“Acreditaram Tel-Os Destruído; Enfim Eles Permaneceram Incomodando E Rapinando”: As Narrativas Sobre Palmares Na Revista Do IAGA (1872-1901)

Total Page:16

File Type:pdf, Size:1020Kb

“Acreditaram Tel-Os Destruído; Enfim Eles Permaneceram Incomodando E Rapinando”: As Narrativas Sobre Palmares Na Revista Do IAGA (1872-1901) 1 “Acreditaram tel-os destruído; enfim eles permaneceram incomodando e rapinando”: as narrativas sobre Palmares na Revista do IAGA (1872-1901) DANILO LUIZ MARQUES* Introdução Palmares, o Quilombo mais emblemático do período colonial brasileiro, localizado nos atuais territórios de Alagoas e Pernambuco, foi formado em fins do século XVI1, tendo o seu auge ao longo da segunda metade do século XVII, resistindo por mais de um século às tentativas de invasão e destruição. Imersos em uma suposta crise da economia açucareira e preocupados com a ideia de prosperidade da pecuária, a hegemonia senhorial concebia Palmares como um obstáculo para a interiorização dos rebanhos, constituindo um atrativo para a fuga de escravos (REIS, 2004: 30), deste modo, buscou fazer investidas com o objetivo de exterminar o Quilombo. Após cerca de vinte expedições sem sucessos no plano de exterminar Palmares, o governo da Capitania de Pernambuco intensificou as forças de extermínio, contando com tropas locais e de bandeirantes bem armadas e municiadas, invadiram o Quilombo e assassinaram o líder Zumbi em 1695. O Quilombo dos Palmares, apesar de findada a guerra no século XVII, simbolizou um “medo” para a hegemonia escravista, “havia muito receio na continuidade de Palmares no século XVIII, uma quase certeza de que as batalhas de destruição do mocambo do Macaco e a morte de seus líderes ainda não era o fim” (GOMES, 2011: 28). Em 1763, o vice-rei conde de Assumar alertou para um suposto perigo de surgir “outro Palmares” em Minas Gerais. Já no Rio de Janeiro, em 1792, com medo de mocambos, as autoridades argumentavam que poderia surgir um “novo Palmares” (GOMES, 2011: 83), sendo necessário perseguir os fugitivos a todo custo. Os Cabanos, populações de camponeses, indígenas e quilombolas conhecidas como Papa-Méis, se organizaram na mesma região onde existiu Palmares, sendo combatidos pela Regência do Império nas primeiras décadas oitocentistas. As autoridades se indagavam se isto seria uma mera coincidência geográfica. A experiência palmarina se manteve viva na mente dos grupos dominantes do poder no Brasil. *Doutorando em História Social pela PUC-SP. Bolsista do CNPq. 1 Sua primeira referência em documentação oficial é datada de 1597. 2 O Quilombo dos Palmares teve uma forte relação com a história da formação da Província de Alagoas no século XIX. O espaço alagoano foi formado à “sombra” da simbologia do Quilombo, as elites se utilizaram de um discurso negativo em relação aos aquilombados da Serra da Barriga, algo reforçado na memória local através de uma educação oficial que vangloriava a vitória das forças contrárias aos quilombos. O Instituto Arqueológico e Geográfico Alagoano (antigo IAGA e atual IHGAL) teve uma participação ativa nesse processo, publicando em suas revistas artigos que marginalizavam os palmarinos. As autoridades alagoanas também temiam que outro “Palmares” voltasse a existir, algo que só aumentou com as notícias que circulavam em todo o Brasil acerca dos ocorridos no Haiti entre 1791 e 1804 que desencadearam em uma revolução escrava e das Revoltas dos Malês na Bahia na primeira metade do século XIX. Esse “medo” existiu na mentalidade das elites alagoanas até o fim dos oitocentos, algo que pode ser constatado através dos relatórios provinciais, documentação policial, jornais e códigos de posturas municipais. Propomos, nesta comunicação, refletir como se configurou nas elites alagoanas da segunda metade do século XIX a memória entorno do episódio de Palmares, para isso, utilizaremos como fonte documental os artigos sobre Palmares existentes na Revista do IAGA entre de 1872 a 1901. Os Institutos Históricos, o Projeto de História Nacional e as Narrativas Sobre Palmares Pensar a história foi uma das marcas características do século XIX, doravante, a produção