecidos e monopolizando a

produção de açúcar. Daí se originaria o episódio que seria denominado “Guerra dos Mascates”, iniciado por volta de 1710. Protestos e pressões de Olinda irritavam os portugueses, que ansiavam elevar a Povoação do Recife à Vila, com o que aquela seria neutralizada. Já em 1700 o Rei de Portugal, D. Pedro II (1648-1706), indeferira a reivindicação, inclusive rotulando-a de “absurda”; mas seu filho, D. João V (1689-1750), concedeu-a, através de Carta Régia de 19 de novembro de 1709, automaticamente rompendo o vínculo político-administrativo que a sujeitava ao Senado da Câmara de Olinda, fato que precipitaria os acontecimentos, inclusive com sério atentado ao então Governador de Pernambuco, Sebastião de Castro Caldas, que abandonou o posto e fugiu para a Bahia. Bernardo Vieira, líder da ala radical, propõe no Senado de Olinda (10.11.1710), que se declarasse a Capitania de Pernambuco uma república “ad instar” (à semelhança) da de Veneza, ou da Holanda e da de Veneza, como querem outros autores. Prevaleceu a corrente contrária, a moderada, e o poder foi entregue ao Bispo, Frei Manuel Álvares da Costa. Em junho do ano seguinte (1711) há novos conflitos que culminam com novas prisões, dentre as quais as já citadas dos Vieira de Melo – pai e filho. (0BS: sugerimos, para quem queira aprofundar o assunto, acessar a obra Narração Histórica das Calamidades de Pernambuco Sucedidas desde o ano de 1707•1715, do cronista Manuel dos Santos).

FONTES TAVARES DE LIRA, Augusto. História do Rio Grande do Norte, 2ª edição, com atualização gráfica do Prof. Waldson Pinheiro. Brasília: Fundação José Augusto / Centro Gráfico do Senado Federal, 1982. CÂMARA CASCUDO, Luis da. História do Rio Grande do Norte, 2ª edição. Rio de Janeiro: Fundação José Augusto / Ed. Achiamé, 1984. ______. Govemo do Rio Grande do Norte, 1º Vol. Mossoró: Fundação Vingt-Un Rosado / Coleção Mossoroense, Serie “C”, volume DXXVI, 1989. TAUNAY, Affonso de Escragnolle. A Guerra dos Bárbaros, 2ª edição. Mossoró: Fundação Vingt-Un Rosado / Coleção Mossoroense, Série “C”, volume 863, 1995. Enciclopédia Barsa (elaborada sob a supervisão dos editores da Encyclopaedia Britannica), Vol. 9. Personalidades Históricas do Rio Grande do Norte (séc. XVI a XIX), Coordenação e redação Tarcisio Rosas. Natal: Fundação José Augusto - Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine-CEPEJUL, 1999.

MELO, Bernardo Vieira de - Nasceu na freguesia de Muribeca-PE, na segunda metade do Séc. XVII, filho do Capitão de Ordenanças Bernardo Vieira de Melo e de d. Maria Camelo de Melo. Militar, de sua folha de serviços prestados à Capitania de Pernambuco resultaram galardões e recompensas, inclusive o foro de cavaleiro fidalgo da Casa Real e posto de Capitão-mor da Vila de Igarassu. Foi senhor de engenho de Pindobas, na freguesia de Ipojuca (Capitania de Pernambuco), e participou da campanha para a conquista do Quilombo dos Palmares. Em ato de 08.01.1695 foi nomeado Capitão-mor da Capitania do Rio Grande. Fundou o Arraial de Nossa Senhora dos Prazeres (Açu, 1696), fortificando toda a região e erguendo, ali, um novo presídio. Concluída sua administração, a Metrópole, considerando que se houve nela com mui zelo e boa disposição..., reconduziu-o ao posto por mais três anos. A 23 de setembro de 1700, Bernardo Vieira consegue um alvará, em forma de lei, concedendo uma légua quadrada de terra a cada missão indígena, estabelecendo assim a pacificação e deixando o governo no ano seguinte. Em 10 de outubro de 1710 fez o primeiro pronunciamento republicano na América (Senado da Câmara de Olinda), ato do qual resultou sua prisão e deportação para Lisboa, junto com o seu filho André Vieira, vindo a falecer no cárcere. Fonte: “Personalidades Históricas do Rio Grande do Norte (séc. XVI a XIX), Coordenação e redação Tarcisio Rosas. Natal: Fundação José Augusto - Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine-CEPEJUL, 1999. Pág. 50.