historiográfica ali desenvolvida estaria vincada por uma profunda marca elitista, de modelo europeu, herdeira de uma tradição iluminista, comprometida com o desvendamento do processo de gênese da nação brasileira, que seria institucionalizada com a criação em 1838 do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Estava em curso um projeto de desenvolvimento de uma “história nacional” que buscava a produção de um saber capaz de viabilizar uma determinada “ordem”, um foro privilegiado para se rastrear este processo é a publicação da revista do IHGB que se dará a partir de 1839. A qual, terá três temáticas fundamentais permeando as publicações: a problemática indígena, as viagens e explorações cientificas e o debate da história regional. Esta última, evidenciava um projeto centralista, “é a partir do IHGB no Rio de Janeiro que a leitura dessas histórias regionais será empreendida, reunindo, assim, na capital da monarquia todos os conhecimentos relativos às províncias” (GUIMARÃES, 1988: 5-27). Além disto, as publicações do IHGB imputavam a presença africana no Brasil uma responsabilidade pelo atraso do país na questão da civilidade, a 3 escravidão negra simbolizava um risco para o projeto nacional. Estudando a influência que as teorias raciais tiveram na produção científica e cultural do Brasil oitocentista, Lilia Moritz Schwarcz documenta as interpretações católico-evolucionistas dos institutos históricos, lembrando-nos da tarefa que eles declaravam ter de coligir, metodizar e guardar “documentos, fatos e nomes para finalmente compor uma história nacional para este vasto país” (SCHWARCZ, 1993: 99). Para a autora, os institutos, apesar de uma pretensão totalizante, produziam falas marcadamente regionais: “Ao IHGB coube o papel de demarcar espaços e ganhar respeitabilidade nacional. Aos demais, a função de garantir as suas especificidades regionais e buscar definir, quando possível, certa hegemonia cultural” (SCHWARCZ, 1993: 99-100). Este projeto de História Nacional visava moldar um discurso de legitimação da nação brasileira, procurando um passado que explicasse e rearranjasse o presente. Era a busca “no sentido de lançar as bases daquilo que então se denominava cultura nacional” (CARVALHO e FERREIRA, 2012:15). Nesta conjuntura, os institutos históricos começam a ser fundados, tendo o IHGB a incumbência de desenvolver uma história oficial para o Império, deixando a missão de desenvolver a história regional para os institutos estaduais, como o alagoano. O IAGA foi o mais interessado em perpetuar a memória da história da Guerra de Palmares, pois estava localizado no palco dos acontecimentos, a temática palmarina aparece em “textos memorialísticos dos municípios da região onde ocorreu o Quilombo – Porto Calvo e Penedo -, como parte da documentação regional, capítulo da historiografia holandesa, nas falas dos oradores e presidentes” (REIS, 2004: 55) do IAGA. Entretanto, a escrita historiográfica seguia a tradição do padrão europeu de civilização, determinando o elemento do branco e europeu como preponderante, marginalizando o índio e o negro no processo de formação histórica do Brasil. Deste modo, ocorreu uma depreciação dos episódios que envolvessem esses elementos e a configuração dos povos indígenas e da diáspora africana como inimigos nos confrontos com os europeus (REIS, 2004: 45), o lugar deles no Brasil Independente que pretendia ser “branco e europeizado” foi o “não lugar”. Com isso, a escrita historiográfica sobre Palmares presente na Revista do IAGA procurou privilegiar os feitos das tropas que buscaram destruir o Quilombo. Colocando o fim da história palmarina em consequência ao fim da Guerra de Palmares. Ao analisar a construção de Zumbi como um herói brasileiro, Jean Marcel Carvalho e Ricardo Alexandre Ferreira expõem que no século XIX o Quilombo dos Palmares “passa a 4 simbolizar um empecilho ao avanço da civilização europeia no Brasil, um núcleo de bárbaros africanos no coração da colônia” (CARVALHO e FERREIRA, 2012: 15). Da primeira metade dos oitocentos até a emergência da produção da RIAGA em 1872, era lacônica, mas não inexistente, a presença de Palmares nos escritos de literatos, historiadores, políticos, viajantes estrangeiros, advogados e etc. Dentre os exemplos mais destacados, onde a história de Palmares figura de forma bastante lacônica, podemos citar: Narrativa de uma viagem ao Brasil de Thomas Lindley (1805), História do Brasil de Robert Southey (1810-1822), O Brasil de Ferdinand Denis (1822), A História Geral do Brazil de Adolfo Varnhagen (1854), A Escravidão no Brasil de Perdigão Malheiro (1866). A historiadora Andressa Merces Barbosa dos Reis, documentou a existência de três artigos envolvendo a temática de Palmares na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro - IHGB - (REIS, 2004: 46-55), dentre eles, destacamos o Memória dos feitos que se deram durante os primeiros annos de guerra com os negros quilombolas dos Palmares, seu destroço e paz aceita em junho de 1678, de autoria do alagoano Pedro Paulino da Fonseca. Nessa publicação datada de 1876, encontramos uma narrativa que visava caracterizar os aquilombados de Palmares como o “outro”, o inimigo, tendo um perfil semelhante aos textos da Revista do IAGA, não por coincidência, Pedro Paulino da Fonseca era sócio do instituto alagoano. O autor, utilizou como base de sua narrativa, o documento Relação das guerras feitas aos Palmares de Pernambuco no tempo do governador D. Pedro de Almeida de 1675 a 16782, uma memória que enfocava as ações de repressão e as tentativas de acordos de paz, localizado pelo Conselheiro Drumond na Biblioteca de Êvora em 1859 (REIS, 2004: 29). Deste modo, Pedro Paulino da Fonseca, parece incorporar visões coloniais em seu texto, a tradição dessa narrativa que buscava colocar o Quilombo “como o outro, o inimigo” vem da escrita dos cronistas coloniais contemporâneos ao período da Guerra de Palmares; este pensamento servia como subterfúgio para unir a sociedade colonial contra os palmarinos, tornando-os um inimigo comum para a população. Como sinaliza Jeferson Santos da Silva, no 2 Este documento, se constituía de uma memória, cujo objetivo era uma espécie de prestação de contas das ações do Governador D. Pedro de Almeida relativas a destruição de Palmares, segundo o historiador Flávio dos Santos Gomes: “D. Pedro de Almeida chegou ao poder em 1674, sucedendo a uma junta militar que governara num breve período após a morte do antigo governador Fernão de Souza Coutinho (1670-74).
Recommended publications
  • Bandeiras E Bandeirantes De São Paulo
    BANDEIRAS E BANDEIRANTES DE SÃO PAULO Serie 5.ª B R A S I L I A. N A Vol. 181 BIBLIOTHECA PEDAGOGICA BRASILEIRA CARVALHO FRANCO BANDEIRAS e BANDEIRANTES de S A O PAUL O COMPANHIA EDITORA NACIONAL 8Ão PAULO - Rio DE JANEIRO - ·RECIFE - PoRTo ALBGRB 1 9 4 O .. Estes vivem nas nossas memorias e viverão animados da eternidade da sua fama. FRANCISCO JosÉ FREIRE - ARTE POETICA • • •.. • Não é ainda possivel uma synthese sobre a historia das bandeiras e dos bandeirantes de São Paulo, porque ella ainda se encontra no periodo preparatorio das monographias. Assim, Affonso de Taunay vem escrevendo o que elle modestamente denomina "estudo de milhares e milhares de documentos", forman­ do já sete tomos da sua formidavel "Historia Geral das Bandeiras Paulistas". Pois bem, to­ do esse esforço de critica e selecção que perdu­ ra ha mais de um decennio, deu em resultado alcançar o grande historiador apenas o final do cyclo escravagista. Este nosso trabalho é pois ainda um sim­ ples ensaio sobre a acção extensiva dos ban­ deirantes paulistas, buscando contribuir pa­ ra a sua historia systematizada. A documen­ tação e a bibliographia consultadas para sua formação, foi consideravel. Citaremos no final, apenas a que consta da nossa livraria, dando ao leitor uma idéia nítida da immensidão da · taréfa. E como se constatará preferimos accen­ tuar algumas dessas fontes, no proprio decor- • _.... rer da exposição, por. sêrmos avessos -em-ex-. tremo ás notas intêrcaladas no te~tº·; • Aproveitamos bastante da documentação já publicada, principalmente a do Archivo Publico do Estado. Assim, o nosso ensaio vem esclarecer um ou outro ponto obscuro da historia bandeirante e lembrar outros, ainda não estudados.