Bernardo Vieira de Melo (1658-1714) foi militar e político brasileiro. Proprietário de terras e rico senhor de engenho. Foi governador e capitão-mor da capitania do Rio Grande do Norte. Um dos principais líderes do Senado da Câmara de Olinda. Foi capitão-mor da província de Igarassu. Bernardo Vieira de Melo (1658-1714) nasceu no engenho de sua família, na freguesia da Muribeca, distrito de Jaboatão, Pernambuco, no ano de 1658. Filho de Bernardo Vieira de Melo, capitão de ordenança, fidalgo e cavaleiro da Casa Real, e neto do português Antônio Vieira de Melo, primeiro nobre português que chegou ao Brasil em 1654. Militar de carreira, enfrentou índios revoltados e negros aquilombados. Lutou contra os indígenas no interior de Pernambuco, na área de Cimbres, onde os proprietários de engenhos vinham recebendo doação de terras para criação de gado. Naquela época a região açucareira necessitava de gado, não só para uso agrícola como também para o abastecimento alimentar. Bernardo Vieira de Melo liderou a tropa que lutou contra os indígenas na fase final da guerra dos bárbaros, em 1694, quando o chefe Canindé avançou em direção ao vale do Ceará Mirim, ameaçando Natal. Com o apoio do governador de Pernambuco, venceu Canindé e aldeou os grupos indígenas no vale do Açu e do Apodi. Foi designado para participar do último ataque contra o quilombo dos Palmares, contando com um terço das tropas oficiais. Os quilombolas se encontravam enfraquecidos desde a capitulação de Ganga- Zumba. Sob a liderança de , haviam reconstruído o mocambo dos Macacos. Depois de mais de vinte dias de cerco, na madrugada de 6 para 7 de fevereiro de 1695, o quilombo foi destruído. Ainda em 1695 foi nomeado governador e capitão-mor da capitania do Rio Grande do Norte. Em 1696, comandou uma expedição que lutou contra os índios e estabeleceu os colonos, onde fundou o Arraial de Nossa Senhora dos Prazeres, à margem do rio Açu. Voltando à Olinda, em 1700, com grande prestígio, tornou-se um dos principais líderes do Senado da Câmara. Em 1709 foi nomeado capitão-mor da província de Igarassu, Pernambuco. No dia 10 de novembro de 1709, Bernardo Vieira de Melo propôs que Olinda se libertasse do domínio português e que se tornasse uma república aristocrática. A rivalidade entre "brasileiros" (de Olinda) e "portugueses" (do Recife) girava em torno da decadência do açúcar, que levara a aristocracia rural a

endividar-se com os comerciantes (mascates), que detinham o monopólio do comércio de Pernambuco. Apesar de decadente, Olinda era Vila e tinha Câmara Municipal. Portanto, tinha autonomia em relação a Recife, que era comarca subordinada administrativamente a Olinda. A pressão dos mascates fez com que no dia 19 de novembro de 1709, o rei de Portugal elevasse Recife à categoria de Vila. No dia 15 de fevereiro de 1710, foi construído o pelourinho, simbolo do poder municipal. Quando da demarcação dos novos limites entre as duas vilas, o governador de Pernambuco Sebastião de Castro e Caldas (pró-mascates) foi alvejado por elementos desconhecidos e fugiu para Salvador. Dentro das normas legais, uma junta presidida por D. Manuel Álvares da Costa, se instalou no Recife e procurou obter um ponto de equilíbrio entre as duas facções, o que levou os mascates a se revoltarem. No dia 10 de novembro de 1710, no Senado da Câmara de Olinda, da qual era vereador, Bernardo Vieira de Melo deu o primeiro grito de República do Brasil. Revoltados com as concessões de Portugal aos recifenses, os nobres olindenses, liderados pelo Bernardo Vieira de Melo, invadiram Recife e derrubaram o pelourinho. Eclodiu o conflito que ficaria conhecido como a Guerra dos Mascates. Derrotado o movimento republicano, Bernardo Vieira foi preso e condenado por crimes de lesa- majestade e inconfidência. Com seus companheiro, foi preso e remetido para o Forte de São João Batista do Brum, no Recife, e em seguida para a cadeia do Limoeiro em Lisboa, juntamente com seu filho, o segundo- tenente André Vieira de Melo. Bernardo Vieira de Melo morreu na cadeia, em Lisboa, no dia 10 de janeiro de 1714, intoxicado pela fumaça de um lampião. Em sua homenagem, seu nome foi dado a principal avenida do bairro de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, onde nasceu, e também a uma importante avenida de Natal, capital do Rio Grande do Norte, que governou. Fonte: http://www.e-biografias.net/bernardo_vieira_de_melo/