    [Show full text]
  • Redalyc.Aldeias E Missões Nas Capitanias Do Ceará E Rio Grande
    Tempo ISSN: 1413-7704 [email protected] Universidade Federal Fluminense Brasil de Oliveira Maia, Lígio Aldeias e missões nas capitanias do Ceará e Rio Grande: catequese, violência e rivalidades Tempo, vol. 19, núm. 35, julio-diciembre, 2013, pp. 7-22 Universidade Federal Fluminense Niterói, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=167029331002 Como citar este artigo Número completo Sistema de Informação Científica Mais artigos Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Home da revista no Redalyc Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto DOI: 10.5533/TEM-1980-542X-2013173502 Revista Tempo | Vol. 19 n. 35 | Dossiê Missões na América ibérica: dimensões políticas e religiosas Aldeias e missões nas capitanias do Ceará e Rio Grande: catequese, violência e rivalidades1 Lígio de Oliveira Maia[1] Resumo A ação missionária nas capitanias do Ceará e Rio Grande, no final do século XVII e início da centú- ria seguinte, foi marcada por uma disputa de interesses que envolvia, além dos religiosos, diversas autoridades coloniais locais e as tropas de paulistas. Em jogo, a suspeitável proeminência de cada um dos atores sociais envolvidos em um conflito generalizado de violência que marcou a denomi- nada Guerra do Açu, quando então, aldeando índios gentios ou fustigando os povos indígenas no sertão, cada um deles buscava mercês da Coroa portuguesa e influência direta na região de conflitos. Palavras-chave: história indígena; jesuítas; guerra dos bárbaros. Aldeas y misiones en las capitanías de Ceará y Rio Grande: Catequesis, violencia y rivalidades Resumen La acción misionaria en las capitanías de Ceará y Rio Grande, a fines del siglo XVII y comienzos de la cen- turia siguiente, fue marcada por una disputa de intereses que envolvía, además de los religiosos, diversas autoridades coloniales locales y las tropas de paulistas.
    [Show full text]
  • 1995,Brazil's Zumbi Year, Reflections on a Tricentennial Commemoration
    1995,Brazil’s Zumbi Year, Reflections on a Tricentennial Commemoration Richard Marin To cite this version: Richard Marin. 1995,Brazil’s Zumbi Year, Reflections on a Tricentennial Commemoration. 2017. hal-01587357 HAL Id: hal-01587357 https://hal.archives-ouvertes.fr/hal-01587357 Preprint submitted on 10 Mar 2019 HAL is a multi-disciplinary open access L’archive ouverte pluridisciplinaire HAL, est archive for the deposit and dissemination of sci- destinée au dépôt et à la diffusion de documents entific research documents, whether they are pub- scientifiques de niveau recherche, publiés ou non, lished or not. The documents may come from émanant des établissements d’enseignement et de teaching and research institutions in France or recherche français ou étrangers, des laboratoires abroad, or from public or private research centers. publics ou privés. Richard Marin 1995, BRAZIL’S ZUMBI YEAR: REFLECTIONS ON A TRICENTENNIAL COMMEMORATION In 1995, the Brazilian commemorations in honor of the tricentennial of the death of Zumbi, the legendary leader of the large maroon community of Palmares, took on every appearance of a genuine social phenomenon. The Black Movement and part of Brazilian civil society, but also the public authorities, each in different ways, were all committed to marking the event with exceptional grandeur. This article advances a perspective on this commemorative year as an important step in promoting the "Black question" along with Afro-Brazilian identity. After describing the 1995 commemorations, we aim to show how they represented the culmination of already-existing movements that had been at work in the depths of Brazilian society. We will finish by considering the period following the events of 1995, during which "the Black question" becomes truly central to debates in Brazilians society.
    [Show full text]
  • ALTINO VENTURA FOUNDATION 33 Years of History ACTIVITY REPORT | 2019
    ALTINO VENTURA FOUNDATION 33 Years of History ACTIVITY REPORT | 2019 EYE CARE REHABILITATION FOR VISION, HEARING, COGNITION, AND PHYSICAL IMPAIRMENTS TEACHING AND RESEARCH SPECIALIZED REHABILITATION CENTER Menina dos Olhos FAV CER IV Journalist and Media Relations President of the Board of Trustees Technical Director Myllena Valença (DRT/PE 3950) Ronald Cavalcanti, MD Ana Núbia, MD Layout Development President of the Board of Directors Administrative Coordination Cammylla Melo da Costa Marcelo Ventura, MD Anacarla Veras Photography Vice-President of the Board of Trustees Medical Specialties Coordination Izabele Brito, André Oliveira e Marcelo Elaní Cavalcanti, MD Luciana Rodrigues (visual), Érica Nery Ventura Filho Vice-President of the Board of Directors (physical), Mila Veras (cognitive), Monica *Prior consent has been obtained for all photos Liana O. Ventura, MD Miranda dos Santos (aural), Pollyanna published Academic Coordination Bezerra (microcephaly) Proofreading Adriana Lima Gois, MD, Bruna Ventura, Myllena Valença MD, Cecília Cavalcanti, MD, Edilana Publisher Sá, MD, Marcelo Ventura, MD, Michel Cepe - Editora de Pernambuco 2Bittencourt, MD, and Vasco Bravo Filho, MD Print run Scienti c Research Coordination 500 copies RELATÓRIOCamila Ventura, DE MDATIVIDADES | 2019 Following is a brief history of Altino Ventura Foundation (FAV) as well as its 2019 activity report. We produced this report in order to provide accountability to all our stakeholders. FAV is committed to and co-responsible for providing care to the underprivileged population, intervening in situations that go beyond the scope of health, generating determinant eff ects in these individuals’ living conditions. e programs developed by FAV focus on promoting eye care, rehabilitation of people with visual, hearing, physical, and cognitive impairments, education, and scientifi c research.
    [Show full text]
  • Palmares: a Critical View on Its Sources Introduction
    Palmares: A Critical View on Its Sources Wim Hoogbergen (Utrecht) Introduction Every community has historical narratives that axe known by virtually everybody. In Brazil the account of the quilombo1 of Palmares is one of such stories. Palmares is already included in the history books for pri­ mary school. One of those books, Historia do Brasil (Primeiro Grau), by Osvaldo R. de Souza, for example, mentions that during the slav­ ery period many slaves escaped from their plantations. They established themselves in places where they were difficult to trace. In those locations, he writes, they formed quilombos. The most famous quilombo was P al­ mares, situated in a hilly region of the present federal state of Alagoas. The chefe of these runaway-slaves, he continues, was Ganga-Zumba, who after his dead was succeeded by his nephew Zumbi, the rei (king) of Pal­ mares. The runaway-slaves organized their own fives in their villages. They were active in agriculture and cattle-breeding and had workshops where clothes, shoes, nets, mats, and pots were made. For over sixty years these people succeeded in resisting their enemies. Eventually the bandeirante paulista2 Domingos Jorge Velho was successful in conquer­ ing the quilombo, however Zumbi could escape and continued to fight for another two years. Finally he too was killed. His head was cut off and taken to Recife, where it was displayed in the market-place. Zumbi has In a Portuguese article of 1987, included in the English translation in his 1992 book, Stuart Schwartz pays much attention to the use of the words quilombo and mucambo as designations for villages of runaway slaves.