Capitão-mor Bernardo Vieira de Melo 32º (trigésimo segundo) governante da Capitania do Rio Grande do Norte 1695 – Único mandato - 1701 Bernardo Vieira de Melo, nomeado por patente real de 8 de janeiro de 1695. Ignora-se a posse. O Senado da Câmara solicitou em 2 de fevereiro de 1697 sua recondução sendo atendido em Carta Régia de 18 de novembro do mesmo ano. Governou até 14 de agosto de 1701. Precedido por Agostinho César de Andrade e Sucedido por Antônio de Carvalho e Almeida 1694 - Chega a Palmares a expedição militar de Domingos Jorge Velho e Bernardo Vieira de Melo, somando 6.500 homens. Arma o cerco em torno da dupla paliçada do mocambo principal, que resistira por 26 dias.

Fatos históricos correspondentes ao período de governo de Bernardo Vieira de Melo 1695 – Único mandato – 1701 1695 19 de dezembro: A lei proíbe que as moedas de ouro da metrópole circulam em qualquer das capitanias do Brasil. 1695 20 de novembro: Zumbi, líder negro, é morto no Quilombo dos Palmares pelas tropas do bandeirante Domingos Jorge Velho. 1695 RN 8 de Janeiro: Bernardo Vieira de Meio é nomeado 26º Capitão-Mor, para governar o Rio Grande do Norte. 1696 20 de fevereiro: Carta Régia proíbe que escravas usem vestidos de seda ou objetos de luxo. 1696 RN 24 de abril: Fundado o Arraial de Nossa Senhora dos Prazeres, no Açu. 1700 RN 10 de Janeiro: Jesuítas instalam uma Missão, no Apodi. 1700 RN 23 de setembro: Por Alvará Régio, os índios Tupis receberam uma légua quadrada de terras, no Rio G. do Norte. 1701 RN 11 de Janeiro: A Capitania do RN passa a sua jurisdição da Bahia para Pernambuco. 1701 RN 14 de março: Antônio Carvalho de Almeida é nomeado como 27º Capitão-mor, para governar o Rio Grande do Norte.

Bernardo Vieira de Melo Virginia Barbosa Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco Bernardo Vieira de Melo nasceu na freguesia de Muribeca, hoje Jaboatão dos Guararapes, no Estado de Pernambuco, na segunda metade do século XVII. Filho de Bernardo Vieira de Melo, capitão de ordenança, fidalgo cavalheiro da Casa Real e de D. Maria Carmelo de Melo. Seu primeiro casamento foi com D. Maria de Barros, com a qual não teve filhos e, em segunda núpcias, casou-se com D. Catarina Leitão, tendo quatro filhos. A história de Bernardo Vieira de Melo traz como destaque a sua atuação como administrador, militar e político. Foi governador e capitão-mor da capitania do Rio Grande do Norte (1695-1700) e pacificou esta região onde a hostilidade entre os índios e os portugueses era permanente. Anteriormente, exercera várias funções: Capitão do Rio Grande, Capitão de Infantaria, Tenente-Coronel de Ordenanças, Capitão-mor de Igarassu por Carta Régia de 25 de setembro de 1709, e Capitão de Cavalos. Entre as expedições que comandou destacam-se: a do ataque final ao Quilombo dos Palmares, Pernambuco; a que combateu os índios Tapuias, em Araborá; e a que fundou o Arraial de Nossa Senhora dos Prazeres (1696), à margem esquerda do Rio Açu (ou Piranha), no Rio Grande do Norte, ponto de reforço para a conquista do sertão. Foi deste Arraial que ele iniciou o aldeamento dos índios que permitiu o estabelecimento dos colonos e, em conseqüência, o surgimento da povoação de São João Batista da Ribeira do Céu. Concluída sua gestão como governador do Rio Grande do Norte (1700), voltou para Pernambuco, sendo nomeado Comandante do Terço de Linha do Recife.