    [Show full text]
  • Bernardo Vieira De Melo
    Bernardo Vieira de Melo 32º Mandatário do Rio Grande do Norte 32º (trigésimo segundo) governante da Capitania do Rio Grande do Norte 1695 (Único mandato) 1701 Precedido por Sucedido por Agostinho César de Andrade Antônio de Carvalho e Almeida Nasceu na freguesia de Muribeca-PE, na segunda metade do século XVII, filho do homônimo Capitão de Ordenanças Bernardo Vieira de Melo e d. Maria Camelo de Melo. Militar, consta que de sua folha de serviços prestados à Capitania de Pernambuco resultaram galardões e recompensas, inclusive o foro de Cavaleiro Fidalgo da Casa Real e o posto de Capitão-mor da Vila de Igaraçu (1691). Rico proprietário do Engenho “Pindobas”, na freguesia de Ipojuca-PE, pertencia à nobreza rural pernambucana, e foi importante chefe militar na expedição que destruiu o Quilombo dos Palmares (fev., 1694, na Serra da Barriga, no atual município de União dos Palmares-AL). Em ato de 8 de janeiro de 1695 foi nomeado Capitão-mor da Capitania do Rio Grande mas não se sabe, conforme dito anteriormente (V. verbete AGOSTINHO CÉSAR DE ANDRADE) a data de sua posse, que terá ocorrido, provavelmente, em princípios daquele mesmo ano, segundo informa CÂMARA CASCUDO (1984, p. 443), enquanto TAVARES DE LIRA informa que documentos irrecusáveis provam que em 4 de julho de 1695 já governava Bernardo Vieira de Melo (1982, p. 104). O certo é que permaneceria no cargo por largo período: O Senado da Câmara solicitou, em de 2 de fevereiro de 1697, sua recondução, sendo atendido em Carta Régia de 18 de novembro do mesmo ano. Governou até 14 de agosto de 1701 (CÂMARA CASCUDO, op.
    [Show full text]
  • REV. ARQUEOLOGIA N.º 17 (3R)6 26/4/07 11:39 Página 83
    REV. ARQUEOLOGIA N.º 17 (3R)6 26/4/07 11:39 Página 83 View metadata, citation and similar papers at core.ac.uk brought to you by CORE provided by Revistes Catalanes amb Accés Obert POLITICAL ORGANIZATION AND RESISTANCE ON THE OTHER SIDE OF THE ATLANTIC:PALMARES, A MAROON EXPERIENCE IN SOUTH AMERICA PEDRO PAULO A FUNARI, Department of History, Campinas State University, Brazil, ALINE V. CARVALHO, Center for Studies and Environmental Research (Nepam), University of Campinas, KEY – WORDS: Brazil, seventeenth century maroon Kingdom (Palmares), political organization, archaeology and history. INTRODUCTION Africans controlled the sheer volume and ethnic origin of captives offered to Europeans, selling the slaves at prices they were able at least to manipulate. Africans involved in the slave trade were equal and un-coerced partners of metropolitan merchants and officials, and that the development of the slave trade enhanced African control and choice. If we are aware of the unbearable levels of barbarism associated with slavery in the New World, it is easy to understand the importance of runaway settlements. Negro resistance to slavery was the main feature of the history of Africans in the American colonies and slaves responded to exploitation by malingering, by poorly carrying out their tasks, by revolting or by escaping to runaway settlements. Considering that the lingua franca of the period was Latin, it was only too natural that they were called in the contemporary documents res publicae (polities), soon to be translated into modern languages as republics, repúblicas, républiques. Maroons, palenques, mocambos, qui- lombos were terms introduced somewhat later, usually with derogatory connotations.
    [Show full text]
  • Palmares and Cucaú: Political Dimensions of a Maroon Community in Late Seventeenth-Century Brazil(*)
    The 12th Annual Gilder Lehrman Center International Conference at Yale University Co-sponsored with the Council on Latin American and Iberian Studies at Yale American Counterpoint: New Approaches to Slavery and Abolition in Brazil October 29-30, 2010 Yale University New Haven, Connecticut Palmares and Cucaú: Political Dimensions of a Maroon Community in Late Seventeenth-century Brazil(*) Silvia Hunold Lara, UNICAMP, Brazil Available online at http://www.yale.edu/glc/brazil/papers/lara-paper.pdf © Do not cite or circulate without the author’s permission Brazilian historians have not paid much attention to the history of maroon communities. Until quite recently, these groupings of fugitive slaves were seen as political and social spaces completely “outside” the world of slavery: the fugitives sought isolation in the forest, distancing themselves from the farms and sugar mills to protect the freedom they had achieved, and only returned to the farm and fields if they were recaptured. Exalting the actions of resistance against slavery, Brazilian historiography in the last 100 years privileged above all the study of the big maroon communities, highlighting the most combative leaders. Since the 1990s, however, some historians have shown that, in many cases, the maroon communities engaged in commerce with local warehouses or frequented the forests around the closest farms. Beyond the obvious economic implications, these exchanges and contacts constituted the base of some strategies of political and military defense of the fugitives and their important ties with the world of the slaves1. In recent years, studies have (*) My research on Palmares counts on the support of a Productivity Scholarship in Research from the Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPQ (National Counsel of Technological and Scientific Development) and is also part of a Thematic Project financed by the Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP (Foundation for Support for Research from the State of São Paulo).
    [Show full text]
  • O QUILOMBO DOS PALMARES ~E Livro Foi Publicado, Em 1946, Sob O Título Guerras De Los Palmares, Como O Vol
    ... ,,,, -_.,..-.. .... ...,.._,;, ........._ .. _,-...... ... ..,., ........ ........._ -·.. ' O QUILOMBO DOS PALMARES ~e livro foi publicado, em 1946, sob o título Guerras de los Palmares, como o vol. 21 da coleção Tierra Firme, do Fondo de Cultura Económica, do México, cm tradução de Tomás Muiíoz Molina. ~ ,;. "" t i. -'Y' • /}: , · , e1 e e ú t> '1 LDd , J.;-c-. ')'-'--.P.~ : J S f: J i: .,.) - 1" Exemplar N'! 057S 1958 Obra executada na., oflcln,u da São Paulo Editora S/A. - Slo Paulo, Brull BIBLIOTECA PEDAGÓGICA BRASILEIRA SÉRIE 5.ª * B R A S I L I A N A * VoL. 302 EDISON CARNEIRO -.~ * \. ),. O QUILOMBO dos PALMARES 2.ª EDIÇÃO (Revista) COMPANHIA EDITORA NACIONAL ·' SÃO PAUL O DO AUTOR Religiõer Negras - Civilização Brasileira, S/A. - Rio de Janeiro, 1936. Castro Alves - Liv. Jos~ Olympio - Rio de Ja­ neiro, 1937. Negros Bântus - Civilização Brasileira, S/A. - Rio de Janeiro, 1937. Trajetória de Castro Alves - Editorial Vitória - Rio de Janeiro, 1947. - 2.ª ed., Editorial Andes - Rio de Janeiro, 1958. O Quilombo dos Palmares - Editôra Brasiliense - São Paulo, 1947. Candomblés da Bahia - Edição do Museu do Es­ tado, Bahia, 1948. - 2.ª ed., Editorial Andes - Rio de Janeiro, 1954. Dinâmica do Folclore - Rio de Janeiro, 1950. Antologia do Negro Brasileiro - Editôra Globo - Pôno Alegre, 1950. A Linguagem Popular da Bahia - Rio de Janeiro, 1951. A Cidade do Salvador - Organização Simões - Rio de Janeiro, 1954. O Folclore Nacional (bibliografia) - Editôra Souza - Rio de Janeiro, 1954. Pesquisa de Folclore - Edição da Comissão Na­ cional de Folclore, 1955. A Conquista da Amawnia - Edição do Ministério da Viação e Obras Públicas (Coleção Mauá), 1956.
    [Show full text]
  • Revisitar Palmares: Histórias De Um Mocambo Do Brasil Colonial Trashumante
    Trashumante. Revista Americana de Historia Social ISSN: 2322-9381 ISSN: 2322-9675 Universidad de Antioquia Viotti, Ana Carolina Revisitar Palmares: histórias de um mocambo do Brasil colonial Trashumante. Revista Americana de Historia Social, núm. 10, 2017, Julho-Dezembro, pp. 078-099 Universidad de Antioquia DOI: 10.17533/udea.trahs.n10a05 Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=455656700005 Como citar este artigo Número completo Sistema de Informação Científica Redalyc Mais informações do artigo Rede de Revistas Científicas da América Latina e do Caribe, Espanha e Portugal Site da revista em redalyc.org Sem fins lucrativos acadêmica projeto, desenvolvido no âmbito da iniciativa acesso aberto Revisitar Palmares: histórias de um mocambo do Brasil colonial Revisitar Palmares: histórias de um mocambo do Brasil colonial Resumo: Neste artigo, o leitor é convidado a palmilhar, mais uma vez, pelos caminhos e os percalços narrativos sobre o mais conhecido dos mocambos de escravos do Brasil, o Quilombo dos Palmares. A partir dos relatos coetâneos — cartas, relatos de viagem e documentos administrativos — o caráter exemplar da destruição do ajuntamento de escravos será apresentado, ressaltando as vicissitudes e nuances mais marcantes nas diversas notícias registradas sobre o mocambo. Complementarmente, cotejar-se-á algumas das tendências e leituras historiográficas sobre o longevo ajuntamento de escravos, o que permitirá apresentar, em linhas gerais, leituras plurais sobre Palmares. Palavras-chave: mocambos, quilombos, Palmares, Brasil colonial, rebeliões de escravos. Volver a Palmares: historias de un “mocambo” del Brasil colonial Resumen: En este artículo, se invita al lector a caminar, una vez más, por los caminos y las narrativas sobre el más conocido “mocambo” de esclavos en Brasil, Palmares.