Entretanto, é como personagem da Guerra dos Mascates (1709-1714) que Bernardo Vieira e Melo é mais conhecido. Esta guerra caracterizou-se por uma luta de classes: a dos mercadores ou comerciantes portugueses – chamados mascates –, moradores da então povoação do Recife, e a dos senhores de engenho, os nobres de Olinda – os “pés rapados”, como os mascates os chamavam. No início do século XVIII, o comerciante português ajustava os preços de seus produtos de acordo com o seu interesse, mesmo sabendo que Pernambuco passava por uma forte crise econômica causada pela queda do preço do açúcar no mercado internacional, e pelo fato agravante da descoberta das minas de ouro e diamantes em Minas Gerais. Acrescente-se a esses acontecimentos, que a maior parte dos escravos africanos ia para Minas Gerais e Rio de Janeiro e não para o Recife ou Salvador, como ocorrera nos séculos XVI e XVII. Por isso, o preço do escravo negro aumentava, a sua falta na agricultura provocou uma baixa das safras e o preço do açúcar diminuiu, o que levou os engenhos a uma situação crítica. Os nobres da Vila de Olinda, a capital de Pernambuco criada por Duarte Coelho, controlavam os cargos no Senado da Câmara e não admitiam que os mascates pudessem ser ali representados nem que o Recife fosse elevada à categoria de vila, tornando-se assim independente de Olinda. Entretanto, sabe-se que o motivo de toda essa rejeição era o orgulho dos olindenses pelos seus títulos nobiliárquicos, o preconceito de classe e o ódio ao comerciante português (alegavam que eram europeus e não brasileiros). Para exemplificar o grau de rivalidade entre os olindenses e os recifenses existe o caso da procissão de cinzas: em Olinda, todos os anos, na quarta-feira de cinzas, a Ordem Terceira de São Francisco realizava a procissão de cinzas; no Recife também havia um mosteiro de São Francisco, onde os membros daquela Ordem sempre quiseram fazer, no mesmo dia, a procissão das cinzas e o pedido lhes era negado. Os olindenses argumentavam a distância do Recife para a sede do bispado, que era em Olinda, ao que os recifenses responderam e provaram o contrário. Numa outra ocasião, os recifenses propuseram um acordo: num ano sairia a procissão de cinzas de Olinda e, na quinta-feira, no Recife; no ano seguinte, seria o inverso e, assim, alternadamente. Pedido negado. O Cabido (conjunto dos cônegos de uma catedral) inclusive “lançou a excomunhão a todo aquele que auxiliasse o recifense em seu desígnio, bem como a quem quer que visse a procissão”. Apesar dessa atitude os recifenses continuaram a fazer a procissão todos os anos, e, nesse ínterim, Lisboa aprovara o pedido dos recifenses. O pretexto para o início da Guerra dos Mascates foi uma Carta Régia, de 19 de novembro de 1709, que elevou a povoação do Recife à categoria de Vila e a colocação do pelourinho da nova vila, em 15 de fevereiro de 1710, com a aprovação do governador Sebastião de Castro e Caldas. A partir destes fatos, seguiram-se outros que traçaram o destino de Bernardo Vieira de Melo: em outubro de 1710, por ter dado apoio aos comerciantes portugueses, levantando o pelourinho, e pela tentativa de demarcar os limites entre as duas vilas, o governador Sebastião de Castro e Caldas sofreu um atentado e, junto com seus auxiliares e amigos, fugiu para Salvador; o Recife então foi ocupado pelos olindenses, o pelourinho destruído e as autoridades recentemente nomeadas foram presas. Os rebeldes seguiram para Olinda onde, em reunião no Senado da Câmara, discutiram a quem entregariam o governo embora, legalmente, na linha de sucessão, deveria assumir o bispo D. Manoel Álvares da Costa. Segundo alguns historiadores, foi neste momento que a importância histórica de Bernardo Vieira de Melo ficou definida. Como vereador do Senado da Câmara de Olinda, precisamente no dia 10 de novembro de 1710, ele propôs a independência do Brasil para livrar o país do jugo dos portugueses com um governo republicano aristocrático semelhante ao de Veneza. Inclusive, admitira Bernardo Vieira de Melo que, num confronto, se necessário, seria mais honroso para os olindenses entregarem-se aos franceses do que servir aos mascates. Considera-se, desta forma, que esta proposta seja a primeira iniciativa republicana, o “primeiro grito de independência” no Brasil. Entretanto, a grande polêmica em torno deste fato é a inexistência de documentos que comprovem a proposta do vereador. A Ata da reunião do Senado em que teria ocorrido a proposta nunca foi localizada. Mesmo assim, diante de uma série de evidências e considerando a Guerra dos Mascates uma “verdadeira luta de classes entre a nobreza de Olinda e a burguesia do Recife” vários historiadores aceitam o caráter republicano do movimento. Por causa daquela proposta de independência e de suas ações contra os mascates, Bernardo Vieira de Melo sofreu um atentado, foi perseguido, teve sua cabeça exposta a prêmio, entregou-se às autoridades e foi preso, junto com outros líderes pernambucanos, seu filho e alguns parentes. Ficaram na Fortaleza do Brum, depois foram remetidos para Lisboa e lá recolhidos à cadeia de Limoeiro. Em 10 de janeiro de 1714, o ilustre pernambucano morre na prisão, nos braços do filho, sendo sepultado no Mosteiro do Carmo, Portugal. Seu filho André Vieira de Melo falece em 14 de abril de 1715. Recife, 25 de outubro de 2006. (Atualizado em 14 de setembro de 2009). FONTES CONSULTADAS: ANDRADE, Manuel Correia de. A Guerra dos Mascates. Pernambuco Imortal: o doce sonho da República. Recife: Jornal do Commercio, 1995. p. 3-4. ASSU. Disponível em: . Acesso em: 15 set. 2006. BERNARDO Vieira de Melo. Disponível em: . Acesso em: 15 set. 2006. BURIL, Gilka Tavares. Bernardo Vieira de Melo. Anuário de Olinda, Olinda, anos 1961-1962, p. 15-16, dez. 1962. FERRER, Vicente. Guerra dos Mascates (Olinda e Recife). Lisboa: Livraria Ventura Abrantes, 1914. A GUERRA dos bárbaros: feitos e sonhos de Vieira de Melo. Disponível em:

. Acesso em: 15 set. 2006. GUERRA dos Mascates: as suas causas. Feliz Natal, Olinda, ano 3, n. 3, p. 10, 1948. MARTINS, Joaquim Dias. Os mártires pernambucanos victimas da liberdade nas duas revoluções ensaiadas em 1710 e 1817. Pernambuco: Typ. de G. C. de Lemos e Silva, 1853. MELLO, Mário. A guerra dos mascates como afirmação nacionalista. Revista do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, Recife, v. 36, p. 7-116, 1939-1940. POPULAÇÃO ignora republicano famoso. Disponível em: . Acesso em: 15 set. 2006. COMO CITAR ESTE TEXTO: Fonte: BARBOSA, Virgínia. Bernardo Vieira de Melo. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: . Acesso em: dia mês ano. Ex: 6 ago. 2009.

Bibliografia CASCUDO, Luís da Câmara, História do Rio Grande do Norte, 1ª edição. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação-MEC, 1955. 2ª edição. Rio de Janeiro: Fundação José Augusto / Ed. Achiamé, 1984. ______. História do Rio Grande do Norte, 2ª edição. Rio de Janeiro: Fundação José Augusto / Ed. Achiamé, 1984. ______. Govemo do Rio Grande do Norte, 1º Vol. Mossoró: Fundação Vingt-Un Rosado / Coleção Mossoroense, Serie “C”, volume DXXVI, 1989. Enciclopédia Barsa (elaborada sob a supervisão dos editores da Encyclopaedia Britannica), Vol. 9. GALVÃO, Hélio. História da Fortaleza da Barra do Rio Grande. Rio de Janeiro: MEC / Conselho Federal de Cultura, 1979. LEMOS, Vicente Simões Pereira de, e MEDEIROS, Tarcisio. Capitães-mores e Governadores do Rio Grande do Norte, Vol. 2. Edição do IHGRN - Conselho Federal de Cultura - Ministério da Educação e Cultura. Natal: CERN, 1980 Personalidades Históricas do Rio Grande do Norte (séc. XVI a XIX), Coordenação e redação Tarcisio Rosas. Natal: Fundação José Augusto - Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine-CEPEJUL, 1999. TAUNAY, Affonso de Escragnolle. A Guerra dos Bárbaros, 2ª edição. Mossoró: Fundação Vingt-Un Rosado / Coleção Mossoroense, Série “C”, volume 863, 1995. TAVARES DE LIRA, Augusto. História do Rio Grande do Norte, 2ª edição, com atualização gráfica do Prof. Waldson Pinheiro. Brasília: Fundação José Augusto / Centro Gráfico do Senado Federal, 1982.