    [Show full text]
  • Os Debates E a Política De Punição Às Revoltas Ocorridas No Brasil (1660-1732)
    Programa de Pós-graduação em História – PPGH Tese de Doutorado “Castigar sempre foi razão de Estado”? Os debates e a política de punição às revoltas ocorridas no Brasil (1660-1732) Niterói Abril de 2016 2 “Castigar sempre foi razão de Estado”? Os debates e a política de punição às revoltas ocorridas no Brasil (1660-1732) João Henrique Ferreira de Castro Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em História. Orientador: Luciano Raposo de Almeida Figueiredo Niterói Abril de 2016 3 “Castigar sempre foi razão de Estado”? Os debates e a política de punição às revoltas ocorridas no Brasil (1660-1732) João Henrique Ferreira de Castro Orientador: Luciano Raposo de Almeida Figueiredo Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense - UFF, como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Doutor em História. Aprovado por: _____________________________________________ Prof. Dr. Luciano Raposo de Almeida Figueiredo – Orientador Universidade Federal Fluminense (UFF) _____________________________________________ Prof. Dr. Rodrigo Nunes Bentes Monteiro Universidade Federal Fluminense (UFF) _____________________________________________ Prof. Dr. Carlos Ziller Camenietzki Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) _____________________________________________ Prof. Dr. Francisco Carlos Cardoso Cosentino Universidade Federal de Viçosa (UFV) _____________________________________________ Prof. Dr. João Luís Ribeiro Fragoso Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) _____________________________________________ Prof.a Dr.a Silvia Patuzzi - Suplente Universidade Federal Fluminense (UFF) _____________________________________________ Prof. Dr. Roberto Guedes Ferreira - Suplente Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Niterói Abril de 2016 4 Ficha Catalográfica CASTRO, João Henrique Ferreira de.
    [Show full text]
  • Trindade, Solano; Tati, Miécio. Zumbi of Palmares, the Malungo (Translation and Critical Introduction by Ananya Jahanara Kabir & Francesca Negro)
    Trindade, Solano; Tati, Miécio. Zumbi of Palmares, the Malungo (translation and critical introduction by Ananya Jahanara Kabir & Francesca Negro) Zumbi of Palmares, the Malungo [Zumbi dos Palmares Malungo] Solano Trindade & Miécio Tati Translation and critical introduction by Ananya Jahanara Kabir1 Francesca Negro2 Zumbi dos palmares malungo is an unpublished and unedited play in three acts, which dramatizes Afro-Brazilian memory and agency through the iconic maroon figure of Brazil, Zumbi, his life in the maroon enclave of Palmares, and his death in battle against the colonial authorities and subsequent apotheosis. Written in Portuguese and cast in a classical mould with recognizable structuring elements drawn from Greek tragedy, it is equally infused with Afro-Atlantic lexis and cultural practices that cover quotidian, performative, and sacred realms. Hence land cultivation, culinary traditions, Afro-Brazilian dance and percussive practices, and invocations to and appearances of Yoruba religious divinities all animate the play, bestowing on it an astonishing richness of cultural texture. While in themselves elements worthy of investigation, this evident literary quality and density of ethnographic detail are not the only reasons we bring this hitherto-unknown play into the scholarly spotlight. Our investigations establish Zumbi dos Palmares malungo as the earliest dramatic depiction of Zumbi as Afro-Brazilian protagonist by an Afro-Brazilian dramaturge. In this introduction to the first translation into English of this valuable document, we present the reasons behind our claim. We also survey the play’s three-act structure, its thematic focus and lexis, its relevance to Brazilian cultural politics, its place within African diasporic mobilizations of marronage as resistance to capitalism, and of 1 Professor of English Literature, Department of English, King's College London.
    [Show full text]